Pontos corridos x mata-mata: as mudanças nos últimos 15 anos do Campeonato Brasileiro

Dezembro/2018

Pontos corridos x mata-mata: as mudanças nos últimos 15 anos do Campeonato Brasileiro

Paulo Talarico de Bastos - [email protected] Jornalismo Esportivo Instituto de Pós-Graduação – IPOG Turma : JESAO002 São Paulo, SP, 24 de fevereiro de 2018 Resumo O formato de disputa por pontos corridos do Campeonato Brasileiro trouxe quais alterações para o futebol nacional, desde sua implantação em 2003? Houve algum tipo de alteração com relação a qualidade das partidas, prejudicou ou aumentou a quantidade de pessoas que foram aos estádios e provocou ganhos ou perdas financeiras aos clubes brasileiros? Depois de 15 edições consecutivas com o mesmo regulamento, algo que ocorre pela primeira vez no principal torneio nacional, rótulos costumam ser difundidos com críticas ao torneio e a defesa do modelo anterior de mata-mata, com a afirmação de que atualmente não há emoção. No entanto, a competição tem se mantido e a manutenção de um mesmo formato pode indicar que alguns ganhos foram conquistados pelas equipes participantes. Apesar das críticas, poucos têm se embasado nos dados sobre o que foram os últimos 15 anos do futebol nacional. Com base em informações e números apresentados pelas equipes, das características do torneio, e em uma comparação com o que era o mata-mata e o atual momento, este trabalho pretende estabelecer quais foram as principais mudanças no período e mostrar se os aspectos alterados foram importantes ou inexpressivos para o esporte. Inicialmente, os resultados mostram que houve crescimento de receita e de público desde 2003, o que vai contra a tese dos críticos. Por outro lado, as mudanças não podem ser creditadas apenas ao formato. Além disso, mais do que o modelo de competição, os clubes precisam aperfeiçoar a gestão para conseguir tornar mais atrativo o mais importante campeonato do país. Para elaborar este trabalho, utilizamos a metodologia da análise de dados, com base nas informações disponíveis sobre público e renda dos clubes no período. Também utilizamos a bibliografia que trata sobre os negócios e gestão do futebol brasileiro, além de utilizar as informações da imprensa disponíveis sobre o período em que o campeonato sofreu a mudança de regulamento.

Palavras-chave: Futebol, Campeonato Brasileiro, Pontos corridos, Clubes, Mata-mata.

1. Introdução No ano de 2017 completou-se 15 anos de um marco no futebol nacional. A adoção de um regulamento permanente para o Campeonato Brasileiro e com um formato simples: todos jogam contra todos e é campeão aquele que somar o maior número de pontos. Ao mesmo tempo em que o torneio experimentava pela primeira vez uma estabilidade, a resistência a este sistema teve início desde implementação com um debate que criou um novo ‘fla-flu’ em um país acostumado a se dividir. Para entender o que implicou a mudança de torneio, é importante destacar como foi o

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 9, Edição nº 16 Vol. 01 Dezembro/2018

Campeonato Brasileiro entre 1971 e 2002. Desde 2010, as competições nacionais disputadas entre 1959 e 1970 (Taça Brasil e Torneio Roberto Gomes Pedrosa) também foram oficializadas como parte do Campeonato Brasileiro, mas vamos restringir este estudo ao período de 1971 e 2002, apenas para facilitar a análise e por ter tido essa caracterização nacional desde o início. Nas 31 edições realizadas antes dos pontos corridos, foram disputados 31 campeonatos em formatos diferentes. Por vezes, a definição se dava pouco tempo antes do começo da disputa. O primeiro torneio, por sinal, teve turno e returno, com classificação dos 12 melhores para a segunda fase. Divididos em três grupos, o vencedor de cada chave foi para um ‘triangular final’. O título ficou com o Atlético Mineiro com 12 vitórias em 27 jogos. Um ano depois, foram 26 equipes, divididas em quatro grupos (dois de seis e dois de quatro equipes). Eles se enfrentaram até que sobraram quatro semifinalistas e o Palmeiras foi campeão. Em 1979, ano do tri-campeonato do Internacional, 80 clubes começaram o Brasileirão, outros 12 entraram na segunda fase e mais dois fecharam a participação na terceira etapa. Com tantas equipes, ainda houve boicote de Corinthians, Portuguesa, Santos e São Paulo. A situação não mudou nas décadas seguintes e talvez o regulamento mais controverso tenha se dado em 2000, quando um impasse judicial levou a criação da Copa João Havelange. A competição vencida pelo Vasco tinha um mata-mata formado por 12 clubes da primeira divisão (módulo azul), mais três da segunda (módulo amarelo) e o 16º era o campeão da terceira divisão (módulo verde e branco). O São Caetano chegou à decisão. Era contra essa instabilidade e em uma tentativa de garantir calendário para todas as equipes até o final do ano que houve a adoção dos pontos corridos. Ou, ao menos, essa era a promessa dessa mudança. Houve realmente um novo momento em termos de organização, mas jamais afastou os críticos que não concordavam com uma competição que “não tem decisão”. A resistência tem como mote a emoção das finais, semifinais e quartas, ou oitavas, disputadas nos torneios anteriores. Antes da alteração ser adotada, o Brasil teve uma edição relevante do Campeonato, com o surgimento de craques como Diego e e uma equipe do Santos que encerrou uma fila de 20 anos. Na época, a final do Brasileiro entre Santos e Corinthians reuniu mais de 70 mil torcedores no estádio do Morumbi. A equipe santista, sobretudo, era talvez o exemplo mais claro do que era o sistema do mata- mata: garantiu a vaga apenas na última rodada como oitavo e eliminou um a um os favoritos da época (São Paulo, Grêmio e Corinthians) com grandes exibições. Foi em 2002, ainda, o último título do Brasil na Copa do Mundo, quando a equipe de surpreendeu o mundo após entrar desacreditada. Aqui um outro ponto fundamental. O fator surpresa seria mais um mérito e que dá emoção às fases eliminatórias. Esse período de exaltação contrasta com uma época em que os questionamentos a forma como os brasileiros lidam com o futebol aumentou. Além das críticas a sua gestão, a qualidade do espetáculo e o desastroso resultado do 7 a 1 na semifinal da Copa do Mundo no Brasil, ligaram o sinal de alerta. Mas poucas coisas no futebol brasileiro sofrem tantos ataques como os pontos corridos. Este trabalho mostra que parte dos apontamentos sobre o campeonato tem sentido, mas miram em um vilão equivocado. Não há uma fórmula mágica e o fato de mesmo com todas essas diferenças ainda haver um aumento em público e nas receitas dos clubes, indica que algo foi positivo. Há, contudo, muito a ser trabalhado na gestão esportiva do torneio, assim como o calendário, para que o Campeonato Brasileiro transmita a sensação de ser um dos maiores do

