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Jason Moran and the Bandwagon

Jazz 22 de fevereiro 2013

Jason Moran and The Bandwagon © Patrick McBride quisesse ir mais além e sempre quem Este posicionamento vem tendo uma tem no seu riquíssimo vocabulário ao fizesse questão de recuar. Por exemplo, multiplicidade de implicações, também piano e na sua escrita multifacetada e se a década de 1960 foi revolucionária, elas contribuindo para a desmontagem retro-futurista para o Bandwagon, trio impondo-se novos entendimentos e do que parecia ser o grande paradoxo com e que novas práticas musicais, já a de 80 foi de do e o seu drama (com encenação alude a um filme estrelado por Fred preservação do património adquirido. no aceso diálogo de Braxton e Marsalis Astaire e que agora se apresenta nesta A célebre polémica entre Anthony acima referido). Uma é o definitivo visita a Lisboa, 13 anos após a sua estreia Braxton e Wynton Marsalis indicou, derrube do conceito de “vanguarda”, e três depois da publicação de Ten, a muito simplesmente, que o tempo não que implicava a existência de uma obra-prima do projeto. é um fluxo contínuo e uniforme em suposta retaguarda, não havendo Estão em evidência, ainda, nas direção ao que vem depois, mas sim um argumentos suficientes para distinguir surpreendentes e pouco ortodoxas rio em que duas correntes se contra- os que “vão à frente” dos que “ficam versões que gravou e que toca ao vivo riam, uma descendo até ao estuário, na atrás”, até porque estes últimos, regra de Monk, como não podia deixar de ser, procura de um futuro distinto, outra geral, não seguiam os batedores. Outra de e de Andrew Hill, seus subindo com esforços de truta para é a morte da noção de mainstream, para professores, de tocado com redescobrir no passado a fonte original. mais numa altura em que a economia um Fender Rhodes, em parceria com a Até que, no final dos anos 1990, surgiu tratou de tirar o jazz das autoestradas cantora soul , de um pianista sobredotado de nome da cultura – ou o que passa por esta na , compositor para a curto e facilmente memorizável, Jason ideologia do entretenimento. mecânica pianola que furava o papel em Moran, e com ele outros tantos jovens Jason e a sua geração destacaram-se, vez de desenhar fás e si bemóis, ou de músicos com uma perspetiva diferente precisamente, por incorporar nas com- Afrika Bambaataa, pioneiro do rap. das coisas. Seja por ingenuidade, um posições elementos vindos tanto das Juntou tudo, também, na curiosa Sex 22 de fevereiro fator que até é bem mais positivo do que práticas experimentais como do âmbito incursão que fez pela transposição das 21h30 · Grande Auditório se julga, ou por visionarismo totalmente da pop, colocando de lado antigos modulações da fala para a música, ins- Duração: 1h30 · M3 consciente e voluntarioso, o que agora preconceitos separatistas relativamente piradas nas mimetizações do canto dos pouco importa considerar, Moran vem às condições “erudita” e “popular” que pássaros operadas por Olivier Messiaen, Piano Jason Moran Guitarra baixo Tarus Mateen demonstrando com o seu próprio exem- colocavam o jazz na esquizofrénica assim entrando num estreito rol de Bateria Nasheet Waits plo que não só o futuro inclui o passado situação de ambicionar o estatuto da transladadores vocais em que figuram de alguma maneira como, inclusive, que primeira, num processo de gradual Steve Reich, Paul DeMarinis, Hermeto no passado o futuro já estava delineado. intelectualização, apesar do seu berço Pascoal, Frank Zappa, Renée Lussier e O terceiro olho Ou seja, a água do rio é sempre outra, na segunda. Ben Neill. mas também sempre a mesma: água. Entre uma especial devoção pelo con- Esta predisposição para a transversa- Não obstante a sua permanente capa- A arte pianística de Jason Moran traponto de Bach (que, como já disse, lidade levou Jason, inclusive, a buscar cidade de reinvenção, o campo do jazz resulta de um estudo profundo da «teria gostado de ver e ouvir a improvi- referências fora da música, designa- não se distingue dos demais