José Ribas Vieira, Deilton Ribeiro Brasil
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A DELIMITAÇÃO DE COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL PROVOCADA PELO SEU EXPERIMENTALISMO INSTITUCIONAL APÓS A EMENDA CONSTITUCIONAL n° 45/2004 José Ribas Vieira∗ Deilton Ribeiro Brasil∗∗ RESUMO O problema central constitui na abordagem de como o Supremo Tribunal Federal enfrenta o desafio de ser o guardião dos preceitos constitucionais e, ao mesmo tempo, oscilar num pêndulo interpretativo em que privilegia ora um entendimento desvinculado de considerações morais ora sendo por elas guiado, demonstrando, assim, estar em consonância com as expectativas da sociedade. O paradoxo insere-se também na perspectiva de que nem sempre os apelos provenientes da sociedade são moralmente relevantes e, muitas das vezes, discrepam dos princípios constitucionais consignados. Esta percepção gera um clima de incerteza e imprevisibilidade quanto à posição adotada pelo Supremo Tribunal Federal nas questões cruciais que são colocadas à sua apreciação. Em síntese, a difícil tarefa de encontrar o justo entre o legalismo e a ética. Surgem dificuldades em detectar o posicionamento dos ministros do Supremo. Estarão eles dispostos a efetivar os valores consagrados no texto da Constituição? Quais as estratégias interpretativas utilizadas para representar o papel de depositário das esperanças de uma sociedade despolitizada e fragilizada? Como este olhar contribui para uma melhor análise da Justiça Constitucional? PALAVRAS-CHAVES: SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, GUARDIÃO DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, MINISTROS, JUSTIÇA CONSTITUCIONAL. ABSTRACT The central problem constitutes in the approach of as the Supreme Federal Court that faces the challenge of being the guardian of the constitutional precepts and, at the same time, to oscillate in an interpretative pendulum in that privileges a disentailed understanding of moral considerations for now for now being for them guided, demonstrating, like this, to be in consonance with the expectations of the society. The paradox also interferes in the perspective that not always the coming appeals of the society are morally important and, many of the times, differ of the consigned constitutional principles. This perception generates an uncertainty climate and ∗ Doutor em Direito pela UERJ. Professor do Programa de Pós-Graduação Strictu Sensu da UGF/RJ. Pesquisador junto ao Laboratório de Análise Jurisprudencial da UGF/RJ. E-mail: [email protected] ∗∗ Mestre em Direito Empresarial pela FDMC de Belo Horizonte/MG. Doutorando em Direito pela UGF/RJ. E-mail: [email protected]. unpredictability with relationship to the position adopted by the Supreme Federal Court in the crucial subjects that are placed to your appreciation. In synthesis, the difficult task of finding the fair between the legalism and the ethics. Difficulties appear in detecting the positioning of the judges of the Supreme Court. Will they be disposed to execute the values consecrated in the text of the Constitution? Which done the interpretative strategies use to represent the receiver's of the hopes of a non-political and weakned society? How does this glance contribute to a better analysis of the Constitutional Justice? KEYWORDS: FEDERAL SUPREME COURT, THE GUARDIAN OF THE FEDERAL CONSTITUTION, JUSTICES, CONSTITUCIONAL JUSTICE. INTRODUÇÃO A teoria constitucional tem como função precípua analisar a efetividade dos Direitos Fundamentais insculpidos na Constituição. No enfoque adotado, qual seja examinar os fundamentos filosóficos que alicerçam a ordem jurídico-constitucional, cuida-se de erigir uma temática que busque a Justiça Constitucional, afastando-se, neste sentido, da diferenciação teórica da Jurisdição Constitucional, em que os aspectos técnico-jurídicos assomam com mais nitidez. Trata-se, portanto, de um tema bastante complexo no âmbito da Teoria do Direito e da Teoria da Constituição e que vem suscitando discussões acaloradas nas últimas décadas. Persegue-se uma densidade teórica capaz de enfrentar os desafios da realização da Justiça Constitucional e implementar o Estado Democrático de Direito. Observa-se que o Estado moderno passa por profundas transformações nas esferas política e social, culminando num processo de descrença das instituições políticas. O cidadão assiste ao desmoronamento dos referenciais político- institucionais que haviam balizado o Estado moderno. Acrescente-se a este descrédito, a ausência de princípios éticos basilares do agir político. A conseqüência é a despolitização do sujeito e sua fragilidade perante a complexidade da vida moderna. Ocorre a transferência das expectativas frustradas para o Judiciário, instância possibilitadora de resgate dos ideais de Justiça. Como afirma Antoine Garapon, o juiz torna-se não somente o garante