Caderno de Geografia ISSN: 0103-8427 [email protected] Pontifícia Universidade Católica de Brasil

Gonçalves França, Lorenzza; de Oliveira Souza, Carla Juscélia O conhecimento geomorfológico para o Planejamento Municipal: estudo de caso do Município de Juatuba-MG Caderno de Geografia, vol. 23, núm. 40, agosto-diciembre, 2013, pp. 15-32 Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais , Brasil

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O conhecimento geomorfológico para o Planejamento Municipal: estudo de caso do Município de Juatuba-MG

Geomorphological knowledge for Municipal Planning: case study of Juatuba, MG

Lorenzza Gonçalves França [email protected]

Carla Juscélia de Oliveira Souza Departamento de Geociências –DEGEO –UFSJ Universidade Federal de São João Del-Rei, MG, Brasil [email protected]

Artigo recebido para revisão em 16/02/2013 e aceito para publicação em 08/05/2013

RESUMO O presente trabalho demonstra a importância do conhecimento geomorfológico para um planeja- mento urbano adequado. Para isso, foi realizado o estudo de caso, no Município de Juatuba-MG, onde foram realizados levantamento e coleta de dados para análise das condições físico-naturais e antrópicas. A partir dessas informações foi estabelecida a relação entre os dois aspectos supracita- dos e elaborada a análise cronológica referente à expansão urbana. Nesse contexto de estudo, foi verificada, também, a situação legal da zona de expansão urbana. Concomitante às análises citadas anteriormente realizou-se um diagnóstico das condições do uso e ocupação do solo, antes e depois do atual loteamento da subárea eleita como recorte espacial no Município de Juatuba. O estudo permitiu verificar que no período de 1984 a 2011 a expansão urbana ocorreu de forma desordenada e sem prévio estudo físico, principalmente, com relação aos aspectos geomorfológicos e identifica- ção de áreas de risco. E, ainda, permitiu identificar a existência de três unidades de relevo distintas no referido município, assim como cicatrizes erosivas decorrentes de processos do escoamento su- perficial combinado com as condições do clima tropical, com a forma do relevo local e o tipo de ocupação.

Palavras-chave: Geomorfologia, Erosão, Ações antrópicas, Planejamento urbano, Geoprocessa- mento.

ABSTRACT This study demonstrates the importance of knowledge for urban planning geomorphological appro- priate. For this, we performed a case study in the municipality of Juatuba-MG, which were conduct- ed survey and data collection to analysis of the physical and natural and anthropogenic. From these data we established the relationship between the two aspects mentioned above and elaborated chronological analysis related to urban sprawl. In this context of study, there was also the legal sta- tus of the area of urban expansion. Concurrent to the aforementioned analyzes carried out a diagno- sis of the conditions of use and occupation before and after the current allotment of the subarea elected as spatial area in the city of Juatuba. This study showed that in the period 1984 to 2011 ur- ban expansion occurred in a disorderly manner and without prior physical study, especially with respect to geomorphological and identification of risk areas. And yet identified the existence of three distinct units raised in that city, as well as scars caused by erosive processes runoff combined with the conditions of the tropical climate, with the shape of local relief and type of occupation.

Keywords: Geomorphology, erosion, anthropogenic actions, urban planning, GIS.

15 ISSN 0103-8427 Caderno de Geografia, v.23, n.40, 2013 1- INTRODUÇÃO refletir a respeito da possível interação entre os processos erosivos, os loteamentos e a ausência Sabe-se que a expansão urbana constitui de estudos prévios. De acordo com Christofole- um dos processos de apropriação de novos es- tti (1994) e Suguio (2000), a intervenção antró- paços, cujas ações antrópicas são, na maioria pica, direta ou indireta, no relevo pode resultar das vezes, danosas tantos aos aspectos sociais em impacto negativo como cicatrizes erosivas e quanto aos elementos da natureza. As ações agradação sedimentar, principalmente quando antrópicas são transformadoras do meio ambien- ocorre a apropriação do modelado sem estudo te, alterando o equilíbrio e a dinâmica dos sis- prévio. A combinação desses fatos – ocorrência temas naturais. Portanto, o conhecimento dos de processos erosivos, ocupação do relevo e a elementos e processos da natureza constitui um possível falta de estudo prévio - influenciou na aspecto, entre vários outros, para se pensar e escolha do município de Juatuba, como local de planejar a apropriação do espaço geográfico, de estudo para demonstrar a importância do conhe- maneira que possíveis desequilíbrios sejam re- cimento geomorfológico no planejamento urba- duzidos ao mínimo, apresentando assim condi- no. Girão e Corrêa (2004) já demonstram essa ções para alcançar outro estado de “equilíbrio”. importância ao realizarem uma discussão teórica Entre os elementos e processos da natu- sobre os diversos tipos de intervenção humana, reza, o conhecimento geomorfológico compõe sejam na área urbana ou rural, na escala geográ- um dos aspectos a ser considerado no planeja- fica de vertente ou de bacia hidrográfica. mento, o qual compreende pensar e analisar o Para realização deste trabalho foi neces- relevo a ser ocupado, considerando sua forma, sário detalhar dentro do Município uma subárea seus processos e sua dinâmica, em escalas espa- de estudo, que estivesse em transição de função, ciais e temporais pertinentes à magnitude da ou seja, transpondo-se de uma área rural e de ocupação humana (SOUZA, 2010). sitiantes para uma área de expansão urbana da Este trabalho tem como objetivo central sede municipal. E, ainda, mapear os aspectos demonstrar a importância do conhecimento ge- físicos locais, como unidades de relevo, consi- omorfológico necessário para o planejamento derando altimetria, declividade, litologia, mor- urbano, a partir de um estudo de caso, realizado fologia. em 2011. Esta subárea eleita, localizada na porção Assim, elegeu-se o Município de Juatuba sudeste do referido Município (figura 1), encon- como local de estudo, pois este apresenta lotea- tra-se entre a barragem Serra Azul da Compa- mentos - na porção sudeste do Município, tendo nhia de Saneamento de Minas Gerais (COPA- como referência de localização a sede municipal SA), a BR-262 e o rio . - com feições resultantes de processos erosivos Além da escolha da área para estudo de e de acumulação sedimentar. Este fato permitiu caso, foi necessário conhecer e pensar a pers- 16 ISSN 0103-8427 Caderno de Geografia, v.23, n.40, 2013 pectiva da geomorfologia aplicada, como ins- mento, aliado ao estudo de caso, conforme apre- trumental teórico para se discutir a importância sentado no item seguinte. do conhecimento geomorfológico no planeja-