2 mundo. Como de fato é, apesar dos pesares. Apesar da relevância do tema, a abordagem dos formatos em que são disputados os campeonatos e sua influência sobre o esporte ainda carece de bibliografia e de estudos acerca deste assunto. Por isso, trazemos aqui o que tem sido abordado por jornalistas e cronistas esportivos em programas de TV, um levantamento deste trabalho sobre os públicos, os gols, os últimos estudos financeiros e sobre gestão das equipes brasileiras para buscar parâmetros que nos ajudem a demonstrar os 15 anos de pontos corridos no país. 2. Desenvolvimento 2.1 O modorrento, maldito e detestável A crítica ao Campeonato Brasileiro de pontos corridos na imprensa, por vezes, lembra uma disputa eleitoral. Mexe com paixões, coloca lado a lado adversários que dizem querer o bem com sua posição, e tentam destruir o argumento alheio com frases de efeito. Nesse jogo, um dos maiores cronistas esportivos da história do Brasil tem um papel destacado: Milton Neves. Em seu blog, por exemplo, é possível encontrar textos em que cita os ‘malditos’ pontos corridos, os modorrentos. Em um artigo, ele compara o Brasileiro com os torneios de luta, sempre com mata-mata, e que estariam atraindo mais público e audiência. Em outro comemora que haverá um jogo da Copa do Brasil. “Hoje, sim, teremos futebol DE VERDADE aqui no Brasil! Futebol puro, de raiz, mata-mata, nada de “futebol creme de avelã” (não falo a marca por ser completamente contra propaganda). Xô, pontos corridos!” (NEVES, 2017). O âncora do grupo Bandeirantes não vê emoção no torneio e sempre que uma equipe dispara na frente inicia sua campanha anual pela volta das fases eliminatórias. Nesse sentido, ele indica um objetivo que talvez o torneio realmente não tenha alcançado. Como ser atrativo mesmo após a definição desse time campeão. Mas, por outro lado, peca pelo exagero em desqualificar a competição com meses de antecedência e por desconsiderar o aspecto de que cada rodada tem certo valor para a construção de uma conquista. Aos apoiadores dos pontos corridos, ele ironiza. “Tem quem goste”. Juca Kfouri defende o lado contrário. Na última rodada do Brasileirão de 2017, em que o Corinthians se sagrou campeão com três rodadas de antecedência, o jornalista publicou um texto com o título “Viva os pontos corridos”. Apesar de a competição já ter seu título definido, ele destacou o número de jogos interessantes disputados por conta das vagas na e na luta contra o rebaixamento no último dia de competição. “Tudo isso, amigo, porque os pontos corridos são o que são e o campeonato até nem sempre acaba quando termina” (KFOURI, 2017). A referência sobre o final que ainda faltava era o fato de que se o Flamengo vencesse a Copa Sul-Americana, o nono colocado também disputaria a Libertadores, o que não aconteceu. Ou seja, uma decisão após o fim do campeonato. Um dos pontos que passou a ser questionado sobre o torneio é o argumento de que os pontos corridos é mais justo, pois premia o clube mais regular ao longo das 38 rodadas jogando o mesmo número de jogos em casa e fora, contra todos. O tema também permeou mesas de debate em programas televisivos, como fez Fábio Sormani no canal Fox Sports. “O campeonato por pontos corridos não é justo. O mata-mata é muito mais justo, porque tem a possibilidade da surpresa, o pontos corridos não. É justo você confrontar um time com orçamento de R$ 450 milhões com um de R$ 80 milhões? Claro que não é justo. só ficam equiparadas com o mata-mata que vem com a surpresa no futebol” (SORMANI, 2017) O jornalista aborda as dificuldades para clubes menores consigam jogar com grau de igualdade

3 este tipo de competição. Mas modificar o campeonato não é a única forma de você reforçar a qualidade ou de trazer mais equilíbrio para o torneio, como rebateu Paulo Vinícius Coelho. “Tem que distribuir o futebol para o Brasil inteiro. É importante acabar com esse ‘Tratado de Tordesilhas’ no futebol, é importante distribuir dinheiro de uma maneira equivalente. Mas não existe milagre. durante muito tempo se falou que se tiver pontos corridos vai resolver todos os problemas e não resolveu. Também não vai transformar se voltar o mata-mata. O ponto é ter um calendário e organização de campeonatos” (COELHO, 2017). Estas opiniões são apenas algumas de uma série de discussões que tem tomado o Campeonato Brasileiro ao longo dos últimos anos, mas que tem pecado em aprofundar quais são as diferenças, positivas e negativas, desse formato que chega a marca de 15 anos. Além disso, trata do modelo anterior de forma mítica ou se baseando pelas disputas com finais de outras competições como a Copa Libertadores e a Copa do Brasil. 2.2 O público A primeira questão que serve para desmitificar o “fracasso” dos pontos corridos como pregam os críticos está na arquibancada. A fala de que não há emoção encontra eco na ideia de que os estádios estavam mais cheios antes da alteração no regulamento, em 2003, mas essa ideia não encontra fundamento nos números apresentados pelos clubes, apesar da inegável força dos estádios cheios nas decisões, vistas nos anos 1990. O que talvez seja esquecido dessa conta é que antes das finais há uma primeira fase, muitas vezes com pouco interesse por partes dos torcedores, e que leva a média das decisões pesar pouco com uma primeira fase pouco atraente e de estádios também vazios. Em 2002, por exemplo, disputaram o campeonato 26 clubes. Enquanto a decisão em que Robinho e Companhia garantiram a taça santista teve 74,5 mil torcedores, a competição em si teve uma média de 12.866. Na edição de 2017, quando o Corinthians garantiu seu sétimo título nacional com rodadas de antecedência, 15.975 torcedores estiveram em média nos estádios. Cerca de 24% a mais para a última temporada do mata-mata. Evidente que se trata apenas de uma edição específica em cada caso, mas em geral, os torneios disputados entre 2003 e 2017 não tiveram médias piores do que o verificado no passado. Na média, as 15 edições do torneio por pontos corridos tiveram 14,5 mil torcedores em cada partida, enquanto nas 15 últimas edições entre 1988 e 2002, com decisões no mata-mata, essa média foi de 12.403, 17,6% a menos. Quando se considera todos os Brasileiros disputados desde 1971 até 2002, o resultado se aproxima de um empate, com 14.554. Ou seja, toda era do mata-mata teve em média 35 torcedores a menos do que a era de pontos corridos. Estes números merecem ressalvas de ambos os lados. Entre 1971 e 1987, o Brasileiro teve as únicas edições em que a média geral chegou a 20 mil espectadores nos estádios - realmente um outro tempo do futebol brasileiro. Em 1971, foram 20.360, em 1980 com 20.792, em 1983, com 22.953 e em 1987 com 20.887. Importante aqui considerar o peso da era . O Flamengo teve as maiores médias da história do campeonato nessa época, caso de 1982 quando foram 62 mil torcedores por jogo. Esse período lendário da equipe rubro-negra pesou para realmente diferenciar com o que viria depois em termos de presença na arquibancada. O período de 1988 a 2002, os 15 últimos de mata-mata, viveu em termos de torcida da força do Atlético MG (42.3 mil de média em 1999) e do Corinthians (37,3 mil em 1993). Mas apenas em 1992 e 1999 a marca dos 15 mil torcedores de média foi ultrapassada, mesmo com sistema

