Inventário Do Arquivo Da Assembleia Distrital De Coimbra
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Arquivo da Universidade de Coimbra INVENTÁRIO DO ARQUIVO DA ASSEMBLEIA DISTRITAL DE COIMBRA Ludovina Cartaxo Capelo Isabel Maria Henriques RESUMO O presente Inventário é o resultado da actividade desenvolvida pelo Arquivo da Universidade de Coimbra e cujo objectivo foi dar a conhecer a documentação produzida pela Assembleia Distrital de Coimbra, incorporada nesta Instituição em 1995, no âmbito do programa proposto pelo “Inventário do Património Cultural Móvel”. INTRODUÇÂO A documentação da Assembleia Distrital de Coimbra foi, por solicitação do presidente da mesma Instituição, incorporada no Arquivo da Universidade de Coimbra em 1995. Alguma documentação houve, no entanto, que não pôde ingressar nos depósitos do A.U.C., dado o grau de avançada deterioração em que foi encontrada num sótão do edifício da Assembleia. A documentação recenseada remonta ao período de criação das Juntas Gerais e culmina na década de 70 do presente século. Não é nosso intuito determo-nos em considerações sobre a evolução jurídica, importância política ou histórica de que genericamente se revestiram as Juntas Gerais, Comissões, Juntas Provinciais e Distritais, criadas na sequência dos sucessivos esforços de (re)organização administrativa do território e que se sucederam até à designação última de Assembleia Distrital. Assembleia Distrital de Coimbra 1/77 Arquivo da Universidade de Coimbra Procurámos, antes, tecer algumas considerações sobre o papel social e assistencial que especificamente estes órgãos tiveram, ora na Província da Beira Litoral ora no Distrito de Coimbra, destacando nomes de pessoas e locais que fizeram história nestes limites político-administrativos. A importância e o alcance da Obra Antituberculosa de Coimbra A Obra Antituberculosa de Coimbra nasceu de um plano gerado pela Junta- Geral do Distrito de Coimbra, continuado pela Junta de Província da Beira Litoral a que presidiu o Prof. Doutor Bissaya Barreto, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e figura de eminente projecção, eleito para o cargo em 15 de Dezembro de 1945, vindo a tomar posse a 2 de Janeiro de 1946. Esta importante Obra concebeu e pôs em execução um vasto programa de assistência de apoio e protecção à criança, combate à tuberculose, protecção à grávida, através de acções de higiene e profilaxia social paralelas, de educação, etc., implementadas num largo número de instituições (Casas da Criança, Dispensários, Preventórios, Asilos, Colónias, Casas de Educação e Trabalho, Escolas Profissionais, etc). Este programa assistencial desenvolvido durante o Estado Novo, através da Junta de Província da Beira Litoral e já anteriormente esboçado pela Junta-Geral do Distrito, decorreu da necessidade de transformar a acção reduzida e meramente caritativa que até então velava pelos mais necessitados, por acções com função de apoio social efectivo, junto dos tuberculosos, das grávidas, das crianças e dos idosos. Acções de verdadeira profilaxia que se tornavam tanto mais urgentes, quando comparados os assustadores índices de crescente mortalidade e os níveis de estagnação no desenvolvimento dos meios de combate à doença e flagelo social de todos quantos se tornavam iminentes alvos de contágio. Para o presidente da Junta de Província da Beira Litoral / Junta Distrital de Coimbra tornava-se urgente esta consciencialização, chegando aquela personalidade a afirmar que "para lutar contra uma doença social é preciso uma medicina social, uma higiene social e uma legislação social. A medicina social contra a Peste Branca continua Assembleia Distrital de Coimbra 2/77 Arquivo da Universidade de Coimbra a ser praticada na nossa Província nos Dispensários, nos Preventórios, nos Sanatórios de 1 Celas e na Colónia Portuguesa do Brasil e na Obra de Grancher" . Assim se objectivavam e concentravam todos os esforços de verdadeira solidariedade social e assistencial, de protecção não só à mulher grávida e à criança como de combate ao iminente flagelo da tuberculose, numa só campanha que nas palavras de José Santos Bessa, pretendia cuidar, através dos seus organismos, "do combate à tuberculose infantil e da sua profilaxia, sejam simultaneamente, os que têm a seu cargo o combate às más condições higiénicas da habitação, os que vigiem a alimentação da criança e os que cuidem da profilaxia dos vários factores que impedem um desenvolvimento normal, uma saúde perfeita e uma boa resistência orgânica. Todo este plano visa descobrir os vários focos mórbidos que podem comprometer a vida ou o 2 desenvolvimento normal das crianças, protegê-las e prepará-las para a vida" . Unidos por um objectivo comum foram criados organismos de assistência de apoio aos vários escalões etários protegidos, e cuja produção documental constitui parte importante do arquivo da "Assembleia Distrital". Assim, e dentro do espírito uno da Obra, distinguiram-se em Coimbra: a Obra de Protecção à Grávida e Defesa da Criança, e a Obra de Protecção à Infância. Da primeira fez parte, como guarda avançada, um Dispensário com consultas externas, que funcionou