aspetos da história do jazz desde as suas origens no sar»), um entusiasmado interesse pelas damente na pintura, em artistas como criatividade humana quando social- stride e é precisamente com base nesse fórmulas rítmicas repetitivas do hip-hop Jean-Michel Basquiat, e mente considerados. Na sua história, conhecimento, não na sua negação, e uma paixão pelos fraseados quebrados Robert Rauschenberg, e na performance, mas sobretudo nos específicos períodos não em rutura ou em conflito, que vem e com poucas notas («menos é mais», na dança e na vídeo-arte, áreas em que, em que uma ou outra das forças em construindo uma abordagem inovadora, sustenta) de , Jason de resto, colaborou com Alonzo King, presença predominou, determinando exploratória e de pesquisa das mais Moran não quis fazer opções: juntou , Kara Walker, um paradigma, houve sempre quem inéditas possibilidades. tudo. Todas essas dimensões coexis- e . O espetáculo interme-

2 3 dia In My Mind: Monk at Town Hall, Björk, e integrar numa mesma lógica , o baixista do primeiro Jason Moran and The Bandwagon 1959 foi uma das consequências. Nele discursiva as síncopes balançantes de período elétrico de Miles Davis, Kenny não procurou reproduzir a música de James P. Johnson com as polirritmias do Barron, o pianista mais lírico do be bop, Em 1999, no mesmo ano em que saiu Thelonious Monk nesse lendário con- “caos-como-ordem” de Cecil Taylor não e Charles Lloyd, um sobrevivente do o primeiro disco de Jason Moran, certo, mas sim relatar o processo que são, à partida, combinações plausíveis, flower power jazzístico a cuja banda prin- Soundtrak To Human Motion, o jovem nele resultou. Se o “edifício” já era do mas o certo é que explicam o fenómeno cipal (não a que se apresentará em março pianista e compositor prodígio (na altura conhecimento público, graças ao disco Jason Moran. para a celebração do 75.º aniversário com 24 anos), também se juntou ao em que o mesmo ficou documentado, o E não se trata apenas de um recei- do saxofonista) Jason Moran pertence grupo New Directions, uma banda for- que fez foi revelar os alicerces. tuário de aplicação nas deambula- enquanto sideman. Na perspetiva deste mada por jovens estrelas que gravavam Costuma afirmar este defensor de ções do grupo de Moran, seja no seu recém-estreado programador, «é preciso para a Blue Note e que nessa altura fize- uma leitura não-Monk do songbook formato original, seja em quarteto (já ter do canon do jazz uma visão alargada». ram uma digressão comemorando o 60.º monkiano: «Quando se toca um tema de se fez acrescentar por e por Entretanto, Jason organizou sessões aniversário da célebre editora. No centro Thelonious Monk é como se ficássemos ), em quinteto (com a mistas de jazz com comédia, na repo- dos New Directions estava a génese de possuídos. Temos de quebrar o feitiço. junção de e Abdou Mboup) sição de uma realidade que remonta ao uma secção rítmica – com Moran, o bai- Temos de recordar que somos indiví- ou em dimensão orquestral, enquanto vaudeville e que, hoje, poderá contribuir xista Tarus Mateen e o baterista Nasheet duos, que não somos o Monk.» Big Bandwagon. Em exercício como para que este género de música não se Waits – que viria a autonomizar-se e A vocação transdisciplinar deste consultor da programação de jazz (leia- leve demasiado a sério. E porque há a tornar-se um dos mais duradouros e natural de , no Texas, implica o -se: curador) do Kennedy Center, em questões que devem ser encaradas com criativos trios de . recurso à tecnologia, mas se esta influi Washington DC, desde outubro de 2012, maior sobriedade promoveu, igual- Dez anos depois, o trio percursor – na sua música, sobretudo mediante a o «mais provocativo pensador do jazz mente, a série Election Night, asso- que Moran chamou The Bandwagon inclusão de citações eletrónicas (como atual», segundo a revista Rolling Stone, ciando o jazz político ao baladismo folk – entrou nos Avatar Studios, em um feedback de guitarra produzido segue exatamente os mesmos princípios. de campanha e à eletrónica de funda- Manhattan