Dicksoniaceae) No Sul Do Brasil
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Acta bot. bras. 23(1): 282-291. 2009. Crescimento do cáudice e fenologia de Dicksonia sellowiana Hook. (Dicksoniaceae) no sul do Brasil Jairo Lizandro Schmitt1,2,4, Paulo Henrique Schneider2 e Paulo Günter Windisch3 Recebido em 17/12/2007. Aceito em 23/10/2008 RESUMO – (Crescimento do cáudice e fenologia de Dicksonia sellowiana Hook. (Dicksoniaceae) no sul do Brasil). No sul e sudeste do Brasil, a samambaia arborescente Dicksonia sellowiana Hook. é ainda extraída ilegalmente de remanescentes florestais para uso da capa fibrosa do seu cáudice, bem como para cultivo como planta ornamental. No presente trabalho, o crescimento do cáudice, a produção, expansão e senescência de frondes, bem como a formação e liberação de esporos de D. sellowiana foram estudados com base na observação de 37 plantas. Durante um período de um ano de observação, os cáudices cresceram, em média, 5,65 cm ano-1, sendo que a taxa de crescimento se correlacionou fortemente com a altura das plantas. As taxas de produção de frondes novas (10,86 frondes ano-1) e de senescência (10,54 frondes ano-1), similares, evidenciaram capacidade de manter um número de frondes estável, no ano. Apenas 14 indivíduos desenvolveram frondes férteis, sendo que a maioria das plantas produziu esporos no verão, liberando-os no inverno. A produção e liberação de esporos foram mais influenciadas pela temperatura e fotoperíodo do que pela precipitação. Palavras-chave: auto-ecologia, fenologia, pteridófita arborescente, taxas de crescimento, xaxim ABSTRACT – (Caudex growth and fenology of Dicksonia sellowiana Hook. (Dicksoniaceae) in Southern Brazil). In Southern and Southeastern Brazil, the tree fern Dicksonia sellowiana Hook. still is illegally extracted from remnants forests for the use of its fibrous caudex cover, as well as for cultivation as an ornamental plant. In the present study the caudex growth, frond production, expansion and senescence as well as the formation and release of spores have been studied based on the observation of 37 plants. During an observation period of one year, the caudexes grew at an average of 5.65 cm year-1 and the growth rate presented a strong correlation with the height of the plants. Similar frond production rate (10.86 fronds year-1) and senescence (10.54 fronds year-1) evidenced the capacity of maintaining a stable number of fronds throughout the year. Only 14 individuals developed fertile fronds, most of them producing spores during the summer and liberating them during the winter. Production and release of spores were influenced more by temperature and photoperiod rather than by rainfall. Key words: auto-ecology, growth rates, phenology, tree fern, “xaxim” Introdução correlacionados com mudanças sazonais de temperatura e precipitação (Mehltreter 2006). Por outro lado, além A fenologia estuda a ocorrência de eventos dessas variáveis climáticas, Chiou et al. (2001) biológicos cíclicos em função das mudanças climáticas verificaram que o comprimento do dia pode influenciar (Morellato 2003), sendo que raramente as pteridófitas eventos fenológicos em pteridófitas. Quando comparado são consideradas em estudos fenológicos realizados nos com as angiospermas, o crescimento de pteridófitas de trópicos (Mehltreter & Palácios-Rios 2003), uma vez porte arborescente pode ser considerado lento, embora que a maioria deles enfoca as espécies arbóreas das elas possam atingir muitos metros de altura no sub- comunidades florestais (Mantovani et al. 2003; Marques bosque ou até ultrapassar o dossel florestal, apresentando & Oliveira 2004; Marchioretto et al. 2007). No entanto, apenas tecidos primários e condução de água através de em florestas úmidas, as pteridófitas encontram condições traqueídes (Schmitt & Windisch 2006a). ótimas para apresentarem alta diversidade (Tryon 1985), Na região neotropical, a partir dos anos 70, sendo que no sub-bosque florestal, o crescimento e a começaram os estudos pioneiros de auto-ecologia de fertilidade dessas plantas podem estar primariamente pteridófitas arborescentes, destacando-se entre eles 1 Programa de Pós-Graduação em Qualidade Ambiental 2 Centro Universitário FEEVALE, Instituto de Ciências da Saúde, Laboratório de Botânica, RS 239, 2755, 93352-000 Novo Hamburgo, RS, Brasil 3 Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Programa de Pós-Graduação em Botânica, Av. Bento Gonçalves 9500, 91501-970 Porto Alegre, RS, Brasil 4 Autor para correspondência: [email protected] Schmitt, Schneider & Windisch: Crescimento do cáudice e fenologia de Dicksonia sellowiana Hook. ... 