Lourdes Maria Ferreira 1 Plano de Manejo do Parque Nacional do Iguaçu, 1999

ENCARTE 4 - CONTEXTO REGIONAL

4.1. INTRODUÇÃO

A integridade do Parque Nacional do Iguaçu (PNI), assim como de qualquer unidade de conservação (UC), depende em grande parte do uso da terra e das atividades exercidas nos municípios e áreas de entorno. A caracterização da região onde o Parque se encontra tem por objetivo a identificação e a avaliação desses processos para futuras ações de manejo.

A Área de Influência do Parque envolve quatorze municípios do oeste e sudoeste paranaense, cujas atividades e programas de desenvolvimento podem ter repercussão direta ou indireta na UC.

A presente abordagem visa caracterizar os municípios das chamadas Área de Influência e Zona de Transição do PNI sob os aspectos socioeconômicos, de modo a orientar as atividades locais para a proteção da biodiversidade.

4.2. DESCRIÇÃO DA ÁREA DE INFLUÊNCIA

A chamada Área de Influência (AI) do Parque compreende quatorze municípios, tendo sido usado o critério de municípios com bacias que drenam para o PNI na sua delimitação (Quadro 1). Cinco deles têm, em parte, terras abrangidas pelo PNI: Foz do Iguaçu, São Miguel do Iguaçu, Serranópolis do Iguaçu, Matelândia e Céu Azul. Outros cinco municípios são somente lindeiros, ou seja, estão ligados por divisas comuns às do Parque: Santa Terezinha de Itaipu, , , Capitão Leônidas Marques e, atravessando o rio Iguaçu, Capanema. O Município de Medianeira não é lindeiro ao Parque, mas tem suas águas drenadas para a bacia do rio Iguaçu e é o único município situado na chamada microrregião sudoeste do Estado do Paraná.

4.2.1.Situação Hidrográfica

A área do conjunto dos municípios do entorno divide-se em duas bacias principais: a do rio Paraná e a do rio Iguaçu. Um mesmo município pode ter porções de terras nas duas bacias. A bacia do rio Paraná é de menor interesse para o Parque e abrange terras de Foz do Iguaçu, Santa Terezinha, São Miguel do Iguaçu, Medianeira, Matelândia, Céu Azul, Santa Tereza do Oeste, Ramilândia e .

A bacia do rio Iguaçu tem alta relevância porque drena o entorno e parcelas significativas do próprio Parque. Na margem direita do rio estão localizados os Municípios de Foz do Iguaçu, Santa Terezinha, São Miguel do Iguaçu, Medianeira, Matelândia, Vera Cruz do Oeste, Céu Azul, Santa Tereza do Oeste, Serranópolis, Lindoeste, Santa Lúcia e Capitão Leônidas Marques. Na margem direita, correspondendo à porção sul, está localizado o município de Capanema.

Vários tributários do rio Iguaçu, incluindo Gonçalves Dias, São João, Represa Grande, Silva Jardim e Benjamim Constant, têm suas nascentes fora do Parque, naqueles Municípios, e correm no seu interior para desaguar no rio Iguaçu. O rio Floriano é o único que se encontra, em quase sua totalidade, no interior do PNI. O padrão de drenagem faz com que as atividades humanas desenvolvidas nas cercanias e nesses cursos d’água tenham influência direta ou indireta no PNI, especialmente aquelas referentes à utilização de produtos Lourdes Maria Ferreira 2 Plano de Manejo do Parque Nacional do Iguaçu, 1999 químicos nas lavouras, à erosão, à sedimentação de rios e toda a contaminação hídrica que por ventura ocorra

Conforme demonstra o Quadro 1, a chamada AI do PNI abrange aproximadamente 6.268,41 km2 e conta com uma população de cerca de 422.890 habitantes. O município com maior área dentro do Parque é Céu Azul, seguido por Serranópolis, Matelândia, Foz do Iguaçu e São Miguel do Iguaçu. A superfície do Parque nos municípios corresponde a 33,37% da área total e a 0,93% da superfície do Paraná, que conta com uma área de 199.544,00 km2 de extensão.

Quadro 1 - Parque Nacional do Iguaçu e municípios do entorno

Superfície do % do % da Área do População Município Município em Município PNI no Estimada km² no PNI Município (1998) 1. Capanema 415,02 16. 503 2. Capitão Leônidas Marques 250,06 9.960 3. Céu Azul 1.153,24 73,10% 49,56% 9.639 4. Foz do Iguaçu 422,00 30,13% 7,48% 267.671 5. Lindoeste 440,10 5.074 6. Matelândia 598,47 56,49% 19,87% 12.361 7. Medianeira 314,63 40.072 8. Ramilândia 245,71 3.321 9. Santa Lúcia 147,77 3.880 10. Santa Tereza do Oeste 337,58 5.697 11. Santa Terezinha de Itaipu 248,13 16.051 12. São Miguel do Iguaçu 894,15 11,73% 6,17% 18.251 13. Serranópolis do Iguaçu 477,00 60,30% 16.92% 4.534 14. Vera Cruz do Oeste 324,55 9.876 TOTAL 6.268,41 100% 422.890 Fonte: AIPOPEC (1997) e IPARDES (1998)

Para efeito do ICMS Ecológico, imposto repassado aos municípios pelo Estado do Paraná, com finalidade de fomentar estratégias ambientais àqueles que possuem terras abrangidas por UC, o Instituto Ambiental do Paraná (IAP) define uma “área de entorno” para o PNI, abrangendo os mesmo municípios citados no Quadro 1 acima, mas com uma área total de 220.687,50ha (Muchailh, 1998). Assim, necessariamente, não há uma concordância quanto à conceituação da área de entorno definida pelo IAP e por este Plano de Manejo (PM), que o considera como sendo a AI e a Zona de Transição, essa última tratada no Encarte 5.

4.2.2. Formação dos Municípios

Praticamente todos os municípios que compõem a AI do PNI partilham do mesmo histórico, ou seja, surgiram a partir de projetos de colonização, que se instalaram na região a partir dos anos 50 (Quadro 2). Inicialmente eram povoamentos que, com o passar dos anos, puderam ser instalados como municípios autônomos. O município mais antigo é o de Foz do Iguaçu, criado pela Lei N.º 1.383, de 14/03/1914, e instalado em 13/09/1943. Foz do Iguaçu, situado entre a fronteira Brasil-Paraguai-Argentina, é o município-sede do PNI e a capital

do turismo no Estado do Paraná, assumindo um papel de destaque no âmbito nacional, graças às cataratas do rio Iguaçu, localizadas dentro do Parque. Lourdes Maria Ferreira 3 Plano de Manejo do Parque Nacional do Iguaçu, 1999

Capanema foi elevado à categoria de município em 14/11/1951 e instalado em 14/12/1952, desmembrado de Clevelândia. São Miguel do Iguaçu foi desmembrado de Foz do Iguaçu e Medianeira e elevado à categoria de distrito pela Lei Estadual N.º 3.550, de 06/02/1958, e de município pela Lei N.º 4.338, de 25/01/1961. Foi instalado oficialmente em 28/11/1961.

Em 25 de julho de 1960, pela Lei Estadual N.º 4.245, desmembraram-se de Foz do Iguaçu os Municípios de Matelândia e Medianeira. Ambos foram instalados em 28/11/1961.

Capitão Leônidas Marques desmembrou-se de Cascavel e tornou-se um município autônomo pela Lei Estadual N.º 4.859, de 28/04/1964, embora ainda pertença à Comarca de Cascavel. Desmembrado de Matelândia, Céu Azul foi elevado à categoria de município pela Lei Estadual N.º 5.407, de 07/10/1966, e instalado em 22/12/1968 .

O Município de Santa Terezinha de Itaipu foi desmembrado de Foz do Iguaçu, e elevado à categoria de município em 03/05/1982 e instalado em 01/02/1983.

O Município de Vera Cruz do Oeste foi criado através do Decreto Estadual N.º 7.269, de 27/12/1979, e instalado em 01/02/1983, desmembrando-se de Céu Azul.

O atual território de Lindoeste pertencia anteriormente ao Município de Cascavel. Foi elevado à categoria de município em 12/06/1989, pela Lei Estadual N.º 9.006, e foi oficialmente instalado em 12/06/1990.

O Município de Santa Tereza do Oeste foi desmembrado de Cascavel e Toledo e elevado à categoria de distrito administrativo e judiciário em 13/01/1966, pela Lei Estadual N.º 5.263, e tornou-se município pela Lei Estadual N.º 9.008, de 12/06/1989. Foi instalado em 01/01/1990.

Santa Lúcia desmembrou-se de Capitão Leônidas Marques, elevando-se à categoria de município pela Lei Estadual N.º 9.243, de 09/05/1990. Foi instalado em 01/01/1993.

Ramilândia foi desmembrado de Matelândia em 01/01/1993, pela Lei Estadual N.º 9.562.

Por último, tem-se Serranópolis, que é o município de mais recente criação. Desmembrou-se de Medianeira em 07/12/1995, e possui uma área de 477 km². Lourdes Maria Ferreira 4 Plano de Manejo do Parque Nacional do Iguaçu, 1999

Quadro 2 - Parque Nacional do Iguaçu e a formação dos municípios do entorno

Data de Área do Município Município Desmembrado Criação em (km²) de 1. Capanema 14/11/1951 Clevelândia 415,02 2. Capitão Leônidas Marques 28/04/1964 Cascavel 250,06 3. Céu Azul 07/10/1966 Matelândia 1.153,24 4. Foz do Iguaçu 13/09/1943 Guarapuava 422,00 5. Lindoeste 12/06/1989 Cascavel 410,10 6. Matelândia 25/07/1960 Foz do Iguaçu 598,47 7. Medianeira 25/07/1960 Foz do Iguaçu 314,63 8. Ramilândia 01/01/1993 Matelândia 245,71 9. Santa Lúcia 09/05/1990 Capitão Leônidas 147,77 10. Santa Tereza do Oeste 12/06/1989 CascavelMarques e Toledo 337,58 11. Santa Terezinha de Itaipu 03/05/1982 Foz do Iguaçu 248,13 12. São Miguel do Iguaçu 25/01/1961 Foz do Iguaçu e 894,15 13. Serranópolis 07/12/1995 Medianeira 477,00 14. Vera Cruz do Oeste 27/12/1979 Céu Azul 324,55 Fonte: IPARDES (1998) e Ferreira (1996)

4.3. USO E OCUPAÇÃO DO SOLO E PRINCIPAIS ATIVIDADES ECONÔMICAS

4.3.1 Economia Regional

A ocupação do extremo oeste do Paraná foi realizada, em um primeiro momento, com uma densidade populacional bastante reduzida, sendo baseada na exploração da madeira e da erva-mate.

A situação modifica-se com a chegada dos gaúchos, na década de 50, que buscavam novas terras em função da estagnação das atividades agrícolas e industriais no Rio Grande do Sul e com a política do governo federal em priorizar a colonização do oeste e “abrasileirar” a fronteira, garantindo a soberania territorial. Na época, a ocupação baseou-se em culturas de subsistência, praticadas em pequenas propriedades com mão-de-obra familiar, caracterizando-se como uma economia fechada, devido ao próprio isolamento físico da região. Predominava a policultura com o cultivo do milho, feijão, arroz, algodão e mandioca. A criação de bovinos, suínos e aves servia como complemento alimentar (carne, leite e ovos), sendo que os excedentes eram vendidos, quando havia a possibilidade de comercializá-los (SPVS, 1998).

Em meados da década de 70, quando todo o espaço já havia sido povoado, a região sofre mudanças importantes, em função da política agrícola governamental, que estimula a monocultura da soja visando a exportação, substituindo, assim, a antiga produção diversificada e baseada na tradição camponesa. Na época, a região destacou-se na economia agrícola estadual e nacional, em função dos incentivos e subsídios fornecidos pelo governo, pela melhoria de infra-estrutura, especialmente pela implantação de um sistema viário, que possibilitou o escoamento do excedente de produção comercializável, e pela modernização de práticas produtivas aliada à boa qualidade do solo, a melhor do Brasil, senão do mundo. Lourdes Maria Ferreira 5 Plano de Manejo do Parque Nacional do Iguaçu, 1999 A partir da segunda metade da década de 80, com o corte dos incentivos e subsídios para a agricultura, produz-se a crise no campo, possibilitando que apenas grandes produtores capitalizados e produtores tecnificados de médio porte conseguissem sobreviver nas atividades. É também, a partir dessa ocasião, que ocorrem mudanças na estrutura fundiária regional e um grande número de migrações campo-cidade.

Atualmente, as principais atividades econômicas que aproveitam os recursos naturais da região ainda continuam sendo a agricultura e a pecuária, excluindo o pólo urbano de Foz do Iguaçu, que tem uma configuração completamente diferente do resto da região, pois vive basicamente do turismo, comércio e serviços (Quadro 3).

