Se Algo Marca a Globo Desde a Sua Fundação É a Capacidade De Atrair E Reter Os Profissionais De Maior Talento
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Se algo marca a Globo desde a sua fundação é a capacidade de atrair e reter os profissionais de maior talento. As equipes aqui são as melhores hoje como foram ontem e como certamente serão amanhã. Porque os melhores profissionais procuram as melhores empresas e as melhores empresas procuram os melhores profissionais, uma coisa potencializando a outra. Basta que a gente se lembre de quem passou por aqui (as pessoas com quem aprendemos), basta olhar para quem está hoje aqui (ensinando e aprendendo), basta olhar para quem acabou de chegar (aprendendo, mas ensinando também, no mínimo com o modo de agir e pensar das novas gerações). É um movimento bonito. Mas não é nunca fácil quando chega o momento de quem fica se despedir de colegas que se vão depois de uma trajetória tão longa quanto cheia de êxitos. A emoção é grande, sempre. Nesses momentos, me alegra enfatizar o movimento que mencionei: os que vão aprenderam com os que aqui estavam e ensinaram aos que ficam de tal modo que o jornalismo que praticamos continua sempre de altíssima qualidade. Porque é e continuará a ser sempre fruto da mistura entre os mais e os menos experientes. Parte fundamental do sucesso dos companheiros que saem é ter ajudado a preparar os que ficam. Como conversado com eles há meses, Maria Thereza Pinheiro, a nossa Terezoca, Teresa Cavalleiro, Cristina Piasentini, Silvia Sayão, Meg Cunha, Marco Rodrigues, o nosso Bodão, e Luiz Fernando Silva Pinto deixam a Globo no dia 31 de dezembro. Até lá, seguem normalmente nos cargos, concluindo projetos muito importantes. Conto a seguir um pouco a trajetória de cada colega, sem dúvida para homenageá-los, mas também para mostrar a todos nós como é bela e digna a nossa profissão. E também como inspiração para que construamos as nossas carreiras à altura da que eles construíram até aqui (e que continuarão a construir de outro modo). Terezoca Terezoca entrou na Globo no início dos anos 80, pouco depois de se formar na USP. Começou no Globo Rural, foi para o Jornal Hoje e, já em 1982, enfrentava o desafio de participar das primeiras eleições diretas para governadores depois do golpe de 1964. Até aquele momento, Terezoca se dividia entre a Folha de S. Paulo e a Globo. Depois daquela cobertura, abraçou de vez o telejornalismo. Ajudou a implantar a TV Tem, participou da enorme cobertura da doença e morte do presidente-eleito Tancredo Neves, foi editora-chefe dos SPTVs. E editou o Globo Repórter, onde fez reportagens pioneiras, muitas delas antecipando temas hoje cruciais. Como a violência contra a mulher, a depressão, violência contra crianças. Desde 2002, trabalha muito perto de mim, uma parceria que só me trouxe felicidade, boas experiências e uma amizade que vamos levar para o resto da vida. Ela e Teresa Cavalleiro, como diretoras de Projetos Especiais, desde aquele ano ajudaram a tornar realidade quase todas as novidades que o jornalismo levou ao ar, especialmente em anos de eleição. Caravana JN, JN no ar, O Brasil que eu quero para o futuro, além de garantirem a qualidade dos debates entre candidatos. Há dois anos, Terezoca passou a liderar o Memória Globo, antes em mãos de sua parceira Teresa Cavalleiro, e, bem ao seu estilo, deu-lhe um novo site e mais dinamismo. Ao longo desses anos, Terezoca foi uma excelente conselheira, daquelas que falam o que pensam, opinam com franqueza, discutem com muita abertura. Vai continuar a ser. Ela não tem o menor problema em me contrariar, em nome da franqueza. Eu sou sempre franco também, mas não ouso contrariá-la. Sendo franco: dada a proximidade, meu depoimento sobre ela seria substancialmente mais longo. Mas ela me disse: “Se você fizer um textão para mim, nunca mais falo com você, é um pedido meu”. Não vou arriscar mais do que já fiz aqui. Teresa Cavalleiro Quando ela chegou à Globo, em 1978, na primeira turma de estagiários do Jornalismo da Globo, idealizada por Alice-Maria, ainda se usava lauda de papel. E o espaço para o nome do editor, no alto da página, era pequeno – só comportava 4 letras. Nasceu daí, o apelido que ficou para sempre: Tcav. A turma de estagiários se dividiu entre a “escuta” e a reportagem. Teresa Cavalleiro foi a única que foi direto pra edição, começando pelo Jornal da Globo e indo logo depois para o Jornal Hoje. Foram meses de muito aprendizado até a contratação, em setembro de 1979, quando virou editora do então Jornal das Sete, hoje o RJ-2. Em pouco tempo passou a fechar o jornal e, quando acabava, ainda corria para editar uma matéria do Rio pro JN, quase sempre de Glória Maria. Em 1984, aos 26 anos, aceitou um convite para montar, do zero, a estrutura de jornalismo da