Controvérsias ASG 2015 Uma análise dos fatos controversos de 100 empresas brasileiras em questões ambientais, sociais e de governança.

Rio de Janeiro, Março/2016.

SITAWI Finanças do Bem

Análise e Texto Ana Carolina Chacon Guilherme Teixeira

Revisão Frederico Seifert Gustavo Pimentel

Controvérsias ASG 2015

SUMÁRIO

Sobre a SITAWI Finanças do Bem ...... 1 Resumo Executivo ...... 2 1. Método ...... 4 Controvérsias ASG ...... 4 Escopo ...... 5 2. Visão por tema ...... 7 Trabalhadores ...... 8 Governança ...... 9 Clientes...... 10 Comunidades ...... 11 Meio Ambiente ...... 12 3. Visão por setor ...... 14 Materiais ...... 15 Serviços Financeiros ...... 16 Serviços Públicos ...... 18 Consumo Não-cíclico ...... 19 Energia ...... 21 Telecomunicações ...... 22 Industrial ...... 23 Consumo Cíclico ...... 24 Tecnologia da Informação e Saúde ...... 25 4. Empresas mais controversas em 2015 ...... 26

Controvérsias ASG 2015

Sobre a SITAWI Finanças do Bem

Fundada em 2008 com a missão de mobilizar capital para impacto socioambiental positivo, a SITAWI Finanças do Bem é uma organização pioneira no desenvolvimento de soluções financeiras para o setor social e na análise da performance socioambiental de empresas e setores. A SITAWI monitora e modela impactos socioambientais nos negócios e aconselha instituições financeiras (bancos, seguradoras, fundos de pensão e gestores de recursos) na incorporação de questões socioambientais em suas estratégias de negócio, desenvolvimento de produtos, análise de riscos e investimentos. Em 2015, foi eleita a 10ª melhor casa de pesquisa para investidores e teve o melhor analista socioambiental do mundo (Extel Independent Research on Responsible Investment - IRRI 2015). Para maiores informações sobre a SITAWI e sobre esta publicação, bem como maiores detalhes sobre o monitoramento ASG de empresas, entre em contato com [email protected] ou acesse nossos canais de comunicação: Website, Linkedin e Facebook.

Controvérsias ASG 2015

Resumo Executivo Em sua terceira edição, o relatório Controvérsias ASG 2015 traz os resultados do monitoramento das controvérsias de 100 empresas brasileiras em questões ambientais, sociais e de governança (ASG) ao longo do ano. Como controvérsias entendemos fatos negativos que já impactaram ou podem vir a impactar negativamente uma companhia em cinco temas: Clientes, Comunidades, Governança, Meio Ambiente e Trabalhadores. Os resultados apontam diferentes frequências e graus de severidade dessas controvérsias para cada tema, setor e empresa. Trate-se de uma retrospectiva que traz mensagens para as empresas, seus clientes, seus investidores e demais públicos interessados a respeito de riscos operacionais, reputacionais e legais aos quais as companhias estão expostas. As controvérsias do tema Trabalhadores foram as mais frequentes em 2015, representando praticamente um terço do total de fatos monitorados, resultado semelhante aos dois anos anteriores. Após o boom de casos envolvendo investigações de corrupção em grandes empresas em 2014, a tendência se manteve durante 2015 e o tema Governança também continuou como um dos mais controversos. O ano de 2015 marcou ainda um grande crescimento das controvérsias envolvendo o impacto das atividades das empresas em comunidades. Enquanto o total de controvérsias cresceu apenas cerca de 9% (algo natural pelo aumento de empresas monitoradas esse ano), aquelas relativas a Comunidades cresceram 75% e se destacaram pelo alto grau de severidade. Os setores de Materiais, Serviços Financeiros e Serviços Públicos, que juntos totalizam 44% do total de companhias monitoradas, representaram mais da metade das controvérsias. No entanto, quando o número de controvérsias de cada setor é ponderado pelo total de empresas monitoradas, o setor de Energia se apresenta como o mais controverso, assim como em 2014, com a média de 12,7 controvérsias por empresa, puxado principalmente pela relevância da . No setor de Materiais, houve o maior aumento absoluto de fatos negativos, sendo a metade deles originados pela Vale. As controvérsias relacionadas ao rompimento da barragem da Samarco, controlada pela Vale, em Mariana (Minas Gerais), foram o principal vetor para tal crescimento. O setor de Serviços Financeiros destacou-se principalmente pelo crescimento das controvérsias relacionadas a trabalhadores, o que pode ser explicado em parte pela maior dificuldade de negociação salarial em um contexto macroeconômico nacional que pressiona empresas a controlarem seus custos com rédea curta. Por outro lado, Serviços Públicos reduziu sua participação no total de controvérsias. Em 2015, representou 12% das ocorrências, frente aos 19% de 2014. A expectativa de agravamento da crise hídrica e energética não se concretizou em 2015, com leve melhora nos níveis de armazenamento dos reservatórios de abastecimento e das hidrelétricas, mas ainda assim estas questões mantiveram o setor na berlinda. A Petrobras, maior empresa do país, aparece mais uma vez em destaque entre as empresas com mais controvérsias no ano, especialmente pelos desdobramentos da Operação Lava Jato. É seguida pela Vale, cuja posição se deve principalmente pelo grave incidente ocorrido em Mariana nas barragens da Samarco, da qual é controladora. Apesar do menor número absoluto, a Vale teve o maior número de controvérsias muito severas. Com o terceiro maior número de controvérsias está a JBS, afetada em grande parte por questões trabalhistas.

Controvérsias ASG 2015

Através desses números, vemos que as empresas brasileiras ainda têm o desafio de melhorar a qualidade na prestação de serviços e garantir o respeito aos direitos dos trabalhadores, a fim de reduzir riscos que se mantêm frequentes ano após ano. A revisão de processos internos que garantam maior transparência e reduzam espaço para práticas de corrupção minimizaria controvérsias muito severas, que chegam até a inviabilizar as operações das empresas. O mesmo vale para impacto ambiental e em comunidades, como ficou demonstrado pelo grave caso em Mariana-MG, que deve custar bilhões para as controladoras da Samarco. A superação destes obstáculos, ao mesmo tempo que significa menor risco à sociedade, também garante que as companhias tenham um desempenho mais sustentável, reduzindo sua vulnerabilidade a multas severas, perdas de receita e custos adicionais para mitigação e correção de eventuais danos. O monitoramento de controvérsias ASG também é fundamental para que investidores se antecipem a eventuais perdas significativas em seus portfólios. Empresas mais controversas em 2015 Participação no Participação no Total Participação no Total Posição Total de Empresa de Controvérsias e de Controvérsias e em 2015 Controvérsias, Posição, 2014 Posição, 2013 2015 1o Petrobras 12,0% ▼ 17,2% (1o) 12,8% (2o) 2o Vale 9,2% ▲ 3,7% (10o) 1,2% (12o) 3o JBS 7,9% ▲ 7,5% (2o) 3,5% (8o) 4o 5,1% ▲ 4,5% (6o) 7,0% (4o) 5o 4,5% ▲ 4,1% (7o) 1,2% (18o) 6o 4,1% ▼ 5,2% (3o) 4,7% (5o) 7o 3,8% ▼ 4,5% (5o) 16,3% (1o) 8o Bradesco 3,8% ▲ 3,0% (13o) 3,2% (9o) 9o Tim 3,4% ▬ 3.4% (11º) 9,5 % (3o) 10o Santander 3,4% ▲ 2,2% (17o) 2,6% (11o)

