Universidade Católica de Brasília

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM PLANEJAMENTO E GESTÃO AMBIENTAL Mestrado

ANÁLISE DO INVENTÁRIO HIDROELÉTRICO DA BACIA DO RIO DO SONO – TO, SUBSIDIO PARA A IDENTIFICAÇÃO DE VARIÁVEIS SÓCIOAMBIENTAIS APLICADAS NA CONSTRUÇÃO DE UM MODELO DE INVENTÁRIO HIDROELÉTRICO DINÂMICO

Autor: Tiago Veiga Madeira Mauriz Orientador: Prof. Dr. Paulo Jorge Rosa Carneiro

BRASÍLIA 2008 ii

TIAGO VEIGA MADEIRA MAURIZ

ANÁLISE DO INVENTÁRIO HIDROELÉTRICO DA BACIA DO RIO DO SONO – TO, SUBSIDIO PARA A IDENTIFICAÇÃO DE VARIÁVEIS SÓCIOAMBIENTAIS APLICADAS NA CONSTRUÇÃO DE UM MODELO DE INVENTÁRIO HIDROELÉTRICO DINÂMICO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação Stricto Sensu em Planejamento e Gestão Ambiental da Universidade Católica de Brasília, como requisito para a obtenção do Título de Mestre em Planejamento e Gestão Ambiental.

Orientador: Prof. Dr. Paulo Jorge Rosa Carneiro

Brasília 2008 iii

Dissertação de autoria de Tiago Veiga Madeira Maurizs, intitulada “Determinação de Variáveis Sócioambientais para a Construção de um Modelo de Inventário Hidrelétrico Dinâmico, Estudo Aplicado à Bacia do Rio do Sono -To”, requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Planejamento e Gestão Ambiental, defendida, em 28 de novembro de 2008, pela banca examinadora constituída por:

Área de concentração: Planejamento e Gestão Ambiental

Banca Examinadora:

______Prof. Dr. Paulo Jorge Rosa Carneiro - UCB Orientador

______Dr. Luís Carlos Ferreira - ANEEL Examinador Externo

______Prof. Dr. Rômulo José da Costa Ribeiro - UCB Examinador Interno

Brasília 2008 iv

Aos meus queridos pais Francisco Madeira Mauriz e Maria José Veiga Mauriz, pelo, amor, incentivo, apoio e compreensão em todos os momentos. Exemplos de luta, honestidade e determinação. À minha irmã Iracema pelo incentivo e estímulo. À Patrícia Nogueira Taboada por toda a cumplicidade, paciência, amor e companheirismo. Ao Prof. Dr. Paulo Jorge Rosa Carneiro, por acreditar, pelo auxílio no caminhar sem nunca, jamais, desistir. v

AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Dr. Rômulo Ribeiro pelo auxílio na concretização do modelo À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES pela concessão da bolsa de estudo. À Centrais Elétricas do Norte do Brasil - ELETRONORTE pelo investimento nesta pesquisa. Aos estimados amigos Icléa Queirós, Bruno Maciel e Paula Romão, pelo apoio técnico e auxílio no trabalho e por todos os momentos que passamos juntos. vi

RESUMO

O processo de ocupação dos territórios brasileiros, associado à política de reordenamento territorial (áreas de preservação, demarcação de reservas indígenas, assentamento de populações), acaba por promover restrições ou gerar conflitos ou, numa escala menor, oposição de interesses ou de idéias com o setor elétrico, sendo necessário desenvolver procedimentos que, inseridos em um processo de tomada de decisões, colaborem na apropriação dos potenciais hidroenergéticos identificados. Além disso, a dinâmica do desenvolvimento humano, ao mesmo tempo em que exige o reconhecimento e a disponibilidade de novos potenciais energéticos, requer a compatibilidade ambiental das intervenções, mesmo dos estudos de inventário hidrelétrico já realizados sob a ótica do aproveitamento ótimo, que trata a Lei 9.074 de 1995. Esses inventários a partir de sua conclusão permanecem sob a necessidade de revisão, tendo em conta a variabilidade dos aspectos socioambientais que devem ser considerados atualmente. A presente dissertação propõe determinar as variáveis socioambientais que permitem a construção de um inventário dinâmico de bacias hidrográficas a partir do diagnóstico socioambiental realizado nesta fase. No caso presente, utilizou-se do Inventário Hidrelétrico da Bacia do Rio do Sono – TO como plataforma sobre a qual se desenvolveu a metodologia apresentada. Entende-se que a partir do desenvolvimento do modelo aqui abordado torna-se possível acompanhar as mudanças decorrentes do uso consuntivo da água, da ocupação do solo, da legislação de recursos hídricos, meio ambiente e do setor elétrico, que podem incidir sobre o potencial identificado, possibilitando avaliar, sistematicamente, os possíveis impactos dessas mudanças no potencial hidroelétrico identificado pelos estudos de inventário energéticos disponíveis.

Palavras-chave: Modelo de Inventário Hidrelétrico Dinâmico. Variáveis Recursos Hídricos. Ambientais. vii

ABSTRACT

The process of occupation of Brazilian territories associated with the policy of territorial reorganization (areas of preservation, demarcation of indigenous reserves, settlement of populations) ends up promoting restraints or generating conflict or opposition of interests or ideas with the energy sector, being necessary to develop a procedure which, inserted into a decision-making process, assists in the appropriation of any hydroenergetic potential identified. Additionally, the dynamics of human development, while requiring the discovery and availability of new energy potential, also demands environmental compatibility of the interventions, which is the focus of Act 9074 of 1995. The act determines that existing studies of the hydroelectric inventory, which were original conducted from the viewpoint of optimal utilization, are also required to take into account the variability in social and environmental aspects considered relevant today and are, therefore, subject to review. This thesis proposes to determine the social and environmental variables that allow the construction of a dynamic inventory of drainage basins based on social-environmental diagnosis already carried out. In this thesis, the hydroelectric inventory of the Sono - TO river basin was used as a platform under which the presented methodology was developed. It is understood that from the deployment of the model addressed here, it becomes possible to monitor changes to the use of water, soil occupation, to the legislation of water resources, the environment and of the energy sector, in as much as they can affect on the potential identified, allowing the systematic evaluation of the possible impact of these changes in the hydroelectric potential identified in the energy inventory studies available.

Keywords: Dynamic Model of Hydroelectric Inventory. Variable Environmental and Water Resources. viii

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1: POTENCIAL TECNICAMENTE APROVEITÁVEL PARA GERAÇÃO DE ENERGIA

HIDRELÉTRICA NO MUNDO...... 35

FIGURA 2: DISTRIBUIÇÃO DAS 306 GRANDES BARRAGENS3 PELAS BACIAS HIDROGRÁFICAS DO

PLANETA...... 39 FIGURA 3: REPRESENTAÇÃO ESPACIAL DE TODOS OS APROVEITAMENTOS HIDRELÉTRICOS, EM

TODAS AS FASES DE IMPLANTAÇÃO NO BRASIL, COM DADOS DO SIPOT...... 50 FIGURA 4: POTENCIAL HIDRELÉTRICO BRASILEIRO POR SUB-BACIA HIDROGRÁFICA – SITUAÇÃO EM MARÇO DE 2003...... 53

FIGURA 5: ETAPAS PARA A IMPLANTAÇÃO DE APROVEITAMENTOS HIDROELÉTRICOS ...... 57

FIGURA 6: REGIÕES HIDROGRÁFICAS DO BRASIL...... 60

FIGURA 7: SUB-REGIÕES NO NÍVEL 1 DA REGIÃO HIDROGRÁFICA DO -ARAGUAIA... 63

FIGURA 8: UNIDADES DE PLANEJAMENTO DA REGIÃO HIDROGRÁFICA DO TOCANTIS-ARAGUAIA...... 64

FIGURA 9: ÁREAS PRIORITÁRIAS PARA CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE DA REGIÃO

HIDROGRÁFICA DO TOCANTINS-ARAGUAIA...... 69

FIGURA 10: SUB-BACIAS DO RIO TOCANTINS...... 73

FIGURA 11: MAPA DOS MUNICÍPIOS NA BACIA DO RIO DO SONO...... 82

FIGURA 12: MAPA DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO E TERRA INDÍGENA NA BACIA DO RIO DO

SONO...... 84

FIGURA 13: EXEMPLO DE DIVISÃO DE QUEDA NO RIO SONO...... 87

FIGURA 14: ENCONTRO DAS BACIAS HIDROGRÁFICAS DOS RIOS TOCANTINS E SÃO FRANCISCO...... 89

FIGURA 15: SÍNTESE METODOLÓGICA PARA A CONSTRUÇÃO DE UM MODELO DE INVENTÁRIO

HIDRELÉTRICO DINÂMICO...... 113

FIGURA 16: TABELAS COM A DEFINIÇÃO DA COTA, ÁREA E VOLUME...... 116

FIGURA 17: RELAÇÃO ÍNDICE AMBIENTAL VERSUS ÍNDICE CUSTO-BENEFÍCIO DOS

EMPREENDIMENTOS HIDRELÉTRICOS COM DADOS DO INVENTÁRIO...... 117

FIGURA 18: MODELO ELABORADO NO ARCGIS POR MEIO DO MODEL BUILDER ...... 120

FIGURA 19: GRÁFICO DA RELAÇÃO ÍNDICE AMBIENTAL VERSUS ÍNDICE CUSTO-BENEFÍCIO PARA

OS EMPREENDIMENTOS IDENTIFICADOS NO INVENTÁRIO HIDRELÉTRICO, COM BASE NOS

DADOS DA ANÁLISE DO DIAGNÓSTICO SOCIOAMBIENTAL PÓS-INVENTÁRIO...... 122 ix

LISTA DE TABELAS

TABELA 1: NÚMERO DE BARRAGENS NO MUNDO, POR PAÍS (1994)...... 38

TABELA 2: FONTES PRIMÁRIAS DE ENERGIA NO MUNDO (2003)...... 40

TABELA 3: FONTES PRODUTORAS DE ENERGIA ELÉTRICA NO MUNDO (2003)...... 40

TABELA 4: OS 10 PAISES MAIORES GERADORES DE ENERGIA ELÉTRICA NO MUNDO ...... 40

TABELA 5: PRINCIPAIS PAISES PRODUTORES DE HIDROELETRICIDADE (COM PARTICIPAÇÃO DE

HIDROELETRICIDADE NA PRODUÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA) (2001)...... 41

TABELA 6: PRINCIPAIS PAÍSES E FATORES DE CAPACIDADE DE SEUS SISTEMAS HIDRELÉTRICOS.42

TABELA 7: TOTAL DE RECURSOS HÍDRICOS POR PAIS (2003) ...... 42

TABELA 8: ESTIMATIVAS DOS POTENCIAIS HIDRELÉTRICOS NO MUNDO (2000/2001)...... 43 TABELA 9: POTENCIAL HIDRELÉTRICO BRASILEIRO POR BACIA HIDROGRÁFICA – SITUAÇÃO EM MARÇO DE 2003 ...... 52

TABELA 10: DISPONIBILIDADE HÍDRICA PER CAPITA DA REGIÃO HIDROGRÁFICA DO TOCANTINS-

ARAGUAIA SEGUNDO O MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE...... 65

TABELA 11: DISPONIBILIDADE HÍDRICA PER CAPITA DA REGIÃO HIDROGRÁFICA DO TOCANTINS-

ARAGUAIA SEGUNDO A AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS...... 65

TABELA 12: APROVEITAMENTOS HIDRELÉTRICOS EM OPERAÇÃO E PREVISTOS NO RIO

TOCANTINS...... 74

TABELA 13: DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO DA BACIA DO RIO DO SONO EM 2007...... 81

TABELA 14: ELEMENTOS DE CARACTERIZAÇÃO DO COMPONENTE-SÍNTESE ECOSSISTEMAS

AQUÁTICOS...... 105

TABELA 15: ELEMENTOS DE CARACTERIZAÇÃO DO COMPONENTE-SÍNTESE ECOSSISTEMAS

TERRESTRES...... 106

TABELA 16: ELEMENTOS DE CARACTERIZAÇÃO DO COMPONENTE-SÍNTESE MODOS DE VIDA. 107

TABELA 17: ELEMENTOS DE CARACTERIZAÇÃO DO COMPONENTE-SÍNTESE ORGANIZAÇÃO

TERRITRIAL ...... 109

TABELA 18: ELEMENTOS DE CARACTERIZAÇÃO DO COMPONENTE-SÍNTESE BASE ECONÔMICA ...... 110

TABELA 19: ELEMENTOS DE CARACTERIZAÇÃO DO COMPONENTE-SÍNTESE POPULAÇÃO

INDÍGENA/POPULAÇÃO TRADICIONAL...... 111

TABELA 20: ÍNDICE AMBIENTAL VERSUS ÍNDICE CUSTO-BENEFÍCIO PARA OS

EMPREENDIMENTOS HIDRELÉTRICOS ...... 117

TABELA 21: ÍNDICE AMBIENTAL VERSUS ÍNDICE CUSTO-BENEFÍCIO DINÂMICO...... 121 x xi

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1: PROCEDIMENTOS INSTITUCIONAIS/LEGAIS PARA ELABORAÇÃO DO ESTUDO DE

INVENTÁRIO...... 58

QUADRO 2: SUB-REGIÕES DA REGIÃO HIDROGRAFIA DO TOCANTINS-ARAGUAIA...... 62

QUADRO 3: NOMEAÇÃO DOS COMPARTIMENTOS DA BACIA DO RIO TOCANTINS...... 75

QUADRO 4: APROVEITAMENTOS HIDRELÉTRICOS DA BACIA DO RIO TOCANTINS POR

COMPARTIMENTO...... 76

QUADRO 5: MATRIZ DE CONFLITOS DA BACIA DO RIO TOCANTINS...... 78

QUADRO 6: UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DA BACIA DO RIO DO SONO...... 83 xii

LISTA DE SIGLAS, SÍMBOLOS E ABREVIATURAS

AAE Avaliação Ambiental Estratégica AAI Avaliação Ambiental Integrada AGMA Agência Goiana de Meio Ambiente AHE Aproveitamentos Hidrelétricos AIA Avaliação de Impacto Ambiental ANA Agência Nacional de Águas ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica APA Área de Proteção Ambiental APCBs Áreas Prioritárias para Conservação da Biodiversidade APIA Avaliação Preliminar de Impactos Ambientais APPs Áreas de Preservação Permanente APs Áreas Protegidas ARIE Área de Relevante Interesse Ecológico Art. Artigo BNDE Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico CBH Comitê de Bacia Hidrográfica CEEIBH Comitê Especial de Estudos Integrados de Bacias Hidrográficas CEPEL Centro de Pesquisas de Energia Elétrica CERH Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos CHESF Companhia Hidro Elétrica do São Francisco CIAT-Jalapão Comissão de Instalação de Ações Territoriais do Jalapão CMMD Comissão Mundial do Meio Ambiente CNAE Conselho Nacional de Águas e Energia CNPE Conselho Nacional de Política Energética CNRH Conselho Nacional de Recursos Hídricos COMASE Comitê Coordenador das Atividades do Meio Ambiente do Setor Elétrico CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente CUR Custo Unitário de Referência DNAEE Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica EE Estação Ecológica EIA Estudo de Impacto Ambiental EIBH Estudo Integrado de Bacia Hidrográfica ELETROBRÁS Centrais Elétricas Brasileiras S.A. ELETRONORTE Centrais Elétricas do Norte do Brasil S.A. ELETROSUL Centrais Elétricas do Sul do Brasil S.A. EP Energia Potencial EPE Empresa de Pesquisa Energética ESCELSA Espírito Santo Centrais Elétricas S.A. FLONA Floresta Nacional FUNAI Fundação Nacional do Índio FURNAS Central Elétrica de Furnas S.A. g aceleração da gravidade GW gigawatts h altura IA Índice Ambiental IBAMA Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis xiii

ICB Índice Custo-Benefício INCRA Instituto de Colonização e Reforma Agrária kW quilowatts MAE Mercado Atacadista de Energia Elétrica MMA Ministério do Meio Ambiente MME Ministério das Minas e Energia MN Monumento Natural MW megawatts ONGs Organizações não-governamentais ONS Operador Nacional do Sistema Elétrico ONU Organização das Nações Unidas IIPDMA II Plano Diretor de Meio Ambiente PARNA Parque Nacional PCH Pequena Central Hidrelétrica PDEE Plano Decenal de Expansão da Energia Elétrica PE Parque Estadual PM Parque Municipal PNRH Plano Nacional de Recursos Hídricos PGAPGR Programa de Gestão Ambiental da Procuradoria Geral da República PRODECER Programa de Cooperação Nipo-Brasileira para o Desenvolvimento do Cerrado Q vazão RDS Reserva de Desenvolvimento Sustentável REBIO Reserva Biológica REx Reserva Extrativista RF Reserva de Fauna RIMA Relatório de Impacto Ambiental RPPN Reserva Particular do Patrimônio Natural RVS Refúgio de Vida Silvestre SANEATINS Companhia de Saneamento do Tocantins SB Sub-bacias SIN Sistema Interligado Nacional SISNAMA Sistema Nacional de Meio Ambiente SNGRH Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservação SRH Secretaria de Recursos Hídricos TAC Termo de Ajustamento de Conduta TIs Terras Indígenas UCB Universidade Católica de Brasília UHE Usina Hidrelétrica xiv

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...... 15 2 O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E A HIDROELETRICIDADE ...... 19 2.1 Aspectos Gerais ...... 19 2.2 A Legislação Referente ao Aproveitamento de Potenciais Hidroelétricos ...... 23 2.3 A Organização Institucional ...... 27 3 A HIDROELETRICIDADE NO MUNDO E NO BRASIL...... 33 3.1 Aspectos Gerais ...... 33 3.2 A Hidroeletricidade no Mundo ...... 34 3.3 A Hidroeletricidade no Brasil ...... 43 4 O INVENTÁRIO HIDRELÉTRICO ...... 55 4.1 Etapas de Estudos e Projetos para a Implantação de um Aproveitamento Hidroelétrico...... 55 4.2 Procedimentos para a Construção e Aprovação de Aproveitamentos Hidrelétricos ...... 57 5 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO...... 59 5.1 Região Hidrográfica do Tocantins-Araguaia ...... 59 5.2 Bacia Hidrográfica do Rio Tocantins ...... 71 5.2.1 Os Conflitos da Bacia do Rio Tocantins segundo a AAI da EPE ...... 77 5.3 Sub-Bacia Hidrográfica do Rio do Sono...... 79 6 MODELOS DINÂMICOS E ÍNDICES AMBIENTAIS...... 90 6.1 Análise de Sistemas...... 90 6.2 Modelo ...... 91 6.2 Construção de Cenários ...... 92 6.3 Incorporação da Variável Ambiental no Inventário Hidrelétrico...... 94 7 METODOLOGIA ...... 113 8 ANÁLISE DE DADOS E RESULTADOS ...... 121 9 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ...... 124 10 REFERÊNCIAS...... 126 APÊNDICE A - MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS...... 133 15

1 INTRODUÇÃO

No Brasil, água e energia têm uma histórica interdependência. A contribuição da energia hidráulica ao desenvolvimento econômico do País tem sido expressiva, seja no atendimento das diversas demandas da economia – atividades industriais, agrícolas, comerciais e de serviços – ou da própria sociedade, seja na melhoria do conforto das habitações e da qualidade de vida das pessoas. Também desempenha papel importante na integração e no desenvolvimento de regiões distantes dos grandes centros urbanos e industriais. Conforme o Art. 225 da Constituição Federal do Brasil, de 1988, a água é um bem essencial à vida humana, cabendo à União o seu gerenciamento a fim proporcionar à população os benefícios relacionados com o consumo humano, animal, produção de alimentos, energia e demais usos. Portanto a utilização do potencial hidráulico, para a geração de energia elétrica, é um dos usos possíveis da água. A contribuição da energia hidráulica na matriz energética nacional, segundo o Balanço Energético Nacional (BRASIL, 2008a), é da ordem de 14,7%, e participa com aproximadamente 77% de toda a energia elétrica gerada no país. Apesar da tendência de aumento na participação de outras fontes, devido a restrições socioeconômicas e ambientais de projetos hidrelétricos e aos avanços tecnológicos no aproveitamento de fontes não-convencionais, com destaque para o crescimento dos produtos da cana-de-açucar cuja oferta cresceu 17,1%, tudo indica que a energia hidráulica continuará sendo, por muitos anos, a principal fonte geradora de energia elétrica do Brasil. Embora os maiores potenciais remanescentes estejam localizados em regiões com fortes restrições ambientais, e distantes dos principais centros consumidores, estima-se que, nos próximos anos, pelo menos 50% da necessidade de expansão da capacidade de geração deverá ser atendida por alternativas de origem hídrica. Segundo o Atlas de Energia Elétrica do Brasil (BRASIL, 2005c), as políticas de estímulo à geração descentralizada de energia elétrica promovem uma crescente participação de fontes alternativas na matriz energética nacional, e nesse contexto, as pequenas centrais hidrelétricas terão um papel importante a desempenhar. A expansão da geração de energia lida com um permanente paradoxo da sociedade, que, por um lado, deseja mais energia para o seu desenvolvimento e conforto 16 e por outro, questiona suas formas de produção, principalmente no que diz respeito às interferências no ambiente e nos outros usos potenciais dos recursos naturais. O planejamento bem elaborado, a transparência e a democratização dos processos de decisão são mecanismos capazes de promover as soluções desses conflitos. Nesse sentido, a fase de inventário dos potenciais hidroelétricos assume importância, pois é nessa etapa e com a devida antecedência é que se pode perceber tanto as potencialidades como os impactos do aproveitamento energético de uma bacia hidrográfica. A bacia do rio do Sono, localizada na região norte do país, dentre as opções para o estudo, foi escolhida por ser uma área de relevante interesse hidroenergético, e com disponibilidade de dados técnicos e informações que possibilitam a caracterização socioambiental em relação ao uso da água, evidentes ou potenciais. Trata-se de uma área que vivencia um processo de desenvolvimento regional, desde o desmembramento dos Estados de Tocantins e Goiás, em 1988. A existência, na bacia em estudo, de unidades de conservação, terras indígenas, comunidades quilombolas, assentamentos, crescente produção agropecuária, proximidade com a ferrovia Norte-Sul e provável contribuinte da transposição de vazão para o rio São Francisco, geram impactos e/ou conflitos no uso da água que refletem sobre os potenciais hidroelétricos inventariados. Portanto, é necessário, de forma holística, integrar os diferentes interesses da sociedade no sentido de dotar o desenvolvimento econômico ao socioambiental. Ainda há que se considerar que a dinâmica da ocupação dos territórios brasileiros associada à política de reordenação territorial (áreas de preservação, unidades de conservação, demarcação de reservas indígenas, assentamentos populacionais), acaba por impor novas restrições ou gerar novos conflitos ou oposição de interesses ou de idéias com o setor elétrico, sendo portanto necessário desenvolver procedimentos, que inseridos em um processo de tomada de decisões auxilie na melhor apropriação dos potenciais hidroenergéticos identificados. Processos dinâmicos de inventário, como o que se busca neste estudo constituem procedimentos que utilizam estruturas de amplo domínio passíveis de inserção de dados e informações que facilitam e caracterização atualizada dos potenciais hidroenergéticos já inventariados. A dinâmica do desenvolvimento humano, ao mesmo tempo que exige o reconhecimento e a disponibilidade de novas fontes energéticas, requer a compatibilidade ambiental das intervenções e mesmo dos estudos de inventário 17 hidrelétricos já realizados. Os inventários mesmo os mais recentes, permanecem sob a necessidade permanente de revisão, tendo em conta a variabilidade das políticas ambientais, dos interesses sociais e dos indicadores ambientais adotados. Com base nesses conceitos, o presente estudo analisa a legislação de recursos hídricos, de meio ambiente, do setor elétrico, tendo como base o Manual de Inventário Hidroelétrico de Bacias Hidrográficas (BRASIL, 2007g) que são determinantes nos estudos de inventário energético; realiza uma caracterização das variáveis socioambientais pós-inventário hidrelétrico da bacia do rio do Sono (TO) com vista na identificação de parâmetros passíveis de serem utilizados em um modelo dinâmico de inventário hidrelétrico. Assim sendo, o objetivo geral do presente trabalho é demonstrar que existem formas eficientes e relativamente rápidas de manter um Estudo de Inventário Hidrelétrico atualizado, com base na sistematização da informação disponibilizada por este tipo de estudo em sistemas de base de dados assim como avaliar as metodologias de análises ambientais disponíveis e estabelecer sua relação com variáveis ambientais passiveis de serem incorporadas em um sistema de inventário hidrelétrico dinâmico, que incidem sobre o potencial energético da bacia piloto do rio do Sono (TO), de forma a atender uma parte do projeto 222 UCB/ELETRONORTE, que visa avaliar restrições ou conflitos de uso do solo e recursos hídricos na bacia em foco, considerando cenários sobre os potenciais energéticos além de ponderar oportunidades de novos investimentos em hidroeletricidade, auxiliar no desenvolvimento de sistemas de suporte a decisão para a tomada de decisão gerencial e técnica nas áreas de meio ambiente e recursos hídricos. Os objetivos específicos são: • analisar a legislação de recursos hídricos, ambiental, do setor elétrico e legislação correlata que sejam determinantes nos estudos de inventário energético; • examinar o Manual de Inventário Hidroelétrico de Bacias Hidrográficas de 1997 e de 2007 no que diz respeito as contribuições e recomendações socioambientais; • identificar variáveis socioambientais para a bacia do rio do Sono (TO), passíveis de serem aplicadas em modelo de inventário dinâmico. • desenvolver o modelo de inventário hidroelétrico dinâmico. 18

Neste trabalho a reflexão sobre o Desenvolvimento Sustentável e a Hidroeletricidade é abordado no capítulo 2. No capítulo 3, discorre-se sobre a geração de energia hidrelétrica no Mundo e no Brasil, com ênfase em aspectos gerais e o histórico do aproveitamento dos recursos hidroelétrico no Brasil. O capítulo 4 analisa os estudos de inventário hidrelétrico de bacias hidrográficas, bem como as metodologias ambientais utilizadas nesses estudos. No capítulo 5 discorre-se sobre a caracterização da área de estudo: a região hidrográfica do Tocantins-Araguaia, a bacia hidrográfica do rio Tocantins e a sub-bacia do rio do Sono. No capítulo 6 são abordados os temas: análises de sistemas, modelos ambientais e os índices ambientais adotados pelo Manual de Inventário Hidroelétrico de Bacias Hidrográficas do ano de 2007. No capítulo 7 é apresentada a metodologia utilizada neste estudo. O capítulo 8 apresenta uma análise dos resultados e o capítulo 9 trata das conclusões após caracterização socioambiental da bacia do rio do Sono (TO), com base nos os procedimentos adotados no capítulo 7. Por fim o capítulo 10 elenca as referências bibliográficas utilizadas para fundamentar a presente dissertação. 19

2 O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E A HIDROELETRICIDADE

2.1 Aspectos Gerais

É possível dizer que grande parte dos problemas vivenciados atualmente estão relacionados a um considerável número de usinas hidroelétricas, que no Brasil, foram planejadas e construídas sob um contexto político institucional diferente e sob um paradigma de desenvolvimento estabelecido sob à ótica do progresso. A gestão ambiental é uma prática recente, que vem ganhando espaço nas instituições públicas e privadas. Através dela é possível a mobilização das organizações para se adequar à promoção de um meio ambiente ecologicamente equilibrado. Seu objetivo é a busca de melhoria constante dos produtos, serviços e ambiente de trabalho, em toda organização, levando-se em conta o fator ambiental (PGAPGR, 2008b). No processo de viabilização de um empreendimento de acordo com Frota (2001) exige-se a análise sob os pontos de vista: técnico, econômico, financeiro, e, sobretudo, sob a ótica dos impactos e conflitos ambientais. As questões relativas aos aspectos socioambientais não remetem a soluções simples, únicas e cartesianas, envolvem variáveis com subjetividade e incertezas que exigem dos gestores ambientais atenção, paciência e posturas éticas. Existia na cultura brasileira a tradição de não se discutir publicamente os projetos de desenvolvimento. Estes, via de regra, foram impostos sobre às populações, que com baixo nível de conhecimento sobre o assunto, reagiam de diferentes maneiras, a depender da intensidade dos efeitos, do seu estágio de organização social, da compensação oferecida por incapacidade de reagir frente à escala e à rapidez da obra e às condições de diálogo com o empreendedor.(MÜLLER,1995). Deve ser observado que, atualmente, o processo decisório que conduz à implantação dos projetos hidroelétricos no país apresenta significativa evolução, tanto no que tange a mecanismos de participação e transparência, quanto à preocupação com a distribuição de custos e benefícios. Além disso, a crescente preocupação da sociedade brasileira com a questão socioambiental levou à criação de um arcabouço legal abrangente e rigoroso, com o objetivo de garantir a sustentabilidade social e ambiental, bem como com a preservação dos recursos hídricos. Tal arcabouço estende-se à 20 fiscalização e à defesa do meio ambiente e das minorias, por meio de procuradoria especializada, sendo atualmente o Ministério Público Federal ator relevante no processo de implantação dos novos projetos (BRASIL, 2007g). Até meados dos anos 1980, os empreendimentos de geração vinham sendo hierarquizados nos planos de expansão setorial em função quase exclusivamente do custo unitário da energia a ser produzida (em US$/MWh), sem incorporar os custos ambientais mensuráveis, e muito menos os aspectos não quantificáveis das variáveis ambientais (BRASIL, 2006c). Assim, os empreendimentos implantados nas últimas décadas incorporaram variáveis socioambientais desde as primeiras etapas do processo decisório. Paralelamente ao estabelecimento desses marcos legais, a análise crítica de experiências socioambientais fez com que o setor elétrico brasileiro empreendesse várias iniciativas buscando não somente a adequação ao novo contexto mas, sobretudo, a adoção de uma nova postura tanto na elaboração dos estudos e projetos, quanto na implantação e operação dos empreendimentos. Assim, desde o início da década de 90, foram desenvolvidas orientações, organizadas em distintos níveis de regulamentação, para a incorporação das variáveis socioambientais desde as primeiras etapas do processo decisório. A apresentação no II Plano Diretor de Meio Ambiente – II PDMA – (1991) dos princípios de viabilidade socioambiental, inserção regional e abertura do processo decisório nortearam a explicitação de diretrizes para a implantação de usinas hidrelétricas e a elaboração de manuais que detalham metodologias e procedimentos, para a integração dos os aspectos de engenharia e meio ambiente (BRASIL, 2007g). Seguindo as orientações do II PDMA, foram também feitos esforços com a finalidade de incorporar aos custos das hidrelétricas aqueles relacionados aos aspectos socioambientais, desde as primeiras estimativas elaboradas nos estudos de inventário. Nas etapas subseqüentes de desenvolvimento de um projeto de inventário hidroelétrico, ou seja, viabilidade, projeto básico e projeto executivo, tais custos vão sendo cada vez mais detalhados, permitindo a consideração mais precisa dos custos de compensação e mitigação ambiental. No final da década de 1990, a ANEEL e a Eletrobrás reeditaram o conjunto de manuais que orientam a elaboração de estudos para as etapas de inventário, viabilidade, projeto básico, sistemas de transmissão e para projetos de pequenas centrais hidroelétricas. Todos são documentos de orientação para contratação e desenvolvimento 21 dos estudos que adotam uma concepção de planejamento integrado contemplando, no processo decisório, os aspectos institucionais e legais, energéticos, econômicos e socioambientais (BRASIL, 2007g). Associada ao desenvolvimento da legislação e do marco regulatório setorial, a sistemática de planejamento e implantação dos projetos fica determinada pela atuação preferencial de: agentes privados, da agência fiscalizadora e dos órgãos governamentais. Internacionalmente, o ano 2000 marca a publicação de diretrizes para a implantação de empreendimentos hidroelétricos aderentes aos princípios do desenvolvimento sustentável, tanto por organismos promotores da hidroeletricidade, como também por uma comissão internacional criada especificamente para este fim (WCD, 2000). Além disso, foram desenvolvidas metodologias e ferramentas aplicadas aos estudos socioambientais, como os sistemas de informação georreferenciados e o zoneamento ambiental, que são fundamentais para o planejamento integrado de bacias hidrográficas. Pode-se afirmar que o setor elétrico brasileiro entra no século XXI instrumentalizado para o tratamento adequado dos aspectos socioambientais, em todas as etapas de planejamento, construção e operação de seus empreendimentos. Os aproveitamentos hidrelétricos utilizam uma fonte renovável e limpa, resultando em melhoria de qualidade de vida pela disponibilização da energia elétrica. Porém, não se pode ignorar os impactos significativos causados por alguns empreendimentos hidroelétricos, tanto do ponto de vista da sustentabilidade dos ecossistemas quanto da sustentabilidade social. Considerando uma representação abrangente da evolução dos impactos, pode-se aceitar a área inundada e a população afetada, em relação a potência, como dois indicadores gerais sobre o desempenho das hidroelétricas. Em dezembro de 1989, estavam em operação no País, 60 usinas hidroelétricas com potência superior a 30 MW, correspondendo a uma potência instalada de 52.225 MW. Seus reservatórios ocupavam uma área de 23.847km², ou cerca de 0,28% do território nacional, com uma relação de 0,46 km²/MW instalado, considerando-se a sua potência final. Os 60 reservatórios dedicados à geração de energia elétrica representavam 11% do total de 516 barragens existentes no país (BRASIL, 2008c). Destaca-se que apenas três dos grandes projetos implantados (Itaparica, Tucurui e Sobradinho), totalizando 6.750 MW, somaram cerca de 27.000 famílias para a inundação de 7.917 km2 com uma relação 1,72 km²/MW instalado (BRASIL, 2006c). 22