anexo ao "Ninho dos Pequenitos", onde se velava pela assistência ante-natal, prolongando-se os seus cuidados à 1ª e 2ª infâncias. Deste modo, eram encaminhadas as mulheres grávidas, reconhecidas como indigentes, à Maternidade. Tratando-se de uma mãe tuberculosa, o seu recém-nascido era defendido do contágio sendo recolhido no Ninho dos Pequenitos, onde permanecia até à idade de 3 anos. Do mesmo modo, entravam no "Ninho" as crianças abandonadas, órfãs ou em perigo de vida pela ameaça da miséria. Esta instituição, com instalações sanitárias e de higiene regulares, possuía capacidade para 70 crianças. Daí, muitas transitavam para o "Preventório de Penacova", preparado para acolher as crianças até aos 10 anos de idade, atingidos os quais, tratando-se de rapazes, ingressavam na "Escola Profissional de Agricultura de Semide" recebendo aí uma contínua educação e a aprendizagem de um ofício até aos 18 anos. Tratando-se de raparigas, estas transitavam do Preventório para a "Casa de Educação e 1 JUNTA DE PROVÍNCIA DA BEIRA LITORAL —Relatório da Gerência de 1953 da Junta de Província da Beira Litoral . Coimbra : Escola Profissional de Agricultura de Semide, 1954, p. 5. 2 Op, cit., p. 3. Assembleia Distrital de Coimbra 3/77 Arquivo da Universidade de Coimbra Trabalho D. Helena de Quadros" (na Quinta do Linheiro em Sever do Vouga) onde, da mesma forma, se ministravam diversos ofícios e misteres de utilidade doméstica, na sua maior parte, e noções de higiene e sanidade. A 2ª Obra (de Protecção à Infância) procurou colmatar o terrível flagelo da mortalidade infantil através de programas de educação e acompanhamento de crianças, expostas, filhas de indigentes, de pai ou mãe incógnitos, pais reclusos, dementes, etc., vivendo em situação de abandono ou em reconhecido ambiente de "perigo moral". Procurou, assim, a Obra tudo fazer, começando desde logo pela educação higiénica das Mães, ao mesmo tempo que criava creches e parques infantis, centros de educação física, aquilo a que numa palavra se chamou de "Casas de Assistência Infantil" e onde se cuidaria dos menores até aos 7 anos de idade. Aparecem assim: o "Jardim de Infância D. Maria do Resgate Salazar" e o "Parque Infantil Doutor Oliveira Salazar" (anexo ao "Ninho dos Pequenitos") e as Casas da Criança de Vila Nova de Ourém, de Estarreja-Salreu, de Santa Clara ("Rainha Santa Isabel"- Coimbra), de Castanheira de Pera ("Rainha D. Leonor"), do Loreto ("D. Joana do Avelar" - Coimbra), dos Olivais ("D. Filipa de Vilhena" - Coimbra) e da Figueira da Foz ("Infanta D. Maria") e nas quais se instalaram Dispensários de Puericultura, Creches e Parques Infantis. Mercê de contingências administrativas, pelas quais a Junta de Província da Beira Litoral passaria a abranger os distritos de Coimbra, Aveiro e Leiria, ficariam ainda a cargo desta Obra o Asilo-Escola Distrital de Aveiro (com secções diferenciadas por sexos, para crianças dos 7 aos 16 anos) e o Asilo Distrital de Leiria, também com secções diferenciadas para rapazes e raparigas dentro da mesma faixa etária e outra para idosos. Outros estabelecimentos de assistência se fundaram e se ergueram em paralelo com os ideais de assistência que sempre nortearam este louvável programa assistencial. No entanto, a publicação do Decreto-Lei nº 42.536, de 28 de Setembro de 1959, pelo qual se extinguem as Juntas de Província para darem lugar às Juntas Distritais, vem determinar uma nova redistribuição das instituições pelos novos corpos administrativos. Desta feita passam a pertencer à Junta Distrital de Aveiro: o Asilo Distrital de Aveiro, e as Casas da Criança de Albergaria-a-Velha e de Águeda; para a posse da Junta Distrital de Leiria passaram, por seu turno, o Asilo Distrital de Leiria e as Casas da Criança de Pombal, de Alvaiázere e de Figueiró dos Vinhos. Assembleia Distrital de Coimbra 4/77 Arquivo da Universidade de Coimbra 3 Passaram para a posse e administração da Fundação Bissaya Barreto , as Casas da Criança de Pedrógão Grande, de Castanheira de Pera, da Mealhada e a Casa da Criança "D. Maria do Resgate Salazar" (Luso). Caracterização e Organização do Fundo O presente inventário tem como unidade básica de descrição a série (SR) e, sempre que existentes, suas subséries (SSR). No inventário optou-se por um critério de ordenação alfabético das séries, respeitando-se dentro de cada série a identificação e evolução legal e administrativa dos diferentes órgãos responsáveis pela produção documental. O fundo da Assembleia Distrital abrange as datas limites de 1836—1979 e integra um total de 612 unidades de instalação (444 livros, 103 caixas, 44 pastas e 21 cadernos) distribuídas por 59 séries documentais, a saber: — Actas (1836—1976) com um total de 49 unidades de instalação (46 livros, 1 caixa e 2 pastas). — Borrador ao Diário da Receita e Despesa (1855—1898) com 11 unidades de instalação (11 livros). — Cadastro de internados (1950—1961) com 4 unidades de instalação (4 caixas). — Circulares Recebidas (1932—1947) com 1 unidade de instalação (1 caixa). — Cobrança de Cotas (1950—1953) com 1 unidade de instalação (1 caixa). — Cobrança de Impostos (1914—1936) com 1 unidade de instalação (1 livro).