recém-criada Rede Globo Oeste Paulista, com sede em Bauru. Depois de um ano e meio sem férias, a missão estava cumprida. Avisou a direção de Jornalismo no Rio, que pediu que ela se apresentasse, já na semana seguinte, ao Globo Repórter. Começava ali um longo período sob a direção de Jorge Pontual. Nos primeiros quatro anos, viajou pelo Brasil e o mundo, dirigindo reportagens feitas por Sandra Passarinho, Pedro Bial, Ilze Scamparini, Glória Maria, Caco Barcellos, entre outros. Em 1989, inquieta,Teresa deixou a Globo para outras aventuras, mas em 1991, já estava de volta à casa como chefe de redação do Globo Repórter. No cargo (Silvia Sayão era então a chefe em SP), enfrentou, com a equipe, algumas maratonas que resultaram em programas inesquecíveis, não só para ela mas também para o público: as homenagens a Tom Jobim e Ayrton Senna, em 1994 e o programa sobre a morte da Princesa Diana, em 1998. No mesmo ano, recebeu convite de Carlos Henrique Schroder para se tornar chefe de redação da editoria Rio. Era uma volta ao factual, onde tudo havia começado. Dois anos depois, Alice-Maria a convidou para integrar uma nova diretoria, de Entretenimento, grupo pequeno formado também por Vera Íris Paternostro e Ronan Soares, que tinha a missão de fazer uma ponte entre os programas de Entretenimento e o Jornalismo. E já no começo ajudaram a implantar o Altas Horas, o núcleo de jornalismo do Mais Você e do Programa do Jô. No começo de 2002, Teresa passou a ser diretora de Projetos Especiais, deixando o hard news. Nessa função, começou a estruturar a área de internet e mídias sociais no Jornalismo. Cabia a ela gerir as páginas dos telejornais no ambiente virtual da Globo, no início da popularização da internet no Brasil. Os conteúdos da TV e da web ficaram cada vez mais integrados até o surgimento do G1, hoje líder de audiência no setor. Dividiu com Terezoca todos os projetos especiais ligados às eleições que mencionei e, também juntas, fizeram os programas Os Brasileiros e Globo Mar, este, por quatro temporadas. De 2014 a 2019, dirigiu o Como Será, um sucesso das manhãs de sábado. E mais recentemente participou da montagem e realização, em poucos dias, do Combate ao Coronavírus, um desafio que só a experiência e a disciplina poderiam enfrentar. Também nessa função, passou a coordenar a cobertura do Carnaval no Rio e a participação do Jornalismo no Criança Esperança (mas, considerando toda a sua história na Globo, são mais de 30 carnavais e quase 20 “Criesp´s”). E desde 2005 dirige nossas transmissões do Oscar. Não é de tirar o fôlego? E Teresa fez tudo isso sem perder a calma. Nesse mundo caótico que é o jornalismo, é um oásis de organização, sem perder o entusiasmo e a criatividade. Uma colega querida, uma profissional completa, nas mãos de quem tudo dá certo. Cristina Piasentini O Jornalismo quase perdeu Cristina Piasentini para o curso de História. Mas, para nossa sorte, foi no nosso ofício que ela construiu a sua belíssima história profissional. Cris cursou 2 anos de História na USP, mas abandonou o curso e se formou em jornalismo, já como estagiária da TV Tupi, em 1979. Passou por outras emissoras, fez especialização na Universidade de Navarra, voltou, trabalhou ainda em concorrentes da Globo até aportar aqui em 1987 como coordenadora de produção da editoria São Paulo. No ano seguinte, fez sua primeira grande cobertura: as eleições da prefeitura de São Paulo, que deram a vitória a Luiza Erundina. E, já em 1989, Piasentini assumiu a coordenação do Jornal Nacional em São Paulo e de lá participou da cobertura das primeiras eleições presidenciais depois do golpe de 1964. A cobertura do Plano Collor, em março de 1990, foi outro de seus grandes desafios. O presidente, empossado, anunciou o “confisco da poupança” numa coletiva confusa, em que ficou claro que nem o governo sabia das minúcias do próprio plano econômico. Cris estava na equipe que, nos bastidores, ajudou Lilian Witte fibe e Joelmir Beting a tentar entender o que acontecia em Brasília e traduzir para o espectador. Foi um dia inteiro no ar, com transmissões de coletivas e muitas entrevistas em estúdio, um trabalho incessante. Em 1991, Cris começou uma nova fase na Globo, fora do hard news: foi para o Globo Repórter, onde passou 13 anos, como editora e depois como chefe de redação em São Paulo. Foram incontáveis programas de qualidade. Cito apenas dois. “Extermínio de Menores’, que ela dirigiu em 1995, uma investigação que reuniu todos os boletins de ocorrência policial de um determinado período para mostrar que as investigações são poucas e falhas, o que acaba deixando os criminosos impunes e as vítimas sem Justiça. Ganhou o Prêmio Vladimir Herzog na categoria “Melhor reportagem para TV”. O segundo, o que mostrou o primeiro Quarup para um homem branco, Orlando Villas Boas.