Controvérsias ASG 2015

1. MÉTODO Controvérsias ASG As atividades realizadas pelas empresas podem gerar impactos sociais e ambientais relevantes para diferentes grupos de interesse. Monitorar quais fatos materializam esses impactos traz evidências não somente sobre o desempenho socioambiental das empresas, como também traça perspectivas de riscos para as próprias organizações, os meios nos quais estão inseridas e suas partes interessadas. Este relatório apresenta uma análise consolidada de tais fatos, aqui chamados de controvérsias, relativos a questões ambientais, sociais e de governança (ASG). As controvérsias são aqui classificadas em cinco temas que, por sua vez, abrangem um total de 24 subtemas:

As controvérsias são também classificadas de acordo com o grau de severidade: baixo, moderado, severo ou muito severo. As controvérsias de baixa severidade são aquelas de menor impacto, em que há poucas pessoas prejudicadas. Tais fatos são aqueles que ainda se encontram em fase inicial de apuração ou envolvem penalizações leves em comparação ao porte da empresa. Quando não se pode provar a responsabilidade objetiva da companhia ou não há punições previstas, a controvérsia também é classificada como de baixa severidade. Exemplo: Funcionários realizam greve de advertência em unidade da empresa. Controvérsias de severidade moderada são as que representam um impacto socioambiental maior, ainda reversível ou mitigável, e que geram consequências de valor razoável quando comparadas ao faturamento da companhia. Enquadram-se neste caso os fatos que prejudicam um universo limitado de empregados ou comunidades, assim como críticas e infrações graves ainda em fase de investigação ou julgamento em instâncias

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inferiores. Exemplo: Ministério Público investiga empresa estatal por firmar contratos no valor de R$ 10 milhões sem licitação. Controvérsias severas são aquelas que geram impactos negativos de larga escala e/ou alta intensidade. Decisões finais de órgãos reguladores e de instâncias judiciais, multas de altos valores, fraudes e esquemas de corrupção envolvendo grandes montantes de capital, trabalhadores e/ou comunidades locais são classificadas neste nível. Exemplo: Justiça do Trabalho multa empresa em R$ 20 milhões por desrespeito a direitos trabalhistas. Por fim, as controvérsias muito severas referem-se aos piores cenários possíveis, sendo assim as mais raras. De modo geral, envolvem impactos milionários ou bilionários, grande repercussão negativa na opinião pública e penalizações que colocam em xeque a continuação de atividades de uma companhia. Exemplo: Justiça determina bloqueio de R$ 500 milhões de empresa após desastre ambiental e Polícia Civil pede prisão preventiva de seis dos seus funcionários de cargos diretivos. Escopo Ao longo de 2015, foram monitoradas as controvérsias de 100 empresas brasileiras, expandindo o monitoramento realizado em 2014, no qual 77 companhias foram cobertas. Este escopo significa uma cobertura atual1 de 90% das empresas listadas no Ibovespa, 82% das listadas no IbrX 100 e ainda 95% das que estão listadas no Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE).2 Nosso banco de dados de controvérsias foi alimentado a partir de notícias veiculadas nos portais de jornais e revistas de grande circulação, bem como de portais especializados em economia e em questões socioambientais, além de mídias regionais. Quando duas ou mais notícias se referiram a um mesmo fato gerador, estas foram contabilizadas como apenas uma controvérsia.

As 100 empresas3 foram divididas em 10 setores conforme a segmentação proposta pelo Nível 1 da Global Industry Classification Standard (GICS):

B2W Direcional Engenharia Kroton Renner BHG Estácio Consumo Brookfield EZTEC Ser Educacional Cíclico CVC Brasil MRV Engenharia Cyrela

Ambev IMC Pão de Açúcar Consumo Não- Brasil Pharma JBS Minerva Raia Drograsil cíclico BRF M. Dias Branco Natura Hypermarcas

1 Conforme consulta às carteiras em fevereiro de 2016. 2 O Ibovespa e o IBrX 100 reúnem os ativos de maior negociabilidade e representatividade do mercado de ações brasileiro, enquanto o ISE reúne ativos de empresas reconhecidamente comprometidas com a sustentabilidade em seu desempenho. As metodologias completas podem ser verificadas em: http://www.bmfbovespa.com.br/indices/BuscarIndices.aspx?idioma=pt-br 3 Das 100 empresas monitoradas, apenas uma não é listada em bolsa de valores: Caixa Econômica Federal. As empresas destacadas em itálico são aquelas que não haviam sido consideradas no monitoramento do ano anterior.

5

Cosan Energia Petrobras

ALL JSL Mills WEG Industrial CCR Eucatex Randon Ecorodovias Gol Marcopolo Tam

Bradespar Materiais Magnesita Vale CSN Suzano Votorantim

Fleury Qualicorp Saúde Odontoprev Profarma

Aliansce BM&F Bovespa Cetip Porto Seguro Banco do Brasil BR Malls Daycoval Santander Serviços Banrisul BR Properties Iguatemi Sul América Financeiros BB Seguridade Bradesco Itaú Bic Banco Caixa Multiplan

AES Tietê Copasa Eletrobras Tractebel Celesc Eletropaulo TAESA Serviços Públicos CPFL Light CESP EDP Sabesp

Cielo Tecnologia da Linx Informação Totvs

Oi Telecomunicações Telefonica-Vivo Tim

6

2. VISÃO POR TEMA

Neste capítulo, as controvérsias de 2015 são discutidas por meio da perspectiva temática, com destaque para as principais controvérsias de cada tema e as empresas mais controversas em cada um deles. Três temas se destacaram no universo de controvérsias das empresas brasileiras em 2015: Trabalhadores, Governança e Clientes. Esse resultado reflete as seguintes tendências: (i) Trabalhadores – Acúmulo de questões habitualmente controversas, seja pela dificuldade de as empresas ofereceram condições de saúde e segurança adequadas a seus funcionários, seja pelas negociações anuais de reajustes salariais e benefícios. Tais negociações tiveram o desafio adicional decorrente da piora da situação macroeconômica do país.

(ii) Governança – O aumento das controvérsias neste tema nos últimos dois anos está relacionado ao aumento de descobertas de casos de corrupção envolvendo empresas privadas e estatais. Em 2015, houve o desdobramento da Operação Lava Jato, iniciada no ano anterior, e as investigações da Operação Zelotes.

(iii) Clientes – De forma semelhantes ao tema de Trabalhadores, aparecem desafios costumeiros para as empresas, principalmente aquelas que lidam com um grande número de consumidores finais.

