Lester Bangs

Diretor da Faculdade de Letras Prof. Jacyntho José Lins Brandão

Vice-Diretor Prof. Wander Emediato de Souza

Comissão Editorial Eliana Lourenço de Lima Reis

Psychotic Elisa Amorim Vieira Reactions & Carburetor Dung Lucia Castello Branco

Maria Cândida Trindade Costa de Seabra

Sônia Queiroz

Capa e projeto gráfico Mangá – Ilustração e Design Gráfico

Tradução Mário Vinícius Ribeiro Gonçalves Tradução e notas por Mário Vinícius Ribeiro Gonçalves Revisão da tradução Mário Vinícius Ribeiro Gonçalves

Revisão e normalização Mário Vinícius Ribeiro Gonçalves

Formatação Mário Vinícius Ribeiro Gonçalves

Revisão de provas Mário Vinícius Ribeiro Gonçalves Belo Horizonte Aline Sobreira FALE/UFMG 2008 Endereço para correspondência: FALE/UFMG – Setor de Publicações

Av. Antônio Carlos, 6627 – sala 2015A

31270-901. Belo Horizonte – MG

telefax: (31) 3409-6007

e-mail: [email protected] Sumário

Apresentação: Bang, Bangs, forasteiro . 5 Bernardo Menezes

Psychotic Reactions & Carburetor Dung: um conto de nossos dias . 6 Lester Bangs

Sobre o autor . 17 Mário Vinícius Ribeiro Gonçalves Apresentação: Psychotic Reactions Bang, Bangs, forasteiro & Carburetor Dung: um conto de nossos dias Bernardo Menezes Lester Bangs Ah, os Yardbirds, não é mesmo deles que estamos falando? Não, não é deles. Os gênios já estão na boca dos sem criatividade. , tanto anos se passaram que hoje eles comem poeira, ou Vinde a mim, meus netinhos loiros, e deixai este velhusco vos embalar em seu colo. Enquanto vocês seriam bytes?, nos armazéns onde juntamos os álbuns que marcaram a década deles e, por algum ainda me reconhecem, seus maniacozinhos. Sabeis que o gongo tocou, está na hora de novo. Agora motivo, não sobreviveram à nossa. deixai que eu ponha meu velho cérebro a ruminar, ah, que edificante conto de antanho devo vos relatar “Psychotic Reactions & Carburetor Dung” é sobre um doidão falando coisas de doidão. O TNT hoje? que está nas guitarras da banda devia, sim, se materializar e explodir em nossas caras. A resenha, “Que falatório todo é esse em torno dos Yardbirds?” em si, oferece uma fogueira para que os manuais de jornalismo sejam queimados. Lester Bangs Ah, os Yardbirds. Sim-siririm, aqueles sim eram os dias. 1965, e eu era um gozadorzinho escreve sobre uma carreira que não existiu de uma banda que acabou por causa dos estudos. É impetuoso, enrabichado pela primeira vez, ela costumava me puxar pela mão e, fanhosa, dizer “eu ficção? É o caminho escolhido pelo autor para que entendamos a curta saga do Count Five. Onde foi gostaria, mas não quero virar uma vadia.” As garotas eram realmente assim naqueles – que vocês, resenhistas, aprenderam a mentir em um artigo? É, vocês não aprenderam. “Ah, corta a baboseira senil e anda logo com a porra da arqueologia ou vamos nos des- Ler rock. Entender ravin´ it up, fuzztone. Desperdício de tempo pensar que o texto é para embalar de seu joelho e partir pra alguma ação! Velhote!” iniciados. A música é a única que deve sair fortalecida daqui. Já você, tem que ir correndo à loja de Okay, crianças, okay, agüentem aí, não há motivo pra se excitar… então, como eu estava discos do centro e procurar o som ou a sensibilidade perdida. “Psychotic” é sobre isso. Há beleza no dizendo, estávamos no glorioso 1965, e eu estava faminto por sons que pudessem distorcer meu tosco, há comida no lixo. O bom gosto, o politicamente correto, gente!, ninguém mais se cansou cérebro um pouquinho. Vejam bem, não tinha muita coisa acontecendo exceto talvez “I Am Henry disso tudo? Somos mais um na sala de jantar, somos os vermezinhos dos netos deste avô gagá. O VIII, I Am”1 – não, não vou sacar essa agora, eu sei que soa bem, mas acreditem… estávamos imaginário coletivo está materializado nas palavras de Jon Landau, quando, na verdade, deveríamos emperrados numa daquelas recessões musicais que tínhamos de vez em quando, antes de ser inimigos do rock careta e eleger, a deus dará, o álbum do ano. Soa-me bastante tedioso o ato começarmos a vender pacotes de tours Intra-Solares… Me lembro de outra triste e forte lomba que de se fazer resenhas como quem realiza política, com base em negociações e acordos possíveis. se esticou por volta do começo dos anos setenta… exceto que esta durou tanto tempo que quase Para que tanta gente falando de música quando a opinião é sempre a mesma? nos exaurimos e começamos por inteiro a boicotar discos até que Barky Dildo e os Bozo Huns Ao traduzir Lester, Mário compartilha um texto que extrapola ao seu objeto, o Count Five. Essa apareceram para salvar nossas almas… é mais uma banda obscura que deve ser ouvida. São punks antes de toda aquela chapação em Nova “Ahhh, cara, como você pôde gostar desses sujeitos? Essa coisa foi a moda mais reacionária, Iorque ter começado. Também, sempre será uma atitude cool defender esta banda dos fãs de borra-botas da história! Quero dizer, qual é a grande coisa de se matraquear violinos e berrar as Yardbirds – lá estou eu divagando novamente. Retomamos. “… que extrapola ao seu objeto, o Count tripas afora? Improvisar é legal, mas esses tipos chegavam a se recorrer ao tempo 4/4 e a Five”. “Psychotic”, como as coisas que realmente importam na vida, deixou meu gosto – o bom, o mudanças de tom! Agora eu te pergunto, Vô, que tipo de merda é essa?” ruim e o prazer culposo – ferido. Meu diploma de jornalista, hora dessas, bóia ao lado dos Tá bom, tá bom, sei que não devia ter divagado de novo! De agora em diante vou me colar carburetor dungs de toda uma cidade que come mcdonalds. Precisamos deste tipo de autor para aos fatos mesmo, e se vocês moleques me interromperem mais uma vez vou passar cola bem na lembrar que, em geral, agimos como mercadores gananciosos correndo atrás do modelo, trocando o boca de um de vocês! risco por recompensas vulgares. “Em qual?” “Ei, Lester, você quer acabar com a minha vida?” Talvez você leia e jogue fora este texto. Escolha aleatória, Ó sementes da minha semente, aleatória como tudo o mais na vossa porra Pense que estou louco ou levei a sério apenas a parte das drogas na baderna gonzo. Esta é a vida. de manicômio de mundo de onde devo – grato – me retirar em breve. Ao despedir de Elvis em uma resenha de agosto de 77, Bangs se despede de você e de mim ao “Tá legal, vá em frente e machuque suas juntas para depois embebedá-las em cerveja quente, constatar que o solipsismo iria devorar o mundo e que nunca mais nós concordaríamos, tão mas não diga que não lhe avisamos. Você tem que saber que é o único velhaco por aqui de quem unânimes, em torno de uma figura. Bingo, Nostradamus. “Psychotic” é parte deste testamento de Skewey, Ruey e Blooie agüentam qualquer merda… e que porra é essa de se retirar? Quem está um cara que estava imerso até o talo no rock. E, com delicadeza, prezava pela vida de quem o lia grato por estar morto? sem glamurizar estilos de vida decadentes e evitando oferecer “a salvação de…” a cada nova Bem, para falar a verdade, por um tempo houve um tanto de manés que estavam exatamente resenha. Bangs foi um clarividente da música por ter se fundido a ela. Suas palavras e reações isso. Mas essa é uma outra história. Tenho que acabar essa saga Yardbird ou vamos divagar direto psicóticas nos apresentam bons discos enquanto nos lembram que estamos vivos. para o ozônio. Então escutem e escutem bem, e guardem as perguntas para o fim. “Bem, ele era tão agressivamente medíocre que eu simultaneamente mal podia resisti-lo e Os Yardbirds, eu dizia, eram incríveis. Eles vieram rebentando e simplesmente jogaram todo sentia certo receio por saber o quão de fato tosco isso seria”, não seria isso punk? mundo totalmente para fora dos trilhos. Porra, eles eram tão bons que, de fato, ainda tinha gente os imitando uma década mais tarde, e ficando rico com isso, devo acrescentar, porque a banda original de gênios não durou tanto. É claro, nenhuma das suas crias era metade tão boa, ficando, com o passar do tempo, cada vez mais pretensiosas e pomposas até que por volta de 1973 um bando de almofadinhas desnutridos chamados Led Zeppelin tocou seu último show, quando um doidão de estricnina irado na platéia assassinou o guitarrista solo com uma pistoleta, bem aos cinqüenta e oito minutos do seu solo virtuoso de duas horas e meia sobre um acorde só. Depois pegaram o vocalista,