4 de mata-mata. No caso dos pontos corridos, longe de dizer que a fórmula revolucionou em atrair mais público para acompanhar o futebol dos clubes brasileiros. Mas o fato de o torneio ter sua importância distribuída ao longo de toda a disputa pode ter contribuído para médias melhores. Em sete das edições, essa quantidade ultrapassou os 15 mil. Um primeiro ponto importante do período é destacar que a mudança não teve uma melhora automática. Em 2003, primeiro ano do novo formato e com 24 equipes, foram 10.468 pessoas por partida e, em 2004, 7,5 mil, ambas menores do que 2002, último ano do mata-mata. Desde 2007, porém, não houve mais um ano em que a média ficou em 12 mil. A melhora no público foi sentida em boa parte dos clubes. Dez dos 12 principais times brasileiros tiveram um crescimento em termos de número de torcedores que foram aos estádios. As exceções foram o Atlético MG, clube que passou a jogar no Independência, com capacidade de 20 mil torcedores, e o Santos, cujas campanhas nacionais não voltaram a ser boas como no início dos anos 2000 (COBOS, 2015). Independente do formato, contudo, é preciso admitir que a competição está longe de atrair a atenção de um número considerável de torcedores. “A verdade é que a pouca presença de público é histórica e tem toneladas de motivos, como o medo de violência, a falta de conforto e, sobretudo, a inadequação do calendário do futebol brasileiro ao calendário mundial, o que permite o esvaziamento do Brasileirão em pleno curso, seja porque os jogadores são negociados seja porque o campeonato não pára quando a Seleção joga” (KFOURI, 2017). O pico de público nessa uma década e meia foi o Campeonato Brasileiro de 2009, quando o Flamengo sagrou-se campeão. Foram 17.807 pessoas por jogo e o Rubro-Negro voltou a reunir mais de 40 mil torcedores por jogo. Alguns aspectos são relevantes para entender este razoável resultado. Três equipes foram até a última rodada com chances de título (Internacional, vice, e São Paulo, terceiro colocado), clubes que jogam em estádios com capacidade para 60 mil pagantes. Boa parte da competição teve a liderança do Palmeiras, enquanto o quarto colocado, Cruzeiro, só conquistou a vaga na Libertadores na última rodada. Apesar de podermos estabelecer que este resultado tenha ocorrido justamente por causa da decisão na última rodada, vale apontar que seis anos mais tarde, a história foi outra e o público parecido. Em 2015, a média chegou aos 17.051, mesmo com o Corinthians levantando a taça três rodadas antes do fim. A melhora do público, no entanto, não pode ser atribuída apenas ao aspecto regulamento. O Brasil viveu anos em que começou a olhar mais para a qualidade dos gramados e do conforto, impulsionado sobretudo com a Copa do Mundo de 2014. Dos 20 clubes da Séria A de 2017, dez mandaram seus jogos em estádios novos ou com amplas reformas: Corinthians, Palmeiras, Grêmio, Cruzeiro, Flamengo, Atlético MG, Botafogo, Atlético PR, e Fluminense. Com a ressalva dos problemas vividos no Rio com o Maracanã, a maioria tem contado com o aspecto da novidade nos últimos quatro anos para atrair torcedores. “O campeonato pode ser mais atraente e arenas modernas estão aí para nos mostrar isso”, avalia o jornalista Adalberto Leister Filho. “O fato de o público não ter aumentado tanto pode ser desprezível se a gente olhar para os clubes que passaram a arrecadar bem mais com suas nova arenas, como Corinthians, Palmeiras e Atlético-PR, Grêmio e Inter. O caminho é tão este, que Atlético-MG, Fluminense e Flamengo passaram a estudar projetos de estádio

5 próprio” (LEISTER FILHO, 2017). Entre 2015 e 2017, o que parecia ser um crescimento contínuo começou a recuar com a volta a média de 15 mil espectadores, mesmo com o Corinthians levando 40 mil por jogo na última edição. A falta de uma estratégia por parte dos clubes que fizesse com que se beneficiassem de uma competição em que está determinado o número de jogos com antecedência, pode explicar a situação. Somoggi calcula que os clubes poderiam ter tido um ganho de R$ 550 milhões, se tivessem apostado nas vendas antes da competição desde que os pontos corridos foram implementados. “Se em 2003, quando os pontos corridos foram instituídos no país, tivéssemos iniciado essa cultura tão arraigada na Europa e EUA, atualmente a média de público da Série A e B e o faturamento dos clubes seriam infinitamente superiores aos números atuais. A Bundesliga tem 60% de season tickets. A Bundesliga da Alemanha apresenta há anos a maior média de público de futebol mundial. São mais de 42,6 mil torcedores por partida” (Somoggi, 2017).

Um relatório da Parkert Randall Consultores Independentes de 2009 sobre os primeiros anos do novo formato aponta que melhorar o planejamento para o torcedor é um dos principais ganhos do formato. “Uma tabela de jogos com as respectivas datas definidas antes do início do campeonato, contribui imensamente para que os clubes desenvolvam suas estratégias para venda antecipada de ingressos, gerando maiores volumes de receitas a cada temporada”. 2.3 Divisão entre clubes Mas e entre os clubes há uma divisão ou uma preferência pelo melhor formato? Em 2015, houve a última grande reação das equipes brasileiras sobre os pontos corridos. Liderado inicialmente pelo presidente da Federação Bahiana de Futebol, Ednaldo Rodrigues, e depois encabeçada pelo presidente do Grêmio, Romildo Bolzan Jr. Uma comissão foi formada pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol) que, na época, evitou dar um posicionamento, dizendo que iria adotar a decisão tomada pelos clubes. Com o movimento, a imprensa buscou questionar as diretorias sobre os formatos de disputada. A Folha de S. Paulo recebeu a resposta favorável a volta do mata-mata de 11 dos 20 dirigentes de clubes da Série A. Cinco foram contrários. Outros disseram avaliar internamente e não expressaram publicamente uma posição. A ESPN ouviu os treinadores desses mesmos times e conseguiu resultado contrário - 14 dos 20 preferiam manter o campeonato por pontos corridos. A proposta de Bolzan tentava até agregar os dois formatos, pois manteria as 38 rodadas, mas com uma fase semifinal e decisão. Curiosamente, apesar da dita vontade dos clubes brasileiros, as conversas se encerraram em agosto do mesmo ano sem avanço para a retomada do mata- mata. O debate relembrou as discussões realizadas em 2002 para adotar o novo regulamento. Havia na época uma resistência inclusive da TV sobre a decisão das equipes em mudar o formato. Principal executivo da Globo na área esportiva, Marcelo Campos Pinto anunciou o fim dos tempos para as equipes brasileiras, ao afirmar que o brasileiro não se acostumaria com o modelo das ligas europeias. “Nos pontos corridos a maioria das equipes já não disputa o título faltando 15 rodadas para o fim", afirmou em 2003 a Rádio Tupi. "Eles aceitam qualquer fórmula de disputa e depois batem na porta da Globo pedindo dinheiro. Isto é cinismo da parte deles", disse.(AGÊNCIA ESTADO, 2003)

