Para Além Dos Jogos De Futebol a Reestruturação Das Cidades Para a Copa De 2014 E a Marca Brasil
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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo ANY BRITO LEAL IVO Para além dos jogos de futebol A reestruturação das cidades para a Copa de 2014 e a marca Brasil Salvador – Bahia 2012 UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo ANY BRITO LEAL IVO Para além dos jogos de futebol A reestruturação das cidades para a Copa de 2014 e a marca Brasil Professora Dra. Odete Dourado (Orientadora) Salvador – Bahia 2012 ANY BRITO LEAL IVO Para além dos jogos de futebol A reestruturação das cidades para a Copa de 2014 e a marca Brasil Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal da Bahia, como parte dos requisitos para obtenção do título de Doutor. Professora Dra. Odete Dourado (Orientadora) Salvador – Bahia 2012 ANY BRITO LEAL IVO Para além dos jogos de futebol A reestruturação das cidades para a Copa de 2014 e a marca Brasil Salvador, 04 de abril de 2013 Doutora Angela Franco Doutor Antônio Heliodório Sampaio Doutora Odete Dourado (orientadora) Doutor Pasqualino Magnavita Doutor Paulo Fábio Dantas Neto A meus pais. AGRADECIMENTOS A Profa. Dra. Odete Dourado pelos ensinamentos e orientações, por sua amizade e generosidade, demonstradas nos momentos mais difíceis. Aos Professores Dra. Angela Franco, Dr. Antonio Heliodório, Dr. Pasqualino Magnavita e Dr. Paulo Fábio Dantas Neto pelas sugestões e críticas sensatas. A meus professores do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo – PPGAU. Aos amigos e colegas do PPGAU pela amizade, estímulo e interesse. CARTA DO IMPERADOR VESPASIANO (41 d.C.) PARA SEU FILHO TITO (79 d.C.) 1 22 de junho de 79 d.C. “Tito, meu filho, estou morrendo. Logo eu serei pó e tu, imperador. Espero que os deuses te ajudem nesta árdua tarefa, afastando as tempestades e os inimigos, acalmando os vulcões e os jornalistas. De minha parte, só o que posso fazer é dar-te um conselho: não pare a construção do Colosseum. Em menos de um ano ele ficará pronto, dando-te muitas alegrias e infinita memória. Alguns Senadores o criticarão, dizendo que deveríamos investir em esgotos e escolas. Não dê ouvidos a esses poucos. Pensa: onde o povo prefere pousar seu clunis: numa privada, num banco de escola ou num estádio? Num estádio, é claro. Será uma imensa propaganda para ti. Ele ficará no coração de Roma per omnia saecula saeculorum, e sempre que o olharem dirão: ‘Estás vendo este colosso? Foi Vespasiano quem o começou e Tito quem o inaugurou’. Outra vantagem do Colosseum: ao erguê-lo, teremos repassado dinheiro público aos nossos amigos construtores, que tanto nos ajudam nos momentos de precisão. ‘Moralistas e loucos dirão, que mais certo seria reformar as velhas arenas. Mas todos sabem que é melhor usar roupas novas que remendadas. Vel caeco appareat (Até um cego vê isso). Portanto, deves construir esse estádio em Roma. Enfim, meu filho, desejo-te sorte e deixo-te uma frase: Ad captandum vulgus, panem et circenses (Para seduzir o povo, pão e circo). “Esperarei por ti ao lado de Júpiter”. PS: Vespasiano morreu no dia seguinte à carta. Tito não inaugurou o Coliseu com um jogo de Copa, mas com cem dias de festa. Tanto o pai quanto o filho foram deificados pelo senado romano. 1 Texto publicado na Folha de São Paulo (http://www1.folha.uol.com.br/ fsp/esporte/fk2210201107.htm) RESUMO Essa tese visa refletir sobre o modo como os grandes fluxos financeiros e empreendimentos das corporações internacionais atuam no território dos Estados nacionais, na reestruturação das escalas territoriais de poder, pela mobilização de vetores simbólicos da “marca país”. Essa reestruturação produz novos dilemas para a gestão das cidades e sua autonomia, essa última dependente da capacidade de a cidadania remodelar e formular projetos próprios, que atendam aos interesses da maioria da polis. A análise desse processo toma como referencial empírico as obras e intervenções físicas preparatórias nas cidades-sede que abrigam a Copa de 2014, no Brasil, e o dispositivo simbólico, da national-brand , na construção de uma imagem do país, que opera uma ressignificação das cidades e sua cultura como espaço estratégico do mercado global, movimento pelo qual o Estado-nação passa a gestor de uma imagem corporativa “nacional” articulado a grandes agentes econômicos globais. Esse processo revela a complexidade na delimitação de fronteiras claras entre as instâncias de poder político e econômico e da relação entre o público e o privado. Explora, portanto, as relações paradoxais resultantes da reconfiguração urbana nas cidades-sede dos jogos da Copa que reafirma uma imagem nacional do Brasil contemporâneo, fundada em estratégias comunicacionais de