(iv) Comunidades – O ano de 2015 trouxe um aumento nas controvérsias deste tema, que é atribuído principalmente pelo grave incidente com a barragem em Mariana (Minas Gerais), fato que pode ser considerado o de maior impacto negativo em comunidades no Brasil.

(v) Meio Ambiente – O aumento no ano de 2015 originou-se não só pelo caso em Mariana, como por casos já com histórico complicado, como a emissão de rejeitos e resíduos fora das conformidades ambientais.

Gráfico 1: Controvérsias por tema 2013-14-15 (em %)

50% 42%

40% 33% 30% 31% 30% 31% 25% 22% 22% 20% 10% 14%

9% 8% 9% 10% 4% 8%

0% 2013 (172 controvérsias) 2014 (268 controvérsias) 2015 (292 controvérsias)

Clientes Comunidades Governança Meio ambiente Trabalhadores

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Trabalhadores As dificuldades das empresas nas relações com seus empregados e terceirizados geram controvérsias frequentes ao longo dos anos. Nos três anos de análise, as questões relativas a Trabalhadores representaram mais de um quarto do total. Em um universo no qual grandes empresas brasileiras estão incluídas, é relevante observar que boa parte das controvérsias no tema se deve ao descumprimento da legislação trabalhista (mais de 40%). Exigência de horas de trabalho além da jornada, assédio moral e terceirização de atividades-fim estão entre os motivos das controvérsias, que se materializam principalmente a partir da atuação de órgãos fiscalizadores, como o Ministério Público do Trabalho (MPT) e Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), se desdobrando em ações civis e condenações às empresas. Questões relativas a saúde e segurança ocupacional – 18% do total no tema – também ajudam a justificar a importância da atuação destes órgãos. No entanto, os riscos aos trabalhadores muitas vezes podem ser qualificadas até como graves violações dos direitos humanos. As controvérsias severas – um quarto do total – incluem investigações sobre trabalho degradante e análogo à escravidão. As negociações salariais e de benefícios, responsáveis por mais de um quarto das controvérsias do tema, são também recorrentes, principalmente nas empresas cuja representação sindical é forte. Em 2015, o quadro macroeconômico do país representou um desafio a mais para as empresas lidarem com reivindicações salariais de seus empregados e demissões.

Gráfico 2: Empresas mais controvérsias no tema Trabalhadores (total de controvérsias)

JBS 17

Petrobras 7

Banco do Brasil, Bradesco 5

Vale, Santander, Itaú 4

Os setores Consumo não-cíclico e Serviços Financeiros, que juntos representaram mais da metade das controvérsias do setor, são os que mais lidaram com dificuldades no cumprimento de boas práticas trabalhistas. A empresa mais controversa pertence ao setor de Consumo Não-cíclico: trata-se do frigorífico JBS, que esteve também em primeiro lugar no ano passado. Além da severa controvérsia relacionada a terceirizados em condições análogas à escravidão, ocorrências da empresa durante 2015 estiveram relacionadas principalmente a casos de desrespeito a direitos trabalhistas, como o não pagamento de horas extras, más condições de trabalho e falta de equipamentos de segurança em diversas unidades do grupo. Na segunda posição do tema está a Petrobras, que se viu envolvida em controvérsias pelos protestos de funcionários contra propostas salariais e contra a venda de ativos da companhia. A empresa teve que lidar também com acidentes em unidades operacionais que, pela natureza

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das atividades, estão expostas a uma série de riscos de saúde e segurança ocupacional. Na sequência, destaca-se a presença de bancos, que assim como a Petrobras, estão sujeitos a uma forte atuação sindical. Governança Assim como em 2014, o tema Governança se destacou como um dos mais controversos. A redução, de 33% para 25%, não representa uma tendência positiva no tema, devendo-se, na realidade, ao fato de que 2014 foi marcado pela deflagração e desenvolvimento das investigações da Operação Lava Jato. Cerca de 75% das controvérsias de Governança estão relacionadas à ética corporativa, o que aponta a necessidade do aprimoramento de controles internos como ferramentas de governança. Duas grandes investigações estão representadas nestas controversas: i. A Operação Lava Jato, que em 2015 trouxe novas descobertas, condenações e mensuração dos impactos à Petrobras ii. A Operação Zelotes, deflagrada em março de 2015, que investiga a atuação ilegal de empresas junto ao Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) a fim de reverter processos contra elas no órgão. As investigações incidem sobre processos envolvendo diversas empresas e que atingem um montante de cerca de R$ 20 bilhões.4 A exposição negativa da Petrobras permaneceu em 2015 alta como no ano anterior. O esquema de corrupção, envolvendo altos executivos, fornecedores e partidos políticos contribuiu para os mais de 67% de controvérsias da empresa. De forma análoga, mas em escala inferior, a Eletrobras, mais uma estatal, esteve envolvida em denúncias e investigações de corrupção na construção das hidrelétricas de Jirau e Belo Monte e nas operações da Eletronuclear, sua subsidiária.

Gráfico 3: Empresas mais controversas no tema Governança (total de controvérsias)

Petrobras 24

Eletrobras 6

Banco do Brasil 5

Braskem 4

JBS 3

No tema, é comum também que estejam presentes controvérsias envolvendo o setor de Serviços Financeiros, devido ao fluxo de dinheiro que é mapeado a partir de investigações em casos de corrupção e lavagem de dinheiro. O Banco do Brasil aparece em investigações na

4http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2015/03/1610770-pf-inclui-petrobras-e-partido-pp-em- investigacao-sobre-fraude-fiscal.shtml

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Operação Zelotes e, assim como outros bancos, foi alvo de investigação por haver reportado apenas parte das transações da Lava Jato como suspeitas. Ao longo do ano, a Lava Jato teve impacto também sobre a Braskem. A celeuma envolvendo o contrato de fornecimento de nafta pela Petrobras foi relacionada a controversa relação entre a estatal e a Odebrecht, e parte do esquema de corrupção envolvendo a estatal, de acordo com as investigações da Polícia Federal. Já a JBS aparece como uma das investigadas na Operação Zelotes e nas análises do Tribunal de Contas da União (TCU) a respeito da regularidade dos repasses feitos pelo BNDES à empresa. Em Governança, punições objetivas e rápidas são menos frequentes que em outros temas. As investigações podem ser divididas em diversas fases, nos casos em que é necessário mapear complexos esquemas, contribuindo assim para um aumento no número de controvérsias. Além disso, as condenações e impacto reputacional podem colocar sob risco até mesmo as operações das companhias, impactar em sua estrutura de gestão e adiar novos investimentos, não se limitando ao impacto financeiro de penalizações. A severidade destas controvérsias atinge tradicionalmente, portanto, um nível mais alto, conforme apresentado no gráfico a seguir. Em 2015, Governança ainda apresenta o maior índice das controvérsias severas e muito severas (aproximadamente 40% do total).