No ano de 2005, o parque gerador hidroelétrico nacional contava com 116 usinas hidroelétricas em operação com mais de 30 MW e uma potência instalada de 71.000 MW, ocupando uma área de 36.847,64km². As áreas dos reservatórios das usinas em operação representam cerca de 0,4% do território nacional. Essas usinas apresentam uma relação média entre área inundada e potência de 0,52 km²/MW Segundo a previsão dos estudos do Plano Decenal 2006-2015, no qual foram analisados 46 dos 83 novos reservatórios, para a formação desses serão alagados 5.862,21km², ampliando a área inundada em 79% em relação aos reservatórios existentes em 1989 ( BRASIL, 2007g). Com relação a população afetada, existe maior dificuldade na obtenção dos dados, para montar um quadro da evolução do tema, recorreu-se as informações sobre o contingente populacional afetado na década 1992-2002 em usinas acima de 100 MW. No período, entraram em operação 17 usinas hidroelétricas, com potência instalada de 15.647 MW, concentrando-se nas regiões Sudeste, Nordeste, Centro-Oeste e Sul, com inundação de 6.990km² atingindo uma população de 20.912 famílias (83.650 pessoas). Já para o decênio 2005-2016 a previsão para as usinas contempladas no Plano Decenal é de que 73.300 pessoas sejam atingidas ( BRASIL, 2007g). Considerando o acréscimo de energia de 30.963 MW no período, a malha hidrográfica favorável e o baixo percentual de ocupação do território nacional, considera-se que a evolução da expansão da hidroeletricidade tem se realizado com melhoria dos indicadores, principalmente se considerado que esses índices trazem o acúmulo dos grandes reservatórios já construídos. Com referência a implantação de unidades de conservação e outras atividades previstas no SNUC, avanços podem ser registrados. Considerando apenas as ações promovidas pelas empresas do Grupo Eletrobrás, atualmente cerca de 98.000 km recebem apoio em atividades de preservação, em conjunto com os organismos governamentais (BRASIL, 2006c). Outra compensação de caráter compulsório – a compensação financeira (percentual do valor total da energia produzida), em 2003, proporcionou pagamentos a 575 municípios afetados da ordem de US$ 220 milhões, considerando somente os empreendimentos do Grupo Eletrobrás (BRASIL, 2006c). Registram-se, também, contribuições significativas ao desenvolvimento científico do país através dos estudos de planejamento, implantação e monitoramento de reservatórios, sobre as questões de águas, fauna, com destaque para a fauna aquática, flora e patrimônio arqueológico, dentre outros. Vários centros de pesquisas cientificas e 23 sociais tiveram suas atividades alavancadas para subsidiar o equacionamento de questões socioambientais do setor elétrico (BRASIL, 2006c). Vale destacar a importância de identificar, ainda na fase de estudos de inventário hidrelétrico, as características principais da bacia em estudo, os impactos e conflitos potenciais e existentes de uma bacia hidrográfica, as políticas e cenários futuros a partir do conhecimento das dimensões ambientais, sociais, econômicas, culturais e políticas que refletem na apropriação dos potenciais hidrelétricos. Esse procedimento visa proporcionar uma base de dados confiáveis e suficientes aos tomadores de decisão e comunidade afetada a fim de viabilizar interferências de grandes proporções nos corpos hídricos.

2.2 A Legislação Referente ao Aproveitamento de Potenciais Hidroelétricos

Conforme o Manual de Inventário Hidroelétrico de Bacias Hidrográficas (BRASIL, 2007g), para a efetiva gestão integrada, descentralizada e participativa dos recursos hídricos no Brasil, o arcabouço legal e institucional para a gestão da hidroeletricidade, tem a seguinte estrutura. Aspectos Gerais A Lei nº 5.655, de 20 de maio de 1971, dispõe sobre a remuneração legal do investimento dos concessionários de serviços públicos de energia elétrica (BRASIL, 2002ª). A Constituição Federal de 1988 estabelece ser de propriedade da União os potenciais de energia hidráulica e os rios que banhem mais de um estado, atribuindo a ela a competência para exploração direta ou mediante autorização, concessão ou permissão do aproveitamento energético dos cursos de água, em articulação com os Estados onde se situam os potenciais hidroenergéticos. A Lei nº 8.631, de 4 de março de 1993 dispõe sobre a fixação dos níveis das tarifas para o serviço público de energia elétrica e extingue o regime de remuneração garantida. No ano de 1995, a Lei nº 8.987 promove significativa modificação no regime de concessão e permissão da prestação de serviços públicos. Ela regulamenta o Art.175 da Constituição Federal de 1988, cuja nova disciplina determinou que as concessões de 24 serviços e obras públicas e as permissões de serviços públicos seriam objeto de licitação. Merece destaque o dispositivo dessa Lei que institui, para o vencedor da licitação, a obrigação de ressarcir os dispêndios correspondentes aos estudos, investigações, levantamentos, projetos, obras e despesas ou investimentos, vinculados à concessão, de utilidade para a licitação, realizada pelo Poder Concedente ou com a sua autorização, conforme especificados no edital. Com isso ficou franqueado o acesso a esses documentos para os interessados em participar da licitação. A Lei nº 9.074/95 foi publicada amparada no artigo 1o, parágrafo único, da lei nº 8.987 do mesmo ano, tratando, no Capítulo II, dos serviços de energia elétrica, onde disciplina em que termos as concessões, permissões e autorizações de exploração de serviços e instalações de energia elétrica e de aproveitamento energético dos cursos de água serão contratadas, prorrogadas ou outorgadas (BRASIL, 2007). A referida lei estabelece quais empreendimentos são objeto de concessão mediante licitação, exigindo, para tanto, a definição pelo Poder Concedente do “aproveitamento ótimo”. Considera-se como tal todo potencial definido em sua concepção global pelo melhor eixo do barramento, arranjo físico geral, níveis de água operativos, reservatório e potência, integrante da alternativa escolhida para divisão de quedas de uma bacia hidrográfica. Por meio da Lei nº 9.427, de 26 de dezembro de 1996, é criada a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), com a finalidade de regular e fiscalizar a produção, transmissão, distribuição e comercialização de energia elétrica, em conformidade com as políticas e diretrizes do governo federal. Dentre suas atribuições constavam a promoção das licitações destinadas à contratação de concessionárias de serviço público para produção, transmissão e distribuição de energia elétrica e para a outorga de concessão para aproveitamento de potenciais hidráulicos, bem como celebração e gerenciamento dos contratos de concessão ou de permissão de serviços públicos de energia elétrica, de concessão de uso de bem público, expedição de autorizações, bem como fiscalização, diretamente ou mediante convênios com órgãos estaduais, das concessões e da prestação dos serviços de energia elétrica (ANEEL, 2008d). Por meio da Lei nº 9.648, de 27 de maio de 1998, e do Decreto nº 10.438, de 26 de abril de 2002, estabeleceu-se a outorga de autorização para os aproveitamentos de potencial hidráulico de potência superior a 1.000 kW e igual ou inferior a 30.000 kW, 25 destinados à produção independente ou autoprodução, mantidas as características de pequena central hidrelétrica. À ANEEL foram transferidos o acervo técnico e patrimonial, as obrigações, os direitos e receitas do DNAEE. A rede hidrométrica, o acervo técnico e as atividades de hidrologia relativas aos aproveitamentos de energia hidráulica ficaram com o Ministério de Minas e Energia, sob a administração temporária da Agência, como órgão integrante do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (ANEEL, 2008d). Em 18 de julho de 2000 é publicada no Diário Oficial da União a Lei nº. 9.984, criando a Agência Nacional de Águas (ANA), autarquia sob regime especial, com autonomia administrativa e financeira, vinculada ao Ministério do Meio Ambiente, com a finalidade de implementar, em sua esfera de atribuições, a Política Nacional de Recursos Hídricos, integrando o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. A essa Agência competia outorga do direito de uso de recursos hídricos em corpos de água de domínio da União por meio de autorização. Também compete a definição e a fiscalização das condições de operação de reservatórios, com objetivo de garantir o uso múltiplo dos recursos hídricos e, no caso de reservatórios de aproveitamentos hidroelétricos, em articulação com o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Estabeleceu-se então uma relação entre as atividades das duas agências, onde a ANEEL deveria promover junto a ANA obtenção prévia da declaração de reserva de disponibilidade hídrica para licitar a concessão ou autorizar o uso de potencial de energia hidráulica em corpo de água de domínio da União. Contudo quando o potencial hidráulico localizar-se em corpo de água de domínio dos Estados ou do Distrito Federal, a declaração de reserva de disponibilidade hídrica será obtida em articulação com a respectiva entidade gestora de recursos hídricos. No ano de 2003 foi apresentada uma nova proposta de modelo institucional do setor elétrico brasileiro, com o objetivo de assegurar o atendimento da demanda de energia elétrica de forma confiável, com rentabilidade e sustentabilidade econômica. Esta proposta culminou com a publicação da Lei nº. 10.848, de 15 de março de 2004, que dispõe sobre a comercialização de energia elétrica e promovendo a alteração na Lei nº. 9.074/95 e na Lei nº. 9.427/96, dentre outras. A Lei nº. 10.848/2004 estabelece que a comercialização de energia elétrica entre concessionários, permissionários e autorizados de serviços e instalações de energia elétrica, bem como destes com seus consumidores, no Sistema Interligado Nacional 26

(SIN), dar-se-á mediante contratação regulada ou livre e que os agentes do serviço público de distribuição do referido sistema devem garantir o atendimento à totalidade de seu mercado, mediante contratação regulada, por meio de licitação. Esses processos licitatórios devem contemplar procedimentos para contratação de energia proveniente de empreendimento de geração existente, de novos empreendimentos de geração e de fontes alternativas. A nova lei estabelece que as concessões de geração de energia elétrica outorgada anteriormente a 11 de dezembro de 2003 terão o prazo necessário à amortização dos investimentos, limitado a 35 anos, contado da data de assinatura do contrato, sendo permitida a prorrogação por até 20 anos, a critério do Poder Concedente, modificando expressamente o disposto na Lei nº. 9.074/95. A partir dessa lei os agentes do serviço público de distribuição são impedidos de desenvolver atividades de geração e transmissão de energia elétrica, bem como de venda de energia elétrica a consumidores livres, exceto nas mesmas condições estabelecidas para os consumidores cativos. Ficam liberadas desta restrição as concessionárias, permissionárias e autorizadas de distribuição que atendam a sistemas elétricos isolados ou que tenham mercado próprio inferior a 500 GWh/ano. Promove alterações significativas na Lei nº. 9.427/96, que criou a ANEEL, retirando da Agência as competências para promover a articulação com os Estados e o Distrito Federal, para o aproveitamento energético dos cursos de água e a compatibilização com a política nacional de recursos hídricos, para a celebração dos contratos de concessão ou de permissão de serviços públicos de energia elétrica e de concessão de uso de bem público, para a expedição das autorizações, para a definição do aproveitamento ótimo e para a extinção da concessão, devolvendo-as ao Poder Concedente. A regulamentação da nova lei foi estabelecida pelo Decreto nº. 5.163, de 30 de julho de 2004, que define, entre os agentes participantes do novo modelo e suas atividades, os agentes vendedores, assim entendidos como os titulares de concessão, permissão ou autorização do Poder Concedente para gerar, importar ou comercializar energia elétrica. Aos vencedores das licitações que oferecessem energia proveniente de novos empreendimentos seriam outorgadas concessões, a título oneroso, para a geração de energia elétrica sob o regime de serviço público, e de uso de bem público, nos casos de autoprodução ou produção independente. Seriam considerados novos empreendimentos de geração aqueles que até o início do processo licitatório não fossem detentores de 27 qualquer das modalidades de outorga ou que fossem parte de empreendimento existente que viesse a ser objeto de ampliação, restrito ao acréscimo de capacidade resultante. Em sendo vencedores os empreendimentos de geração classificados como Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH), conforme a Resolução nº. 652, de 9 de dezembro de 2003, da ANEEL, ou de geração termelétrica, a outorga correspondente seria a autorização. Quando se tratasse de importação de energia elétrica, essas autorizações deveriam incluir, a implantação dos sistemas de transmissão associados e prever o livre acesso a esses sistemas, nos limites da sua disponibilidade técnica, mediante pagamento de encargo, a ser aprovado pela ANEEL. Juntamente com a Lei nº. 10.848, foi editada a Lei nº. 10.847, criando a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), para suceder ao CCPE como órgão de apoio ao Ministério de Minas e Energia nas suas atividades de planejamento. A EPE vem com a finalidade de prestar serviços na área de estudos e pesquisas necessárias ao planejamento do setor energético, de responsabilidade do MME. Dentre outras atribuições é a responsável por realizar estudos para a determinação dos aproveitamentos ótimos dos potenciais hidráulicos, desenvolverem estudos de impacto social, viabilidade técnico-econômica e socioambiental para os empreendimentos de energia elétrica e de fontes renováveis, obter a licença prévia ambiental e a declaração de disponibilidade hídrica necessárias às licitações envolvendo empreendimentos de geração e transmissão de energia elétrica, bem como elaborar estudos necessários para o desenvolvimento dos planos de expansão da geração e transmissão de energia elétrica de curto, médio e longo prazos.

2.3 A Organização Institucional

O Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), criado pela Lei nº. 9.478, de 6 de agosto de 1997, tem a atribuição de propor ao Presidente da República políticas nacionais e medidas específicas relacionadas à energia. São seus integrantes: o Ministro de Estado de Minas e Energia, que o preside; o Ministro de Estado da Ciência e Tecnologia; o Ministro de Estado do Planejamento, Orçamento e Gestão; o Ministro de 28

Estado da Fazenda; o Ministro de Estado do Meio Ambiente; o Ministro de Estado do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; o Ministro Chefe da Casa Civil da Presidência da República; um representante dos Estados e do Distrito Federal; um cidadão brasileiro especialista em matéria de energia; e um representante de universidade brasileira, especialista em matéria de energia (BRASIL 2007f). O Ministério de Minas e Energia (MME), criado pela Lei nº. 3.782, de 22 de julho de 1960, extinto em 1990, pela Lei n°. 8.028 e recriado em 1992, por meio da Lei no 8.422. Tem como área de competência os seguintes assuntos: I – geologia, recursos minerais e energéticos; II – aproveitamento da energia hidráulica; III – mineração e metalurgia; e IV – petróleo, combustível e energia elétrica, inclusive nuclear. Cabe ainda ao MME: I – energização rural, agroenergia, inclusive eletrificação rural, quando custeadas com recursos vinculados ao Sistema Elétrico Nacional; e II – zelar pelo equilíbrio conjuntural e estrutural entre a oferta e a demanda de energia elétrica no País. O Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), criado pela Lei nº. 10.848 de 2004 e constituído pelo Decreto nº. 5.175 de 2004, com a função de acompanhar e avaliar permanentemente a continuidade e a segurança do suprimento eletroenergético em todo o território nacional. É presidido pelo Ministro de Estado de Minas e Energia e composto por quatro representantes do Ministério de Minas e Energia e pelos titulares da ANEEL, ANP, CCEE, EPE e ONS. A Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), autarquia em regime especial, vinculada ao Ministério de Minas e Energia (MME), criada pela Lei nº. 9.427 de 26 de dezembro de 1996. É o órgão regulador do Setor Elétrico encarregado de, entre outras atribuições, (i) regulamentar e fiscalizar o serviço concedido e fiscalizar permanentemente a sua prestação; (ii) mediar os conflitos de interesses entre os agentes do setor elétrico e entre estes e os consumidores; (iii) implementar as políticas e diretrizes do governo federal para a exploração da energia elétrica e o aproveitamento dos potenciais hidráulicos; e (iv) promover as licitações destinadas à contratação de concessionárias de serviço público para produção, transmissão e distribuição de energia elétrica e para a outorga de concessão para aproveitamento de potenciais hidráulicos. A Empresa de Pesquisa Energética (EPE), entidade vinculada ao Ministério de Minas e Energia com finalidade de prestar serviços na área de estudos e pesquisas destinadas a subsidiar o planejamento do setor energético, nas áreas de energia elétrica, combustíveis fósseis, fontes energéticas renováveis e eficiência energética, criada pela Lei nº. 10.847 de 15 de março de 2004. 29

O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), entidade de direito privado, sem fins lucrativos, responsável pela coordenação e controle da operação das instalações de geração e transmissão de energia elétrica no Sistema Interligado Nacional (SIN), sob a fiscalização e regulação da ANEEL, criada pela Lei nº. 9.648 de 26 de agosto de 1998 (ANEEL, 2008d). O Grupo Técnico Operacional da Região Norte (GTON), criado pela Portaria MINFRA nº. 895, de 29 de novembro de 1990, é responsável pelo planejamento e acompanhamento da operação dos sistemas isolados da Região Norte. Dentre suas atribuições, destaca-se a elaboração do Plano de Operação e do Programa Mensal de Operação dos Sistemas Isolados. A Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), criada pela Lei nº. 10.848, de 15 de março de 2004, para suceder ao Mercado Atacadista de Energia Elétrica (MAE). Pessoa jurídica de direito privado sem fins lucrativos e sob regulação e fiscalização da ANEEL, tem por finalidade viabilizar a comercialização de energia elétrica no Sistema Interligado Nacional (SIN). A CCEE tem por atribuição, entre outras, de promover leilões de compra e venda de energia elétrica, desde que delegado pela ANEEL, manter o registro de todos os Contratos de Comercialização de Energia no Ambiente Regulado, manter o registro dos montantes de potência e energia objeto de contratos celebrados no Ambiente de Contratação Livre, promover a medição e o registro de dados relativos às operações de compra e venda de energia elétrica, apurar o Preço de Liquidação de Diferenças (PLD) do mercado de curto prazo por submercado (ANEEL, 2008d). A Centrais Elétricas Brasileiras (ELETROBRÁS), criada em 1962 para promover estudos e projetos de construção e operação de usinas geradoras, linhas de transmissão e subestações, além de dar suporte a programas estratégicos do governo. Tem por principais atribuições o financiamento, em caráter suplementar, da expansão do setor elétrico, o exercício da função de holding das empresas estatais federais, administração de encargos e fundos setoriais, comercialização de energia de Itaipu e de fontes alternativas contempladas pelo Proinfa e a coordenação do GTON. O Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (CEPEL), criado em 1974 para a formação de uma infraestrutura científica e de pesquisa, com vista ao desenvolvimento, no país, de uma tecnologia avançada no campo de equipamentos e sistemas elétricos. Seu principal mantenedor é a Centrais Elétricas Brasileiras S.A. (Eletrobrás) e suas controladas. Os beneficiários de seus produtos transcendem ao Grupo Eletrobrás, 30 atingindo instituições como o MME, MMA, MCT, a EPE, ONS, a CCEE, a Aneel, além de concessionárias e fabricantes de equipamentos. O Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), instituído pela Lei nº. 6.938, de 31 de agosto de 1981, e constituído pelos órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e pelas Fundações instituídas pelo Poder Público, responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental e tem a seguinte estrutura (BRASIL, 2008): • Órgão Superior: O Conselho de Governo. • Órgão Consultivo e Deliberativo: O Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA. • Órgão Central: O Ministério do Meio Ambientel – MMA. • Órgão Executor: O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA. • Órgãos Seccionais: Os órgãos ou entidades estaduais responsáveis pela execução de programas, projetos e pelo controle e fiscalização de atividades capazes de provocar a degradação ambiental. • Órgãos Locais: Os órgãos ou entidades municipais, responsáveis pelo controle e fiscalização dessas atividades, nas suas respectivas jurisdições. O Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH) – É um colegiado que desenvolve regras de mediação entre os diversos usuários da água sendo, assim, um dos grandes responsáveis pela implementação da gestão dos recursos hídricos no País. Por articular a integração das políticas públicas no Brasil é reconhecido pela sociedade como orientador para um diálogo transparente no processo de decisões no campo da legislação de recursos hídricos. Possui como competências, dentre outras: • Analisar propostas de alteração da legislação pertinente a recursos hídricos. • Estabelecer diretrizes complementares para implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos. • Promover a articulação do planejamento de recursos hídricos com os planejamentos nacional, regionais, estaduais e dos setores usuários. • Arbitrar conflitos sobre recursos hídricos. • Deliberar sobre os projetos de aproveitamento de recursos hídricos cujas repercussões extrapolem o âmbito dos estados em que serão implantados. 31

• Aprovar propostas de instituição de comitês de bacia hidrográfica. • Estabelecer critérios gerais para a outorga de direito de uso de recursos hídricos e para a cobrança por seu uso. • Aprovar o Plano Nacional de Recursos Hídricos e acompanhar sua execução. O Ministério do Meio Ambiente (MMA) – O Ministério do Meio Ambiente, órgão da administração pública federal direta, tem como área de competência os seguintes assuntos: I – política nacional do meio ambiente e dos recursos hídricos; II – política de preservação, conservação e utilização sustentável de ecossistemas, e biodiversidade e florestas; III – proposição de estratégias, mecanismos e instrumentos econômicos e sociais para a melhoria da qualidade ambiental e o uso sustentável dos recursos naturais; IV – políticas para a integração do meio ambiente e produção; V – políticas e programas ambientais para a Amazônia Legal; e VI – zoneamento ecológico- econômico. A Agência Nacional de Águas (ANA), criada pela Lei nº. 9.984 de 17 de julho de 2000 como uma autarquia sob regime especial, com autonomia administrativa e financeira, vinculada ao Ministério do Meio Ambiente. Compete a ela criar condições técnicas para implementar a Lei das Águas, promover a gestão descentralizada e participativa, em sintonia com os órgãos e entidades que integram o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, implantar os instrumentos de gestão previstos na Lei nº. 9.433 de 1997, dentre eles, a outorga preventiva e de direito de uso de recursos hídricos, a cobrança pelo uso da água e a fiscalização desses usos, e ainda, buscar soluções adequadas para dois graves problemas do País: as secas prolongadas, especialmente, no Nordeste e a poluição dos rios. O Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) é o órgão consultivo e deliberativo do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), instituído pela Lei nº. 6.938 de 31 de agosto de 1981, com a finalidade de assessorar, estudar e propor ao Conselho de Governo, diretrizes de políticas governamentais para o meio ambiente e os recursos naturais e deliberar, no âmbito de sua competência, sobre normas e padrões compatíveis com o meio ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida (BRASIL, 2008). O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), entidade autárquica de regime especial, com autonomia administrativa e financeira, dotada de personalidade jurídica de direito público, criada pela Lei nº. 7.735, 32 de 22 de fevereiro de 1989, pela fusão de quatro entidades brasileiras que trabalhavam na área ambiental: Secretaria do Meio Ambiente (SEMA); Superintendência da Borracha (SUDHEVEA); Superintendência da Pesca (SUDEPE), e o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF). É vinculada ao Ministério do Meio Ambiente e tem como finalidades: executar as políticas nacionais de meio ambiente referentes às atribuições federais permanentes, relativas à preservação, à conservação e ao uso sustentável dos recursos ambientais e sua fiscalização e controle; e executar as ações supletivas da União, de conformidade com a legislação em vigor e as diretrizes daquele Ministério. As Agências estaduais de meio ambiente, entidades responsáveis pela emissão de licenças ambientais de aproveitamentos situados em rios estaduais. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), ex- autarquia federal criada pela Lei nº. 1.628, de 20 de junho de 1952, foi enquadrado como uma empresa pública federal, com personalidade jurídica de direito privado e patrimônio próprio, pela Lei nº. 5.662, de 21 de junho de 1971. É um órgão vinculado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e tem como objetivo apoiar empreendimentos que contribuam para o desenvolvimento do País. 33

3 A HIDROELETRICIDADE NO MUNDO E NO BRASIL

3.1 Aspectos Gerais

O uso da energia hidráulica foi uma das primeiras formas de substituição do trabalho animal pelo mecânico, particularmente para bombeamento de água e moagem de grãos. Tinha a seu favor, para tanto, as seguintes características: disponibilidade de recursos, facilidade de aproveitamento e, principalmente, seu caráter renovável. A energia hidráulica resulta da irradiação solar e da energia potencial gravitacional, que provocam a evaporação, condensação e precipitação da água sobre a superfície terrestre. Ao contrário das demais fontes renováveis, representa uma parcela significativa da matriz energética mundial e possui tecnologias de aproveitamento devidamente consolidadas. É atualmente, a principal fonte geradora de energia elétrica para diversos países e responde por cerca de 17% de toda a eletricidade gerada no mundo (BRASIL, 2005c). Com base no Manual de Inventário Hidroelétrico de Bacias Hidrográficas (BRASIL, 2007g), o Brasil vem aproveitando seu potencial hidroelétrico de maneira a tornar o país auto-suficiente em energia elétrica, utilizando em uma fonte renovável, de baixo custo e com tecnologia nacional. Por ser um dos usuários da água, o setor de energia elétrica tem a responsabilidade e o dever de planejar a utilização deste recurso como insumo para a produção de eletricidade de forma racional, otimizada e colocando- se no contexto dos demais usuários do mesmo. Este fator remete, atualmente, a um arcabouço legal e institucional que abrange diferentes órgãos governamentais e permite a participação de diversos agentes. Este capítulo pretende apresentar um quadro da situação internacional e nacional quanto aos problemas e potencialidades da hidroeletricidade e um panorama do contexto institucional em que se insere a elaboração dos estudos de inventário hidroelétrico no Brasil. Quando pertinente, apresenta-se também os aspectos de inter-relacionamento entre as instituições e os processos e procedimentos legais necessários à consecução do objetivo de geração da hidroeletricidade. 34

3.2 A Hidroeletricidade no Mundo

Conforme o Atlas de Energia Elétrica do Brasil (BRASIL, 2005c), uma primeira estimativa da quantidade de energia hidráulica disponível no mundo poder ser feita pela simples aplicação da fórmula de cálculo da energia potencial (EP): EP = M (massa) x g (aceleração da gravidade) x h (altura) A precipitação média anual na Terra é da ordem de 1.017 kg e a altura média da superfície terrestre (em relação ao nível do mar) é de 800 m. Portanto, a energia hidráulica potencial é da ordem de 200 mil TWh por ano, o que equivale a duas vezes o consumo médio anual de energia primária no mundo (BOYLE, 1996). Essa estimativa é pouco realista, pois, na prática, é impossível o aproveitamento de todo esse volume de água. Primeiramente, em virtude da inacessibilidade à parte desse volume e da reevaporação, antes que possa ser utilizado; em segundo lugar, porque há perdas de energia devido à turbulência e fricção da água nos canais e tubulações, de modo que a altura efetiva tende a ser bastante inferior à altura real. Há, ainda, perdas no processo de conversão, embora o sistema “turbo-gerador” seja um dos métodos mais eficientes de aproveitamento de energia primária (os modelos mais eficientes chegam a atingir um índice 90% de eficiência). Estima-se, assim, que apenas um quarto do referido volume de água precipitada esteja efetivamente disponível para aproveitamento hidráulico. Desse modo, a energia hidráulica disponível na Terra é de aproximadamente 50.000 TWh por ano, o que corresponde, ainda assim, a cerca de quatro vezes a quantidade de energia elétrica gerada no mundo atualmente. (BRASIL, 2005c). Essa quantia supostamente disponível de energia hidráulica, também denominada recurso total, é ainda irrealista do ponto de vista técnico. A quantidade efetivamente disponível depende das condições locais do aproveitamento (como a topografia e o tipo de chuva) e do tempo efetivo de operação do sistema. Teoricamente, uma usina poderia operar continuamente (8.760 horas por ano), isto é, com um fator de capacidade de 100%. Na prática, porém, esse índice é da ordem de 40% apenas, em função de problemas operacionais e da necessidade de manutenção. Desse modo, estima-se que a energia hidráulica efetivamente disponível na Terra, isto é, o potencial tecnicamente aproveitável, varie de 10.000 TWh a 20.000 TWh por ano (ONU, 1992). A Figura 1 ilustra o potencial tecnicamente aproveitável da energia hidráulica no mundo para geração de energia elétrica. Como se observa, os maiores potenciais estão 35 localizados na América do Norte, antiga União Soviética,China, Índia e Brasil. O Continente Africano é o que apresenta os menores potenciais.

Figura 1: Potencial tecnicamente aproveitável para geração de energia hidrelétrica no mundo. Fonte: Adaptado de BRASIL (2005c), Apud: THE INTERNATIONAL JOURNAL ON HYDROPOWER & DAMS – IJHD. World Atlas & Industry Guide. 2000.