6 Ele voltaria a fazer novas críticas depois. “Jogos dentro e fora como na Europa não funcionam no Brasil. Temos de ter uma estrutura que mantenha todos os times grandes vivos até o mais longo possível. Aí, ou você morre ou você mata. A estrutura atual não é boa para os fãs”, disse em 2012 (FRANCESCHINI, 2012). Apesar dessas controvérsias, é importante apontar que há um fator legal em jogo quando se fala no atual modelo do Campeonato Brasileiro. Mestre em direito desportivo, Gustavo Lopes cita também o fato de que a discussão entre pontos corridos e mata-mata muitas vezes não levar em conta que a própria legislação, no artigo 8º do Estatuto do Torcedor, determina que ao menos em uma competição, os clubes saibam desde o início o número de partidas que irão disputar. Além disso, destaca que o Brasil ainda não encontrou soluções para tornar a competição mais nacional. “O sistema de disputa por pontos corridos tem sua origem na Europa, onde os países possuem dimensões bem menores. O Brasil tem uma vastidão continental. Equipes como o Sport Recife, por exemplo, possuem um desgaste com viagem incrível, pois todos os demais clubes da Série A estão nas regiões Sul, Sudeste e o Goiás, na Centro-Oeste. Será que o Sport que começou também a competição não teria perdido fôlego pelo cansaço com as viagens? O futebol brasileiro precisa se reinventar dentro de suas peculiaridades geográficas e culturais. O Campeonato Brasileiro precisa ser, de fato, Nacional”. (LOPES, 2015)

2.4 - Concentração de títulos Entre as mudanças mais visíveis nos 15 anos em que o Brasileiro é disputado por pontos corridos, é inegável a concentração de títulos com clubes de menos regiões. Desde 2003, o Campeonato teve sete times campeões - ou seja, em metade das edições, houve a repetição de um campeão. O Corinthians venceu quatro vezes, seguido do tricampeão São Paulo e das três vezes em que o Cruzeiro levantou a taça. Fluminense com duas conquistas, Palmeiras, Flamengo e Santos com uma cada um fecham a lista. Ao se levar em conta as regiões do Brasil, todos os campeões foram do Sudeste, onde se concentra o principal poderio econômico do país. Quanto aos estados, 60% dos troféus foram para o estado de São Paulo, contra 20% de e outros 20% do . A distribuição é bem menor do que a vista na competição na era do mata-mata. Nos 15 anos que antecederam os pontos corridos, 10 clubes conquistaram o título. Novamente, o Corinthians aparece com mais conquistas, com três, ao lado das três taças do Vasco. O Palmeiras venceu duas vezes, enquanto São Paulo, Santos, Atlético PR, Grêmio, Botafogo, Bahia e Flamengo levaram uma taça cada um. Essa divisão mostra uma quantidade maior de estados representados entre os campeões no mata-mata. Foram cinco estados diferentes ante três na era dos pontos corridos. São Paulo já figurava como o principal local com títulos, mas com uma porcentagem bem menor do que no formato atual. Entre 1988 e 2002, os paulistas levaram 46%, seguido dos cariocas com 33%. Bahia, e Paraná levaram seus últimos títulos brasileiros com o formato anterior. O mesmo pode ser atribuído com relação às regiões do país. Embora o Sudeste tenha conquistado 12 taças, é relevante o último título do Nordeste ter sido levantado nesse formato, assim como os dois últimos do Sul do Brasil. O cenário muda pouco ao levar em conta a competição desde 1971. Acrescenta-se um título para o estado de , mais um para

7 o Paraná e outros quatro para o Rio Grande do Sul. A concentração vinda com os pontos corridos pode ocorrer pelo fato de o clube mais regular levar a taça, o que facilita para quem tem mais recursos e consegue manter um planejamento durante o todo o ano. “É histórico que os pontos corridos, ao premiarem a regularidade, fazem com que o torneio tenha menos campeões diferentes”, comenta Adalberto Leister Filho. “No Brasil isso aconteceu, mas ainda assim já tivemos Flamengo, Fluminense, Cruzeiro, Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Santos como campeões. Uma boa gestão do torneio poderia fazê-lo mais equilibrado”. Apesar do cenário, Leister indica que esse é um desafio de diversos torneios do mundo. “Não é um problema só nosso. Nem a Premier League consegue. Blackburn e Leicester são apenas duas honrosas exceções, que confirmam a regra”. 2.5 Formato mundial e calendário Entre os dez campeonatos nacionais considerados os mais fortes do mundo, oito são disputados por pontos corridos. Entre as duas exceções, a Argentina também faz turno e returno, mas com uma decisão. A Colômbia é o único entre os dez melhores a ter uma competição mata-mata, no estilo vivido pelo Brasil nos anos 1990. O ranking é elaborado pela IFFHS (Federação Internacional de História e Estatística do Futebol). De acordo com a entidade, em 2017, o espanhol foi a competição mais forte, seguida do campeonato inglês e brasileiro. A lista apresenta ainda as ligas da Itália, França, Colômbia, Argentina, Alemanha, Paraguai e Rússia no top 10. Aqui não buscamos estabelecer algum tipo de ligação entre as ligas mais competitivas e o formato do torneio, tendo em vista a questão da superioridade financeira dos torneios europeus, onde tradicionalmente os pontos corridos existem há mais tempo. Porém, serve para identificarmos algumas ligas e entender seus formatos de disputa. Uma das críticas apontadas contra o torneio por pontos corridos no Brasil é que ele não se adapta em um país com a cultura brasileira e com as condições econômicas dos clubes e a extensão do país. Chama a atenção, porém, termos países vizinhos como Argentina e Paraguai em que boa parte da competição é realizada com a disputa entre todos contra todos, dentro e fora de casa. O formato em que há uma super final do argentino começou a ser utilizada apenas nesta temporada. Pelo restante da América do Sul, a situação é bem variada. O Chile conta com pontos corridos, mas com dois campeões por ano. O mesmo ocorre no Peru, mas com uma final entre o campeão de cada semestre ao final da temporada. Na Bolívia há um hexagonal final após a fase de jogos entre todos contra todos. Equador e Venezuela usam o mata-mata, enquanto o Uruguai tem dois torneios independentes e mais uma competição no meio - o intermédio. Há uma semifinal e uma final, com base no campeão dos turnos e naquele que mais pontuou na temporada. Os torneios latinos com regulamentos complexos mais lembram a época em que a cada ano o Brasileiro tinha um formato diferente. Em que pese essas características, os outros países da América Latina tem um ponto em comum que facilita até mais a aproximação com os torneios europeus, mesmo sem um regulamento semelhante: o calendário. O Campeonato Brasileiro é realizado entre abril e dezembro, enquanto as competições