1 ‘Eu sou Henrique VIII, eu sou’, literalmente. Sucesso de 1965 da banda inglesa Herman’s Hermits – a mesma música, a propósito, já havia estourado duas vezes em  Bernardo Menezes é músico e jornalista. 1957, tanto com os Diamonds quanto com os Rays. (N.T.). 5 6 que de qualquer forma estava tão chapado de datura que não podia mais fazer muito senão tossir mesmo não ficaram juntos por muitas luas, e quando emplacaram “I’m a Man” já tinham começado letras do tipo “Glip glip gug jargaruna psstcu”, e cortaram todo o seu cabelo e esmagaram sua gaita, a ser atacados7 (um dia desses ainda lhes conto sobre Paul Revere and the Raiders, hah, vocês nem deram-lhe umas roupinhas ordinárias (um conjunto desproporcional de Jeans-de-Força Perpétuos, acreditariam…) por bandinhas noviças de todos os lugares, que imediatamente gravaram versões se não me engano) e o enxotaram para fora da cidade num trem. A última coisa que ouvimos foi duvidosas de “I’m a Man” pra encher lingüiça nos seus álbuns de estréia, bandas como os Royal que ele estava tentando cantar “Whole Lotta Love” para um bando de velhos chincheiros Guardsmen, que chegaram ao primeiro lugar duas vezes com um numerozinho sobre um tal sentimentais em um clube numa cidadezinha qualquer. Bebum pra danar. cachorro chamado Snoopy abatendo velhos alemães em aviões antigos, juro por Deus, e então Mas os Yardbirds, bem, mesmo tendo virado tudo de ponta-cabeça, só duraram alguns anos. E começaram a surgir bandas punk que compunham suas próprias músicas pegando o som dos que imitadores eles tinham! Eu curtia só de olhar para aqueles discos! Tipo quando eles fizeram “I’m Yardbirds e o reduzindo a uma tosca barulheira distorcida…8 ah, era lindo, era puro folclore, Velha a Man” e entraram nas Dez Mais com uma mistura de (ahh, ele era esse velhaco gordo América, e às vezes acho que esses foram os melhores dias de todos. que criou esse famoso tipo de batida arrasta-pé… Acho que já era passé antes de vocês nascerem. Não, não só acho, eu sei que foram, tenho sentido isso desde 1970, quando tudo começou a Sim, fato, quando eles descartaram de vez a idéia de uma batida linear acho que vocês ainda eram azedar na forma de um bando de menestréis andarilhos e bardos baladeiros e outras merdas do tipo muito novos para se lembrarem da grande guerra civil-cultural que isso causou, Jagger de tocaia que já eram obsoletas mesmo na época. Cara, eu acordava de manhã em ‘65 e ‘66 e simplesmente nas ruas, circunspecto, e Beefheart indo para os morros de Costa Rica para se esconder até as amava ligar o rádio, tinha tanto jive saindo dos alto-faltantes. Tipo essa canção chamada “Hey Joe”, coisas esfriarem…) e feedback, todo mundo teve um ataque daqueles, porque toda essa que literalmente todo mundo e a porra de seu irmão não só gravava como reivindicava tê-la escrito eletrodistorção que os punha pra dormir quando vocês estavam fumando um em seus berços era mesmo sendo óbvio que era uma mutação psicodélica de uma canção folk anciã que era sobre matar até então desconhecida, um verdadeiro terremoto de fuder a mente. Algumas pessoas acharam isso alguém por amor igualzinho a nove décimos do resto das baladas folk anciãs. E uma banda chamada tudo vagamente indecente, como se um nervo nu dentro de um fio cintilasse loucamente em suas The Leaves teve um hit com “Hey Joe” que matou a pau9 (mais uma expressão que vocês têm que direções, mas nós, caras atentos ao que tava quente, apoiamos a mudança cultural desde o início. acrescentar aos seus pequenos calões) e então desapareceu depois de dois álbuns esquisitos, Estávamos só esperando que alguém viesse e quebrasse o pau,2 sim senhor… ah, essa frase? Sim, é apesar de que eles emplacaram, sim, uma outra boa, “Doctor Stone”, uma verdadeiramente mais uma. É, tem um toque cortante bem legal, não tem? Vocês vão rir de novo, mas tínhamos opressiva e ambígua canção sobre drogas. Durante um ano toda porra de disco era um poço cheio muita gíria zangada quando eu era garoto – riffs afiados como “Isso aí!”3 e “Paz, irmão!”…4 nada a de palavras-código para se estar chapado, porque as pessoas estavam só começando a fazer isso de ver com essa merda telegráfica simplória que vocês, moleques banais de hoje em dia, tomam por forma tão intensa e era uma curtição tão furtiva, mas o governo idiota só descobriu os códigos, FBI comunicação. Bem, eu me lembro de quando estava no colegial (ah, eu lhes disse – isso era tipo e CIA e tudo mais, depois de uns quatro ou cinco anos, quando eles chegaram com um pomposo onde eles te punham quando não sabiam o que fazer de você – quando você estava grande demais dossiê: um cara que parecia um cruzamento entre um esquilo e a Águia Americana e que tinha uma para o casulinho e muito jovem para ter que assumir ser o que chamávamos de Homem, o que voz de matar se mandou para um resort geriátrico no deserto, para onde as pessoas foram pela envolvia ir todo dia no mesmo horário para um prédio esquisito e fazer qualquer merda tediosa curtição de se jogar o dinheiro fora, ele se mandou pra lá e apareceu com uma pesada completamente inútil por horas a fio só porque assim você conseguia pão e o respeito das pessoas) oração intencionada a deixar o país por dentro do segredo de que drogas e música estavam – quando eu estava no colegial a gente tinha um jargão bem espertinho. Por exemplo, se alguém relacionadas, quando todo mundo já o sabia, e a coisa toda foi tão hilária porque todas as músicas fizesse algo idiota, a gente dizia “O que você tem, merda no lugar de cérebro?” E uma outra boa era que ele usou como exemplos eram velhas pra danar e todo mundo já estava nessa altura tão quando você estava puto com alguém, aí você o chamava de “Seu saco podre de merda!” Ou a chapado que não era mais necessário serenar as pessoas quanto a ficar doidão. gente, um bando de arruaceiros como vocês, dirigia até uma loja de bebidas para comprar umas Mas pra mim e muitas outras pessoas, esse ponto em que ninguém mais se importava porque cocas e batatas fritas e o cara no banco de passageiro, em ponto de bala – mais tarde, mais tarde5 todos já tinham se convertido para o novo padrão foi precisamente quando as coisas começaram a – grunhia “Manda ver!”, o que significava o ato de comer, é claro. Alguns anos mais tarde umas descer ladeira abaixo. Ao invés de cantar sobre tomar chá com Mary Jane e brincar com sua coisinha almas imaginativas começaram a chamar comida de “larica”6, mas por sorte esse termo babaca não com a Doce Annie Xaninha10 as coisas se tornaram Ajude-me Deus eu não sei o sentido da vida ou durou muito. eu acredito que o amor vai curar o mundo tanto da psoríase quanto do câncer e vou dizer tudo isso E anos ainda antes disso a gente tinha um encantamento muito misterioso: “Eu não faço lixo às pessoas de 285 formas diferentes quer vocês gostem ou não. E Por Que há guerra bem vá como você, eu queimo!” Era dizer isso e as pessoas ficavam confusas. Ou os jovens ficavam, pelo perguntar às crianças, elas sabem tudo que precisamos saber, e Meu Deus eu realmente gosto de menos. Me esqueci o que isso significava – acho que era tipo um koan Zen, então quando você tinha negros mesmo que minha própria família não goste e mais outras grandes inundações de vinil um desentendimento com alguém era só mandar isso na direção da pessoa que a análise dela contendo baboseiras nessas linhas. Nessa hora eu resolvi me retirar e recorrer ao meu bom e velho poderia ou trazer a paz ou terminar nos punhos. rock pateta de ’66. Eu desempacotei discos como 96 Tears do Question Mark and the Mysterians, Mas estou divagando de novo. Merda, vocês moleques estão certos, estou virando um bode que eram mesmo misteriosos, e me re-extasiei com bobeirinhas exóticas como “Wooly Bully”, que é velho de olhar pensabundo. Com merda no lugar do cérebro. Assim que terminarmos aqui com essa indescritível e foi gravada por um bando de caras que dirigiam por aí num carro fúnebre vestindo seção anedótica vou entrar nos Morfônios e sedar o meu cérebro febril por uma ou duas horas. turbantes. Tenho um encontro com Delilah Kooch hoje à noite e tenho que me refrescar se quiser estar Também foi nessa época que eu me voltei de verdade para as imitações juniores-bacanas dos metendo quando o galo cantar – com Organoil ou sem Organoil… noventa é uma idade de Yardbirds. Tinha tipo Back Door Men, dos Shadows of Knight, que eram muito bons em traçar os moderação. Mas como estava contando antes de me adentrar pela trilha nebulosa, os Yardbirds riffs dos Yardbirds e os retrabalhar, e Psychotic Reaction,11 do Count Five, que na verdade nem