Conforme a Comissão Mundial de Barragens -WCD (2000), barragens têm sido construídas há milhares de anos - barragens para controlar inundações, para represar águas como fonte de energia hidrelétrica, para fornecer água para consumo humano direto, uso industrial ou para irrigar plantações. Em torno do ano de 1950 os governos - ou, em alguns países, o setor privado - estavam construindo um número cada vez maior de barragens à medida que as populações aumentavam e as economias nacionais cresciam. Pelo menos 45.000 grandes barragens foram construídas para atender demandas de água ou energia. Hoje quase metade dos rios do mundo tem ao menos uma grande barragem. Na entrada do século XI, um terço dos países do mundo depende de usinas hidrelétricas para produzir mais da metade da sua eletricidade. As grandes barragens geram 19% de toda a eletricidade do mundo. Metade dessas grandes barragens foi construída exclusiva ou primordialmente para fins de irrigação, e cerca de 30% a 40% dos 271 milhões de hectares irrigados no planeta dependem de barragens. As represas têm sido promovidas como um importante meio de atender a necessidades percebidas de água e energia e como investimentos estratégicos de longo prazo capazes de oferecer múltiplos benefícios. Alguns desses benefícios adicionais são típicos de todos os 36 grandes projetos de infra-estrutura, enquanto outros são exclusivos das barragens e específicos de determinados projetos. Desenvolvimento regional, geração de empregos e fomento para uma base industrial com potencial exportador costumam ser citados como motivos adicionais para a construção de grandes barragens, WCD (2000). Outras metas incluem a geração de renda advinda de exportações, seja através da venda direta de eletricidade, de produtos agrícolas ou de produtos processados por indústrias eletrointensivas, como a indústria do alumínio. Claramente, as barragens podem desempenhar um papel importante em atender as necessidades das pessoas. Ainda conforme a WCD (2000), os últimos 50 anos também deixaram claro o desempenho e os impactos sociais e ambientais das grandes barragens. Essas fragmentaram e transformaram os rios do mundo, enquanto que estimativas globais sugerem que entre 40 e 80 milhões de pessoas foram deslocadas pelas barragens. À medida que as bases dos processos de tomada de decisão foram tornando-se mais abertas, participativas e transparentes em muitos países, a opção de construir grandes barragens foi sendo cada vez mais contestada, chegando ao ponto de colocar-se em questão a construção de novas grandes barragens em muitos países. No mundo, o momento atual é particularmente instigante, pois apresenta dois desafios de extrema gravidade, Manual de Inventário Hidroelétrico de Bacias Hidrográficas (BRASIL, 2007g): • Dúvidas quanto ao horizonte de duração das reservas mundiais de petróleo. • Alterações ambientais em escala planetária. Parece claro que a questão não se resolve pela escolha da forma de menor impacto, mas sim pelo balanço entre os efeitos positivos e negativos de cada caso. Entretanto, nesse processo de análise, é cada vez mais relevante o aspecto do desenvolvimento regional do aproveitamento energético, já que a utilização de determinadas fontes afeta um determinado espaço, mas seu benefício é auferido por outras regiões, geralmente distantes da origem dessa energia. Nesse sentido, uma usina pode chegar a ser encarada como um “enclave” de uma realidade econômica sobre outra, geralmente agravando as diferenças já existentes. Considerando este contexto, a “International Hydropower Association” publicou em 2004 o documento “Sustainability Guidelines” com o propósito de estabelecer recomendações no sentido de promover a consideração de aspectos sociais e ambientais além da visão puramente econômica da sustentabilidade dos projetos hidroelétricos, 37 consideração essa já contemplada formalmente pelo Manual de Inventário Hidroelétrico de Bacias Hidrográficas publicado no ano de 1997 (BRASIL, 1997c). Nesse sentido, apóia o conceito de ecoeficiência, que se baseia em três princípios: • Redução do consumo de recursos naturais. • Redução da interferência na natureza • Aumento dos benefícios dos projetos, considerando uma visão de usos múltiplos. A Tabela 1 apresenta como se divide o número de barragens no mundo independente da função e do porte. Como se pode notar, uma simples contagem fornece uma impressão distorcida da questão da energia, pois, com apenas 1% do total, o Brasil produz praticamente 12% da hidroeletricidade do planeta. De qualquer modo, é importante notar a concentração de mais de 75% das barragens em apenas quatro países, mostrando que nem todos os problemas envolvendo os reservatórios estão ligados à produção de energia. O Relatório da Comissão Mundial de Barragens (WCD 2000) procurou estabelecer algumas recomendações a partir de uma ampla análise da experiência na utilização de barragens em geral no mundo. Um exemplo das recomendações do relatório pode ser observado no texto a seguir: “Nos primeiros estágios deste processo, as discussões e controvérsias enfocavam barragens específicas e seus impactos locais. Mas gradualmente esses conflitos de âmbito local evoluíram para uma discussão mais geral que culminou em um debate de proporções globais sobre as barragens”. A ICOLD (Comissão Internacional sobre Grandes Barragens) considera uma grande barragem aquela que tem altura igual ou superior a 15m (contados do ponto mais baixo da fundação). Caso a barragem tenha entre 5m e 15m de altura e seu reservatório uma capacidade superior a 3 milhões de m³, também será classificada como grande. Tomando por base esta definição, existem atualmente mais de 45.000 grandes barragens em todo o mundo (ICOLD, 2008). 38

Tabela 1: Número de barragens no mundo, por país (1994). Fonte: Adaptado de BRASIL, 2005c, Appud World Resources Institute – Eathtrends Environmental information

Segundo o World Research Institute as 306 grandes barragens estão distribuídas pelas bacias hidrográficas do planeta como mostra a Figura 2. As barragens podem ser analisadas como indicadores do grau de modificação dos rios, ocasionados por seu barramento. Das 106 bacias, no mundo, analisadas no relatório 46% foram modificadas por pelo menos uma grande barragem. (Somente a bacia do Paraná tem 14 grandes barragens.) Em 1994, 56 novas grandes barragens estavam planejadas ou em construção. (WCD, 2000) Os 56 projetos de novas barragens compõem uma lista incompleta, pois poucos países divulgam esse dado, estas grandes barragens estão localizadas em apenas 5 bacias no mundo, sendo o rio Yangtze na China com 11 projetos, o rio Tigre e Euphrates na Síria e Iraque com 7, o rio Ganges na Índia com 6 o rio Huang He (também conhecido como rio Amarelo) na China com 4 e o rio Paraná Brasil, Paraguai e Argentina com 4 projetos(WCD, 2000). Pode-se perceber a partir da Figura 2que as únicas bacias hidrográficas com mais de 10 grandes barragens estão no Brasil, no Noroeste Americano e no Oeste Canadense. 39

Figura 2: Distribuição das 306 grandes barragens3 pelas bacias hidrográficas do planeta. Fonte: Revenga, C., S. Murray, J. Abramovitz, and A. Hammond, 1998. Watersheds of the World: Ecological Value and Vulnerability. Washington, DC: World Resources Institute.

No sentido de contribuir para uma compreensão geopolítica mundial do problema, apresenta-se a seguir alguns dados internacionais que podem traçar um panorama geral, onde está incluída a hidroeletricidade e o papel do Brasil nesse cenário. No ano de 2004, consideradas todas as formas primárias de produção de energia, o mundo produziu o equivalente a 10,2 bilhões de toneladas de petróleo (Energy Information Administration – US Department of Energy – 2005). A atual estrutura é a mostrada na Tabela 2. 40

Tabela 2: Fontes primárias de Energia no mundo (2003). Fonte: BRASIL (200g), Apud, Table 11.1 World Primary Energy Production by Source, 1970-2003 Energy Information Agency – US Dep. Of Energy

Vale considerar apenas a geração de energia elétrica para avaliar corretamente o peso dessa forma de produção, demonstrado na Tabela 3.

Tabela 3: Fontes produtoras de energia elétrica no mundo (2003). Fonte:Electricity in World in 2003 - International Energy Agency Statiscs http://www.iea.org/Textbase/stats/ Dentre as fontes renováveis, a hidroeletricidade é ainda a mais promissora por ser capaz de gerar grandes quantidades de eletricidade, com economia de escala. Os 10 países maiores produtores de energia elétrica no mundo estão na Tabela 4.

Tabela 4: Os 10 paises maiores geradores de energia elétrica no mundo Fonte: (BRASIL, 2007g).

Quanto a hidroeletricidade, os 10 países maiores produtores estão apresentados na Tabela Tabela 5, onde se observa uma concentração no Canadá, na China, Brasil e EUA. 41

Tabela 5: Principais paises produtores de Hidroeletricidade (com participação de hidroeletricidade na produção de energia elétrica) (2001). Fonte: BRASIL (2007g), Apud WEC Member Committees, 2000/2001; Hydropower & Dams World Atlas 2001, supplement to The International Journal on Hydropower & Dams, Aqua~Media International; Energy Statistics Yearbook 1997, United Nations; national and international

Um outro aspecto interessante a se observar é a “produtividade” dos sistemas hidroelétricos no mundo. Como se pode observar na Tabela 6 nem todos os sistemas conseguem fatores de capacidade acima de 50%. Em muitos países, as usinas hidroelétricas apenas atendem a ponta do sistema ou não contam com capacidade de reserva suficiente para “regularizar” sua produção. Esse último aspecto é extremamente importante, como característica diferenciadora do sistema gerador brasileiro. Dentre os sistemas de maior porte no mundo, apenas o Canadá dispõe de capacidade de reserva em proporção semelhante à brasileira. Tal aspecto terá importante conseqüência na forma de análise da viabilidade dos empreendimentos. Considerando-se as crescentes exigências do correto balanço entre impactos socioambientais e benefícios energéticos, o sistema brasileiro é particularmente eficiente, Manual de Inventário Hidroelétrico de Bacias Hidrográficas (BRASIL, 2007g). 42

Tabela 6: Principais países e fatores de capacidade de seus sistemas hidrelétricos. Fonte: BRASIL (2007g), Apud WEC Member Committees, 2000/2001; Hydropower & Dams World Atlas 2001, supplement to The International Journal on Hydropower & Dams, Aqua~Media International;

Quanto ao potencial de expansão da geração hidroelétrica no mundo, em primeiro lugar, é importante salientar que o Brasil é um dos mais promissores por ser o líder absoluto dos recursos hídricos no planeta, como pode ser observado na Tabela 7.

Tabela 7: Total de Recursos Hídricos por pais (2003) Fonte: BRASIL (2007g) Apud, FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS - Review of World Water Resources by Country, Rome, 2003 - Internal renewable water resources is that part of the water resources (surface water and groundwater) generated from endogenous precipitation. External water resources as the part of a country’s renewable water resources that enter from upstream countries through rivers (external surface water) or aquifers (external groundwater resources). A Tabela 8 a seguir, representa uma avaliação internacional sobre as possibilidades de expansão da capacidade de geração hidroelétrica. Entretanto, é importante observar que é possível encontrar grandes incertezas nas estimativas, não só do Brasil, mas também na avaliação de outros países, em função de crescentes restrições à construção de projetos de grande e até de médio porte. De qualquer modo, dada a 43 liderança brasileira, mesmo num cenário de aumento de restrições à construção de novas usinas hidroelétricas, o país ocupa posição de destaque.

Tabela 8: Estimativas dos potenciais hidrelétricos no mundo (2000/2001). Fonte: BRASIL (2007g), Apud, WEC Member Committees, 2000/2001; Hydropower & Dams World Atlas 2001, supplement to The International Journal on Hydropower & Dams, Aqua~Media International.

3.3 A Hidroeletricidade no Brasil

Histórico do Aproveitamento do Recurso Hidroelétrico As experiências pioneiras do setor elétrico no Brasil estão relacionadas com a iluminação e o transporte públicos. O marco inicial é 1879, quando foi inaugurado, no Rio de Janeiro, o serviço permanente de iluminação elétrica interna na estação central da ferrovia Dom Pedro II (Central do Brasil). Em 1881, na mesma cidade, ainda fazendo uso de dínamos acionados por locomóveis, instala-se a primeira iluminação pública num trecho do jardim do Campo da Aclamação, a atual praça da República. No mesmo ano, na inauguração da Exposição Industrial, a energia elétrica foi utilizada para iluminar dependências do edifício do Ministério da Viação no largo do Paço (atual Praça XV), também no Rio de Janeiro. Em 1883, começa a operar a primeira central geradora elétrica, com 52 kW de capacidade, em Campos (RJ); tratava-se de uma unidade termelétrica, movida a vapor a lenha, para alimentar 39 lâmpadas. Esse empreendimento inaugurou a prestação de serviço público de iluminação na América do Sul. Nos transportes coletivos, o uso pioneiro da eletricidade como força motriz ocorreu em 1883, em Niterói, com a primeira linha brasileira de bondes elétricos a bateria. Conforme o Centro da Memória da Eletricidade no Brasil (BRASIL, 2007f), a primeira usina hidrelétrica de maior porte destinada ao serviço público do Brasil foi a 44

Usina Hidrelétrica Marmelos, inaugurada em 7 de setembro de 1889, localizada no rio Paraibuna, em Juiz de Fora – MG., de propriedade da Companhia Mineira de Eletricidade. A usina Marmelos com potência de 250 KW foi um projeto desenvolvido pela firma Max Nothaman & Co, com equipamentos fornecidos pela Westinghouse. Considera-se que a inauguração da usina de Marmelos seja realmente o marco zero do setor elétrico brasileiro. Também de grande importância histórica, outros projetos tais como, Monjolinho e Piracicaba em 1893, Corumbataí em 1900, Fontes sobre o Ribeirão das Lajes em 1908 até a famosa usina de Delmiro Gouveia no rio São Francisco em 1913. A implantação de pequenas usinas hidrelétricas, limitadas às necessidades dos produtores agrícolas que detinham a propriedade dos recursos hídricos e quedas d’água, se disseminaram pelo país, notadamente nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Nesse contexto, o Brasil iniciou o século XX com cinco hidrelétricas, gerando 5.500 kW (BRASIL, 2007f). Em 1899, foi criada em Toronto (Canadá), pela iniciativa privada, a São Paulo Railway, Light and Power EmpresaCliente Ltd-SP RAILWAY que por meio do decreto do Presidente Campos Sales recebeu autorização para instalar-se no Brasil. Esta empresa deteve desde então, o monopólio dos serviços de bondes elétricos e do fornecimento de energia elétrica na cidade de São Paulo (SP), que passava por um acelerado crescimento urbano em decorrência da expansão do complexo cafeeiro. Igual concessão foi obtida, em 1904, com a criação da Rio de Janeiro Tramway, Light and Power EmpresaCliente-RJ TRAMWAY (MANUAL, 2007). Em 1908, entrou em operação a Usina Hidrelétrica Fontes Velha – de propriedade da Rio de Janeiro Tramway, Light and Power EmpresaCliente – RJ TRAMWAY- na época, a maior usina do Brasil e uma das maiores do mundo. Localizada no ribeirão das Lajes, município de Piraí (RJ), a usina com uma potência inicial instalada de 12.000 kW, foi responsável pelo abastecimento da energia empregada na iluminação pública e residencial e na tração dos bondes elétricos da cidade do Rio de Janeiro. Para a unificação do Grupo Light foi criada em 1912, em Toronto (Canadá) a Brazilian Traction, Light and Power EmpresaCliente Ltd. No ano de 1927, a American and Foreign Power EmpresaCliente – AMFORP, se interessou pelo Brasil, e habilitou- se a dividir, com a Light, a formação do Setor Elétrico Brasileiro (BRASIL, 2007f). 45

De acordo com Prado e Amaral (2000), em 1930, na gestão do Chefe de Estado Getúlio Vargas, a expansão do aproveitamento hidroenergético deixou de ser assunto da economia privada passando à intervenção estatal, pois diziam: “A força hidráulica existente na nação deve ser resguardada contra monopólios privados, e colocadas a serviço de todo o povo”. Com a promulgação em 1934 pelo Presidente Getúlio Vargas do Código de Águas, houve a incorporação das quedas d’água ao patrimônio da União e foi dada a essa competência exclusiva para outorgar concessões de geração e distribuição de energia elétrica. Nesse sentido foi criado, em 1939, o Conselho Nacional de Águas e Energia – CNAE para sanear os problemas de suprimento, regulamentação e tarifa referentes à indústria de energia elétrica do país (BRASIL, 2007f). Entretanto, o sistema brasileiro só começa a se delinear a partir da criação da CHESF em 1945 e da CEMIG em 1946. Essas empresas representam a inauguração de uma intervenção do Estado no setor elétrico. As décadas seguintes seriam profícuas em grandes projetos tais como Três Marias em 1962 e Furnas no ano seguinte. Em 1963 se inicia o famoso projeto Canambra. Esses estudos da década de 1960, pelo seu nível de aprofundamento, constituíram um marco na história do setor elétrico nacional, pois: Tratam-se dos primeiros estudos abrangentes de inventário do potencial hidroelétrico, com estudos de viabilidade de alguns deles. Impulsionou de maneira decisiva a opção pelas grandes barragens. Contribuíram para a formação de centenas de técnicos brasileiros que posteriormente integrariam os órgãos de planejamento das principais empresas elétricas e firmas de consultoria privadas. Por outro lado, impulsionou de maneira decisiva a opção pelas grandes barragens, que passaram a integrar os planos de expansão da produção de energia elétrica formulados pelo setor, entre os quais se destacam o Plano 90, o Plano 95, os planos 2000, 2010 e 2015 publicados em 1974, 1979, 1982, 1988 e 1994. As Centrais Elétricas Brasileiras S.A. (Eletrobrás) foi instalada oficialmente em 11 de junho de 1962, em sessão solene do Conselho Nacional de Águas e Energia Elétrica (CNAEE), no Palácio Laranjeiras, no Rio de Janeiro, com a presença do presidente João Goulart (1961-1964). A carteira de aplicações e a administração do Fundo Federal de Eletrificação saíram do Banco Nacional de Desenvolvimento 46

Econômico (BNDE), passando à alçada da estatal, Centro da Memória da Eletricidade no Brasil (BRASIL, 2007f). No processo de reorganização do setor elétrico, centenas de pequenas companhias foram reagrupadas ou incorporadas por concessionárias estaduais. Por exemplo, em 1966, o governo paulista, fundiu 11 empresas públicas, para criar a Centrais Elétricas de São Paulo (CESP). Mais importante ainda, a interdependência dos sistemas exigiu a criação de órgãos colegiados, como o Comitê Coordenador para Operação Interligada (CCOI), formado em 1969 por companhias de geração e distribuição do Sudeste, com a orientação técnica da Eletrobrás e a supervisão do Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica (DNAEE). Dois anos depois, outro comitê seria formado por empresas do Sul do País. O sistema se desenvolveu a partir de aproveitamentos da região sudeste, inicialmente pelas bacias do Tietê e Paraíba do Sul. Como se observa, até 1950, as usinas estavam concentradas próximas ao litoral, entre os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Gradativamente, ocorreu uma dispersão mais acentuada, cujo centro de massa está localizado entre os estados de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Goiás. Esse maior distanciamento dos centros de carga foi suficientemente compensado, tanto pelas usinas em cascata, que maximizam o aproveitamento do recurso hídrico, como pela diversidade hidrológica que surgia à medida que se aproveitavam bacias distintas. Durante a década de 70, os impactos ambientais causados pela implantação de grandes projetos hidroelétricos fez com que o setor elétrico sofresse uma certa resistência por parte dos outros setores usuários dos recursos hídricos. As pressões desencadeadas a partir de 1972 em favor da preservação ambiental, tendo como referência a Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano em Estocolmo (Suécia) contribuiu decisivamente para instalação de um novo setor de gerenciamento dos recursos hídricos no país (CARDOSO FILHO, 2004). Após oitenta anos sob o controle estrangeiro, em 1979, foi nacionalizada a Light Serviços de Eletricidade S.A. Nesse período, entrou em operação a Usina Hidrelétrica de Sobradinho, realizando o aproveitamento múltiplo do maior reservatório do país que regulariza a vazão do rio São Francisco. Já, em 1984, entrou em operação a Usina Hidrelétrica Itaipu (tratado firmado entre Brasil e Paraguai, no rio Paraná) com 12.600 MW de capacidade instalada e a Usina Hidrelétrica de Tucuruí, pertencente a 47

ELETRONORTE, primeira hidrelétrica de grande porte construída na Amazônia, que possuía em sua primeira etapa 3.960 MW1 de capacidade instalada. Com o funcionamento de Tucuruí foi possível estabelecer o intercâmbio de energia com as hidrelétricas do sistema da CHESF (BRASIL, 2007f). Em 1986, entrou em operação o sistema de transmissão Sul-Sudeste, o mais extenso da América do Sul, transportando energia elétrica da Usina Hidrelétrica Itaipu até a região Sudeste. Ressalta-se, em 1988, a criação do Comitê Coordenador das Atividades do Meio Ambiente do Setor Elétrico – COMASE. A década de 90 trouxe a reestruturação do Setor Elétrico, extinguindo o monopólio estatal e dividindo a responsabilidade da expansão do sistema entre o Estado e a iniciativa privada, por meio de uma política de privatizações. Nesse contexto, em 1995, foi realizado o leilão de privatização da ESCELSA. Em 26 de dezembro de 1996, a Lei n° 9.427 criou o novo órgão regulador do setor de energia elétrica sob a denominação de Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL, vinculado ao MME. Com a publicação da referida lei, foi extinto o DNAEE, sendo transferido para a ANEEL seu acervo técnico e patrimonial, além de suas obrigações, direitos e receitas (Queiroz, 2007). Em 1998, o Mercado Atacadista de Energia Elétrica – MAE foi regulamentado, consolidando a distinção entre as atividades de geração, transmissão, distribuição e comercialização de energia elétrica. Foram estabelecidas, neste mesmo ano, as regras de organização do Operador Nacional do Sistema Elétrico – ONS, associação civil e privada que controla a operação das instalações de produção de energia elétrica do Sistema Interligado Nacional - SIN, garantindo a continuidade, qualidade e economicidade do suprimento de energia elétrica (BRASIL, 2007f). A primeira etapa da Interligação Norte-Sul entrou em operação, em 1999, representando um passo fundamental para a integração elétrica do país. Já em 2000, foi instituído pela Lei n° 9.478, o Conselho Nacional de Política Energética - CNPE, entidade que assumiu a atribuição de formular e propor ao presidente da República as diretrizes da política energética nacional. No ano de 2001, o Brasil vivenciou sua maior crise de energia elétrica, acentuada pelas condições hidrológicas extremamente desfavoráveis verificadas nas

1 Esta potência foi alterada antes da construção da 2ª Casa de Força, com o aumento da cota do reservatório da usina de 72 para 74m em 2002 (CENTRAIS ELÉTRICAS DO NORTE DO BRASIL - ELETRONORTE, 2007 – informação verbal). 48 regiões Sudeste e Nordeste. Em junho, foi implantado o programa de racionamento nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste e, em agosto, em parte da região Norte. Ainda nesse mesmo ano, entrou em operação a primeira unidade da Usina Hidrelétrica Lajeado, na divisa dos municípios de e Palmas, localizada no Estado de Tocantins. Construída pela Investco, consórcio liderado pela empresas Rede Lajeado Energia, do Grupo Rede, e EDP Brasil, controlada pela Eletricidade de Portugal - EDP, a usina foi projetada para operar com cinco unidades geradoras, com capacidade total de 900 MW. Em dezembro de 2001, terminou o racionamento na região Norte e somente em fevereiro do ano seguinte, o das regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste. Entrou em operação, em maio de 2002, a Usina Hidrelétrica Cana Brava, localizada no rio Tocantins, entre os municípios de Cavalcante e Minaçu, no Estado de Goiás, com capacidade de geração de 450 MW. Esta foi construída pela Companhia Energética Meridional - CEM, empresa constituída pela Tractebel (BRASIL, 2007f). Até 2003, existiam 517 centrais hidrelétricas em operação no Brasil, das quais 378 consideradas empreendimentos de pequeno porte, ou seja, micro central hidrelétrica – MCH (até 1 MegaWatts, inclusive) e pequenas centrais hidrelétricas – PCH (de 1 até 30 MW, inclusive). As 139 usinas acima de 30 MW, denominadas usinas hidrelétricas - UHE correspondem a 98,4% da capacidade hidrelétrica instalada no país (BRASIL, 2005c). Destaca-se em 2003, o lançamento pelo Governo Federal do programa LUZ PARA TODOS, objetivando levar, até 2008, energia elétrica aos 12 milhões de brasileiros que não têm acesso ao serviço. Deste total, 10 milhões estão na área rural. A gestão do programa está sendo compartilhada entre estados, municípios, agentes do setor elétrico e comunidades (BRASIL, 2007f). Em novembro de 2003, entrou em operação comercial a 15ª unidade geradora hidráulica da Usina Hidrelétrica de Tucuruí, que acrescentou mais 375 MW de potencia à usina, ampliando a capacidade de geração para 4.245 MW. Posteriormente, com a conclusão da 2ª etapa da Casa de Força a potência instalada final ficou em 8.370 MW, o que possibilita o atendimento a mais de 40 milhões de pessoas e torna-se a maior hidrelétrica inteiramente nacional. Em 2004, o novo modelo do setor elétrico foi aprovado com a promulgação das Leis n° 10.847 e n° 10.848, que definiram as regras de comercialização de energia elétrica e criaram a Empresa de Pesquisa Energética - EPE, com a função de subsidiar o 49 planejamento técnico, econômico e socioambiental dos empreendimentos de energia elétrica, petróleo e gás natural e seus derivados e fontes energéticas renováveis. O novo modelo definiu a oferta de menor tarifa como critério para participação nas licitações de empreendimentos, estabeleceu contratos de venda de energia de longo prazo e condicionou a licitação dos projetos de geração às licenças ambientais prévias (BRASIL, 2007f). Apesar da tendência de aumento de outras fontes energéticas na matriz nacional, devido às restrições socioeconômicas e ambientais aos projetos hidrelétricos e os avanços tecnológicos no aproveitamento de fontes não-convencionais, a energia hidráulica continuará sendo, por muitos anos, a principal fonte geradora de energia elétrica no país. O Plano Decenal de Expansão da Energia Elétrica - PDEE estabelece as diretrizes de curto prazo para o setor no que se refere à expansão, mercado, geração, transmissão e aspectos socioambientais. O objetivo do planejamento é definir um cenário de referência decenal para o setor, em função do desenvolvimento econômico e das potenciais fontes de oferta, considerando os aspectos socioambientais. O PDEE 2006-2015 prevê a expansão do setor de 74.237 MW para 104.282 MW, entre 2006 e 2015, representando um incremento de 40% na capacidade instalada, numa proporção de 73% de energia hídrica (BRASIL, 2006d). A participação da energia hidráulica na matriz energética nacional é da ordem de 14,7%, gerando cerca de 77% de toda a energia elétrica produzida no país. O potencial hidrelétrico brasileiro é composto pela soma da parcela estimada (remanescente + individualizada) com a inventariada e está estimado em cerca de 260 GigaWatts (GW), embora os empreendimentos hidrelétricos aproveitem apenas 28,2% desse potencial, revelando, assim, um potencial expressivo ainda por ser aproveitado (2005c). Como fonte de informações, apenas o Sistema de Informações do potencial Hidroelétrico Brasileiro (SIPOT), da Eletrobrás, apresenta-se na Figura 3 uma avaliação integral para todo território nacional de aproveitamentos hidrelétricos em todas as etapas de implantação (Inventario, Estudo de Viabilidade, Projeto Básico, Projeto Executivo e já em fase de Operação). Os dados dispostos abaixo são os disponibilizados na página da Eletrobrás na Internet e do Atlas de Energia Elétrica do Brasil e podem não representar a versão mais atualizada do potencial hidroelétrico do País devido ao fato de que a ELETROBRÁS não é mais o órgão responsável por manter esses dados 50 atualizados e consistentes com outras fontes. Apesar desse inconveniente, ainda é a fonte que pode revelar a estrutura percentual sobre os diferentes estágios dos projetos.

Figura 3: Representação espacial de todos os aproveitamentos hidrelétricos, em todas as fases de implantação no Brasil, com dados do SIPOT. Fonte: Adaptado do Sipot

O Manual de Inventário Hidroelétrico de Bacias Hidrográficas (BRASIL, 2007g), fornece orientações para estudos ligados a um cenário ainda por construir quando se examinam estratégias de longo prazo para o País. Nesse horizonte de tempo, alternativas energéticas concorrem com a opção hidroelétrica. Sendo assim, é inevitável e até conveniente analisar a produção de eletricidade por usinas hidroelétricas sob um ponto de vista geopolítico, estratégico e global, onde a questão socioambiental se torna cada dia mais importante e determinante. Conforme o Atlas de Energia Elétrica do Brasil (BRASIL, 2005c), o valor do potencial hidrelétrico do Brasil, dados e informações básicas, colhidas de diversas fontes, a respeito de tecnologias de geração de energia elétrica, assim como de aspectos socioeconômicos relacionados com o setor elétrico brasileiro tem a seguinte estrutura. O valor do potencial hidrelétrico brasileiro é composto pela soma da parcela estimada (remanescente + individualizada) com a inventariada. 51

O potencial estimado é resultante da somatória dos estudos: De potencial remanescente - resultado de estimativa realizada em escritório, a partir de dados existentes - sem qualquer levantamento complementar - considerando-se um trecho de um curso d’água, via de regra situado na cabeceira, sem determinar o local de implantação do aproveitamento; Individualizados - resultado de estimativa realizada em escritório para um determinado local, a partir de dados existentes ou levantamentos expeditos, sem qualquer levantamento detalhado. A parcela inventariada inclui usinas em diferentes níveis de estudos - inventário, viabilidade e projeto básico - além de aproveitamentos em construção e operação (ELETROBRÁS, 2004). O potencial inventariado é resultante da somatória dos aproveitamentos: Apenas em inventário - resultado de estudo da bacia hidrográfica, realizado para a determinação do seu potencial hidrelétrico, mediante a escolha da melhor alternativa de divisão de queda, que constitui o conjunto de aproveitamentos compatíveis, entre si e com projetos desenvolvidos, de forma a se obter uma avaliação da energia disponível, dos impactos ambientais e dos custos de implantação dos empreendimentos; Com estudo de viabilidade - resultado da concepção global do aproveitamento, considerada sua otimização técnico-econômica, de modo a permitir a elaboração dos documentos para licitação. Esse estudo compreende o dimensionamento das estruturas principais e das obras de infra-estrutura local e a definição da respectiva área de influência, do uso múltiplo da água e dos efeitos sobre o meio ambiente; Com projeto básico - aproveitamento detalhado e em profundidade, com orçamento definido, que permita a elaboração dos documentos de licitação das obras civis e do fornecimento dos equipamentos eletromecânicos; Em construção - aproveitamento que teve suas obras iniciadas, sem nenhuma unidade geradora em operação; e Em operação - os empreendimentos em operação constituem a capacidade instalada. Os aproveitamentos somente são considerados para fins estatísticos nos estágios “inventário”, “viabilidade” ou “projeto básico”, se os respectivos estudos tiverem sido aprovados pelo poder concedente, a ANEEL. 52

O potencial hidrelétrico brasileiro situa-se ao redor de 260 GW. Contudo apenas 68% desse potencial foi inventariado, Tabela 9. Entre as bacias com maior potencial destacam-se as do Rio Amazonas e do Rio Paraná (BRASIL 2005 D).

Tabela 9: Potencial hidrelétrico brasileiro por bacia hidrográfica – situação em março de 2003 Fonte: Brasil 2008e.