8 divididas semestralmente conseguem se encaixar melhor na janela europeia, quando no meio do ano são feitas as principais contratações dos clubes europeus, vastamente abastecidos por clubes brasileiros e dos países vizinhos. No Brasil, o empecilho para adotar o mesmo calendário é motivado pela realização dos Campeonatos Estaduais nos primeiros meses do ano. A necessidade de mudança no calendário tem sido enfatizada há um certo tempo, mas poucas movimentações foram feitas nesse sentido. Somoggi cita como a temporada europeia se beneficia do atual modelo. “A pré-temporada é focada na principal e mais longa competição e o mercado de compra e venda de atletas também. O torcedor já se habituou a acompanhar pela mí­dia o vaivém do mercado de transferências” (Somoggi, 2017). Essa situação é refletida também nas bilheterias e no ganho financeiro das equipes. “Além é claro da renovação ou aquisição dos carnês para os jogos da principal competição. Os patrocinadores planejam as ações com seus clubes e com a liga, pensando em tudo antecipadamente. Assim, o impacto econômico é brutal. Tudo converge para a valorização da competição. Sem falar nas paradas obrigatórias nas datas FIFA. É tudo tão óbvio, que fica evidente o absurdo que vivemos no Brasil. Aqui precisamos mudar o calendário e a mentalidade do nosso futebol. Temos que valorizar o Campeonato Brasileiro de forma urgente!” (SOMOGGI, 2017) Longe dos objetivos deste trabalho é entrar no cerne da relevância dos campeonatos regionais e estaduais, o que caberia a um estudo exclusivo para levantar esta característica que talvez seja exclusiva do Brasil. Porém, essa forma de distribuir os jogos do ano ajuda a complicar a comparação do desempenho do nosso torneio de pontos corridos com o de outras ligas do mundo. As diferenças nesse calendário levaram a um outro fator que serviu para acirrar ainda mais a divisão entre os defensores e opositores de pontos corridos e mata-mata. A prorrogação da Copa Libertadores e da Copa do Brasil até dezembro. Campeão da Libertadores em 2017, o Grêmio poupou boa parte dos jogadores na competição nacional e “abriu mão” de buscar o título brasileiro, para alguns críticos. Com as competições paralelas, o Corinthians conquistou a taça com rodadas de antecedência: o Alvinegro deixou cedo a Copa do Brasil e não estava na Libertadores. 2.6 - Melhorou ou piorou Mas afinal de contas, o Campeonato Brasileiro perdeu a emoção pelo sistema de pontos corridos? A qualidade da competição piorou? Este é talvez o fator mais complexo e quase impossível de buscar algum tipo de mensuração. Os dados em si não podem abordar até que ponto o torcedor sente mais ou menos emoção com uma determinada fórmula de disputa e com outra, além evidente da opinião pessoal. O primeiro ponto importante a destacar são os argumentos de cada uma das duas alas. Quem defende os pontos corridos indica como ponto positivo que cada rodada terá peso para a definição do título. A liderança é acompanhada rodada a rodada, assim como a luta contra o rebaixamento. Três pontos contra o lanterna terão o mesmo peso do que o jogo diante do vice- líder. Logo, uma partida no meio da 15ª rodada tem peso decisivo para quem irá brigar pela taça de campeão. Do lado de quem tem preferência pelo mata-mata, a principal argumentação é a relevância dos jogos eliminatórios, a emoção da possibilidade de mudanças repentinas, o fato de que a decisão definirá quem é o campeão daquele ano. Talvez mais do que tudo é que o título só é definido

9 no último jogo, sem a chance de com rodadas de antecedência, a competição já esteja encerrada por conta de um líder que disparou na ponta. Não há o que questionar nos dois pontos de vista. São competições com vantagens e desvantagens. Nas 15 edições por pontos corridos, em nove vezes o título foi decidido por antecedência e em seis oportunidades a definição veio na última rodada. Curiosamente, as últimas seis edições tiveram um time campeão antes da rodada final, enquanto nos primeiros anos dos pontos corridos houve mais equilíbrio, pelo menos em termos de título. Uma outra diferença considerável é que apesar da conclusão do título, outras disputas como a vaga na Copa Libertadores e o rebaixamento, ainda estavam indefinidas no dia dos últimos jogos do Brasileiro. Ao contrário do mata-mata que encerra com dois clubes em campo, todos os 20 times jogam para encerrar a temporada - embora alguns apenas para cumprir tabela. Entre as questões que podem dificultar a competitividade e a importância das rodadas finais é a dificuldade dos clubes em se planejar para uma temporada longa. O Brasileiro, por exemplo, também tem se enquadrado na chamada “Lei de Guardiola”. O técnico espanhol afirmou ao jornalista Marti Perarnau no livro “Guardiola Confidencial” que o torneio por pontos corridos se perde nas oito primeiras rodadas e se ganha nas últimas oito. Um estudo de pesquisadores do Rio de Janeiro indica essa relevância.

