<<

Hoehnea 31 (3): 239-242, 4 fig., 2004

Criptogamos do Parque Estadual das Fontes do Ipiranga, Sao Paulo, SP. Pteridophyta: 6.

Jefferson Prado l

Recebido: 13.04.2004; aceito: 10.09.2004

ABSTRACT - (Cryptogams of "Parque Estadual das Fontes do Ipiranga", Sao Paulo, SP. Pteridophyta: 6. Dicksoniaceae). The family Dicksoniaceae is represented in the area of the Park by only one genus and species ( sellowiana Hook.). It is a tree ofnatural occunence and also cultivated in the area ofthe PEFI. It is an endangerous species in Brazil with restricted distribution in the states of the southern and south regions. In this paper are presented descriptions, comments, and illustrations to the studied taxa. Key words: , Dicksonia, floristic survey, tree

RESUMO - (Cript6gamos do Parque Estadual das Fontes do Ipiranga, Sao Paulo, SP. Pteridophyta: 6. Dicksoniaceae). A familia Dicksoniaceae esta representada na area do Parque por apenas um genera e uma especie (Dicksonia sellowiana Hook.). Trata-se de uma pterid6fita arb6rea, de ocorrencia nativa na area do PEFI e tambem cultivada. Euma especie ameac;:ada de extinc;:ao no Brasil e possui uma distribuic;:ao restrita aos Estados das regi6es Sudeste e SuI. Neste trabalho sao apresentados descric;:6es, comentarios e ilustrac;:6es dos taxons estudados. Palavras-chave: Dicksonia, Floresta Atlantica, levantamento floristico, samambaias arb6reas

Introdu~ao o numero que antecede 0 nome da familia corresponde anumerayao das familias apresentadas Dicksoniaceae foi relatada anteriormente para em Prado (2004). area do Parque por Hoehne et al. (1941) e, mais recentemente, por Fernandes (2000). Resultados e Discussao o presente trabalho e parte do levantamento floristico das pterid6fitas do Parque Estadual das Dicksoniaceae Fontes do Ipiranga (PEFI), que ja vern sendo desenvolvido ha varios anos, principalmente pelos Plantas terrestres, arb6reas. Caule com uma pesquisadores do Instituto de Botfmica. poryao horizontal subterranea e outra ereta, com o objetivo principal do presente trabalho foi a muitas raizes adventicias e base dos peciolos complementayao do levantamento das pterid6fitas do persistentes, com indumento de tricomas. Frondes PEFI iniciado por Hoehne et al. (1941). aproximadas, monomorfas a dimorfas; peciolo continuo com 0 caule, com muitos feixes vasculares na base Material e metodos distribuidos em forma de ferradura; lamina 2-5-pinado­ pinatifida a pinatissecta, pubescente, cartacea a o material deste traba1ho foi coletado de acordo com as tecnicas descritas em Fidalgo & Bononi (1984) coriacea; venayao aberta. Soros marginais sobre a e encontra-se depositado no Herbario SP, do Instituto extremidade de uma nervura, globosos; indusio de Botanica. bivalvado, formado por urn indusia abaxial e pe1a Os dados sobre a caracterizayao e loca1izayao margem da lamina revoluta e levemente modificada; do Parque EstaduaI das Fontes do Ipiranga (PEFI), com poucas ou muitas parafises, cateniformes; assim como 0 planejamento deste trabalho de flora, esporangios globosos, pedicelo com 6 fileiras de foram apresentados em Melhem et al. (1981) e celulas, anulo obliquo; esporos triletes, tetraedrico­ Milanez et al. (1990). globosos, sem clorofila.

I. fnstituto de Botanica. Caixa Postal 4005, 0 I06 J-970 Sao Paulo, SP, Brasil. [email protected] 240 Hoehnea 31 (3), 2004

