LUIS AFONSO SALTURI

FREDERICO LANGE DE , LIBERDADE DENTRO DE LIMITES: TRAJETÓRIA DO ARTISTA-CIENTISTA

Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre, pelo curso de Pós-Graduação em Sociologia, do Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal do Paraná.

Orientadora: Profa. Dra. Maria Tarcisa Silva Bega

CURITIBA 2007 LUIS AFONSO SALTURI

FREDERICO LANGE DE MORRETES, LIBERDADE DENTRO DE LIMITES: TRAJETÓRIA DO ARTISTA-CIENTISTA

Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre, pelo curso de Pós-Graduação em Sociologia, do Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal do Paraná.

Orientadora: Profa. Dra. Maria Tarcisa Silva Bega

CURITIBA 2007 ii iii

AGRADECIMENTOS Otemaaquiabordadoéfrutodepesquisasqueseiniciaramcercadequatro anosemeioatrás,considerandooesboçoinicialemminhamonografiadegraduação emCiênciasSociaisatéapesquisaqueapresentoagoracomodissertaçãodeMestrado emSociologia.Essetempo,emquemergulheiefiqueisubmersonoimensooceanoda pesquisa científica, resultou numa grande experiência individual e no meu amadurecimentocomopesquisador. Nãoestivesozinhonessaaventuraquetevemomentosbonseruins.Portanto, devo agradecer às diversas contribuições que se tornaram imprescindíveis para a realização deste trabalho. Agradeço, então, primeiramente ao Programa de Pós Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Paraná e, em seguida, à CoordenaçãodeAperfeiçoamentodePessoaldeNível Superior, esta pelo apoiofinanceiro. No que se refere à documentação, agradeço às seguintes instituições que mantêmacervoscommateriaisparapesquisa:BibliotecaPúblicadoParaná,Museude ArteContemporâneadoParaná,MuseuParanaense,Museu Alfredo Andersen, Casa João Turin e Escola de Música e Belas Artes do Paraná. Quanto às entrevistas, agradeço à Profa. Dra. Berta Lange de Morretes e suas irmãs por terem aceitado responder meus questionários, fornecendo informações por demais importantes. AgradeçoaindaaoProf.Dr.LuísPilotto,pelodepoimentoepelocarinhocomqueme recebeuemsuacasa. Em relação à permissão para fotografar as telas de Frederico Lange de Morretes, agradeço ao Museu Alfredo Andersen; ao Departamento de Farmácia da Universidade Federal do Paraná; à direção da Escola de Música e Belas Artes do Paraná;àdireçãodoColégioEstadualdoParaná;aoTribunaldeJustiçadoParaná;ao CerimonialdaAssembléiaLegislativadoParanáeaoscolecionadoresElianeLangede Morretes Monteiro e Ario Taborda Dergint, estes por terem me recebido em suas residênciasecederemasimagensdasobrasqueforamincluídasnestetrabalho. Agradeçoatodaminhafamíliaeamigos,eaoscolegaseprofessoresdocurso deMestradoemSociologia,porpartilharemopiniõesemdiversosmomentos.Dentre iv eles,DaianeCarnelosResende,peloincentivoemomentosdedescontraçãoeMárcia Rosattopelastrocasdeexperiênciasrelativasàpesquisa.Agradeçoaosintegrantesdo grupo de estudos sobre Ciências Sociais, Imigrantes e Artes no Paraná , pelas discussõesecríticas.Foradoambienteacadêmico,agradeçoàVeraReginaOliveira, pelo auxílio nos momentos em que precisei escanear e imprimir alguns materiais e também a Sandro Marcos Bino por ter me acompanhado ao longo da pesquisa, ajudandomenasseçõesdefotografias,nolevantamentodasfontesenastranscrições dedocumentosmicrofilmadoseimpressos. Agradeço à minha orientadora, Profa. Dra. Maria Tarcisa Silva Bega, que sempre tentou conciliar seus compromissos de professora com suas atividades administrativas, primeiro como Vicereitora da Universidade Federal do Paraná, e depois, como Diretora do Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes da mesma instituição.Agradeçoportermediadocontatos,emprestadomateriaisefeitocríticasao trabalhoquepermitiramchegaratéaversãoqueapresentoagora.Durantetodosesses anos,sougratoportermeincentivadoeacreditadonomeupotencial,indicandomeo caminhoedandometotalliberdadeparaseguirmeuspassos. Agradeço aos professores que fizeram parte da Banca de meu Exame de Qualificação.AoProf.Dr.FernandoBini,porterlidomeutrabalhocommuitaatenção eterfeitocríticasconstrutivaseàProfa.Dra.Ana Luisa Fayet Sallas, pelas várias discussões,emsaladeaulaoupeloscorredores.Osapontamentosdevocêsdoisforam fundamentais, já que perceberam a importância e o sentido que conduziram meu interessepelotema. Atodososnomescitadosaquieaosquedeixeidemencionarparanão me estender mais, sou grato pelo carinho e incentivo, por dividirem opiniões e terem aturado minhas conversas monotemáticas. Tenho certeza que todos entenderam o quantoessapesquisasignificaparamim.Desdeoinício,umdosfioscondutoresdo meupercursofoiteracreditadoqueestavafazendoalgoimportanteparaamemóriade Curitiba,doParanáedasociedadeparanaense.Fiznãosóoquesentivontadedefazer, masoquerealmentetinhaqueserfeito. v

SUMÁRIO

LISTA DE ILUSTRAÇÕES...... vi LISTA DE QUADROS...... x RESUMO...... xi ABSTRACT / RESUMEN...... xii INTRODUÇÃO...... 1 1 GUIAS TEÓRICOS...... 5 1.1 TEORIADABIOGRAFIAEARELAÇÃOINDIVÍDUOSOCIEDADE...... 5 1.2 ESBOÇODEUMASOCIOLOGIADASARTESVISUAIS...... 16 2 O CAMINHO PERCORRIDO POR UM ARTISTA-CIENTISTA...... 23 2.1 FREDERICOLANGEDEMORRETES(18921954)...... 24 2.2 AARTEEACIÊNCIA,ADOCÊNCIAEAPOLÍTICA...... 58 3 SOCIEDADE, CULTURA E PARANISMO...... 81 3.1 OPARANISMOCOMOMOVIMENTO...... 82 3.2 OCAMPODASARTESPLÁSTICASNOPARANÁ...... 102 3.3 OSPRINCIPAISAMIGOS...... 107 4 ARTES GRÁFICAS, DESENHO E PINTURA...... 123 4.1 AESTILIZAÇÃOPARANISTA...... 124 4.2 UMOLHARSOCIOLÓGICOSOBREUMAOBRAPICTÓRICA...... 141 CONSIDERAÇÕES FINAIS...... 182 REFERÊNCIAS...... 188 APÊNDICES...... 212 ANEXOS...... 225 NOTAS BIOGRÁFICAS...... 251 vi

LISTA DE ILUSTRAÇÕES FIGURA1– ANDERSEN,A.Retrato de Lange de Morretes .Semdata.1óleo sobretela:colorido;40x38cm.MuseuAlfredoAndersen,Curitiba. Foto:LuisAfonsoSalturi...... 23 FIGURA2– MARTINS,R. Ex-libris .In.MARTINS,1946,p.4.Fotoetratamento: LuisAfonsoSalturi...... 86 FIGURA3– ILLUSTRAÇÃO PARANAENSE :Mensárioparanistadeartee actualidades.Curitiba,AnoIV,n.1,jan.1930.Foto:LuisAfonso Salturi...... 96 FIGURA4– MORRETES,F.L.de. Preparando-se para o repouso no alto do Marumby .1928.Desenho.In:ILLUSTRAÇÃOPARANAENSE, 1928,n.6,jun.Foto:LuisAfonsoSalturi...... 119 FIGURA5– MORRETES,F.L.de. No alto do Marumby .1928.Desenho.In: ILLUSTRAÇÃOPARANAENSE,1928,n.7,jul.Foto:LuisAfonso Salturi...... 120 FIGURA6– TRAPLE,E. Frederico Lange de Morretes, Anatomia e Fisiologia . 1954.1óleosobretela:colorido;34x44,5cm.EscoladeMúsicae BelasArtesdoParaná,Curitiba.Foto:LuisAfonsoSalturi...... 123 FIGURA7– MORRETES,F.L.de. Estilização do pinheiro, pinha e pinhões .In: MORRETES,1953,p.168169...... 127 FIGURA8– MORRETES,F.L.de. Pinhão geométrico .In:HOERNERJr.,1992. p.43...... 135 FIGURA9– MORRETES,F.L.de. Depois da Tormenta .1930.Desenho.In: ILLUSTRAÇÃOPARANAENSE,1930,n.7,jul.Foto:LuisAfonso Salturi...... 137 FIGURA10– ROSÁCEADOPISODASCALÇADAS.In:KRASINSKI,1987,p. 16...... 139 FIGURA11– PINHADOSVENTOS.In:FENIANOS;MENDONÇA,1996....140 FIGURA12– MORRETES,F.L.de. Natureza morta com flores e frutas .1941.1 óleosobretela:color.;58x76cm.TribunaldeJustiçadoParaná,Sala deLanchesdosDesembargadores,Curitiba.Foto:LuisAfonso Salturi...... 148 FIGURA13– MORRETES,F.L.de. Pinheiros .1921.1óleosobretela:color.;65x 75cm.ColeçãoManoelJorgedeLacerda.In:PARANÁ,2001,p. 109...... 150 FIGURA14– MORRETES,F.L.de. Cataratas do Iguaçu .1920.1óleosobretela: color.;143x224cm.ClubeCuritibano,Curitiba.In:PARANÁ,2001, p.163...... 152 FIGURA15– MORRETES,F.L.de. Cataratas .1925.1óleosobretela;182x249 cm.ColeçãoElianeLangedeMorretesMonteiro,Curitiba.Foto:Luis AfonsoSalturi...... 153 FIGURA16– MORRETES,F.L.de. O mar .1927.1óleosobretela:color.;71x 100cm.ColégioEstadualdoParaná,Curitiba.Foto:LuisAfonso Salturi...... 154 vii

FIGURA17– MORRETES,F.L.de. Guaratuba .1928.1óleosobretela:color.;76 x100cm.MuseuOscarNiemeyer,Curitiba.In:BATAVO, 1996...... 155 FIGURA18– MORRETES,F.L.de. Brejetuba .1928.Desenho.In: ILLUSTRAÇÃOPARANAENSE,1928,n.7,jul.Foto:LuisAfonso Salturi...... 156 FIGURA19– MORRETES,F.L.de. Paisagem com rochas .Semdata.1óleosobre tela:color.;34x53cm.FundaçãoHonorinaValente,Curitiba.Foto: LuisAfonsoSalturi...... 157 FIGURA20– MORRETES,F.L.de. Tranqüilidade .1926.1óleosobretela:color: 57,5x75cm.ColeçãoParticular,Curitiba.In:MUSEUALFREDO ANDERSEN,1982...... 158 FIGURA21– MORRETES,F.L.de. Guaraqueçaba .1934.1óleosobretela:color: 37x57cm.EscoladeMúsicaeBelasArtesdoParaná,Curitiba.Foto: LuisAfonsoSalturi...... 159 FIGURA22– MORRETES,F.L.de. Paisagem com casas .Semdata.1óleosobre tela:color:47,5x57,5cm.ColeçãoArioTabordaDergint,Curitiba. Foto:LuisAfonsoSalturi...... 160 FIGURA23– MORRETES,F.L.de. Eu vi Curitiba coberta de neve .31/07/1928. In:ILLUSTRAÇÃOPARANAENSE,1928,n.7,jul.Foto:Luis AfonsoSalturi...... 161 FIGURA24– MORRETES,F.L.de. Curitiba sob a neve .31/07/1928.In: ILLUSTRAÇÃOPARANAENSE,1928,n.7,jul.Foto:LuisAfonso Salturi...... 161 FIGURA25– MORRETES,F.L.de. Capão da Imbuia .1943.1óleosobretela: color.;65x84cm.ColeçãoElianeLangedeMorretesMonteiro, Curitiba.Foto:LuisAfonsoSalturi...... 162 FIGURA26– MORRETES,F.L.de. Dominadores Solitários .1930.1óleosobre tela.In:ILLUSTRAÇÃOPARANAENSE,1930,n.6,jun...... 164 FIGURA27– MORRETES,F.L.de. Pinheiro .1932.1óleosobretela.In: BATAVO,1996...... 165 FIGURA28– MORRETES,F.L.de. Paisagem com Pinheiros .Semdata.1óleo sobretela:color.;45x39cm.FundaçãoHonorinaValente,Curitiba. Foto:LuisAfonsoSalturi...... 166 FIGURA29– MORRETES,F.L.de. Pinheiros .1948.1óleosobretela:color.;75x 100cm.ColeçãoElianeLangedeMorretesMonteiro,Curitiba.Foto: LuisAfonsoSalturi...... 167 FIGURA30– MORRETES,F.L.de. O Banho .1912.Litografia.In: ILLUSTRAÇÃOPARANAENSE,1928,n.5,maio.Foto:Luis AfonsoSalturi...... 168 FIGURA31– MORRETES,F.L.de. Estudo .1913.Desenho.In:ILLUSTRAÇÃO PARANAENSE,AnoII,1928,n.4,abr.Foto:LuisAfonso Salturi...... 168 FIGURA32– MORRETES,F.L.de. O Torturado .1927.Desenho.In: ILLUSTRAÇÃOPARANAENSE,1927,n.1.Foto:LuisAfonso Salturi...... 169 viii

FIGURA33– MORRETES,F.L.de. Estudo de Nu .Semdata.Desenho.In: ILLUSTRAÇÃOPARANAENSE,1928,n.1011,out./nov.Fotoe tratamento:LuisAfonsoSalturi...... 169 FIGURA34– MORRETES,F.L.de. A Natureza .Semdata.1óleosobretela: color.;145x288cm.EscoladeMúsicaeBelasArtesdoParaná, Curitiba.Foto:LuisAfonsoSalturi...... 170 FIGURA35– MORRETES,F.L.de. Alma da Floresta .19271930.1óleosobre tela:color.;285x245cm.AssembléiaLegislativadoParaná, Curitiba.Foto:LuisAfonsoSalturi...... 172 FIGURA36– MORRETES,F.L.de. Paisagem com Pinheiro .1929.1óleosobre tela:color.;100x70cm.UniversidadeFederaldoParaná,Setorde CiênciasdaSaúde,DepartamentodeFarmácia,Curitiba.Foto:Luis AfonsoSalturi...... 175 FIGURA37– MORRETES,F.L.de. Rei Solitário .1953.1óleosobretela:color.; 57x70,5cm.ColeçãoWladimirTrombini.In:PARANÁ,2001,p. 110...... 176 FIGURA38– MORRETES,F.L.de. Nhundiaquara e Pico do .1934.1 óleosobretela:color.;50x39cm.ColeçãoParticular.In: CARNEIRO,1973...... 177 FIGURA39– MORRETES,F.L.de. Paisagem com montanhas .Semdata.1óleo sobremadeira:color:30x23cm.ColeçãoArioTabordaDergint, Curitiba.Foto:LuisAfonsoSalturi...... 178 FIGURA40– MORRETES,F.L.de. A Morte .Semdata.1óleosobretela:color.; 56x74cm.ColeçãoElianeLangedeMorretesMonteiro,Curitiba. Foto:LuisAfonsoSalturi...... 180 FIGURA41– BADEP. Retrospectiva Lange de Morretes .SalãodeExposições. Curitiba:BancodeDesenvolvimentodoParaná,1978.Catálogode exposição...... 210 FIGURA42– MUSEUALFREDOANDERSEN. Lange de Morretes, Série Discípulos de Andersen X .Curitiba:MuseuAlfredoAndersen,1982. Catálogodeexposição...... 210 FIGURA43– CLUBECURITIBANO. 100 anos Lange de Morretes .Curitiba: ClubeCuritibano,1992.Catálogodeexposição...... 211 FIGURA44– MUSEUALFREDOANDERSEN. Exposição Lange de Morretes . Curitiba:MuseuAlfredoAndersen,1999.Catálogode exposição...... 211 FIGURA45– FREDERICOLANGEDEMORRETES.Semdata.1fotografia:p.& b.;16x11,5cm.ArquivoMuseuAlfredoAndersen...... 243 FIGURA46– NOATELIERDEJOÃOGHELFI.Semdata.1fotografia:sépia;20x 12cm.ArquivoMuseudeArteContemporâneadoParaná...... 244 FIGURA47– ARTISTASEMPARIS.Semdata.1fotografia:p.&b.;33x24cm. ArquivoCasaJoãoTurin...... 245 FIGURA48– NOSEUATELIER,juntoaumestudo.1923.In:CESAR,1923,p. 13...... 246 FIGURA49– NOSEUATELIER,comamigos.1926. 1fotografia:sépia;16,5x22 cm.ArquivoCasaJoãoTurin...... 246 ix

FIGURA50– GROFF,J.B. Lange de Morretes esboçando uma perspectiva : Caravanada Illustração Paranaense .1928. 1fotografia:p.&b.;10x 15cm.ArquivoMuseuAlfredoAndersen...... 247 FIGURA51– GROFF,J.B. No Cume do Marumby :Caravanada Illustração Paranaense .1928. 1fotografia:p.&b.;10x15cm.ArquivoMuseu AlfredoAndersen...... 247 FIGURA52– EXPOSIÇÃO.Semdata. 1fotografia:p.&b.;29x39cm.Arquivo CasaJoãoTurin...... 248 FIGURA53– SOCIEDADEAMIGOSDEALFREDOANDERSEN.IExposição. 1941. 1fotografia:p.&b.;23x37cm.ArquivoCasaJoão Turin...... 248 FIGURA54– AMIGOS.Semdata. 1fotografia:p.&b.;21x30cm.Arquivo MuseuAlfredoAndersen...... 249 FIGURA55– FAMÍLIALANGEDEMORRETESemSãoPaulo.1949.In: MORRETES,2002,p.68...... 249 FIGURA56– NOMUSEUPARANAENSE.1953.In:MORRETES,1953,p. 168...... 250 FIGURA57– WINTERS,C. Túmulo de Lange de Morretes .Abril,1999.1 fotografia:color.;10x15cm.Curitiba.ArquivoMuseuAlfredo Andersen...... 250 x

LISTA DE QUADROS

QUADRO1–EXPOSIÇÕESEMVIDAEPÓSTUMAS...... 203 QUADRO2–BIBLIOGRAFIADEFREDERICOLANGEDEMORRETES...... 212 QUADRO3–DETALHESDOSPOEMASDE FRAQUEZA: VERSOS (1949).....214 QUADRO4–ARTEPRODUZIDA(1905–1953)...... 216 QUADRO5–REPRODUÇÕESNA ILLUSTRAÇÃO PARANAENSE ...... 217 QUADRO6–ALUNOSDAESCOLADELANGEDEMORRETES...... 222 xi

RESUMO Estetrabalhotrata,dopontodevistasociológico,sobreatrajetóriadoartistacientista brasileiroFredericoLangedeMorretes(18921954).Apesquisaanalisasuaprodução artística,científicaeintelectualrelacionandoacomsuatrajetória,mostrandoqualera suaredederelaçõessociais,comosedeusuaatuaçãocomodocenteepesquisadorem instituiçõespúblicaseparticularesesuaparticipaçãonoMovimentoParanista.Quanto àanálisedosdesenhosepinturasproduzidospelopersonagem,estetrabalhoidentifica influências de estilos artísticos, diferentes temáticas e aspectos simbólicos. Como referenciaisteóricos,foramutilizadososseguintesautores:PierreBourdieu,Norbert Elias,MauriceHalbwachseGeorgSimmel. PALAVRASCHAVE: Frederico Lange de Morretes: vida e obra; artes visuais no Paraná(Brasil):Sociologia;MovimentoParanista. xii

ABSTRACT Thisworktreats,ofthesociologicalpointofview,aboutthetrajectoryoftheBrazilian artistscientist Frederico Lange de Morretes (18921954). The research analyzes its artistic, scientific and intellectual production relating it with its trajectory, showing yournetsocialrelations,asifitgaveitsperformanceasprofessorandresearcherin publicandparticularinstitutionsanditsparticipationintheParanistaMovement.How muchtotheanalysisofthedrawingsandpaintingsproducedforthepersonage,this workidentifiestoinfluencesofstyles,thematicandsymbolicaspects.Asreferenciais theoreticians, the following authors had been used: Pierre Bourdieu, Norbert Elias, MauriceHalbwachsandGeorgSimmel. KEYWORDS:FredericoLangedeMorretes:lifeandworkmanship;visualartsinthe Paraná():sociology;Paranistamovement.

RESUMEN Este trabajo trata, desde la perspectiva sociológica, sobre la trayectoria del artista cientistabrasileñoFredericoLangedeMorretes(18921954).Lainvestigaciónanaliza su producción artística, científica e intelectual que se relaciona con su trayectoria, demostrandosuredderelacionessocialesysulaborcomoprofesoreinvestigadoren lasinstitucionesparticularesypúblicas,asícomosuparticipaciónenelMovimiento Paranista.Ensuproducciónartísticaestetrabajoidentificalasinfluenciasdeestilos, diversidadtemáticayaspectossimbólicos.Comoreferencialesteóricos,seprevilegia autorescomo:PierreBourdieu,NorbertElias,MauriceHalbwachsyGeorgSimmel. PALABRASCLAVES:FredericoLangedeMorretes:vidayejecución;artesvisuales enelParaná(Brasil):sociología;MovimientoParanista. INTRODUÇÃO OestudoapresentadotemcomotemaatrajetóriasocialdeFredericoLangede Morretes, artista plástico e malacologista paranaense que definiu os rumos de sua carreiraatravésdoambientesocialeculturaldoperíodoemqueviveu.Essatemática se desmembra na busca da relação entre sua produção artística e científica e as influênciasnelasdochamadoMovimentoParanista,estequefoitratadonotrabalho comoumamaneiradepôremprática,atravésdasaçõesdeváriaspessoas,uma“forma depensar”oParanárelacionadoàidentidaderegional. Estapesquisaépioneiradotemaemquestão,poisaté o presente momento nenhuma área do conhecimento, seja das humanidades ou das ciências naturais, se propôsaestudaratrajetóriaeaproduçãodesseartistacientista. É preciso salientar aindaqueotemaaquiabordadoresultoudeumdesmembramentodeumamonografia degraduação 1,cujoprojetoinicialeraestudaroprocessodeconstituiçãodossímbolos oficiais e nãooficiais do Estado do Paraná. Naquela ocasião, a inexistência de um estudo específico sobre a trajetória do artistacientista despertou a necessidade de pesquisaroassunto. NoquedizrespeitoàvidadeFredericoLangedeMorretes,oquesetentou aqui foi unir fragmentos para reconstituir seu percurso, que é marcado por uma produçãovastaedispersaqueaindanãohaviasidoinventariada.Detalmodo,essa pesquisatrazemsiosaspectospositivosquetodootrabalhoprecursorpromete,mas também carrega o peso do pioneirismo: a dificuldade da escassez de informações. Apesardisso,comcerteza,terámuitoaofereceraquelesqueseinteressampelotema, especialmentenoParaná,mostrandoqueasociologiapodecontribuiremmuitopara questõesligadasàarteeàhistórianoEstado. Noseudesenvolvimento,essapesquisautilizoufonteshistóricasmuitodensas. Desdeoinício,aslacunasqueapareceramdevidoàfaltadeinformaçõesdificultaramo trabalho.Visandopreenchêlas,foramutilizadasfontesescritaseorais.Emrelaçãoàs primeiras,acoletadedadossedeuatravésdepublicaçõesdediversasorigens,como 1SALTURI,L.A. O Paranismo e o pinheiro na arte de Lange de Morretes .Curitiba, 2004.102f.Monografia(BachareladoemCiênciasSociais)–SetordeCiênciasHumanas,Letrase Artes,UniversidadeFederaldoParaná. 2 teses, dissertações, livros, periódicos, catálogos de exposições e documentos. No segundocaso,foramconsideradososdepoimentosdepessoasqueconviveramcomo artistacientista. Tanto fontes escritas quanto orais não foram tomadas como se apresentam,poisasinformaçõesforamconfrontadasparaconfirmarveracidade.Desse modo, a deficiência dos materiais foi suprida ao se tentar conciliar informações provenientesdefontesdeorigensdiversas,issoporqueosdadosforamsemprepostos àprovanumarelaçãocomparativa. Frente a essas questões metodológicas, o objetivo geral dessa pesquisa é a reconstruçãodatrajetóriadeFredericoLangedeMorreteseaanálisedesuaobra.Para concretizaressatarefa,éprecisoreconstituiroambienteculturalesocialem queo artistacientista viveu e no qual ou pelo qual suas escolhas e tomadas de posições foramdefinidas.Fatorquetornapossívelentenderseuposicionamentonoscamposem queesteveenvolvidonoParaná. Os objetivos específicos consistem em mostrar como se deu a presença do artistacientista em algumas instituições importantes dentro de uma esfera do poder local no período em que viveu, tentandose compreender como o personagem em questãoserelacionavacomalgumaspessoasquetambémviveramnomesmoperíodo. Alémdisso,énecessárioentenderemquemedidaestasinfluenciaramouocasionaram certastomadasdeposiçõesno espaço social aolongodesuatrajetória. A primeira hipótese que se coloca nesta pesquisa é a de que é possível perceber que a produção de Lange de Morretes, tanto científica quanto artística, é marcadaporumaligaçãomuitointensapelanaturezaepeloParaná,suaterranatal. Partindo da sua trajetória, isso se torna nítido, mas somente com um estudo aprofundado é possível por à prova essa hipótese. Diante desta, a análise pretende abarcar uma perspectiva marcada pelo ponto de vista da trajetória individual – conformeosmoldesdasociologia–pelaqualsetentalançarumanovaluzaosestudos sobreasmanifestaçõesregionaisnoParaná,especificamenteoMovimentoParanista. EmrelaçãoaoMovimentoParanista,estefluiucomomovimentointegradoem meadosdadécadade1920,sendorepresentadoporobrasdepolíticos,historiadores, jornalistas,fotógrafos,escritoreseartistasquepretendiamadivulgaçãodeidéiaspara a construção de uma identidade própria para o Estado do Paraná. Até então, nos 3 estudos sobre o tema, esse Movimento é visto sob um prisma que privilegia a dominação política e do imaginário de uma elite paranaense sobre o restante da população.Noqueserefereàrepercussãodomovimento,outrahipóteselançadaéde queocampodasarteseosdemaiscampos“nãocaminhavamjuntos”,poishaviacerta incompatibilidadeentreocampodapolíticaeosoutros. AtrajetóriadeFredericoLangedeMorreteséumexemplododescompasso entre os campos representantes do Movimento Paranista. E apesar de que, na bibliografiaexistente,osautorestenhamoelegidocomoumadasreferênciasartísticas doreferidomovimento,devidoaosseusestudosdemeadosdosanos1920,arelação dele com o pinheiro – símbolo paranista – não acontecia apenas no sentido da construçãodeumaidentidaderegional,masnumarelaçãomuitomaior,numarelação homemnatureza.Atéofinaldesuavida,LangedeMorretes continuou produzindo pinturascomatemáticadanatureza,eemespecialadopinheiro.Essafidelidade,que atéagoratemsidovistacomoanacronismoartístico,naverdadeéalgoquepodeser entendidopeloseu habitus eesclarecidopelasuaformaçãocientífica.Oquevemse tornarmaisumahipótese. UmaoutrahipótesequesecolocaapartirdaíéadequeapesardequeLange deMorretes,dopontodevistaartístico,estivessedominandooselementosdocampoo qualestavainserido,gradualmente,passouanãoaceitarasregras quesubmetiam o campoartísticoaocampopolíticonoParanádesua época. Desse modo, sua figura representaumartistaqueemcertosmomentosestáemdescompasso. Tendoemvistaessesapontamentos,oprimeirocapítulodessadissertaçãotraz arevisãodaliteraturateóricaqueguiouapesquisa.Otexto,divididoemduasseções, apresentaumconjuntodeidéiasquepermitemabarcaraanálisedoobjetodapesquisa. Os conceitos sociológicos e filosóficos de Pierre Bourdieu, Norbert Elias, Maurice Halbwachs e Georg Simmel permitiram um aprofundamento sobre questões que norteiamotrabalho,comoateoriadabiografiaearelaçãoindivíduosociedade,bem comoapossibilidadedeumasociologiadasartesvisuais. No segundo capítulo, a trajetória social de Frederico Lange de Morretes é tratadaemduasseções,cujosconteúdosseinterpenetram.Sendoassim,nessecapítulo buscousecompreenderaconstituiçãodaindividualidadedopersonagememquestão, 4 a dinâmica de suas relações sociais e o desdobramento de sua carreira tanto como artistaquantocomocientista. OterceirocapítulotratasobreasociedadeeaculturanoParanánoperíodo vividopor Frederico LangedeMorretes.Aprimeira seção analisa o surgimento do MovimentoParanistaeapresentaumarevisãobibliográficadostrabalhosquetrataram sobreotema.Emseguida,asegundaseçãofazumbalançododesenvolvimentodo campo artístico no Estado desde o surgimento das primeiras escolas de arte até a décadade1930.Depoisdisso,aúltimaseçãotratasobreasociabilidadeentreLange deMorreteseseusprincipaisamigos. O último capítulo apresenta uma análise da obras artística de Lange de Morretesprocurandoidentificarinfluênciasdeestilosedoambientesocial.Muitasdas pinturas que aparecem nesse capítulo foram fotografadas pelo autor da dissertação, tarefa que exigiu muita calma, tanto na localização das obras, quanto no processo burocráticoquepermitiriaoacessoàsmesmas.Aofinaldessesentraves,umaparte importante da obra pictórica do artista em questão pôde ser reunida, classificada e analisada. Quantoaosapêndiceseanexos,osprimeirosapresentamvárioslevantamentos inéditossobreFredericoLangedeMorretes:asexposiçõesindividuaisecoletivasem vidaepóstumas,abibliografiacientíficaeintelectual,informaçõesdetalhadassobre suasobrasartísticasenotasbiográficasdealgunsdosseusalunos.Osanexostrazem duasentrevistas,umadelascomoProf.Dr.LuísPilotto,quefoialunodeFrederico LangedeMorretesnadécadade1930,eaoutra,divididaemduaspartes,comaProfa. Dra. Berta Lange de Morretes, filha mais velha do artistacientista. Além dessas entrevistas, há uma seleção de fotografias e, ao final do trabalho, para não sobrecarregarotextocomnotasderodapéefacilitaraleitura,optouseporsepararas notasbiográficas. 5

1 GUIAS TEÓRICOS

O estilo de uma época é essa arte particular de inventar que faz com que, ainda que não saibamos exatamente o que cada artista vai fazer, conheçamos de antemão os limites dentro dos quais ele vai inventar. É a mesma coisa para nós: somos livres dentro de limites. E podemos até conseguir uma liberdade suplementar ao tomar consciência desses limites. [grifo meu]

Pierre Bourdieu 2 Paraabordaroobjetoproposto,sefaznecessárioapontarosrecursosteóricos relativos às análises. Nesse sentido, esse capítulo apresenta, em duas seções, uma discussãoteóricaparatratarsobreavidaeaobradoartistacientistaemquestão. 1.1TEORIADABIOGRAFIAEARELAÇÃOINDIVÍDUOSOCIEDADE

Em Esboço de uma teoria da prática ,aoexplicitarumaproblemáticateórica acentuada sobre a mediação indivíduosociedade, o sociólogo francês Pierre BOURDIEU(2003a,p.3972)comentaqueomundosocialpodeseranalisadoapartir detrêsmodosdeconhecimentoteórico.Oprimeirodeleséofenomenológico ,quena terminologiamaisrecentepodeserchamadodeinteracionista ou etnometodológico. Numa perspectiva da filosofia do sujeito, tal conhecimento parte da experiência primeira do indivíduo em relação ao mundo social, sendo este apreendido a partir daquiloqueénaturaleevidente.Osegundodeleséo objetivista ,representadopelo marxismo e pela hermenêutica estruturalista como correntes teóricas que enfatizam fatores objetivos. Esse conhecimento constrói relações objetivas que estruturam as práticas individuais e suas representações, rompendo com o conhecimento fenomenológico ecomospressupostosassumidosqueconferemaomundo social o caráter de evidência e de naturalidade. O terceiro deles é o praxiológico , que ao confrontarcomasduasvertentescitadasresultanuma dupla translação teórica e,sem ser um mero retorno ao conhecimento fenomenológico , supõe uma ruptura com o 2 BOURDIEU, P. O campo econômico : a dimensãosimbólica dadominação.Campinas: Papirus,2000.p.3839. 6 conhecimento objetivista não anulando as aquisições deste, mas conservandoas e ultrapassandoas.Partindodessasquestões,deveseconsiderarocaráterinovadorda produção científica de Pierre Bourdieu que conseguiu reunir conhecimentos aparentementeantagônicosedispersos,formulandotambémnovosconceitos. Emcertamedida,essasconcepçõesatéaquiassinaladas vão contribuir para colocarPierreBourdieunumlugardedestaquenasociologiacontemporânea.Emseu livro Razões Práticas ,BOURDIEU(2004a)falasobreoqueeleacreditaseressencial no todo de seu trabalho. Em primeiro lugar, uma filosofia da ciência (filosofia relacional) que atribui primazia às relações e que raramente é posta em prática nas CiênciasSociaisporqueseopõeàsrotinasdepensamentosocialcorrenteoudosenso comumesclarecido.Emsegundolugar,uma filosofia da ação (filosofiadisposicional) “...queatualizaaspotencialidadesinscritasnoscorposdosagentesenaestruturadas situaçõesnasquaiselesatuamou,maisprecisamente,emsuarelação.”(BOURDIEU, 2004a,p.10) Afilosofia da ação deBourdieuécondensadaporumconjuntodeconceitos sociológicos fundamentais que estão dispersos em toda a sua produção científica. Entre eles está a noção de habitus que é o conceito sociológico pelo qual tentou demonstrar como se poderia escapar das alternativas estéreis do objetivismo e do subjetivismo,domecanicismoefinalismo,nasquaisasteoriasdaaçãopermaneciam aprisionadas.Partindodessalinhadepensamento,BOURDIEU(2003a,p.53)propõe uma teoria da prática oudomododeengendramentodaspráticas,queédefinidapor ele como uma ciência da dialética da interioridade e da exterioridade, ou seja, da interiorizaçãodaexterioridadeedaexteriorizaçãodainterioridade.Essaconcepçãose encontranagênesedoconceitode habitus : Asestruturasconstitutivasdeumtipoparticulardemeio(...)produzem habitus ,sistemasde disposições duráveis, estruturas estruturadas predispostas a funcionar como estruturas estruturantes,istoé,comoprincípiogeradoreestruturadordaspráticasedasrepresentações quepodemserobjetivamente“reguladas”e“regulares”semseroprodutodeobediênciaa regras, objetivamente adaptadas a seu fim sem supor a intenção consciente dos fins e o domínio expresso das operações necessárias para atingilos e coletivamente orquestradas, semseroprodutodaaçãoorganizadoradeumregente.(BOURDIEU,2003a,p.5354) 7

O habitus éumsistemadedisposiçõesduráveisetransferíveisqueconstituem a estrutura da vida social. Ao integrar todas as experiências passadas, ele pode ser entendido como um sistema de esquemas de produção de práticas que funciona também como uma matriz de percepções, apreciações e ações, tornando possível a realizaçãodetarefasdiferenciadas.Nosestudossociológicosquetratamdetrajetórias, o habitus se torna uma categoria de análise fundamental ao se referir não só ao indivíduo,mastambémaumgrupoouaumaclasse.Comoumsistemadedisposições inconscientes,o habitus constituioprodutodeinteriorizaçãodasestruturasobjetivas, tendendoaproduzirpráticasecarreirasobjetivamenteajustadasàsmesmas.Assim,a históriadavidadeumindivíduopodeservistacomoumavariantedo habitus deseu grupooudesuaclasse,namedidaemqueseuestilopessoalaparececomoumdesvio codificadoemrelaçãoaoestilodesuaépocaedesuaclasseougruposocial.O habitus é,portanto,oprodutodaposiçãoedatrajetóriadosindivíduos. Aotentarcompreenderasimplicaçõesdanoçãode habitus ,PierreBourdieu analisaasrelaçõesentreesteseoscampossociais.Oconceitodecamposuportaode habitus e se constitui noutra ferramenta conceitual importante para os estudos sociológicosquetratamdetrajetórias.Ocampoéumaredederelaçõesobjetivasentre posições sociais definidas objetivamente em sua existência e que fornecem determinações que elas repõem aos seus ocupantes, agentes ou instituições por sua situação social atual e potencial e por sua posição relativa em relação a outras posições.Vistoassim,ocampoéumespaçoestruturadoapartirdeposiçõesdepoder edisputassimbólicasnoqualpodeserconstatadaaexistênciadeleisgenéricas.Nessa mesma lógica, as práticas sociais são definidas pelo autor como resultantes, por intermédio do habitus , da relação dialética entre uma estrutura e uma conjuntura, entendidas como as condições de atualização desse habitus , sendo este um estado particulardaestrutura. Os habitus sãodiferenciadosassimcomoasposiçõesdasquaissãoprodutos, porémsãotambémoperadoresde distinções .“Os habitus sãoprincípiosgeradoresde práticas distintas e distintivas (...) mas são também esquemas classificatórios, princípios de classificação, princípios de visão e de divisão e gostos diferentes.” (BOURDIEU, 2004a, p. 22). Assim, conforme BOURDIEU (2004a, p. 42), os 8

“sujeitos”sãoagentesqueatuamequesabem.Elessãodotadosdeumaespéciede senso prático ,deumsistemaadquiridodepreferências,deprincípiosdevisãoede divisão (gosto), de estruturas cognitivas duradouras e de esquemas de ação que permitemorientarpercepçãodasituaçãoearespostaadequada. OsconceitossociológicosformuladosporBourdieutêmcomopontocentrala relação entre as estruturas incorporadas (do habitus ) e as estruturas objetivas (dos campossociais),afirmandoseporrompercomcertasnoçõesqueforamintroduzidas no discurso científico sem maiores cuidados e com uma série de oposições muito fortes.Noqueserefereaessesconceitos,em La distinction ,BOURDIEU(1989)faz umestudoaomesmotempoteóricoeempíricoemqueutilizaepõeàprovaasnoções deespaçosocialedeclassesocial.Oautor,aodemonstrarquedeterminadostraços vistoscomonaturaisnumindivíduosão,naverdade,produtodeumaredederelações etrocasnoespaçosocial,condenaavisãoqueconsidera cada prática autônoma do universo das práticas intercambiáveis. Assim, para ele, “...o que comumente chamamosdedistinção,umacertaqualidade,maisfreqüentementeconsideradacomo inata (falase de “distinção natural”), de porte e de maneiras, é de fato diferença , separação,traçodistintivo,resumindo,propriedade relacional quesóexisteemrelação aoutraspropriedades.”(BOURDIEU,2004a,p.18) Aidéiade diferença ,assinaladapeloautor,estánofundamentodanoçãode espaço como o “...conjunto de posições distintas e coexistentes, exteriores uma às outras,definidasumasemrelaçãoàsoutraspor exterioridade mútua eporrelaçõesde proximidade,devizinhançaoudedistanciamentoe,também,porrelaçõesdeordem, como acima, abaixo, entre .” (BOURDIEU, 2004a, p. 1819). Portanto, a noção de espaço contémemsioprincípiodeumaapreensãorelacionaldomundosocialese apresentavinculadaàidéiacentralde distinção ,pois,paraoautor,“...existiremum espaço, ser um ponto, um indivíduo em um espaço, é diferir, ser diferente”. (BOURDIEU,2004a,p.23).Contudo,deacordocomBOURDIEU(2000,p.30),o sistemasocialnãoésomenteumsistemadediferençasobjetivas.Ossujeitossociais percebemseunsaosoutrosesecomparam.Quandoasdiferençasentreelesentram emsistemassimbólicossurge,então,oespaçodedistinções.Esseespaçodedistinções traduz e reproduz o espaço das diferenças materiais, que uma vez percebidas, 9 classificadas e apreciadas, funcionam como traços distintivos e afastamentos estilísticos, tornandose simbólicas. Podese dizer, então, que os indivíduos e os gruposexistemesubsistemnaepeladiferença. Na teoria de Bourdieu, é possível distinguir os quatro tipos de capital , salientados por Patrice BONNEWITZ (2003, p. 5354), que permitem estruturar o espaço social :ocapital econômico ,constituídopeloconjuntodefatoresdeproduçãoe bens econômicos; o capital cultural , composto pelo conjunto de qualificações intelectuaiseconhecimentostransmitidose/ouadquiridos,podendoexistiremestado incorporado, como disposição duradoura do corpo, em estado objetivo, como bem cultural ou e em estado institucionalizado, sancionado por instituições; o capital social ,quecorrespondeaoconjuntoderelaçõessociaisdequedispõeoindivíduoou grupo;eo capital simbólico ,quedizrespeitoaoconjuntoderituaisligadosàhonra,ao prestígioeaoreconhecimento. O modelo de La distinction no qual BOURDIEU (1989, p. 140141) representa as diferenças dos agentes através de um diagrama, define distâncias que predizem encontros, afinidades, simpatias e desejos, sendo que a proximidade no espaçosocial,aocontrário,predispõeaproximação.Oespaçosocialéconstruídode modo que os agentes ou grupos sociais são distribuídos conforme a posição que ocupamnasdistribuiçõesestatísticas,deacordocomdoisprincípiosdediferenciação queprevalecemnassociedadesmaisdesenvolvidas:o capital econômico eo capital cultural .Demodogeral,oespaçodeposiçõessociais,pelaintermediaçãodoespaço dedisposições,seretraduzemumespaçodetomadasdeposição.Acadaclassede posiçõescorrespondeumaclassede habitus .Assim,umadasfunçõesdesseconceitoé adedarcontadeunidadedeestiloquevinculaas práticaseosbensdeumagente singularoudeumaclassedeagentes. Em Gostos de classe e estilos de vida ,oautordizqueàsdiferentesposições noespaçosocialcorrespondemestilosdevidaespecíficos.Paraele,estilodevida“...é umconjuntounitáriodepreferênciasdistintivasqueexprimem,nalógicaespecíficade cada subespaço simbólico (mobília, vestimentas, linguagem ou héxis corporal), a mesmaintençãoexpressiva,princípioda unidade de estilo queentregadiretamenteà intuiçãoequeaanálisedestróiaorecortáloemuniversosseparados.”(BOURDIEU, 10

2003b,p.74).Essacorrespondênciaentreosespaçosdasposiçõessociaisedosestilos devidaresultadofatodequecondiçõessemelhantesproduzem habitus substituíveis que geram práticas diversas e imprevisíveis, porém sempre encerradas nos limites inseparáveis às condições objetivas das quais são o produto e às quais são objetivamente adaptadas. Tendo isso em vista, o gosto pode ser definido como um princípiodoestilodevida,umacapacidademateriale/ousimbólicadeumacategoria deobjetosoupráticasclassificadaseclassificadoras 3. Diante dessas observações, é interessante ressaltar que para Bourdieu as classes sociais, no sentido marxista, não existem, mesmo que o trabalho político norteadopelateoriadeMarxpossatercontribuídoparatornálasexistentes.Segundo BOURDIEU (2004a, p. 2627), “o que existe é um espaço social, um espaço de diferença,noqualasclassesexistemdealgummodoemestadovirtual,pontilhadas, nãocomoumdado,mascomo algo que se trata de fazer .”Dessemodo,opontode vistamarxistanãodácontademecanismosmaissutisdedivisãoereproduçãosocial nemdedeterminadasrelaçõesentregruposdiferentes. NateoriadeBourdieuoconceitode espaço social tentaresolveroproblema daexistênciaounãodeclassessociaisdentrodaciênciasocial.Oautoracreditaque“a ciênciasocialnãodeveconstruirclasses,massimespaçossociaisnointeriordosquais asclassespossamserrecortadas–masqueexistem apenasnopapel.Eladeve,em cada caso, construir e descobrir (para além da oposição entre construcionismo e o realismo)oprincípiodediferenciaçãoquepermitereengendrarteoricamenteoespaço social empiricamente observado.” (BOURDIEU, 2004a, p. 74). Entretanto, o autor alertaquenadapermitepensarquetalprincípiodediferenciaçãosejaomesmoem todas as épocas e em todos os lugares, pois com exceção das sociedades menos diferenciadas,todasassociedadesseapresentamcomo espaços sociais . Esses conceitos propostos por Bourdieu são fundamentais para tentar compreenderaproblemáticadarelaçãoindivíduosociedade,sendoimportantespara os estudos sociológicos que tratam sobre trajetórias. A esse respeito, em A ilusão 3 Para um aprofundamento dessa noção de gosto, ver: BOURDIEU, P.; DARBEL, A. O amor pela arte :osmuseusdeartenaEuropaeseupúblico.SãoPaulo:Edusp:Zouk,2003,244p. Nesselivro,partindodeestatísticas,aoanalisaroperfileafreqüênciadopúblicoaosmuseus,oacesso aosbensartísticoseaorganizaçãodogostoconformeaorigemsocial,osautoresmostramcomoo gostopodeserexplicadocomoumaqualidadeadquiridanavidasocial. 11 biográfica ,umapêndicelivro Razões Práticas ,BOURDIEU(2004a,p.7482)discute sobreahistóriadevida,umadasnoçõesdosensocomumqueentrounouniversodo saberentreoscientistassociais.Paraoautor,falaremhistóriadevidaépressuporque avidaéumconjuntodeacontecimentosdeumaexistênciaindividualconcebidocomo história e narrativas dessa história. Aceitar essa teoria da narrativa é conceber a filosofiadahistóriacomosentidodesucessãodeeventoshistóricos,jáqueanarrativa biográficaouautobiográficapropõeeventosque,mesmonãosedesenvolvendotodos, tendem ou pretendem organizarse em seqüências cronologicamente ordenadas e conformecertosacontecimentosquesãoselecionadosequelhessãodadosconexão. No mesmo livro, no que se refere à narrativa biográfica ou autobiográfica, Bourdieu chama atenção para o fato de que o postulado do sentido da existência contada éaceitopelosujeitoepeloobjetodabiografia.Paraele,avidanãopodeser concebidacomoumtodocoerenteeorientadoquepodeedeveserapreendidocomo expressãounitáriadeumaintençãosubjetivaeobjetivadeumprojeto.Essaconcepção levaàconstruçãodanoçãodetrajetóriacomoumasériedeposiçõessucessivamente ocupadas por um mesmo agente ou grupo em um espaço ele próprio em devir e submetidoatransformaçõesincessantes. Essa concepção de trajetória aparece também em As regras da arte (BOURDIEU, 1996), obra densa em que utiliza as mesmas categorias sociológicas para analisar, entre outras coisas, a obra literária de Flaubert. A literatura é, então, tomadapeloautorenquantoumametáforadomundosocial,poisnumromance,assim comonavidareal,ospersonagensconstroemsuascarreirasapartirdoespaçosocial. Umadasmaneirasdepôràprovaessaconcepçãodetrajetória social, é concebêla frente à análise da relação indivíduo e campo através das práticas sociais do biografado 4. 4 Uma proposta interressante aparece em A economia das trocas simbólicas , no capítulo Campo do poder, campo intelectual e habitus de classe . Neste, BOURDIEU (2004b, p. 183202) comenta sobre as deficiências freqüentes dos trabalhos monográficos de escritores e artistas que muitasvezesseapresentamassociadasàideologiaromânticadogêniocriador,estaqueémarcadapor umaindividualidadeúnicainsubstituíveleque,emgeral,trazeminformaçõeslacunosaseincoerentes. Oautorapresentaumametodologiacompostaportrêsetapasquepermitemaopesquisadoranalisara relaçãoentreo sujeito eocampo,rompendocomamaneiratradicionaldetratarosujeito.Essasetapas tambémaparecemnaobra As regras da arte ,quandooautortratada“ciênciadasobrasculturais”. Comoasetapasparaaanálisedatrajetóriaindividualeparaasobrasculturaissãoasmesmas,serão mencionadasnapróximaseção. 12

NaaplicaçãodessesapontamentosdeBourdieuaoestudoquesepropõe,vale consideraraproximidadeentreseusconceitoscomaqueles formulados por Norbert Elias,quetambémsepreocupouemresolveradualidadeindivíduoesociedade.Em A Sociedade de corte ,dizoautor:“Osconceitosde‘indivíduo’e‘sociedade’geralmente sãousadoscomosedissessemrespeitoaduassubstânciasdistintaseestáveis.Poresse usodaspalavras,éfácilteraimpressãodequeelasdesignamobjetosnãosódistintos, mas absolutamente independentes em sua existência. Mas na realidade designam processos.Tratasedeprocessosquedefatosediferenciam,massãoindissociáveis.” (ELIAS,2001,p.45). Eliastratadessadualidadepartindodoconceitodefiguração.Paraoautoreste conceitopermiteexplicardequemodoeporqueosindivíduosestãoligadosentresi. Aotentarcompreenderasrealidadessociais,Eliasenfatizaasredesouestruturasde interdependênciasqueseestabelecementreosindivíduosequeseassemelhamaum jogo,noqualecomoqualosindivíduosjogamesãojogados.Partindodesseconceito, na construção e análise de uma conjuntura histórica, temse como premissa fundamental a inexistência de agentes sociais individualizados ou a idéia de uma sociedade“sobreosindivíduos”,masumarededeinterdependências entre eles que engendramcódigosecomportamentos.Nesseponto,assimcomoBourdieu,Eliasfaz umacríticaàabordagemhistóricaporreproduziraideologiadominantenomomento emquesupõeumcaráterúnicoaosacontecimentosepostulaaliberdadeindividual comofundadoradaspráticas,atravésdeatosvoluntárioseintençõeslivres. Em Mozart, sociologia de um gênio , ELIAS (1995), concebe a sociologia como uma ciência que busca entender e explicar o que é incompreensível na vida social. Ao escolher um subtítulo um tanto quanto paradoxal para sua obra, o autor mostraseupontodevistasobreosestudosquetratamdetrajetórias 5.Nessaobra,Elias analisa a vida do músico que desde a infância habituouse ao sucesso, tornandose consciente de sua genialidade; e que mais tarde passou a não aceitar a condição subalternadeserviçaldacortedomonarcaarcebispodeSalzburgo,suacidadenatal.

5Sobreaintençãodolivro,dizoautor:“Nãoémeupropósitodestruirogêniooureduziloa outra coisa qualquer, mas tornar sua situação humana mais fácil de entender, e talvez ajudar, de maneiramodesta,aresponderàperguntadoquesedeveriaterfeitoparaevitarqueacontecesseum destinocomoodeMozart.”(ELIAS,1995,p.19) 13

Mozartsentiaseinjustiçadoaocomporparaoserviçoreligioso,situaçãoenquadrada às alternativas que um músico dispunha naquele momento, sendo as escolhas mais sensatasnaavaliaçãodeseupaiquetambémeramúsico.Segundooautor,Mozart, paraselibertardosseuspatronosesenhores,lutoucomseusprópriosrecursosemprol desuadignidadeesuaobramusical,masnãoconseguiuvencer. NorbertEliasconsideraimportanteparaasociologiacompreenderosdesejose as pretensões de cada indivíduo frente à posição que estes ocupam na vida social. ELIAS (1995, p. 13) diz que para se compreender alguém é preciso conhecer os anseiosqueestedesejasatisfazer.Paraoautorquasetodostêmdesejosclaros,quesão passíveis de serem satisfeitos, pois a vida faz sentido ou não para os indivíduos conforme eles conseguem realizar tais aspirações. Os desejos evoluem ao longo da vidadecadaumatravésdoconvíviosocialevãosendodefinidosaolongodosanos. Porém,istopodeocorrerderepente,associadoaumaexperiênciaespecialmentegrave. ELIAS(1995,p.36)tambémchamaatençãoparaaposturaqueopesquisadordeve manteremsuapesquisaemrelaçãoaessasquestões.Paraele,opesquisadorprecisa partirdaperspectivado eu enãodo ele paraentenderosdesejosindividuais. Além das categorias sociológicas até aqui comentadas, para que haja um tratamento mais adequado às fontes utilizadas na construção de uma biografia, o pesquisadorpodeseapoiarnoarcabouçoconceitualrelativoàmemória.Entendendo sequeparaessatarefaomesmopodeutilizarinformaçõesdeorigensdiversas,tanto de fontes escritas e/ou orais, como provenientes de imagens e/ou objetos. Portanto, podesefazerusodedocumentoshistóricos,escritosautobiográficos,publicaçõesde linguagem científica e do senso comum, correspondências, diários, fotografias, monumentos, obras de arte, objetos pessoais, uma infinidade de coisas que possam informaralgosobreobiografado.Dessemodo,pararealizaressatarefa,éprimordial retomar algumas das discussões sóciofilosóficas referentes à memória. No que se refereaessesestudos,foiÉmileDurkheimquemapresentouaprimeiratentativade rompimento com algumas concepções positivistas 6. Contudo, o vocabulário

6Aesserespeito,ver:DURKHEIM,E. Sociologia e filosofia .SãoPaulo:Ícone,1994.p.9 54.Nessaobra,oautorapresentaosprimeirosesforçosdedemarcaçãosobreoconceitodememória social,aolançarmãodestaparasuaargumentaçãoemdefesadasrepresentaçõescoletivas. 14 mnemônicofoidesenvolvidoapenascomoutrosautores,entreelesHenriBergson 7e MauriceHalbwachs. Em A memória coletiva , HALBWACHS (2004) retoma e desenvolve a demonstração fundamental do caráter simbólico da memória em diálogo com a filosofiabergsoniana.Oautorressaltaaforçadosdiferentespontosdereferênciaque estruturam a memória individual e que a inserem na memória da coletividade, estabelecendodiferençasentreestacomamemóriaindividual,amemóriahistórica,o tempo e o espaço. Halbwachs fala do processo de reconstrução de um quadro de lembrançasdeumindivíduosobreumeventoqualquer.Segundoele,umconjuntode lembranças de um evento é reconstruído por um indivíduo pela busca do passado reproduzido através de imagens. Quando isso ocorre, o indivíduo recorre primeiramenteasimesmocomotestemunha.Parafortaleceroudebilitar,eatémesmo completaroquesabe,apelaparaoutrem,natentativadepoderdarseqüênciaacertos traçoseindícios.Dessemodo,noprocessodereconstruçãodaslembranças,aslacunas são preenchidas com a ajuda de dados emprestados do presente e preparadas por reconstruções feitas em épocas anteriores, e de onde a imagem já se manifesta alterada. Aimpressãodoindivíduoapoiadasobrealembrançadeoutremfazcomquea confiançanaexatidãodaevocaçãosejamaior.Aslembrançasindividuaispermanecem coletivas,poismuitasvezessãolembradaspelosoutros,sendoestestestemunhas.A influênciadosoutrosestariabaseadaemdiferentespontosdevista,namedidaemo indivíduo,nasrelaçõessociais,entraemcontatocommodosdepensaraosquaisnão teriachegadosozinho.Dessamaneira,amemóriacoletivasemanifestanomomento em que o indivíduo faz parte de um mesmo grupo que as testemunhas, pensa em comum sob determinados aspectos, permanece em contato com o grupo, continua capazdeseidentificarcomomesmoeconfundeoseupassadocomodogrupo.A partirdessepontodevista,podeseentenderaseguinteafirmaçãodoautor:“esquecer

7Numadesuasobras,Bergsonprocuradeterminararelaçãoentrea realidadeexterna(a matéria) e a interna (o espírito) sobre o exemplo da memória. Para um aprofundamento dessas questões,ver:BERGSON,H. Matéria e memória :ensaiosobrearelaçãodocorpocomoespírito.2 ed.SãoPaulo:MartinsFontes,1999.291p. 15 um período de sua vida é perder contato com aqueles que então nos rodeavam.” (HALBWACHS,2004,p.37) Ao falar sobre a lembrança individual como limite das interferências coletivas ,HALBWACHS(2004,p.5156)dizqueareconstruçãodelembrançaspela memóriaindividualéfeitaapartirdoquadrodaslembrançasindividuaisantigas,estas se adaptariam ao conjunto das percepções atuais. Assim, cada indivíduo seria um “eco”,na medidaem que,noresgatede seupassado precisaria do depoimento dos outros, pois estes trariam dados ou noções comuns que ajudariam na reconstrução dessalembrançaindividual.Muitasvezes,essesdadosounoçõescomunsdosoutrosse confundiriam com os do próprio indivíduo em questão, e viriam a estabelecer a memória coletiva. Portanto, segundo o autor, haveria duas espécies de memórias: individuaisecoletivas.Oindivíduoparticipariadasduas,porém,naparticipaçãode umaoudeoutra,omesmoadotariaatitudesdiversaseatécontrárias.Cadamemória individualseriaumpontodevistasobreamemóriacoletiva,estemudariasegundoo lugar que ali o indivíduo ocupa, podendo esse lugar também mudar conforme as relaçõesqueoindivíduomantémcomdiferentesmeios. De acordo com HALBWACHS (2004, p. 57), as memórias individual e coletiva penetramse constantemente. Para confirmar determinadas lembranças e cobrircertaslacunas,amemóriaindividualpodeseapoiarsobreamemóriacoletiva, sedeslocarnelaeseconfundirmomentaneamentecomela,masnemporissodeixando de seguir seu próprio caminho. Isto porque a contribuição exterior é assimilada e incorporada progressivamente a sua substância. Por outro lado, a memória coletiva envolveasmemóriasindividuais,masnãoseconfundecomelas. Sãoessesosconceitosqueirãonortearestapesquisa, especialmente a parte relativaàtrajetóriadeFredericoLangedeMorretes.Noquedizrespeitoàbiografia desse artistacientista, na reconstituição de seu percurso, esses conceitos não só permitem unir fragmentos, mas também podem fornecer elementos para entender melhorquemrealmenteeleera.Atravésdisso,serápossívelcompreendersuavastae dispersaproduçãoartística,científicaeintelectual. 16

1.2ESBOÇODEUMASOCIOLOGIADASARTESVISUAIS Em Por uma ciência das obras , capítulo do livro Razões práticas , Pierre BOURDIEU(2004a,p.5361)dizqueoscamposdeproduçãoculturalpropõemum espaço de possíveis àqueles que neles estão envolvidos. Esse espaço de possíveis defineouniversodeproblemas,dereferênciasedemarcasintelectuaisdosprodutores culturaisdeumaépocaespecífica,fazendocomqueestejamsituadosunsemrelação aos outros. Além de situados e datados, os produtores culturais são relativamente autônomosemrelaçãoaosdeterminantesdoambienteeconômicoesocial.Contudo, esse espaço de possíveis tende a orientar todo um sistema de coordenadas que é precisoteremmentepara“fazerpartedojogo”.Portanto,omicrocosmosocialemque as obras culturais são produzidas pode ser entendido como um espaço de relações objetivasentreposiçõescujasrelaçõesdeforçae delutasentreosagentestêmpor objetivoconservaroutransformarsuasposiçõesdentrodocampo. No que se refere aos produtores culturais, segundo BOURDIEU (2004a, p. 64), cada autor (artista, literato, cientista) só existe e subsiste de acordo com as limitaçõesdocampo,criandoseupróprio projeto criador emfunçãodasuapercepção das possibilidades disponíveis e inscritas em seu habitus ,porcertatrajetóriaepela escolhaourecusadospossíveis.Portanto,parase compreenderumaobraculturalé preciso, então, compreender o campo de produção e a posição do produtor nesse espaço. Em As regras da arte ,BOURDIEU(1996,p.325326)dizqueparaaciência dasobrasselibertardavisãoessencialista 8,eladeveconsiderarumaanálisehistórica dagênesedepersonagensdojogoartístico–oartistaeoconhecedor–etambémdas disposiçõesqueaplicamnaproduçãoenarecepçãodasobrasdearte.Aciênciadas obras,aotratardarelaçãodoartistanocampo,nãodevetratarapenasdeexorcizaro “fetichedonomedomestre”,masdescreveroconjunto de mecanismossociaisque

8PierreBourdieuserefereaofatodospesquisadoresinsistiremempropriedadesqueasobras dearteemgeralpossuemcomogratuidade,ausênciadefunçãoouprimadodaformasobreafunção, definiçõesestas,quenadamaissãodoquevariantesdaanálisekantiana.Segundoele,essasanálises de essência, ao tomarem como objeto a experiência subjetiva da obra de arte, que é a do autor enquantohomemcultivadodecertasociedade,nãotomanotadahistoricidadedessaexperiênciaedo objetoaoqualelaseaplica.(BOURDIEU,1996,p.319320) 17 tornarampossíveloartistacomoprodutordaobradearte.Paraessatarefa,épreciso recensearosindíciosdaautonomiadoartistaedaautonomiadocampo,oslugaresde exposição,asinstânciasdeconsagração,asinstânciasdereproduçãodosprodutorese osagentesespecializados. Tendo em vista essas questões, ao propor essa ciência das obras culturais, BOURDIEU (1996, p. 243) supõe três operações básicas necessárias que estão intimamenteligadasquantoostrêsplanosdarealidadesocialqueelasabrangem.A primeiradelaséaanálisedaposiçãodocampoartísticonoseiodocampodepodere desuaposiçãonodecorrerdotempo.Asegundaéaanálisedaestruturainternadesse campo que é um universo que obedece às suas próprias leis de funcionamento e transformação – a estrutura das relações objetivas entre posições que aí ocupam indivíduosougruposemsituaçãodeconcorrênciapelalegitimidade.E,porúltimo,a análisedagênesedos habitus dosocupantesdessasposições. Com o intuito de construir uma sociologia das artes visuais será preciso ampliaressedebate,paraqueessasoperaçõeslevantadasporPierreBourdieusejam aplicadasnoestudodavidadeumartistaedesuaobraatravésdeumaanálisepautada emduasesferascircunscritas.Naprimeiradessasesferas,aanálisepartedavidado artistaparaasuaobrae,nasegunda,desuaobraparasuavida.Nesseprocessobuscar seáaligaçãoentreo habitus doartistaesuaobra,atravésdesuasexperiênciasnela inscritas e o reflexo que o campo artístico e outros elementos a ele relacionados exerceramsobreasmesmas.Assim,atravésdessesprocedimentos,tornasepossível entenderomovimentodesíntesepeloqualasubjetividadedoartistaseobjetiva,cujo produtofinaléaobradearte. ApesardeBourdieuterapresentadoumainteressantepropostaparaosestudos dasobrasculturais,noqueserefereàsartesvisuais,especificamenteodesenhoea pintura, ele não chegou a publicar um estudo que colocasse em prática seus apontamentos,tendosededicadomaisàsociologiadaliteratura.Em As regras da arte , oautordizqueseumétododeanáliseenglobariaoutrastradiçõesemvigornoestudo dapintura.Sendoassim,osestudosdeoutrosautorespodemabarcaratarefadese fazerumaverdadeirasociologiadasartesvisuais.NorbertEliaseGeorgSimmelforam osautoresescolhidosparadarcontadasespecificidadesdessapesquisa.Istoporque, 18 suas teorias se aproximam do que se objetiva: analisar os desenhos e as pinturas produzidosporFredericoLangedeMorretes. Em Mozart, sociologia de um gênio , Norbert ELIAS (1995) relaciona a produçãomusicalcomavidadeMozart.Eliasapresentaalgunspontosinteressantes sobreodesenvolvimentodocampoartístico,aofalardoprocessodetransiçãodaarte de artesão para a arte de artista. Esse estudo se aproxima muito da perspectiva de Bourdieu,masnaanálisedeEliasocaráterhistóricoganhamaiorimportância.Embora nãoutilizeessestermos,emseuestudoEliastratadasregrasestabelecidaspelocampo do qual o artista faz parte numa determinada situação. O autor apresenta uma diferenciação entre arte de artesão e arte de artista , que bem serve para entender comoasobrasartísticastrazememsiasmarcasnãosódoartista,masdocampoedo momentoemqueforamcriadas–onderesideaimportânciadoconceitodefiguração. ParaELIAS(1995,p.135),a arte de artesão éaquelaproduzidaporencomendaou sob a proteção de um mecenas, feita por um indivíduo (o artista) considerado socialmenteinferior,paraatenderàsexigênciasdeumgrupodegostomuitoespecífico ehegemônicoe,portanto,maisobjetiva.Já arte de artista éamodalidadenaqualo autor (o artista), de nível social equiparável ao de seu público e respeitado como indivíduodotadodetalentocriador,podeexpressarsecommaiorsubjetividade. Já em A peregrinação de Watteau à Ilha do Amor , ELIAS (2005)procurou relacionaravidaeaobradopintorJeanAntoineWatteau(16841721),analisando,em especial,aproduçãodealgumastelascomamesmatemática,relacionandoascomo momentoeascondiçõesquepermitiramacriação 9.Apesardequenaocasiãoemque escreveuolivropossuíssepoucacapacidadefísicadevisão(30%),Eliassabiadetalhes precisoseconheciaumavastabibliografiasobreastelasproduzidaspelopintor.Na obra, o autor explora as especulações e os fatos consolidados sobre a interpretação 9 Watteau é classificado como um pintor especialista em Festas Galantes . Sua obra tem comomarcaapassagemdoestiloBarrocoaoestiloRococó,esteconsideradonaquelemomentosem substânciaquandocomparadocomoaartesériadopassado.Nascido em Valencinnes, na Flandres francesa,Watteauvinhadeumafamíliadeartesãos,mudouseparaParisparaconseguirseinstruir, poisnãotinhacondiçõesfinanceiraseesperavaencontrarumpatronorico.ParaELIAS(2005,p.23 24),assimcomoMozart,Watteauqueriasuaindependência,porémtevemaissortequeomúsico,pois conseguiusuaadmissãoàAcademiaFrancesaem1712.Nessaépoca,oartistaprecisavadoaruma obraprimaparaingressarnacorporaçãoe,então,entregou Peregrinação para Cítera ,massomente em1717. 19 simbólica das telas que tem como tema a Ilha de Cítera. Ele comenta sobre as diferentesinterpretaçõesfeitasporcríticosdearteeescritoresdeperíodosdistintosea formacomoatelafoiaceitaapartirdecadaumadessasleituras.Umdospontosmais interessantesdesselivroéqueasdescriçõesdeEliasgiramemtornodaformavariada queaobradeartepodeserinterpretada.Istoporque,apartirdomomentoemquea arte é um produto da subjetividade humana que se objetiva, ela ganha autonomia quandoseafastadefinitivamentedoseucriador.Portanto,adescriçãodeEliassobreo que aconteceu com a obra de Watteau serve também para ilustrar a concepção simmelianadearte,especialmenteadepintura. Em A moldura. Um ensaio estético ,SIMMEL(2005,p.119121)dizque“o caráterdascoisas”dependesesãototalidadesoupartes,ouseja,seelaspossuemuma existênciaautosuficienteouseencontramemconexãocomumtodo.Sendoassim,o autor concebe a essência da obra de arte como “um todo por si mesmo” que não precisamanterumarelaçãocomoexterior,istoporquesuas“correntesenergéticas” sãosemprereconduzidasaoseucentro.Paraele,aobradearteé“uma unidade de elementos singulares”, sendo que os limites consistem num lugar de intercâmbio circular incessante 10 como todo o externo. A função da moldura incide na simbolizaçãoenoreforçamentodetaislimites,poiselaexcluiomeioambienteeo expectadordaobradearte,aomesmotempoemquereforçaadistânciaeproporciona o consumo estético. As suas qualidades revelamse como meios auxiliares e simbólicos da unidade interna que a pintura possui: a defesa contra o exterior e a conexãoeintegraçãointerna. O autor tenta estabelecer critérios para definir o que é e o que não é arte quandocomparaestacomomóvel.SegundoSIMMEL(2005,p.123124),enquanto “a obra de arte é algo por si mesmo, o móvel é algo para nós.” A obra de arte, enquanto simbolização de uma unidade psíquica pode ser tão individualizada como quiser,justamenteporquequandopendurada,tendoumamoldura,assemelhaseauma ilha que espera que alguém chegue até ela, podendo ainda ser ignorada. De outro modo, o móvel por ser continuamente tocado, não tem o direito de existir por si 10 Conforme nota do tradutor do texto, no original em alemão Simmel utiliza os termos técnicos exosmose e endosmose ,natraduçãoparaoportuguêsfoiconsideradoosignificado desses termos. 20 mesmoenemdeterumamoldura.Paraoautor,omóvel,assimcomoamoldura,tem queterumestilo.Tendoemvistaessasexplanações,alémdadefiniçãodearteque Simmelapresenta,suavisãoémarcadapelaconstataçãodomovimentodaArteNova querepercutiupelaEuropanoperíodoemqueoartigofoiescrito 11 . EsseensaiodeSimmelpermitepensaraobradearteenquantoumconjuntode elementos que formam uma unidade . E é aí que reside sua contribuição para uma análise de uma pintura que ainda está “dentro da moldura”, como a produzida por FredericoLangedeMorretes 12 .Apartirdessepressuposto,tornasemaisfácilanalisar acomposiçãodessa unidade queéaobradearte.ParaSimmel,comoumconstruto humano,aobradeartesurgeapartirdarelaçãodeestranhezaentreo“processoda vida”ea“criaçãodaalma”.Partindodisso,umdospontoscruciaisparaentenderseu pensamentosobreaarteéapróprianoçãodeculturadesenvolvidapeloautoreque norteiaváriosdeseusescritos 13 . Em O conceito e a tragédia da cultura ,SIMMEL(2005,p.77115)falasobre arelaçãosujeitoobjetodaqualdecorremosconstrutosdarealidadehumana,ouseja,o processoqueenvolveohomemearealidadedomundoqueocerca.Osurgimentoda culturasedáquandoaconteceaaproximaçãodessesdoiselementosessenciais:aalma

11 ArteNovaou Art Nouveau correspondeàartedecorativasurgidanadécadade1890,cujo estiloutilizavaformasqueremetemaomundonaturaleorgânico,emjóias,louças,bibelôs,vidros, luninárias,móveiseoutrosutensílios,influenciandotambémapintura,aescultura,asartesgráficasea arquitetura.Emboranãomencioneissonotexto,senotaaconstataçãodeSimmelquantoàpresençae avançodaArteNovapelaEuropaeamudançadoconceitodeartecomamodernidade.Nesseperíodo, discutisesobreonovoestatutodeobradeartequecondicionaaosobjetosquesepropõemserem artísticos,comoosproduzidosnoestiloArteNova,entreelesosmóveis. 12 ComasobrasdePabloPicassoeBraquesurgiramtransformaçõesquecontribuíramde formasignificativaparaumanovaconcepçãodepintura.Pelopontodevistaespacial,apartirdos trabalhosdessesartistasapinturanãosó“saiudamoldura”comopassouaincorporarelementosdo mundorealatravésdascolagensdeobjetosnãopictóricosnatela,comopedaçosdejornais,retalhos de tecido, linóleos e areia. A pintura produzida por Lange de Morretes tem como referencial as linguagensartísticasanterioresaestastransformações. 13 Nessecaso,verespecialmenteasobras:SIMMEL,G. Estudios psicológicos y etnológicos sobre música .BuenosAires:Gorla,2004.80p.eSIMMEL,G. Rembrandt : ensayodefilosofíadel arte.BuenosAires:Nova,1950.225p.Éprecisolembrar,ainda,queosescritosdeestéticaproduzidos pelo autor não estão desvinculados de seu formalismo sociológico. Logo, vale mencionar alguns artigos em que ele trata sobre aspectos estéticos da vida do homem em sociedade: SIMMEL, Sociologia da refeição. Estudos Históricos , Rio de Janeiro, n. 33, p. 159166, jan./jun., 2004 e SIMMEL,G.EstéticaeSociologia. Revista Política e Trabalho ,JoãoPessoa,n.14,p.183188,set. 1998. 21 subjetivaeoprodutoespiritualobjetivo.Paraoautor,aculturaé,então,omovimento desíntesedessesdoiselementos,sendoquenenhumdelesacontémporsi.Elasópode serencontradanoaperfeiçoamentodosindivíduos,quandoocorreacultivação 14 . Esseprocessodialéticoqueenglobaaobjetividadeeasubjetividadetambém seaplicaaodirecionamentodoolharhumanoparaomundonatural.Em A Filosofia da Paisagem ,SIMMEL(1996)dizqueéprecisoquecertoconteúdodocampodevisão cativeoespíritodohomemparaqueestepossaveroselementosdanaturezacomo paisagem. Para que esta ocorra, a consciência deve ter, além desses elementos, um “novo conjunto”, uma “nova unidade” cujos elementos não estejam ligados às suas significaçõesparticularesnemcompostosmecanicamentedasuasoma. EssaquestãonorteiaareflexãodeSimmelacercadoespaço 15 ,poisdomesmo modoque“ummontedelivrosemsinãoconstituiumabiblioteca”,sendonecessário umaintençãoparaqueelavenhaaexistir,adelimitaçãotambéméumanecessidade para definir a base material da paisagem. Sem um conceito unificador “um pedaço dissociado da natureza” não se poderia constituir em paisagem. Para que surja a paisagem, “...é preciso inegavelmente que a pulsação da vida, na percepção e no sentimento, seja arrancada à homogeneidade da natureza e que o produto especial assimcriado,depoisdetransferidoparaumacamadainteiramentenova,seabraainda, por assim dizer, à vida universal e acolha o ilimitado nos seus limites sem falhas. (SIMMEL,1996,p.16) NopensamentodeSimmel,narelaçãohomemnatureza–emqueoprimeiroé osujeitoeasegundaoobjeto–éatravésdapaisagemqueohomemtransformauma natureza “sem valor” em uma natureza “valorizada”. Segundo o autor, “pelo termo natureza,entendemosacadeiasemfimdascoisas,o nascimento e o aniquilamento

14 Lembrando que as discussões de Simmel estão vinculadas a uma concepção alemã de culturaquediferedafrancesaeinglesa.EssetemafoitratadoemváriasobrasdeNorbertElias.Um excelentedebatesobreoassuntotambémapareceem:CUCHE,D. A noção de cultura nas ciências sociais .Bauru:Edusc,2002,p.931. 15 Paraumaprofundamentoda sociologia do espaço desenvolvidapeloautor,vertambém: SIMMEL,G.Aponteeaporta. Revista Política e Trabalho ,JoãoPessoa,n.12,p.1014,set.1996. Alémdesseartigo,ver:SIMMEL,G. Sociologia: estúdios sobre las formas de socialización .Vol.2. Madri:RevistadeOccidente,1927.p.227324.Tratasedogrupodeensaiosdocapítulo O espaço e a sociedade ,doqualfazemparte: Digressão sobre a limitação social , Digressão sobre a sociologia dos sentidos e Digressão sobre o estrangeiro . 22 ininterruptos das formas, a unidade fluida do viraser, exprimindose através da continuidade da existência espacial e temporal.” (SIMMEL, 1996, p. 15). O que se diferenciadapaisagem,pois“‘umpedaçodenatureza’,énaverdadeumacontradição emsi;anaturezanãotempedaços;elaéaunidadedeumtodo,eselhedestacaum fragmento,estenãoserámaisinteiramentenatureza,porquenãopodevalercomotal no seio dessa unidade sem fronteira, como uma onda desse fluxo global a que chamamosnatureza.”(SIMMEL,1996,p.1516) Oautortomaanaturezacomoumatotalidadeeapaisagemcomooconjunto deelementospresididospeloqueelechamade Stimmung 16 .Referindoseaohomem, essetermoédefinidoporelecomo“...aunidadequedácorconstantementeounum dadomomentoàtotalidadedosseusconteúdospsíquicos,unidadequenadaconstitui de singular em si e não adere, em muitos casos, a qualquer elemento singular facilmenteindicável,masquenãoobstanterepresentaogeralondeseencontramnum determinadomomento,todasestasparticularidades.”(SIMMEL,1996,p.21) Segundo o autor, este é o conceito unificador que confere sentido aos construtosdoolharquerecaisobreanaturezaequeisoladestaumpedaço.Tratasede um processo afetivo de ordem exclusivamente humana, despertado por um “sentimentodanatureza”quesósedesenvolveunaépocamoderna.Oestadopsíquico e a transformação autônoma que se desenvolveram com esse processo tiveram seu ganho final confirmado com o surgimento da paisagem na pintura, sendo também capitalizado por ela. Partindo desse conceito unificador do qual fala Simmel, este trabalhopretendecomporumquadroanalíticovinculandoumaanáliseestéticadaobra artística produzida por Frederico Lange de Morretes com a análise da trajetória do mesmo,estapautadanascategoriassociológicasdeBourdieueElias,principalmente osconceitosde habitus ,campoefiguração.

16 Em alemão esse termo significa: disposição de espírito; ânimo; sentimento despertado, sentimento pessoal; afinação, tom, tonalidade (instrumentos de música); emoção produzida pelo ambiente. 23

2 O CAMINHO PERCORRIDO POR UM ARTISTA-CIENTISTA

Sou forte, tenho coragem demais Luto por amor ao trabalho Mas sempre encalho Nos rochedos sociais. Todo o esfôrço que da letargia eu saia É como o da onda do mar Que tudo querendo rebentar Acaba como espuma da praia. S.P. [São Paulo] 03-10-1949.