7 ‘Raided’ no original – trocadilho com a banda citada a seguir, Paul Revere and the Raiders (‘Paul Revere e os Patrulheiros’), grupo de rock americano de sucesso na época e 2 ‘Kick out the jams’ no original. (N.T.). de gosto – deliciosamente, ainda hoje – duvidoso. Liderada pelo tecladista Paul Revere (o mesmo nome do herói histórico-folclórico americano), a banda de fato vestiu a camisa de “patrulheiros” da América contra a British Invasion. (N.T.). 3 ‘Right on!’ no original. (N.T.). 8 ‘Fuzztone’ no original. (N.T.). 4 ‘Peace, brother!’ no original. (N.T.). 9 ‘Had a killer hit’ no original. (N.T.). 5 O autor usa a gíria ‘riding shotgun’, que significa ‘estar no banco de passageiro’ ou, literalmente, algo como ‘guiar a espingarda’. Pela empolgação do autor, é possível que estivesse se referindo à famosa série de TV americana Gunsmoke (transmitida de 1952 a 1961), faroeste que popularizou a expressão. (N.T). 10 ‘Sweet Slit Annie’ no original. (N.T.). 6 ‘Munchies’ no original. (N.T.). 11 ‘Reação psicótica’, literalmente. (N.T.). 7 8 eram tão fodas nisso mas que surrupiavam todos esses lugares-comuns com uma pegada tão suja Eu tentei e tentei comprar o LP Psychotic Reaction – eu ia ao Unimart17 chapado de erva, noz- que eu realmente os curtia mais! Eles eram um bando de jovens molequinhos que esbofeteavam moscada, vodca, Romilar18 ou com o olho vidrado depois de dez horas sob Dexedrine19 trabalhando guitarras vindos de um indistinguível subúrbio californiano, e poucos meses depois de “I’m a Man” em problemas de Geometria (eu era um verdadeiro academicozinho – quando eu tinha o deixar as paradas lá eles entraram com essa inepta imitação chamada “Psychotic Reaction”. E foi um medicamento mágico que te catapulta para uma maníaca, obsessiva ânsia por conhecimento), eu hit tão grande, na verdade acho que foi um hit ainda maior que “I’m a Man”, o que me deixou puto tentei todas artimanhas para enfraquecer minha resistência, mas nada funcionou. Merda, eu tinha na época mas pensando hoje em dia foi muito legal, sim, perfeitamente apropriado. A música era uma porra de dupla personalidade! E tudo por causa de uma merda de álbum do Count Five! Talvez defeituosamente berrante, completamente fátua. Começava com um riff de guitarra emaranhado eu estivesse mais perto do pinel do que eu jamais tinha imaginado! Por outro lado, o que mais que eles roubaram de um hit do Johnny Rivers que no momento me escapa – foi aquele logo antes poderia fazer com que eu ou qualquer outro vagabundo do meu círculo de amizades ficássemos de “Secret Agent Man” – e então entrava um dos vocais mais idiotas de todos os tempos. Era tipo, esquizóides senão um álbum de rock ‘n’ roll fajuto? Garotas? Nãaao, isso é direto, simples, não deixa eu ver, um palavreado do tipo: “I feel depressed, I feel so bad/ Cause you’re the best girl that I’ve racionalizado. Drogas? Claro, mas seriam elas sobre mim, “Você vai pagar por mexer com a gente, ever had/ I can’t get yer love, I can’t get affection/ Aouw, little girl’s psychotic reaction…/ An' it feels like garoto!”, não a minha ruína interna de agonia dualística. Não, não, nada mais nem menos do que this!”12 e então eles explodiam numa surrupiada total de “I’m a Man”. Era dinamite absoluto. Eu odiei no um disco, um álbum de rock ‘n’ roll de significância próxima à de Psychotic Reaction (quem é que primeiro momento mas então um dia eu estava dirigindo na estrada chapado e a música tocou e eu poderia ganir em surto por causa de uma bolacha dos Stones, quanto mais dos Beatles?) sempre sacudi a cabeça: “Que merda eu estou pensando? Esta música é demais!” conseguia pulverizar meus lóbulos e transformar o chão que piso em vermute. Eu sabia, pois já A capa do álbum (Double Shot DSM 1001) também matava a pau – a foto foi tirada do fundo havia tido um breve porém parecidíssimo encanto desorientador pelo álbum do Question Mark and de uma cova, em volta da qual estavam de pé os membros da banda, olhando para você lá embaixo the Mysterians! Estava na casa de um amigo, eu chapado de Romilar e ele de Colt 45,20 e eu disse: no sepulcro com um olhar malicioso e penetrante. Realmente sombrio, exceto que eles todos “É, hoje comprei o álbum do Question Mark and the Mysterians”, e subitamente o equilíbrio se estavam vestindo camisas de algodão e calças xadrez da Penney’s13. O que não era tão sombrio, esvaía da minha cabeça como água dos ouvidos depois de um mergulho, um inconstante vórtice mas um toque legal no fim das contas. As cores e letras eram legais também. começou a rodopiar através do meu crânio girando mais e mais rápido, apesar d’eu não poder dizer A contracapa tinha quatro fotos deles: Count Five posando bastante desajeitados vestidos com se era só a brisa lá fora ou se era algo bem entre minha carne e osso. Eu vi minha vida diante dos capas à Lugosi no gramado em frente a uma velha mansão; Count Five dando um show numa meus olhos, e não é papo furado – não estou dizendo que vi uma súbita montagem do nascimento a matinê em L.A., na maior piração14, enquanto, do lado direito da foto, uma multidão de tietes esse