BACIA DO RIO GURGUÉIA

1 – CARACTERIZAÇÃO DA BACIA

O rio Gurguéia, maior afluente do rio Parnaíba pelo lado direito, nasce no município de Corrente, na cota de 500 m, entre as serras de Alagoinhas e Santa Maria. No trecho inicial o rio é intermitente e se torna perene a partir do km 82. Sua extensão total é de cerca de 532 km e apresenta uma declividade média de aproximadamente 2,1 m/km.

O rio Gurguéia é alimentado por poucos afluentes, em geral temporários, o que não impede a regularidade do regime na maior parte da calha principal. Entre os principais afluentes estão os rios Paraim, Curimatá, Fundo, Corrente, Canhoto e Esfolado e os riachos da Tábua e de Santana.

Os postos fluviométricos existentes em Barra do Lance, município de , e , mostram vazões médias de 6,9 m³/seg e 6,1 m³/seg no trimestre mais seco e vazões médias, respectivamente, de 90,0 m³/seg e 54,0 m³/seg, no trimestre mais chuvoso.

Com base nos dados da estação climatológica de Bom Jesus, pode-se dizer que a região apresenta clima seco a subúmido, megatérmico, com pequeno excesso d’água. A pluviometria média anual é de 1.000 mm. O trimestre mais chuvoso é entre janeiro e março e o mais seco entre julho e setembro. A umidade relativa média anual está em torno de 59,5% a evapotranspiração potencial é de 1.439 mm/ano.

Parte relativamente pequena da bacia é constituída por terrenos cristalinos. Entretanto, na maior parte da área, afloram sedimentos da bacia sedimentar do Parnaíba.

A ocorrência de aqüíferos na Bacia é representada pelos sedimentos clásticos, médios a grosseiros, às vezes conglomeráticos, que constituem os aqüíferos Serra Grande e Cabeças, e o Poti/Piauí. Já as formações e Longá, constituídas por sedimentos clásticos finos ou pelíticos, caracterizam-se mais como confinantes das formações mais arenosas subjacentes.

O vale do Gurguéia apresenta grande potencial em águas subterrâneas, inclusive com poços jorrantes que drenam os aqüíferos Serra Grande e/ou Cabeças.

No que se refere aos ecossistemas, a bacia do rio Gurguéia apresenta predomínio do cerrado. Também estão presentes extensas áreas de , especialmente na região do Alto Gurguéia, e ainda pequenas áreas de contato caatinga/cerrado.

A área da bacia é de aproximadamente 48.830 km², o que corresponde a cerca de 19% da área total do Estado, sendo a segunda maior bacia estadual. Está localizada, aproximadamente, entre as coordenadas 6°48’ e 10°52’ de latitude sul e entre 43°16’ e 45° 32’ de longitude a oeste de Greenwich.

A bacia abrange, total ou parcialmente, 33 municípios: Cristalândia do Piauí, Corrente, Sebastião Barros, Parnaguá, Júlio Borges, , Gilbués, Curimatá, São Gonçalo do Gurguéia, , Redenção do Gurguéia, Morro Cabeça no Tempo, Bom Jesus, Santa Luz, , , Cristino Castro, Palmeira do Piauí, Uruçuí, Alvorada do Gurguéia, Manoel Emídio, Colônia do Gurguéia, , Bertolínia, , , , Floriano, Sebastião Leal, , Jerumenha, e Monte Alegre do Piauí.

O acesso à região é feito principalmente por meio da BR-135, pavimentada, que atravessa as principais cidades da região, como Bom Jesus e Cristino Castro.

Além da pecuária bovina, em especial de corte, destaca-se na região a produção de grãos, especialmente soja e arroz, ambos de sequeiro, decorrente principalmente da ocupação das áreas de chapadas por grandes proprietários, em sua maioria, oriundos das regiões Centro-Oeste e Sul do país.

No que se refere ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), todos os municípios mostraram crescimento entre 1991 e 2000, refletindo a melhoria generalizada das condições de vida no País, durante o referido período.

Segundo os dados do IBGE, censo de 2000, a distribuição da população, nos 20 municípios considerados, com menos de 5.000 habitantes, é de 42.579 (40,32%) nas áreas urbanas e 63.014 (59,68%) na zona rural. Como seria de esperar, em regiões como o interior do Piauí (especialmente nos municípios pequenos) o percentual de população rural ainda é relativamente elevado, bem superior à média do país.