A) Setor Primário

Na agricultura regional sobressai a produção da soja, visando o mercado externo com a utilização intensiva de fertilizantes e defensivos, e altamente mecanizada. A soja, na região, alcança níveis de produtividade elevados na média nacional. Também é significativa a produção de milho, trigo, feijão, fumo, mandioca e algodão. O fenômeno do cooperativismo é abundante, orientando-se basicamente à assistência técnica e à comercialização dos produtos primários com as empresas de transformação.

Em termos de produção pecuária e devido à fragmentação fundiária na região, predomina a avicultura de corte, a qual é explorada de forma integrada com os frigoríficos que fornecem os insumos, infra-estrutura de apoio e assistência técnica, além de manter o produtor atrelado à comercialização. A suinocultura é também bastante representativa, atende ao mercado interno e é realizada nos mesmos moldes. A pecuária extensiva existente em alguns municípios é praticada de maneira rudimentar; a de corte é extensiva e há a produção da pecuária leiteira.

A atividade florestal como as plantações de pinheiro Pinus e o eucalipto é desenvolvida principalmente nos Municípios de Céu Azul, Foz do Iguaçu, Lindoeste, Matelândia, Medianeira, Santa Tereza e São Miguel. A piscicultura vem sendo introduzida na região, conforme observado em pesquisa de campo.

Apesar de incipiente, destacam-se as iniciativas isoladas da prática da agricultura orgânica, conforme observada na região pela Equipe de Planejamento. Tais iniciativas pretendem agregar valores aos produtos cultivados, a partir de uma nova mentalidade de uso da terra, com vistas, inicialmente, ao mercado de exportação, que oferece mais demanda para tal tipo de produto.

B) Setor Secundário

A representatividade do setor secundário é grande, com relevância para a indústria alimentícia, madeireira (de forte tradição na região) e de minerais não metálicos. Outros setores que merecem destaque, ainda que de menor incidência, é o mobiliário e o metalúrgico.

Da mesma forma que a população, a indústria também se concentra ao longo do eixo da BR-277, destacando-se Medianeira como capital industrial da região e Foz do Iguaçu que, junto com o setor terciário, mantém um parque industrial expressivo se comparado ao restante da região. Apesar do crescimento do setor, o desenvolvimento industrial da região tem tido forte limitação na escassa qualificação da mão-de-obra para tal fim. Lourdes Maria Ferreira 6 Plano de Manejo do Parque Nacional do Iguaçu, 1999 C) Setor Terciário

No setor terciário sobressaem-se as atividades de turismo, comércio e serviços, nas quais Foz do Iguaçu assume papel de destaque, gerando maior número de empregos e receitas. A Usina Hidroelétrica (UHE) de Itaipu e a Estação Transformadora de Furnas são também geradoras de receita e absorção de mão- de-obra direta e indireta.

Foz do Iguaçu tem no setor terciário o eixo mais dinâmico de sua economia e tornou-se o terceiro parque hoteleiro do País, devido à sua localização comercial privilegiada, pois faz fronteira com dois países, Paraguai (Ciudad del Leste) e Argentina (Puerto Iguazú), e à sua potencialidade em termos de atrações turísticas. A atividade comercial, entretanto, é bastante suscetível às alterações políticas e econômicas ocorridas nos países vizinhos. Uma variação cambial pode, por exemplo, resultar em aumento ou diminuição no volume de mercadorias vendidas pelo comércio atacadista local. Essa situação influencia diretamente o nível de renda das pessoas que trabalham no setor e, consequentemente, determina a médio e a longo prazos modificações na economia do Município.

D) Fonte de Arrecadação de Receita Municipal

O setor agrícola representa a principal atividade econômica da região, junto com o turismo e o comércio desenvolvidos em Foz do Iguaçu. Nos Municípios de Lindoeste, Ramilândia, Santa Lúcia, Santa Tereza do Oeste e Vera Cruz do Oeste, do valor adicionado por setor, ou seja, a principal fonte de arrecadação de receita municipal, o setor primário, baseado nas atividades agropecuárias, representa mais de 80% do total. Em Capanema, Capitão Leônidas Marques, Matelândia e São Miguel do Iguaçu esse percentual situa-se entre 60% e 70%. Em Céu Azul, Medianeira e Santa Terezinha de Itaipu situa-se na faixa dos 30% a 50%.

No setor secundário é bastante expressiva a arrecadação do Município de Foz do Iguaçu, que ultrapassa 80% da receita municipal total, e de Medianeira e Santa Terezinha de Itaipu, que alcançam 30% do total. Em Céu Azul, o que se verifica é a participação representativa do setor secundário de 30%, neste caso são agroindústrias ligadas à agricultura.

No Município de Capitão Leônidas Marques os setores comercial e de serviços perfazem 15,7% do total, representando a segunda fonte de arrecadação de renda municipal. O incremento nesses setores está relacionado com a construção da barragem da UHE de Salto Caxias, realizada pela Companhia de Energia Elétrica do Estado do Paraná (COPEL). Consta que vários estabelecimentos comerciais, serviços de profissionais liberais, entre outros, instalaram-se na sede municipal com o objetivo de atender a demanda gerada pelo fluxo de trabalhadores que se instalaram tanto na Cidade quanto no canteiro de obras (SPVS, 1998). O Quadro 4, mostra a participação do valor adicionado, por setor, em cada um dos municípios do entorno do PNI. Lourdes Maria Ferreira 7 Plano de Manejo do Parque Nacional do Iguaçu, 1999

Quadro 3 - Principal produção dos municípios do entorno, do Parque Nacional do Iguaçu

Setor Primário Setor Secundário Setor Município Terciário Agricultura Pecuária Silvicultura Indústria soja, trigo, milho e aves de corte, alimentícia, têxtil , Capanema feijão suínos e metalúrgica, materiais de bovinos transporte Capitão Leônidas milho, soja, feijão, suínos e aves mobiliária, madeira, Marques mandioca e algodão de corte, calçados, tecidos e vestuário bovinos soja, milho, trigo, aves de corte, eucalipto alimentícia, química, Céu Azul aveia e algodão bovinos e minerais não metálicos e suínos mobiliária soja, milho, trigo, bovinos, aves pinheiro alimentícia, madeira, turismo, Foz do Iguaçu mandioca de corte e Pinus, minerais não-metálicos, comércio suínos eucalipto, mobiliário, extrativa de serviços angico e ipê minerais, metalúrgica, mecânica, vestuário, calçados e tecidos milho, soja, algodão, bovinos, aves eucalipto e madeira Lindoeste feijão e mandioca de corte e pinheiro suínos Pinus soja, milho, aveia, aves de corte, eucalipto e alimentícia, madeira, Matelândia mandioca e trigo bovinos e pinheiro metalúrgica, mobiliária, suínos Pinus minerais não metálicos soja, milho e trigo aves de corte, eucalipto e mobiliária, minerais não- Medianeira suínos e pinheiro metálicos, madeira, bovinos Pinus materiais plásticos química, metalúrgica, mecânica e alimentícia milho, soja, trigo, bovinos e madeira, vestuário, tecidos e Ramilândia algodão e feijão suínos calçados, mobiliário milho, soja, feijão, aves de corte, alimentícia, metalúrgica, Santa Lúcia algodão e trigo bovinos e material de transporte, suínos minerais não metálicos, madeira

soja, milho e trigo aves de corte, eucalipto e madeira, produtos não- Santa Tereza do bovinos e pinheiro metálicos, mecânica, Oeste suínos Pinus metalurgia, vestuário, calçados e tecidos Santa Terezinha soja, milho e trigo aves de corte, alimentícia, extrativo mineral, turismo de Itaipu bovinos e madeira, metalúrgica, suínos mobiliária, minerais não- metálicos São Miguel do soja, milho, aves de corte, eucalipto e alimentícia, minerais não- Iguaçu mandioca, fumo, bovinos e pinheiro metálicos, mobiliária, da trigo e algodão suínos Pinus, madeira, metalúrgica, matérias de transporte Serranópolis do soja, milho, trigo, aves de corte, cerâmica Iguaçu fumo bovinos e suínos Vera Cruz do soja, milho, algodão bovinos, aves mobiliária, madeira, minerais Oeste e trigo de corte e não-metálicos, alimentícia, suínos vestuário, calçados e tecidos Fonte: IPARDES (1998) e pesquisa de campo (1998) Lourdes Maria Ferreira 8 Plano de Manejo do Parque Nacional do Iguaçu, 1999 Quadro 4 - Valor adicionado por setor nos municípios do entorno do Parque Nacional do Iguaçu

VALOR ADICIONADO POR SETOR (em %) MUNICÍPIOS PRIMÁRIO SECUNDÁRIO COMERCIAL SERVIÇOS Capanema 59,1 21,3 12,7 6,7 Capitão Leônidas Marques 69,3 14,9 9,9 5,8 Céu Azul 49,5 30,2 8,0 12,2 Foz do Iguaçu 0,3 83,8 10,8 4,4 Lindoeste 83,5 8,5 2,7 5,1 Matelândia 61,8 14,7 13,1 10,3 Medianeira 33,1 32,8 21,2 12,6 Ramilândia 84,2 3,7 9,4 2,5 Santa Lúcia 83,5 5,5 5,5 5,3 Santa Tereza do Oeste 82,5 6,7 6,0 4,6 Santa Terezinha de Itaipu 39,0 32,9 18,4 9,5 São Miguel do Iguaçu 59,1 21,4 12,7 6,8 Serranópolis do Iguaçu * * * * Vera Cruz do Oeste 77,8 9,1 8,2 4,7 Fonte: IPARDES (1998) * Informações não-disponibilizadas, devido à recente criação do Município

4.3.2. Empreendimentos de Grande Porte

Outra modalidade de uso e ocupação do solo é a UHE de Itaipu, com a barragem localizada em Foz do Iguaçu sobre o rio Paraná, que consiste no maior empreendimento da região. Tem uma capacidade instalada de 12.600.000MW, possui uma barragem principal de 2.600m de comprimento e altura máxima de 196m, formando um lago de 1.350 km² de extensão. O lago mede 170km entre Foz do Iguaçu e Guaíra, ao norte. A hidrelétrica teve sua última turbina inaugurada em 1991, responde por 22% da energia elétrica consumida no Brasil e 78% da consumida no Paraguai.

Um empreendimento projetado no Município de Santa Terezinha de Itaipu é o terminal de oleoduto da PETROBRÁS, com prazo de execução previsto de cinco anos. O terminal será o centro de distribuição para uma boa parte do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), por seu fácil acesso ao Paraguai e à Argentina (ECOPARANÁ, 1998).

A FERROESTE, ferrovia que pretende ligar o litoral paranaense à região oeste do Estado, é outra grande obra que deverá ser concluída nos próximos anos. Quando o trecho Guarapuava-Cascavel for implantado, pretende-se completar, a partir de Cascavel, as ligações ferroviárias até Guaíra e Foz do Iguaçu, para o escoamento das safras de Mato Grosso do Sul e do Paraguai rumo ao porto de Paranaguá. Com a implantação do ramal de Foz do Iguaçu, o governo estadual pretende transformar a linha férrea em passagem transcontinental, ligando o Oceano Atlântico ao Oceano Pacífico, via Paraguai, norte da Argentina e Chile. Conclui-se que, no futuro, será estimulada a instalação de indústrias e o crescimento de cidades ao longo desse ramal, o que implicará em mudança dramática do quadro demográfico e socioeconômico nos municípios que compõem a porção leste do PNI.

4.3.3. Programas Governamentais de Desenvolvimento Lourdes Maria Ferreira 9 Plano de Manejo do Parque Nacional do Iguaçu, 1999

Uma recente forma de uso e ocupação do solo, na região do PNI, é o Programa Costa Oeste, um dos mais importantes criados pelo governo do Estado para a região, em especial para os quinze municípios do entorno do reservatório de Itaipu. Alguns desses municípios também compõem a área de entorno do Parque, como Foz do Iguaçu, Santa Terezinha de Itaipu, São Miguel do Iguaçu e Medianeira.

O Programa consiste na implantação de diversos distritos turísticos com infra-estrutura básica, em locais estratégicos ao longo do lago de Itaipu, para fazer da região um pólo turístico planejado e de grande porte, aproveitando o PNI, as Cataratas e o lago como atrações. Estão envolvidos no Programa o governo do Paraná, o governo do Paraguai, a Itaipu Binacional, a iniciativa privada, além dos próprios municípios. Segundo o governo, a iniciativa “busca o desenvolvimento sustentado do extremo oeste do Paraná, com atividades econômicas integradas ao meio ambiente e às vocações locais” (ECOPARANÁ, 1998).

Para sua implantação, o governo pretende fazer um zoneamento especial, de modo a possibilitar a implantação de projetos e o desenvolvimento regional, sendo a Empresa ECOPARANÁ, órgão governamental vinculado à Secretaria Estadual do Turismo do Paraná, a responsável pela condução dessas iniciativas.

