Diferentes paisagens do município de Ubatuba-SP: um estudo geográfico

Kelly Cristina Melo FFLCH-USP Sueli Ângelo Furlan FFLCH-USP

p. 650-666

Como citar este artigo: revista MELO, K. C.; FURLAN, S. A. Diferentes paisagens do mu- nicípio de Ubatuba-SP: um estudo geográfico. Geousp – Es- paço e Tempo (Online), v. 21, n. 3, p. 650–666, dez. 2017. ISSN 2179-0892.

Disponível em: . doi: 10.11606/issn.2179-0892. geousp.2017.116478.

Volume 21 • nº 3 (2017) Este artigo está licenciado sob a Creative Commons ISSN 2179-0892 Attribution 4.0 License. GEOUSP fenômenos resultantesdarelaçãoentreadinâmicasocialenatu Para ageografia,oestudodapaisageméfundamentalparacompreensãodos Resumo represented by environmental cartography. The landscape compartmentalization ronment, ofspatializing andhighlightingtheimportance tobuildupasynthesis aspects of physicalgh thecomprehension ofthedetermining and socialenvi dscape unitsinthecityofUbatuba-SP, consideringthelandscapeanalysisthrou natural spaceto be evaluated. This workpresentedhereisaboutidentifyinglan ronmental dynamics, allowingtherelation betweentime/socialspaceandtime/ derstand thephenomena that resultoftherelationship betweensocialandenvi In Geography, itisknownthattoun landscapestudyisofbasicimportance Abstract SP: ageographicstudy Different landscapesofthemunicipalityUbatuba- Ubatuba.física. Geografia Palavras-chave: que compõeessapaisagem. cionais, resultandonaidentificaçãode 12 unidadesquerepresentamomosaico baseou-se, principalmente, em aspectos geomorfológicos, geológicos e vegeta paisagísticadeUbatubatografia Ambiental.Acompartimentação emunidades da espacializaçãoparaaconstruçãosíntese, representadapormeiodaCar esocial,destacandoaimportância do estudodascondicionantesmeiofísico gem nomunicípio deUbatuba daavaliação (SP),partindo dapaisagempormeio tempo/espaço natural. Este trabalho trata da identificação das unidades da paisa avaliarreza, permitindo osresultadosda relaçãoentreotempo/espaçosociale Diferentes paisagensdomunicípio (Online), SãoPaulo, v. 21,n.3,p. 650–666, dez.2017 um estudogeográfico Paisagem. Ambiental. Unidadesdapaisagem.Cartografia de Ubatuba-SP:

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MELO, K. C.; FURLAN, S. A. GEOUSP diferentes ambientesque condicionaramdistintosprocessos deocupaçãoetransformação. única comumagrande complexidade noprocesso deocupaçãoeorganização doespaço, tendo de qualidadedomeioecomoelementoidentidade dasociedade. ressaltar queemUbatuba apaisagemapresenta-secomorecurso econômico, comofator pansão do mercado imobiliário (Adams, 2000; Marcílio, 2005; Luchiari, 1998). Importante como recurso para asuamanutençãoemmeioáreasdevastadasedegradadaspelaex florestas eecossistemasassociadosfossem transformados emUnidadedeConservação, público, anecessidadedequeosremanescentes dogovernoestadual,adefinir nafigura seus equipamentos, comdrásticasreduções deambientesoriginais, oquelevou opoder de acumulação, diferentesdasquealiexistiam. -industrial asinterferênciasnestascomunidades vieram atreladas asnecessidadesmateriais e renciados, comocomunidades caiçarasequilombolas. Comachegadadasociedadeurbano ralidades, apresentandosetoresurbanoserurais, modosdevidadife queaindapreservam (Ab’Saber, 1982;Rodriguez;Silva,2002;Sansolo, 2002). das naspaisagens, revelandoapresença dasváriasmodificaçõesocorridaseemtrânsito considerando queasociedadeurbano-industrial,comsualógica,produz marcas profun investigado insere-senocampodeestudossobreasrelaçõesentre asociedadeenatureza, os resultadosdarelaçãoentreotempo/espaçosocialenatural. Oproblema resultantes darelaçãoentreadinâmicasocialenatureza,avaliar permitindo paraacompreensãodosfenômenos tural, socialeculturalédefundamentalimportância sociedade enatureza acabaporlegarumtemáriosingularericoaestaáreadoconhecimento. devido suacapacidadedeabarcar umgrandelequedetemas, umavezqueainterfaceentre ciais emsuasdiversas escalas. Por seucaráter abrangentedestaca-senosestudosambientais Introdução A geografiainvestiga anatureza easociedade, buscandoesclarecerosarranjos espa ba. Physical Geography. Keywords: that composesthat landscape. tative aspects, resultingintheidentification of12units, representing themosaic of Ubatubageologicalandvege inunitswasbasedmainlyongeomorphological, A diversidade dapaisagememUbatuba condicionaacriação deumapaisagemlitorânea resultouemumespaçoapropriadoEsta interferênciaexterna pelaurbanizaçãoe A áreadeestudo, Ubatuba (Figura1),foi escolhidaporapresentardiferentestempo A paisagem,concebidacomoumsistemadeconceitosformado pelotrinômio:na (Online), SãoPaulo, v. 21,n.3,p. 650–666, dez.2017 Landscape. Landscapeunits. Environmental Cartography. Ubatu ------651