Na Bacia do Amazonas, destaca-se a sub-bacia 18 (Rio Xingu), com 12,7% do potencial inventariado no País. Outras sub-bacias do Amazonas, cujos potenciais estimados são consideráveis, são a do Rio Tapajós (17), a do Rio Madeira (15) e a do Rio Negro (14). Na Bacia do Tocantins, destaca-se a sub-bacia 29 (Rio Itacaiunas e outros), com 6,1% do potencial brasileiro inventariado. Na Bacia do São Francisco, o destaque vai para a sub-bacia 49, que representa 9,9% do potencial inventariado. Na Bacia do Paraná, existem várias sub-bacias com grandes potenciais, entre elas a 64 (Paraná, Paranapanema e outros), com 8,1% do potencial hidrelétrico inventariado no País. O potencial hidráulico brasileiro, por sub-bacia hidrográfica, é apresentada na Figura 4. 53

Figura 4: Potencial hidrelétrico brasileiro por sub-bacia hidrográfica – situação em março de 2003 Fonte: Brasil, 2005D, Há que se ter em conta, entretanto, que grande parcela desse potencial hidrelétrico encontra-se não inventariada, principalmente em regiões mais distantes dos grandes centros socioeconômicos, conforme análise da Figura 4, de modo que essas proporções podem mudar significativamente em termos de potencial conhecido. Ainda há que se considerar a dinâmica da ocupação dos territórios brasileiros associada à política de reordenação territorial (áreas de preservação, unidades de conservação, demarcação de reservas indígenas, assentamentos populacionais), à política de expansão, o que acaba por promover restrições ou gerar conflitos ou oposição de interesses ou de idéias com o Setor Elétrico, sendo necessário desenvolver procedimentos, que inseridos em um processo de tomada de decisões colabore, auxilie na apropriação dos potenciais hidroenergéticos identificados, como processos dinâmicos 54 de inventário que utilizam estruturas passíveis de inserção de dados recentes e caracterizações atualizadas. A dinâmica do desenvolvimento humano, ao mesmo tempo que exige o reconhecimento e a disponibilidade de novas fontes energéticas, requer a compatibilidade ambiental das intervenções e mesmo dos estudos de inventário hidrelétricos já realizados. Os inventários permanecem sob a necessidade de revisão, tendo em conta a variabilidade das políticas ambientais, dos interesses sociais e dos indicadores ambientais utilizados. 55

4 O INVENTÁRIO HIDRELÉTRICO

Este capítulo pretende apresentar um quadro geral dos critérios básicos para os procedimentos para a elaboração de Inventário Hidrelétrico de Bacias Hidrográficas, as fases dos estudos, os procedimentos para a construção e aprovação, e principalmente os critérios e parâmetros socioambientais utilizados. Quando pertinente, apresenta-se também os aspectos de inter-relacionamento entre os estudos: socioambientais, energéticos, econômicos e de arranjo. Apresenta-se ainda as principais diferenças entre o Manual de Inventário Hidroelétrico de Bacias Hidrográficas de 1997 e o de 2007. O Manual de Inventário Hidrelétrico de 2007, em vigor, representa um grande avanço devido à incorporação de um capítulo de aspectos da dimensão ambiental e dos usos múltiplos da água. Conforme esse Manual, as etapas de estudos e projetos são:

4.1 Etapas de Estudos e Projetos para a Implantação de um Aproveitamento Hidroelétrico

As etapas de estudos e projetos para implantação de um aproveitamento hidrelétrico são as seguintes: Estimativa do Potencial Hidrelétrico É a etapa dos estudos em que se procede a análise preliminar das características da bacia hidrográfica, especialmente quanto aos aspectos topográficos, hidrológicos, geológicos e ambientais, no sentido de verificar a vocação da bacia para geração de energia elétrica. Essa análise, exclusivamente pautada nos dados disponíveis, é realizada no escritório e permite efetuar uma primeira avaliação do potencial, definir prioridades, prazos e os custos dos estudos da etapa seguinte. Estudos de Inventário Hidrelétrico É a etapa em que se determina o potencial hidrelétrico da bacia hidrográfica e se estabelece a melhor divisão de queda, mediante a identificação dos aproveitamentos 56 que, no seu conjunto, propiciem o máximo de energia, ao menor custo e com o mínimo impacto ao meio ambiente. Essa análise é efetuada com base em dados secundários, complementados com essenciais informações de campo, e pautado em estudos básicos cartográficos, hidrometeorológicos, energéticos, geológicos e geotécnicos, socioambientais e usos múltiplos de água. Dessa análise resultará um conjunto de aproveitamentos, suas principais características, índices custo/benefício e índices socioambientais. Faz parte dos Estudos de Inventário submeter os aproveitamentos da alternativa selecionada a um estudo de Avaliação Ambiental Integrada visando subsidiar os processos de licenciamento. Estes aproveitamentos passam então a ser incluídos no elenco de aproveitamentos inventariados do País, passíveis de compor os planos de expansão. Estudos de Viabilidade É a etapa em que se define a concepção global de um dado aproveitamento, da divisão de queda selecionada na etapa anterior, visando sua otimização técnico- econômica e ambiental e a obtenção de seus benefícios e custos associados. São efetuados estudos mais detalhados, para a análise da viabilidade técnica, energética, econômica e socioambiental que leva à definição do aproveitamento ótimo que irá ao leilão de energia. Os estudos contemplam investigações de campo no local e compreendem o dimensionamento do aproveitamento, do reservatório e da sua área de influência e das obras de infra-estrutura locais e regionais necessárias para sua implantação. Incorporam análises dos usos múltiplos da água e das interferências socioambientais. Com base nesses estudos, são preparados o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) de um empreendimento específico, tendo em vista a obtenção da Licença Prévia (LP), junto aos órgãos ambientais. Projeto Básico Na seqüência de desenvolvimento do projeto, após a licitação passa-se a fase do projeto básico. O aproveitamento, concebido nos Estudos de Viabilidade, é detalhado de modo a definir, com maior precisão, a segurança das estruturas através do desenvolvimento das características técnicas do projeto, as especificações técnicas das obras civis e equipamentos eletromecânicos, bem como dos programas socioambientais. Deve ser elaborado o Projeto Básico Ambiental com a finalidade de detalhar as recomendações incluídas no EIA, visando a obtenção da Licença de Instalação (LI), para a contratação das obras. 57

Projeto Executivo É a etapa em que se processa a elaboração dos desenhos de detalhamento das obras civis e dos equipamentos eletromecânicos, necessários à execução da obra e a montagem dos equipamentos. Nesta etapa são tomadas todas as medidas pertinentes à implantação do reservatório, incluindo a implementação dos programas socioambientais, pra prevenir, minorar ou compensar os danos socioambientais, devendo ser requerida a Licença de Operação (LO). Finalizada a construção, têm-se a fase de enchimento do reservatório e o início da operação, em que a geração de energia é acompanhada por ações que visam ao monitoramento e, eventualmente, à correção das medidas tomadas nas etapas anteriores. A operação só poderá ser iniciada após a obtenção da Licença de Operação (LO). As etapas de estudos e projetos para a implantação de um aproveitamento hidrelétrico pode ser observada na Figura 5

Figura 5: Etapas para a implantação de aproveitamentos hidroelétricos Fonte: BRASIL 2007 C

4.2 Procedimentos para a Construção e Aprovação de Aproveitamentos Hidrelétricos

O Quadro 1 apresenta os procedimentos institucionais e legais para a elaboração do Estudo de Inventário. 58

Quadro 1: Procedimentos institucionais/legais para elaboração do Estudo de Inventário. Fonte: BRASIL 2007 C Critérios e Parâmetros Socioambientais Avaliados • Área de estudo; • Sistema Ambiental; • Componentes-síntese; • Subáreas; • Sensibilidade, Fragilidade, e Potencialidade; • Avaliação dos Impactos Socioambientais; • Avaliação Ambiental Integrada; 59

5 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

O Conselho Nacional de Recursos Hídricos - CNRH, no uso de suas atribuições e competências, conferidas pela Lei n° 9.433, de 8 de janeiro de 1997 (BRASIL, 1997a), estabelece a Divisão Hidrográfica Nacional em regiões hidrográficas, que contempla bacias e sub-bacias hidrográficas como unidades do gerenciamento de recursos hídricos para a implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Nesse sentido, adotou-se como unidades territoriais para a caracterização da área de estudo a região hidrográfica do Tocantins-Araguaia, seguida da bacia hidrográfica do rio Tocantins, onde esta inserida a sub-bacia hidrográfica do rio do Sono; buscando analisar a questão dos recursos hídricos espacialmente e não apenas localmente.

5.1 Região Hidrográfica do Tocantins-Araguaia

Conforme Resolução CNRH n° 32, de 15 de outubro de 2003 (BRASIL, 2003a), considera-se como região hidrográfica o espaço territorial brasileiro compreendido por uma bacia, grupo de bacias ou sub-bacias hidrográficas contíguas com características naturais, sociais e econômicas homogêneas ou similares, com vistas a orientar o planejamento e gerenciamento dos recursos hídricos. Segundo a referida resolução, o Brasil possui 12 regiões hidrográficas (Figura 6). 60

Figura 6: Regiões hidrográficas do Brasil. Fonte: BRASIL, 2003a.

De acordo com a Agência Nacional de Águas (BRASIL, 2007b), a região hidrográfica do Tocantins-Araguaia, onde o foco desse estudo se insere, possui uma área de drenagem de 921.922 km2 (aproximadamente 11% do território nacional), que abrange os Estados de Goiás (26,8%), Tocantins (34,2%), Pará (20,8%), Maranhão (3,8%), Mato Grosso (14,3%), além do Distrito Federal (0,1%). Essa região possui configuração alongada, com sentido sul-norte, seguindo a direção predominante dos rios principais: Tocantins e Araguaia. As bacias desses rios apresentam áreas, respectivamente, de 380.834 km2 e 386.478 km2. Cabe destacar que a região hidrográfica do Tocantins-Araguaia, de acordo com a Resolução CNRH n° 32, de 15 de outubro de 2003 (BRASIL, 2003a), inclui ainda as bacias dos rios Guamá (84.598 km2) e Pará (70.012 km2) que são adjacentes. O rio Tocantins nasce no Planalto de Goiás, em cotas acima de 1000 m de altitude, sendo formado pelos rios das Almas e Maranhão, com extensão total aproximada de 1.960 km. Seu principal tributário é o rio Araguaia, que possui 2.600 km de extensão, no qual está situada a Ilha do Bananal, a maior ilha fluvial do mundo. Na margem direita do Tocantins destacam-se os rios do Sono, Bagagem, Tocantinzinho, 61

Paranã, Manoel Alves Grande e Farinha; na margem esquerda, os rios Santa Teresa e Itacaúnas (BRASIL, 2007b). O clima da região hidrográfica do Tocantins-Araguaia é do tipo tropical, com temperatura média anual de 26°C, e dois períodos climáticos bem definidos: o chuvoso, de outubro a abril, com mais de 90% da precipitação; e o seco, de maio a setembro, com baixa umidade relativa do ar. A precipitação média na região é da ordem de 1.869 mm/ano, enquanto a evapotranspiração real média é de 1.371 mm/ano (CELTINS e UNION ENG., 1997). A região hidrográfica do Tocantins-Araguaia é a segunda maior região brasileira em termos de disponibilidade hídrica superficial, com vazão média de 13.624 m3/s, que equivale a 9,6% do total do país e uma vazão especifica média de 14,84 L/s/km2. A vazão de estiagem, com permanência de 95%, é de 2.550 m3/s, valor que corresponde 3% da produção hídrica total do país (BRASIL, 2007b). Com o intuito de conhecer as bacias e sub-bacias hidrografias que compõe a região hidrográfica do Tocantins-Araguaia observa-se que entre os órgãos federais gestores dos recursos hídricos, especialmente Ministério do Meio Ambiente e Agência Nacional de Águas, não há consenso em relação aos recortes espaciais possíveis para o planejamento e gestão dessa região. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente (BRASIL, 2006a), o Plano Nacional de Recursos Hídricos subdivide a região hidrográfica do Tocantins-Araguaia em três Sub-regiões no nível 1 – Sub 1 e em 18 Sub-regiões no nível 2 – Sub 2 (Quadro 2). 62

Subdivisão Hidrográfica Sub 1 Subdivisão Hidrográfica Sub 2 Alto Araguaia Rio das Mortes Araguaia Médio Araguaia Cantão do Araguaia Baixo Araguaia Alto Tocantins Santa Tereza Paranã-Tocantins Tocantins Alto Rio Manuel Alves Lajeado Rio do Sono Estreito do Araguaia Tucuruí Baixo Tocantins Guamá Tocantins Baixo Pará-Tocantins Acará Foz Tocantins Quadro 2: Sub-regiões da região hidrografia do Tocantins-Araguaia. Fonte: BRASIL, 2006a

A Figura 7 apresenta a divisão da região hidrográfica Tocantins-Araguaia nas mencionadas sub-regiões no nível 1. 63

Figura 7: Sub-regiões no nível 1 da região hidrográfica do Tocantins-Araguaia. Fonte: BRASIL, 2006a.

Segundo a Agência Nacional de Águas (BRASIL, 2007b), para uma visão mais detalhada da questão hídrica na região hidrográfica do Tocantins-Araguaia, esta foi subdividida em 17 unidades de planejamento, que são apresentadas na Figura 8. Apenas 64

8 dessas unidades coincidem com as sub-regiões no nível 2 estabelecidas pelo Ministério do Meio Ambiente (BRASIL, 2006a): Alto Araguaia, Médio Araguaia, Baixo Araguaia, Alto Tocantins, Paranã, Sono, Baixo Tocantins e Pará.

Figura 8: Unidades de planejamento da região hidrográfica do Tocantis-Araguaia. Fonte: BRASIL, 2007b.

Constata-se que o Ministério do Meio Ambiente e a Agência Nacional de Águas analisam as sub-bacias que compõe a região hidrográfica do Tocantins-Araguaia em compartimentos territoriais diferentes, o que demonstra certo nível de desarticulação entre os órgãos responsáveis pela formulação e implementação da gestão dos recursos hídricos no Brasil. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente (BRASIL, 2006a) os valores de vazão média por habitante nesta região é de 60.000 m3/hab.ano (13.624 m3/s de vazão média e uma população de 7.890.714 habitantes). Já segundo a Agência Nacional de Águas (BRASIL, 2007b) a disponibilidade hídrica per capita na região é de 64.080 m3/hab.ano (14.607 m3/s de vazão média e uma população de 7.188.567 habitantes). Nesse contexto, as Tabela 10 e Tabela 11 mostram a disponibilidade hídrica por habitante na região hidrográfica do Tocantins-Araguaia conforme as divisões espaciais estabelecidas pelo Ministério do Meio Ambiente e Agência Nacional de Águas, respectivamente. 65

Tabela 10: Disponibilidade hídrica per capita da região hidrográfica do Tocantins-Araguaia segundo o Ministério do Meio Ambiente.

Qm = Vazão média de longo período; * População Total

Fonte: BRASIL, 2006a.

Tabela 11: Disponibilidade hídrica per capita da região hidrográfica do Tocantins-Araguaia segundo a Agência Nacional de Águas.

Qm = Vazão média de longo período; * População Total

Fonte: BRASIL, 2007b.

Nota-se pelo conteúdo das Tabela 10 e Tabela 11 as discrepâncias entre os dados do Ministério do Meio Ambiente e da Agência Nacional de Águas, mesmo nas unidades homônimas como é o caso do compartimento do rio do Sono. Esse fato impõe a necessidade de se definir unidades territoriais mais concisas, para se evitar confusão e 66 dispersão das informações coletadas, o que influencia na tomada de decisão com relação à gestão dos recursos hídricos na região hidrográfica do Tocantins-Araguaia. Na questão dos principais usos consuntivos da água, na região hidrográfica, observa-se que o Ministério do Meio Ambiente (BRASIL, 2006a) e a Agência Nacional de Águas (BRASIL, 2007b) reconhecem que a irrigação é o principal uso consuntivo da água, seguido de dessedentação animal, saneamento e uso industrial. A agricultura irrigada, principalmente para a produção de arroz, milho e feijão, corresponde a uma atividade econômica, em expansão, que juntamente com a soja, que não é uma cultura irrigada, são de grande importância na região hidrográfica. A área irrigada, estimada em 2005, era de 133.000 ha, sendo que o potencial de solos aptos para a atividade seria de 762.774 ha. Já a pecuária desenvolvida na região está voltada basicamente para a produção de carne bovina; o rebanho encontrava-se em torno de 34 milhões de cabeças em 2002 (BRASIL, 2007b). Com relação ao saneamento, o índice de cobertura dos serviços de abastecimento de água na região é de 84%, sendo que 62% da água utilizada para abastecimento provém de mananciais superficiais. O índice de cobertura dos serviços de coleta de esgotos é bastante baixo, da ordem de 8%. Desse total, apenas 47 % da população têm seus esgotos tratados. Na questão de resíduos sólidos, 79% da população da região é atendida por sistemas de coleta e a grande maioria dos municípios utiliza vazadouros a céu aberto (lixões) para disposição final (BRASIL, 2007b). O principal eixo industrial da região hidrográfica do Tocantins-Araguaia localiza-se na parte setentrional, na área de influência da Estrada de Ferro Carajás, que interliga Marabá (PA) ao complexo portuário localizado em São Luís (MA), onde encontram-se os principais pólos e projetos industriais no setor mineral. A mineração é uma atividade expressiva na região, sobressaindo-se a extração de ouro, bauxita, minério de ferro, amianto, níquel, manganês, estanho, granito, calcário, materiais para a construção civil e gemas (BRASIL, 2006a). Em termos de usos não-consuntivos dos recursos hídricos na região hidrográfica do Tocantins-Araguaia, destacam-se nos estudos do Ministério do Meio Ambiente (BRASIL, 2006a) e da Agência Nacional de Águas (BRASIL, 2007b): a pesca; o turismo e lazer; a conservação de ecossistemas; a geração de energia hidrelétrica; e as hidrovias. A região hidrográfica do Tocantins-Araguaia detém um potencial pesqueiro significativo. Apesar da pesca artesanal na região ser uma atividade de pequena 67 expressão econômica, se constitui em atividade essencial para a subsistência de grande parte da população ribeirinha e indígena. A região possui cerca de 300 espécies de peixes, com destaque para o jaú, filhote, dourado, tucunaré, jaraqui e pacu-branco. Cabe ressaltar a utilização múltipla dos lagos das hidrelétricas de Tucuruí, Serra da Mesa e Luís Eduardo Magalhães (Lajeado) para fins de exploração turística e pesca esportiva (BRASIL, 2006a). O potencial turístico da região hidrográfica do Tocantins-Araguaia inclui o ecoturismo, o turismo de aventura e a pesca esportiva. Dentre as atrações destacam-se os rios Tocantins e Araguaia, com inúmeras praias em toda sua extensão. Existem ainda outras opções de igual beleza e valor ecológico, que apresentam boas condições de exploração como serras, cavernas, cachoeiras, igarapés, veredas e matas. A Chapada dos Veadeiros e os Parques Estaduais do Cantão e Jalapão representam pólos de atração para turismo e lazer. A atividade do ecoturismo está crescendo em toda região e abrange o conhecimento da natureza, a experiência educacional interpretativa, a valorização das culturas tradicionais locais e a promoção do desenvolvimento sustentável (BRASIL, 2006a). Na região hidrográfica do Tocantins-Araguaia observa-se a presença do bioma Floresta Amazônica ao norte e noroeste, apresentando característica de zona de transição para o bioma Cerrado que domina grande parte dessa região. Existem 65 unidades de conservação que abrangem uma área de 72.626 km2 (7,9% da região hidrográfica). Destacam-se, em função da extensão, as APAs da Ilha do Bananal/Cantão e do Jalapão, ambas localizadas no Estado do Tocantins. Nesta região hidrográfica também estão presentes três corredores ecológicos, o Araguaia-Bananal, o Jalapão- Mangabeiras e o Paranã-Pirineus (BRASIL, 2006a). Segundo Barbier et. al (1994 apud LARROSA e SANTOS, 2006a), os ecossistemas oferecem funções ambientais para seres humanos e outras espécies de seres vivos. Essas funções podem ser divididas em quatro tipos:

• Funções produtivas, que proporcionam recursos básicos, como a água, energia, minerais, produtos agrícolas, florestais, etc.; • Funções regulatórias (ou de serviços ambientais), que proporcionam o contexto para as atividades econômicas e o bem-estar humano, como a regulação climática, a proteção do solo, a reciclagem da matéria orgânica, a disposição de resíduos, recarga de aqüíferos, etc.; 68

• Funções de suporte, que são aquelas que permitem o assentamento de moradias, indústrias, espaços recreativos, caminhos, represas, etc.; e • Funções de informação (culturas, tradições e costumes), que se referem a espaços históricos, de contemplação estética, religiosa, educativa, etc.

Para reforçar a importância de conservação dos ecossistemas da região hidrográfica do Tocantins-Araguaia, o Ministério do Meio Ambiente mapeou as Áreas Prioritárias para Conservação da Biodiversidade - APCBs conforme ilustra a Figura 9. 69

Figura 9: Áreas prioritárias para conservação da biodiversidade da região hidrográfica do Tocantins- Araguaia. Fonte: BRASIL, 2007a 70

De acordo com a Agência Nacional de Águas (BRASIL, 2007b), a ocupação de populações tradicionais na região hidrográfica também é expressiva, identifica-se populações indígenas, quilombolas, pescadores, ribeirinhos e quebradeiras de coco babaçu. Em relação às populações indígenas foram identificadas 53 terras indígenas, com uma área de 31.057 km2 (3,4% da região hidrográfica), que abrigam 24 etnias distintas. No caso das comunidades quilombolas, não há localização exata de suas terras, existe apenas os dados dos municípios com ocorrência de tais terras. Foram identificadas, então, 154 populações remanescentes de quilombolas que estão distribuídas em 22 municípios. Quanto às demais populações tradicionais, apesar de sua importância e, especialmente, nos casos dos ribeirinhos e pescadores, onde a estrutura social das comunidades está ligada a proximidade com os rios, não há até o momento estudos oficiais que apontem a quantidade e a espacialização dos mesmos, o que prejudica a análise do uso cultural da água na região hidrográfica. Conforme o Plano Decenal de Energia Elétrica 2006-2015 (BRASIL, 2006d), o potencial hidrelétrico da região hidrográfica do Tocantins-Araguaia é de 26.285 MW. Essa região é a segunda maior do Brasil em potencial hidroenergético instalado, com 11.522 MW (16% do país). Existem 136 empreendimentos hidrelétricos registrados, sendo 25 em operação, 3 em construção, 12 em estudo de viabilidade, 32 em projeto básico e 64 inventariados. O grande potencial hidrelétrico e sua localização frente aos mercados consumidores da região nordeste, colocam a região hidrográfica do Tocantins-Araguaia como prioritária para a implantação de aproveitamentos hidrelétricos (BRASIL, 2007b). A hidrovia Tocantins-Araguaia é uma das mais promissoras vias de transporte aquaviário, por sua extensão e posição geográfica. Os trechos navegáveis da região estão localizados nos rios das Mortes, Araguaia e Tocantins. Somados superam 3.500 km no período de cheia, entre janeiro e junho. Existem obstáculos naturais à navegação como as corredeiras próximas às cidades de Marabá (PA), Imperatriz (MA) e Estreito (MA). A construção de barragens, eclusas e as campanhas de dragagem e derrocamento de pedrais, como os presentes no rio Araguaia, são necessárias para tornar toda a extensão dos rios navegável (BRASIL, 2006a). Ressalta-se ainda a importância da Ferrovia Norte-Sul para a região hidrográfica do Tocantins-Araguaia, que com 2.066 km de extensão, interligará as regiões Norte e Nordeste à Sul e Sudeste, por meio das estradas de Ferro Carajás, Centro-Atlântica, 71

Ferroban e Sul-Atlântica. Quando totalmente implementada, transportará anualmente 12,4 milhões de toneladas de carga, sendo que os principais produtos a serem transportados pela ferrovia são minérios, produtos agrícolas e florestais – no sentido Norte-Sul – e combustíveis, fertilizantes e carga geral – no sentido Sul-Norte (BRASIL, 2006a). Segundo o Ministério do Meio Ambiente (BRASIL, 2006a), os conflitos pelo uso da água na região hidrográfica do Tocantins-Araguaia demonstram-se pequenos e pontuais, havendo uma carência de registros de informações. Assim, há necessidade de estudos mais aprofundados a fim de constatar a existência de conflitos ou de suas potencialidades, para identificação das áreas susceptíveis. No entanto, desde já, sabe-se que o maior desafio para a gestão dos recursos hídricos nessa região seja a compatibilidade entre irrigação, hidrovia, turismo e geração de energia hidrelétrica. Conclui-se que para a compatibilização do uso múltiplo dos recursos hídricos na região hidrográfica do Tocantins-Araguaia, é necessário, antes de tudo, articulação interinstitucional entre a União e os Estados que compõe essa região para adequar o processo de gestão dos recursos hídricos às diversidades físicas, bióticas, demográficas, econômicas, sociais e culturais ali presentes, de forma que se alcance o desenvolvimento sustentável.

5.2 Bacia Hidrográfica do Rio Tocantins

Bacia hidrográfica pode ser definida como “um conjunto de terras drenadas por um rio principal e seus afluentes (...) que obriga naturalmente à existência de cabeceiras ou nascentes, divisores de água, cursos d’água principais, afluentes e subafluentes” (GUERRA, 1978 apud BRASIL, 2003c). A bacia hidrográfica do rio Tocantins está completamente inserida na região hidrográfica do Tocantins-Araguaia. Por esse motivo, muitas informações referentes à bacia se assemelham com os dados da região hidrográfica. Para os fins do presente estudo, o foco da caracterização da bacia do rio Tocantins está em sua função de provedora de energia hidrelétrica. 72

A Agência Nacional de Energia Elétrica divide esta bacia em cinco sub-bacias - SB, denominadas de SB-20 (onde estão as nascentes do rio Tocantins), SB-21, SB-22, SB-23 e SB-29 (onde está a foz do rio Tocantins, no estado do Pará). Deste modo, o rio Tocantins é dividido em três classificações em termos de seu curso: Alto Tocantins (sub-bacias 20 – Goiás e Distrito Federal, basicamente -, e a 21 – Goiás e Tocantins); Médio Tocantins (sub-bacias 22 – basicamente Tocantins – e 23 – Tocantins e Maranhão); Baixo Tocantins (sub-bacia 29 – basicamente Pará), conforme ilustra a Figura 10. Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (BRASIL, 2007h), o Alto Tocantins tem uma área de drenagem de aproximadamente 127.700 km2 e uma extensão limitada pelo paralelo 12° de latitude sul, próximo ao município de , no Estado do Tocantins. Neste trecho, os principais afluentes encontram-se na margem direita, sendo o de maior porte o rio Paranã, que tem uma área de drenagem de aproximadamente 65.000 km2 . Na margem esquerda, o afluente mais importante é o rio Santa Teresa, com cerca de 14.600 km2 de área de drenagem. A confluência deste rio com o rio Tocantins dá-se a poucos quilômetros a jusante da cidade de Peixe, já na região do Médio Tocantins. O Médio Tocantins tem inicio no paralelo 12° de latitude sul e termina junto à confluência com o rio Araguaia, abrangendo territórios dos estados do Tocantins, Maranhão e Pará. Neste trecho, os principais afluentes também se encontram na margem direita, com destaque para os rios do Sono (área de drenagem de 45.600 km2) e o Manuel Alves da Natividade (área de drenagem de 14.933 km2). Pela margem esquerda, os afluentes são de pequeno porte. O trecho denominado Baixo Tocantins tem inicio na confluência do rio Araguaia com o rio Tocantins e abrange todo o trecho do rio Tocantins até a sua desembocadura na Baía de Marajó. Os principais afluentes são os rios Araguaia e Itacaiúnas, ambos pela margem esquerda. 73

Figura 10: Sub-bacias do rio Tocantins. Fonte: BRASIL, 2007h. 74

Devido ao potencial hídrico da bacia do rio Tocantins, esta possui papel estratégico na matriz hidrelétrica nacional. Atualmente estão em operação no rio Tocantins cinco aproveitamentos hidrelétricos (AHEs), além de haver um aproveitamento em construção e outro com concessão e licença prévia (LP) aprovada (Tabela 12).

Tabela 12: Aproveitamentos hidrelétricos em operação e previstos no rio Tocantins.

Fonte: Adaptado de BRASIL, 2007h.

As maiores usinas hidrelétricas, em termos de geração, estão situadas ao longo do curso do próprio rio Tocantins, e as menores distribuem-se por seus afluentes ou formadores. Nesse sentido, o Ministério de Minas e Energia por meio da Empresa de Pesquisa Energética elaborou a Avaliação Ambiental Integrada - para a bacia do rio Tocantins e seus formadores visando identificar e avaliar os efeitos sinérgicos e cumulativos resultantes dos impactos ambientais ocasionados pelo conjunto de aproveitamentos hidrelétricos nessa bacia. De acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (BRASIL, 2007i), a AAI da bacia do rio Tocantins e seus formadores, diferentemente do Ministério do Meio Ambiente, Agência Nacional de Águas e Agência Nacional de Energia Elétrica, realiza 75 mais um tipo de compartimentação dessa bacia “buscando regularidades espaciais que configurem áreas semelhantes”. Assim, o Quadro 3 apresenta a nomeação dos compartimentos da bacia do rio Tocantins.

Compartimentos Nomeação C1 Formadores e Cabeceiras C2 Margem Direita no Alto Curso (Vão do Paranã e Depressão) C3 Margem Esquerda, no Médio Curso (Eixo BR-153 – Belém Brasília) C4 Médio Tocantins Oriental (áreas preservadas) Médio Curso, a montante da foz do rio Araguaia (região de transição C5 Amazônia/Cerrado) C6 Baixo Curso e Foz (Floresta e Pecuária)

Quadro 3: Nomeação dos compartimentos da bacia do rio Tocantins. Fonte: Adaptado de BRASIL, 2007i.

Na Avaliação Ambiental Integrada da bacia do rio Tocantins e formadores (BRASIL, 2007i), o objeto de estudo são 34 AHEs a serem implantadas de acordo com três cortes temporais: Cenários Atual (2005) e os Intermediários de 2015 e 2025. O Quadro 5 apresenta o número de aproveitamentos hidrelétricos a serem considerados em cada um dos cenários por compartimento. Ressalta-se que os AHEs Peixe Angical, Luís Eduardo Magalhães (Lajeado), Isamu Ikeda, Tocantins, , Estreito e Marabá, encontram-se em mais de um compartimento. 76 Compartimento Cenários AHE Potência Instalada (MW) Cana Brava 450 Serra da Mesa 1275 Atual São Salvador 241 Peixe Angical (parcial) 452 Maranhão 125 2015 Buriti Queimado 142 Compartimento 1 Mirador 80 Porteiras II 86 Capoeira 13 Heitoraí 9,3 2025 Rialcema 11 Guariba 10,5 Laguna 36 São Domingos 12,4 Luís Eduardo Magalhães - Lajeado (parcial) 902,5 Atual Peixe Angical (parcial) 452 Isamu Ikeda (parcial) 27,6 2015 Tocantins (parcial) 480 Compartimento 2 Nova Roma 51 Foz do Atalaia 72 São Domingos 70 2025 Paranã 95 Barra do Palma 58 93 Pau D'Arco 64 Luís Eduardo Magalhães - Lajeado 902,5 Atual Estreito (parcial) 1087 Compartimento 3 Peixe Angical (parcial) 452 Tocantins (parcial) 480 2015 Tupiratins (parcial) 620 Isamu Ikeda 27,6 Atual Estreito (parcial) 1087 Tupiratins 620 2015 160 Compartimento 4 Cachoeira da Velha 81 Brejão 75 2025 Rio Sono 168 Perdida II 48 Atual Estreito (parcial) 1087 Compartimento 5 2015 Serra Quebrada 1328 2025 Marabá (parcial) 2160 Atual Tucuruí I e II 8370 Compartimento 6 2025 Marabá (parcial) 2160 Quadro 4: Aproveitamentos hidrelétricos da bacia do rio Tocantins por compartimento. Fonte: Adaptado de BRASIL, 2007i. 77

Observa-se que o Compartimento 1, onde se encontram as nascentes do rio Tocantins, é onde está previsto o maior número de aproveitamentos hidrelétricos. Existem nesse compartimento 2 usinas em operação, as UHEs Cana Brava e Serra da Mesa que, juntas, geram 1.725 MW, e está em construção a UHE São Salvador. Estão previstos também outros 9 aproveitamentos (3 na cena 2015 e 7 em 2025), totalizando 12 aproveitamentos no compartimento, com geração prevista em 2.478 MW. Já o Compartimento 6, apresenta o menor número de aproveitamentos hidrelétricos, apenas dois, mas é o que possui os aproveitamentos com maior potência instalada – Tucuruí e Marabá. Conforme a Avaliação Ambiental Integrada da bacia do rio Tocantins e formadores, encontram-se no Compartimento 4 os aproveitamentos hidrelétricos a serem implantados na sub-bacia do rio do Sono as UHEs Novo Acordo, Cachoeira da Velha, Brejão, Rio Sono e Perdida II. Esses aproveitamentos e mais as AHEs Jalapão (54 MW), Soninho ½ (38 MW) e Arara (30 MW), previstas nos Estudos de Inventário da Bacia do rio do Sono (COMPANHIA DE ENERGIA ELÉTRICA DO ESTADO DO TOCANTINS e UNION ENGENHARIA LTDA, 1997), são focos dessa dissertação.