Frederico Lange de Morretes 17

FIGURA1– ANDERSEN,A.Retrato de Lange de Morretes .Semdata.1óleosobretela:colorido; 40x38cm.MuseuAlfredoAndersen,Curitiba.Foto:LuisAfonsoSalturi. 17 MORRETES,F.L.de. Fraqueza (versos),1949,p.64. 24

Desde os autores clássicos até os contemporâneos a relação indivíduo sociedade é uma problemática que se inscreve na teoria sociológica. Embora de origensdiversas,éperceptívelaaproximaçãoentreasproduçõescientíficasdeixadas pelo sociólogo francês Pierre Bourdieu e pelo sociólogo alemão Norbert Elias, na medida em que esses autores se preocuparam em resolver essa relação dual. Os conceitoselaboradosseparadamenteporelessurgiramparatentarexplicaradinâmica queseestabeleceentreainterioridadeeaexterioridade.E,éjustamentenesseponto que se concentra a importância dessas teorias para os estudos que tratam sobre trajetórias. Nesta pesquisa, a trajetória social é construída a partir de certos traços biográficos do personagem, em que se tenta relacionálos com seu habitus , seus capitais, sua produção (artística, científica e intelectual), sua atuação em diferentes camposeaprópriafiguraçãoqueseconstituiunoperíodoemqueviveu.Porém,pela forteaproximaçãocomahistória,essesconceitosnãosãoporsisósuficientespara abarcar as especificidades empíricas da pesquisa. A recorrência ao arcabouço conceitualrelativoàmemóriaganhaaquitodoosentido,poispermiteumtratamento maisadequadoàsfontespesquisadaseutilizadasnamedidaemqueéincorporadoà teoriadabiografia.Otrabalhocomoumtodofoipensadonessaperspectiva.Entender e explicar as relações sociais é tarefa da sociologia. Para isso, aqui a análise sociológicaseconverteuàescritadaprópriatrajetóriasocial. 2.1FREDERICOLANGEDEMORRETES(18921954)

Oartistaplásticoecientista,conhecidocomoFrederico Lange de Morretes, nasceunodia5demaiode1892,emMorretes,cidadedolitoralparanaensecujonome sedeuemreferênciaaospequenosmorros.FredericopassouainfâncianaSerrado Mar,tendomoradocomsuafamílianodesviodoYpirangados2aos9anos.Asua infânciajuntoànaturezapermitiuquetantoasuacarreiraquantoasuaobrafossem marcadasporessaprimeiraexperiência. 25

O pai de Frederico era o engenheiro alemão Rudolph Lange 18 , natural de Leipzig. Rudolph se instalou em Morretes onde assumiu o cargo de Chefe da Via PermanentedaEstradadeFerroParanaguáCuritiba,juntoaogrupodeengenheirosde João Teixeira Soares, este que reuniu profissionais brasileiros e estrangeiros para a construçãodalinhadeferro.EmParanaguá,Rudolphconheceusuafuturaesposa,a viúvaAnaBockmannSchubert,naturaldacidadedeMorretes.Ocasalviriaaformar umafamíliaconstituídaporsetefilhos 19 . RudolphfoitransferidoparaopostotelegráficodoYpirangaquandoFrederico tinhaapenasdoisanos.AosnoveanosFredericoconheceuAlfredoAndersen,quando Rudolph, apreciador de arte, encontrou o pintor no Porto de Paranaguá tentando vendersuaspinturas.RudolphnãosócomprouastelasdeAndersencomoresolveu trazêlo para executar o retrato dos filhos, que passaram a ter aulas de desenho e pintura com o artista, dentre eles Frederico foi o que mais se destacou. Conforme FERREIRA(2001,p.65),AlfredoAndersenteriasehospedadoporalgumtempocom a Família Lange na Casa do Ypiranga, localizada na Serra do Mar, entre os quilômetros71e72daestradadeferroqueligaCuritibaàParanaguá. ApósaaberturadaEstradadeFerroParanaguáCuritiba,inauguradaem2de fevereirode1885,acidadedeMorretesentrouemdecadênciaeconômica.Osportos de Morretes e de Porto de Cima e as indústrias de beneficiamento tornaramse desnecessários, pois as grandes casas comerciais e as indústrias se mudaram para Curitiba. Desse modo, a Família Lange se transferiupara Curitiba e, em 1902,por sugestãodeRudolphLange,AlfredoAndersentambémsemudouparaacapital. DepoisdeviverdezanosemParanaguá,incentivadopelaproteçãodeVicente Machado, Andersen montou seu atelier em Curitiba. Nesta cidade, aos poucos, seu estúdiosetransformouemescolaeFredericotevecomeleaulasdedesenhoepintura de1907até1910.Nasaulas,entreoutrascoisas,Fredericoaprendeuacopiarbustosde Vênus e Apolo e pintar ao natural. Em 1907, o professor permitiu que em sua

18 ExistenacidadedeMorretesumaestaçãodetremchamadaEngenheiroLange,cujonome éumahomenagemàRudolphLange.Aestaçãofoiinauguradaem1885,chamouseanteriormente VoltaGrande,edepoisteveonomealterado.Atualmenteaestaçãoseencontradesativada. 19 CarlosShubert,filhodeAnacomseuprimeiromarido,Ana,Ernest,Hedwig,Reinaldo, HerminiaeFrederico,filhosdeAnacomRudolph.(MORRETES,2003,entrevista) 26 exposição fossem expostos cinco desenhos do seu jovem aluno. Andersen também convenceu Rudolph a mandar o filho para a Europa para dar seqüência aos seus estudosartísticoseampliarseusconhecimentos.Noqueserefereaesseepisódio,diz TheodoroDeBona:“Éóbvioqueaexigênciapaternaestavaligadaaumfuturomais positivoparaofilho,vistoquenãoseconsideravasomenteaarte,umagarantiade vida.”(DEBONA,2004,p.22).Sendoassim,aorigemdaFamíliaLangecertamente contribuiu para a escolha da Alemanha entre os países da Europa. Em relação à questão financeira, por intermédio de Andersen, Frederico conseguiu uma bolsa de estudosdasautoridadespolíticasdaépocaparamanterseusgastos. SegundoCarlosRUBENS(1995,p.97)quandovisitadopelocríticocarioca Nogueira da Silva, em 1915, Alfredo Andersen mostrou “o traço psicológico” e as “qualidades primaciais” de seus discípulos. A respeito de Frederico, considerouo comoseumelhoralunoeo“maiorpintorparanaense”,dizendo:“Éumartistapessoal com uma visão muito acentuada da paisagem. Ensineilhe a desenhar, metilhe os pincéis nas suas mãos, e quando pressenti que o meio lhe ia atrofiando seus maravilhosos recursos, aconselhei o pai para mandálo embora. E Fred. partiu. Foi paraaAlemanha.”(RUBENS,1995,p.98) AlémdapresençadeAndersen,segundoSebastiãoPARANÁ(1922,p.405), ocontatocomEuclidesBandeira I,escritorejornalistado Diário da Tarde ,foimuito importanteparaaformaçãointelectualdeFrederico,marcandoafaseinicialdesua carreira.Nessafase,tambémmerecemdestaquesuasviagensparaosestadosdeSanta Catarina,RioGrandedoSuleRiodeJaneiro,antesdeembarcarparaaAlemanha,em maiode1910.Taisviagenslhedarão“...subsídiosparacompararapaisagemdesua terracomapaisagemeuropéia,oquefarácomqueseapaixonecadavezmaispelo BrasileespecificamentepeloParaná.”(ARAUJO,1974,p.107) Em1910,naAlemanha,com18anos,Fredericomandoualgunsdesenhosseus para revistas alemãs, mas decepcionouse, pois não houve interesse por parte delas paraapublicação.Nessemesmoano,emLeipzigfoialunonaRealAcademiadeArtes Gráficas [ Staatliche Akademie für Graphische Künste und Buchwerbe ], tendo aulas comWalterTiemann(18761951)eHansSoltmann(18761955).Nesseperíodo,além dedesenho,eleestudoupintura,litografia,matemática,anatomiaeembriologia. 27

Em1913,tendosepreparadocomHermannGroeber(18651935),conseguiu entrar por concurso na Escola Superior de Belas Artes de Munique [ Munich Akademie ].Nestaseguiucursosdepinturaeesculturade1915até1920,sendoaluno de Angelo Jank (18681940) e de Carl Hans SchraderVelgen (18761945) 20 . Além dosestudosnaáreadasartes,estudouzoologiaporgosto.Nessafase,oartistaexpôs individualmenteemMuniqueeColôniaealémdeencontrarumaEuropaagitadapor revoluções estéticas, foi surpreendido pelas conseqüências da Primeira Guerra Mundial. Frederico se casou em 1917, na cidade de Wallgan, com a cantora lírica BerthaBamberger II ,queconheceuemOberamergau,tambémnaAlemanha.Berthaera filhadafarmacêuticaMariaBambergeredomédicoMarianoBamberger,sendoneta deumfamosopaisagistachamadoFritzBamberger,tiodeRicardoStrauss.Aprimeira filhadocasal,Berta,nasceuem28dejunhode1917.Ocasalviriaatermaisfilhos, sendo estes, duas filhas e um filho: Ruth (03/07/1919), Ana Maria (14/04/1923) e Flávio(16/02/1929–04/09/1993)21 .ApósconstituirfamíliaecomofimdaPrimeira GuerraMundialoartistaresolveuvoltarparaoseupaís.Emmaiode1920,Frederico chegouaoBrasilcomaesposaefilhas,inicialmentemorounacasadeseupai,situada naRuadaMisericórdia[atualRuaAndrédeBarros],emCuritiba.Depoissemudou paraaRuaTrajanoReis,antesdefixardefinitivamentesuaresidêncianaRuaCoronel Dulcídio.(MORRETES,2006,entrevista) FredericoregressoudaAlemanhacomoum“novohomem”,considerandodois aspectos.Primeiramente,noaspectoprofissional,poisentrouemcontatocomnovas técnicas e tendências artísticas, tanto que após seu regresso foi “...possivelmente o primeiro a introduzir no Paraná o uso da espátula e uma preocupação tipicamente impressionista com a luz.” (ARAUJO, 1974, p. 106). No aspecto pessoal, retornou com uma nova identidade que se manifestou em seu nome artístico: “Lange de

20 Nabibliografiaexistentehámuitasdivergênciascomrelaçãoàgrafiacorretadosnomes dos professores de Frederico Lange de Morretes na Alemanha. Somente depois de uma pesquisa apuradarecorrendoareferênciasforadoBrasil,via Internet ,foipossívelafirmarcomprecisãoagrafia corretadonomeeoperíodoemqueelesviveram.Aimportânciadessesprofessoresparaaobrade LangedeMorretesserádiscutidanoquartocapítulo. 21 Certasnotasbiográficasdizemquesãotrêsfilhos,masnaverdadesãomesmoquatro. 28

Morretes”. Isso porque, quando estava na Alemanha notou que seu sobrenome era muito comum e resolveu mudálo. Seu pai se desgostou com essa mudança, principalmenteporqueafamíliatinhaumnomeprestigioso.Paraomesmo,nãohavia mais a necessidade de manter o homônimo no Brasil. Apesar disso, o filho não se deixouconvencerpelopai.Morretes,suacidadenatal,erasuareferência,eseunovo nomemostravabemaidentificaçãocomsuasorigens. AofixarsuaresidêncianaRuaCoronelDulcídio,n°.1202,FredericoLange deMorretesabriuseuateliereescolagratuitadedesenhoepintura,aqualmantevepor 12 anos, entre os anos de 1923 e 1935. Teve também como vizinhos os artistas e amigosJoãoGhelfieJoãoTurin.Ghelfimoravacomafamílianumacasademadeira na Rua Coronel Dulcídio, perto da esquina com a Avenida 7 de Setembro, praticamenteemfrentedaresidênciadeLangedeMorretes.(DEBONA,2004,p.31). Turin, que havia se instalado no Alto do São Francisco, numa casa cedida pela PrefeituradeCuritiba,semudoudepoisparaasuacasaatelier,naRua7deSetembro, nº.2779,esquinacomaRuaCoronelDulcídio. AfilhamaisvelhadeFredericotrazalgunsaspectosimportantesparaaanálise daformaçãoculturaldesuafamíliaearelaçãodeseuspaiscomocampodadocência. Segundoela,seuspaisporpuroidealismomantinhamumaescolaparticular,anexaà suaresidência,fornecendotodoomaterialdidáticonecessárioàsaulas,sendoexigido dos alunos apenas a freqüência. Nessa escola, Lange lecionou desenho anatômico, pinturaeescultura.Váriosdeseusalunosseguiramcarreiraartística,entreelesArthur Nísio,KurtBoiger,AugustoConteeErboStenzel 22 .(MORRETES,2003,entrevista). A filha do artista também descreve o espaço físico onde sua família residia e trabalhava: NossacasaemCuritibaeramuitogrande.Tinhaoateliêdemeupai,ondeeledavaaulasde desenho, pintura e escultura, especialmente para alunos sem recursos. Existia a sala de músicanaqualminhamãelecionavacanto,empostaçãodevozepiano,tambémparaalunos semrecursos,namaioriadoscasos.Existiaumagrandesaladevisitas,umasaladejantar, copa, cozinha e uma varanda bem grande. Cada filho tinha o seu quarto de dormir. Dependênciadeempregados.Nosfundosdacasaumgrandequintal,noqualcadafilhoera responsável por um canteiro de verduras, um canteiro de flores e uma árvore frutífera: ameixeiras, pessegueiros, pereiras, amoreiras, laranjeiras, macieiras e pés de araçá. O 22 Sobreacarreiradesseseoutrosartistas,consultaroApêndice4, Notas biográficas dos alunos . 29

jardineiro cuidava das plantações que não eram de nossa responsabilidade. Também existiam: uma coelheira, um galinheiro e três cães – dois policiais e um basset . (MORRETES,2006,entrevista) Além de lecionar em sua escola particular, Frederico Lange de Morretes assumiu cargo de professor na Escola Normal Secundária de Curitiba e no Ginásio Paranaense, lecionando as seguintes disciplinas: História da Arte, Desenho Geométrico e Metodologia do Desenho. Bertha, sua esposa, além de dar aulas particulares,lecionoumúsicanaEscolaNormal.Em1924foiformalizadaaatuação profissionaldeFredericoLangedeMorretes,quandooartistafoinomeadoprofessor vitalícionaEscolaNormalpeloPresidentedoEstadoCaetanoMunhozdaRocha.O artistapermaneceunessecargoporumlongoperíodo,atémeadosdadécadade1930. Em julho de 1920 aconteceu a primeira exposição individual de Lange de Morretes após sua volta da Europa. Nessa exposição, realizada num dos salões da AssociaçãoComercialdoParaná,foramexpostos33quadrosqueoartistapintouna Alemanha 23 . Essa primeira exposição fez com que ele obtivesse reconhecimento artístico,poisseustrabalhosalcançaramamplosucesso“...vendendonadamenosde 22telas.”(RUBENS,1995,p.98).Apóssuaprimeiraexposiçãoindividual,oartista rumou à Foz do Iguaçu. “Decorridos alguns meses, voltou o pintor mordido por pernilongos e outros insetos mais perigosos, alémdeterafrontadocomgalhardiaa selvabruta.Trouxe,apesardasdificuldadesencontradas,cercade20telaspintadasno local,algumasdelasdegrandesdimensões.”(DEBONA,2004,p.23) AsegundaeaterceiraexposiçãoindividualdeLangedeMorretesemCuritiba aconteceram em fevereiro e dezembro de 1921. Na exposição de fevereiro, Lange expôs 12 trabalhos que focalizavam as Cataratas do Iguaçu. Conforme Laertes MUNHOZ(1922,p.59)entreasobrasexpostasestavam: Onde o belo une as Nações ; Do ponto do pintor ; Floriano e Belgrano ; Floriano, Belgrano e Mitre (I);Garganta do Diabo ; Floriano, Belgrano e Mitre (II); Manhã nos Saltos ; Trovoada ; As grandes 23 Tratasedasseguintesobras: Solidão (paisagemdeinverno); Águas que jorram (cascatade Baviera); Cascatinha (cascatadeBaviera); Derrubada (florestadeBaviera); Luz e sombra ; Pastagem (poentenosAlpesbávaros); Manhã (Alpesbávaros); Ermida isolada ; Primavera que chega ; Recanto tranqüilo (Alpesalemães); Antes da tormenta ; Á beira da floresta ; Outono ; Açude (poentedeoutono); Poente de inverno ; Sol e primavera ; Paisagem de floresta ; Fais ; Cristas dos Alpes e baixada ; Várzea ; Helyanthos e Crysandalias ; Lyrios ; Rosas ; Estudo de flores ; Flores do campo ; Lago da montanha ; Planalto nos Alpes ; Aldeia ; Primavera ; Corredeira ; Flores ; Flores ;e Flores .(MUNHOZ,1922,p.59) 30 quedas ; Pôr do sol .Segundoomesmoautor,naexposiçãodedezembrooartistaexpôs 21 quadros com temas referentes ao Paraná, entre os quais se destacam: Messe Madura , No Seio de Ceres e O Patriarcha .Entreessasexposições,houveoutrasduas. EssesquadrosforamexpostosnoRiodeJaneiroem5demaiode1921,naEscola NacionaldeBelasArtes,etiveramótimoacolhimentodacrítica.Depoisaexposição seguiuparaSãoPaulo,ondetambémrecebeuexcelenteacolhida. Algumas publicações mostram como, naquela época, repercutiram essas exposiçõesforadoParaná.SegundoocríticodearteLaertesMunhoz,háreferências deumartigopublicadono Correio Paulistano ,noqualMenottiDelPicchiavibrade entusiasmoedeoutro,publicadonarevista Ilustração Brasileira ,emqueAdalberto Mattosconsiderao“umimpressionistadelargavisão”.(MUNHOZ,1922,p.58).Em seu livro Andersen, pai da pintura paranaense , Carlos Rubens faz uma crítica de exaltação ao falar sobre a exposição de Lange de Morretes no Rio de Janeiro salientandooentusiasmocomqueopúblicorecebeuoartista: Vendo,nasegundavezemqueexpôs,osseusquadrosdosSaltosdoIguaçu,todaaimprensa cobriuodelouvores,destacandoainda“Neblinadeoutono”e“Zimbreiros”. Reconheceselogo–disseumcomentador–queseestádiantedeumpintordaraçaalemã,e filiadoaumamodernaescolaneoimpressionista,queseafiguranãohádeficar,porquede algummodoobrigaoartistaavertudodeconformidadecomumprismapreestabelecidoe com um sistema que por vezes sacrifica, como no caso dos seus quadros atuais, certos elementosimportantesqueressaltariamovalordostrabalhoscomotranslaçõesdascenasda natureza. Outro, depois de dizer “Lange de Morretes, ainda jovem, é já um grande, um perfeito pintor”,afirmava:“Amaneiradepintar,atécnica,ocoloridodastintas,osassuntosmesmo dosquadroscomqueseapresentouaomeiocultode Curitibadeixaram verqueoartista estavafortementedominadopelaimpressãodograndemeioondecultivaraasuainteligência privilegiada”. SilveiraNetto,pelaspáginasdoNorte,escrevia:“AstelasdeLangedeMorretesnosdãoum artistaarrojadonosseusintentoseadiantadonos seus processos, marcandolhe um lugar muitodignoemanovageraçãodepintoresbrasileiros;elasdemonstramcomvigoroseu talentopictural”. TodaaimprensasalientouosquadrosdosSaltosdoIguaçu,achandoqueelesrevelavam,no seuautor,“umsentidomuitoagudodascoisas,tãofortequesetemaimpressãoimediatade tudoquantolheimpressionouaretina.”(RUBENS,1995,p.9899) NojornalGazeta do Povo de7desetembrode1922,noartigo Alguns Artistas Paranaenses , Laertes Munhoz tenta construir um distanciamento entre Alfredo AnderseneFredericoLangedeMorretes,engrandecendoonomedeste: LangedeMorreteséumpintor moço e victorioso .Pintasegundoasmodernasdisposições da pintura moderna . Começou seus estudos em Curityba, com o professor Alfredo 31

Andersen.Nessetempo,eraelleaindaumsimplestrocatintas,comideaes,porem,deum dia,viraconseguirnome,pintando. Depois partiu para a Europa, (...) Alli precisou elle desaprender tudo quanto havia estudado em Curityba, para aprender a pintar como se deve pintar ,éelleproprioquem odiz. Então, entrou a fazer progresso. Os novos professores, com methodos eescolas em tudo differentesdaquellesqueemCuritybalhesforamensinados,fizeramdojovempintor,um grandepintor. EquandoLangedeMorretesvoltouparaoParaná,trouxea força necessária parasepropor pintaras nossas maravilhas . HojeaindaháquemlhechamedediscipulodeAndersen.Erroneamente,porqueLangede Morretes,emboratenhainiciadoseusestudosdepinturacomoprofessorAlfredoAndersen, mudou completamente derumo, quando em Munich. Elle hoje seapresentade tal forma diversodoqueeranosprimeirosdiasdesuacarreiraartística,quebemmeparece, Andersen não foi mais do que o mestre das primeirissimas noções de pintura. Lange de Morretes e Alfredo Andersen são pintores completamente diversos. Ambos grandesèverdade,mascadaumnoseumododepintar. Em Curityba há uma corrente artistica que pretende fazer Alfredo Andersen o mestre de todos os nossos pintores. Andersen é para essa corrente, o foco de irradiação da pintura paranaense.Eassim,aelleattribuemtodoovalordosnossospincéis. Isso,porém,nãopassadeumlamentávelengano.Andersenéo velho mestre ,comoqual os novos vãoaprender apenas as preliminares. Andersen não faz pintores. Faz estudantes de pintura. Ospintoressãofeitosnumaescola,eAndersenépaisagistaeofiguristaquepintabem,mas vulgarmente , sem um traço característico , sem um tom individual . Essa pintura já teve seu tempo. Langeéopintorartista.Nasuatelasenteseoardordeseuespírito.[grifomeu](MUNHOZ, 1922,p.58) No texto, fica clara a tentativa do autor de colocar Andersen e Lange – professor e aluno – como rivais. Há várias explicações possíveis para a construção desse distanciamento por Laertes Munhoz. Uma delas é a tentativa de rompimento com o passado, devido ao surgimento de uma nova geração de pintores, em sua maioriabrasileirosealunosdeAlfredoAndersen.Outrapossibilidadeéaaversãodo autoraosestrangeiros,justamenteporqueAlfredoAnderseneranorueguêseLangede Morretes,brasileiro.Háaindaofatodeque,em1922,datadapublicaçãodoartigo,a influênciadoparanismo 24 nasartesplásticasjáeramarcante,issoporquehaviauma preocupaçãoemrelaçãoàrepresentaçãodas“maravilhas”doParaná. Lange de Morretes e seus amigosartistas João Turin e João Ghelfi são os principais representantes do paranismo nas artes plásticas. Entre 1923 e 1924 idealizaramoestiloparanista,aocriaremumacolunaparanaenseemqueofusteerao 24 Oparanismoédefinidonestetrabalhocomoumsentimentoligadoaumideal,uma“forma depensar”oParanárelacionadoàidentidaderegional.Agênesedoparanismofoiesboçadadesdea EmancipaçãoPolíticadoEstado,repercutindonaesferapolítica,econômicaecultural.Essetemaserá tratadonocapítuloseguinte. 32 troncodopinheiro–queconsideravamsímbolodoParaná–eocapitelformadopor quatro pinhas e ramos dessa árvore. Ghelfi faleceu muito jovem, em 1925. Turin, comoescultor,foiautordemuitosprojetosdeestilizaçõesarquitetônicasparanistas, alémdeterpropostouma“modaparanista”.LangedeMorretes,comopintoreartista gráfico,preocupousecomoproblemapictóricodeestilizaropinheiro 25 ,estetambém umdostemasmaisfreqüentesdesuastelas. NoParaná,paraalgunscríticosdearte,amelhorfase artística de Frederico LangedeMorretesé aquevaide1926até1928.Eles afirmam que a partir desse períodoLangeseafastoucadavezmaisdaatividadeartística,devidoaosseusestudos na área da Malacologia, a ciência que estuda os moluscos. Certamente, essas afirmações se devem à repercussão do paranismo nas artes plásticas e musicais e também porque, em 1927, o artista recebeu a Medalha de Bronze pela obra Tranqüilidade ,numaexposiçãocoletivanoSalãoNacionaldeBelasArtes,noRiode Janeiro.Fatoquepermitiuquesuaaptidãoartísticafossereconhecidanacionalmente. Apartirdadécadade1930,atrajetóriadeLangedeMorretesémarcadapelo seuenvolvimentocomquestõespolíticasrelacionadasaocampoartístico.Issoporque Lange se preocupava com a proposta do Estado em taxar as obras de arte, se posicionandocontraofiscofederal 26 .Parailustrarsuaposiçãopolítica,segueoartigo Arte e Fisco ,escritoporeleepublicadono Diário da Tarde ,em10dejaneirode1930, no qual lança uma forte crítica à atitude do então Ministro da Fazenda da época, FranciscoChavesdeOliveiraBotelho III ,cujonomenãomencionanotexto: FelismenteogritodedesesperopartidodeCurityba,arespeitodaarteedorebaixamentodos artistasepequenosfabricantesdeobjectosdeadorno,foiouvidonoRioeS.Paulo. OsartistasdestascidadessãounânimesemcriticaraattitudedosenhorMinistrodaFazenda arespeito. AimprensadoRio,especialmentedo“DiáriodaNoite”eosjornaesdeS.Pauloprocuram fazerveroredículodaquestão. FormaramsecommissõesparatratardoassumptonaCâmara,noSenadoenoMinisterioda Fazenda. 25 Algunsdosdesenhosdesenvolvidospeloartistaforamusados,entre1927e1930,como frisosevinhetasilustrativasdarevista Illustração Paranaense , outrosserviramdeinspiraçãoparao projetográficodascalçadasdeCuritibaqueseriaimplantadoanosmaistarde,emmarçode1949. 26 Oartigo.4º.,parágrafo38,doDecreto17464,de6deoutubrode1926,dizqueaspinturas à óleo e aquarela, tendo ou não molduras, deveriam pagar imposto de consumo, sendo os seus produtoresconsideradosfabricantesdeobjetosdeadornos.(MORRETES,semdata,p.34) 33

Nãoestamosaindaenformadossobreosresultadosobtidos,masconfiamosnavictoriafinal, poispodemosacreditarqueoBrasilqueiraformararetaguardadasnaçõesmaisatrazadas. Para nossa cidade, foi deveras desastrozo o critério do senhor Ministro da Fazenda, mandandoaosartistasabriremregistrocomo“fabricantes”esellaremseusquadros. NãohanoBrasilartistaserioquesesujeiteanossaimposição. EmCuritybaaartedesappareceuparaopublico.Osartistasnãoabrirãocomo“fabricantes”e nãosellarãosuasobras. Fomosvisitarovelhoprof.Andersen,homemdeumaenvergaduraespecial.Encontramoso artistaqueCuritybatantoadmiraemmeiosdeseusquadrosdaNoruegaedoParaná,sua terranatal,edoParaná,terraadoptiva. Díssenos que pretendia fazer uma exposição, esperando que as determinações do fisco, vexatoriasparaosartistas,sejamsuspensas. Oeffeitoprejudicialparaaartenãoficounoretrahimentodosartistassérios.Mostrouseum malmaiorainda. Appareceram trabalhos de amadores, caiadores, sapateiros e sogras que não teem o que fazer,emmolduradinhosebemselladosacontentodofisco.Estestrabalhossãoverdadeiras borralheiras, que, si a situação perdurar, prejudicarão seriamente o trabalho de annos realizadospelosartistasparaeducaropovo.(MORRETES,1930,nãopaginado) Apartirdesseartigo 27 ,percebesequeLangedeMorretessepreocupacomo processo de institucionalização da arte e com a subordinação desta ao campo da política. Esse escrito é reflexo de um momento em que o Estado tenta estabelecer regras ao campo artístico, onde entra também em questão a diferença entre a “arte como comércio” (produto) e a “arte como talento”. Lange defende os “artistas autênticos”,protegendoaprofissionalizaçãoartísticaaoinvésdainstitucionalizaçãoda arte.EssapreocupaçãotambémapareceemseusdepoimentossobreaSociedadedos ArtistasdoParaná(SAP) 28 ,instituiçãodaqualfoiresponsávelpelafundação.Essas questõespolíticascontribuíramparaasuadivergênciamaistardecomManoelRibas IV , InterventordoEstadodoParaná,ocasionandoinclusiveasaídadeLangedaEscola Normal e a sua nãoindicação para a direção do Museu Paranaense. Fatos que desencadearamapartidadoartistacientistaparaSãoPauloem1936. Existemdiferentesversõessobreasaídade LangedaEscolaNormal.Uma delasémencionadapelopintorGuidoViaronojornalO Estado do Paraná de29de 27 Outraversãodessetextofoipublicada,comomesmotítulo,numacoletâneadeartigos sobreataxaçãodasobrasdearte.Numdosartigos,oautorelencaumconjuntodecaracterísticasque colocamoartistanacionalemdesvantagemaoartistaestrangeiro.Segundoele,alémdecompetircom os preços das obras produzidas pela artista estrangeiro, o artista nacional estaria em desvantagem porque tem que importar a tela, a tinta, pagar impostos sobre esses materiais, encontrando ainda dificuldadeemarranjarmodelos.(MORRETES,semdata,p.1113) 28 ASAPoriginaria,porvoltade1940,aSociedadeAmigosdeAlfredoAndersen,apósa mortedeste.Em1941,aSociedadeAmigosdeAlfredoAndersenrealizouaprimeiraexposiçãode alunosdeAndersen,naqualFredericoLangedeMorretesparticipou. 34 agostode1959,queasaídateriasidomotivadaporumDecretoFederalqueimpedia aoprofessordedesenhodeentrarembancasdeexamedematériasnãoafins(VIARO, 1959, p. 14). Essa versão é pouco provável, tendo em vista que Viaro, em alguns momentosminimizaasaçõespolíticaseacarreiradeLangecomocientista 29 .Aoutra versão é comentada por Luis Pilotto em depoimento para este trabalho. Segundo o mesmo, Lange começou a faltar muito às aulas da Escola Normal e o Interventor ManoelRibasfoiprocuradoporumpaidealunaquesequeixouqueLangenãodava aula.SegundoLuísPilotto,seuirmãoOswaldoPilotto,diretordaescolaNormal,disse paraRibasquejáhaviachamadoatençãodeLange,masesteestavafazendoestudos deMalacologia,emSãoPaulo,eraramentevinhaparaCuritiba.ManoelRibasfalou comGasparVellosoeeledemitiuLange.(PILOTTO,2004,entrevista) AlémdasaídadaEscolaNormal,adisputapelocargodediretordoMuseu Paranaense,em1936,foiumgrandeobstáculonacarreiradeLangedeMorretes.O MuseuParanaenseéumtípicoexemplodecomosedava, naquelaépoca,arelação entreopoder executivoeasinstituiçõesculturais.Lange ambicionavaadireçãoda instituição, mas Manoel Ribas designou José Loureiro Fernandes para ocupar o cargo 30 .Irritadocomo fato,oartistacientistapartiucomafamília paraSão Paulo aceitando o cargo de assistente na Cátedra de Paleontologia no Museu Paulista, do ProfessorBarãoOttorinoDeFiorediCropani.ParaBertaLangedeMorretes,afamília ignorou a disputa pela direção do Museu Paranaense e em São Paulo, o status de famíliatradicionaltevequeserconquistadonovamente.Segundoela,paraseupaio Paraná era um lugar muito especial por sua natureza e Curitiba pelo seu ambiente artísticoepelocírculodeamigos.(MORRETES,2003,entrevista).Porisso,conclui sequeapartidaparaoutroEstadotenhasidomuitodifícilparaele.

29 HáduasexplicaçõesparaessaatitudedeGuidoViaro.UmadelaséaexistêncianoParaná deumidealromânticodeartistagênio,queditavacomooartistadeveriaser,jáqueLangeeraum artistacientista,eissoiacontraavisãoqueperduravanaarteparanaense.Asegundaéanegaçãodo passadoporViaro,jáqueestefezpartedogrupodeartistasqueviriaapósoMovimentoParanista. Essaquestãovoltaráaserdiscutidaoutrasvezesaindanessecapítulo. 30 Essa disputa peladireção doMuseu Paranaenseconstata o início da profissionalização paraoscandidatosquepretendiamassumircargospúblicosnasinstituiçõesnaqueleperíodo,jáque para assumir os cargos pretendidos passava a ser necessária a formação profissional. Nesse caso, LangeeLoureiroestavamaptosparaassumirocargodediretordoMuseuParanaense,jáqueambos tinhamsuascarreirasvoltadasparaaciência. 35

No que diz respeito às divergências políticas entre Lange de Morretes e Manoel Ribas, alguns autores afirmam que, como protesto, Lange deixou a barba crescer 31 .Sobreessefato,em1959,opintorGuidoViaro,nacrônica Fritz Lange de Morretes dizoseguinte:

[Lange de Morretes] foi [um] homem que gostou sempre de efeitos, procurou mesmo mostrarsedebaixodecertaluzqueemprestavafatalmenteàsuafiguraumanotadiferente, mesmoqueissonãofosseumverdadeiro“charme”. Ousodabarba,porexemplo,foium“fraco”donossoamigoLange,abarbacultivadaà suíça, reduzia complexivamente seu rosto já pequeno equase nobre, dandolhe um ar de pastoramenoemcaminho.Outromomentodestruíaestabarba,paraemseguidarenovarseu feitioa“laburgomestre”,sinalindiscursodecertadescontinuidadedecaráterbemprópria doslatinos,maisdoquedosalemães.–A barba, dizia êle, “chama bastante a atenção especial quando se tem o rosto de criança. Esta declaração encerra suprema ingenuidade daquêle espírito crítico de pesquisador que foi Fritz Lange de Morretes; Morretes do lugar onde nasceu, da partícula que enobrecia a pessoa que dela fazia uso.” [grifomeu](VIARO,1959,p.14) Nesseartigo,editadoapósamortedeLangedeMorretes,GuidoViaroacaba por tentar diminuir o reconhecimento artístico daquele através de uma imagem construídapelasatitudesdeLange.Essaimagempermaneceunamemóriacoletivapor meiodacríticaartísticaparanaense.ÉlógicoqueessaposiçãodeViaroestámarcada pela disputa do pólo dominante do próprio campo artístico, pois o mesmo foi uma artistarepresentantedeumgrupodeartistasqueviriaapósodeLangedeMorretese queinvestiaemoutraslinguagensartísticas.Umbomexemplodissoéacolaboração deViaronarevista Joaquim que,nocasodasartesplásticas,secontrapunhaaosalunos de Alfredo Andersen. Por essa via, Viaro tenta romper com “os fantasmas” do passado,osquaisumdiaeleesteveligado. AsatitudespolíticasdeLangedeMorretesnãosederamapenasematoscomo odedeixarcrescerabarba.Asuatrajetóriaémarcadaporaçõesdeadministradorede líder sindical, realizando tarefas administrativas e organizando grupos de representaçãodecategoriasprofissionais.Em1935,aosetornarconhecidonocampo daMalacologia,haviasidoconvidadopeloentomólogoFredericoLane,quetrabalhava no Setor de Zoologia do Museu Paulista, a ocupar o cargo de primeiro assistente científicodeZoologiaePaleontologia.Alémdeterocupadoessecargo,foicuradorda

31 EmalgumasfotografiasLangeaparececomabarbacomprida,veroAnexo3, Fotografias . 36

Seção de Moluscos até 1938 e professor do Departamento de Palentologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP), lecionandode1938até1941.Nesseperíododesuavida,recebeuinúmerosconvites paraassociarseaentidadescientíficasdopaíse do exterior. Foi sóciofundador da SociedadedeProfessoresUniversitáriosdeSãoPauloedaSociedadedeEntomologia domesmoEstado. BertaLangedeMorretes,ementrevistaparaarevista Ciência Hoje ,consegue darmelhoresinformaçõessobreessafasedafamíliaquandolheperguntamsobreseu ingresso nocursodeHistóriaNatural,em1938,naUniversidadedeSãoPaulo: QuandoaFaculdadedeFilosofia,CiênciaseLetrasfoicriadaemSãoPaulo,em1935,eu aindaestavaemCuritibafazendooginásio,mas,logoemseguida,meupaisetransferiupara cáenóscomele.Decidimosminhairmãeeu,queentraríamos direto na USP, sem fazer cursinhospreparatórios,mesmoporquenãotínhamosdinheiro.Éramosquatroirmãos–eu souamaisvelha–emeupaiganhavapouco.Paravocêsteremidéiadecomoeraavidade umpesquisador,meupaiganhava600cruzeirosnoMuseuPaulista,enquantooaluguelde nossacasaerade280.LembromequequandoanossamudançachegouaSãoPaulo,acasa eratãopequenaqueváriosmóveisnãocouberameforamvendidosnaporta.(MORRETES, 2002,p.67) Berta comenta sobre o período em que seu pai foi seu professor na UniversidadedeSãoPaulo.Eladiz:“Cheguei[aseralunademeupai],eissocriou mágoaemminhairmã[Ruth]eemmim,porquemeupaidizia:‘Vocêsnuncatirarão um10comigo.’‘Mas,nemseagentemerecer?’,perguntávamos.Eledizia:‘Seeuder o10quevocês merecemalguémpoderádizerquefoi por proteção minha. Melhor vocês terem uma nota mais baixa e não ouvirem esse tipo de comentário’.” (MORRETES, 2002, p. 68). Segundo Berta, seu pai, ao precisar contratar uma estagiária,aoinvésdeescolhersuasfilhas,preferiucontratarumacolegadelaspara impedir críticas. (MORRETES, 2003, entrevista). De acordo com ela, seu pai não permaneceumuitotemponaUniversidadedeSãoPaulo,poisnãosesentiamuitobem trabalhando como assistente do Barão De Fiori, na Cátedra de Paleontologia e em 1940,elejáhaviavoltadoparaCuritiba.(MORRETES,2002,p.68) A maior parte das notas biográficas sobre Lange de Morretes afirma que somenteapósamortedoInterventorManoelRibas,em1946,équeaqueleresolveu voltarparaCuritiba.Talinformaçãoéimprecisa,namedidaemquenãoespecificase esseretornofoiounãopermanente,dandoaentenderqueessefoiomotivorealdoseu 37 retorno.ComohápoucadocumentaçãosobreavindadeLangedeMorretesaoParaná noiníciodadécadade1940,concluisequeesseperíodosejamarcadoporviagens constantesenãoporumretornodefinitivo.Contudo,énoiníciodadécadade1940 queLangedeMorretesvoltaaproduzirsuaspinturas. UmregistrodesseperíodoaparecenadocumentaçãodoMUSEUDEARTE CONTEMPORÂNEA (19441955), a qual traz informações sobre a participação de Lange no I Salão Paranaense de Belas Artes queaconteceuemCuritibaem10de novembrode1944 32 .Nãoháregistro,nosarquivosdomuseudafichadeinscriçãode LangedeMorretesdessaexposição,seunomeeseuquadrosãoreferenciadosapenas nocatálogoanexadoàdocumentação.Nessecaso,essaparticipaçãoémuitocuriosa, poissedeucomapenasumaobra: Ponte sobre o Rio São Francisco .Alémdomais, comoseunomeeseuquadrosãoreferenciadosapenasnocatálogogeral,oartistapode tercomparecidonoeventocomopodeterapenasenviadoaobra. Essas explanações acerca desse período da vida de Lange se tornam mais nítidasapartirdaleituradeumartigopublicadonaGazeta do Povo de10deagostode 1946, cujo título é: Está na terra Lange de Morretes: o glorioso artista mitiga saudades do torrão natal.Seguepartedoreferidoartigo: Lange de Morretes, um dos mais gloriosos artistas da pintura do Paraná, após diuturna ausencia do torrão natal, veio revê-lo, onusto de saudade. Foiumprazerconversarcomoconsagradoartistaquenosdissedosmomentospsicologicos porquepassouáproporçãoqueoaviãoemqueviajavaiaatingindoCuritiba. A neblina que lhe embaraçava a ansia de ver a cidade maravilhosa dos nossos afetos desaparecedesúbito,abrindose,comoleque,oshorizontes. Almapanteistaefeliz,oartistacontemplaa,embevecidoeradiante. Lange de Morretes que, há 12 anos não vinha a Curitiba, está mitigando as saudades que lhe deixou essa longa ausencia. Irá á marinha, em busca de impressões estéticas depois de receber os abraços e as felicitaçõesdetodosseusamigoseconterraneos.[grifomeu](ESTÁNATERRALANGE DEMORRETES,1946,p.8) EssetextodeixaclaroqueLangedeMorretesretornaaoParanánummomento emquenocampopolíticoeconsequentementenocampoculturalháumapreocupação

32 O Salão Paranaense de Belas Artes surgiu através do Decreto de criação n°. 2004 de 23/09/1944 e do Decreto de regulamentação n°. 2009 de 21/10/1944. Sobre as Edições do Salão Paranaense,ver:JUSTINO,M.J. 50 Anos do Salão Paranaense de Belas Artes .Curitiba:Secretaria deEstadodaCultura:Itaipu:Funpar,1995.326p. 38 emresgatarospersonagensdamemóriahistórica.Foinessecenárioqueaconteceua quarta exposição individual do artista em Curitiba, cuja abertura se deu em 15 de janeirode1947econtoucomapresençadasautoridadesdoEstado.Naquelemês,a Gazeta do Povo trouxeduasnotassobreessaexposição.Aprimeiradelasfoipublicada em17dejaneirode1947: FlagrantecolhidonoatodaInauguração[daexposição]deLangedeMorretes,quandousava dapalavraogeneralRaimundodeSampaio. Realizousenanoitedeanteontem,nopavilhãodeEducaçãoFísicadoInstitutodeEducação, a solenidade de inauguração da exposição de pintura de Lange de Morretes, uma das expressõesmáximasdanossaartepictórica.Aoato,estiverampresentesoGal.Raymundo Sampaio,cmteda5a .RegiãoMilitar,Dr.MaravalhasNeto,SecretáriodaAgricultura,Cap. Melquiades do Vale, representante do Interventor Mario Gomes da Silva, Dr. Oswaldo Pilotto,diretorgeraldaEducação,representantedoD.P.I.,egrandenumerodepessoasde real projeção em nosso mundo artístico. Após a inauguração, as autoridades e demais presentes demoraramse em observações à magnífica coleção de telas. (AS GRANDES EXPRESSÕESDENOSSAPINTURA,1947,p.8) Asegundanotatevesuapublicaçãoem31dejaneirode1947e,apartirdela, podesepercebercomosedeuaacolhidadaexposiçãodeLangedeMorretesporparte dopúblicoapreciadoreconsumidordeartedaépoca: LangedeMorretes,umadasexpressõesmáximasdenossaartepictórica,inaugurou,adias atraz,asuaexposiçãodetelas. OpavilhãodeeducaçãofísicadoInstitutodeEducação,localdamostradearte,vemsendo visitadodiariamente,porgrandenumerodepessoas,emsuamaiorparte,elementosdereal valoremnossomundoartístico. Pintordegrandesrecursosartísticos,paisagistaemérito,LangedeMorretesconseguiureunir umacoleçãodetelasbastanteexpressivas,explorandomotivospitorescoseregionais. Grandenumerodequadrosjáforamadquiridos,oquevemtestemunharoagradoeinteresse que os trabalhos de Lange de Morretes conseguiram despertar. (A EXPOSIÇÃO DE PINTURADELANGEDEMORRETES,1947,p.3) SobreessaexposiçãodeLangedeMorretes,em16defevereirodaqueleano, foipublicadona Gazeta do Povo umartigodeautoriadeCarlosGonzález,emquese podepercebercomoLangedeMorretesocupavaumlugardedestaquenocampodas artesplásticasnoParaná.Langeerareconhecidopelacríticacomoumartistailustre, que mesmotendotransitadoporcamposdiversosdodas artes, não deixava nada a desejarparaeste.Segue,então,partedoartigo: DaquelepequenogrupoquedesciaaRuaXV,saiuoJaimeBalãoJunior,convidandomea seguiradescercomomesmoejuntos,visitaraexposiçãodoLangedeMorretes.(...) 39

EassimchegamosàEscolaNormal.(...) Escuro.Éramosvisitantesespeciais.Tudofechado.EnquantoLangenosdeixavaeligavao comutadorelétrico,divisávamosemtornodovasto salão, quadros pregados nas paredes, quesesobressaíam... E, quando a luz começou a iluminar o ambiente, os quadros começaram a ter vida. Começamos,pois,avôodepássaro... Umaigreja,simples,modesta,lembrandoaeternidade.Suastorres,ponteagudas,varandoas alturas...Paz,sossego... Prosseguindo,chamameaatençãoa“Ministériodaselva”.Aflorestaadornandooquadro formandoaocentroumajanelaenofundo,umpinheiro.Perspectivaexcelente.Respirasea umidade da selva, em suas cores fortes, escuras, como se o sol ali há muito tempo não penetrasse.Eoprimeirodofundo,recortado.Naatmosferadiáfana,comooclamaràvida, alegre,feliz,alémdaslianastraiçoeiras,daumidade,daangústia... Depois,cataratas,crepúsculoeumpoucoalémas“SentinelasAvançadas”.Lembramolivro deCoelhoJunior,“PelasSelvaseriosdoParaná”.Clássicoesimples.Osnossoscaboclos, marcos fronteiriços da civilização, a espera que esta chegue, afim deles levantarem acampamentoeembrenharemsemais,maisainda...Semrecursos,sofrendosempreoataque dos mais aparelhados para a vida. E, na sua modéstia, nasuaignorância,láse vão eles, levandooseuBrinquedinho,osfilhosbarrigudos,amulher,aostrintaanos,velha,acabada, inútile ele debarbicha rala, facão àcinta, magro como um varapau, com a opilação, a maleita,afraquezapremente...Mas,senossugereisto,LangedeMorretesnãon’oexpõe. Indicanos.Mostranos.Eascasinhasdepalha,debarro,emrecantoparadisíacocomsuas terrasferazes,alificamatestandoabelezadossertõeseaincúriadenossagente... Andando, vimos mais pinheiros, novas interpretações, novas paizagens, as cachoeiras pequenasformadasnosacidentesdoterreno,o“SaltoCidinha”,o“BanheiroSací”ecaímos na“CasadoSonho”. Este quadro que se nos afigura como o melhor, é uma encantadora harmonia. Um céu magnífico,árvoresefloresdecoloridoexcelente;jogodesombraeluzdemestre...Respira sefelicidade,suavidade,bucolismo...LangedeMorretes,parecequealipôstodaasuaalma, todooseuser.Despojousedetudoenaquelacasinha, ondepassou dois anos, pintando, escrevendo, desenhando, fixou, para os pósteros, como teria ali vivido e trabalhado. Este quadro,comotodososdemais,mascomespecialidadeeste,temtodasaquelasqualidadesde quenosfalaDiderot,noseu“EnsaiosobreoBelo”.Háumaperfeitaconcordânciaemtodas as linhas traçadas, harmonia completa na composição colorida... E, acima de tudo, essa atmosferaindefinidadepaz,depoesia,dereligiosidadequase,digoeu. Lange de Morretes é um grande pintor. Sua exposição estáfadadaa um grande sucesso. Simples e modesto, sem os arrebatamentos peculiares da época tormentosa que atravessamos,constroesuaobracomserenidadeeindependência. Todooartistatendeaevoluir.E,seLangedeMorretesatingiuestaaltura,nãopoderemos prognosticarqueaindahádesubirmaisalto?!Nãoéum meropaisagista,nãoéummero fotografadordoquevê.Seofossenãoprecisariaempunhar palheta e os pincéis. Bastaria uma máquina fotográfica. Mas, em seus quadros, há mais, um pouco mais, algo de indefinívelqueagradaaosolhoseossentimentos.Osqueassitiremsuaexposição,poderão verificareconfirmaroqueaquificainserto.E,hãodesentila,também. Poderiatambémfalardasmolduras.Mas,paraque?Contentomecomastelas.Outremque sobreasmoldurasescrevam.Oujáteriaalguémtomadoadianteira.(GONZÁLEZ,1947,p. 7) Pelo texto, notase que, mesmo nessa exposição de 1947, entre os temas tratados na pintura de Lange de Morretes, os pinheiros ainda se mantêm constante junto com outros elementos característicos da paisagem paranaense, como por exemplo,ascachoeiras.PelocomentáriodeCarlosGonzález, a crítica social ganha 40 maior atenção por parte de Lange através de telas que trazem elementos humanos, comoquandooartistamostraacondiçãosocialdoscaboclos.Alémdessestemas,as pinturas que trazem casinhas ainda continuam presentes, sendo outro elemento importante. Naquele mesmo ano, o artista também participaria do IV Salão Paranaense de Belas Artes . Segundo a documentação do MUSEU DE ARTE CONTEMPORÂNEA (19441955),o IV Salão Paranaense de Belas Artes aconteceunaEscolaNormalde Curitiba,entre19dedezembrode1947e17dejaneirode1948.Nessaexposição,o artistaganhouumprêmioemdinheirodeCr$1.000,00pelaobra Encanto Matinal .Ele participoucomnoveobrascujosnomesaparecememsuafichadeinscrição 33 datada em 16 de dezembro de 1947. Nessa mesma ficha, Lange informa sua formação acadêmicaeseuendereçocomo“CineAmérica”.Estecinemapertenciaaoseuamigo JoãoBaptistaGroffeestavalocalizadonaRuaVoluntáriosdaPátria. Em 1947 Lange também participou do movimento em prol da criação da EscoladeMúsicaeBelasArtesdoParaná(Embap).Talmovimentorefleteosaparatos de reconhecimento e a consolidação do campo artístico no Paraná através do envolvimento de várias instituições. Surgido na Sociedade de Cultura Artística BrasílioItiberê,omovimentorecebeuapoiodaAcademia ParanaensedeLetras, do CírculodeEstudosBandeirantes,doCentrodeLetrasdoParaná,doCentroFeminino deCultura,daSociedadedeAmigosdeAlfredoAndersen,doInstitutodeEducaçãoe doColégioEstadualdoParaná.AquivalelembrarapresençadeFernandoCorrêade Azevedo, um dos professores fundadores, que viajou pelo Brasil para estudar a estrutura de entidades semelhantes com a finalidade de adotar um modelo a ser implantado no Paraná. Ao voltar da viagem, este reuniu um grande corpo de professoresparacriarainstituição. De acordo com o Relatório de verificação para efeito de reconhecimento (EMBAP, 1954, não paginado) a Sociedade de Cultura Artística Brasílio Itiberê convocou os presidentes das principais sociedades culturais de Curitiba para uma reuniãopreliminar.AcomissãoentregouomemorialparaMoisésLupion,Governador 33 Os nomes das obras que aparecem nesse documento são: Encanto Matinal , Tarde Doirada , Escalada Gloriosa , Benzinho Benzóca , Musa , Helicônia , Posse do Ermo , Na Ponta da Pita e Velhas Figueiras à Beira Mar . 41 doEstado,queenvioumensagemàAssembléiaLegislativa.AinauguraçãodaEmbap sedeuem17deabrilde1948,eem3deoutubrode1949oGovernadorsancionoua lei da Assembléia Legislativa sob n°. 259 que criou a escola como um instituto autônomo. A escola funcionou, primeiramente, na Rua Emiliano Perneta, n°. 50, passando,após1951,paraasuasedeoficial,oprédioden°.179damesmarua.Em 1954ainstituiçãofoireconhecidapeloConselhoFederaldeEducação. Publicadoem1948,oRegulamento daEmbaptrazváriasinformaçõessobre essainstituição.OArtigo1º.estabeleciaadivisãodaescolaemdoisdepartamentos: Departamento de Música e Departamento de Belas Artes. Os Artigos 2º. e 3º. informamque“oDepartamentodeMúsicatemporfimoensinodaMúsica,visandoa formação profissional de ‘virtuoses’ e ‘professores’, [e] o Departamento de Belas ArtestemporfimoensinodaPintura,EsculturaeGravura.”(EMBAP,1948,p.3). Os Artigos seguintes ajudam a compreender melhor como funcionava, na época, a burocracia da instituição com relação às questões administrativas, ao estabelecer os níveisdehierarquiaecompetênciadecadasetor: Art.4ºAadministraçãodaEscolaseráexercidapelaCongregação,peloConselhoTécnico Administrativo [CTA] e pela Diretoria, constituída esta, pelo Diretor, Vicediretor, SecretárioeTesoureiro. Art. 5º O Diretor será nomeado pelo Governo do Estado dentre os catedráticos componentesdalistaeleitapelaCongregação. Art.6ºOmandatodadiretoriaédedoisanos. Art. 7º A Congregação será constituída pelos catedráticos, pelos docenteslivres em exercíciodecatedráticoseporumrepresentantedosdocenteslivres. Art. 8º O CTA será escolhido pela Congregação, devendo ser renovado pelo terço, anualmente.§SerãoseisosmembrosdoCTA:trêsdoDepartamentodeMúsica(...)etrês doDepartamentodeBelasArtes.(...) Art.15ºCompeteàCongregação:1DeliberarsobreassuntosencaminhadospelaDiretoria e Conselho TécnicoAdministrativo; 2 Eleger os membros da Diretoria e do Conselho TécnicoAdministrativonostermosdopresenteRegulamento;3Resolversobreareforma doregulamentodaEscola;4OrganizarCursosLivresdeensinodemúsicaebelasartes;5 Resolver,emúltimainstânciaatosdaDiretoriaedoCTA;6Conferirtítuloshonoríficosa pessoas que merecem por motivo de relevantes serviços prestados à Escola ou pela realizaçãodeobrasartísticasdenotávelvalor,ligadosàvistaartísticaparanaense.(EMBAP, 1948,p.35) O mesmo Regulamento traz também uma listagem com os nomes dos professores do Departamento de Belas Artes da instituição. Segundo o Artigo 55º. eramconsideradosinterinososseguintesprofessoresfundadores: 42

ESTANISLAU TRAPLE, da Cadeira de Desenho do Gesso e do Natural; OSWALD LOPES, da Cadeira de Modelagem; GUIDO VIARO, da Cadeira de Composição Decorativa; OSVALDO PILOTTO, da Cadeira de Geometria Descritiva; WALDEMAR CURTFREŸSLEBEN,daCadeiradePerspectivaeSombra; FREDERICO LANGE DE MORRETES, da Cadeira de Anatomia e Fisiologia ; ARTHUR NÍSIO, da Cadeira de Desenho do Modelo Vivo; DAVID ANTÔNIO DA SILVA CARNEIRO, da Cadeira de Arquitetura Analítica; ERASMO PILOTTO, da Cadeira de História da Arte e Estética; THEODORO DE BONA, da Cadeira de Pintura; ERBO STENZEL, da Cadeira de Escultura;JOSÉPEÓN,daCadeiradeGravura.[grifomeu](EMBAP,1948,p.12) Essedocumentocomprova,pelomenosoficialmente,queLangedeMorretes faziapartedocorpodocentedareferidainstituição.AdaliceAraujo,emdepoimento paraElisabethSeraphimPROSSER(2004,p.264),chamaaatençãoparaolimitado númerodedisciplinasofertadaspeloDepartamentodeBelasArteseocaráteraleatório naescolhadosprofessoresparaministraremasdisciplinas.Segundoela,Langeestava mais apto a assumir outras disciplinas. Fato que chama a atenção, pois até mesmo BertaLangedeMorretes,filhadoartista,ementrevistaparaestetrabalho,desconhece queseupaitenhalecionadoanatomiaefisiologianaEscoladeMúsicaeBelasArtes doParaná.JáTheodoroDEBONA(2004,p.25)dizqueLangelecionou“históriadas artes”e“anatomiahumana”naEmbap. O Relatório de verificação para efeito de reconhecimento (EMBAP,1954,não paginado)reúneváriosdocumentos,comoasatasdasreuniõesdaCongregaçãodos ProfessoresedoConselhoTécnicoAdministrativodaEscoladeMúsicaeBelasArtes do Paraná. A Ata da I Reunião da Congregação dos Professores , que se deu às dezessetehorasdodia19deabrilde1948,informaqueFernandoCorrêadeAzevedo foi aclamado pela Congregação como diretor provisório e que o Governador do Estado,MoisésLupion,demonstravagrandesimpatiacomoempreendimentoartístico desenvolvido. Nesse documento, o nome de Lange de Morretes aparece como representantedaCadeiradeAnatomiaeFisiologia,etambémfazendopartedalista tríplicequefoiapreciadapeloGovernadorparaescolhadodiretorefetivodaEscola. Nesseperíodo,atravésdaanálisedosdocumentosencontrados,percebeseque LangedeMorretesfaziaconstantesviagens,jáquesuafamíliaviviaemSãoPaulo.O artigo Brilho Artístico de Ilustre Casal , publicado na Gazeta do Povo em 10 de dezembro de 1949, tornase um referencial quanto ao paradeiro do artista trazendo aspectosdavidasocialdeleedesuaesposaBertha: 43

LangedemorreteseasuaesposaBerthaconstitueumcasaldeartistasquesempreselaurêa, pelacompetênciadentrodosaplausospúblicos. Agora,mesmo,noschegam,deSãoPaulo,alviçareirasnotíciasacêrcadavitóriaartísticade ambosnossetoresemquetantosedistinguem. Dona Bertha realizou, com extraordinário sucesso, um concêrto em memória de seu tio RicardoStrauss.OmaisexigentecríticodeSãoPauloseestendeuemapreciaçõesaltamente lisonjeirassôbreavozeainterpretaçãocomqueascançõesforamapresentadasaopúblico. FoiumanoitadadeverdadeirotriunfoparadonaBertha. LangedeMorretes,porseuturno,teve,noSalãoOficialPaulista,umquadropremiadocom honrosa medalha 34 , robustecendo, dest’arte, suas tradições de pintor exímio e cujas conquistasseovêmhonrando,dignificam,também,oParanádequeéeminenteartistafilho dileto.(BRILHOARTÍSTICODEILUSTRECASAL,1949,p.8) PartindodaleituradesseartigosenotaqueBertha acompanhava Lange em váriasatividades,maselatambémtinhaumavidaprofissionalindependente.Nofinal da década de 1940, Lange ainda ocupava a Cadeira de Anatomia e Fisiologia na EscoladeMúsicaeBelasArtesdoParaná.Tendoporbaseadocumentaçãoexistente, constatasequeeleseausentavamuitodesuasatividadesnaescola,talvezporquesua famíliavivesseemSãoPaulooumesmoporquesededicasseàsatividadescientíficas. A única referência que se tem desse período são as atas da Congregação dos Professores. A Ata da VI Reunião da Congregação dos Professores (EMBAP,1954,não paginado), do dia 12 de fevereiro de 1951, informa sobre a Eleição do Conselho TécnicodoDepartamentodeBelasArtes.Nesta,FredericoLangedeMorretesrecebeu umvoto,masquemvenceufoiEstanislauTraple,em substituição a Erasmo Pilotto cujomandatoexpirou.Nomesmoano,na Ata da VII Reunião da Congregação dos Professores ,dodia17demarçode1951,oprofessorHugodeBarroslamentouafalta de freqüência de alguns professores. Para normalizar essa situação, a Congregação decidiuconcedermaisumanodelicençaaosprofessoresquejustificaramsuaausência deCuritiba.Quantoaosprofessoresdomiciliadosnacidade,ficaramautomaticamente desligados,deacordocomoregulamentodaescola. A Ata da XIV Reunião da Congregação dos Professores (EMBAP,1954,não paginado),dodia28demarçode1952,játrazainformaçãodequeforamaprovadas, porunanimidade,asdecisõesdoConselhoTécnicoAdministrativodareuniãododia

34 EssaMedalhadeBronzefoiconcedida,pelaobra Paisagem de Morretes ,no15°.Salão PaulistadeBelasArtes,naGaleriaPrestesMaia,emSãoPaulo(SP). 44 anterior, quanto ao convite feito à Erbo Stenzel para substituir Lange de Morretes, professordaCadeiradeAnatomiaeFisiologia 35 . Noiníciodosanos1950,LangerecebeuumabolsadoConselhoNacionalde Pesquisas (CNPq), destinada para realizar um levantamento malacológico no litoral sudestedoBrasil.PorintermédiodeBentoMunhozdaRocha,eleconseguiuumcargo noMuseuParanaensequelhepermitiairseguidamenteaolitoralprocurarporespécies para análise. Segundo Berta, seu pai, ao retornar à Curitiba para continuar suas pesquisasmalacológicas,continuoumantendocontatocomafamília,quenãovoltou paraacidadeporqueavidaestudantileprofissionaldasfilhassemanteveestávelem SãoPaulo.Porém,suamãeoacompanhouemváriasexpediçõescientíficas,ajudando onacoletademoluscosenoquemaisfossenecessário.LangeeBerthaestiveramno litoraldoParaná:naIlhadoMel,emGuaratuba,Matinhos,GuaraqueçabaeAntonina, e no litoral de São Paulo: em Bertioga, Itanhaem, Peruíbe, São Sebastião, Caraguatatuba e Ubatuba. (MORRETES, 2003, entrevista). Os primeiros estudos e catálogos sobre moluscos da baía de Paranaguá e do litoral norte de São Paulo resultaramdessasviagens. Nesseperíodo,háfortesindíciosdequeLangedeMorretestenhadadoaulana UniversidadedoParaná,masnãoforamencontradosdocumentosdessainstituiçãoque mencionassemseunomecomoprofessor.Aesserespeitovalelembrarque,antesda federalização, o Museu Paranaense estava vinculado à Universidade do Paraná. No Setor de Recursos Humanos da atual Universidade Federal do Paraná não foram encontradosdocumentosdesseperíodo.Oúnicodocumentoencontradoquecomprova ovínculoinstitucionalentreLangeeaUniversidadedoParanáéamençãoaocontrato de trabalho nos Relatórios do Museu Paranaense referente ao ano de 1953 36 . A informaçãodequeelelecionounaUniversidadedoParanáécitadanosescritosde 35 Depois dessa Ata , o nome de Lange só vai aparecer na Ata da XXI Reunião da Congregação dos Professores ,dodia13deabrilde1954,quandoFernandoCorrêadeAzevedo– diretor da Embap e presidente da Congregação – lamenta o falecimento, naquele ano, de dois professorestitulares:FredericoLangedeMorreteseRaulMenssing. 36 Emrelaçãoaosanos1950,valelembrarumfatoquedificultouoandamentodapesquisa:a confusãoentreosnomesdeFredericoWaldemarLangecomodeFredericoLangedeMorretes.Por puracoincidência,oprimeirofoidiretordoMuseuParanaenseentre1954e1956.Alémdisso,osdois tambémtinhamomesmoapelido:Fritz,queéomesmoqueFredericoemalemão. 45

NelsonLuz V(LUZ,1953,p.53e1989,p.20),umdeseusamigosdafasefinaldesua vida.Esteautortambémdizque,nessaépoca,oartistacientistaresidianumapensão, na Praça Carlos Gomes. Conforme várias notas biográficas, nessa fase a pintura se tornoualgoocasionalnavidadeLangedeMorretes,sendoqueJoãoBaptistaGrofffoi quemoincentivouavoltarasededicaràpintura. Nos Relatórios 1950-1969 doMuseuParanaense constaminformaçõessobreo período que Lange de Morretes foi pesquisador vinculado a essa instituição. O relatórioreferenteaoanode1953informasobreocontratoeocargoassumidopor Lange.Conformeesserelatório,naqueleanoentreaequipedefuncionáriosintegrantes doMuseusedestacava: Prof.Pe.JesusS.Moure,cmf,DiretordaSecçãodeZoologia,eDiretordoMuseu;Prof. CarlosStellfeld,DiretordaSecçãodeBotânica,ePresidentedoConselhoAdministrativodo Museu; Prof. José Loureiro Fernandes, Diretor da Secção de Antropologia e Etnografia; Prof.JulioEstrelaMoreira,DiretordaSeçãodeHistória;ProfFredericoWaldemarLange, DiretordaSecçãodeMineralogiaeGeologia;Eng.WladimirKozak,DiretordaSecçãode DocumentaçãoCinematográfica;OdiretordaSecçãoeosdemaisdiretoresdeSecçãonão sãoremunerados. Funcionários: André Mayer, taxidermista, Padrão Q; Lic Rudolf B. Lange, Assistente de Zoologia,PadrãoN.;Lic.AyrtondeMattos,auxiliardetaxidermia,PadrãoL;Bach.Aracely VidalGomes,ConservadoradoMuseu,referênciaXIV;LicMariadeLourdesTavaresda Rosa,BibliotecáriadoMuseu,referênciaXIII;ArnaldoCabral,servente,padrãoJ. Contratados: Frederico Lange de morretes, pela Reitoria da Universidade do Paraná, Cr$ 8.400,00 mensais ;Dr.RalphG.Herrtel,pelaSecretariadeEducação e Cultura; Cr$ 3.000,00mensais;Lic.TageaK.s.Björnberg,percebendoprovisoriamente,deacordocom autorizaçãodoSnr.SecretáriodeEducaçãoeCultura,pelaverbadoMuseuaimportânciade Cr$3.000,00mensaisatéquesejalavradoocontratocomaquelaSecretaria. AdidosdoMuseu:Lic.WalterMartins,desenhista,padrãoK,daSecretariadeEducaçãoe Cultura; Lic. Luciana Küster Querubin, Professora Auxiliar, padrão M, da Secretaria de EducaçãoeCultura.[grifomeu](MUSEUPARANAENSE,19501969,p.16) OmesmorelatóriodoMUSEUPARANAENSE(19501969,p.22)afirmava que naqueles últimos três anos (anteriores a 1953), o Mandato Universitário havia trazido vantagens para o Museu Paranaense pelo manejo da verba através da Tesouraria Central e também pelo contrato de Lange de Morretes, que estava contribuindomuitonoseuSetordeMalacologia,paraoenriquecimentodascoleçõese conhecimento melhor da malacofauna do litoral. Outro fato que chama a atenção nesses Relatórios éo valordosaláriodeLangequandocomparadoaos dos outros funcionários,deníveligualouinferior.OsprimeirosrecebiamCr$3.000,00,ouseja, 46 menosdametadedoseusalário,enquantoqueoauxiliardetaxidermiaeazeladorado MuseuParanaenserecebiamnaépoca,respectivamente,Cr$500,00eCr$200,00. AanálisedessesdocumentospermiteconcluirqueLangetevereconhecimento comopesquisadorecertoprestígiofinanceiroquandotrabalhounoMuseuParanaense. Esse fato pode ter motivado sua permanência definitiva no Estado e/ou significado umaformaderecompensapelosseusfeitosnoParaná.Langemantinhaumsentimento deafetopelasuaterranataleumaexpectativaderecompensaporsuasaçõesartísticas, científicaseeducacionaisnoEstadonosperíodosanterioresdesuavida,poisdevido àssuasintrigaspolíticas,seusinvestimentosnãoforamreconhecidos. Frederico Lange de Morretes morreu no dia 19 de janeiro de 1954, em Curitiba.Segundosuafilha,apósoretornodeumaexcursãocientífica,seupaifaleceu no hospital, vítima de um enfarte fulminante, mesmo após ter recebido alta. (MORRETES,2003,entrevista).Naquelaocasião,a Gazeta do Povo de20dejaneiro de1954trouxeanotíciadaseguinteforma: Às16:30horasdeontemcomeçouacircular,pelacidade,umanotíciadolorosa:amorte repentinadeLangedeMorretes.Comaltatradiçãoartísticaemnossaterra,seunometinha projeção também no país como expressão do valor e dos méritos que destacavam sua individualidade,realçadacomoláureasepremiaçõespelanobrezadesuainspiraçãoartística, comopossuidordeumpincelexímioaserviçodeincoercívelvocação. Lange de Morretes deixa nas paredes do Paraná, através de seus belos quadros, a imortalidade,incorporandooseunomebenquistoeilustreaopatrimônioculturaldenosso Estado. A cujo índice de explêndida civilização deu de sua parte, pela sua obra intensa, cooperaçãocontínua,operosa,fecundaebrilhante. A notícia de seu passamento repercute nos círculos artísticos, sociais e intelectuais do Paraná,causandosinceramáguaemsulcosdesaudades. OsfuneraisdopranteadoartistaserãorealizadosemMorretesparaondeseguirão,hoje,seus despojos.(MORTEDELANGEDEMORRETES,1954,p.3) Equiparadoaoscomentáriosproduzidospeloscomentadoresdavidaeobrade Lange de Morretes, esse texto mostra como os críticos construíram uma memória históricaemqueosfatosforamdistorcidos,poisatéadatadamortedoartistacientista nãocorrespondeàrealidade.Algunsautores,comoTheodoroDeBona,atésearriscam emfalarqueLangequeriamorrer,oquechegaaserimprovável.Noseulivro,De Bonanarraoepisódiodofalecimentodoartistacientistaeapresentaduasilustrações dofuneraldeLange,umadoenterroquandochegaàIgrejadeMorreteseoutrado túmulonocemitériodacidade.Segueumacitaçãodeseulivro: 47

Igual a muitos artistas possuía algumas extravagâncias. Uma delas, a de se apaixonar facilmente.Fumavaparaalémdeduascarteirasdecigarros por dia. Boa parte das vezes acendendoonovocigarronooutroquehaviaterminado,ouentão,fumandoosdoisjuntos. Afirmavacoisasabsurdas,entreelas,adesuamorte,comdatamarcadacomdoisanosde antecedência. Passado o primeiro ano, garantia com muita tranqüilidade, sempre gozando perfeitasaúde,queasuamorteiriaocorrernoanoseguinte.Paramaiorsurpresadosamigos, veio,defatoafalecernotempoporeleprevisto. Naocasião,eumeencontravaemCuritiba,montandoumaexposiçãoe,foicomgrandepesar quetiveconhecimentodosucedido. Lange,umatarde,sentindosemal,procurounaCasadeSaúdeSãoVicenteoseuamigoDr. Eduardo , que no momento, lá não se encontrava. Recolhido a um dos quartos, expressouodesejodetomarumbanhodechuveiro.Advertidoporumenfermeiroquenão estavaeleemcondiçõesdetomarbanho,insistiu,dizendoquesenãolhefossepermitido,se retirariadohospitaleiriamorrernarua.Entrandonochuveiroabriuaágua,foiacometido porumaparadacardíacaedeixoudeviver. Entreseusamigos,emreuniõestodasastardes,narua15,estavasempreoprincipalqueera oJoãoB.Groffe,tambémoMikareThádagrandefirmaconstrutora,aoqualLangehavia recomendadoumtúmuloaserconstruídoemMorretesondeelequeriaserenterradodepé. Emboratendomorridonotempoprevistoporele,otúmulonãohaviasidoprovidenciado, mesmoporquenãosetomavaasérioaprevisãodoartista. Deacordocomoseudesejo,oféretroseguiuparaMorretes, aguardandoo na Matriz da cidade,aoreplicardossinos,ahoradoenterramento. Recomendada a alma pelo pároco local, seguiuo préstito fúnebre, levandose o caixão à mão,atéocemitérioparasersepultadonumadascarneirasdaAssociaçãoCristã. Aconteceu,porém,quehouvedificuldadesnacolocaçãodocaixãonotúmuloporseresteum poucoestreito,sósendopossíveldepoisdemuitotrabalhodospedreiros. AomeuladoestavaoMikareTháparaoqualLangehaviapedidoquepreparasseomaterial eolevasseaMorretesparaaconfecçãodeseutúmuloondequeriaserenterradodepé. Impressionado com a dificuldade de se colocar o caixão, o Mikare virouse para mim dizendo: –“É,naverdade,ele(Lange)nãoestáquerendoentrarnessetúmulo”. VoltandoparaCuritiba,providenciouimediatamentedoisgrandestubosdecimentoedemais materiais,elogonodiaseguinte,voltouaMorretesparacumprirapromessaquehaviafeito aoamigo. FredericoLangedeMorretes,pintorimpressionistabrasileiro,repousanofundodocemitério de Morretes, ao lado direito de quem entra, tendo como ornamento alguns caramujos, símbolodesuapaixãopelaciênciae,tendocomofundoagrandiosamontanhadoMarumbi, comseus1890metrosdealtitude,nasuaimponentebelezatantasvezespintadaporelee sempreamada.(DEBONA,2004,p.2527) Na ocasião do sepultamento de Frederico Lange de Morretes, segundo sua filha,afamíliadoartistacientistarespeitouosseusseguintesdesejos: a)SerenterradoemMorretes. b)Serenterradoempé. c)TúmulocercadoporquatropedrasoriundasdoMarumbi. d)Túmulosemcobertura. e)Sobreotúmuloumgoimbê.(MORRETES,2006,entrevista) AnalisandoosdesejosdeLangedeMorretessobrecomoqueriasersepultado, ficaclarocomosuaconstituiçãopsicológicaesuaformaçãoprofissional–quefazem 48 partedeseuhabitus –sãomarcadasportodoumsimbolismo.Nocasodaconstituição psicológica, ela é marcada pela relação homemnatureza e pelo processo de identificaçãocomaterranatal.Jáaformaçãoprofissional,amarcaresidenainfluência estilísticaesimbólicadapinturaeuropéia.Essainfluênciatambémapareceemobras dosoutrosartistasrepresentantesdoMovimentoParanista 37 ,queassimcomoLange, eramligadosànaturezadoParaná.Emcertamedida,essesartistastrazemaspectos semelhantesemseus habitus.AtentativadeaproximaçãofísicadoPicoMarumbi,é umbomexemplodisso,pois,comobemlembraElisabeteTurin,o“...Marumbi,parte integrantedaSerradoMar,foiparaosartistasmorretensestãoimportantequantoa montanha Santa Victória para Cézanne, que a retratou dezenas de vezes. Turin o representounumaescultura,naformadedoistigresemluta,simbolizandoaforçaea belezadamontanha.”(TURIN,1998,p.42) Quanto ao estado físico e psicológico em que Lange de Morretes se encontravapoucoantesdemorrer,Bertadizqueseupainuncasofreudedepressão. (MORRETES,2003,depoimento).Apesardisso,existemmuitasinformações,quepor vezessechocam,sobreasuposta melancolia eoprovável estado depressivo emqueo artistacientistaseencontravanafasefinaldesuavida.Asprincipaisaparecemnatese de Adalice Araujo, para o concurso de docêncialivre em História da Arte, na Universidade Federal do Paraná, e num artigo de Nelson Luz, crítico de arte e professordeDireitodamesmainstituição.Conformeaautora: Nos últimos tempos, [Lange de Morretes] deixa se dominar por profunda melancolia . Chegaaconfessaraosseusamigosqueestavacansadodeviver.Nestaocasião,recomendou lhesquegostariadeserenterradoempé,comorostoviradoparaoPicodoMarumbi,num terrenodeummetroquadrado,quecompraraemMorretesparaservirlhedesepultura.(...) TodososdepoimentosdepessoasqueconheceramLangedeMorretescoincidemcomode ArthurNísio.Numadesuasúltimasobras,intitulada“AMorte”,estábemvisívelo estado depressivo emqueseencontravaoartista.Emvezdo“pinheiro”oreidafloresta,a“morte” passaaseraúnicacerteza.Certaocasião, Lange se ausenta vários dias, sem que ninguém soubesse seu paradeiro ,soubesemaistarde,queforahospitalizadonaSanta Casa, com início de um derrame. O médico recomendoulhe que não tomasse banho frio como costumavafazer.Porteimosiadesobedeceuàprescriçãomédica,vindoafalecerem20de janeirode1954.EmMorretesondefoidepositadoprovisoriamentenojazigodafamília.Seu filho Flávio satisfez seu último desejo, enterrandoo em pé, dentro de duas manilhas de

37 OMovimentoParanistaédefinidonestetrabalhocomoumamaneiradecolocaremprática osideaisdoparanismoatravésdasaçõesdeumdeterminadogrupodepessoas.Essetemaserátratado nocapítuloseguinte. 49

cimento, com o rosto voltado para a montanha que tanto adorava. Seu túmulo feito por MicharéTháérevestidodeconchas.[grifomeu](ARAUJO,1974,p.113) Narealidade,LangedeMorretesnãoseausentou“semqueninguémsoubesse seuparadeiro”.Elepermaneceunolitoralparanaense,entreoiníciodomêsdejunhoe finaldenovembrode1953,envolvidocomsuaspesquisasmalacológicas.Osartistas não sabiam seu paradeiro porque, ao se dedicar às pesquisas malacológicas, Lange afastouse do meio artístico. Nesse caso, a falta de conhecimento dos artistas e o silênciodoscríticosdeartepodeservistocomoumdesinteresseouumadesatenção, por parte deles, pelo trabalho científico desenvolvido por Lange, que como profissional, cumpria suas obrigações. Os resultados desses trabalhos científicos aparecememrelatórioapresentadoaoMuseuParanaense,assinadoporeleedatado em19dedezembrode1953. NelsonLuz,emseusescritosde1975e1976,publicadosem1989,em Nelson Luz: O Primeiro registro de uma passagem dáoutraversão,porémmaisconvincente, arespeitodoestadoemqueLangeseencontravaantesdesuamorte: AlguémcomentouqueLange,nofimdesuavida,seencontravaem“estadodepressivo”e que,diasantesdofim,desapareceu,atéquesesoubequemorreranumhospitaldeCuritiba. Não posso crer, pois ele não desapareceu . Estava na pensão onde residia sozinho num prédio que ficava em frente à atual Caixa Econômica Federal, à rua Marechal Floriano, esquinacomJoséLoureiro.SentiusemalehospitalizousenaCasadeSaúdeSãoVicente, dizsecomnomesuposto.Alimorreuesópoucomaistardefoireconhecido. Quanto ao “estado depressivo” não creio , apesar de um quadro que pintou referido à morte. Pelo que o próprio Lange me disse em várias oportunidades, achava a morte antiestéticae,porissoaaproximaçãodela,queria,igualaosanimais,queoseupassamento nãofossepresenciado,efoioquefez.[grifomeu](LUZ,1989,p.20) Nelson Luz também fornece aspectos importantes que contribuem para o conhecimento da personalidade de Lange de Morretes eparaaanálisedoprocesso criativodaobraartística,comoacrençareligiosadeste: QuandoconheciLangedeMorretesjáeleestavadevoltaaCuritiba,convidadoporBento MunhozdaRochaNetto,entãoGovernador,paravirajudaroParaná,suaterra.Issofoiem milnovecentosecinqüentaepoucos. Eraafável,educado,masumtantocerimoniosonotratocomosdesconhecidos,aquemnão mostrava a alta sensibilidade. Foi através de várias conversas e, mais que isso, de uma crescente simpatia e de várias afinidades, que nos tornamos ótimos amigos. Depois de confiaremalguém,Langetornavaseumacriaturaadorável,simples,humilde,leal.Abriaa almainteirae,muitoequilibradamente,falavadesuavastaeprofícuaexperiência. 50

Não cria em Deus, dizia ele ser evolucionista; mas pouquíssimas criaturas eu vi que sentissem,comtantoardoremaravilha,avidaeomundo.Paramim,Langeerapanteístada maneira pelo qual o “Poverello” de Assis poderia ser um panteísta e certos pensadores orientaistambém.Elefalavaem natureza ,proferiaassimonomedeDeus.(...) Devo citar, para conseguir o retrato completo de Lange, uma conversa que ele teve com FlávioLuz,meutioeumdospróceresdoespiritismoentrenós. DiziaFlávio:–Lange,aúnicacoisaquerestadenósapósamorte,éoespírito!–eLange, respeitosoeafável:–DoutorFlávio,éaúnicacoisaquedesaparece! O maravilhoso de tudo isso foi a compreensão de ambos. Apesar das convicções diametralmenteopostasaceitavamse,poisaexperiênciadavidalhesderaararahumildade de,dispensandopontosdevistaantagônicos,sentiremograndiosoespetáculodomistérioda criaçãoque,porleinatural,deveirmanarascriaturas.(...) Outro fato importante e por ele várias vezes relatado, foi o seguinte: seu avô e seu pai faleceram,emanosdiferentes,nomesmodiadejaneiro;eLangesabia,adivinhava,quecom eleiriaaconteceromesmo.Defato,tambémfaleceuemjaneiro,nãoseisenamesmadata, poiseunãofuiconferir.Quemmeparticipouatristeocorrência,naPraçaTiradentes,foio velhoamigoBotteri.Fiqueidesolado;etivedeacreditarnaprofeciadoLange.(LUZ,1989, p.1920) Em19dedezembrode1953LangedatouseurelatórioaoMuseuParanaense, no qual comenta sobre suas pesquisas desenvolvidas no litoral do Estado. Nesse documento,LangedizquenaqueleanofezestágiosemMatinhosde2a27dejunho, emPontaldoSulde27dejulhoa25deagosto,enaIlhadoMelde10a28de outubro. “De todas estas estações foi colhido copioso material marinho, fluvial e terrestre, ainda não estudado, podendose constatar desde já muitas ocorrências até hoje só conhecidas de outraspartes do Brasil e também algumas novidades para a ciência.”(MORRETES,1953,p.83).Langesemostracontenteaofalardecomose deram suas pesquisas: “As dragagens em andamento em três pontos da Baía de Paranaguá dão excelente oportunidade, que não pode ser perdida, para coleta de espécimesmalacológicos,mormenteparauminstitutocomoonossoquenãopossue meiosparaprocederataisoperações.”(MORRETES,1953,p.85) No mesmo relatório, Lange faz pedidos de materiais para suas pesquisas científicas e comenta sobre questões burocráticas relacionadas ao seu pedido: “Os resultadosdascoletasestãotomandovultoetornasenecessárioabrigálos.Paraisso poderfazertomoaliberdadederenovaromeupedido,jáfeitoemrelatóriodoano anterior,daaquisiçãodedezarmários(10).”(MORRETES,1953,p.85).Eletambém informa que manteve correspondência com cientistas de vários países: Alemanha, 51

Argentina,Chile,Cuba,EstadosUnidos,InglaterraeSuécia 38 .Alémdisso,“Dentrodo Brasil,dadoaimportânciada Esquistossomose ,cujocontroleestáentregueao Serviço Nacional da Malária , foram estreitadas as relações com essa instituição no setor paranaense.”(MORRETES,1953,p.85).Fatoeste,quesedeuapósterdescoberto,em 9 de junho na cidade de Matinhos, um foco não extenso, mas muito intenso de australorbis ,gênerodecaramujodaáguadocequecausaaesquistossomose. Apartirdaleituradessedocumentoficaclaroquehaviapretensãoporpartede Langeemdarcontinuidadeàssuaspesquisasmalacológicas.Notexto,elealimenta esperançasderenovaçãodoseucontratocomaUniversidadedoParaná:“ Continuar as pesquisas na Baía de Paranaguá équemeproponhoafazernoanopróximose Sua Excelência o Magnífico Reitor da Universidade do Paraná houverporbemrenovaro meu contrato.” [grifo do autor] (MORRETES, 1953, p. 86). Essas informações contestamacrençadequeeletenha“desistidodeviver”aofinaldesuavida,devido aoseusuposto“estadodepressivo”.Aocontráriodisso, o artistacientista planejava paraopróximoano(1954)continuarsuaspesquisasnolitoralparanaense. AsatitudesdeLangedeMorretesnofinaldesuavidanãocondizemcomas de uma pessoa depressiva, pois o entusiasmo de seus últimos escritos contesta as informaçõesqueatéagoraapareceramemsuasnotasbiográficas.Segundodepoimento desuafilha,aúltimavezqueafamíliaoviuantesdoseufalecimentofoinoNatale passagemdoanode1953para1954.Bertha,suaesposa,encarouamortedelecom muita tristeza, como toda e qualquer pessoa de uma família bem estruturada. (MORRETES,2006,entrevista).Assim,parairmaislonge,lançandomãoapenasde suposições, mas que ao mesmo tempo são quase certezas, o fato de ele ter permanecidomuitotempoemtrabalhosdecamponolitoral talvez tenhacontribuído paraafragilidadedesuasaúde.Estaquejáestavaabaladapelofatodeserumfumante assíduoe,também,porestarcomaidadeavançada(61anos). Valfrido Piloto, em seu livro O acontecimento Andersen, registros sobre a vida e a glória de Alfredo Andersen ,numaimensanotaderodapé,enfatizaoepisódio

38 FredericoLangedeMorretesfalavaportuguês,alemão,francêseitaliano.(MORRETES, 2006,entrevista) 52 noqualLangesepreparaparafotosdedivulgaçãodesuaspesquisas,desenvolvidasna épocaemquefoicolaboradordoMuseuParanaense: Quando do falecimento de F. Lange de Morretes, em 1954, escrevemos na “Gazeta do Povo”, sob o título “Reconciliação”, as seguintes evocações sôbre os últimos tempos do artista: “LangedeMorretesparou,assimquehavíamossubidooprimeirogrupodedegraus.Soube disfarçar, e encaminhouse para a amurada de onde se descortinava a cidade. Quando exclamou: É linda!”, não pôde reprimir um ofêgo mais forte. Vendose traído pela conturbada respiração, sorriu, pôs a mão no peito e teve esta confissão melancólica: “A máquinaestámeiodessaranjada”.Desvieioassuntoe,logodepois,galgámosorestanteda escadaria.Noentanto,êstecontinuavaatercoragemouadisplicênciadeumsorriso. Íamosambosàsuasala,noMuseuParanaense. Desejava eu fazer fotografar na sua banca de trabalho, junto dos seus caramujos. Um fotógrafo já nos esperava, e ao prepararmos o ambiente, foi grande a decepção que me assaltou: Os caramujos eram quase microscópicos. Aqueles da espécie que Lange dizia haver descoberto, mais parecia um fragmentozinho desprezível. Não pude deixar de fazer troça, mas, no fundo, achei admirável aquela preocupação de um homem que, sendo pintor servido de excepcionais dotes artísticos, e podendo conceber quadros vistosos, dava força aos seus pendores também de cientista, e perdia semanas e meses, no litoral do Paraná, à cata de coisas imperceptíveis, ridículas, sem graça, como aquelas que ali estavam entre algodão, em pequenos tubos. AfotosomentesetornoupossívelcomLangeempôse de quem já exaltava,porescrito, aquelasninhariasdanatureza.Foiasuaúltimafotografia,eelaconstadonúmeroespecialda “Ilustração Brasileira”, comemorativo do Centenário do Paraná. Realizando êsse número, não poderia eu me esquecer do artista que encheu, ao lado de J. Turin, tôda uma fase brilhantedavidadenossaterra. Fui à procura de Lange, afim de que ficasse realçada a sua condição de um dos precursores do estilo artístico paranaense, com o pinheiro, o pinhão e o sapé. Dei-me ao agradável trabalho de resumir o seu livro inédito, sobre o assunto. Obtive de sua coleção alguns desenhos, e pude focalizar esse seu grande e meritório esforço de outros tempos. No conjunto de telas dos nossos artistas, lá está êle também com o seu lugar. Senti que Lange se comoveu com o meu cuidado em fazer-lhe justiça. Auscultei, até, certaestranhezadoartista,diantedaespontaneidade,comquealguémoia“descobrir”no recessoobscuroedifícildaquelafainacientífica,evidentementeumvoluntárioexílio. É que Lange brigara, há tempos, com o Paraná, pela injustiça recebida de um homem que encarnava o poder público: o Sr. . Determinada atitude atrabiliária desse aliás notável paranaense, não despertara o merecido revide em nosso meio, a favor do injustiçado.Foi,defato,umaduplaignomínia,eLange,commuitarazãoeinfinitamágoa, ausentouseparaoutrasterras. Maistarde,anossaUniversidadecontratouoparaasinvestigaçõesmalacológicas,àsquais ele também se dedicara lá longe. Não foi difícil a reconciliação. Frederico Lange de Morretes não podia viver sem o seu Paraná. Auxiliara com o pincel, com a pena e com o coração, a iluminar os caminhos de nossa gente. Êle e a Terra Paranaense confundiam-se. Edetalforma,queeledesejouirseembeberdenovo no chão de que surgira.Morretesguardalheocorpo,desdeháalgunsdias.Almejandointensamenteisso. Langeassinaloumagistralmenteoseudestino.Ocoraçãoqueomatou,viveráagorafeliz. Sem nenhum cansaço. Florescendo em exemplos para quantos desejem se redimir, estòicamente,pelaarteoupelaciência.[grifomeu](PILOTO,1960,p.2425) Duasquestõeschamamatençãonesseartigo.Aprimeiradelaséque,naquela ocasião,LangedeMorretesjáseencontravacomasaúdedebilitada,tendodificuldade 53 atéparasubirasescadasquelevariamàsuasalanoMuseuParanaense.Alémdessa, outra questão interessante é a maneira como Valfrido Piloto privilegia a produção artísticadeLangeeminimizaaimportânciadapesquisacientíficadeste.Éoquese constata pelo modo como o autor descreve a cena, pelo uso de certos adjetivos e expressões em seu discurso, especialmente quando se refere aos estudos malacológicos: “fragmentozinho desprezível”, “coisas imperceptíveis, ridículas, sem graça”,“ninhariasdanatureza”. Arevista Ilustração Brasileira dedezembrode1953,aqualValfridoPiloto fazreferência,traznãosóaúltimafotodoartistacientista,mastambémoresumode Uma árvore bem brasileira , livro inédito, escrito por Lange de Morretes em 1944. EssapublicaçãopodeserconsideradaamaisimportantedeLangesobresuavidaesua obra já que se trata de uma pequena autobiografia na qual este traz elementos que ajudamareconstituirocircuitosocialeculturaldeCuritibadoperíodovividoporele. ÉinteressantenotarcomoLange,nesseartigo–intitulado O Pinheiro na Arte de Lange de Morretes eeditadonomêsanterioraodesuamorte–vairecordarseu passado,acabandoporresumirsuavida.Assim,seudepoimentorepresentaamaneira pelaqualoartistacientistagostariadeserlembrado,principalmente,porquenotexto ele relata fatos que aconteceram muitos anos antes da época em que a obra originalmentefoiescrita: “OPinheironaArteporLangedeMorretes” Emnossafloraexisteumaárvoredeportegigantesco,diversadasdemaisporquecresceem determinados cânones, tem forma estilizada e é bem brasileira, porque é só brasileira. Pinheiroéonomequeopovolhedá;oqueoscientistaslhedãoéAraucáriabrasiliana 39 ,os artistas ao contemplála dizem com respeito: “É o Rei da Floresta”. Inicialmente a sua distribuição era o inteiro Sul do Brasil, hoje ficou mais concentrado no Paraná, motivo porquetambémécognominadoPinheirodoParaná. O Pinheiro representa botanicamente árvore que veio do passado. Se cuidados não forem tomados, tende a desaparecer da nossa vegetação, apesar de ainda hoje cobrir grandes regiões do Estado sulino. A devastação dos pinheirais assusta todos os homens sensatos, especialmente os cientistas e artistas .Nãosãopoucasasadvertências,assúplicas easlamentaçõesfeitasemprosa,versomúsicaepintura. Sempre o pinheiro despertou o interêsse dos artistas .Hácentoecinqüentaanosatrásêle não devia estar tão distanciado da Capital do País, pois, o Príncipe Maximilian von Neuwied VI ,tratandodesuapermanêncianoRiodeJaneiroem 1815, diz: “...asnozes da árvore Sapucaya (Lecythis Ollaria, Linn.), as do pinheiro brasileiro (Araucária) e outras frutassãooferecidasàvendanasruasatôdasashoras...”