MELO, K. C.; FURLAN, S. A. GEOUSP geografia deKarlRitter. centrada noHomeme naSociedade, quefoi aconcepçãodageografiahumana ouaantropo físicaeaecologiabiológica eumavisão asbasesparaageografia chaev (1846-1903),firmando voltada para a natureza, do russo Doku com as concepções de Humboldt e posteriormente consequências osurgimento deduasformas deanalisaraconfiguraçãodoplaneta:umavisão da natureza com asociedadefoi empreendidadentro docontextodageografia,tendocomo Alexander Von Humboldt(1769-1859)eKarlRitter(1779-1859).Aanálisedasinterações culo XVIIIenosprincípiosdoséculoXIX,com ostrabalhosdeEmmanuelKant(1724-1804), uma visãototalizadoradasinteraçõesdanatureza comasociedadeiniciou-senofinaldosé sendo damesmaépocaoconceitogeográfico depaisagem(Sansolo, 2002). Aideiadeter funcionando comoumparâmetro deanáliseespacial. compõe. Entretanto, paisagemnãoéomesmoqueespaço(Santos, dele, 1996),masfazparte emdiferentesescalaseclassificadadeacordocomummétodoouelementoquea cartografada visual deinteraçõesentreelementosnaturais esociaisque, porocuparumespaço, podeser A paisagem nocontexto geográfico Figura 1–Localizaçãodaáreadeestudo Durante o século XIX, a geografia assume caráter de ciência e de disciplina acadêmica Na geografiaocidentalcontemporânea,paisagempodeserentendidacomoproduto (Online), SãoPaulo, v. 21,n.3,p. 650–666, dez.2017 fonte: AdaptadadeINPE(2002)eIG(2006).Organização:Melo(presenteestudo). - - - 652

MELO, K. C.; FURLAN, S. A. GEOUSP 1 integração enteonatural eohumano. e antropogênica e doregimenatural aelascorrespondentevisa, sobretudo, promover amaior gundo Monteiro (2000),amodelizaçãodosgeossistemasàbasedesuadinâmicaespontânea em realizarumaanáliseintegradadosfatores naturais esociaisparaoseuentendimento. Se geográfica paraoentendimentodogeossistema. Para esseautorodesafio dogeógrafo está trand, 1971). os outros fazem dapaisagemumconjuntoúnicoeindissociável eemconstanteevolução(Ber dinâmica deelementosfísicos, biológicoseantrópicos quereagindodialeticamenteuns sobre espaço,é asimplesadiçãodeelementosocorrentesemdeterminado masumacombinação pediram acompreensãoamplaeglobaldoquedefato sejaa paisagem, umavezque, elanão estudo dapaisagemacarretouanálisesfragmentadascomcaracterísticasanalíticasque im carece deumareflexãometodológica.Desta afaltadereflexãoquantoao métodono forma, do deforma equivocada,todavia, quandoaquestão tratapaisagem daconceituaçãodotermo consistia essaorganização emníveishierárquicos. os seresvivossãoocorrênciasorganizadas eque osbiólogostinhamquedescobrirem cimento daideiadegeossistema.Na TGS, háumaconcepçãoorganísmica temas (TGS),etambémnaentãorecenteEcologia(Megale, 1984),resultandonoestabele aí aideiade “espaço vital”. da sociedade, sendoimpossívelconcebê-lasem anatureza emseuentorno, delimitava-se brevivência paraasociedadeedeacordocomsuasideias, omeioeracondiçãoparaêxito danaturezacaracterizou-se pelaênfasedadaàimportância comorecurso emeiodeso expressão espacialdasestruturasdomeioenfocada pelacorrentenaturalista, seudiscurso raes, uma 1995),umaciênciadaspaisagensconsideradasobaóticaterritorial,significando causas existentesnanatureza; suasideiasforam assimiladaspelaLandschaftskunde(Mo fluenciou oconhecimentodaspaisagens, comsualinhadepensamentosobreasrelaçõese encabeçadas pelo alemão Friedrich Ratzel (1844-1904), este, do século XIX in em fins alemã, eambiental,empreendidopelasconcepçõesradicaisdageografia minismo físico uma visãomecanicista. Também entrava emcontradiçãocomavisãoextremadodeter com avisãotradicionaldaanáliseisoladadoscomponentesnaturais, empreendidossob concreto. componentes naturais (rochas, relevo, clima,água,soloevegetação)umespaçofísico XX, apresentava-se com o conteúdo que expressava a ideia da interação entre todos os por HumboldteDokuchaev, entre outros, noséculoXIXenosprimeiros anosdoséculo NatraduçãofeitaporVale oneologismo (2004),conservou-se “organísmico” para indicarquesetrata deumaespecial intenção doautorexplicadapelo contexto. Esse conceitointegradorexpressava emcontradição anovafísica visãodageografia alemãoLandschaft,desenvolvidaO conceitodepaisagemdesignadacomotermo No Brasil,Monteiro (2000)vaiesboçarpormeiodemodeloseesquemasumaproposta paisagem é impreciso e por isto mesmo utiliza (1971), o termo De acordo com Bertrand O enfoque passaentãoaserdadoumaabordagem apoiadana Teoria GeraldosSis (Online), SãoPaulo, v. 21,n.3,p. 650–666, dez.2017 1 , indicandoque ------653