nauseante instante de vertigem emocional, mas eu me vi entrando e saindo de inúmeras lojas exuberantes, presumidamente barradas de seus ídolos, se empurrava voluptuosamente em direção de discos, desperdiçando vastas fortunas em uma corrente interminável de cliques e tinidos de a eles; Count Five em um estúdio de TV; e Count Five pondo malas no bagageiro de seu carro com máquinas registradoras marcando $3.38 e $3.39 e $3.49 e todos os outros valores fixos que eu os convenientes sorrisos maliciosos em seus rostos, preparando-se para a Grande Turnê como todos sabia de cor, mesmo se nunca na eterna corrida, inquestionavelmente um Americaníssimo popstars devem fazer (provavelmente tiraram a foto na camionete da esposa do empresário da Consumidor Participativo; vi lixeiras empilhadas com pacotes em que cabem vários discos selados banda). de modo que você não era apreendido por furto ao passar pela porta. Eu me vi nas milhares de Ao contrário das várias capas de álbum retardadas dos mais capengas anos seguintes, quando ocasiões em que caminhei em direção ao meu carro com passos abruptos e decididos, ligando a as bandas começaram a esquecer de colocar qualquer tipo de informação na contracapa exceto chave da ignição e varrendo as ruas rápido como num racha, na expectativa dos trinta e cinco ou talvez os títulos das músicas e um fajuto estudo de natureza em Kodachrome15 que os mostrava quarenta minutos de som explosivo assim que eu chegasse em casa, a eterna promessa de que caminhando em volta de uma sequóia decaída, a primeira erupção do Count Five tinha a parte de desta vez as guitarras se materializarão na forma de TNT e explodirão em chiados galvânicos no seu trás repleta de todas as informações essenciais. Como os nomes, apelidos, instrumentos tocados e cérebro “CABUM!!!” e desta vez pelo menos por fim te fazer convulsionar nas alturas. Miolos idade (os mais velhos tinham dezenove) de todo mundo da banda. Os títulos das músicas também incandescentes no teto, grudados como estalactites mucosas, enquanto seu corpo em fúria corre em prometiam: exceto duas roubadas do The Who, todas eram originais, e com nomes como “Double- voltas e se atira para fora berrando sons subumanos, dançando em círculos erráticos e proferindo Decker Bus”, “Pretty Big Mouth” e “The World”,16 para citar somente as três primeiras, eles sílabas avulsas insistentemente, como um geek com um caso grave de síndrome do superstar. dificilmente fracassariam. Mas isso é só a fantasia. A visão verdadeira, o verdadeiro clarão, arrepiante, era igualzinho à Mas crianças, digo-lhes que me custaram semanas de deliberação, e muitas horas de suor, realidade, só que programado para repetir sem fim. A verdadeira história é correr para casa para curvado sobre o balcão de discos, antes de finalmente ajuntar coragem para comprar esse disco. Por ouvir a erupção do apocalipse, se jogar pela porta da frente e dilacerar o lacre plástico “para a sua quê? Bem, ele era tão agressivamente medíocre que eu simultaneamente mal podia resisti-lo e proteção”, tirando o disco para fora – ah, vejam eles, os sulcos, todos pretinhos de doer e ainda sentia certo receio por saber o quão de fato tosco isso seria. Só muito mais tarde, chafurdando-me sem nenhuma mancha, brilhantes e novos e tão castos, e então a cor do selo – ele brilha com auras nas cafonices de Elton John e James Taylor, que eu finalmente vim a perceber que a tosqueira é o que comentam sutilmente os sons emitidos ou é só uma insossa superfície utilitária monocromática, mais verdadeiro critério do rock ‘n’ roll, quanto mais crus os rangidos e grasnidos mais divertido e como a parede de uma escola (como a da RCA e da Capitol depois que algum idiota as reelaborou – por mais tempo escutado um álbum seria. Nesta época eu teria estilhaçado um incisivo, raspado um exemplo real de retrocesso artístico)? E finalmente você põe o disco no prato, ele gira no limbo minha cabeça ou feito praticamente qualquer sacrifício para adquirir ainda que só mais um álbum por um segundo perfeito, seguido pelo momento da verdade, agulha no sulco, e finalmente o som. com esse tipo de desleixo à la uma matilha de hienas coléricas. Nessa época já era tarde demais. O que ocorre então é tão anticlimático que leva um homem racional às profundezas do desespero. Bah! Todo o mundo musical é repleto de simplórios e charlatães, com alguns poucos gênios e palhaços patetas aqui e ali. 12 ‘Eu me sinto deprimido/ Me sinto tão mal/ Porque você é a melhor garota que já tive/ Não consigo seu amor, não consigo afeição/ Ah, garotinha, reação psicótica…/ E a sensação é assim!’. Optou-se aqui por ignorar o genitivo acrescentado por Lester em ‘little girl’s’ (mantido acima), por se tratar de um provável engano de audição do autor – o “correto” sendo “Oh, little girl, psychotic reaction”. (N.T.). 13 Rede americana de lojas de departamento. (N.T.). 17 Cadeia americana de lojas de conveniência. (N.T.). 14 ‘Ravin’ it up’ no original. (N.T.). 18 Nome comercial de antitússico que, consumido em excesso, funcionava como alucinógeno. Retirado do mercado em 1973. (N.T.).