283 aqueles com populações de Alsophila bryofila R.M. Internacional das Espécies da Flora e da Fauna Selvagens Tryon e de Cyathea arborea (L.) Sm. realizado por em Perigo de Extinção (CITES). Conant (1976) e de Alspohila salvinii Hook. por Seiler O presente estudo tem como objetivos determinar (1981), na América Central. Posteriormente, foram 1) taxas de crescimento do cáudice; 2) taxas de realizados estudos sobre fenologia da fronde e/ou produção, expansão e senescência de frondes; e 3) crescimento do cáudice de outras espécies de período de produção e liberação de esporos de uma samambaias arborescentes (Tanner 1983; Ortega 1984; população de Dicksonia sellowiana, crescendo numa Seiler 1984; Bittner & Breckle 1995; Arens 2001; formação florestal do sul do Brasil. A sincronia e a Mehltreter & García-Franco 2008), inclusive no Brasil correlação desses eventos fenológicos com meridional (Schmitt & Windisch 2001; 2003; 2006a; b; temperatura, fotoperíodo e precipitação foram 2007). Porém, poucos estudos fenológicos têm sido estudadas. O trabalho apresentado representa uma realizados com Dicksoniaceae neotropicais (Wick & contribuição importante para a compreensão do ciclo Hashimoto 1971; Walker & Aplet 1994; Durand & de vida da espécie e fornece subsídios para o seu manejo Goldstein 2001) ou de outras partes do mundo (Chiou e conservação. et al. 2001). No Sul do Brasil, Dicksonia sellowiana Hook. (Dicksoniaceae) é a única espécie dessa família, Material e métodos sendo que existem poucos dados sobre o crescimento do cáudice (Sehnem 1978) e fenologia da fronde (Hoehne Área de estudo – O trabalho de campo foi desenvolvido 1930) dessa espécie na literatura. Por outro lado, Rogge numa formação florestal de aproximadamente 50 ha, et al. (2000) estudaram a criopreservação, enquanto que localizada no município de Morro Reuter (29º31’S e Borelli et al. (1990), Filippini et al. (1999), Renner & 51º04’W; 570 m s.n.), na encosta inferior do nordeste Randi (2004) e Suzuki et al. (2005) estudaram a do Estado do Rio Grande do Sul, Brasil. A vegetação germinação de esporos e desenvolvimento inicial de local representa uma área de contato entre os limites da D. sellowiana. Floresta Estacional Semidecidual e Floresta Ombrófila Dicksonia sellowiana ocorre no sul do México, Mista (Teixeira et al. 1986) e possui no estrato emergente América Central e América do Sul, da Venezuela até a Araucaria angustifolia (Bert.) O. Ktze. O solo da região Colômbia, Bolívia, Paraguai, Uruguai, sudeste e sul do é originado de basalto, raso a profundo, com razoáveis Brasil (Tryon & Tryon 1982). A espécie é uma das mais teores de matéria orgânica e alta fertilidade química, notáveis dentre as plantas que caracterizam as florestas pertencente à classe dos chernossolos argilúvicos do Brasil meridional, em especial as florestas com férricos e associados à neossolos litólicos eutróficos araucária, sendo conhecida popularmente por xaxim. A (Streck et al. 2002). O clima regional é do tipo Cfa, espécie cresce em altitudes que variam de 60 m, no segundo a classificação climática de Köppen, ou seja, Estado do Rio Grande do Sul, até 2.200 m na Serra do temperado úmido, com temperatura do mês mais quente Itatiaia, Estado do Rio de Janeiro. D. sellowiana apresenta superior a 22 ºC (Moreno 1961). A caracterização local cáudice arborescente, ereto, de até aproximadamente 6 m incluiu os dados de precipitação e temperatura que foram de altura, envolvido por uma espessa bainha de raízes obtidos na estação meteorológica do município de Dois adventícias, ao longo de toda a sua extensão. As frondes Irmãos (29º34’S e 51º05’W; 166 m s.n.), distante cerca apresentam até cerca de 2,40 m de comprimento, com de 7 km do local de estudo. A medida astronômica padrão estípites longos nos indivíduos jovens e sésseis a para a latitude foi proveniente do anuário interativo do curtíssimo-peciolados nos adultos, lâminas bipinado- Observatório Nacional (ON) disponível em http:// pinatífidas a pinatissectas, com ápice agudo ou euler.on.br/ephemeris/index.php. acuminado (Fernandes 2000). Até o passado recente, Crescimento do cáudice e fenologia – Em outubro/2003, os cáudices dessa espécie foram extensivamente foi iniciado o período de acompanhamento mensal do utilizados pelo homem para fabricação de vasos ou como desenvolvimento de 37 indivíduos de Dicksonia substrato para o cultivo de orquídeas ou outras plantas sellowiana, que se estendeu até outubro/2004. Visitas ornamentais (Lorscheitter et al. 1999; Fernandes 2000), adicionais anuais foram feitas em outubro/2005 e que encontram no xaxim um substrato excelente para outubro/2006. As plantas foram marcadas utilizando-se seu crescimento. Em decorrência de sua exploração estacas de madeira, numeradas, afixadas no substrato extrativista desordenada, associada à destruição do seu próximo ao cáudice. A altura foi mensurada do ápice hábitat natural e à escassez de dados sobre o do cáudice até o nível do solo, em outubro/2003 e, comportamento de suas populações, D. sellowiana foi posteriormente,