Figura 1- Mapa de localização da área de estudo no Município de Juatuba.

2- GEOMORFOLOGIA APLICADA: voráveis ao meio ambiente e ao desenvolvimen- CONCEPÇÕES E APLICABILIDADES to social e econômico.

O planejamento compreende diversas Conforme Christofoletti (1968) duas ca- atividades que tem como objetivo o pleno de- tegorias de planejamento podem ser identifica- senvolvimento social, econômico e ambiental das: o estratégico e o operacional. O primeiro (GIRÃO; CORRÊA; GUERRA, 2007). está relacionado à tomada de decisão a longo e Apesar disso, no âmbito do planejamen- médio prazo e o segundo, o operacional, é ca- to, ao se discutir as possibilidades de uso e ocu- racterizado pela tomada de decisão rápida, me- pação do solo tem-se valorizada a perspectiva diante demandas de curto prazo. Em ambas as do crescimento econômico e social local, para categorias, a geomorfologia exerce função im- somente depois se levar em consideração às portante, sendo a base para a articulação correta condições e dinâmica do relevo. Este é muitas de uma distribuição das zonas de ocupação fa- vezes tomado como estático sendo percebido

17 ISSN 0103-8427 Caderno de Geografia, v.23, n.40, 2013 pela sociedade e pelos agentes construtores do 2007), a fim de demonstrar a dinâmica dos pro- espaço urbano, como paisagem dividida em cessos, as formas elaboradas e relacionadas aos parcelas como terreno, lotes e quadras (SOUZA, processos e as possibilidades futuras. Os dados 2010) com potencial de ocupação. transformados em informação e conhecimento A geomorfologia aplicada, que visa ava- específico possibilitam a tomada de decisão liar as condições do meio ambiente incluindo as quanto aos procedimentos de planejamento, interferências antrópicas e os diversos processos manejo e potencialidades. ambientais envolvidos (GIRÃO; CORRÊA; Conforme Saadi (1996), as contribuições GUERRA, 2007), possibilita pensar as referidas dessa ciência ao diagnóstico e prognóstico de parcelas como porções do relevo dinâmico e, alguns problemas do planejamento e gestão ur- também, como recurso natural imaterial. No bana devem envolver primordialmente: a) Ca- contexto dessa ideia, há a possibilidade então de racterização das condições dos processos natu- se elaborar estudos que apresentem e demons- rais de erosão de uma dada área; b) Identifica- trem as características e as condições de deter- ção e delimitação das áreas com susceptibilida- minadas áreas alvos de usos diversos. Esses de à erosão e aquelas com potencial instáveis; c) estudos, ainda, indicam maneiras particulares de Identificação e caracterização dos catalisadores utilização do relevo. antrópicos que provocam os processos erosivos, De acordo com Ross (1992), os trabalhos como também de sua sazonalidade e/ou grau de de natureza técnica deveriam estabelecer um elo reversibilidade; d) análise das condições hidro- entre o uso da terra e a organização territorial do dinâmicas dos corpos hídricos e e) Integração da espaço, a exemplo têm-se o Plano de Parcela- ciência da geomorfologia com outras ciências mento do Solo, o Plano diretor do Município. com o intuído de melhor caracterizar e distribuir Esses trabalhos são fundamentais quando elabo- as “zonas” para a ocupação ou preservação da rados com cuidado, atento a real organização e área estudada. condição do espaço e integrados a uma política Ainda de acordo com Saadi (1996), é de planejamento séria. Sabe-se que um trabalho necessário realizar inicialmente um mapeamen- bem elaborado e integrado, demanda uma ade- to geomorfológico, retratando a compartimenta- quação da política de planejamento, e, por con- ção do relevo e as formas resultantes dos pro- seguinte um arranjo territorial levando em con- cessos geomorfológicos atuais. Além da com- sideração as influências diversas do meio físico- partimentação e dos fatores físico e biótico de- biótico (ROSS, 1992). ve-se levar em consideração, também, os fatores A pesquisa e estudos aplicados envol- socioeconômicos, pois é este último fator que vem-se diretamente com coleta e análise de da- inúmeras vezes proporcionam alterações drásti- dos geomorfológicos, em função dos objetivos cas na paisagem. Para Goudie e Viles (1997), do uso do solo (GIRÃO; CORRÊA; GUERRA, as ações do homem sobre o relevo terrestre po- 18 ISSN 0103-8427 Caderno de Geografia, v.23, n.40, 2013 dem ser distinguidas em dois tipos, conforme mostrado no Quadro 1.