39 Onomecientíficoatualmenteé Araucaria augustifolia . 54

Defato,MoritzRugendas VII ,queem1825faziapartedaExcursãoLangsdorff,organizada para explorar os Estados de São Paulo, MatoGrosso, Amazonas e Pará, e dela logo se separou para melhor e mais desembaraçadamente servir ao seu ideal, desenha alguns pinheirosemdiferenteslocalidades.Nasuamonumentalobra“Viagempitorescaatravésdo Brasil”,dadaalumeem1835,desenhapinheirosdoRiodeJaneiroedeMinasGerais.Na “FestadeSta.RosáliapadroeiradosNegros”apresentadois,cujascopasfaltamnodesenho, mascujosgalhosinferioresaparecematrásdacenamovimentada.Aindaemoutrasestampas doRioêlesapontamaquieacolá,bemquepoucodesenvolvidos. Assim na “Cascata da Tijuca”.MaisbelosreproduznasestampasdeMinasGerais.Em“VilaRica”e“Habitantes deMinas”surgempinheirosnapaisagem.“Barbacena”trazoutrosnoprimeiroplano.Sua representaçãoprincipaldaAraucária,porémédadana“SerraOuroBranconaProvínciade MinasGerais”,ondefaziaumagrupamentodejovenspinheiros. AurélioZimmermann,finoilustradoralemão,viveumaisdedezanosnoSuldoPaís,antes de,em1905,setransferiraSãoPaulo,elápintouumasériedequadros.Muitasdesuastelas, executadasemSantaCatarinaenoParaná,têmcomo fundo pinheirais e algumas trazem pinheirosemprimeiroplano. Várias telas de pinheiros devemos ao pincel de Alfredo Andersen, pintor norueguês que aportouemParanaguáedepoissemudouparaCuritiba,ondeencerrandovidaextremamente laboriosa,terminouseusdias. Quase todos os artistas que pelo Paraná passaram ou lá se fizeram :BrunoLechowski, Tonti,Lewandowski,GuidoViaro, dedicaram telas ao pinheiro . É naturalque ofilho da terra a êle seja mais aperfeiçoado. Os artistas paranaenses João Ghelfi, Gustavo Kopp, Waldemar Freysleben, Theodoro de Bona, Artur Nisio, Augusto Conte,OsvaldoLopes,pintarampinheiros,destacandoseentreêlesFreyesleben,comóleos, eKoop,comaquarelas. Mais de dois lustros convivi com pinheiros, sempre os estudando, sempre colhendo dados que êles me inspiravam. Embrenhado na floresta falei muito com pinheiros novos, falei muito com pinheiros velhos, guardei segredos que êles me revelaram, sonhei, amei e trabalhei, desprezando o que chamam de confôrto e de fadiga . O velho atelier da Rua Marechal Deodoro, em Curitiba, que fôra do fotógrafo Volk, depois do pintor Alfredo Andersen e mais tarde do pintor João Ghelfi, era, devido à sua localização central, um ponto de reunião dos intelectuais da cidade e dos que a visitavam. Lá,certavez, em roda mais íntima, três artistas discutiam arte: Ghelfi, Turin e Lange de Morretes .JoãoGhelfi,desaudosamemória,autordealgunsótimosretratos,haviaestado algumtempoemParis,masfoioprimeiroaregressardaEuropa.Eraumgrandesonhadore, coisaestranha,tambémumespíritoaltamentecrítico,talvezatémordaz.JoãoTurinestudara escultura em Bruxelas, depois vivera longos anos em Paris. Foi o último de nós três a regressaraoBrasil.Seuregressodatavadebempoucotempo 40 . Eu ,chegadodaAlemanha apósaminhalibertaçãocomotérminodagrandeguerrade1914,jáhaviapercorridouma boapartedoBrasilemexcursõesartísticas. Quando um artista paranaense está só, pensa no pinheiro; quando está em companhia de outro artista, fala do pinheiro; e quando os artistas reunidos são mais de dois, discutem sôbre o pinheiro. Não era, pois, de estranhar a conversa ter se encaminhado para o pinheiro. Discutíamos as suas qualidades, as suas dificuldades e as suas possibilidades para o campo da arte . Ghelfi,sempreentusiasmadoesonhador,tomoudeumpedaçodecarvãoenaparededoseu ateliertraçou,dotroncodopinheiro,umfragmentodefuste,sôbreoqualcompôsumgrupo depinhascomocapitel. Fomos à Confeitaria “Esmeralda”, da rua 15, comer empadinhas de camarão e palmito, tomarumchopeecontinuaranossadiscussão.Depoisseguimoscadaumparasuacasa,com umpinheironacabeçaenvoltonabrumadochope.Turineeuestávamoscomumasemente 40 Essefatocomprovaqueaestilizaçãoparanistasurgiuentre1923e1925.JáqueJoãoTurin voltouaoBrasilemjaneirode1923e,emagostode1925,JoãoGhelfifaleceu. 55

nopeitoagerminar.E,curioso,osemeadorGhelficontentousecomasemeadura.Talvez, devido à sua morte prematura, corrida em 28 de agôsto de 1925, nada realizasse nesse campo. Hásementesquenãobrotamaocairdaprimeirachuva.Levamtempo.Assimaestilização do pinheiro não nasceu da noite para o dia. Turin matutou muito, e eu não menos. No comêçonossostrabalhostinhamsidoempíricos.Turin,comoescultor,dedicouseàfaturade capitéis. Eu como pintor e desenhista, conhecendo as artes gráficas, encaminhei-me para o problema pictórico e o lado ilustrativo . Meu âmbito de atividade era duplo: a escola e a floresta .NaEscolaNormalSecundária lecioneidesenho,metodologiadoseuensinoehistóriadaarte,sempreencarandodepertoos nossosproblemasepropagandooseudesenvolvimento.Meuatelierfaziapartedaminha casa,situadaàruaCoronelDulcídio.Dedimensõesavantajadas–media9por11metros,– podiaabrigarmuitosalunosnaEscoladeDesenhoePintura,quenelemantinhaemedava oportunidadedearrojarmeastelasdegrandesproporções.Jovensbrasileiros,detôdasas origens: afra, portuguêsa, alemã, holandêsa, húngara, italiana, polaca e rutena, em geral filhos de homens humildes. Já se encontravam para receber ensinamentos. Condições de matrículasparaosalunosefetivos:terdecididavocaçãoparaaarte,eanecessáriadedicação. Nenhumapessoaquetivessetalentoequeprocurasseensinamentos,batiaemvãonaporta doestudio. No mato, do qual poucas vêzes me afastei para trabalhar à beira-mar ou em minha querida Morretes, dediquei-me quase que exclusivamente aos pinheiros . Desde a minha volta da Europa estudei com afinco o problema da luz .OBrasiléum paíscheiodeluzedeencantamentosinfinitos,quasetodosvirgensparaoartista.Atodo passoosartistasenfrentamnovosproblemasaresolver. O pinheiro era um dos que ao lado da luz, mais me impressionaram. Árvore de crescimento simétrico, requeria o auxíllio da ciência para a sua representação. E o que mais difícil se mostrava era casar a parte científica com o problema da luz, emprestando a tudo a maior naturalidade possível. Até então o pinheiro havia sido pintado de modo empírico, dependendo, a sua perfeição, da argúcia e do sentido visual do pintor . Háváriostiposdepinheiros.Seuaspectovariatambémdeacôrdocomaidademastambém comrelaçãoao habitat ,istonaturalmenteencarandoosobopontodevistaartísticoenão científico. Temos árvores jovens, coniformes, cujos galhos inferiores não se distanciam muito do solo: temos árvores lembrando enormes guardachuvas e temos outras, micetiformes. Muitas do interior da floresta têm a copa deslocada para o lado da luz nascente,formando,muitasvêzes,segundacopainferioremtamanhoealtura. Cadabraçodopinheiropartedeumcentroderesistência,contidonotronco,onódepinho, muito compacto e de côr vermelha, lembrando um coração. Quando em lâmina fina, é transparente,porissoaspartesdopinheirocontendoosnós,sãoexploradasparaartefatos, especialmenteparaquebraluzesdebelíssimosefeitos. Asextremidadesdoslongosbraçosostentamaramagemformadasdecarumasquequando sêcas, têm o nome de arguiço. Cada caruma, formada de fôlhas ou agulhas verdes, subdivideseemcaruminhaseestasemcarumetas. Dou êstes dados mais a título de curiosidade e para mostrar quanto me interessava o pinheiro, mesmo nos mínimos detalhes. Todo o pedaço de papel era aproveitado para rabiscaresbôços.Demodoempíricoeramexecutadosinúmerosdesenhos. Minha intenção era, porém, sair do campo empírico, aplicar métodos científicos que viessem beneficiar a coletividade . Mascomo? Viajeiem busca de novos motivos. Averiguei os estragos feitos às nossas florestas pelas serrariasdistribuídasportantasregiões.Fizpropagandapeloreplantioondepassei,maslevei comigo profunda mágua no coração, sentida pela devastação que em pouco tempo transformaráemruínasestascidadesverdesdospinheirais,fazendodesaparecerospinheiros semqueoEstadoreserve,comoParqueNacional,umaglebaporêlescoberta. 56

Asexposiçõesindividuaisecoletivassucediamse,encontrandoporpartedaimprensafartos comentários.SempreascolunasdetodososjornaiseditadosnaCapitalestavamabertaspara os acontecimentos artísticos. Os redatores escreviam artigos, os repórteres faziam entrevistas, e os críticos, estudos pormenorizados. As autoridades prestigiavam com sua presençaosempreendimentos. Coincidiaquenestesanostambémamúsicaestavaemcartaz.Concertoslocaisalternavam secomgrandesvirtuosesvindosdeoutrasplagasedoestrangeiro. Dentro dêste movimento febril, convoquei os artistas da terra e fundei a Sociedade dos Artistas do Paraná. A SAP congregou os artistas criadores e intérpretes. Tiveram lugar concertoseconferências,efoiorganizadooSalãoParanaense.Todososempreendimentos alcançaram o mais franco sucesso. Curitiba vivia a hora da arte. O povo visitava nas exposições,acorriaaosconcertosefreqüentavaasconferências. Símbolodetudoeparatodossemprefoioaltivopinheiro,quetambémornavaoestandarte daSociedadedosArtistas. “Sóconquistamosaquiloquesabemosdesejarcomardor”–disseGoethe VIII ,eseoexcelso mestrefôssevivoeulhediria:“Procureicomardorumeloquemeunisseaomeupovo. Tivesterazão.Ahorafelizpassouporminhavida”. Centenasdepinhõesforamestudadosemsuasproporções,atéqueumabelanoitemefoi dado fixálas numa fórmula geométrica, saindo assim do empirismo em que atéentão se encontravaanossaornamentaçãoparanista. Finalmente tinha conseguido o que, a meu ver, era de utilidade imediata. De posse do segredodesdobreiafórmulaparaformaplanaeornamenteiacomcaruma,obtendoassima seqüênciaqueforneciaoselementosparaseremaplicadosnosmaisdiferentesramosdaarte aplicada. Lamento não poder fixar a data, que suponho ter sido em maio de 1930, porque a “Illustração Paranaense” de 31 de julho de 1930, reproduzia um desenho meu intitulado “DepoisdaTormenta”,commoldurafúnebrebaseadanafórmulageométrica,eonúmerode 31deagostode1930,damesmarevista,maisdoisdesenhosdeminhaautoriarepresentando variantes. Sem perda de tempo a fórmula obtida foi explorada em minha “Escola de Desenho e Pintura” e na “Escola Normal Secundária”, onde os alunos compunham modelos para serem executados em trabalhos manuais e de agulha. Belos suportes de madeira e belas toalhas em richelieu foram confeccionados pelos alunos que davam expansão à sua força imaginativa e à sua vontade criadora, extinguindo aos poucos os modelos de maçãs, peras e folhas de castanheiro, tão em uso nos desenhos importados 41 . Fazia-se coisa que era nossa, com mais caráter que a importada, e, sobretudo, original e individual. Noateliereramfeitos“chapas”paradecoraçõesdeparedes,etodosostrabalhos atéentãoproduzidosdemaneiraempíricapuderamternovasolução. Emrelevoapliqueiaornamentação,pormimdesenhadaemandadaentalhar,pelaprimeira vezasmoldurasdosquadros:“PrimaveraParanaense”,depropriedadedeS.M.oimperador doJapão;“AlmadaFloresta”,pertencenteàAssembléiadoEstadodoParanáe“Natureza”, àFaculdadedeMedicinadaUniversidadeFederaldoParaná 42 . A fórmula aí está aplicada nos desenhos que apresento, e ficará para quem dela quiser fazer uso, nunca podendo ser patenteada, pois, deve pertencer ao domínio público e servir especialmente a pequenos profissionais .[grifo meu] (MORRETES, 1953, p. 168, 169,274) 41 Aanálisedessestrabalhoséfeitanoúltimocapítulo. 42 Atualmente a tela A Natureza pertence à Embap e necessita restauro. Em relação às moldurasqueoartistaserefere,dasobrasqueestãonoParaná,apenas A Natureza conservaamoldura original,comsapésepinhõesestilizados.Alémdoquadromencionado,outrasobrasdoartistaforam incorporadasemacervosdoexterior.UmadelasestavanaAlemanha,no Glaspalast ,emMunique,que foidestruídoduranteaSegundaGuerraMundial. Remorso ,quadroquefazpartedatemáticaintitulada nestapesquisa Pinheiros e Dríades ,tambémfoivendidoparaNoruega.(MORRETES,1948,p.11) 57

Ao longo do artigo, Lange faz uma espécie de justificativa da presença do pinheirocomotemaartístico.Eleelaboraumaretrospectivahistóricasobreointeresse dosartistasporesseelementoquetambémfazparte de uma memória coletiva. Ao iniciarotextofalandosobreascaracterísticasbotânicase habitat daárvore,oautorse preocupa com a preservação dessa espécie, chamando a atenção para que fossem tomadas providências quanto à questão do desmatamento. O autor comenta sobre a passagem,peloBrasil,dealgunspintoresnaturalistasestrangeiros 43 que,preocupados emretratarapaisagemdopaís,acabaramporpintarpinheiros. Vale mencionarque Lange era um verdadeiro “conhecedor” dos trabalhos desses artistas, pois inclusive possuíaalgumasobrasrarasdeRugendas,asquaissegundosuafilhaBertaLangede MORRETES (2002, p. 70), ele precisou vender para pagar a anuidades da UniversidadedeSãoPaulo,jáquenaépocaemquesuasfilhasestudavamoscursos dessauniversidadeerampagos. Após falar sobre os pintores naturalistas estrangeiros que passaram pelo Estado, Lange cita vários artistas brasileiros que também retrataram o pinheiro em suasobras.Inclusiveelemesmo,vendosecomoumaentidade,aosereferenciarem terceirapessoanotexto.Éinteressantenotarquesódepoisdessereferencialhistórico, elevaicomentarsobresi mesmoeseuscolegas,especialmente João Ghelfi e João Turinearelaçãodostrêsnoquedizrespeitoaosurgimentodaestilizaçãoparanista, emespecial,aocapitelesboçadoporGhelfinoatelierdeste.Essapassagemdotextode LangeéumbomexemplodoconceitodeNorbertELIAS(2006,p.2527),quedizque os seres humanos formam figurações uns com os outros em virtude da interdependênciaquemantêmentresi.Lange,GhelfieTurintinhamemcomumum mundosimbólicodoqualfaziamparte. Além de recordar vários acontecimentos de sua trajetória, Lange fornece detalhes precisos sobre o processo que envolvia a estilização do pinheiro – cuja conciliaçãoentreaarteeaciênciaénítida.Oautorcomentasobreoselementosque 43 SobreostrabalhosdosnaturalistasestrangeirosqueestiveramnoBrasilnoséculoXIX, ver:SALLAS,A.L.F. Ciência do homem e sentimento da natureza:viajantesalemãesnoBrasildo séculoXIX.Curitiba,1997.378f.Tese(DoutoradoemHistória)–SetordeCiênciasHumanas,Letras eArtes,UniversidadeFederaldoParaná. 58 foramobtidosatravésdeseusestudossobreopinhãoemsuasproporções,culminando comumafórmulageométricaquepermitiasairdoempirismo.Osdesenhossurgidos desses estudos serviram de base para várias aplicações, entre elas, a do projeto de calçamento de Curitiba. Com esses estudos, o artista objetivava a representação de uma identidade coletiva, já que esses desenhos, enquanto arte decorativa, não só seriamtransmitidosatravésdasgerações,comopermaneceriaemdomíniopúblico. O texto de Lange de Morretes aparece como um desabafo, principalmente quando ele comenta sobre seu envolvimento com as artes e a cultura no Paraná. Quandoeledizqueprocuroucomardorumeloqueounisseaoseupovo,aísepode perceberasensibilidadeeapaixãoqueoartistacientistatinhapelasuaterra.Lange tenta “expulsar os seus demônios”, ao resgatar em sua memória, o que de melhor tentoufazerpeloParaná.Empreendimentosquemuitasvezesnãoforamvalorizados. 2.2AARTEEACIÊNCIA,ADOCÊNCIAEAPOLÍTICA. Ao tratar de uma trajetória social, não há como deixar de considerar a importânciadafamílianaconstituiçãotantodoindivíduoquantodesuacarreira.As famílias podem ser concebidas como corpos animados por uma “...tendência de perpetuar o ser social, com todos seus poderes e privilégios, que é a base das estratégias de reprodução , estratégias de fecundidade, estratégias matrimoniais, estratégias de herança, estratégias econômicas e, por fim, estratégias educativas.” (BOURDIEU,2004a,p.36).Nafamília,oinvestimentonaeducaçãodeumageração para a outra tem como finalidade a reprodução. Esse investimento permite que o capital cultural e o capital econômico sejammantidos,mastambémdelimitacertas escolhasepretensõesdoindivíduo,namedidaemqueesteéumapartedesse corpo maior que é a família. Nessa perspectiva, ao se analisar a trajetória de Lange de Morretesépossívelentenderporqueseupaiinvestiunaeducaçãodosfilhos. OspaisdeFredericoLangedeMorretestiveramumainfluênciadecisivaem sua carreira. Rudoph Lange faleceu em Curitiba em 3 de janeiro de 1922, e nas palavrasdeSebastiãoPARANÁ(1922,p.405):“...foiumhomemerudito,operosoe grandeapreciadordaarte.Poucosdiasantesdesuamortevimolodizeraseufilho: 59

‘Fritz, die einzige Sache, die das Leben würdig macht, ist die Kunst ’(Fritz,aúnica cousaquetornaavidadignadeservividaéaarte).”[grifomeu].Portanto,Frederico seaproximoudocampoartísticodevidoàinfluênciaexercidaporseupai.Rudoph, homemcultoeinteressadopelasartes,proporcionouaofilhoumaexcelenteformação artística e profissional, especialmente por ter mediado o contato deste com Alfredo Andersen,oprimeirocontatodofilhocomatécnicaartística.Essainfluênciapaterna pode ser percebida também na carreira de Carlos Augusto Schubert IX , irmão mais velhodeFrederico. AlgunsescritosmencionamqueainfluênciadamãedeFrederico sobresua obrapodeserpercebidaatravésdaligaçãocomosaspectosnaturaisdaregiãolitorânea doParaná,emespecialMorretes,cidadenataldeambos.Nessepontodevista,ossete anosqueFredericoviveunodesvioYpiranga,situadonaEstradadeFerroParanaguá Curitiba,foramfundamentais,poisneles“Langeteveoseuespíritoembriagadopela profusãodabelezadequeaSerradoMarépródiga,comoamaispródiganatureza.” (NICOLAS,1969,p.267).Poressavia,épossívelrelacionaressaaproximaçãocoma naturezacomostrabalhosdeFredericotantonasartesquantonaciência. Anna Bockmann Shubert era viúva e já tinha filhos quando se casou com RudophLange.Carlos,umdeseusfilhos,teveaulasdeartecomAlfredoAndersen junto com seu meioirmão Frederico. Em Andersen, pai da pintura paranaense , RUBENS(1995)transcreveumartigopublicadonojornal Diário da Tarde em20de marçode1907,sobreumaexposiçãodeAndersenquefazmençãosobreseusalunose seusrespectivostrabalhos.Conformeaparecenolivro:“DaexposiçãodeAndersen, aberta no domingopróximopassado,podese dizer quefoi mais umtriunfoparao ilustreartista,querquantoaostrabalhosdevidoàmestriadeseupincel,querquanto aosdeseusalunos.Asexmas.Sras.D.D.QuiquiNiepcedaSilvaeLaláGuimarães, C. Shubert e Lange .”[grifomeu](RUBENS,1995,p.74) NoiníciodoséculoXX,emCuritiba,haviaumapráticacomumemqueos alunoseramindicadospelosseusprofessoresparareceberemdoGovernodoEstado umabolsadeauxíliofinanceiroparaaprimoramentoseformaçãoartísticanoexterior. Devidoaosseusdotesartísticos,FredericofoiconsideradoporAndersencomooseu melhor aluno. Nesse caso, a opinião do professor foi decisiva para que o pequeno 60

FredericoconseguisseumabolsadeestudoseembarcarparaaAlemanhaem1910. Além dele, João Turin e Zaco Paraná estão entre os artistas de sua geração que receberam, pela intermediação de amigos junto ao Governo, bolsas de estudo para aprimoraremaformaçãoartísticanaEuropa 44 . NaAlemanha,tudoindicaqueaproximidadedeLangedeMorretescomas artes e o espaço social ocasionado por ela definiram o rumo de sua vida pessoal, permitindo, inclusive, que ele conhecesse e se casasse com Bertha, que era cantora líricaeprovinhadeumafamíliadeartistaseprofissionaisliberais.Emlinhasgerais, aolongodesuasvidas,suascarreirasforamguiadaspelocampodasartesassociadoao dalicenciatura,mantendoumaaproximaçãodessesdoiscamposcomoutrosramosde atividade,àsvezesparalelos,outrasvezesfuncionandocomoalternativasfinanceiras. NocasoespecíficodacarreiradeLange,aciência,porvezes,aparecetambém associada com a licenciatura. Diante disso, em As regras da arte Pierre Bourdieu alertaqueaprofissãodeartistaé“...umadasmenoscodificadasqueexistem;umadas menoscapazestambémdedefinir(edealimentar)completamenteaquelesquedelasse valemeque,commuitafreqüência,sópodemassumirafunçãoqueconsideramcomo principal com a condição de ter uma profissão secundária da qual tiram seu rendimentoprincipal.”(BOURDIEU,1996,p.257).Esteautorcontinuaedizque,por vezes,essesempregosetrabalhossetornamfundamentaisparaconquistarposiçõesde poderespecíficoeobterosucessoatravésdoreconhecimento. Emseulivro Galeria Paranaense ,SebastiãoPARANÁ(1922,p.408)disse queoprimeirosucessoartísticodeLangedeMorretesaconteceuquandoesteainda vivia com sua esposa e suas duas filhas numa pequena aldeia da AltaBaviera, na Alemanha. Lá o artista conseguiu vender um de seus quadros “a um capitalista da provínciadoRheno”queentregouatelaparaseremolduradaàmaiorcasadearteda cidadedeColônia.Comooquadro havia atraído muito a atenção dos fregueses da casa, o artista recebeu do proprietário desta uma carta indagando se possuía mais trabalhossemelhantesaqueleepediupermissãoparavisitálo.Quatorzetelasforam

44 Maistarde,emCuritiba,LangeeTurinseinteressaramparaqueospintoresTheodoroDe BonaeArthurNísioobtivessembolsasdeestudosdasautoridadespolíticas.EnquantoDeBonafoi paraVeneza,naItália,NísiofoiparaMunique,naAlemanha.OescultorErboStenzel,quefoialuno deLangeeTurin,atravésdesteúltimotambémconseguiuumabolsaparaestudarnoRiodeJaneiro. 61 adquiridaspeloproprietárioqueaslevouparaagrandecidadedaPrússiaRhenana.Foi assim,segundooautor,quecomeçaramastransaçõescomerciaisdaobrasdeLangede Morretesquederamrecursossuficientesparaeleesuafamíliasemanter. DesdeseuretornoaoBrasil,Langefezváriasexposições,grandepartedelas aconteceuemespaçospúblicos.Nessafasenotaseumenvolvimentomaiordelecom oscamposdaarteedadocência.Noqueserefereaocampodadocência,apósseu retorno da Alemanha em 1920, lecionou num dos mais importantes colégios de Curitibadaquelaépoca.SendoqueCaetanoMunhozdaRocha,presidentedoEstado, nomeouo professor efetivo e vitalício na Cadeira de Desenho da Escola Normal Secundária 45 .Diferentedaatualidade,naquelaépocaocargodeprofessorvitalícioera vistocomoalgomuitoimportante,sendoumprivilégioquepoucospodiamteracesso. Asuanomeaçãoapareceemnotapublicadana Gazeta do Povo de4dejunhode1924 daseguintemaneira:“Attendendoaorequerimentopeloprofessorinterinodacadeira deDesenhodaEscolaNormalSecundaria,SenhorFredericoLangedeMorretes,[o presidentedoEstadodoParaná]resolveconcederlheaeffectividadeevitaliciedade noreferidocargo.”(DECRETOSPRESIDENCIAIS,1924,p.3) Assimcomoseumarido,BerthaLangedeMorretestambém foi professora, lecionando música na Escola Normal, em Curitiba, e mais tarde também em São Paulo.EmCuritiba,elaaindasededicouaoutrasatividades,trabalhandonaSociedade deArtistasdoParanáeparticipandoinclusivedediversaspeçasmusicais.Em1933, ano do Centenário do Nascimento de Brahms, Bertha apresentouse no Theatro Guayra 46 aoladodopianistaJoãoPöéck(19041983),numevento que teve grande extensão.(DICIONÁRIOHISTÓRICOBIOGRÁFICODOPARANÁ,1991,p.375). EmSãoPaulo,alémdeaulasparticulares,Berthadirigiuumcoralcomoqualdava 45 AEscolaNormaldeuorigemaoInstitutodeEducaçãodoParanáeaoColégioEstadualdo Paraná. Foram feitos levantamentos nos arquivos desses dois estabelecimentos de ensino, mas não foram encontrados documentos referentes ao período em que Lange lecionou. Enquanto que no Colégio Estadual do Paraná não foram encontradas informações nos documentos do período, no InstitutodeEducaçãodoParanáadocumentaçãofoidestruídadevidoaumincêndio. 46 Em1884foiinauguradooTheatroSãoTheodoro,naRuaNova,atualruaDr.Muricy.Era oprimeiroteatrooficialdoParaná.DuranteaRevoluçãoFederalista,de1893a1895,asatividadesdo teatroforamsuspensasesuasinstalaçõesutilizadascomoprisão.Em1900,oteatrofoiremodeladoe teveseunomesubstituídoporTheatroGuayra.LocalizadonaRuaDr.Muricy,oteatrosofreuuma novareformaem1912eem1935foidemolido.AconstruçãodoprédioatualdoTeatroGuaírafoi iniciadaem1952econcluídaem1974,seguindooprojetodeRubensMeister. 62 concertos Natalinos na Igreja do Calvário, cuja renda revertia para o ambulatório e dispensáriomantidospelaIgreja.EntreseusalunosfiguraramIreneRavache,Izabelde Lizandra,JairRodrigueseoutros.Alémdisso,seaciênciafoiumdoscamposqueteve marcagarantidaparaFrederico,Berthatambémteveosseus,aexemplodeumlivro emalemãoescritoporelaedirigidoaestudantesdemedicinaparaaprendizagemdo mesmoidioma47 ,comprovandoqueelaflertavacomoutrasáreasdoconhecimento. EmrelaçãoàcarreiraartísticadeFredericoLangedeMorretes,numaanálise sobresuasexposiçõesindividuais,sepercebeque,naprimeiradelasforamexpostas telaspintadasduranteoperíodoemqueviveunaAlemanha,sendoqueostemasmais freqüentes se resumiam em flores e certos elementos da paisagem alemã como cascatas,corredeiras,florestas, montanhase pastagens.Asexposiçõesposteriores já mostravam temas referentes ao Paraná, mas também ligados à natureza. Dessas últimas, as exposições que Lange fez em São Paulo e no Rio de Janeiro foram responsáveisportornáloconhecidocomopintor,atravésdatemáticadas Cataratas do Iguaçu ,pelaqualrecebeumuitascríticasfavoráveis. Sobre a questão da temática das Cataratas do Iguaçu , em 1920, a revista Album do Paraná fezumcomentáriosobreoretornodeLangeaoBrasiletambém parabenizou o artista pelo sucesso de sua primeira exposição em Curitiba. A reportagemmencionavaqueoartistajátinhadiversasencomendasdequadroseque viajariaparaFozdoIguaçupararetratarapaisagemlocal:“...Langepartirábrevepara Foz do Iguassu, tendo já diversas encommendas, as quaes com certeza se reunirão ainda muitas outras, de quadros contendo uma pouca da maravilha da privilegiada zonas das magestosas cascatas, vistas atravez a esthesia de um fino artista.” (BANDEIRAetal,1920,nãopaginada).Namesmarevistahátambémumnúmero consideráveldereportagenscommuitasfotografiasenfatizandooprogressodoEstado doParanáeabelezadasCataratasdoIguaçu,temasemvoganaquelemomento. Emmeadosdadécadade1920,LangedeMorretes,assimcomoZacoParaná, JoãoTurine ErboEstenzel,produziuobras queforam adquiridas pelo Governo do Paraná. Nesse sentido, a produção desses artistas estava voltada para os interesses 47 MORRETES,B.L.de. Praktisches ubungsbuch der deutschen sprache fur mediziner . Curitiba:LivrariaUniversal,1934. 63 políticos, pois trazia consigo temas que de certa forma refletiam os propósitos das autoridadeslocais.Aartesetornavamaisumadasformasderepresentaçãodeuma identidaderegionalqueoGovernobuscavasustentar.Nessaépoca,tantoospropósitos dosartistasparanaensesquantoosdasautoridadespolíticasincorporavamoparanismo eostemasretratadosagradavamambos. ElizabeteTURIN(1998,p.89)citaumdoescritosdeJoãoTurinemqueo escultordizque“umartistanãotrabalhapordinheiro”,masporquetemnecessidadede “exteriorizaraquiloquesente”.Apesardeseutiodizerisso,Elizabetereconheceque, para sobreviver, ele teve que se sujeitar às exigências dos trabalhos feitos sob encomenda.Sendoassim,aautoradivideaobraproduzidaporJoãoTurinemdois grupos:“asobrasfeitassobencomenda,comafinalidadedeprestarhomenagens[a personagens], e aquelas que o artista fez motivado pela necessidade de exteriorizar seus sentimentos e sua ligação com a terra. Nesses trabalhos, ele representou a natureza,aflora,afauna,osíndioseosanimais.”(TURIN,1998,p.92) Taisapontamentospodemserexplicadospelofatodequeaobraproduzida por um artista é marcada tanto pelo seu habitus quanto pelas regras que regem o funcionamentodocampoartístico.Eainda,pelarelaçãoentreocampoartísticocom outroscampos.SegundoPierreBOURDIEU(1996,p.245246),devidoàhierarquia que se estabelece nas relações entre as diferentes espécies de capital e entre seus detentores, os campos de produção cultural ocupam uma posição dominada, temporalmente,noseiodocampodopoder.Issoporque,pormaislivresquepossam estar das sujeições e das solicitações externas, os campos de produção cultural são atravessados pela necessidade do lucro, econômico ou político, dos campos englobantes.Assimmesmo,apesardocampoartísticoestarenglobadopelopolítico,os artistasparanistasnãoenxergavamsuasobrascomoartefatosdasautoridadesparauma dominação política. Eles acreditavam nos propósitos de criar e divulgar uma arte ligadaàidentidaderegional. A partir da década de 1930, enquanto João Turin continuou produzindo encomendas artísticas para o Governo, o mesmo não aconteceu com Lange de Morretes, cujas obras pertencentes aos acervos de instituições públicas são datadas antesde1930.Issosedeveporque,aocontrariarapropostadetaxaçãodasobrasde 64 arte,LangeacabouporseoporaoGoverno.Alémdisso, em 1932, quando Manoel RibasfoinomeadoInterventordoEstado,asituaçãosetornariaaindamaiscríticapara Lange,quedevidoàssuasintrigascomoInterventor,acabariaporseafastarcadavez maisdaarteebuscarmaiorlegitimidadenamalacologia. TendoemvistaquemuitopodeserexplicadopelapersonalidadedeLangede Morretes,éprimordialrecorreraestaparatentarenxergarcomosederamsuaslutas ideológicasquefizeramcomquesuacarreirasediferenciassedadosseuspares.Nesse caso,oartistaGuidoViaro,representantedeumageraçãodeartistasqueviriaapósa deLangeequeeraportadoradeoutralinguagemartística, fornece um depoimento fundamental. Na crônica Fritz Lange de Morretes , publicada em 1959 no jornal O Estado do Paraná , Viaro apresenta alguns traços psicológicos da figura de Lange, trazendo elementos que ajudam a compreender como este se relacionava com as pessoasdesuaépoca: FritzLangedeMorretes,comosefaziasechamar,eraumapessoapolidanotratosocial, porém bem estranha e bastante manhosa: Correta em seus deveres, teimosa em suas elucubraçõesdispunhaosnumerosdouniversosegundocertaordem,paraquetudodesse certo para êle, naturalmente – Tanto dáfazer o Acir Guimarães 48 exclamar rindo: “Você Lange,temumdefeitodescomunal:querqueomundoseinclineàsuapassagem,queosol, achuva,ocalorregulemseusraiosaseugôsto–émuitoexigirissorapaz–àsvêzestemos que concordar a contra gôsto, porque existem outras vontades, outras liberdades, outros enfinsquedesejamumtomdiferentenascoisas,têmoutrosgôstos.Nemtodososhomens sãoartistaseseriamesmoum verdadeiropesadelose todos fôssem. Não esqueça, amigo Lange,queasleisforamsemprefeitasporgenteinteligenteepráticaenãoporgênios. E o Lange ouvia o sermão em silêncio, mordendo o cigarrinho de palha e, meneando a cabeça,iaseemborasemcumprimentarninguémesemretrucaràsmordacidadesdoamigo, pois de certa maneira o outro tinha razão. Mas o Lange era assim, ninguém mais podia mudálo.Quandopunhaumacoisanacabeçaninguémpodiademovêlo,nemmesmodona Bertha [sua esposa], que tanto escutava. Continuava seu caminho mesmo que isso fosse ruinosoparaêle.Erabastantedesprendidoemquestãodedinheiro,massofriadanascente nostalgiapolíticaqueregressouapósaditadura,porsortequeestafraquezaduroupouco, pois seus arrebates emotivos estavam por demais contrastantes com a paciente e astuta esperadossorridentespolíticosdeentão.Era,emtudoquantoempreendia,quaseabsoluto, mesmosentindonoadversáriocertovalorespecífico;lutavaferrenhamente,tomavadecisões drásticasparaquefôssemnotadas,sabendodeprimeiraquantoiamlhecustartaisposições, quasesempreinsustentáveis. SuasaídadaEscolaNormaldeCuritibafoimotivadaporumdecretofederalquetolhiaao professordedesenhoodireitodeentrarembancasdeexamedematériasnãoafins.Ninguém dos colegas tinha culpa desta providência ministerial, mas êle criou o caso que devia voluntariamente afastálo do cargo ocupado com tanta proficiência. Talvez esta sua 48 PertenceramaocírculodeamizadesdeFredericoLangedeMorretes:JoãoTurin,João Ghelfi,ZacoParaná,AcirGuimarães,AdirGuimarães,FredericoDeMarco,OswaldoPiloto,Walfrido Pilotoeoutros.(MORRETES,2006,entrevista) 65

resolução tenha fluído profundamente para encaminhar sua nascente vocação para as pesquisasnoamploequaseinexploradocampodosmoluscosquelhederaempoucotempo umlugardedestaqueentreosmalacólogosmundiais:issoparahonrarsuaterranatalque tantoamou,enaltecendoaemlargasesaborosaspinturas,hojeempoderdeprivados. Êstehomemhojenãoémais–dormeseusono–talveztranqüilo–nopequenocemitériode Morretes, onde outros nomes ilustres lhe fazem companhia. Mas êste homem deixou curiosasrecordaçõesentreaquelesqueoconheceramquemerecemserrelatadasparaqueos curitibanos possam conhecer melhor os traços psicológicos de um de seus filhos mais ilustres.(VIARO,1959,p.14) ÉinteressantenotarcomoGuidoViarodescreveafaladeAcir Guimarães, jornalistada Gazeta do Povo ,easreaçõesdeLangedeMorretesaoamigo.Langenão abriamãodaquiloemqueacreditava.Quantoaoenvolvimentocomapolítica,nojá mencionadoartigo Arte e Fisco ,LangecriticavaaatitudedoMinistrodaFazendada épocaquepretendiaimplantarumapolíticadeimpostosàproduçãoartística.Lange defendiaaprofissionalizaçãodos“artistasautênticos”aoinvésdainstitucionalização daarte.Numapassagemde As regras da arte ,Bourdieufalasobreaslutasinternasdo campo artístico entre os defensores da “arte pura” e os da “arte burguesa” ou “comercial”.Eledizque“...cadaumvisaimporlimitesdocampomaisfavoráveisaos seus interesses ou, o que dá no mesmo, a definição das condições da vinculação verdadeiraaocampo(oudostítulosquedãodireitoàcondiçãodeescritor,deartista ou de cientista) que é a mais apropriada para justificar por existir como existe” (BOURDIEU,1996,p.253).Vistoporesseângulo,alutadentrodocampoartístico ocorremparadiferenciarosartistasditos“autênticos”dos“nãoautênticos”. OposicionamentodeLangemostracomoelesetornouumempecilhoparaos propósitospolíticosdeManoelRibas,quetentavaaplicarapolíticadeimpostosdas obras de arte no Estado. Na verdade, a intriga entre os dois parece ser de ordem pessoal.Apesardeque,comoprofessordaEscolaNormal,Langefaltasseàsaulase, comofigurasocial,discordassedasatitudespolíticasdeRibas,aquestãoéqueLange ocupavaumcargopúblicoemantinhaboasrelaçõessociais.ManoelRibasfezusode suaposiçãocomopolíticoeafastouLangedadocênciadaEscolaNormaldevidoàs faltasdeste,queveioaserummotivooficialparaademissão. SobreasaulasdaEscolaNormal,LuísPILOTTO(2004,depoimento)dizque Lange faltava constantemente porque viajava muito. Segundo Pilotto, nessa mesma época,LangefaziaestudosdeMalacologia,umapaixãoeatividadealémdaarteeda 66 docênciaasquaisexercia.Sobrealicenciatura,parecequeavidacorriqueiradasalade aula não encantava muito Lange de Morretes. Ele queria mesmo a descoberta, o contatocomo“arlivre”,quetantosuapintura,deinfluênciaimpressionistaetemática depaisagem,comoamalacologia,comexpediçõesemregiõeslitorâneasefluviais,lhe proporcionava. Sendo assim, a questão da licenciatura aparece em sua constituição psicológicaenquantoum“caráterformador”[buildung 49 ],umamarcadesuaorigem familiareformaçãoacadêmicanaAlemanha. NoquedizrespeitoàsaídadeLangedeMorretesdaEscolaNormal,naqual ocupavaocargodeprofessorvitalício,umacitaçãodaanálisefeitaporAlirRatacheski acercados Cem Anos de Ensino no Estado do Paraná ,noanodo1 o.Centenáriode EmancipaçãoPolíticadoParaná,explicamuitobemaposiçãodeRibas: Manoel Ribas deu nova feição à rotina escolar. O serviço de inspeção escolar , que se achavaabandonadodesde1929,foirestabelecidoe punidos severamente os professôres faltosos . Os delegados de ensino percorriam diuturnamente todo o Estado e as Escolas esperavam essa visita, que recebiam com verdadeira distinção, porque êles traziam a mensagem do govêrno aureolado de certa mística, e as notícias dos mais recentes acontecimentoseducacionais. NãosedestacouManoelRibasnosetordoensinopròpriamente dito. Nenhuma inovação pedagógica foi introduzida, a não serem as tentativas que faziam na Escola Normal com ErasmoPilottoeumpugilodeidealistasquenuncatomouconhecimentodarevolução.[grifo meu](RATACHESKI,1953,p.34) Lange se preocupava com a burocracia que envolvia o processo de institucionalização da arte no Paraná. Uma das discussões era a profissionalização artística no Estado. Tal preocupação se torna nítida em seus depoimentos sobre a Sociedade dos Artistas do Paraná (SAP), para a qual convocou vários artistas para participarem. A SAP promoveu concertos, exposições e conferências, eventos artísticoseculturaisquetiveramgranderepercussãoperanteacomunidade.Durantea pesquisaforamencontradospoucosdocumentosoficiaisreferentesàassociação,talvez não houvesse uma preocupação com registros oficiais. O Museu de Arte Contemporânea, por exemplo, possui apenas um exemplar das edições do Salão Paranaense organizado pela sociedade (III SALÃO PARANAENSE , 1934). As

49 Otermoalemão buildung querdizer:1.Formação;2.Cultura,educação;3.Constituição, organização.Nessecaso,aquicaberiatambémadiscussãosobreoconceitodeculturanopensamento filosóficoesociológicoalemãotratadoporNorbertElias. 67 informações mais convincentes que comprovam as atividades desenvolvidas pela instituiçãoaparecememartigosenotaspublicadasna Gazeta do Povo doperíodo. Natentativadecompreenderaidéiaquesetinhanaquelemomentodopapel daarteedoartista,umdospoucosmateriaisaoqualsepoderecorreréaPrimeira ConferênciadaSociedadedosArtistasdoParaná,publicadaemformadelivrocomo título Conceitos Philosophicos de Arte , por Lindolpho Barbosa Lima. Foram encontradaspoucasreferênciasbiográficassobreesseautor.SabesequeeraBacharel emCiênciasJurídicaseSociaisequenadécadade1930,publicoualgunslivrossobre política,espiritualismoecriticadearte.Partindodassuasobrasqueestãonoacervoda BibliotecaPúblicadoParaná(BPP),percebesequehaviaumasociabilidadeentreele eoutrosintelectuaiseartistasparanaenses,oquepodeserconstatadonãosópelasua participação na Primeira Conferência da SAP, mas pelas dedicatórias das obras existentes 50 . Barbosa Lima traz algumas considerações teóricas sobre a arte, mostrando então que os artistas tinham contato com esse tipo de discussão estética e estavam integrados fisicamente, constituindo uma figuração, conforme o termo de Norbert Elias.Em Conceitos Philosophicos de Arte ,BarbosaLimatratadealgunsconceitosda arte:suasmodalidades,seusprincípios,suarelaçãodaconcepçãodoser,doespíritoe dahumanidade,etambémsuarelaçãocomomeiosocial.Elefalasobreaimportância dapersonalidadedoartistatantoparaoseuofícioquantoparaasuaprodução.Sendo assim, ele diz que “a arte não é simples expressão de uma emoção. Para que a expressãodeumaemoçãosejaqualificadadearte,éprecisoque ainterpretaçãodo sentimentotenhaporbaseosubjectivismodapersonalidade.[Pois,]nãoéartistaquem nãotempersonalidade.”(LIMA,1931,p.5) Apartirdaí,LIMA(1931,p.537)defineasmodalidadesdaarte,entreelas, doistiposdearteedeartista: a arte subjetiva ,queéaquelaproduzidapeloartistade

50 Numadelas,dizoseguinte:“AocaroamigoLangedeMorretes,emhomenagemaoseu grande talento artístico e em testemunho de meu affecto e admiração.” Lindolpho Barbosa Lima. Curitiba,17jan.1930.(LIMA,L.B. A América Latina e a paz .Curitiba:LivrariaMundial,1929,52 p.DoaçãodeOsvaldoPilottoem15/02/1966).Limatambémescreveuumartigoemtrêspartessobre oquadro Alma da Floresta ,deLange.Outrasobrasdoautortambémpossuemdedicatóriasaoutras pessoas: LIMA, L. B. Decadência e restauração (manifesto à Nação). Curitiba: Livraria Mundial, 1930,160p.e A Revolução e a restauração política do país .Curitiba:LivrariaMundial,1932,75p. 68 individualidadeprópriaea arte da objetividade do meio ,queéaqueladoartistade almasocial.Osprincípiosdaartecorrespondemaofatordaimortalidade,perfeiçãoe eternidadeesãodefinidoscomoosmotivosquerevelamasemoçõesdavidanatural, socialehumana.Paraele,oamoréoprincípioeternodaarte,quecomoatividade criadora,seinscrevenavidaatravésdabeleza.Aofalarsobreaartenomeiosocial,o autordizqueoartistadapalavraedapena(orador,escrito,filósofo,sociólogo)ao criar teorias fascinantes pelo amor que tem pela humanidade sofre por ser mal compreendido. Nessa obra, é possível identificar a concepção de arte que se fazia presentenaquelemomento.Ficanítidaaligaçãodaartecomaidéiadeprogresso,que segundoopróprioautor,“determinatempos”e“marcaépocas”.Nessavisão,aarteé vistacomoumidealdeperfeiçãoeoartistaéoinspiradordeemoções.Aarteéalgo indivisível,elaéumasó,eladeveatingirumidealevolutivodeperfeição. Um artigo publicado na Gazeta do Povo em11dejaneirode1931,como títuloAFUNDAÇÃODASOCIEDADEDOSARTISTASPARANAENSES(1931, p.1),comentaquenaocasiãodafundaçãodasociedade,LangedeMorretespresidiu umaseçãonaqualexplicouosmotivosqueolevoualutarpelasuafundaçãoelevar adiante os interesses dos artistas e cultores paranaenses de arte. Nesse evento, foi criadooConselhoDeliberativodaSAPcomseusquatrorepresentantesdecadaramo de artes. Ficou decidido também que os sócios seriam de três naturezas: “sócios artistas”, “sóciosamadores” e “sóciosbeneméritos”. Além disso, procedeuse a eleição da primeira diretoria: presidente: Alfredo Andersen, vicepresidente: João Turin,secretário:OdilonNegrão,tesoureiro:V,V. Shvvansee, bibliotecária: Bertha LangedeMorretes,orador/consultorjurídico:SamuelCesar. É muito interessante notar que esses nomes que compunham o quadro administrativo da Sociedade dos Artistas do Paraná dizem respeito a pessoas que faziampartedocírculosocialdeLangedeMorretes.Nessecaso,AlfredoAndersen, quefoiseuprofessorejáoconheciahámuitotempo;JoãoTurin,umgrandeamigoe coautor da estilização paranista; Bertha, a sua esposa mostra aqui sua presença; Odilon Negrão e Samuel Cesar, colegas e escritorescolaboradores da Illustração Paranaense .Nocasodesteúltimo,comoumgrandeadmiradordeLange,colaborou comváriascríticasdeartesobreostrabalhosdeste. 69

Em1931,Langeconcedeuumaentrevistacomentandosobreasatividadesda SAP.Essaentrevista,ilustradacomumafotodoartista,foipublicadaem11deabril daqueleano,comotítulo Para Defender e desenvolver a arte Paranaense esubtítulo Fritz Lange de Morretes palestra com a Gazeta do Povo – o que tem feito e o que vae fazer a Sociedade de Artista do Paraná . No depoimento, Lange comenta sobre questõesimportantesparacompreendersuarelaçãocomapolíticadaépoca,noquese refereàsatividadesartísticaspromovidaspelaSAP: Já se noticiou a fundação, nesta capital a Sociedade de Artistas do Paraná, gremio que congregaosartistasconterraneosparamelhordefezaedesenvolvimentodesuaclasse. Hontem num encontro fortuito com Lange de Morretes, artista paranaense, que dispensa referenciaseorganisadordonovelgremiofizemollofalarsobreaexistencia,actividadee finsdaSociedadedeArtistasdoParaná.Ouçamolo: –ASociedadedeArtistasdoParanávaedeventoempopa.Vaemuitobem.Nãoquerodizer comistotenhavencidostodososobstaculos,Nemopoderia,comosociedadenovaqueé.As pessoasqueestãoásuafrentesãotimoneirosvelhoseacostumadosaluctar.Nomomento emquetodosossocioscomprehendemasfinalidadesdaSociedade,estáteráemcadaum deles um propagandista. Então a sociedade poderá ampliar e augmentar os seus emprehendimentos,demodoadilatarasvantagensdossocios,quejánãosãopequenas. QuizemossaberdeLangedeMorretesoquepretende executar em nosso meio o gremio artísticoquefundou.Respondeunos: – O programma da SAP é amplo. Quer tirar a arte, no Paraná, do marasmo em que se encontra,malessequenãonosépeculiar,masqueestáalastradoemtodoopaiz.Omalestá generalizadoemtodooBrasil.Tantoquesefundaramsociedadescomamesmafinalidade, simultaneamente,noRioeemS.Paulo.MasvoltemosaoprogrammadaSociedade.ASAP terá como finalidade incentivar as artes, elevar o nível cultural do Estado e defender os interessesdasclassesartísticasassociadas.Para conseguir esse desiderata promoverá uma bibliothecaespecialmentetechnica.Envidarátambémtodososesforçosparaconseguiruma séde propria para concertos, conferencias, exposições de pintura e outros tentamens. Ao mesmotempoquecuidaráderesolverestesproblemasprocuraráestabelecercontactocomo governo do Estado apresentando sugestões aos poderes capazes de favorecer o desenvolvimentodasartesnoParaná. –EjátemfeitoalgumacouzaaSAPnessesentido? –Fezoquefoipossívelfazernocurtotempodesuaexistencia.Dirigiuummemorialaosr. GeneralInterventorfederalexpondoasituaçãodaartenoEstado,suggerindomedidasem seufavor,medidasquedenenhummodoonerarãooerarioestadual.Agora,umacomissão nossaestáelaborandoumgrandememorialaosr.MinistrodaEducação,afimderesolver certasquestõesqueseprendemalegislaçãofederal.FoiessaactividadedaSociedade,que devido o seu caracter, não poude ter publicidade. Hoje a SAP se apresentará ao publico curitybano,noTheatroGuayra,emseuprimeiroconcerto,emquesetomarãopartecantores, violinistasepianistas. Interrogamos Lange sobre o meio artístico paranaense, o seu desenvolvimento e a sua apparenteourealapthianestesultimostempos.Opintorpatriciofalou: –OParaná,meuamigo,ésynthesedabellezanacional.Temosvastoscamposdosul,as florestaseosriosenormesdonorte,temumacostabellisimacomoosoutrosEstados.A SerradoMar,comomagestosoMarumby,nãoéinferiorádeoutraspartes.VilaVelhatem seu encanto especial. Os saltos do Iguassú e das Sete Quedas não tem rivaes. E tem o pinheiro,rectoealtivo,queservedesymboloaosseusfilhos. 70

Nãoédeadmirar,portanto,queoparanaensesejaidealista.Eéjustamenteesseidealismo queprendeofilhoaotorrãonatalqueridofazendooasvezessoffrerasconsequenciasdeum meioaindapequeno,massoffrersemsequeixar,porqueéparanaenseenãopodetrocaro bemestaremoutrapartepeloseuParaná. Entre os idealistas do Paraná ha muitos capazes de conquistar um futuro brilhante, tanto entre o manejadores de pena, com entre os que trabalham o pincel, tanto entre os que dominamuminstrumentocomoosque,comsuavóz,sonorisamasmaravilhasdocanto.A SociedadedeArtistasdoParanáostraráapublico,apresentandoosemaudiçõesouexpondo epublicandolhesasobras. Como vê a Sociedade demonstra não ser ephemera a sua existencia. Já realizou alguma couza,masistonãoénada,poispretenderealizarmuitoporqueocampodesuaactividadeé immenso e inquebrantaveis são as forças que animam os seus dirigentes. (MORRETES, 1931,p.1,3) SegundoLangedeMorretes–idealistadaSociedadedosArtistasdoParaná– esta tinha como propósitos o incentivo às artes, a defesa das classes artísticas associadaseoaumentodonívelculturaldoEstado.Langenãoaceitavaapropostado Governo do Interventor Manoel Ribas de implantar uma política cultural que prejudicasseos“artistasautênticos”.Langeeraumartistareconhecido,masissonão foisuficienteparamudarsuafigurade“artistaemdescompasso”.Istoporquenoauge doparanismo,assimcomoJoãoTurin,eleproduziuumaartecadavezmaisvoltada para os ideais políticos – na medida em que a arte trazia em si um discurso que agradavaaosinteressespolíticosemformarumaidentidadeparaoParaná.Quandose inicia o Estado Novo, de certa forma há um desinteresse do Estado pela arte representativadaidentidaderegional. Em 25 de outubro de 1931, uma nota na Gazeta do Povo falava sobre o PRIMEIROSALÃOPARANAENSE(1931,p.2)queseriapromovidopelaSociedade dos Artistas do Paraná, localizada na Avenida João Pessoa n°. 461, no Prédio da alfaiatariaTainel 51 .Aaberturadoeventosedariaem3denovembrodaqueleanoeo júridosalãoseriacompostoporAlfredoAndersen,JoãoTurineLudovicoDoetsch.O eventoaindacontariacomumaretrospectivadaobradeAlfredoAndersen.

51 OartigoSOCIEDADEDEARTISTASDOPARANÁ(1933,p.3)mencionaaRuaXVde Novembron°.461comooendereçodaSAP.Contudo,seguindoosentidodaPraçaGeneralOsório,a Rua XV de Novembro se confunde com o calçadão da Avenida Luiz Xavier, que no período do governodeGetúlioVargas,passouasechamarAvenidaJoãoPessoa.Certamenteeranestaavenidao endereçocorreto.Épossíveltambémqueonomedaalfaiatariatenhasidoaportuguesadopelojornal, poisconformeMARCASSA(1989,p.120),quefazumalistagemdasalfaiatariasdeCuritiba,onome queapresentaagrafiamaispróximaéTheinel&Guis(Alfaiataria Avenida). Consideradaa menor avenidadomundo,aAvenidaLuizXavierdesdeadécadade1920eraa“artériaprincipal”dacidade, tornandoseumaespéciedepasseioobrigatórioparaosjovensnamorados.(DEBONA,2004,p.12) 71

Em 4 de novembro saía outra nota no mesmo jornal sobre A INAUGURAÇÃODOPRIMEIROSALÃOPARANAENSE(1931,p.1).Essanota informava que o evento, que havia acontecido às 15 horas do dia anterior, teve a presença do prefeito de Curitiba Cel. Joaquim Pereira de Macedo e de outras autoridadespolíticasediplomáticas.Aexposiçãoficariaabertadas14às22horasea entrada era franca para os sócios, familiares e expositores, sendo que os demais visitantesdeveriampagariam500Rspelaentradaeconcorreriamaumprêmio. Em7dedezembrode1932,saiaumanotana Gazeta do Povo comotítulo: Isentas de impostos as exposições de pintura e escultura e as obras de arte vendidas . EssanotareproduziaumtelegramarecebidodoRiodeJaneironoqualManoelRibas dizia a seguinte mensagem: “Rio, 6 – Vão ser isentas de todos os impostos as exposiçõesdepinturaseesculturasequaisquerobrasdeartevendidaspeloseuautor, Despachofavoraveldoministro./Saudaçõescordiais./(a.)ManoelRibas.”(RIBAS, 1932,p.1).Naoutrasemana,em15dedezembrode1932,saiuumanovanotana Gazeta do Povo informandoqueestavamabertasasinscriçõesdeartistasparaosalão promovidopelaSAP.(SEGUNDOSALÃOPARANAENSE,1932,p.6) No ano seguinte, na Gazeta do Povo de 18 de agosto de 1933, em SOCIEDADEDEARTISTASDOPARANÁ(1933,p.3),aSAPanunciavagrandes eventos artísticos, entre eles, um concerto musical e uma conferência literária. Nos eventos, os artistas que fariam parte do júri seriam: Guido Viaro, responsável pela seçãodepintura,eBerthaLangedeMorreteseJoãoPöéck,conselheirosdaseçãode música.FredericoLangedeMorretes,SáBarreto,eFranciscoLeiteforamdesignados comoredatoresparatratardeumaseçãojornalísticadearte.FranciscoLeitedariauma conferênciasobrefolcloreeSáBarretofariaumapalestra num Concerto no Teatro Guaíra.NojornaltambémaparecemosnomesdeAlceuChichorroeDr.Toscanode BritocomonovossóciosdaSAP,daqualjáfaziamparte:SáBarreto,FranciscoLeite, Raul Messing, Lange de Morretes, João Turin, Ciro Silva, João Pöéck, Ludovico Seyer, José Guimarães, Kurt Boiger, Francisco Pinovv, Thorstein Andersen, Guido Viaro, Bertha Lange de Morretes, Reneé Deurrainne, Bianca Bianchi e Charlotte Frank. 72

Não se sabe por quais motivos que a SAP teve curta duração. A maior contribuiçãodelafoiadeserumaprimeira experiência de organização dos artistas enquanto categoria profissional, o que deu origem à Sociedade Amigos de Alfredo Andersenaproximadamenteem1940.OenvolvimentodeLangedeMorretescoma SAPtambémacabouemmeadosdadécadade1930eoartistabuscouseaproximarde outrasinstituiçõesculturais.Nesseperíodo,nogovernodoInterventorManoelRibas aconteceram várias mudanças na esfera de poder dessas instituições. O Museu Paranaense foi alvo dessas mudanças, representando um bom exemplo de como se davaarelaçãoentreopoderexecutivoeasinstituiçõesculturais.Em1935,naeleição para a direção da instituição, aconteceu mais uma das divergências entre Lange e Ribas.OcargoqueLangeambicionavaequelhecabiaperfeitamente,poisjáhaviase iniciadonocampodaciênciacomseupioneirismonamalacologiabrasileira.Apesar disso, Manoel Ribas designou José Loureiro Fernandes X, que também tinha experiência científica, para assumir a direção 52 . Irritado, Lange aceitou um convite paratrabalharnoMuseuPaulistaepartiucomafamíliaparaSãoPaulo.Asintrigas entreLangeeRibaschegariamaoseufim. SobreoMuseuParanaenseesuarelaçãocomasociedadedoParanádoinício doséculoXX,praticamentenãoháreferênciasàinstituiçãonabibliografiaexistente sobre os museus no Brasil. Em seu artigo A Era dos Museus , Lilia SCHWARCZ (1989)comentasobrearepresentatividadequeosdiretoresdessasinstituiçõestinham na República Velha. A autora analisa os momentos de nascimento, apogeu institucionaledecadênciadosmuseusbrasileirosnoperíodode1870atéadécadade 1930.Podeseperceberapersonificaçãodosmuseusatravésdosvultosqueestavamna direção dos mesmos, a exemplo de outras instituições como o Museu Paulista, o MuseuNacionaleoMuseuParaenseEmílioGoeldi.OMuseuParanaenseseenquadra nessediscurso. OMuseuParanaensefoifundadooficialmenteem1876,e,apartirde1882, comoórgãooficial,constituiusenoterceiromuseupúblicodoBrasil.Criadocomo

52 Deacordocomos Relatórios doMUSEUPARANAENSE(19241949,p.329),Loureiro foinomeadonostermosdaLein°67de13dejaneirode1937paraexercerocargodediretorda instituiçãoquetinhaassumidodesde30dedezembrode1936.Estepermaneceunocargode1936a 1943,edepoisde1945a1946. 73 ummuseudehistórianaturalegabinetedecuriosidades,comadireçãodeRomário Martins,omuseusofreutransformaçõescomoobjetivodesetornarumainstituição científica.QuandoainstituiçãopassouaserdirigidaporLoureirohouveumamudança de especialista e de público. Loureiro estava ligado ao Círculo de Estudos Bandeirantes, cujos princípios católicos iam contra os clubes maçônicos, como o Instituto Histórico e Geográfico do Paraná, do qual Romário Martins e outros representantesdoMovimentoParanistafaziamparte. AdisputadeLangepeladireçãodoMuseuParanaensenãotevesóseulado negativo,pois,poroutropontodevista,apartidadeleparaSãoPaulofoifundamental para a consolidação de sua carreira no campo da Malacologia, no qual fez várias expediçõescientíficasepublicoudiversostrabalhos.EmSãoPaulo,entre1938e1943, Langeteveseusartigospublicadosemváriosperiódicos,entreelesaRevista do Museu Paulista ,oLivro Jubilar do professor Lauro Travassos ,aRevista da Indústria Animal , osArquivos de Zoologia do Estado de São Paulo ,osArquivos do Instituto Biológico e em Papéis avulsos do Departamento de Zoologia da Secretaria da Agricultura . Contudo,arelaçãodeLangecomoMuseuParanaensenãoacabarianadisputapela direção.Emmeadosdosanos1940,LangeretornaaoParaná.Em1947,eleparticipou do movimento em prol da criação da Embap, instituição na qual havia se tornado professore,algunsanosdepois,elefoicontratadopelareitoriadaentãoUniversidade doParaná,paratrabalharcomopesquisador.Assuaspublicaçõescientíficassederam nos Arquivos do Museu Paranaense entreosanosde1949e1954 53 . Noanode1949,LangedeMorretespublicouemSãoPauloenoParanáo Ensaio de Catálogo dos Moluscos do Brasil , obra conhecida internacionalmente no campo da malacologia e que seria complementada mais tarde pela Adenda e corrigenda ao Ensaio de catálogo dos moluscos do Brasil ,publicadapelos Arquivos do Museu Paranaense ,vol.X,emdezembrode1954.Emboragrandepartedaquela obratenhasidosuperada,aslistagensdemoluscosterrestresedulcícolasnelacontidas permanecematuais,servindoparapesquisadores.Fatoquejáaparecianaintrodução dessaobra,naqualoautordizoseguinte:

53 Sobreaspublicaçõesdemalacologia,veroApêndice2, Produção intelectual e científica . 74

Este“EnsaiodeCatálogo”representaoprimeiroarrolamentodemoluscosdoBrasil.Longe desercompletoé,todaviaumpassoavantenacatalogaçãodenossafaunaeseforútilaos interessadosterápreenchidoasuafinalidade. Grande número de espécies de minha propriedade encontrase ainda em estudo, nele não figurado. Cumproaquiogratodeverdeagradeceratodosque enriqueceram a minha coleção com valiosos donativos, também, àqueles que dactilografando e revisando, abnegadamente, concorreramparaarealizaçãodêstetrabalho. SãoPaulo,junhode1949. Oautor.(MORRETES,1949,p.5) GrandepartedoacervomalacológicodoParanásedeveaotrabalhopioneiro deFredericoLangedeMorretes.Mesmoapóssua morte, o Museu Paranaense não teveoutropesquisadorqueosubstituísseemsuaespecialidadecientífica 54 .Aolongo desuacarreiracomomalacologista,omaterialcoletadoporelenolitoralparanaense tevecomodepósito,inicialmente,opróprioMuseuParanaense.O desmembramento dainstituiçãonoMuseudeHistória NaturaldoCapão da Imbuia ocorreu inclusive devido ao grande número de objetos malacológicos coletados por ele. Segundo um Informativo do Museu de História Natural (LOPES, 1993, p. 2), esses lotes se encontram nessa instituição somandose mais de 2100, aproximadamente 47% da coleção. Alémdesuaproduçãocientífica,LangedeMorretes deixou outros escritos inéditos em prosa e em verso 55 ,datadosentremeadosdadécadade1930efimda década de 1940, como as brochuras Erna e Maria Aparecida: duas mulheres que encontrei no caminho da minha vida , Fraqueza (versos) e Um pedaço do Brasil .Esses materiais,quesãoresultadosdoinvestimentodoartistanocampoliterário,permitem compreendermelhorváriosaspectosdesuacarreiraedesuaprodução,tantocientífica quantoartística.

54 Nos Relatórios dainstituição doperíodosubseqüenteaodasuamorte,apareciaaseguinte mensagem: “Cargos vagos: Tem o Museu a lamentar a perda da eficiente colaboração do malacologista contratado pela Reitoria da Universidade Frederico Lange de Morretes, falecido em 1954,ecujavagaatéagoranãofoipreenchida.”(MUSEUPARANAENSE,19501969,p.38) 55 TaisescritosforamencontradosporMárcioFerreiradaLuzenquantofaziaarrumaçõesem suabibliotecanosguardadosdeseufalecidopai,NelsonLuz.Márcioenviouomaterialpelocorreio deApucaranaparaCuritiba,emjaneirode1997,aoextintoMuseudeArtedoParaná,noperíodoem queEnnioMarquesFerreiraeradiretor.Emcartaaeste,Márciodizque,provavelmente,essesescritos teriamsidoentreguespelopróprioautoraoseupai.Atualmenteessematerialpertenceaoacervodo Museu Oscar Niemeyer. Os processos burocráticos da permissão para fotografar esses documentos duraramummês,fatoqueprejudicouoandamentodapesquisa. 75

Em Erna e Maria Aparecida , Lange de MORRETES (1948) trata sobre o significadoeaimportânciaquecadaumadessasmulheresteveemsuavida.Numa leitura cuidadosa dessa obra, observase que essas personagens refletem períodos diferentesdesuavida,poisLangedivideseutextoemduaspartesqueseguemuma ordemcronológicaentreantesedepoisdeterdeixadooParanáepassaraviverem SãoPaulo.Aomesmotempo,apresençadessasduasfigurasemsuavidaservecomo uma metáfora da dualidade que o cerca: as atividades de sua carreira na arte e na ciência.Assim,oautoragradeceaessasmulherespeloquesignificaramemsuavida: Ernapelo“amoraobelo”eMariaAparecidapelo“amoràverdade”eambaspelafé emsuapessoa. Erna era empregada doméstica e modelo profissional nas horas vagas. (MORRETES,2006,entrevista).Elaeraamodeloquelhepermitiuaorigemdevárias telasdatemáticadas Dríades e Pinheiros ,posandoparaelemaisoumenosentre1927 e 1930. Nesse escrito, Lange aponta algumas características de Erna: órfã, checoslovaca, imigrante no Brasil em companhia de sua tia e de um jovem irmão; jovemde18anos,“camponesadesaúdefísicaemental”;mostravasededeleiturae apesardaidade,jáhavialidoasprincipaisobrasdaliteraturauniversal.Eledizque, comootempo,suabibliotecapassouaserdelatambém 56 .Osdoischegaramatéater certoenvolvimentoamoroso,poisconformeLange,Ernachamouatençãodeledesdea primeiravezemqueesteveemseuatelier:“Nodiadasuaprimeiravisitaameuatelier expuslhe com certo entusiasmo a idéias do meu grande quadro e acariciando com vista sua bela figura da cabeça aos pés. Erna, encantada com o meu projeto, compreendeuasúplicadomeuolhar.”(MORRETES,1948,p.6).Oartistacientista aindarelatadeumaformapoéticaoepisódioocorridoquelevouaodesfechodeuma atraçãofísicamútua: NumatardepintávamosentreosrochedosdoBrejetuba,outeirocobertodepalmeirasque limitaaosulapraiadeGuaratuba,quandofomossurpreendidosporumatempestade,armada deummomentoparaoutro.