5.2.1 Os Conflitos da Bacia do Rio Tocantins segundo a AAI da EPE

Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (BRASIL, 2007i), o termo conflitos representa a situação de tensão real ou potencial, resultante de concorrência entre direitos, interesses, usos, atribuições, jurisdições de duas ou mais partes, suscitadas por empreendimentos hidrelétricos, entre outros usuários de recursos hídricos, além daqueles inerentes à dinâmica regional. Para avaliação dos conflitos, o procedimento metodológico adotado pela Avaliação Ambiental Integrada da bacia do rio Tocantins e formadores foi a construção de uma Matriz de Conflitos, onde o grau de conflito oscila entre zero e três, conforme as seguintes opções: não conhecido (NC), não há conflitos (0), baixo grau de conflito (1), médio grau de conflito (2) e elevado grau de conflito (3). O Quadro 6 apresenta a matriz de conflitos da bacia do rio Tocantins. 78

Quadro 5: Matriz de conflitos da bacia do rio Tocantins. Fonte: Adaptado de BRASIL, 2007i. Constata-se que para a Avaliação Ambiental Integrada da bacia do rio Tocantins e formadores os conflitos só ocorrerão se um impacto (real ou potencial) for identificado. Assim, considera elevado grau de conflito (3) os seguintes impactos originais: alteração da dinâmica hidráulica dos rios; interferências nos usos da água já estabelecidos; pressão sobre áreas de interesse conservacionista (UCs, APs e TIs); interferência em populações tradicionais; e o deslocamento compulsório de população rural e urbana. Já como baixo grau de conflito (1): elevação do lençol freático; perda do potencial mineral; perda de manifestação cultural (cultura imaterial); perda de áreas produtivas; aumento e diversificação de doenças de veiculação hídrica. Essa avaliação gera controvérsias, uma vez que a Avaliação Ambiental Integrada da bacia do rio Tocantins e formadores não realiza a identificação e tipificação dos conflitos por aproveitamento hidrelétrico nem por compartimento, apenas caracteriza os citados impactos originais para a bacia como um todo, chamando- os de “características dos conflitos”. Nesse sentido, os conflitos são descritos na referida Avaliação Ambiental Integrada de forma geral, e pouco detalhada, não disponibilizando informações suficientes para a tomada de decisão dos gestores da bacia no tratamento dos conflitos potenciais ou evidentes. 79

5.3 Sub-Bacia Hidrográfica do Rio do Sono

Em 1972, um contrato firmado entre a ELETROBRÁS e o Consórcio Engevix- Ecotec, deu inicio aos Estudos de Inventário Hidrelétrico da Bacia do Rio Tocantins. Posteriormente, a partir de janeiro de 1974, com a criação da ELETRONORTE, esta passou a coordenar os Estudos de Inventário do Tocantins. Mais tarde, em março de 1983, tendo como objetivo a compatibilização dos possíveis aproveitamentos hidroenergéticos do trecho médio, com os aproveitamentos previstos para o Alto e Baixo Tocantins, a ELETRONORTE contratou a revisão dos Estudos de Inventário Hidrelétrico do Médio Tocantins junto à THEMAG Engenharia (THEMAG ENGENHARIA, 1987). Assim, entre os anos de 1983 a 1986 foram conduzidos estudos nos eixos identificados no rio Tocantins, visando atualizar e complementar as informações contidas nos estudos anteriores. Todavia, somente em 1987, após análises aprofundadas entre a ELETRONORTE e a THEMAG Engenharia foi elaborado o Relatório dos Estudos Finais de Inventário do Médio Tocantins (THEMAG ENGENHARIA, 1987). Ao longo de mais de trinta anos de estudos, constatou-se que a Bacia do rio Tocantins, e especialmente o Médio Tocantins, se destacava em termos estratégicos no cenário nacional, por possuir sub-bacias de interesses hidroenergéticos com múltiplos empreendimentos projetados. Essa região encontra-se inserida no eixo rodoferroviário Norte-Sul, com possibilidades de abrigar hidrovias e ferrovias, além de ser ocupada por crescente produção agropecuária. Nesse contexto, se tem a sub-bacia hidrográfica do rio do Sono ou, simplificadamente, bacia do rio do Sono, sendo este o segundo maior afluente do rio Tocantins, drenando uma área de 45.600 km2, com extensão do curso principal da ordem de 290 km. Os Estudos de Inventário Hidrelétrico da Bacia do Rio do Sono foram iniciados em 1996 pela Companhia de Energia Elétrica do Estado do Tocantins - CELTINS e UNION Engenharia Ltda, com a finalidade de avaliar a potencialidade hidrelétrica da bacia, que constitui parcela considerável das potencialidades hídricas do estado do Tocantins, e diagnosticá-la, antecipadamente, com vistas ao planejamento racional de seu uso. 80

De acordo com o citado inventário hidrelétrico, consolidado em 1997, toda a bacia de drenagem do rio do Sono e seus afluentes situam-se no Estado de Tocantins. Nos seus limites a leste, confronta-se com as drenagens da margem esquerda do rio São Francisco, rio Preto e seu afluente Sapão, no Estado da Bahia; e do alto curso do rio Parnaíba, nos Estados do Piauí e do Maranhão. A bacia que faz vizinhança com o Sono, ao sul, é a do rio Manuel Alves/Natividade e, ao norte, as bacias dos rios Manuel Alves Grande e Manuel Alves Pequeno, que também drenam para o rio Tocantins (COMPANHIA DE ENERGIA ELÉTRICA DO ESTADO DO TOCANTINS. UNION ENGENHARIA LTDA, 1997). O rio do Sono tem, pela margem esquerda, como principal afluente, o rio das Balsas, que drena cerca de 17.700 km2, em seguida pela margem direita o rio Perdida, que tem uma área de drenagem de 9.600 km2. Os dois formadores do rio do Sono, o Soninho e o Novo, e as cabeceiras do rio Perdida, têm suas nascentes na vertente ocidental da Chapada das Mangabeiras. Nessa região, uma linha de abrupto desnível estabelece o início das aguadas que demandam à bacia do rio do Sono, até sua desembocadura situada junto à cidade de . Em toda porção leste do Estado do Tocantins, região onde se insere a bacia do Sono, o relevo é do tipo ondulado suave a ondulado, com vertentes sob a forma de amplas colinas côncavas, com declividade suave, em direção aos leitos dos rios. Na região do baixo curso dos rios Novo e Soninho ocorre o trecho das corredeiras. Os solos superficiais dominantes apresentam textura arenosa e a vegetação é do tipo cerrado sub- caducifólio e campo-cerrado, onde a formação arbórea-arbustiva é pouco densa. Essas características conferem boa permeabilidade e acumulação de água no subsolo, dando origem a excelentes aqüíferos, com descargas elevadas no período de estiagem (COMPANHIA DE ENERGIA ELÉTRICA DO ESTADO DO TOCANTINS. UNION ENGENHARIA LTDA, 1997). A alta concentração das precipitações nos meses chuvosos, particularmente entre janeiro e março, contrapõe-se a esse aparente regime de águas calmas. Em situação de intensos e contínuos aguaceiros a capacidade natural de infiltração/acumulação do conjunto solo - vegetação atinge seu ponto de saturação, e os deflúvios superficiais tornam-se elevados; os cursos d’água avolumam-se, os níveis sobem rapidamente e verificam-se grandes cheias. A bacia do rio do Sono é homogênea do ponto de vista climático, apresentando uma marcante variação sazonal e estações bem definidas. A estação chuvosa, 81 abrangendo o período de outubro a abril, concentra cerca de 93 % da precipitação anual e, o trimestre mais seco, junho a agosto, apenas 1 % . Segundo a Agência Nacional de Águas (BRASIL, 2007b), a bacia do rio do Sono possui alta disponibilidade hídrica superficial, com vazão média de 745 m3/s e uma vazão especifica média de 16,3 l/s/km2. A vazão mínima, considerada como vazão com permanência de 95%, é de 288 m3/s. A área de influência da bacia do rio do Sono compreende 11 municípios com sede na bacia. De acordo com o Instituto Brasileiro e Geografia e Estatística - IBGE (BRASIL, 2007j) a população distribui-se da seguinte forma (Tabela 13):

Tabela 13: Distribuição da população da bacia do rio do Sono em 2007.

Densidade Área Município População Demográfica (km2) (hab/km2) 1.160 4.018 3,46 Tocantínia 2.602 6.112 2,34 Centenário 1.955 2.382 1,21 5.723 3.603 0,62 Rio Sono 6.357 5.651 0,88 Novo Acordo 2.672 3.746 1,40 Santa Tereza do Tocantins 540 2.295 4,25 911 3.174 3,48 6.491 6.569 1,01 São Félix do Tocantins 1.909 1.377 0,72 9.592 1.734 0,18 Total 39.912 40.661 1,02 Fonte: BRASIL, 2007j. No entanto, além destes, é possível observar municípios parcialmente inseridos na bacia, que a influenciam direta ou indiretamente, como: Pedro Afonso, Bom Jesus do Tocantins, , Lajeado, , Palmas, Almas, Silvanópolis e Recursolândia (Figura 11). 82

Figura 11: Mapa dos Municípios na bacia do rio do Sono. Fonte: UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA. CENTRAIS ELÉTRICAS DO NORTE DO BRASIL, 2006.

Conforme a Agência Nacional de Águas (BRASIL, 2007b), a população total da bacia do rio do Sono (incluindo os municípios inseridos e parcialmente inseridos) é de 43.207 habitantes, possuindo uma disponibilidade hídrica per capita da ordem de 543.761 m3/hab.ano. Os principais usos consuntivos da água na bacia são para irrigação (63,2%), dessedentação animal (29,3%) e saneamento (7,5%). Na agricultura irrigada, destacam-se como principais culturas o arroz, o milho e a mandioca. No município de Pedro Afonso os cerrados estão sendo substituídos por lavoura de soja e há possibilidade da região se transformar no novo pólo agrícola do Estado, através do Programa de Cooperação Nipo-Brasileira para o Desenvolvimento do Cerrado – PRODECER III, onde também se desenvolve a cultura de soja por irrigação. Já se encontra instalada nesse município a empresa Bungue, multinacional de alimentos. Atualmente, a área irrigada estimada na bacia do rio do Sono é de 911 ha, sendo que o potencial de solos aptos para a atividade é de 463.000 ha. A pecuária desenvolvida está principalmente voltada para a criação bovina. O rebanho era de 213.055 cabeças em 2003. 83

Com relação ao saneamento, o índice de cobertura dos serviços de abastecimento de água na bacia do rio do Sono é de 99,6%. Não há cobertura dos serviços de coleta de esgotos, sendo recorrente o uso de fossas. A carga orgânica lançada nos rios é de 0,58 t DBO/dia. Na questão de resíduos sólidos, cerca de 91,3% da população da região é atendida por sistemas de coleta, no entanto, os municípios utilizam “lixões” para disposição final (BRASIL, 2007b). Em termos de usos não-consuntivos dos recursos hídricos na bacia do rio do Sono, destacam-se: a conservação dos ecossistemas, o turismo e a geração de energia hidrelétrica. Do ano correspondente à publicação do inventário hidrelétrico da bacia do rio do Sono - 1997 aos dias atuais, nota-se uma evolução na preocupação, em níveis federais e estaduais, de conservar áreas ecologicamente relevantes, inseridas total ou parcialmente na bacia. Em 1997 havia apenas uma unidade de conservação, a Área de Proteção Ambiental (APA) Serra da Tabatinga, no referido ano foi criada a APA Serra do Lajeado e com o passar dos anos foram criadas mais 4 unidades, conforme mostra o Quadro 6.

Quadro 6: Unidades de conservação da bacia do rio do Sono. Fonte: UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA. CENTRAIS ELÉTRICAS DO NORTE DO BRASIL, 2006. Na bacia do rio do Sono está presente o Corredor Ecológico Jalapão - Chapada das Mangabeiras que conecta cinco unidades de conservação: a Estação Ecológica (EE) Serra Geral do Tocantins; o Parque Nacional (PN) das Nascentes do Parnaíba; a APA da Serra da Tabatinga; a APA do Jalapão; e, o Parque Estadual (PE) do Jalapão. Objetiva-se que essas unidades de conservação, em conjunto, formem um grande corredor de proteção da biodiversidade por onde os animais possam transitar e procriar em segurança, onde a flora seja conservada e as belezas cênicas preservadas para as futuras gerações. A região leste da bacia é uma Área Prioritária para 84

Conservação da Biodversidade (APCB) de importância biológica extremamente alta, conforme ressalta BRASIL (2006a). Parte da bacia do rio do Sono é considerada Reserva da Biosfera, onde segundo o Sistema Nacional de Unidade de Conservação - SNUC (BRASIL, 2000) representa um modelo, adotado internacionalmente, de gestão integrada, participativa e sustentável dos recursos naturais, com os objetivos básicos de preservação da diversidade biológica, o desenvolvimento de atividades de pesquisa, o monitoramento ambiental, a educação ambiental, o desenvolvimento sustentável e a melhoria da qualidade de vida das populações. A ocupação indígena é relevante na bacia do rio do Sono, tendo sido identificadas 2 terras indígenas, Funil e Xerente, com uma área total de 948 km2, e que abrigam a etnia Xerente. Estas terras sofrem interferências da crescente produção agropecuária em suas fronteiras. A Figura 12 apresenta as unidades de conservação e terra indígena inseridas na bacia do rio do Sono.

Figura 12: Mapa das Unidades de conservação e terra indígena na bacia do rio do Sono. Fonte: UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA. CENTRAIS ELÉTRICAS DO NORTE DO BRASIL, 2006. A bacia do rio do Sono apresenta também populações remanescentes de quilombolas distribuídas nos municípios de Mateiros (Comunidade Mumbuca e 85

Arredores), São Félix do Tocantins (Comunidade Povoado do Prata e Arredores) e Santa Tereza do Tocantins (Comunidade dos Quilombos de Barra do Aroeira). Não se constatou as referências de localização exata das terras pertencentes às comunidades quilombolas, apenas são disponíveis dados dos municípios com ocorrência de tais terras. Além das comunidades quilombolas, observa-se 4 projetos de assentamento do Instituto de Colonização e Reforma Agrária - INCRA, inseridos ou parcialmente inseridos na bacia em estudo: Água Fria II, localizado no município de Tocantínia; Faveira, localizado no município de Rio Sono; Primogênito, localizado no município de Novo Acordo; e Entre Rios, localizado no município de Palmas. A bacia do rio do Sono possui um potencial turístico variado que inclui o ecoturismo e o turismo de aventura. Destacam-se as serras, praias fluviais e cachoeiras formadas no rio do Sono que representam pólos de atração para o turismo e lazer. Observa-se que o artesanato com o “capim dourado” e as expedições turísticas para o “Deserto do Jalapão” constituem as atividades mais promissoras, responsáveis por parte da movimentação da economia local. Devido a localização e abundância de recursos hídricos, a bacia do rio do Sono possui alta potencialidade de geração de energia hidrelétrica, conforme observado nos estudos de inventário hidrelétrico do Médio Tocantins, realizado pela THEMAG Eng., em 1987, e em 1997, pelo consórcio CELTINS e UNION ENG.. Conforme THEMAG (1987), no rio do Sono e seus afluentes foram identificados dez sítios potencialmente interessantes para barramento: Novo 1 (entre 80,7 MW e 87,5 MW), localizado no rio Novo, na Cachoeira da Velha; Sono 1 (entre 130,1 MW e 168,8 MW), Sono 2 (entre 180,5 MW e 183,5 MW), Sono 3 A (entre 306,0 MW e 309,3 MW), Sono 3 B (entre 757,7 MW e 907,2 MW), Sono 4 (entre 388,2 MW e 390,0 MW) e Sono 5 (entre 554,1 MW e 556,0 MW), no rio do Sono; Balsas 1 (entre 87,9 MW e 94,6 MW) e Balsas 2 (entre 129,5 MW e 135,3 MW), no rio das Balsas e Perdida I (não encontrada a potência) e Perdida II (entre 114,5 MW e 114,7 MW), no rio Perdida. O referido estudo adotou o critério de se inventariar apenas aproveitamentos com potência instalada superior a 50 MW (linha de corte). Segundo CELTINS e UNION ENG. (1997), os aproveitamentos escolhidos que integram a alternativa final da divisão da queda da bacia do rio do Sono passaram a ter as seguintes denominações: Sono 3 C – UHE Rio Sono (168 MW); Sono 2 – UHE Novo Acordo (160 MW); Sono 1 – UHE Brejão (75 MW); Novo 1 Jusante – UHE 86

Cachoeira da Velha (81 MW); Novo 1 Montante – UHE Jalapão (54 MW); e Soninho 13/4 – UHE Arara (30 MW). Utilizando como linha de corte para potência instalada valor igual ou superior a 30 MW. A Resolução ANEEL n° 323, de 20 de outubro de 1998, aprovou os estudos de inventário da bacia do rio do Sono apresentado pela Companhia de Energia Elétrica do Estado do Tocantins – CELTINS, com os seguintes aproveitamentos: UHE Rio Sono (168 MW), UHE Novo Acordo (160 MW), UHE Brejão (75 MW), UHE Cachoeira da Velha (81 MW), PCH Arara (30 MW), PCH Soninho (20 MW), PCH Perdida 1 (24 MW) e UHE Perdida 2 (48 MW). De acordo com ANEEL (2008), a situação atual dos empreendimentos da bacia do rio do Sono é a seguinte: Rio das Balsas: Por meio do Despacho (DSP) nº 3821 de 17/10/2008 publicado em 20/10/2008 – SGH/ANEEL, transfere para a condição de inativo o registro para revisão dos estudos de inventário hidrelétrico do rio das Balsas, no Estado do Tocantins, condedido à Brasil Central Engenharia Ltda. Este revoga o DSP SGH/ANEEL 656 de 21.02.2008, D.O. de 22/02/2008, seção 1, p.57, v. 145, n.36. O DESPACHO Nº 3863 de 22/10/2008 publicado em 23/10/2008. Prorroga os prazos, estabelecidos nos Ofícios SGH/ANEEL 760 e 767 de 21.07.2006, para entrega dos estudos de viabilidade das Usinas Hidrelétricas Novo Acordo e Brejão, no Despacho rio do Sono, Estado de Tocantins, solicitado pelas empresas EDP Energias do Brasil S.A e Centrais Elétricas do Norte do Brasil S.A - ELETRONORTE. O DESPACHO Nº 3246 de 02/09/2008 publicado em 03/09/2008. Indisponibiliza para efeito de registro, os aproveitamentos integrantes dos estudos de inventário da bacia do rio do Sono, no trecho entre a nascente e a foz do rio Soninho, devolve os projetos básicos das Pequenas Centrais Hidrelétricas Arara e Soninho, no Estado do Tocantins, e transfere para a condição de inativo os respectivos registros, concedidos às empresas Glep Energias Renováveis e Paraticipações S.A, Construtora Gomes Lourenço Ltda e Agropastoril Santo Ângelo Ltda. Assim, no presente estudo, foram selecionados 8 aproveitamentos hidrelétricos da bacia do rio do Sono para a avaliação dos impactos ambientais: AHE Rio do Sono (168 MW), AHE Novo Acordo (160 MW), AHE Brejão (75 MW), AHE Cachoeira da Velha (81 MW), AHE Jalapão (54 MW), AHE Soninho ½ (38 MW), AHE Arara (30 MW) e AHE Perdida II (48 MW). A Figura 13 apresenta a divisão de queda do rio Sono. 87

Figura 13: Exemplo de Divisão de queda no rio Sono Fonte: Adaptado de CELTINS e UNION ENG. 1997. 88

Destaca-se que a PCH Soninho ½ (20 MW) está em fase de elaboração de projeto básico, conforme Despacho ANEEL n° 2.295, de 23 de julho de 2007, sendo utilizado nesse estudo os dados contidos em CELTINS e UNION ENG. (1997), o qual se apresenta como UHE, com 38 MW de potência instalada. A partir da compreensão dos aspectos socioambientais e energéticos da bacia utilizou- se ferramentas de geoprocessamento para espacialização e integração das informações socioambientais da área em estudo. Isso possibilitou um conhecimento, em caráter preliminar, de um diagnóstico ambiental, e deram orientação básica para a visita à bacia do rio do Sono a fim de confirmar informações obtidas nas fontes de dados analisadas. Com base no estudo de caracterização e observação das características ambientais, realizou-se, entre os dias 29 de março e 1° de abril de 2007 uma visita técnica à bacia do rio do Sono, onde foi possível percorrer trechos da nascente à foz do rio. Essa visita teve como objetivo conhecer os aspectos socioambientais; a disponibilidade de recursos naturais; os principais usos da água e do solo; e observar as condições dos sítios indicados como possíveis locais de aproveitamentos hidrelétricos, conforme consta no Inventário Hidrelétrico da Bacia do Rio do Sono (CELTINS e UNION ENG., 1997). Posteriormente iniciou-se a organização das informações adquiridas, sendo que os estudos desenvolvidos para a avaliação dos impactos ambientais dos empreendimentos hidrelétricos projetados para a bacia do rio do Sono - TO seguiram as recomendações do Manual de Inventário Hidroelétrico de Bacias Hidrográficas de 2007. Destaca-se ainda, a possibilidade de transposição de vazões da bacia do rio do Sono para a bacia do rio São Francisco. As duas bacias já se encontram na lagoa do Varedão, situada perto da divisa entre Tocantins e Bahia, onde nascem os rios do Sono e Novo (afluentes do Tocantins) e Sapão, Preto e Grande (afluentes do São Francisco) (Figura 14). 89

Figura 14: Encontro das bacias hidrográficas dos rios Tocantins e São Francisco. Fonte: MOLION, 2003. Segundo Molion (2003), por canais existentes no subsolo, no divisor de águas, estima- se que, durante o período de cheia do Tocantins, ocorra a transposição natural de cerca de 80 a 110 m3/s de água para afluentes do São Francisco. Um canal com cerca de 150 km de extensão, ligando os rios do Sono e Sapão, e obras hidráulicas apropriadas seriam suficientes para tornar contínua e controlada a transferência de água para o São Francisco. Observa-se, como foco dessa dissertação, que a bacia do rio do Sono é de relevante interesse hidroenergético, apresentando condições favoráveis à implantação de aproveitamentos hidrelétricos, conforme previsto no inventário (COMPANHIA DE ENERGIA ELÉTRICA DO ESTADO DO TOCANTINS. UNION ENGENHARIA LTDA, 1997). Entretanto, esta é uma bacia com fortes restrições ambientais possuindo unidades de conservação, terra indígena, comunidades quilombolas, assentamentos, crescente produção agropecuária, além de ser provável contribuinte na transposição de águas para o rio São Francisco, o que promove diferentes tipos de conflitos de interesse em relação aos usos da água e do território. 90

6 MODELOS DINÂMICOS E ÍNDICES AMBIENTAIS

6.1 Análise de Sistemas

Conforme ALBUQUERQUE (2003), a análise de sistema pode ser definida como o processo de subdivisão do sistema em subsistemas e componentes cada um contendo entradas, saídas e interconexões. É o estudo da composição e do funcionamento. Para que se possa aplicar a análise de sistema duas hipóteses têm que ser verdadeiras: a) que é possível subdividir um sistema real em subsistemas ou componentes funcionais; b) que é possível determinar as várias entradas, saídas e inter-relações entre os sistemas componentes. A dificuldade do emprego da análise de sistema está na visão de mundo que cada pessoa possui. Uma vez que, a maioria, foi treinada para visualizar o mundo formado por partes, segundo a visão mecanicista em que a compreensão do mundo deve se processar parte por parte, distinguindo-se peça por peça, para depois relacionar as partes. Essa concepção tem origens no pensamento de René Descartes sendo comum a perda da visão do todo durante o processo. Em contrapartida, a visão organicista (ou holística) considera o mundo como sendo formado por sistemas que funcionam de modo similar aos organismos. Cada sistema orgânico possui diversos elementos componentes, com suas características e funções. Todavia, o conjunto não é apenas o resultado da soma das partes, mas algo individualizado e distinto, com propriedades e características que só o todo possui. Nesta visão, o todo é o elemento chave para a compreensão da realidade e não as partes. A maneira encontrada para contornar este paradoxo é a aplicação das visões mecanicista e orgânica simultaneamente e interativamente. Somente através da aplicação das duas visões é que podemos representar (mentalmente, em papel ou matematicamente) o complexo sistema real que nos interessa. Para a aplicação da análise de sistema é necessário que construamos primeiro um modelo mental do sistema que desejamos estudar. Esse modelo mental é construído pela seleção dos elementos do sistema real, que consideramos importantes (em função dos objetivos propostos) e suas interconexões. Depois passamos a fase de representar esses 91

elementos por meio de diagramas ou figuras, fase essa também chamada de esquematização. A terceira fase é a simulação da representação para avaliar, por meio da análise dos dados, se a nossa representação corresponde ao modelo mental idealizado e esse ao sistema real. Senão, fazemos ajustes no modelo através do processo de retroalimentação (feedback). Só aí então podemos usar nosso modelo para simular a reação do sistema a políticas ou diretrizes que desejamos implementar.

6.2 Modelo

CHISTOFOLETTI (1999), define a palavra modelo como sendo qualquer representação simplificada da realidade, ou de um aspecto do mundo real que surja como de interesse ao pesquisador, que possibilite reconstruir à realidade, prever um comportamento, uma transformação ou uma evolução. Os modelos procuram sintetizar os sistemas com a finalidade de fornecer um quadro global da totalidade do sistema, estabelecendo o grau de conhecimento sobre as partes componentes, interações entre os elementos e funcionamento interativo entre as entradas e saídas dos sistemas. A literatura especializada aborda a subdivisão dos modelos em vários tipos. Dentre eles: modelos matemáticos, modelos de sistemas, modelos preditivos, modelos gráficos, modelos determinísticos, modelos probabilísticos, modelos de simulação e etc. Será abordado nesse trabalho, o modelo matemático, por ser o utilizado no presente estudo. Os modelos matemáticos são abstrações no sentido de substituir objetos, forças, eventos, etc, por uma expressão que contém variáveis, parâmetros e constantes matemáticas. (CHISTOFOLETTI, 1999). 92

6.2 Construção de Cenários

Os modelos permitem a construção de diversos cenários, sendo uma importante ferramenta de previsão, pois pode servir para prever respostas que o sistema pode apresentar no futuro, a partir de simulações de possíveis situações futuras. Os cenários são caminhos possíveis em direção ao futuro, isto é, uma forma de aumentar a compreensão das conseqüências de eventos potenciais e políticas de longo prazo, em nível regional ou nacional (http://www.cgee.org.br). A construção de cenários consiste em técnicas de construção de futuros alternativos usadas para a identificação políticas e estratégias de ação. Os cenários têm como finalidade:

• Preparar a instituição para as crescentes incertezas do futuro; • Ajudar a tomada de decisão para a formulação de objetivos, diretrizes e estratégias institucionais alternativas; • Identificar ameaças e oportunidades originadas de mudanças no contexto; • Ajudar na elaboração do plano estratégico da instituição.

As principais características dos cenários são:

• Centrados na incerteza; • Produzem interpretações lógicas do futuro; • Ajudam em épocas de mudanças; • São qualitativos e quantitativos; • Geram tendências; • Tornam claros os riscos; • Promovem a flexibilidade e a capacidade de reação; • Admitem e exploram a complexidade.

Tipos de cenários: 93

• Tendencial – o que tende a acontecer. Evolução futura com base em projeções de tendências históricas. • Exploratório – o que pode acontecer. Possibilidade de futuros alternativos. • Normativo – o que deve acontecer. As potencialidades desejáveis.

Para a construção de cenários é necessário a avaliação dos fatores críticos, que são:

• Fator crítico – é qualquer variável, ou conjunto de variáveis, que afeta, positiva ou negativamente, o desempenho de um sistema. • Força propulsora – é qualquer fenômeno que impulsiona de forma positiva o comportamento de um fator crítico. • Força restritiva – é qualquer fenômeno que afeta de forma negativa o comportamento de um fator crítico.

Os métodos de análises de cenários são:

• Análise lógica intuitiva – não utiliza nenhum algoritmo matemático; • Análise de impacto tendencial – baseia-se em técnicas de previsão clássica (modelos econométricos); • Análise de impactos cruzados – baseia-se no pressuposto da existência de inter- relações de eventos futuros (op. cit.).

As etapas para construção dos cenários são as seguintes:

• Análise do ambiente do sistema que está sendo analisado; • Identificação dos fatores críticos; • Análise dos fatores críticos: • Descrição da tendência histórica do fator nos últimos 5 ou 10 anos; • Caracterização das principais forças propulsoras e restritivas que atuam ou poderiam atuar sobre cada fator; • Identificação do estado futuro possível (ou estados possíveis) para cada fator crítico. 94

• Estabelecimento de premissas condicionantes e determinantes comuns aos cenários alternativos; • Estruturação da matriz de cenários (especialistas); • Elaboração e revisão de cenários alternativos; • Especificação das oportunidades para a questão em estudo que o estado futuro possível permite (op. cit.).