Quadro 1 - Principais Processos Antropogeomorfológicos. Processos Antrópicos Diretos Indiretos Aceleração da Erosão e Sedimentação: Construção: retirada de cobertura vegetal, atividade agrícola, obras de revolvimento do solo, moldagem, aragem, terraciamento; engenharia, especialmente construção de estradas e urbanização. Subsidência: Escavação: colapso relativo ao estabelecimento de atividades de cortes em encostas, mineração, explosão de material mineração, bombeamento de água subterrânea e coerente ou não coerente, abertura de crateras; derretimento de áreas de permafrost; Interferência: Colapso de Encosta: Hidrológica: inundação, represamento, construção de deslizamento, fluxo e rastejamento acelerado causado canal, dragagem, modificação do canal. pela carga de material;

Fonte: Adaptado de Goudie (1993).

Conforme o exposto por Goudie e Viles trabalhar o contexto atual na qual o meio já está (1997), o fator limitante para fazer um planeja- modificado, buscando alternativas plausíveis e mento urbano “correto” deixa de ser a própria rápidas para solução dos problemas. natureza e passa a ser o ser “humano”. Pois, este quando vê a necessidade de sair da sua zona de 3- METODOLOGIA E MATERIAIS conforto, em prol de um planejamento adequa- do, ou seja, quando, por exemplo, sua moradia O estudo compreendeu mapeamentos deve ser relocada, ocorre certo impasse de nega- temáticos municipais (hipsométrico, declividade ção. Essa rejeição a mudanças é em vários casos e geomorfológico), visita a campo e, ainda, es- alegados como sendo uma interferência brusca tudo da evolução da ocupação humana do rele- que pode alterar a cultura, a história, os laços vo. Esta evolução da ocupação humana se fun- estabelecidos com o local. damentou na análise cronológica da porção cen- Apesar da existência dessas possíveis re- tro-sudeste do Município de Juatuba, conside- sistências, o planejamento urbano deve ocorrer e rando as condições físicas e de infraestruturas levar em consideração a contribuição da geo- nos seguintes anos 1984, 1994, 2004 e 2011. morfologia em busca de soluções, nos diversos Para essa análise cronológica foram uti- contextos de escala espacial e temporal. lizadas ainda as imagens do satélite Landsat 5 As cidades, distritos, povoados já existi- com sensor TM e resolução 30m (INPE, 2011), am antes mesmo de se elaborar os estudos ade- referentes ao ano de 1984, 1994, 2004 e 2011, quados (os planos diretores, baseados em plane- com o intuito de se fazer uma comparação entre jamento urbano correto) para a distribuição das elas, identificando as áreas de expansão urbana “zonas”. Apesar disto, na atualidade deve-se no Município de Juatuba. Para tanto, foi elabo- 19 ISSN 0103-8427 Caderno de Geografia, v.23, n.40, 2013 rado um mapa com essas imagens de satélite do tum SIRGAS 2000, projeção plana UTM, fuso Município de Juatuba, que é apresentado, poste- 23 K. riormente, na escala de 1:188.000. As bases de dados utilizados, para extrair Como suporte teórico para os mapea- as informações necessárias para o mapeamento mentos, principalmente o geomorfológico, foi supracitado, foi a Advanced Spaceborne Ther- utilizada a classificação taxonômica do relevo mal Emission and Reflection Radiometer (AS- discutido por Ross (1992 e 2005). Essa classifi- TER) número ASTGTM-S20W045 e AS- cação compreende 6 (seis) táxons. Nesse estudo TGTM-S21W045, com sistema de coordenadas foram considerados os 4º e 5º táxons, devido à geodésicas e datum SIRGAS2000, disponibili- escala espacial trabalhada. zadas pela National Aeronautics and Space Ad- O 4º táxon diz respeito à unidade de relevo que ministration (NASA), conforme NASA (2009). se constitui de conjuntos de formas semelhantes Para a elaboração do mapa de comparti- que caracterizam as tipologias do modelado. O mentação do relevo do Município de Juatuba- 5º táxon refere-se ao tamanho médio dos inter- MG, tomou-se como referencial teórico o 4° flúvios e grau de entalhamento do canal, ou se- táxon de Ross (1992 e 2005), assim, fez-se ne- ja, refere-se à vertente (ROSS, 1992 e 2005). cessário o cruzamento de diversos dados, sendo A escala espacial do 4º táxon possibilita eles a declividade, a hipsometria, a geologia verificar a existência ou não de unidades morfo- com base na CPRM (CPRM-UFMG, 2010), lógicas distintas no Município como um todo. pedologia conforme EMBRAPA (2004)1 e as Enquanto o 5º táxon permite uma visão de deta- formas básicas do relevo. lhe da menor unidade de relevo, a vertente nas Com relação aos softwares para a elabo- quais os processos erosivos ocorrem. ração dos mapas apresentados neste estudo fo- Como suporte teórico para o estudo e análise da ram utilizadas as ferramentas disponibilizadas relação vertente/ocupação/uso do solo foram no Arcgis 9.3, Global Mapper e Google Earth. consideradas também os processos de vertentes, Para aferir os dados levantados a partir discutidos por autores como Guerra e Cunha dos mapeamentos, foram feitas visitas a campo, (1995), Saadi (1996), Guerra e Silva (1999), buscando, também, compreender as interações Casseti (2005), Girão; Corrêa & Guerra (2007). do relevo com os seres humanos. Buscaram-se Foram elaborados mapas hipsométrico, também os órgãos públicos competentes para de declividade e de compartimentação geomor- verificar a existência de estudos na região alvo fológica, na escala 1:130.000, além do mapa de deste trabalho. Constatou-se que no Município localização da área de estudo na escala 1:14.000 1 Para a análise pedológica do Município utilizou-se o mapa de solos de que possui caráter ilustrativo. Destaca-se que Minas Gerais na escala 1:1.000.000, disponibilizado pela EMBRAPA (2004), pois para região em estudo não foram encontrados dados com todos os dados para confecção dos mapas do um grau de detalhamento melhor. Além disto, foi feito um levantamento de campo com análises primarias das características do solo como: cor, Município de Juatuba foram elaborados no da- textura, porosidade e plasticidade. Os perfis observados foram encontra- dos em cortes de estrada e no próprio processo erosivo. 20 ISSN 0103-8427 Caderno de Geografia, v.23, n.40, 2013 os estudos referentes a diagnóstico ambiental de alguns investimentos de natureza pública e foram realizados pela própria Prefeitura Muni- privada. Destaca-se a construção do distrito in- cipal de Juatuba, a exemplo o Plano Diretor dustrial Renato Azevedo no Município de Jua- Participativo conforme Juatuba (2008). Porém, a tuba que trouxe grandes empresas para o local, a caracterização físico-biótica e socioeconômica exemplo tem-se a Companhia de Bebidas das não se apresentou confiável, constatando-se Américas (AMBEV), Daytec Ltda. e Dayco certas incongruências, apresentando este uma Ltda. do grupo italiano Recordeu, a Hertape expansão urbana desordenada. Calier Saúde Animal e a Artecal Ltda., fazendo assim, a arrecadação municipal aumenta. Outra 4- CARACTERÍSTICAS AMBIENTAIS E vantagem foi o aumento no numero de empre- SOCIAIS DE JUATUBA gados e mão-de-obra especializada, fato que O Município de Juatuba encontra-se a levou a construção de uma instituição de ensino aproximadamente 45 km da cidade de Belo Ho- superior privado o Instituto de Ensino Superior rizonte, e apresenta uma área territorial 97,1 João Alfredo de Andrade. Km². A sede municipal encontra-se às margens Apesar do Município em questão possuir da BR 262 e da MG 050 e a 18 km da Rodovia um Plano de Parcelamento do Solo e um de Uso Fernão Dias (BR 381), além, ser talhada pelo e Ocupação do Solo (JUATUBA 1998 a e b), ribeirão Serra Azul, afluente da margem esquer- além, do Plano diretor Participativo (JUA- da do rio Paraopeba, que por sua vez é contribu- TUBA, 2008), apresentando assim uma expan- inte do rio São Francisco (PNUD, 2000). são urbana desordenada. O núcleo urbano de Juatuba desenvol- Merece destaque aqui, o Plano de Uso e veu-se próximo à margem esquerda do rio Para- Ocupação do Solo instituído pela Lei nº 358, de opeba, pelos arredores da estação ferroviária da 16 de dezembro de 1998 (JUATUBA, 1998 b), antiga Rede Mineira de Viação. Vale salientar no qual é estabelecido o zoneamento da área que, foi a partir da Lei nº 336, de 27 de dezem- urbana do Município sendo contemplado com bro de 1948, conforme Minas Gerais (1948) que sete zonas, apresentadas no Quadro 2. elevou o povoado a distrito, então pertencente Nota-se que estes Planos não são segui- ao Município de . Com a Lei nº dos corretamente, a exemplo tem-se a porção 10.704, de 27 de abril de 1992 (MINAS GE- oeste do Município (tomando como ponto de RAIS,1992), foram emancipados trinta e três referência a sede municipal) que se apresenta distritos de Minas Gerais e, entre eles, estava o ocupada e loteada sendo essa uma região de de Juatuba. relevo mais íngreme. Devido ao tipo de mode- Como sistema aberto, a cidade passou lado a um aumento no risco de deslizamentos, por fases de transformações e de equilíbrio, de- sendo estes provocados pela combinação de senvolvendo-se ao ritmo das políticas locais e fatores e desencadeantes como chuva, falta de 21 ISSN 0103-8427 Caderno de Geografia, v.23, n.40, 2013 proteção natural do solo, cortes, exposição do manto de alteração, etc.

Quadro 2 - Zoneamento da área urbana do Município de Juatuba-MG.

Fonte: Adaptado de Juatuba (1998 b).