dos direitos mas o responsável pela recuperação da democracia, “o guardião das promessas” (O juiz e a democracia: o guardião das promessas). De fato, a transferência das esperanças para o Judiciário implica que o foco das decisões, especialmente as do Supremo Tribunal Federal como guardião da Constituição, converta-se em palco preferido para a reabilitação da ética e da plena realização dos direitos fundamentais. A noção de Justiça Constitucional aparece com mais clareza: aspira-se a uma legitimação efetiva, apta a convergir os anseios do cidadão, e não apenas os procedimentos atinentes à sua competência, com os direitos proclamados no texto constitucional. Trata-se, nesta etapa do desenvolvimento da pesquisa do Laboratório de Análise Jurisprudencial de centrar a investigação do Corte dos Fundamentos Filosóficos nos efeitos decorrentes da Emenda Constitucional n. 45/04, que acena, em princípio, para o delineamento de um ativismo formal, podendo configurar um fortalecimento da jurisdição no seu sentido puramente formal, hipótese a ser desvendada no presente estudo. Ou, ao revés, busca-se interpretar as deliberações do Supremo Tribunal Federal como a expressão do justo no jogo dialético entre o legal e o bom (Cf. RICOUER, Paul, O justo entre o legal e o bom. In: Leituras 1: em torno ao político). Cuida-se, portanto, de indagar a respeito do novo posicionamento assumido pelo Supremo Tribunal Federal no que concerne ao seu papel de intérprete maior da Constituição Federal, capaz de efetivar os fundamentos e objetivos máximos da República Federativa do Brasil, concretizando o comando de constituir-se em Estado Democrático de Direito. Neste sentido, faz-se necessário analisar se esses desideratos são plenamente concretizados ou se a hipótese do ativismo formal iria obstaculizá-los em nome de uma visão meramente formal e processualista. Primeiro ponto de destaque na sistemática instituída pela Emenda Constitucional no. 45/04 diz respeito aos pressupostos traçados pelo art. 103-A, ...§ 1o da Constituição Federal, a saber: “...controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses e a administração pública...”, qualificada pelo risco de geração de “...grave insegurança jurídica 1 ...” e “...relevante multiplicação de 1 Inevitável consignar a combinação de cláusulas vagas: insegurança, que compreenderá todo o espectro de situações que se ponham além da zona de certeza positiva de segurança, vez que tanto há insegurança na zona de certeza negativa, como em toda a zona cinzenta de incerteza quanto a essa qualidade; e ainda processos...”. Vê-se, a partir dessa moldura de cabimento, que a vinculatividade tupiniquim tem como móvel, não a construção gradual da melhor compreensão do Direito, mas sim a pacificação de um conflito que ameace a um só tempo, o Estado Democrático de Direito e à eficiência do Judiciário pelo excessivo número de demandas 2 – e por via transversa, o acesso à justiça. Desse apertado figurino, têm-se por conseqüência inicial, o descarte do principal mérito apontado para o sistema de stare decisis, a saber, a possibilidade genericamente oferecida de construção coletiva e continuada da compreensão dos institutos jurídicos. Clara a má compreensão, pelos proponentes de nossa solução, do instituto paradigma: o traço da vinculatividade – do funcionar como o critério hierarquicamente determinante da solução a ser conferida por instância inferiores do Judiciário – não se constitui, isoladamente, a essência do sistema. E isso se afirma, porque constitui igualmente elemento integrante do sistema de precedentes vinculantes – já se disse acima – as possibilidades do distinguishing e do overruling, que constituem justamente os mecanismos próprios a promover, por razões distintas, o apartamento do caso paradigma – logo, não é aplicabilidade coercitiva às instâncias inferiores que confere fisionomia ao sistema de precedentes vinculantes. Ao contrário, o caráter de obrigatória adesão se põe, no sistema inglês e norte-americano, como conseqüência, como coroamento do reconhecimento da formação de uma cadeia de consolidação da compreensão do Direito, 3 que se iniciou – na verdade – junto ao juiz da causa, de primeiro grau, e que se enriquece com a contribuição dos demais agentes judicantes. grave, medida de intensidade que como tal, se reveste igualmente de palpável indeterminação, eis que sua caracterização depende do ponto mínimo que se adote por paradigma para essa aferição da gravidade. 2 Uma vez mais se pode apontar a baixa densidade da norma constitucional editada, na medida em que não se tem por claro qual seja o segmento do Judiciário (se primeiro grau, se Tribunais) – se é que é de se fracionar essa análise – cujo risco de multiplicação excessiva de causas deva ou possa desafiar súmula vinculante. 3 É de CARDOZO, Benjamin. A natureza do processo judicial: palestras proferidas na Universidade