“Com a dificuldade de tempo de treinamento e preparação dos times, por conta do atribulado calendário brasileiro, fazer um planejamento para que o clube inicie com sua capacidade total o campeonato brasileiro é de enorme importância, tendo em vista que muitos ainda estão disputando outras competições em paralelo, traz uma vantagem competitiva, já que em 8 oportunidades, os futuros campeões de cada ano mantinham uma pequena diferença em relação aos líderes, conseguindo ultrapassá- los ao longo do ano. Destacando que, em 72% das vezes o líder da 30ª rodada seria o campeão daquele ano, não permitindo reação dos adversários”.(GRAMACHO E BEZERRA, 2017)

Em que pese essa característica de cada competição é difícil mensurar se houve perda de qualidade dentro de campo. Um dado simples, apenas como curiosidade, é a média de gols na competição do período. Nos 15 anos de pontos, foram marcados 2,65 gols por jogo, enquanto na reta final do mata-mata, eram 2,56. A diferença é baixa e varia de campeonato para campeonato, não importa o modelo. Um exemplo é que o Brasileiro de 2017 teve 2,43 gols por confronto. Desde 1971, o Campeonato em que houve mais gols foi o de 2005, com 3,13 marcados por jogo, já na era dos pontos corridos. No Brasileiro de 2002, última edição do mata-mata, a marca dos 3 gols por partida também foi ultrapassada. No tumultuado ano de 1987, em que o Sport é reconhecido como campeão brasileiro, foram marcados 1,8 gol e em 1990, 1,9, tentos por partida. Todos campeonatos com finais. Essa situação mostra apenas a característica do Brasileiro como um todo e nem uma melhora ou piora por conta do modelo de regulamento. Ainda sobre a qualidade do espetáculo, é natural o sentimento de diferença e de queda de rendimento no futebol brasileiro desde o final dos anos 1990, impulsionado por mudanças nas legislações que facilitaram a negociação de atletas. A Lei Bosman, a Lei Pelé e o fim da lei do passe. Os jogadores, por justiça, passaram a ter mais liberdade para firmar contratos após o término

10 dos contratos e as negociações com a Europa aumentaram. Por outro lado, evidenciou também a perda de atletas desde as categorias de base para o futebol europeu e a dificuldade em manter ídolos no Brasil. Fatores que colaboraram para a dificuldade em manter um campeonato nacional com qualidade. Estes fatores, como se vê, são independentes e não tem relação com o regulamento da competição. Mas abre caminho para um dos principais tópicos desses últimos 15 anos do futebol brasileiro: a gestão dos clubes. 2.7 Gestão dos clubes Um dos principais levantamentos sobre as finanças dos clubes brasileiros é realizado anualmente pelo Banco Itaú. O último resultado da “Análise dos clubes Brasileiros de Futebol Itaú BBA 2017” é importante para ilustrar o crescimento das receitas dos clubes brasileiros nos últimos anos. Em 2016, por exemplo, houve alta de 20%, excluindo o pago em Luvas por emissoras de TV. A alta foi de 28% quando deixa de lado a quantia da transação de atletas. “Os números são expressivos, especialmente se analisados no contexto macroeconômico Brasileiro, que vem de dois anos de recessão, com queda de PIB consecutiva em 2015 e 2016”, diz o relatório. Este panorama mostra um perfil, segundo o Banco, de resiliência das finanças das equipes, mesmo com o pior momento da crise econômica do país. Isso se deve em especial ao contrato de longo prazo com as TVs, assim como a paixão dos torcedores que já eram fiéis aos times, que garantiram valores estáveis de bilheterias, publicidade e a as verbas da TV fechada. (ITAÚ, 2017) Aqui vale a reflexão se esse desempenho seria possível em uma competição que tivesse sido tão afetada por conta da mudança de formato, como pregam os críticos dos pontos corridos. Desde 2009, apenas em um ano as equipes brasileiras sofreram uma queda na arrecadação. Coincidentemente foi em 2014, período em que patrocinadores esportivos estavam concentrados em patrocinar a Copa do Mundo. O aumento nas cotas de TV tiveram peso significativo nessa alta das receitas. “Precisamos lembrar que em 2012 houve um reajuste significativo no valor das Cotas de Transmissão de TV do Campeonato Brasileiro, de maneira que esta análise precisa de uma segunda avaliação. Desta forma, se tomarmos o crescimento médio anual (CAGR) a partir de 2012, ano em que as Cotas aumentaram, temos que na Receita Total a Valor Presente o crescimento foi de 7%, enquanto que nas Recorrentes foi de apenas 2%”. (ITAU, 2017 p.9) Em 2016, inclusive, as cotas das TVs tiveram peso importante no crescimento das finanças. Ao todo, houve alta de 38% com relação a 2015, mesmo com a exclusão das Luvas em contratos com a TV fechada, segundo o relatório do banco. “Infelizmente não conseguimos fazer este ajuste para todos os clubes, uma vez que esta não foi uma informação claramente disponível nos demonstrativos financeiros”. Por outro lado, o ano de 2016 não foi tão bom na média geral com relação ao sócio-torcedor, programa que talvez tenha sido o mais afetado pela retração econômica. “Negativamente, a Bilheteria/Sócio Torcedor caiu 4% e Publicidade cresceu nominalmente apenas 1%, o que mostra o reflexo da situação econômica do País, mas também certa incapacidade dos Clubes de incrementar estas importantes fontes de Receita”. O aumento da dependência televisiva foi significativa. Em 2013, bilheteria e sócio torcedor significaram 21% das receitas dos clubes e a TV 35%. Porém foi um ano isolado. A televisão

11 passou a ter 49% de presença nas receitas e a bilheteria/sócio apenas 12%. A venda de atletas gira em torno de 12% e publicidade 13%. “Não resta dúvida que estamos diante de uma nova bolha no Futebol Brasileiro. Aumento das Receitas com TV, mas especialmente o volume significativo pago como Luvas em 2016 mudaram novamente o patamar de Receitas, mas também de Custos, Despesas e Investimentos. E como essas Receitas não se repetem infinitamente, 2016 foi um ano que mostrou certo equilíbrio, mas atitude populista dos Dirigentes. Desta forma, já miramos 2017 como uma ano de muita dificuldade para os Clubes que deixaram de fazer a lição de casa no ano passado” (ITAU, 2017) É fato que a melhora no atendimento dos torcedores ainda precisa de novos avanços por parte dos clubes brasileiros. No estudo “Influenciadores gerenciais e logísticos da arrecadação financeira dos clubes do futebol brasileiro - novas formas para maximização de recursos financeiros com a receita do Campeonato Brasileiro da Série A”, Alexandre Duque Souza e Evandro Rodrigues Faria, veem no formato da competição e na possibilidade de você ter a programação dos jogos, um fator que deveria ser mais determinante em atrair mais público aos estádios. “Para a maximização da receita com bilheteria os clubes devem ampliar o número de sócios torcedores presentes no estádio, novas estratégias de marketing deveriam ser criadas já que o coeficiente “tst” demonstrou maior representação positiva no modelo estimado[...] O clube que é mandante de jogos deve utilizar de campanhas e oferecer atrativos para aumentar sua lotação no estádio, já que o número de pagantes tem relação positiva no modelo” (SOUZA E FARIA, 2016)

Essa falta de ação dos clubes é reforçada por outros pesquisadores do Esporte. Em “Comportamento do torcedor: uma análise descritiva dos Campeonatos Brasileiros de futebol da série A em 2014 e 2015”, Marcelo Paciello da Silveira e Luiz Silva dos Santos uma compararam a importância da receita da bilheteria para os clubes europeus e para os brasileiros, com base no torneio nacional. O resultado foi que o dinheiro arrecadado via bilheteria tem 20% de participação na receita final dos clubes da Europa, enquanto no Brasil não chegou a metade disso.