O Projeto Jogos Mundiais da Natureza, realizado em 1997, é outra iniciativa criada pelo governo do Estado, com repercussões diretas no PNI e em alguns dos municípios lindeiros. Consiste nova modalidade olímpica, que reúne esportes feitos na natureza como o balonismo, canoagem, ciclismo, dentre outros. A olimpíada é realizada a cada quatro anos e pretende reunir atletas de todo mundo. As competições acontecem no lago de Itaipu, nas cataratas do Iguaçu, no PNI, nos rios, corredeiras, trilhas e áreas naturais da região. As provas são realizadas em nove municípios do oeste, sendo que três deles, Foz do Iguaçu, Santa Terezinha de Itaipu e São Miguel do Iguaçu estão na área de influência do PNI.

A intenção do governo do Estado, por intermédio desses jogos, é apresentar o Programa Costa Oeste, promovendo o lançamento internacional das possibilidades da região, e atrair os investimentos necessários ao desenvolvimento do turismo.

4.3.4. Estrutura Fundiária

A pequena propriedade familiar é a base da estrutura fundiária na região (Quadro 5), muito embora exista considerável proporção de médias e grandes propriedades. Dentre os imóveis, é significativo o número de estabelecimentos considerados como minifúndios, via de regra aqueles com até 50ha, sendo a maioria estabelecimentos até 20ha. Contudo, desde a década de 80 até os dias atuais, muitos dos estabelecimentos têm sido vendidos, ampliando a participação dos imóveis classificados como empresa rural e latifúndio por exploração. Assim, a participação do tamanho da área dos minifúndios no total da área ocupada vem decaindo e perdendo espaço em relação aos demais.

Assim, pequenos produtores já não exercem mais suas atividades tradicionais, nem a produção diversificada que contribuía para a subsistência. A relação de integração com a agroindústria está cada vez mais frágil, uma vez que alguns dos próprios frigoríficos não têm resistido às condições do mercado e estão Lourdes Maria Ferreira 10 Plano de Manejo do Parque Nacional do Iguaçu, 1999 encerrando as atividades. As possibilidades de encontrarem outras alternativas de produção estão limitadas pela impossibilidade do crédito e pela própria descrença dos agricultores na atividade que até então realizavam (SPVS, 1998).

Quadro 5 - Número e área dos imóveis rurais, segundo os municípios do entorno do Parque Nacional do Iguaçu

NÚMERO E ÁREA DOS IMÓVEIS RURAIS (em %) MUNICÍPIOS LATIFÚNDIOS POR MINIFÚNDIO EMPRESAS RURAIS EXPLORAÇÃO N.º Área N.º Área N.º Área Capanema 81,9 53,3 9,4 12,5 8,7 34,2 Capitão Leônidas Marques 70,8 38,1 14,5 33,8 14,7 28,1 Céu Azul 58,6 17,0 25,5 53,1 15,9 29,9 Foz do Iguaçu 72,0 24,1 11,1 36,5 16,9 39,4 Lindoeste 66,8 15,1 16,7 51,2 16,5 33,7 Matelândia 59,5 14,9 23,8 53,3 16,7 31,8 Medianeira 65,3 33,4 24,3 48,9 10,4 17,7 Ramilândia* ------Santa Lúcia * ------Santa Tereza do Oeste 44,3 13,3 30,4 58,7 25,3 28,0 Santa Terezinha de Itaipu 52,6 13,1 30,9 63,5 16,5 23,4 São Miguel do Iguaçu 62,6 20,5 26,2 59,5 11,2 20,0 Serranópolis * ------Vera Cruz do Oeste 59,6 16,9 18,3 47,1 22,1 36,0 Fonte: IPARDES (1998) * Informações não-disponibilizadas para o Município

Com relação à estrutura fundiária e produtiva, existem pressões de trabalhadores rurais sem-terra pela ocupação de áreas consideradas improdutivas na região. Na rodovia BR-277, bem como a rodovia BR-182, que liga Santa Tereza do Oeste a Capitão Leônidas Marques e daí com Santa Catarina, observa-se a existência de alguns acampamentos às margens das estradas.

Em Lindoeste a pressão do Movimento dos Sem-terra (MST) é mais presente, tendo conseguido instalação de três assentamentos. Desde 1986, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) instalou aí dois assentamentos. Localizados ao norte do Município, fazem divisa com o Município de Cascavel e estão em área oposta à divisa municipal com o PNI.

Nos acampamentos foram instaladas cerca de 170 famílias, em uma área de aproximadamente 2.600ha, em lotes que variam de 10 a 18ha. Segundo informações, a área de reserva legal é comunitária, ocupando 20% da área total do assentamento. Há um terceiro assentamento, em fase de implantação, em uma área de 308ha para vinte famílias (SPVS, 1998).

Verificou-se, também, que há indígenas Guarani vivendo no Município de São Miguel do Iguaçu, na área chamada Ocoí, cujo assentamento teve início em 1982. Os indígenas foram assentados na região em função do alagamento provocado pela barragem de Itaipu, onde viviam originalmente na margem esquerda do rio Paraná, barra do rio Jacutinga. A área de Ocoí está localizada entre as águas do lago formado por Itaipu e pelas propriedades dos colonos da Lourdes Maria Ferreira 11 Plano de Manejo do Parque Nacional do Iguaçu, 1999 gleba Ocoí, destinadas às famílias oriundas do PNI (Decreto N.º 69.412, de 22/10/1971).

A área total de Ocoí é de 231,88ha e a população é de 354 pessoas (31 famílias) distribuídas em duas aldeias. O nível socioeconômico, segundo informações da Fundação Nacional do Índio (FUNAI)/Guarapuava, é razoável, tendo em vista não haver famílias vivendo de forma miserável. Os indígenas que habitam Ocoí vivem basicamente da agricultura de subsistência (milho, feijão, arroz, mandioca e batata-doce), coleta de frutos e criação de pequenos animais domésticos como porcos, galinhas e patos. Ainda, mantêm muitas das características culturais tradicionais, como o uso da língua, a religiosidade e o artesanato.

4.3.5. Tendência de Crescimento

O oeste paranaense já teve uma importante produção agrícola baseada na pequena propriedade. Atualmente, verifica-se que suas terras estão, gradativamente, se transformando em áreas de pastagem para pecuária bovina, em propriedades que a cada dia tornam-se maiores, uma vez que as terras da pequena produção vêm sendo vendidas para os médios e grandes proprietários.

A década de 90 registra um decréscimo na atividade agrícola; a remuneração tem sido cada vez mais reduzida, o que tem levado muitos produtores a abandonarem a atividade, e aqueles que ainda tem alguma possibilidade tem buscado uma maior especialização e eficiência. Grande parte dos produtores vê-se impossibilitada de permanecer na agropecuária, uma vez que o crédito rural é cada vez mais caro e mais escasso. Mesmo as cooperativas, que até então procuravam viabilizar os seus associados, têm tido enormes dificuldades para financiar a produção (SPVS,1998). Caso não sejam elaborados programas que atendam e favoreçam os agricultores, vários serão excluídos do processo produtivo em curto prazo.

No caso de Foz do Iguaçu os problemas socioeconômicos são baseados em fatores distintos. Um deles diz respeito ao setor hoteleiro, que foi superdimensionado para as reais condições da Cidade, que tem nas cataratas do Iguaçu seu principal atrativo. Verificou-se que o número de leitos disponíveis é muito grande e não alcança níveis de ocupação aceitáveis. Segundo estimativa da FOZTUR (1996), atualmente existem cerca de 26.351 leitos na rede hoteleira.

Outro problema de ordem socioeconômica relaciona-se ao crescimento de Foz do Iguaçu, apoiado em uma atividade comercial paralela ao turismo, a dos “compristas”, que também se vê hoje ameaçada em função das novas regulamentações comerciais brasileiras e, no momento, em função da variação da moeda brasileira em relação ao dólar americano (U$1.00 = R$2,00, em março/99). A diminuição ou o desaparecimento dessa atividade, que na atualidade movimenta um volume de R$12 bilhões anuais, ou seja, R$2 bilhões superior à movimentada por quatro países do MERCOSUL (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai), pode acarretar conseqüências imprevisíveis, com repercussões evidentes no setor do turismo (ECOPARANÁ, 1998).

Ainda, a migração ocorrida durante os últimos anos para Foz do Iguaçu acabou gerando problemas de desemprego e a formação de enormes favelas, geralmente instaladas à beira dos rios. Ilusoriamente, criou-se a imagem de ser a economia de Foz do Iguaçu inesgotável fonte de geração de empregos. Um grande número de pessoas acompanhadas por seus familiares, principalmente Lourdes Maria Ferreira 12 Plano de Manejo do Parque Nacional do Iguaçu, 1999 oriundos do meio rural e com pouca especialização profissional, chega ao Município com a esperança de conseguir trabalho. Poucos retornam ao seu lugar de origem, e muitos permanecem em Foz do Iguaçu, empregados ou não.

Atualmente, o número de desempregados em Foz do Iguaçu chega a 20% da população ativa (AMOP, 1997). Se o quadro permanecer, a tendência é o agravamento da crise social, do número de favelas, de famílias e crianças desassistidas.

4.4. CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO

4.4.1. Evolução da População

Existem grandes divergências entre os dados oficiais de população estimada pelos organismos federais, estaduais e pelas prefeituras da região. Tomando como base os dados do IPARDES (1998), verifica-se que a população da área de influência do PNI é de aproximadamente 422.890 habitantes, perfazendo uma densidade demográfica de toda a área de 14,8 hab. /km² (Quadro 6). Por exemplo, o FIREPA (1999) também tem dados acerca da população, mas não coincidem com aqueles apresentados aqui.

Quadro 6 - Evolução da população dos municípios do entorno do Parque Nacional do Iguaçu

População (habitantes) Município 1980 1990 1998 Capanema 25.783 19.835 16.503 Capitão Leônidas Marques 40.823 18.556 9.960 Céu Azul 25.444 10.658 9.639 Foz do Iguaçu 136.321 179.597 267.671 Lindoeste 7.169 5.074 Matelândia 33.428 17.569 12.361 Medianeira 49.261 38.278 40.072 Ramilândia 3.321 Santa Lúcia 3.880 Santa Tereza do Oeste 6.171 5.697 Santa Terezinha de Itaipu 13.819 16.051 São Miguel do Iguaçu 34.247 25.252 18.251 Serranópolis do Iguaçu 4.534 Vera Cruz do Oeste 11.553 9.876 TOTAL 345.307 348.457 422.890 Fonte: IPARDES (1998)

As estimativas para 1998 indicam que dos quatorze municípios, oito têm um total de população abaixo de 11 mil habitantes. Em quatro deles a população situa- se na faixa dos 11 mil a 25 mil habitantes. Os municípios mais populosos são Medianeira e Foz do Iguaçu, destacando-se o último que, sozinho, é mais populoso do que a soma de todos os demais.

Observa-se, ainda, que quase todos os municípios tiveram um crescimento negativo ao longo dos últimos quinze anos, com exceção de Santa Terezinha de Itaipu e Foz do Iguaçu. Lourdes Maria Ferreira 13 Plano de Manejo do Parque Nacional do Iguaçu, 1999 Santa Terezinha de Itaipu, situada a uma distância de 30km do PNI, teve sua população estimada em 13.819 habitantes no ano de 1990. Essa população aumentou para 16.051 em 1998. Uma análise superficial mostra que a proximidade de Santa Terezinha com Foz do Iguaçu, onde a alta demanda habitacional eleva os custos, concentrou no primeiro um grande segmento de população de baixa renda, que trabalha em Foz.

Quanto a Foz, em 1960 a população do Município era de 28.000 habitantes, a sua maioria vivendo no meio rural. Em 1970 a população cresceu para 33.970 habitantes, com uma predominância na área urbana. Em 1980 Foz já contava com 136.321 habitantes, dos quais 101.330 concentravam-se na área urbana. No início de 1990 a população alcançou 179,597 habitantes, e em 1998 contava com uma população estimada de 267.671 habitantes, dos quais 99,2% vivendo na área urbana.

A migração foi responsável por um incremento da ordem de 9,5% no crescimento populacional naquele Município, tendo-se por base o crescimento normal da população do Estado do Paraná, que foi de 4,3%. Em 1980, a participação de pessoas vindas de fora de Foz do Iguaçu era de 75% em relação ao total de habitantes do município (AMOP, 1997).

Esse ritmo significativo de crescimento da população em Foz a partir da década de 70 é decorrente da construção da UHE de Itaipu, iniciada em 1974, que causou fortes impactos em toda a região, principalmente em Foz do Iguaçu, em virtude do canteiro de obras da usina estar aí localizado. Nesta época, milhares de pessoas migraram para trabalhar na sua construção, os chamados “barrageiros” e suas famílias, provenientes dos Estado do Paraná, de São Paulo, de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul. A construção da UHE de Itaipu empregou um contigente de mão-de-obra que, no auge da sua construção, atingiu cerca de 40.000 trabalhadores (AMOP, 1997).