56 SegundoBerta,abibliotecadeseupaieraformadaporlivrosdeliteratura,arteeciência, alémdeobrasraras.PartedoslivrosencontraseemSãoPaulo,naresidênciadela.Oqueficouem Curitiba, os “amigos” levaram. Também foram levadas duas máquinas fotográficas Leika e o instrumentalcientífico.(MORRETES,2006,entrevista) 76

Guardamosatralhaemgrutapróximaeapreciamos,delageelevada,odesenrolardafúriana atmosfera. Negrasnuvensfundiamsenosaltoscriandotenebrosidadetemporã.Olimiteentreocéueo oceanohaviadesaparecido.Rugiaomar.Raiosviscavamanegruradofirmamentoetrovões sacudiamtudoqueseencontravanonegrordoespaço. Com furor soprava o vento e chibateava impetuosamente com a chuva catadupal o que encontrava. Enormesvagasdavamdeencontroaorochedoeesfaceladasempinavamaenormesalturas, varrendodepois,comseulíquidoespumejante,ogranitosôbreoqualrepousávamos. Noaugedotemporal,quandoêleemnadapodiasersuperado,nemnafúriadovento,nem noreboardostrovões,nemnosraiosofuscantes,nemnaraivadomar,Ernajogouseaomeu peitoedeumeumbeijo. Foiaíquenasceuaidéiadagrandetelados‘Náufragos’.(MORRETES,1948,p.1213) EéassimqueLangedeMorretesfinalizaessetextosobreErna,antesdefalar sobreMariaAparecida: Paratudoexisteumfim.NumatardeErnachegouseamimeconfianteabriuseucoração. Tinhaamadurecidonelaavontadedeseralgumacousanavida. ManifestoumeoseudesejodeiràEuropaeláfazerumcurso. Anuíaseupedido.NempoderiaprocederdeoutrojeitopelomuitoqueErnasignificoupara minhaarte. Finalmente partiu. Levava no coração uma firme esperança mas dos seus olhos corriam lágrimasnomomentodadespedida. Cursousuaescola,casouseeémuitofeliz.ÉtudoqueseideErnaequemuitomealegro quandodelamerecordo.(MORRETES,1948,p.1415) MariaAparecidafoisuaauxiliarnoMuseuPaulista.EleeCidinha,comoa chamava,mantiveramumagrandeeprofundaamizadequeultrapassouatéadiferença devinteanosdeidadeentreeles.LangeapontaalgumasqualidadesdeCidinhaquelhe faltavam e que julgava importante: desembaraço, bom humor, excelente memória e agilidade manual. Segundo ele, Cidinha foi responsável pela realização de grande parte de sua produção científica e literária, pois, devido às suas habilidades de datilógrafa,datilografoumaisdetrêsmilpáginasmanuscritas,algumasvezesdedifícil decifração 57 .EleserecordadaspalavrasdeCidinhaquando,umdia,elachegouao trabalhoeelejáseencontravaematividade.Aspalavrasdelaofizeramrefletirsobrea suavida: –Professorlembresedequeavidanãofoifeitasóparatrabalhar! Esta frase mais tarde deume a pensar. Que havia feito até então a não ser trabalhar incessantemente?Otrabalhotambémpodetornarseumvício.Anosafiotrabalhei,semdia 57 InclusiveessasbrochurascitadasforamdatilografadasporMariaAparecida. 77

de féria ou de licença, fazendo tempo integral quando a simples era obrigado, sem remuneraçãopelasmilharesdehorasdetrabalhoextraordinário,paradepoisreceberapaga querecebiporpartedoEstado.(MORRETES,1948,p.19) EsseeraumfatoqueatéaquelemomentoLangenãohaviaparadoparapensar. Em São Paulo, Cidinha serviu para ele como um ponto de equilíbrio e motivação. Tanto que o artistacientista afirma em seu escrito: “A Bondade de Cidinha, em verdade,foiparamimarecompensademuitossofrimentosedeinúmerasdesilusões. (...)Seugêniobomealegreajudoumeavencermuitaamarguraesuaprestimosidade semparfezcomqueeupudessetransformarascontrariedadesdavidaemestímulos paraaprodução.”(MORRETES,1948,p.2223).Langerelataqueapósotrabalho,ele eaamigacostumavampassearpelosparquesdacidade.Osdoisconversavamsobre assuntosvariados,desdeprofissionaisatéfamiliareseíntimos.Depoisderecordaros momentosquepassouaoladodeCidinha,oautorfinalizaotextofalandodoimenso carinhoquesentequandoselembradela. NabrochuradepoemasintituladaFraqueza (versos) ,LangedeMORRETES (1946)tratasobreváriostemas.Essematerial,porsisó,permitiriaumaricaanálise paraentenderseupensamento.Contudo,tendoemvistaoslimitesdestetrabalho,foi feitaumaseleçãodospoemasmaissignificativos.Nosdoispoemasseguintes,oautor faladeseusconflitospessoaiseascondiçõessociaisdesuaépoca:

Desânimo Grandeétudoquemerodeiaaquí Grandequeriasereueseriatambém Bastaqueaféquesetememalguem Navidanãoseperca,comoeuaperdi Todocoraçãotemasuamaneira Omeuperdoamasnãoesquece Omalquelhefazepadece Eoguardasemqueoqueira (MORRETES,1946,p.16) Muitoscousasfazemoutrosdizem. Soucomoacascavél,batooguiso Paraavisarquenãomepisem. Mordoaquemnãorespeitaroaviso Afirmodepéefirmocomsangue FredericodeMorretesLangue C.J.[CamposdoJordão] 78

24246. (MORRETES,1946,p.30) Em outros poemas, o artistacientista fala sobre o relacionamento com sua mulher,sobresuasatividadesprofissionaiseaindafornecepistasdecomoeraoseu cotidiano: Domingosaiomaistardedacama Epassoamanhãdepijama Beboocafésemmeafobar Eleioomeujornaldevagar Tomomeubanhocomdemora Aplicoaotratodocorpoumahora Ouçoorádioesuasnotícias Esperandodoalmôçoasdelícias Àtardelidonabiblioteca Depoistiroumasoneca Ouçoahoradôceecansadodedescansar DougraçasvirSegundaparatrabalhar S.P.[SãoPaulo] 231049. (MORRETES,1946,p.104) Tudoquedávitória Etrazglória Éfeitoporfração. Afortunadebrasileiro Éfeitadecruzeiro Maiscruzeiroquesedobra. Comoqueressempaciência Naarteounasciência Fazeragrandeobra? S.P.[SãoPaulo] 23949. (MORRETES,1946,p.76) Umpintortôloetonto Tentoupassaràtela Umatisnadatontaebela Ponto. Antesdetêlanatela–atetéia, Atisnadatonta Pronta Jáotinhanateia S.P.[SãoPaulo] 2481949. (MORRETES,1946,p.35) 79

Quandovoltaresateuhumildelar, Nofimdodiacansadodetrabalhar, Ondetuamulherescondendoseucansaço Teesperasorrir,apertaanobraço. Éosalárioquemereceenãoreclama Poistrabalhacomotueteama. C.J.[CamposdoJordão] 031245. (MORRETES,1946,p.57) Hoje,meucaroamigo, Passeavatãoenlevado Quandooinesperado Umafadamepôsemperigo. Apresseiopassocomopude Tentoumetentarasorte Quandoviseulindoporte Massofriumgolperude. Riualegreaomever: ÓMeuBem! Sabequem? Minhamulher! S.P.[SãoPaulo] 24849. (MORRETES,1946,p.32)

Um pedaço do Brasil (MORRETES,1937)édefinitivamenteaobraemque LangedeMorretesdescreveseuamorpeloParaná.Oautoriniciaessaobraliterária com um conto pautado na mitologia indígena em que ele próprio é o personagem principal. Ele narra uma estória em que magicamente conversa com um grande pinheiro,eeste,aocontarsobreascriaçõesdeTupã,lhedáconselhossobrecomolidar com os problemas sociais de seu tempo. Essa obra está dividida em oito partes ou capítulos,sendoeles: Campo , Floresta , Saltos do Iguaçu , O pinheiro , Bacaitava , Vila- Velha , A Costa e Serra .Nela,Langesemostraumgrande“conhecedor”danatureza paranaense em sua totalidade, através de experiências pessoais muito precisas e aguçadas. Partindo da temática proposta por cada subtítulo, o autor estabelece diferenças entre os diferentes tipos de vegetação das paisagens botânicas do sul do Brasil,falandonãosósobreaflora,mastambémafauna,comentandosobreosinsetos eosanimaisespecíficosdecadaregiãoeavaliandoapresençadoíndio.Nessetexto, percebesequeoautordeixatransparecernãosósuaexperiênciavisualdanatureza, 80 mas as dos outros quatro sentidos, entre eles, a audição, presente na descrição dos barulhosdoslocaisquedescrevecommeticulosidade. Tendo em vista todos os apontamentos feitos nesse capítulo, partindo da trajetória de Lange de Morretes é possível perceber que a sua produção, tanto científicaquantoartística,émarcadaporumaligaçãomuitointensacomanatureza, emespecial,aparanaense.Tantoospinheiros,pintadosmuitasvezesporele,quanto osmoluscosdeseusestudoscientíficos,olevaramapassarváriashorasemcontato comanatureza,quernaflorestaoupróximoaomar.Noquedizrespeitoaopinheiro,é umelementoqueestápresenteemtelasdeváriosperíodosdesuavida.Apresença desseelementoemsuapinturanãodizrespeitosomenteaofatodeterpertencidoao Movimento Paranista. Isto porque o pinheiro aparece em telas datadas antes do encontrocomGhelfieTurinecontinuaatéofinaldesuavida. LangedeMorretesfoiumhomemquenuncaseimportouemtertudobem definidoemsuavidaprofissional,poissempreesteve“entreumacoisaeoutra”.Na pintura,deacordocomváriasnotasbiográficas,eledeixouumaextensaobracomposta por mais de 500 quadros, nos quais exalta freqüentemente temas da natureza paranaense 58 .Oartistafezexposiçõesnoexterioreemváriascidadesbrasileiras,entre elas Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba. Recebeu algumas premiações fora do Paraná,merecendodestaquea Medalha de Bronze noSalãoNacionaldeBelasArtes, noRiodeJaneiro,em1927ea Medalha de Bronze no15°SalãoPaulistadeBelas Artes,emSãoPaulo, em1949.Apesardeterdedicadograndepartede suavidaà representaçãodesuaterranatal,noParanáa Medalha de Ouro sólhefoiconcedidaem caráter póstumo por maioria de votos dos participantes do XI Salão Paranaense de Belas Artes, em 1954. Além dessa Medalha de Ouro In memoriam , ele foi homenageadonomesmoanopeloClubeConcórdia,emCuritiba 59 .

58 Sobresuaspinturasedesenhos,veroApêndice3,Produção Artística . 59 Paramaioresdetalhesdasdataselocaisdesuasexposições,daspremiaçõesemedalhas recebidas,bemcomoonomedasobrasexpostas,veroApêndice1, Exposições individuais e coletivas . 81

3 SOCIEDADE, CULTURA E PARANISMO

Creio em ti, meu Paraná. És a terra do sonho e um dia serás o sonho da Terra! Dedico-te todos os meus esforços, porque vejo em ti a síntese de beleza nacional, e da nação, em ti, sinto todas as possibilidades. As maravilhas da Pátria imensa, todas elas encerram nas tuas fronteiras. Possues os vastos campos do sul, as florestas e os rios enormes do norte. Tens morros a vales empolgantes e praias cheias de encantos. Vila-Velha com suas profundas dolinas e seus gigantescos blocos de arenito, desperta extremo agrado. Arquitetura original, ocultam tuas grandes grutas. Os saltos do Iguassú e do Paraná não têm rivais. Abrigas o pinheiro, reto e altivo, que serve de símbolo e lema aos ideais dos teus filhos. Tens uma mescla de raças operosas e sonhadoras. Quem te conhece, conhece a Pátria toda. Quem te ama jamais ouvidará o Brasil. Não mais posso guardar o segredo que, há anos, levo comigo. Devo proclamá-lo ao mundo inteiro, para que saiba, de ti, ó meu Paraná, a origem.

Frederico Lange de Morretes 60

Aoreverabibliografiaexistentequecommaioroumenorênfasetratasobreo paranismo,notasequeasdiscussõesnãomantêmumconsenso,atémesmoemrelação aossignificadosdostermosparanismoeMovimentoParanista.Devidoàsdificuldades decorrentesdossignificadosempregadosnessesestudos,paraquesepudesseavançar na análise, exigiuse uma maior clareza na definição desses dois termos. Em certa medida,foiessaumadaspreocupaçõesqueconduziramessecapítulo. A primeira seção desse capítulo trata sobre o contexto histórico e sócio culturaldoperíodovividoporLangedeMorretesnoParaná.Nessaempreitada,busca se entender como o paranismo se constituiu como movimento integrado, do qual a literatura, a história, a política e as artes fizeram parte. Sendo assim, a análise da trajetória e produção intelectual de Romário Martins, expoente da intelectualidade paranista,ganhatodoosentido.

60 MORRETES,F.L.de. Um pedaço do Brasil ,1937,p.12. 82

Partindo disso, a segunda seção pretende reconstituir o panorama geral da integração dos diferentes campos no desenvolvimento do Movimento Paranista, buscando entender como o campo das artes plásticas se constituiu no Estado. Essa discussãoculminanaterceiraeúltimaseção,aqualsepropõeinvestigarnãosóarede derelaçõessociaisdeLange,massuainserçãonocampoartísticoparanaense. Frenteaessasquestões,algumascategoriassociológicasforamfundamentais paracomporessequadroanalítico,comoosconceitosoperatóriosdePierreBourdieu, quedãosustentoàsanálisesdetrajetórias,eoconceitodefiguraçãodeNorbertElias, quepermiteexplicarcomoeporqueosindivíduosestãoligadosentresi,constituindo redesdeinterdependênciasqueengendramcódigose comportamentos.Além dessas categoriassociológicas,abibliografiasobreamemória,porumlado,ajudouaapontar asincoerênciasentreasinformaçõesdasfontesconsultadase,poroutro,serviucomo teoriadesuporteparaoentendimentodequestõesrelativasàconstruçãodamemória coletivaeoprocessodeformaçãodaidentidadedoParaná. 3.1OPARANISMOCOMOMOVIMENTO OParanácomeçouaexistircomoentidadepolíticapeloDecreton°.704,de29 deagostode1853,quedesmembrouaantigaComarcadeCuritibadaProvínciadeSão Paulo.Doisladosdisputarampeladefiniçãodasededacapital.Deumlado,estavam oscomercianteseportuáriosdeParanaguáquepleiteavamaindicaçãodestacidade. Deoutro,osrepresentantesdasociedadecampeira,cujosinteressesgiravamemtorno da economia ervateira, madeireira e do gado, que indicavam a pequena vila de Curitiba. Sendo estes a maioria na Assembléia Provincial, eles conseguiram transformarCuritibaemcapitalatravésdaLeiProvincialn°.1de26dejunhode1854. Essaelitepolíticaprocurouidentificaroplanaltocuritibanoearegiãodolitoralcomo centrodereferênciaparaanovaProvíncia. Nacapital paranaense,aidéiade modernidadecomeçouase desenvolvera partir das transformações que ocorreram no âmbito da sociedade e da cultura no períodoanterioràRepúblicaVelha(18891930).Nesseperíodo,orepublicanismoteve umpapelimportante,poisamonarquiapassouaser vistacomoarcaicaeoregime 83 republicano, ao contrário, era tido como sinônimo do progresso. O republicanismo tinhaumaligaçãofortecomocientificismoeissofezcomqueosrepublicanosfossem marcadosporumforteanticlericalismo,marcaprofundadospolíticoseintelectuaisdo Paraná. Em oposição à monarquia decadente, acreditavase que um dos elementos principaisdoatrasodasociedadeparanaenseeraavínculoentreoEstadoeaIgreja Católica. Opositivismorepublicano,marcadopelaidéiadeprogresso,ciênciaetécnica, serviu como base cultural do período tratado, funcionando como elemento determinantedaidentidadeparanaense.ParadaraidéiadeunidadeaoParanáesua população, a identidade regional se tornava necessária desde o movimento pela EmancipaçãoPolíticadoEstado,queesboçouagênesedoparanismotomandocomo baseumdiscursoufanistaeregionalista.Adiscussãoacercadaidentidaderegionalfoi, então,impregnadatantopelavisãopositivistaeanticlericalquantoporcertoideário católico. EmCuritiba,asprimeirasdécadasdoséculoXXtêmcomomarcaoiníciodo desenvolvimentourbanodacidade.NaqueleperíodooEstadotambémvivenciavaum crescimentoeconômicodevidoaoextrativismodaervamate.Essesfatoressomadosàs transformações provindas das duas últimas décadas do século anterior, como o conservadorismopolíticodofinaldoImpérioeiníciodaRepúblicaeoprocessode integraçãodosimigrantes,comseusinteresseseculturasdistintos,serviramdebase para o surgimento de várias manifestações culturais. Foi junto com isso que se desenvolveu o Movimento Paranista, quando várias pessoas se envolveram na construçãoedivulgaçãodeumaidentidadeparaoParaná,naqualeramexaltadassuas especificidadesgeográficas:suasriquezasnaturais,seuterritórioesuapopulação. Aodiscutirsobreessatemática,éprecisoentãoreverosprincipaistrabalhos quetrataramdoassunto.Partindodeles,tornasenecessáriaumadiferenciaçãoentrea expressãoMovimentoParanistaeotermoparanismo,tendoemvistaaexistênciade diferentesperspectivasquantoàdefiniçãodessestermos.Retomandoumpoucoouso feitoporRomárioMartins, Paranismo , estaria mais para um sentimento ligado a um ideal, ou seja, uma “forma de pensar” o Paraná relacionado à identidade regional, seja ela na esfera política, econômica ou cultural, com vistas a um futuro próspero . 84

Decorrentedisso,o Movimento Paranista foi uma maneira de colocar em prática esse sentimento, essa “forma de pensar” que, só atingiu o caráter de movimento em meados da década de 1920 . Como todo o movimento, o Movimento Paranista é datado. Ele é envolvido por uma ação de um grupo de pessoas. Nesse sentido, é objetivo . Diferentemente, o paranismo, enquanto um sentimento , não é datado, é subjetivo , ele continuou associado às outras ideologias que surgiram no Paraná em períodossubseqüenteseaindahoje,vistoassim,elepersiste 61 . EmRegionalismo e Anti-regionalismo no Paraná ,umdosprimeirostrabalhos sobreoparanismo,RubenCesarKEINERT(1978)situaoregionalismoglobalmente, critica as análises culturalistas e funcionalistas sobre essa temática e estabelece um critériodeclassificaçãoparaocasoparanaense.SegundoKEINERT(1978,p.9,60 75), o regionalismo no Paraná assumiu diferentes características. Durante o Estado Novo, foi influenciado pelo paranismo. Após 1945, foi marcado por diferentes nuances,compreendendo:o regionalismo convicto ,duranteogovernoLupion(1947 1951e19551960),o regionalismo cooperativo ,duranteogovernoBentoMunhozda Rocha Netto (19511955), e o Anti-regionalismo , após 1964, durante o regime autoritário.Dessemodo,oautorvêoparanismocomoamatrizdamanifestaçãodo regionalismonoParaná,uma“postulaçãobásica”quefoiretomadaapartirdadécada de 1930 pelo regionalismo convicto e pelo regionalismo cooperativo . Para ele, os “sentimentos regionalistas paranaenses” foram reatualizados nas configurações ideológicasqueseformaramemseguida. Emseutrabalho,Keinertadotacomorecusoteóricometodológicooconceito de formação regional e as concepções de dominação e ideologia. Para o autor, a dominação se limita a garantir a reprodução de interesses dominantes através do controledoaparelhojurídicopolíticodoEstado.Nesseaspecto,essetrabalhopodeser vistocomoumexemplodavisãodosestudossóciopolíticos e econômicos sobre o regionalismonoParanáqueconfundemestecomasclassesdominantes,aotrataremo paranismocomoumaideologiadaselitespolíticaslocais.Nessavisão,oparanismoeo MovimentoParanistasãotratadoscomosinônimos,poisoautorvêoquenoseucaso

61 É por isso que alguns autores tratam certas personalidades paranaenses posteriores ao MovimentoParanistacomoparanistas,comoporexemplo,BentoMunhozdaRochaNetto. 85 seriaoMovimentoParanistacomoumapréfasedodesenvolvimentodoregionalismo noParaná,aqualelechamadeparanismo. Na visão de KEINERT (1978, p. 3551), o paranismo foi um movimento ideológicoqueseconstituiunum“símileregionalcomedidodoufanismonacional”e quealcançouváriosoutroscamposdemanifestaçãosimbólicaaoextravasarosestudos políticos e históricos. O autor diz que foram esses estudos que deram início ao paranismoedestacaaaçãodosprincipaisfundamentadores :ErmelinoAgostinhode Leão XI ,FranciscoNegrão XII eRomárioMartins XIII .Nesseponto,Keinertdáênfaseaos estudos desenvolvidos por esses intelectuais, caracterizandoos a partir das preocupações temáticas dos autores, estas que estão ligadas à questão dos limites geográficosdoParanáeàpropagandapolíticadoEstado.Diantedisso,essecapítulose aterámaisàproduçãointelectualdeRomárioMartins,vistoque,dentreosintelectuais citados por Keinert, Romário foi o que mais se envolveu com as questões do paranismo,exercendoinfluênciadecisivanopensamentodaépoca. Romário Martins, não só influenciou seus contemporâneos, mas foi o responsável por vincular os ideais paranistas à prática política. Ao longo de sua trajetória, ele empenhouse na divulgação da história e das tradições paranaenses, sendoumdosfundadoresdoInstitutoHistóricoeGeográficoParanaense,criadoem 1900, e principal fundador do Centro Paranista, criado em 1927. Além do mais, Romárioconstruiusímbolosrepresentativosdamemóriacoletivaqueidentificavamo Paraná,diferenciandoodorestodopaís.Aconstruçãosimbólicarealizadaporelediz respeito à representação do ideal de progresso da civilização do Estado. Um bom exemplodissoaparecenadescriçãodoseu Ex-libris (figura2),feitaporelemesmo: – O pinheiro alto, eril, de longos braços estendidos para os horizontes, – é o Paraná, transfiguradonosímboloverdedasesperançasqueserealizam,dahospitalidadeacolhedora dosadvindosdetodososquadrantesdomundo,daafirmaçãodeforçaedealturaincitadoras dasresistênciasparaotrabalhoeparaaspreocupaçõesaltruísticas. –Asflechasrompentesnasdireçõesdelevanteedopoenteindicamassituaçõesdabaixada edoplanalto,modificadorasdosclimasecondicionadorasdeexuberânciaparaavidade tôdasasespécies;aalturadosideaisparanistas;araçaquepovooudelegendasededeuseso sertãomaravilhosodaAracarilândia,queprimeiroviveuedominounonossoterritório,que sefundiunosanguedosconquistadores,queneleimprimiuocunhobraviodoamoràterra, queestendeuàtôdasasfeiçõesgeográficasanomenclaturaqueseperpetuounasserrasenas águas,nafloraenafaunaequepossibilitouaexploraçãoeaconquistadosertão. –Asduashastesdetrigo,aomesmotempoquenomaisnobredoscereaissimbolizama produçãoculturaldaterra,definemageneralizaçãodenossasatividadesemtodosossetores dainteligênciaconstrutivaeútil. 86

–AdivisadafaixalembraogestohospitaleirodosTinguísdeCuritiba,aotempodaentrada dos primeiros povoadores, quando o chefe indígena, fincando na terra a sua vara de comando,designouolocaldaprimeirapovoação,dizendo:–“Aqui”! –Eoconjuntodêssessímbolosconcretisa,porsuavez,tôdasasaspiraçõessuperioresdo paranismo:–odevotamentoàglebanatal,aordemeoprogresso,apazeotrabalho,os idealismos civilisadores e a incondicional defesa da integridade, da soberania e da imortalidadedoBrasil.(MARTINS,1946,p.4)

FIGURA2– MARTINS, R. Ex-libris .In.MARTINS,1946,p.4.Fotoetratamento:Luis Afonso Salturi. Esse conjunto de símbolos mencionados por Romário Martins em seu Ex- libris ganha sentido quando relacionado com alguns dos seus escritos históricos e literários,nosquaisoautortentaresgataropontoinicialdahistóriaparanaense.Essa preocupaçãoestápresenteemváriosdosseustrabalhos,comoem Curityba: estudo onomástico .Naprimeirapartedessaobra,MARTINS(1926,p.37)traçaohistórico dacolonizaçãodeCuritibaecomentasobreasdiferentesgrafiasfeitasporaquelesque referenciaramessaregiãoemdocumentosouemoutrosescritos 62 .Naparteseguinte, MARTINS(1926,p.916)fazumaanálisedoprefixo edosufixoquecompõema origemdapalavra Curitiba eseusdiferentessignificados.Demodogeral,paraoautor onomedacapitalparanaensesecompõededuaspalavrasdissilábicasdalínguageral ou abaneeng : Cury ,pinhão,árvoredopinhão,pinheiro;e Tyba , muito, abundância,

62 Ostermoscomentadospeloautorsão: Queretuba (1653), Campos de Cuiyritiba (1674), Campos Geares de Curityba , Sertão de Curityba , Curityba , Villa de Nossa Senhora da Luz de Curityba e Campos de Curityba . 87 sufixo que corresponde ao al português (como em erval, algodoal, etc.). Assim, Curitibasetraduziriacomopinhal,pinheiral.Emseguida,Romáriofazumalistade váriosestudiosostupinistasqueconcordamoudiscordamdestainterpretação. Na última parte da obra, MARTINS (1926, p. 1720) trata da versão cainganguedotermo,narrandoumalendadessatriboindígenadoParanáqueexplicaa escolhadonome Curi-Tim ,termodoqualderiva,segundoalenda,onomedeCuritiba, atravésdeumaalteraçãoportuguesatantodaescritaquantodosignificado.Alenda, repassadadegeração em geraçãoatravésdatradiçãooral,foinarradapelofalecido cacique Paulino Arakchó, amigo de Telêmaco Borba, que segundo Romário, é o verdadeiroautordanarrativaescrita.Segueentãoodepoimentodocacique: Meupaiouviodoseupaiqueestessitioseramdisputadospelosindiosemvirtudedasua abundancia de pinhões ede muitasfructas do matto. Os Caingangs, gulosos por pinhões (fuogn)tudofizeramporseapossaremdesteslogaresenellespordilatadosannossefixaram. Ospinhaes(fuongte)seextendiamportodaaparteenotempodafructificaçãoattrahiamas maisvariadaseabundantescaças.Avidadanossagenteera,assim,facilefarta.Masde certotempoemdianteosportuguezeshabitantesdooutroladodaSerracomeçaramalhe disputarasterrasealhedifficultaraexistencia.Porfim,meusantepassadostiveramdeceder edesemudarparaoIvahy.OpropriochefeCaingangdiantedaindiadaedosportuguezes reunidos,fincounochãooseubastãodechefeguerreiro,emsinaldepaz,ecommandou: –“CURITIM!”(Vamos!Depressa!) Osportuguezesficaramnologarondeavarafincadapelocaciquedepoisbrotouefloresceu, comoumavisodequeali,maistarde,haveriaumagrandeelindaCidade. Efoiassim.Osportuguezes,nãoentendendoalinguadosmeusantepassados,suppuzeram queCURITIMeraonomedaterra,quepassaramachamarCurityba.(MARTINS,1926,p. 18) Évisívelainfluênciadoromantismoindianistado séculoXIXna produção histórica e literária de Romário Martins, que iniciou sua atividade intelectual num ambiente ainda influenciado pela presença do Movimento Simbolista e pelo pensamentopositivistaquepromoveuaRepública. Noquedizrespeitoàhistoriografia,algunsautorestomamaobradeRomário Martinscomoalegoria,numaperspectivabenjaminianaemqueadominaçãosetornao ponto de partida para a análise 63 .Umexemplodessaperspectivaé adissertaçãode Décio Roberto SZVARÇA (1993) que faz referência a Romário Martins como um 63 A crítica do filósofo alemão Walter Benjamin à História aparece em: BENJAMIN, W. Magia e técnica, arte e política :ensaiossobreliteraturaehistóriadacultura.ObrasEscolhidasVol. 1.7ed.SãoPaulo:Brasiliense,1994.p.222232.Verespecialmenteasteses13e14docapítulo Sobre o Conceito de História . 88

“historiadorhistoricista”,um“forjador”desímbolos.Paraoautor,ahistóriaproduzida porRomário,emtermosbenjaminianos,éumexemploda“históriadosdominadores”, queédescontínua,masapresentadacomocontínuanum“tempohomogêneoevazio”. Nessa visão, para preencher esse tempo, Romário teria “forjado” um “conjunto de símbolosemitos”quepossibilitariamconstruirumaimagemdaidentidadeidealaqual todosdeveriamintegrarseparaatingiroprogresso. SzvarçaestápreocupadocomaanálisedahistoriografiadeRomárioMartins. AovoltarseparaasintençõesdeRomárioemseuofício,Szvarçaacabacentrandosua análisenaperspectivado“ele”,daqualfalaNorbertElias.ParaELIAS(1995,p.13, 36) o curso da vida de cada indivíduo é condicionado pelos seus desejos. Dessa maneira,apartirdaperspectivado“ele”nãosepodedeterminaroquealguémsente quandosatisfazessesdesejos.Deveseentenderapartirdopontodevistadaprimeira pessoa,ouseja,daperspectivado“eu”,jáqueavidasófazsentidoparaosindivíduos quandoelesconseguemrealizartaisaspirações.Antesdetudo,éprecisolembrarque Romário Martins tinha o paranismo como um projeto de vida . Sua produção intelectual não pode ser vista apenas pelo ângulo da “dominação do imaginário popular”,elatemqueserpensadatambémemrelaçãoaosseusdesejosindividuais. Outraquestãoquevalemencionarsãoosdiferentespontosdevistaemrelação à origem dos mitos e lendas indígenas referenciados por Romário Martins em seus escritos 64 .Algunsestudoshistóricoseensaiosjornalísticosconsideramqueessesmitos – entre eles o do Guairacá (MARTINS, 1941) – foram criados por Romário sem nenhumabasereal.SamuelGuimarãesdaCOSTA(1986),porexemplo,faloudurante suaparticipaçãonumdebatenumaTVlocalem1986,sobreumacampanhadevisava erguerummonumentoparaolendáriocaciqueGuairacá,tidocomosímbolodedefesa daterraparanaense.Nessaépocajáhaviaumquestionamentosobreaexistênciado cacique,umavezquenãoexistiamprovasdocumentaissobreopersonagem. OsestudoshistóricosquetratamsobreosescritosdeRomárioMartinsdizem queosmitoselendasqueaparecemnasobrasdesteforamcriadosporRomáriocomo intuitodeatingiro“imagináriopopular”paragarantira“dominação”.AdaliceAraújo, 64 Não caberia aqui discutir conceito de mito devido à existência do amplo debate nas Humanidades.Umbrevereferencialapontandoosdiferentesenfoquesdadosaoconceitoapareceem: MOISÉS,M. Dicionário de termos literários .2ed.SãoPaulo:Cultrix,1978.p.341347. 89 numdepoimentoparaPROSSER(2004,p.153),dizqueasdissertaçõesdemestrado emHistóriadaUFPRsão“totalmentepolíticaseinverossímeis”.Paraela,mitos,como odoGuairacá,têmmesmoumabasereal,porqueremetemàtradiçãodosíndios.Isto porque, segundo ela, uma das características do paranismo é a defesa da causa indígena.Considerandoessesdoispontosdevistadivergenteseoslimitesdopresente estudo,paraumarespostamaisesclarecedoraessedebatesópoderiaseresclarecido commaispesquisassobreotema.Nessecaso,optouseporprivilegiaro uso enãoa questãodaautoriadacriaçãodosmitoselendas.Assim,nãoseelegea“dominaçãodo imaginário” como o ponto principal da análise sobre a produção intelectual de RomárioMartins. Em Paiquerê: mitos e lendas: visões e aspectos ,RomárioMARTINS(1940) relatamitoselendasdospovosindígenasdoParanáeapresentaalgunsensaios,eaté uma peça teatral, que falam sobre a História do Paraná. Tomando como base a discussão feita pelos estudos históricos, os mitos e lendas presentes nessa obra de Martinsfazem mesmoumaligaçãoartificialentreo presente e um passado heróico dentrodeumatemáticavoltadaparaaidentidaderegional.Contudo,nãohádúvidasde queaescritadessaobraexigiudoautortantooconhecimentodaHistóriaquantoda culturaindígenadaregião. Noartigo Paranística ,publicadonarevista A divulgação ,em1948,Romário Martinsapresentavaadefiniçãode paranismo eosignificadodotermo paranista . O autor comentava que, em maio de 1946, Arací Martins, cronista de O Dia , jornal matutino editado em Curitiba, junto com Jeff, Hilário Rodrigues e PikePake, escritores da época, fizeram uma investigação a respeito da origem do vocábulo paranista, pois tinham dúvida sobre a autoria do termo. Dessa investigação, a conclusãoquesechegoufoiaseguinte: a)–Ovocábulofora inventado porDomingosNascimentoem1906; b) – Sua significação era: “natural e amigo do Paraná, esforçado pelo seu progresso, prestígio e integridade”. Paranista era, pois, “o paranaense jacobino e chauvinista destas pragas”; c) – Houve uma opinião em parte dissonante, porém acertada. “Não se tratava de uma palavranova,poisseuusoeravulgarnointeriordoEstadodeSãoPaulo”,esclareceuJeff. Demais,acrescentou:–“Naqualidadedeadjetivocomamesmasignificação(denaturaldo Estado do Paraná) é êsse termo empregado pelos jornalistas e literatos da Terra dos Pinheirais”.(MARTINS,1948,p.37) 90

Arespeitodessefato,odepoimentodeRomárioMartinsédequeovocábulo foiutilizadopelaprimeiravez,em1906,peloescritorDomingosNascimento XIV após regressardeumaviagemaonortedoParaná,ondenotaraqueninguémochamavade paranaense,masdeparanista.Naspalavrasdoautor: DomingosNascimento(...)viunapalavranãosomenteabeleza,mastambémquenosufixo “ista”encerravasignificaçãodecultordealgumacoisa:–deparanaensedevotado,defensor desuaterra,porexemplo.Quando,devolta,anuncioueexaltouoachadoemartigona“A Notícia”, viu desde logo o vocábulo bem aceito e usado pelos jornalistas e escritores na acepção nativista de paranaense, conforme atestam os depoimentos acima transcritos. (MARTINS,1948,p.37) A palavra paranista teria nascido espontaneamente, e ganharia uma nova significaçãoporRomárioMartins.Segundoeste:“Ovocábuloassimcaminhouatravés dosanos,comumsignificadoqueanossagentenãoparanaensesempreantipatizou.” (MARTINS,1948,p.37).Em1927,Romáriosepôsàfrentedeummovimentopor umaacepçãonovadotermo,procurandocriaremCuritibaoCentroParanista.Apartir da definição do termo paranista, podese compreender quais eram os propósitos do movimentodemesmonome,poisparaoautor: Paranismo é todo aquêle que tem pelo Paraná uma afeição sincera, e que notàvelmente a demonstra em qualquer manifestação de atividade digna, útil à coletividade paranaense. Esta é a acepção em que o neologismo, si é que é neologismo, é tido por êsse nobre movimentodeidéiaseiniciativascontidasnoProgramaGeraldocentroparanista.(...) Paranista é simbólicamente aquele que em terra do Paraná lavrou um campo, vadeou uma floresta, lançou uma ponte, construiu uma máquina, dirigiu uma fábrica, compoz uma estrofe, pintou um quadro, esculpiu uma estátua, redigiu uma lei liberal, praticou a bondade, iluminou um cérebro, evitou uma injustiça, educou um sentimento, reformou um perverso, escreveu um livro, plantou uma árvore. Paranismo é o espírito novo, de elação e exaltação, idealizador de um Paraná maior e melhor pelo trabalho, pela ordem, pelo progresso, pela bondade, pela justiça, pela cultura, pela civilização. É o ambiente de paz e solidariedade, o brilho e a altura dos ideais, as realizações superiores da inteligência e dos sentimentos. Nósqueaquiestamosnosesforçandomuitoporfazergerminareflorirefrutificarêsseideal entreasgentesqueestãopovoandoeafeiçoandoaos surtos de uma maior grandeza, êste trecholindoedadivosodasterrasdenossaPátria–pretendemosqueo“paranismo”sejaafé constantenasnossasrealizações,aconfiançanonossofuturo,aufaniadonossopassado,o dinamismodanossavitalidade,oheroismopacíficode nossotrabalho, aconfraternização dos nossos elementos sociais de tôdas as origens, para a formação dêsse espírito de brasilidadequenoshádesalvardenósmesmos. OsEstadoscosmopolitascomoonosso,povoadospelasimigrações, vão constituindo sua sociedadeporagrupamentosemsidistintospelastradições,peloscostumes,pelastendências 91

espirituais e sentimentais, pelo pensamento e pela linguagem, seguindo os traços característicosdesuasorigensancestrais. Nósestamosnessasituação.(...) Umsociólogoteriaemnossomeioumcampointeressantíssimodeestudosemnumerosos gruposdenossapopulação,distintosentresi. SemsairdeCuritiba,teriaaseudispôrmateriaisetnográficosparaestudaradiversidadede usosecostumes,detemperamentoedecaráter,deinteligênciaedeimaginação,quenos fazemasociedademaiscosmopolitadoBrasil.[grifomeu](MARTINS,1948,p.38) Umacaracterísticafundamentalqueoprópriotermoparanistacarregamerece serapontadaaqui:osufixo ista .Estesufixoilustraadiferenciaçãoeaaproximação que a própria identidade exige, pois como o processo de identificação se constrói atravésdasemelhançaedadiferença,aidentidadesedefineemrelaçãoaalgoexterior buscandoumaconfiguraçãointerna.Assim, otermoparanista tenta se contrapor ao termo paulista ,aomesmotempoemqueenglobaosufixodeste. No artigo As nascentes do paranismo , Edilberto TREVISAN (1991, p. 23) comenta sobre os diferentes significados do termo paranista ao longo dos anos. Segundoele,antesdeapropriadoporRomárioMartins,otermoaparecianumdiálogo caipiradoconto Desespero de Amor 65 ,deValdomiroSilveira,dolivro Os caboclos . Apesardaprimeiraediçãodestelivroserde1920,aintroduçãotrazainformaçãode que todos os contos foram escritos entre 1897 e 1906, época em que dominava o Simbolismonaliteratura.Nofinaldolivro,novocabulário,apareceumadefiniçãodo termoparanistasignificando:“onaturaldoEstadodoParaná”(SILVEIRA,1975,p. 152).Esteseria,então,umdosregistrosimpressosmaisantigosdovocábulo. Essadefiniçãodotermoparanistanãoéaúnicaquemereceimportânciapara este trabalho. Como foi dito anteriormente, há uma diferenciação entre o que é paranismodoqueéMovimentoParanista.Istoporque,aindahojealgunsautoresfalam em paranismo, mas não se referem ao Movimento Paranista. Para salientar a

65 Segueoreferidodiálogo:“–SeuChico,oburroéanhângap’r’umapulação!Vejabem como ele é escanelado e peitudo! Repare naquele sinal encostado c’o casco da mão esquerda: é traiçoeironacerta!/OChicoSófezchalaçadaquelasobservações:/–Aí,domadoretanto!Quando você vai quebrantar um xucro, então apalpa as qualidades do limal, premeiro? Si o limal é bem assinalado,vocêcailheemriba,esiépicaçoouquatrólho,vocêfogedele?Antãosóseamansaoque nãoébrabo?Ora,acocheaorelhadobicho,queorestoé comigo!/ O outrocampeiro falou mais compassado:/–Nãoépordesfazernasuadestreza,seuChico,mascontantoqueesteburro paranista vaidartrabalho.”[grifomeu](SILVEIRA,1975,p.121) 92 importânciadadiferenciaçãoentreostermos,passaseagoraàanálisedoprocessoque levouàconstituiçãodessemovimento. Nocampodasartesplásticase musicais,aadesãoao Movimento Paranista aconteceu em meados da década de 1920. É admissível a explicação de que a repercussãodoparanismonessasáreassurgiudevidoàsinfluênciasdascorrentesde pensamento e dos intelectuais da época, especialmente Romário Martins. Naquele período,aliteraturaaindamantinhaalgumascaracterísticassimbolistaseosestudos históricosepolíticosestavamcentralizadosemquestõesregionais doiníciodaquele século.Dessemodo,tantoaliteraturaquantoosestudoshistóricosepolíticostiveram umpapelfundamentalnoprocessodemigraçãodoparanismo,enquantoideal,paraas artesplásticasemusicais. Nas artes plásticas, o paranismo apareceu após janeiro de 1923, com a estilização criada por Lange de Morretes, João Ghelfi e João Turin. Esses artistas tiveramcomopreocupaçãoestéticaalgumasquestõesqueenvolviamasrepresentações simbólicasdoParaná,principalmenteatravésdetemasdanaturezaparanaense.Essas representações se deram através de estudos e obras de pintura, desenho, escultura, artesgráficas,arquiteturaemoda.Namúsicaenoteatro,oparanismosemanifestou emmotivosmusicaisbaseadosemcançõestradicionaisouemgênerospopularescom textosexaltandotemaslocaisnascomposições. EmAspectos da música no Paraná ,RoselysVellozoRODERJAN(1969,p. 190191)fazumaretrospectivadosurgimentoerepercussãodamúsicanoEstado 66 .A autoradizque,inicialmente,amúsicaemCuritibafoidifundianosmeiosfamiliares, comoumatradiçãopassadadepaiparafilho.Asatividadesartísticasligadasàmúsica erampromovidaspelassociedadeslocais:aSociedade Gauloise ,aDanteAlighieri,a Garibaldi; o Cassino Curitibano, o Grêmio das Violetas; e também pelos clubes: o ClubeCuritibano,o Saengerbund (Concórdia),oTeutoBrasileiro(DuquedeCaxias)e

66 RoselysVellosoRoderjanfoiprofessoradeHistóriadaMúsicanaEmbapedeEducação Artística no Instituto de Educação do Paraná, sendo também membro da Comissão Paranaense de FolcloreedoCentroParanaenseFemininodeCultura.Paraumaprofundamentosobresuaspesquisas sobreamúsicaeastradiçõespopularesnoParaná,ver:RODERJAN,R.V. Meio século de música em Curitiba :contribuiçãoparaoestudodamúsicanoParaná.Curitiba:LíteroTécnica,1967.30p.; RODERJAN, R. V. Folclore brasileiro : Paraná. Rio de Janeiro: MEC: SEC: Funarte: Instituto NacionaldoFolclore,1981.112p. 93 o Handwerker (RioBranco).Alémdassociedadeseclubes,osofícios litúrgicos da Catedral Basílica Menor de Curitiba tiveram um papel importante para o desenvolvimentodamúsicanoParaná. Vale lembrar outro fato importante para o desenvolvimento da música no Estado,quefoiainstalação,em1911,daFábricadePianos Essenfelder ,aprimeirado Brasil.Alémdisso,deacordocomRODERJAN(1969,p. 191195), o período que antecede a década de 1920 tem como marca a inclusão da música como disciplina obrigatórianoprogramaescolar 67 .Esseperíodotambémémarcadopelapresençade alguns profissionais da música que atuaram como docentes, entre eles Luiz Bastos, BeneditoNicolaudosSantos,JosephaCorreiadeFreitasesuairmãSoledade.Entre 1920e1930,Curitibajápossuíaváriosprofissionaisformadosnaáreamusical 68 .Em 1923,ocorreaintroduçãodo jazz nacidade,primeiramenteporLuizEulógioZillie depois por Romualdo Suriani. Em 1924 entra em funcionamento a Rádio Clube Paranaense(PRB2),“aLíder”,aprimeiraestaçãoradiofônicadoParanáeaterceira do Brasil69 .NessaépocaassociedadeseosclubesdeCuritiba ainda mantinham as orquestrasdesalão. Aautoraaindadizqueadécadade1930émarcadapelocultivodetudooque se refere ao Paraná, através do paranismo de Romário Martins, que valorizava as lendas indígenas. Romualdo Suriani escreveu um poema sinfônico sobre a terra paranaense chamado Gôio-Covó , nome que os índios caingangues davam ao Rio Iguaçu.BentoMussurunga,aoretornarparaCuritiba,fundouaSociedadeOrquestral Paranaense,anexaàSociedadeTeatralRenascença,quepromoveuvários concertos, masquetevecurtaduração.JuntoàSociedadeTeatralRenascença,Bentoabriuum

67 NaEscolaNormal,porexemplo,ainclusãodamúsicanocurrículosedeuem1917. 68 Como o maestro Léo Kessler; os pianistas: Tínel, Maria Carreras, Luba de Alexandrowska,AmelieHenn,RaulMenssingeInêsColle;oscantores:JorgeWulcherpfennig,Levi CostaeMargaridaSilva;osviolinistas:LudovicoZeyer,EvaldoMüeller,WenceslauSchwanzeePeri Machado;osflautistasEleodoroLopesePatápioSilva. 69 ARádioClubeParanaensefoiparaoarpelaprimeiravezàs11horasdamanhãdodia27 dejunhode1924.AsprimeirastransmissõesaconteceramdaresidênciadeLívioGomesMoreira,um médicoechefedoDepartamentodeCorreioseTelégrafosemCuritiba,decanodosradioamadoresno Paranáepesquisadordeassuntosrelacionadoscomacomunicação.Nesseprimeiromomento,aRádio Clubefuncionavasomentedas8h30às9h30nasquartasesextasfeiras.Aosdomingosatransmissão aconteciadas14hàs15h.Aprogramaçãoerabasicamentedemúsicaclássica. 94 cursodemúsicaquefuncionouporváriosanos.OmúsicoepianistaaustríacoJoão Pöeck e o violinista Wenceslau Schwanze também tentaram formar uma escola de música.OpianistaRaulMenssingsededicouaoensinodamúsicanoParanáeteveum papelimportanteaofundaroInstitutoMenssing.AntonioMelillofoiocontinuadorde suaobranoConservatóriodeMúsicadoParaná,assumindoocargodediretorapósa mortedeKessler,em1924.MelillofoiassessoradoporLudovicoZeyer,LuizBastos, BerthaLangedeMorretes,BiancaBianchieAlbertoEscholzFilho. AindasegundoRODERJAN(1969,p.191198)foinosanos1920queaarte cênica paranaense ganhou projeção. Salvador de Ferrante foi um dos seus maiores incentivadores,dirigindoaSociedadeTeatralRenascença.Fundadaem1920,amesma proporcionou99espetáculos,divulgandootrabalhodeváriosautores.Noqueserefere àartecênica,deveseconsideraraimportânciaqueteveoprincipalteatrodacidade, enquantoumespaçoemquesedavamváriasapresentações.Aoserremodeladoem 1900,oantigoTheatroSãoTheodoroteveseunomesubstituídoporTheatroGuayra. LocalizadonaRuaDr.Muricy,oteatrosofreuumanovareformaem1912,tornando se local de apresentações artísticas variadas até quando foi demolido. Após a demoliçãodoTheatroGuayraeadamortedeSalvadordeFerrante,ambasem1935,a música dramática caiu no esquecimento. Considerando também que Luiz Bastos morreuem1933equeBeneditoNicolaudosSantoseBentoMussurungadedicaram seaomagistérioeaoutrasatividades. Entre1927e1930,oMovimentoParanistavivenciouoseuaugeaoatingiros camposdasartesplásticasemusicais,passandoporumperíodoemqueseusideais estavam organizados e institucionalizados em forma de práticas culturais. O melhor exemplo da manifestação do paranismo nesse período é a revista Illustração paranaense , criada em 1927, pelo fotógrafo e jornalista João Batista Groff. O periódico, que refletia os temas e o ideário em voga naquele momento, tinha uma ótima qualidade gráfica e editorial e contava com a colaboração de artistas e intelectuais. A Illustração paranaense traziareproduçõesdepinturasedesenhosde AlfredoAndersen,LangedeMorretes,JoãoTurin,JoãoGhelfi,TheodoroDeBona, KurtFreÿsleben,ArthurNísio,ZacoParanáeoutros,alémdefotosdeJoãoBaptista Groff, que era amigo e agia como um mecenas desses artistas. Na parte textual, 95 estavamentreoscolaboradoresváriosescritores:AluizioFrança,ErmelinodeLeão, Euclides Bandeira, Jayme Ballão Junior, Leoncio Correia, Pamphilo D’Assumpção, RomárioMartins,SebastiãoParanáeoutros. OdesenhodacapadaIllustração Paranaense (figura3),deautoriadeJoão Turin,apresentaumtemacomreferêncianaslendasindígenasdosescritosdeRomário Martins.NotasetambémqueohomemdesenhadoporTurinseassemelhaao Homem Vitruviano deLeonardodaVinci 70 .Istoporque,nodesenhodeTurin,osbraçosdo homemestãoestendidos,suaspernasquasejuntaseseupédireitoviradoparaolado, como no desenho de Leonardo. O fundo do desenho de Turin é formado por um círculo de tinta, que lembra muito o desenho renascentista, no qual o homem está dentrodeumcírculo.OhomemdeTurinseequiparaàanatomiadopinheiro,poisseus cabelossãoondulados,compridoseseexpandemparaaslaterais,nomesmoformato dacopadopinheiro.Atrásdele,háváriospinheiros,quefacilitamapercepçãodessa semelhança,trêsestãoemcadaumdosladosdohomem, formando uma seqüência. Alémdisso,napartesuperiordodesenho,asletrasdotítulodarevistasãoestilizadase naparteinferior,hátambémumafaixacompinhõesestilizados.

70 DAVINCI,L. Homem Vitruviano .1490.Desenhoàlápisetinta.34x24cm.Gallerie dell’Accademia,Veneza,Itália.EssedesenhoacompanhavaasanotaçõesqueLeonardodaVincifez numdosseusdiáriosaproximadamenteem1490.Tratasedeumafiguramasculinadesnudafeitaem duasposiçõessobrepostascomosbraçosinscritosnumcírculoenumquadrado.Essedesenhoserviu parailustrarumafamosapassagemdolivrodoarquitetoromanoMarcusVitruviusPollio,emqueeste descreveasproporçõesdocorpohumano.Odesenhotambéméconsideradocomoumsímboloda simetriabásicadocorpohumano. 96

FIGURA3– ILLUSTRAÇÃO PARANAENSE : Mensário paranista de arte e actualidades. Curitiba,AnoIV,n.1,jan.1930.Foto:LuisAfonsoSalturi. Cadanúmerodarevistaapresentavacapacomcoresdiferenciadas,porvezes, utilizandoumatintadouradanofundo,consideradaumluxonaépoca,queenalteciao desenho.Alémdodourado,entreastintasquecoloriamacapaequeapresentavam diferentesnuances,podesecitar:azul,vermelho,bege,laranja,roxo,verdeeamarelo. Operiódicocirculoucomgrandefreqüênciaaté1930e,interrompeusuapublicação emdecorrênciadacrisegeradapela Revoluçãode 1930. Apesar de ter voltado em fevereirode1933,estefoioúltimonúmerolançadoejánãoapresentavaa mesma proposta,nemamesmaqualidadegráfica. 97

Noartigo Paranismo – Neo-Paranismo, Pós-Paranismo – Pós-Modernismo 71 , SANT’ANNA et al. (1987, p. 129) comparam o Movimento Paranista à outros movimentosregionalistasquesurgiramemoutrosestadosnoperíododoEstadoNovo. Embora também confundam o paranismo com Movimento Paranista, eles apontam algunsfatoresquepermitemexplicarosurgimentodomovimento:aspoucascidades derelevâncianoParaná,poisointeriordoEstadoaindaestavaemdesenvolvimento;a culturaepoderdoGovernoEstadualconcentradoempoucascidades;eaRevolução de1930comoumanovaconjugaçãodeforçasnavidapúblicanacional,especialmente com a quebra da Política do Cafécomleite e com o novo papel político assumido pelos outros Estados em nível nacional. Assim, os autores vêem o surgimento do paranismocomoformadepreservaçãodaculturalocalcomopropósitodeterforça dentrodoplanonacionaleparadifundirossímbolosdoParanánointeriordoParaná devidoàameaçadosoutrosEstados. No caso do Movimento Paranista, ele teve pouca duração, pois entrou em declínioquandotiveraminícioalgumasmudançasqueafetaramoBrasil,favorecendo acentralizaçãopolíticaeadministrativadaRepúblicaVelha.DeacordocomRuben GeorgeOLIVEN(1986,p.72)emdecorrênciadastransformaçõessociaisqueestavam ocorrendo nesse período, acentuouse a tendência de se pensar a organização da sociedade e do Estado e as discussões sobre a questão da nacionalidade também cresceram. Entre as transformações do período podese citar: a substituição da importaçãodebensnãoduráveis;acrisedocaféeafalênciadosistemabaseadoem combinações políticas entre as oligarquias agrárias; o crescimento das cidades que eramcentrosdemercadosregionaiseasrevoltassociaisemilitaresquecomeçaramna década de 1920 e culminaram com a Revolução de 1930. Essas transformações tiveramumadimensãomuitomaisamplaquandosomadasàsconseqüênciasdaCrise Mundialde1929.

71 Publicadoem1987,esseartigoédeautoriadeumgrupodearquitetospertencentesao Projeto Gérmen .Nele,osautoresprocuravamavaliarosurgimentodenovaspropostasparanistasna arquiteturadentrodeumaperspectivahistórica,temaemvoganaquelemomento.“Convémlembrar queprincipalmenteapósoPósModernismo–queinvadeaáreadaArquiteturainternacionalapósa mostra‘ApresençadoPassado’,naBienaldeVenezade1980,ondefoiutilizadoo slogan :‘Ofimdo proibicismo’–cresceuentreosjovenslocaisointeressepeloParanismo.”(ARAUJO,1994,p.6) 98

Apartirdadécadade1930,váriosfatoresajudaramacriarumparadigmade nacionalidade que tinha como centro o Estado, visando suprir as manifestações regionais.OEstadoNovotinhacomometaabuscadeintegraçãonacionalemprolde uma identidade nacional. Segundo Ruben George OLIVEN (1986, p. 72), entre os fatoresquetentavamsuprirasmanifestaçõesregionais, podese citar: a substituição dosgovernadoreseleitosporInterventores;oenfraquecimentodasmilíciasestaduais;a proibição do ensino de línguas estrangeiras; a introdução de disciplinas de Moral e Civismo nas instituições voltadas para a educação; a criação do Departamento de Imprensa e Propaganda, responsável pela censura e exaltação do trabalho. Frente a esses fatores, a queima das bandeiras estaduais ilustra bem, simbolicamente, o processodecentralizaçãopolíticaquesedesenvolveucomaRepúblicaNova. NoqueserefereaoestudodoregionalismonoParaná,emParanismo: cultura e imaginário no Paraná da I República ,LuisFernandoLopesPEREIRA(1997,p.7 14) comenta sobre três recortes analíticos sobre essa temática. O primeiro, ao privilegiar a análise das elites locais ,atransformaemtemapassandoavêlacomo elementomodernizador.Osegundo,aoprivilegiar a análise das oligarquias ,considera operíododaRepúblicaVelhacomoumafasedetransiçãoderegimespolíticos,devido à crise de legitimidade e eficiência do governo. Para o autor, ambos recortes confundemregionalismocomclassesdominantes,acabandoporfazerumahistóriadas oligarquias e das elites locais. Já o terceiro recorte, influenciado pelo “marxismo vulgar”,enfatizaodesenvolvimentoglobaldocapitalismobuscandotraçosintrínsecos acadaregião,ondeapropostadeestabelecerumaidentidaderegionalpassaaservista como produto ideológico das classes dominantes nos estados, e ao fazer isso estabeleceumareduçãodaarteeumesquecimentodaquestãocultural. Natentativadefazerumaanálisediferentedessesrecortes,oautorrastreiao regionalismo no Paraná buscandoo não apenas em questões tradicionais como a federaçãoouopapeldaseliteslocaiseadinâmicaglobaldocapitalismo.Elemostra comosedeuoprocessodeconstruçãodaidentidaderegionalnasparticularidadesdo Paraná,nãoapenasnarelação periférica doEstadocomogovernocentral,masemseu republicanismo positivista e anticlerical, na idéiade modernidade quesetinhae se 99 divulgava,enasquestõesculturaiscujosmitosesímbolostiverampapelimportante paraa“dominaçãodoimagináriopopular”. Do mesmo modo que os autores anteriormente citados, Pereira não se preocupou em distinguir o paranismo do Movimento Paranista. Como sua pesquisa estávoltadaparaaconstruçãodahistoriografia,aoinvestirnaquestãoda“dominação doimagináriopopular”pelosparanistas,algumasdesuasobservaçõesacabaramsendo marcadasporcertopessimismo.Essepessimismoaparecedevidoaosmodelosteóricos adotadosnãosóporele,masporoutroshistoriadores,comoacríticabenjaminianaà construção da história e a aplicação do conceito de tradição inventada 72 ao caso paranaense. Esses modelos teóricos servem como instrumentos de análise para a construção da historiografia e a questão da dominação, mas são insuficientes para compreender,emtermosdessasprópriasleituras,oquesepodechamarde“pontode vistadodominador”,ouaperspectivado“eu”,daqualfalaNorbertElias. Osestudosdehistóriasobreoparanismoacertamemafirmarque,demodo geral,ahistóriacriadapelosparanistasprivilegiavaossímbolosoficiaisdoEstadoeo folclorelocal,tendoaindaumaforteligaçãocomumaliteraturaquefaziareferênciaà cultura indígena. Nesse ponto, é preciso afirmar que a literatura produzida pelos paranistas,emespecialRomárioMartins,faziaumaligaçãoartificialentreopresentee o passado dentro de uma temática que visava definir o paranaense. As várias comemoraçõescívicaspromovidaspelosparanistasestavammesmoarticuladascomo projetomaiorda invenção de uma tradição paraoParaná,naqualamemóriadeveria ser preservada e restaurada, pois estando ligada ao passado, os bens acumulados deveriamsertransmitidosnãosócomorespostaaopresente, mas estariam também voltadosparaofuturo.Contudo,osestudoshistóricosprivilegiamemsuasanálisesa “dominação do imaginário popular” ao invés de tentar entender o que levou os paranistas a “dominarem o imaginário” ou “formarem almas” – nessa última expressão,utilizandootermodeJoséMurilodeCarvalho 73 .

72 Oconceitode tradição inventada apareceem:HOBSBAWM,E.Introdução:Ainvenção dastradições.In:HOBSBAWM,E.;RANGER,T.(orgs.) A invenção das tradições .RiodeJaneiro: PazeTerra,1997.p.923. 73 CARVALHO,J.Mde. A formação das almas :oimagináriodaRepúblicanoBrasil.São Paulo:CompanhiadasLetras,1990.166p. 100

NocasodaanálisedosestudoshistóricossobreahistoriografiadeRomário Martins, enquanto um produto cultural, esses estudos são também marcados pelo período em que foram feitos. Durante a década de 1990, a crítica benjaminiana da HistóriainfluenciouváriaspesquisassobreoParaná.Partindodela,aoinvésdetentar compreender o pensamento de Romário Martins, os historiadores o enxergavam de uma maneira muito pessimista. Eles reduziam sua figura ao desconstruírem seu discursohistórico,queeravoltadotantoparaosdocumentosoficiaisquantoparaos interesses da elite econômica do Estado. O principal exemplo disso é o já citado trabalhodeSZVARÇA(1993)queesqueceounãoconsegueenxergarqueasatitudes eospropósitosdeRomárioestãoincutidosemseu habitus deparanista.Asatitudese propósitos de Romário Martins não existem em si mesmos e por si mesmos, pois provêmdeseu habitus . Nesses trabalhos, notase também uma preocupação constante em discutir sobreacontinuidadedoidealparanistanosescritosdeWilsonMartinseTemístocles Linhares,escritoresdecarreirasconsagradas,cujosestudosainda“carregariam”uma visãoparanista,principalmentenoqueserefereàidentidadedoParaná.Éóbvioqueos historiadoresestãovoltadosparaaconstruçãodaHistória,masaqui,acríticaestámais paraumadisputapelopólodominantedessecampodoquepropriamenteumarevisão dahistoriografialocal.Aesserespeito,valecitarosapontamentos deautorescomo PierreBOURDIEU(1996),em As regras da arte –paracitarumaobrasó–dequeas obrasculturaisecientíficastrazemconsigoasmarcasdocampodequesãoprodutoe domomentoemqueforamproduzidas. Aindaéprecisoapontaroutrasquestõesqueaparecemnumaoutrabibliografia que trata do paranismo e que se apresenta em forma de artigos de linguagem econômica ou jornalística. Em Uma sociologia do paranismo , o jornalista Samuel GuimarãesdaCOSTA(1984)aotratarsobreaimplantaçãoounão,em meadosda décadade1980,datecnologiajaponesanoParaná,dizqueéprecisoconstruiruma “sociologia doparanismo”,cujaabordagem permitiria equacionar uma problemática de desenvolvimento compatível com a identidade econômica, social e política, distinguindo o Estado de outras áreas brasileiras. Para ele, paranismo é usar as atualidadeslocaisparaatrairsóciosparaconstruirumasociedademoderna,dinâmicae 101 abertaaoprogresso,aobemestardecadaumedetodos,semesqueceroudesprezaro passadoeminente. Naquelemomento,oengenheiroeeconomistaDavidCARNEIROJr.(1984) apresentaumpontodevistadiferentedeCOSTA(1984),eleaceitaodesenvolvimento técnicoenãovêdeformanegativaaentradadetecnologiasestrangeirasnoParaná, pois para este autor a tecnologia está concentrada no conhecimento das pessoas. Emboraostítulosdessesartigosmencionemapalavrasociologia,aidéiadesociologia queosautoresutilizamestámuitoalémdoquehojeseentendeporessaciência. Emoutromomento,noartigoAlienação do paranismo ,COSTA(1991)fala sobre o desconhecimento da população paranaense sobre a História do Paraná. Ele começa o texto citando Bento Munhoz da Rocha Netto, que já nos anos 1950, incentivava o conhecimento histórico sobre o Paraná, mas ligado aos objetivos políticosreferenteàmigraçãointernabrasileiraparaoParaná,naocupaçãodoterceiro planalto.OautortambémfalasobreosmovimentosseparatistasnoParanáeoavanço dos nãoparanaenses no Estado. Nesses textos eles comentam sobre questões econômicas do Paraná numa abordagem jornalística propondo soluções para os problemas econômicas do Estado. Além disso, definem paranismo de um modo totalmenteredutível.Istoestábemlongedoquerealmenteéparanismo. Pelo mesmo viés econômico, tal como KEINERT (1978), no artigo As desventuras do paranismo ,LEÃO(1999)trataoparanismocomoumaideologia,um artefatoconstruído,inclusiveapartirdoEstado,paramobilizaraopiniãopúblicaeos esforçosdasociedadeparaconstruirumParanáeconomicamenteforteesocialmente justo. Para ele, o nascimento do paranismo está bastante vinculado ao partido da democraciacristã, introduzida nos anos 1950. No seu ponto de vista, a ideologia paranista foi uma adequação às fronteiras do Estado, da ideologia nacional desenvolvimentista muito forte no Brasil no final da década de 1950 e naprimeira metadedosanos1960.Elafoiabortadaporoutrasconcepçõesideológicasvinculadas aoregimemilitar,ouporconcepçõesmaisàesquerda,ligadasàredemocratizaçãoeà retomadadecrescimentocomjustiçasocialjánadécadade1980. Essestrabalhosmostramnãosóoreducionismoeaexistênciade diferentes abordagenssobreatemáticadoparanismo,masosmúltiplos significados do termo, 102 queéutilizadoparaanálisedediferentesépocase contextos. A idéia de paranismo dessesautoresnãocondizcomadeoutrosautoresparaosquaisotermoparanismoé tido como sinônimo de Movimento Paranista, termo que surgiu após o movimento. Daí,portanto,omotivodacríticaaosestudossobreatemáticadoparanismoatéentão. Essas discussões não mantêm um consenso sobre o que é paranismo e o que foi Movimento Paranista. Tendo isso em vista, essa seção pretendeu esclarecer a importânciadadiferenciaçãoentreosdoistermos. 3.2OCAMPODASARTESPLÁSTICASNOPARANÁ OiníciodapráticaartísticaligadaaoensinoeàprofissionalizaçãonoParanáé marcadotantopelopioneirismodosartistasprofessoresestrangeirosqueseradicaram no Brasil, quanto pela formação dos seus primeiros alunos. Entre os principais pioneirosdasartesnoEstadoestãoAlfredoAnderseneMarianodeLima. AlfredoEmílioAndersennasceuem3deoutubrode1860,emKristiansand, suldaNoruega.FilhodeHannaCarineedocapitãoTobiasAndersen.Interessouse por desenho desde os 12 anos. Parapoder estudar artes, sua mãe teve que obter o consentimentodeseupai,quedesejavaqueofilhofosseengenheironaval.Em1874, com 14 anos, Alfredo Andersen foi estudar na Itália, lá entrou em contato com os movimentos de arte da época e com as obras do Renascimento. Após sua volta à Noruega,foiaceitocomodiscípulodeWilhelmKrogh.Nestacondiçãopermaneceude 1874a1877,trabalhandocomopintor,escultor,decorador,cenógrafoedesenhista. Aos18anosmudouseparaaDinamarcaeem1879ingressouporconcursona AcademiaRealdeBelasArtesdeCopenhague,permanecendoaté1883,anoemque retornouàKristiansand.NestainstituiçãofoiprofessordeDesenhoLivrenaEscolade Rapazes,juntoaoAsilodeVesterbron,onderompeucomatradiçãodeensinoatravés decópiadegravurasimpressas,aoadotaromodelovivo.NaEuropa,esteveintegrado àselitesartísticaseculturais,possuindoamigosintelectuaisdeenormeprojeção.Sua formaçãoculturalencontravasevinculadaàsuaversatilidadeartística,poistambém foiarranjadorteatralefezincursõespelamúsica,tocandoflautaecantandoemcoral. Alémdisso,comocríticodearte,foienviadoàParisnoSalãoOficialdeBelasArtes. 103

Entre1891e1892viajoupelaEuropa,Ásia,ÍndiaeAmérica.Em1892,na Paraíba do Norte pintou Porto Cabedelo , seu primeiro registro artístico do Brasil. ApósretornaràNoruega,fezoutragrandeviagem,partindodaInglaterraemdireçãoà Buenos Aires. Alguns reparos no navio em que viajava exigiram uma parada em Paranaguá.CativadopeloBrasilfixouresidência,permanecendoemParanaguápor10 anos.Noanode1901secasoucomaparnanguaraAnnadeOliveira,comquemviriaa terquatrofilhos.NoanoseguintetransferiuseparaCuritiba,nacidademontouseu atelierelecionouarteemdiversasescolas.FaleceuemCuritiba,em9deagostode 1935,eapósseufalecimento,sua residênciaeatelierescola na Rua Mateus Leme, localemqueviveueensinouartede1915a1935,foidesapropriadapeloEstadoe transformadaemmuseu 74 . Alfredo Andersen desenvolveu um trabalho pioneiro na formação de vários artistas 75 .NaspalavrasdopintorTheodoroDeBona,Andersenformouumajuventude artísticaqueviviaemCuritibacomoseestivessenumbairroparisiense.Emseulivro Curitiba, Pequena Montparnasse , DE BONA (2004, p. 1113) fala sobre as característicasdacidadenoiníciodadécadade1920easexperiênciaspresenciadas porelejuntoaosprimeirosartistaspintores.Segundooautor,emborafosseacapital daProvínciadoParanádesde1853,Curitibanãopossuíaalémdos50milhabitantes. Conformeotestemunhodeseuspais,acidadeapresentavaumbeloprogresso,pois nosfinsdoséculoXIX,selimitavageograficamenteaumquadradoqueiadaPraça OsórioàatualPraçaSantosAndrade,edaPraçaZacariasatépoucoalémdaPraça DezenovedeDezembro.Asruasforadocentroerammal iluminadas e lamacentas, masavidadosseushabitanteseratranqüilaesegura,poishaviapoucosassaltos,os crimeseramrarosequasenãoaconteciamacidentesdetrânsito,emborajáexistisse umnúmerorazoáveldeveículos.Ocarnavalresultavasemprenumdivertimentototal

74 Em1947foicriadaaCasadeAlfredoAndersen,que em 1979 passou a denominarse MuseuAlfredoAndersen. 75 Foramseusalunos:FredericoLangedeMorretes,CarlosAugustoShubert,JoãoGhelfi, Theodoro De Bona, Estanislau Traple, Waldemar Kurt Freÿesleben, Maria Amélia D’Assumpção, TabordaJúnior,GustavoKopp,AnníbalSchleder,IsoldeHöette,AugustoPernetta,SilviaBertagnoli, Thorstein Andersen, José Daros, Inocência Falce, Lídia De Marco, Rodolpho Doubek, Sinhazinha Rebelo,AlbanoAgnerdeCarvalhoeRaimundoJaskulski. 104 enessaépocasecomentavamuitosobreascomplicaçõesdaregiãodoContestadoeas disputasterritoriaisdoslimitesdoParanácomSantaCatarina. EmrelaçãoaodesenvolvimentodoensinoartísticonoEstado,TheodoroDE BONA(2004,p.1416)comentaqueaEscolaOficialdeArteseIndústriadoParaná, foiresponsávelporcolocaroEstadonavanguardanacionalnoensinovoltadoparaas artes. Mariano de Lima, cenógrafo e decorador português, foi o responsável pela fundaçãodaescola.VeioparaCuritibaem1882,tendosidocontratadoparadecoraro TheatroSãoTheodoro.Em1886apresentouaoGovernodoParanáumprojetoquefoi aprovadoenomesmoanosuaescolafoifundadaecomeçouafuncionar.Suaescola formou vários artistas 76 , pois dirigiu a instituição durante 20 anos, até quando se mudouparaManaus,ondefaleceu.DeBonadizqueoutrosnomessãocitadospelos historiadorescomoprecursoresdasartesnoParaná,maspelofatodenenhumdelesser artista, ou por outras razões, não influenciaram decisivamente a formação dos primeirosartistaspintoresparanaenses. Apesar da presença de Mariano de Lima, no caso específico da pintura no Paraná,foicomAlfredoAndersenqueteveinícioumaverdadeiraescolavoltadapara essaatividade.ValelembrarquedesdesuachegadanacidadelitorâneadeParanaguá, Andersenpintoupaisagenseretratos.Em1883visitouCuritibapelaprimeiravez,mas sóem1902transferiuseparaacidade,montandoseuprimeiroatelier,localizadona RuaMarechalDeodoro,localondefundousuaEscoladeDesenhoePintura.Andersen fezprojetosparaescolasoficiaisdeartes,comoaEscolaTécnicaPrimáriaeaEscola ProfissionaldeArtes.Alémdeterlecionadoemseuatelierescola,elefoiprofessorde DesenhonaEscolaAlemã,noColégioParanaensee,em1909,passoualecionarna EscoladeBelasArteseIndústriasdeMarianodeLima. TheodoroDEBONA(2004,p.1720)dizqueingressounaescolaatelierde Andersenem1921ecomentasobreosmétodosdeensinodoprofessoreasvantagens obtidaspelosalunosqueseguiramacarreiradepintor.Segundoele,Andersenrecebia seusalunosnoseuatelierduasvezesporsemanaànoite,paraodesenhoartísticode modelovivo.Osdesenhos,emsuamaioria,eramfeitosàcarvãoouàpapelFabriano 76 Foramseusalunos:osdesenhistasAurelianoSilveiraePauloIldefonsoD’Assumpção,o músicoBeneditoNicolaudosSantoseosescultoresZacoParanáeJoãoTurin. 105 ouCançon,parafornecerumcarátermaispictórico aotrabalho.Aspaisagenseram pintadaspelosalunossemapresençadeAndersenetrazidasaoseuatelierparaasua opinião. As aulas diurnas aconteciam duas vezes por semana e eram dedicadas à pinturadecabeçasebustosmasculinossempreaonatural.ParaDeBona,osalunosde Andersen entendiam os ensinamentos e conselhos do professor através de uma apreciaçãocríticadestesobreostrabalhosqueapresentavam. OperíodoquevemdepoisdaimplantaçãodoensinoartísticonoParanátem comomarcaoparanismo.NoBrasil,emmeadosdadécadade1920,osalunosdas escolasdeartepioneirasdeMarianodeLimaeAlfredoAndersenqueforamestudar noexteriorhaviamseformadoeregressadoaopaís.LangedeMorretes,JoãoTurine JoãoGhelfifazempartedessaprimeirageraçãodeartistas. Eles deram seqüência a seusestudosforadopaísequandovoltaramaoParaná,criaramoestiloparanista.Esse períodoétambémmarcadopelapresençadeJoãoBaptistaGroff,umdosprimeiros fotógrafosecineastasparanaenses,criadordarevista Illustração Paranaense, queteve grandecirculaçãoentre1927e1930,sendoumadasprimeirasrevistasilustradasdo Paraná.Conhecerasociabilidadedessegrupoéfundamentalparapoderentendercomo sedesenvolveuoparanismonasartesplásticas. Cronologicamente, o Movimento Paranista coincidiu com o Movimento Modernista. No entanto, quando se trata das semelhanças e diferenças relativas às propostasdosreferidosmovimentos,asopiniõesdospesquisadoreseespecialistasse dividem. A Semana de Arte Moderna 77 , primeira manifestação coletiva de arte modernanoBrasilteveumgrandeimpacto,causadoatravésdadivulgaçãodasteorias artísticas das vanguardas européias. Ela exprime simbolicamente o Movimento Modernista.Porém,“aformacomoserealizouaSemana,apaixãoviolentacomque sediscutiamasidéias,eoespíritoqueaimpulsionou,confundemsenaturalmentecom a idéia de movimento, que supõe rupturas e polêmicas. Contudo, o Modernismo englobaomovimentoeaSemana,evaialémdestes.”(REZENDE,2000,p.8)

77 OeventoaconteceunoTeatroMunicipaldeSãoPaulonosdias13,15e17defevereirode 1922edeacordocomocatálogodaexposição,reproduzidoemREZENDE(2000,p.5155),teve comoparticipantesnaarquitetura:AntonioMoya,GeorgPrsirembel;naescultura:VictorioBrecheret, W.Haerberg;napintura:AnitaMalfatti,EmilianoDiCavalcanti,J.Graz,MartinsRibeiro,ZinaAita, J.F.deOliveiraprado,Ferrignac,VicenteRegoMonteiro. 106

Conforme afirma PROSSER (2004, p. 155160), na imprensa curitibana as primeirasalusõesaoacontecimentosóocorreramaproximadamentedoisanosdepoise forambreveseesparsas.Aautoradizque,seporumaspecto,oMovimentoParanista podeservistocomoumareaçãolocalaumModernismoessencialmentepaulistano, poroutro,eletambémseinspiravanasteoriasenosideaisdevalorizaçãodoregional presente neste. A posição assumida neste trabalho discorda dessa, uma vez que o MovimentoParanista estavadesvinculadodoPaulistaporquesua propostajáestava presente desde muito tempo atrás, tendo sido influenciado pelo simbolismo e pelos estudos políticos e históricos. Contudo, no Paraná, as linguagens do Modernismo eram,emparte,criticadaserejeitadaspelamaioriadosartistasepelasociedade.Desde a década de 1910, enquanto os artistas paranaenses mantinham suas pinceladas Impressionistas, em São Paulo, já havia o contato e aceitação de outras linguagens artísticasporpartedealgunsartistasatravésdedeterminadasexposições 78 . OMovimentoParanistanãochegouateraconsistênciadeummanifestocomo aconteceucomem SãoPaulo.Ele“...propunhaumoutro tipo de Modernismo, não ligadoàcontestaçãoeàrupturacomopassado,masàvalorizaçãodasraízesregionais apartirdaslinguagensedosestilospresentesemcadaregião:buscouavalorização doselementoscaracterísticosnoParaná,semrompercomoSimbolismo.”(PROSSER, 2004, p. 158). Em Curitiba, as discussões modernistas giravam em torno do Futurismo 79 . Elas se iniciaram em 1923 e se dispersaram através da atuação de JurandirManfredinicomocríticodearte,compublicaçõesdeartigosemjornaislocais erealizaçãodeeventosculturaisjuntocomumpequenogruporenovadordeartistase

78 Nesse caso, vale citar a exposição do artista lituano Lasar Segall, em 1913, a primeira exposição expressionista no Brasil e ainda, a de Anita Malfatti, em dezembro de 1917, com sua pintura que trazia influências do Cubismo e do Expressionismo, que desencadeou transformações radicaiseprovocoureaçõesiradasnoscríticos.UmadelaséadeMonteiroLobato,representantedo pensamentooficialedefensordonaturalismoedonacionalismo,queescreveuumartigodizendoque aqueletipodeartenasceucomaparanóiaecomamistificação.(REZENDE,2000,p.1221) 79 OFuturismofoiummovimentoestéticoquesurgiunoiníciodoséculoXXemoposiçãoàs fórmulas tradicionais e acadêmicas. O poeta e escritor italiano Filippo Tommaso Marinetti (1876 1944)foiseufundadoreprincipalteórico,redigindo um manifesto, que depois seria publicado no jornalparisiense Le Figaro .Nele,oautorproclamavaofimdaartepassadaeaodeàartedofuturo, daíonomedomovimento.(BECKETT,1997,p.351).SobreoreferidoManifestover:MARINETTI, F.T.FundaçãoemanifestodoFuturismo,1908.In:CHIPP,H.B. Teorias da arte moderna .2ed. SãoPaulo:MartinsFontes,1996.p.288293. 107 intelectuais.Apesardisso,elesnãoaderiramàsrupturas maisousadasdascorrentes estéticasmodernas,criticandoaobsessãodaobjetividadecientíficanaarte.Assim,as manifestaçõesforamdiluídas num ambiente desinteressado pela renovação artística, poisnãoconseguiramrompercomopassado,nemintroduziroespíritomoderno.Em 1928édeclaradoofimdoFuturismonoParaná. Somente a partir da década de 1930, através do movimento de renovação conduzido por Guido Viaro (18971971) e Poty Lazzarotto (19241998), as artes paranaenses começaram a se integrar às linguagens modernas e de vanguardas. O Movimento Modernista se consolidou em Curitiba na década seguinte, através da revista Joaquim , veículo que rompeu com as influências dos simbolistas e com a pinturaandersista,aslinguagensquepredominavam atéentão.Contudo,se,porum lado, houve um rompimento com as linguagens artísticas utilizadas pelos representantes do Movimento Paranista nas artes plásticas, por outro, a temática da naturezacomoexpressãodaidentidaderegionalaindapersistia.Elacontinuariasendo revividaemváriosmomentos.UmexemplodissosãoospainéisdePotyque,mesmo apresentando uma linguagem artística diferente daquela do Movimento Paranista, trazem vários símbolos paranaenses como o pinheiro, o pinhão e a gralhaazul, elementosdoparanismo.