A porção oeste do Município, conforme que essa condição de uso do solo menos restriti- a Lei nº 358, de 16 de dezembro de 1998 (JUA- va se comparada a outros locais, contrasta com TUBA, 1998 b), é classificada como Zona de os problemas referentes à presença de processos Ocupação Restrita (ZOR). As ZOR possuem erosivos, cujos resultados futuros representam condições de deficiência da infraestrutura urba- riscos para os moradores do local. na existente e/ou da adversidade da situação As condições da área referida anterior- topográfica, sendo assim, a ocupação do solo mente mostram que a forma de distribuição das deve ser desestimulada (JUATUBA, 1998 b). zonas no Município de Juatuba apresenta incon- Já a área de estudo deste trabalho – subá- gruência. Essa incoerência está relacionada rea localizada na porção sudeste do Município principalmente ao Plano de Parcelamento do de Juatuba - é classificada como Zona de Usos Solo, o Plano Diretor Participativo e o Uso e Especial (ZUE), conforme Juatuba (1998 b). As Ocupação do Solo que em determinados casos ZUE são descrita na Lei supracitada como sen- não estão compatíveis com a realidade do local. do áreas destinadas a grandes equipamentos, Com relação ao embasamento litológico projetos e programas especiais de interesse so- o Município de Juatuba, conforme CPRM- cial, devendo ser instituída mediante decreto UFMG (2010) encontra-se assentado sobre o elaborado pelo órgão competente. Vale salientar embasamento cratônico denominado de Com-