Para melhorar essa participação e se tornar mais atrativo, eles apontaram para a relevância de trabalhar melhor a rivalidade dos clubes.

“O comportamento do consumidor constatado nos dados estatísticos comprovam que os jogos com maior rivalidade e/ou incerteza do resultado, jogos aos finais de semana e o desempenho da equipe aumentam a presença de público nos estádios e arenas. Portanto é possível concluir que um campeonato organizado com essas premissas já é um bom presságio de que teremos mais público nos jogos. Por outro lado, o desafio dos profissionais é desenvolver estratégias para os jogos e estádios com menor atratividade, quando o desempenho da equipe não está satisfatório, e quando os jogos são no meio da semana” (SILVEIRA E SANTOS, 2016).

Uma outra análise que corrobora essa interpretação sobre como o Brasil não conseguiu chegar uma posição melhor em termos de gestão. “Os Clubes Brasileiros e os Modelos Internacionais de Gestão do Futebol: falta de transparência, baixa competitividade mercadológica e pífia performance esportiva” de Ary José Rocco Júnior. Em uma análise sobre o relatório Brand Finance Football 50, Júnior atesta que nenhum clube apareceu entre os 50 com maiores marcas no mundo. O problema está em como o futebol brasileiro ainda esbarra em modelos obsoletos “determinados pela força política de dirigentes” e com ações que, por vezes, ainda não buscam

12 profissionalizar a administração desses clubes. “A falta de profissionalização da gestão no Brasil tem contribuído para o empobrecimento do nosso futebol e uma queda do posicionamento mercadológica das agremiações nacional”, analisa.

Na Europa, há três modelos básicos de gestão: um sistema privado, com a figura do dono e mais presente em países como Inglaterra e Itália; sistema associativo, comum na Espanha; e o misto que mescla ambos. Apesar das possíveis diferenças, todos como característica valores como a profissionalização e a transparência.

“Por outro lado, no Brasil, nossos principais clubes são instituições de Direito Privado, sem fins lucrativos, regidos por estatutos ultrapassados, sem políticas claras de transparência e gerenciados por amadores, em geral, voluntários. Não há interesse e vontade política para mudanças, os torcedores não detêm poder formal, com uma lógica social do esporte, diferente da lógica do mercado encontrada nos clubes europeus” (ROCCO JÚNIOR, 2017).

Apesar deste ponto ainda não ter avançado consideravelmente no futebol brasileiro, a ideia de ampliar o programa de sócio-torcedor teve crescimento em boa parte dos grandes clubes brasileiros, o que também pode ter contribuído para uma renda melhor. Somoggi argumenta que o ano de 2003 foi um marco e que os pontos corridos entraram junto com outros avanços no esporte brasileiro. O mercado atingiu R$ 3,5 bilhões em 2012 no faturamento dos 100 maiores clubes, com crescimento de 16%.

“O mercado se beneficiou muito de um calendário anual estabelecido e o respeito a continuidade das regras. No mesmo ano tivemos a aprovação do Estatuto do Torcedor e Lei de Responsabilidade do Futebol, que colaboraram para aprimorar o ambiente político e legal do nosso mercado. As mudanças verificadas nessa última década, tiveram impactos diretos nos negócios gerados pelos clubes brasileiros” (SOMOGGI, 2013). Apesar desses problemas, o campeonato por pontos corridos tem tido aceitação por quem frequenta os estádios e alguns dados demonstram um grau de familiaridade com o torneio. Em “O nível de satisfação do torcedor com o Campeonato Brasileiro de Futebol Série A 2016”, Lucas Reis, Marcelo Paciello da Silveira, e Yuri Spacov, do Grupo de Estudos e Pesquisa em Esporte, analisaram o comportamento da torcida com o decorrer da competição e indicaram a satisfação em relação ao torneio. “Foi possível detectar que, com o passar do campeonato o nível de satisfação foi aumentando, com isso foi despertando maior interesse por parte dos torcedores devido a consolidação dos blocos de disputa do campeonato (título, zona da Libertadores, rebaixamento)” (REIS, SILVEIRA e SPACOV, 2016).

Nesse sentido, aqueles que estão dentro de programas como o sócio-torcedor foram os mais satisfeitos e representavam um perfil com rendas mais altas.

Há por fim, um fator interessante sobre o futebol brasileiro e que sinalizam um caminho complicado a ser percorrido. A sensação de que os resultados no país não estão ligados ao planejamento. Essa impressão, um dos fatores que facilita a manutenção do amadorismo, pode ter diminuído, mas ainda está presente na cultura dos dirigentes. Para Ronaldo Vasconcellos Fonseca, administrador de empresas e membro do Gesbol, uma vasta mudança é necessária. “Em um cenário globalizado e altamente competitivo, os clubes que não entenderem a

13 necessidade de profissionalização de suas linhas administrativas para a obtenção de melhores resultados sustentáveis ao longo do tempo, tendem a desaparecer.”(FONSECA, 2008)

Conclusão

Não há uma fórmula perfeita de campeonato. Da mesma forma, não há uma forma maligna, terrível e completamente sem validade. O debate sobre os 15 anos do Campeonato Brasileiro por pontos corridos tem sido permeado de ataques vazios, muitas vezes por conta de uma lembrança saudosista do que foram grandes competições nacionais nos anos 1990. Os dados levantados por este trabalho mostram que não há uma queda de público, uma redução nas verbas de TV nem um enfraquecimento das equipes. Ao mesmo tempo, não quer dizer que o torneio é perfeito e que tem tido uma qualidade fora de série.

Os pontos corridos diminuíram a distribuição de times que podem brigar pelo título. Menos estados tiveram clubes campeões e menos regiões do país aparecem na luta pela taça de melhor do Brasil. Há pontos negativos em não ter uma grande decisão na última rodada, por um lado. Por outro, o formato permitiu que todos os clubes joguem na última rodada e que várias definições, como vaga na Copa Libertadores e o rebaixamento sejam decididos nesse momento.

A média de gols teve uma leve melhora, enquanto o mesmo pode ser visto com relação ao público nos estádios. Em meio a isso, houve maior valorização da TV, influenciado, claro, por outros fatores, como a concorrência de outras emissoras e a negociação individual feita por cada time, por conta do fim do Clube dos 13.

Em que pese todos esses fatores e como o mata-mata tem os méritos de ter uma emoção diferenciada na reta final, assim como os pontos corridos conseguem dar importância a todas as rodadas, há diversos pontos que levam a um impasse no futebol brasileiro, em especial na gestão das equipes e do Campeonato. É impossível mensurar até onde o Campeonato pode ir, com um calendário diferente de todo o planeta. Não se aproximar das datas do futebol europeu complica o planejamento e a chance dos clubes se manterem mais competitivos. O excesso de jogos, entre abril e dezembro, não garante que os clubes que comecem sejam os mesmos do fim da competição.