3.3OSPRINCIPAISAMIGOS JoãoGhelfinasceuemCuritibaem29dedezembrode1890.Estudoude1907 a 1911 com Alfredo Andersen, em Curitiba. Em 1913, por conta própria, o artista partiuparaPariscomaesposaCarmellaSalvadorGhelfieosfilhosMurilo,Edmundo e Constante. Freqüentou a Academia Cala Rossi e diversos ateliêsescolas aperfeiçoandoseempintura.Aoretornardesuaviagem,Ghelfiteriasidoointrodutor deformascubistasnasartesparanaenses,poissegundoumdepoimentodeFreÿesleben em1970,paraAdaliceARAUJO(1974,p.115):“GhelfitrouxeradeParisdiversos quadros de sua autoria com homens e mulheres ‘quadrados’.” Segundo DE BONA (2004,p.31),Ghelfimoravacomafamílianumacasade madeiranaRuaCoronel 108

Dulcídio,pertodaesquinacomaAvenida7deSetembro,praticamenteemfrenteda residênciadeLangedeMorretes. EmCuritiba,segundoTheodoroDEBONA(2004,p.2829),antesdadécada de1920,juntocomGustavoKoppeAnibalSchleder, JoãoGhefideuinícioàvida boêmiadosartistasplásticosdoParaná.GhelfiinstalouumateliernaRuaMarechal Deodoro, no mesmo local onde havia sido o estúdio dofotógrafoVolkedepois o atelierdeAlfredoAndersen.Esselocalsetransformouempontodeencontrodejovens intelectuais,artistasplásticosejornalistasquedebatiamespecialmentesobreasartes. Édesseperíodo,umdeseusescritossobreapersonalidadeeaobraartísticadeLange deMorretes,querecentementehaviavoltadodaAlemanha.Em30dejunhode1920, utilizandoopseudônimoGhibellinus,Ghelfiescreveuoseguinteartigono Commercio do Paraná : Umpintor FREDERICOLANGEDEMORRETES Quemnãoselembra,ounãotemumareminiscênciaporvagaquesejado“Fritz?” O Fritz!... O pintorzinho: – dezoito annos, imberbe, nem alto, nem baixo, sizudo – principalmentesizudo. Em manhãs de luz sobraçando o cavalette, caixa de tintas na mão, quem o não recorda ainda? Iaáprocuradeaspectosnovos,denovoseffeitosdeluzedesombra,pelasestradasafóra.... Équedentrodesuaalma,indaquazinainfanciaabriasejáaflôrsoberbadeumsonho:–a arte!...OFritzamavaaarte. Eumbellodia...desappareceu!... Teriaidoáprocuradessesereiluminosa? Tinhasido. Passaramsedezannos,eeis,outratarde,oFritzderepente,diantedenós!Anossaprimeira impressãofoideassombra. Era o mesmo!... O mesmo Fritz de a dez annos atraz!... O mesmo! Somente uma imperceptivel mudança: – na barba, agora mais espessa... na alegria, agora mais exuberante!.. Conversamos:EstiveraemLeipzig.Frequentaraaacademia. ComadeclaraçãodeguerradoBrasiláAllemanha,fôralevadoaoscamposdeconcentração daBaviera. Tinhaporessetempo,terminadoosestudos:– EoFritzcontounosasuaodysséa:trabalharaesofrerabastante.E,assimempalestra,elle nosfoilevandoácasaondemora.Entramos.Trouxeraconsigoumaboaporçãodesuaobra. Admiramos.Eómilagre;oFritz,opequenoFritz,desapparecera,comoporencanto: Tinhamosdiantedenósumartista,umbeloartista! E eis que a nossa impressão sincera, sobre alguns trabalhos desse moço, que, embora apreciadosnoscentrosdearte,ondeseformou,sãononossomeio,quasedesconhecidos. Diantede“LuzeSombra”,paramosembevecidos.Perfeitanaharmoniadetonssombriosé umamagnificaobradeobservaçãodaNaturezacalma. Outratelaqueadmiramosbastantefoi“solidão”Paysagemdeinverno.Temseaimpressão diante desse quadro, da infinita melancholia das coisas sepultadas nos gelos immensos: 109

negrostroncos,rudescomogigantesdepedra,afitarem,impassíveis,ovastolençoldeneve rosadaaquiealem,porumatenueresteadeluz... Dão,aestequadro,umtomdegrandiosidadeselvagem.Éumasoberbaobra! Alemdestes,haoutrostrabalhosegualmentebellos,como“Primaveraquechega”,“Recanto Tranquillo”,etc.,querevelamnoseuautorocoloristabrilhante,eosenhorabsolutodeuma technicalargaevigorosa:–apanagiodosverdadeirosartistasdeelite. Felizespelagloriadenossoamigo,saimosdepoisde lhetermos prophetizadaum escrito felizcomaexposiçãoquedentrodestasemana,elleabreemCurityba. E, viemos pela estrada a fora a pensar: A vontade!... A irresistivel força da vontade! (GUIBELLINUS[JoãoGhelfi],1920,p.2) Nesseartigo,GhelfitratasobreoretornodeFredericoLangedeMorretesao BrasilefazumacomparaçãoentreaqueleFritz,deantesdaviagemàAlemanha,eo Fritzqueregressoucomsuavesmudançasfísicas,masquesetornouumbeloartista devido à maturidade e ao aprimoramento técnico. É interessante notar que o pseudônimodeGhelfidessacríticanãoéàtoa,poisaocomentarsobreasobrasde Lange,Ghelfiimpunhainteresseaosleitoreseanunciavaaabertura,naquelasemana, da 1ª. Exposição Individual deLangeemCuritibaemjulhode1920,naqualoartista iriaexporas33telasqueretratavamapaisagemalemã. Partindodaleituradesseartigo,podeseperceberaimportânciaeopapelda crítica de arte. Ela funciona como um elemento que auxilia no reconhecimento do artistapelopúblico,contribuindonasustentaçãodoseutrabalhoeelevandoseunome aopólodominantedoreferidocampo.Pormaiortalentoeconhecimentotécnicoque tenhaumartista,issonãoésuficienteparaquesuaartesejavistaevalorizada.Sendo assim,acríticadeartecontribuinainserçãodoartistanocampodasartes,noquese refereaoreconhecimentopelopúblicoemgeralepelosoutrosartistas.Deladependea carreiradoartistaenquantoumprofissionaldaarte. NoParanádadécadade1920,opapeldacríticadeartenãoédiferente.Esse artigodeGhelfimostraaligaçãoentreosartistas,eatravésdelaépossívelperceber umafiguraçãoespecífica,noperíodo,emrelaçãoaocampodasartesplásticas.Outro exemplodessafiguraçãoéumdepoimentodeTheodoroDEBONA(2004,p.2930) quedizqueGhelfi,apósumavisitaaoseuatelier,aconselhouoaingressarnaEscola deAlfredoAndersen,localqueDeBonafreqüentoude1921a1926.Oautordizque neste período poucas vezes teve contato com Ghelfi, isso porque este já não freqüentava as rodas boêmias da cidade, estando mais em contato com Lange de Morretes, João Turin e Samuel Cesar. Essas informações são muito interessantes e 110 servemparacompreenderasociabilidadeentreosartistas,poisfoinesseperíodoque sedeuosurgimentodaestilizaçãoparanista. Énecessáriodizerque,deacordocomaescassabibliografiaexistente,Ghelfi possuíaum“espíritoaventureiro”,vivendoumavidaboêmiacomumatendênciapara as conquistas amorosas. “Foram justamente essas aventuras que provocaram a sua morte prematura, causada por um sério ferimento, na cabeça, por um objeto contundente.”(DEBONA,2004,p.31).Deacordocomrumores,talferimentoteria sidoprovocadopelasuaesposa.NaspalavrasdeTheodoroDeBona:“Eleeramuito mulherengo,nãodeixavadinheiroemcasa,houveproblemascomamulherenofim foiferidoemorreuemconseqüênciadaquelenegócio.”(DEBONA,1989,p.15) Ghelfi teve tratamento na Santa Casa de Misericórdia, tendo recebido alta. Porém, passado alguns dias, ele voltou ao hospital por complicações do mesmo ferimento.Emseguida,surgiupelacidadeanotíciadeseufalecimento,aos35anos, em28deagostode1925.Juntoaoseucaixãoforamcolocadassuapalhetaepincéisde artistaconformeseudesejo. No que se refere a sua produção artística, segundo a opinião de Alfredo Andersenedeoutrosartistas,otalentodeGhelfieramaisdirigidoàpinturafigurativa, especialmente para o retrato. “Poucas são as paisagens de sua autoria e, as que existem, demonstram possuir ele pouca tendência, ou pouco interesse por essa modalidade de pintura.” (DE BONA, 2004, p. 2930). Além de pinturas, Ghelfi tambémproduziualgumasesculturas,entreasquaissedestacaobustodeDante,feito embarrocommuitahabilidade. EmcertosartigossãocitadosalgunsretratosdeautoriadeGhelficomosendo osmaisimportantes,entreelesoretratodeSamuelCesar,odaSenhoraChaves,ode AlexandredeAzevedo,odoDr.PintoVasconcelloseacabeçadoCavaleiroSantiago Colle.Háumartigointitulado Um grande desventurado: J. Ghelfi ,noqualojornalista SamuelCesardescreveseuscomentáriosfeitosduranteumavisitadeummoradordo RiodeJaneiroàsuacasa,sobreoseuretratofeitoporGhelfi.Quandoovisitantelhe perguntaseSamueldeixavaoretratonocantoescuroporqueestavainacabadoestediz quenão,deixavaoretratoemfrenteasuapoltronaporqueofaziapensar,justamente peloseudefeito.Quandoovisitanteperguntaquemopintou,Samuelresponde:“Um 111 belloartistaquevaesendoesquecido.Umpobresonhador,cheiodetalentoemarcado peladesventura.”(CESAR,1930c,nãopaginado) *** SamuelCesardeOliveira,conhecidoapenascomoSamuelCesar,nasceuem 06desetembrode1896emBeloHorizonte(MG)efaleceuem03demaiode1932, em Antonina. Filho de Maria Amália e Aristides Cesar de Oliveira, ele veio para Curitibaquandoaindaeramuitopequeno.EstudounoGinásioParanaenseediplomou seemCiênciasJurídicaseSociaisnaFaculdadedeDireitodaUniversidadedoParaná. EmCuritiba,desempenhouoscargosdeauditordeguerrada5ª.RegiãoMilitarede promotor público. Na cidade de Antonina exerceu o cargo de Juiz de Direito. Destacouse como jornalista e crítico de arte, escrevendoemjornaiserevistas.Foi membrodoCentrodeLetrasdoParaná,daOrdemdosAdvogadosSeçãodoParanáe doClubeCuritibano.(NICOLAS,1969,p.158) Entreasdécadasde1920e1930destacamseváriosescritosdeSamuelCesar, que,nesseperíodo,foidiretordojornalDiário da Tarde .Apartirde1927,eleesteve inteiramente ligado com o corpo editorial da revista Illustração Paranaense , participandoinclusive,em1928,daPrimeiraCaravanapromovidapelarevistajunto com Lange de Morretes, Odilon Negrão, Jurandir Manfredini, Carlos Stenberg do ValleeJoãoBaptistaGroff. Alémdosseusescritosdecríticadeartepublicadosna Illustração Paranaense eemoutrosjornais,merecedestaque, A vida vence 80 ,umapeçateatralde1920quefoi levada à cena com muito sucesso pela Companhia Áurea Abranches, então em Curitiba.Umdosprimeirosartigosdecríticaartísticadesuaautoriaapareceno Álbum da Gazeta do Povo (CESAR, 1923). Tratase de um texto com nove páginas comentandosobreosQuatro artistas novos ,sendoquedestes,doiseramescultores,de temperamento e talento diversos: João Turin e Zaco Paraná; e os outros dois eram pintores, um paisagista e outro retratista: Lange de Morretes e João Ghelfi. Nesse artigo,oautortraçaascaracterísticaspessoaisdecadaumdessesartistaseanalisasuas obras,cujasreproduçõesenriquecemsuacrítica. 80 CESAR, S. A vida vence... [Meu primeiro ensaio de theatro]. Curitiba, 1920. 28 p. Brochuradatilografadacomanotaçõesmanuscritas.AcervodaBibliotecaPúblicadoParaná. 112

OsescritosdecríticadeartedeSamuelCesarsãoexemplosclarosdarelação desta para a carreira dos artistas, como mencionado anteriormente. No artigo Dois artistas brasileiros: Lange e Turin ,CESAR(1928)deixavaclarooqueentendiapor criticar: “Servir de intermediário entre o artista e o grande público, explicando temperamento,ostraçoscaracterísticosdoartistaeconcluindoporverificarsiaobra dearteécapazderesponderàstendênciasobscurasepoderosasdaalmanacional;si representaumsonhocollectivoflorescidoembellesaemumaalmadeelite.”(CESAR, 1928, não paginado). Ele continua, e finaliza dizendo que para isso era preciso conhecerintimamenteoartistaeacompanharsuavidaparapoderestudálo. Nesse mesmo artigo, o autor apresenta uma análise estética das obras produzidas separadamente por Lange de Morretes e João Turin, mas que foram expostasjuntasnaqueleano.Éinteressantenotarqueoautorintercalaoscomentários sobre cada um dos artistas e suas obras, talvez para melhor expressar uma diferenciaçãoentreeles.Nessacrítica,Cesartambémanunciavaatemáticaparanista dos trabalhos desses artistas, embora não utilize esse termo, ele vê a influência da literaturaindianistaemalgunsesboçosdeTurine tambémdizqueemalgumasdas obrasdeLangeapaisageméapenasumacessórioparaexpressarfigurassimbólicas. Entreas21telasdaexposição,estavamobrasprimasdeLange,como Onde o belo une as nações ,queretratavaasCataratasdoIguaçue Tranqüilidade ,estapremiadacom MedalhadeBronzenoSalãoNacionaldeBelasArtes,em1927.Entreasobrasde Turinestavamesboços,algunsretratosecapitéisdepinheiros. Numartigopublicadono Diário da Tarde ,eleescreveusobreumavisitaque fezaoatelierdeLangedeMorretes: QuizoacasoqueencontrasseLangedeMorretes.Quizaminhabôasortequeopintorme levasseaoseuatelier. Eemnadaoexplendordaarteficavaadeveraoexplendordanatureza. Dirseiaqueasparedesdaofficinaeramrasgadasaquieali,abrindoparaapaysagemcheia deluzedeencanto. AfiguradeLangedeMorretes,singularemnossomeiodeveriadespertarmuitaantipathia, por chocar com contraste demasiado violento, muita mediocridade mais ou menos empenachadaaplaníciesósuportaasombradamontanhaporquenãoapodearrasar. Asuapintura,nervosa,impressionista,enoentantodeumapoesiaesplendidadeveriaferir muitaretinaacostumadaálithogravuracompretensõesaarte... Discutiusemuitoohomemeopintor.Poucagenteviunoprimeiroumdosmaisadmiráveis caractereseumdosmaiorescoraçõesdestaterra.Poucagenteviunosegundoapromessado maiorpintorbrasileirocontemporâneo.Équepoucagenteosviacomolhosamigos,capazes deenxergarclaroatravésdoretrahimentovoluntariodeLange. 113

Umpoetadapaysagem,definieuhaannosLangedeMorretes.Noentantomesmonaquelle tempoeujáconheciaalgunsestudosdenúdopintorejásentiaqueLangedeMorretesiria encontrarasuarealgrandezanapinturadasupremaobradebellezadivina:ocorpohumano. Sentia,ouantes,presentiaqueasgrandescomposiçõessymbolicasseriamoapicequeLange deMorretesprocuravanasuaansiadeperfeição. A largueza da sua cultura, a constante necessidade de conhecer o “porque” das cousas o levariamfatalmenteánecessidadedematerializarnatelaassuasconcepçõessobreavida. Dahiaattraçãoqueafiguraexerciasobreoespirito de Lange, quasi a pesar seu. Dahi o aspecto quase religioso dos seus pinheiros, que ele via menos como arvores de uma admirávellinhadebellezaquecomoumsymboloracialdoParaná.Sentiasesemprequeas paysagems de Lange eram como que o fundo das composições ainda informes na sua imaginaçãocreadora. Agora, mais livres nos seus movimentos tendo mais o direito de ser elle mesmo, Lange começaarealizarasuaobra,aquellaquemuitopossivelmenteficaránoseuatelier,masque seráamanhãarazãodeserdasuagloria. Duasgrandestellasaindainacabadasvihontem.Ambasdominadaspordoisadmiráveisnús. Ambasduasfigurasexplendidasdemodelagem,decolorido,devidaemprimeiraplanade paysagensmaravilhosas. Eemambas,symbolico,hierático,protector,opinheiro,briaréuvegetalerguendoparaocéu acumeaçaeriçadadeespículasdoscembraçosdesuaramaria. Em ambas as tellas o cunho marcado do pensador que já possue uma personalidade fortementeaccentuada. Emambassentesequeforampintadasporumpintorquenãosecontentaem ver ,masquer sabercomo vê , porque vê esobretudoqualaverdadeoccultaportrazdaapparencia,unica quepodever. Eaosahirdoatelier,tãoqueridoaomeucoraçãodeamigo,eusentiqueduasvezeseutivera razão. Langeéopoetadapaysagemmasseráamanhãophilosophodafigura...(CESAR,1930b,p. 2) Partindodesseartigo,seconstataqueastelasasquaisSamuelCesarserefere fazem parte da temática que, neste trabalho, se optou por chamar de Pinheiros e Dríades ,pormisturarfigurasmíticasfemininasnuascompinheiros.Entreessastelas estão:Alma da Floresta ,pertencenteàAssembléiaLegislativadoParaná,A Natureza , pertencente à Embap, e Remorso , que foi vendida pelo artista para a Noruega. O período em que essas telas foram pintadas coincide com o momento em que o MovimentoParanistaatingiuseuaugecomaspublicaçõesda Illustração Paranaense , ou seja, entre 1927 e 1930. Levando isso em conta, os escritos de Samuel Cesar recebem grande importância por trazerem informações que permitem compreender váriasquestõesreferentesaesseperíodo. *** 114

JoãoTurin 81 nasceuemPortodeCima,municípiodeMorretes(PR),nodia21 de setembro de 1878. Filho do imigrante italiano Giovani Baptista Turin que desembarcouem1877noPortodeParanaguácomsuaesposa Maria Angela Zanin TurinesuasfilhasFiorenzaeAngela.ApósalgunsanosemPortodeCima,devidoàs condições precárias e as dificuldades de adaptação climática, a família veio para Curitiba instandose numa chácara na Rua Dr. Pedrosa. Em 1887, Maria faleceu deixandosetefilhos.ApósasuamorteafamíliasemudouparaaChácaraFranca,na VilaGuaíra. Em 1890, aos 12 anos, João Turin trabalhou como aprendiz de ferreiro, torneiro,marceneiroeentalhadornamovelariaHenriqueHenke,localizadanamesma ruadesuaantigaresidência.OartistainiciouseusestudosemCuritiba,naEscolade Artes e Indústrias de Antônio Mariano de Lima. Conforme o registro das atas da escola de 1896, ele atuou como “alunoprofessor”. De 1902 a 1904, ingressou no SeminárioEpiscopaldeCuritiba,quefuncionavanoprédiodoInternatoParanaense, quedepoisseriaoColégioParanaense.“NoSeminário, estudouPortuguês,Francês. Latin, História Universal, Retórica, Geografia, Aritmética, Álgebra, Geometria e Religião.”(TURIN,1998,p.27).Láfezamizadese entreseusamigosestavaZaco Paraná XV ,quefreqüentouosemináriode1901a1903. Em1905,oEstadodoParaná,napessoadeVicenteMachado,lheconcedeu uma bolsa de estudos para aprimoramentos no exterior. Naquela ocasião, obteve a subvençãodogoverno,masnãoesperoureceberoprimeiropagamento,pediudinheiro emprestado e recebeu um pouco de seu pai e seguiu viagem para a Bélgica. Em Bruxelas,foimorarnumhotelnaRuaLouvin,ondetambémmoravaZacoParaná.Os doisestudaramjuntosnaRealAcademiadeBelasArtesdeBruxelas.Em1910,Zaco veioparaoBrasil,permaneceuporalgunsmeseseretornouàEuropa,fixandoseem Paris. JoãoTurincontinuouestudandonaRealAcademiadeBelasArtesdeBruxelas até 1909. Especializouse em escultura sob os ensinamentos de Charles Van der

81 Asinformaçõesreferentesaessaseçãotiveramcomobaseolivro A Arte de João Turin ,de Elisabete TURIN (1998), sobrinhaneta do artista. Esse é um dos livros mais importantes sobre a temáticadaarteparanista.Lançadoemcomemoraçãoaos120anosdenascimentodoescultor,olivro aindatraztextosdeoutrosautores. 115

Stappen, diretor da instituição. Como prêmio por merecimento curricular, Turin conquistouumatelier,carvãoparaaquecimentoemodelovivo.Doperíodoemque esteve em Bruxelas, há uma correspondência de João Turin dirigida a Romário Martins datada em 20 de março de 1906. Na carta, o escultor fala sobre suas premiações,pededesculpaspelademoraemdarnotícias,justificandoofatopelasmás condiçõesdesaúdeemqueseencontravadevidoaoclimabelga. Em1911,TurindeixouBruxelaseseguiuparaParispermanecendonacapital francesaaté1922.FixouresidêncianaRua Vercingetórix ,n°.52,em Montparnasse . FreqüentouvárioscafésdeParis,ondeconheceuomeioartísticoeintelectual.Logo noiníciodesuachegadaemParis,indicadoporseupaieporumamigo,serviucomo guiaturísticoparaduassenhorasbrasileirasemviagempelaFrançaepelaItália,oque lhe permitiu conhecer várias cidades históricas e o patrimônio cultural e artístico dessespaíses.NoperíodoemqueviveuemParisfezamizades,conseguiuencomendas artísticasesofreucomasconseqüênciasdaPrimeiraGuerraMundial. OartistaretornouaoBrasilnoiníciodomêsdenovembrode1922.Nesseano, o do centenário da Independência, o escultor expôs no Rio de Janeiro a estátua de Tiradentes ,trabalhoexecutadoemParisnomesmoano.Emjaneirode1923voltou paraCuritibaresidindo,primeiramente,nacasaateliercedidapelomunicípiosituada noaltodobairroSãoFrancisco.Depois,jánadécadade1930,semudouparaRua7de Setembro,esquinacomaRuaCoronelDulcídio,quandoconstruiusuacasaatelierem estiloparanista,noterrenoqueeradeseupai. Apartirde1923,JoãoTurinesteveenvolvidocomaelaboraçãodeumaarte representativa da identidade paranaense, influência do paranismo que vinha sendo proposto pelos estudos históricos e pela literatura, motivado também pela política local.ÉdesseperíodooencontrodeTurin,comGhelfieLangedeMorretes,emque criaramoestiloparanista.Nessaépoca,oparanismosetornaummovimentoaoatingir asartesplásticase musicais,surgearevista Illustração Paranense , criada por João BaptistaGroff,dequemTurinfoicompadrebatizandosuafilhaThelmaGroff.Além da capa da revista, Turin ilustrou diversos contos, crônicas e poesias. Nessa época, essesartistasseencontravamconstantemente,alémdoatelierdeGhelfi,oCaféBelas Artestambémeraumdoslocaispreferidosporeles. 116

NoSalãoNacionaldeBelasArtesdoRiodeJaneiro,JoãoTurinrecebeuduas medalhasporesculturascomatemáticadosfelinos.Oescultorrecebeu,em1944,a MedalhadePratapelaescultura Tigre Esmagando a Cobra e,em1947,aMedalhade Ouropelaescultura Luar do Sertão .EstasduasobrasforamvendidasàPrefeiturado RiodeJaneiro,sendoqueambasforamcolocadas,emespaçospúblicosdacidade.A obraTigre Esmagando a Cobra foicolocadanoZoológicodaQuintadaBoaVistae Luar do Sertão ,naPraçaGeneralOsório 82 .Em1947oescultortambémrecebeuduas medalhaspelobustodeDario Vellozo,aMedalhadePratanoSalãoPaulistadeBelas ArteseaMedalhadeOuronoSalãoParanaense. João Turin permaneceu no Rio de Janeiro algum tempo para resolver os trâmitesburocráticosreferentesàvendadesuasobras.SemprequeviajavaparaoRio deJaneiro,oescultorsehospedavanacasadopintorTheodoroDeBona,maridode Argentina,suasobrinha,quenaquelaépocamoravalácomafamília.Naocasiãoem quepermaneceunoRiodeJaneiroentreofinaldoanode1947atémaiode1948,o calorintensode40ºàsombraabalousuasaúde.Mesmosemconcluirasnegociações davendadesuasobrascomaPrefeituradaquelacidade,oartistaretornouaCuritiba, osassuntospendentesforamresolvidosporDeBonaeErboStenzel. JoãoTurinfaleceuemCuritibanodia9dejulhode1949,aos70anos,devido àproblemasdocoração.Segundoseusbiógrafos,nuncasecasou,poisnenhumdeseus envolvimentosamorosos,tantonaEuropacomonoBrasil,oconvenceuaassumirum compromissomaissério.ConsideradooprecursordaesculturanoParaná,destacouse como animalista e deixou um considerável acervo que inclui esculturas e baixos relevos,pinturas,monumentoshistóricoseoutrasobrasemlocaispúblicosdeCuritiba edemaismunicípiosparanaenses. *** João Baptista Groff nasceu em Curitiba, em 13 de dezembro de 1897. Descendente de imigrantes italianos, ainda menino ganhou uma lanterna mágica e começouaprojetarimagensdecartõespostaisparaascriançasdavizinhançacobrando

82 Reproduções de cada uma dessas obras foram colocadas em Curitiba, a primeira na AvenidaManoelRibas,entradadoParqueBarigüieaoutranaAvenidaCândidodeAbreu,próxima aoprédiodaPrefeituraMunicipaldeCuritiba. 117 entrada.Joanin,comoerachamadopelafamília,concluiuosseusestudosem1911no ColégioRepublicano.Noanoseguinte,ganhousuaprimeiramáquinafotográfica.Em 1915,aos18anos,setornouprofissionalemontouseupróprioestúdiofotográficona RuaXVdeNovembro.Produziaporcontaprópria,fotografavaaspaisagensdacidade e transformavaas em cartões postais. Foi o pioneiro da cidade no comércio de materiaisparafotografia.Trabalhoucomorepórterfotográficoda Gazeta do Povo ,do Cruzeiro edediversosjornaisdos Diários Associados . Em 1922 casouse com Leopoldina Cobbe, com quem teve quatro filhos. NessemesmoanofundouaEmpresaCinematográficaBrasileira,a Groff Filmes ,que produzia vídeos educativos, de propaganda e atualidades. Groff filmava, revelava, copiavaemontavaseusprópriosfilmes,sendoseusprimeirosfilmes“...registrosde ‘vistas’paranaenses,Curitiba,aspraias,ascidadeslitorâneas(Paranaguá,Antonina, Guaratuba), Ilha do Mel, o Pico de Marumbi, e também as Cataratas do Iguaçu e Guaíra.”(SANTOS,2005,p.103).Em1923,produziu oprimeirodeles,umlonga metragem que teve como tema as Cataratas do Iguaçu. Parte deste filme passou a integrarodocumentário As Sete Maravilhas da Natureza deWaltDisney.Em1926, recebeuumapremiaçãonoSalãoInternacionaldeParisporumafotografiaintitulada Crepúsculo ,cujotemaéduasvacasàbeiramar. Em1927,Groffcriouedirigiua Illustração Paranaense ,revistadeexcelente padrãográficoquecirculouregularmenteaté1930.Operiódicoserviucomoespaçode divulgação do meio artístico e intelectual local e do ideário paranista, retratando o processo de urbanização de Curitiba e do Estado através de vários elementos que auxiliavamnaconstruçãodeumaidéiademodernidade.Arevistavoltouasereditada pouquíssimas vezes nos anos seguintes, mas sem as mesmas pretensões, principalmenteaofocalizaraExposiçãoIndustrialde1932,cominúmerosanúncios publicitáriosdasempresasquefinanciaramaedição.Alémdisso,háumnúmeroda revistaemquetambémsenotaapropagandapolíticadoEstadoNovo,poisatémesmo acapa,aoinvésdodesenhodeJoãoTurin,trouxeumafotodeGetúlioVargas. Umdosexemplosdo idealde modernidade presentena “fase paranista” da Illustração Paranaense aparecenasimagensenostextosdeumsuplementodarevista. O livreto 10 minutos de leitura sobre o Paraná (SUPLEMENTO DA 118

ILLUSTRAÇÃOPARANAENSE,1929)trazdoistextossobreoParaná.Otextode abertura, o menor, é de autoria de R. M. [Romário Martins] que apresenta uma retrospectivadaimportânciasocial,econômicaeculturaldopinheiroparaoParaná, desde as tribos indígenas originárias da região até a atualidade, apontando para um futuropróximo.Jáosegundotexto,omaiordeles,cujaautoriatrazasiniciaisE.S., estádivididoemdoisblocos,sendoqueoprimeirodelestrazatualidadesparanaenses daqueleperíodoeosegundoapresentaumprojetoturísticoparaumaexcursãode15 diasou251½dias[sic ]noParanáemqueestavamcontabilizadastodasasdespesas. Épossívelperceberquetantoospontosturísticosdecarátergeográficoscomo os de importância cultural daquele período serviam como imagens e símbolos que representavam o Paraná. Entre os desenhos que ilustravam o livreto estavam estilizaçõesparanistasdeLangeeTurin,oEscudodoParaná,oretratodoPresidente doEstado(Dr.AffonsoCamargo)eomapadoParanáedoBrasil.Asfotos,deautoria de João Baptista Groff, tinham como tema vários elementos locais: pinheiros; a EstradadeFerrodoParaná(ViadutoCarvalhoeValedoIpiranga);osSaltosdeGuaíra edoIguaçu;VilaVelha;aEscolaNormaldeParanaguá;aUniversidadedoParaná,a CatedraleaRuaXVdeNovembroemCuritiba;aEscolaNormaleaRuaXVde Novembro em Ponta Grossa; as praias de Guaratuba e as grutas dos arredores de Curitiba.Asfotosemqueaparecempessoasretratamoscostumeslocais,ojogodo futeboleosrestaurantesechásdeCuritiba. Os mesmos elementos visuais e textuais dessa publicação apareceriam três anosdepoisemoutraediçãodamesmarevista,sóquedestavezcomtextoshistóricos deRomárioMartins,fotosdeJoãoBaptistaGroffecapadeLangedeMorretes.Entre oselementosvisuais,alémdasimagensquejáfiguravamnapublicaçãointeriormente comentada,haviaumdestaqueparaaspraçasemonumentosdeCuritiba,osprédios governamentais,alémdosbondeseavenidasdacidade.Entreostemastratadospor MARTINS(1931)estavamafundaçãodeCuritiba,acidadeem1931,aarteeartistas eomesmoprojetoturísticoparaumaexcursãocomentadoanteriormente.Interessante notartambémograndenúmerodepropagandasdosanuncianteslocais. 119

Em 1928 João Baptista Groff organizou a I Caravana da Illustração Paranaense rumo ao Pico do Marumby. Nessa expedição levou consigo Lange de Morretescomoilustrador,OdilonNegrãoeJurandirManfredinicomoencarregadosde descriçãoeCarlosStenbergdoVallecomoguia.Grofffotografouefilmouotrajetoda excursãoqueteveduraçãodetrêsdias. Adescrição desse evento foi publicada em artigos como o de MANFREDINI (1928b), o de NEGRÃO (1928b) e A ÚLTIMA ASCENÇÃOAOMARUMBY(1928),quedescrevemotrajetodacaravanadesdea saídadeMorretesàs3horasdamanhãde14dejunhode1928atéachegadaaoápice doMorumbiàs10horasdodia16daquelemês. Duranteopercurso,ogrupoacampounamataesofreucomoventoforteda região, acompanhados por um pequeno cão, eles atravessaram trechos perigosos da floresta virgem em que foi necessária abertura de picadas. Voltaram cansados e levementeferidos,masexuberadospelamagnitudedapaisagem,deixandosuamarca nolocal.DoisdesenhosfeitosporLangedeMorretesqueilustramostextossobrea expediçãoforampublicadosnarevista(figuras4e5):

FIGURA4– MORRETES,F.L.de. Preparando-se para o repouso no alto do Marumby .1928. Desenho. In: ILLUSTRAÇÃO PARANAENSE, 1928, n. 6, jun. Foto: Luis Afonso Salturi. 120

FIGURA5– MORRETES, F. L. de. No alto do Marumby . 1928. Desenho. In: ILLUSTRAÇÃO PARANAENSE,1928,n.7,jul.Foto:LuisAfonsoSalturi. Em Orophagia ,OdilonNEGRÃO(1928b)antecipavaoqueviriaapós esse acontecimento,anunciandoa II Caravana da Illustração Paranaense que,assimcomo aexcursãoanterior,teriacomointegrantesdogrupo“artistaseliteratospatrícios”.A excursão percorreria todas as praias do Paraná, passando por Guaratuba, Guaraqueçaba,IlhadasCobras,IlhadoMeleascidadesdeParanaguá,Antoninae Morretes.Nomesmonúmerodoperiódico,noartigoseguinteJurandirMANFREDINI (1928a)escrevia A derrota do Titan ,umcontosobreoMarumbibaseadonamitologia grecoromanaeOdilonNEGRÃO(1928a)escrevia O Bacanal de Nuvens ,umpoema dedicadoaoMarumbi. Duranteadécadade1930Groffvoltouaserocineastadoseventosoficiais. Em1930,porcontaprópria,acompanhouapassagemdas tropas revolucionárias de GetúlioVargas,captandoimagensquederamorigemaofilme Pátria Redimida 83 ,35 mm.Estefilmeéconsideradosuaobraprimaeumadasmaisimportantesdocinema 83 Umincêndioem1957destruiuofilmeoriginalquefoidoadoporJoãoBaptistaGroffà CinematecaBrasileira.Umaoutracópia,empossedafamília,tambémsequeimounumincêndioem São Paulo, em 1978. A Cinemateca de Curitiba realizou um trabalho de recuperação da obra, estabelecendo um roteiro semelhante ao original, através de doações de amigos e familiares do cineasta. 121 brasileiro,poismostraoiníciodaRevoluçãode1930emPortoAlegreeachegadade GetúlioVargasedastropasrevolucionáriasemCuritiba.Eleregistrouoscombatesno território paranaense, acompanhou a passagem dos revolucionários pela capital paulistaeapossedeGetúliocomopresidentenoPaláciodoCatete,encerrandosecom avisitadopresidenterevolucionárioaotúmulodeJoãoPessoa,naParaíba. Noanode1932GrofffilmouaRevoluçãoConstitucionalista,umaencomenda oficialsemomesmovigorde Pátria Redimida ,doqualutilizouváriostrechos.Noano seguinte tornouse documentarista do Estado do Paraná no período do governo ManoelRibas.Em1937filmouapassagemdodirigívelZeppelinsobreCuritibaea fundaçãodeváriascidadesdointeriordoEstado,entreelasLondrina. NoperíododaSegundaGuerraMundialGroffabandonoudefinitivamenteas filmagens. Em 1943 construiu o Cine América, localizado na Rua Voluntários da Pátria.Aantesaladorecintodeprojeçãoserviacomopontodeencontrodevários artistasqueexpunhamecomercializavamsuasobras,entreosquaisJoãoTurin,Arthur Nísio,TheodoroDeBonna,LangedeMorretes,Estanislau Traple, Miguel Bakun e GuidoViaro.Alémdeatuarcomofotógrafo,cineasta,editorepintor,Grofffoium mecenas dos artistas, emprestandolhes dinheiro e vendendo suas obras, além de organizarespaçosparaquedivulgassemseustrabalhos. Na última fase de sua vida, ele dedicouse à pintura, como autodidata. Em 1952pintousuaprimeiratela,intitulada O Ipê .Doisanosmaistarde,comLangede Morretes como testemunha, pintou um quadro artisticamente mais aprimorado. Na pinturadeixouumaextensaobra,amaiorparteempossedafamília,poisnãovendia suastelas.ObteveumamedalhadeouronoXISalãodaPrimavera,em1959,noClube Concórdia.Foivítimadeumderramequelhetirouafalaeaautonomia.Faleceuem Curitibaem30dejunhode1970. *** Essecapítulomostroucomoadiscussãosobreasdiferençaentreosconceitos de paranismo e de Movimento Paranista guarda uma grande importância, já que somente através dela é possível fornecer uma explicação mais convincente sobre o nascimentodoreferidomovimentoeaspretensõesdeseusprincipaisrepresentantes. Através da perspectiva do “eu”, salientada por Norbert Elias e adotada durante a 122 análise, foi possível entender os propósitos dos paranistas distanciandose da interpretaçãobaseadanarelaçãodedominaçãopolíticaedoimaginárioentreclasses sociais. Nesse caso, o empenho dos paranistas na construção e divulgação de uma identidade para o Paraná pode ser explicado melhor partindo dessa perspectiva analítica, considerando também as especificidades da repercussão do paranismo, enquantoideal,eodesenvolvimentoculturaldasociedadeparanaense. No que diz respeito ao tema Movimento Paranista, a contribuição da sociologiasetornoufundamental,jáqueascategoriassociológicas habitus ecampo, dePierreBourdieu,serviramparaentenderqualeraoprincípiogeradordaspráticase representaçõesdosparanistaseasconexõesqueseestabeleceramentreoscamposque compunhamomovimento.Nesseúltimocaso,aoseconsiderarqueaautonomiadeum campoéregidapeloprincípiodehierarquizaçãoexternaeinterna,tentousemostrar comosedeuaconsolidaçãodocampodasartesplásticasnoEstadoesuarelaçãocom osdemaiscamposenvolvidoscomapropostaparanista.Alémdisso,aflexibilidadedo conceito de figuração, desenvolvido por Norbert Elias, foi muito importante para a abordagemteóricadessecapítulo,ajudandoaentendercomoseestabeleceramasredes derelaçõessociaisentreosparanistasesuasligaçõescomgruposeinstituições.Essa explicação em forma de teia de interdependência reflete de forma mais fiel as interaçõesentreosindivíduosqueparticiparamdomovimento. Diante dessas questões, fica claro que o Movimento Paranista nas artes plásticaspodesercompreendidomelhorseforlevadoemcontatrêsinstânciasnessa redederelaçõessociaisqueenglobaindivíduosrepresentantesdediferentescampos:o mecenato,acríticaartísticaealigaçãodeamizadesentreosparanistas.Sendoassim, paraexemplificaressesapontamentos,arevista Illustração Paranaense podeservista comoprodutoculturaleumsímbolo,nãosódessateia derelaçõessociais, masdo próprioidealparanista. 123

4 ARTES GRÁFICAS, DESENHO E PINTURA

Numa tarde, cheia de claridade, embrenhei-me na floresta. Por entre as verdes copas, escoavam-se, tremeluzindo, feixes de luz, auriorlando as ramagens e colorindo os cinzeos troncos com manchas de sol. Procurei segurar na tela os raios, que tornavam a sombra ainda mais fria e profunda. No afã de progredir um pouco além, procurando a verdade, misteriosamente confusa à fantasia, o tempo corria. Entristecido com o efeito alcançado em querer separar da verdade a ilusão, movimentei-me, um pouco abatido, arrastando os pés. Parei deante de um pinheirinho. Era tão lindo, que lhe passei, cheio de carinho, a mão pela crista. – És, embora tão pequeno, tão formoso já. Todos os bons pinheiros assim como os lídimos artistas ganham vulto através dos séculos. Um dia serás um grande pinheiro e abrirás os teus braços para apanhar a luz que vem do alto, então, lembrar-te-ás de um pintor que amava muito os pinheiros e pretendia fazer o mesmo que tu. Ergue-te bem direito, porque os pinheiros têm que ser retos. Frederico Lange de Morretes84

FIGURA6– TRAPLE, E. Frederico Lange de Morretes, Anatomia e Fisiologia . 1954. 1 óleo sobretela:colorido;34x44,5cm.EscoladeMúsicaeBelasArtesdoParaná,Curitiba. Foto:LuisAfonsoSalturi. 84 MORRETES,F.L.de. Um pedaço do Brasil ,1937,p.3. 124

Essecapítulopretendeidentificarinfluênciasdeestilos,diferentestemáticase aspectossimbólicosdaarteproduzidaporFredericoLangedeMorretes.Paraanalisar suaobra,foiprecisobuscaremsuatrajetóriafatoshistóricoseaspectossociaisquese encontravam incutidos em sua produção. Através desse procedimento, procurouse relacionar o social com o artístico, mostrando a influência que o artista e sua obra receberamtantodoambientesocialemqueviveu,quantodocampoartísticodoqual fezparte.Apartirdisso,procurousecompreenderoolhardesseartistaparaanatureza, temadamaiorpartedesuastelas. A primeira seção desse capítulo trata sobre a formação de Lange nas artes gráficaseodesenvolvimentodaestilizaçãoparanista–suacriaçãoecontribuiçãopara omovimentodemesmonome.Aseçãoseguintetratasobreaformaçãodoartistana áreadapintura,aoapresentar,demodogeral,ascaracterísticasestilísticasdesuaarte pictórica.Ofiocondutordessaanálisefoiolevantamentoinicialdealgunselementos queaparecemdeformaconstanteemsuastelasdediferentesépocas 85 ,oquepermitiu olharsuaobrademodogeraleapontaralgumasclassificações. 4.1AESTILIZAÇÃOPARANISTA Como foi dito nos capítulos anteriores, o contato inicial com Alfredo AndersenfoidecisivoparaodirecionamentodacarreiraartísticadeFredericoLange deMorretes.Alémdetêlointroduzidonapráticadapintura,foiatravésdoapoiodo pintor norueguês que Lange de Morretes conseguiu uma bolsa de estudos das autoridadespolíticasparapoderseaperfeiçoarnaEuropa.Porém,noqueserefereao seuestiloeaoseuconhecimentoartístico,foinaAlemanhaqueelerecebeuinfluências maissólidas. Na Alemanha, o contato de Lange de Morretes com seus professores influencioudeformacrucialsuaformaçãoprofissionalesuaproduçãoartística.Esses profissionaiseramadeptosdedeterminadosestilosemovimentosartísticosemvoga na Europa daquele período e Lange de Morretes acabaria sendo influenciado pelas linguagensartísticaseuropéias.Noqueserefereàsartesgráficas,quandoaindaera

85 TratasedoApêndice3, Produção Artística . 125 estudante,podesedestacarcomomaissignificativososcontatosqueteve,emLeipzig, comWalterTiemann XVI e,emMunique,comAngeloJank XVII ,artistasquecertamente contribuíramparaodesenvolvimentotécnicodeseudesenho. Tiemanntinhaumavastaexperiênciacomoartistagráfico,tendo trabalhado paraváriaseditorasalemãsantesedepoisquesetornouprofessor.Alémdeprofessor, foidiretordaRealAcademiadeArtesGráficas,em Leipzig. Sob sua direção, essa academiaganhoureputaçãomundialcomoinstituiçãoespecializadaemlivrosdearte. Contudo,suacarreiratevecomomarcaumnúmeroconsideráveldecaracteres(fontes ouestilosdeletras)quedesenvolveuduranteanos.Jankprojetoupôsteresedeixoua sua marca como ilustrador humorístico, de retratos alegóricos e de cenas da vida militar. Foi colaborador para os periódicos Jugend e Simplicissimus , revistas da vanguardadomodernismoedaArteNova(ou Art Nouveau ),aartedecorativaque surgiunadécadade1890. AArteNovafoiumdosestilosquemarcouessesartistas.Aorepercutirem diversos países, esse estilo recebeu diferentes nomes, assumiu aspectos variados e influenciou movimentos artísticos posteriores 86 . O estilo Arte Nova, que abarcou o design ,apintura,aescultura,asartesgráficaseaarquitetura, utilizava formas que remetemaomundonaturaleorgânico,tendocomocaracterísticasmaismarcantes:a linha chicotada (linhasassimétricasqueexpressavamomovimentodavida); motivos da flora (evocaçãodeflores,folhas,frutos,espinhosecaulesdosvegetais);motivos da fauna (animaiseinsetoscomorãs,aves,libélulaseborboletas)emotivos associados ao corpo feminino (comocabelosestilizados).Valelembrarqueos motivos da flora e da fauna receberamumaforteinfluênciado japonesismo ,ouseja,daartejaponesaque fezmuitosucessonaqueleperíodoinfluenciandotambémoImpressionismo,estiloque surgiunaFrançaerepercutiuportodaaEuropa.

86 DeacordocomBernardCHAMPIGNEULLE(1984,p.911)onome Art Nouveau figurou nocabeçalhodagaleriadeartequeSamuelBingabriuemParisem1896.Contudo,poresnobismo,os franceses nomearamna Modern Style .NaAlemanhafoidadoonome Jugendstil , tirado da revista Jugend queopropagou.Onome Sezessionstil remeteaogrupo Sezession ,surgidoemVienaequese expandiu pela Europa Central. Os italianos adotaram os nomes stile Liberty ou stile Nuovo e os americanos style Tiffany ,donomedeseuprincipalrepresentante.Domesmomodo,naEspanha,além de Modernista e Arte Jovem ,foiadotadootermo style Gaudí .Alémdesses,existemoutrosnomesque surgiramdederivações. 126

TantooImpressionismoquantoaArteNovaforammovimentosquemarcaram a passagem do século XIX para o século seguinte. No que se refere ao Impressionismo, a Arte Nova não teve nenhuma aceitação por parte dele, pois se dirigiaparaumaexpressãoplásticacontrária.SegundoBernardCHAMPIGNEULLE (1984, p. 20), enquanto os impressionistas eram paisagistas que transmitiam as sensaçõespessoaisdiantedoespetáculodanatureza,osmestresdaArteNovaeram “naturalistas abstratos” que buscavam inspiração nas descrições dos elementos naturais, particularmente dos vegetais, e que queriam transformálos no repertório decorativo,destinadoadotaraépocadeumestilonovo. FredericoLangedeMorretesvivencioutodasessastendênciasartísticas.Pode sedizerqueenquantosuapinturarecebeuinfluênciadoImpressionismo,seudesenho foi influenciado pela Arte Nova ou pelo Jugendstil , como era chamado o estilo na Alemanha. Apesar de que, esteticamente, alguns desenhos de arte decorativa desenvolvidos por ele não se enquadrem totalmente nos preceitos básicos da Arte Nova e venham a se aproximar da Art Déco 87 – principalmente porque o artista privilegiaas linhas simétricas aoinvésdaassimetriadalinha chicotada –ainfluência decisivaresidenos motivos daArteNova.Issopodeservistoemsua Estilização de pinheiro, pinha e pinhões (figura7):

87 Art Déco éoestilode design edecoraçãodeinterioresqueprevaleceunaEuropaenos EstadosUnidosaolongodasdécadasde1920e1930equedeveseunomeàExposiçãoInternacional de Artes Decorativas e Industriais Modernas ( Exposition Internationale des Arts Décoratifs et Industriels Modernes ),realizadaemParis,em1925.Esseestiloestavadealgummodoligadoaoestilo Art Nouveau , porém caracterizavase pelo uso de formas geométricas ou estilizadas, em vez de orgânicas.(CHILVERS,I. Dicionário Oxford de arte .SãoPaulo:MartinsFontes,1996,p.29) 127

FIGURA7– MORRETES, F. L. de. Estilização do pinheiro, pinha e pinhões . In: MORRETES, 1953,p.168169. 128

Nocampoartísticodesuaépoca,LangedeMorretesnãofoioúnicoartista paranaense marcado pelos motivos da flora e fauna da Arte Nova. Utilizando o conceitodeNorbertElias,podesedizerqueafiguraçãoqueseconstituiuemCuritiba emmeadosdadécadade1920mostraquaiseramascondiçõessociaisquepermitiram a criação de um estilo decorativo variante dos estilos europeus, vinculado a um movimento regional. Naquele período, a elite políticoeconômica de Curitiba se preocupavaemformarumaidentidadeparaoParaná.Essapreocupaçãoultrapassoua esferapolíticaesepropagouparaaesferacultural,inicialmentenosestudospolíticose históricose,depois,nasartesvisuaisemusicais.Nasartesplásticas,talpreocupação sensibilizouváriosartistas.Lange,quehaviaretornadodaAlemanhahápoucotempo, mantinhacontatoconstantecomGhelfieTurin.Asociabilidadeentreelescontribuiu deformasignificativaparaquesedesenvolvessedefinitivamenteummovimentonas artesplásticasnoParanácompreocupaçõesnaesferasocial,políticaecultural,porém, pautadoemlinguagensartísticasestrangeirasquejáestavamumpoucoforademoda. Lange,GhefieTurinelaboraramumaestilizaçãocujoobjetivoerarepresentar simbolicamente o Estado através de elementos buscados na natureza paranaense. A estilizaçãoparanistaeraumaartedecorativaque,naspalavrasdeTurin,surgiacomo intuito de “combater as criações estrangeiras”. Principalmente, ao substituir nos trabalhosartísticosdesenvolvidosnoEstado,os motivos da flora e fauna deinfluência européiaporelementosparanaenses(ouparanistas).Éoquesepodeconcluirapartir deumartigodeJoãoTurin,cujadataemquefoiescritoéimpossíveldeterminar,mas quecertamenteserefereaoperíodoemqueoMovimentoParanistaestavaemvoga. Segueentão,naíntegra,oreferidoartigo,intitulado A Arte Decorativa no Brasil : A arte decorativa que se possa chamar de brasileira não existe até agora no Brasil, tanto assim, que do norte ao sul, todos os artistas se reúnem sentindo a imperiosa necessidade de um esforço para combater as criações estrangeiras. São unânimes em proclamar que o Brasil necessita de uma arte genuinamente nossa, mas até agora nada se tem feito nesse grande país. BastaolharmososedifícioseasmoradasdoAmazonasao RioGrandedoSul,paratermosacertezaqueaquiétudocópiadoquefoifeitomilvezesna velhaEuropa.TodososmoldesoumodelosvêmprontosdaEuropa,ésóaplicálos. Os nossos arquitetos e os nossos artistas deram-se a pena de olharem para essa deslumbrante flora, a mais rica do mundo, onde existem elementos preciosos e suficientes para uma decoração genuinamente nossa e moderna, entretanto até agora desprezada, na sua exuberante beleza, para dar lugar a ornamentos estrangeiros, que chegam deturpados dos modelos primitivos. 129

Vemoscolocaremnosinterioresdenossasmoradas,nasfachadasdosedifícios,ornamentos de todas asépocas, mostrando assim, a ignorânciaabsolutade queé um estilo. Os mais culpados são os nossos arquitetos, porque são encarregados da criação e construção de nossascidades.Osconstrutoresemgeralnãotêmoconhecimentosuficienteparadistinguir umcapitelgrego,dogóticooutoscano.Essesconstroemsegundoosplanoquelhesãodados enãopodemternemointeresse,nemodesejodeprocurarornarcomumestilonacionala obraquenãocriaram.Masosnossosarquitetosvivemnomeiodessavariedadedearbustos, folhasefrutostãobelos,tãooriginaiscomoforamaspalmeiraseolótusdoEgito,comoa folhadeacantodaGréciaquesefezofamosocapitelcoríntio,comootetoqueosgóticos ornavam as maravilhosas catedrais e não vêem nada de interessante para estudar, para estilizareaplicaremsuascriações. É incompreensível essa falta de desejo de observação e de amor à terra nativa. Não se compreendequeumartistapossaviverescravodascriaçõesdeoutrospovosenãoaproveite afloradessaterrafecunda,ricaebela.Supõemqueosproprietáriosnãoaceitemdecorações modernas.Achoqueébemfácilconvencerumhomemquepassouavidatrabalhandosó paraenriquecerequedeartenãoentendeabsolutamentenada,aceitatudooqueoarquiteto lhepropõe.Vistonãosaberdistinguiromodernodoantigo,tudoestánavontadedoarquiteto enadamais. De todos os estados do Brasil, o único é o Paraná que possui um início de arte decorativa indígena e para provar ali estão: o Salão Paranaense do Clube Curitibano, por ordem do Senhor Ulysses Vieira e a fachada da casa do Dr. Leinig, os únicos que tiveram a audácia de aceitar a minha proposta de decorar com estilização, inspirando- me no gigantesco pinheiro. Apesar dessas decorações não serem mais que um esboço do que desejo executar, já está ali lançada a base de um estilo, quer queira ou não, será incontestavelmente o estilo paranaense, que tem por base o arbusto gigantesco que simboliza esse solo maravilhoso onde nascemos. Os artistas egípcios, há sete mil anos, eram menos escravos do que nós, cortaram a sua palmeiraeornaramnacomolótuseasfolhasdopapiroecolocaramnanosseustemplos.A colunaestavafeitaedeviaservirdemodeloatodosospovossubmissosdaantiguidade,a forçacriadoradaquelegrandepovo. Nós temos o pinheiro, essa coluna maravilhosa, só é necessário orná-la com seus frutos e folhas para igualar-se em grandeza e beleza às colunas do Egito, Roma e Grécia antiga. Por que o desprezamos? O que falta em Curitiba, é um arquiteto que tenha a audácia e a coragem de colaborar para essa grande obra de liberdade artística que é a mais alta expressão da alma livre de um povo. Decorar os templos, edifícios e moradas com criações inspiradas em nossa deslumbrante flora, é vivermos unidos com a beleza natural desse solo, que faz parte integral de nossa própria vida. É quebrar as correntes que nos retêm escravos do pensamento e da criação estrangeira, é mostrar aos que nos visitam que também temos a liberdade de pensar e de plasmar o que sentimos como um povo livre. O povo que copia tudo o que é estrangeiro e se submete vergonhosamente à vontade dos outros povos, sem ter a força de agir e de pensar por si próprio é um povo escravo, que não pode ter o direito de se apresentar em uma assembléia de homens livres e civilizados. [grifomeu](TURIN,semdata,nãopaginado) EmreferênciaaotextodeJoãoTurin,conformecomentáriodeLoioPÉRSIO (1998,p.163164),oescultorsonhavacomumaArteNovagenuinamentebrasileira, mas que se confundia com um nacionalismo de ficção, que remete à literatura indianistadeescritorescomoJosédeAlencareCarlosGomes.Paraomesmoautor, essetextosoacomoo“discursodemagógicoepatrioteiro”doModernismolocal,que 130 mistura de maneira abstrusa o nacionalismo oligárquicoburguês e algumas idéias libertáriasqueprecederamofascismo.Nele,seencobreaformaçãohistóricabrasileira easdiferençassocioeconômicas,peloqueseocultaoprópriosentidodaarte. Tendoemvistaessesapontamentos,noqueserefereàarquitetura,haviauma dificuldade na aplicação dessa arte decorativa devido à falta de arquitetos que aderissemàproposta.Assim,quantoaosprojetosarquitetônicosparanistasdeTurin– queprocurousuprirafaltadeprofissionaisdaárea–poucosseconcretizaram.Dos seusprojetos,muitosficaramapenasnopapel,outrosseperderamcomtempoealguns atéforamrealizados, massema mesmaoriginalidade.Desdeoprimeiroesboçodo capitelparanaense,surgidonaocasiãodosestudosaoladodeseusamigospintores,o escultorelaborouprojetosarquitetônicoscomumagrandevariedadededesenhosde capitéiscommotivosdepinheiro. Em âmbito geral, além do pinheiro, outros elementos da flora e fauna paranaense fizeram parte da estilização paranista, entre os quais a palmeira, a guabiroba, a pitanga, o maracujá, o café, a ervamate e também a gralhaazul e os índios da região 88 .Noentanto,nasartesgráficas,LangedeMorretes conseguiu dar maior destaque ao pinheiro dentre todos esses outros elementos. Isto porque, ao elaborarseusdesenhos,oartistaconsiderouascaracterísticasgeométricasebotânicas daárvore. Quanto às características geométricas e botânicas, o nome científico do pinheiroé Araucaria augustifolia (Bertol)O.Kuntze 89 ,seutamanhovariaentre20e 50 m de altura, suas folhas são duras e perenes, seu tronco é reto, uniforme e cilíndrico,chegandoamediraté2mdediâmetro.Aárvorechegaaviverentre200e

88 Emboraatualmenterestempoucosexemplaresdessestrabalhos,umexemplofortedisso são alguns desenhos de capitéis paranistas de autoria de João Turin com decoração de palmeira, guabiroba,maracujáepinheiro,quepertenciamaoacervodeOsvaldoPiloto. 89 A espécie pertence à família Araucariaceae . O gênero Araucaria é exclusivo do hemisfériosulterrestre,comespéciesdistribuídasentreaAustrália,NovaGuinéeAméricadoSul.A espécie augustifolia apresentaváriosnomesvulgaresoupopulares.Osíndiosbrasileirosabatizaram como cori , curi e curiúva .Aárvoreéchamadadearaucária,pinheirodoparaná,pinheiroaraucária, pinheirocaiová, pinheirocajuva, pinheirochorão, pinheiroelegante, pinheiromacaco, pinheiro machofêmea, pinheirodamissões, pinheirodapontabranca, pinheiropreto, pinheirorajado, pinheirosãojosé,pinho,pinheirobrancoepinheirobrasileiro.NaArgentina,éconhecidacomo piño parana e piño misionero enoParaguai,como kuri’y .Naliteraturainglesaéchamada Brazilian pine ou Parana pine .(CORRÊA;KOCH,2002,p.37) 131

300 anos. Quando jovem sua copa apresenta forma cônica, com os ramos bastante simétricos,masquandoadultoapresentaaformadeumguardachuva.Éumindivíduo dióico, ou seja, existem árvores femininas e masculinas separadamente 90 . As suas sementessãoospinhões,quesedesenvolvemapartirdeóvulosnus,característicaque incluiaespécieentreas gimnospermas .Emagrupamentosdensos,aárvoretemsua distribuição geográfica desde a parte leste do planalto meridional do Brasil, compreendendoosestadosdoParaná,SantaCatarinaeRioGrandedoSul,ocorrendo, aindanosuldeSãoPauloenaSerradaMantiqueira,internandoseatéosuldeMinas GeraiseRiodeJaneiro. Emrelaçãoàquestãodocampodasartesplásticaseàaplicaçãodaestilização paranista, entre meados da década de 1920 e o fim da década seguinte, a prática artística,asquestõespolíticaseodesejodepertencimentoaumaeliteeconômicase encontravam articulados. Isso pode ser visto claramente num artigo de Leoncio CORREIA(1930)publicadona Illustração Paranaense ,noqualficanítidaaidéiaque oautorqueriapassardequeeradesejávelsersóciodoClubeCuritibano,espaçoque garantia a sociabilidade dessa elite, ao mesmo tempo em que divulgava um ideário paranista. Noreferidoartigo,oautorressaltaasinstalaçõesluxuosas,onúmerodesócios eagrandiosidadefísicadasegundasededoclube,situadanaRuaXVdeNovembro com a Rua Barão do Rio Branco. O artigo ainda apresenta fotos faciais dos componentes do quadro administrativo do clube, todo formado por homens. Além dessas, há fotos das salas do clube feitas por João Baptista Groff. Nelas, o Salão Paranaense do clube aparece com detalhes da arquitetura paranista feita por Turin, merecendodestaqueoacabamentodotetoeafonteornamentalnocentrodasala.Jána BibliotecaParanaenseodestaqueédadoparaasparedesornamentadascommotivos paranistasfeitosporF.SzabonoatelierdamarcenariaMaida&Irmãos.Aofalarsobre a decoração dessas instalações, o autor comenta sobre os símbolos paranistas, merecendodestaqueopinheiro,aervamateeocafé. 90 Omingoteéaflormasculinadopinheiro,seupólenédisseminadopeloventoatéfecundar asárvoresfemininas,estaspossuemapinhaouestróbilo,queéaflorqueconstituioórgãofeminino daplanta.Emborararas,foramencontradasárvoreshermafroditas,masosbotânicosatribuíramcomo causa das alterações os traumas provocados por cortes rasos e ataques de parasitas nas árvores. (CORRÊA;KOCH,2002,p.39) 132

Numaleituraassíduadosdiversosartigosda Illustração Paranaense ,senota como os artistas tiveram um papel fundamental para a repercussão do Movimento Paranista.Lange,TurineGhelfifizeramcomqueoParanáfosserepresentadodentro das artes, na medida em que tornaram conhecida uma arte decorativa baseada no pinheiro. A estilização paranista, criada por eles, teve diversas aplicações. Ela foi usada como vinhetas ilustrativas na própria Illustração Paranaense e outras publicações,emtrabalhosmanuais,ementalhesdemóveisemoldurasdequadrosena arquiteturalocal,comoacasaatelierdeTurin,noSalãoParanaensedaantigasededo ClubeCuritibanoenacasadoDr.Leinig,imóveisquenãoforampreservados 91 . Essaestilizaçãofoiensinadaaosescolarespormaisdeduasdécadastantono atelierescoladeLangedeMorretesquantonaEscolaNormalSecundária.Apartirdo depoimentodeLuísPilotto,umdosalunosquefreqüentouoatelierescoladoartista no início da década de 1930 junto com sua irmã Alice, podese ter uma idéia, primeiramente, de como eram as aulas e, depois, como eram ensinadas essas estilizações: Eufuialunovoluntário[deLangedeMorretes],nãotinhacursoorganizado.Quemquisesse estudar desenho ia [até]lá no atelierdele. E minha irmã Alice Pilotto, era professora de desenhoeomeuirmãoOswaldoPilottoeraconhecidodoLangedeMorretes.EaAlicefoi estudarnoatelierdoLangedeMorretes.(...)Aaulacomeçavaàs8:00horaseelaeralána RuaCoronelDulcídio,pertodaRua[Petit]Carneiroeparaminhairmãnãoirsozinha(...), porque[arua]era[muitomovimentada,poispassava]ônibus,bonde,nósíamosatéoatelier doLangeparaestarláàs8:00horasdamanhãecomoeutinhatendênciaparaodesenhoeu levavasemprepapelefuidesenhandolá.Quemtomavaconta–oLangeviajavamuito–e quemtomavaconta,comomaisantigodoatelier,eraoAugustoConte.É...Entãonósíamos ládemanhã.Eunãolembrosediariamente,euachoquenão.(...) Euestavanosegundoanodoginásio.(...)[Foiem]1933,maisoumenos.Entãonósíamos lá,cadaumescolhiaoquequisessepintareiapintandoeoAugustoContefaziacomentário sobreotrabalhodecadaum.Issoeranumsalãogrande,tãogrande,tinhanovemetrose pegavaacasaresidencialdoLange,entãoeuconhecidonaBertha,asenhoradoLangede Morretes.(PILOTTO,2004,entrevista) Noseudepoimento,LuísPilottoconseguetrazermuitosdetalhesdasaulasde Lange que permaneceram vivos em sua memória. Naquele atelierescola, Lange

91 AcasaatelierdeJoãoTurinselocalizavanaRua7deSetembro,nº.2779esquinacoma RuaCoronelDulcídio.Noiníciodadécadade1950,apropriedadefoivendidaeoatelierdemolido.O SalãoParanaense,naRuaBarãodoRioBrancoesquinacomaRuaXVdeNovembro,tambémfoi demolidonadécadade1950.AcasadoDr.BernardoLeinig,localizadanaRuaJoséLoureiro,nº.245, teveomesmodestino. 133 impregnou a sensibilidade de seus alunos com algo que Luís Pilotto chama de pinheirismo . Para este, “Pinheirismo é aquele modo de sentir e expressar amor e entusiasmo–admiração!–peloParanáesuagente,atravésdosimbolismoimponente do pinheiro.” (PILOTTO, 2004, entrevista). Portanto, a representação artística vinculada à natureza serviu para promover a identidade regional proposta pelo MovimentoParanista. Aocontinuaroseudepoimento,Pilottofalasobrecomoeraotratamentode Langecomseusalunosecomoesteensinavaapintaropinheirodandoformacomoo mesmoseapresentananatureza: OLangedeMorreteseramuitoaustero.Euachavapeladiferençadeidade.Umacoisamuito interessantefoioseguinte:Segundafeira,naaula,cadaalunomostravaoquetinhafeitona semanaeoLangefaziacrítica.Eessaeumelembromuitobemporquedespertouaminha atenção. O Augusto Conte mostrou um pinheiro que tinha pintado. E ele – o Lange de Morretes–disse: –Vocêsnãoaprendem!Vocêsfazemàsilhueta,silhuetadopinheiro,quandoopinheirotem corpo.Eleéredondo.Eletemvolume.Evocêsnãopesamisso!Euvoumostrarparavocês comoéqueagenteconstróiopinheiro. Euaticeitodasasminhasatenções.Eelepegouocavaleteeumafolhadepapeledisse: –Olha!Primeiracoisa:opinheiroévertical.Essepinheirotortonãotem! Edeualiumaexplicaçãoporqueopinheiroeravertical,agerminaçãodopinheiro,etc.Bom, depoisosramos,quandoopinheiro,depoisdegrandeecoisaetal...Efoidesenhandoaté terminar um desenho grande do pinheiro grande. E deu [explicação sobre] cada uma daquelaspartes:otronco,osgalhos,eetc.Eelechegounacaruma–carumaéapinha–eo sapé–osapéaqueleramozinho.Efoidetalhandoaquilotudoparaconstruir[odesenhodo pinheiro].Eaquiloeupresteitantaatençãoenuncameesqueci.Ehojeeuachoqueeupinto bemopinheiro,desenhobemopinheiro,pinturacomaquarela.Euseiascaracterísticasdo pinheiro.EfoiessaaulaqueeurecebidoLangedeMorretesqueficounaminhamemória. Cadavezqueeupegavaumpinheiro,desenhodepinheiro,umafotografiadepinheiro,euia ver se estava dentro daquelas características realmente. E foi assim queeu dediqueiessa curiosidade,atençãopelopinheiro.Tenhoumacoleçãodedesenhosqueeufalheieuso,e crio,guardei,equeestãodentrodessacaracterística,procurandosempredaraotroncoessa imponência,essaaltura,essaaltivez,procurandoatingirocéu! Ecomosseusramos,cadaramoumacarumaeacarumafazendocomqueformasseabola. OinteressantequeoLangechamavaatençãoquegeralmente quando pintam um pinheiro fazemumabola,equenãoépropriamenteumabola.Temogalho,têmosgalhosquevão formandoascarumas,essesgalhosmenores...Evãoformandodetalordem,queissotudo, comaarticulaçãotoda,formaabola,maséformadoporgalhosinhospequenos,formandoa caruma.Unsvemmaispracá,outrosmenores,etc.Éissoaqui![apontaparaodesenhoque estáfazendo]Éque...LáestáumquadrodoDeBona,alunodeAndersen,[apontaparaum quadronaparede]equeagentenotaqueéumabola,masbemdeverdade,nocentrodetudo issoaquitemogalhoinicialdaondeseformamascarumas.(PILOTTO,2004,entrevista) Esse depoimento mostra a ligação íntima entre a arte e o conhecimento científicoqueLangedeMorretesprocuravamantererepassarparaseusalunos.Fato 134 queatélembraumpoucoosestudosdeperspectivaquesedesenvolveramapartirdo Renascimento,períodomarcadopelodesejodeaproximararepresentaçãopictóricada realidadevisual.Domesmomodoqueparaarealizaçãodasobrasdedesenhoepintura renascentistasoconhecimentodaperspectivaeraprimordial,paradesenharepintaro pinheiroeranecessáriooconhecimentodegeometria.Certavez,Langeadvertiuseus alunosdizendo:“Opinheirotemanatomia,éumgiganteharmonioso.Vocês,emuitos, pintamopinheiromutilado,numsóplano,achatadocomosilhueta,quandoelepossui volume,éarredondado,comoqueum guarda-chuva .”(PILOTTO,1992,p.19).Sendo assim,osaspectosbotânicosdopinheiroaguçaramoolhardeLange,queviaaárvore de uma forma geométrica tanto em seus trabalhos de pintura quanto nos de artes gráficas. Luís Pilotto comenta sobre uma conferência lida por seu irmão Osvaldo Pilotto no Centro Paranaense Feminino de Cultura e no Círculo de Estudos Bandeirantes,naqualOsvaldodescreveaelaboraçãodo Pinhão Geométrico deLange deMorretes(figura8): Sobre uma reta qualquer IJ, marcase umponto Cpelo qual se tira uma perpendicular à mesma.Prolongaseestaperpendicularabaixodareta.Tomandocomomóduloametadeda larguraquesequeiradaràfigura,aplicaseesseseguimentoemCKeCL,bemcomoduas vezes acima e três vezes abaixo do ponto C sobre a perpendicular IJ. Obtémse assim, respectivamente,ospontosAeB,D,EeF.LigamseospontosKeLaopontoF.Com centro em C e raio igual ao módulo, traçase a arco GAH que encontra em G e H a perpendicularGHtiradaaomeiodosegmentoAB.Tiramse as bissetrizes CM e CN dos ângulosretosBCKeBCL.FicamassimdeterminadosospontosOeP.Comraioigualà distânciaOGefazendoocentroemOeGdeterminaseopontoQ.Procedeseanalogamente comrelaçãoaospontosPeHparadeterminaropontoR.FazendocentroemQeRtiramse respectivamenteosarcosGOeHP.Fica,assimconstruídoopinhãogeométrico.(PILOTTO, 1992,p.19) 135

FIGURA8– MORRETES,F.L.de. Pinhão geométrico .In:HOERNERJr.,1992.p.43. 136

EssafórmulafoiexploradanaescolaatelierdeLangedeMorretesenaEscola Normal Secundária. Nessas escolas, partindo dessa fórmula, os alunos executavam trabalhos manuais, suportes de madeira e toalhas em richelieu , substituindo os modelos baseados em frutas de origem européia como maçãs, pêras e folhas de castanheiro,tãopresentesnaartedecorativadaqueleperíodo.Dosseusalunos,Oswald LopeseArthurNísioforamosquemaissededicaramàrepetiçãodessaarteparanista. A intenção do artista com relação à estilização paranista aparece em seu escrito autobiográfico(MORRETES,1953,p.274),noqualoautordizqueafórmulaporele criadadeveriapermaneceremdomíniopúblicoeserviraospequenosprofissionais. Nas décadas de 1920 e 1930, como a prática fotográfica e os métodos de reprodução eram incipientes, os jornais e as revistas ilustradas dependiam da colaboraçãodeartistasplásticos.Nesseperíodo,emCuritiba,aestilizaçãoparanista estavapresenteemdiversosnúmerosda Illustração Paranaense ,emformadevinhetas ilustrativas e outras ilustrações. Um dos exemplos mais interessantes da aplicação dessaestilizaçãodesenvolvidaporLangedeMorretesé Depois da Tormenta (1930) (figura9),quemostramuitobemodesenvolvimentodostrabalhosdeartesgráficas feitosporele.Istoporque,paracomporessedesenho,eleconciliouseusestudossobre aestilizaçãodopinhãoedosapécomseusconhecimentosacercadarepresentaçãoda figurahumanadoiníciodesuacarreira,emsuamaioriaretratoseestudosdenu. Esse desenho, que combina estilização e figura humana, ilustra uma reportagemsobreamortedoMonsenhorCelso.Naépocaessefatotrouxeumgrande mistérioparaoscuritibanos,poishouveumatempestadeeoventofortederrubouum cedroaoladodaCatedralbemnahoraqueoreligiosomorreu.Nessedesenho,oartista retrataoperfildofalecidonumcaixãoeatrásdele,umajanelanaqualsevêumcedro caídoeaoladodajanela,umavelacomachamaacessa.Osdesenhosdaslaterais– quefuncionamcomoumamoldura–sãoaplicaçõesdepinhõesesapésestilizados.Na partesuperior“dessamoldura”aprópriacruz,queremeteaoofíciodofalecido,tem formaestilizadadepinhão. 137

FIGURA9– MORRETES, F. L. de. Depois da Tormenta . 1930.Desenho. In: ILLUSTRAÇÃO PARANAENSE,1930,n.7,jul.Foto:LuisAfonsoSalturi. 138

AestilizaçãodesenvolvidaporLangedeMorretes,maistarde,tambémserviu deinspiraçãoparaosprojetosgráficosdascalçadasdeCuritiba,quetrazemmotivos gráficos diferenciados feitos em petit-pavé ou mosaico português. Em Calçadas de Curitiba : preservar é preciso , VASCONCELOS (2006, p. 2638) apresenta um levantamentosobreosinúmerosdesenhospresentesnascalçadasdacidade.Aautora chama atenção para a necessidade de revitalização desse patrimônio cultural. Ela apresentaprojetosderevitalizaçãoeidentificaainfluênciaestilísticadessesdesenhos, separandoos em quatro grupos: influência portuguesa, influência Art Nouveau , influência Art Déco einfluênciadoMovimentoParanistaedaculturaindígena. Inicialmente, as calçadas de Curitiba eram feitas em pedra. Em 1919, a Prefeitura determinou em suas diretrizes como seria o calçamento da cidade. A primeira empreiteira a executar a pavimentação das ruas e dos passeios foi a da FamíliaGreca,deorigemitaliana.Depoisdela,nofinaldosanos1920surgiramoutras concorrentes,deorigemportuguesa.Nesseperíodo,devidoàinfluênciadoMovimento Paranista, as calçadas foram utilizadas como espaço para as manifestações regionalistas.Osmotivosdepinheiroeindígenasconfiguraramaoladodedesenhosde outrosestilos.RomárioMartins,queeradiretordoMuseuParanaense,teveumpapel importante ao aconselhar o então prefeito de Curitiba, Moreira Garcez, sobre a necessidade da aplicação de desenhos com motivos indígenas nas calçadas. Os desenhos eram pesquisados pelo professor Augusto Herborth, da Universidade de Strassburgo,easeleçãoerafeitapelopróprioRomário. Além dos desenhos com motivos indígenas, algumas calçadas de Curitiba apresentamdesenhoscommotivosdepinheiro,queforamimplantadosemmarçode 1949.Contudo,algunsdessesdesenhosdivergemdosoriginaisdeautoriadeLangede Morretes, sendo apenas inspirados neles. Nesse caso, serve como exemplo, uma rosácea paranista muito comum nas calçadas de Curitiba que, em muitos locais é aplicadasemosdetalheslaterais,tornandomaisfácilaimplantaçãodoprojetográfico nascalçadas(figura10): 139

FIGURA10– ROSÁCEADOPISODASCALÇADAS.In:KRASINSKI,1987,p.16. Dos desenhos que remetem aos originais de Lange de Morretes, embora a implantação seja bem mais recente, podese citar o desenho pintado no pátio da Reitoria da Universidade Federal do Paraná e o aplicado em petit-pavé vermelho castanho na calçada embaixo da coluna do relógio da Praça General Osório. Além desses,nacalçadadaPraçaRioIguaçu,próximaaoPalácioIguaçu,háumdesenhoem petit-pavé que também remete aos originais do artista. Tratase de uma rosácea de grande tamanho construída nos moldes da fórmula do Pinhão geométrico , muito parecidacoma Pinha-dos-ventos dacalçadadocruzamentodaRuaXVdeNovembro comaRuaBarãodoRioBranco(figura11): 140

FIGURA11– PINHADOSVENTOS.In:FENIANOS;MENDONÇA,1996. Essa Pinha-dos-ventos fazpartedeumconjuntodedesenhosatravésdosquais épossívelconhecerocentrodeCuritibaapéumtrajeto préestabelecido. A Linha pinhão éumroteiroculturalehistóricoquefoiinauguradopelaPrefeitura,em1993, dentro das festividades do Tricentenário da Fundação da cidade de Curitiba . Tal roteiro tem como proposta permitir que o pedestre faça um passeio a pé sobre os “CaminhosdaHistória”,percorrendoaáreacentraldacidadeem2,4quilômetrosde extensão,atravésde51pontosqueassinalamotrajeto. 141

4.2UMOLHARSOCIOLÓGICOSOBREUMAOBRAPICTÓRICA É muito complicado fazer uso das etiquetas européias para explicar e classificarastransformaçõesartísticasforadaEuropa.Issoporque,pararealizaressa tarefa,éprecisoconsideraratécnica,oconteúdoeoprincípiorevolucionário.Noque dizrespeitoàtécnica,algunscríticosconsideramLangedeMorretescomoumpintor com uma tendência impressionista, na medida em que sua formação artística foi marcada por esse estilo. Contudo, certos trabalhos do artista têm a marca pós impressionista porque não segue os preceitos básicos do estilo impressionista, indo alémdeles.AlémdesualigaçãocomoImpressionismo,Langetambémenxergavao mundopeloviéscientíficoemesmoquesuapintura estivesse ligada à fantasia e à alegoria,seusquadroseramnaturalistasdevidoaoseuinteressepelapercepçãoexata danatureza. OImpressionismofoiummovimentoartísticoquesurgiunaFrançanoséculo XIX com obras de artistas que não se preocupavam mais com os princípios do Realismooudaacademia.OtermoImpressionismosurgiuapósaprimeiraexposição dogrupoem1874,noatelierdofotógrafoGasparFélix Nadar, quando o jornalista LouisLeroyfezumsarcásticoataqueaumapinturadeClaudeMonet(18401926)que seintitulava Impressão, sol nascente .Nacrítica,ojornalistaafirmavaqueumpapelde paredeemestadorudimentareramaisbemacabadoqueaobradeMonet.Otermo logo foi adotado por outros e os artistas impressionistas formaram um movimento fazendoseteoutrasexposições,sendoqueaúltimadelasocorreuem1886. EnquantooRealismotinhaumcarátersocial,oImpressionismoerapessoal, na medida em que buscava retratar mais a vivência do que a própria vida. Ao pesquisarem sobre a produção pictórica, os pintores impressionistas não se interessavammaispelastemáticasnobresoupeloretratofieldarealidadeprópriosdo Realismo,masemveratelacomoobraemsimesma.Narepresentaçãodanatureza,o enfoque passou a tomar como base a experiência visual de fato, enfatizando a espontaneidadeeaconcepçãoimediatadaquiloqueévisto. OImpressionismoteveumcarátereumapretensãocientífica,namedidaem que surgiu num período marcado por avanços tecnológicos e científicos que o 142 influenciaram,entreosquaisasdescobertasdeEinsteineosurgimentodesistemas comoodarwinianoeomarxista,essencialmenteorientadospelotempo.Esseperíodo teve como marca o início da vida moderna, presente nas temáticas das obras impressionistasemdiversascenasretratadas.Odesenvolvimentotécnicodafotografia contribuiu significativamente para os estudos dos movimentos dentro da pintura impressionista e a teoria das cores, desenvolvida pelo químico Eugène Chevreul (17861889),permitiuumnovotratamentoàsdisposiçõesdascoresnapinturaatravés daaplicaçãodas cores complementares 92 . Haviaalgumasconsideraçõesgeraisque,naqueleperíodo,osartistasseguiam paraobterosresultadosquecaracterizavamapinturaimpressionista,entreelasestava aconcentraçãonosefeitosdaluzfrenteaquiloqueseriaretratado.Apinturadeveria registrarastonalidadesqueosobjetosadquiriamaorefletiremaluznumdeterminado momento, pois as cores da natureza se modificam constantemente, dependendo da incidênciadaluzsolar.Alémdessapreocupação,omovimentoutilizandopinceladas soltastornouseoprincipalelementodapintura,sendoquegeralmenteastelaseram pintadasaoarlivreparaqueopintorcaptassemelhorasnuancesdanatureza. As cores e tonalidades não deveriam ser obtidas pela mistura das tintas na paletadopintor,masdeveriamserpurasedissociadasnatelaempequenaspinceladas. Amisturadeixariadesertécnicaparaseóptica,umavezqueoobservadorcombinaria asváriascoresquecompunhamapintura.Astelaserampreparadascombrancopara ressaltaraluminosidade.Eracomumaaplicaçãopréviadetintaemcamadas,oque permitiaàsuperfíciedapinturaterumatexturaviva.Assombrasnegraseaslinhas demarcatóriaserameliminadasporquenãoexistiamnanatureza.Oscontrastesdeluze sombra deveriam ser obtidos de acordo com a lei das cores complementares . Essa nova técnica pictórica contrastava com a de tons castanhos, elaborada pela pintura