MELO, K. C.; FURLAN, S. A. GEOUSP mentos constitutivosda paisagem. com autilizaçãodosSistemas deInformações Geográficas (SIG), comasobreposiçãodeele dade, 2001), síntese esta obtida revelando dinâmicas e arranjos espaciais singulares (Martinelli, sendo porissoumestágiocognitivoavançado. espaço,trução intelectualquetraduzaexperiênciae o conhecimentosobreumdeterminado um dosresultadosfoi ummapasínteseque, segundoLameira (2009),éproduto deumacons cionam asrelaçõesexistentesnaáreadeestudo, tantonoaspectonatural comosociocultural, meios físico, bióticoesocioeconômico, definindoassim característicasquecompõemecondi doconhecimentodosprincipaisatributosque partiu daáreadeestudoesuasparticularidades. sentada, destacamos a situação de Ubatuba, com uma classificação dasunidades dapaisagem altitude encontra-sealteradae, aquiapre deacordocom os resultadosdacompartimentação porflorestasberta ombrófilas densas, encraves decerrado, mata ciliaremanchasdecampos de planíciescosteiras, eplanaltosserranos. originalmenteco escarpas Essacompartimentação aregiãoemunidadesdapaisagem,destacandoasformações (1971),compartimentou Bertrand nos usospresentes. curamos compreenderomomentoatual, avaliando inclusiveoserrosdecorrentes eacertos naturais ehumanasacrescidadostemposdecorridos, daevoluçãonosusospaisagempro postas metodológicasexistentes, dasrelações sobretudo aquelasqueressaltamaimportância nível inferior. condição deestruturaçãohorizontal,comumaorganização regulardepaisagensmenores sagem atual, deunidadesmaiores, sendoqueasunidadesmenoresformam partes ilustrandoa Silva, 2002)consequênciadasuagêneseehistóriadedesenvolvimento esituaçãodapai principal dequalquerpaisageméahomogeneidadesuascondiçõesnaturais (Rodriguez; apaisagemnaturaluma dimensãosocioecológica,articulando eapaisagemcultural.Ofator procurar asinterações, aspontesderelacionamentocomossistemassociaiseculturais, em paisagem, tratando nãodeestudaraspropriedades dosgeossistemasnoestadonatural, mas (1899-1975), nos anos 1930, sendo considerada a disciplina que analisava funcionalmente a sendo estesoembasamentoessencial. das sistemasambientaisporexcelência,fundamentadosnorelevoenageomorfologia, como te pela escola francesa de Tricart (1977), com as unidades ecodinâmicas, que foram considera ou geoecologia(Ross, 2006).Aecogeografia,especificamente, foidesenvolvida principalmen a aperfeiçoamentoedetalhamentos. ços em estudo, mesmo que estes estudos tratem de um nível de integraçãopreliminar, sujeitos maior número defatores antrópicos querespondampelopadrãodeusoeocupaçãodosespa tegrada osprincipaisatributos naturais queinteragemnoespaço, acompanhadossempredo A geoecologia das paisagens tem seus antecedentes, na definição do alemão Carl Troll Na décadade1980,ageografiadaspaisagenscomeçouserdenominadaecogeografia Ab’Saber(1982),existeanecessidadedeseapresentar in Como afirmou forma Neste caso, pormeiodomapasíntesepodemosapreenderdemodoabrangente areali A análisesedeucombasenascorrelaçõesdesenvolvidas entreoscondicionantesdos Cruz (1972),emestudossobreoLitoralNorte, combasenosautores Tricart (1977)e Com estaabordagem,buscandoanalisarapaisagemdeUbatuba, embasadosnaspro (Online), SãoPaulo, v. 21,n.3,p. 650–666, dez.2017 ------654

MELO, K. C.; FURLAN, S. A. GEOUSP civil eapesca. as principaisatividades econômicasdesenvolvidas nomunicípio são oturismo, aconstrução ção flutuante de cerca de 300 mil pessoas em épocas de temporada (dezembro a março), Instituto Brasileiro deGeografiaeEstatística (IBGE, 2011), éde78.801,comumapopula Latitude Sule45° 04’ 08” Longitude, apopulaçãolocal,deacordocomoúltimoCensodo Área deestudo volvida nomunicípio. em Ubatuba e o modo como isto interfere na dinâmicanatural e social historicamente desen baseada noslimitesadministrativos municipais. tação eaocupaçãohumanacomofatores básicosdedelimitação espacial,paraaabordagem das unidadespaisagísticasdomunicípio deUbatuba. cas elaboradaseoscruzamentosrealizadosfoi possível construirarepresentaçãocartográfica poration®, respectivamente. com autilizaçãodossoftwaresArcgis 9.3®eMapinfo 7.0®,daESRI®ePBMapInfo Cor de SãoPaulo (Fapesp),entre2005e2006. Aelaboraçãodomaterial cartográfico foi realizada município deUbatuba em projeto financiadopelaFundaçãodeAmparo à Pesquisa doEstado fias aéreasutilizadasna fotointerpretação, umavezqueainstituiçãodesenvolveu pesquisano digitalizada foi fornecida peloInstitutoGeológico deSãoPaulo (2006),assimcomoasfotogra dabasecartográfica de conhecermaisdetalhadamenteaárea.Ressalta-sequegrandeparte Aindanestaetapa sentação cartográfica. foi realizadonovo trabalhodecampo, comointuito utilizado naconstruçãodeumcenárioanalíticodapaisagemesuasíntese, pormeiodarepre tura daquelapaisagem.Foi feitaaavaliação dasanálisesrealizadaseaverificaçãodoqueseria docruzamentodosdadoslevantadosejátrabalhados,partir comoobjetivodecomporaestru assim comosuadinâmicadefuncionamentodaestruturadoambiente. vantamentos de campo, nos quais os componentes da paisagem começaram a ser verificados, zando seuselementosdentro deumproblema global.Nessaetapa,tambémseiniciaramosle leção das informações relevantes para a pesquisa, localizando os problemas parciais e organi prévias dasobrasconsultadas. elaboradosfichamentos,para apesquisa(bibliográficasecartográficas), resumoseanálises A etapainicialcaracterizou-sepelacoletaecompilaçãodedados. Foram levantadasasfontes tória edosváriosusosdesuapaisagem,apesquisafoi desenvolvida emquatro etapasbásicas. dos atributos domeio, existentesnomunicípio deUbatuba, conformados aolongodesuahis Procedimentos metodológicos A segundaetapafoi caracterizadapelaavaliação dosdadoscoletados, seguidadase Desenvolvida combaseemumainvestigação analíticasobreasprincipaiscaracterísticas O município deUbatuba estálocalizadoentreascoordenadasgeográficas 23°26’ 13” uma avaliaçãoA leitura da correlação destes itens permite de como ocorre a ocupação Na definição dasUnidadesde Paisagem deUbatuba, considerou-se orelevo, avege etapa,final,dapesquisa,comosdadosjátrabalhados,A quarta com as basescartográfi A terceira etapacaracterizou-sepelodiagnósticodaárea,seusprincipaisatributos a (Online), SãoPaulo, v. 21,n.3,p. 650–666, dez.2017 ------655