Gráfico 4: Controvérsias severas e muito severas por tema, 2013-14-15 (em %)

Clientes 40% 30% 20% Trabalhadores Comunidades 10% Todas controvérsias 0% Controvérsias severas e muito severas

Meio ambiente Governança

Os desdobramentos das Operações Zelotes e Lava Jato, bem como outras investigações relacionando empreiteiras e empresas estatais deve manter alto o número de controvérsias neste tema em 2016. Ao mesmo tempo, servirá de incentivo para que as empresas adotem práticas mais transparentes e que minimizem a possibilidade de corrupção internamente. Nesse sentido, a Lei Anticorrupção Empresarial também pode oferecer subsídios para um aperfeiçoamento das companhias.

Clientes Terceiro tema mais controverso, Clientes manteve a mesma participação de 22% no total de controvérsias. Mais da metade das questões do tema é atribuída ao subtema Relações com os Clientes, que envolve a violação de direitos, como a cobrança de taxas abusivas ou corte no fornecimento de um serviço. São oriundas de reclamações de clientes, apurações

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das diversas unidades dos Procons estaduais e, em maior severidade, condenações em instâncias judiciais. Não causa surpresa, portanto, a grande participação do setor de Telecomunicações, que responde por cerca de 40% das controvérsias no tema. O ano foi marcado por uma controversa decisão no segmento de telefonia móvel. Em fevereiro, as operadoras decidiram cortar o acesso à banda larga móvel depois que o cliente atingisse o limite de seu pacote de dados. A decisão resultou em aumento de reclamações nos Procons, aplicação de multas e processo do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor.

Gráfico 5: Empresas mais controvérsias no tema Clientes (total de controvérsias)

Oi 9

Tim 9

Telefônica/Vivo 7

Banco do Brasil 5

CCR 5

No entanto, quando observado histórico, nota-se que o setor de Telecomunicações vem mantendo nos dois últimos anos um desempenho melhor que em 2013. O aumento de controvérsias deste ano pode ser atribuído justamente à polêmica questão na internet móvel. O Banco do Brasil aparece também em destaque no ranking, mas com controvérsias de menor severidade. Assim como os outros principais bancos do país, o BB aparece na lista pelo fato de estar no setor de serviços, lidando com uma larga base de clientes, incorrendo em casos relacionados a longos tempos de espera por atendimento e cobranças indevidas de taxas bancárias. Única empresa fora do setor de Telecomunicações e Serviços financeiros no topo da lista, a CCR apresentou este ano crescimento no número de controvérsias devido a suas operações na concessão das barcas para transporte entre Rio de Janeiro e Niterói. A punição após o acidente em julho e questionamentos sobre a qualidade do serviço fizeram a empresa ficar como uma das mais controvérsias no tema.

Comunidades As controvérsias de Comunidades, quarto tema mais controverso, se destacaram em 2015 pelo aumento de praticamente 80% com relação ao total de 2014, registrando, portanto, um crescimento acentuado em comparação com o aumento total de controvérsias (pouco mais de 10%).

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Este número é explicado essencialmente pelo rompimento de barragens em Mariana-MG no final do ano, o que gerou ações civis e condenações às empresas por danos às comunidades no entorno.

Gráfico 6: Empresas mais controversas no tema Comunidades (total de controvérsias)

Vale 20

Cemig 4

Eletrobras 4

Sabesp 3

Light 2

A Vale lidera com folga a lista de controvérsias no tema, por estar envolvida no grave incidente ocorrido nas operações da Samarco (rompimento das barragens), da qual é controladora junto com a australiana BHP, e que impactaram significativamente a comunidade local no entorno. Na sequência, aparecem Eletrobras e Cemig. No caso da primeira, destacam-se problemas envolvendo a hidrelétrica de Belo Monte, da qual faz parte do Consórcio Norte Energia, responsável pela obra. Para ambas, aparecem também ocorrências relacionadas à paralisação de hidrelétricas impactadas com o incidente da Samarco, questão que também gerou controvérsias para a Cemig. Em seguida no ranking está a Sabesp, também apresentando casos de impactos em comunidades locais, resultado das dificuldades de gestão da crise hídrica que a afetou fortemente ao longo dos dois últimos anos. A Light aparece também envolvida com problemas relacionados a Belo Monte, já que participa do consórcio responsável pela usina.

Meio Ambiente No tema Meio Ambiente, verifica-se uma acentuada elevação do número de controvérsias, atingindo em 2015 mais que o dobro do número absoluto de ocorrências de 2014. Grande parte destas envolve o vazamento de substâncias tóxicas, gerando impacto financeiro para as empresas devido às multas e às paralisações necessárias diante da ocorrência. CSN e Sabesp dividem o primeiro lugar com 17% das controvérsias, cada. Destaca-se que ambas conviveram com problemas relacionados à gestão de resíduos: CSN emitindo poluentes acima dos limites impostos pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) e a Sabesp em casos de despejo indevido de esgoto. Em segundo lugar está a Petrobras, que havia registrado o maior número de controvérsias neste tema nos dois anos anteriores. A companhia continua sendo impactada por multas aplicadas pelo Ibama e Agência Nacional do Petróleo (ANP). Na sequência, estão empatadas as empresas Suzano, Copel e JBS, com 2 ocorrência cada.

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Gráfico 7: Empresas mais controversas no tema Meio Ambiente (total de controvérsias)

Sabesp 4

CSN 4

Petrobras 3

JBS, Copel, Suzano 2

Há que se ressaltar que algumas questões que afetam o meio ambiente geraram um impacto de maior exposição a Comunidades ou Clientes, fazendo com que o registro de casos dentro desse tema fosse preterido em favor de outros de maior exposição. O caso em Mariana- MG é um exemplo emblemático neste sentido. Trata-se de um dos maiores desastres ambientais da história, mas boa parte das controvérsias relacionadas é classificada nesse estudo no tema Comunidades, pelo impacto sistêmico gerado por esse desastre sobre a saúde e o cotidiano dos moradores de cidades vizinhas, sobre indígenas da região cujas atividades foram prejudicadas pelas consequências da poluição gerada, bem como sobre toda a população direta e indiretamente atingida nos estados do Espírito Santo e Minas Gerais.

Figura 1: Nuvem de Palavras dos termos mais frequentes nas controvérsias das empresas em 2015

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3. VISÃO POR SETOR Neste capítulo, os resultados do monitoramento são apresentados em uma perspectiva segmentada por setores, conforme a classificação GICS mencionada no início do relatório. Os setores de Serviços Financeiros, Materiais e Serviços Públicos, que somam 44% das empresas monitoradas, contabilizaram o maior número de controvérsias em 2015, respondendo juntos por 53% delas. Quando o total de controvérsias é ponderado pelo número de empresas monitoradas no setor, Energia e Telecomunicações se destacam, o que pode ser atribuído ao fato de estes setores contarem com um limitado número de empresas (três em ambos setores), sendo parte delas fortemente exposta a órgãos reguladores e à observação por parte da sociedade civil, como Petrobras e Oi.

Gráfico 8: Número médio de controvérsias por empresa, em cada setor em 2013-14-15

média 2015: 2,8 2013 2014 2015 média 2013: 2,3 média 2014: 3,5

Telecomunicações

Tecnologia da infomação

Serviços Públicos

Serviços financeiros

Saúde

Materiais

Industrial

Energia

Consumo não-cíclico

Consumo cíclico

0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0 14,0 16,0 18,0

A seguir são analisados os dez setores, ordenados pelo total absoluto de controvérsias.