92 “Duascoressão complementares seelassemesclamparacomplementaroespectro.Então, acomplementardecadacorprimária–vermelho,azuleamarelo–éacombinaçãodecadaduas destas. Vermelho e verde, azul e laranja, amarelo e violeta são os pares básicos. Na pintura, a colocaçãodecorescomplementaresumaaoladodaoutratornaambasbrilhantes.”(WIGGINS,1994, p.63).EugèneChevreul,aodesenvolversuateoriadascores,fezumcírculocromáticoquemostrava ascorescomplementaresemimediataoposiçãoaelasmesmas.Aofazerusodessecírculo,oartista impressionistapoderiadecidirrapidamentequalcorutilizaremseustrabalhos. 143 acadêmica. Além disso, sem o traço formal, as figuras das obras impressionistas passavamanãotermaisostradicionaiscontornosnítidos. Esses procedimentos técnicos que caracterizavam a pintura impressionista permitiramumnovodirecionamentodentrodapintura,oqueseconstituiunumavanço significativoparaaslinguagensartísticasqueviriamapósomovimento,inclusivepara a pintura moderna. Segundo Wendy BECKETT (1997, p. 310311), o termo Pós Impressionismo foi criado, em 1910, pelo crítico de arte inglês Roger Fry (1866 1934),parasereferiraosartistasquevieramimediatamenteapósosimpressionistas. EssesartistasseconcentravamemParisedecidiramrepudiaraênfaseimpressionista na aparência externa e fugaz do mundo. O termo também se aplica aos trabalhos tardios dos próprios impressionistas que, ao longo de suas carreiras, abandonaram muitasidéiasàsquaisumdiaestiveramligados.Osartistaspósimpressionistasnão formaramumgrupocoerente,logo,otermonãosereferepropriamenteaumestilode pintura. Tendo em vista essas explanações sobre o Impressionismo e o Pós Impressionismo,paratratarsobreocasododesenvolvimentodapinturanoParaná,é interessantebuscarumamaiorcompreensãoatravésdealgunsapontamentosfeitospor NelsonLuz,emseusescritosde1975e1976,publicadosemNelson Luz: O Primeiro registro de uma passagem . Esse autor apresenta uma retrospectiva dos “grandes nomes”dapinturaparanaense,analisandooestilodosseguintesartistas:Freÿesleben, JoãoTurin,MiguelBakun,EstalisnauTraple,TheodoroDeBona,ArthurNísio,Guido ViaroeLangedeMorretes.Segundooautor,noqueserefereàpintura: Quase todos [esses artistas] aceitavam o Impressionismo, embora, de maneira geral, preferissemosnaturalismosanteriorese,semdúvida, os clássicose osprérenascentistas. Paraalguns,oImpressionismoeraumtantoexagerado,eváriosocondenavampelofatodo desleixododesenho,coisaaseuver,inaceitável.(...) Deixei,propositadamente, Lange de Morretes paraoúltimocomentário,porqueentendoque foi, senão o mais sensível de todos os da minhalista incompleta,inquestionavelmente o mais culto . Deixounome,noBrasilenoestrangeiro,comomalacologistaeciênciasafins. Mas bem sei quanto sabia de literatura, biologia, astronomia, botânica, mineralogia, antropologia, ecologia, geologia, zoologia, artes em geral, especialmente pintura. Formigas, abelhas, besouros, árvores, ornamentação, poesia, filosofias orientais e ocidentais, cerâmica, música, arte de viver, eis os temas dos diálogos que tínhamos, de horas seguidas, pela madrugada adentro, eu a perguntar, ele falando. (...) Quanto à pintura, entendo que teria sido imbuída, em parte, de Uhde XVIII , de Hans Thoma XIX ,de Hodler XX .Contudo,Langeéelemesmo,umtanto impressionista ,àsvezes 144

alegórico ,exaltandoanaturezabrasileiraeparanaense,estudiosodopinheiro–queelevia comosímbolodenossaterra. Quandocomentavaoassuntodaimigraçãoeuropéia,diziaqueoBrasiltemacaracterística deabsorverasculturasestranhasedeimpor,demaneiracuriosa,osseusmodosdevida.A famíliaLangeadaptouseeelejánascidoaqui,apesardetradiçãoalemã,semprefoimais caboclo que outra coisa. Viveu muito em contacto com a natureza e, por isso, os seus quadrossãoumrepositóriointeressantíssimodepormenorestípicosdonossohabitual,que sómesmoumartistacientistapoderiacaptar. Váriosdeseustrabalhos,àprimeiraimpressão,parecemalgorígidos,umtantoherméticose até desinteressantes. De fato, Lange, tantas vezes, buscaum simbolismo comedidoe, por isso,nosdáumasíntesedestituídadequalquerarroubo,umasíntesetalvezexcessivamente intelectual.Todavia,asinceridadecomquedesenvolveasuatemáticaeocritériocomque dispõeascoresmostraumartistamodernoecomunicativo. Emoutrasocasiões,aemocionalidade,surgeamplaelírica,semcontudodeixarselevarsem peias,poisécontidanumacomposiçãointuitivademagníficosresultados. AtônicadeLangefoioBrasil;elesemprepropugnoupelamanutençãodosnossoscostumes, das nossas peculiaridades, da nossa alma, pretendendo um nacionalismo amplo, aquela mesmainterdependênciaqueosinternacionalistascontemporâneosdisseminamaosquatro ventos.[grifomeu](LUZ,1989,p.16,1820) Nessa citação, é curiosa a maneira como Nelson Luz descreve o interesse generalistaeespeculativoqueLangedeMorretestinhapelanatureza.Outrapassagem quemereceatençãoéquandooautorapontaalgumasinfluênciasnapinturadeLange relacionandoa com a de outros pintores alemães que produziram, em sua maioria, paisagenscomfundosimbólicoealegórico.Nesseponto,NelsonLuzfornecepistas paratentarentenderousodepersonagensdofolcloreindoeuropeu,comoafiguradas Dríades,emalgumaspinturasdoartista.OautorfalatambémsobreaadesãodeLange e demais artistas paranaenses ao Impressionismo. A esse respeito, Theodoro DE BONA(1989,p.16)dizqueLangedesdesuavoltaao Brasil, estava entusiasmado com o Impressionismo, chegando até a criticar Alfredo Andersen, que também era impressionista,maspossuíaumatécnicaumpoucodiferente.Pornãoter“idéiasmais ousadas”,DeBonanãoconcordavacomascríticasqueLangefaziaàAndersen. Contudo,valelembrarqueaconcepçãodeLangesobreaarte,demodogeral, diferedaquelamantidaporoutrosartistasdesuageraçãoque,emsuamaioria,eram muitoconservadores.Nessecaso,servecomoexemploumcomentáriodeNelsonLuz sobrequaleraopontodevistadeLangesobre“asinovaçõesdaartecontemporânea”. Odepoimentomostraqualeraareaçãodestefrenteàartedetendênciaabstrata,jáque muitosquadrosdeNelsonLuz,quetambémpintava,aproximavamsedessatendência: 145

Esobreaartecontemporânea?Langeteveaoportunidadedevermuitacoisaedelermais ainda. Verdade é que esse não era o assunto preferencial das nossas conversas; mas comentávamos,eele,comotodosnós,tinhaassuaspreferênciasesabiacomentar.Sebem melembro,aartedenossotempo,aseuver,tãofragmentadaemseus“ismos”,valiacomo busca,muitasvezesválida,deumalgoqueviriacomotempo,umacoisasedimentadaa respeitodaqualLangealimentavaasmelhoresesperanças.Sabiaaceitaresses“ismos”,em queencontrava,dentretantojoio,otrigomaduroereconfortante. Mostreiaele,váriasvezes,asminhaspinturas,inclusiveasoníricas.Gostavadasminhas coresquelherecordavamtapeçarias,davamesugestões,opiniões,jamaisconselhos.Nunca procuroumeensinar,poissabiaqueomeucaminhodeveriasersomentepelosmeuspróprios passos.(LUZ,1989,p.20) NelsonLuzapresentaquestõesimportantesnamedidaemqueenxergaLange comoumartistasingular,abertoàsnovaslinguagensartísticas,apesardenãoaceitá lasparasimesmo.EssasingularidadedeLangeé,emgrandeparte,constituídapela dualidadedesuaformaçãoartísticaecientífica.Emartigonarevista Panorama ,João COVIELLO(1987,p.1)tambémfalasobreessamesma singularidade ao conceber Langecomofrutodeumasociedadediferenciada.Oautorapontaalgunspontospara sepensarsobreaobradesseartista,aqualnãohálugarparacertezas,sendoopróprio Langeumenigma.SegundoCoviello,numacompanhamentodatrajetóriadeLangeé possívelperceberacaracterísticadeindependência,presenteatéofinaldesuavidade artistacientista. Isto porque a obra produzida por Lange foge de qualquer padrão estéticoetornase histórica e antropológica .“Histórica,nosentidoderetratar,quase de forma jornalística, um ambiente que amou intensamente. E antropológica, no sentido de trazer uma questão fundamental: Quem é este homem que vive neste ambienteretratado?”(COVIELLO,1987,p.13). Acaracterística antropológica daobradeLangeé,emcertamedida,expressa numa crítica em que Samuel Cesar comenta sobre as preocupações do artista com questõesexistenciaisdoserhumanoeabuscadoautoconhecimento.Associandoessa característicacomaobraproduzidapeloartista,oautorchegamaislongeaofazeruma análisedaligaçãodaquelecomanatureza: [Lange de Morretes] não se contenta com apreciar, admirar e pintar a belleza de uma paisagemouharmoniasupremadeumbellocorpo.–Tortura-lhe o espírito saber porque e como existimos na face da terra. (...) É um estudioso de philosophia a buscar sempre, na lição dos mestres, um conhecimento mais perfeito da natureza e dos homens. –Esse aspecto particular do seu espirito reflecte-se na sua obra de artista. – As proprias paisagens que pinta dão a impressão de que o artista procura ver atravez da belleza do 146

scenarioagrandealmadascousas,aessenciadivinaquepalpitanoverdedaramaria,como nomulticoloridodasflores. – Os seus pinheiros têm alma, vivem uma vida mais profunda e mais intensa que a simples vida vegetativa. ContemplandoastelasemqueLangelhesfixaahieraticabelleza, vemoloscalmosnaimpassibilidadedascoisasconscientes,ourebeladosaconvulsacomose osagitasseoufizesseextremecerumaincontidarevolta.Uns,opulentosefelizesnopleno desenvolvimentodasuaumbellaverde,outrosmirrados,rachiticos,tristes,comoadizerque, mesmoentreosreisdaflorestaparanaense,asortequeémadrastaparaunsémãedadivosa paraoutros.–Nassuasmarinhas,comonasériedetelasquetrouxedoIguassú,setraduza suapredilecçãopelas aguas agitadas, rebeldes, atirandoparaoscéosarevoltadasfuriosas, ouarremessandoparaoabysmoodesesperodascataractasqueperturbaramapazserenados sertões,comoseuformidavelrugido.As aguas paradas, tranquillas na estagnação ena immobilidadenãolheseduzemsenãoraramenteoespíritosequiosodemovimento.(...)–A suaevoluçãosefazsentir,quandocotejamososprimeirostrabalhos,pintadoslogoapoza sua chegada ao Paraná e as telas ultimamente expostas, como os quadros em que vem trabalhando, apenas conhecidos do seu pequeno circulo intimo, são paisagens, em que o pinheiro domina como um leitmotiv , de uma luminosidade perfeita. São grandes composições inspiradas em motivos philosophicos, onde figura ainda em primeira plana, magestosa e serena a Araucária, symbolo do Paraná, ao lado de admiraveis estudos de nu. [grifomeu](CESAR,1930a,nãopaginado) Esses pontos mencionados por Samuel Cesar permitem classificar a arte produzida por Lange de Morretes na pintura e compreender melhor a preocupação destecomtemasligadosànaturezaparanaense,comoseusquadrosdepinheirosesuas “águas”.Emsuastelas,diferentementedeumpintornaturalista,quecaptaarealidade, Lange filtra a natureza com olhos sensíveis, de forma descritiva, mas com total individualidade.EssasubjetividadequemarcaaobradeLangeestárelacionada,por umlado,comasuaformaçãoartística,eporoutro,comoseuolharsobreanatureza atravésdorecorte e enquadramento visual desuapaisagempictórica.Nesseponto,a referênciaquesetomaédeGeorgSimmelquandotratadarelaçãoentreopintoreo objetoretratado,ouseja,anaturezanoquadrodepaisagem: Oqueoartistafaz–subtrairaofluxocaóticoeinfinito do mundo, como imediatamente dado, um pedaço delimitado, o alcançar e o formar como unidade aquilo que até então encontraemsiseuprópriosentidoecortarosfiosquealigamaouniverso–éprecisamente o que nós também fazemos, em dimensões menores, (...) quando temos a visão de uma ‘paisagem’nolugardeumpradoedeumacasa,deumriachoedeumcortejodenuvens. (SIMMEL,1996,p.18) Em relação à formação artística na Alemanha, quando aluno da Real AcademiadeArtesGráficas,emLeipzig,alémdeWalterTiemann,Langeteveaulas comHansSoltmann,quehaviapoucotemporegressadodeParis.Foijustamentenesse período que Lange viu pela primeira vez exposições de arte francesa. Na Escola 147

SuperiordeBelasArtesdeMunique,foialunodeCarlHansSchraderVelgen,umdos pintores impressionistas alemães mais vigorosos daquele período. Além deste, foi aluno de Angelo Jank, um excelente pintor de animais, de caçadas e de cenas esportivas.Emsuasobras,comoascorridasdecavalos,Jankcriavaumaatmosfera intensa usando um estilo impressionista com pinceladas “lisas e esfregadas” nas representações das figuras dos animais, para capturar as forças dos movimentos do cavaloedocavaleiro.Maistarde,umdosalunosdeLange,ArthurNísio,tambémseria alunodeAngeloJank 93 eutilizariaessatécnicaemváriasobras. O contato com esses professores foi muito importante para a formação profissional de Lange de Morretes, o que veio a se manifestar em sua produção artística. Enquanto seus trabalhos de artes gráficas tiveram uma forte influência do estilo Art Nouveau (noqueserefereaos motivos da flora ),suapinturafoiinfluenciada peloImpressionismo.Éjustamentenessepontoqueculminaacaracterísticasingulare a dualidade de sua arte visual. Uma passagem do livro A Arte Nova , de Bernard Champigneulleilustramuitobemessedualismoaodefinirasdiferençasentreesses estilos:

O impressionismo descobre, com embriaguez, um conjunto de variedades ópticas contrárias ao realismo e descreve um mundo de vibrações luminosas. A fim de apreender o tempo que passa, quer dizer, o inacessível, a natureza é desintegrada. QuandoManetpintaamesmamóouamesmacatedralemtodasashorasdodia,procura apalparoinapalpável,fixaroqueénaturezanãofixaequejamaisrecomeça. Os motores da Arte Nova são inversos. Ela sintetiza. Capta a natureza nas linhas imutáveis. O fim nunca é traduzir as coisas numa verdade transitória, mas dar-lhe uma imagem suscetível de a transformar em composições decorativas, e de a adaptar a um objeto. Enquantoqueaarteimpressionistainterceptaoinstanteporpinceladasdecorespuras,aarte modernistasituasenoutraordem:reduzavisãodo real a uma espécie de esquema, com superfíciesdecoresquaseuniformes,rigorosamenteenclausuradasnaslinhasdecontorno. [grifomeu](CHAMPIGNEULLE,1984,p.93)

93 AsemelhançaentrearepresentaçãopictóricadeanimaisdeAngeloJankeArthurNísioé surpreendente. Inclusive uma das dificuldades da análise aqui apresentada foi que, poucos autores analisaram a relação entre a pintura dos pintores paranaenses do século passado que tiveram sua formaçãoacadêmicanaAlemanhacomosestilosemovimentosartísticosemvoganaquelemomento noreferidopaís.Fatoqueveioasetransformarnumempecilhoparaumaanáliseestéticaconjuntaa uma análise sociológica do processo de criação artística. No caso de Arthur Nísio, ver o artigo: DERGINT,A.T.AvidadeArthurNísionaAlemanha.Revista da Academia Paranaense de Letras . Curitiba,n.48,p.5965,dez.2003. 148

NoperíodoemqueviveunaAlemanhaostemasmaisfreqüentesdesuastelas eramcascatas,corredeiras,florestas,montanhas,pastagens,casasetambémflores.No Brasil,oartistaaindacontinuoupintandoalgunsdessestemas,inclusivequadrosde naturezamortaqueemsuamaioriatraziamflores.AtelaNatureza morta com flores e frutas (1941)(figura12),adquiridapeloTribunaldeJustiçadoParanáatravésdeum espóliodedívidadeumescritóriodeadvocacia,peladataemquefoipintadanãoé umaexceção,mostrandoqueoartistatambémtratoudessetemaemoutrosperíodosde sua vida. Além disso, essa tela tem como marca o uso de cores complementares própriodoImpressionismo,comopodeserconstatadonacombinaçãoentreoroxodas glicíniaseoamareladodasfrutas.

FIGURA12– MORRETES,F.L.de. Natureza morta com flores e frutas .1941.1óleosobretela: color.; 58 x 76 cm. Tribunal de Justiça do Paraná, Sala de Lanches dos Desembargadores,Curitiba.Foto:LuisAfonsoSalturi. EmrelaçãoàscoresenointuitodeentenderapinturadeLangedeMorretes, vale comentar uma crítica na qual Newton CARNEIRO (1973) diz que é preciso 149 observarduas características anímicas desseartista,asquaisoautorchamade imãs decisivos porquefuncionamjustamentecomopontoschavesparaentenderaprodução pictóricadeLange.Assim,segundooautor,foia paixão pela cor quelevouLangea consolidaroseu“realismoimpressionista”eareagircontraomodernismoqueinvadia aescolaalemã.Jáa submissão à natureza ,levouoartistaaprocurartemasligadosà paisagem de sua terra natal, como o pinheiro, conduzindoo também às pesquisas científicas.Nessamesmadireção,umcomentáriodeNelsonLuzajudaacompreender melhoressa paixão pela cor eessa submissão à natureza : Suastelassãotrabalhadas,namaioria,emgamasazuisacinzentadas eportadoras deuma concepção muito pessoal da natureza .Preocupadocomas formas interpretadas através das vibrações da luz ,consegueLangeefeitosinteressantíssimosemtemasdemuitapoesia. Espírito culto, afeito a todos os setores do pensamento, não se deixa subjugar pelo material da natureza; transpõe para o quadro os elementos essenciais, em bem disposta construção .Trabalhacompastasdensasebemvalorizadasecomissoobjetivaasuafina sensibilidade.Éapaixonadodasneblinasdifusas,quentes,edosplanossolitáriosesimples. [grifomeu](LUZ,1953,p.53) Nessa citação, dois pontos da crítica de Nelson Luz merecem atenção. Um delesédequeaquicabemperfeitamenteosapontamentosdeGeorgSimmelsobreo Stimmung da paisagem. Para este autor, a paisagem – e nesse caso a pintura de paisagem–édefinidapelasuadelimitação,peloseualcancenumdeterminadoraio visual,quandoohomem–nessecasooartista–modelaumgrupodeelementoseo integraàcategoriadepaisagem,–depinturadepaisagem.Paraoautor,oartistaé quem“...realizaoatodecolocaremformapeloverepelosentircomumatalenergia, quevaiabsorvercompletamenteasubstânciadadadanatureza,erecriáladenovopor elemesmo;enquantonósoutros,ficamoscadavezmaisligadosaessasubstânciaeem conseqüênciaguardamossempreohábitodepercebertalequaiselementos,láondeo artistanarealidadesóvêesócriaa‘paisagem’.”(SIMMEL,1996,p.24) OutropontoquemereceatençãoéapreocupaçãodeLangedeMorretescoma luz. Desde sua volta da Alemanha, sua pintura foi marcada por essa característica impressionista.Essapreocupaçãoseestendeucomabuscadarelaçãoentreopinheiro, temadeváriasdesuastelas,ealuz.Uma citação de um de seus escritos inéditos mostramuitobemcomoeleviaessarelação: 150

Quandodemanhãoglobosemvida,vencendoastrevas,fazcairasbrumasetudoanima,éo pinheiro a receber os seus gloriosos raios. Quando, do horizonte, o astro, despedindose, doiraasnuvensquecobremanatureza,oreidosvegetais,agradecendolhesorrireflexosdo mesmoouro.Quandoosol,hámuito,desapareceuenanoiteescuracintilamasestrelas,o pinheirocomosseuscembraços,parecequererapanhálas,todas,dofirmamento.Nãohá coisamaisbeladoqueocontemplálasporentreaescuracaruma.(MORRETES,1937,p. 17) Conforme o próprio artista diz em seu escrito autobiográfico, devido ao pinheiroserumaárvoredecrescimentosimétrico,precisavadoauxíliodaciênciapara asuarepresentação(MORRETES,1953,p.169).ParaLangedeMorretes,oproblema principal era juntar o elemento científico com o problema da luz, pois até aquele momento o pinheiro havia sido pintado apenas de modo empírico. Foi a resolução dessasquestõesartísticasquepossibilitaramàssuastelasdepinheirospossuíremuma característicamuitoparticular,como Pinheiros (1921)(figura13):

FIGURA13– MORRETES,F.L.de. Pinheiros .1921.1óleosobretela:color.;65x75cm.Coleção ManoelJorgedeLacerda.In:PARANÁ,2001,p.109. 151

Emartigojácitado,SamuelCesarcomentasobrecomoLangede Morretes, em sua produção artística, trata outros elementos da natureza paranaense além do pinheiro. Nesse caso, o crítico chama a atenção para o movimento expresso pelas marinhas e “outras águas” pintadas pelo artista. Para o autor, Lange prefere pintar “águasagitadas”,masquandosetrataderetratar“águasparadas”,estassempresão atraentes, transmitindo vitalidade. Essas características mencionadas por Samuel Cesar,defatoestãopresentesnaságuaspintadaspelo artista. (CESAR, 1930a, não paginado) NastelasemqueretratouasCataratasdoIguaçu,Langeprocuroumostrara paisagem do local em diferentes perspectivas, enfatizando a força das águas. É interessantenotarnessastelasqueorecorteeoenquadramentovisualqueoartistadeu àsCataratasfuncionamcomoumajanela,atravésda qual o observador poder olhar algo que possui uma unidade autônoma, “fechada em si mesma”, que muito bem lembra os apontamentos sobre a arte feitos por Georg Simmel em A moldura. Um ensaio estético (SIMMEL,2005). Em Cataratas do Iguaçu (1920)(figura14),oartistarepresentaaextensão formada por várias quedas d’água que se fecham, contornando os lados direito e esquerdodatelaatéseucentro.Aáguasetornaumamassaesbranquiçadadevapor,de onde sai um rio agitado, formado por águas com ondas brancas com reflexos esverdeadosdavegetação.Ocursodoriosegueatéocantodireitodatelaeàesquerda, paralelamente, se sobressai uma vegetação estreita e alta em tons esverdeados e amarelados, com pedras marrons e água corrente em tons brancos e reflexos acinzentados e amarelados. Intercaladas por vegetação e pedras, as outras quedas funcionam como elementos que se unem formando um semicírculo. O céu, sob o aglomeradodecascatas,semostramenosazulemaisesbranquiçadodevidoàdiluição dasnuvens.Nohorizonte,afaixaescurecidadevegetaçãoemtomazulacinzentado forneceprofundidadeàpintura,fechandoaescaladefrenteefundodatela. 152

FIGURA14– MORRETES,F.L.de. Cataratas do Iguaçu .1920.1óleosobretela:color.;143x 224cm.ClubeCuritibano,Curitiba.In:PARANÁ,2001,p.163. Se na tela anterior Lange de Morretes se prende ao todo ao apresentar um conjunto de cachoeiras, em Cataratas (1925) (figura 15), ele se preocupa com o singular narepresentaçãodeapenasduasquedasqueconfiguramafrenteeofundoda pintura,principalmentequandosãoseparadaspordoismontesderochas.Naextrema esquerdadatela,háumacascatamaiore,noladodireito,outramenor.Notopoda primeira cascata, a água que desce se apresenta em tons amarelados e se torna esbranquiçadaaodescer,comonasegundacascata,aofundo.Asnuvenseocéunãose misturam,encimaàdireita,sobressaemtonsazuis,eàesquerda,tonsesbranquiçados, amareladosecinzentos.Naparteinferiordateladominaumadensanévoadevapor. Algumaspedras,emtonsmarrons,aparecemnoladoinferioresquerdoeoutrapedra grande, no lado inferior direito. Elas funcionam como elementos responsáveis por “fecharatelaemsimesma”,aoequilibraremaproporçãodemassadenévoadevapor ecentralizaremacorrentedeáguaquedesceesbranquiçada. 153

FIGURA15– MORRETES,F.L.de. Cataratas .1925.1óleosobretela;182x249cm.Coleção ElianeLangedeMorretesMonteiro,Curitiba.Foto:LuisAfonsoSalturi. Essas duas obras sobre as Cataratas do Iguaçu são marcadas por questões própriasdoImpressionismo,comoapreocupaçãoconstantecomaluzeaausênciado contorno preto. Num de seus escritos, ao analisar a paisagem das Cataratas, Lange deixatranspareceressainfluênciaimpressionistaquandodescreveastransformações naturaisdaquelelocalnodecorrerdodiaatéachegadadanoite.Oartistasedeslumbra com essa paisagem e alerta da dificuldade em pintar o local para quem quiser se arriscar: “Quem queira descrever ou pintar os Saltos, não poderá figurar entre os medíocres. Experimentamse momentos de supremo enlevo, que, para o artista, representamalegriaedoraomesmotempo.Horascheiasdeestesiapassamsedurante a contemplação do belo. Às vezes são tão admiráveis os Saltos, que inebria o seu esplendor.”(MORRETES,1937,p.13). 154

Domesmomodoqueaságuasdosrios,quesão“agitadas”pelacorrenteza,o marpossuiessemesmomovimentoconstantedovaievemdasondas.Natela O Mar (1927)(figura16),Langeretrataumapaisagemmarinhaformadaapenasporumcéu brancoerosadoaofundoepelaáguadomaremmovimentoàfrente.Emprimeiro plano, à esquerda, há uma ondulação azul clara que vai se tornado esverdeada e amareladadaesquerdaparaadireita.Apartecentraldessaondulaçãoébranca,igualà onda menor que está à frente e à faixa branca que está atrás. Essas diferentes tonalidades da água resultam dos reflexos do sol e mostram a concentração impressionista nos efeitos da luz. Além disso, outra marca do Impressionismo é a aplicaçãonateladopincelcarregadodetintaemváriascamadas, permitindo que a superfíciedatelaficasseencrostadadetintaesetornassevolumosaeviva.

FIGURA16– MORRETES,F.L.de. O mar .1927.1óleosobretela:color.;71x100cm.Colégio EstadualdoParaná,Curitiba.Foto:LuisAfonsoSalturi. Essas características técnicas da pintura de Lange de Morretes podem ser vistascomoumamanifestaçãodecomooartistaconcebiaomar.Decertaforma,ele comparaaságuasagitadasdomarcomseupróprioambientesocial: 155

Oinsucessoécertoparatodasaspessoasdeânimofraco.Nemsempretensrazãoquando pensasqueosadversáriosnãoconheçamteusegredo.Eoalvodetodaainveja,detoda malvadez é a tua fraqueza. A luta traz a grandeza, o mal revela o bem, o feio a beleza. Ansiandoaexpansãodoinfinitosobresi,omardácombateàterra,querendodestruirtudoo quedentrodasproporçõesoencerra.Queméaltivoeforte,arrojadoselevantacontraasorte de ter maiores sobre si. Dia e noite,como um açoite, arremessa as vagas que explodem contraosrochedos,guardasavançadasedefensoresdaTerra,enfurecidasespirrandoaoalto. (MORRETES,1937,p.25) Amaneiracomooautordescreveomarnessacitaçãopodeservistademodo pictóricoemsuasinúmeraspaisagensmarinhas.Apintura Guaratuba (1928)(figura 17) é um exemplo de “águas furiosas” que remetem a essa descrição de Lange de Morretes. Nela, o artista apresenta uma paisagem marinha com destaque para uma pedramaiorquefuncionacomoumobstáculoaoimpedirasinvestidasdasondasdo mar.Asváriaspedrasqueconstituematelaformamumsemicírculo,quedamesma forma que em Cataratas do Iguaçu , permite a tela “fecharse em si mesma”. As tonalidadesdasrochasvariamentrecoresquentesefrias.Ameticulosidadecomqueo artistaempregouascoresreproduzatéosreflexosdosolnapedramolhadaeasalgase musgosesverdeadosencrostadosnelas.

FIGURA17– MORRETES, F. L. de. Guaratuba .1928. 1 óleosobretela:color.; 76 x 100 cm. MuseuOscarNiemeyer,Curitiba.In:BATAVO,1996. 156

AvivacidadedaságuasapareceemsuaformamaispuranodesenhoBrejetuba (1928) (figura 18) que serviu como ilustração do texto Agonia à Flôr d’água , de JaymeBALLÃO(1928),noqualoautorcomentasobre afúriaeatraiçãodomar, relatandoumepisódioemquealgunspescadorestentaramsalvaremvãoumajovem doafogamento.Nomesmonúmerodarevistaquefoipublicado o artigo citado, há uma informação sobre uma exposição de Lange de Morretes e João Turin sobre aspectosdolitoralparanaensequeaconteceriaemsetembrodaqueleano.

FIGURA18– MORRETES, F. L. de. Brejetuba . 1928. Desenho. In: ILLUSTRAÇÃO PARANAENSE,1928,n.7,jul.Foto:LuisAfonsoSalturi. 157

Outro exemplo dessa temática é a tela Paisagem com rochas (sem data) (figura19).Nela,emprimeiroplano,estãoumconjuntoderochasesobreelasuma vegetação rasteira ganha vida através de cores inusitadas, em tons rosados e esverdeados.Noladodireitosurgeumparedãoderochaqueocupatodoocantodireito datela.Emsegundoplano,apareceumrioouumaentradademaremtomazulclaro uniforme, separando a frente do fundo da tela. Logo atrás, aparecem algumas montanhaserochasemtonsalaranjados.Océusemostraemtonsrosados.

FIGURA19– MORRETES,F.L.de. Paisagem com rochas .Semdata.1óleosobretela:color.;34 x53cm.FundaçãoHonorinaValente,Curitiba.Foto:LuisAfonsoSalturi. TodosessestrabalhosmostramaproximidadedeLangedeMorretescoma região litorânea do Paraná, justificando não só a presença dessa temática em suas obras,queconstituíramumasériedepinturas,comotambémdenunciaseuofíciode malacologistaaorelatardeformapictóricasuavivênciapróximaaolitoral. 158

Dentro dessa mesma temática do litoral, Tranqüilidade (1926) 94 (figura 20) relatacertaafeiçãodeLangedeMorretesemretratarcasasemlocaisbucólicos.Por essaobraoartistarecebeuaMedalhadeBronzenoSalãoNacionaldeBelasArtes,em 1927,noRiodeJaneiro.Nessatela,emprimeiroplano, háumrioque toma cores rosadaseazuladasque,comoumespelho,refleteaimagemdasduascasasbrancas comtelhadosroxosacima,emsegundoplano.Neste,àesquerda,umavegetaçãoverde ealtaseespalhanumalinhafina,separandoosegundoplanodoprimeiro,atéchegarà direitadatela.

FIGURA20– MORRETES,F.L.de. Tranqüilidade .1926.1óleosobretela:color:57,5x75cm. ColeçãoParticular,Curitiba.In:MUSEUALFREDOANDERSEN,1982.

94 AtelailustraoartigodeSamuelCesaranteriormentecitado(CESAR,1930a).Elatambém foicapadocatálogoepostalconvitedaexposiçãoSérie Discípulos de Andersen ,em1982,noMuseu Alfredo Andersen. Em julho de 1988 ela foi o Quadro do mês no mesmo museu. Atualmente se encontraemcoleçãoparticular. 159

Seguindoessatemática, Guaraqueçaba (1934)(figura21)traz,emprimeiro plano,águascalmasquerefletemascoresdocéuacinzentadoedavegetaçãoemtons amarelados,alaranjadoseesverdeados.Emsegundoplano,àesquerdaháquatrocasas brancascomtelhadovermelhoeacopadeumaárvoreatrás.Duasdessascasasestão localizadasàbeiradaáguaeasoutras,acima,numgramadoverde.Àdireita,hátrês palmeirasnumgramadoquepossuiumacormaisamareladadoqueesverdeada.Na medida em que se direciona o olhar até à beira d’água, tanto as casas como as palmeirasformamumaescala gradativade tamanho. Além disso, os elementos que compõem cada lado da tela mantêm uma harmonia entre si, como se de um lado estivesse uma natureza indomada, sem a presença humana, e no outro, a natureza domada,quandomodificadapelasmãosdohomem.

FIGURA21– MORRETES,F.L.de. Guaraqueçaba .1934.1óleosobretela:color:37x57cm. EscoladeMúsicaeBelasArtesdoParaná,Curitiba.Foto:LuisAfonsoSalturi. NapinturadeLangedeMorretesatemáticadascasasnãoseresumeapenas aosaspectosdolitoraldoParaná,estendendoseaoutrostiposdepaisagens.Oartista trabalhoucomessatemáticaemmuitasdesuastelasdesdeoperíodoemqueviveue estudounaAlemanha. 160

Em Paisagem com casas (semdata)(figura22),LangedeMorretesapresenta uma paisagem composta por um cercado à direita, um gramado em diferentes tonalidadesdeverdeeumaestradaqueseestendeatéocentrodatela,ondeestãotrês casascomtonsroxos,azuisemarrons,formandooprimeiroplano.Atrásdascasas,em segundo plano, aparecem os ápices de algumas montanhas que ganharam tons azulados.

FIGURA22– MORRETES,F.L.de. Paisagem com casas .Semdata.1óleosobretela:color:47,5 x57,5cm.ColeçãoArioTabordaDergint,Curitiba.Foto:LuisAfonsoSalturi. No que diz respeito a essa mesma temática, Lange de Morretes também registrouapassagemdaneveemCuritibaem1928,emdoisdesenhosdatadosem31 de julho daquele ano. Esses desenhos foram publicados na revista Illustração Paranaense , servindo para ilustrar alguns escritos sobre o ocorrido. Eu vi Curitiba coberta de neve (figura23),ilustraopoemadeOdilonNegrão,queseadmiracoma cenapaisagísticadacidadecobertapelobrancodaneve.Domesmomodo, Curitiba 161 sob a neve (figura24),ilustraotextodeHermesFontes,que tratado mesmotema partindodasimplicidadedeumchalezinhocobertopelaneve.

FIGURA23– MORRETES, F. L. de. Eu vi Curitiba coberta de neve . 31/07/1928. In: ILLUSTRAÇÃOPARANAENSE,1928,n.7,jul.Foto:LuisAfonsoSalturi. NOTA:Originalmenteaimagemapareceinvertida.

FIGURA24– MORRETES, F. L. de. Curitiba sob a neve . 31/07/1928. In: ILLUSTRAÇÃO PARANAENSE,1928,n.7,jul.Foto:LuisAfonsoSalturi. 162

OinteressedeLangedeMorretespelapaisagemcomnevejáhaviaaparecido emalgumasobraspintadasnaAlemanha,como Solidão (paisagem de inverno) (1918), tela com vários troncos de árvores cobertos pela neve, cuja imagem aparece como fundonumafotografiatiradanoatelierdeJoãoGhelfi.Aolongodesuavida,Lange aplicariaessemesmorecortedostroncosemoutrastelas,comoem Capão da Imbuia (1943)(figura25).AmarcadoImpressionismosetornanítidanessetipodepintura, issoporqueapinturadepaisagemimpressionistarecebeuinfluênciasdarepresentação dasárvoresnaartejaponesa 95 .

FIGURA25– MORRETES,F.L.de. Capão da Imbuia .1943.1óleosobretela:color.;65x84cm. ColeçãoElianeLangedeMorretesMonteiro,Curitiba.Foto:LuisAfonsoSalturi.

95 Umexemplodainfluênciado japonesismo emobrasdepintoresimpressionistasepós impressionistaséatela Visão após o sermão (1888),dePaulGauguin(19481903).Nela,opintor apresentaumacenaemquetroncodeárvoredivideatelaemduaspartes,separandoospersonagens doprimeiroplano(osfiéiseopadre)dosdosegundoplano(umanjolutandocomumhomem).Nesse casoemespecífico,essenovorecortepermitiu,alémdeumavançoartísticonamaneiraderetrataro tema na tela, uma ligação mais objetiva com o conteúdo simbólico, já que, conforme Wendy BECKETT(1997,p.323),otroncodivideateladiagonalmenteemduaspartesdistintas:umadelas retrataomundorealeaoutra,ovisionário. 163

Alémdisso,essastelasdeLangedeMorretesquetrazem troncos permitem umainteraçãomaiorcomoobservadoraopassaremcerto clima de mistério. Quem observaessastelassepergunta:oquepodeestarounãoestaratrásdostroncosdessas árvores? Para que lugar esse caminho leva? É essa a sensação que se tem ao ver paisagens com a mesma composição que Capão da Imbuia , tela que envolve o espectadorcomoseestivessedentrodamata,fazendopartedaquelecenário. BemdisseNelsonLuzsobreasescolhastemáticasdeLange:“[Ele]prefereos temas tranqüilos, inundados dos mistérios da alvorada ou da nostalgia das tardes ensolaradas; os seus troncos de pinheiro são célebres entre nós pela pureza do tratamentoepelaemotividademansa,quasemusical,quecomunicam.”(LUZ,1953,p. 53).IssoporquemuitastelasdetroncosdepinheirosqueLangepintoutransmitema visãodequemesteveouestádentrodaflorestaeembaixodaárvore.OpróprioLange de Morretes disse em seu texto autobiográfico, que “embrenhado na floresta”, “conviveucompinheiros”,“estudouos”e“colheudelesinformações”queinspiravam suaarte.NessepontoapareceoutrainfluênciadoImpressionismoemsuapintura,pois ospintoresimpressionistasforamosprimeirosadeixaroateliereprocurarumcontato maiorcomanaturezaparaverificarosefeitosdaluzsobreosobjetos. O recorte e enquadramento visual que o artista aplicou em suas telas transmitemaoobservadorasensaçãodeestarnafloresta,envoltopelomistérioqueo cerca. Dominadores solitários 96 (figura 26) é um forte exemplo disso. Nela, em primeiroplano,àesquerda,apareceumtroncodeumpinheiroemdiferentestons.O gramado se estende até o fundo da tela apresentando variações claras e escuras de verde.Aofundo,háumpinheirosozinhoeumavegetaçãodistante.

96 Alémdepublicadona Illustração Paranaense ,esseóleosobretelatambémapareceem: MARTINS, R. Curityba : capital do Estado do Paraná. Fotos de J. B. Groff e capa de Lange de Morretes.Curitiba:IllustraçãoParanaense,1931.60p. 164

FIGURA26– MORRETES, F. L. de. Dominadores Solitários . 1930. 1 óleo sobre tela. In: ILLUSTRAÇÃOPARANAENSE,1930,n.6,jun. 165

Em Pinheiro (1932) (figura 27), a representação é quase a mesma que em Dominadores solitários .Contudo,umamudançaocorreemrelaçãoàspropriedadesda pintura,comoaescolhadascoresatravésdeumapreocupaçãomaiorcomosefeitosda luz sobre o pinheiro como, por exemplo, o que acontece com o tronco, cuja cor aparecemaisdoqueosdetalhesdacascadotroncodaárvore.

FIGURA27– MORRETES,F.L.de. Pinheiro .1932.1óleosobretela.In:BATAVO,1996. No contato com o todo da obra artística de Lange, tanto nas artes gráficas quantonapintura,sepercebeaimportânciaquetiveramseusestudosdaanatomiado pinheiro e a relação desse elemento da natureza com a luz. O artista explorou ao máximoosaspectosgeométricosqueessaárvorepossui,nãosóemsimesma–como nocasodaestilizaçãoparanista–masnapintura,captandoseqüênciasdepinheiros, emquecadaumestá situadoemrelaçãoaooutroformando um plano geométrico. Alémdastelascomatemáticadostroncoscitadas,Paisagem com pinheiros (semdata) (figura 28) e Pinheiros (1948) (figura 29) servem como exemplos claros desse enquadramento. 166

FIGURA28– MORRETES,F.L.de. Paisagem com Pinheiros .Semdata.1óleosobretela:color.; 45x39cm.FundaçãoHonorinaValente,Curitiba.Foto:LuisAfonsoSalturi. 167

FIGURA29– MORRETES, F. L. de. Pinheiros . 1948. 1 óleo sobre tela: color.; 75 x 100 cm. ColeçãoElianeLangedeMorretesMonteiro,Curitiba.Foto:LuisAfonsoSalturi. Em algumas telas de grande dimensão, Lange de Morretes misturou nus femininos e paisagens com pinheiros. Essas telas constituem um conjunto caracterizado pela mesma temática, chamado aqui de Pinheiros e Dríades . Para desenvolvêlas, o artista não só fez uso de seus conhecimentos da representação pictórica do pinheiro, mas também da representação da figura humana presente em desenhoscomo O Banho (1912), Estudo (1913), O Torturado (1927)e Estudo de Nu (sem data) (figuras 30, 31, 32 e 33 respectivamente), todos publicados na revista Illustração Paranaense , entre 1927 e 1928. Todos esses desenhos possuem uma referênciaclássicadentrodaHistóriadaArteemostramqueoartistatinhabastante experiênciacomarepresentaçãodafigurahumana.Alémdisso,antesdeexecutaras telas da temática das Dríades , Lange de Morretes também fez alguns estudos preliminares,comoatela Heide ,expostanoIIISalãoParanaenseem1934. 168

FIGURA30– MORRETES, F. L. de. O Banho . 1912. Litografia. In: ILLUSTRAÇÃO PARANAENSE,1928,n.5,maio.Foto:LuisAfonsoSalturi.

FIGURA31– MORRETES, F. L. de. Estudo . 1913. Desenho. In: ILLUSTRAÇÃO PARANAENSE,AnoII,1928,n.4,abr.Foto:LuisAfonsoSalturi. 169

FIGURA32– MORRETES, F. L. de. O Torturado . 1927. Desenho. In: ILLUSTRAÇÃO PARANAENSE,1927,n.1.Foto:LuisAfonsoSalturi.

FIGURA33– MORRETES, F. L. de. Estudo de Nu . Sem data. Desenho. In: ILLUSTRAÇÃO PARANAENSE,1928,n.1011,out./nov.Fotoetratamento:LuisAfonsoSalturi. 170

Natela A Natureza (figura34),oprimeiroplanoéconstituídoporumgramado em diferentes tons de verde e manchas de outras cores, representando a vegetação rasteiraeaterradobarranco.Umamulhernuadeitadatomacontadogramado,sua peleérosadacomreflexosamarelosesuacabeçaestáquasedeperfil,voltadaparao fundo da tela. Os seus cabelos, longos e escuros, se espalham pelo gramado e seu braçoesquerdoestádobradosobreeles,sendoqueseucotoveloestánaalturadorosto esuamãopróximaàcabeça.Apartesuperiordoseucorpoestáparacima,masseu quadrilestáviradoparaolado,paraoobservador,suaspernasestãocruzadaseapúbis àmostra.Sobreamulher,duasborboletasamarelasvoamumaaoladodaoutra. Emsegundoplano,océu,quesemantémazul,apresentaalgumasnuvensbem compostas.Àesquerda,háumpinheiroquetemalgunsdeseusgalhosmaisbaixosque osoutros.Atrásdele,umacachoeirasemostraprimeiramenteemtonsdeamareloe laranja,ficandodepoisesbranquiçada.Aoladodela,umafaixaazulrepresenta uma montanha. À direita, há uma elevação de terra com uma palmeira e também uma entradad’água.

FIGURA34– MORRETES,F.L.de. A Natureza .Semdata.1óleosobretela:color.;145x288cm. EscoladeMúsicaeBelasArtesdoParaná,Curitiba.Foto:LuisAfonsoSalturi. 171

Na interpretação dessa e das demais telas existentes da série Pinheiros e Dríades , é interressante considerar o que Simon Schama argumenta em sua obra Paisagem e memória .Paraesseautor,paisageméculturaantesdesernatureza;um constructodaimaginaçãohumanaprojetadosobre mata, água, rocha.Noentanto,é necessário reconhecer que, quando determinada idéia de paisagem, um mito, uma visão,seformanumlugarconcreto,acabamisturandocategorias,tornandoassimas metáforas ainda mais reais que seus referentes, constituindo parte do cenário. (SCHAMA,1996,p.70) Natela A Natureza ,LangedeMorretesfezumafusãodevárioselementosda paisagemparanaense,oquevaideencontroàscategoriasqueserefereSimonSchama. Alémdeumafortereferênciaàculturaindoeuropéia,amulherdeitadatambémpode serinterpretadacomoumaalegoriadanaturezaparanaenseouatémesmoopróprio Paraná.Issoporqueoselementosqueconstituematelaseassemelhamaomapado Estado, em que são ressaltados alguns elementos geológicos, com as Cataratas do Iguaçu,doladoesquerdo,earegiãodolitoralcomomar,noladodireitodatela. JáatelaAlma da Floresta (figura35)traz,emprimeiroplano,umcampocom gramadoemdiferentestonsdeverde.Àesquerda,háumtroncodepinheiroemquese podemperceberosefeitosdaluzsolarsobascascasdaárvore.Aocentro,umamulher ajoelhadadeitaapartesuperiordoseucorposobreotroncodeumpinheirocortado.A partecortadadesteseencontracaídaàfrente.Emsegundoplano,àdireita,aofundo, apareceumavegetaçãoacinzentadaemqueseapresentamalgunspinheiros.Maisao centro,háoutropinheiroeatrásdeste,àesquerda,outrosdois.Acenafoiconstruída detalmodoqueépossívelperceberaslinhasgeométricasqueospinheirosformam entresi. Paraaanálisedoselementosquecompõemessatelavaleàpenaresgatarum comentário feito por James Frazer acerca da interpretação do culto das árvores e a crençadeentidadessobrenaturaisligadasaelas.Conformeoautor,emcertoscasos,a árvoreéconsideradacomocorpoe,emoutros,comoacasadoespíritoquenelase instala. Segundo Frazer, na literatura sobre árvores sagradas que não podem ser cortadasporseremmoradadoespírito,nemsempreépossíveldizercomcertezade quemaneiraéconcebidaapresençadoespíritonasárvores.(FRAZER,1986,p.60) 172

FIGURA35– MORRETES,F.L.de. Alma da Floresta .19271930.1óleosobretela:color.;285x 245cm.AssembléiaLegislativadoParaná,Curitiba.Foto:LuisAfonsoSalturi. Enquanto que em A Natureza , a mulher deitada parece segura, tranqüila, descansandosobreogramado,numapaisagemlivredapresençahumanaequeporsi só se mantêm em equilíbrio, o inverso acontece em Alma da Floresta , na qual a mulhernuacaídaeopinheirocortadosãoelementosqueindicamodesequilíbrio.Nas duastelas,opinheiroeamulhermantêmumaligaçãoentresi.Contudo,em Alma da Floresta ,essaligaçãoéabalada. 173

Em Alma da Floresta ,aagoniacontidanaatitudedadríade,quetambémpode servistacomoumaalegoriadapróprianatureza,quechorapelamortedaárvore,alerta paraumaconsciênciaecológica.Nessesentido,notasequeoartistafazreferênciaao pinheirocomoumprodutonociclodamadeira,principalindústriaefontederendado Paranádesuaépoca.Issosetornamaisclaroapartirdeumacitaçãodeumdeseus escritos não publicados: “Uma Araucária no chão é uma desgraça, duas, desgraça maioreadestruiçãodeumpinheiralumacatástrofe.”(MORRETES,1937,p.19) Sobreastelasdasérie Pinheiros e Dríades ,emoutrodeseusescritosinéditos, Lange de MORRETES (1948) comenta sobre a importância que uma modelo que posavaparaeleteveparaodesenvolvimentodesua arte ao lhe fornecer inspiração paraodesenvolvimentodeváriastelas.Tendoissoemvista,oartistacomentasobreas idealizaçõesdosquadrosAlma da Floresta , A Natureza , Remorso etambémoprojeto de Gea ,quedeveriasersuaobraprima: Já havia muito trabalhávamos no quadro “Alma da Floresta”, chamado inicialmente de “Virgem da Floresta”, esta tela que a princípio foi ideada com um índio parado sôbre o sopé da árvore tombada. As dificuldades que se apresentavam para a sua execução e o aparecimento de Erna mudaram o plano original dando-lhe a feição definitivamente como hoje se apresenta no Congresso do Estado do Paraná 97 . Nosintervalosdasposes,Ernapasseavapeloatelieroutomavaatitudedeacôrdocomos sentimentosquelhedominavamoespírito.Seufísicoexprimiaseuspensamentos. Foinumdessesmomentosqueeuexclamei: –Pare!Fiqueassimmesmosódeixecairobraço. Foiaatitudequefixeinomeu“Remorso”quadroquevendiparaaNoruega. Êssesfatos repetiamse constantemente eficavam anotados para futuros quadros. Era um contínuofervilhardeidéiaseconstantelabutarmasosquadrosbásicosquesurgira,também emgrandesproporções,deviamporora,seroprincipalescopodenossaatividade. Mas já ia me impondo a imagem de uma tela monumental, “Gea” representando o “ciclo da vida” em forma de pequenos estudos parciais. Era uma tela de fundo filosófico que deveria ser a minha obra capital, mas que não se realizou e nunca mais se realizará devido às condições básicas desaparecidas e devido a vida que passou. Nunca mais terei um atelier nas proporções do que possuía e minha idade de pleno vigor também não voltará mais. A Interventoria no Estado do Paraná durou demais. Não choro a fortuna que com ela perdi, representando todo o esforço de minha vida, mas não lhe perdôo o ideal que me foi destruído nem a glória que brutalmente me foi tirada de alcance.

97 Alma da Floresta foiadquiridapelaAssembléiaLegislativadoParanáem1930,comsua sedeaindanoPaláciodoRioBranco.QuandoaobrafoitransferidaparaoPalácio19deDezembro, sofreu represálias porque a figura da mulher nua retratada pela sensibilidade do artista, feria a moralidadedaépoca.(ASSEMBLÉIALEGISLATIVADOPARANÁ,1992) 174

Terminada a “Natureza” síntese da beleza natural do Paraná, encontrou seu abrigo na FaculdadedeMedicinadaUniversidadedoParaná 98 .[grifomeu](MORRETES,1948,p.11 12) Partindodessetexto,setornanítidaaindependênciaqueLangedeMorretes possuíaquandoconcebiaostemasdesuastelas.Aomudaroprojetooriginalde Alma da Floresta ,quedecertaformafaziajusaosobjetivospolíticos, o artista inseriu a figuradadríade,umelementoquedizrespeitoàsuaformaçãopessoal.Compreendero habitus de Lange, cuja descendência alemã e formação profissional na Alemanha fazemparte,setornafundamentalparaentenderoporquêdainserçãodeelementosda culturaindoeuropéiaemsuaobrapictórica.Asatitudesdoartista,queenfatizavaseus objetivospessoaisemsuapintura,decertaforma,contrariamasubmissãodocampo artístico ao campo político, na medida em que ele incorporava, em sua arte, um elementoalienígenaaoinvésdaquelesdofolcloreparanaense.NapinturadeLange,o focoderepresentação,antesdeestarconcentradonaidentidadeparanaense,concentra senanaturezadoParaná. Num imenso artigo intitulado A Virgem da Floresta , Lindolpho Barbosa LIMA (1931, p. 3) diz que conheceu essa tela quando ainda era um projeto. Ele consideraacomoumaobradeconsagraçãodeumartista,namedidaemqueperpetua umaépoca,recordageraçõesdesaparecidas,faladeumaraçaesuperaarealidade.Para omesmo,essatelanãopoderiaservistaapenasdeumavez.Oautorapresentauma análisesimbólicadoselementosqueaconstituem:opinheiroempésignificaavida,a tradição. O pinheiro cortado e caído significa a morte, a devastação. Esses dois pinheirostrazemoprenúncioda“tempestadedatransformação”nomomentoemque houveoaniquilamentodopassadoeaentradatriunfaldeumacivilizaçãoestranha:a passagemdopassadoparaofuturo.Assimcomoaquestãosimbólicapresentenessa tela, outros temas simbólicos são tratados nas obras de Lange de Morretes de diferentesperíodos. Noqueserefereaostemassimbólicos, Paisagem com Pinheiro (1929)e Rei Solitário (1953) são telas que foram pintadas em épocas diferentes, mas que apresentam grandes semelhanças, principalmente ao utilizarem o pinheiro como

98 AtelapertenceatualmenteàEmbapenecessitarestauro. 175 símbolodanaturezaparanaense.Naprimeira(figura36),umgigantescopinheirotoma conta do centro da tela. Abaixo do pinheiro, um animal pasta no campo. Atrás e embaixodopinheiro,avegetaçãorasteiraeadofundodatelasãomarcadasporum fortecontrasteentretonalidadesclaraseescurasdeverde.Osegundoplano,formado pelavegetação,nãoénítido,assimcomooanimalquepasta.Esseselementosquenão sãonítidosequeconstituematelafazemsobressairopinheiro.

FIGURA36– MORRETES,F.L.de. Paisagem com Pinheiro .1929.1óleosobretela:color.;100x 70cm.UniversidadeFederaldoParaná,SetordeCiênciasdaSaúde,Departamentode Farmácia,Curitiba.Foto:LuisAfonsoSalturi. 176

Em Rei Solitário (1953)(figura37)umpinheirotambémtomacontadatela, masaoinvésdedestacaropinheirocomoumaárvorediferentedasoutrasnanatureza, oartistasepreocupaemrepresentarasolidãodaárvore. Outra diferença dessa tela comaanterioréqueopinheirofoipintadovistoporbaixoenãodefrente,jáqueos galhosestãoapontandoparacima.Assim,aosedepararcomotamanhodaárvore,o observadoracabasesentindopequenoperanteela.

FIGURA37– MORRETES,F.L.de. Rei Solitário .1953.1óleosobretela:color.;57x70,5cm. ColeçãoWladimirTrombini.In:PARANÁ,2001,p.110. 177

LangedeMorretes mostrouatravésdesua artenãosóo modocomoviaa natureza, mas o próprio sentido que esta teve em sua vida. Fato que fez com que adicionasseonomedesuacidadenatalaoseu.Uma passagem de sua obra inédita chamada Um pedaço do Brasil ilustramuitobemessesapontamentos: Quantasvezes,sentadoàmargemdoNhundiaquara,espereiodia.Quantasvezes,esquecido àsuamargem,anoitemesurpreendeu.Comoébelo,comafaceorvalhada,assistiravitória dosraioseveraságuasnosremansosbafejaremaosbeijosdosol.Nastardesmornasnuvens cobremoazuldocéueespalhamsecomasvelhascasasribeirinhasnalimpidezdaságuas quasiparadas. Comosãobelasasnoites,quandoacristadasmontanhasparecetransformarosseuspíncaros emdedos,parareterasestrelasnofirmamentosobreacidade. Omorretensesenteestabeleza.(MORRETES,1937,p.32) EssamemóriadoartistasobreacidadedeMorretesapareceemváriasdesuas telas,como Nhundiaquara e Pico do Marumbi (1934)(figura38).Nessatela,Langede MorretesretrataoRioNhundiaquara,emtonsazulados,ladeadoporumavegetação queganhoucoresvariadasatravésdeseupincel.OPicodoMarumbitinhaparaeleum significadosemelhanteaoqueoMonteSantaVitóriatinhaparaopintorfrancêsPaul Cézanne,queretratouváriasvezesesseelementodapaisagempróximaàsuacasa.

FIGURA38– MORRETES,F.L.de. Nhundiaquara e Pico do Marumbi .1934.1óleosobretela: color.;50x39cm.ColeçãoParticular.In:CARNEIRO,1973. 178

LangedeMorretespintouváriasvezestelascommontanhas.Numapassagem de um de seus escritos, ele até faz uma comparação entre a montanha e o artista: “Como a altura de uma montanha é reconhecida pela distância, que a empurra ao horizontetambémovalordoartista,salvoempoucoscasos,éapreciadopelotempo que o afasta de sua época.” (MORRETES, sem data, p. 10). Em Paisagem com montanhas (sem data) (figura 39) ele apresenta um aglomerado de montanhas em diferentes tons que vão do verde escuro até o amarelado. Com forte tendência impressionista,essatelaéapenasumexemplodessetematratadopeloartistadesdeas obraspintadasnaAlemanha.

FIGURA39– MORRETES,F.L.de. Paisagem com montanhas .Semdata.1óleosobremadeira: color:30x23cm.ColeçãoArioTabordaDergint,Curitiba.Foto:LuisAfonsoSalturi. A força simbólica que conduz essas pinturas de montanhas de Lange de Morretes,emespecialatelasobreoPicodoMarumbi,aparecedeformaclaranumde seuspoemas: 179

Enganaseocoração? Vejodeterracamposjordana AsAgulhasNegrasdequeoBrasilseufana Vejoaspequenasesemimportância Seráefeitodadistância? Muitomaislongedaquí VejograndeoMarumbí Naminhaimaginação Serádefeitodocoração? C.J.[CamposdoJordão] XII–44. (MORRETES,1946,p.24) Esse poema foi escrito quando Lange de Morretes esteve em Campos do Jordão, cidade conhecida como a “Suíça Brasileira” devido às suas montanhas e à oxigenação do ar, características que atiçaram intelectuais, artistas, políticos e escritores que buscavam certo isolamento nesse refúgio ambiental. No poema, essa cidadepaulista,cujavegetaçãoseparecemuitocomadosuldoBrasil–inclusivecom apresençadasaraucárias–trazamarcadadistânciaeproximidadedoprocessode identificaçãodeLangecomoParanánaquelemomento.Nãosóadistânciaentreas cidadesdeCamposdoJordãoedeMorreteslhepermitiapensaremsuaterranatal, masasemelhançadolocalemqueestavatambémlembrava“acidadedospequenos morros”,quecarregavaemseupróprionome. AtelaA Morte (semdata)(figura40),queoartistapintounosúltimosanosde sua vida, além de lembrar a cidade de Morretes, possui um caráter simbólico na medida em que informa sobre suas idéias e suas crenças. Nessa obra, em primeiro plano,apareceumgramadoverdecortadoaomeioporumcaminhovermelho,quevai se tornando estreito. Em segundo plano, surge de trás do caminho um esqueleto humano com o crânio voltado para a direita e os braços estendidos em cruz, semicobertosporpedaçosderoupasdeterioradaspelaputrefação.Atrásdoesqueleto, luzesalaranjadassesobressaemeocéuàsuavoltaapresentatonsrosados. 180

FIGURA40– MORRETES, F. L. de. A Morte .Semdata.1óleosobretela:color.;56x74cm. ColeçãoElianeLangedeMorretesMonteiro,Curitiba.Foto:LuisAfonsoSalturi. Emboraessaobratenhasidovistacomofúnebreesinônimodeumasuposta depressãodoartista,trataseapenasdeumamaneiraqueeletevedemencionar,de forma pictórica, sua escolha em ser sepultado em pé, de frente para o Pico do Marumbi.Seudesejofoirealizadoeseutúmulo,noCemitériodeMorretes,tambémé cobertoporconchas. *** Nesse capítulo, na análise acerca da obra artística de Frederico Lange de Morretes,optouseporrelacionarseu habitus esuatrajetóriacomsuaprodução.Desde o início, essa empreitada já apresentou muitas dificuldades, principalmente porque consiste na primeira tentativa em analisar seus desenhos e pinturas estabelecendo ligações com seu ambiente social e com todas as linguagens artísticas em voga no 181 período vivido por ele, desde quando era apenas um jovem estudante e estava em contatocomseusprofessores. Aarteproduzidaporelerecebeuváriasinfluênciaseessefatorcontribuide forma significativa na impossibilidade de estabelecer uma etiqueta que permita classificáladeformaprecisa.Jáqueserianecessárioconsiderarnãosósuasescolhas individuaiseseuslimitescomosersocial,masofatodeleterproduzidotrabalhosde artesgráficasepintura,alémdeterrecebidoinfluênciasdeestilosartísticoscomoo ImpressionismoeaArteNova,queemcertosentidosãoantagônicos. Umadasmarcasqueviriamaseimpregnaremsuafiguramultifacetadaéo interesseespeculativoegeneralistapelanatureza.Porissosuaobraartísticanãopode ser entendida apenas partindo de sua ligação com Alfredo Andersen, sem serem vinculadascomsuaformaçãoartísticanaAlemanhaeseuconhecimentodasciências naturais. Essas características somadas ao fato dele ser brasileiro, de certa forma, moldarameconduziramseuolharparaanatureza.Tendoemvistaessasquestões,não se pode entender a vida e a obra desse artistacientista sem levar em conta várias especificidadesquetornamtantosuaartequantoeleprópriosingulares. 182

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sou como água Presa em vasilha Que ferve e fervilha E sinto com mágoa A falta de expansão Que desejo e almejo Em tudo só vejo E encontro grilhão Sou como seu revoltar Sinto em cada nervo Que não nasci para servo E devo me libertar. Todo o esforço é – que dor: Como o da água que quer se expandir E só pode subir Como tênue véu de vapor

Frederico Lange de Morretes 99 Pesquisas de sociologia que tratam sobre épocas distantes e desbotadas, na maioria das vezes, durante seu desenvolvimento, acabam ocasionando uma tarefa árduaecomplexaparaaquelesquedelasseocupam.Principalmenteporquenelas,o sociólogo,paratornarconcretassuasanálisesacercadoobjetodesuaciência,temque dialogarcomoutrasáreasdoconhecimento,asquaisestãolongedeseutotaldomínio. Sendo assim, na empreitada que antecede a análise sociológica, para capturar e organizarinformaçõesprovenientesdefontesorais,documentaisouiconográficas,o sociólogoacabasetransformandotantoemdublêdehistoriadorcomorealizandoaté mesmoosofíciosdoqualseocupamoarquivista,ojornalistaeofotógrafo. Tendoemvistaessasquestões,aolongodessapesquisa,atravésdeanálises pautadasemfontesmuitodensas,foimostradoopercurso percorrido por Frederico LangedeMorretes,sujeitoqueficoulegadoquaseao esquecimento pela sociedade paranaense,sendovítimadeváriosequívocosacercadesuavidaedesuaobra.Este trabalhotevecomoresultadoadesmistificaçãodessepersonagem,um“quasemito” que permaneceu durante muito tempo preso à memória coletiva dos críticos e pesquisadores da arte no Paraná. Através da abordagem adotada nessa dissertação,

99 MORRETES,F.L.de. Fraqueza (versos),1949,p.63. 183 poucoapouco,esseartistacientistadeixadeserapenasum“quasemito”eacabase transformandoemumpersonagem“decarneeosso”:alguémquerealmenteexistiu, uma pessoa com sentimentos e desejos individuais, com momentos de alegrias e tristezas,comvitóriasefracassos. Isso só acontece quando é explorada a riqueza e diversidade da obra de FredericoLangedeMorreteseasuafiguramultifacetada,característicarefletidanão sónadualidadedacarreiradeartistaecientista,masemsuaspráticassociais,pormeio de seu envolvimento com a política e a cultura da época, bem como com suas atividades como docente e pesquisador. Entretanto, reconstruir o percurso desse personagem e tentar compreender tais questões se tornou uma grande dificuldade, principalmenteporqueabiografiaacabasetransformandonumimensoquebracabeça incompleto,cujaspeçaséprecisoencontrarparatornar possível uma conexão entre elas e a partir daí, construir um quadro analítico para rever a biografia e tentar “preencher”oespaçovaziodaspartesfaltantes. Apesar de que, teoricamente, trabalhos dessa ordem sejam discutidos por autorescélebresdentrodasociologiacontemporâneaevenhamaseconstituirnuma verdadeira teoria da biografia ,aindaassimessaestratégiametodológicaseinserena problemática clássica da relação indivíduosociedade, antagonismo cujas teorias durkheiminiana e weberiana, cada uma a sua maneira, não conseguiram resolver. Tendoemvistaessaopçãoteórica,valelembrar,também,queaanáliseaquiadotadaé uma entre outras possíveis interpretações acerca da vida de Frederico Lange de Morretes,jáquesuatrajetória,da mesmaformaque sua obra artística, se constitui num“lequedepossibilidades”paranovasleiturasequestõesaserempesquisadase analisadas. Procurando desvendar o habitus do personagem em questão, esse trabalho mostroucomosedeuaconstituiçãodesuaindividualidadeeodesdobramentodesua carreira, esta que engloba diversas atividades. Como qualquer indivíduo, Frederico LangedeMorretesfezsuasescolhasapartirdascondiçõesdeseuespaçosocial.Essa pesquisamostrouadinâmicadarededesuasrelaçõessociais,identificandoseusafetos e desafetos e, além disso, investigou como se dava o funcionamento de seu atelier particular e quais eram suas atividades profissionais nas instituições públicas e 184 privadasemquetrabalhou.Umadasconclusõesquesechegouaesserespeitoédeque ele teve uma carreira consagrada nos campos da arte e da ciência, sendo que a docência e a política, campos que também esteve envolvido, serviram como meios paraconseguirrecursosfinanceiroselutarporseusideais.Issoporqueelevianaartee naciênciapossibilidadesparaodesenvolvimentoculturaldeseupovo,oparanaense. ÉexatamentenaconexãoentrearteeciênciaconstruídaporFredericoLange de Morretes que se encontra a atualidade das discussões sobre as manifestações regionalistaseartísticasdoParanádasprimeirasdécadasdoséculoXX,centradana discussão sobre os conceitos de paranismo e de Movimento Paranista. Retomar tal temática é de grande importância, especialmente para aqueles que iniciarão novas pesquisas.Entendeseque,umadasinovaçõesdestetrabalhoéainvestigaçãoacerca da integração de diferentes campos no desenvolvimento do paranismo como movimento, na qual é analisada a rede de relações sociais dos envolvidos e a especificidadedaconsolidaçãodocampoartístico.Partindodaabordagemedefinição presente nessa dissertação, esperase ter tornado mais fácil a compreensão dessas questõesdaquiemdiante. Duranteessesanosdepesquisa,partedavastaproduçãoartística,científicae intelectual de Frederico Lange de Morretes foi inventariada. Os detalhes de sua produçãoaparecemnosapêndicesdessadissertaçãoemformadeváriosquadroscom conteúdosvariados.Oprimeirodelestrazinformaçõesrelativasàsexposiçõesfeitas em vida pelo artista e também as exposições organizadas postumamente. Esses quadros,aoinformaremoslocais,asdataseostítulosdasobrasexpostas,permitem compreendermelhorsuatrajetóriaesuacarreiracomopintoredesenhista. Ainda em relação aos apêndices, a listagem de sua produção bibliográfica permite perceber seu investimento na literatura, através de prosas e poesias não publicadas e de crônicas e críticas em jornais da época. Além disso, sua produção científicatambémservecomomarcadesuaconsagraçãoemnívelinternacionalcomo um dos pioneiros da malacologia no Brasil. Ao longo dessa pesquisa, foi através dessesescritosque,emmuitassituaçõessetornoupossívelentendercertosperíodosde sua vida, para comprovar as datas e locais e descobrir o que ele estava fazendo, a exemplo dos detalhes dos poemas da coletânea Fraqueza , de 1949. O mesmo 185 aconteceucomalistagemdesuaproduçãoartísticaque,alémdeinformarasdataseos títulosdasobras,permiteumavisãogeralsobreastécnicaseosmateriaisutilizados em sua produção, servindo também como ponto de referência para outros pesquisadores. Partindodeumaamplarevisãodabibliografiasobreoparanismo,foimostrada qualerarealmentearelaçãoentreavidaeaobradeFredericoLangedeMorretescom o paranismo, bem como sua ligação com outros intelectuais e artistas que também fizerampartedoMovimentoParanista.Quantoaisso,emcertoperíododesuavida, notase a incompatibilidade entre os campos da política e os demais campos envolvidos com o paranismo, principalmente quando o artistacientista contrariou a iniciativa dos governos federal e estadual em taxar as obras de arte e, conseqüentemente,acaboupornãoaceitarasregrasquesubmetiamocampoartístico aocampopolítico. No que se refere à suas obras artísticas, foram analisadas as influências de movimentoseestilos,etambémaimportânciadosensinamentosdeseusprofessores tantonoBrasilquantonaAlemanha.Emsuapintura,foramidentificadosalgunstemas ouelementosqueestãopresentesdeformaconstanteaolongodesuaprodução,como pinheiros,águas,casinhaseaindapersonagensdaculturaindoeuropéia,comoafigura das Dríades. Podese concluir que no processo criativo em que Frederico Lange de Morretesintegrouesseselementosàcategoriadepaisagem,suasobrasacabaramtendo umrecorteeenquadramentovisualbemcaracterístico,conduzidos emcerta medida peloolhardaciêncianatural,jáqueenxergavacientificamenteaquiloquepintava. Aoanalisaremsuaobra,oscríticosdearteepesquisadores não exploraram essasquestõesafundo.Oenfoquedadoporestetrabalho propõe uma interpretação alternativaàquelasdoscríticosepesquisadoresdearte.Valelembrarque,emboraa pinturadeFredericoLangedeMorretescarregueconsigoumapreocupaçãocomacor ecomaluz,própriasdoImpressionismo,elatambémtrazumarepresentaçãocientífica danatureza,típicadonaturalismo,alémdeelementosdoPósImpressionismo.Tudo isso constitui em Lange de Morretes uma grande complexidade e singularidade, e ainda,um“sentimentodepaisagem”quefuncionavacomoumamoldura,atravésda qualeleolhavaanaturezaerealizavasuaarte. 186

TendocomoreferênciaasobrasdeLangedeMorretesedeseusamigos,o paranismo se desenvolveu nas artes plásticas centrado na preocupação com a representaçãodanaturezaedomeiogeográficoparanaense,funcionandocomouma maneiraamaisderepresentaraidentidadedoEstadodoParaná.Sendoassim,noque serefereàdominaçãopolíticaeeconômicadeumaelitesobreapopulaçãoparanaense, perspectivaexploradaporoutrospesquisadores,ocampodaartenãotinhaamesma preocupaçãoqueocampopolítico,superandoatémesmooregionalaocarregaruma tentativa de universalização. Nesse caso, servem como exemplos a capa da revista Illustração Paranaense eaestilizaçãoparanista. A estilização paranista pode ser vista como variante dos estilos da arte decorativadaEuropa,sendoqueopinheirofoiumentremuitoselementosdanatureza doParanárepresentadonessetipodearte. Ospinheiros, elementos pintados muitas vezes por Frederico Lange de Morretes ou estudados meticulosamente em suas proporções geométricas pelo artistacientista, dizem respeito mais ao habitus do mesmoemenosaofatodeleterparticipadodoMovimentoParanista.Issoporquesua produção artística e científica é marcada por uma forte ligação com a natureza, elementoqueoacompanhoudesdesuainfâncianascidadesdeMorreteseParanaguá, ambasdolitoraldoParaná. Devidoàconcepçãoromânticadeartistagênioqueperduravanamentalidade regionaldaépocaemqueFredericoLangedeMorretesviveunoParaná,nãocabiaa existência de um artistacientista, ou seja, um artista que também fazia ciência, ou viceversa.Contudo,elenãosesubmeteuaessaslimitaçõesimpostaspelasociedade, poissempreesteve“entreumacoisaeoutra”,conciliandoseugostopessoalcomsua atividadeprofissional.Osrumosdesuavidaedesuacarreirapoderiamatétersidos outrosseeletivesseaceitadoasimposiçõesexterioresaoseueu,maseleinsistiuem reafirmar suas próprias escolhas e projetos pessoais. Ele esperava ser reconhecido pelasatividadesquedesenvolveunoParaná,suaterranatal.TantoqueemO pinheiro na arte ,seutextoautobiográfico,aocitarGoethe,dizque“ahorafeliz”passouporsua vidaporquesempreprocurouum“eloqueounisseaoseupovo”. Opoematranscritocomoepígrafeàguisadeconclusãoganhaaquiseumotivo dedestaque,poismostramuitobemaconsciênciaqueFredericoLangedeMorretes 187 tinha sobre os limites que seu espaço social lhe impunha e as dificuldades que os campos do qual fez parte lhe colocavam. É com a leitura desse poema que este trabalho termina. Frederico Lange de Morretes sempre procurou expansão e se realmente“somoslivresdentrodelimites”,conformedizPierreBourdieunaepígrafe doprimeirocapítulodessadissertação,LangedeMorretessoubemuitobemconduzir suavidaesuacarreira,suaciênciaesuaartemuitomaispelaliberdadedoquepelos limites. 188

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SOCIEDADEDEARTISTASDOPARANÁ:Anunciamsegrandesacontecimentos dearte.Umpróximoconcertomusicaleumainteressanteconferêncialiterária. Gazeta do Povo ,Curitiba,18ago.1933,p.3. SUPLEMENTODAILLUSTRAÇÃOPARANAENSE. 10 minutos de leitura sobre o Paraná .FotosdeJ.B.Groff.Curitiba,1929.34p. TREVISAN,E.Asnascentesdoparanismo. Gazeta do Povo ,Curitiba,9jun.1991,p. 23. VIARO,G.FritzLangedeMorretes. O Estado do Paraná, Curitiba,29ago.1959. CadernoDeSemanaaSemana,p.14. XAVIER,V.OcentenáriodeJ.B.Groff:Exposiçãodefotosdefotoseexibiçãode umvídeolembramavidaeaobradocineastaepintorparanaense. Gazeta do Povo , Curitiba,09dez.1997,CadernoG,Cinema,p.3. 3CATÁLOGOS,CALENDÁRIOS,INFORMATIVOSE FOLDERS . ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO PARANÁ. Alma da Floresta : Lange de Morretes(1930).Curitiba,1992. Folder . BADEP. Panorama da Arte no Paraná : Discípulos de Andersen & artistas independentes.SalãodeExposições.Curitiba:BancodeDesenvolvimentodoParaná, 1976.28p.Catálogodeexposição. _____. Retrospectiva Lange de Morretes .SalãodeExposiçõesdoBadep.Curitiba: BancodeDesenvolvimentodoParaná,1978.16p.Catálogodeexposição. BANESTADO. Discípulos de Andersen. Lange, Traple, Freysleben, De Bona, Amélia .SérieGentenossacoisasnossas.Curitiba:Banestado,1989.Catálogo. _____. Do pioneiro Anníbal Requião à agitação dos anos 60 . Série Gente nossa coisasnossas.Curitiba:Banestado,1989.Catálogo. BATAVO. Calendário Batavo .1996,Curitiba. CARNEIRO,N. Frederico Lange de Morretes .Curitiba:SecretariadaEducaçãoe Cultura,set.1973.CalendárioFundepar. CLUBECURITIBANO. 100 anos Lange de Morretes .Curitiba,1992.Catálogode exposição. FENIANOS, E. E.; MENDONÇA, M. N. Pegadas da memória, roteiro cultural histórico para conhecer Curitiba a pé .Curitiba:PrefeituraMunicipal,1996. 197

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PARANÁ. Instituto de Educação do Paraná (proposta para reestruturação administrativadoInstitutodeEducaçãodoParaná).Curitiba:SecretariadaEducaçãoe Cultura,semdata,p.79.Datilografado. 4.2Coleçõesdeperiódicos. ARQUIVOS DO MUSEU PARANAENSE .Curitiba,Vol.IX,19411954. ILLUSTRAÇÃO PARANAENSE : Mensário paranista de arte e actualidades. Curitiba,AnoIIV,19271930. 4.3Entrevistas. MORRETES,B.L.de. Entrevista concedida a Luis Afonso Salturi .Primeiraparte: Curitiba/SãoPaulo,14maio200323jul.2003. MORRETES,B.L.de. Entrevista concedida a Luis Afonso Salturi .Segundaparte: Curitiba/SãoPaulo,22nov.200620dez.2006. PILOTTO,L. Entrevista concedida a Luis Afonso Salturi .Curitiba,04jun.2004.