MELO, K. C.; FURLAN, S. A. GEOUSP cerca de80%daáreadomunicípio eacaba sendoograndelimitadordasinstalaçõesde lote preservação, comapresençadoParque Estadualda SerradoMar(PESM),querepresenta mente aquelasrelacionadas àsresidênciasdeveraneio, ousegundaresidência,assimcomoa localizavam-se emsuaspraias, apenasnodecorrerdoséculoXVIII. chegandoaossertões rio. SegundoMarcílio dasroças, (2005),amaiorparte fazendas emoradiasdaantigaUbatuba nhou impulso. Emconsequência,houvegrandeexpansãourbana,movida pelosetorimobiliá para o município de Ubatuba, que até esse período desenvolvia-se de maneira reduzida, ga também contribuiuparaodeclíniodasatividades emUbatuba. ligadasaocaféeporto rias advindasdoVale. Alémdisso, a ligaçãoférreaentreoPlanaltoPaulista e acidadeSantos são maiores, comissoaeconomialocaldeclinaeregiãopassaserentrepostodasmercado Paraíba eoscafeicultorestrocam Ubatuba pelasterrasdoVale, ondeosoloeaprodutividade município deSãoLuizdoParaitinga. Emmeadosdadécadade1850,ocaféchegaaoVale do comoacriaçãodaRodoviaoportunidades OswaldoCruz(SP-125)fazendo aligaçãoaté o deSãoPaulo,transformar UbatubadoLitoralNorte emporto abrindocaminhoparaoutras atraindo imigranteseuropeus emovimentando aeconomialocal.Ocaféfoi responsável por áreas impróprias, aSerradoMarouasmargens doscursos d’água. segmento marginalizado, habitandodeforma precáriaossetoresperiféricosdomunicípio, em pela demandanaindústriaenosserviços, ficandonomercado informal, constituindo assimum tados ao turismo. Entretanto, nem sempre o contingente populacional existente é absorvido urbanização litorâneaeosmovimentos migratórios vol decorrentesdademandadeserviços ofatora residência secundária deveraneio que setorna numericamentemaisexpressivoda comoelementoativodécadas de1970e1980.Observa-se nesteprocesso fenômenoscomo urbanização, comacriaçãoderotas deacessibilidade comainstalaçãoderodovias, entreas ao longodacostapaulista,avançando nasencostascomroças desubsistência. europeu comoindígena(Cândido, 1987),passavam aocuparaspequenasplaníciesespalhadas eSãoSebastiãoascomunidades caiçaras, frutodamiscigenaçãodobranco a populaçãoque, ouemigrava, ouseconcentrava nasededos municípios, comoUbatuba, zava, integrandoaregiãoàmetrópoleEntretanto, portuguesa. comodeclíniodessesprodutos, as encostasdaSerradoMareramocupadaspelaslavouras eumpequenocomércio sedinami da dinâmica da economia colonial, noauge da produção cafeeira,as fazendas se expandiame estabeleceram engenhos de açúcar e aguardente, culturas de anil e fumo. além de importantes Durante osséculosXVIeXVII,foram concedidasváriassesmariasnoLitoralNorte, ondese com oLitoralSuldoestado, opovoamento foi tardio, tendoseiniciadoemfinsdoséculoXVI. res (Adams, 2000),dificultandoacomunicação comoplanalto. Aocontráriodoqueocorreu devidoàresistênciaoferecidapelosindígenaseporsuascondiçõesgeográficaspeculia parte Aspectos históricosdeusoeocupação Para Luchiari(1998),entre os séculos XVII eXIX,a paisagem litorâneaficoua mercê nãofavoreceuO LitoralNorte acolonização doeuropeu, noiníciodoséculoXVI,em Ubatuba congrega emseuterritóriodiferentesfunções:asligadasaoturismo, principal No início da década de 1970, com a conclusão da rodovia BR-101 o atrativo turístico Em relação ao uso do solo, no início do século XIX, iniciou-se a plantaçãodecafé, vivenciouumcontínuoprocessoDe acordocomMoraes(1999),oLitoralNorte de (Online), SãoPaulo, v. 21,n.3,p. 650–666, dez.2017 ------656