15 Filme fotográfico de alta qualidade produzido pela Kodak. (N.T.). 19 Nome comercial para sulfato de dextroanfetamina, um poderoso estimulante legalmente utilizado em casos de déficit de atenção e narcolepsia. (N.T.). 16 Respectivamente, ‘Ônibus de dois andares’, ‘Boca bem grande’ e ‘O mundo’. (N.T.). 20 Marca americana de cerveja. (N.T.). 9 10 Tudo isso eu vi enquanto sentado ali sob os espasmos causados pelo artefato do Question Comprei o álbum. Foi no mesmo dia em que comprei Happy Jack, do The Who. Corri pra casa, Mark and the Mysterians, e mais, eu me vi como um velho perplexo segurando uma cópia do álbum Happy Jack me deu uma leve satisfação, ri de Psychotic Reaction. 96 Tears olhando fixamente para o nada com a mandíbula frouxa pelo declínio de uma vida Mas Psychotic Reaction foi o álbum para o qual sempre voltava. Eu o toquei com alegria e extravagante. E logo depois, uma vez que praticamente não tinha passado tempo algum, meu freqüência por mais ou menos um ano, até que ele foi afanado por alguns motoqueiros, e quando eu amigo disse com óbvia estupefação: “Você comprou Question Mark and the Mysterians?” finalmente o encontrei de novo, em 1971, num sebo de discos, cara, dancei de alegria.23 Porém, Eu o encarei secamente. “Claro”, disse. “Por que não?” entretanto, fiz uma coisa singularmente mesquinha e avarenta. Ele estava na pilha de $1.98, Reconheço que isso tudo soa bem patológico – apesar de nunca ter pensado nisso até esta re- pertinho de coisas como Cosmo’s Factory24 e Deja Vu25, e por algum motivo aquilo me pareceu esquematização – e as nuances freudianas são banais, suponho. Mas o que não entendo é o que inapropriado – deveria estar a $0.89 na prateleira de pechinchas, onde era seu devido lugar, isso tudo significa. Não pensem que minhas compras e audições de discos, em si, foram sempre juntinho de outros preciosos fracassos de outrora, entre Doin’ the Bird, dos Rivingtons, que eu marcadas por tamanho frenesi e desorientação, ou até mesmo por certo grau de obsessão e também comprei, e 96 Tears, que de fato estava lá e provou meu argumento, o vendedor tendo tido compulsão. Acontece que a música me tem sido um fanatismo flutuante desde então – bem, desde o bom senso para desta vez guardá-lo onde ele se sentiria mais confortável (se esta personalização a primeira vez que escutei “A tempestade”, da ópera Guilherme Tell, em um desenho animado na incomoda, não se preocupem: uma vez, quando eu estava na sétima série, fiz uma visita à cidade TV, por volta da primeira série. E durante o caminho da escola, quando canções como “There Goes onde tinha morado no ano anterior para pegar de volta uma cópia do álbum com a trilha sonora de My Baby” tocavam no rádio, e quando comprei meu primeiro toca-discos, na quinta série, e quando Mr. Lucky, de Henry Mancini, que eu tinha emprestado a um amigo que se esqueceu de me devolver ouvi pela primeira vez coisas como The Black Saint and the Sinner Lady, de John Coltrane e Charles antes da minha mudança. Quando voltei pra casa coloquei Mr. Lucky na prateleira próxima à de seu Mingus, e os Stones e feedback e Trout Mask Replica.21 Todos esses momentos foram verdadeiros velho vizinho, o álbum Peter Gunn. Contemplando-os imponentes daquela maneira me senti feliz por marcos, cada um deles fritou meu cérebro mais um pouquinho, especialmente a experiência das eles. Pensava que os dois velhos amigos, dentre os primeiros álbuns que comprei, deviam estar primeiras audições de um disco tão total, tão perturbador, que você pode dizer com sinceridade que deslumbrados por se encontrarem novamente depois de tanto tempo. Talvez tivessem até algumas nunca mais vai ser o mesmo. Black Saint and the Sinner Lady fez isso, e pouquíssimos outros. São histórias interessantes para contar). eventos de que você se lembra por toda a vida, como seu primeiro orgasmo de verdade. E todo o O que fiz, então, foi pegar o álbum do Count Five, o mesmo que tanto curti antes e que por propósito por trás do absurdo e mecanicamente persistente envolvimento com música gravada é a tantas vezes desejei ainda ter, erguê-lo no ar e dizer ao gerente da loja: “Que diabos essa coisa busca desse momento inestimável. Então não é bem que discos tenham o poder de escancarar a está fazendo na pilha de $1.98? Ninguém vai pagar $1.98 por isso!” mente, mas se algo pode te levar ao delírio, este algo pode muito bem ser um disco. Porque a Ele olhou por um segundo, refletindo. Me adiantei: “Há quanto tempo essa coisa está mofando melhor música é forte e guia e purifica e é vida em si. aqui? Deve fazer pelo menos um ou dois anos, enquanto outros álbuns vêm e vão. Ele pertence Então, talvez a mais verdadeira autobiografia que eu poderia escrever, e sei que isso também àquela pilha! $0.89! serve para muitas outras pessoas, se daria em grande parte em balcões de discos, jukeboxes, “Hmmm, acho que você está certo”, ele disse. “Acho que esse disco – não, a banda toda na apertando forward ao dirigir sob o impacto de rádios AM, sozinho sob fones de ouvido com várias verdade – é uma das maiores latas-velhas da história. Sim, ponha-o na pilha de $0.89.” pontes cênicas e coros angelicais no cérebro durante madrugadas insones, ou apenas sentado numa “Vendido!” Eu berrei, corri para o balcão e lá joguei um dólar e me mandei pra casa. Eu o tinha! O boa, chapado ou não, no vasto e benigno colo da América, batendo nas coxas e me sentindo bem. artefato! Uma tabuleta de pedra da tumba de Tutankhamon! Uma gema há muito perdida! Incalculável Por fim eu juntei coragem para fazer valer minha insanidade e comprei o disco do Count Five. – e eu o consegui por apenas $0.89!” Acho que o golpe de misericórdia foi quando li numa revistinha adolescente (o único recurso de Bem, fiquem tranqüilas, crianças. O tempo não tinha obscurecido a grandeza do álbum do então para um ouvinte durão tentando sacar qual era a de cada produto novo que vazava) que o Count Five – o que até hoje não aconteceu, na verdade. Ainda soa tão grosseiro e esculhambado quanto Count Five bradava ter recusado “um milhão de dólares em contratos” porque isso significaria que em 1967. Posso não ter tocado Happy Jack mais do que cinco vezes desde o dia em que o comprei, eles teriam de largar a faculdade e, conforme seu empresário, os garotos tinham consciência de que mesmo que nunca tenha me livrado dele (esses álbuns de Classe dos quais você não extrai nenhuma ter uma boa educação era o mais importante a fazer. Que demais! Isso realmente me fisgou, então diversão vão todos revelar o seu valor e apelo essencial um dia, você sempre raciocina – talvez você na próxima vez que examinei o disco nas prateleiras murmurei “os meninos que voltaram para a mesmo se torne digno deles), mas para sempre vou detonar tudo e quebrar o pau com Psychotic escola…” Isso é de fato um diferencial – imaginem Mick Jagger subitamente acuado por um ataque Reaction. No primeiro mês depois de readquiri-lo devo tê-lo tocado dez vezes, e isso diz algo. Um misto de de remorso, e bem no meio de um gole de champanhe numa boate jet set a verdade inelutável o vinho do Porto ou Tokay26 mais Psychotic Reaction explodindo as paredes e eu me consumia de alegria golpeia: Você precisa de uma boa educação, garoto. Você pode ter milhões, mas acha que vai ser disparatada enquanto sacolejava e sapateava em volta do toca-discos sem conseguir sentar caso tentasse. um popstar por toda a sua vida? Óbvio que não. O que você vai fazer nos longos anos de negro Faixa a faixa, você não poderia ter arranjado melhor negócio dentre um ano de lançamentos outono? Você quer acabar como Turner em Performance22, precisando que alguém apareça e da Warner/Reprise. “Double-Decker Bus” e “Peace of Mind” espremiam os Yardbirds na forma de estoure seus miolos porque você no momento não consegue pensar em mais nenhuma diversão? obras-primas tão vitais quanto o hit título, a última por conter um dos mais perfeitos exemplos de Não é tarde demais! Volte para a London School of Economics e ganhe aquele diploma. Precisamos riffs rigidamente mecânicos da história, a primeira pelas suas letras verdadeiramente cósmicas ter um trabalho construtivo, caso contrário viramos uma doninha ignóbil e sem propósito. Então o (“Well just you walk/ Down any street/ If you don’t see one of us/ You’re sure to see/ A double- Mick engole o resto de champanhe, se desvencilha da belezoca ao seu lado e corre para a matrícula. decker bus!”).27 Ele acaba ganhando um diploma em Arte e ao fim dos Stones ele sossega ensinando a linha reta a Mas os verdadeiros clássicos do primeiro álbum do Count Five, embora ignorados em sua própria uma série de meninotes vorazes. Quão exemplar isso seria! Ele poderia até ser abençoado pelo Papa, época, poderiam ter provado serem imensamente influentes caso mais pessoas tivessem sido capazes ou convidado à Casa Branca! Mas é claro que isso nunca acontecerá, pois o Mick Jagger é feito de barro inferior ao do Count Five. 23 ‘I up and danced a jig’ no original. (N.T.). 