4.4Internet. ARTNET. Grove dictionary of art. Artist’s biographies. Jank, Angelo .Disponível em:.Acessoem:9jun.2006. CAVALCANTI, D. Estações Ferroviárias do Brasil . Estado do Paraná. RVPSC. CuritibaParanaguá. Disponível em: Acessoem:24jun2006. CAMPOSDOJORDÃO.Cidade.História. História de Campos do Jordão :Ciclodo Ouro (1703 1874). Disponível em: . Acessoem:2set.2006. ITAÚ CULTURAL. Enciclopédia de Artes Visuais . Disponível em: Acesso em: 29set.2005. MINISTÉRIO DA FAZENDA Ministros desde 1808 . República. Disponível em: .Acessoem:12dez.2006. WALTERTIEMANNPRIZE[English]. Biography of Walter Tiemann .Disponível em:.Acessoem:7jun.2006. 200

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ClubeConcórdia. ColégioEstadualdoParaná. EscoladeMúsicaeBelasArtesdoParaná. InstitutodeEducaçãodoParaná. InstitutodePesquisaePlanejamentoUrbanodeCuritiba InstitutoHistóricoeGeográficodoParaná. MuseuAlfredoAndersen. MuseudeArteContemporâneadoParaná. MuseuOscarNiemeyer. MuseuParanaense. UniversidadeFederaldoParaná. 202

APÊNDICES

APÊNDICE 1 – EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS E COLETIVAS...... 203

APÊNDICE 2 – PRODUÇÃO INTELECTUAL E CIENTÍFICA...... 212

APÊNDICE 3 – PRODUÇÃO ARTÍSTICA...... 216

APÊNDICE 4 – ALUNOS: NOTAS BIOGRÁFICAS...... 222 203

APÊNDICE 1 – EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS E COLETIVAS QUADRO1–EXPOSIÇÕESEMVIDAEPÓSTUMAS EXPOSIÇÕES EM VIDA (1907 - 1952) 1907 ExposiçãodeAlfredoAndersenapresenta5desenhosfeitosporLangedeMorretes. 191 ExposiçõesIndividuaisnaAlemanha,nascidadesdeMuniqueeColônia. 1919 Exposiçãocoletiva: I Exposição Estadual de Pintura ,Curitiba(PR). 1920 1a. Exposição Individual em Curitiba (PR),jul./1920,naAssociaçãoComercialdoParaná. [33quadrospintadosnaEuropa: Solidão (paisagemdeinverno), Águas que jorram (cascata de Baviera), Cascatinha (cascata de Baviera), Derrubada (floresta de Baviera), Luz e sombra , Pastagem (ponte dos Alpes bávaros), Manhã (Alpes bávaros), Ermida isolada , Primavera que chega , Recanto tranqüilo (Alpesalemães), Antes da tormenta , A beira da floresta , Outono , Açude (poentedeoutono), Poente de inverno , Sol e primavera , Paisagem de floresta , Fais , Cristas dos Alpes e baixada , Várzea , Helyanthos e Crysandalias , Lyrios , Rosas , Estudo de flores , Flores do campo , Lago da montanha , Planalto nos Alpes , Aldeia , Primavera , Corredeira , Flores , Flores , e Flores . (MUNHOZ, L. Alguns artistas paranaenses. Gazeta do Povo ,Curitiba,07set.1922,p.59)]. 1921 2a. Exposição Individual em Curitiba (PR),fev./1921. [12quadroscomotemaCataratasdoIguaçu,entreeles: Onde o belo une as Nações , Do ponto do pintor , Floriano e Belgrano , Floriano, Belgrano e Mitre (I), Garganta do Diabo , Floriano, Belgrano e Mitre (II), Manhã nos Saltos , Trovoada , As grandes quedas , Por do sol .(MUNHOZ,L.Algunsartistasparanaenses. Gazeta do Povo ,Curitiba,07set.1922,p. 59)]. ExposiçãoIndividualnaEscolaNacionaldeBelasArtes,05/06/1921,RiodeJaneiro(RJ). [12quadroscomotema Cataratas do Iguaçu ]. ExposiçãoIndividualnacasaeditora O Livro ,SãoPaulo(SP). [12quadroscomotema Cataratas do Iguaçu ]. 3a. Exposição Individual em Curitiba (PR),dez./1921. [21quadroscomtemasdoParaná]. 1922 Exposição individual na Associação Comercial do Paraná ,Curitiba(PR). 1927 Exposiçãocoletiva: 34ª. Exposição Geral de Belas Artes ,noSalãoNacionaldeBelasArtes, RiodeJaneiro(RJ).[MedalhadeBronzepelaobra Tranqüilidade ]. Continua 204

Continuação 1928 ExposiçãodeFredericoLangedeMorretesjuntocomJoãoTurin,emCuritiba(PR). [21quadros:entreeles Onde o belo une as nações e Tranqüilidade ,alémdeobrassobreo litoralparanaense;Turinexpôsesboços,retratosecapitéisdepinheiros]. 1934 Exposição coletiva: III Salão Paranaense ,naSociedadedosArtistasdoParaná,Curitiba (PR),expôsobraseparticipoucomoMembrodoJúri depintura no ao lado de Alfredo AnderseneGuidoViaro,JoãoTurinfoijuradodeesculturaeF.PinnowdeArquitetura. [16quadros: Tranmercé , Passeio Público , Onde o belo une as nações , Alma da Floresta, Atlântico , Manhã de Primavera , Propriedade , Heide , Propriedade , Tranqüilidade , Propriedade , A natureza , Só , Estudo , Pinheiros , Meio dia .( III SALÃO PARANAENSE . Pintura,escultura,desenho,arquitetura.RealizadonorecintodaExposiçãoFeira.Curitiba: SociedadedeArtistasdoParaná,jan.1934.Catálogodeexposição)]. 1941 Exposiçãocoletiva: Primeira Exposição ,SociedadeAmigosdeAlfredoAndersen,Curitiba (PR). 1942 Exposição coletiva: 7°. Salão dos Sindicatos dos Artistas Plásticos , na Galeria Prestes Maia,SãoPaulo(SP). 1944 Exposição coletiva: I Salão Paranaense de Belas Artes , 10/11/1944, no Auditorium do Edifício do Orfeão da Escola Normal de Curitiba, promovido pela Diretoria Geral da Educação,Curitiba(PR).[1quadro: Ponte sobre o Rio São Francisco . (MUSEUDEARTE CONTEMPORÂNEA. I à XII Salão Paranaense : DC. Curitiba: Museu de Arte ContemporâneadoParaná,19441955)]. Exposição coletiva: Exposição de Arte Paranaense , Sociedade Amigos de Alfredo Andersen,Curitiba(PR). Exposição coletiva: 9°. Salão dos Sindicatos dos Artistas Plásticos , na Galeria Prestes Maia,SãoPaulo(SP). 1947 4a. Exposição Individual em Curitiba (PR),aberturaem15/01/1947,PavilhãodeEducação FísicadoInstitutodeEducaçãodoParaná. [Entreosquadrosexpostos: Ministério da selva , Sentinelas avançadas , Pelas selvas e rios do Paraná , Salto Cidinha , Banheiro Saci , Casa do Sonho . (GONZÁLEZ, C. Lange de Morretes. Gazeta do Povo ,Curitiba,16fev.1947,p.7)]. Exposição coletiva: IV Salão Paranaense de Belas Artes , 19/12/1947 a 17/01/1948, na Escola Normal de Curitiba, promovido pelo Departamento de Cultura da Secretaria de EducaçãoeCulturadoEstado,Curitiba(PR). [9 quadros: Encanto Matinal , Tarde Doirada , Escalada Gloriosa , Benzinho Benzóca , Musa , Helicônia , Posse do Ermo , Na Ponta da Pita e Velhas Figueiras à Beira Mar ; Prêmio em dinheiro: Cr$ 1.000,00 pela obra Encanto Matinal. (MUSEU DE ARTE CONTEMPORÂNEA. I à XII Salão Paranaense :DC.Curitiba,19441955)]. Continua 205

Continuação 1948 Exposiçãocoletiva: Exposição Itinerante de Arte ,GovernodoEstado,PontaGrossa(PR). 1949 Exposiçãocoletiva: 15°. Salão Paulista de Belas Artes ,naGaleriaPrestesMaia,SãoPaulo (SP).[MedalhadeBronzepelaobra Paisagem de Morretes ]. 1952 Exposição coletiva: Exposição Permanente de Artistas Paranaenses , Departamento de CulturadaSecretariadeEducaçãoeCulturadoEstado,Curitiba(PR). EXPOSIÇÕES PÓSTUMAS (1954 - 2006) 1954 Exposiçãocoletiva: 7o. Salão de Belas Artes de Primavera ,25/09/1954a09/10/1954,no ClubeConcórdia,Curitiba(PR),HomenagemaFredericoLangedeMorretes. [Medalha de Ouro In memoriam . Detalhes dessa Medalha: “ Homenagem do Club Concórdia ao XI Salão Paranaense de Belas Artes - 1954 . Anv.Nocentro,afigurada Vitóriasobreoglobo;àesquerda,umramodelouro;àdireita,umapalhetadepintor.Na orlaàesquerda:CLUBECONCÓRDIA;àdireita...SALÃODEBELASARTES.Rev. Nocentro:aefígiedohomenageado;noterçoinferior:CURITIBAPRIMAVERA1954e duas faixas para gravação. Na orla, nos dois terços superiores: HOMENAGEM A F. LANGEDEMORRETES.EmletraspequenasJ.PEONjuntoaoombroesquerdodaefígie. Circular,com30mm.dediâmetro.”(LANGE,E.;MOREIRA,J.E. Medalhas do Paraná: CatálogopublicadopelasecçãodeHistóriadoMuseuParanaense.Curitiba:J.Haupt,1959. p.86)]. Exposição coletiva: XI Salão Paranaense de Belas Artes , 19/12/1954 a jan./1955, na BibliotecaPúblicadoParaná,Curitiba(PR),promovidopeloDepartamentodeCulturada SecretariadeEducaçãoeCulturadoEstado,HomenagemEspecial. [Medalha de Ouro In memoriam . Detalhes dessa Medalha: “Prêmio ao XI Salão Paranaense de Belas Artes - 1954 . Anv.Nocentro,afiguradohomenageado.Naorla: XI SALÃO PARANAENSE DE BELAS ARTES FREDERICO LANGE DE MORRETES. Em letras muito pequenas. Em baixo à esquerda: PEON E TORTATTO. Rev.TodaafaceétomadapeloescudodoParaná,trazendo na orla os dizeres: 19 DE DEZEMBRO DE 1954. Ladeado entre estrelas CURITIBA. Circular, com 40 mm. de diâmetro.”(LANGE,E.;MOREIRA,J.E. Medalhas do Paraná: Catálogopublicadopela secçãodeHistóriadoMuseuParanaense.Curitiba:J.Haupt,1959.p.86)]. 1960 Exposiçãocoletiva: I Salão Anual de Curitiba ,RetrospectivaParanaense,Curitiba(PR). 1964 Exposição coletiva: Pioneiros da Pintura no Paraná , organizada pelo Departamento de CulturadaSecretariadeEducaçãoeCulturadoEstado,Curitiba(PR). [2quadros: Guaraqueçaba e Paisagem ]. Continua 206

Continuação 1971 Exposição individual: Retrospectiva Lange de Morretes , 03 a 30/11/1971, na Casa de AlfredoAndersen,Curitiba(PR). [21quadros:Estudodecabeça,AugustoBockmann,Paisagem,Pinheiros,RudolphLange, Cataratas do Iguaçu, Natureza morta, Paisagem alemã, Paisagem, Paisagem, Passeio Público,PaisagemdeMorretes,Paisagem,Guaraqueçaba,Paisagem,Marinha,Cataratasdo Iguaçu, Amanhecer, Natureza morta, Campos do Jordão, Paisagem inacabada. (CASA ALFREDOANDERSEN. Documentação :ObrasdeLangedeMorretesexpostasnaCasa deAlfredoAndersen,emhomenagemadatadenascimentodopaidapinturaparanaenseno períodode3a30denovembrode1971.Curitiba,1971)]

1973 Exposiçãocoletiva: Mostra de Arte de Acervos Particulares ,05a20/10/1973,noSalãode ExposiçõesdoBadep,Curitiba(PR). 1975 Exposiçãocoletiva: Panorama da Arte no Paraná 1 : Dos Precursores à Escola Andersen , 25/09 a 15/10/1975, no Salão de Exposições do Banco de Desenvolvimento do Paraná, Curitiba(PR). [8quadros: Pinheiro na Serra , Pinheiros , Paisagem , Paisagem , Guaraqueçaba , Pinheiros , Colheita do Feno , Paisagem Européia ]. Exposição coletiva: 32. o Salão Paranaense ,19/11a19/12/1975,SalaEspecialLangede Morretes no Salão de Exposições da Fundação Teatro Guaíra, promovido pela SEC/DAC/FTG,Curitiba(PR). [10 quadros: Estudo de cabeça, Augusto Bockmann, Rudolph Lange, Paisagem alemã, Passeio Público, Paisagem de Morretes, Guaraqueçaba, Marinha, Cataratas do Iguaçu, Paisagem. (MUSEU DE ARTE CONTEMPORÂNEA. 32°. Salão Paranaense : Ata/ Divulgaçãooutrosdocumentos.Vol.I.Curitiba,1975)]. Exposiçãocoletiva:ExposiçãonoBancoNacional,Curitiba(PR). 1977 Exposiçõescoletivas: I Mostra de Arte & Técnicas artísticas , II Mostra de Arte & Técnicas artísticas e Paraná Arte & Economia , no Salão de Exposições do Banco de DesenvolvimentodoParaná,Curitiba(PR). 1978 ManifestaçãonoMuseudeArteContemporâneadoParaná,Curitiba(PR). [Em 12 e 13 de novembro de 1978 foi publicado no Jornal do Commercio do Rio de Janeirooartigo Réquiem por 7 quedas ,deautoriadeWalmirAyala,quedisse:“Atelateria sidolevadaparaSãoPauloem1935eretornadoàCuritibaem1975.Opéssimoestadoda tela é devido a um alagamento no depósito onde se encontrava o caixote/embalagem, ocasionando infiltração na parte inferior do rolo. A falta de pronta secagem e de uma restauração de imergência contribuíram para a deterioração da obra, sendo quase impossível, hoje, recuperála inteiramente. Á manifestação, de caráter ambiental, pois reconstituiumambientedevelóriotendocomoobjetoveladoapinturadassetequedasem seuapogeuecológico,incluiaindafloresnaturais,borboletasepássarosdepapel.Causou grandeimpactolocaleintegranobrementeagrandecorrenteartísticaemfavordanatureza, o que vem a ser, principalmente, um movimento em favor da vida no nosso planeta.” (AYALA, W. Notícias do Paraná :sobrearteparanaense.Curitiba:ImprensaOficial do Paraná,2002.p.9192.] Continua 207

Continuação 1978 Exposição individual: Retrospectiva Lange de Morretes , 03 a 23/05/1978, no Salão de ExposiçõesdoBancodeDesenvolvimentodoParaná,Curitiba(PR). [Estudosdemalacologiae83quadros:SaltodoSaci,CapãodaImbuia,Amorte,Paisagem européia, São Francisco (estudo), Nu, Rosto de Mulher (desenho), Perfil de velho (desenho), Estudo de nu (desenho), Rosto de velho (desenho), Nu de costas (desenho), Rosto de velho (desenho), Pinheiro, Pinheiros, Rochas no Mar, Paisagem do litoral, CuritibaBairrodoSeminário,Rosas,ORioIguaçu,Guaraqueçaba,Nu,Pinheironaserra, Marinha,Cataratas,Paisagem,NeblinanoPasseioPúblico,Marinha,Pinheiros,Pinheiros, Pinheiros, Flores, Rosas, Paisagem, Marinha de Guaratuba, Paisagem, Gruta do Monge, Paisagem, Tranqüilidade, Nu (desenho), Nu (desenho), Paisagem com pinheiro, Nhundiaquara e Pico do Marumbi, Baía de Antonina, Ponta Feliz (Antonina), Natureza morta,Pinheiro,Ubatuba,CapãodaImbuia,Amanhecer, Pinheiros, Cataratas do Iguaçu, Natureza morta, Tronco, Figura de mulher (desenho), Augusto Bockmann, Pinheiros, PaisagemdeMorretes,IgrejadaÁguaVerde,Pinheiro,Aopôrdosol,Flores,Retratode Frank (litografia), Pinheiros, Rosas, Paisagem Paranaense, Retrato de Lange de Morretes porAugustoConte,CataratasdoIguaçu,Paisagemensolarada,Papoulas,Cabeçadevelho, Cabeçadevelho,Nu(desenho),CataratasdoIguaçu,ValedoIpiranga,CataratasdoIguaçu, Porto da Passagem, Pôrdosol no Prado Velho, Passeio público, Paisagem, Figura (desenho),Paisagem,PraçaTiradentesem1870,Nu.(BADEP. Retrospectiva Lange de Morretes .SalãodeExposiçõesdoBadep.Curitiba:BancodeDesenvolvimentodoParaná, 1978.Catálogodeexposição.p.1015)]. Exposição coletiva: A Paisagem Paranaense , 01/08 a 10/09/1978, na Galeria Acaiaca, Curitiba(PR). Exposição coletiva: Coletiva de Inverno , Leilão de Parede, Galeria de Arte SH 316, Curitiba(PR). 1980 Exposiçãocoletiva: I Grande Leilão, Exposição de obras ,GaleriaCocaco,Curitiba(PR). Exposição individual: Exposição Lange de Morretes e seus discípulos , na Fundação CulturaldeCuritiba. 1982 Exposição individual: Lange de Morretes, Série Discípulos de Andersen X , 12/05 a 06/06/1982,MuseuAlfredoAndersen,Curitiba(PR). [54quadros: Salto do Saci , Capão da imbuia , A morte , Paisagem com palmeiras , Retrato de Frederico Lange de Morretes , São Francisco e as sereias , Nu , Perfil de Velho , Perfil , Estudos de Nu , Pico do Saci , Paisagem de Morretes , Paisagem , Natureza morta , Emanto matinal , Marinha , Paisagem alemã , Paisagem da Alemanha , Náufragos , Pinheiro , Rosas , Guaraqueçaba , Nu , Pinheiro da Serra , O mar , Cataratas , Neblina no Passeio Público , Pinheiros , Pinheiros , Açoita cavalos , Flores , Marinha , Paisagem com pinheiro , Cataratas do Iguaçu , Tranqüilidade , Tronco , Figura de mulher (I) , Figura de homem , Figura de mulher (II) , Augusto Bockmann , Pinheiros , Igreja da Água Verde , Paisagem paranaense , Cataratas do Iguaçu , Vale do Ipiranga , Casa do alto da Serra , Paisagem , Paisagem européia , Pinheiro , Ubatuba , Capão da Imbuia , Rochas no mar , Cabeça de Velho , Paisagem .(MUSEUALFREDOANDERSEN. Lange de Morretes, Série Discípulos de Andersen X .Curitiba:MuseuAlfredoAndersen,1982.Catálogodeexposição,p.12)]. Continua 208

Continuação 1984 Exposição coletiva: Inauguração da Galeria de Arte Poupança Banestado, 26/04 a 10/06/1984,Curitiba(PR). 1986 Exposiçãocoletiva: Tradição/Contradição ,noMuseudeArteContemporâneadoParaná, Curitiba(PR). 1988 Exposiçãoindividual: Projeto Quadro do mês (julho) ,MuseuAlfredoAndersen,Curitiba (PR). [1quadro: Tranqüilidade ]. 1989 Exposiçãocoletiva:Desenho,CoreForma,StudioR.Krieger,Curitiba(PR). Exposiçãoindividual: Artista do mês ,03a31/05/1989,MuseudeArtedoParaná,Curitiba (PR). [1quadro: Guaratuba (1928)]. 1990 Exposiçãocoletiva: 9ª. Mostra de Gravura Cidade de Curitiba : A litografia no Paraná ,no MuseuGuidoViaro. 1992 Exposição individual: 100 anos Lange de Morretes Clube Curitibano , 04 a 22/12/1992, Curitiba(PR). [Obrasdepinturaeestilizaçãoparanista] 1996 Exposiçãocoletiva: Andersen, Reflexo na Arte do Paraná ,01a12/04/1996,MuseuAlfredo Andersen,Curitiba(PR). Exposiçãoindividual: Lange de Morretes ,25/03a29/04/1999,MuseuAlfredoAndersen, 1999 Curitiba(PR). [Estudosdemalacologiaeobrasdepinturaentreelas: Guaratuba , O amanhecer , Cataratas , Paisagem , Paisagem , Serra Negra .(MUSEUALFREDOANDERSEN. Exposição Lange de Morretes .Curitiba:MuseuAlfredoAndersen,1999.Catálogodeexposição)]. Exposiçãocoletiva: Pintores Paranaenses ,EscolaPequerruchos,Apucarana(PR). 2002 Exposiçãocoletiva: Acervo Banestado Arte Paranaense Revisitada ,SEEC/CAM,Curitiba (PR). 2003 Exposiçãocoletiva: Panorama da Arte Paranaense ,AcervodoEstadodoParaná,22/11a 09/03/2003,NovoMuseu[atualMuseuOscarNiemeyer],Curitiba(PR). Continua 209

Continuação 2004 Exposiçãocoletiva: A Paisagem Paranaense e seus Pintores ,naCasaAndradeMuricy. Exposição coletiva: Um olhar sobre a arte paranaense , 08/07/2003, no Museu Oscar Niemeyer,Curitiba(PR). [1quadro: Guaratuba (1928)]. Exposiçãocoletiva: Arthur Nísio (emhomenagemaostrintaanosdeseufalecimento),no MuseudeArteContemporâneadoParaná,Curitiba(PR). [1quadro: Guaratuba (1928),naSeçãodeartistasparanaenses]. 2005 Exposiçãoindividual: Sala Personagens paranaenses : Homenagem à Lange de Morretes , 16/03/2005a29/06/2005,noMuseuParanaense,Curitiba(PR). [Recortesdejornais,obrasdepintura,estudosdemalacologiaeobjetos]. Exposiçãocoletiva: Sala Especial: Pinheiro, Pinha, Pinhão ,31/08a20/11/2005,noMuseu Paranaense,Curitiba(PR). [1quadro: Pinheiros (1948);livros,revistaseobrasdeartesobreoMovimentoParanista]. 2006 Exposição coletiva: Andersen, Discípulos e Amigos , 18/01/2006, Fundação Honorina Valente,noMuseuAlfredoAndersen,Curitiba(PR). [3quadros: Paisagem , Paisagem e Estudo de Figura Humana Feminina (1916)]. Exposiçãocoletiva: Semana Andersen, Coleção Família Plácido e Silva ,noMuseuAlfredo Andersen,Curitiba(PR). [1quadro: O amanhecer ]. Conclusão

FONTE: Na elaboração desse quadro cronológico foram consultadas diversas fontes e uma ampla bibliografia.Nocasodeinformaçõesmuitoespecíficasoptouseporcitarasreferências. 210

FIGURA41– BADEP. Retrospectiva Lange de Morretes . Salãode Exposições. Curitiba: Banco deDesenvolvimentodoParaná,1978.Catálogodeexposição.

FIGURA42– MUSEU ALFREDO ANDERSEN. Lange de Morretes, Série Discípulos de Andersen X .Curitiba:MuseuAlfredoAndersen,1982.Catálogodeexposição. 211

FIGURA43– CLUBECURITIBANO. 100 anos Lange de Morretes .Curitiba:ClubeCuritibano, 1992.Catálogodeexposição.

FIGURA44– MUSEUALFREDOANDERSEN. Exposição Lange de Morretes .Curitiba:Museu AlfredoAndersen,1999.Catálogodeexposição. 212

APÊNDICE 2 – PRODUÇÃO INTELECTUAL E CIENTÍFICA

QUADRO2–BIBLIOGRAFIADEFREDERICOLANGEDEMORRETES ESCRITOS SOBRE ARTE E POLÍTICA MORRETES,F.L.de. Arte e fisco :Artigospublicadosemnovembrode1929naGazetadoPovo. Curitiba:GazetadoPovo.Semdata.16p.[Coletâneadeartigos].[MAA] Arte e fisco. Diário da Tarde, Curitiba, 10 jan. 1930. Não paginado. [ArtigocontraataxaçãodasobrasdeartenoParaná].[BPP] Para defender e desenvolver a arte paranaense: Fritz Lange de Morretes palestra com a Gazeta do Povo – o que tem feito e o que vae fazer a SociedadedeArtistasdoParaná. Gazeta do Povo ,Curitiba,11abr.1931. p.1,3.[ArtigosobreaSociedadedeArtistasdoParaná].[BPP] O pinheiro na arte. Ilustração Brasileira , Ed. Comemorativa do CentenáriodoParaná.RiodeJaneiro,anoXLIV,n.224,p.168,169,274, dez.1953.[Resumode Uma árvore bem brasileira ,de1944].[BPP] ESCRITOS LITERÁRIOS MORRETES,F.L.de. Um pedaço do Brasil ,1937.33p.Datilografado.[MON] Uma árvore bem brasileira ,1944.[Nãolocalizada]

Erna e Maria Aparecida : duas mulheres que encontrei no caminho da minhavida,1948.26p.Datilografado.[MON] Fraqueza (versos),1949,104p.Datilografado.[MON] ESCRITOS DE MALACOLOGIA MORRETES,F.L.de. Dois novos gasterópodos pulmonados do Brasil. Revista do Museu Paulista ,SãoPaulo,vol.23,p.301305,1938.[RF] Duas espécies novas de moluscos marinhos do Brasil. Livro Jubilar do professor Lauro Travassos ,RiodeJaneiro,p.329332,1938.[RF] Algumas palavras sobre novas ocorrências e maior distribuição de moluscos na costado Brasil. Revista da Indústria Animal (Nova série, vol.3,n.4),n.131,p.184187,1940.[RF] NovosmoluscosmarinhosdoBrasil. Arquivos de Zoologia do Estado de São Paulo (Tomo25daRevistadoMuseuPaulista,191),vol.2,art.7,p. 251256,1940.[RF] Continua 213

Continuação MORRETES,F.L.de. Um novo Gasterópodo pulmonado do Brasil. Arquivos de Zoologia do Estado de São Paulo ,(Tomo25daRevistadoMuseuPaulista,191),vol. 2,art.8,p.257260,1940.[RF] Rochnaria gulmansi , nov. gen., n. esp. Novo Lamelibranquio do Brasil. Arquivos do Instituto Biológico ,SãoPaulo,vol.XII,art.5,p.7580,out. 1941.[RF] Contribuiçãoaoestudodafaunabrasileirademoluscos. Papéis avulsos do Departamento de Zoologia da Secretaria da Agricultura , São Paulo, vol.III,n.7,p.111126,1943.[ResultadodaColeçãodeMoluscosobtida pelaExcursãoCientíficarealizadapeloInstitutoOswaldoCruzemoutubro de1938][RF] Ensaio de Catálogo dos Moluscos do Brasil. Arquivos do Museu Paranaense ,vol.VII,p.5216,dez.1949.[MP] Ensaio de Catálogo dos Moluscos do Brasil .SãoPaulo:Sn,1949.216p. [USP] Novas espécies brasileiras da família Strophocheilidae . Arquivos de Zoologia do Estado de São Paulo, vol.8,art.4,p.109126,1952.[Sobre moluscosdoestadodeSapoPaulo][RF] RelatóriosobreasatividadesdeFredericoLangedeMorretes.In:MUSEU PARANAENSE. Relatórios 1950 a 1969 . p. 8286, 19 dez. 1953. [Relatório datilografado sobre suas últimas pesquisas no litoral paranaense].[MP] Adenda e corrigenda ao Ensaio de catálogo dos moluscos do Brasil. Arquivos do Museu Paranaense , vol. X, 2. a parte, p. 3776, dez.1954. [Complementaçãodo Ensaio de Catálogo dos Moluscos do Brasil ].[MP] DoisnovosmoluscosdoBrasil. Arquivos do Museu Paranaense ,vol.X, 2. a parte,p.331338,1954.[MP] NovaThaisdoBrasil. Arquivos do Museu Paranaense ,vol.X,2. a parte, p.339342,dez.1954.[MP] Sobre Megalobulimus paranaguensis PILSBRY&IERING. Arquivos do Museu Paranaense ,vol.X,2. a parte,p.343344,dez.1954.[MP] Conclusão FONTE: MicrofilmesdaSeçãoParanaensedaBibliotecaPúblicadoParaná[BPP];ArquivodoMuseu AlfredoAndersen[MAA];BibliotecadoMuseuParanaense[MP];referênciascitadasnasediçõesdos Arquivos do Museu Paranaense [RF];documentosdaBibliotecadoMuseuOscarNiemeyer[MON]; SistemadeBibliotecasdaUniversidadedeSãoPaulo[USP].

214

QUADRO3–DETALHESDOSPOEMASDE FRAQUEZA: VERSOS (1949)

TÍTULO OU INÍCIO DO POEMA PÁGINA DATA HORA LOCAL

Vemosolabrasador 4 13/01/1946 17h30min CamposdoJordão Emdiastristes 5 23/01/1946 12h00min CamposdoJordão Quantostormentos 6 22/03/1946 CamposdoJordão Hojenãotevi 7 07/11/1944 CamposdoJordão Morobempertinho 8 25/10/1949 SãoPaulo Énoite 9 16/04/1938 Itú Calado 10 24/08/1949 SãoPaulo Setesinos 12 1944 CamposdoJordão Palavrasameucoração 13 30/11/1944 CamposdoJordão Fuga 14 27/11/1944 CamposdoJordão Realidade 15 Desânimo 16 Jáétarde 17 03/04/1946 CamposdoJordão Deprofundis 18 Vemoruço 20 27/11/1944 CamposdoJordão Dançamospratos 21 28/06/1946 CamposdoJordão Quemdeixaavila 22 Dedia 23 1944 CamposdoJordão Enganaseocoração 24 12/1944 CamposdoJordão Omar 25 24/08/1949 SãoPaulo AocomeçoaTerraeoMar 26 25/08/1949 SãoPaulo Velhajabuticabeira 27 1946 SãoPaulo Santos 28 26/09/1949 SãoPaulo Muitos 30 24/02/1946 SãoPaulo Gralha 31 24/08/1949 SãoPaulo Hoje 32 24/08/1949 SãoPaulo Umpoeta 33 24/08/1949 SãoPaulo Vieramjuntos 34 Umpintor 35 24/08/1949 SãoPaulo Deusofez 36 1942 SãoPaulo Semcousanapanela 37 13/11/1946 CamposdoJordão Nãosoupoeta 38 01/1946 CamposdoJordão Umdiainesperado 39 Depoisdogozolouco 40 SãoPaulo Tudoquerida 41 1942 SãoPaulo PraçaClaudinoAlves 42 08/09/1949 Atibaia Pálidaalua 44 04/08/1949 SãoPaulo Tensosseiosalvos 45 Tués 46 24/01/1946 CamposdoJordão Tensoolharcandente 47 Tuavozésonoraequente 48 1946 CamposdoJordão Teuslábios 49 Teuamor 50 1946 CamposdoJordão Tensaalmaviva 51 CamposdoJordão Tudoisso 52 22/01/1946 CamposdoJordão Continua 215

Continuação Queimporta 53 22/01/1946 17h00min CamposdoJordão Ouvesaolonge 54 ÉReiMomo 55 23/02/1946 23h15min CamposdoJordão Quandovoltares 57 03/12/1945 CamposdoJordão Porqueháhomem 58 1938 SãoPaulo Trazamargura 59 03/091949 SãoPaulo Luzéluz 60 22/02/1946 CamposdoJordão Dentrodasolidão 61 02/09/1949 SãoPaulo Nãosoualegre 62 28/11/1945 CamposdoJordão Soucomoágua 64 03/10/1949 Repousava 65 25/02/1946 17h00min CamposdoJordão Jásei 66 21/08/1949 SãoPaulo Doisexistem 67 27/08/1949 SãoPaulo Hámomentos 68 01/12/1944 Porquechorar 69 18/07/1945 CamposdoJordão Bendito 70 13/11/1945 24h00min CamposdoJordão Commartelos 71 30/09/1949 SãoPaulo Todaidade 72 23/09/1949 SãoPaulo Vemaprimavera 73 23/09/1949 SãoPaulo Eutinha 74 18/11/1945 01h00min CamposdoJordão Unindotijolos 75 Tudoquedávitória 76 23/09/1949 SãoPaulo Deestípites 77 15/09/1949 SãoPaulo Tuquenasceste 78 20/02/1946 CamposdoJordão Elevaroespírito 80 Serealcomoaflor 81 02/1941 SãoPaulo Tudoquesedeseja 82 CamposdoJordão OSábio 83 26/09/1949 SãoPaulo Música 84 25/09/1949 SãoPaulo Euquerosersimples 85 26/09/1949 SãoPaulo Aquidevia 86 02/09/1949 Atibaia Amorfrio 87 Amorquenãoéquente 88 Hátantodoutor 89 1946 CamposdoJordão Umaestrela 90 CamposdoJordão Setufizeres 91 01/1946 CamposdoJordão Nãoteassustes 92 02/1946 CamposdoJordão Amulher 93 1946 CamposdoJordão Paradefendêla 94 1942 SãoPaulo Souestóico 95 Preferíveléserpagão 96 18/10/1949 SãoPaulo Ótuamável 97 21/12/1945 CamposdoJordão Entregueime 98 1946 CamposdoJordão LindafilhadeViena 99 22/01/1946 CamposdoJordão Seumapoesia 100 1946 CamposdoJordão Seamei? 101 1942 Inutilmente 102 27/09/1949 SãoPaulo Quantasvezes 103 06/10/1949 SãoPaulo Domingo 104 23/10/1949 SãoPaulo Conclusão FONTE: MORRETES,F.L.de. Fraqueza (versos),1949,104p.Datilografado. 216

APÊNDICE 3 – PRODUÇÃO ARTÍSTICA

QUADRO4–ARTEPRODUZIDA(19051953)

DIMENSÃO TÉCNICA E alt. x larg. POS ACERVO OU ANO TÍTULO DA OBRA MATERIAL (cm) ASS COLEÇÃO

1905 Flores Óleo/tela 45x35 CID ColeçãoParticular 1908 RetratodeAugustoBockmann(Avô) Crayon/papel 42x31,5 CID ColeçãoParticular 1911 FiguradeMulher Crayon/papel 60,5x35,5 CIE ColeçãoParticular 1911 EstudodeCabeça Litografia/papel 31x24 CIE ColeçãoParticular 1912 OBanho Litografia SI CID NL 1912 Retrato Desenho SI CIE ColeçãoParticular 1913 PerfildeVelho Carvão/papel 61,5x49,5 CID ColeçãoParticular 1913 EstudosdeNu Carvão/papel 62,5x47 CID ColeçãoParticular 1913 Nu Carvão/papel 74,5x98 CIE ColeçãoParticular 1913Estudo Desenho SI CID NL 1915 Perfil Crayon/papel 55,5x40 CIE ColeçãoParticular 1915 Paisagem Óleo/tela 62x80 CID ColeçãoParticular 1915 FiguradeHomem Crayon/papel 77,5x87 CSD ColeçãoParticular 1915 Flores Óleo/papelão 66x50 I ColeçãoParticular 1915 Semtítulo Óleo/tela 60x80 CIE ColeçãoParticular 1915 NaturezaMorta/RetratoInacabado Óleo/papelão SI SI NL 1916 EstudodeFiguraHumanaFeminina Carvão/papel 87x63 CIE FundaçãoHonorina Valente 1916 FiguradeMulher Crayon/papel 86x108 CID ColeçãoParticular 1917 Paisagem Óleo/tela 58x70 CID ColeçãoParticular 1918 Solidão(PaisagemdeInverno) Óleo/tela SI SI NL 1919 FlorestaNegraouSerraNegra Óleo/tela 108x88 NA ColeçãoParticular 1919 EstudodeModelo Óleo/tela 65x46 CID NL 1920 CataratasdoIguaçu(SaltosdoIguaçu) Óleo/tela 143x224 CIE ClubeCuritibano 1920↓ ÁguasqueJorram(Cascatana Óleo/tela SI SI NL Baviera) 1920↓ Cascatinha(CascatanaBaviera) Óleo/tela SI SI NL 1920↓ Derrubada(FlorestanaBaviera) Óleo/tela SI SI NL 1920↓ LuzeSombra Óleo/tela SI SI NL 1920↓ Pastagem(PoentenosAlpesBávaros) Óleo/tela SI SI NL 1920↓ Manhã(AlpesBávaros) Óleo/tela SI SI NL 1920↓ ErmidaIsolada Óleo/tela SI SI NL 1920↓ PrimaveraqueChega Óleo/tela SI SI NL 1920↓ RecantoTranqüilo(AlpesAlemães) Óleo/tela SI SI NL 1920↓ AntesdaTormenta Óleo/tela SI SI NL 1920↓ ABeiradaPrimavera Óleo/tela SI SI NL 1920↓ Outono Óleo/tela SI SI NL 1920↓ Açude(PoentedeOutono) Óleo/tela SI SI NL 1920↓ PoentedeInverno Óleo/tela SI SI NL 1920↓ SolePrimavera Óleo/tela SI SI NL 1920↓ PaisagemdeFloresta Óleo/tela SI SI NL 1920↓ Fais Óleo/tela SI SI NL Continua 217

Continuação 1920↓ CristasdosAlpeseBaixada Óleo/tela SI SI NL 1920↓ Várzea Óleo/tela SI SI NL 1920↓ HelyanthoseCrysandallias Óleo/tela SI SI NL 1920↓ Lírios Óleo/tela SI SI NL 1920↓ Rosas Óleo/tela SI SI NL 1920↓ Estudodeflores Óleo/tela SI SI NL 1920↓ Floresdocampo Óleo/tela SI SI NL 1920↓ LagodaMontanha Óleo/tela SI SI NL 1920↓ PlanaltadosAlpes Óleo/tela SI SI NL 1920↓ Aldeia Óleo/tela SI SI NL 1920↓ Primavera Óleo/tela SI SI NL 1920↓ Corredeira Óleo/tela SI SI NL 1920↓ Flores Óleo/tela SI SI NL 1920↓ Flores Óleo/tela SI SI NL 1920↓ Flores Óleo/tela SI SI NL 1921 Pinheiros Óleo/tela 65x75 CID ColeçãoParticular 1921↓ OndeoBelouneasNações Óleo/tela SI SI NL 1921↓ DoPontodoPintor Óleo/tela SI SI NL 1921↓ FlorianoeBelgrano Óleo/tela SI SI NL 1921↓ FlorianoeBelgranoeMitreI Óleo/tela SI SI NL 1921↓ FlorianoeBelgranoeMitreII Óleo/tela SI SI NL 1921↓ ManhãnosSaltos Óleo/tela SI SI NL 1921↓ Trovoada Óleo/tela SI SI NL 1921↓ AsGrandesQuedas Óleo/tela SI SI NL 1921↓ PôrdoSol Óleo/tela SI SI NL 1921↓ MesseMadura Óleo/tela SI SI NL 1921↓ NoSeiodeCeres Óleo/tela SI SI NL 1921↓ OPatriarcha Óleo/tela SI SI NL 1921↓ Zimbreiros Óleo/tela SI SI NL 1921↓ NeblinasdeOutono Óleo/tela SI SI NL 1922 UmVasodeRosas Óleo/tela 45x35 CID MuseuOscar Niemeyer 1922 RudolfLange Óleo/tela 59x49 CIE ColeçãoParticular 1923↓ ArredoresdeCuritiba(Pinheiro) SI SI SI NL 1923↓ InteriordaFloresta SI SI SI NL 1923↓ Linguado SI SI SI NL 1923 CabeçadeVelho Óleo/tela 45,5x33,5 CIE ColeçãoParticular 1923 Rosas Óleo/tela 60,5x48 CIE ColeçãoParticular 1923 ValedoIpiranga Óleo/tela 101x70 CID ColeçãoParticular 1924 PaisagemParanaense Óleo/tela 62x82 CIE ColeçãoParticular 1924 NeblinanoPasseioPúblico Óleo/tela 34,5x45 CID ColeçãoParticular 1925 CasadoAltodaSerra Óleo/tela 75x100 CID ColeçãoParticular 1925 CataratasdoIguaçu Óleo/tela 70x100 CIE ColeçãoParticular 1925 Cataratas Óleo/tela 182x249 CID ColeçãoParticular 1926 Tronco Óleo/tela 57x75 CID ColeçãoParticular 1926 Tranqüilidade+ Óleo/tela 57,5x75 CIE ColeçãoParticular 1926 Paisagem Óleo/tela 58x76 CID ColeçãoParticular 1926 OAmanhecer Óleo/tela 35x49 CIE ColeçãoParticular 1926 Amanhecer Óleo/tela 74x100 CIE ColeçãoParticular 1927 Rosas Óleo/tela 59x48 CIE ColeçãoParticular Continua 218

Continuação 1927 PaisagemMarinha Óleo/tela 57x76 CID ColeçãoParticular 1927 OMar Óleo/tela 71x100 CID ColégioEstadualdo Paraná 1927 RochasnoMar Óleo/tela 78x76 CID ColeçãoParticular 1927 Paisagem Óleo/tela 38x50 CIE ColeçãoParticular 1927 Semtítulo Desenho SI CID NL 1927 OTorturado Desenho SI SA NL 1928 Preparandoseparaorepouso... Desenho SI CIE NL 1928 NoAltodoMarumby Desenho SI CID NL 1928 EuviCuritibacobertadeneve Desenho SI CID NL 1928 CuritibasobaNeve Desenho SI CID NL 1928 Brejetuba Desenho SI CIE NL 1928 IgrejadaÁguaVerde Óleo/tela 75x101 CID ColeçãoParticular 1928 Marinha Óleo/tela 76x101 CID ClubeCuritibano 1928 Guaratuba(OInvencível) Óleo/tela 76x100 CID MuseuOscar Niemeyer 1928↓ Guaratuba Óleo/tela SI CID NL 1928↓ NoBrejatuba Óleo/tela SI SI NL 1928↓ EstudodeNu Desenho SI SI NL 1928↓ VelhaParanaguá Óleo/tela SI SI NL 1928↓ PrimaveraParanaense Óleo/tela SI SI ImperadordoJapão 1929 Pinheiro Óleo/tela SI CIE ColeçãoParticular 1929 PaisagemcomPinheiro Óleo/tela 100x70 CIE UFPR 1929 Nhapindá Óleo/tela 60x80 CIE ColeçãoParticular 1930 Paisagem Óleo/tela 80x65 CIE ColeçãoParticular 1930 AlmadaFloresta Óleo/tela 285x245 CID Assembléia LegislativadoParaná 1930 ANatureza Óleo/tela 145x228 NA Embap 1930 SãoFranciscoeasSereias Óleo/madeira 57x73 CID ColeçãoParticular 1930 Açoitacavalos Óleo/madeira 75x57 CID ColeçãoParticular 1930 Paisagem Óleo/tela 72x55 CID ColeçãoParticular 1930↓ ValedoIpiranga Óleo/tela SI SA NL 1930↓ DominadoresSolitários Óleo/tela SI CIE NL 1930↓ DepoisdaTormenta Desenho SI CID NL 1932 Pinheiro Óleo/tela 57x75 CIE ColeçãoParticular 1934 Pinheiros Óleo/tela 57x75,7 CIE ColeçãoParticular 1934 Paisagem Óleo/tela 58x76 CID ColeçãoParticular 1934 Guaraqueçaba Óleo/tela 37x57 CID Embap 1934 CristonaCruz Óleo/tela 40x60 SI NL 1934 PaisagemdeMorretes Óleo/tela 39x48 CID ColeçãoParticular 1934 NhundiaquaraePicodoMarumbi Óleo/tela 50x39 SI ColeçãoParticular 1935 Semtítulo Óleo/tela 60x80 CIE ColeçãoParticular 1937 PontadaPita(VelhaFigueira) Óleo/tela 76x107 CID ColeçãoParticular 1941 NaturezamortacomFloreseFrutas Óleo/tela 58x76 CSE TribunaldeJustiçado Paraná 1942 PasseioPúblico Óleo/tela 75X120 CID ColeçãoParticular 1942 SaltodoSaci Óleo/tela SI CIE ColeçãoParticular 1942 Pinheiros Óleo/tela 39x29,5 CID ColeçãoParticular 1943 CapãodaImbuia Óleo/tela 65x84 CID ColeçãoParticular 1944 PinheirodaSerra Óleo/tela 75x55 CID ColeçãoParticular Continua 219

Continua 1944↓ PontesobreoRioSãoFrancisco Óleo/tela SI SI NL 1946 EncantoMatinal+ Óleo/tela 75x100 CID ColeçãoParticular 1946 PaisagemdaMontanha Óleo/tela 57x75 CID CaixaEconômica Federal 1947 Semtítulo Óleo/tela 45x35 CIE ColeçãoParticular 1947 Paisagem Óleo/tela 57x75 CID ColeçãoParticular 1947↓ MinistériodaSelva Óleo/tela SI SI NL 1947↓ PelasselvaseriosdoParaná Óleo/tela SI SI NL 1947↓ SentinelasAvançadas Óleo/tela SI SI NL 1947↓ SaltodaCidinha Óleo/tela SI SI NL 1947↓ BanheiroSaci Óleo/tela SI SI NL 1947↓ CasadoSonho Óleo/tela SI SI NL 1947↓ TardeDoirada Óleo/tela 75x100 SI NL 1947↓ Escaladagloriosa Óleo/tela 75x100 SI NL 1947↓ BenzinhoeBenzóca Óleo/tela 57x75 SI NL 1947↓ Musa Óleo/tela 57x75 SI NL 1947↓ Helicônia Óleo/tela 57x75 SI NL 1947↓ PossedoErmo Óleo/tela 57x75 SI NL 1947↓ NaPontadaPita Óleo/tela 57x75 SI NL 1947↓ VelhasFigueiraàBeiraMar Óleo/tela 35x45 SI NL 1948 Pinheiros Óleo/tela 75x100 CID ColeçãoParticular 1948 Semtítulo Óleo/tela 55x37,5 CIE ColeçãoParticular 1948 PicodoParaná(Antonina) Óleo/tela 74,5x56,5 CIE ColeçãoParticular 1950 Ubatuba Óleo/tela 70x100 CID ColeçãoParticular 1953 Pinheiros Óleo/tela 33x43 CIE ColeçãoParticular 1953 Tronco Óleo/tela SI CID ColeçãoParticular 1953 Paisagem Óleo/tela 69x99 CID ColeçãoParticular 1953 PaisagemcomTroncos Óleo/tela 39X49 CID ColeçãoParticular 1953 PortodeCima Óleo/tela 60x70 CID ColeçãoParticular 1953 ReiSolitário Óleo/tela 57x70,5 CID ColeçãoParticular SD AMorte Óleo/tela 56x64 CIE ColeçãoParticular SD CamposdoJordão Óleo/tela 75x57 CIE ColeçãoParticular SD CamposdoJordão Óleo/tela 100x75 CIE ColeçãoParticular SD CapãodaImbuia Óleo/tela 76x77 CIE ColeçãoParticular SD CapãodaImbuia Óleo/tela 35x44 CIE ColeçãoParticular SD Cataratas Óleo/tela 53x66,5 NA ColeçãoParticular SD Cataratas Óleo/tela 29x129 CIE ColeçãoParticular SD CataratasdoIguaçu Óleo/tela 87x130 CIE ColeçãoParticular SD CataratasdoIguaçu Óleo/tela 60x74 CIE ColeçãoParticular SD BerthaLangedeMorretes(Esposa) Desenho 28x21 CIE ColeçãoParticular SD GrutadoMonge Óleo/tela 57x37 SI ClubeCuritibano SD Heide(Nu) Óleo/tela 75x99 CIE ColeçãoParticular SD Marinha Óleo/tela 37,5x57 CID ColeçãoParticular SD Marinha Óleo/tela 24x42 CIE ColeçãoParticular SD Naturezamorta Óleo/tela 39x31 CIE ColeçãoParticular SD Naturezamorta Óleo/tela 59x49 CID ColeçãoParticular SD Naturezamorta Óleo/tela 46x35 CID ColeçãoParticular SD Náufragos Óleo/tela 70x100 CIE ColeçãoParticular SD Paisagem Óleo/tela 74x56 CIE ColeçãoParticular SD Paisagemcompinheiros Óleo/tela 45x39 CIE FundaçãoHonorina Valente Continuação 220

Continua SD Paisagemcomrochas Óleo/tela 34x53 NA FundaçãoHonorina Valente SD Paisagem Óleo/tela 39x48 CID ColeçãoParticular SD Paisagem Óleo/tela 35x45 CIE ColeçãoParticular SD Paisagem Óleo/tela 48x59 NA ColeçãoParticular SD Paisagem Óleo/tela 44,5x35,5 SI ColeçãoParticular SD Paisagem Óleo/tela 46x63 CID ColeçãoParticular SD Paisagem Óleo/tela 60x80 CIE ColeçãoParticular SD Paisagem Óleo/tela SI NA ColeçãoParticular SD Paisagemalemã Óleo/tela 60x45 CIE ColeçãoParticular SD Paisagemalemã Óleo/tela 28x41 CID ColeçãoParticular SD Paisagemcomcasas Óleo/tela 47,5x57,5 CIE ColeçãoParticular SD Paisagemcommontanhas Óleo/madeira 30x23 CID ColeçãoParticular SD PaisagemcomPalmeiras Óleo/tela 57x37 NA ColeçãoParticular SD PaisagemcomPinheiro Óleo/tela 75,2x57,3 CIE BancoItaú SD PaisagemcomPinheiro Óleo/tela 57x37 CID ClubeCuritibano SD PaisagemdaAlemanha Óleo/papelão 51x72,5 CID ColeçãoParticular SD PaisagemdeMorretes+ Óleo/tela 100x75 CIE ColeçãoParticular SD PaisagemEuropéia Óleo/tela 60x45 CIE ColeçãoParticular SD Paisagemoutonal Óleo/tela SI SI ColeçãoParticular SD PasseioPúblico Óleo/tela 75x120 CID ColeçãoParticular SD Pinheiro Óleo/tela 75x57 CID ColeçãoParticular SD Pinheiro Óleo/tela 57x38 CID ColeçãoParticular SD Pinheiro Óleo/tela 45,5x35,5 CIE ColeçãoParticular SD Pinheiro Óleo/tela 57x38 CIE ColeçãoParticular SD Pinheirosnohorizonte Óleo/tela 36x46 CIE ColeçãoParticular SD SaltodoSaci Óleo/tela 75x57 CIE ColeçãoParticular SD Semtítulo Óleo/tela 33x42 SI InstitutodeDesenvol vimentodoParaná SD Vasocomrosas Óleo/tela 44,5x35 SI ColeçãoParticular Conclusão

FONTE: Na construção desse quadro foram utilizadas informações provenientes de arquivos de diversas instituições, catálogos de exposições, revistas, livros, artigos de jornais e visitas aos proprietáriosdasobras.Osinúmerosautoresefontesconstamnasreferênciasdapresentedissertação. NOTA:Olevantamentoéinacabado,entretanto,éomaiscompletoatéomomento.Nomesmoforam consideradastodasasinformaçõesquepermitissemdistinguirasobrascomomesmotítulo.Também foiconsideradaamedidademenorvalorparaasobrascujasinformaçõeseramprovenientesdefontes diversasequeapresentavamdivergências.Nasobrasqueforammedidaspessoalmenteamolduranão foiconsideradanamedição.Osnomesdosproprietáriosforam preservados e somente as obras de propriedadesdasinstituiçõesforammantidas.

LEGENDA

SÍMBOLO SIGNIFICADO SÍMBOLO SIGNIFICADO

↓ Desteanoouanterior + ObraPremiada CID CantoInferiorDireito CIE CantoInferiorEsquerdo CSD CantoSuperiorDireito CSE CantoSuperiorEsquerdo NA NãoAssinado NL NãoLocalizado SI SemInformação SD SemData 221

QUADRO5–REPRODUÇÕESNA ILLUSTRAÇÃO PARANAENSE

POSIÇÃO DA TÍTULO / DATA ORIGINAL TÉCNICA ASSINATURA NÚMERO MÊS ANO/ N°.

Retratosemtítulo(1927) Desenho CID 1 Nov. 1927(I) OTorturado(1927) Desenho NA 1 Nov. 1927(I) ADúvida Desenho NA 2 Fev. 1928(II) Estudo(1913) Desenho CID 4 Abr. 1928(II) OBanho(1912) Litografia CID 5 Maio 1928(II) Preparandoseparaorepouso...(1928) Desenho CIE 6 Jun. 1928(II) OndeoBellouneasNações Pintura NA 6 Jun. 1928(II) NoAltodoMarumby(1928) Desenho CID 7 Jul. 1928(II) EuviCuritybacobertadeneve(1928) Desenho CID 7 Jul. 1928(II) Curitybasobaneve(1928) Desenho CID 7 Jul. 1928(II) Brejetuba(1928) Desenho CIE 7 Jul. 1928(II) Independenciaomuerte Desenho NA 8 Ago. 1928(II) Estudodenu* Desenho NA 1011 Out./Nov. 1928(II) NoBrejatuba* Pintura NA 1011 Out./Nov. 1928(II) OInvencível* Pintura NA 1011 Out./Nov. 1928(II) VelhaParanaguá* Pintura NA 1011 Out./Nov. 1928(II) ValledoIpiranga Pintura NA 1 Jan. 1930(IV) Tranqüilidade(1926) Pintura CIE 6 Jun. 1930(IV) DominadoresSolitários Pintura CIE 6 Jun. 1930(IV) Depoisdatormenta(1930) Desenho CID 7 Jul. 1930(IV) Floriano,BelgranoeMitre Pintura NA 8 Ago. 1930(IV) FONTE: ILLUSTRAÇÃO PARANAENSE :Mensárioparanistadearteeactualidades.Curitiba,Ano IIV,19271930.Nãopaginada. NOTA:Ostítulosdealgunsdesenhosremetemaostextosdamesmapáginaaosquaisilustram,sendo eles: Eu vi Curityba coberta de neve ,aopoemadeOdilonNegrão, Curityba sob a neve ,aoartigode HermesFontese Independencia o muerte ,aoartigoemespanholdoEmbaixadordoMéxiconoBrasil P.OrtizRubio.

LEGENDA

SÍMBOLO SIGNIFICADO NA Nãoassinado CID Cantoinferiordireito CIE Cantoinferioresquerdo * Constanamesmapágina 222

APÊNDICE 4 – ALUNOS: NOTAS BIOGRÁFICAS QUADRO6–ALUNOSDAESCOLADELANGEDEMORRETES

Arthur Nísio Arthur José Nísio nasceu em Curitiba (PR), iniciou seus estudos no Instituto de BelasArtesdePortoAlegre,em1923.Noanoseguinte retornou à Curitiba, deu *15/05/1906 continuidadeaosseusestudostendoaulascomLangedeMorretesefreqüentandoo †26/04/1974 cursodemodelagemdeJoãoTurin.Em1928,expôspelaprimeiravezerecebeu prêmioparaaperfeiçoamentonaEuropadurantetrêsanos.OptandopelaAlemanha, ingressounaAcademiadeBelasArtesdeMunique,freqüentandoocursodepintura deanimaisdeAngeloJank.Em1930,passouaseralunocompositordaAcademiae recebeuumateliergratuitocom50horasdemodelopago.Noanoseguinte,ainda como aluno compositor, participou do Salão Anual da Alemanha, o Glaspalast , realizadoemMunique.EmplenaSegundaGuerraMundial,entreosanosde1938e 1942, expôs em outros salões alemães e sua arte ganhou projeção. Nessa fase freqüentouocursodeMaxBergmann.DeixouaAlemanhaem1945,tendoresidido aproximadamenteumanoemParis.Perdeutudooquetinhacomaguerra.Em1946 retornouàCuritiba,econtinuouadedicarseàpintura,participoudeváriasmostras epromoveuexposiçõesindividuais,sendotambémumdosfundadoresdaEscolade Música e Belas Artes do Paraná. Recebeu Medalha de Ouro no II Salão de PrimaveradoClubeConcórdia,em1949,ediversosprêmiosnoSalãoParanaense deBelasArtes,entreosquais,aMedalhadeOuronoIVSalãoParanaensedeBelas Artes,em1947.(BADEP,1976,p.19;DICIONÁRIOHISTÓRICOBIOGRÁFICO DOPARANÁ,1991,p.318319)

Augusto NasceuemFazendaRioGrande(PR),iniciousuasaulasdedesenhoepinturaaos10 Conte anos,emCuritiba,comodecoradorNivaldoJakob.Em1925,ingressouna Escola de Aprendizes Artífices, cursando Desenho Industrial e Artístico, permanecendo *20/10/1913 durante3anos.Em1934,entrouparaaEscoladeLangedeMorretes,dedicandose †15/10/1988 aodesenhoeàpintura. Em1945,especializouseemmicrofotografiaetécnicade fotografia no Instituto Biológico de São Paulo. Foi desenhista em fábrica de artefatosde madeira e lecionou desenho noensino secundário e na Universidade FederaldoParaná.Pintouprincipalmentepaisagenserealizoudiversasexposições tendorecebido,alémdeváriasmençõeshonrosas,MedalhadeBronzenoVSalãoda Primavera do Clube Concórdia, em 1952, e Medalha de Bronze no 14º. Salão Paranaense de Belas Artes, em 1957. (BADEP, 1976, p. 22; FUNDAÇÃO CULTURALDECURITIBA,1983) Erbo Stenzel Nasceu em Curitiba (PR), estudou durante alguns anos com Lange de Morretes, tendoabandonadoosestudosdearteparasededicaraocomércio.Aoretornaràs *17/12/1911 artes, voltou a freqüentar o atelier de Lange, quando participou do III Salão †23/07/1980 Paranaense com desenhos e pinturas. Nessa época conheceu João Turin que se entusiasmoucomseutalentoparaaescultura.Comumasubvençãoconseguidapor amigos,foiestudaresculturanaEscolaNacionaldeBelasArtesdoRiodeJaneiro, ondepermaneceuporonzeanos,fazendocursoetrabalhandocomalgunsescultores. ComofalecimentodeTurinogovernodoEstadoconvidouoaretornaraoParaná paraterminardiversostrabalhosiniciadospeloescultor.VoltouàCuritibaem1950 assumindo cargo de professor de anatomia artística na Escola de Música e Belas ArtesdoParaná.Em1953,fezomonumentodoCentenáriodoParaná,juntamente comCozzo,outroescultordoRiodeJaneiro.ErboStenzeléoautor,do Homem Nu , querepresentaoParanáemancipadosemmedodofuturo,edepartedomuralda 223

Praça19deDezembro,queretrataasagadoscolonizadoreseoscicloseconômicos do Paraná. Recebeu Medalha de Ouro no Salão Nacional de Belas Artes da UniversidadedoBrasil,em1944,MedalhadeOuronoVISalãodaPrimaverado ClubeConcórdia,em1953,etambémMedalhadePratanoSalãoNacionaldeBelas Artes e no Salão Paulista de Belas Artes. Stenzel deixou obras importantes em Curitiba.AsuaantigacasademadeirafoidoadapelosseusfamiliaresàPrefeitura de Curitiba, e em 1997 foi relocada do bairro São Francisco para o Parque São Lourenço,tornadoseumespaçopermanentedeseustrabalhosartísticos.(BADEP, 1976, p. 23; DICIONÁRIO HISTÓRICOBIOGRÁFICO DO PARANÁ, 1991, p. 483484)

Isolde Hotte IsoldeHöetteJohannnasceuemCuritiba(PR)eapósseusprimeirosestudoscom Alfredo Andersen, aperfeiçoouse em pintura permanecendo por dois anos na *09/10/1902 Alemanha, lá ficou sob a orientação do professor Oerlick da Deutshe Kunst †10/02/1994 Academie , emBerlim.Em1928,apósseuretornoaoBrasil,deucontinuidadeaos seusestudoscomLangedeMorretes.Nessamesmaépocapintavaemcompanhiade Freÿesleben.Permaneceuafastadadurantecincoanosdavidaartísticae,aoretornar, começouadedicarseàcerâmica,tendoaulascomAdelaideKnauer.Fezdiversas exposiçõesindividuaisecoletivasemCuritiba,tendoparticipadodeváriasedições doSalãoParanaensedeBelasArtesedoSalãodePrimaveradoClubeConcórdia. Em1947recebeuumprêmioempinturaemdinheirono IV Salão Paranaense de BelasArtes.Em1948,MedalhadeOuroeAquisiçãonoVSalãodePrimaverado ClubeConcórdiaeMedalhadePratanoVSalãoParanaensedeBelasArtes.Em 1950recebeu uma menção Honrosaem Pintura no55°. Salão Nacional de Belas ArtesdoRiodeJaneiro.FeztambémváriasexposiçõesemPortoAlegre,paraonde semudouem1958.Em1985retornouàCuritiba,ondefaleceuem1994.(BADEP, 1976,p.5;MUSEUALFREDOANDERSEN,1998)

Kurt Boiger NasceuemWerschetz,Alemanha,ondeestudoudesenho.Teveaulasdepinturacom oprofessorMaibaun,emNuremberg.Noanode1928veioparaoBrasileem1932 *11/06/1909 fixouresidência em Curitiba e passou aestudar pintura com Lange de Morretes, †04/08/1974 dedicandoseespecialmenteàpaisagemeaoretrato. Boiger participou ativamente da vida artística paranaense, promovendo exposições individuaise tomando parte emgrandenúmerodemostrascoletivas.ExpôsemSãoPaulo,RioGrandedoSul, SantaCatarinaeParaná.RecebeudiversosprêmiosentreosquaisumaMedalhade BronzeempinturanoXSalãoParanaense,em1953,prêmiodeaquisiçãodosetor dedesenho,gravuraeartesgráficasnoVIIISalãoParanaense,em1951,prêmioem dinheironoIVSalãoParanaense,em1947,alémdemençõeshonrosasemdiversos salõesnoParanáeemoutrosestados.(BADEP,1976,p.20)

Luís Pilotto NasceuemMafra(SC),filhocaçuladeLuizaeEgydioPilotto.Seupaierachefe ferroviário e amigo de vários artistas paranaenses. Em Curitiba, é conhecida a *10/09/1921 atuaçãodasuafamílianasartesenomeiointelectual, sendo seus irmãos: Oscar, Olívia,Osvaldo,Valfrido,Alice,RauleMárioPilotto.Em1942,concluiuocurso deOdontologiapelaentãoFaculdadedeMedicinadoParanáedesligousedocargo de professor de Ciências Naturais no Colégio Progresso. Lecionou desenho no ColégioEstadualdoParanáaté1944.Em1948assumiuafunçãodeAssistentede ClínicaOdontológicanaFaculdadedeMedicinadoParaná.Em1950habilitouse porconcursoàDocenteLivredePatologiaeTerapêuticaAplicadas.Foipresidente doCentrodeLetrasdoParanáentre1971e1972.Em1976aposentousepelaUFPR eemseguidafoiconvidadoparalecionarnaPUCPR,ondeimplantouocursode Odontologia,em1977.PilottotambémorganizousalõesdeartesplásticasnoClube 224

CuritibanoenoClubeConcórdia,publicouartigoselivrosligadosàsartesplásticas, àliteratura,àfilosofiacristãeàodontologia.Participouativamentedasprincipais exposiçõesindividuaispóstumassobreLangedeMorretes.(HOERNERJr.,1992,p. 519)

Oswald Lopes Nasceu em Curitiba (PR), bisneto de Candido Lopes, seu pai era funcionário público, fato que lhe permitiu concluir o curso colegial no Colégio Partenon. A *18/02/1910 famíliaomandoufreqüentaroatelierescoladeLangedeMorretes.Alémdetersido †09/01/1964 aluno deste, freqüentoutambém as aulas de Alfredo Andersen e João Turin. Em 1933assumiuaCadeiradeDesenhonoInstitutodeEducaçãoenoColégioEstadual doParaná,vagadeixadaporLange.Casouseem1941comLuciSantos,comquem tevedoisfilhos.FoiumdosprofessoresfundadoresdaEscoladeMúsicaeBelas Artes do Paraná, cuja fundação se deu em 1948. Nesta instituição lecionou modelagemeassumiuocargodediretordoDepartamentodeBelasArtes.Lopes participoudediversossalõesnoParanáeemoutrosestados,comoRioGrandedo Sul, Santa Catarina, São Paulo e Rio de Janeiro. Na pintura sobressaiuse como paisagista, sendo marcado pela temática do pinheiro proveniente de Lange de Morretes.DesuaproduçãocomoescultordestacaseosbustosdeClóvisBeviláqua noColégioNovoAteneu,RaulMessing,naPraçaOsório,emCuritiba,embaixador Hipólito Araújo, na Lapa, e Padre Martinho, em Ponta Grossa. Entre suas premiações merecem destaque a Medalha de Bronze no I Salão Paranaense, em 1944, pela pintura Auto Retrato , Medalha de Prata em pintura no V Salão Paranaense,em1948eMedalhadeOuroemesculturanoXVIISalãoParanaense, em1960pelobustodeClóvisBevilaqua.Oartistasofriadeenfermidadedocoração emorreuem1964duranteumacirurgia.(BADEP,1976,p.22)

Waldemar NasceuemCuritiba(PR),foialunodoatelierdeLangedeMorretesnadécadade Rosa 1930.FuncionáriodoTribunaldeContasdoEstadodo Paraná recebeu permissão para prestar serviços em montagens e curadorias de várias exposições. Em 1963 *15/06/1916 estagioupor30diasnoAtelierdeGravuradaFundaçãoÁlvaresPenteadodeSão †12/04/1989 Paulo, e em 1965 participou de um curso intensivo de aperfeiçoamento artístico também no mesmo Estado. De suas premiações destacase a Aquisição Moinhos UnidosBrasilMateS.A.eaMedalhadeBronzenoXVIISalãoParanaense,ambas em1960.AMedalhadePratanoXIXSalãoParanaenseeaAquisiçãoComissário Galvão XIX Salão Paranaense, em 1962. Em 1973 Aquisição Copel 30 Salão ParanaensemembrodojúrinoXXI.ParticipoudediversossalõesnoParanáeem outros estados, merecendo destaque as VII, VIII e IX Bienais de São Paulo. (MUSEUDEARTECONTEMPORÂNEA,diversasdatas)

FONTES:BADEP. Panorama da Arte no Paraná :DiscípulosdeAndersen&artistasindependentes. SalãodeExposiçõesdoBadep.Curitiba:BancodeDesenvolvimentodoParaná,1976.Catálogode exposição; DICIONÁRIO HISTÓRICO-BIOGRÁFICO DO PARANÁ .Curitiba:Chain,Bancodo Estado do Paraná, 1991; FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA. Augusto Conte : Curriculum vitae . 24 de novembro a 11 de novembro. Curitiba, 1983. Informativo; HOERNER Jr., V. Pinheirismo : emoção e querência, Luís Pilotto. Curitiba: Champagnat, 1992; MUSEU ALFREDO ANDERSEN. Isolde Hotte Retrospectiva .Curitiba:SecretariadeEstadodaCultura,MuseuAlfredo Andersen,fevereiro1998.Catálogodeexposição;MUSEUDEARTECONTEMPORÂNEA.Pasta WaldemarRosa,documentosdediversasdatas. 225

ANEXOS

ANEXO 1 – ENTREVISTA COM A Profa. Dra. BERTA LANGE DE MORRETES...... 226

ANEXO 2 – ENTREVISTA COM O Prof. Dr. LUÍS PILOTTO...... 231

ANEXO 3 – FOTOGRAFIAS...... 243 226

ANEXO 1 – ENTREVISTA COM A Profa. Dra. BERTA LANGE DE MORRETES ENTREVISTA QuestionárioI–Feitoparaamonografiadegraduação.Enviadoem14demaiode2003erecebidoem 23dejulhodomesmoano. LAS– Dasseguintespessoasdasuafamília:seupai,suamãe,seusirmãos,seuavômaterno,seu avôpaterno,suaavómaterna,suaavópaternaeseustios.Eugostariadesaber:a)Qualo nomecompletoegrafia?b)Qualolocaleadatadenascimentodecadaumdeles?c)Quala profissãodecadaum,seusestudosecursosuperior? BLM– Pais: Frederico Lange de Morretes, 05/05/1892 Morretes – PR, pintor e cientista; Bertha Lange de Morretes, 06/02/1890 Iffeldorf – Alemanha, cantora, professora de música e fonoaudióloga. Avós paternos: Rodolfo Lange, Leipzig – Alemanha, Engenheiro; Ana Shubert Lange, Morretes–PR,Prendasdomésticas. Tios paternos: Carlos Shubert – Engenheiro; Ana Lange – Prendas Domésticas; Ernest Lange–Engenheiro;HedwigLange–PrendasDomésticas;ReinaldoLange–Engenheiro; HerminiaLange–prendasdomésticas. Avós maternos: Mariano Bamberger, Alemanha, Médico; Maria Bamberger, Alemanha, Farmacêutica. Tiosmaternos:GuidoBamberger–Engenheiroflorestal;MarianeBamberger–Professora, Hedwig Bamberger – Professora, Ludwig Bamberger – Engenheiro florestal; Fridrich Bamberger–Taxidermista. LAS– Qualaordemdenascimentodosseusirmãos? BLM– Filhos:Berta–28/06/1917,Prof.Titular–USP;Ruth–03/07/1919,Prof.Assistente–USP; AnaMaria–14/04/1923,Prendasdomésticas;Flávio–16/02/1929–Topógrafo,Faculdade deDireito–UFPR,atéo3. oano,falecido. LAS– Comoeraarelaçãodafamíliadeseupaicomeleecomvocê? BLM– Arelaçãodemeupaicomafamíliaeramuitoboa. LAS– ComoseupaiconheceusuamãenaAlemanha? BLM– MeupaiconheceuminhamãeemOberamergau,naAlemanha. LAS– Pelaspoucasinformações,suamãeeradomeioartístico,oqueelafeznoBrasil? BLM– Minhamãeestudoumúsicae,aovirparaoBrasil,fundoucommeupaiumaescolagratuita paraoensinodeMúsica,desenho,pinturaeescultura.MinhamãelecionoumúsicanaEscola Normal Oficial de Curitiba. Quando meu pai passou a fazer expedições científicas, o acompanhouemváriasdelas,ajudandonacoletademoluscos.Assim,estevecomelenaIlha do mel, Guaratuba, Matinhos, Guaraqueçaba, Antonina, e, em São Paulo, em Bertioga, Itanhaem,Peruíbe,SãoSebastião,CaraguatatubaeUbatuba. LAS– Haviaalgumtipodedoençanafamília?Seupaitinhaalgumtipo? BLM– Emidadeavançada,cardiopatia,nafamíliademeupai. LAS– Haviaalgumacrençareligiosanafamília?Qualcrençaoureligiãoseupaiseguia? BLM– Meupaieralivrepensadoreminhamãecatólica. LAS– Quetipodeensinamentoseupaipassavaparaosfilhos,sejammorais,religiosos,liçãode vida,conselhos,etc? BLM– Ética, pontualidade, cumprimento da palavra dada. Ajuda ao próximo. Não julgar sem conhecimentodecausa:“ponhaseprimeironolugardequemvocêvaijulgar,esódepois emitaseujulgamento”.Nãocomercializarconhecimentoearte. LAS– ComoeraarelaçãodeseupaicomManoelRibasantesdaidaparaSãoPaulo? BLM– ArelaçãodemeupaicomogovernadorManoelRibaseranormaleamigávelatéomomento emqueRibasresolveutaxarasobrasdearte.Nestaocasião,meupaiescreveuumviolento opúsculo intitulado “ Arte e Fisco ”,atacandoapropostadogovernador.Comojáfoidito, 227

meuspais,porpuroidealismo,mantinhamumaescolagratuita,fornecendoinclusivetodoo materialdidáticonecessárioàsaulas.Dosalunosapenaseraexigidaafreqüênciaobrigatória. Nestaescola,meupailecionavadesenhoanatômico, pinturaeescultura,tendotidocomo alunos,Nísio,Boiger,Conte,Stenzel,entreoutros.Tantoosalunosdemeupaicomoosda minhamãeeramtalentososesemmeios. LAS– ComofoiadisputacomJoséLoureiroFernandes pela direção do Museu Paranaense em Curitiba?EssadisputafoimesmoomotivodaidaparaSãoPaulo? BLM– Ignoramosaexistênciadadisputareferida. LAS– ComofoiavindadasuafamíliaparaSãoPaulo? BLM– Normal. LAS– Afamíliaseadaptouànovacidade? BLM– Sim. LAS– SeupaigostavademoraremSãoPaulo? BLM– Sim. LAS– OquerepresentavaCuritibaparaele? BLM– Paraomeupai,oParanáeraumlugarmuitoespecialporsuanaturezae,Curitiba,porseu ambienteartísticoeocírculodeamigos. LAS– Deumamaneirageral,comoeravistasuafamílianaépocaemqueestavamemCuritibae depoisquandoforamparaSãoPaulo? BLM– AfamíliaeravistacomoumafamíliatradicionalemCuritiba.EmSãoPauloeste status teve que ser conquistado novamente. Hoje, o sobrenome Lange de Morretes também aqui é respeitado. LAS– QuandoseupairetornouparaCuritiba,elemantinhacontatocomafamília? BLM– AoretornaraCuritiba,paracontinuarsuaspesquisasmalacológicas,ocontatocomafamília continuou,tantoqueminhamãeoacompanhouemmuitasdesuasexpediçõescientíficas. LAS– Eleerareconhecidonaépoca? BLM– Sim. LAS– Emqueépocaseupaideuaula,dequedisciplinaeemqueinstituiçãoemCuritibaeemSão Paulo? BLM– MeupailecionouartenaEscolaNormalOficialdeCuritiba.EmSãoPaulo,inicialmentefoi pesquisadornoMuseuPaulista,nosetordezoologia.Depoisfoiconvidadoparalecionarno DepartamentodePaleontologiadaFaculdadedeFilosofiaCiênciaseLetrasdaUniversidade de São Paulo, tendo publicado uma série de trabalhos, inclusive o primeiro catálogo dos moluscosdoBrasil. LAS– Comoseupaieracomoprofessor? BLM– Comoprofessor,meupai,eramuitorigoroso.Seurigoreratantoquecomunicouaminha irmãeamimquejamaisnosdariaumdez,mesmoquemerecido,paraevitarcomentários. Ao ser necessário o contrato de uma estagiária, preferiu contratar uma colega nossa, em igualdadedecondiçõesparaimpedircríticas. LAS– PorqueelevailecionarAnatomiaeFisiologia? BLM– Anatomiaeralecionadanaescolagratuita,porelemantida.Fisiologia,nuncafoilecionada porele. LAS– AformaçãodeseupaiemMalacologiaeraformalouinformal? BLM– AformaçãodemeupaiemMalacologiaeraformal.EstudouzoologianaAlemanha. LAS– Qualprofissãodeseupaigarantiasuavidafinanceira,adepintorouadecientista? BLM– Ambas,poissemprefoicientistaepintor. LAS– QualopapeldeseupainafundaçãodaEmbap(EscoladeMúsicaeBelasArtesdoParaná)? BLM– Nãosabemos. LAS– Comoeraarelaçãoentreseupaieoutrosartistas? BLM– Ótima. LAS– OqueopinheirodoParanárepresentavaparaseupai,jáquefoiumgrandetemanosseus trabalhos? BLM– OpinheirodoParanárepresentavaparaeleosímbolodoEstadoquemuitoamou. LAS– Seupaicomentavacomafamíliasobreseusquadroseseusdesenhossobreopinheiro? BLM– Meupaicomentavasobreosquadros,apenasquandojáprontos. 228

LAS– O que representa para você os desenhos estilizados que estão presentes nas calçadas de Curitibaesãoobrasdeseupai? BLM– Paranós,osdesenhosestilizadosdopinheiro,dapinhaedopinhão,hojeenfeitandoasruas deCuritiba,representavamadoaçãodesinteressadaqueumartistapodefazeraoseuEstado esuacapital.Eternizandoestessímbolos,queaténoexteriorsãoreferidos!Infelizmenteno Paraná poucos sabem quem fez esta doação. Guardamos todos os desenhos que deram origemaoprojetoetrabalhoemquestão.Hápoucotempochegaramanósnotíciasdeque pessoas pouco honestas desejam patentear estes desenhos para usufruir vantagens pecuniárias!EmCuritibatambémexisteumaruacomonomedemeupai. LAS– Emsuaopinião,seupaigostavamaisdeserpintoroucientista,oueramcoisasqueandavam semprejuntas? BLM– Amavaambas. LAS– Comofoiamortedeseupai?Jáqueasinformações que se têm a respeito do fato são divergentes. BLM– Aoretornardeumaexcursãocientíficafaleceunohospital,vítimadeumenfartefulminante, jácomaltamarcada. LAS– Seupaiestavamesmoemestadodepressivoantesdemorrer? BLM– Meupainuncasofreudedepressão. LAS– PorqueafamílianãovoltouparaCuritiba? BLM– A família não voltou para Curitiba, porque a vida estudantil, científica, e depois, profissional, estabilizaram as filhas em São Paulo. Berta e Ruth como professoras na Universidade de São Paulo, Flávio,já falecido, retornou a Curitiba onde trabalhou como topógrafo,depoisingressounaFaculdadedeDireito,quecursouatéoterceiroano.Mesmo residindoemcidadesdiferentesoselosfamiliarespersistiram. Questionário II – Feito para a dissertação de mestrado. Enviado em 22 de novembro de 2006 e recebidoem20dedezembrode2006. LAS– QuaiseramascondiçõesemqueseupaipermaneceunaAlemanhanadécadade1910? BLM– Bolsista. LAS– AlgumavezseupaiviajouparaoexteriorapósavoltadaAlemanhanosanos1920? BLM– Nãoqueeusaiba. LAS– ComoeraarelaçãodeseupaicomAlfredoAndersen? BLM– Professor–aluno. LAS– Seupaitinhamuitasobrasdeartedeoutrosartistas?Dequaisartistas? BLM– Nãosei. LAS– Quaiseramosartistas,especialmentepintores(brasileirosounão)preferidosporele? BLM– Nãosei. LAS– Falemeumpoucosobresuamãe:datadenascimentoefalecimento;relaçãocomafamília dela;formaçãoprofissional;carreira;etc. BLM– Datadenascimento06/02/1890.Datadefalecimento29/07/1983. Opaideminhamãeeramédico,eamãe,alémdeprendas domésticas criava receitas na farmáciadodistrito.Eramseisfilhos,trêsirmãsetrêsirmãos.Todoseramformados. Minha mãe fez o curso de professor, e, em seguida estudou música na Universidade, especializandose em canto. Depois de formada estudou foniatria. Quando meus pais voltaram ao Brasil, ensinou música a alunos que não tinham condições financeiras para pagarcursos.EmCuritiba,lecionoumúsicanaEscolaNormalModelo.EmSãoPaulo,além de aulas particulares, dirigiu um coral com o qual dava concertos Natalinos na Igreja do Calvário,cujarendarevertiaparaoambulatórioedispensáriomantidospelaIgreja.Entre seusalunosfiguraramIreneRavacheeIzabeldeLizandrabemcomoJairRodrigues,entre outros.Este,pornãotermeios,nãoencontrouprofessoredurantealgunsanosestudoucom minhamãe. LAS– Sabesequesuamãeacompanhouseupaiemváriasexcursõesmalacológicas.Porqueelao acompanhava? 229

BLM– Minhamãeacompanhavameupaiemsuasexcursõesparacolaborarnascoletasdemoluscos eprestarajudanoquefossenecessário. LAS– Qualarelaçãoprofissionalentreelaeseupai? BLM– Meuspaistinhamcadaumasuaprofissão,masminhamãesemprecolaborounostrabalhos demeupai,todaavezquenecessário. LAS– Emquecondiçõessuamãefaleceu? BLM– Minhamãefaleceuaos93anosemeio,defalênciamúltipladosórgãos. LAS– Seupaisofriacomaausênciadafamíliaquandopermaneciaemoutrascidades,comoem Curitiba? BLM– Sim. LAS– Qualaúltimavezqueafamíliaoviuantesdefalecer? BLM– Natalepassagemdoano,antesdeseufalecimento. LAS– Comosuamãeencarouamortedeseupai? BLM– Comotodaequalquerpessoadeumafamíliabemestruturada–comtristeza. Esta pergunta é idiota. Parece de um jornalista recémformado, sensacionalista, que é chamadofoca. LAS– AsenhoralembradealgumateladeseupaiqueestáaquiemCuritibaouemoutrolugareo momentoemqueelafoipintada?Casoselembre,sabedizeralgoarespeito? BLM– EmCuritibaexistemduastelasgrandesnoClubeCuritibano,deFozdoIguaçu.Existeou existiaumquadronoClubeThaliae,naAssembléiaLegislativa,umatelagrande,aprimeira telaecológica–denominada“AlmadaFloresta”.Umvultodemulher,debruçadosobreo troncodeumpinheirocortado.Estatelamedemaisdetrêsmetrosdealtura. LAS– AsenhorasabeinformarseseupairealmentelecionounaEscoladeMúsicaeBelasArtesdo Paraná,jáquealgunsespecialistasdizemqueelesótinhaonomenatitularidadedacadeirae eraoutrapessoaquelecionavaemseulugar? BLM– Nãosei. LAS– Fiqueisabendoqueseupaitinhauma“grande biblioteca” quando vivia ele em Curitiba. Comoeraabiblioteca? BLM– Abibliotecaeraformadaporlivrosdeliteratura,arteeciência,alémdeobrasraras. LAS– Oquegeralmenteelegostavadeler?Quaisautores? BLM– Tudo. LAS– Comquemficouoslivrosdele? BLM– Parte dos livros encontrase em nossa casa em São Paulo. O que ficou em Curitiba, os “amigos” levaram. Também foram levadas duas máquinas fotográficas Leika e o instrumentalcientífico. LAS– Quantaslínguaselefalavaeescrevia?Ondeaprendeu? BLM– Português,alemãoefrancês,aprendidasnaescola.Italiano,minhamãeeeleestudaramcom umprofessorparticular. LAS– Duranteminhapesquisaencontreialgunsescritos de seu pai. Um deles chamase Erna e MariaAparecida.Segundoele,ErnafoiumamodeloqueposouparaalgumastelaseMaria aparecida, sua auxiliar no Museu Paulista. A senhora sabe me informar algo sobre essas pessoas? BLM– ErnaeraempregadadomésticaemodeloprofissionalnashorasvagaseMariaAparecidaera funcionárianoMuseuPaulista.Ésóoquesei. LAS– Encontreitambémumabrochuracompoemasdaautoriadeseupai.Eraumapráticacomum escrever? BLM– Sim. LAS– Osseuspaispassaramparaosfilhosessaaproximaçãocomasartes,jáquevocêsseguiram carreirascientíficas? BLM– Sim. Todos os filhos gostam de arte: música, desenho, pintura e escultura, e, detestam cantorescontorcionistaseginastas,bemcomometaleirosepixadores.Paranós,arteéalgo sério! LAS– AsenhoraselembradocírculodeamizadesdeseupaiemCuritibaeSãoPaulo?Quaiseram seusamigos? 230