E uma familia com distribuiyao pantropical revolutas; venayao aberta, nervuras simples ou (Perez-Garcia 1995). De acordo com Kramer furcadas. Parafises iguais ou menores do que os (1990), possui seis generos e cerca de 45 especies. esporangios. Na area estudada, foi registrado apenas 0 genero Material examinado: XI-1909, H. Luederwaldt s.n. Dicksonia. (SP22017); 10-VI-2003, J. Prado & G.B. da Silva Dicksonia L'Her. 1412 (SP). Distribuiyao geografica: SuI do Mexico, Mesoamerica, Caule com a poryao ereta variando de 50 cm a Colombia, Venezuela, Equador, Peru, Bolivia, 3,5 m compr., com muitas raizes adventicias e base , Uruguai e Brasil. No Brasil, ocorre apenas dos peciolos persistentes, com indumento de tricomas, nas regi5es Sudeste e Sui, nos estados de , multicelulares, amarelos a castanho-escuros. Frondes , Sao Paulo, Parana, e monomorfas; peciolo piloso na base e glabro Rio Grande do SuI. distalmente; lamina 2-3-pinado-pinatifida a pinatissecta, pubescente, coriacea; venayao aberta. Esta especie pode ser facilmente reconhecida Soros marginais, globosos; indusio bivalvado, formado pelo habito arboreo, caule com tricomas amarelados por urn indusio abaxial e pela margem da lamina a castanho-escuros, lamina coriacea e soros formados revoluta e levemente modificada, com muitas parafises, na margem da lamina, protegidos por indusio bivalvado, cateniformes iguais ou maiores que 0 comprimento este formado por urn indusio abaxial e pela margem dos esporangios; esporangios com anulo obliquo, da lamina revoluta e levemente modificada. circundando toda a capsula do esporangio. No Brasil, e uma especie que ocorre acima dos Dicksonia e urn genero com distribuiyao em 600 metros de altitude, chegando ate 2.200 na regiao areas tropicais e temperadas do Hemisferio Sui (Tryon do Itatiaia, no estado do Rio de Janeiro. & Stolze 1989). Possui aproximadamente 20-25 Cresce preferencialmente no interior das matas, especies (Kramer 1990). Na area do PEFI ocorre em locais sombreados e umidos (Fernandes 2000); apenas uma especie, D. sellowiana. entretanto, tambem pode ser encontrada ocorrendo naturalmente em locais expostos e ensolarados, neste Dicksonia sellowiana Hook., Sp. fil. 1: 67.1844. ultimo caso, as plantas possuem menor porte. Figuras 1-4 Apesar de ser uma especie nativa na area do Caule com a poryao ereta variando de 50 cm a Parque, varios dos especimes presentes na area de 3,5 m compr., com muitas raizes adventicias e base visitayao foram introduzidos por cultivo. De acordo dos peciolos persistentes, com indumento de tricomas, com Hoehne et al. (1941), e uma especie que pode multicelulares, amarelos a castanho-escuros, 0,8-6 mm ser propagada vegetativamente com certa facilidade, compr. Frondes monomorfas, 50 cm a 2,5 m compr.; atraves do transplante de partes do caule contendo peciolo 5-15 cm compr., pubescente na base a gemas. esparsamente piloso distalmente, tricomas iguais aos E considerada uma especie ameayada de do caule; lamina 2-3-pinado-pinatifida a pinatissecta, extinyao devido asua intensa explorayao comercial, eliptico-alongada, pubescente abaxialmente, tricomas para a extrayao do caule arborescente para fabricayao iguais aos do caule, glabra adaxialmente, coriacea; dexaxim. pinas variando de subopostas a alternas; pinas proximais pinatifidas, sesseis a subsseseis, reduzidas, Agradecimentos deflexas, 4-4,5 x ca. 1,5 cm; raque densamente pubescente adaxialmente, sulcada no lado adaxial; A Giovanna B. da Silva pela ajuda e companheirismo no trabalho de campo e ao CNPq pinas medianas pinado-pinatifidas, subsseseis, obliquas pela concessao da Bolsa de Produtividade em Pesquisa em relayao a raque, 22-40 x 5-8 cm; pinas distais e auxilio para este projeto (processo 300843/93-3). sesseis, pinatifidas a pinatissectas reduzidas e obliquas em relayao a raque, 2-2,5 x 0,5-1 cm; pinulas Literatura citada pinatifidas a pinatissectas, 2,5-8 x 0,5-1,7 cm, apice agudo e base cuneada a obtusa; segmentos 0,4-1 x Fernandes, I. 2000. Taxonomia dos representantes de 0,3-0,5 cm, sinus agudos, margens esparsamente Dicksoniaceae no Brasil. Pesquisas, Botanica 50: serreadas, segmentos ferteis com as margens 5-26. J. Prado: Pterid6fitas do PEFI: Dicksoniaceae 241

3

2,5 emI

1 4

Figuras 1-4. Dicksonia sel/olViana (Prado & Silva /4/2). I. Pinula mediana de uma pina mediana esteril. 2. Detalhe dos tricomas do caule e base do pedolo. 3. Detalhe das nervuras e margem da lamina serreada. 4. Base da fronde, mostrando as pinas proximais reduzidas e deflex as. 242 Hoehnea 3\ (3), 2004

Fidalgo, O. & Bononi, V.L.R (coords.). 1984. Tecnicas de Milanez,A.I., Bicudo, C.E.M.,Vital, n.M. & Grandi, R.A.P. coleta, preservac;:ao e herborizac;:ao de material botanico. 1990. Cript6gamos do Parque Estadual das Fontes do Instituto de Botanica, Sao Paulo. 62 p. (Manual 4). Ipiranga, Sao Paulo, SP: Planejamento. Hoehnea 17: Hoehne, F.C., Kuhlmann, M. & Handro, O. 1941.0 Jardim 43-49. Botanico de Sao Paulo. Secretaria da Agricultura, Industria e Comercio, Departamento de Botanica do Perez-Garcia, B. 1995. Dicksoniaceae.In: R.C. Moran & R. Estado, Sao Paulo, 656 p. Riba (eds.). Psilotaceae a Salviniaceae. In: G. Davidse, Kramer, K.U. 1990. Dicksoniaceae.In: K.U. Kramer & P.S. M. Sousa & S. Knapp (eds.). Flora Mesoamericana. Green (eds.). Pteridophytes and Gymnosperms. In: K. Universidad Nacional Aut6noma de Mexico, Ciudad Kubitzki (ed.). The families and genera of vascular de Mexico, v. 1, pp. 86-88. . Springer Verlag, Berlin, v. I, pp. 94-99. Prado, J. 2004. Cript6gamos do Parque Estadual das Fontes Melhem, T.S., Giulietti,A.M., Forero, E., Barroso, GM., do Ipiranga, Sao Paulo, SP. Pteridophyta: chave para as Silvestre, M.S.F., Jung, S.L., Makino,H., Melo, M.M.R.F., familias; 2. Blechnaceae. Hoehnea 31: 1-10. Chiea, S.c., Wanderley, M.GL.,Kirizawa, M. & Muniz, C. 1981. Planejamento para elaborac;:ao da "Flora Tryon, RM. & Stolze, RG 1989. Pteridophyta of Peru. fanerogamica da Reserva do Parque Estadual das Fontes Pari I. 1. Ophioglossaceae - 12. Cyatheaceae. Fieldiana, do Ipiranga (Sao Paulo, Brasil)". Hoehnea 9: 63-74. Botany, new series 20: 1-145.