22 ISSN 0103-8427 Caderno de Geografia, v.23, n.40, 2013 plexo Belo Horizonte. Este por sua vez é consi- maior declividade, além de apresentarem pouca derado a unidade geológica na qual afloram profundidade. todas as rochas intracrustais do embasamento Os Latossolos Vermelho-Amarelo loca- granito-gnáissico-migmatítico, que supostamen- lizam-se na porção oeste (tomando como ponto te é mais velho que as rochas supracrustais que de referência a sede municipal) do Município de lhe são anexadas espacialmente. Juatuba, nas áreas mais íngremes. Esse solo Destaca-se que apesar do Município es- apresenta horizonte B latossólico, caracterizado tar localizado em uma região de afloramento, por ser desenvolvido alto grau de intemperismo. estes ocorrerem na realidade em pequenos locais Os Argissolos Vermelho-Amarelo encontram-se isolados dentro do limite territorial do Municí- distribuído por todo o resto do território do Mu- pio. Essa baixa quantidade de afloramento indi- nicípio de Juatuba, sendo caracterizado pela ca que o relevo do local já foi bastante trabalha- presença de horizonte B textural, com acúmulo do, proporcionando a maior existência de mor- de argila. Esse solo passa de um horizonte A ros e colinas, com formas de “meia-laranjas”, arenoso para um horizonte B mais argiloso. baixas e recobertas por um manto regolítico O clima típico da região está dentro do espesso. padrão do tipo mesotermal, caracterizado por De acordo com o mapeamento realizado duas estações bem definidas, uma quente e chu- pela CPRM-UFMG (2010), o Município em vosa entre os meses de novembro e março, com questão, encontra-se sobre três unidades estrati- precipitações em torno de 1500 mm e outra seca gráficas, sendo a de maior abrangência o Grupo entre os meses maio e setembro, com tempera- , possuindo três tipo distintos de as- tura mais amena. Os meses de abril e outubro sociação, sendo elas: ressedimentada, vulcâni- são de transição, sendo marcado por meses com co-química e vulcânica máfica-ultramáfica. Já temperaturas mais amenas. Na classificação em menores proporções tem-se o Grupo Maqui- clássica de Köppen o clima é do tipo CW, ou né e o Corpo Granitóides, sendo o primeiro ca- seja, clima temperado úmido com inverno seco racterizado pela presença de rochas metamórfi- (CPRM-UFMG, 2010). cas, como xisto, conglomerado e filitos. A se- Com relação à vegetação, o Município gunda unidade é formada por rochas ígnea, co- apresenta algumas manchas isoladas de vegeta- mo granodiorito, granito, tonalito. ção original, sendo encontradas próximas ao Conforme a EMBRAPA (2004), os solos leio dos rios (matas ciliares ou de galeria) e nos de maior relevância no Município de Juatuba topos de morro, na divisa com o Município de são Latossolos Vermelho-Amarelo e Argissolos . O restante do território foi todo alte- Vermelho-Amarelo. Em pequena proporção rado quanto ao uso e ocupação. Ele foi trans- têm-se, ainda, os Cambissolos e os Neossolos formado em área urbanizada e de pastagens e Litólicos e Flúvicos, restritos aos locais com mais raramente, de agricultura familiar. 23 ISSN 0103-8427 Caderno de Geografia, v.23, n.40, 2013 Nas áreas mais escarpadas, especialmen- 5.832 pessoas. O Município apresentou uma te nos locais onde advêm rochas vulcânicas, taxa média de crescimento anual, no período de ocorrerem o predomínio de vegetação típica da 2000-2010, de 3,09%, sendo essa inferior ao área transicional entre os biomas Mata Atlântica período de 10 anos citado pelo PNUD (2000) e Cerrado. Já no domínio das rochas gnáissicas anteriormente. predominam as fitofisionomias do bioma Cerra- do de alto a médio porte com espécies caracte- 5- RESULTADOS/ DISCUSSÃO rísticas, como o caryocar brasiliensis (Conheci- do popularmente como Pequi, uma árvore típica Com base em visitas de campo, nas análises do Cerrado, de origem brasileira, constitui de feitas sobre os mapas de declividade e hipsome- frutos globoso) tria, figura 2 e nos dados do CPRM-UFMG Por fim, deve-se destacar o processo de (2010), o Município pode ser dividido em três urbanização no Município, no período de 1991 a unidades de relevo, ver figura 4, agrupadas por 2000, que apresentou um aumento significativo, conjuntos de formas semelhantes (figura 3), passando de 61,18% em 1991 para 97,19% em sendo elas: 2000. Essa taxa mostra como a urbanização do Unidade I - relevo íngreme, localizado na Município aconteceu de forma extraordinaria- porção oeste do Município tendo como ponto de mente rápida. Esse crescimento acelerado pro- referência a sede, recobrindo pequena parte da porcionou uma má distribuição da população no área total do Município. Caracteriza-se por ser território (PNUD, 2000). uma área de altimetria elevada variando de 1250 Ainda com relação PNUD (2000), em a 850 metros, apresentando os vales mais enta- 2000, o Índice de Desenvolvimento Humano lhados, se comparados com as outras unidades. Municipal de Juatuba era de 0,751. Segundo a Com relação à declividade desse conjunto de classificação do PNUD, o Município está entre forma, observa-se que essa área possui uma de- as regiões consideradas de médio desenvolvi- clividade superior a 20%, sendo um relevo for- mento humano (IDH entre 0,5 e 