MELO, K. C.; FURLAN, S. A. GEOUSP tas daSerradoMaremorros associados, inclusiveporfavelas (Silva,1995). cia ocorreuainteriorização dapopulaçãolocal,comissotemcrescido aocupaçãodasencos interior com atividade agrícola e nas praias por pequenas casas de pescadores. Em consequên acabou pordescaracterizar asantigasformas deocupação, marcadas pornúcleosisoladosno centro histórico, asresidênciasdeveraneio, pousadas, voltadosaoturismo. hotéiseserviços temporária, paraomeionatural eoturismo. pelo esgotodoméstico. geram repercussões Essesconflitos negativas paraapopulaçãolocale ao aumentodefrequênciaturística,quelevaria paraosriosepraiasacontaminaçãodaságuas poluição hídricaagravada pelascarênciasdeinfraestruturasaneamentobásicoassociadas precárias e as frentes de ocupação constituídas pelas residências secundárias e o segundo é a recorrentes,residências secundárias e dois tipos de conflitos oprimeiro sãoasviasdeacesso e o turismo/ocupação de residência setores secundária. funcionais, a conservação/preservação e incompatibilidadesflitos de uso e ocupação do espaço, dos fundamentada na determinação 800.000, comoRéveilloneCarnaval. de7a10dias,de 300milturistaspermanecendo chegandoemalgunsmomentosapicosde condições deinfraestruturaéqueemferiadosoutemporadasverãoacidaderecebecerca uma ocupaçãodispersa, resguardadadaocupaçãoturísticaeespeculaçãoimobiliária. tudo no setor mais ao sul do município, avançando na costa. No setor norte, há linearmente planície costeiradosetorcentralmunicípio. núcleo mais antigo de ocupação, o setor mais densamente ocupado, se tornou formado pela com a presença de bairros periféricos. O centro destinado à pesca, histórico e o pequeno porto pelo surgimento deloteamentospararesidênciasveraneioaté chegaraatual configuração na orla,nesteprocesso, ocorreoprogressivo englobamentodeterrenos vizinhosàáreacentral abrigando praiasdiversificadas (IPT, 1991). pontões ecostões, cujaextensão, considerando saliências ereentrâncias, édecerca de140km, definindo uma extensão linha de contatorecortado com o mar, com baías, sacos, enseadas, nicípio variaentre5kme17km,aproximadamente. Junto aooceanooperímetro ébastante sudeste-nordeste comcerca de60kmextensão. Nosentido transversal, alargura domu Os cenáriosdistintosdeUbatuba coíbem ainstalaçãodeloteamentosemáreasmenosurbanizadas. Mata dessafloresta Atlântica,impedemcorte emestágiosinicial,médioou avançado, também (Brasil, 1993), e a Lei no 11.428, de 22 de dezembro de 2006 (Brasil, 2006), ambos tratando da amentos. Outros diplomaslegais, notadamenteoDecretono750,de10fevereiro de1993 O territóriode Ubatuba temforma alongada, com eixomaiorposicionado nadireção Apesar deterfortalecido asededomunicípio eimpulsionadoocrescimento, oturismo Três cenáriosbastantedistintosseconfiguram no município: aorla,ondeselocalizao A incompatibilidade pode ser encontrada, por exemplo, na presença do PESM e nas docenárioencontradoemUbatuba,A partir pode-seestabelecerumatipologiadecon Segundo dados da Prefeitura Municipal de Ubatuba (IPT, 1991), fator agravante das Os loteamentosturísticosdesegundaresidênciaocuparamaspraiasadjacentes, sobre Ubatuba deocupação, cresceu,emtermos docentro apartir históricoqueselocaliza (Online), SãoPaulo, v. 21,n.3,p. 650–666, dez.2017 - - - - - 657

MELO, K. C.; FURLAN, S. A. GEOUSP e Parati-Mirim, alémdossedimentos quaternários. Costeiro, PicodoPapagaio, Ubatuba Charnockito e granitos Caçandoca,IlhaAnchieta,Parati As litologiaspresentes naáreadomunicípio sãorochas ígneo-metamórficasdosComplexos çar oestadodoRiodeJaneiro, onde seconectacomolineamentodeAlémParaíba (IPT, 1991). sul deRedençãodaSerra.Afalha Taxaquara apresentagrandeextensãochegandoaalcan Cubatão eprolonga-se paraaregiãodeParaibuna, ondesejuntacomafalhade Taxaquara ao do pelasfalhasdeCubatão e Taxaquara. AfalhadeCubatão foi reconhecidanoVale doRio mínimas variaentre18ºCe20ºC. as temperaturas máximasnaregiãovariamentre25ºCe27amédiadastemperaturas sas formações florestais muito densasericasemespécies. SegundoSant’AnnaNeto(1990), pluviosidade abundanteetemperaturas elevadaseuniformes, favorece aexistênciadeexten tente daserra,decrescendorumoaosul.Aumidaderelativa constantementealta,aliadaa “sombras dechuva”. e dooutro lado, asotavento, navertente diminuiqualquertipodeprecipitação, formando as gional agedeforma aconstituirbarreirasqueacentuamasprecipitaçõesbarlavento daserra, menos oposta à entradadefrentes, sendoototalpluviométricoinferior, ouseja,aorografia re disposição geraldaSerradoMarqueassumeumaposiçãomaisparalelaaooceano, portanto, doLitoralPaulista) ea oeste dosetornorte edeSãoSebastião(setorcentraldoLitoralNorte) temas extratropicais émenoraliada àbarreiraimpostapelasSerrasdeJuqueriquerê (extremo topo, quepodemultrapassar1.000 m. orográficas elevadosetemperaturas quediminuemcomaaltitudedabase, donívelmarao tura, tem-se que dar atenção a características climáticas. A áreaapresenta totais de chuva de promontórios. pressões lateralmente balizadaspelosinterflúviosqueseestendememdireçãoaomarna forma litorâneas sãoenvolvidas daSerradoMarseapresentandoembutidasnasde pelasescarpas dimentos marinhos e dos cursos fluviais, além disso, do Rio de a partir Janeiro as planícies relativamente planas, baixas, localizadas junto ao mar, sendo resultado da deposição dos se costeiras. Emrelaçãoàsplaníciescosteiras, Muehe(1998)define-ascomosendosuperfícies queseparamtopograficamenteoplanaltodasplanícies mado porumconjuntodeescarpas que cobreessesubstrato, sãoasMatas Atlânticas. encachoeirados –aSerradoMar, easegundaapresenta-secomoumadensafloresta úmida sendo queoprimeiro apresentagrandesdeclividades, comvalesencaixadosedrenadosporrios enaturaisAspectos físicos deUbatuba Para Cruz(1986),aSerradoMarseriaumcompartimento “geo-topo-morfológico” for Ubatuba apresentaemseuterritórioumaintensainteraçãoentrerelevoevegetação, Geologicamente, Ubatuba Litorâneoqueédelimita estáinseridanoCompartimento Com asprecipitaçõesatingindo 2.500mmanuais, chegandoa3.000mmnamédiaver No LitoralNorte, ouLes-nordeste, dossis comosugeriuConti(1975),aparticipação Para compreensãodadinâmicanatural dapaisagem,alémdascaracterísticascober (Online), SãoPaulo, v. 21,n.3,p. 650–666, dez.2017 ------658