Além disso, as novas arenas surgidas no período da Copa do Mundo ajudaram alguns times a melhorarem seus serviços de sócio-torcedor. Mas a receita de bilheteria/sócio-torcedor ainda é pequena na comparação com os demais países e faltam campanhas e ações que estimulem o torcedor a acompanhar o campeonato. As equipes ainda são dependentes do que virá da televisão para conseguir pagar suas dívidas.

Enfim, para que o Campeonato seja mais atrativo e que o futebol brasileiro atraia mais pessoas para seus campos na quarta e domingo é preciso uma profissionalização cada vez maior das gestões e estratégias que facilitem esse meio. E todas essas transformações e a busca por mais qualidade no espetáculo não surgem com um botão mágico chamado mata-mata, mas com trabalho e profissionalização.

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Anexos

Média de público do Campeonato Brasileiro ano a ano Média de Time com maior Média do clube com Ano Público média melhor público 2017 15.975 Corinthians 40007 2016 15.200 Palmeiras 32479 2015 17.051 Corinthians 33637 2014 16.537 Cruzeiro 29678 2013 14.969 Cruzeiro 28911 2012 13.148 Corinthians 24299 2011 14.976 Corinthians 29424 2010 14.800 Corinthians 27446 2009 17.807 Flamengo 40035

18 2008 16.992 Flamengo 40695 2007 17.461 Flamengo 39221 2006 12.300 Grêmio 25630 2005 13.600 Coritnthians 27330 2004 7.556 Corinthians 13547 2003 10.468 Cruzeiro 26109 2002 12.866 Fluminense 25666 2001 11.401 Atlético MG 30679 2000 11.546 Fluminense 20219 1999 17.018 Atlético MG 42322 1998 13.488 Cruzeiro 28384 1997 10.497 Atlético MG 23342 1996 10.913 Atlético MG 25449 1995 10.332 Atlético MG 21072 1994 10.222 Atlético MG 22801 1993 10.914 Corinthians 37300 1992 16.814 Flamengo 42992 1991 13.760 Atlético MG 26763 1990 11.600 Atlético MG 26748 1989 10.857 Flamengo 21991 1988 13.811 Bahia 35537 1987 20.877 Flamengo 47610 1986 13.423 Bahia 46291 1985 11.625 Bahia 41497 1984 18.523 Flamengo 38543 1983 22.953 Flamengo 59332 1982 19.808 Flamengo 62436 1981 17.545 Flamengo 43614 1980 20.792 Flamengo 66507 1979 9.136 Internacional 46491 1978 10.539 Palmeiras 31359 1977 16.472 Atlético MG 55664

19 1976 17.010 Corinthians 47729 1975 15.985 Internacional 51962 1974 11.601 Vasco 36619 1973 15.460 Flamengo 33660 1972 17.590 Corinthians 40719 1971 20.360 Fonte: RSSSF Brasil

Campeões na era dos pontos corridos Clubes vencedores Títulos Corinthians 4 São Paulo 3 Cruzeiro 3 Fluminense 2 Flamengo 1 Palmeiras 1 Santos 1 15

Estados dos campeões Títulos Porcentagem SP 9 60 RJ 3 20 MG 3 20 Regiões do país Sudeste 15 100%

Campeões dos últimos anos do mata-mata

Times Títulos Corinthians 3

20 São Paulo 1 Palmeiras 2 Santos 1 Atlético PR 1 Grêmio 1 Vasco 3 Botafogo 1 Bahia 1 Flamengo 1 15

Estados dos campeões

Estados Títulos % SP 7 46,7 RJ 5 33,3 BA 1 6,7 RS 1 6,7 PR 1 6,7 Regiões Títulos % Sudeste 12 80,0 Sul 2 13,3 Nordeste 1 6,7

Gols por edição do Campeonato Brasileiro edição jogos gols campeão Campeonato Brasileiro 2017 380 923 2,43 Campeonato Brasileiro 2016 379 912 2,41 Campeonato Brasileiro 2015 380 897 2,36 Campeonato Brasileiro 2014 380 860 2,26 Campeonato Brasileiro 2013 380 936 2,46 Campeonato Brasileiro 2012 380 940 2,47

21 Campeonato Brasileiro 2011 380 1.017 2,68 Campeonato Brasileiro 2010 380 978 2,57 Campeonato Brasileiro 2009 380 1.094 2,88 Campeonato Brasileiro 2008 380 1.035 2,72 Campeonato Brasileiro 2007 380 1.047 2,76 Campeonato Brasileiro 2006 380 1.030 2,71 Campeonato Brasileiro 2005 462 1.448 3,13 Campeonato Brasileiro 2004 552 1.536 2,78 Campeonato Brasileiro 2003 552 1.593 2,89 Campeonato Brasileiro 2002 339 1025 3,02 Campeonato Brasileiro 2001 386 1105 2,86 Campeonato Brasileiro 2000 330 962 2,92 Campeonato Brasileiro 1999 250 710 2,84 Campeonato Brasileiro 1998 297 851 2,87 Campeonato Brasileiro 1997 351 969 2,76 Campeonato Brasileiro 1996 290 787 2,71 Campeonato Brasileiro 1995 282 712 2,52 Campeonato Brasileiro 1994 310 744 2,40 Campeonato Brasileiro 1993 254 643 2,53 Campeonato Brasileiro 1992 216 495 2,29 Campeonato Brasileiro 1991 196 435 2,22 Campeonato Brasileiro 1990 204 386 1,89 Campeonato Brasileiro 1989 195 391 2,01 Campeonato Brasileiro 1988 290 550 1,90 Campeonato Brasileiro 1987 241 433 1,80 Campeonato Brasileiro 1986 538 1125 2,09 Campeonato Brasileiro 1985 516 1240 2,40 Campeonato Brasileiro 1984 310 747 2,41 Campeonato Brasileiro 1983 322 868 2,70 Campeonato Brasileiro 1982 291 802 2,76 Campeonato Brasileiro 1981 306 754 2,46 Campeonato Brasileiro 1980 307 826 2,69

22 Campeonato Brasileiro 1979 583 1366 2,34 Campeonato Brasileiro 1978 792 1771 2,24 Campeonato Brasileiro 1977 485 1204 2,48 Campeonato Brasileiro 1976 411 950 2,31 Campeonato Brasileiro 1975 430 975 2,27 Campeonato Brasileiro 1974 447 948 2,12 Campeonato Brasileiro 1973 656 1267 1,93 Campeonato Brasileiro 1972 352 731 2,08 Campeonato Brasileiro 1971 229 419 1,83

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