0,8). temente ondulado a escarpado. Nessa unidade, Com relação aos aspectos socioeconômicos a após a correlação dos dados adquiridos em visi- população do Município, no período 1991-2000, ta de campo e a análise das imagens de satélite teve uma taxa média de crescimento anual de do Google Earth, do ano de 2009, observa-se a 6,58%, passando de 9.436 hab. em 1991 para presença de afloramento rochoso, drenagens 16.389 hab. em 2000. retilíneas e pequenos cursos d’ água. Com rela- Em 2010, conforme o IBGE (2010), a ção à litologia, conforme a CPRM-UFMG população do Município era de 22.221 hab., (2010), essa área é marcada pelas características possuindo uma densidade demográfica 228,85 do Grupo Nova Lima, datado do Arqueano, que hab./km², nota-se que ocorreu um aumento de recobre a maior parte desta Unidade. Este Gru- 24 ISSN 0103-8427 Caderno de Geografia, v.23, n.40, 2013 po é distinguido pela presença de rochas meta- De acordo com Guerra e Cunha (1995), linha de básicas, metaintercaladas e metassedimentar. falha, diáclase ou fratura na rocha constituem Justaposto ao Grupo Nova Lima encontra-se o condições estruturais que favorecem o caminho Grupo Maquiné, datado do Arqueano, marcado preferencial da água. Esta procura o local de pela presença das rochas metassedimentares maior fragilidade na rocha para entalhar o seu destacando os quartzitos puros e micáceos, pa- leito. Destaca-se que normalmente leitos retilí- raconclomerado polimítico mal selecionado neos são rochosos e homogêneos oferecendo estando estes restritos as porções mais elevadas resistência igual a atuação da água. De acordo desta área. Por fim, tem se sobre o Grupo Ma- com CPRM-UFMG (2010) essa unidade encon- quiné locais caracterizados por coberturas detri- tra-se sobre a litológica do Grupo Nova Lima to-lateríticas, consolidadas a parcialmente con- principalmente sobre as sequências metassedi- solidadas, geralmente cobertas por carapaças de mentar presença de filito muscovitico, filito canga limonítica, datadas do Paleógeno- cloritico e filito quartzoso, dentre outros - com neógeno. Nota-se que esses locais foram bastan- espessura acima de 300 metros – e os filitos te intemperizados apresentando, assim, solos muscovitico cinzento, por vezes ferruginoso e mais jovens, portanto, menos desenvolvidos. carbonoso, filito cloritico verde claro e quartzito Unidade II - recobre grande parte do micáceo fino – espessura acima de 500 metros. Município, sendo caracterizado como região de Outra sequência observada são as rochas ultra- colinas suaves, com interflúvios ligeiramente máficas diversas, geralmente sob a forma de planos e altimetria que varia de 850 a 750 me- xisto com clorita, anfibolito, carbonato, talco tros. Conforme EMBRAPA (2004) por meio da com espessura acima de 200 metros. Por último, análise do mapa de declividade (figura 2), esta têm-se as rochas metabásicas e meta- unidade é caracterizada como relevo suave on- intermediárias localmente como pillow, lavas dulado a ondulado, com declividade variando de preservadas, geralmente são rochas muito alte- 5% a 25%, em determinados pontos. Por meio radas por intemperismo com raros afloramentos da visita de campo e interpretação das imagens preservados – espessura acima de 1000 metros-. de satélite do Google Earth, do ano de 2009, Esta unidade engloba a porção sudeste do Mu- diagnosticou-se que esta Unidade apresenta nicípio de Juatuba, tendo como referência a sede inúmeros processos erosivos, devido principal- da Prefeitura Municipal, local onde está inserida mente à falta de proteção natural do solo, ou a área de estudo. seja, a vegetação nativa foi retirada. Com rela- Unidade III – representa a porção mais ção à hidrografia essa porção apresenta cursos baixa, apresentando uma altimetria de 750 a 630 d’ água com padrão de drenagem dendrítica, metros e possui uma declividade que varia de com pequenos trechos retilíneos, sendo esse 0% a 8%, sendo a área mais plana se comparada último decorrente de controle estrutural local. às outras unidades. Destaca-se que esta Unidade 25 ISSN 0103-8427 Caderno de Geografia, v.23, n.40, 2013 localiza-se entremeada a Unidade II (colinas Segundo CPRM-UFMG (2010), essa amplas e suaves). Após visita de campo consta- Unidade encontra-se sobre a Formação Juatuba, tou-se que esta Unidade possui: um modelado datada do Quaternário, sendo desta forma uma dissecado com vales em U marcados pela agra- litológica jovem, em termos geocronológicos, se dação do relevo e áreas de planície de inundação comparada as litologias encontradas nos Grupos e fluvial do ribeirão Serra Azul e do rio Parao- Nova Lima e Maquiné. A Formação Juatuba é peba. Vale ressaltar que nesse local, encontra- caracterizada por depósitos sedimentares, origi- se o maior contingente populacional do Municí- nando as planícies aluvionares, constituídas de pio. Com relação à rede de drenagem, observa- conglomerado (arenito argiloso e ferruginoso, se que os corpos hídricos desta Unidade sofrem siltito e argilito). Esse depósito está disposto mudanças bruscas em sua direção de fluxo da sobre afloramentos descontínuos e de espessura água evidenciando controle estrutural. variada, estima-se um máximo de 30 metros.