BLM– João Turin, Ghelfi, Zaco Paraná, Acir Guimarães, Adir Guimarães, Frederico De Marco, OswaldoPiloto,WalfridoPilotoeoutros. LAS– ComofoiaentradadeseupainoMuseuPaulista?Asenhorapossuidocumentosoualguma informaçãosobreisso? BLM– MeupaifoiconvidadoporFredericoLane,quetrabalhavanoMuseuPaulistanoSetorde Zoologia. LAS– ComofoiaentradadeseupainoMuseuParanaense? BLM– Nãosei. LAS– Hápoucasreferênciassobreavidadelenadécadade1940.Asenhorasabemeinformarqual eraaocupaçãodelenesseperíodo?Asenhorapossuialgumadocumentação? BLM– Nadécadade1940,elefoiprofessornoDepartamento de Paleontologia da Faculdade de FilosofiaCiênciaseLetras,daUniversidadedeSãoPaulo. LAS– AsenhorapoderiadescrevercomoeraacasadevocêsaquiemCuritiba? BLM– NossacasaemCuritibaeramuitogrande.Tinhaoateliêdemeupai,ondeeledavaaulasde desenho, pintura e escultura, especialmente para alunos sem recursos. Existia a sala de músicanaqualminhamãelecionavacanto,empostaçãodevozepiano,tambémparaalunos semrecursos,namaioriadoscasos.Existiaumagrandesaladevisitas,umasaladejantar, copa, cozinha e uma varanda bem grande. Cada filho tinha o seu quarto de dormir. Dependênciadeempregados.Nosfundosdacasaumgrandequintal,noqualcadafilhoera responsável por um canteiro de verduras, um canteiro de flores e uma árvore frutífera: ameixeiras, pessegueiros, pereiras, amoreiras, laranjeiras, macieiras e pés de araçá. O jardineiro cuidava das plantações que não eram de nossa responsabilidade. Também existiam:umacoelheira,umgalinheiroetrêscães–dois policiais eum basset . LAS– VocêsmudaramdeendereçoalgumavezemCuritiba?Qualendereço? BLM– Logo que meus pais voltaram da Alemanha moramos em casa de meu avô, na Rua da Misericórdia.DepoismudamosparaaRuaTrajanoReis,edelá,fomos moraremnossa casa,naRuaCoronelDulcídio. LAS– Seupaimencionoualgumavezsobreoparanismo? Tinha algum significado essapalavra paraele?Eleseviacomoumparanista? BLM– Semencionou,eunãolembro. LAS– SeupaiconheciaRomárioMartins?Seeleconhecia,comoeraarelaçãoentreeles? BLM– Sim.Nãosei. LAS– Asenhorapossuialgumescritonãopublicadodeseupai?Sepossuir,poderiamandaruma cópia? BLM– Que eu saiba, não. Seria necessário procurar entre os guardados, para verificar se ainda algumacousaexiste. LAS– Asenhorapossuiobrasdearteproduzidasporseupai?Sabedaexistênciadealgumatela deleemSãoPauloououtrolugar?Sesouber,poderiainformarasreferências? BLM– Seiqueexistiamtelasdemeupaino Glaspalast naAlemanha,masnãoseiseelasforam destruídasduranteaguerra.ExistetambémumquadronoPalácioImperialdoJapão.Ésó isto que sei. Enviei toda a documentação que eu possuía aos organizadores de eventos ocorridosnoMuseuAndersenenoMuseuParanaense. Pelovistovocêjáconsultouestes documentos. LAS– Umadasdificuldadesdapesquisafoitambémafaltadefotografias.Asenhorapossuifotos de seu pai com a família? Poderia enviarimagens digitalizadas (escaneadas) informando detalhesdafoto? BLM– Quantoàsfotoseuprecisoprocurar,masomeutempoémuitoescasso. BLM– Porocasiãodofalecimentodemeupai,afamíliarespeitouosseusdesejos: a)SerenterradoemMorretes. b)Serenterradoempé. c)TúmulocercadoporquatropedrasoriundasdoMarumbi. d)Túmulosemcobertura. e)Sobreotúmuloumgoimbê. BLM– Meupaidoouàcidadeosdesenhosdepinhasepinhõesqueseencontramnoscalçamentos dacidade.Jáexistempessoassemcaráterquequerempatentearestesdesenhos!!! 231

ANEXO 2 – ENTREVISTA COM O Prof. Dr. LUÍS PILOTTO ENTREVISTA LP– EuconheciaBertaquandoeuestudeicomoLangedeMorretes.Eufuialunovoluntário,não tinhacursoorganizado.Quemquisesseestudardesenhoialánoatelierdele.Eminhairmã AlicePilotto,eraprofessoradedesenhoeomeuirmãoOswaldoPilottoeraconhecidodo LangedeMorretes.EaAlicefoiestudarnoatelierdoLangedeMorretes. LAS– Foiatravésdaíqueosenhorconheceuele? LP– Daíporqueaaulacomeçavaàs8:00horaseelaeralánaRuaCoronelDulcídio,pertodaRua [Petit]CarneiroeparaminhairmãnãoirsozinhaatéaRuaCoronelDulcídio,porqueera ônibus,bonde,nósíamosatéoatelierdoLangeparaestarláàs8:00horasdamanhãecomo eutinhatendênciaparaodesenhoeulevavasemprepapelefuidesenhandolá.Quemtomava conta–oLangeviajavamuito–equemtomavaconta,comomaisantigodoatelier,erao AugustoConte.É...Entãonósíamosládemanhã.Eunãolembrosediariamente,euacho quenão. LAS– Queanofoiisso?Queépoca? LP– Deixaeuver...Euestavanosegundoanodoginásio.Segundoanodoginásio...1933,32,33. Não!Euestavanoginásio1933,maisoumenos.Entãonósíamoslá,cadaumescolhiaoque quisessepintareiapintandoeoAugustoContefaziacomentáriosobreotrabalhodecada um.Issoeranumsalãogrande,tãograndetinhanovemetrosepegavaacasaresidencialdo Lange,entãoeuconhecidonaBertha,asenhoradoLangedeMorretes. LAS– Eelachegavaadaralgumadisciplina?Porqueelaeraformadaemcanto,nãoé? LP– Exato,nãoatuavaporqueelaeramenina. LAS– Eraoque?Menina? LP– ElaandavalápeloatelierdevezemquandoeoLange...OAugustoContefaziaoseguinte: oupegavaseomodeloefaziaosdesenhosdessemodelo,ousaíapelojardimedesenhava algumapartedacasa,dojardimdoLange. LAS– Osenhorestásereferindoàfilhadele? LP– Afilhadelequeeraameninaquetavalá.EasenhoradeleadonaBertha. LAS– Amulherdele,peloqueeutenhovisto,seescreveBerthacom th ,nãoé? LP– Sim. LAS– EelaBertacom t,nãotemo h. LP– Bom,adonaBertha,amulherdoLange,elaveioparaCuritibacasadajácomLange,porque eleestevenaAlemanhaeparecequeconheceudonaBerthalá.Elacantava,donaBertha cantavamuitobem.EoLangefaziaquestãode,devezemquando,apresentálaàsociedade curitibana. LP– Vamosentãodividirseriamenteacoisaaquipara não ficar confuso! A Berta – filha do Lange–éessamoçaqueestáaqui:Profa.Dra.BertaLangedeMorretes.[apontaparao nomeescritonaprimeirapáginadaminhamonografia,emagradecimentos] LAS– LánaUSP[UniversidadedeSãoPaulo]nãoé? LP– ÉnaUSP.Bom,oLangedeslocouseparaSãoPaulo,moroumuitotempoláemSãoPaulo. Tantoque,numaocasião,eufuiaSãoPaulo,enumaexposição...NaentradadoMuseude ArtedeSãoPaulo,houveumaexposiçãoeunsquadrosàvendaeeumeinteresseiporum quadroqueacheiquefossedoLangeeeramesmodoLange.Eunãocompreiporcausa... [esfregaosdedossinalizandodinheiro].Deixei.IapedirparameufilhoquemoravaemSão Paulo nessa ocasião [comprar], quem estava passando comprou. Deve ter sido desses quadros... Era um pinheiro... Era um pinheiro. Desses quadros [que] o Lange produziu e vendeulá.ElefezalgumasexposiçõesemSãoPaulo. LP– Bom.Voltamosagora,eucom1213anos,alunodoatelierdoLangedeMorretes.Eram alunosdoatelierdoLangedeMorretes:oAugustoConte;tinhaumWeber,quejáeramais velho e ele era filho de um pintor de parede de casa. E naquele tempo usavase fazer desenhos[nomeiodaparede]eopaidoWeberfezeleestudarcomLangedeMorretespara 232

aprendermelhordesenho.EaíeuconhecioWeber.Oirmãodeleposteriormentefoimeu coleganoColégioProgressomuitotempodepois. LAS– Issofoinosanos1930? LP– É193033etc.Bom... LAS– Euselecioneialgumasperguntasparadirecionarmaisanossaconversa. LP– Poisnão!Euestoumuitodisperso LAS– Não,não,masissoébom... LP– Eudeiumavoltagrandeevolteiseriainteressanteàsperguntasexatamente. LAS– Entãoaprimeiradelasseria:QuandoecomoosenhorconheceuLangedeMorretes? LP– Foinoatelierdelequandoeletinhaocursolivrededesenho,nãocobravanadaefaziase...E elejámorandoemSãoPaulo,ounão,morandoemCuritiba,masindomuitoaSãoPaulo. Elevoltavaaatenderoatelierdele.Oatelierdele. LAS– Queerajuntocomacasadele? LP– Juntocomacasadele.Edevezemquandoeleestavacomosalunosconversandounscom osoutros. LAS– Osenhorfoialunodele,emqueépoca?Osenhorjáfalou.Comoeleeracomoprofessor? Comoeramasaulasdele? LP– Bom,eleeramuitoimpulsivo.Elepunhanumaocasião,parecequefoiperguntadodeleter sidoafastadodaEscolaNormalquemeuirmãoeradiretordaEscolaNormal. LAS– EssaEscolaNormalseriaatualmente... LP– AEscolaNormal–oInstitutodeEducaçãodoParaná. LAS– OInstituto? LP– MeuirmãoeradiretoreoLangecomeçouafaltarmuitoàsaulasdaEscolaNormal. LAS– Qualeraonomedoseuirmão? LP– OswaldoPilotto. LAS– Essequeeradiretor? LP– Eraodiretor.Enumaocasiãooseu[Manoel]Ribas–interventordoEstadodoParaná,para vocêvercomoeramosestudodessaépoca–oseuRibasfoiprocuradoporumpaidealuna, colega da EscolaNormal, que se queixou que o Lange de Morretes não dava aula. Meu irmãodisseparaoseuRibas: –Játenhochamadoatenção,maseleestáfazendoestudodeMalacologiaemSãoPauloe raramentevemparacá. EoseuRibasfaloucomGasparVelloso,diretordaEscolaNormal.Nãoera...Bom![risos] OGasparVellosoquemandavanosprofessoresdaEscolaNormal,“colocouLangenarua”. Eeleparecequeficoumeiobravocomomeuirmão–oLangedeMorretes.Eeleentãome procuroulá: –Queroverqueméofulanodetal. Olhouodesenhomeu.Olhouedisse: –Achobomvocênãovirmais!Vocênãotemmuitaqualidade. LAS– IssofoidepoisdeleserdemitidodaEscolaNormal? LP– Isso,nessaépoca. LAS– Nosanos193032queeledavaaulanaEscolaNormal? LP– É,maisoumenos… LAS– EntãoeledavaaulanaEscolaNormalenesseatelierdele? LP– Nesseatelierdelequeeraparticular,enessaocasiãoeusaí.Saí,não!Nãofuimais,emeio quebrigueicomodesenho.Masdepoisavocaçãodevezemquandoexigiaqueeufizesse umdesenhoeoutro.Entãocontinueifazendodesenho.Veioumaoutrafase,praverasua incidência.Essafaseestáescrita.OValérioHoernerescreveuumtrabalhosobreaminha pessoa 100 . LAS– Aondeeupossoencontrarisso,essetrabalho? LP– Euvoulhedarumexemplar,eutenho.EoValérioHoerner...Entãoeuconteiparaeleesse fatoqueeuvourepetiragora:“OLangefoiparaarua”.Muitosanosdepoiseufuipedirpro 100 HOERNER Jr., V. Pinheirismo : emoção e querência – Luís Pilotto. Curitiba: Champagnat,1992.60p. 233

Lange de Morretes um desenho de um pinheiro, quadro que ele havia feito sobre um pinheiro 101 .Eeuhaviaescritoumtrabalho Pinheiro, árvore de inspiração 102 ,equisilustrar essapáginacomessedesenhodeLangedeMorretes.Eelemeprocuroueeudisse: –Eugostaria...–conteiparaele,euoencontravasemprenaRuaXV,conheciaporcausado Groff.Eeledisse: –Aondequeeuposso... –Nomeuconsultório. Eu já formado como cirurgião dentista, isso, portanto depois de 1942, eu me formei em 1942.Eudisse: –Omeuconsultórioéaqui! –Ah!Entãoeuvenhoaí! Marcamosumhorárioeelefoiaomeuconsultório,desconhecendoafiguradomeninoque depois…Eeleviuencimadaminhamesaunsdesenhoseolhou: –Quemfoiquefezisso? –Fuieu. –Bonstraços! –Porquevocênãoestudoudesenho? Eudisse: – Eu estudei desenho – isso eu tenho escrito, eu vou lhe dar esse trabalho. Eu estudei desenho,masoprofessorachouqueeunãotinhaméritonenhumemepôsnarua. –Quemfoiessabesta? Eudisseparaele: – Besta não! Foi o professor Frederico Lange de Morretes de toda a minha estima e admiração! Elemeioqueencabulouedisse: –Éàsvezesagenteerra,mascontinuedesenhando. FoidasúltimasvezesqueeufaleicomoLangedeMorretes.Semprequeeuoencontravaeu iafalarcomele,etalvezelenãomeidentificasse.Porquepoucoantesdemeupaitermorrido –meupaimorreuem1930–oLangedeMorreteseoTurinforamnumaniversáriodemeu paiemminhacasa,naRuaPaulaGomes,145.Jáeranacasanova,145.Elestiveramláe aquilogravouumpoucoemmim.Eutinhaoitoanos–poucoantesdamortedemeupai. Ficougravadoporquehouveumacenadebrincadeira:Foramtomarchope,cerveja,nãosei. EoTurin–oTurinescultor–eramuitograndalhão: –Ah!Essecopoémuitopequeno! Ehavialáemcasaumcopograndedevidro,costumavasecolocarcompotadedoce.Foram buscaressecopoeencheramdecervejaproTurin.Eaquilogravouemmim,euguri,com oitoanos.JoãoTurintomouacervejanaquelecopo.Bom,outrapergunta! LAS– Quaiseramosmaiores“defeitos”easmaiores“qualidades”deLangedeMorretes? LP– OLangedeMorreteseramuitoaustero.Euachavapeladiferençadeidade.Umacoisamuito interessantefoioseguinte:Segundafeira,naaula,cadaalunomostravaoquetinhafeitona semanaeoLangefaziacrítica.Eessaeumelembromuitobemporquedespertouaminha atenção. O Augusto Conte mostrou um pinheiro que tinha pintado. E ele – o Lange de Morretes–disse: –Vocêsnãoaprendem!Vocêsfazemasilhueta,silhuetadopinheiro,quandoopinheirotem corpo.Eleéredondo.Eletemvolume.Evocêsnãopesamisso!Euvoumostrarparavocês 101 MORRETES, F. L. de. Rei solitário .1953.1óleosobretela;57x70,5cm.Coleção Particular. 102 Oconteúdodestetrabalhofoipublicadopelaprimeiravezna Revista Clube Curitibano , n°.26ereproduzidocomoediçãoespecialemhomenagemaoCentenáriodeEmancipaçãoPolíticado Paraná:PILOTTO,L. Pinheiro, árvore inspiração .Curitiba:EdiçãoPratadeCasa,1957.14p.Há uma outra edição publicada posteriormente que inclui mais algumas produções poéticas sobre o mesmotemaeilustraçõesdoautor.Porém,nestaasreproduçõesdasobrasdeAlfredoAndersene LangedeMorretesforamexcluídas. 234

comoéqueagenteconstróiopinheiro.Euaticeitodasasminhasatenções.Eelepegouo cavaleteeumafolhadepapeledisse: –Olha!Primeiracoisa:opinheiroévertical.Essepinheirotortonãotem! Edeualiumaexplicaçãoporqueopinheiroeravertical,agerminaçãodopinheiro,etc.Bom, depoisosramos,quandoopinheiro,depoisdegrandeecoisaetal...Efoidesenhandoaté terminar um desenho grande do pinheiro grande. E deu [explicação sobre] cada uma daquelaspartes:otronco,osgalhos,eetc.Eelechegounacaruma–carumaéapinha–eo sapé–osapéaqueleramozinho.Efoidetalhandoaquilotudoparaconstruir[odesenho].E aquilo eu prestei tanta atenção e nunca me esqueci.Ehojeeuachoqueeupintobemo pinheiro, desenho bem o pinheiro, pintura com aquarela. Eu sei as características do pinheiro.EfoiessaaulaqueeurecebidoLangedeMorretesqueficounaminhamemória. Cadavezqueeupegavaumpinheiro,desenhodepinheiro,umafotografiadepinheiro,euia ver se estava dentro daquelas características realmente. E foi assim queeu dediqueiessa curiosidade,atençãopelopinheiro.Tenhoumacoleçãodedesenhosqueeufalheieuso,e crio,guardei,equeestãodentrodessacaracterística,procurandosempredaraotroncoessa imponência,essaaltura,essaaltivez,procurandoatingirocéu! Ecomosseusramos,cadaramoumacarumaeacarumafazendocomqueformasseabola. OinteressantequeoLangechamavaatençãoquegeralmente quando pintam um pinheiro fazemumabola,equenãoépropriamenteumabola.Temogalho,têmosgalhosquevão formandoascarumas,essesgalhosmenores...Evãoformandodetalordem,queissotudo, comaarticulaçãotoda,formaabola,maséformadoporgalhosinhospequenos,formandoa caruma.Unsvemmaispracá,outrosmenores,etc.Éissoaqui![apontaparaodesenhoque está fazendo] É que... Lá está um quadro do [Theodoro] De Bona, aluno de Andersen, [apontaparaumquadronaparede]equeagentenotaqueéumabola,masbemdeverdade, nocentrodetudoissoaquitemogalhoinicialdaondeseformamascarumas. LAS– Apróximaperguntaé:QuetipodeensinamentoLangedeMorretespassavaparaaspessoas, ouseja,qualeraaposturadeleemrelaçãoàvida? LP– Bom,oLangedeMorreteseraumcurioso,eelefoiumparanista,amouoParanácomtodaa grandeza.Aliás,euvoulhemostrarcomoeu...Umminutosó.Euqueroleressafrasequeeu divulgueihádias.[interrupção] “Pinheirismoéaquelemododesentireexpressaramoreentusiasmo–admiração!–pelo Paraná e sua gente, através do simbolismo imponente do pinheiro”. Isto eu chamo pinheirismo. Existe essa expressão pinheirismo no dicionário, que foi dado ao Pinheiro Machado,candidatoàpresidênciadaRepúblicanaquelaépocaequechamavampinheirismo osquetinhamafeiçãopeloPinheiroMachado,candidatoà presidência da República, mas issoantesde1930.Entãodaícriaramessepinheirismo,maseuachavaquepinheirismotinha queserligadoaopinheirodoParanáenãoàfiguradoPinheiroMachado,político. LAS– Entendi. LP– “Pinheirismoéaquelemododesentireexpressaramoreentusiasmo–admiração!–pelo Paranáesuagente,atravésdosimbolismoimponente do pinheiro.” Bom, isso euescrevi quandofoifeitadistribuiçãodeumpinheiro–distribuídoaíparaumaturma.Entãoissoaí,o pinheirismo,équandonóssentimos...Oparanaense...–eunãosouparanaense,nasciem SantaCatarina,masvivonoParanáesouparanaense.Opinheirismoéentãoessemodode sentireexpressaramorpeloParaná.Atravésdoque?Doentusiasmo!Amoreentusiasmo. Admiração pelo pinheiro, pelo Paraná e sua gente através do simbolismo impotente do pinheiro. Quando nós podemos representar o Paraná através dessa imponência, ereto glorificadocomaformaçãodascarumasqueformamfiguradopinheiroadulto.Porqueeu considerooParanájásofridoevitorioso.Então,istoaquiqueeuchamodepinheirismo,essa força!Essevigor.[Enquantofalafazumesboçodepinheiro] LP– Vocêviucomquefacilidade? LAS– Paradesenharnãoé?Paraestruturaropinheiro... LP– Porquê?Porqueeupartidisso!–issoaquiéobrotodopinheiro[apontaparaodesenho]. Quandoopinhãoabre,edentrodopinheiro,maisdentrodopinheiro,umatripinhaquea gentedizdopinheirodentrodopinhão...Eissoaquivai...Issoaquiéquevaidaraformação dopinheiro.Euestudeiisso,oqueLangedizia[ser]aanatomiadopinheiro.Aanatomiado 235

pinheiroeraissoaqui!Comoopinheirocresce,comoopinhãocainosolo,abreeéistoaqui quevaidesenvolver.Deitado,dispostonosolo,edepoisessaparteaquisobe,essesgalhos vãoseperder,eopinheirovailáemcima.Entãoformaessaimponênciadecorrentedaforma quecai.IssoaquioLange,nassuasaulas,elediziaquetemquatroaseis...–não!–Seisa oitogalhos,galhos... LAS– Apartirdotronconãoé?Entãoeledava,assim,todaumabasedaBiologiamesmo,nãoé? Paraestudar,paraelepintar.ApartirdaBiologiaeapartirdodesenho. LP– Eosdesenhossemedem...Quedepoiselecriou...EleeoGhelfi. LAS– É,aquelepinhãogeométrico. LP– Temaí? LAS– Eutenho.Tenhooutrapergunta,vouperguntardepois. LP– Entãovamoslá...Compreendeuporqueeudigoaimponência,eusintoaforçadopinheiro, queficaláemcima.Istoaquiquetemquedáosentidodecadapessoadesenharopinheiro. Vamoslá. LAS– OqueosenhorpodemedizersobreadescendênciaalemãdeLangedeMorretes? LP– Éoseguinte:elenasceuemMorretes,porisso que ele era o Lange de Morretes, porque haviaumoutroFredericoLangenoParaná. LAS– QuetrabalhounoMuseuParanaenseaténãoé? LP– Nãoseiseeletrabalhoulá. LAS– NaPetrobrástambém,nãotrabalhou? LP– Possivelmente, mas o Frederico Lange... E ele para se diferenciar desse outro Frederico Lange, ele acrescentou “de Morretes”, mas isso antes dele ir para a Alemanha porque o Lange de Morretes, o Frederico Lange, era filho de um engenheiro da Estrada de Ferro [ParanaguáCuritiba] – engenheiro Lange. Na estrada de ferro tem ali uma estação EngenheiroLange.LangeeraopaidoLangedeMorretes,eeleacrescentou“deMorretes” parajustificar.Eissotambémpeloseguinte.Porqueelepuxouumpouquinho–tiveuma idéia,ninguémmedisseisso,maseudeduzi–queoAndersen,opintor,oprofessor,que conheceuméritosnoLange,queaconselhouopaidoLangemandarelepraAlemanha.Então oAndersen,oprofessor,oAlfredoAndersen,queaconselhoueleirparapraAlemanha.O Andersen,elefazia[aassinatura]AlfredoAndersenenofinaldo[sobrenome]Andersenele faziaparacima.Significavaqueeleeradescendente,queeleeranascido,eleeradaquela região da Alemanha [Noruega]. Então todos os desenhos do Alfredo Andersen têm Andersen,eesseficaumtraçopracima,característicodaregiãoondeelenasceu.Então,o Langetalveztenhapuxadoessaidéia,presumoeu,pracolocarnonomedele,praeleficar ligadoàregiãoondeelenasceu:Morretes,“deMorretes”,onomedeleeraFredericoLangee eleacrescentou“deMorretes”.EraoLangedemorretes,ligadoàregiãoondeelenasceu porqueelenasceuemMorretes. LAS– NoperíodoemqueeleviveunaAlemanhaeleficoulánoperíododaIGuerraMundial,ele chegouaconversarsobreisso? LP– Eunãotenholembrançadealgumacoisanessesentido. LAS– Eoutracoisa.Sobreascorrentesartísticas,osestilosqueelevivenciounaAlemanha? LP– Bom,eutenhoaí.EuvoulhemostraroqueeutenhosobreoLangedeMorretes.Munique, eleestudouemMunique.Depoisemoutracidade.EeleestudouEngenharia,pelomenosa parteartísticadaEngenhariaeporinfluênciadoAndersen,maseunãotenhoidéianenhuma dacorrespondênciadelecomoAlfredoAndersen,comoprofessor.Eusóseiquequandoele voltou ao Paraná o Alfredo Andersen acolheuo muito entusiasmado pelo que ele havia produzidoerealmenteeleveiocomumacaracterísticagrande,degrandepintor. PraqueEscola? LP– EuachomaisNaturalista.Naturalista. LAS– Eosenhorsabe,assim,algunsprofessoresqueeleteve,aspessoasqueeletevecontato? LP– Osnomeseunãosei.EuagoraestouconfundindocomoNísio.ONísioeutenholembrança, masoLangedeMorretesmesmoeunãotenho.Eutenhoaíunsguardados,temalgumque talvezfaçamençãodaEscolaqueelefreqüentou. LAS– A próxima pergunta é: Oestilo de Lange de Morretes influenciou seus alunos? Em que medidaissoinfluenciou? 236

LP– Eleincentivouosalunosnopinheiro.OpinheiroproLangefoitudo.EhaviaemCuritiba umarevista, Illustração Paranaense ,quevocêjásabe,doGroffeetc.Eumearrependoaté hojedenãotercompradoumacoleçãodarevista. LAS– Édifícilencontrar,nãoé? LP– EuseidaexistênciadeumacoleçãodofilhodoGroff.Eutenhomuitaligaçãocomogenro doGroffejáquisconseguir,masnão.[apontaparaareproduçãododesenhodacapada Illustração Paranaense ] Isto aqui é desenho do Turin, onde o Turin quis representar o homem.Éinteressante,elequisrepresentarohomemnopinheiro.Issoaquiédesenhodo Turin,quandoelequisumafiguraatléticacomobraçoestendido. LAS– Comparadocomopinheiro,naaltura. LP– Exato. Sabe por que o monumento da Praça 19 de Dezembro não tem esses braços representando? LAS– Porquê? LP– Porqueadificuldadeemconstruirissoaquinaépocaemquefoiconstruídoomonumentona Praça 19 de Dezembro que pudesse ter a estrutura disto aqui. Eu acompanhei isso aqui porquenessaépocaeujámedava,conheciaosadeptosdoParanismo,quedepoiseuchamei dePinheirismo.EutransformeioParanismoemPinheirismo. LAS– Eutenhoumaperguntaaquiquefalajustamentesobreisso.Oqueosenhorentendepor Paranismo? LP– OqueeutransformeiemPinheirismo. LAS– Osenhorjáhaviamefalado.EntãoprosenhoroParanismoseriaoqueosenhordefinecomo Pinheirismo. LP– ÉmaiscaracterísticoporqueoParanismoédoParaná,mastemaregiãodecafétambém.Eu viviaregiãodecafé.Euescreviumartigopro Boletim do Clube Concórdia .Umartigosobre trêstemposdoParaná:oParanánaervamate,oParanánopinheiroeoParanátalvez,então façoassim.Jáestavadiminuindoesseentusiasmoeconômico,equemsabeopetróleo.Tem umartigo O Paraná em três tempos . LAS– PodeseestabelecerumarelaçãoentreoParanismoeaSemanadeArteModernade1922? Qualseriaessarelação,seelaexistir? LP– [Com]aArteModernade1922houveumgrupodeparanaensesqueseentusiasmou.Eum deleséomeuirmão,oValfrido,ooutro,nãooOswaldo,oValfrido.OValfridocomeçoua escrevermodernoepublicouumnegócio,OttodelaNave,OttodelaNaveporcausado Pilotto, Pilotto por causa do Nazismo. E publicou várias poesias modernistas com o pseudônimoOttodelaNave.Arelaçãoqueteveopinheironissoéqueelesdesenvolveram nessaépocaoestudodopinheirocomocaracterísticadoParanánessesentidoqueagoraeu descrevo assim. Olha! [aponta para a reprodução do desenho da capa da Illustração Paranaense ]édaArteModerna.IstoaquiédoTurin.OTurin,oGhelfi–pintorparanaense que morreu há muito tempo, eu não o conheci, conheço só trabalhos dele, mas conheço muito de sua vida. O Ghelfi, o Lange e o Turin ficavam noites e noites estudando a simbolizaçãodoParanárelacionadocomopinheiro. LAS– Eutenhoumaperguntaassim:ComoeraarelaçãodeLangedeMorretescomJoãoTurine JoãoGhelfi,eosoutrosartistasemsi?Comoeraessarelaçãodelecomosartistas? LP– Artes!Umparanaensepensavanopinheiro,doisparanaensesdiscutiamsobreopinheiro,três paranaensesprocuravamrepresentaroParaná.Issoéumaexpressãonãoseidequem. LAS– Tem aqui num artigo dele da revista Illustração Brasileira que ele fala do processo de criaçãodopinhãoestilizado. LP– Vocêsabecomoépramostrarqueeuconheçoissotudo...Quandoopresidente,presidente não,quandooprofessordaFaculdadeCatólicapublicouumlivretosobreaminhapessoa, muita gentileza dele. Ele disse assim: “– Você não é capaz de repetir a elaboração do pinhão?”Eucomamaiorfacilidade,pramostrarparaelequeeutinhaainda...Eunãotremia tantoassim,eutinhatraçofirme,agoraqueeutremoassim.Masnumaretaqualquervertical marcaseumponto.Nestepontopegaumraioqualqueretraçaseumacurva.Essadistância érepetidacincovezes.Nasegundatraçaseumoutroraiopassandoporaquele.Eutenhoo desenhoevoulhemostrar... 237

LAS– Achoqueeuatétenhoaquiessedesenho.Esseédopinheiroestilizadonãoé?Éissoaqui queosenhoriafazer? LP– EstilizaçãodossímbolosdoParaná... LAS– Issoaíforamcoisasqueeufuijuntando. LP– Essedesenhoeudesenhei LAS– Umhumh![sim]Osenhorestavadesenhandoaquinãoé? LP– Feitoissoaqui.Daídivideseissoemduaspartes.Bom,seguindoareta,istoaquidividese aomeio,éabissetrizdesseângulo.Bom,dessabissetrizaquisãofeitosa,b...Vocêsabeda ondepegaramissoaqui? LAS– Issoaquieupegueidesseboletimaquinãoé,maspelacomparaçãoqueeufiz,essedesenho éumaampliaçãodesseaquiquesaiuna Illustração Brasileira .Issoaquifoiumamontagem queeufizdumartigoda Illustração Brasileira quetemessedesenhoaquieesse.Etematé umtextodosenhorqueeuuseiaquinaminhamonografiaqueosenhorcomentasobreisso. Foiem1992,achoquenumaexposiçãoqueosenhorfez no Clube Curitibano. É não é, ClubeCuritibano?Entãoosenhorfalaaqui!Osenhordátodososdetalhesaíqueosenhor estavafazendo... LP– Exato.Comoseconstróiopinheiro,nãoé?Aquientãoeutenhoadescrição,queeuvoulhe daresse... LAS– Originalnãoé? LP– Original.DitadopelomeuirmãoOswaldopeloqueeleexecutou,eledisse.Eufizquestãode serporqueelestinhamlevantadoumaquestãodopinhãonumareuniãodoRotary,eeudisse queessepinhãoestilizadodoLangeeraumdeformismo, porque o pinheiro estilizado do Langefaziaseassim.Epegueiláumcartazqualqueredesenheiumpinhão,ebaseadona descriçãodeumaconferenciademeuirmão: O pinheiro na Arte Paranaense . LAS– Eéissodaquimesmo?Eissodaqui? LP– É. LAS– EssesdaquisãotodosdesenhosdoLange.[apontoparaosdesenhosreproduzidosdarevista Illustração Brasileira ] LP– Issoaquisaiuna Illustração Brasileira nonúmeroqueomeuirmãoValfrido...OValfrido publicounumnúmeroda Illustração Brasileira ondeelededicouumaparte.Quemestácom omeuexemplaréomeuneto.Bom... LAS– Outracoisaqueeuqueroperguntarprosenhor.Issoaquiécontinuaçãodaquelesdesenhos nãoé? LP– Sim,sim. LAS– Essesaquidarua.IssoaquifoioLangedeMorretes que fez? Da onde que surgiu isso? [apontoparadoisdosdesenhosutilizadosnascalçadasdeCuritiba] LP– Issoaífoiumdeformismodesseoriginalaqui.OdoLangedeMorreteséissoaqui.Depois elesacharammaisfácilfazeressasdeformaçõesaqui. LAS– Issopracalçadasó,nãoé?Sópracalçada,nãoé? LP– Sópracalçada.Bom,oLangedeMorretes,professordaEscolaNormal... LAS– Aquiolha!Temmaisesseaqui!EsseaquitambémeradoLangedeMorretes? LP– Não,outalvezbaseado. LAS– Esseaquitambémébaseado?[apontoodesenhopinhadosventos] LP– Esseé! LAS– É?Porqueéarosados... LP– OLangedeMorretesquandopegouessafaseaqui ele era professor da Escola Normal. Então,elefaziadesenhosdissoedavaderisodebordadoparaasalunasdaEscolaNormale elas, nos trabalhos manuais, faziam bordados, toalha de mesa e coisa e tal, tudo com... Decoradocompinhão. LAS– Erapraaplicaremváriasáreas. LP– Emáreas...Elequeria. LAS– Inclusivetemumdesenhoaquiqueeleusatipoumamoldura,nãoé? LP– Exato.IstoempartefoireproduzidopeloNísio,masissotudoaquiéamortedoMonsenhor Celso.IssoéamortedoMonsenhorCelso.NodiaqueoMonsenhorCelsomorreuhouve umatempestadeecaiuumcedroaoladodacatedral.Eoventomuitofortederrubouesse 238

cedro. Eu tenho uma página sobre isso. O monsenhor, o sacerdote, o cedro,um negócio assim.Eutenhoaí!Depoiseuvoupegartudoqueeutenhoaíevoulhemostrar,masisso aquifoicompostopelo...OLangefezoperfildoMonsenhorCelsoeocedrocaído.Nahora queoMonsenhorCelsomorreucaiuessecedro,issofoiummisticismotremendo. LAS– AquijáédoJoãoTurin,sobreessacasa...Osenhorchegouaconheceressacasa?Dr.Leinig, acasaparanista? LP– Sim,essacasadoDr.LeinignaRuaJoséLoureiro,não,é... LAS– Foidemolida,nãoé? LP– EsseLeinigaquiésogrodoDr.GastãoPereiradaCunha.Nósfomoscolegasnoprémédico, masfomoscolegasnoprémédico.EleestudouMedicinaeeufiqueicomaOdontologia. Aliás,diasmaisvelhodoqueeu.EuseidissoporqueminhamãemoravaemMafraeamãe doGastãomoravaemRioNegro.Easduasestavamesperando.Eatorcidadomeupaiea doDr.Cunha:“–Qualdosdoisnasceriaprimeiro?”.EnofimoGastãonasceuantes.Mas issoaquiéacasadoLeinigondeelepegoutodososelementosdoparanismoefezsuacasa. LAS– IssoaíédoJoãoturin,nãoé? LP– Istoédo...IssoestánoMuseu. LAS– É, eucheguei a ver issoaí. Como o senhor enxerga os pinhões estilizados das ruas de Curitiba,oquesignificamprosenhor? LP– Éumdeformismodopinheiro.Éumdeformismodopinhãoquefoimaisfácildelesfazerem paracalçarem.Háalgunsaindacomissoaquieoutrosmaischeioseetc.,mastudoissoaqui estilizadopeloLangedeMorreteseissoaquidistribuído em recorte de serrinha prafazer quebraluz pra madeira. O Lange dava isso na Escola Normal. [interrupção] o Lange de Morretesinventouessascoisas.[interrupção] LAS– ComoosenhorenxergaessatentativadosparanistasdeidentificaroParaná? LP– Atravésdasimbolização,dopinheiro,dagrimpa. LAS– Oqueégrimpa? LP– Grimpa,aquele...Ogalhodopinheiro.OLangedeMorretes LAS– Comoseescreve? LP– Grimpa é o sapé seco. Daí a partir daqui, metade disso aqui levantava pra cá. Daqui levantavapraláecomissoaquielerepresentavaosapé,aquelegalhodopinheiroeaquiele foiinventado. LAS– OsenhorsabeoslugaresqueoLangetrabalhoutantocomoartistacomocientista? LP– Bom,eletrabalhouemSãoPaulo.Euperdi,perdi não, está com meu neto a Illustração Brasileira ondetemumareportagemgrandesobreoParanáesobreoLangedeMorretes, escrito pelo próprio Lange de Morretes e que o meu irmão, o Valfrido publicou na Illustração Brasileira ,nãoé Illustração Paranaense , é Illustração Brasileira . LAS– Quaisoslocaisqueeledeuaula,elelecionavaquaisdisciplinas? BomelelecionavadesenhonaEscolaNormal.[interrupção][Fimdaprimeirafita] LP– Olhaaqui!Umpinhãoaqui,outropinhãolá... LAS– Étudopor...Osdesenhosdeletomavamcomobaseopinhão,opinheiro,apinha. LAS– Oqueosenhorsabearespeitodaformaçãode Lange de Morretes na área das ciências naturais?ComoosenhorvêoLangedeMorretescientista? LP– Cientistaelefoi.Eletinhanacasadele,noatelierdele...Nós,devezemquando,olhávamos aquantidadedecaramujinho,malacologianãoé? LAS– Malacologia. LP– É Malacologia. Ele tinha mania de juntar essas coisas onde ele descobriu um tipo que ninguém tinha descoberto. Ele classificou a ordem dos moluscos que ninguém tinha descoberto.Ninguémtinhadescrito.Estána Illustração Brasileira ,referidoláestenegócio. Caramujoqueele–pelosestudosdele–eledescobriu.OLangedeMorretesdesenvolveu esseestudo,foiprofessornoMuseudeSãoPaulo,eeleexigiamuitaanatomianasfiguras humanas.OAugustoComteexecutoumuitostrabalhosdefigurashumanas. LAS– Comoosenhorvê“eleartista”e“elecientista”?Osenhorachaqueelegostavadeumacoisa maisqueaoutraoueramcoisasqueandavamjuntas,comoqueeraisso? 239

LP– Eletinha“duplapersonalidade”–entreaspas. Ele gostava dapintura e gostava da outra coisa.Nãoseisejálhefalaram...[interrupção,LPfalasobreocostumedeescreverempapel reciclado] LP– Bom,entãoaperguntaera? LAS– Elecientista,osenhorrespondeuqueelegostavadasduascoisas.Temumaperguntasuper importante.ElechegouatrabalharnoMuseuparanaensenãoé? LP– EuachoquefoinoMuseudeSãoPaulo. LAS– Não,masantesdeleirparalá,peloqueeuli,elechegouatrabalharnoMuseuParanaense. LP– Possivelmente... LAS– Sóquenãohánenhumregistrodisso,entãoovinculocomoMuseuParanaensenãoestábem certo? LP– Exato,eudesconheço. LAS– EutenteiprocurarnosarquivosdaUniversidadeFederalporquemuitostextosfalamqueele chegouadaraulanaUniversidadeFederal.Osenhorsabealgumacoisasobreisso? LP– Eudesconheço. LAS– OsenhorchegouaconheceroLoureiroFernandes? LP– TemumapublicaçãodoLoureiroFernandes,aúltimaquesaiuagora,temduaspáginasonde temreferênciasescritaspormimsobreoLoureiroFernandes.UmadoLoureiroFernandes queeuescrevifoioseguinte:Numaocasião,elediretordoMuseuParanaenseencomendou do[Guido]Viaroumaalegoriaparaumaexposição.QuandooLoureiroFernandesprocurou oViaronaRua,no...–desculpeafalhadaminhamemória–alinaPraçaZacarias,Dante Alighieri.NoDanteAlighierioViarotinhaumasalaqueeleusavacomoatelierdeleeo LoureiroFernandesfoinessaechegoueolhouumapinturaqueoViaroestavafazendoe perguntouproViaro: –Masvocêconheceperspectiva,néViaro? –Éééh...–meiofanho,oLoureiro,eleerafanho. Oescritorlánãosabiaqueeleerafanho,masnemporissoele[oLoureiroFernandes]tirava a imponência dele falar e a beleza dele falar. Eu fui muito admirador do Loureiro Fernandes...Bom,então,masaperguntaaí? LAS– OqueosenhorpodemedizersobreadisputaentreLangedeMorreteseLoureiroFernandes pela direção do Museu Paranaense? Muitos textos dizem que essa disputa foi um dos motivos que fez ele ter partido para São Paulo, porque ele também brigou com Manoel Ribas,queéoutraperguntaqueeuvoufazerdepois. LP– Então,doLoureirocomoLangedeMorreteseunãosei,maseuseiissoqueeuvoulhe contar.OLoureiroFernandesfoivisitaroquadroqueeletinhaencomendado.[interrupção: LP–Trouxeramáguaparavocê?LAS–Sim,vocêquer?LP–Não,não,muitoobrigado].E daíoLoureiroFernandeschegouláeolhouoquadroedisse: –EaínofundooquevocêvaifazerViaro? –Ah,euvou... EoLoureirosoltou: –Evocêsabeperspectiva? EoViaroperguntouproLoureiro: –Evocêsabefazerlavagem...Urologia? Era o básico da Urologia naquele tempo fazer irrigação de gonorréia [risos meus]. O Loureirochegoueperguntou:–Evocêsabefazerlavagemna...[risosmeus].Suprimimos essafrasené?PorqueoViaroeramuitomalcriadoe soltou bem positivo. Bom, mas essa disputadoMuseuParanaenseeunãoseidabrigaentreosdois. LAS– EsobreoManoelRibas,essadesavençaquetevedevidoaumartigochamado Arte e fisco escritoporLangedeMorretes.IssoseriaumdosmotivosdeleterpartidoparaSãoPaulo? LP– EuseiqueelesaiudeSãoPauloporqueeledeixou de ser professor da Escola Normal e deixoudeserprofessorporqueoManoelRibasrecebeuqueixadequeoLangedeMorretes nãodavaaulanaEscolaNormal.Issotambémparticularmente porque não saiutalvez de cimadessamesaaqui. LAS– Quemquedeuqueixadele?Ospaisdosalunos?Osalunos? 240

LP– OspaisdosalunosforamsequeixarparaoManoelRibas.OManoelRibaschamouomeu irmãoetrucou: –Ah,esseLangedeMorretesnãodáaula. Eomeuirmãodisse: –Eujáchameiaatençãomuitasvezes,maseleestáemSãoPaulo. LAS– ComoeraarelaçãodeLangedeMorretescomospolíticosdaépoca?Emaspectosgerais. LP– Não,eunãoconheço.Eleeraumpouconazista.Eleeraumpouconazistaporquenaquele tempooHitlerestavanoapogeuetodoodescendentedealemãotinhaumatendênciazinha deadmiraçãopeloHitlerepeloNazismo,masnãoseinadaqueeletenhasidopreso,porque naqueletempomuitosforampresosporsedeclararemnazistasouadeptosdoNazismo.Mas doLangedeMorreteseunãopudevernada. LAS– QualeraopapeldoLangedeMorretesnaSociedadedosArtistasdoParaná? LP– EunãoseiseelestinhamrealmenteumaSociedadedosArtistasdoParaná,masoLangede Morretes,eleeramuitochegadoaGhelfi,DeBona,Turin,Groff–[JoãoBaptista]Groffera jornalista, depois é que se tornou artista, de tanto freqüentar o atelier [do Lange de Morretes]. LAS– Elenãoerafotógrafo? LP– Erafotógrafoefaziaa Illustração Paranaense ,eetc. LAS– Existem poucos textos sobre Lange, um dos que considero importante é o de Laertes Munhozquesaiuna Gazeta do Povo ,vocêchegouaconhecêlo?Quetipoderelaçãoele tinhacomLange? LP– LaertesMunhozfoimeucliente,meuconhecido.MeuprofessordocursodeOdontologia– não! O Milton Munhoz, o irmão do Laertes que foi meu professor na Faculdade de Odontologia.Eledava[auladadisciplina]“HigieneeOdontologiaLegal”.[interrupção] LAS– OsenhorsabequetipoderelaçãoeletinhacomLangedeMorretes? LP– Os críticos de arte eram os intelectuais do Estado. De arte mesmo eles tinham pouco conhecimento, mas eles eram no quase... e defendendo o Paraná e etc... Então eles transportavamtudoemfavordaartetambém.Laertes Munhoz tinha alguns artigos sobre artistaseetc.,masorelacionamentodele,doAndersencomoLaertesMunhoznãotenho grande conhecimento. Agora com o pai do Laertes Munhoz, Alcides Munhoz. Alcides MunhozeradogovernoAfonsoCamargo,antesdaRevoluçãode30.Eesserelacionamento comoAlcidesMunhozfezcomqueeletambémseenvolvessenosconhecimentos.Erao AlcidesMunhozSecretárioGeraldoEstado,eraotítuloqueeletinha.SecretárioGeraldo Estado. LAS– Quala opiniãodosenhor sobre o papel dos paranistas no desenvolvimento das artes no Paraná?Osparanistas,euestoumereferindoaLangedeMorretes,JoãoTurineJoãoGhelfi, quecriaramoestiloparanista. LP– Foramoshomensquedesenvolveramaarte.Turin,oLangedeMorretes,elesfizeramcom quefosseconhecidaumaartebaseadanoscritérios,naspropriedadesdoEstado–opinheiro. EelesdesenvolvendoesseParanismo,elesfizeramcomqueoParanáseprojetassedentro dasArtes. LAS– O senhor pode me dizer algo sobre as crenças pessoais e a espiritualidade de Lange de Morretesetambémseeletinhaalgumenvolvimentocomamaçonaria? LP– Desconheço...Desconheço... LAS– Sobreamaçonarianãoé?Massobreaespiritualidadedele?Seeleiaaalgumaigreja,como eraafamíliadele... LP– Isso eu desconheço, mas vejaaqui: oMonsenhor Celso! – é... Como artista procurando representaraartedoParaná.Nãoseiqualainfluência,maseuseiqueelefoiumacriatura quesededicouaisso.Tantoquena Illustração Paranaense ,certamenteapedidodoGroff elefezessapáginaepublicou.Querdizerqueeletinhaalgumrespeito,algumaadmiração pelocristianismo. LAS– Porcausadacruznãoé,também? LP– Exato.Aquielequis,comoartista,representar essa relação da queda do pinheiro com a mortedoMonsenhorCelso.Eudepoisvoubuscarpartedomeuarquivoaíondeeutenho muita coisa. Hoje eu tenho relações de amizade com a filha do Groff. E ela me fez de 241

presentedeumacoleçãoqueelatiroudeumarevista da Illustração Paranaense sobre o Monsenhor Celso, que ela tinha uma admiração muito grande. Ela tem admiração muito grandepeloMonsenhorCelsoeatémedeuesseselementosporqueeuqueriaescreverum artigo sobre o Monsenhor Celso. Ficou aí, não me entusiasmei, eu já estou na fase da preguiça. LAS– Sobreamaçonaria.MuitostextoscientíficosdeHistóriafalamdosmaçônicosemCuritiba. Oqueosenhorpodemedizersobreisso?Seosartistaseram...Comoqueeraisso? LP– Eudesconheçoessapartedamaçonariaporqueaminhafamília.Minhamãecatólica,minha irmãmuitocatólica,professora,tiveramumainfluênciagrandesobreaminhapessoa,sóque eu,quandomeupaimorreu,fiqueicomoitoanosedaíeusoubemaisproladodaminhairmã muitofilhadeMariaejáentreinaPrimeiraComunhão.Depois,nocolégio–eufuialunodo ColégioProgresso–nãotinhareligiãonenhumamaisfiqueicomaminhaformaçãodepois. Eu conheci minha senhora e daí então eu me dediquei ao catolicismo. Tanto que minha senhoraeeufizemospartedaLigadasSenhorasCatólicas,elaaindafazpartedaLigadas Senhoras.(...)[falasobreavivênciadeleedaesposanaLigadasSenhorasCatólicas]Minha senhorameconduziubemparaesseladoeeuestoumuitosatisfeito. LAS– Tenho mais duas perguntas que ficaram aqui: Como foram às exposições de Lange de Morretes?Eseelecomentavasobreasobrasdele? LP– AsexposiçõesdoLangedeMorretes...Eunãotenholembrançadenenhumadelas,porque eu,quandoentrei,mesmo “trabalhandoparaasArtes”,entreaspas,foioseguinte:eufui nomeadopelopaidoGastãoRamanau,peloAdolfoRamanau–eleseramdadiretoriado ClubeConcórdiaemeconvidaramprafazerpartedoclubecomodiretorcultural.Euachei bonitoserdiretorcultural,eurecémformadonaOdontologia,noivodaminhasenhora,ela erasóciadoClubeConcórdia.EquandooTurinmorreu,euencontreicomoFreÿesleben, outro“descendentedoAndersen”,meencontreicomooFreÿeslebenedisse: –Comoé,oTurinmorreu? –Morreunão!Táaqui! Tavabatendosol. –OTurinagoraéluz!Turinmorreu,maseleéluz!Vocênãoentendeuisso?Elemorreu comograndepintor,umgrandeartista,eleéluz! –Tábom. Euacheimeiolouco,masemtodoocaso...[risosnossos]Maseuconserveiissoedefato trabalheipeloSalãodeBelasArtesdoClubeConcórdia.OrganizeioSegundo,oTerceiro,o Quarto,oQuintoSalãodeSalãodeBelasArtesdoClubeConcórdia.EufizoBoletimdo [Clube]Concórdia,eraumvínculoparadivulgarasArtes,acheimuitobonito,trabalheiaté quemeuprofessordeOdontologia,oFranciscoBassetiJúnior: –Escute,eusoubequeestãoquerendoquevocêsejadiretordoClubeConcórdia. Eudisseparaele: –Não!Falaram...Eunãoseisevouaceitar. Eledisse. –Lembreseumacoisa!EuteconvideipraentrarnaUniversidadeporqueeuqueroquevocê sejameusubstitutonaUniversidadecomoprofessordePatologia. NãomeinteresseitãoacentualmenteàsArtescomoeu me dediquei à pintura. Tanto que agoraeuestouaposentadonaUniversidade.PasseidaFederalparaaCatólica.Agora me desvinculeidaCatólica.VinteetrêsanosdeprofessordaCatólicadepoisdevinteanosde professordaFederal.[Eu]Medesvinculeidetudoisso.Eagoracom82anoseupossojogar foraorestodaminhavidadojeitoqueeuquiser.Entãoeuestoumededicandoumpoucoà pinturaprarecuperaraquilotudoqueoLangedissequeeunãotinhatalentonenhum.[risos nossos] Masentãovocêvejacomoavidaéinteressante!Agentenasce,nascenão,sedesenvolve dentrodeumambiente,depoisesseambientevaimudando,passaprooutro.Meusirmãos todosformados–sóoMáriodoisanosmaisvelhoqueeuaindaestudante.Fuialunodo Oswaldo.FuialunodaAlice.FuialunodoRaul.Trêsirmãosmeu,meusprofessores!Você veja!Edaí?Eutinhaqueseralgumacoisa.Quandotermineioginásio,odiretordoColégio ProgressoqueeraoFernandoMoreira–onomedessaRuaFernandoMoreira–meconvidou 242

paraeuserauxiliardesecretariadoColégioProgresso.Acheiaquiloformidável.Vivendo um tempo no Colégio Progresso, o professor Moreira me pegava pra eu substituir uma professoraasmáticaquedevezemquandonãopodiairàaula.Elechegavaedizia:“–Vai lá,vaiàsalaevejalácomosalunos.Dêauladeciências!”Elesabiaqueeugostavade ciênciasfísicasebiológicas.Eeumeregistreiprofessor.MorreuoPedroMacedo,professor de desenho. O professor José Gomes Ribeiro, que era diretor do Ginásio paranaense me convidouparasubstituiroPedroMacedo,ficoudoisanoslá,maseusoudentista,eutenho minhasobrigaçõescomaciênciaetambémgostandodaciênciaeaceiteiefizconcursopara professor do Estado. Passei no concurso. Quando ia fazer cátedra, cortaram as cátedras porquefoinotempoemqueoscomunistasestavamtodosfazendocátedraseeuentãofiquei meioderessalva.Meuirmão,delegadodeordempolíticaesocial:“–Nãosemetacomessa gente!”. O que aconteceu? Acabaram com a cátedra, não pude fazer concurso. Gastei os meusassuntosdeconferênciasdaquialiecoisaetal.ViajeigrandepartedoBrasilfazendo conferências.MedediqueiaoestudodaOdontologia.Efui...Acabeisendosubstitutodomeu professoroFranciscoBassetiquandoelemorreu.Enãotinhaquemassumisseacadeira.E fuiindicadopelaUniversidadedoParanácomaquelacoisadeeujáserdocentelivre. EacabeidepoisconvidadopelaUniversidadeCatólicaparaserprofessor,organizarocurso deOdontologiadaCatólica.Eagora,asemanapassadaeufuiláassinaraminhadesistência deprofessor,éporqueeujáestoucom82anosejáestouvelhodemaisparaserprofessor. Não tenho capacidade nenhuma. Também não tenho capacidade, mas viu aqui como eu, revendotudoisso,eutenhocapacidadedecontarquantacoisa!Bom,graçasaDeuscontinuo naAcademiaParanaensedeOdontologia.QuandopresidentedaAcademiaeuinstituiofato detodaasextafeiranósnosreunirmoslápor4:30,5:00horasetemos mantidoaindaa Academialácomonúmeroreduzido.Estamosmantendoemantendo,emparte,essacoisa elevada. Se me perguntar: O que é pinheirismo? E eu digo o que é pinheirismo. Meu filho está organizando uma exposição que ele quer que eu faça das minhas aquarelas. Aquarelas contendoopalpitedoDeBona,doTraple,doNísio.“–Olhaaí!Eufizissoaquisábado, domingo,oquevocêacha?–Tábom,tábom,masdeoutravezvocê...”Edaoutravezeraa retificaçãoqueelesqueriamfazer.Daoutraeujánãofaziaaquiloqueeutinhafeito,jáfazia melhor...[Fimdasegundafita] LAS– ComofoiamortedeLangedeMorretesequantoaosupostoestadodepressivoemqueelese encontravapoucoantesdemorrer? LP– OLangedeMorretesmorreu...Oseguinte:elefoiaohospitaledissequetiveraquefazerum tratamentoe...“–Masqualéoseumédico?–Não,depoiselevemaí!”Elepagouapensão deleporqueelenãotinhasidointernadopormédiconenhum.Dizqueeleestavaumpouco depressivo e deitou. E no dia seguinte acharam ele morto. Lange de Morretes morto. E quandoele...Naquelesdiaselefezumdepoimento.ElequeriaserenterradoemMorretes, Cemitério de Morretes, de frente para o mangue. De pé para respeitar o Marumbi. E o encontrarammortoefizeram,então,oenterrodelenessascondições.Numaurnadeconcreto demanilhadecimentopuseramocaixãodeleeelefoienterradodefrenteparaoMarumbi. Elequeriaserenterradodepé.[Fimdaentrevista] 243

ANEXO 3 – FOTOGRAFIAS

FIGURA45– FREDERICOLANGEDEMORRETES.Semdata.1fotografia:p.&b.;16x11,5 cm.ArquivoMuseuAlfredoAndersen. NOTA:EssafotografiaserviudebaseparaumretratodoartistapintadoporEstanislauTrapleeque pertenceàEscoladeMúsicaeBelasArtesdoParaná. 244

FIGURA46– NO ATELIER DE JOÃO GHELFI. Sem data. 1 fotografia: sépia; 20 x 12 cm. ArquivoMuseudeArteContemporâneadoParaná. NOTA:EssafotografiafoiencontradacomumacadernetadeJoãoGhelfidatadaem05a10dejunho de1912.OlocaléoatelierdeGhelfi,queforadofotógrafoVolk e depoisde Alfredo Andersen. Identificados,dadireitaparaaesquerdadoobservador,oprimeiroéZacoParanáeoterceiro,Lange deMorretes.Emrelaçãoàsobras,oquadrodetroncosàesquerdanoaltoé Solidão (paisagem de inverno) pintada na Alemanha, em 1918, por Lange de Morretes. À direita, de Zaco Paraná, uma cabeça,intitulada O pensador, o filósofo .Àesquerda,deJoãoGhelfi,RetratodeSara. 245

FIGURA47– ARTISTASEMPARIS.Semdata.1fotografia:p.&b.;33x24cm.ArquivoCasa JoãoTurin. NOTA: Da esquerda para a direita do observador, o pintor João Ghelfi e os escultores João Turin (sentado)eZacoParaná,emParis,antesdaIGuerraMundial. 246

FIGURA48– NOSEUATELIER,juntoaumestudo.1923.In:CESAR,1923,p.13.

FIGURA49– NOSEUATELIER,com amigos.1926. 1fotografia:sépia;16,5x22cm.Arquivo CasaJoãoTurin. NOTA:Daesquerdaparaadireitadoobservador,ospintoresEstanislauTraple,FredericoLangede MorreteseBrunoLechowski(sentado),oescultorJoãoTurineoescritorCoelhoJunior,emCuritiba, em1925noatelierdeLangedeMorretes. 247

FIGURA50– GROFF, J. B. Lange de Morretes esboçando uma perspectiva : Caravana da Illustração Paranaense . 1928. 1 fotografia: p. & b.; 10 x 15 cm. Arquivo Museu AlfredoAndersen.

FIGURA51– GROFF,J.B. No Cume do Marumby :Caravanada Illustração Paranaense .1928. 1 fotografia:p.&b.;10x15cm.ArquivoMuseuAlfredoAndersen. 248

FIGURA52– EXPOSIÇÃO.Semdata. 1fotografia:p.&b.;29x39cm.ArquivoCasaJoãoTurin. NOTA:Daesquerdaparaadireitadoobservador,LudwigBoetch,AlfredoAndersen,BárbaraLima, JoãoTurineFredericoLangedeMorretes.

FIGURA53– SOCIEDADE AMIGOS DE ALFREDO ANDERSEN. I Exposição. 1941. 1 fotografia:p.&b.;23x37cm.ArquivoCasaJoãoTurin. NOTA:EncerramentodaexposiçãoeentregadeprêmiosdaSociedadeAmigosdeAlfredoAndersen, em 15 de fevereiro de 1941. Identificados da esquerda para a direita do observador, o terceiro é FredericoLangedeMorretes,aoseuladoopoetaHermesFontes,eatrásdosdois,JoãoTurin. 249

FIGURA54– AMIGOS. Sem data. 1 fotografia: p. & b.; 21 x 30 cm. Arquivo Museu Alfredo Andersen. NOTA:Daesquerdaparaadireitadoobservador,BartolomeuBartolomei,JoãoTurin,JoãoBaptista Groff,Dr.DeMarcoeFredericoLangedeMorretes.

FIGURA55– FAMÍLIALANGEDEMORRETESemSãoPaulo.1949.In:MORRETES,2002,p. 68. 250

FIGURA56– NOMUSEUPARANAENSE.1953.In:MORRETES,1953,p.168.

FIGURA57– WINTERS,C. Túmulo de Lange de Morretes .Abril,1999.1fotografia:color.;10x 15cm.Curitiba.ArquivoMuseuAlfredoAndersen. 251

NOTAS BIOGRÁFICAS IEuclides da Motta Bandeira e Silva (12/11/1876–26/08/1947).Escritoremilitar.Nasceu emCuritiba,ondefezcursoprimário.Desdecedodemonstrouogostopelosestudos,sendoagraciado comaMedalhadeOuropelaSuperintendênciadoEnsinoPúblico.Aos17entrouparaaEscolaMilitar daPraiaVermelha,noRiodeJaneiro.ParticipoudaRevoluçãoFederalista,combatendoemterrae mar. Retornou à Curitiba e ingressou nos correios mediante concurso e depois se dedicou ao jornalismo.Foiumrepublicanoconvicto,livrepensador e anticlerical. Publicou obras de diferentes gênerosliterários,utilizouváriospseudônimos,fezpartedoMovimentoSimbolistacolaborandoem diversasrevistas.(DICIONÁRIOHISTÓRICOBIOGRÁFICODOPARANÁ,1991,p.3436) II Bertha Lange de Morretes (06/02/1890 – 29/07/1983). Cantora lírica, professora de músicaefonoaudióloga.NasceuemIffeldorf,Alemanha.FezcursodeprofessoranaAlemanha,e,em seguida estudou música na Universidade, especializandose em canto. Depois de formada também estudoufoniatria,ramodamedicinaqueseocupadetratamentodedistúrbiosdavozedafala.Em 1917casousecomFredericoLangedeMorreteseem1920vieramjuntosparaoBrasil.EmCuritiba, lecionoumúsicanaEscolaNormaleemSãoPaulo,alémdeaulasparticulares,dirigiuumcoralcomo qual dava concertos Natalinos na Igreja do Calvário. Entre seus alunos figuraram Irene Ravache, IzabeldeLizandraeJairRodrigues.FaleceuemSãoPauloaos93anosemeio,defalênciamúltipla dosórgãos.(MORRETES,2006,entrevista) III Francisco Chaves de Oliveira Botelho (19/02/1868–03/06/1943).Político.Nasceuem Montevidéu,Uruguai.FormouseemMedicinapelaFaculdadedaBahia;mudouseparaoestadodo RiodeJaneiroondeseiniciounavidapolítica.FoiDeputadoEstadual,DeputadoFederalePresidente do Conselho. Em 1906 assumiu o Governo do Estado do Rio de Janeiro e em 1910 elegeuse Presidentedomesmoestado.NoseuperíododeMinistrodaFazendaadotaramsemedidasrelativasà Contabilidade Pública: o exercício financeiro foi fixado de 1º de janeiro a 31 de dezembro apresentação do Balanço Geral a 15 de abril anualmente. Referendou a lei sobre prescrição qüinqüenal.EmsuaAdministraçãoforamsancionadasasmedidaslegislativassobreleilõespúblicos devolumesouobjetosabandonadosnasrepartiçõespúblicaseestradasdeferro;sobreempréstimo interno por meio de apólices "Obrigações Rodoviárias" para construção e conservação estradas de rodagemeacriaçãodaAlfândegadeNiteróinoRiodeJaneiro.FoioúltimoMinistrodaFazendada República Velha e com a Revolução de 1930 retirouse da vida política. (MINISTÉRIO DA FAZENDA,2006) IV Manoel Ribas (08/03/1873–28/01/1946).InterventoreGovernador. Nasceuem Ponta Grossa. Filho do Comendador Augusto Lustoza de Andrade Ribas e Pureza Maria da Conceição BrancodeCarvalho.Casouseduasvezes,primeirocomZelindadaFonsecaRibasedepoiscomAnita Ribas,teveseisfilhos.IniciousuacarreiranoRioGrandedoSul,naCooperativadosEmpregadosda ViaçãoFérreadeSantaMaria,notabilizousecomoadministrador.FoichamadoporGetúlioVargas para substituir o General Mario Tourinho na Interventoria Federal do Paraná. Permaneceu como Interventorde1932até1934.DepoisfoieleitoGovernadorpeloCongressoLegislativo,governando de1935a1937.Novamente,comoInterventorFederal,governoude1937a1945.Destacamsedo períododesuaadministração:aareconstruçãodaEstradadaGraciosaeconstruçãodaEstradado Cerne,asconstruçõesescolareseaconcessãodeterras.(DICIONÁRIOHISTÓRICOBIOGRÁFICO DOPARANÁ,1991,p.412413) VNelson Ferreira da Luz (06/04/1915–12/06/1977).Advogado,professoruniversitário, críticodearte,artistaplásticoemusicista.NasceuemCuritiba.Participouativamentedoambiente culturaldacidadedesdemeadosdadécadade1940,sendoquesuaresidênciatornouseumpontode encontrodeváriosartistaseintelectuais.Promoveueparticipoudeexposiçõesefestivais,etambém realizoualgumaspalestras.NaUFPRlecionou Direito Internacional Público de1951a1968,ena Embaplecionou Estética e História da Arte em1954.Publicoulivroseartigosimportantestantona áreadoDireitoquantonasArtes.Assuasatuaçõescomoliterato,artistaplástico,dramaturgoecrítico deartetornamseimportantesparacompreenderofuncionamentodarededesociabilidadedosartistas 252

eintelectuaisdoperíodoemqueviveu.(DICIONÁRIOHISTÓRICOBIOGRÁFICODOPARANÁ, 1991,p.269) VI Maximilian von Wied-Neuwied (23/09/1782 – 03/02/1867). Viajante, naturalista e desenhistaprussiano.NasceuemNeuwied.EstudounaUniversidadedeGöttingen.ChegouaoBrasil em1815epermaneceuaté1817.Nesseperíodofezexpediçõescientíficasapoiadopordoisauxiliares alemães.Reuniuobjetosetnológicos,vocabulárioseutensíliosdetribosindígenas,alémdeplantase animais.Entre1832e1834fezexcursõesnaregiãosuldosEstadosUnidos.Publicoualgumasobras nasquaisdetalhasuasviagensepesquisas,entreelas Reise nach Brasilien in den Jahren 1815 bis 1817 (ViagemaoBrasilnosanos1815e1817).(LÖSCHNER,2001.p.955) VII Johann Moritz Rugendas (29/03/1802 – 29/05/1858). Viajante, naturalista, pintor e desenhistaalemão.NasceuemAugsburg,origináriodeumafamíliadeartistas,fezseuaprendizado inicialnodesenhocomseupai.Em1817ingressounaAcademiadeBelasArtesdeMunique.Chegou ao Brasil em 1821, participando da Missão Científica dirigida pelo Barão de Langsdorff, porém desistiu de acompanhar o roteiro da expedição e independentemente produziu grande número de desenhosderegiõesbrasileiras.Viajoupelopaísduranteentre1822e1825,períodoemquecoletou material para suas pinturas e desenhos. Visitou, também, outros países hispanoamericanos com o mesmoobjetivo.Atemáticadesuasobrasépredominantementepaisagísticaederepresentaçãode cenascotidianasedoscostumesdospovoslocais.(INSTITUTOIBEROAMERICANO.Patrimônio Cultural Prussiano, 1979. p. 4784). Sobre a obra do artista, ver: RUGENDAS, J. J. M. Viagem pitoresca através do Brasil .SãoPaulo:CírculodoLivro,semdata,271p.Ilustrado. VIII Johann Wolfgang von Goethe (28/08/1749–22/03/1832).Escritor,cientistaefilósofo alemão.NasceuemFrankfurt.Comoescritor,foiumadasmaisimportantesfigurasdaliteraturaalemã edoRomantismoeuropeu,entreofinaldoséculoXVIIIeiníciodoséculoXIX.Juntamentecom Friedrich Schiller foi um dos líderes do movimento literário romântico alemão Sturm und Drang . GoetheerafilhodeJohannKasparGoethe,umadvogadocomalgumpodereconômicoeumaposição socialderelevo,eraConselheirodacorte,tendosupervisionadopessoalmenteaeducaçãodofilho.A mãe, Katharina Elisabeth Textor, era de família abastada em Frankfurt. Goethe estudou nas universidades de Leipzig e Estrasburgo. Em 1772 começou a praticar advocacia em Wetzlar. Por convite de Karl August, Duque de SaxeWeimar, em 1775 passou a morar em Weimar, onde foi responsávelporvárioscargospolíticos,tornandoseprincipalconselheirodoDuque.De1786a1788, viajoupelaItália,naalturaemquedirigiaoteatroducalemWeimar.Tomoupartenasguerrascontraa França.DatadestaépocaaamizadecomSchiller,quedurariaatéàmortedeste,em1805.Em1806 casousecomChristianeVulpius.Apartirde1794dedicouseprincipalmenteàliteratura.Foioautor dapeça Fausto ,dealgunsromancesdegrandevalorliterário,comoolivro Os sofrimentos do Jovem Werther e de uma obra poética muito importante. No campo científico, passou anos de sua vida obcecadoemumaobra Da Teoria das Cores ,ondepropunhaumanovateoriadascoresemoposiçãoà teoria de Newton. Morreu em Weimar, após uma vida de uma produtividade extraordinária. (WIKIPÉDIA:aenciclopédialivre,2006) IX Carlos Augusto Schubert (16/05/1887 – 23/03/1940). Desenhista e engenheiro. Após seusestudoscomAlfredoAndersenjuntocomseumeioirmão,FredericoLangedeMorretes,entrou em 1901 para a Estrada de Ferro do Paraná como desenhista. Ele exerceu essa função até 1907, aproximadamente quando foi para o Rio de Janeiro realizar um curso prático de Engenharia. Ao retornaraoParaná,voltouatrabalharnaViaPermanentedaEstradadeFerro,cujachefiaassumiuem 1923eondepermaneceuatéoanode1940,datadeseufalecimento.(BADEP,1976,p.6) XJosé Loureiro Fernandes (12/05/1903–16/02/1977).NasceuemLisboa,Portugal.Filho deJulietaeManoelAscensãoFernandes,veioparaCuritibaaindacriança.Em1927seformouem medicina pela Faculdade Nacional do Rio de Janeiro. Especializouse nas áreas de urologia e ginecologia em hospitais de Viena e Paris. Na década de 1950 fez cursos de arqueologia e antropologianoInstitutodeEtnologiadaUniversidadedeParisenaEscoladeAntropologiadeParis. 253

Exerceuatividadescomomédico,político,cientistasocialeprofessoruniversitário.Foimembrodo CírculodeEstudosBandeirantesedoInstitutoHistóricoeGeográficoParanaense.QuandoSecretário deEducaçãoeCulturafoiresponsávelpelacriaçãodaDivisãodoPatrimônioHistórico,Artísticoe CulturaldoParaná.NocargodediretordoMuseuParanaense,desenvolveupesquisasdeantropologia earqueologia.FoiumdosfundadoresdaFaculdadedeFilosofiaCiênciaseLetrasdaUFPR,daqual foi professor, sendo responsável pela criação do Instituto de Pesquisas, do Departamento de AntropologiaedoMuseudeArqueologiaeArtesPopulares.Desenvolveuváriosestudosnaáreada antropologiasocialeéconsideradoopioneirodestaáreanoParaná.(FERRARINI,1978,4p.) XI Ermelino Agostinho de Leão (14/01/1871 – 21/02/1932). Historiador. Nasceu em Curitiba. Filho do Desembargador Agostinho Ermelino de Leão e Maria Bárbara Corrêa de Leão. Bacharelouse em Ciências Jurídicas e Sociais em 1893, pela Faculdade de Direito de São Paulo. Iniciou sua carreira como Promotor Público, deixandoa para dedicarse ao Comércio. Exerceu diversoscargospúblicos,entreosquais,odediretordoMuseuParanaense,dediretordoArquivo Público do Estado e também de deputado ao Congresso Legislativo Estadual. Como jornalista, colaborou com diversos órgãos da imprensa, como Comércio do Paraná , A República , Diário da Tarde e outros. Ermelino pertenceu ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e aos Institutos Históricos e Geográficos do Paraná, de São Paulo, de Minas Gerais e da Paraíba. Foi membro da Academia Paranaense de Letras e do Centro de Letras do Paraná. Como pesquisador, deixou importantestrabalhossobreahistóriadoParaná,entreosquais: O Contestado , O litígio perante a História, Secular pendência , A ouvidoria de Paranaguá , As Capitanias de Paranaguá e Itanhaem , Antonina - vultos e fatos . Sua obra principal é o Dicionário Histórico e Geográfico do Paraná , concluído em 1924 e publicado em seis volumes, entre os anos 1926 e 1950. (DICIONÁRIO HISTÓRICOBIOGRÁFICODOPARANÁ,1991,p.247248) XII Francisco de Paula Dias Negrão (13/08/1871–11/09/1937).Historiador.Nasceuem São João da Graciosa, Paraná. Filho de João de Souza Dias Negrão e de Francisca Gomes Dias Negrão. Como funcionário público, dedicouse à pesquisa Histórica. Pertenceu aos Institutos HistóricoseGeográficosdoParaná,deSantaCatarina,doAmazonas,doMatoGrossoedoCeará.Foi membro da Academia Paranaense de Letras e do Centro de Letras do Paraná. Distinguese na historiografiaparanaensepordoistrabalhosfundamentais.Oprimeirodeleséapublicaçãocomentada dosdocumentosdosArquivosdaCâmaraMunicipaldeCuritiba,no Boletim do Archivo Municipal de Curitiba , do qual foi diretor de 1906 a 1932, com 62 números. O segundo, é a Genealogia Paranaense ,emseisvolumespublicadosde1926a1950,sendo o último volume póstumo. Neste, empregou24anosdesuavida,auxiliadoporsuamulherAstrogildaFernandes,comquemnãoteve filhos.(DICIONÁRIOHISTÓRICOBIOGRÁFICODOPARANÁ,1991,p.309310) XIII Alfredo Romário Martins (08/12/1874 – 10/09/1948). Nasceu em Curitiba, filho do tenentecoronelJoséAntonioMartinsedeFlorênciaSeverinaFerreira.Seupaimorreuquandotinha apenasdezanosesuafamíliaacabougradativamenteempobrecendo.Foiumintelectualautodidata, nãotevecondiçõesfinanceirasparafazercursosuperior,suapreparaçãointelectualsedeuatravésde leituras,pesquisasedebatescomoutrosintelectuais.Asuacarreiraprofissionalémuitodiversificada. Em1889,iniciousecomoauxiliardetipógrafodojornal Dezenove de Dezembro enestemesmoano, no jornal A República passouàredaçãocomojornalistaeredatorchefe. Romário exerceu diversos cargos políticos, como o de deputado estadual, vereador e presidente da Câmara Municipal de Curitiba. Foi também agente do Arquivo Público, Delegado Fiscal do Governo junto ao Ginásio Paranaense, diretor do Departamento Estadual de Agricultura e diretor do Museu Paranaense. Elaborou algumas leis, como a da criação da Bandeira e do Brasão do Estado do Paraná, e a da propostadadatade29demarçoparaoaniversáriodeCuritiba.Dedicouseàpesquisadocumental sobreaquestãodoslimitesentreoParanáeSantaCatarina.(BEGA,2001,p.369) XIV Domingos Virgílio Nascimento (31/05/1863–30/08/1915).Jornalista,poeta,políticoe militar.Ocupoupostodemajordeartilhariaededeputadoestadual.NasceuemGuaraqueçaba.Após seus primeiros estudos,como seus pais não dispunham de recursos, seguiu acarreira das armas e 254

completouasuainstruçãonaEscolaMilitarnoRiodeJaneiroassentandopraçaem1881einiciando seusestudosprofissionaisemPortoAlegre.AíparticipoudapropagandarepublicanaaoladodeJúlio deCastilhos.Suavidaliteráriateveumsentidoinstrumental,porquefezdojornalismoumaformade divulgaçãodeseuideáriopolíticomilitar.Exerceuopapelprimordialmenoscomoescritoremais comolíderregionalnacategoriadechefemilitarepolítico,garantindoespaçoparaadivulgaçãodos elementosdeidentificaçãodoseugrupo:poemassimbolistas,escritosanticlericaiseideáriomaçom. Ao fundar diversos jornais e participar do corpo editorial de várias revistas, garantiu aos jovens literatosparanaensesascondiçõesmateriaisesimbólicasdeacessoaosespaçosculturaisondepodiam manifestarse.(BEGA,2001,p.329) XV João Zaco Paraná (1884 – 10/06/1961). Escultor, desenhista, pintor e professor naturalizado brasileiro. Jan Zak nasceu na Polônia, veio com a família para o Brasil em 1887, instalandoseemCuritibaem1895.ResidindonessacidadeobtevebolsadeestudosdoGovernodo Estado e freqüentou a partir de 1898 a 1901 a Escola de Belas Artes e Indústrias do Paraná, de MarianodeLima.Entre1901e1902cursouaEscoladeBelasArtesdoRiodeJaneirocomoalunodo cursolivre.Noanoseguinte,tambémcomauxíliodoGovernodoParanáembarcouparaaEuropa, permanecendoporváriosanos.FreqüentouaRealAcademiadeBelasArtesdeBruxelaseaEscola Superior de Belas Artes de Paris, especializandoseemesculturaepintura.AoregressaraoBrasil assumiuocargodeprofessornaEscolaNacionaldeBelasArtes,noRiodeJaneiro,daqualmaistarde setornoucatedrático.FaleceunoRiodeJaneiroem1961.Éautordaescultura O Semeador ,daPraça EufrásioCorreia,emCuritiba.(TEMPSKI,1984) XVI Walter Tiemann (29/01/1876–12/09/1951).Desenhista,tipógrafo,ilustrador,pintore professor alemão. Nasceu em Delitzsch, próximo à Leipzig, na Alemanha, e faleceu nesta cidade. TiemannestudoupinturaemLeipzigeemParis.Trabalhouparaváriasempresasdepublicidadee,em 1903,setornouprofessordaRealAcademiadeArtesGráficas,emLeipzig.Em1905conheceuKarl Klingspor,responsávelporpublicarseusestilosde letras em Offenbach. Em 1907, junto com Carl ErnstPoeschelfundouaJanusPress,aprimeiraimprensaprivadanaAlemanha.De1920até1941,foi diretor da Real Academia de Artes Gráficas. De 1945 até 1946, com o fim da Segunda Guerra Mundial,foidiretordessainstituiçãonovamente,períodoemquepropagouumestilotradicionalde fazerlivrosdearte.NoúltimoanodesuadireçãofoipremiadocomoDoutorHonorário.Entreseus inúmeros caracteres, destacamse: Janus-Pressen-Schrift , Tiemann-Mediäval , Tiemann-Mediäval kursiv , Tiemann-Fraktur , Peter Schlemihl , Narziß , Tiemann-Gotisch , Tiemann Antiqua , Tiemann- Antiqua-kursiv , Kleist-Fraktur , Fichte-Fraktur , Orpheus , Daphnis e Orpheus kursiv . (WALTER TIEMANNPRIZE[English],2006;WIKIPEDIA:DiefreieEnzyklopädie,2006) XVII Angelo Jank (30/10/1868–09/10/1940).Pintor,ilustrador,professore desenhista de pôsteres.NasceuefaleceuemMunique,Alemanha.ErafilhodotambémpintorChristianJank(1833 1888).EmMunique,AngeloJankacompanhouaescolaparticulardeartedeSimonHollósy,antesde estudarde1891até1896na Akademie der Bildenden Künste ,namesmacidade.De1896emdianteele seexibiuna Secession deMuniqueetransformouseemmembrodogrupo Die Scholle ,fundadoem 1899. Foi um constante colaborador nos periódicos Jugend e Simplicissimus . De 1899 até 1907, lecionou no Damenakademie . Nesse período, se casou em 1904 com Anna, Baronesa de Thugen (18781954).Chegouaserumproeminenteretratistadoseventosdahistóriaalemãcomtrêspinturas monumentaisparaoedifíciode Reichstag deBerlim(destruído).Em1905colaboroucomoAdolf Münzer (18701952) e Walter Püttner (18721953) em afrescos no Schwurgerichtssaal do Neuer Justizpalast em Munique. Entre 1907 e 1937 foi professor da Escola Superior de Belas Artes de Munique.(ARTNET.Grovedictionaryofart,2006) XVIII Fritz von Uhde (22/05/1848 – 25/02/1911). Friedrich Hermann Carl Uhde. Pintor alemão.NasceuemWolkenburgefaleceuemMunique.Em1879foiparaParis,ondeestudoucom Munkácsyeexpôssuasobras.SuapinturaémarcadapeloRealismoepeloImpressionismo.Entreseus quadrosmerecemdestaqueaquelesdefundoreligioso.(WIKIPEDIA:DiefreienEnzyklopädie,2006) 255

XIX Hans Thoma (02/10/1839–07/11/1924).Pintorelitógrafoalemão.NasceuemBernaue faleceu em Karlsruhe. Após estudos em seu país, viajou para Paris, onde freqüentou aulas com Gustave Courbet. Pintou paisagens e também retratos. Sua pintura derivou para um naturalismo simbolistaealegórico.(WIKIPEDIA:DiefreienEnzyklopädie,2006) XX Ferdinand Hodler (14/03/1853 – 19/05/1918). Pintor e desenhista suíço. Nasceu em Berna e morreu em Genebra. Nesta cidade, iniciou seus estudos de pintura junto a B. Menn. InicialmentesuaobraestevemuitoligadaaoNaturalismo,masoartistainteressousetambémpela pintura acadêmica e pelo Impressionismo. Hodler foi um dos expoentes da Secession em Berlin e Viena, favorecendo o desenvolvimento do estilo Jugendstil , que o conduziu a realizar quadros carregados de simbolismo sem renunciar ao realismo. Pintou especialmente paisagens, assuntos cotidianos e retratos num estilo vinculado ligeiramente ao expressionismo, porém definido por um simbolismocolorista.(WIKIPEDIA:Thefreeencyclopedia,2006)