24 Álbum de 1970 do Creedence Clearwater Revival. (N.T.). 25 Álbum de 1970 do Crosby, Stills, Nash & Young. (N.T.). 21 Álbum de 1969 do Captain Beefheart & His Magic Band. (N.T.). 26 Tipo de vinho húngaro. (N.T.). 22 Filme de 1970 dirigido por Donald Cammel e Nicolas Roeg em que Mick Jagger faz o papel de Turner, um rockstar decadente. (N.T.). 27 ‘Bem, basta você andar/ Por qualquer rua/ Se você não vir um de nós/ Você certamente verá/ Um ônibus de dois andares!’ (N.T.). 11 12 de compreender o que a banda estava fazendo. “Pretty Big Mouth” era uma triturante street jam Tex- we saw no sharecropper shacks/ Reciting our Mallarmé/ Those films with Tom Courtenay/ And your Mex28, algo reminiscente de uma trupe de mariachis caucasianos vindos de Red Mountain,29 que hand in mine/ On the sidewalks of Calais/ Oh no, I shan’t forget…”37 antecipou as ainda mais térreas excursões do segundo álbum e que marcava a ferro com uma das Infelizmente, esse foi o último lançamento da banda. Depois de investirem tanta tecnologia e maiores letras macho-chauvinistas de todos os tempos: “I ended up in the deep deep South/ Makin’ dinheiro num projeto tão ambicioso e serem retribuídos com tamanha indiferença pelo público, tanto love to the woman with a real big mouth!”30 a banda quanto a Columbia ficaram, por fim, desencorajadas, o contrato expirou e cada músico “They’re Gonna Get You”31, de forma um tanto similar, era um ensaio de ritmo a jato sobre o seguiu por trilhas desconhecidas, apesar de um deles, o incrível estilista da guitarra John “Mouse” medo de barbearias,32 brilhante particularmente pelo vocal, que variava delirantemente entre um Michalski, ter posteriormente emigrado para a Inglaterra e formado o lendário embora efêmero lamento irritadiço que antecedia Iggy e um falsete cartunístico. Mas a quebradeira mesmo era “The Stone Prodigies, com vários ex-membros do John Mayall’s Bluesbreakers e do Ginger Baker’s Air World”,33 uma estridência cuja própria monotonia se curvava sob seus pés como uma dessas Force. Este aglomerado de titãs, como todos se lembram, fez um álbum incrível, To John Coltrane In rampas móveis de um trem-fantasma num parque de diversões, enquanto a letra consistia num Heaven, e então embarcou numa turnê de dez meses pelos Estados Unidos que bateu todos os mínimo espartano de frases – “I’ll tell the world, you’re my girl, you’re so fine, you are mine”34 – recordes e que foi tão exaustiva que depois dela a banda inteira foi entregue, pelo resto de suas carcarejadas em séries de hurras e rangidos boquiabertos de deleite e orgulho lunático. vidas, a casas de repouso. Infelizmente, Psychotic Reaction foi o único álbum do Count Five a ser amplamente Entre Psychotic Reaction e Snowflakes, seu canto do cisne, o Count Five fez outros três álbuns, disseminado e reconhecido em sua própria época. Double Shot, uma empresa quase tão errante na todos igualmente ótimos e cada um sete léguas à frente do outro. Meu preferido sempre foi o promoção do talento da Costa Oeste quanto a ESP-Disk o era para lidar com inovadores nova- terceiro, Cartesian Jetstream38 (Double Shot DDS 1023). Nele tivemos o mais completo iorquinos como os Godz, praticamente enterrou seu segundo e terceiro álbuns, dando-lhes desenvolvimento do Count Five como uma banda de rock ‘n’ roll, intrínseca e ainda promoção e distribuição igualadas em termos de miopia e indiferença somente à assessoria que a inqualificavelmente (basta alguém escutar os velhos madrigais anglo-saxões e o pseudo-flamenco à Decca dava ao The Who das antigas. Apesar disso, a banda teve a sorte de ter um empresário Feliciano39 de Ancient Lace and Wrought-Iron Railings para perceber onde estava seu verdadeiro explosivo, com visão para compreender o seu potencial e um ímpeto persuasivo forte o bastante ponto forte). Bem-acabado e profissional, ainda que intensamente vigoroso e quase sujo para, enfim, levá-la a assinar um contrato com a Columbia, onde eles fizeram mais dois bons álbuns (sofisticação, assim como a história, não pode ser freada), continha música verdadeiramente que, embora tendo recebido a produção e promoção que sempre lhes foi digna, ainda assim estimulante, transbordando com o pulso selvagem da criação. Os números originais dinâmicos como fracassaram em termos de vendas. Pessoas ignorantes ainda os consideravam nada mais que uma “Cannonballs for Christmas”, “Her Name Is Ianthe” e “Nothing Is True / Everything Is Permitted”40 versão impostora dos Yardbirds, críticos os ignoraram ou desqualificaram com suas mais sórdidas fazem com que eu sempre o toque novamente, bem como a inclusão de Marion Brown, saxofone categorizações, e o triste resultado foi que suas obras mais importantes nunca receberam a atenção alto, Sun Ra, piano, e Roland Kirk, flauta irlandesa baixo, na última faixa, “Free All Political que tanto merecem. Prisoners! Seize the Time! Keep the Faith! Sock It to ‘Em! Shut the Motherfucker Down! Them Burn Ironicamente, mesmo com a mídia “underground” e os auto-proclamados árbitros do gosto It Up! Then Give the Ashes to the Indians! All Power to the People! Right On! All Power to público insistindo em sua conspiração pelo silêncio, as desprezadíssimas publicações do Woodstock Nation! And Watch For Falling Rocks!”41 Esta era um verdadeiro arrastão mental, e “establishment” foram as primeiras a reconhecer as conquistas do Count Five em seu desabrochar ostentava uma das letras mais originais do ano. inicial: “Evoluindo, como tantos outros, de suas ásperas origens, o Count Five finalmente se O único álbum do Count Five a fracassar totalmente foi o segundo, Carburetor Dung42 (Double destacou como uma sutil, sofisticada integração de sólidos artífices musicais, criando alguns dos Shot DDS 1009). Pode-se de fato dizer que se tratava do Count Five em seu lado mais sujo. Na sons mais revigorantes e menos irritantes de nossa memória recente.” Essa foi a Billboard falando verdade, era tão sujo que na maioria das canções você mal conseguia distinguir coisa alguma exceto sobre o quarto álbum do Count Five, Ancient Lace and Wrought-Iron Railings35 (Columbia CS 9733). uma parede indiferenciada de barulho opressivo e uma repetição intermitente de grunhidos suínos Mas quando Snowflakes Falling on the International Dateline36 (Columbia MS 7528) saiu, glotais. Suponho que a melhor forma de caracterizar o álbum seria chamá-lo de sombrio. Algumas arremessou qualquer um que tivesse ouvidos, todas as crianças antenadas e livres o bastante para das letras eram inteligíveis, como essas, de “The Hermit’s Prayer”43: “Sunk funk dunk Dog God the erguer o dedo do meio para a máfia da opinião, porta afora, em direção à esquina. Ele continha a goosie Gladstone prod old maids de back seat sprung Louisiana sundown junk an’ bunk an’ sunken incomparável “Schizophrenic Rainbows: A Raga Concerto”, que ninguém que se sentou durante treasures/ But oh muh drunken hogbogs/ I theenk I smell a skunk.”44 Letras assim não aparecem todos seus 27 minutos jamais será capaz de esquecer, especialmente o impacto trovejante da todo dia, e mesmo que o suporte instrumental soasse vagamente como um carro atolado na lama entrada abrupta e estrondosa de George Szell e a Orquestra de Cleveland, no décimo-oitavo minuto. girando as rodas, não se pode negar que a canção tinha certo valor como um marco prototípico do Isso sozinho já dá base para que o disco seja considerado a obra-prima dentre todos seus álbuns, rock ‘n’ roll de fundo de sarjeta. Outras canções, como “Sweat Haunch Woman”, “Woody Dicot” e embora a melancólica “Sidewalk of Calais”, que fechava o lado A, também fosse sublime, com seu “Creole Jukebox Pocahontas”45 se validavam por emergirem levemente da grosseria uniforme e notável amadurecimento lírico: “Pitting, patting, trying not to step on the cracks/ In Europa, where unidimensional do resto do material.