para gravar Ten (2010), por em Monterey), mais Pela sua mão, já lá estiveram o mentação hip-hop. o mais sólido e rigoroso álbum da uma vez o minimalismo dos processos “vanguardista” Anthony Braxton, um É este representante de uma terceira muito elogiada carreira de Moran, um se impõe: em vez de um computador dos representantes do jazz que ainda via de compreensão da natureza e do instantâneo de uma banda madura, com portátil ou de um teclado MIDI, é um se atreve a dançar, Eddie Palmieri, e papel do jazz que vamos ter entre nós. uma década de partilha de experiência minidisc retirado do bolso que serve um trio que professa um semelhante Quando entrar no palco com os seus musical. a Jason Moran para disparar os “sons (relativamente à fórmula Bandwagon) companheiros de missão imaginemo- “Ten foi a nossa primeira gravação encontrados” de que faz frequente uso. atravessamento de fronteiras, Medeski, -lo estrábico, porque o é de facto, ainda que não assentou na construção de um O minidisc de Jason é, de resto, sim- Martin & Wood. Aliás, e já que se aludiu que não de aparência: com um olho conceito. O único conceito foi: nós, bólico, porque a atitude do músico face à dança, uma das primeiras iniciativas mira o que foi e com o outro o que virá. como banda, hoje”, disse Moran. “Como ao que tem a fazer é a de uma criança de Moran foi transformar o átrio do E porque o que vai ocorrer diante de fomos evoluindo ao longo de dez anos, ao lidar com um brinquedo (ou com um Kennedy Center no que designou por nós é a transição ritual entre esses dois há um certo à-vontade com que hoje estojo de química – escreveu um crítico Supersized Jazz Club, com pista para a tempos, perceberemos depressa que funcionamos, uma facilidade em deixar que o autor de Gangsterism funciona dita, bar, mesas altas e apenas uns sofás Jason Moran é o terceiro olho, aquele a música ser. Em alguns dos meus como se misturasse um ácido com outro e cadeiras em localizações laterais. A que lhe vemos nascer no meio da testa primeiros discos, tentava assegurar-me para verificar o que acontece, e o que inauguração foi com a sua Fats Waller à medida que a música desce e sobe o de que estava a expor as minhas ideias, acontece é uma maravilhosa explosão). Dance Party, o que muito significa. seu curso. o resultado da minha reflexão. Agora Jogar uma leitura de um dissonante Para breve, estão marcadas atuações abstemo-nos de saltar para qualquer épico como Prokofiev com uma cover de “históricos” ainda a mexer, como Rui Eduardo Paes janela de oportunidade musical, mas da mais requintada cultora da canção, Lonnie Smith com o seu Hammond B-3, Crítico de música, ensaísta apenas para as boas janelas.”

4 5 The Bandwagon gravou o primeiro Os críticos reunidos pela Revista Próximo espetáculo disco como trio, , em 2000. Downbeat consideraram Ten como Foi a base da maioria das posteriores melhor álbum do ano e Jason Moran “afirmações” (statements) artísticas “Jazz Artist” e pianista do ano. de Moran. O trio foi aumentado com o Moran tocou e/ou gravou com Ballister saxofonista Sam Rivers no álbum Black artistas como , Wayne Ciclo “Isto é Jazz?” Stars (2001) (considerado um dos 50 Shorter, Charles Lloyd, Dave Holland, discos mais importantes da década Marian McPartland, , Joe Comissário: Pedro Costa pela JPR, reputada cadeia de rádio não Lovano, , , Von comercial propriedade da Universidade Freeman, Andrew Hill (duo), Uri Caine Jazz Qua 27 fevereiro de Southern Oregon), e com o guitar- (duo), , Sam Rivers, Lee Pequeno Auditório · 21h30 · Dur. 1h · M3 rista Marvin Sewell na gravação de Konitz, , Chris Potter, Jenny (2005), uma exploração Scheinman, Christian McBride, Stefon em torno dos blues, bem como no Harris. Saxofones alto e tenor Dave Rempis Violoncelo Fred essa outra referência misturando-se registo de Artist in Residence (2006), A sua música está representada Lonberg-Holm Bateria Paal Nilssen-Love com a ideia de vanguarda enraizada na uma coletânea de encomendas a Moran nas coleções do MOMA e do Whtney tradição de um Julius Hemphill, sobre- de