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Materiais

9 11 26 7

Muito Severo Severo Moderado Baixo

No setor de Materiais, responsável por praticamente um quinto das controvérsias em 2015, destacou-se a participação (40%) das questões relacionadas ao tema Comunidades. Estes dois números são atribuídos diretamente ao maior desastre socioambiental ocorrido no país, envolvendo as barragens em Mariana-MG. A Vale, que controla junto com a australiana BHP Billiton a mineradora Samarco, teve o maior número de controvérsias do setor, enfrentou portanto as questões mais frequentes e severas pelos impactos diretos e indiretos do grave incidente. De maneira geral, as companhias do setor apresentaram dificuldades em lidar com questões relativas a impactos adversos em comunidades locais, saúde e segurança em 2015, envolvendo inclusive acidentes com óbitos. O gráfico abaixo sumariza os temas mais controversos do setor.

Gráfico 9: Controvérsias de Materiais por tema 2015 2013 vs 2014 vs 2015 25 20 15 2% 10 19% Clientes 5 0 Governança 40% Meio ambiente 14% Trabalhadores Comunidades 25% 2013 (16 controvérsias) 2014 (28 controvérsias) 2015 (53 controvérsias)

O rompimento em Mariana-MG levantou questionamentos sobre o cumprimento de normas de licenciamento ambiental e os severos impactos ambientais decorrentes deste acidente. Além das mortes, centenas de pessoas tiveram prejuízos materiais com perdas de seus lares e negócios locais, hidrelétricas foram desligadas, o Rio Doce contaminado, e houve perda de vida aquática por contaminação. A abrangência deste foi de pelo menos dois estados, impactando a vida de milhares de pessoas. Para a empresa, além da multa imposta pelo Ibama e a indenização da qual fechou acordo judicial, há ainda o impacto financeiro pela necessidade de investir na recuperação dos ambientes degradados e pela paralisação de suas atividades na região até o momento. Ainda, o dano reputacional pode gerar problemas à empresa na relação com seus investidores e clientes, além de dificultar sua relação com as comunidades no entorno não só desta mas de outras operações. Análises realizadas pouco tempo após o acidente estimaram um impacto financeiro de cerca de R$ 13 bilhões para a Vale.5

5 http://www.eiris.org/blog/samarco-tailing-dams/

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O gráfico a seguir dimensiona o quão grave foi o incidente. Das onze controvérsias muito severas, nove guardam relação com o ocorrido em Mariana, o que ajuda a explicar o considerável aumento de controvérsias neste grau de severidade em comparação com os anos anteriores.

Gráfico 10: Controvérsias por severidade 2013-14-15

300 11 2 71 250 64

200 2 35 150 122 151

100 89

50 80 46 58 0 2013 (172 controvérsias) 2014 (268 controvérsias) 2015 (291 controvérsias)

Baixo Moderado Severo Muito Severo

Em 2016, a pressão da sociedade civil acerca de grandes operações envolvendo exploração de recursos naturais deve manter um número elevado de controvérsias no setor, além, é claro, dos desdobramentos do caso de Mariana-MG, que ajudarão a dimensionar o relevante impacto deste caso para o meio ambiente, para as comunidades no entorno e para a companhia. Atualmente, menos de 10% das multas aplicadas pelo Ibama são pagas pelas empresas infratoras, o que pode mudar diante da pressão da sociedade civil diante de um caso tão extremo. Além disso, o aumento da multa máxima aplicada pelo Ibama, anunciada pelo órgão, pode ser determinante para a alta frequência de controvérsias severas também nos próximos anos. Além disso, as possíveis aprovações no Congresso Nacional a respeito do novo Marco Regulatório da Mineração e do projeto de aceleração de licenciamento ambiental, sendo este assumido em maior parte pelas próprias empresas requerentes, podem aumentar o risco de impacto socioambiental negativo, que já é considerável no setor.

Serviços Financeiros

1 3 31 17

Muito Severo Severo Moderado Baixo

Com o maior número de empresas monitoradas (18), o setor de Serviços Financeiros também foi responsável por quase um quinto das controvérsias em 2015. As ocorrências no

16

tema Trabalhadores mais que dobraram, superando pela primeira vez o tema Clientes, que veio em sequência.

Gráfico 11: Controvérsias de Serviços Financeiros por tema 2015 2013 vs 2014 vs 2015 25 20 15 2% 10 5 Clientes 31% 0 41% Governança Trabalhadores Comunidades 26% 2013 (30 controvérsias) 2014 (40 controvérsias) 2015 (52 controvérsias)

Em relação ao tema Trabalhadores, sobressaíram as questões relacionadas a negociações coletivas e sindicais, refletindo a tradicional força do movimento sindical bancário. Em um ano de crise econômica, as negociações tornaram-se mais demoradas, gerando greves que paralisaram parte das atividades. Também sobressaíram questões a respeito de relações trabalhistas envolvendo o não-cumprimento de normas de segurança, assédio moral, exigência indevida de horas extras, dentre outras. Todos estes casos refletem a necessidade do setor melhorar as práticas de relacionamento com seus funcionários. Comparando os três anos, pode-se verificar um declínio gradual de controvérsias com Clientes, o que reflete esforços do varejo bancário em melhorar o seu atendimento, tornando- o menos demorado e mais transparente. Iniciativas de educação financeira, esforços de comunicação com o cliente e digitalização de serviços podem ser mencionados como medidas positivas. Ainda assim, dada a natureza da prestação de serviços financeiros, orientados diretamente para clientes no varejo, é natural que controvérsias relacionadas a Clientes sejam muito frequentes. Essa exposição do setor ao tema destaca a necessidade de aprimoramento no relacionamento das instituições com seus clientes, visto que fatos negativos podem impactar negativamente as empresas, seja pela perda de market share, bem como pela judicialização de reclamações e aplicação de multas administrativas, dado o consolidado Código de Defesa do Consumidor existente no país e a atuação dos Procons e do Banco Central na regulação de serviços prestados. Também com percentual expressivo de ocorrência, o tema de Governança apareceu em 2015 como o terceiro mais frequente. As questões relacionadas com corrupção e fraude permanecem significativas. Dada a finalidade da prestação de serviços dos bancos, estes precisam ter maior compromisso com a transparência. Neste ano, as operações Zelotes e Lava- Jato geraram controvérsias frequentes e severas, evidenciando o quão sensível é esta questão para o setor financeiro.