MELO, K. C.; FURLAN, S. A. GEOUSP supostos metodológicos expostosanteriormente, considerando Ab’Saber(1982),Monteiro gicos, geológicos evegetacionais, resultandoem12unidades depaisagem,seguindoospres eatributosCompartimentação dapaisagem deUbatuba da influênciadasmarés. onde seassociaasololimoso, movediço epouco arejadocomaltasalinidadedecorrente Densa Montanaaté aasformações deManguezal:presente nasdesembocadurasdosrios, de Ubatuba foram desdeaFlorestaOmbrófila 06unidadesfitofisionômicas, verificadas florística variada.DeacordocomoPlano de ManejodoPESM(IF, 2008),nomunicípio de ambientes, favorecendo osurgimento emanutençãodabiodiversidade ecomposição precipitações médiasanuaisde2000a3500mm,desenvolve-se grandeheterogeneidade posição aosoleventosqueocorrememterrenosapresentamvariadasaltitudes, com com interaçãodefatores comocaracterísticaspedológicas, topográficas, climáticas, ex e dastransgressõesregressõesmarinhas. daSerradoMar Serra desenvolvidosdasescarpas emconsequênciadaevoluçãodasvertentes antigos doqueosPleistoceno(Cruz,1986).Depósitosestesembutidosentreesporões da como umaáreadedepósitosfluviomarinhos, constituídodesedimentosrecentesnãomais aproximação aomar. como umparedãoqueacompanhaalinhadecostavariaorientaçãosegundo a queira, doMarefossas tectônicascomoasdoMédio Vale doParaíba doSul,formam-se tivou falhamentosantigoseproduziuacentuadascomoasdaSerraManti escarpas até o Terciário Médio(Cruz,1986).Osoerguimento daPlataforma Sul-Americanarea deste. Suaorigemestárelacionadaaoprocesso epirogenético pós-Cretáceoqueperdurou doscinturões(1997) comoparte orogênicos, denominadaSerrasdoAtlânticoLesteSu cinguaba, emUbatuba,aunidademorfoescultural porRosseMoroz pertencem definida a dendrítico. gem apresentaaltadensidadeedistribui-sesegundoumpadrãopredominantementeparalelo comperfisconvexosralelos apresentamtoposarredondadosevertentes retilíneos. Adrena e correspondeaossistemasderelevoMorros Paralelos eMorrotes Baixos. Osmorros pa xadas Litorâneas. Província CosteiraquesesubdividenasZonasSerraniaCosteira,MorrariaeBai viais eeólicas(IPT, 1991).Geomorfologicamente, aregiãodeUbatubadaunidade fazparte sianos efeldspatos. Essesdepósitosapresentam-selocalmenteretrabalhadosporaçõesflu apresentadoaindamicas,composição predominantementequartzosa mineraisferromagne Dentro doslimitesdomunicípio oPlanaltoAtlânticoéconsideradoindiviso(IPT, 1991) Os sedimentosmarinhossãorepresentadosporareiasdegranulometriavariável com A compartimentação paisagísticabaseou-se,A compartimentação principalmente, emaspectosgeomorfoló De acordo com Tominaga existente em Ubatuba, (2007), a composição biofísica éclassificado definidocomoplanícies costeirasdoLitoralNorte O compartimento aPi costeirasqueocorremaolongodoLitoralNorte, deBertioga As escarpas (Online), SãoPaulo, v. 21,n.3,p. 650–666, dez.2017 ------659