6.3 Incorporação da Variável Ambiental no Inventário Hidrelétrico

A contribuição para um processo de sustentabilidade, a geração de um contexto de decisão mais amplo e integrado com a proteção ambiental e a melhor capacidade de avaliação inicia-se com a relação dos impactos ambientais causados pela construção de barragens. Esses abrangem a perda de terrenos férteis, de biota e de infra-estrutura pela área alagada do reservatório. Devido às alterações no regime hidrológico, ocorrem impactos tais como: perdas de fauna e de flora, alterações nos transportes de sedimentos bem como nas freqüências de cheias e secas, entre outros. Com a inovação contida no Manual de Inventário Hidroelétrico de Bacias Hidrográficas de 2007, passa a existir a necessidade de incorporar o componente ambiental como variável de viabilidade dos empreendimentos. A principal questão é como considerar a variável ambiental nos projetos, ou como contemplar as diferentes interações multidisciplinares necessárias ao conhecimento do meio ambiente, ou seja, que informações procurar obter e quais variáveis devem ser estudadas e caracterizadas. Como as variáveis ambientais abrangem componentes físicos, biológicos, técnicos, econômico-financeiros e socioculturais de um espaço geográfico, devem ser inter- relacionadas para subsidiar o estabelecimento de alternativas locacionais mais apropriadas para instalação de empreendimentos, visando maximizar a geração de riquezas e minimizar os impactos ambientais negativos resultantes (ALVES e SOUZA, 1997). Dada a realidade institucional relativa à dimensão ambiental que deve ser levada em conta no processo de tomada de decisões referente à implantação de barramentos, não somente a análise de risco ambiental deve ser incluída no modelo conceitual, mas também o processo de licenciamento ambiental. Esse como instrumento de caráter preventivo, visa compatibilizar o desenvolvimento econômico e social com a preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico bem como garantir um adequado planejamento ambiental. 95

Como componente do processo de licenciamento, o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) objetiva, a partir da sistematização de uma base sólida de informações, subsidiar a Administração Pública quando da tomada de decisão quanto a licenciar ou não o empreendimento (ARAÚJO, 2002). A idéia de produzir índices que reflitam o grau de favorabilidades ambientais (favorabilidade é inversa a fragilidade do ambiente) e energéticas para barragens na fase de inventário, com a incorporação de critérios restritivos e classificatórios das alternativas de empreendimentos e divisões, representou um grande avanço na seleção ambiental de barragens. Ferramentas de apoio a decisão De acordo com Roberto (2000), o Sistema de Informação é o processo de transformação de dados em informações que são utilizadas na estrutura decisória da organização, bem como é o que proporciona a sustentação da gestão para otimizar os resultados esperados, ou seja, são sistemas abertos, que interagem com um ambiente dinâmico, envolvendo variáveis dos meios físicos, biótico e socioeconômico. Nessa abordagem, informações são dados úteis ao processo de tomada de decisão. De acordo com Silva (1999), dado corresponde a um conjunto de valores numéricos ou não, que está associado a uma representação de fatos no mundo real; já informação refere-se a um conjunto de dados que possui significado para um determinado fim, portanto, informação é dado mais interpretação. Para Roberto (2000), os sistemas de informações devem ser uma ferramenta aberta, que seja prática, acessível e facilmente submetida a tantas mudanças quanto necessárias. O desenvolvimento desse Sistema de Informação deve estar integrado com o planejamento de uma organização, para contribuir para a conquista dos objetivos globais. Assim, os Sistemas de Informação Geográficas (SIG), proporcionam ferramentas de suporte a decisão, conjuntos de componentes que se inter-relacionam e possuem funções de recolher, processar, armazenar e distribuir informações para a tomada de decisões. Os SIG são ferramentas de geoprocessamento. De acordo com Câmara e Davis (1999), o termo geoprocessamento denota a disciplina do conhecimento que utiliza técnicas matemáticas e computacionais para o tratamento da informação geográfica e que influencia de maneira crescente as áreas de Cartografia, Análise de Recursos Naturais, Transportes, Comunicações, Energia e Planejamento Urbano e Regional. De acordo com os mesmos autores, é importante salientar que o espaço com que trata o geoprocessamento é o espaço computacionalmente representado e não o espaço geográfico propriamente dito. Essa 96

representação computacional é que permite a interdisciplinaridade das aplicações em SIG, uma vez que os conceitos espaciais de um hidrólogo, sociólogo, ecólogo, engenheiro, etc, podem ser traduzidos para uma mesma linguagem computacional. Câmara e Medeiros (apud Assad e Sano, 1998, p.6) conceituam SIG como os sistemas que efetuam tratamento computacional de dados geográficos, ou seja, “um SIG armazena a geometria e os atributos dos dados que estão georreferenciados, isto é, localizados na superfície terrestre e numa projeção cartográfica qualquer. Os dados tratados em geoprocessamento têm como principal característica a diversidade de fontes geradoras e de formatos apresentados”. Deste modo, a implementação planejada do sistema de apoio à tomada de decisões, organizado no contexto de um sistema de informações geográficas, torna-se uma atividade fundamental para o sucesso da gestão ambiental em bacias hidrográficas (SANTOS et al., 1997), tanto do ponto de vista do planejamento quanto do licenciamento. Conforme Silveira e Cruz (2005), essa abordagem também está de acordo com as orientações da Agenda 21, que dedicou o Capitulo 40 ao tema de informações para a tomada de decisões (http://www.ambiente.sp.gov.br/agenda21/ag40.htm). A abordagem integrada de alocação dos usos da terra com base em criterioso planejamento é tema do Capitulo 10 do mesmo documento. Ainda segundo Silveira e Cruz (2005), para uma fase de inventário de locais de barramentos, especialmente em países que apresentem bases de dados espaciais carentes ou inexistentes, torna-se crítica a seleção das variáveis que serão modeladas em SIG, para fins de suporte à tomada de decisões. A cartografia brasileira está desatualizada em grande parte do território, necessitando de atualizações com base em fotografias aéreas ou imagens de satélites, quando o recurso é suficiente. Além disto, em grande parte do país, as escalas dos mapeamentos existem somente para escalas pequenas, como 1:100.000 (para o planejamento setorial em todos os níveis de governo) ou de 1:250.000 (para o planejamento econonômico regional). Observa-se que em setores das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, o mapeamento 1:250.000 é inexistente. Além do que, os vôos efetuados para estas coberturas remontam há década de 70 para a maioria das cartas, ou seja, com mais de 30 anos de defasagem. Sistemas ambientais Entende-se por sistema ambiental o conjunto dos elementos existentes na área de estudo, incluindo seus atributos ou qualidades, as funções que exercem nos processos e suas interações (MANUAL, 2007 C). 97

A análise do sistema ambiental requer a consideração dos seus processos físico- bióticos, sociais, culturais, econômicos e políticos, bem como das suas inter-relações e de seus rebatimentos espaciais. Diagnóstico Socioambiental e Componentes-síntese As variáveis e parâmetros que permitem a caracterização socioambiental variam no tempo e no espaço em uma bacia hidrográfica. Para a identificação dos aspectos socioambientais e sua visão integrada é necessário estabelecer uma escala apropriada para uma representação que englobe a maioria dos indicadores. Observa-se que para a realização desses estudos não são necessárias extensas caracterizações. Pelo contrário, o que se pretende é que, pela interpretação e do tratamento apropriados de dados secundários e de um conjunto suficiente de dados primários, construa-se um quadro referencial compreensivo para a análise dos impactos socioambientais e dos aproveitamentos e alternativas. Esse quadro deve possibilitar a identificação dos processos socioambientais mais significativos, relativos à interação aproveitamento hidroelétrico-região e daqueles aspectos que devem ser alvo de maior aprofundamento. Em particular, durante a construção do conhecimento sobre a área de estudo, deve-se procurar apreender as diferentes visões dos grupos sociais acerca das questões em análise. Considera-se fundamental que, desde a fase de levantamentos, se desenvolva o trabalho de modo integrado e dentro de uma perspectiva interdisciplinar, tendo em vista favorecer a construção dos componentes-síntese pelo estabelecimento de inter-relações entre os elementos do sistema socioambiental. Segundo o Manual de Inventário Hidroelétrico de Bacias Hidrográficas (BRASIL, 2007g), para representação do sistema ambiental adota-se uma estrutura analítica composta por seis componentes, denominados componentes-síntese: Ecossistemas Aquáticos, Ecossistemas Terrestres, Modos de Vida, Organização Territorial, Base Econômica e População Indígena. Esses componentes-síntese estão estruturados a partir da inter-relação entre vários elementos do sistema ambiental denominados elementos de caracterização ou parâmetros, que proporciona uma noção de conjunto dos processos envolvidos em seu campo de análise. Destaca-se, nesse sentido, que existem elementos de caracterização que estão presentes em mais de um componente, assumindo diferentes funções nos processos inerentes a cada um deles. Observa-se ainda que, para a composição do quadro regional relativo a cada componente envolvendo aspectos quantitativos e qualitativos, torna-se necessário um trabalho 98

analítico e de natureza interpretativa, que implica necessariamente na inclusão de profissionais de nível sênior na equipe (MANUAL, 2007 C). A escala de estudo deverá permitir uma visão de conjunto dos aproveitamentos objeto da análise. Poderão ser utilizadas escalas diferentes destas para a análise temática e aspectos relevantes, a partir das cartas oficiais disponíveis, que subsidiarão uma visão de conjunto. Os dados e informações deverão ser compatíveis com a escala do estudo, devendo ser elaborados mapas temáticos, na escala adequada, para os aspectos socioambientais relevantes e de avaliação local (subdivisão de bacia, por exemplo). Nesse sentido, a escala a ser adotada para a análise dos dados deve ser adequada para uma visão de conjunto da bacia. Para a representação dos resultados podem ser adotadas outras escalas dependendo do tema a ser representado. Além disso, como os componentes- síntese envolvem a articulação entre os diversos elementos do sistema socioambiental, as análises realizadas para cada componente deverão ser integradas às dos demais, mediante um trabalho interdisciplinar, tendo em vista a compreensão dos processos ambientais da área de estudo. Assim, na caracterização dos componentes poderão ser consideradas as inter-relações fundamentais entre os seus elementos. Visando gerar subsídios para a Avaliação Ambiental Integrada, o diagnóstico socioambiental deverá destacar a história e tendências evolutivas da região, de modo a permitir a construção de um cenário de desenvolvimento futuro. Devem também ser destacados os processos socioambientais que têm caráter sistêmico ou que são considerados mais relevantes sob uma perspectiva regional, embora também seja necessário um quadro referencial para a análise de cada aproveitamento. Devem ser destacadas: As potencialidades da bacia: em termos da base de recursos naturais, das principais atividades socioeconômicas, das tendências dos setores produtivos, dos usos dos recursos hídricos e do solo, aspectos cênicos e turísticos, dos planos e programas existentes para a região; e as potencialidades socioeconômicas que poderão ser alavancadas com a implantação dos empreendimentos hidrelétricos na região. Os espaços de gestão socioambiental: áreas mais preservadas com vegetação original; áreas degradadas; áreas para conservação da biodiversidade; áreas com restrições e condicionantes de uso, como por exemplo, Unidades de Conservação e Terras Indígenas. As áreas de sensibilidade: as áreas mais sensíveis à presença de empreendimentos hidroelétricos também deverão ser identificadas e localizadas. Sempre que possível, deve ser estabelecida uma classificação para essa sensibilidade. 99

Os conflitos existentes e potenciais: relacionados ao uso dos recursos hídricos e do solo, às estratégias de conservação da biodiversidade e às políticas, planos e programas existentes para o desenvolvimento da região. Os potenciais conflitos devem ser entendidos como os problemas que de alguma forma se agravariam e/ou surgiriam com a introdução dos empreendimentos hidroelétricos, tais como:

• Conflitos gerados pela forma de reassentamento de população urbana e rural. • Substituição de usos da terra, desarticulação das relações sociais e da base produtiva. • Especulação imobiliária. • Interferência sobre o patrimônio arqueológico, histórico e cultural. • Áreas com conflitos pelo uso da terra. • Interferência sobre a base de recursos naturais para o desenvolvimento. • Perda de potencial turístico. • Perda de recursos naturais (minerais, biodiversidade). • Conflitos em relação ao uso múltiplo dos recursos hídricos. • Interferência sobre Terras Indígenas e Unidades de Conservação federais, estaduais e municipais.

Deve ser observado que para representar o sistema socioambiental destaca- se que os processos e atributos físicos, embora não se constituam em um componente-síntese, são considerados na análise articulando-se com esses, na medida em que representam o elemento mantenedor e interagente das relações biológicas e antrópicas. A bacia hidrográfica, cujos principais elementos componentes são as encostas e a rede de canais fluviais, deve ser considerada dentro de uma abordagem mais ampla, como um sistema complexo que comporta processos de naturezas diversas, que interagem mutuamente e variam tanto no espaço quanto no tempo, compondo o que se pode chamar de unidade da paisagem. Neste sentido, a bacia hidrográfica ora se comporta como substrato para a ocorrência e distribuição de espécies vegetais e animais, ora se expressa como recurso e condicionante para o desenvolvimento das atividades humanas. Tomando-se por base que os aspectos físicos remetem-se aos demais – biológicos e socioeconômicos, os processos e atributos físicos a serem priorizados no diagnóstico 100

socioambiental são aqueles que permitem melhor explicitar essas interações. Nesse sentido, os levantamentos e o nível de detalhamento da análise devem ser compatíveis com os conteúdos dos componentes-síntese. Aspectos Geológicos – A abordagem geológica deverá ser voltada para o levantamento e análise de informações que permitam identificar pelo menos os seguintes aspectos: unidades e estruturas geológicas, litologias associadas e potencial mineral. Deve-se buscar a correlação entre as evidências geológicas e a compartimentação socioambiental da área de estudo. Deverão ser usados como critérios para a compartimentação geológica a resistência dos materiais, condicionamentos do relevo e a ocorrência de recursos minerais. Aspectos Geomorfológicos – Deverão ser identificadas as principais feições geomorfológicas e os processos morfodinâmicos atuantes (formas e processos de dissecação/deposição). A compartimentação geomorfológica deverá priorizar a análise da diversidade de relevo e dos processos atuantes, o grau de estabilidade, suas formas erosivas e deposicionais. Visando subsidiar a análise dos ambientes fluviais, deverão ser identificados e particularizados os processos correlatos às principais feições morfológicas, tais como gradiente altimétrico, declividade do canal, forma do canal (vale plano, vale em V, encaixado, aberto), padrão do canal (retilíneo, meandreante, anastomosado), presença de rápidos e corredeiras, presença de ilhas, zonas de acumulação/erosão. Aspectos Pedológicos e Edáficos – Devem ser apontadas as principais unidades de solos da área de estudo, particularizando-se suas características físico-químicas e estruturais, de forma a identificar suas potencialidades e restrições de uso. Nesse sentido, deverão ser evidenciadas as classes de aptidão agrícola e silvicultural e suas principais restrições quanto à susceptibilidade à erosão. Hidrologia e Climatologia – Este elemento abrange a descrição e caracterização do regime hidro-climático da área de estudo, das descargas superficiais e das águas subterrâneas (ou disponibilidade hídrica superficial e subterrânea). Qualidade das Águas – Com esse elemento objetiva-se fornecer um suporte analítico para os componentes-síntese Ecossistemas Aquáticos, Base Econômica e Modos de Vida. Para tanto, a análise deverá levar em conta os seguintes aspectos: Manutenção da Diversidade Biológica – Deverão ser utilizados indicadores de qualidade da água que possibilitem a classificação dos corpos d’água quanto as suas características ecológicas determinantes na manutenção da diversidade biológica. 101

Uso dos Recursos Hídricos – Os indicadores de qualidade da água utilizados deverão informar sobre as características de potabilidade e pureza necessárias para sua utilização doméstica e nas atividades econômicas em geral. Ocorrência de Doenças de Veiculação Hídrica – Nesse aspecto, os indicadores utilizados deverão levar em conta as fontes de contaminação por efluentes domésticos e o quadro epidemiológico regional. O estudo de qualidade da água deve ter início a partir da identificação das principais atividades na bacia e dos potenciais elementos poluentes lançados nos corpos de água. Uma boa parte desses dados poderá ser obtida a partir da consulta a fontes secundárias encontradas em órgãos de meio ambiente de alguns estados brasileiros e das classes de recursos hídricos para qualidade da água, quando disponíveis. Entretanto, a espacialização das informações sobre atividades deverá ser baseada nos padrões de uso do solo reconhecíveis em imagens de satélite. A atividade de mapeamento de uso do solo deverá atender os estudos do componente de Base Econômica e dos outros componentes-síntese. Para as bacias hidrográficas onde não existem dados de qualidade da água ou onde esses não atendam aos objetivos desse estudo, será necessário realizar levantamento de campo preliminar, com pelo menos duas campanhas empreendidas em períodos que representem variações temporais significativas, passíveis de serem evidenciadas na qualidade físico- química da água. Tais períodos podem variar de acordo com as características biogeográficas ou de ocupação humana de cada região, podendo representar estações seca e chuvosa, períodos de plantio e colheita etc. A rede amostral deverá ser definida em função de: características do uso do solo na bacia; características físicas da rede hidrográfica; características hidrológicas e hidrogeológicas (incluindo os aqüíferos); disposição dos prováveis locais de barramento na bacia; otimização da rede amostral quanto à acessibilidade aos locais e eqüidistância entre os pontos amostrais. A partir da análise dos elementos anteriormente citados, forma-se uma rede de relações físico-naturais. A associação entre a compartimentação geológica e os processos endógenos de esculturação das formas de relevo, superposta aos processos exógenos definidos pelo regime hidroclimático e pelo circuito da erosão, transporte e acumulação, permite uma visão não somente das interações entre esses processos como da compartimentação física da paisagem que compõe a bacia hidrográfica. 102

Considerando os Ecossistemas Aquáticos e Terrestres, os processos e atributos físicos da área de estudo se constituem no suporte para as interações biológicas que se processam na paisagem, sendo, portanto um elemento fundamental para a análise da compartimentação biogeográfica da área de estudo, que se traduz na particularização dos diversos ambientes que compõem a bacia hidrográfica. Para efeito de análise dos Ecossistemas Aquáticos, serão cruzadas as informações relativas ao perfil longitudinal fluvial, variações altimétricas, declividade, forma e padrão do canal, presença de rápidos e corredeiras, presença de ilhas, zonas de acumulação/deposição e substrato geológico. Deverão ser compartimentados os ambientes ao longo do canal fluvial, de forma a evidenciar as características físicas relevantes para a avaliação da diversidade biológica. A qualidade da água será objeto de avaliação específica para os Ecossistemas Aquáticos. Com relação aos aspectos socioeconômicos e culturais, os aspectos físicos possuem importância enquanto um dos atributos definidores do processo de ocupação e das formas de apropriação dos recursos e, por conseqüência, da organização do território. A caracterização e análise dos processos e atributos físicos para a avaliação dos componentes-síntese Modos de Vida, Organização Territorial, Base Econômica e Populações Indígenas/Populações Tradicionais está diretamente vinculada aos condicionantes: aptidão agrícola em diferentes tipos de manejo, potencialidades minerais e cênicas, e nível de degradação dos recursos. A análise destes atributos será delineada a partir de quatro elementos fundamentais: processos morfodinâmicos (dinâmica de erosão e deposição), dinâmica de cheias, compartimentação do relevo e propriedades físicoquímicas dos solos. Os processos morfodinâmicos representam toda a dinâmica de erosão e deposição dentro do sistema da bacia hidrográfica, integrando aos processos fluviais os de erosão. Isto permitirá avaliar tanto os efeitos advindos da implantação dos aproveitamentos, como as restrições ao uso do solo e ao desenvolvimento de atividades econômicas. A dinâmica de cheias, por sua vez, assume importância, não somente para o entendimento dos processos morfodinâmicos, como em relação aos grupos sociais que estabelecem vínculos diretos com o rio, envolvendo toda sorte de relações sociais e econômicas fundamentais à própria reprodução desses grupos, que têm como pano de fundo o aproveitamento sazonal das várzeas dos cursos d’água. A compartimentação do relevo traz no seu bojo a particularização das unidades que irão, posteriormente, subsidiar a análise das restrições e potencialidades relativas à ocupação e organização do espaço. 103

Por fim, as propriedades físico-químicas dos solos permitirão a análise da susceptibilidade à erosão, bem como de sua aptidão agrícola. Como produto final dessa análise, devem resultar os dados necessários para caracterizar os seguintes aspectos:

• Compartimentação física. • Aptidão agrícola dos solos e susceptibilidade à erosão. • Recursos minerais. • Patrimônio geomorfológico. • Qualidade das águas.

Essas informações são representadas cartograficamente através de mapeamentos temáticos, em escala compatível com os mapeamentos dos estudos de engenharia e dos componentes-síntese, conforme discriminados a seguir:

• Compartimentação Física – Mapeamento síntese dos atributos e processos do meio físico natural, ressaltando a particularização dos ambientes geomorfológicos com a respectiva compartimentação do relevo; os processos atuantes como erosão e deposição; as características geológicas e pedológicas dos materiais; e estruturas correlatas. • Aptidão Agrícola dos Solos e Susceptibilidade à Erosão – Mapeamento da aptidão agrícola dos solos e da susceptibilidade à erosão. • Recursos Minerais – Mapeamento dos recursos minerais (enquanto potencial mineral). • Patrimônio Geomorfológico – Inclui-se as formações de rara beleza cênica, cavernas, cachoeiras etc. • Qualidade das Águas – Como principal produto serão identificados em um mapa os trechos de rio com distintos padrões de qualidade da água.

Componente-síntese: Ecossistemas Aquáticos Os ecossistemas aquáticos agrupam uma multiplicidade de processos e relações que ocorrem no meio biofísico. Tendo em vista a complexidade inerente ao estudo dos ecossistemas, são necessários recortes conceituais e metodológicos que compatibilizem a análise diagnóstica à escala de trabalho da fase de estudos de inventário, sem, no entanto, comprometer o conteúdo sistêmico deste componente-síntese. 104

Optou-se por focar os fatores ambientais determinantes na manutenção da diversidade biológica, priorizando-se aqueles elementos que permitam uma avaliação espacial, tendo como referência os estudos que vêm sendo desenvolvidos no âmbito da biogeografia. Nesse sentido, esse componente-síntese reúne tanto informações relativas ao suporte físico-biótico, quanto aos dados biológicos das espécies, de modo a permitir a identificação dos diferentes níveis de relevância ecológica existentes dentre os diversos ambientes que integram a região em estudo. A relevância ecológica é entendida aqui como o potencial do sistema em análise apresentar uma diversidade biológica ou graus de endemismo maior comparativamente aos demais subsistemas. Nesse caso, a escolha das subunidades de análise deve ser efetuada a priori, objetivando selecionar áreas que representem conjuntos naturais, ou seja, que encerrem os processos ecológicos associados ao funcionamento e à estrutura das comunidades bióticas. Dentro dessa diretriz, optou-se por adotar as subbacias como subunidades de análise da rede de drenagem (subáreas), observando-se, entretanto, que estas podem ser agrupadas e/ou individualizadas de acordo com as características da área estudada. O canal principal, por sua vez, deverá ser considerado como uma única subunidade de análise (subárea). Entretanto, poderá ser subdividido em situações onde houver intercepções físicas no seu curso devido a barreiras geográficas, originando sistemas com características ecológicas independentes Os elementos de caracterização selecionados pelo Manual de Inventário Hidroelétrico de Bacias Hidrográficas (BRASIL, 2007g), para a estruturação desse componente-síntese encontram-se apresentados em resumo na Tabela 14. 105

Tabela 14: Elementos de caracterização do componente-síntese Ecossistemas Aquáticos. Fonte: BRASIL, 2007g. Componente-síntese: Ecossistemas Terrestres Assim como no componente-síntese de Ecossistemas Aquáticos, a complexidade inerente aos estudos dos Ecossistemas Terrestres torna necessária a realização de recortes conceituais e metodológicos para compatibilizar a análise diagnóstica à escala de trabalho dos estudos de inventário. Nesse sentido, também serão enfocados neste componente os fatores ambientais determinantes na expressão e manutenção da diversidade biológica, priorizando-se aqueles elementos que permitam uma avaliação espacial, tomando-se como referência os estudos que vêm sendo desenvolvidos no âmbito da biogeografia. Os elementos de caracterização para a estruturação desse componente-síntese foram selecionados de modo a permitir a identificação dos diferentes níveis de relevância ecológica existentes dentre os diversos ambientes que integram a região em estudo. A relevância ecológica aqui é entendida como o potencial do sistema em análise apresentar uma diversidade biológica maior comparativamente aos demais subsistemas. Esses elementos de caracterização encontram-se apresentados na Tabela 15. 106

Tabela 15: Elementos de caracterização do componente-síntese Ecossistemas Terrestres. Fonte: BRASIL, 2007g. Componente-síntese: Modos de Vida Por “Modos de Vida” compreendem-se as formas pelas quais os seres humanos se organizam para garantir sua sobrevivência física, social, política, cultural e emocional. Este componente refere-se às maneiras pelas quais os homens ocupam o território, apropriam-se dos recursos naturais disponíveis, relacionam-se entre si nesse processo e produzem representações sobre esse território. A essa organização correspondem formas particulares de pensar o mundo e se pensar nele (formas de representações). São essas formas que dão significado ao conjunto de relações cotidianamente atualizadas – relações políticas, econômicas, culturais, afetivas, de socialidade etc. Compreender um “Modo de Vida” não é apenas caracterizá-lo, mas sim compreender as formas aqui mencionadas em suas manifestações: é apreender o que há de mais relevante na organização de um grupo social, apreender o que lhe confere identidade, o que o situa no tempo e no espaço. Para apreender o substrato da identidade de um dado de “Modo de Vida”, é de fundamental importância estabelecer a síntese entre as “estratégias de sobrevivência dos grupos sociais” – que remetem aos aspectos que conformam sua base material – e as “formas de socialidade historicamente construídas” – relativas aos aspectos que conformam sua base sociocultural. Nesse sentido, os elementos de caracterização selecionados para estruturação deste componente-síntese devem ser analisados integradamente, levando à caracterização dos diferentes “Modos de Vida” existentes na área de estudo e sua expressão espacial. Esses elementos deverão ser tratados do ponto de vista quantitativo e qualitativo, buscando observar as interações entre eles, de forma a reconstruir a realidade, objeto de 107

interesse do estudo. Acredita-se que através deste componente-síntese seja possível dar um tratamento especial a questões que freqüentemente se perdem no meio de informações quantificáveis, questões que qualificam a realidade social e que, na maioria das vezes, tendem a passar despercebidas. Os elementos de caracterização são apresentados na Tabela 16 e estão agrupados sob os seguintes aspectos: • Dinâmica demográfica. • Condições de vida. • Sistema de produção. • Organização social.

Tabela 16: Elementos de caracterização do componente-síntese Modos de Vida. Fonte: BRASIL, 2007g. 108

Componente-síntese: Organização Territorial Este componente compreende os processos que determinam a organização e dinâmica do território e, por conseqüência, sua paisagem e seus padrões de ocupação. Engloba as formas e os objetos criados pelo homem dispostos sobre a superfície do território e relacionados entre si, traduzindo-se nas formas de uso e ocupação do território e na articulação entre suas diferentes porções, estabelecida através das redes de comunicação e de circulação de bens e de pessoas. Os elementos de caracterização selecionados visam reunir informações sobre a organização do espaço e da paisagem, destacando o papel dos recursos hídricos nesta organização, sobre os fluxos de circulação e comunicação e sobre a organização político- administrativa do território. Essas informações encontram- se resumidas na Tabela 17 e estão organizadas sob os aspectos indicados a seguir: • Dinâmica demográfica. • Ocupação do Território • Circulação e comunicação • Organização política-administrativa. 109

Tabela 17: Elementos de caracterização do componente-síntese Organização Territrial Fonte: BRASIL, 2007g.

Componente-síntese: Base Econômica Neste componente, estão reunidas as atividades econômicas significativas para a economia e a qualidade de vida da área de estudo e os recursos ambientais que se constituem em potencialidades para suporte às atividades econômicas futuras. Os elementos de caracterização selecionados visam organizar e interpretar informações de modo a se obter um perfil da economia, tanto de mercado quanto de subsistência, contextualizado nas escalas local e regional, de modo a construir uma visão das atividades que dão sustentação econômica à região compreendida pela área de estudo. Para tanto, deverão ser levantados e localizados os principais bens e atividades econômicas, privilegiando os seguintes aspectos, resumidos na Tabela 18: 110

• Atividades econômicas. • Potencialidades da bacia. • Finanças municipais.

Tabela 18: Elementos de caracterização do componente-síntese Base Econômica Fonte: BRASIL, 2007g

Componente-síntese: Populações Indígenas/Populações Tradicionais Com este componente-síntese, objetiva-se destacar a presença de grupos que demandam tratamento especial por serem protegidos por legislação federal devido à sua especificidade cultural. Este componente visa apreender a forma pela qual estes grupos se organizam e garantem sua reprodução sociocultural e, nesse sentido, o tratamento dispensado a este componente se assemelha àquele referente ao componente- síntese Modos de Vida. Os elementos de caracterização selecionados visam possibilitar a produção de conhecimento sobre o que dá lógica/significado a determinado grupo indígena, de modo a que se compreenda suas formas de reprodução da vida social. Em outras palavras, deve-se procurar perceber a relação existente entre as “estratégias de sobrevivência” e as “formas de 111

socialidade” de cada grupo para identificar as situações que freqüentemente dão conta da lógica/sentido e significados que orientam as realidades sociais (contradições/conflitos). As principais fontes de informações são os documentos produzidos pelos órgãos governamentais e institutos de pesquisas, além dos estudos e teses acadêmicas, complementados com pesquisa de campo. Os elementos de caracterização selecionados são descritos a seguir.

Tabela 19: Elementos de caracterização do componente-síntese População Indígena/População Tradicional Fonte: BRASIL, 2007g..

Deve ser observado que os processos e atributos físicos, por promoverem o suporte e a articulação entre os processos ambientais, não são aqui considerados como um componente- síntese, mas sim como elementos básicos para as análises dos seis componentes adotados pelo Manual de Inventário Hidroelétrico de Bacias Hidrográficas (BRASIL, 2007g). Da mesma forma, os aspectos relativos ao patrimônio histórico, cultural, arqueológico, espeleológico, paisagístico e ecológico, são considerados como elementos de caracterização, de acordo com as relações estabelecidas com os componentes-síntese . 112

Essas informações são tanto de natureza quantitativa quanto qualitativa. Na sua grande maioria, os dados necessários encontram-se disponíveis em fontes secundárias (bancos de dados oficiais, universidades, centros de pesquisas, entre outros). Destaca-se, entretanto, que, para alguns elementos e/ou componentes e em algumas regiões, os dados secundários deverão ser objeto de aferição de campo ou por meio de imagens de satélite, fotos aéreas existentes ou outros métodos disponíveis, quando não forem suficientes para a composição do quadro regional requerido pelas análises e se referirem aos aspectos indispensáveis para o desenvolvimento dos estudos. Para os casos em que o levantamento de campo é requerido com o objetivo de se obter uma visão qualitativa e quantitativa de determinado aspecto considerado, este só deve ser realizado após pesquisa com base em dados secundários, de modo que se possa constituir um quadro situacional suficiente para as análises e orientador do trabalho de campo necessário. Neste sentido, esse trabalho deverá priorizar questões anteriormente identificadas como relevantes para a produção do conhecimento desejado. A construção de indicadores de sensibilidade para a bacia é efetuada com a finalidade de estabelecer parâmetros de referência para a formulação das diretrizes e recomendações a serem propostas na AAI (BRASIL, 2007g). Os indicadores de sustentabilidade ambiental deverão ser construídos a partir das condições socioambientais configuradas no cenário atual e no cenário prospectivo, sendo representadas pelos indicadores de fragilidade e de potencialidade segundo os componentes- síntese. Essas condições serão confrontadas com dados e informações presentes em dispositivos legais e normativos referentes à preservação/conservação ambiental, em âmbito federal, estadual e municipal, como por exemplo, zoneamento ecológico-econômico, legislação sobre uso e ocupação do solo, regulamentações sobre unidades de conservação e utilização dos recursos hídricos, planos de bacia e políticas/planos existentes voltados para o desenvolvimento social e econômico da região. Além dessas referências, outras de caráter científico, nacionais e internacionais, sobre sustentabilidade socioambiental e a própria percepção das aspirações da comunidade regional sobre suas condições de vida e sobre a conservação ambiental na área de estudo, deverão se constituir nos elementos de referência para a montagem dos indicadores de sustentabilidade socioambiental para a bacia (BRASIL, 2007g). 113

7 METODOLOGIA

A metodologia proposta para a presente dissertação tem inicio com a análise documental, por meio de fontes bibliográficas públicas referentes ao meio ambiente, setor elétrico e recursos hídricos, determinantes para os estudos de inventário energético de bacias hidrográficas. Procurando retratar de maneira objetiva a metodologia descrita a seguir criou-se um fluxograma da síntese metodológica para a construção de um Modelo de Inventário Hidrelétrico Dinâmico” apresentado na Figura 15.

Figura 15: Síntese metodológica para a construção de um Modelo de Inventário Hidrelétrico Dinâmico.