Grande parte dos migrantes ali permaneceu, contrariando a tese de que com a conclusão das obras a maior parte dos trabalhadores de Itaipu partiriam em busca de outras obras similares. Notou-se a fixação da maior parte daquelas pessoas e suas famílias em Foz do Iguaçu. Algumas pessoas passaram a desenvolver funções relacionadas cada vez mais ao turismo de compras, ao comércio atacadista exportador, orientado especialmente ao Paraguai e outras atividades ligadas ao setor terciário.

Foz do Iguaçu ocupa, hoje, o quinto lugar em número de habitantes no Estado do Paraná e conta com uma população flutuante de 6.000 pessoas por dia, em função da atividade turística.

Capanema, em 1980, contava com um população de 25.783 habitantes, passando a ter 19.835 habitantes em 1990 e 16.503 em 1998.

Capitão Leônidas Marques com 40.823 habitantes em 1980, passa a ter 18.556 habitantes em 1990 e 9.960 em 1998. Esse fato, além do processo de migração, deve-se à emancipação do Município de Santa Lúcia, ocorrido em 1990, que desmembrou uma área de 147,77km² e hoje conta com uma população estimada em 3.880 habitantes.

Lindoeste diminuiu sua população entre 1990 e 1998, quando passou a ter 7.169 e 5.074 habitantes, respectivamente. Lourdes Maria Ferreira 14 Plano de Manejo do Parque Nacional do Iguaçu, 1999 Matelândia teve um esvaziamento populacional significativo, o qual passou de 33.428 habitantes, em 1980, para 17.569, em 1990, e 12.361 habitantes em 1998. O desmembramento de Ramilândia, ocorrido em 1993, contribuiu para o esvaziamento. Hoje, Ramilândia conta com uma população de cerca de 3.321 habitantes, segundo estimativas do IPARDES (1998).

Medianeira, cidade expressiva e centro de zona no eixo da BR-277, apresentou um incremento da sua população até 1980, quando contava com 49.261 habitantes. Em 1990 a população decresceu para 38.278 habitantes e em 1998 aumentou para 40.072 habitantes. Esse aumento é significativo, especialmente se for considerado o desmembramento de Serranópolis do Iguaçu, ocorrido em 1995. Serranópolis conta hoje com um território de 477.000km² e uma população de 4.537 habitantes.

Santa Tereza, emancipada de Cascavel em 1989, contava com 6.171 habitantes em 1990, passando para 5.697 em 1998.

São Miguel do Iguaçu também viu sua população diminuir progressivamente ao longo dos últimos quinze anos. Em 1980, o Município contava com uma população de cerca de 34.247 habitantes. Em 1990, a população viu-se reduzida a 25.252 habitantes e em 1998 estima-se um total de 18.251 habitantes.

Céu Azul também sofreu um decréscimo populacional impressionante, passando de 25.444 habitantes em 1980 para menos que a metade, ou seja, 10.658 habitantes em 1990. Estimativas do IPARDES (1998) apontam cerca de 9.639 habitantes vivendo hoje no Município.

Vera Cruz do Oeste teve um esvaziamento populacional entre 1990 e 1998, segundo as estimativas, contando com 11.553 habitantes em 1990 e 9.876 habitantes em 1998.

A) Distribuição Rural e Urbana, por Faixa Etária e Sexo

Os números expostos nos Quadros 6 e 7 indicam que os municípios do entorno do Parque atravessaram e ainda atravessam um processo de perda da população rural e ligeiro aumento da população urbana que, todavia, não compensa a perda total. Foz do Iguaçu e Santa Terezinha de Itaipu são exceções, visto que a tendência estimada é de um incremento apreciável no número de seus habitantes.

O êxodo rural se deve a vários fatores, dentre eles às alterações na produção agrária, às mudanças técnico-produtivas, que causam a liberação de mão-de-obra, e à baixa lucratividade da agropecuária em pequenas e médias propriedades. Na maioria das vezes, os produtores acabam vendendo a terra por não disporem de recursos para investir na adequação da produção e na aquisição de meios de produção mais modernos. A baixa qualidade de vida no campo e a falta de perspectiva futura para os jovens, somadas à melhoria das condições de vida nos núcleos urbanos, também contribuem para a migração campo-cidade.

Se a crise no campo persistir, a tendência será cada vez mais diminuir as populações rurais e aumentar a urbana na região nos próximos anos, podendo a Cidade de Foz do Iguaçu ser o grande centro receptor.

Quanto à distribuição etária, os municípios apresentam indicadores semelhantes aos do conjunto do Estado, com exceção de Foz do Iguaçu, que Lourdes Maria Ferreira 15 Plano de Manejo do Parque Nacional do Iguaçu, 1999 apresenta um quadro diferente. Em Foz a população do Município é extremamente jovem, com 48% dos habitantes tendo menos de 20 anos e apenas 1,6% com 65 ou mais anos de idade.

Quando à distribuição por sexo, estimativas do IPARDES (1998) indicam uma ligeira diferença a favor dos homens, que constituem 50,1% do total da população na região.

Quadro 7 - Distribuição da população rural e urbana nos municípios do entorno do Parque Nacional do Iguaçu

Município População 1980 1990 1998 (estimada) Urbana Rural Urbana Rural Urbana Rural Capanema 7.708 18.075 7.918 11.917 7.710 8.793 Capitão Leônidas 10.317 30.506 7.715 10.841 5.887 4.073 Marques Céu Azul 11.754 13.690 5.797 4.861 6.077 3.562 Foz do Iguaçu 101.330 34.991 175.066 4.531 265.620 2.051 Lindoeste - - 979 6.190 671 4.403 Matelândia 10.01 23.410 10.176 7.393 9.095 3.266 Medianeira 24.375 24.986 28.818 9.460 33.184 6.888 Ramilândia - - - - 2.086 1.235 Santa Lúcia - - - - 1.900 1.980 Santa Tereza do Oeste - - 3.230 2.941 3.646 2.051 Santa Terezinha de Itaipu 11.233 2.586 14.067 1.984 São Miguel do Iguaçu 7.881 26.366 10.470 14.782 11.368 6.883 Serranópolis do Iguaçu - - 1.572 2.962 Vera Cruz do Oeste - - 6.563 5.000 5.954 3.922 Total 173.383 172.024 267.965 80.502 368.837 54.053 Fonte: IPARDES (1998)

4.5 Implicações para o Meio Ambiente

4.5.1 Impactos no Meio Rural

Os principais problemas ambientais dos municípios lindeiros, no que diz respeito à integridade dos sistemas vitais essenciais ao PNI foram, e ainda são, os provenientes da agricultura. De um modo geral, a maior parte das terras disponibilizadas para a atividade agrícola, em todos os municípios, encontra-se em precárias condições de conservação ambiental, com uma depauperada cobertura vegetal e contaminadas pelo uso contínuo de agrotóxicos.

A partir da década de 70, o uso intensivo do solo para a agricultura, com emprego de insumos químicos e mecanização, em função da expansão do cultivo de grãos, o um acelerado desmatamento acarretaram vários problemas como o aumento dos níveis de erosão do solo, a perda de fertilidade e o decréscimo dos níveis de produtividade das lavouras. Esses problemas persistem e têm repercussão direta no PNI, ainda que a maioria dos seus limites naturais seja constituída por rios. Lourdes Maria Ferreira 16 Plano de Manejo do Parque Nacional do Iguaçu, 1999 O problema da erosão parece ser mais grave em São Miguel do Iguaçu, com pelo menos duzentos produtores sendo incentivados pela Secretaria de Agricultura do Estado do Paraná (SEAG) a adotar o plantio direto, refazer terraços e murunduns e recompor as matas ciliares. Nos outros municípios a quantidade de solos erodidos tem diminuído nos últimos anos, resultado da introdução de práticas conservacionistas apoiadas em programas governamentais. Ainda assim, nas grandes chuvas, a quantidade de material que corre para os rios é grande.

Verificou-se, em pesquisa de campo, que os remanescentes florestais encontram-se esparsamente distribuídos na área de estudo, predominando manchas não muito extensas. A situação dos fundos de vale também não é satisfatória em termos de cobertura florestal. Em boa parte dos casos limita-se a uma tênue faixa descontínua ou a pequenas manchas com descontinuidade acentuada. Poucas microbacias apresentam vegetação ciliar suficiente, em termos qualitativos e quantitativos, para cumprir sua importante função ecológica. Medianeira talvez seja o Município que apresenta a melhor situação em termos de distribuição de remanescentes florestais e de relativa preservação de fundos de vale.

De um modo geral, são poucas as propriedades que mantêm a reserva legal exigida por lei. A legislação prevê a obrigatoriedade da existência e da manutenção de reservas legais nas propriedades rurais, ocupando 20% dos imóveis. Em muitos imóveis da região esta área não existe; os proprietários não estão motivados a recuperá-las, não estão capitalizados ou, face às características atuais da política agrícola e de mercado, não podem ou não conseguem dispor de áreas para usos conservacionistas.

A contaminação dos recursos hídricos, principalmente dos mananciais, é decorrente das atividades agrícolas, pecuárias, destinação inadequada do lixo e produção de esgoto. Nas atividades agrícolas, a contaminação ocorre pela aplicação intensiva de agrotóxicos, pela lavagem de pulverizadores, assim como pelo destino inadequado das embalagens, que são abandonadas às margens dos rios ou no seu leito, nas lavouras, ou à beira das estradas. A situação é mais crítica nos Municípios de Medianeira, São Miguel do Iguaçu, Santa Terezinha de Itaipu e Foz do Iguaçu, que utilizam grandes volumes de herbicidas. Os Quadros 8, 9 e 10 trazem os agroquímicos utilizados no entorno do Parque.

Na pecuária, a contaminação dos rios é devida ao destino inadequado dos dejetos animais, especialmente da suinocultura e da avicultura. A inadequação no destino do lixo urbano e rural, na maioria dos municípios, também contribui negativamente para a contaminação dos rios Benjamim Constant, Gonçalves Dias, Represa Grande e São João, que drenam para o Parque.

Segundo informações dos Escritórios Regionais do IAP, de Cascavel e Foz do Iguaçu, a suinocultura é especialmente desenvolvida nos Municípios de Santa Terezinha de Itaipu, São Miguel do Iguaçu (localidades de São Jorge e Aurora do Iguaçu), Matelândia e Medianeira. A pecuária é praticada em todos os municípios, principalmente naqueles da bacia do rio Gonçalves Dias. Já a piscicultura vem aumentando em importância na maioria dos municípios limítrofes ao Parque. A atividade industrial na área de entorno é mínima e está relacionada com a agropecuária (Pozzobon et alii, 1998).

Existem alguns laticínios localizados no Município de Matelândia e um frigorífico licenciado no Município de Lindoeste. A unidade frigorífica possui sistema de tratamento de efluentes líquidos implantado, não havendo efluente final à época da realização dos trabalhos de campo da revisão desse Plano de Manejo (1998). Lourdes Maria Ferreira 17 Plano de Manejo do Parque Nacional do Iguaçu, 1999 Todas essas atividades são geradoras potenciais de poluição pontuais ou difusas de produtos químicos, sedimentos e matéria orgânica para os rios e córregos da região do PNI (Pozzobon et alii, 1998).

Quadro 8 – Principais princípios ativos comercializados nos Municípios de Medianeira, São Miguel do Iguaçu, Santa Terezinha de Itaipu e Foz do Iguaçu Herbicidas Inseticidas Fungicidas Paraquat Cloripirifós Oxicloreto de cobre Imazephapyr Methomyl Metalaxil Furathiocarb Endosulfan Mancozeb Glyphosate + Isopropilamina Irmidacio Prid Oprodione Sal de Amonio Glifosate Triflumuron Brometo de Metila 2-4 D Sal Dimetilamina Cypermethrin Thiran Motsulfuron methyl Deltamethrin Propiconazole Sethoxydim Carboran (tratamento de Prochloraz Fenoxaprop P–Etil sementes) Triadimenol Nicosulfuron Methamidophos Captan Atrazina Thiodicarb Tebuconazole Chlorimuron Ethyl Sulfluramida Difenoconazole Picloran, Sal trietanol + 2-4 D 0.0- Dietil – 0 - Fosforotianato Paraquat + Diuron Cypermethrin Diquat Abamectin 2-4 D Sal Dimetilamina Observação: Essa região utiliza um grande volume de herbicidas, como também é a que mais utiliza Paraquat para dessecação da soja em pré-colheita. Fonte: Núcleo Regional de Cascavel, da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (Pozzobon et alii, 1998)

Quadro 9 - Principais princípios ativos comercializados nos Municípios de Serranópolis do Iguaçu, Matelândia, Céu Azul e Santa Tereza do Oeste Herbicidas Inseticidas Fungicidas Imazephapyr Monocrotophos Oxicloreto de cobre Sal Dimethilamina Dethametrin Clorothalonil Glyphosate Trichiorfon Mancozeb Trietanol Amina + Pieloran Tebuconazole Propiconazole Sal de Ysopropalamina de Atrazine Parathion Methyl Prochloraz Sal Dimetilamina de Ácido 2-4 D Methanidophos Triadimenol Paraquat Cloropyriphos Tabuconazole Furathiocarb Parathion Methyl Difenoconazole Glyphosate + Isopropilamina Endosulfan Thiran Sethoxydim Cypermethrin Fenoxaprop–P–Etil Teflubenzuron Nicosulfuron Carbofuran Carboran Fonte: Núcleo Regional de Cascavel, da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (Pozzobon et alii, 1998).