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GEOUSP Figura 2–Unidadesdapaisagem deUbatuba rações socioeconômicasdecadasetor(Figura2, Tabela 1). easinte doseumeiofísico explorado deforma homogênea,ignorando-seasparticularidades feiçõesnaturais,importantes alémdisso, ficaclaro queo município nãopodeserocupadoe pio, sobretudoemrelaçãoaousoeocupaçãomanutençãodosespaçosqueaindapreservam Baixas, RestingaseManguezais. da FlorestaOmbrófila DensaAlto-Montana até setoresdeplanície, com deFormação Terras vegetal,estreitamenterelacionadaàsvariaçõesaltitudinais,variação dacobertura variando as planícies marinhas, com depósitos quaternários. Aliado a isso, foram inseridos aspectos da sedimentos continentaise, porfim,nossetoresmaispróximos a linhadecostaencontram-se localização dasunidadesdapaisagemidentificadasno município deUbatuba. apresentando transições de abruptas a mais suaves. Na Figura 2, verifica-se a distribuição e onde seencontraaSerradoMar, compredominânciadesetoresgranitosegnaisses, datransiçãoplanície-planalto,já detalhadaporCruz(1986)equesegueumpadrãopartindo to depaisagemnageografia.Considerou-se, principalmente, dorelevo, acompartimentação (2000), Ross(2006),Rodrigues(2001),entreoutros, quecontribuíramnaevoluçãodoconcei Nas planícies, ouintercalados setorqueapresentasedimentosmarinhosrecobertos por As 12 unidades da paisagem identificadas permitem refletirsobreasituaçãodoAs 12unidadesdapaisagemidentificadaspermitem municí (Online), SãoPaulo, v. 21,n.3,p. 650–666, dez.2017 fonte: AdaptadadeINPE(2002) eIG(2006).Organização:Melo(presenteestudo). - - - 660

MELO, K. C.; FURLAN, S. A. GEOUSP litorânea, comumaamplitude altitudinalde 0 ma 300 m,adentrandoinclusive em área turísticos, entretanto, estessãosetoresdiretamente ligadosaplaníciecosteiraebaixada 9 e10verifica-seque háumaconcentraçãodapopulaçãoassim comodosequipamentos informações sobreseupotencialdeuso, assim,aoobservar, porexemplo, asunidades4,6, potencialidades evulnerabilidadesdistintas. Cadaumadasunidadesidentificadastrazem Tabela 1–Unidadesdapaisagem deUbatuba: legenda Unidade 12 Unidade 11 Unidade 10 Unidade 9 Unidade 8 Unidade 7 Unidade 6 Unidade 5 Unidade 4 Unidade 3 Unidade 2 Unidade 1 paisagem unidade de Cada setor tem uma estrutura,funcionamento, e consequentemente comportamento (Online), SãoPaulo, v. 21,n.3,p. 650–666, dez.2017 dispersa. neos indiferenciados, Formação FlorestalMontanaa Terras Baixas, ocupação Planalto Atlântico–Morros Paralelos, entre400me1200m,depósitoslitorâ densa ocupação. depósitos litorâneosindiferenciados, Formação Florestal de Terras Baixas, Província Costeira–MorrariaCosteira,entre0me200m,predomíniode granitos, Formação Florestalde Terras Baixas, densaocupação. Província Costeira–MorrariaCosteira,entre0me300m,predomíniode gnaisses indiferenciados, Formação de Terras Baixas, densaocupação. Província Costeira–MorrariaCosteira,entre0me200m,predomíniode Montana a Terras Baixas, faltadeocupação. entre 200me1200m,predomíniodegranitos, Formação deFlorestaAlto Planalto Atlântico– Transição entreMorros Paralelos eMorrotes Baixos, nitos, Formação deFlorestaMontanaa Terras Baixas, ocupaçãodispersa. Planalto Atlântico–Morrotes Baixos, entre0me800m,predomínio degra Terras Baixas, densaocupação. (rocha comFormação Florestalde predomínio decharnockitos ornamental) Transição entrePlanaltoAtlânticoeProvíncia Costeira,entre0me300m, granitos, comFlorestaSubmontana,ocupaçãodispersa. Província Costeira–MorrariaCosteira,entre100me400m,predomíniode zal, densaocupaçãourbana. depósitos quaternários inconsolidadoscomformações derestingaemangue Planície Costeira–BaixadaLitorânea,entre0me80m,compredomíniode de gnaissescomFlorestaMontana,ocupaçãorarefeita. Planalto Atlântico–Morrotes baixos, entre200me800m,predominância Montana, faltadeocupação. granítico-gnáissico comtransiçãoentreFormação FlorestalAltoMontanae Planalto Atlântico–Morros paralelos, entre400me1000m,complexo de gnaisses, Formação FlorestalAltoMontana,faltadeocupação. Planalto Atlântico–Morros paralelos, acimade1000m,compredominância principais características fonte: AdaptadadeINPE(2002)eIG(2006).Organização: Melo(presenteestudo). - - - 661