17

Serviços Públicos

S… 11 27 12

Muito Severo Severo Moderado Baixo

No setor de Serviços Públicos, que respondeu por 17% das controvérsias de 2015, a maior incidência se deu no tema Comunidades, por impactos adversos no entorno das atividades das empresas. Esse resultado se deve especialmente potencial duplo de impacto em Comunidades nas atividades desenvolvidas por este setor: i. na obtenção de recursos (água e energia), que podem originar controvérsias de impacto socioambiental e, assim, afetar negativamente as comunidades; e ii. na prestação dos serviços à comunidade, que depende das atividades-fim das companhias do setor para necessidades básicas.6

Gráfico 12: Controvérsias de Serviços Públicos por tema 2013 vs 2014 vs 2015

2015 20 15 10 16% Clientes 5 30% Governança 0 Meio ambiente 24% Trabalhadores 16% Comunidades 14% 2013 (24 controvérsias) 2014 (52 controvérsias) 2015 (50controvérsias)

Assim, foram destaque em 2015 impactos em comunidades locais devido ao desenvolvimento de grandes operações das empresas do setor, como a controversa hidrelétrica de Belo Monte (que desde 2014 aparece como questão frequente), bem como aqueles originados da dificuldade de abastecimento de água e energia à população. É importante notar também como algumas questões que não advém necessariamente de más práticas das empresas geram controvérsias para elas. A Cemig, responsável pela geração e fornecimento de energia em Minas Gerais, teve três hidrelétricas afetadas pelo rompimento das barragens da Samarco, sofrendo danos que se refletiram também em seus clientes e nas comunidades atendidas por ela. No tema Governança, segundo maior no setor, as empresas enfrentaram problemas em sua maioria com fraude e corrupção. Os fatos mais severos envolveram casos de acusações de suborno e recebimento de propina (de acordo com a Operação Zelotes), multas aplicadas

6 Em casos de impacto mais restrito, este tipo de controvérsia é classificado no tema Clientes. Quando o impacto assume caráter mais amplo, é enquadrado em Comunidades.

18

por agências reguladoras de energia a COPEL e questionamentos sobre estruturas de governança, especialmente das empresas estatais. A Eletrobras viu-se envolvida em casos de corrupção (Governança) e impactos em comunidades locais (Comunidades), demonstrando a necessidade de mudanças de políticas e/ou práticas em prol de uma conduta que reforce seu compromisso ético. Foi a empresa líder de controvérsias no setor nos dois últimos anos, o que parcialmente também é explicado pelo fato de, sendo uma empresa estatal, receber bastante atenção da sociedade civil, da mídia e de políticos. O tema Meio Ambiente apresentou ocorrências de severidade moderada, relativas a licenciamento ambiental e ocorrências negativas em usinas hidrelétricas, bem como questões derivadas do impacto do incidente da Samarco sobre as operações de usinas da região. A crise hídrica aparece como responsável por parte considerável dos fatos negativos no setor, indicando a exposição das empresas a questões climáticas. Por um lado houve aumento dos níveis de reservatórios com relação ao ano de 2014, gerando assim menos controvérsias. No entanto, a exposição a esta questão permanece e pode continuar gerando controvérsias neste assunto, principalmente quando consideramos a matriz elétrica do país altamente dependente fonte hídrica. Outros fatores que devem manter o setor entre os mais controversos em 2016 são as investigações de possíveis fraudes na construção da Usina de Belo Monte e o caso “Eletrolão”, a respeito de acusações de cartel, fraude a licitações, corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo a Eletronuclear (subsidiária da Eletrobras) e empreiteiras. Além da questão de Governança, Belo Monte seguirá com forte atenção da sociedade civil a respeito dos impactos em Comunidades e Meio Ambiente.

Consumo Não-cíclico

11 28 6

Muito Severo Severo Moderado Baixo

As empresas de Consumo Não-cíclico geraram 16% das controvérsias de 2015, sendo o quarto setor mais controverso. Destacaram-se as questões relacionadas a Trabalhadores, sendo mais de 40% destas relativas às relações trabalhistas.

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Gráfico 13: Controvérsias de Consumo Não-cíclico por tema

2013 vs 2014 vs 2015 2015 35 30 25 20 15 14% Clientes 10 22% 5 Governança 0 Meio ambiente 31% 25% Trabalhadores 8% Comunidades 2013 (12 controvérsias) 2014 (47 controvérsias) 2015 (45 controvérsias)

O alto número de controvérsias sobre relações trabalhistas, em especial aquelas consideradas severas, advém do desafio das empresas do segmento alimentício (principalmente frigoríficos) em evoluir neste tema. Estas ocorrências resultam de ações do Ministério Público do Trabalho e decisões da Justiça do Trabalho, que materializam perdas financeiras para as empresas em multas, indenizações e acordos, além de gerar um ambiente mais propício a insatisfação de seus funcionários, o que pode impactar na produtividade e na qualidade de suas operações. Se por um lado esta constatação negativa preocupa, houve pequena redução de controvérsias do setor no tema Trabalhadores, enquanto notou-se que várias ocorrências são desdobramentos de fatos antigos que tramitaram em diferentes níveis da Justiça. O segundo tema mais recorrente no setor é o de Governança, com controvérsias em corrupção e fraude envolvendo as empresas JBS, BRF, Ambev e Marfrig. A única classificada como severa foi gerada pela BRF por suspeita de suborno. A Ambev constou na lista divulgada pelo MPF de empresas que contrataram serviços de consultoria do ex ministro José Dirceu, alvo de investigações por tráfico de influência. A JBS e a Marfrig foram mencionadas nas investigações relacionadas à CPI do BNDES. O porte das empresas reforça a necessidade de práticas mais transparentes e que reforcem seu compromisso com a ética. Por ter boa parte de seus consumidores no varejo, o tema Clientes também apresenta certa frequência, mas sem problemas muito graves. A maior incidência é em segurança e qualidade do produto envolvendo empresas do segmento alimentício, com suspeitas de contaminação de produtos. O tema de Meio Ambiente apresentou controvérsias sobre regularização ambiental de pecuaristas, fornecedores de frigoríficos monitorados no setor. A pressão da sociedade nos últimos anos e o monitoramento de adequação ao Código Florestal geram controvérsias devido ao fato de estas questões estarem na agenda da sociedade civil organizada, órgão fiscalizadores e mídia. Por outro lado, as empresas demonstram estarem comprometidas a evitar velhas práticas de fornecedores envolvidos com desmatamento ilegal.

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Energia

1 21 12 4

Muito Severo Severo Moderado Baixo

No setor de Energia, destacaram-se neste ano as controvérsias sobre o tema Governança, que respondeu por 63% dos casos.