instituições artísticas que também Museum of American Art. Criou a O conceito de power trio é originário do tudo na fase em que este integrou um contou com as colaborações da soprano música de um ballet para a Companhia rock, mas este grupo sediado em Chicago violoncelo, o de Abdul Wadud, nos seus Alicia Hall Moran (mulher de Jason) e LINES Ballet de Alonzo King e para tra- adota por inteiro a sua energia e ao fazê- parâmetros composicionais, e com o do artista conceptual Adrian Paper. balhos de vídeo dos artistas contempo- -lo adapta a configuração guitarra-baixo- melhor que os equacionamentos do jazz A Revista Rolling Stone disse de râneos americanos Glenn Ligon e Kara -bateria para a realidade do jazz. com o rock (e com o funk, um padrão Moran que era o mais estimulante Walker. Moran também trabalhou com À frente está não um guitarrista, sempre vivo no que respeita aos precei- “pensador” no jazz atual, e em Mateen e os artistas visuais e performativos Joan mas Dave Rempis e os seus saxofones, tos groovy) ofereceram no passado, do Waits ele encontrou os seus companhei- Jonas e Adrian Piper. Recebeu vários alguém que é um dos programadores Miles Davis elétrico aos Prime Time de ros ideais, duas vozes que se distinguem prémios. de um dos mais importantes even- Ornette Coleman. nos seus instrumentos, que são per- tos do rock indie, o Pitchfork Music Com tal “bagagem”, a música destes manentemente criativas, e partilham a (a partir de informação fornecida pela Festival. As funções da guitarra e do Ballister só podia ser o que é: livre, mente aberta de Moran e a diversidade editora Blue Note e recolhida no site do baixo estão a cargo do violoncelista barulhenta e agressiva, com rítmi- de influências recebidas, não só para lá artista http://jasonmoran.com) Fred Lonberg-Holm, e se bem que este cas desestruturadas, mas invasivas, e do jazz, na música clássica e no hip-hop, seja o único a recorrer à eletricidade, o surpreendentes interjeições melódi- mas também para além da música, na que faz com a dita chega e sobeja para cas irrompendo pelo magma sonoro arte, no cinema, na dança, no teatro. Em as ilações roqueiras. A bateria está, por quando nada o faria supor. Uma música mais de dez anos o trio desenvolveu um sua vez, entregue a um homem, Paal muito física, mas com um “sentido nível intuitivo de comunicação musical. Nilssen-Love, para quem free jazz e free de descoberta” (expressão utilizada “Quando nos juntamos e ensaiamos”, rock não são, propriamente, abordagens pela revista Downbeat a propósito do explica Moran, “há muito poucas pala- distintas, como temos ouvido na princi- álbum Mechanisms) que revela todo um vras a dizer qual a orientação em que a pal banda de que faz parte, The Thing. posicionamento intelectual – o de abrir música deveria ir. Temos que comunicar A formação instrumental dos Ballister caminho sem nada renegar do passado. como pessoas pensantes, e não apenas é também herdeira dos trios de hard bop Por isso mesmo, esta é a new school do sentir, uma e outra vez, as mesmas inaugurados por Sonny Rollins, apenas jazz que continua orgulhosamente a old coisas sobre a nossa música”. com a substituição do contrabaixo, school.

6 Conselho de Administração Culturgest Porto Iluminação de Cena Presidente Susana Sameiro Fernando Ricardo chefe Fernando Faria de Oliveira Rui Osório de Castro Álvaro Coelho Administradores Miguel Lobo Antunes Comunicação Maquinaria de Cena Margarida Ferraz Filipe Folhadela Moreira Nuno Alves chefe Artur Brandão Assessores Publicações Dança Marta Cardoso Frente de Casa Gil Mendo Rosário Sousa Machado Rute Sousa Teatro Francisco Frazão Atividades Comerciais Bilheteira Arte Contemporânea Catarina Carmona Manuela Fialho Miguel Wandschneider Patrícia Blazquez Edgar Andrade Serviço Educativo Clara Troni Raquel dos Santos Arada Serviços Administrativos e Financeiros Pietra Fraga Cristina Ribeiro Receção Luísa Fonseca Paulo Silva Sofia Fernandes estagiária Teresa Figueiredo Ana Luísa Jacinto

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