A tabela a seguir sintetiza os números mencionados acima: Município IDH 1991 IDH 2000 Pop. Urbana Pop. Rural Pop. Total

Alvorada do Gurguéia 0,487 0,574 1.479 2.732 4.211 Bertolínia 0,561 0,626 3.536 1.580 5.116 Canavieira 0,538 0,601 1.854 2.260 4.114 Colônia do Gurguéia 0,561 0,641 3.881 1.126 5.007 Cristalândia do Piauí 0,514 0,601 2.308 4.184 6.492 Currais 0,442 0,558 701 3.531 4.232 Eliseu Martins 0,558 0,655 2..804 1.387 4.191 Guaribas 0,356 0, 478 902 3.916 4.818 Jerumenha 0,582 0,653 2.584 1.921 4.505 Júlio Borges 0,509 0,593 936 3.930 4.866 Manoel Emídio 0,507 0,611 2.566 2.585 5.151 Monte Alegre do Piauí 0,545 0,585 2.645 7.558 10.203 Morro Cabeça no Tempo 0,470 0,558 704 3.722 4.426 Palmeira do Piauí 0,515 0,616 1.412 3.785 5.197 Parnaguá 0,515 0,592 4.055 5.293 9.348 Redenção do Gurguéia 0,509 0,583 4.671 3.102 7.773 Riacho Frio 0,484 0,608 1.619 2.695 4.314 Santa Luz 0,537 0,641 2.583 2.199 4.782 São Gonçalo do Gurguéia 0,511 0,579 873 1.449 2.322 Sebastião Barros 0,471 0,566 466 4.059 4.525 42.579 63.014 105.593 2) - CONDIÇÕES DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA NAS SEDES MUNICIPAIS COM MENOS DE 5.000 HABITANTES

Das 20 cidades com menos de 5.000 habitantes existentes no vale do Gurguéia, objeto do presente trabalho, em 18 delas o abastecimento de água é realizado com a utilização de águas subterrâneas, captadas por meio de poços tubulares. Somente em duas são utilizadas águas de superfície: Cristalândia do Piauí, que utiliza água de uma barragem no rio Palmeiras; e Parnaguá, que capta água na lagoa do mesmo nome. Em 10 cidades, o sistema de abastecimento d´água é administrado pela AGESPISA: Canavieira, Cristalândia do Piauí, , Jerumenha, Júlio Borges, Monte Alegre do Piauí, Palmeira do Piauí, Parnaguá, Redenção do Gurguéia, Riacho Frio e Santa Luz. Em 5 casos, o abastecimento está a cargo da Prefeitura Municipal: Alvorada do Gurguéia, Currais, Morro Cabeça no Tempo, São Gonçalo do Gurguéia e Sebastião Barros. Em 4 outros, a Agespisa opera o sistema principal, mas a Prefeitura também atua por meio da perfuração de poços próprios e instalação de chafarizes e/ou lavanderias públicas: Bertolínia, Colônia do Gurguéia, Eliseu Martins e Manoel Emídio. Finalmente, no caso da cidade de Guaribas, o sistema ainda está em implantação.

Disponibilidade de Água: Dos 20 municípios estudados, esse parâmetro foi calculado em 14. Em outras 5 cidades (Cristalândia do Piauí, Monte Alegre do Piauí, Morro Cabeça no Tempo, Parnaguá e Riacho Frio), não foi possível obter os dados que seriam necessários; enquanto que, no caso de Guaribas, o sistema ainda está em construção..

Como todos os 14 são abastecidos por água subterrânea, a quantidade de água produzida diariamente, em cada cidade, é o produto da taxa de bombeamento horária multiplicado pelo número de horas de bombeamento. Já para calcular a disponibilidade per capita, adotou-se, num primeiro cálculo, a população urbana em 2000, fornecida pelo IBGE; e, numa segunda estimativa, o número de ligações informadas, multiplicado por 4.3, valor admitido para o número médio de pessoas em cada prédio ligado à rede (esse segundo método só foi possível em 13 municípios, vez que em Júlio Borges não se dispõe do número de ligações).