Gráfico 14: Controvérsias de Energia por tema 2015 2013 vs 2014 vs 2015 40 30 3% 3% 20 21% Clientes 10 Governança 0 Meio ambiente 10% Trabalhadores 63% Comunidades

2013 (23 controvérsias) 2014 (49 controvérsias) 2015 (38 controvérsias)

Em 2015, ainda como reflexo do que começou a ser revelado em 2014, o setor apresentou uma série de controvérsias muito severas no tema Governança envolvendo a maior empresa do setor, a Petrobras. Casos de corrupção interna, fraudes em contratos com fornecedores e falta de transparência com investidores representam, segundo cálculos da própria companhia, prejuízos de pelo menos R$ 20 bilhões. Além dos impactos diretos, inicialmente percebidos, a desconfiança de investidores insatisfeitos com a omissão de informações descobertas pela Operação Lava-Jato se refletiu – e certamente se refletirá em 2016 – em novas controvérsias e futuros impactos para a companhia, que já percebe a dificuldade de captar recursos para seus investimentos anteriormente previstos. A saída da Petrobras do Índice Dow Jones de Sustentabilidade, ações de classe de investidores na justiça norte-americana e europeia e a revisão do rating da empresa no maior fundo soberano da Noruega – o maior do mundo em ativos – reforçam essa percepção. O segundo tema mais controverso no setor de Energia foi o de Trabalhadores, ao representar 21% das ocorrências. Novamente, a maior parte das controvérsias refere-se à Petrobras, com casos de negociações coletivas e sindicais, saúde e segurança ocupacional e violações às normas da OIT. Estas controvérsias demonstram que a estatal precisa manter um alto grau de atenção em seus procedimentos de segurança e destaca o poder de negociação de seus trabalhadores. Com 10% das controvérsias deste ano no setor está o tema Meio Ambiente, também com maior percentual de ocorrências da Petrobras, o que é natural pela extensão de suas atividades. Estas ocorrências tratam de questões sobre resíduos operacionais e de vazamento de substâncias tóxicas. As questões envolvem desde fatos tradicionais, como multas impostas pela Agência Nacional de Petróleo (ANP), como a necessidade de adaptação das empresas a um maior rigor, como revisão de postos de combustíveis sem licença ambiental.

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A Petrobras, no entano, não é a única a incorrer em controvérsias relacionadas com o vazamento de substância tóxicas. Um vazamento ocorrido nas instalações da Ultracargo no Porto de Santos-SP provocou um grave incêndio, sendo multada pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) e pela prefeitura local. Além disso, a empresa foi diretamente impactada pela paralisação de suas operaçõesm, além da possibilidade de a empresa ter obstáculos para obtenção de novas licenças de operação, com base no ocorrido.

Telecomunicações

6 16 6

Muito Severo Severo Moderado Baixo

Para o setor de Telecomunicações, o tema mais desafiador continua: Clientes. Com praticamente 90% das controvérsias do setor, o tema foi frequente para as três empresas monitoradas.

Gráfico 15: Controvérsias de Telecomunicações por tema

2013 vs 2014 vs 2015 2015 40 30 20 11% 10 0 Clientes Governança

89% 2013 (45 controvérsias) 2014 (23 controvérsias) 2015 ( 28 controvérsias)

O setor vem evoluindo na qualidade da prestação dos serviços, com forte atuação da Anatel, que monitora constantemente uma série de indicadores de desempenho das empresas, como a indisponibilidade de rede ou a disponibilização de bandas de conexão inferior às estabelecidas em contrato. Após a redução de controvérsias em 2014, que indicou uma adaptação das companhias às mudanças na regulação da Anatel ocorrida nos anos anteriores, o tema Clientes apresentou novo crescimento em 2015. Tal fato pode ser explicado pela decisão tomada pelas empresas de cortar o acesso à internet móvel de clientes cuja franquia atingisse o limite mensal, ao invés da usual redução da velocidade de conexão. Essa medida repercutiu negativamente, gerou diversas reclamações de consumidores e sua validade foi questionada pelos Procons e pelo Ministério da Justiça. De fato, as três companhias de Telecomunicações monitoradas na pesquisa tiveram em 2015 aumento do número de reclamações realizadas por consumidores nos Procons, conforme observa-se na tabela a seguir.

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Tabela 1: Quantidade de atendimentos nos Procons 7

Quantidade de Atendimentos (em mil) Empresas 2012 Evolução 2013 Evolução 2014 Evolução 2015 Oi Fixo/ Celular 120,3 63% 196,4 0% 196 2% 200,6 Vivo/Telefônica 44,0 70% 74,6 50% 111,8 48% 165,0 Tim/Intelig 32,3 33% 42,8 22% 52,4 39% 72,6 Setor de 1878,0 24% 2327,4 2% 2371,9 23,6% 2931,7 Telecomunicações

Para 2016, segue o desafio para as empresas do setor seguirem aumentando esforços a fim de melhorar a qualidade do atendimento da sua base de clientes.

Industrial

4 9 4

Muito Severo Severo Moderado Baixo

O setor Industrial, que reúne também empresas de transporte, logística e concessões rodoviárias, foi responsável por 6% das controvérsias de 2015. Pela considerável diferença entre os segmentos pertencentes a este setor, suas controvérsias são distribuídas em diferentes origens. O destaque negativo em 2015 se deu no tema Clientes¸ principalmente pelas empresas do segmento de transportes. Um terço das controvérsias reflete o ano difícil pelo qual passou a CCR, empresa responsável pela concessão de diversos serviços de transporte, com questionamentos de passageiros e órgãos reguladores como Agetransp e Procons.

Gráfico 16: Controvérsias de Industrial por tema 2013 vs 2014 vs 2015 2015 10 8 6 4 12% Clientes 2 35% Governança 0 24% Meio ambiente Trabalhadores 6% Comunidades 23%

2013 (8 controvérsias) 2014 (21 controvérsias) 2015 (18 controvérsias)

7 Fonte: Boletins do Sistema Nacional de Informações de Defesa do Consumidor (Sindec), que reúne os Procons de 26 estados, do Distrito Federal e de 336 municípios.

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O tema Trabalhadores apareceu com o segundo maior em número de controvérsias, concentradas nos sub-temas relações trabalhistas e negociações coletivas, principalmente pelas empresas de transporte aéreo. Mudanças regulatórias (como a proposta pela Agência de Aviação Civil a respeito de novos direitos e deveres de companhias aéreas e passageiros em caso de cancelamentos e atrasos) e a pressão da sociedade civil a respeito de contratos de concessão (especialmente no segmento de transportes) podem afetar o setor em 2016. Consumo Cíclico

4 2 2

Muito Severo Severo Moderado Baixo

O setor de Consumo Cíclico registrou este ano um número de controvérsias semelhante aos anos anteriores, mantendo também destaque para o tema Trabalhadores.

Gráfico 17: Controvérsias de Consumo Cíclico por tema 2015 2013 vs 2014 vs 2015 8 6 4 12% 2 0 Clientes Trabalhadores

88% 2013 (8 controvérsias) 2014 (7 controvérsias) 2015 (8 Controvérsias)

Praticamente a metade das controvérsias do setor se originou de dificuldades nas relações trabalhistas. Se por um lado, o resultado é esperado de acordo com o grau de intensidade em mão-de-obra da maior parte das atividades desenvolvidas no setor, por outro lado, chamam atenção casos severos incompatíveis com o nível de gestão esperado de empresas desse porte. Casos de trabalho análogo à escravidão envolvendo Cyrela e MRV indicam a necessidade de atenção da sociedade civil, sindicatos e Ministério Público do Trabalho à degradação das condições de trabalho. Além do ponto de vista humano, as empresas devem atentar-se ao impacto reputacional negativo e possível maior dificuldade na obtenção de crédito, diante da possibilidade de serem, por exemplo, enquadradas na Lista Suja do Trabalho Escravo8, cujo efeito está suspenso pelo Supremo Tribunal Federal, mas que manteve-se publicada, podendo ser utilizada por financiadores públicos (como Caixa e BNDES) e privados na análise socioambiental para concessão de crédito.