MELO, K. C.; FURLAN, S. A. GEOUSP fície terrestre.fície aproximação, quesetrabalhecomaspaisagens complexasquecompõemasuper permitindo entretanto, oolhargeográfico, baseadona unicidadedoconceitodepaisagempossibilita esta senvolver umaanáliseintegradadoscomponentes domeio, eossociais, sobretudo osfísicos comum as áreaslitorâneasqueforam urbanizadasnopaís. momentosdoano,de visitantesemdeterminados refletindo umasituaçãosocioeconômica senta condiçõesdeinfraestruturaadequadapara ousoturístico, naforma degrandenúmero rismo eatividades aelerelacionadasassimcomoáreadeocupaçãopelapopulaçãofixalocal. ocupada porfunçõesdiversificadas, sendoa atual representadaporconstruçõesvoltadasaotu vegetalflorestalexpressiva cobertura emmosaicoeumaplaníciequeaolongodos tempos foi variação altitudinaletransições, pormuitas vezes, abruptasentreencostaseplanícies. Háuma dos ambientes, paraagestãodosrecursos existentes. de de prática da análise integrada objetivando uma sínteseque pode detectar a vulnerabilidade laridades decadaunidadeeporissoaidentificaçãodasunidadespaisagísticascriapossibilida por suavez,podemserdeordemambiental,legaleeconômica.Estafragilidaderefleteparticu sica, socialeeconomicamente, aidentificaçãodepotencialidadeselimitaçõesque, permitindo adistinçãodeáreasfrágeisaousoatual,uso dessemosaicopaisagísticopermitiu expressasfí sobre aáreaeseuarranjopaisagístico. sidiar novas pesquisasefuturos planejamentos, osquaisrequeremomínimoconhecimento como oquefoi realizadosobreomunicípio deUbatuba, representaavanço nosentidodesub as relaçõessocioeconômicasaeleinterligadas, pode-seadmitirqueumestudodapaisagem, lógicos, nodesenvolvimento conforme observado destapesquisa. principalmente aquelareconhecidacomotradicionaleodesarranjodosseusatributos geoeco economicamente, entretanto, estecenárioimpõeacontínuaexpropriação dapopulaçãolocal, o papeldecentro turístico, valorizandoaespeculaçãoimobiliáriaesetoressociaisprivilegiados extração mineral, qualidade visual da área litorânea, entre outros fatores que delegam à região sos naturais existentes, vegetal das áreasmontanhosas, a cobertura o substrato geológicona imobiliário eassegundasresidênciasdeveranistas. por exemplo, e também o poder público com a construção de acessos rodoviários, o setor ritos pormeiodosagentesconstrutoresdaquelapaisagem,comooscaiçarasequilombolas, aindacaracterísticasdetempospreté cioeconômicas egeoecológicasatuais queconservam posta deummosaico, noqualsepercebe umasingularidadeprópria, refletindocondiçõesso ocupação eurbanização. deveriam serresguardadasdeacordocomasrestriçõeslegais, restringindoaexpansãoda ambiental,formações demanguezalerestingas,de preservação destaforma, estasáreas As atividadesestãofundamentalmenteligadasaosrecur econômicasdoLitoralNorte A paisagemdeUbatuba, deacordocomomapaeabreveanáliseapresentada,é Corroborando Monteiro (2000)e Ab’Saber(1982),destaca-seadificuldadeemde A situaçãodaspraias, mesmocom os altosinvestimentos imobiliários, aindanãoapre as característicasgeraisdomunicípio,Observando que suas áreastêmgrande observa-se O diagnósticodapaisagemconstruídoeaavaliação possível sobrearealcapacidadede Com anecessidadedecompreenderestruturaedinâmicanomeiofísico, assimcomo (Online), SãoPaulo, v. 21,n.3,p. 650–666, dez.2017 ------662

MELO, K. C.; FURLAN, S. A. GEOUSP BRASIL. Lein BERTRAND, G. Paisagemfísica global–esboçometodológico. egeografia ADAMS, C. AB’SABER, A.N. Degradaçãodanatureza por processos antrópicos navisãodos geógrafos. Referências que tenhamcomoobjetivosoplanejamentoeordenamentodoterritório. abrindo caminhoparaestudosfuturos e, principalmente, paraaadoçãodepolíticaspúblicas a compreensãodasprincipaiscaracterísticasexistenteserelaçõesestabelecidasentreelas, limitações impostasaodesenvolvimento do trabalho, aabordagem naescalaescolhidapermitiu cioambientais emUbatuba, já proposta pordiversos autores. Contudo, conclui-seque, pelas paramelhoriadascondiçõesdevidadapopulaçãomenosfavorecida.de oportunidades dos mesmos, é preciso compatibilizar o uso adequado dos recursos naturais com a existência da populaçãoprecisamserconsideradosepolíticaspúblicasdevemvoltadasparaalteração truição dabiodiversidade local.Somado a isso, osíndicessociaisqueexpõemavulnerabilidade município, assimcomoadestruiçãoprogressivavegetaleconsequentedes desuacobertura de riscos, comomovimentação demassa,deslizamentoseenchentesemváriossetoresdo do Marembomestadodeconservação, observar-se-á umaumentoexpressivodoseventos cal, conforme as unidades descritas, e, vegetal das encostas da Serra mesmo com a cobertura ilegalidade, aunidadedeconservação. vistoquenãoéraraaocupaçãodeáreaspertencentes submetendo apopulação local, demenorpoderaquisitivo esituaçõesiminentesderisco turístico, pressionandocadavezmaisasáreaspróximas asencostasouplaníciesdeinundação, setores cadavezmenosapropriados, emprejuízosocial,econômicoeecológico. revertendo-se além disso, continuandoaocupaçãodaforma atual, haverá umdeslocamentoocupacionalpara impacto relacionado diretamente com as ocupações irregulares e a falta de saneamento básico, diversidade, decorrentedadegradaçãodosrecursos naturais, principalmenteosrecursos hídricos, entre asatividades humanaseomeioambiente. ambientais. Ainvestigaçãoaintegração dessascaracterísticasérealizadavisandoharmonizar deve basear-se emconsideraçõessocioeconômicasetambémnaanálisedascaracterísticas As áreasjáurbanizadasecommelhorlocalização, vãosendoapropriadas pelosetor A ocupaçãodomunicípio comovemacontecendoécaracterizadapelasupressãodabio O planejamentodasdiversas formas deusoeocupaçãodosoloasuaracionalização da União vegetação nativa doBiomaMata Atlântica,edáoutras providências. OG/USP – gestão ambiental.SãoPaulo: Ed.Annablume/Fapesp, 2000. Inter-Fácies Assim, areflexãodesenvolvida buscadarcontinuidadeàdiscussão dasrelaçõesso Ignorando-se aslimitaçõesdeusoeocupaçãoimpostaspelaestruturadapaisagemlo (Online), SãoPaulo, v. 21,n.3,p. 650–666, dez.2017 Caiçaras namata atlântica o 11.428,de22dezembro de2006.Dispõe sobreautilizaçãoeproteção da , Brasília,DF, 22dez.2006.

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