37 ‘Escavando, dando tapinhas, tentando não pisar nas gretas/ Na Europa, onde não vimos nenhuma cabana de meeiro/ Recitando nosso Mallarmé/ Aqueles filmes com Tom Courtenay/ E sua mão na minha/ Nas calçadas de Calais/ Oh não, não vou me esquecer…’ (N.T.). 28 Estilo de música popular animada, presente principalmente no sul do Texas e norte do México. (N.T.). 38 ‘Jet stream (corrente de ar veloz que ocorre acima da superfície terrestre) cartesiano’, literalmente. (N.T.). 29 Cidade-fantasma californiana localizada no Deserto de Mojave. (N.T.). 39 Referência ao cantor e guitarrista porto-riquenho José Feliciano. (N.T.). 30 ‘Eu acabei parando no profundo profundo Sul/ Fazendo amor com a mulher de boca bem grande!’ (N.T.). 40 Respectivamente, ‘Balas de canhão de Natal’, ‘O nome dela é Ianthe’ e ‘Nada é verdadeiro / Tudo é permitido’, em tradução literal. (N.T.). 31 ‘Eles vão te pegar’, literalmente. (N.T.). 41 ‘Libertem todos presos políticos! Fiquem atentos! Mantenham a fé! Soquem neles! Acabem com o filho da puta! Então queimem tudo! Então dêem as cinzas aos 32 ‘Barbershop paranoia’ no original. A música, de fato, é sobre uma barbearia maligna e sobre como os barbeiros que lá trabalham querem – no mau sentido – te índios! Todo poder para o povo! Isso aí! Todo poder para a Nação Woodstock! E cuidado com as pedras caindo!’, em tradução livre. (N.T.). deixar limpo. (N.T.). 42 ‘Esterco de carburador’, literalmente. (N.T.). 33 ‘O mundo’, literalmente. (N.T). 43 ‘A prece do ermitão’, literalmente. (N.T.). 34 ‘Vou dizer ao mundo, que você é minha garota, você é tão boa, você é minha’. (N.T.). 44 ‘Afogado trêmulo inundado Cachorro Deus a carruagem fecal cutuca as velhas donzelas no assento traseiro floresce o pôr-do-sol de Lousiana bagulho e besteira e 35 ‘Cordão arcaico e trilhos de ferro batido’, literalmente. (N.T.). tesouros afogados/ Mas oh minhas chafurdas bêbadas/ Acho que cheiro um gambá’, em tradução livre. (N.T.). 36 ‘Flocos de neve caindo na Linha Internacional de Data’, literalmente. (N.T.). 45 Respectivamente, ‘Mulher de quadril suado’, ‘Dicotiledônea amadeirada’ e ‘Pocahontas crioula do jukebox’, em tradução literal. (N.T.). 13 14 Por outro lado, seria melhor se vocês não me dessem atenção, mas sim fossem ao meu acervo e mais tantos outros álbuns notáveis. Quanto ao Count Five, eles finalmente foram para onde todas de discos e conferissem o álbum por conta própria. Dave Marsh46 o amou (ele disse: “É uma boas bandinhas vão – para o grande Posto de Gasolina no céu. resposta a quão longe o rock pode ir, o extremo de uma vertente, e um dos sets mais “Bem, tudo isso é muito interessante, você nos prendendo aqui pelas últimas quatro horas nos humanamente primitivos que jamais ouvi. Você teria que ser louco para fazer música assim, e fico contando sobre a meteórica carreira dos Carburetor Dungs –” feliz que eles fizeram”). Ed Ward47 me disse que o guardaria para sempre porque “é um dos álbuns Não, não, Count Five, Carburetor Dung era o – mais engraçados da história do rock ‘n’ roll, ao lado de Blows Against the Empire48 e Kick Out the “TÁ, LEGAL, MAS PORRA, QUANDO VOCÊ VAI NOS CONTAR SOBRE OS YARDBIRDS?!” Jams49; como você poderia deixar algo assim passar batido?” Apesar de Jon Landau ter se recusado Uh, hmmf – hummmm, sim… bem, essa história vai sempre estar na reserva, para outro dia. terminantemente a publicar uma resenha dele na Rolling Stone: “Olha, cara, não estou nesse Além do mais, quando vocês se derem conta, o Count Five foi provavelmente tão importante quanto negócio no espírito de um moleque que se esconde num beco, estica o pé e derruba a primeira os Yardbirds, no fim das contas. É só que algumas pessoas são reconhecidas em seu próprio tempo, pessoa que vier passando, e então racha de rir quando caem de cara. Tudo ligado a esse álbum está e outras, não. errado. Primeiramente, é absolutamente horrível, uma das piores monstruosidades já lançadas. Em segundo lugar, a banda que o gravou é só uma fachada para músicos de estúdio, sei que isso é fato. Você não pode me dizer que o mesmo grupo que gravou ‘Iron Rainbows on the International Dateline’, ou seja lá qual era o título dessa coisa, seja lá o que fosse era uma bela obra – pretensiosa, superarranjada, superproduzida, verborrágica, egocêntrica e gauche, mas ainda assim bela – o carrilhador berrou até as tripas por vinte e sete minutos – mas você não pode me dizer que aquela e esta pilha de merda foram feitas pelas mesmas pessoas. Esta provavelmente é a banda… passar bem. Outra coisa, eles estão num selo horrível. Quem já ouviu falar da Double Shot Records? Que tipo de promoção e publicidade eles têm? Nada! Quantos discos eles lançam por ano? Quem vai saber? O último artista decente que tiveram foi Brenton Wood e isso foi quatro anos atrás. Este álbum, eu garanto, não vai vender nenhuma cópia. Dê só uma olhada na capa: um carrinho de mão enferrujado, a carcaça de um velho Ford sem rodas nem motor e um álamo no plano de fundo. O sol quase se pôs e está tudo tão escuro que quase não se vê porra nenhuma. E lá acima está o título em letras marrom-sangue! Marrom-sangue! E aí vêm vocês me dizendo que tenho que publicar uma resenha desse álbum na Rolling Stone porque ele é sem precedentes e se as pessoas não o adquirirem agora elas podem nunca mais ter a oportunidade. E mandam a resenha comparando-o a Louis Armstrong, Elmore James, Blind Willie Johnson, Albert Ayler, Beefheart e aos Stooges! Tudo para que as pessoas o comprem, quando não há razão nesse mundo para que qualquer um interessado em música o faça. Mandem a resenha para a Creem. Façam dele o disco do ano. Deus do céu, eu tinha algum respeito por vocês. Agora acho que vocês todos devem estar ou perdendo a razão ou se voltando contra o rock ‘n’ roll. Vai chegar ao ponto em que a Creem não dará cobertura a um álbum a não ser que ele seja ou de free jazz ou tão absurdamente metálico, medíocre e barulhento que daria no mesmo enfiar a orelha num triturador de lixo ou numa serra elétrica. Lembre-se, cara: o público não vai comprar isto. Nenhuma repercussão, mesmo.” Entretanto, nem Jon nem eu nutrimos ressentimentos por causa disso – é só que ele não agüentava nenhum tipo de ineptidão musical, o que era perfeitamente razoável, enquanto eu curtia demais certos tipos ultrajantes de ineptidão! Carburetor Dung pode bem ter sido o álbum mais inepto que já escutei – certamente estava pau a pau com Amon Duul50 e Hapshash and the Coloured Coat Featuring the Human Host and the Heavy Metal Kids.51 Sim, crianças, esse era o título de um disco de verdade – às vezes sou dado à fabricação de álbuns, tipo como se eu desejasse que houvesse certo álbum que não existe. Eu simplesmente invento, mas esse é autêntico. Carburetor Dung é autêntico também, mas a Double Shot não lhe deu qualquer tipo de promoção por um misto de razões (título, atitude de várias pessoas tanto na imprensa quanto na indústria, indiferença pública, e o fato de nenhuma pessoa na Double Shot querer falar sobre isso de tanto constrangimento). Acho que ele simplesmente foi desaparecendo, como Oar, de Alexander Spence,

