Julio Massenet
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A NNO XIV L isboa, 31 de Agosto de I912 NUMERO 329 REVISTA PUBLICA!:A QUINZENALME NTE J>roprietario, llircdor o erlitor j\1.ICHEL' ANGELO J--Af'lB"'.RTINt Reaa c~ão e aomin, Pr a ~ a aos Reslaura0o res1 43a 49. I C om ~. e im ~r essão T ~~· P in ~ eiro, R. JaroimOo Rege0or1 39e 41 SUMMAIUO: - Jul<'S J\ l 11~ ~ e uct. - l\Ionogr:1phil11; in;;trnmcnln<»; . - A>i .l!'ula~õ r~ ti o S. ~'•·<'i Gil. - Notidal'io. ticlões. Exprobou-se-lhc 11 0 cmtanto a dema Julio Massenet siada fccu11cliclacle d'essa arte amavel, mas nem sempre profunda e sã ; exprobou-se-lhe o ex cessivo romantismo e o abuso da nota delicada Eis um dos artistas mais suggestivos, um dos e futil ; exprobou-se-lhe a rhetorica palavrosa, compositores mais queridos de todos os publi ôca ás vezes; exp,robou-se-lhe principalmente cos, este que a morte acaba de arrebatar ao a concessão quasi constante ao gosto vulgar, o mundo musica l de- desejo infinito de pois de 70 annos agradar a um pu de uma vida exce blico estheticamen pcionalmente pro te pouco exigente. ductiva e laboriosa. Talvez tenha ra Realisando a sua zão de ser a cen propria concepção sura em muitas das da m o r te - u 111 produções do fa adeus, em que ha 111 oso musico fran tanto de doçura cez; mas algumas como de angustia d'ellas, como a M a -o auctor da Ma non e o Wer,ther, non e do WerLhrr o drama religioso extinguia-se sere Marie Madeleine, namente, sem so f que Massenet pla fri m en to, quasi neou e começou com o sorriso nos quando ainda pen labios, emquanto a sionista em Roma, frança artistica se esse .fom;leur de cobria de crepes Notre Dame, opera por um dos seus sem mulheres, que musicos mais dile ta 1vez por isso ctos e mais popu- mesmo o nosso pu 1ares. Populares, blico não lograsse sim ; porque a arte . -.. perceber, e varios de Massenet, arte o ut ros trabalhos, cariciosa e sensua l t a n t o o p e r a ti cos ao ultimo extremo, arte que toca por vezes as como sympho ni cos, que a sua pe1~na facil tra raias do artificio. quando se propõe captar o çou em momentos de melhor e mais sádia enthusiasmo pnblico, é d'aquellas. que a critica inspiração, contam u111 nu111ero incalculavel se permitte apontar de onde em onde com de proselytos e talvez sa ibam resistir á acção gesto pouco benevol o, mas que logra quasi corrosiva do tempo e ao capricho, sempre cam sempre vincar uma funda impressão .nas mu l- . biante, da preferencia publica, A ARTE M USICAL A biografia de Jui io Massenet tem a q uasi e o mysterio E va, successivamente apresenta banalidade de todas as biografias de musicos dos no Odeon e no Cirque d'Eté•, foram celebres. O relato catalogar da sua enorme pro as obras que chronologicamente se lhe segui ducção, em que, apesar de todas as caturrices ram. da critica, se não póde deixar de reconhecer a Todas as vistas começaram então a fixar-se graça e elegancia do estylo e uma rara habili sobre o talentoso artista e os theatros não he dade technica, seria talvez a sua melhor bio sitaram em abrir-lhe as portas. O D. Cesarde graphia e esse relato, por vastissimo, não póde Bazan não correspondeu comtudo á sua espe ter aq ui cabim ento. Contentar-nos-hemos por ctativa e é effectivamente urna das suas obras tanto com fixar algumas notas principaes da mais fracas; mas o R.ei de Lahote, que se lhe sua carreira e en umerar as suas mais importan seguiu i111111ediatamente (1877), teve um longo tes obras em diversos generos. e brilhante exito em toda a parte. Depois de Filho de um industrial de Saint-Etienne (23.o ter feito ouvir nos concertos historicos da filho, por signal), Julio Massenet foi um pre Opera a sua lenda sacra La Vierge, foi Masse coce; diz-se até que fugi u de casa para pro net assistir em 1881 á montagem da sua pom curar em Paris quem o instruisse nos segredos posa Hérodiade em Bruxellas, e ahi teve um da sublime arte. Foi uma curta escapada, como co mpleto triumpho. póde suppôr-se. Quando voltou mais tarde á Uma das operas que mais longamente tem grand e capital, já com o consentimento pa mantido o a!ficlte é a Manon, que Maria Heil terno, fo i para entrar no Conservatorio, para a bron crcou em 1884 e já tem q uasi 1000 re classe de piano de Laurent. Diga-se de passa presentações em Paris. gem que Massenet fo i um pianista maravi Citaremos, a vôo de passaro, as outras pro lhoso. Na composição, foi primeiramente dis ducções lyricas do festejado musico : Le Cid, cipulo de François Bazin, um classico impeni na