Boletim Do Venerável D
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Boletim do Venerável D. António Barroso Director: Amadeu Gomes de Araújo, Vice-Postulador Propriedade: Associação dos Amigos de D. António Barroso. NIPC 508 401 852 Administração e Redacção: Rua de Luanda, n.º 480, 3.º Esq. 2775-369 CarcavelOS Tlm.: 934 285 048 – E-mail: [email protected] Publicação trimestral | Assinatura anual: 5,00€ III Série . Ano VIII . N.º 22 . Janeiro / Março de 2018 D. MANUEL DA SILVA LINDA SUCEDE A D. ANTÓNIO BARROSO NO ANO EM QUE SE COMEMORA O CENTENÁRIO DA SUA MORTE (31 DE AGOSTO DE 2018) Fundador: Pe. António F. Cardoso Design: Filipa Craveiro | Alberto Craveiro Impressão: Escola Tipográfica das Missões - Cucujães - tel. 256 899 340 | Depósito legal n.º 92978/95 | Tiragem 1.900 exs. | Registo ICS n.º 116.839 P1 Boletim do Venerável D. António Barroso Em terras da Missão do Padre António Barroso M'BANZA CONGO DECLARADA PATRIMÓNIO MUNDIAL DA HUMANIDADE Por Manuel Vilas Boas PATRIMÓNIO ARRANCADO Quando os portugueses aqui che- DA TERRA garam ela já era uma vigorosa cidade. Foram 11 os arqueólogos, angola- Foram erguidas edificações em pedra, nos e estrangeiros, que levaram a cabo Têm cor quente os edifícios ergui- incluindo o palácio do rei D. Afonso I, as escavações que haveriam de susten- dos nesta cidade do nordeste de An- alguns conventos e igrejas. tar a Declaração da Unesco, inscreven- gola. Em 1630 fizeram-se aqui cerca de 5 do, em Cracóvia, a 8 de Julho de 2017, Foram construídos por artistas por- mil baptismos, numa população de 100 M'Banza Congo, a histórica capital do tugueses, com métodos europeus, em mil habitantes. A cidade seria saqueada, reino do Congo, na lista do Património pedra ferruginosa. Daí a intensidade de várias vezes, durante as guerras civis, no Mundial da Humanidade. cor que os caracteriza. século XVII. Durante o século XVIII re- A cidade era desenterrada de um Capital política e espiritual do antigo gressou à normalidade para nunca mais sono de mais de meio milénio para ser reino do Congo – região onde hoje es- ser abandonada. preservada com vistas à sua imorta- tão localizados o Gabão, a República do lidade. Assim se lia no projecto, apre- Congo, Angola e a Republica Democrá- João Paulo II esteve lá sentado na Unesco: “M'Banza Congo, tica do Congo, - M'Banza Congo guarda cidade a desenterrar para preservar”. as importantes tradições do Kongo e Tão importante é este lugar para a Artefactos e ossadas humanas foram dos conflitos travados com a chegada história da evangelização que a Igreja os vestígios recolhidos para posterior dos portugueses e da religião católica, angolana não prescindiu da presença do análise nos laboratórios norte-ameri- em finais do século XV. Papa João Paulo II em M'Banza Congo, canos. Na cidade, dotada de grande be- Este reino, já no século XIII, forma- durante a visita pastoral que realizou a leza e porta aberta ao turismo, foram do por 144 tribos, influenciou parte Angola, de 4 a 10 de Junho de 1992 e classificados alguns lugares-chave do substancial do continente africano. Foi quando se comemoravam os 500 anos centro histórico: Kulumbimbi, a antiga deste reino, que partiu a maioria dos do Encontro de culturas e da evangeli- catedral, a árvore santa YalaNkuwu, a africanos escravizados rumo às améri- zação daquela antiga colónia portugue- ancestralidade julgadora, o palácio real, cas. Foi daqui que saiu o primeiro em- sa. Da passagem pelas ruínas da cate- hoje museu dos reis do Congo, o Lum- baixador africano, enterrado no Vatica- dral de S. Salvador do Congo, no dia 8, bu, o tribunal consuetudinário e o ce- no. Foi aqui, também, que foi erguida a ficaram palavras históricas, proferidas mitério dos reis do Congo. primeira catedral da África Subsariana pelo papa polaco. Karol Wojtyla não Além desta primeira inscrição de pelos colonos portugueses. esqueceu os caminhos difíceis da antiga Angola nas listas do Património Mun- A cidade de M'Banza Congo tem, diocese do Congo, aberta em 1569, de dial da Unesco, são 33 os países afri- hoje, mais de 70 mil habitantes. No sé- que foi testemunha da fé, entre outros, canos, inscritos em 89 sítios. Estão culo XVI foi baptizada pelos portugue- o rei D. Afonso I, “o maior missionário entre eles, Moçambique, com a Ilha de ses, com o nome de São Salvador do do seu povo”, como o designou o papa. Moçambique, em 1991 e Cabo Verde, Congo. A cidade voltaria a chamar-se A segunda evangelização, iniciada em a Cidade Velha, na Ribeira Grande, em M'Banza Congo, após a independência 1866, haveria de contar com episódios 2009. de Angola, em 1975. dolorosos de expulsão de missionários P2 Boletim do Venerável D. António Barroso Ruínas da antiga Sé episcopal de São Salvador, à chegada do Padre António Barroso, em Fevereiro de 1881, e na actualidade. Esta Sé, designada