Quadro 10 - Principais princípios ativos comercializados nos Municípios de Capitão Leônidas Marques, Santa Lúcia e Lindoeste

Herbicidas Inseticidas Fungicidas Sal Dimethilamina Tebuconazole Propiconazole Lourdes Maria Ferreira 18 Plano de Manejo do Parque Nacional do Iguaçu, 1999 2-4 D Pieloran Methomyl Tiotanato Met + Chorlalinil Glyphosate Methamidophos Oxicloreto de cobre Trifluralin Deltamethrin Thiran Fluazifop–butil Permethryn Mancozeb Fomezafen Endosulfan Triadimenol Fluzifop-butil + Fomezafen Carboran Difenoconazole Imazephapyr Monocrotophos Tebuconazole Sal Dimetilamina do Ácido 2-4 D Diflubenzuron Atrazina Cloropirifós Paraquar Imidacloprid Glyphosate + Ysopropilamina Fonte: Núcleo Regional de Cascavel, da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (Pozzobon et alii, 1998)

Dessa forma, as ameaças à integridade do PNI em relação ao meio rural dos municípios podem ser enumeradas como físicas, através da erosão do solo e posterior assoreamento dos rios: bioquímicas, pela contaminação dos recursos hídricos, faunísticos e pela alteração das características do solo, e socioculturais, através da mentalidade dos moradores locais, onde cada arbusto nativo abatido significa um metro quadrado a mais de terra agricultável, seu meio de subsistência e único método que pode trazer retorno financeiro.

4.5.2. Impactos no Meio Urbano

Nas áreas urbanas, verifica-se o inchamento das cidades e o declínio da qualidade de vida e ambiental na medida em que as prefeituras não dispõem nem de infra-estrutura nem de ações de planejamento para absorver o crescimento migratório. Foz do Iguaçu parece ser o único Município que possui um Plano Diretor desde 1991.

A não observação da legislação ambiental e a ausência de planos diretores municipais fizeram com que houvesse um manejo e uma ocupação inadequados do relevo natural e de sua cobertura vegetal protetora, principalmente ao longo dos cursos d'água, quer seja na implantação de edificações ou na malha viária. Tal situação gerou, pela excessiva impermeabilização e desestruturação do solo, desequilíbrios no escoamento superficial, com o conseqüente incremento dos processos erosivos e de assoreamento dos cursos d'água, devido à sedimentação.

A falta de abrangência e eficiência dos métodos de tratamento dos dejetos urbanos, lixos e esgotos sanitários também é outro ponto grave e comprometedor da qualidade hídrica e do solo urbano.

Quanto à industrialização na região, verifica-se que ela não se fez acompanhar de normas de proteção ambiental adequadas, que pudessem salvaguardar a qualidade do meio ambiente, fazendo com que órgãos como o IAP fiquem “correndo atrás das situações críticas”, após os danos ambientais já terem acontecido, propondo medidas de controle de poluição mitigadoras, que nem sempre têm a eficiência necessária.

O transporte de cargas perigosas nas rodovias e no perímetro urbano é outro problema que deve ser apontado com risco para os rios das bacias de contribuição direta ao Parque. Destaca-se no contexto a BR-277, onde é intenso o trânsito de veículos com os mais variados tipos de carga.

4.6. CARACTERÍSTICAS CULTURAIS Lourdes Maria Ferreira 19 Plano de Manejo do Parque Nacional do Iguaçu, 1999

4.6.1. Características Culturais e Políticas da População

Em vista do processo de colonização do oeste do Paraná, pode-se dizer que o elemento gaúcho, com descendência italiana ou alemã, é o que predomina na chamada área de influência do PNI. A frente sulista de ocupação, que se originou nos Estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, fez com que milhares de gaúchos colonizassem a região, transformando-a em uma extensão cultural do próprio Rio Grande do Sul. Para essa população, até mesmo hoje, Porto Alegre rivaliza-se com Curitiba como centro referencial político e cultural.

A característica marcante dessa população é a dicotomia: italiano-alemão e católico-protestante. Durante a colonização, nas décadas de 40, 50 e 60, as companhias colonizadoras fizeram uma política étnico-cultural e religiosa, não misturando no mesmo lugar descendentes de italianos e alemães, católicos e protestantes. Esses conviviam com respeito mútuo, mas isoladamente e todos conservavam suas tradições baseadas na vida rural e na “parcela” agrícola cultivada na Europa, no século passado, onde o trabalho árduo e sacrificante convivia com a frugalidade da vida cotidiana.

Esta “cultura gaúcho-européia” destoava muito da cultura cabocla originária dos ciclos anteriores e que não considerava o trabalho da mesma maneira, nem no mesmo ritmo. Para os chamados caboclos, sobreviver não requeria tanto trabalho e esses se integravam ao meio dentro de uma arte de viver, onde se dedicava maior importância a outros aspectos da vida cotidiana.

A ideologia étnica sulista considerava o caboclo preguiçoso e atribuía a ele o domínio de técnicas agrícolas rudimentares e primitivas, considerando a sua mais evoluída. Da mesma forma, a presença do caboclo só era admitida na região como fonte de trabalho braçal e barato. Essa conduta contribuiu para a formação de uma elite econômica e política gaúcha, que dominou a região, impôs sua cultura e se estabeleceu ao longo dos anos, formando professores, políticos e comerciantes nas cidades da região.

Politicamente a região é bastante unida, se comparada a outras regiões do Paraná. Isto foi várias vezes demonstrado através de manifestações emancipacionistas que, vez ou outra, insurge para a criação de um “Estado do Iguaçu”. O movimento levantou-se várias vezes calcado na sensação de abandono e de exclusão da região em relação ao resto do Paraná. Basta uma pequena crise na agricultura para que o movimento se reaqueça e clame por uma política agrícola ou peça a emancipação. Essa capacidade de união em torno de um objetivo comum é rara em outras regiões do Estado.

4.6.2. Manifestações Culturais da Região

A cultura gaúcha e as tradições européias são celebradas a cada momento, principalmente nas datas festivas municipais, onde a hospitalidade, as rodadas de chimarrão, o churrasco na brasa e as bebidas, típicos do gaúcho, animam as ocasiões. Lourdes Maria Ferreira 20 Plano de Manejo do Parque Nacional do Iguaçu, 1999

Em Céu Azul, as festas italianas, com apresentação de grupos musicais, bandas e danças típicas da região, ocorrem no mês de julho. De acordo com FIREPA (1999), as manifestações tradicionais e populares de Céu Azul são a Festa do Padroeiro São José Operário; a Procissão à Gruta Nossa Senhora de Lourdes; a Noite Italiana e o Kerfest. Os eventos programados nesse Município são a Festa na Gruta Nossa Senhora de Lourdes, com procissão (fevereiro); a Festa do Padroeiro São José Operário (maio); a Feira do Bezerro a Gado Geral (abril e outubro); o Kerfest (novembro); a Semana Farroupilha (setembro); a Noite Italiana (julho); a Noite da Arte (outubro); a Semana do Município (outubro) e a Festa do Caminhoneiro (dezembro).

Em São Miguel do Iguaçu, a Festa da Tradição, organizada no mês de agosto, resgata e celebra as tradições dos povos que colonizaram a região, com apresentações de danças folclóricas, shows artísticos, música, bebida e comidas típicas.

São Miguel do Iguaçu tem manifestações tradicionais e populares como: 1) Octoberfest, grupo de dança alemã;2) Semana Farroupilha, Elenco Artístico do CTG; 3) Festa das Tradições: Praça da Bíblia; 4) Festa do Padroeiro São Miguel do Iguaçu e 5) Festa do Kerp: Cerimônias Religiosas e Culturais Indígenas (FIREPA, 1999).

Entre os eventos programados estão o Ecoverão, de dezembro a fevereiro; FELIMU (Festival de Música de São Miguel do Iguaçu), em outubro; a Festa do Padroeiro, em setembro; a FEANIMAIS, feira agropecuária, industrial e comercial, incluída no calendário brasileiro de feiras e exposições, em novembro; a Festa das Tradições, em agosto e setembro; a Semana Farroupilha, em setembro, e a Octoberfest, em outubro (FIREPA, 1999)

Segundo o FIREPA (1999), as manifestações tradicionais e populares do Município de Santa Terezinha de Itaipu são: 1) Festa Colonial: evento que reúne industria, comércio, serviços e agropecuária, com shows e feira gastronômica, durante quatro dias; 2) FEICOM: feira que reúne indústria, comércio e serviços, com venda de seus produtos, com shows e feira gastronômica; 3) FEMESTI: Festival Municipal da Canção, nas escolas do Município; 4) Pesca da Corvina: torneio que reúne participantes de toda a região, Paraguai e Argentina e 5) Feira de Ciências.

As manifestações tradicionais e populares do Município de Serranópolis são: 1) Festa do Colono, em 25 de julho; 2) São Cristovão e 3) Festa da Padroeira do Município, em 13 de maio, Nossa Senhora de Fátima (FIREPA, 1999).

A programação dos eventos em Serranópolis, segundo o FIREPA (1999), é a seguinte:1) Gincana Ecológica, em março; 2) Olimpíadas Rurais, em abril (1ª etapa); 3) Auto da Páscoa (grupo de teatro), em abril; 4) Olimpíadas Rurais, em maio (2ª etapa); 5) Jogos Municipais da Terceira Idade, em maio; 6) Gincana Ecológica Municipal, em junho; 7) Olimpíadas Rurais, em junho (3ª etapa); 8) Seminário Municipal de Educação e Meio Ambiente, em julho; 9) Festa do Agricultor, em julho; 10) Olimpíadas Rurais, em julho (4ª etapa); 11) Olimpíadas Rurais, em agosto (5ª etapa); 12) Festival Municipal da Canção, em setembro (regional); 13) Olimpíadas Rurais, em setembro (6ª etapa); 14) Passeio Ciclístico da Independência, em setembro; 15) Programação de Aniversário do Município, em outubro; 16) Festival Municipal da Canção, encerramento; 17) Olimpíadas Rurais, outubro (7ª etapa); 18) Olimpíadas Rurais, novembro (8ª etapa); 19) Seminário Artístico-cultural, em dezembro, e 20) Olimpíadas Rurais, em dezembro (9ª etapa). Lourdes Maria Ferreira 21 Plano de Manejo do Parque Nacional do Iguaçu, 1999 Os eventos programados do Município de Lindoeste são: 1) 1ª EXPOESTE, exposição comercial; 2) Reveillon e Gincana Ecológica na Cachoeira (FIREPA, 1999).

Capitão Leônidas Marques tem como eventos programados a Festa de São Cristóvão, em julho; a EXPOCAP, em abril, e o Festival da Música Sertaneja e Nativista, em outubro (FIREPA, 1999).

As manifestações tradicionais de Matelândia são, segundo o FIREPA (1999): 1) a Festa da Padroeira , Nossa Senhora de Caravagio, em 26 de maio, 2)a Ovelha no Rolete, em novembro, e a 3) Feira Agropecuária, em abril (binária).

Ainda, nos demais municípios, são organizadas anualmente feiras agropecuárias, comerciais e industriais.

Atualmente, não é relevante o uso e/ou aproveitamento tradicional das espécies vegetais na região. Sobressaem-se o aproveitamento e o cultivo da erva- mate, que tem destaque no processo histórico da colonização local, aculturação de indígenas e destruição da vegetação nativa. As espécies madeireiras também foram dizimadas e a extração clandestina do palmito no que sobrou inclusive dentro do PNI, ainda requer atenção.

4.7. INFRA-ESTRUTURA DISPONÍVEL PARA APOIO AO PARQUE NCIONAL DO IGUAÇU

É visível o desequilíbrio entre custeio e investimentos nos orçamentos municipais. A capacidade econômica das quatorze prefeituras, assim como dos demais municípios do Estado do Paraná, depende mais das transferências federais, estaduais e do ICMS ecológico do que de suas próprias receitas, com exceção de Foz do Iguaçu. Ainda que com tais limitações, os municípios vêm dedicando esforços em importantes melhorias relativas à infra-estrutura e às redes de serviços, com resultados visíveis nos principais núcleos urbanos e que poderão servir de apoio às atividades desenvolvidas pelo IBAMA na conservação do PNI.

Pelo menos uma agência de correio postal e telegráfico existe em cada município, sendo que em Foz do Iguaçu esse número sobe para quatro agências. Foz do Iguaçu é a Cidade melhor equipada e conta com 244 hotéis e inúmeros restaurantes (FOZTUR, 1996).

Todos os municípios possuem postos de combustível, lojas diversas, feiras, mercados, restaurantes, bares e lanchonetes. Cada município conta com pelo menos uma agência bancária, seja do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal, do BANESTADO, do HSBC Bamerindus ou do Bradesco.