8 Saiba mais em: http://www.inpacto.org.br/trabalho-escravo/lista-suja/

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Tecnologia da Informação e Saúde As três empresas monitoradas do setor de Tecnologia da Informação não apresentaram nenhuma controvérsia, o que se deve em parte à baixa exposição do setor a temas ambientais, sociais e de governança. Do mesmo modo, o setor de Saúde não registrou nenhuma controvérsia em 2015. Isso decorre principalmente do perfil das companhias monitoradas, já que nenhuma delas é operadora de planos de saúde, segmento constantemente envolvido em controvérsias relativas ao tema Clientes.

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4. EMPRESAS MAIS CONTROVERSAS EM 2015 Por fim, são apresentadas as 10 empresas brasileiras com mais controvérsias em 2015. Das 100 empresas nacionais monitoradas durante o ano, 50 apresentaram controvérsias. Dez delas representaram 56,8% do total de controvérsias. A lista com todas as empresas citadas em controvérsias encontra-se no anexo. Tabela 2: Empresas mais controversas em 2015 Participação no Participação no Total Participação no Total Posição Total de Empresa de Controvérsias e de Controvérsias e em 2015 Controvérsias, Posição, 2014 Posição, 2013 2015 1o Petrobras 12,0% ▼ 17,2% (1o) 12,8% (2o) 2o Vale 9,2% ▲ 3,7% (10o) 1,2% (12o) 3o JBS 7,9% ▲ 7,5% (2o) 3,5% (8o) 4o Banco do Brasil 5,1% ▲ 4,5% (6o) 7,0% (4o) 5o Sabesp 4,5% ▲ 4,1% (7o) 1,2% (18o) 6o Eletrobras 4,1% ▼ 5,2% (3o) 4,7% (5o) 7o Oi 3,8% ▼ 4,5% (5o) 16,3% (1o) 8o Bradesco 3,8% ▲ 3,0% (13o) 3,2% (9o) 9o Tim 3,4% ▬ 3.4% (11º) 9,5 % (3o) 10o Santander 3,4% ▲ 2,2% (17o) 2,6% (11o)

A Petrobras figura em primeiro lugar com 12% dos casos registrados, sendo a única empresa do setor de Energia a figurar entre as 10 empresas mais controversas. Dos 36 fatos envolvendo a Petrobras, 67% são relacionados ao tema de Governança, indicando que as consequências da operação Lava Jato da Polícia Federal continuam a se refletir em controvérsias para a empresa. Os avanços das investigações e as novas descobertas de irregularidades forneceram novos fatos. Paralelamente, a empresa viu o caso se refletir em questionamentos de investidores e trabalhadores. A Vale, segunda colocada do ranking, tem como principal ponto fraco sua relação com Comunidades, decorrente do impacto negativo de suas atividades sobre a população no entorno. Isso representou 73% de suas controvérsias em 2015, a maioria relacionada aos impactos na comunidade devido ao grave incidente da Samarco. A JBS figurou em terceiro lugar, com pequeno aumento na sua participação do total de controvérsias do ano. A grande maioria dos casos da companhia (74%) está relacionada a questões de saúde e segurança dos trabalhadores. A quarta empresa com maior número de controvérsias foi o Banco do Brasil, voltando à mesma posição de 2013. Representa 5% das controvérsias em 2015, sendo estas igualmente distribuídas entre Governança, Trabalhadores e Clientes. Em quinto lugar está a companhia de saneamento Sabesp, cujas controvérsias têm uma tendência ascendente nos últimos anos. Após o grande aumento entre 2013 e 2014, devido ao ápice da crise hídrica no país, a Sabesp aparece em 2015 com mais de 4% do total de ocorrências, a maioria delas ainda relacionadas às dificuldades na gestão dos recursos hídricos.

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A Eletrobras, outra empresa de Serviços Públicos, incorreu em 12 controvérsias em 2015, destacando-se o tema Governança, responsável por metade destas ocorrências, em questões principalmente relacionadas à ética corporativa. A empresa de Telecomunicações Oi, que em 2013 liderou o ranking, segue melhorando sua performance, atingindo em 2015 a sétima posição com 11 ocorrências, sendo estas em sua maioria relacionadas a clientes (mais de 80%). O Bradesco teve o mesmo número de ocorrências, mas com menor grau de severidade. A maioria de suas controvérsias ocorreu no tema Trabalhadores (com mais de 45% de controvérsias neste tópico). Na nona posição está a Tim, que tem retrospecto semelhante ao da Oi: estabilidade na participação do total de controvérsias com relação a 2014, após uma queda do percentual em comparação a 2013. Assim como a concorrente, praticamente todos os casos foram relativos a Clientes (90%). Por fim, com o mesmo número de controvérsias da Tim, mas severidade menor, aparece outro banco, o Santander, com ligeiro aumento em relação a 2014. A maior severidade ocorreu em questões relativas a Governança e a maior frequência de controvérsias se deu em temas que costumam se destacar no setor de Serviços Financeiros: Trabalhadores e Clientes, com 40% cada.

Gráfico 18: Distribuição de frequência e severidade das 10 empresas mais controversas em 2015

40

Petrobras

30 Vale

JBS 20 Banco do Brasil

Frequência Sabesp Bradesco Eletrobras 10 Santander Oi Tim

0 0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 Severidade (a)

27

ANEXO – TOTAL DE EMPRESAS COM CONTROVÉRSIAS EM 2015

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

Vale (27) 9 6 10 2 Petrobras (35) 1 21 10 3 BTG Pactual (1) 1 JBS (23) 7 14 2 Oi (11) 4 4 3 BRF (8) 3 3 2 Suzano (3) 3 Eletrobras (12) 2 7 3 Tim (10) 2 7 1 Copel (4) 2 2 Light (4) 2 2 Eletropaulo (3) 2 1 Bradesco (11) 1 7 3 Sabesp (13) 1 6 6 Santander (10) 1 6 3 Cemig (7) 1 6 Itaú (9) 1 5 3 CCR (6) 1 4 1 Ambev (4) 1 3 Gerdau (4) 1 2 1 Tam (3) 1 1 1 Cyrela (2) 1 1 Fibria (2) 1 1 (2) 1 1 Brookfield (1) 1 Copasa (1) 1 Embraer (1) 1 Marcopolo (1) 1 MRV (1) 1 Banco do Brasil (15) 10 5 Telefônica/Vivo (7) 5 2 CSN (6) 5 1 Usiminas (5) 5 Marfrig (5) 4 1 Braskem (5) 3 2 CPFL (4) 2 2 Pão de Açúcar (3) 2 1 ALL Logística (2) 2 Iguatemi (2) 2 Minerva (2) 2 Caixa (4) 1 3 Gol (3) 1 2 (2) 1 1 CESP (1) 1 JSL (1) 1 Magazine Luiza (1) 1 Ultrapar (1) 1 Celesc (1) 1 Via Varejo (1) 1 Votorantim (1) 1

Muito Severo Severo Moderado Baixo

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