Simultaneamente definiu-se uma bacia piloto, já inventariada, para desenvolvimento do projeto. Nesse sentido, a bacia do rio do Sono, localizada na região do Médio Tocantins, foi escolhida por ser uma bacia de relevante interesse hidroenergético, complexa e com disponibilidade de dados técnicos e ambientais que incidem sobre os potenciais hidrelétricos inventariados. 114

Após a pesquisa bibliográfica e escolha da área de estudo, iniciou-se a coleta de dados para a caracterização geográfica, ambiental e energética da bacia do rio do Sono. Utilizou-se para este fim, informações atualizadas obtidas em trabalhos realizados por instituições atuantes na área, como o Caderno da Região Hidrográfica do Tocantins-Araguaia (MMA, 2006); o Plano Estratégico da Bacia do Tocantins-Araguaia (ANA, 2007); e a Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos da Bacia do Rio Tocantins e Formadores (EPE, 2007). A escolha dos empreendimentos para a análise dos impactos e conflitos ambientais teve como base o Relatório dos Estudos Finais de Inventário do Médio Tocantins (THEMAG ENG, 1987), os Estudos de Inventário Hidrelétrico da Bacia do Rio do Sono (CELTINS e UNION ENG., 1997), e o Relatório de Acompanhamento de Estudos e Projetos de Usinas Hidrelétricas (ANEEL, 2007b). A partir da seleção dos aproveitamentos hidrelétricos foi avaliado em cada um desses, indicadores ambientais para o cálculo dos graus de impacto nos ecossistemas aquáticos, terrestres, e no meio sócio-econômico (modo de vida, organização territorial, base econômica, populações tradicionais e assentamentos). Utilizou-se como referência básica para a construção de uma base de dados a metodologia de avaliação dos impactos ambientais do Estudo Integrado de Bacia Hidrográfica (EIBH), conforme adotado nos estudos de Inventário Hidrelétrico da Bacia do – GO (LARROSA & SANTOS, 2006b), realizando adaptações de acordo com as peculiaridades da bacia do rio do Sono - TO. A obtenção dos índices de impacto por componente-síntese adotou mecanismos que evitam a demasiada atribuição subjetiva de valores indicativos do impacto. Partiu-se do seguinte princípio: se valores numéricos estimativos, comparáveis entre si, podem ser atribuídos a um conjunto de variáveis, haverá sempre um modo de expressá-los por meio de uma relação matemática. Assim, os diversos elementos de avaliação foram desdobrados em parâmetros, passíveis de quantificação, conforme sugerido no Manual de Inventário Hidroelétrico de Bacias Hidrográficas. Buscou-se estabelecer uma relação matemática capaz de avaliar a intensidade do impacto esperado do aproveitamento para cada um destes parâmetros, sempre referidos à sub-área correspondente. Desta forma se obteve, para cada parâmetro, um número indicador do grau de impacto (variável entre 0 e 1), decorrente do aproveitamento considerado. Por oportuno, cabe esclarecer que a primeira fase do Projeto 222-2005- UCB/ELETRONORTE: “Critérios para Identificação e Tipificação dos Conflitos em Bacias 115

Hidrográficas de Interesse Energético: Modelo Dinâmico de Inventário Energético” teve como resultado final a dissertação “Identificação e Tipificação das Frentes de Conflitos Ambientais que Incidem Sobre o Potencial Energético das Bacias Hidrográficas: Projeto- Piloto na Bacia do rio do Sono – To”, de autoria de Icléa Queirós de Almeida. Como produto da dissertação foi possível obter um diagnóstico socioambiental da bacia utilizando índices ambientais gerais que serão passiveis de integrarem um modelo dinâmico de inventário hidrelétrico (Queirós, 2007). Esta fase contou com a participação de uma equipe multidisciplinar, na qual foi possível colaborar nas diversas etapas de construção do banco de dados com todas suas informações socioambientais possíveis de serem alcançadas. A memória de cálculo para a determinação dos índices socioambientais, bem como a estruturação das planilhas constam dos relatórios produzidos naquela etapa do Projeto 222/2005 UCB/Eletronorte (RT-03 Caracterização da Bacia do rio do Sono, Médio Tocantins, Pós inventário Hidrelétrico: Evolução da Ocupação, RT-04 Relatório da Visita técnica a Bacia do rio do Sono, RT-05 Método de Avaliação de Impactos Ambientais). O Apêndice A apresenta alguns cálculos utilizados no RT-05 e os cálculos que compõem este estudo, o modelo de inventário hidroelétrico dinâmico. O diagnóstico socioambiental propiciou a identificação e a seleção de variáveis que vem integrar o presente modelo considerando os aspectos socioambientais, de engenharia e de atratividade dos empreendimentos em discussão. Assim sendo foram, preliminarmente selecionadas as variáveis conforme descrito a seguir. • Cota de Inundação- Principal variável obtida dos estudos, relacionada a declividade da bacia e a forma do vale onde deverá ser encaixado o reservatório, e tem também relação direta com a variável seguinte; • Área Inundada – Esta variável está relacionada as três principais dimensões de impacto, ou seja, intensidade, magnitude e duração; • Volume – Embora os estudos de inventário façam referência ao volume total armazenado essa variável está relacionada com o volume disponível para a produção de energia. Trata-se de variáveis que interferem na concepção de cada empreendimento da cascata energética, e portanto, da energia total possível de ser produzida. Os conflitos de território ou de uso consuntivo da água incidem diretamente sobre estas variáveis. A partir disso foi possível elaborar uma planilha com caráter dinâmico ou seja, cujos valores permitem uma simulação da alteração dos indicadores dessas variáveis. Esta planilha foi organizada dentro da plataforma MS Excel conforme a Figura 16, em sintonia com o 116

banco de dados construído por Queirós (2007). Vale salientar que os dados contidos na mencionada planilha são dados oriundos do Inventário Hidrelétrico do Rio do Sono.

Figura 16: Tabelas com a definição da Cota, Área e Volume

Uma vez definido os valores das variáveis cota, área e volume, todo o processo de cálculo dos aspectos ambientais e de custo-benefício estão dinamicamente interligados. A Tabela 20 apresenta os indicadores médios obtidos a partir do diagnóstico socioambiental apresentado por Queirós 2007. A relação entre os índices ambientais versus índices custo- benefício, para os empreendimentos hidrelétricos da bacia do rio do Sono, também pode ser observado na Tabela 20 e na Figura 17. Vale ressaltar que o índice Custo-Benefício (R$/MWh) considera o Custo Total Anual por aproveitamento e sua potência. Sendo que o Custo Total Anual leva em conta o Custo de Operação e Manutenção de cada empreendimento, o Custo Total de construção e o Fator de Recuperação de Capital. 117

Tabela 20: Índice Ambiental versus Índice Custo-Benefício para os empreendimentos Hidrelétricos

Índice Índice Empreendimento Custo-Benefício Ambiental (R$/MWh) AHE RIO SONO 0,4382 76,68 AHE NOVO ACORDO 0,5829 65,54 AHE BREJÃO 0,2889 73,36 AHE CACHOEIRA DA VELHA 0,1035 52,56 AHE JALAPÃO 0,2328 93,16 AHE SONINHO 1/2 0,1028 103,68 AHE ARARA 0,1531 104,56 AHE PERDIDA II 0,3422 128,9

Limites Média Desv. Padrão CUR 160,0 176,00 IA 0,28 0,45

Figura 17: Relação Índice Ambiental versus Índice Custo-Benefício dos empreendimentos Hidrelétricos com dados do inventário. A verificação do equilíbrio ou da viabilidade econômica dos empreendimentos é feita por meio dos elementos que compõem o Índice-Custo-Benefício referenciado ao Custo Unitário de Referência (CUR). Os aproveitamentos considerados viáveis são aqueles onde o valor do ICB se apresenta menor que o CUR. Para esta comparação, o ICB dos aproveitamentos é calculado da seguinte maneira: 118

ICB = CT / (8760xEm) Onde, CT custo total anualizado do aproveitamento; Em energia média do aproveitamento. Para obter o custo total utiliza-se a equação: CT = Frc * (Ci + COM) Onde, Ci custo total de implantação a usina (sem sistema de transmissão associado) e Juros Frc fator de recuperação de capital ao longo da vida útil econômica do aproveitamento Frc = [jx(1+j)z] / [(1+j)z-1] Onde, j taxa de desconto; z vida econômica útil do aproveitamento. COM custo anual de operação e manutenção, em R$/ano.

Os Índices Ambientais, que variam entre 0 (menor impacto) e 1 (maior impacto), considerando os 8 (oito empreendimentos) que compõem a divisão de queda do rio do Sono, permitem a adoção de um critério de distribuição referenciado a uma linha de corte que representa a média dos valores, de tal modo que aqueles empreendimentos situados abaixo da referida linha são considerados como a melhor condição ambiental. Os empreendimentos situados acima da linha de corte representam as situações com impactos mais acentuados o que não significa que sejam absolutamente descartáveis. Significa, no mínimo, uma atuação maior por parte da questão ambiental, e provavelmente um maior esforço no processo de gestão. Pode ser observado ou como indicativo de situações que podem passar por alguma revisão de suas características técnicas. Estes Índices (IA e ICB), quando confrontados possibilitam a determinação dos empreendimentos numa dada hierarquia que conjuga baixos índices de impacto com os menores custos. Assim sendo, o gráfico da Figura 17 representa o resultado do inventário original para as condições da época de sua sonclusão. Para o Índice Custo-Benefício a linha de corte adotada nos estudos de inventário hidrelétrico da bacia do rio do Sono (COMPANHIA DE ENERGIA ELÉTRICA DO ESTADO DO TOCANTINS. UNION ENGENHARIA LTDA, 1997) foi o valor do Custo Unitário de Referência - CUR estabelecido na época em US$ 60,00/MW/h. Para fins de atualização e de comparação adotou-se a taxa de câmbio na data de outubro de 2008, em 1 119

US$ para R$ 2,00, atualizando o Custo Unitário de Referência – CUR no patamar de R$ 120,00/MWH. Para se ter a dimensão espacial do resultado dessa simulação é possível fazer a conexão da planilha MS Excel com os recursos gráficos do ArcGis. O processo de conexão dinâmica entre do MS Excel e o ArcGIS se da por meio do Sistema Gerenciador de Banco de Dados (SGBD) do MS Access, porque o ArcGIS acessa tanto o banco de dados espaciais quanto não-espaciais, como o MS Excel, sendo esta uma planilha de cálculo, se fez necessário vincular a planilha utilizada ao MS Access, para em seguida adicioná-la ao ArcGIS. Dessa forma a planilha passa a ser lida pelo ArcGIS como uma tabela de atributos que pode ser conectada ao registro espacial da informação associada, de modo a ser representada espacialmente (localização, área, perímetro, etc). Como essa ligação é dinâmica, qualquer alteração na planilha do MS Excel automaticamente é repassada ao ArcGIS, que refletirá as os resultados alcançados.

Identificação de cotas restritivas Um dos aspectos observados no projeto de refere à necessidade de identificar as frentes de conflitos entre os dados do diagnóstico socioambiental e os dados espacializados no ArcGis. Com base nos dados do inventário foram geradas as áreas de inundação para cada cota possível cruzando com os registros das áreas restritivas e/ou impeditivas, tais como Unidades de Conservação e Terras Indígenas. Dessa forma é possível verificar, para cada aproveitamento da cascata a cota, a partir da qual não existem restrições. Esse resultado permite substituir, no MS Excel, os valores de área e volume para as cotas sem impedimento, reavaliando-se a atratividade e oportunidades dos aproveitamentos. Para gerar a identificação espacial das restrições antes mencionadas foi desenvolvido uma rotina de análise espacial, tendo em conta os recursos de análise disponíveis no ArcGIS, conforme se verifica na Figura 18. 120

Figura 18: Modelo elaborado no ArcGis por meio do Model Builder Tais recursos são acessados por meio do Model Builder, do ArcGis, que de forma dinâmica identifica quais as situações de intersecção com as áreas restritivas e/ou impeditivas. Após essas etapas, qualquer alteração executada na planilha de cálculo, considerando as variáveis selecionadas, refletirá diretamente no sistema georreferenciado, permitindo uma visualização imediata dos resultados da simulação. 121

8 ANÁLISE DE DADOS E RESULTADOS

Tendo em conta os empreendimentos identificados nos Estudos Finais de Inventário do Médio Tocantins (THEMAG ENG, 1987), Estudos de InventárioHidrelétrico da Bacia do Rio do Sono (CELTINS e UNION ENG., 1997), e também o Relatório de Acompanhamento de Estudos e Projetos de Usinas Hidrelétricas (ANEEL, 2007b) foram previstos os indicadores que compõem o cálculo para obtenção dos respectivos graus de impactos nos ecossistemas - aquático, terrestre e socioeconômico, considerando neste último, as variáveis modo de vida, organização territorial, base econômica, populações tradicionais e assentamentos para as situações onde as restrições tinham sido consideradas. Estes indicadores tal como observados antes, foram obtidos por meio da aplicação da metodologia de avaliação dos impactos ambientais do Estudo Integrado de Bacia Hidrográfica (EIBH), conforme adotado nos estudos de Inventário Hidrelétrico da Bacia do Rio dos Bois – GO (LARROSA & SANTOS, 2006b), realizando adaptações de acordo com as características e peculiaridades da bacia do rio do Sono – TO. A simulação decorrente desta revisão promove uma recomposição nos indicadores ambientais e de custo-benefício, cujos resultados vêem apresentados na Tabela 21 com sua distribuição observada conforme apresentado na Figura 19 Tabela 21: Índice ambiental versus índice custo-benefício dinâmico.

O mesmo resultado pode ser observado em forma gráfica, adotando-se o critério de dispersão de pontos, conforme se verifica na, a seguir. 122

Empreendimentos Hidrelétricos - Bacia do Rio do Sono

0,8000

0,7000

0,6000

0,5000 AHE Rio Sono IA(médio)

IA IA(máximo) 0,4000 AHE Brejão Linha de Corte AHE Perdida II AHE Novo Acordo Linha de Corte + 10% 0,3000 AHE Jalapão

0,2000 AHE Arara AHE Cachoeira da Velha 0,1000 AHE Soninho 1/2

0,0000 0,00 50,00 100,00 150,00 200,00 250,00 300,00 ICB (R$/MWh)

Figura 19: Gráfico da relação índice Ambiental versus índice Custo-Benefício para os empreendimentos identificados no inventário hidrelétrico, com base nos dados da análise do diagnóstico socioambiental pós- inventário. Ao se buscar reduzir as iterferências sobre os interesses de uso da água e/ou de território na bacia, dois aspectos podem ser destacados: O primeiro se refere ao índice médio ambiental que sobe, em relação ao inventário original, preservando-se como viáveis, do ponto de vista ambiental, apenas os potenciais representados pelos empreendimentos de Cachoeira da Velha (223 MW), Soninho ½ (84 MW) e Arara (23 MW). O segundo aspecto é que ao se buscar a condição a partir da qual os conflitos são teóricamente resolvidos os empreendimentos passam para outro nível em termos de atratividade , por conta da redução nas respectivas potencias, podendo vir a se tornar inviáveis para os atuais critérios de atratividade econômica. Para efeito de comparação, na relação apresentada acima, alguns aspectos do estudo de inventário devem ser levados em consideração, conforme a seguir: • A data de referência utilizada para determinação dos custos dos aproveitamentos foi de outubro de 2008, tendo em conta a necessidade de atualização. • A taxa de câmbio para a data de referência de outubro de 2008 era de US$ 1 para R$ 2,00. • O fator de recuperação de capital ao longo da vida útil econômica do aproveitamento adotado se refere a taxa de desconto durante a construção, a vida útil do aproveitamento aplicada sobre o custo de implantação e o custo anual de operação e manutenção do 123

empreendimento que, conforme recomendado pela ELETROBRÁS, é de aproximadamente 12% ao ano. • Para a determinação do Índice Custo-Benefício a linha de corte adotada nos estudos de inventário hidrelétrico da bacia do rio do Sono (COMPANHIA DE ENERGIA ELÉTRICA DO ESTADO DO TOCANTINS. UNION ENGENHARIA LTDA, 1997) ou Custo Unitário de Referência – CUR, foi estabelecido naquela data em US$ 60,00/MW/h. Na atualização o presente estudo adotou o valor recomendado Plano Decenal do Setor Elétrico, definido em R$138,00/MWh em outubro/2006, que atualizado para junho/2008, pelo IGPM-FGV, resulta em R$160,55/MWh, com tolerância de aproximadamente 10%. A partir da identificação dos conflitos de território e do uso consultivo da água, que incidem sobre parte do potencial hidroenergético inventariado da bacia, é possível afirmar que do potencial hidrelétrico inventariado em 1997 de 654 MW, permanecem disponíveis, sem restrições ambientais, cerca de 179,43 MW, que corresponde aos 99,50 MW do AHE Novo Acordo (cota 220), 23,71 MW do AHE Arara (cota 275) e 56,22 MW do AHE Perdida (cota 205). Vale destacar que a simulação empreendida é decorrente de uma análise onde os aspectos considerados não passaram por um processo de discussão e de esclarecimentos com a maior parte dos atores envolvidos. A sociedade, de maneira geral, deve ser consultada e ao mesmo tempo informada de que a solução de conflitos de interesse normalmente onera os empreendimentos podendo torná-los não atrativos e portanto a melhora nos níveis de qualidade de vida e o acesso aos benefícios da modernidade exigem mudanças na sua relação com os recursos da natureza.. 124

9 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

No desenvolvimento das discussões da presente pesquisa buscou-se aprofundar o conhecimento necessário à construção de um Inventário Hidrelétrico Dinâmico, utilizando-se de uma simplificação da realidade que permitisse a atualização e a compreensão de um banco de dados capaz de integrar os elementos técnicos e as questões sócio ambientais gerais de um inventário hidrelétrico, estruturado de forma a permitir simulações sobre a disponibilidade energética de uma bacia na medida da evolução dos usos dos diversos recursos de seu território. Para o caso presente foi necessário um esforço específico na conversão das informações contidas nos documentos consultados para as tabelas do banco de dados, uma vez que os estudos de inventário do rio do Sono (CELTINS e UNION ENG., 1997) foram elaborados ainda sob a orientação de diretrizes do Setor Elétrico anteriores à 1997. No caso de estudos produzidos sob a orientação do novo Manual de Inventário Hidroelétrico de Bacias Hidrográficas (ELETROBRÁS, 2007) esse esforço não será necessário, uma vez que essas tabelas podem ser preenchidas de forma concomitante ao desenvolvimento dos estudos. Cabe ressaltar que nesse processo sempre se tem uma fase inicial, onde o trabalho de avaliação é realizado considerando todo o esforço de coleta de dados e informações socioeconômicas e ambientais, além de toda a infra-estrutura relativa às regiões em estudo. Após esse tratamento é que pode advir uma segunda fase, onde os parâmetros socioambientais passam a ser vislumbrados de forma dinâmica, a partir da atualização das informações do banco de dados, com a correspondente visualização dos resultados facilitada pela associação das tabelas com ferramentas contidas em programas computacionais de geoprocessamento. Como conseqüência natural, além do melhor conhecimento da situação ambiental da bacia se torna facilmente alcançável a simulação de possíveis cenários que a implantação ou não do conjunto de empreendimentos inventariados pode promover. É possível também rever a hierarquização dos aproveitamentos tendo como parâmetro principal a sua maior ou menor condição ambiental e socioeconômica, em função do panorama político econômico atual. Dessa forma atingiu-se o proposto ao fornecer informações a fim de construir um modelo dinâmico capaz de avaliar impactos socioambientais negativos e positivos dos aproveitamentos; fornecer informações para a caracterização dos principais aspectos 125

socioambientais da bacia (as áreas mais sensíveis, potencialidades, principais usos dos recursos hídricos e do solo, aspectos socioeconômicos) e permitir uma visão abrangente dos impactos socioambientais mais relevantes associados aos aproveitamentos, destacando-se os efeitos cumulativos e sinérgicos dos aproveitamentos, de forma a atender aos requisitos da comparação das alternativas e aos objetivos da Avaliação Ambiental Integrada proposto pelo Manual de Inventário Hidroelétrico de Bacias Hidrográficas (BRASIL, 2007g). Há que se considerar ainda que este estudo oferece base técnica para futuros estudos que envolvam estudos de inventário hidroelétrico e impactos ambientais. Há que se considerar que uma dificuldade encontrada neste trabalho se deve a carência de dados socioambientais contidos no inventário do rio do Sono e aos levantamentos cartográficos realizados para os estudos. Portanto, sugere-se a revisão dos trabalhos cartográficos a fim de se obter uma maior precisão nos trabalhos que venham a ser propostos para a bacia e uma a necessidade de complementação do inventário hidrelétrico da bacia do rio do Sono, que não abrange aproveitamentos menores do que 50 MW. É possível que exista potencial hidrelétrico ainda não inventariado e com a possibilidade de implantação de pequenas e micro centrais hidrelétricas ocorra um aumento na disponibilidade de energia elétrica para a região, incentivando investimentos, gerando recursos para os municípios e possibilitando a melhoria na qualidade de vidas das pessoas. 126

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APÊNDICE A - MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS

METODOLOGIA EIBH

ECOSSISTEMAS AQUÁTICOS

 Ambiente Fluvial: • Hierarquia Fluvial (HF) – para a classificação hierárquica considerou-se a ordem das drenagens segundo Strahler, utilizando imagem de satélite georreferenciada. Em seguida, o grau de impacto (GIH) foi obtido por meio da relação direta entre a ordem da drenagem na área afetada pelo barramento e a maior ordem de drenagem ocorrente na bacia, de acordo com a expressão a seguir: HF GIH  aprov. HFmax .

Calculado o grau de impacto para cada empreendimento, obteve-se o índice equalizado (GIHeq), dividindo-se o grau de impacto de cada aproveitamento hidrelétrico pelo maior grau de impacto da bacia: GIH GIHeq  aprov. GIH max .

• Praias Marginais (PM) - para obtenção do número de praias e a área destas em hectares utilizou-se imagem de satélite do programa Google Earth Pro (ano 2000). Sendo que, foram contados o número de praias na área inundada de cada empreendimento, e medidas as suas respectivas áreas. Porém, nas AHEs Novo Acordo e Soninho 1/2, não foi possível medir as áreas das praias, uma vez que a resolução da imagem não estava adequada. Para o cálculo do grau de impacto (GIPM) determinou-se a relação entre a área das praias comprometidas por cada aproveitamento e o somatório da área das praias existentes na bacia. Conforme a fórmula a seguir:

Ai GIPM  At 134

Obteve-se o índice equalizado (GIPMeq), dividindo-se o grau de impacto de cada empreendimento pelo maior grau de impacto da bacia:

GIPM GIPMeq  aprov. GIPM max.

• Ambientes de Alta Energia (AE) – o número de corredeiras no barramento foi obtido por meio de imagem satélite do programa Google Earth Pro (ano 2000). Para tanto, foram contados o número de corredeiras na área inundada de cada empreendimento. O grau de impacto (GIAE) foi calculado a partir da divisão do número de corredeiras (NC) de cada empreendimento pelo somatório deste, conforme a expressão a seguir: NCi GIAE  NCt

O índice equalizado (GIAEeq) foi obtido dividindo-se o grau de impacto de cada empreendimento pelo maior grau de impacto da bacia:

GIAE GIAEeq  aprov. GIAEmax.

 Rotas Migratórias • Rios - foram consideradas as drenagens principais de cada empreendimento, que constam no inventário hidrelétrico da bacia do rio do Sono (COMPANHIA DE ENERGIA ELÉTRICA DO ESTADO DO TOCANTINS. UNION ENGENHARIA LTDA, 1997). • Distância do barramento até a foz do rio (km) – esta distância consta no inventário hidrelétrico da bacia do rio do Sono (COMPANHIA DE ENERGIA ELÉTRICA DO ESTADO DO TOCANTINS. UNION ENGENHARIA LTDA, 1997), e foi conferida por meio de imagem de satélite, considerando para as AHEs Rio Sono, Novo Acordo e Brejão, a foz do rio do Sono; para as 135

AHEs Cachoeira da Velha e Jalapão, a foz do rio Novo; para as AHEs Soninho ½ e Arara, a foz do rio Soninho; e para a AHE Perdida II, a foz do rio Perdida. • Distância do barramento a cabeceira (km) – foi obtida por meio de imagem de satélite, tendo como referência a nascente do maior afluente do rio do Sono, o rio Novo, para os empreendimentos AHEs Rio Sono, Novo Acordo, Brejão, Cachoeira da Velha e Jalapão; para as AHEs Soninho ½ e Arara foi considerada a nascente do rio Soninho; e para a AHE Perdida II considerou-se a nascente do rio Perdida. • Extensão entre a foz do rio e a cabeceira do rio barrado (km) - para o cálculo dessa extensão foi realizado o somatório da distância do barramento à foz e a distância do barramento à cabeceira para cada empreendimento. • Extensão entre o barramento e a cabeceira do rio barrado (km) – esta extensão é considerada igual a distância do barramento à cabeceira, e servirá para o cálculo do grau de impacto. • NA montante ou cota da nascente (m) - estas foram obtidas utilizando-se o software Global Mapper 8.0. • NA jusante ou cota da foz (m) – estas foram obtidas utilizando-se o software Global Mapper 8.0. • Gradiente do rio (G) – este foi calculado utilizando a cota da nascente (hn) subtraindo da cota da foz (hf), e dividindo pela maior distância (L) do barramento até a foz da bacia, no caso a AHE Brejão, que corresponde a extensão do rio, conforme a fórmula descrita a seguir:

h  h  G  n f L

Para os aproveitamentos presentes no rio do Sono foi considerada a cota da nascente do rio Novo, sendo este o maior afluente da bacia. • Grau de impacto (GIR) – para obtê-lo dividiu-se a extensão entre o barramento e a cabeceira do rio barrado (Lc) pela extensão entre a foz do rio e a cabeceira do rio barrado (Lt), e multiplicou-se o resultado pelo gradiente do rio (G), em cada empreendimento, de acordo com expressão a seguir: 136

 L  GIR  G   c   Lt 

• Índice equalizado (GIReq) – considerou-se o grau de impacto de cada aproveitamento dividindo-o pelo maior grau de impacto da bacia:

GIR GI Re q  aprov. GIRmax .

 Qualidade da água • Área inundada (ha) – obteve-se por meio do inventário hidrelétrico da bacia do rio do Sono (COMPANHIA DE ENERGIA ELÉTRICA DO ESTADO DO TOCANTINS. UNION ENGENHARIA LTDA, 1997). • Volume (106 m3) – foi obtido por meio do inventário hidrelétrico da bacia do rio do Sono (COMPANHIA DE ENERGIA ELÉTRICA DO ESTADO DO TOCANTINS. UNION ENGENHARIA LTDA, 1997). • Vazão (MLT, m3/s) - foi obtido por meio do inventário hidrelétrico da bacia do rio do Sono (COMPANHIA DE ENERGIA ELÉTRICA DO ESTADO DO TOCANTINS. UNION ENGENHARIA LTDA, 1997). • Bacia de contribuição (km2) – considerou-se a área da bacia de drenagem que consta no inventário hidrelétrico da bacia do rio do Sono (COMPANHIA DE ENERGIA ELÉTRICA DO ESTADO DO TOCANTINS. UNION ENGENHARIA LTDA, 1997). • Tempo de residência (TR, anos) – calculado através da relação entre o volume da massa de água represada e a vazão MLT (Q), de acordo com fórmula a seguir: Vol 106 TR  Q 3600 24365

• Relação de espelho d’água (REA) – para o cálculo considerou-se a área inundada (AI) em m2 pelo volume de água armazenada m3, de cada aproveitamento, conforme a seguinte expressão: 137

AI REA  Vol 100

• Aporte de nutrientes (AN) – obtido pela relação entre a área da bacia de contribuição (BC) do aproveitamento e a área total da bacia de contribuição da última barragem a jusante, no caso AHE Rio Sono, segundo a expressão a seguir: BC AN  BCmax

• Grau de impacto (GIQA) – considerou-se que o tempo de residência (TR), a relação de espelho d’água (REA) e o aporte de nutrientes (AN) são parâmetros igualmente importantes para indicar o potencial de eutrofização de um dado aproveitamento, sendo todos diretamente proporcionais a intensidade do fenômeno. Portanto, o grau de impacto para a qualidade da água foi obtido pela média desses três parâmetros, conforme a fórmula a seguir:

TR  REA  AN GIQA  3

• Índice equalizado (GIQAeq) - obteve-se o índice equalizado, dividindo-se o grau de impacto de cada empreendimento pelo maior grau de impacto da bacia, conforme a expressão a seguir: GIQA GIQAeq  aprov. GIQAmax.

 Padrões de energia – este indicador foi acrescentado pelo presente projeto, uma vez que não consta na metodologia do EIBH do rio dos Bois. • Potência instalada – esta foi obtida no inventário hidrelétrico da bacia do rio do Sono (COMPANHIA DE ENERGIA ELÉTRICA DO ESTADO DO TOCANTINS. UNION ENGENHARIA LTDA, 1997). 138

• Queda líquida – foi considerado o dado do inventário hidrelétrico da bacia do rio do Sono (COMPANHIA DE ENERGIA ELÉTRICA DO ESTADO DO TOCANTINS. UNION ENGENHARIA LTDA, 1997). • Vazão (MLT) e área inundada – são os mesmos valores utilizados na tabela de qualidade da água. • Possíveis conflitos – analisou-se utilizando ferramentas de geoprocessamento e o banco de dados da Agência Nacional de Água - ANA e das Centrais Elétricas do Norte do Brasil - ELETRONORTE.

 Vegetação marginal • Área alagada (ha) – considerou-se a área inundada utilizada na tabela de qualidade da água. • Perda de vegetação (ha) – foi calculada a área de cobertura vegetal correspondente a matas de galeria e ciliares por meio da utilização do software Arc View, e do software ENVI para a classificação da imagem nestes tipos de cobertura, na área inundada de cada empreendimento. • Grau de impacto (GIV) – este foi calculado por meio da relação entre a perda de vegetação (PV) e a área total da vegetação na bacia (AVt), obtida por meio do software Arc View, conforme a expressão a seguir: PV GIV  AVt

• Índice equalizado (GIVeq) – obteve-se o índice equalizado, dividindo-se o grau de impacto de cada empreendimento pelo maior grau de impacto da bacia:

GIV GIVeq  aprov. GIVmax.

 Cálculo do indicador de impacto do Ecossistema Aquático • Índice – para obter este cálculo foram considerados os fatores de ponderação segundo a metodologia do EIBH do rio dos Bois-GO, efetuando-se a média ponderada dos graus de impacto para cada indicador ambiental: 139

- Hierarquia fluvial: peso 0,05; - Ambientes estratégicos: peso 0,10; - Ambientes de alta energia: peso 0,10; - Rotas migratórias: peso 0,10; - Qualidade da água: peso 0,15; - Vegetação marginal: peso 0,50.

ECOSSISTEMAS TERRESTRES

 Área alagada (ha) - considerou-se a área inundada utilizada na tabela de qualidade da água.

 Vegetação marginal • Perda de vegetação - foi obtida a área de cobertura vegetal correspondente a matas de galeria e ciliares por meio da utilização do software Arc View, e do software ENVI para a classificação da imagem nestes tipos de cobertura, na área inundada de cada empreendimento. • Grau de impacto (GIV) - este foi calculado por meio da relação entre a perda de vegetação (PV) e a área total da vegetação (AVt) ocorrente na bacia, obtida no software Arc View, de acordo com a expressão a seguir: PV GIV  AVt

• Índice equalizado (GIVeq) – calculou-se o índice equalizado, dividindo-se o grau de impacto de cada empreendimento pelo maior grau de impacto da bacia:

GIV GIVeq  aprov. GIVmax. 140

 Fauna afetada • Grau de impacto (GIFA) - obteve-se o resultado do grau de impacto a partir da relação entre a vegetação perdida no aproveitamento e total da cobertura vegetal existente na bacia, conforme a expressão:

PV GIFA  PVt

• Índice equalizado (GIFAeq) - obteve-se o índice equalizado, dividindo-se o grau de impacto de cada empreendimento pelo maior grau de impacto da bacia:

GIFA GIFAeq  aprov. GIFAmax .

 Cálculo do indicador de impacto do Ecossistema Terrestre • Índice – este índice foi obtido pela média entre os dois indicadores ambientais (vegetação marginal, e fauna afetada), considerados de igual relevância.

MODO DE VIDA

 Cidade base – foi observada, por meio de imagem de satélite, a cidade mais próxima ao local de cada empreendimento hidrelétrico.

 População urbana da cidade base – obtida em Muninet (2007).

 População rural nos municípios atingidos - obtida em Muninet (2007).

 Alterações nas condições de vida • Área produtiva perdida (ha) – corresponde à área agrícola alagada, conforme consta na Avaliação Ambiental Integrada dos Aproveitamentos Hidrelétricos Bacia do Rio Tocantins (BRASIL, 2007h). Sendo que, a UHE Jalapão e as PCHs Soninho ½ e Arara não são vislumbradas pela Avaliação Ambiental 141

Integrada da Empresa de Pesquisa Energética, para estas os valores foram considerados zero “0”. • Quebra no padrão de consumo: - N° de casas afetadas – estimativa feita por meio da contagem das casas a serem alagadas, na imagem de satélite do programa Google Earth Pro (ano 2000). - População atingida – estimou-se, por meio de imagem de satélite do programa Google Earth Pro (ano 2000) o número de casas afetadas em cada estabelecimento rural atingido e admitiu-se que para cada casa haveria seis pessoas. Desse modo, efetuou-se a multiplicação do número de casas afetadas pelo número de pessoas para se obter a população atingida. - Grau de impacto (GIQP) – este foi calculado por meio da relação entre a população atingida e a população rural nos municípios atingidos, por meio da seguinte expressão: PA GIQP  PR

- Índice equalizado (GIQPeq) – obteve-se o índice equalizado, dividindo-se o grau de impacto de cada empreendimento pelo maior grau de impacto da bacia, conforme a fórmula a seguir:

GIQP GIQPeq  aprov. GIQPmax .

• Modificação do índice de qualidade de vida (IQV): - Incremento populacional – os valores foram obtidos no inventário hidrelétrico da bacia do rio do Sono (COMPANHIA DE ENERGIA ELÉTRICA DO ESTADO DO TOCANTINS. UNION ENGENHARIA LTDA, 1997), sendo que para os aproveitamentos Soninho ½ e Perdida II os valores foram estimados, de acordo com a potência instalada. 142

- Grau de impacto (GIQV) – foi determinado pela relação entre o incremento populacional (IP) e a população urbana (PU) da cidade base, por meio da seguinte fórmula: IP GIQV  PU

- Índice equalizado (GIQVeq) – calculou-se o índice equalizado, dividindo-se o grau de impacto de cada empreendimento pelo maior grau de impacto da bacia: GIQV GIQVeq  aprov. GIQVmax.