Como seria de esperar, a segunda estimativa fornece sempre um valor inferior à primeira, o que é causado fundamentalmente pelo aumento da população verificado entre o recenseamento de 2000 e a época do levantamento (abril-maio de 2003), bem como pela expansão do sistema em algumas cidades. É possível, também, que em alguns casos o número de ligações informadas tenha sido superestimado.

No primeiro cálculo, o valor da disponibilidade de água, medido em litros/pessoa/dia, variou entre o mínimo de 114,55 em São Gonçalo do Gurguéia, e o máximo de 494,72 em Colônia do Gurguéia, sendo a média de 316,92. Na segunda estimativa, os números extremos também foram obtidos em São Gonçalo do Gurguéia e Colônia do Gurguéia, sendo o mínimo de 74,07 e o máximo de 501,17, com a média de 247,31.

Esses resultados, embora não muito precisos, confirmam a idéia exposta anteriormente de que, nas cidades situadas na Bacia do Parnaíba, os problemas com manancial são geralmente pequenos e passíveis de solução relativamente simples. Nesses casos, os problemas, quando existem, são muito mais de falhas de gerenciamento e/ou falta de investimento ou de capacitação técnica.

Sistemas de Tratamento: Nos dois casos em que o abastecimento é efetuado mediante a utilização de águas superficiais, verificou-se que o tratamento é realizado, no caso da cidade de Parnaguá. Já em Cristalândia do Piauí, constatou-se que a estação de tratamento existente estava praticamente inoperante e os usuários estavam, portanto, consumindo água não-tratada.

Em relação às outras 18 cidades, que se abastecem com água subterrânea, não existe tratamento de água tal como normalmente definido. Nesses casos, realiza-se apenas limpeza e cloração das caixas d´água, normalmente seguindo os padrões adotados pela FUNASA embora, em muitos casos, a periodicidade recomendada pelo referido órgão não seja rigorosamente obedecida.

Classe de Água: Dos 52 poços identificados, 27 têm água doce, sendo que, destes, 23 estão ativos, 3 paralisados e 1 em construção. Outros 10 apresentam água salobra, dos quais 7 estão ativos, 1 paralisado e 2 abandonados. Em relação a outros 15, não foi identificada a qualidade da água; e desses 15, 4 estão ativos, 9 abandonados e 2 em construção.

Condições Sanitárias e de Preservação: - Dos 52 poços identificados nos municípios levantados, verificou-se que 23 têm laje de proteção sanitária; 19 não contam com essa laje e nos outros 10 não foram obtidas informações. Quanto aos perímetros de proteção, eles existem em 18 poços, não existem em 27 e faltam informações nesse caso, de outros 7. Em relação a tampas, elas existem em 37 e faltam em 5; sobre os outros 10, não foram obtidas informações. Dessas 37 tampas existentes, 25 podem ser consideradas preservadas e 10 não-preservadas (sendo 5 propriamente não-preservadas e outras 5 que não existem, como acima mencionado).

Hidrometração: - Das 20 cidades estudadas, em 5 não existem hidrômetros instalados. São exatamente aquelas em que o sistema é administrado pela Prefeitura. Trata-se de um fato bastante comum no Piauí, onde as Prefeituras, por razões de natureza diversa (políticas, administrativas, econômicas, sociais, etc.) não cobram pela água que fornecem. Isso, evidentemente, ajuda à população - geralmente muito pobre – mas, em contrapartida, constitui-se em forte estímulo ao aumento do consumo e ao desperdício.

Nas outras 15 cidades em que o sistema é administrado pela Agespisa (embora em 5 casos as Prefeituras instalem chafarizes e lavanderias, e onde o fornecimento da água também não é cobrado). Os índices de hidrometração variam bastante, sendo o menor em Júlio Borges (36,86%) e o maior em Monte Alegre do Piauí, onde atinge o elevado valor de 97,62%. Como regra geral, acredita-se que o número de hidrômetros instalados deve ser o maior possível, em cada cidade, como forma de racionalizar o consumo e evitar o desperdício.

Identificação das Condições de Abastecimento de Água por Município – Os dados e informações levantados nas campanhas de campo são apresentadas em fichas específicas para cada sede municipal, como anexo do presente relatório.