A energia elétrica é distribuída em toda a área pela COPEL, alimentada por usinas próprias ou pelo sistema Centrais Elétricas do Sul (ELETROSUL), incluindo aí a energia gerada por Itaipu. As propriedades, incluindo as micro e pequenas, dispõem, em geral, de energia elétrica. Não há linhas de transição cruzando qualquer área do Parco, já que existem sistemas alimentadores em ambos os lados do rio Iguaçu, inclusive para consumo rural (AIPOPEC, 1997).

Os serviços telefônicos cobrem toda a região com terminal fixo e telefones celulares móveis e rurais, assim como telefones públicos relativamente bem distribuídos. A capacidade e a qualidade, contudo, não parecem adequados a atender incrementos sazonais de população. Lourdes Maria Ferreira 22 Plano de Manejo do Parque Nacional do Iguaçu, 1999 Os jornais nos municípios são poucos e ineficientes, com circulação restrita ao meio urbano. Foz do Iguaçu novamente é exceção, onde são produzidos os jornais Gazeta do Iguaçu, Tríplice Fronteira, Primeira Linha, A Voz da Fronteira, Foz em Resumo, Hoje Regional, Tribuna de Foz e Ponte da Amizade. Os jornais Gazeta do Povo, Folha de Londrina e O Estado do Paraná são encontrados, também, em circulação na Cidade.

No que se refere à comunicação de massa, em Céu Azul existe a Rádio União, em Matelândia a rádio Matelândia e em Medianeira a Independência. Em Foz do Iguaçu existem quatro emissoras de radiodifusão, que são a rádio Transamérica FM, a rádio Itaipu AM, a Rádio Foz AM e a Rádio Cultura AM, e quatro emissoras de televisão (TV Naipi, TV Cataratas, TV Tarobá e TVA/SUL).

4.7.1. Educação

De um modo geral, a educação vem recebendo prioridade nos quatorze municípios, desde os aspectos pedagógicos, ao transporte escolar, à manutenção e à construção de escolas. Verifica-se uma ampla gama de iniciativas como convênios com instituições educativas federais e estaduais para a melhoria e adaptação aos planos de instrução.

Os quatorze municípios oferecem os níveis de ensino pré-escolar, o fundamental (de 1ª a 4ª série) e o médio (de 5ª a 8ª). Há escolas localizadas tanto na zona urbana quanto na zona rural (Quadro 11).

Quadro 11 - Número de escolas do ensino fundamental, os municípios do entorno do Parque Nacional do Iguaçu

Escolas Escolas Municipais: Estaduais: da 5a MUNICÍPIOS Pré-Escola e à 8a Séries e TOTAL da 1a à 4a Ensino Médio Séries Capanema 20 2 22 Capitão Leônidas Marques 16 5 21 Céu Azul 11 3 14 Foz do Iguaçu 50 21 71 Lindoeste 17 3 20 Matelândia 26 3 29 Medianeira 40 6 46 Ramilândia ------Santa Lúcia 7 1 8 Santa Tereza do Oeste 5 1 6 Santa Terezinha de Itaipu 9 3 12 São Miguel do Iguaçu 16 7 23 Serranópolis do Iguaçu 2 2 4 Vera Cruz do Oeste ------TOTAL 219 57 276 Fonte: IPARDES, 1997

A região apresenta alto índice de escolarização no primeiro grau, acima de 89%, bem superior à media brasileira, que oscila nos 75%. O índice de Lourdes Maria Ferreira 23 Plano de Manejo do Parque Nacional do Iguaçu, 1999 escolarização do segundo grau, pelos dados de 1990, é da ordem dos 20% (AMOP, 1997).

O ensino de terceiro grau é oferecido pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), com quatro campi nos Municípios de Foz do Iguaçu, Toledo, Marechal Cândido Rondon e Cascavel. O último está mais distante do PNI, porém, próximo aos municípios lindeiros, localizados a nordeste do Parque. Em Foz do Iguaçu, a UNIOESTE oferece cursos de administração de empresas, ciências contábeis, letras, turismo e ciência da computação. O terceiro grau também é oferecido por instituições particulares, como a FEPI/Unifoz, com cursos de ciências econômicas, processamento de dados, Direito e Administração.

É comum que alunos dos municípios do entorno do PNI, próximos a Foz do Iguaçu e Cascavel, viagem regularmente a esses centros com o objetivo de freqüentarem os cursos de nível superior.

Em 1988, foi inaugurado o Ecomuseu de Itaipu, que desenvolve programas de educação ambiental nos municípios lindeiros ao lago da UHE de Itaipu. Em 1992, a Itaipu Binacional passou as atividades do Ecomuseu para a organização não-governamental (ONG) Centro de Estudos Ambientais do Iguaçu (CEAI) em parceria com a prefeitura de Foz do Iguaçu e a UNIOESTE. O CEAI vem atuando há quatro anos na região, promovendo programas de educação ambiental junto à Secretaria Municipal de Educação de Foz do Iguaçu e escolas municipais.

4.7.2. Saúde

Assim como na maioria dos municípios brasileiros, e em função dos escassos recursos financeiros destinados à saúde, a situação desse setor nos quatorze municípios da região não é confortável.

As dezoito unidades municipais de saúde existentes em Foz do Iguaçu, incluindo o Centro Municipal de Especialidades (CEM) e o Núcleo 24 Horas (PAM), atendem não apenas à população do seu município como também aos brasileiros residentes em comunidades agrícolas do Paraguai, que buscam auxílio em Foz do Iguaçu e os turistas e “compristas” que, quando adoecem, na maior parte das vezes, procuram o serviço público de saúde. Sabe-se que a população flutuante de Foz do Iguaçu é de aproximadamente 6.000 pessoas/dia.

O Quadro 12 reflete a situação atual da saúde nos quatorze municípios, com base no número de hospitais da rede pública e particular, leitos hospitalares disponíveis, unidades municipais de saúde existentes e coeficiente de mortalidade infantil.

Há dezoito de hospitais, com 826 leitos disponíveis em toda a região. As 57 unidades de saúde encontram-se distribuídas entre as zonas urbana e rural.

O índice médio de mortalidade infantil, no conjunto dos municípios, é de 17,03% de mortes por 1.000 nascidos vivos, com extremos em Capitão Leônidas Marques (29,51%) e Céu Azul (25,51%). O índice de mortalidade infantil em Céu Azul no ano de 1994 era sensivelmente mais acentuado, atingindo o total de 42,10% por 1000 crianças nascidas vivas. Em contraste, Capanema, Capitão Leônidas Marques, São Miguel do Iguaçu e Lindoeste apresentaram elevação desse índice nos anos de 1994, 1995 e 1996. Dados de 1998 não estão disponibilizados. Lourdes Maria Ferreira 24 Plano de Manejo do Parque Nacional do Iguaçu, 1999 Quadro 12 - Índices de saúde dos municípios do entorno do Parque Nacional do Iguaçu

Municípios Total de Leitos Unidades Coeficiente mortalidade Infantil por hospitais hospitalares municipais de 1.000 habitantes nascidos vivos saúde Capanema 1 50 10 16,44 Capitão Leônidas Marques 2 78 3 29,51 Céu Azul 1 21 5 25,51 Foz do Iguaçu 5 335 18 7,18 Lindoeste 1 14 2 21,28 Matelândia 2 81 3 11,94 Medianeira 2 81 2 12,94 Ramilândia * * * * Santa Lúcia * * * * Santa Tereza do Oeste 0 0 2 16,13 Santa Terezinha de Itaipu 2 79 1 19,46 São Miguel do Iguaçu 2 87 9 10,00 Serranópolis do Iguaçu 0 0 2 * Vera Cruz do Oeste * * * * TOTAL 18 826 57 17,03% Fonte: SESA/ISEP/DVP/CEPI 1996 * Dados não-disponibilizados pela Secretaria de Saúde do Estado do Paraná

Foz do Iguaçu foi o Município que apresentou melhoras substanciais no índice de mortalidade infantil com 14,74% em 1994 e 7,18 no ano de 1996.

Matelândia e Santa Tereza do Oeste também apresentaram melhoras nos últimos anos, com decréscimo no percentual.

De um modo geral, as principais causas dos óbitos infantis são as doenças infecto-parasitárias, anomalias congênitas e afecções do período perinatal.

Dentre as doenças mais comuns na região e que afetam a população adulta são as doenças infecto-contagiosas e sanitárias (como tuberculose e hepatite viral tipo A e B), seguidas por doenças do aparelho circulatório e doenças do sistema metabólico.

Incidentes com defensivos agrícolas são comuns, entretanto os dados oficiais não refletem a situação real, pois são poucos os casos que chegam a ser cadastrados pela rede oficial de saúde.

4.7.3. Saneamento Básico

A percentagem da população servida por água potável é bastante razoável nos núcleos urbanos dos quatorze municípios, alcançando níveis de 98% a 100%, ficando bem abaixo disto na população disseminada ou em distritos isolados. As áreas rurais, em geral, se servem em poços comuns ou artesianos e nascentes d'água ou vertentes, alguns deles contaminados pela extensa utilização de agrotóxicos nas culturas e pelo lançamento de esgoto in natura. Em São Miguel do Iguaçu, por exemplo, o abastecimento da área urbana é feito 60% de poços artesianos e 40% de mananciais, e na área rural 20% de mananciais e 80% de poços comuns.

Foz do Iguaçu, Cidade com maior concentração de população, possui um grande reservatório de água que é o próprio lago de Itaipu, responsável pelo abastecimento de 40% da população do Município. O outro manancial é o do rio Tamanduá, que abastece os restantes 60% da população. A água é coletada e Lourdes Maria Ferreira 25 Plano de Manejo do Parque Nacional do Iguaçu, 1999 tratada convencionalmente pela Companhia de Saneamento do Estado do Paraná (SANEPAR), em duas estações de tratamento (AMOP, 1997).

O município com maior produção de esgotos também é Foz do Iguaçu, que tem somente 20% de seu esgoto coletado, sendo que parte é tratada no sistema RALF, e parte é lançada in natura na bacia do rio Paraná, portanto, fora da região de influência do PNI. Em Foz do Iguaçu, ainda em fase de implantação, há cerca de 110.000m lineares de rede coletora de esgoto, e cinco estações de tratamento de esgoto em construção na bacia do rio Paraná, com previsão para operação em 1999, contribuindo para a despoluição ambiental dos mananciais Monjolo, M’Boicy e Paraná.

O segundo município mais populoso, Medianeira, possui um sistema de tratamento e lança o efluente de seu esgoto em um afluente do rio Ocoí, também na bacia do rio Paraná. Santa Terezinha de Itaipu e Matelândia possuem coletas de esgotos pela SANEPAR, atendendo 0,47% e 2,32% das economias abastecidas com água, respectivamente (AIPOPEC, 1997). Os demais municípios não têm coleta de esgotos e utilizam fossas individuais.

A coleta do lixo é realizada nos principais núcleos urbanos e na maioria dos distritos, mas não existe tratamento adequado. O lixo é depositado em lixões, a céu aberto. Medianeira ainda recebe o lixo proveniente de Serranópolis.

Atualmente, dez dos quatorze municípios do entorno do PNI fazem parte do Programa Pró-Saneamento da Secretaria de Política Urbana do Ministério do Planejamento e Orçamento. Trata-se de um programa para 1999 destinado à implantação de aterros controlados nos municípios mediante parcerias entre os governos federal, estadual e municipal. O Estado entra com 25% dos recursos, a Secretaria de Política Urbana do Ministério fornece 75% a fundo perdido, que são repassados através da Caixa Econômica Federal, cabendo à prefeitura municipal apenas a doação de um terreno adequado para o aterro. Apenas os Municípios de Lindoeste, Ramilândia, São Miguel e Serranópolis não estão inseridos no Programa. Santa Terezinha de Itaipu é o único município que possui uma unidade redutora de embalagem de agrotóxicos, por isso atende toda a região.

4.7.4. Turismo e Lazer

Foz do Iguaçu, sendo o grande pólo turístico da região (e segundo pólo no Brasil em termos de movimentação internacional), concentra quase todo o setor da hotelaria, restaurantes, agências de viagens, atrações noturnas e diurnas, além de possuir um centro de formação hoteleira. Os atrativos são, principalmente, as cataratas do rio Iguaçu, no Parque, a UHE de Itaipu, o comércio de Ciudad del Leste e a confluência dos rios Paraná e Iguaçu, que formam a fronteira entre Argentina, Paraguai e Brasil.

O Quadro 13 resume a situação do saneamento em Municípios do entorno do Parque Nacional do Iguaçu.