• Grau de impacto (GIAC) – calculou-se a média entre o grau de impacto da quebra no padrão de consumo e o grau de impacto da modificação do índice de qualidade de vida, de acordo com a expressão a seguir:

GIQP  GIQV GIAC  2

• Índice equalizado (GIACeq) – obteve-se o índice equalizado, dividindo-se o grau de impacto de cada empreendimento pelo maior grau de impacto da bacia: GIAC GIACeq  aprov. GIACmax.

 Alteração no sistema de produção • Número de fazendas afetadas – estimou-se, por meio de imagem de satélite do programa Google Earth Pro (ano 2000), o número de estabelecimentos rurais atingidos. • Grau de impacto (GIAS) – calculou-se pela relação entre o número de fazendas afetadas por cada empreendimento e o número total de fazendas existentes na bacia, por meio da seguinte expressão: 143

NF GIAS  NFt

• Índice equalizado (GIASeq) – calculou-se o índice equalizado, dividindo-se o grau de impacto de cada empreendimento pelo maior grau de impacto da bacia:

GIAS GIASeq  aprov. GIAS max .

 Grau de impacto (GIES) – foi obtido pela média entre o grau de impacto das alterações nas condições de vida e o grau de impacto nos sistema de produção, por meio da seguinte fórmula: GIAC  GIAS GIES  2

 Índice equalizado (GIESeq) – foi obtido pela média entre o índice equalizado das alterações nas condições de vida e o índice equalizado nos sistema de produção:

GIACeq  GIASeq GIESeq  2

Cálculo do indicador de impacto do Modo de Vida

• Índice – para obter este cálculo foram considerados os fatores de ponderação segundo a metodologia do EIBH do rio dos Bois/GO, efetuando-se a média ponderada dos graus de impacto para cada indicador ambiental: - Estratégias de sobrevivência: peso 0,8; - Socialidade historicamente constituída: peso 0,2. 144

ORGANIZAÇÃO TERRITORIAL

 Padrões de assentamento • Núcleos atingidos - Número de núcleos urbanos atingidos (NA) – dados obtidos no inventário hidrelétrico da bacia do rio do Sono (COMPANHIA DE ENERGIA ELÉTRICA DO ESTADO DO TOCANTINS. UNION ENGENHARIA LTDA, 1997), com exceção dos aproveitamentos Soninho ½ e Perdida II, que foram obtidos por meio de imagem de satélite do programa Google Earth Pro (ano 2000). - Grau de impacto (GINA) – mediu-se o grau de impacto pela relação entre o número de núcleos impactados por um dado aproveitamento e o total de núcleos a serem impactados na bacia. Como havia possibilidade de o somatório ser igual a zero, e isso geraria uma inconsistência matemática (0/0), utilizou-se como denominador o somatório mais um. A equação é descrita a seguir: NA GINA  NAt 1

- Índice equalizado (GINAeq) - obteve-se o índice equalizado, dividindo-se o grau de impacto de cada empreendimento pelo maior grau de impacto da bacia. Como havia possibilidade de o somatório ser igual a zero, e isso geraria uma inconsistência matemática (0/0), utilizou-se como denominador o somatório mais um, de acordo com a expressão a seguir: GINA GINAeq  aprov. GINAmax.

• População remanejada - N° de casas – estimativa feita por meio da contagem das casas a serem alagadas utilizando imagem de satélite do programa Google Earth Pro (ano 2000). 145

- População diretamente afetada (PA) – foi calculada considerando-se que cada casa alagada possui em média 6 habitantes, fazendo, portanto, a multiplicação entre esses dados. - Grau de impacto (GIPR) – obteve-se da relação entre a população diretamente afetada de cada aproveitamento pelo somatório desta população na bacia, descrita pela seguinte fórmula:

PA GIPR  PAt - Índice equalizado (GIPReq) - calculou-se o índice equalizado, dividindo-se o grau de impacto de cada empreendimento pelo maior grau de impacto da bacia:

GIPR GIPReq  aprov. GIPRmax.

• Vila residencial - Potência instalada prevista – dados obtidos no inventário hidrelétrico da bacia do rio do Sono (COMPANHIA DE ENERGIA ELÉTRICA DO ESTADO DO TOCANTINS. UNION ENGENHARIA LTDA, 1997). - Vila da obra (nº de pessoas) – corresponde ao incremento populacional utilizado na planilha “Modos de Vida”. Esses valores foram obtidos no inventário hidrelétrico da bacia do rio do Sono (COMPANHIA DE ENERGIA ELÉTRICA DO ESTADO DO TOCANTINS. UNION ENGENHARIA LTDA, 1997), sendo que para os aproveitamentos Soninho ½ e Perdida II os valores foram estimados, de acordo com a potência instalada. - Cidade base – referente à cidade base utilizada na planilha “Modos de Vida”.  População urbana da cidade base – corresponde a população urbana da cidade base da planilha “Modos de Vida” (MUNINET, 2007). 146

- Grau de impacto (GIVR) - foi determinado pela relação entre a vila da obra (VO) e a população urbana (PU) da cidade base, descrita pela seguinte expressão: VO GIVR  PU

- Índice equalizado (GIVReq) - calculou-se o índice equalizado dividindo-se o grau de impacto de cada empreendimento pelo maior grau de impacto da bacia: GIVR GIV Re q  aprov. GIVRmax .

• Grau de impacto (GIPA) – calculou-se fazendo a média entre os graus de impacto dos núcleos atingidos, da população remanejada e vila residencial, conforme a fórmula abaixo:

GINA  GIPR  GIVR GIPA  3

• Índice equalizado (GIPAeq) – da mesma forma, para este foi feita a média entre os índices equalizados dos núcleos atingidos, da população remanejada e vila residencial, de acordo com a expressão a seguir:

GINAeq  GIP Req  GIV Req GIPAeq  3

 Fluxos de circulação e comunicação • Equipamentos de produção, serviços e consumos - Agrícolas – corresponde ao número de fazendas afetadas da planilha “Modos de Vida”, que foi estimado, por meio de imagem de satélite. - Industriais (inclusive mineração) – na bacia do rio do Sono não há indústrias, nem atividades de mineração significativas. 147

- Grau de impacto (GIEP) – calculou-se pelo somatório do produto entre o número de fazendas afetadas (agrícolas) e o fator de reversibilidade com o número de indústrias (inclusive mineração) e o fator de reversibilidade para cada aproveitamento. O resultado obtido foi dividido pelo somatório do produto entre o total do número de fazendas afetadas da bacia e o fator de reversibilidade, com o total do número de indústrias (inclusive mineração) e o fator de reversibilidade, conforme a expressão a seguir:

EP  FR  EP  FR  ... EP  FR GIEP  1 1 2 2 n n FR1  EP1  FR2  EP2  ... FRn  EPn

- Índice equalizado (GIEPeq) - obteve-se da relação entre o grau de impacto de cada empreendimento pelo maior grau de impacto da bacia, de acordo com a fórmula abaixo: GIEP GIEPeq  aprov. GIEPmax.

• Fatores de reversibilidade - Fator de reversibilidade 1 - aplicado aos impactos facilmente reversíveis através de soluções técnicas simples e a custos compatíveis. (Exemplo: melhoria de acessos alternativos a estradas de fazenda e vicinais interrompidas, ou construção de novas casas, quando a atualmente habitada for atingida); - Fator de reversibilidade 2 - aplicado a impactos cuja reversibilidade é simples, porém depende de soluções técnicas um pouco mais elaboradas e com custos compatíveis, embora eventualmente mais altos. (Exemplo: desvio de estradas municipais de tráfego permanente); - Fator de reversibilidade 3 - aplicado aos casos onde a solução para o impacto é possível, porém com complexidade e custos expressivos. (Exemplo: relocação de eixos viários estaduais ou de equipamentos de produção e/ou armazenamento mais sofisticados); 148

- Fator de reversibilidade 4 - aplicados aos casos em que a reversão do impacto é impossível ou pode inferir na viabilidade da obra em vista das conseqüências sócio-econômicas e/ou custo. (Exemplo: alongamento definitivo de pontes e trechos de estradas federais asfaltadas e de equipamentos de produção). • Infra-estrutura viária atingida (km) - Estradas de fazenda – dado obtido por meio de imagem de satélite do programa Google Earth Pro (ano 2000). - Tráfego permanente – dado obtido por meio de imagem de satélite do programa Google Earth Pro (ano 2000). - Grau de impacto (GIIV) - este foi calculado pelo somatório do produto entre estradas de fazendas afetadas e o fator de reversibilidade para cada aproveitamento, com o produto de tráfego permanente e o fator de reversibilidade. Este resultado foi dividido pelo somatório do produto entre o total de estradas de fazendas afetadas da bacia e o fator de reversibilidade, com o produto do total de tráfego permanente da bacia e o fator de reversibilidade, conforme a equação descrita abaixo:

E  FR  E  FR  ... E  FR GIIV  1 1 2 2 n n FR1  E1  FR2  E2  ... FRn  En

- Índice equalizado (GIIVeq) – calculou-se da relação entre o grau de impacto de cada empreendimento pelo maior grau de impacto da bacia, descrita pela expressão abaixo: GIIVR GIIVeq  aprov. GIIVRmax. • População atingida - População diretamente afetada – foi anteriormente calculado, na mesma planilha, quando se tratou de “população remanejada”. - Grau de impacto (GIPR) – este foi calculado da mesma forma que o da “população remanejada”, conforme mostrado a seguir: 149

PA GIPR  PAt

- Índice equalizado (GIPReq) - obteve-se da relação entre o grau de impacto de cada empreendimento pelo maior grau de impacto da bacia:

GIPR GIP Re q  aprov. GIPRmax.

• Grau de impacto (GIFC) - calculou-se fazendo a média entre os graus de impacto dos equipamentos de produção, serviços e consumos; infra-estrutura viária atingida e população atingida, descrita pela equação a seguir:

GIEP  GIIV  GIPR GIFC  3

• Índice equalizado (GIFCeq) - da mesma forma, para este foi feita a média entre os índices equalizados dos equipamentos de produção, serviços e consumos; infra-estrutura viária atingida e população atingida, de acordo com a fórmula a seguir:

GIEPeq  GIIVeq  GIPReq GIFCeq  3

 Cálculo do indicador de impacto da Organização territorial • Índice – este índice foi obtido pela média entre os três indicadores ambientais (fluxo de circulação e comunicação, padrões de assentamento e mobilidade, e comprometimento político-administrativo), considerados de igual relevância. 150

Indicadores Econômicos

Esta planilha foi feita com o objetivo de subsidiar informações para a construção do componente síntese “Base Econômica”. Portanto, nesta são apresentados os seguintes dados e cálculos:

 Municípios atingidos – foram identificados os municípios que serão atingidos pelos empreendimentos previstos, de acordo com inventario hidrelétrico da bacia do rio do Sono (COMPANHIA DE ENERGIA ELÉTRICA DO ESTADO DO TOCANTINS. UNION ENGENHARIA LTDA, 1997).  Área inundada por município (ha) - consiste na área que será atingida nos municípios de cada empreendimento, que foi obtida por meio do software Arc View.  Área inundada do empreendimento (ha) – esta área foi obtida na planilha “Ecossistemas aquático”, que foi retirada do inventário hidrelétrico da bacia do rio do Sono (COMPANHIA DE ENERGIA ELÉTRICA DO ESTADO DO TOCANTINS. UNION ENGENHARIA LTDA, 1997).  Área do município (ha) – disponível no site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE - . Acesso em: 15 ago. 2007.  Valor da produção agropecuária (R$ x 106) – este valor encontra-se no site do IBGE, no Banco de Dados – cidades. Foi considerado o valor adicionado na agropecuária, que consta no Produto Interno Bruto - PIB de 2004. Disponível em: . Acesso em: 22 ago. 2007.  População rural dos municípios atingidos – disponível em Muninet (2007).  Porcentagem do município no interior da bacia – este dado foi obtido por meio do software Arc View, considerando cada município que será atingido pelos empreendimentos. Posteriormente, foi feito um cálculo para se obter a porcentagem atingida dos municípios na bacia, por meio do somatório dos produtos entre as porcentagens dos municípios no interior da bacia (dados acima) e as áreas inundadas de cada município divido pela área inundada do empreendimento.  Valor médio da produção agropecuária nos municípios (R$ x 106) – este foi calculado por meio do somatório dos produtos entre o valor da produção agropecuária e as áreas inundadas de cada município dividido pela área inundada do empreendimento. 151

Em seguida, calculou-se a porcentagem do valor médio da produção agropecuária atingida nos municípios (valor da produção municipal) efetuando- se a o produto do valor médio da produção agropecuária nos municípios e a porcentagem atingida dos municípios na bacia.  Valor da produção no interior da bacia (R$ x 106) – calculou-se a porcentagem por meio do produto entre o valor da produção agropecuária e a porcentagem do município no interior da bacia.  Produtividade (R$/ha) – foi obtido pela relação entre o valor da produção agropecuária e a área do município (ha).  Produção por hectare – obteve-se por meio do somatório dos produtos entre a produtividade (R$/ha) de cada município e as áreas inundadas de cada município, divido pela área inundada do empreendimento.  Produtividade per capita (população rural – R$/ano) – calculou-se o produto entre a “produção por hectare” e a “área do município”, dividido pela “população rural dos municípios atingidos”.  Número de empregos por 100 hectares – obteve-se pela relação entre a “população economicamente ativa (PEA)” e a “área do município (km2)”.

BASE ECONÔMICA

 Comprometimento das atividades econômicas • Estabelecimentos atingidos - Agrícolas - corresponde ao número de fazendas afetadas da planilha “Modos de Vida”, que foi estimado, por meio de imagem de satélite. - Industriais (inclusive mineração) – na bacia do rio do Sono não há industrias, nem atividades de mineração significativas. - Armazéns – os aproveitamentos previstos na bacia do rio do Sono não atingirão diretamente os núcleos urbanos, portanto os armazéns não serão afetados significativamente. - Comerciais – os aproveitamentos previstos não atingirão diretamente os núcleos urbanos, portanto o comércio não será atingido significativamente. - Grau de impacto (GIEA) – consiste no somatório dos estabelecimentos agrícolas (EA), industriais (EI) e comerciais (EC) atingidos relacionando-se 152

este número com o total dos estabelecimentos agrícolas atingidos na bacia, conforme a expressão a seguir:

EA  EI  EC GIEA  EAt

- Índice equalizado (GIEAeq)- obteve-se da relação entre o grau de impacto de cada empreendimento pelo maior grau de impacto da bacia:

GIEA GIEAeq  aprov. GIEAmax .

• Produção agropecuária afetada - Produção por hectare (R$/ano) – corresponde a “produção por hectare”, presente na tabela “Indicadores Econômicos”. - Área produtiva alagada (ha) – corresponde a “área produtiva perdida” da planilha “Modos de Vida”. - Valor da produção municipal (R$ x 106) - corresponde a “porcentagem do valor médio da produção agropecuária atingida nos municípios”, presente na coluna “valor médio da produção agropecuária nos municípios (R$ x 106)” da planilha “Indicadores Econômicos”. - Grau de impacto (GIPA) – obteve-se pelo produto entre produção por hectare (PH) e a área produtiva alagada (AP), dividido pelo valor da produção municipal (PM), conforme a expressão a seguir:

PH  AP GIPA  PM

- Índice equalizado (GIPAeq)- calculou-se da relação entre o grau de impacto de cada empreendimento pelo maior grau de impacto da bacia, descrita abaixo: 153

GIPA GIPAeq  aprov. GIPAmax.

• Renda Suprimida - Área produtiva alagada – corresponde a área produtiva alagada da planilha “Base Econômica”. - Valor da produção perdida (VPP) – obteve-se pelo produto entre a “produção por hectare” e a “área produtiva alagada”, descrita pela seguinte expressão: VPP  PH  AP - Grau de impacto (GIRS) - consiste na relação entre o valor da “produção perdida” em cada aproveitamento pelo total desta produção na bacia, conforme a expressão a seguir: VPP GIRS  VPPt

- Índice equalizado (GIRSeq) - obteve-se da relação entre o grau de impacto de cada empreendimento pelo maior grau de impacto da bacia, de acordo com a seguinte fórmula: GIRS GIRSeq  aprov. GIRSmax.

• Número de empregos suprimidos - População diretamente afetada – este dado consta como “população diretamente afetada” na planilha “Organização Territorial”. - Grau de impacto (GIES) – calculou-se a relação entre a “população diretamente afetada” (PA) e a “população rural nos municípios atingidos” (PR), esta presente na planilha “Modos de Vida”, conforme a expressão descrita a seguir: PA GIES  PR 154

- Índice equalizado (GIESeq) - obteve-se da relação entre o grau de impacto de cada empreendimento pelo maior grau de impacto da bacia, de acordo com a expressão abaixo:

GIES GIESeq  aprov. GIESmax.

• Grau de impacto (GIAE) – calculou-se pela média entre os graus de impacto para os estabelecimentos atingidos, produção agropecuária afetada, renda suprimida e número de empregos suprimidos, conforme a expressão descrita a seguir:

GIEA  GIPA  GIRS  GIES GIAE  4

• Índice equalizado (GIAEeq) – foi obtido por meio da média entre os índices equalizados dos estabelecimentos atingidos, produção agropecuária afetada, renda suprimida e número de empregos suprimidos, de acordo com a seguinte fórmula:

GIEAeq  GIPAeq  GIRSeq  GIESeq GIAEeq  4

 Potencialidades atingidas • Recursos minerais - Alvarás (NA) – na bacia do rio do Sono não há atividades de mineração significativas. - Requerimentos (NR) – na bacia do rio do Sono não há atividades de mineração significativas. 155

- Grau de impacto (GIRM) – calculou-se por meio do somatório entre o número de “alvarás” e o número de “requerimentos”, dividido pelo total do somatório entre os alvarás e requerimentos, de acordo com a seguinte fórmula:

NA  NR GIRM  NAt  NRt

- Índice equalizado (GIRMeq) – calculou-se da relação entre o grau de impacto de cada empreendimento pelo maior grau de impacto da bacia, conforme a expressão a seguir: GIRM GIRMeq  aprov. GIRM max.

• Potencial turístico - Cavernas (nº) – na bacia do rio do Sono não há cavernas que serão atingidas pelos aproveitamentos. - Cachoeiras e corredeiras – este dado consta na planilha “Ecossistemas Aquáticos”, como “número de corredeiras no barramento”. - Beleza cênica – este dado foi obtido por meio de imagem de satélite do programa Google Earth Pro (ano 2000). - Grau de impacto (GIPT) – calculou-se por meio do somatório entre o número de “cavernas” (NC), “cachoeiras e corredeiras” (NCC) e “beleza cênica” (NB), dividido pelo total do somatório entre estes, conforme descrito pela seguinte expressão:

NC  NCC  NB GIPT  NCt  NCCt  NBt

- Índice equalizado (GIPTeq) – obteve-se da relação entre o grau de impacto de cada empreendimento pelo maior grau de impacto da bacia, de acordo com a seguinte fórmula: GIPT GIPTeq  aprov. GIPTmax. 156

• Recursos hídricos atingidos – refere-se aos diferentes usos da água que podem ser comprometidos após a instalação dos aproveitamentos hidrelétricos.

• Grau de impacto (GIPA) – obteve-se por meio da média entre os graus de impacto para os recursos minerais, potencial turístico, fazendo parte desta média, os recursos hídricos atingidos, conforme a seguinte expressão:

GIRM  GIPT  RH GIPA  3

• Índice equalizado (GIPAeq) – calculou-se por meio da média entre os índices equalizados dos recursos minerais, potencial turístico, fazendo parte desta média, os recursos hídricos atingidos, de acordo com a expressão descrita a seguir:

GIRMeq  GIPTeq  RH GIPAeq  3

 Arrecadação municipal • Comprometimento das finanças municipais - Produção nos municípios afetados (R$/ano) – refere-se ao “valor da produção municipal” da planilha “Base Econômica”. - Valor da produção afetada (R$/ano) – calculou-se pelo produto entre “produção por hectare” e “área produtiva alagada”, presentes na planilha “Base Econômica”, conforme a expressão a seguir:

VPA  PH  APA

- Grau de impacto (GIAM) – obteve-se pela relação entre o “valor da produção afetada” (VPA) e a “produção nos municípios afetados” (PMA), de acordo com a expressão descrita a seguir:

VPA GIAM  PMA 157

- Índice equalizado (GIAMeq) - obteve-se da relação entre o grau de impacto de cada empreendimento pelo maior grau de impacto da bacia, de acordo com a seguinte fórmula:

GIAM GIAMeq  aprov. GIAM max.

 Cálculo do indicador de impacto da Base Econômica • Índice – este índice foi obtido pela media ponderada entre os três indicadores ambientais (comprometimento de atividades econômicas, expressão dos recursos potenciais atingidos, e comprometimento da arrecadação municipal): - Comprometimento de Atividades Econômicas: peso 0,60; - Expressão dos Recursos Potenciais Atingidos: peso 0,10; - Comprometimento da Arrecadação Municipal: peso 0,30.

Indicadores Populações Tradicionais e Assentamentos

Esta planilha foi feita com o objetivo de subsidiar informações para a construção do componente síntese “Populações Tradicionais e Assentamentos”. Portanto, nesta são apresentados os seguintes dados:

 População Indígena  Proximidade do Empreendimento – observou-se a proximidade de terras indígenas com os possíveis empreendimentos hidrelétricos na bacia do rio do Sono.  Terra Indígena – a partir dos bancos de dados georreferenciados da Agência Nacional de Águas - ANA e das Centrais Elétricas do Norte do Brasil - ELETRONORTE foi possível a espacialização da área de estudo e a visualização da terra indígena Xerente na bacia do rio do Sono.  Município – este dado foi obtido pelo mesmo método descrito para a terra indígena. 158

 Área Total (ha) – obteve-se o cálculo da área total a partir da ferramenta de geoprocessamento ArcGis.  Área (ha) no município pertencente a bacia do rio do Sono – obteve-se o cálculo da área atingida a partir da ferramenta de geoprocessamento ArcGis.  População – obteve-se esta informação a partir dos bancos de dados georreferenciados da Agência Nacional de Águas - ANA e das Centrais Elétricas do Norte - ELETRONORTE.  Área Atingida (ha) – obteve-se o cálculo da área atingida a partir da ferramenta de geoprocessamento ArcGis.

 Populações Quilombolas  Proximidade do Empreendimento – observou-se a proximidade de comunidades quilombolas com os possíveis empreendimentos hidrelétricos na bacia do rio do Sono.  Comunidade – a partir de pesquisas bibliográficas foi possível localizar as comunidades presentes nos municípios da bacia em estudo.  Município – este dado foi obtido pelo mesmo método descrito para comunidade.  Área Total (ha) – foi possível a partir de contatos realizados por telefone com a comunidade local.  Área Atingida (ha) – obteve-se o cálculo da área atingida a partir da ferramenta de geoprocessamento ArcGis.

 Assentamentos INCRA  Proximidade do Empreendimento – observou-se a proximidade de assentamentos do INCRA com os possíveis empreendimentos hidrelétricos na bacia do rio do Sono.  Assentamento – a partir dos bancos de dados georreferenciados da Agência Nacional de Águas - ANA e das Centrais Elétricas do Norte - ELETRONORTE foi possível a espacialização da área de estudo e a visualização dos assentamentos do INCRA na bacia do rio do Sono.  Município – este dado foi obtido pelo mesmo método descrito para assentamento. 159

 Área Total (ha) – obteve-se o cálculo da área total a partir da ferramenta de geoprocessamento ArcGis.  Área (ha) no município pertencente a bacia do rio do Sono – obteve-se o cálculo da área atingida a partir da ferramenta de geoprocessamento ArcGis.  Capacidade de assentamento (nº de famílias) – obteve-se esta informação a partir dos bancos de dados georreferenciados da Agência Nacional de Águas - ANA e das Centrais Elétricas do Norte do Brasil - ELETRONORTE.  Famílias assentadas – este dado foi obtido pelo mesmo método descrito para a capacidade de assentamentos (nº de famílias).  Área Atingida (ha) – obteve-se o cálculo da área atingida a partir da ferramenta de geoprocessamento ArcGis.

POPULAÇÕES TRADICIONAIS E ASSENTAMENTOS

Esta planilha apresenta dados para “Populações indígenas”, “Populações quilombolas” e “Assentamentos do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA”, sendo que no EIBH não consta a metodologia para esse componente-síntese. Como foi constatado na área de estudo a presença de populações tradicionais e assentamento houve necessidade de aplicar um indicador de impacto para este componente-síntese, a metodologia utilizada é descrita a seguir:

 População Índigena • Terra indígena – a partir dos bancos de dados georreferenciados da Agência Nacional de Águas - ANA e das Centrais Elétricas do Norte do Brasil - ELETRONORTE foi possível a espacialização da área de estudo e a visualização da terra indígena Xerente na bacia do rio do Sono. • Município – este dado foi obtido pelo mesmo método descrito para a terra indígena. • Área Total (ha) – obteve-se o cálculo da área total a partir da ferramenta de geoprocessamento ArcGis. • Área Atingida (ha) – obteve-se o cálculo da área atingida a partir da ferramenta de geoprocessamento ArcGis. 160

• Grau de impacto (GIPI) – este foi calculado por meio da relação entre a área atingida e a área total, conforme a expressão a seguir:

AA GIPI  AT

• Índice equalizado (GIPIeq) – obteve-se o índice equalizado, dividindo-se o grau de impacto de cada empreendimento pelo maior grau de impacto da bacia, este calculo foi feito de acordo com a seguinte fórmula: GIPI GIPIeq  aprov. GIPI max.

 Populações Quilombolas – não foi constatado nenhuma comunidade Quilombola que seria afetada pelos reservatórios dos empreendimentos.

 Assentamentos INCRA • Assentamento – a partir dos bancos de dados georreferenciados da Agência Nacional de Águas - ANA e das Centrais Elétricas do Norte do Brasil - ELETRONORTE foi possível a espacialização da área de estudo e a visualização dos assentamentos do INCRA na bacia do rio do Sono. • Município – este dado foi obtido pelo mesmo método descrito para assentamento. • Área Total (ha) – obteve-se o cálculo da área total a partir da ferramenta de geoprocessamento ArcGis. • Área Atingida (ha) – obteve-se o cálculo da área atingida a partir da ferramenta de geoprocessamento ArcGis. • Grau de impacto (GIPQ) – este foi calculado por meio da relação entre a área atingida e a área total, conforme a expressão a seguir: AA GIPQ  AT

• Índice equalizado (GIPQeq) – obteve-se o índice equalizado, dividindo-se o grau de impacto de cada empreendimento pelo maior grau de impacto da bacia, de acordo com a seguinte fórmula: 161

GIPQ GIPQeq  aprov. GIPQmax.

 Cálculo do indicador de impacto das Populações Tradicionais e Assentamentos • Índice – para se obter este índice foi feita a média entre os três indicadores ambientais (população indígena, populações tradicionais e assentamentos do INCRA). • Índice – para obter este cálculo efetuou-se a média ponderada dos graus de impacto para cada indicador ambiental: - População indígena: peso 0,45; - Populações quilombolas: peso 0,45; - Assentamentos do INCRA: peso 0,10.

RESULTADOS

 Grau de impacto – analítico – apresenta os “graus de impacto” obtidos para cada componente-síntese (ecossistema aquático, ecossistemas terrestres, modos de vida, organização territorial e base econômica), bem como o índice ambiental obtido a partir destes. • Ecossistema aquático – este apresenta os graus de impacto para “hierarquia fluvial”, “ambientes estratégicos”, “rotas migratórias”, “perda de ambientes de alta energia”, “qualidade da água”, “perda de vegetação marginal”, e o índice obtido por meio da media ponderada, no qual os pesos para cada um desses dados foi mostrado anteriormente. • Ecossistemas terrestres - este mostra os graus de impacto obtidos para “perda de vegetação marginal”, “perda de outras fisionomias de vegetação”, “relevância da fauna afetada”, e o índice calculado por meio da media simples. • Modos de vida – os graus de impacto foram calculados para “estratégias de sobrevivência”, “socialidade historicamente constituída”, e o índice obtido por meio da media ponderada, no qual os pesos para cada um desses dados foi mostrado anteriormente. • Organização territorial – os graus de impacto foram obtidos para “fluxos de circulação e comunicação”, “padrões de assentamento e mobilidade”, 162

“comprometimento político-administrativo”, e o índice calculado por meio da media simples. • Base econômica – os graus de impacto foram calculados para “comprometimento de atividades econômicas”, “expressão dos recursos potenciais atingidos”, “comprometimento da arrecadação municipal”, e o índice calculado por meio da media simples. • Populações tradicionais e assentamentos – os graus de impacto foram obtidos para “população indígena”, “populações quilombolas” e “assentamentos do INCRA”, no qual os pesos para cada um desses dados foi apresentado acima.

 Grau de impacto – sintético – consiste em uma compilação dos índices ambientais obtidos anteriormente na tabela “Grau de impacto - analítico” para cada componente-síntese (ecossistema aquático, ecossistemas terrestres, modos de vida, organização territorial, base econômica e populações tradicionais e assentamentos).

 Índice equalizado – analítico – apresenta os “índices equalizados” obtidos para cada componente-síntese (ecossistema aquático, ecossistemas terrestres, modos de vida, organização territorial, base econômica e populações tradicionais e assentamentos), bem como o índice ambiental obtido a partir destes. Os cálculos para o índice foram feitos da mesma forma da tabela “Grau de impacto – analítico”.

 Índice equalizado – sintético – consiste em uma compilação dos índices ambientais obtidos anteriormente na tabela “Índice equalizado - analítico” para cada componente-síntese (ecossistema aquático, ecossistemas terrestres, modos de vida, organização territorial, base econômica e populações tradicionais e assentamentos), gerando o índice médio da bacia do rio do Sono. 163

METODOLOGIA MANUAL DE INVENTÁRIO HIDROELÉTRICO

CURVA COTA ÁREA VOLUME

 Curva Cota Área Volume: • Curva Cora Área Volume Para a caracterização dos reservatórios estudados foram determinadas as curvas cota x área e cota x volume. Os valores para a curva cota x área foram determinados por meio de medição das áreas entre curvas de nível consecutivas. Estes dados foram obtidos dos dados do inventário hidroelétrico da bacia do rio do Sono.

ICB PÓS INVENTÁRIO

 ICB Pós Inventário: • Custo Total do Inventário (CTI) – a fim de se obter uma informação com a máxima precisão para o custo de cada empreendimento considerou-se o valor de cada empreendimento proporcionado pelo Inventário Hidrelétrico do Rio do Sono. • Custo Total do Inventário + Inflação + Dólar (CTIi$): calculou-se pelo produto entre “CTI” e “Inflação no período (50%)” e “ Dólar (1 US$ = 2 Reais)”, conforme a expressão a seguir: CTIi$  CTI (empreen dim ento) Inflação  dolar

• Custo Total/KW: a partir do CTIi$ dividiu-se pela potencia de cada empreendimento. • Custo Anual de Operação e Manutenção (COM): É o valor, em R$/KW/ano, requerido para operação e manutenção. Conforme apresentando no cálculo a seguir: COM  a  P b Onde: P: Potência instalada da usina hidroelétrica, em MW a: 87,343 b: 0,3716 164

• Custo Anual por Aproveitamento(CTA): Custo do empreendimento, em R$, determinado neste caso, nos Estudos de Inventário, incluindo juros durante a construção. CT  FRC (COM CTi$) Onde: FRC: Fator de recuperação de capital, ao longo da vida econômica útil do aproveitamento, segundo a taxa de desconto adotada, definido pelo seguinte valor 0,1204.

• Índice Custo Benefício (ICB): O benefício energético de cada aproveitamento de uma alternativa é medido pelo acréscimo na energia firme do sistema de referência proporcionada pela adição do aproveitamento. É calculado pela seguinte expressão: CT ICB  J  Energia(MWmedios) Onde: J: 8760