Figura 2 - Mapa hipsométrico e de declividade do Município de Juatuba.

26 ISSN 0103-8427 Caderno de Geografia, v.23, n.40, 2013

Figura 3 - Mapa de compartimentação geomorfológica do Município de Juatuba.

A partir do mapa de compartimentação 1992, observa-se um aumento na especulação geomorfológica, figura 3 identificou-se que a imobiliária nessa porção, acarretando no ano área em estudo, apresentada na figura 1, encon- 1994 uma ampliação da mancha urbana. Esse tra-se sobre a unidade geomorfológica II, descri- fato ocasionou a supressão de áreas anterior- ta anteriormente. Interpolando esta informação mente ocupadas por vegetação nativa. com a análise cronológica - período de observa- A partir daquele momento, ou seja, pós ção 1984 a 2011 - da expansão urbana de Jua- 1994, o Município de Juatuba começou a tomar tuba verifica-se que esta ocorreu de forma de- forma de cidade, sendo implantadas infraestru- sordenada e sem prévio estudo físico, princi- turas básicas para população como: posto de palmente, com relação aos aspectos geomorfo- saúde; abastecimento de água; escolas. Porém, lógicos e identificação de áreas de risco. observa-se que até o ano de 2004 a região de Este fato pode ser observado na coleção interesse deste estudo (indicada pelo ponto ver- cronológica de mapas (figura 4). melho na figura 4), não apresentava grandes Nota-se que a expansão urbana na por- modificações se comparada as sofridas entre ção sudeste começou em 1984, época na qual o 1984 a 1994. Contudo, no período entre 2004 e povoado de Juatuba era distrito de Mateus Le- 2011, a expansão imobiliária voltou-se para o mes. Após a emancipação do Município em vetor sudeste, o que ocasionou um aumento nas 27 ISSN 0103-8427 Caderno de Geografia, v.23, n.40, 2013 áreas de solo exposto, áreas degradadas, bem como loteamentos e construção de residências e comércios de pequeno porte.