Quadro 13 - Situação do saneamento em alguns municípios do entorno do Parque Nacional do Iguaçu

Esgoto Abastecimento de Água Município Reservatório Coleta Eliminação de Lourdes Maria Ferreira 26 Plano de Manejo do Parque Nacional do Iguaçu, 1999 de Resíduos de Lixo Efluentes e Sólidos Esgoto Área Área Rural Área Urbana Área Rural Urbana

Capanema Lixão Comum Fossa Séptica Fossa Fossa Mananciais e Poços e Sumidouro Negra Negra Poços Artesiano e Artesianos Comum Capitão Aterro Comum Fossa Séptica Fossa Fossa Mananciais Poços Leônidas Sanitário e em Projeto Séptica e Séptica Comum e Marques de Implantação Sumidouro Artesiano de Tratamento Céu Azul Aterro Comum Fossa Séptica Fossa Fossa Poço Poço Sanitário Séptica Séptica Artesiano Comum, (SANEPAR) Manancial e Fontes Próximas Lindoeste Lixão Comum Fossa Comum Fossa Fossa Poço comum Poço Comum Comum e e Artesiano Comum Latrina Matelândia Aterro Comum Sumidouro e Poço, Poço e Mananciais e Poço Sanitário Tratado Sumidouro Sumidouro Poço Comum e e Tratado Artesiano em Manancial Fase de Canalização São Miguel Estação de Seletiva Fossa e Poço Fossa e Fossa e 60% Porto 20% do Iguaçu Separação de Negro Poço Negro Poço Negro Artesiano e Manancial e Lixo e 40% 80% Poço Sanitário Manancial Comum Santa Aterro Comum Tratamento Fossa Fossa 75% Estação Poços Terezinha Sanitário Séptica e Séptica, de Rasos, de Itaipu Sumidouro Sumidouro Tratamento e Artesiano e e Latrina 25% Poço Minas Artesiano Serranópolis Lixão Comum Fossa Negra Fossa Fossa Poço Poços do Iguaçu ou Céu Aberto Negra Negra Artesiano Artesiano e Comum, Nascentes e Vertentes Fonte: FIREPA (1999)

Atualmente visitam o Município cerca de três milhões de turistas por ano. Cerca de 80% desse total são chamados os “turistas compristas” e aproximadamente um milhão visitam, anualmente, o PNI.

Uma organização estadual opera no fomento do turismo: a PARANÁ TURISMO. A FOZTUR, que operava vinculada ao Município de Foz do Iguaçu, foi extinta em janeiro de 1999.

Dentro do programa de municipalização do turismo, a Empresa Brasileira de Turismo (EMBRATUR) outorgou a qualificação de municípios com potencial turístico, além de Foz do Iguaçu, para os Municípios de Santa Terezinha e São Miguel do Iguaçu. Esses municípios fazem parte do Programa Costa Oeste, promovido pelo governo do Estado do Paraná, e estão em vias de constituir seus conselhos municipais de turismo, como primeiro passo para a elaboração dos

respectivos planos municipais de desenvolvimento turístico. Esses conselhos são obrigatórios para que tenham acesso ao apoio federal e turismo local.

Em São Miguel do Iguaçu, o Centro Turístico Ipiranga abrange 30ha de área verde, estrutura de lazer e recreação e uma piscina natural de 5.000m. Situada às Lourdes Maria Ferreira 27 Plano de Manejo do Parque Nacional do Iguaçu, 1999 margens do lago de Itaipu, Santa Terezinha conta hoje com um centro recreativo constituído por uma praia de água doce, bastante freqüentada pela população.

Com exceção desses municípios, são poucas as opções de lazer. Em razão disto, a opção preferida parece ser o futebol no final de semana, o que justifica a existência de mais de duzentas associações desportivas na região. A pesca, inclusive como evento oficial, é também uma atividade de lazer dos finais de semana. Já a caça, apesar de ilegal, ainda é difundida.

A igreja exerce grande influência nesta região, orientando as atividades de lazer, principalmente das mulheres.

4.7.5. Segurança Pública

O policiamento nos municípios situados no entorno do Parque Nacional do Iguaçu é feito pelo Quartel Geral da Polícia Militar com divisões em Capanema (3º DPM), Foz do Iguaçu e Céu Azul (14º Batalhão), Santa Tereza do Oeste e Capitão Leônidas Marques (6º DPM). Existem patrulhas rurais para o policiamento geral, com o objetivo de prover a segurança dos lindeiros. Em quase todos os municípios há delegacias de polícia.

Devido à situação de cidade turística e de fronteira internacional, Foz do Iguaçu conta com um Batalhão de Fronteira do Exército, Polícia Militar, Policia Federal e Polícia Rodoviária Federal, um destacamento da Força Aérea Brasileira FAB, uma Delegacia de Atendimento ao Turista (DATUR), um Pelotão de Polícia Militar Feminina e um Pelotão de Turismo (PELTUR). Possui, ainda, uma guarda municipal com 201 homens trabalhando na segurança do município em apoio às polícias militar e civil e um Corpo de Bombeiros, com um efetivo de 99 pessoas distribuídos em cinco postos na Cidade. Dentre os atendimentos mais ocorrentes, constam incêndios em vegetação no Município.

Através de convênio firmado em 07/05/1970, entre o antigo Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF) e a Secretaria de Segurança Pública do Estado do Paraná, ficou estabelecido que a Polícia Militar iria exercer a vigilância e a proteção ambiental do Parque, através da fiscalização do Batalhão Florestal. O Batalhão de Polícia Florestal, com sede em Curitiba, destacou então sua 1a Companhia para cobrir as áreas de Foz do Iguaçu, Maringá, Londrina e Telêmaco Borba

Quanto à Marinha, a Capitania dos Portos do Estado do Paraná possui a Capitania Fluvial do Rio Paraná, que se encarrega da navegação na bacia, desde o Município de Almirante Tamandaré até o de Marechal Cândido Rondon.

4.7.6. Acesso e Mobilidade

A região é bem servida de estradas, com uma ampla rede vicinal. O acesso ao Parque Nacional do Iguaçu por via terrestre, partindo-se de Curitiba, é dado pela BR-277, percorrendo-se 630km. A Cidade de Foz do Iguaçu dispõe de aeroporto internacional, com razoáveis condições de operação.

Da Cidade de Foz do Iguaçu pode-se ir para o norte, à Cidade de Guaíra, e para o oeste, a 6km, à Ciudad del Leste, no Paraguai, através da Ponte da Amizade, sobre o rio Paraná. O acesso à Cidade de Puerto Iguazú, na Argentina, distante 25km de Foz do Iguaçu, é feito pela ponte Tancredo Neves, sobre o rio Iguaçu. Lourdes Maria Ferreira 28 Plano de Manejo do Parque Nacional do Iguaçu, 1999 A BR-277 é o principal eixo da porção leste do PNI e importante corredor econômico na região, permitindo a integração regional entre Cascavel e Foz do Iguaçu. No eixo encontram-se nove, das quatorze sedes municipais que integram a região do entorno do Parque, e seu percurso, no trecho, coincide com a crista divisora das águas das bacias hidrográficas de afluentes dos rios Paraná e Iguaçu.

A BR-277 liga-se à PR-497, de São Miguel do Iguaçu para Missal; à PR- 485, de Medianeira para Serranópolis, à PR-488, de Céu Azul para Vera Cruz do Oeste, à PR-586 e à PR-182, ambas de Santa Tereza do Oeste para Francisco Beltrão. Da PR-182 tem início a PR-281, entre e Capanema.

A PR-182 faz a conexão Santa Tereza do Oeste e Francisco Beltrão, seguindo a menos de 10km além da divisa do Parque e atravessa, por ponte de concreto, o rio Iguaçu. Dessa, tem início em Realeza a rodovia Arnaldo Busato, a PR-281, que passa por Capanema e chega até porto Moisés Lupion e à fronteira Argentina, interligadas por uma ponte internacional sobre o rio Santo Antônio.

A PR-485 inicia-se em Medianeira, segue a direção sul e passa por Serranópolis, para chegar até a divisa do Parque.

Uma extensa malha forma a rede viária municipal, onde predominam as estradas vicinais. Essas são radiais a partir da sede municipal para as regiões mais distantes até as divisas do Parque. Os municípios se conectam internamente através de várias das vicinais, ainda que, na maioria dos casos, de forma precária (Dallo, 1998).

A estrada que originalmente ligava Foz do Iguaçu a Guarapuava, e que estabelece grande parte do limite seco do Parque, hoje se encontra desativada, salvo em pequenos percursos. Existe uma ligação de Céu Azul até Pinheirinho, em piso primário.

4.8. AÇÕES AMBIENTAIS EXERCIDAS POR OUTRAS INSTITUIÇÕES

A Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SEMA) e o IAP são os órgãos governamentais encarregados das questões da proteção ao meio ambiente no Estado. Enquanto a SEMA tem como função definir a política ambiental estadual, cabe ao IAP os trabalhos de educação ambiental, fiscalização, vistoria e licenciamento ambiental para atividades impactantes, seja em projetos industriais, agropecuários ou empreendimentos de grande porte, que estejam situados em área relevante sob o ponto de vista ambiental. A regional do IAP em Foz do Iguaçu tem sua área de atuação nos Municípios de Santa Terezinha de Itaipu, São Miguel do Iguaçu, Serranópolis, Matelândia, Medianeira e Foz do Iguaçu, e a regional de Cascavel e Toledo encarregam-se dos demais municípios do oeste paranaense.

Além dos serviços de rotina, o IAP vem atualmente fazendo o monitoramento da qualidade da água nos rios das bacias que banham o Estado e, regularmente, a avaliação do ICMS ecológico nos municípios.

Quanto aos municípios, a maioria já instituiu um departamento ou instância administrativa de meio ambiente, geralmente vinculado à Secretaria de Agricultura, que se encarrega de desenvolver atividades de conservação de solos, formação de florestas energéticas, além dos programas regulares de arborização urbana e ajardinamento. Lourdes Maria Ferreira 29 Plano de Manejo do Parque Nacional do Iguaçu, 1999 Nas escolas, as atividades de educação ambiental são geralmente realizadas na semana do meio ambiente, sendo que em alguns municípios o tema consta no currículo escolar. Em vários municípios o Parque Nacional do Iguaçu é um dos temas tratados.

Os principais programas ambientais desenvolvidos na região, através de convênios entre o governo do Estado e os municípios são os Programas ICMS Ecológico, o Florestas Municipais, o Água Limpa, o Terra Limpa, o Paraná 12 Meses e o Programa das Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN)

4.8.1. Programa ICMS Ecológico

É um dos mais importantes programas do Estado que diz respeito aos municípios com porções de terras dentro do PNI ou situados nas suas imediações. O Programa foi implantado a partir de 1991, através da Lei Complementar N.º 59/91. A Lei estabelece o pagamento de ICMS ecológicos aos municípios que abrigam em seu território unidades de conservação e que sejam diretamente influenciados por ela, bem como os municípios com mananciais de abastecimento público. Os municípios enquadrados na especificação dessa lei passam a dispor de recursos advindos do ICMS arrecadado, e para continuarem recebendo, precisam garantir a preservação e conservação dessas áreas.

A medida vem estimulando vários municípios paranaenses na atuação junto às propriedades rurais e ao desenvolvimento de programas de recuperação de áreas verdes, como uma estratégia de ampliação das receitas municipais. Os critérios na distribuição do recurso se dá contabilizando prioritariamente as áreas de conservação municipais, seguida das estaduais e por fim as federais.

Atualmente, todos os municípios da área de influência do PNI vêm recebendo o ICMS ecológico do governo do Estado, especialmente os que possuem terras dentro do Parque, como Foz do Iguaçu (12.714,66ha), São Miguel do Iguaçu (10.491,02ha), Serranópolis do Iguaçu (28.762,00ha), Matelândia (33.810,72ha) e Céu Azul (84.306,60ha).

No Município de Céu Azul é expressiva a participação que detém do ICMS Ecológico, pois cerca de 73,10% de seu território é área ocupada pelo PNI. Até o desmembramento de Serranópolis do Iguaçu, era Medianeira que recebia a segunda maior soma do ICMS arrecadado, em função do Parque.

O Quadro 14 mostra a média do repasse mensal aos municípios do ICMS ecológico, em reais, registrados em 1997. No total está incluída a percentagem referente ao PNI, classificado como unidade de conservação federal, e outras reservas florestais estaduais ou municipais (matas ciliares, áreas de preservação permanente, reserva legal e outras tipologias determinadas pelo programa).

Convém notar que Santa Terezinha de Itaipu e Santa Lúcia são Municípios beneficiados duplamente, ou seja, por possuírem simultaneamente unidades de conservação e mananciais de abastecimento em seus territórios.