Opera, com fides-Devries e João De Reszké; tente que não pôde supportar muito tempo o Werther, que teve as suas primicias em Vienna; seu irreq uieto discipulo e que o pôz muito Esclarmonde, estreiada na Opéra Comique)) , cordealmente fóra da classe, dizendo-lhe que dura nte a Exposição de 1889, Le Magee Thals «nunca na sua vida faria cousa de geito». na Opera, La navarraise no Covent Garden Teve depois por mestres a Henri Reber e Am de Londres, com a celebre Emma Calvé por broise Thomas. No intcrvallo dos estudos e protagonista; Le portrait de Manon, um acto para ganhar a vida tocava timballes nas or sinho muito gracioso, na «Opéra Comique»; chestras. e successivamente, no mesmo theatro, Saplto, Com o premio de fuga e o grand prix de Cendrillon, Oriselda, jong1eur de Notre Dame Roma, começou para Massenet a febre da com e Chérubi11. posição. Logo depois de regressar da Vil la Me As suas ultimas operas foram Ariane e Bac dieis publicou uma série de volumes de melo chus na grande Opera, Don Quiclwtte na dias vocaes, Pofme pastoral, Poeme d'avril, Oaice-Lyríque»1 Thérese na Opera Com ica e Polme d' amour, Poeme du souvenir, nota veis R.oma na Opera, sendo no emtanto estas ulti tanto pela frescura do sentim ento e da inspi mas tres, assim como o jong1f'llr e Chérubin, ração como pela elegancia e origin alidade da estreiadas em Monte Cario. fórma. A este enorme repertorio dramatico, que Em 1867 é que o moço compositor se es se completa ainda com tres obras ined itas, treiou no th eatro, com um acto muito pro Panurge, Amadis e Cléopâtre, é preciso ainda mettedor, La Orand'Tante, que a Opera Co juntar muitas composições de outros generos : mica confiou ao tenor Capou!, a Madame Gi dois bailados, Cigale e Espada, duas scenas rard e a Maria Heilbron, a diva que mais lyricas, Biblis e Narcise, a suite das Erinnyes, tarde havia de incarnar a mais ideal das Ma que foi uma das suas mais afortunadas obras nons. orchestraes, a Suite Pamassienne e Suite théâ• Vieram depois as suites symphonicas, a cujo tra!e, tambem para orchestra e esta ultima com exito deveu o fecundo compositor os seus pri canto, a oratoria La Terre promise, o Concerto meiros titulos de gloria. Scenes pittoresques de piano, varias peças tambcm parfl piano conhece o nosso publico de cór. As Scenes al corno Eau courante, Eaa dormante, Papillons saciennes foram-lhe reveladas em 1907 pela noirs, Papillons blancs, Valse Ires lente, etc., e «Grande Orchestra Portugueza», sob a regen fin almente um sem numero de melodias vo cia do director d'esta revista, e tiveram, como caes e córos. se sabe, um successo extraordinario entre nós. Como se vê, foi colossal a producç.1o do As outras suites, Sce11es napolitaines, Sce fallecido artista. Cêdo é para julgai-a com in nes de féerie, Scenes ltongroises, etc., são teiro desassombro e imparcialidade; só a pos pouco mais ou menos desconhecidas em Por teridade é que poderá pronunciar, sobre o tugal. seu verdadeiro valôr, o ultimo e definitivo jul O drama ou oratoria de Marie Madeleine gamento. A ARTE MUSICAL 147 IV O Cravo de penn as (Continuação de 1m,::. 1!181 Na ltalia sobretudo e a partir do principio do sec11l o XVI houve 11111itos e optimos con~ tructores de espinetas e cravos, suppondo-se até, como já disse, que a cspin eta fosse origi nariamente um instrumento italiano. Para se ~- .-~· ;;;-~~;. ~-~ - .,._.. fazer urna ideia cio desenvolvimento que essa industria teve na ltalia durante tres secul os e meio, bastará lançar a vista sobre a lista se guinte. em que faço fi gurar os auctores cujo nome me pôde ser conhecido, as datas dos seus 1''ig. !1 9. - Esplneta de Benodetto Ftoriani (1571) instrumentos ainda hoje conservados tanto em museus como em collecções privadas e, com iniciaes entre parenthesis, a qualidade d'esses mesmos instrumentos, espi neta, virginal ou cravo : Oiro/amo di Bologna, 1521 (C). Francesco de Portalupis, 1523 (E}. Franciscus Patavinus, 1527 (E). Dominicus Pisaurensis, 1533, (C), 1543 (C), 1548 (E), 156 1 (E), 1590 (C). O. Fr. Antegnati, 1537 (E). A ntonius Patavinus, 1550 (E). Annibale dei Rossi, 1555, 1577 (E). Bmnetto defli Organi, 1556 (E). Antonius frena, 1564 (E). Benf'df'tto Floriaru: 1568, 1571 (E). Marctts Oiawzinus, 1570 (E). A. Santinius, 1570, 1575 (E). joannes Antonirts Baff'o, 1574, 1579 (E e C). Antonius Bononiensis, 1592 (E). Giovanni Celf'sfino, 1593 (E), 1610 (arci-spineta). Federico Zucchero (?}. Viti de Traswdinus, 1601 (E). Vincentius Pratensis, 1610 (E), 1612 (C), 1613 (C).