gestão da imagem do país, num mundo globalizado. Pensar o Estado-nação nesse novo contexto, como protagonista dos processos de reconfiguração urbana para o “evento mundial”, revela, em parte, mudanças na natureza do Estado nacional, orientado segundo critérios estratégicos de uma “corporação” competitiva, inserida na dinâmica do mercado global contemporâneo entre as cidades. Se tal estratégia permite aos países competirem na atração de investimentos econômicos, dinamizando a vida econômica nacional e local, o imperativo desses critérios empresariais sobre as condições de vida, a formação da identidade e a cultura locais, pode envolver também riscos para a autonomia política das cidades; as prioridades da agenda local e redefinir limites na capacidade de agir e definir os rumos das políticas públicas locais, subordinando muitas vezes a agenda das cidades aos processos estratégicos de comunicação e imagem externa do país como grande player internacional. Esse movimento de reestruturação das cidades em função dos grandes empreendimentos intervém na formação do espaço público, produzindo uma legitimidade dos dispositivos do mercado, sobre as disposições institucionais e políticas do aparelho de Estado que afeta o direito dos cidadãos à cidade. A análise aqui empreendida traz alguns subsídios para a compreensão desses processos de forma a aclarar como opera esse processo de reconversão da esfera pública e de funcionamento do Estado aos os princípios e valores da cultura gerencial de empresas, assentadas numa racionalidade técnica e numa razão de mercado sobre a esfera pública, na gestão de cidades e países. Para o entendimento e explicação dessa dinâmica, considera-se a cidade, nesse trabalho, como produto determinante da reprodução capitalista. Essa perspectiva faz da sua “destruição criativa” (SHUMPETER, 1942) a força motriz de reprodução do capital na era de acumulação flexível, atribuindo, portanto, à “máquina de crescimento urbano” (LOGAN; MOLOTCH, 1987), novos significados. Esses extrapolam as teses das cidades como meio produtivo e de “mais valia urbana” (HARVEY, 2009; LEFEBVRE, 1994), e consideram a inovação e a reconfiguração urbanas como processos que englobam a “obsolescência programada” das cidades (LONDON, 1932) e elementos propulsores da economia e do desenvolvimento urbano. Sob essa perspectiva, o novo paradigma do nation-brand é defendido no contexto das cidades e explicita as transmutações do Estado nacional, no contexto neoliberal, para assumir um papel estratégico de um “novo capitalismo de Estado”, no qual operam-se novas formas de articulação entre as forças econômicas, políticas e simbólicas, redefinindo as relações entre a instância do Estado nacional e as agências e corporações transnacionais, com riscos implícitos para a autonomia das instâncias nacionais e locais. O papel do Executivo nas diversas instâncias, quanto às estratégias e compromissos do empreendedorismo cultural (que entende mercado como cultura), voltados para tornar o país competitivo no mercado, pode envolver retrocessos no princípio de autonomia e democracia das cidades e obstar a efetiva participação da cidadania nas definições de usos das cidades. Por exemplo, sob o “imperativo da urgência” no cumprimento da agenda acordada pelas diversas esferas de governo com organismos internacionais para a realização do Mundial de futebol em 2014, emergem novos agentes com poder de pressão sobre as instâncias executivas e introduzem-se processos e modelos de gestão que implicam alterações legais e simbólicas na gestão do país e das cidades. Para além da Copa de 2014, ou seja, para além da discussão de um empreendimento específico, a o exemplo dos jogos mundiais, as recentes transformações do Estado nacional conduzem a um maior fortalecimento da esfera federal em detrimento das unidades subnacionais. Tal fato redefine novos quadros de forças entre agentes local, nacional e os interesses das corporações internacionais, que afetam os princípios constitucionais da autonomia das cidades e o processo de descentralização e democratização das decisões no espaço local. É com essas preocupações e observando a aplicação desses novos princípios do planejamento estratégico que busco analisar, como “as cidades” brasileiras, na contemporaneidade, podem se constituir em produtos legitimadores de uma imagem nacional competitiva internacionalmente. Ou, num outro sentido, como a “imagem do Brasil” pode justificar intervenções urbanas do ponto de vista dos interesses de mercado, legitimando, ao mesmo tempo, uma “ideia de nação” positiva e forte no âmbito mundial, reconhecida internacionalmente como o “Brasil que decola” – “Brazil takes off ”. Palavras-chave: cidade, megaeventos, Nation -brand, Copa 2014, Estado. SUMÁRIO Introdução