Quadro 14 - Programa ICMS Ecológico – média mensal, em reais, do repasse aos municípios do entorno do Parque Nacional do Iguaçu, em 1997

Unidade de Mananciais de TOTAL MENSAL Município Conservação Abastecimento REPASSADO (R$) (R$) (R$) Capanema 10.652,25 10.652,25 Lourdes Maria Ferreira 30 Plano de Manejo do Parque Nacional do Iguaçu, 1999 Capitão Leônidas Marques 3.557,02 3.557,02 Céu Azul 139.660,03 139.660,03 Foz do Iguaçu 69.418,42 69.418,42 Matelândia 108.638,46 108.638,46 Medianeira 1.930,07 1.930,07 Ramilândia 3.060,40 3.060,40 São Miguel do Iguaçu 24.004,96 24.004,96 Santa Lúcia 1.371,72 4.876,78 6.248,50 Santa Tereza do Oeste 4.536,99 4.536,43 Santa Terezinha de Itaipu 5.038,29 52.960,14 57.998,43 Serranópolis do Iguaçu 114.874,99 114.874,99 TOTAL 486.743,60 57.836,92 544.580,52 Fonte: DIBAP/IAP, 1998

É importante ressaltar que em 1995, o total anual arrecado nos quatorze municípios (Serranópolis ainda não existia oficialmente) foi de aproximadamente 6.450 milhões de reais. Em 1996, o total alcançou a cifra de 6.480 milhões de reais nos quatorze municípios (incluindo Serranópolis) e aumentou, anda mais no ano de 1997, totalizando cerca de 7.380 milhões de reais.

Em 1998, o total do ICMS Ecológico repassado aos quatorze municípios diminuiu para R$5.800 milhões, uma perda de mais de R$1.500 milhão em relação ao ano anterior. Esse é um fenômeno a ser investigado junto ao IAP e pode ter relação com a degradação das áreas protegidas contabilizadas nos municípios e certamente com a própria abertura da estrada do Colono que fragmenta o Parque, comprometendo sua integridade Júlio Gonchorosky, Chefe do PNI, com. pess., 1999).

Além do ICMS ecológico, Foz do Iguaçu, Medianeira, Santa Terezinha de Itaipu e São Miguel do Iguaçu recebem os royalties de Itaipu, pelo fato da represa formada para a constituição da hidrelétrica ter inundado porções de suas terras. São Miguel do Iguaçu, por exemplo, teve alagados 287,000 km² de terras para dar lugar ao grande lago.

4.8.2. Programa Florestas Municipais

Criado em 1996 pelo IAP, vem sendo implantado nos quatorze municípios do oeste, através de convênios com as prefeituras. O IAP fornece assistência técnica, sementes, insumos, embalagens plásticas e um veículo a cada prefeitura, para auxiliar na formação de florestas, podendo ser em áreas públicas ou particulares. A contrapartida exigida do município é o fornecimento de dois técnicos, um para administrar o Programa e o outro para promover a educação ambiental nas zonas urbana e rural. A meta estabelecida pelo Programa é o plantio de cem a quinhentas mil mudas no prazo de cinco anos, em cada município. De todos, Santa Terezinha de Itaipu é o que vem mostrando melhor desempenho, já tendo plantado 196 mil mudas, a grande maioria, na faixa de proteção do lago de Itaipu.

4.8.3. Programa Água Limpa

O Programa vem sendo desenvolvido desde 1994 pelo IAP e tem por objetivo a recuperação da vegetação das margens dos cursos d’água e nascentes, impedindo o seu assoreamento e promovendo a utilização dos recursos hídricos com qualidade. O Programa vem sendo bem recebido em vários municípios, dentre eles Lindoeste, que pretende intensificar o trabalho de recuperação e conservação Lourdes Maria Ferreira 31 Plano de Manejo do Parque Nacional do Iguaçu, 1999 de matas ciliares, com o propósito de aumentar sua participação no ICMS Ecológico.

4.8.4. Programa Terra Limpa

O programa lançado pelo IAP e a SEAG é destinado a resolver o problema da retirada das embalagens de agrotóxicos no campo e que são altamente contaminantes. Consiste na educação ambiental dos produtores, conscientizando- os sobre a importância da lavagem tríplice das embalagens, para o seu posterior acondicionamento em local apropriado. O Programa, executado junto às prefeituras e à Empresa Brasileira de Assistência Técnica (EMATER), incentiva que o produtor encaminhe essas embalagens à unidade redutora, localizada em Santa Terezinha de Itaipu, para serem posteriormente enviadas a São Paulo para incineração. O IAP é o órgão encarregado de emitir as licenças de transporte do produto. No Programa estão envolvidos técnicos das prefeituras, da EMATER e da SEAG do Estado.

4.8.5. Programa Paraná 12 Meses

Consiste no principal projeto do governo estadual para o setor agrícola. Financiado pelo Banco Mundial (BIRD), encontra-se hoje em fase de implantação em vários municípios, incluindo a região oeste. O objetivo geral é aliviar a situação da pobreza rural, através do apoio à modernização tecnológica, geração de novos empregos, proteção do meio ambiente, melhoria das condições de habitação e saneamento básico. Um dos sub-componentes importantes do Programa é o de conservação de solos. Os recursos destinados a cada município e sua aplicação são determinados por conselhos municipais, que devem ser formados para gerir o Programa localmente.

4.8.6. Programa Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN)

O Programa visa a preservação de áreas naturais particulares com o reconhecimento do poder público. Uma vez registrada, a área passa a receber atenção especial dos órgãos de meio ambiente e instituições de pesquisa, além de obter vantagens contra queimadas, caça e pesca ilegais, e outras atividades degradadoras do meio ambiente.

Segundo o IAP, o Programa já estimulou a conservação de algumas RPPN estaduais nos Municípios de Medianeira, Ramilândia, Santa Terezinha de Itaipu e Vera Cruz do Oeste.

Em Medianeira estão cadastradas quatro RPPN, de propriedade do Sr. Narciso Luiz Vanini, perfazendo um total de 55ha. Em Ramilândia, a Cooperativa COTREFAL registrou uma RPPN com cerca de 54,20ha. Em Santa Terezinha de Itaipu, a Fazenda Santa Maria cadastrou uma RPPN com 242ha e em Vera Cruz do Oeste a estância Alvorada registrou uma RPPN com 676ha.

Além desses programas, está em estudo pelo IAP o Projeto Rede da Biodiversidade, que tem por objetivo o estabelecimento de uma malha ou rede de comunicação formada por corredores que englobam os ecossistemas remanescentes do Estado. O Programa ainda não teve sua implementação iniciada.

4.9. APOIO INSTITUCIONAL - ORGANIZAÇÕES EXISTENTES Lourdes Maria Ferreira 32 Plano de Manejo do Parque Nacional do Iguaçu, 1999 Há em todos os quatorze municípios associação de produtores; sindicatos de trabalhadores rurais; representação de cooperativas regionais, com postos de venda e recepção de produtos; associação de moradores; clubes e outras associações civis. Também estão presentes representantes de instituições governamentais, que interagem diretamente com a principal atividade produtiva, que são os representantes da EMATER, da SEAG, e do IAP. Todas as organizações possuem potencial para um trabalho de cooperação com o IBAMA para a melhor conservação do PNI.

Ainda há outros potenciais parceiros são a Itaipu Binacional, que vem desenvolvendo trabalhos de manejo florestal nos municípios lindeiros ao lago; o CEAI, que desenvolve programas de educação ambiental na rede escolar e a UNIOESTE, que tem suas faculdades distribuídas entre Foz do Iguaçu, Cascavel, Toledo e Marechal Cândido Rondon. A última vem promovendo estudos, pesquisas e projetos de desenvolvimento ecoturísticos na região do entorno do PNI.

Com bastante atuação na região encontra-se, ainda, a Associação dos Municípios do Oeste do Paraná (AMOP), que congrega todos os municípios situados no oeste paranaense e tem como objetivo definir estratégias de ação conjunta, prestar assessoria técnica e jurídica, bem como fazer pressão junto ao governo estadual e aos políticos para obter defesa dos interesses regionais. Sua sede é em Cascavel, e é dirigida por um prefeito eleito a cada gestão. Atualmente o Presidente da AMOP é o Prefeito do Município de Céu Azul (abril/99).

A Associação dos Municípios do Sudoeste do Paraná (AMSOP), a Associação das Câmaras Municipais do Oeste do Paraná (ACAMOP) e a Coordenadoria das Associações Comerciais do Oeste do Paraná (CACIOPAR) são também outras entidades dinâmicas da região.

Entre as ONG dedicadas ao meio ambiente destaca-se a Associação de Proteção ao Meio Ambiente de Céu Azul (PROMAZUL), criada em 1986. Ela é formada por profissionais liberais locais, agrônomos, professores e outros, e tem como objetivo o desenvolvimento de trabalhos de educação ambiental em escolas, junto aos agricultores e à população em geral.

A PROMAZUL, com apoio da Prefeitura de Céu Azul e outras entidades locais, realizou uma campanha de educação ambiental junto ao público que transita pela BR-277, em 1998. Eram objetivos esclarecer sobre os perigos de atear fogo na área do Parque, pois seus limites atingem a rodovia; os cuidados com o lixo produzido (houve a distribuição de sacos plásticos para serem utilizados nos carros e ônibus) e demais problemas relativos ao ambiente. Segundo as estimativas dos entrevistados, a campanha atingiu mais de 11 mil pessoas (SPVS, 1998).

A Sociedade Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) é uma ONG sediada em Curitiba, que desenvolveu estudos e programas de educação ambiental no PNI, no período 1997-1998, através de convênio com o IBAMA. Já elaborou e implementou curso de capacitação para professores, funcionários do Parque e policiais do Batalhão Florestal, além de ter organizado vários seminários para as comunidades do entorno do Parque.

Ainda, a Associação de Desenvolvimento Amigos do Parque apresenta grande potencial para um trabalho conjunto com o IBAMA. Trata-se de um consórcio intermunicipal criado em 27/01/1998, com a finalidade de promover o desenvolvimento dos municípios limítrofes ao PNI e da sua área de influência. É constituído pelas prefeituras, câmaras de vereadores, associações comerciais, industriais e agropecuárias dos Municípios de Foz do Iguaçu, Santa Terezinha, Lourdes Maria Ferreira 33 Plano de Manejo do Parque Nacional do Iguaçu, 1999 Serranópolis, Medianeira, Matelândia, Santa Tereza do Oeste, Lindoeste, Santa Lúcia, Capitão Leônidas Marques, Capanema e São Miguel do Iguaçu. (AIPOPEC, 1997). A Associação vem desenvolvendo nos últimos dois anos estudos visando o turismo rural, o ecoturismo, a proteção do solos e das microbacias da região, com especial atenção aos estudos para a implantação da Agenda XXI nos municípios.

4.10. BIBLIOGRAFIA

AIPOPEC, 1997. A Integração Regional do Parque Nacional do Iguaçu. Oeste do Paraná. Associação de Integração Comunitária Pró-Estrada do Colono. (Curitiba).

AMOP, 1997. Dados Informativos dos Municípios do Oeste do Paraná. Associação dos Municípios do Oeste do Paraná. Cascavel.

Dallo, L. 1998. Caminho do Colono, Vida e Progresso. 5º Ed. Francisco Beltrão Grafit. Francisco Beltrão.

DIBAP/IAP. 1998. Projeto ICMS Ecológico por Biodiversidade. Diretoria de Biodiversidade (DIBAP)/Instituto Ambiental do Paraná (IAP). Curitiba.

ECOPARANA, 1998. Projeto Costa Oeste. Curitiba.

Ferreira, J. C. Vicente. 1996. O Paraná e seus Municípios. Memória Brasileira. Maringá.

FIREPA. (1999). Plano de Manejo do Parque Nacional do Iguaçu, Ecoturismo e Desenvolvimento Socioeconômico. Versão Preliminar, Incompleta. Instituto Regional de Estudos e Pesquisas Ambientais (FIREPA). Foz do Iguaçu.

FOZTUR. 1996. Dados Disponibilizados na INTERNET. Foz do Iguaçu.

IPARDES, 1998. Cadernos Estatísticos Municipais (Foz do Iguaçu, São Miguel do Iguaçu, Serranópolis do Iguaçu, Matelândia, Céu Azul, Santa Terezinha de Itaipu, Santa Tereza do Oeste, Lindoeste, Capitão Leônidas Marques, Medianeira, Santa Lúcia, Vera Cruz do Oeste, Ramilândia e Capanema). Curitiba.

Muchailh, Mariese C. 1998. Relatório sobre o Parque Nacional do Iguaçu e Entorno. (Instituto Ambiental do Paraná, IAP). Toledo.

Pozzobon, Maria Glória G., Loyola, Rosana da G. N. e Mattiello, Iria. 1998. Avaliação Ecológica Rápida do Parque Nacional do Iguaçu. Diagnóstico

Ambiental. Qualidade de Água de Rios. Instituto Ambiental do Paraná (IAP)/Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Toledo.

SESA/ISEP/DVP/CEDI. 1996. Dados sobre a Saúde no Paraná. Curitiba.

SPVS. 1998. Sub-componente Educação Ambiental junto às Comunidades do Entorno do Parque Nacional do Iguaçu. Curitiba.

Brasília, 06 de maio de 1999 Lourdes Maria Ferreira 34 Plano de Manejo do Parque Nacional do Iguaçu, 1999

Lourdes M. Ferreira Ecóloga, M.Sc./G.C. - FUPEF/IBAMA Executora Técnica do Projeto Responsável pela Complementação e Consolidação do Encarte 4