Figura 4 - Coleção de mapas que representam a expansão urbana no Município de Juatuba. Nota: Bandas das imagens Landsat 5 utilizadas na composição RGB: Red: Banda 3; Blue: Banda 5; Green Banda 4. 28 ISSN 0103-8427 Caderno de Geografia, v.23, n.40, 2013 Ressalta-se que essas modificações são cessos erosivos, considerados em estágio inicial observadas em outras áreas do Município, como e outros avançados. De acordo com estudos por exemplo, na região norte e oeste. Essas alte- apresentados por Christofoletti (1968) e Casseti rações na dinâmica municipal acarretam uma (2005), as voçorocas e ravinas revelam estágio reestruturação/criação dos Planos e Programas avançado dos processos, enquanto as erosões que visem uma melhoria nas condições de vida laminares e em sulcos revelam estágio inicial. dos do local. Durante visita a campo constatou-se que Ainda na figura 4, que as áreas de vege- tais processos erosivos, em estágios iniciais e tação nativa, por toda a extensão do Município, avançados, ocorrem devido à falta de proteção que são uma forma de proteção do solo, foram do solo, ou seja, a perda da sua vegetação nati- substituídas por áreas de loteamento, constru- va, aliada ao tipo de solo característico da área, ções civis e/ou pastagem, entre o ano de 1984 a os Latossolos que possuem mais susceptibilida- 2011. Outro aspecto que deve ser realçado é a de a erosão. Outro fator que corrobora para o correlação do mapa hipsométrico (ver figura 2) aumento dos processos erosivos na região é o com o último mapa apresentado na coleção de índice pluviométrico ser elevado, aproximada- mapas da figura 4, do ano de 2011. Observa-se mente 1500 mm no período chuvoso, combina- que os loteamentos ocorrem em áreas de topo de do com a distribuição das chuvas e as condições morro e de Área de Preservação Permanente do solo. (APP), não respeitando assim o Código Flores- Assim, fundamentado em Guerra (1999), tal vigente, conforme a Lei Federal n.º 12.651 pode-se inferir que com um aumento da precipi- de 2012 (BRASIL, 2012). tação, uma declividade variando de 5% a 25% o Destaca-se ainda que, devido às atuali- que favorece o escoamento superficial, o tipo de zações do referido código em relação à APP solo e a falta de proteção do solo são subsídios serem datadas de 2001, período da área repre- suficientes para que a taxa de erosão torne-se sentada na figura 4, à referida área já estava superior à taxa de pedogênese. ocupado por diversos tipos de estruturas urba- nas. Nesse contexto, observa-se uma contradi- 6- CONSIDERAÇÕES FINAIS ção entre as áreas destinadas para APP e a ocu- pação. Desta forma, hoje se faz necessária uma A articulação e interação entre as discus- reconfiguração da dinâmica do Município, le- sões de planejamento e conhecimentos específi- vando em consideração os preceitos básicos do cos são de extrema importância para que ocorra planejamento urbano, da geomorfologia e de a apropriação do solo, do relevo de maneira todo os componentes do meio ambiente. menos impactante social, ambiental e economi- A região sudeste do município em estu- camente. do contém cicatrizes oriundas de diversos pro- 29 ISSN 0103-8427 Caderno de Geografia, v.23, n.40, 2013 No caso específico de Juatuba, verifica- Aliado a esta falta de estudo tem-se, ain- ram-se desarticulações entre ações dos agentes da, o descumprimento da legislação vigente ou a construtores do espaço urbano e os programas já sua aplicação equivocada como é o caso da área existentes, bem como contradições entre o Plano em estudo ser destinadas a grandes equipamen- de Uso e Ocupação do Solo instituído pela Lei tos, projetos e programas especiais de interesse nº 358, de 16 de dezembro de 1998 e a ocupa- social. Tal classificação deveria primeiramente ção do solo. Essa situação, no âmbito da política basear-se nas condicionantes ambientes, para municipal de planejamento, combinada com as compreender se a área realmente irá suportar condições físico-bióticos da região municipal como, por exemplo, grandes equipamentos. apontam para a existência de problemas socio- ambientais presentes e futuros. Considerando as REFERÊNCIAS condições climáticas tropicais e a ausência de BRASIL. Lei nº 12.651 de 25 de maio de 2012. cuidados específicos quanto o uso e ocupação Institui o novo Código Florestal. Diário Oficial do solo, pode-se prever que com a exposição do [da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, mai. 2012. solo haverá a retirada e transporte de material, o qual favorecerá o aprofundamento das linhas de CASSETI, V.. Elementos de Geomorfologia. Livro digital - FUNAPE. 2005. Disponível em: talvegue no interior das cicatrizes erosivas, já . existentes. Quando a área estiver totalmente Acesso em: 10 de outubro de 2010. ocupada, o excesso de aporte de material nos CHRISTOFOLETTI, A. O fenômeno morfoge- leitos, oriundo das vertentes, levará ao possível nético no Município de Campinas. Notícia Ge- omorfológica. v. 8, n. 16, p. 3-97. 1968. assoreamento do mesmo, o que poderá favore- CHRISTOFOLETTI, A.. Aplicabilidade do Co- cer o fenômeno de enchentes. nhecimento Geomorfológico nos Projetos de Destaca-se ainda a importância de inter- Planejamento. In: Geomorfologia: Uma atuali- zação de bases e conceitos. Rio de Janeiro: pretação cronológica, a qual oferece subsídios Bertrand Brasil, 1994, p. 415-441. para compreensão do tipo de expansão que COMPANHIA DE PESQUISA DE RECUR- ocorreu no local. Com essa interpretação é pos- SOS MINERAIS (CPRM) e UNIVERSIDADE sível observar os locais que sofreram maior FEDERAL DE MINAS GERAIS (UFMG). Programa Geologia do Brasil. Contrato CPRM- pressão das ações antrópicas, como foi o caso da UFMG n. 059/PR/05. Nota explicativa da fo- porção sudeste, objeto de estudo deste trabalho. lha n° SE-23-Z-C-V, escala 1:100.000. Belo Horizonte, 2010. Tal porção mostrou-se com maior fragilidade para implantação de certo equipamento urbano, EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA (EMBRAPA). Mapeamen- como por exemplo, os loteamentos. Fato que se to de solos e aptidão agrícola das terras do justifica pela falta de um estudo prévio, ou seja, Estado de Minas Gerais. Rio de Janeiro: EM- BRAPA Solos. 95 p. 2004. o levantamento dos fatores físico-bióticos e so- ciais do local. 30 ISSN 0103-8427 Caderno de Geografia, v.23, n.40, 2013 GIRÃO, O.; CORRÊA, A. C. A contribuição da urbano e dá outras providências. Prefeitura geomorfologia para o Planejamento da ocupa- Municipal de Juatuba, 25 nov. 1998 a. Disponí- ção de novas áreas. Revista de Geografia. 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