Kulumbimbi, foi a primeira catedral da África Subsariana e foi também a sede da primeira Diocese da África Austral, quando o Papa Clemente VIII criou, em 1596, o Bispado de Angola e Congo. A Missão de São Salvador do Congo foi fundada pelos portugueses em 1491. Em meados do séc. XVII, chegou a haver na área da Missão oito ou nove igrejas, além desta Catedral. À chegada do Padre António Barroso estavam todas em ruínas, como esta. e a morte trágica do primeiro bispo com o rei do Congo, a ponto de levar 25 anos depois, haveria de ser declara- desta diocese, D. Afonso Nteka, durante de visita a Portugal dois filhos e um so- do, pela Unesco, Património Mundial da a guerra civil. brinho do monarca. Humanidade… Foi por dentro desta designada se- gunda evangelização de Angola que teve O milagre do telefone satélite lugar a missionação do padre António Barroso, tendo sido, para isso, superior Durante a reportagem que realizei, da missão de S. Salvador do Congo. em M'Banza Congo, para a TSF, sobre a Aqui chegado, o missionário de Reme- a visita papal a Angola, deparei-me, aqui, lhe depressa dá notícias, para a metró- com um fenómeno estranho. Armadi- pole, do estado em que se encontravam lhado com um telefone-satélite (o meio as missões, cemitério de missionários e mais sofisticado para a época) verifiquei onde as igrejas sobravam em ruínas. É que o melhor lugar para transmissão por estas terras que deixa um novo es- era o próprio cemitério, onde estavam tilo de evangelização. Já não é a cruz e sepultados, entre outros, alguns dos a espada, antes a cruz e a enxada, pro- missionários que trabalharam com o messa de uma cristianização e de um padre Barroso, vítimas de malária . desenvolvimento humano diferentes. É A energia ali produzida converteu- aqui que também o missionário Barro- -se no sinal mais amplo e perfeito de di- so estabelece os melhores contactos fusão da mensagem... no território que, João Paulo II de visita a Kulumbimbi Mbanza Congo, cidade dotada de grande beleza, é uma porta aberta ao turismo, como se refere no texto, Para aqui chegar, o Padre António Barroso teve de fazer 150 Km a pé, desde Nóqui. Chegou pelas 11.30 do dia 13 de Fevereiro de 1881. Portador de uma carta dada por D. Luís I, nos Paços da Ajuda , foi recebido pelo rei do Congo, D. Pedro V, na sua residência, logo à chegada. Residiam então na cidade cerca de 600 pessoas. Hoje vivem aqui mais de 70.000. P3 Boletim do Venerável D. António Barroso NA SENDA DE D. ANTÓNIO BARROSO UM OLHAR SOBRE O ENSINO NA FREGUESIA DE REMELHE - BARCELOS À memória do Prof. Doutor Manuel da Silva Costa 1 - O ENSINO PRIMÁRIO. O Venerável D. António 1.1 - Domingos Gomes Ferreira da Costa. Um Barroso, nascido numa aldeia pobre onde muito poucos sa- benemérito. Nascido no lugar da Quintão, em 28 de De- biam ler, quando foi missionário na África e no Oriente, deu zembro de 1826, era neto paterno de Manuel Gomes, co- sempre especial cuidado à instrução e à promoção humana nhecido por Lapreiro, e emigrou cedo para o Brasil, onde das crianças e dos jovens. Neto de um mestre-escola, cedo faleceu, na cidade do Rio de Janeiro, em 1890. A avultada se apercebeu da importância do ensino. fortuna que, entretanto, granjeou, mereceu-lhe o título de Na freguesia rural onde cresceu, a instrução era, como Comendador, mas nunca esqueceu as suas origens, e saben- ainda é hoje em qualquer sociedade, o principal ascensor so- do, por experiência própria, que a falta de instrução era o cial para os filhos dos pobres. Mas era escasso o número dos principal entrave ao desenvolvimento das gentes nascidas no que tinham acesso ao ensino, porque Remelhe não dispunha mundo rural, deixou em testamento uma importante verba de escola primária, que só veio a ser criada quatro décadas para a construção da escola primária de Remelhe, que foi depois. Para frequentar o ensino primário, o jovem António inaugurada em 1894, já após a sua morte. Era uma escola José Barroso deslocava-se à freguesia vizinha de Góios, ao para os dois sexos e com habitação para os professores: «a cuidado de um professor particular, Domingos da Fonseca melhor casa de escolas» do concelho de Barcelos, naquele Martins, seu primo. tempo. (Vinham aqui estudar alunos de outras freguesias sem Naquela época, a freguesia de Remelhe tinha cerca de escola, dando origem ao conhecido e dúbio remoque: «quem 130 famílias, as quais viviam quase exclusivamente da lavoura. é burro vai para Remelhe»). Crianças, adultos e velhos mourejavam de sol a sol para as Quem deu cumprimento à vontade deste amigo dos re- grandes casas – a de Torre de Moldes, a de Santiago e a de melhenses foi o meio-irmão, onze anos mais novo, Manuel Santa Marinha – ou para as quintas importantes - a do Para- Gomes Ferreira da Costa, também nascido na Casa do La- nho, a do Hospital, a de Morais e a de Santo António.