46 Crítico musical americano, co-fundador da revista Creem. (N.T.).

47 Seminal crítico musical americano. (N.T.). 48 Álbum de 1970 de Paul Kantner & Jefferson Starship. (N.T.). 49 Álbum de estréia do MC5, de 1969. Ver nota 2. (N.T.).

50 Álbum de estréia da banda alemã homônima, de 1969. (N.T.). 51 Literalmente, ‘Hapshash e o Casaco Colorido, com a participação do Hospedeiro Humano e as Crianças Heavy Metal’. Álbum de 1967 do trio inglês Hapshash and the Coloured Coat. (N.T.). 15 16 Sobre o autor

Mário Vinícius Ribeiro Gonçalves

Lester Bangs, ou Leslie Conway Bangs, nasceu em 1948 em Escondido, subúrbio Californiano. Tomado pelo frenesi musical e literário desde cedo, teve em 1969, aos 21 anos, sua primeira resenha – sobre o álbum Kick Out The Jams, do MC5 – publicada na então jovem Rolling Stone. A partir daí, Lester nunca mais deixaria de exercer a crítica musical, atuando em várias publicações importantes, como as revistas Creem, Who Put The Bomp e várias outras que não só celebravam cada rumo importante que o rock tomava como também ajudaram a definir a crítica de rock em si. Famoso pela sua prosa anfetamínica, passional, sarcástica e iconoclasta, Lester Bangs foi talvez o gonzo definitivo. Seu trabalho se mostrou de grande influência não só para as futuras gerações de críticos de rock, mas para a própria música; sua atitude desafiadora sendo intersemioticamente traduzida nos nascentes hey ho let’s gos e sonic reducers que tanto ressoam ainda hoje. Morreu prematuramente em 1982, aos 34 anos, vítima de overdose acidental devido à automedicação a que se submeteu para se tratar de um resfriado.

Bibliografia recomendada

Por Lester Bangs Psychotic Reactions and Carburetor Dung (Anchor Books) – Primeira e melhor antologia de Lester Bangs, editada pelo também crítico e amigo Greil Marcus. Contém vários dos mais famosos textos de Lester, como suas extremamente influentes entrevistas com Lou Reed. Em inglês.

Mainlines, Blood Feasts, and Bad Taste (Anchor Books) – Segunda antologia do autor, compilada pelo amigo John Morthland. Embora não tão essencial quanto Psychotic Reactions and Carburetor Dung, encontramos aqui artigos de alta qualidade e relevância, como suas notas de viagem pela Jamaica dos anos 70 e a sua primeira resenha publicada. Em inglês.

Reações psicóticas (Conrad) – Versão reduzida de Psychotic Reactions and Carburetor Dung. Embora contenha alguns de seus mais famosos artigos (como o obituário de Elvis e sua apreciação do disco Astral Weeks), muitos textos importantes foram deixados de lado, como o traduzido neste caderno. Em português.

Sobre Lester Bangs Let It Blurt: The Life and times of Lester Bangs (Bloomsbury) – Excelente biografia de Lester, escrita pelo crítico e discípulo Jim DeRogatis. Trata-se de um livro bem pesquisado e respeitoso – e, ainda assim, divertido e estimulante. Em inglês.

17 Tradução do texto de Lester Bangs “Psychotic Reactions and Carburetor Dung”, do livro de mesmo título, publicado pela Anchor, New York, 1988, p. 5-19. O texto foi primeiramente publicado na edição de junho de 1971 da revista americana Creem. A tradução foi realizada como atividade acadêmica, na disciplina “Estudos Temáticos de Edição: editando traduções”, oferecida pela Profª. Sônia Queiroz na FALE/UFMG, no 2o sem. de 2008.