DIRETOR - FRANCISCO MADELINO JORNAL BIMEStrAL 3.a SÉRIE • 1€ N.0 19• SET-OUT 2019

povos e cultura o reencontro PARQUE de jogos 1º de maio ÉPOCA DESPORTIVA 2019 / 2020

ESCOLAS Futebol | Padel | Ténis | Judo | Natação Taekwondo | Badminton | Natação para Bebés

ATIVIDADES Fitness | Yoga | Pilates | Spinning Hidroterapia | Sala de Cardio e Exercício Atividades aquáticas

Cedência de instalações

ESTE ANO 2 NOVAS MODALIDADES Escola de Futsal | Ginástica

Para toda a Família dos 6 meses aos 90 anos

inATEL.PT TL set-out 2019 3

4 8 10 14 18 21 23 Desfile do Traje Viajando com livros Memórias de Júlio Ciclo Mundos: Teatro da Trindade Ver | Ouvir Passatempos Popular Isidro Mamadou Diabaté Inatel 9 12 20 22 6 A Casa na árvore Entrevista: Soraia 16 Notícias | Coluna do Contos do Zambujal Amália – Voz eterna Tavares Viagens: Islândia Provedor ÍNDICE capa Editorial

FRANCISCO MADELINO Presidente da fundação inatel

Tempos de Reencontros dos Povos com as suas Culturas

os idos anos oitenta, Augusto Abelaira encabeçava as suas crónicas do Semanário O Jornal com a frase de T. A. White e Lisboa, onde concluiu o “O homem é o único animal que sabe distinguir a água curso de arquitectura, Gonçalo benta da água vulgar”, uma boa imagem-síntese dos atos Viana mudou-se para Macau culturais inerentes ao Homem e que os comandam, supor- e aí assinou as suas primeiras tam e ligam na vida. colaborações no âmbito da As culturas são uma forma de interpretar o Mundo, de ilustração editorial. Viveu o sentir e ler, não só através das artes mas também de regras, con- alguns anos em Londres, N venções e rituais entre pessoas, a par de crenças e de conhecimentos Dtrabalhando como arquitecto, sem acumulados. Normalmente, a Língua é a sua tradução, daí a frase nunca perder de vista a ideia de tornar- de Pessoa que a “minha Pátria é a Língua Portuguesa”. ilustração se ilustrador, carreira que iniciou em Gonçalo Viana Em Política, o Estado diferencia-se do conceito de Nação. O pri- 2002. Da formação em arquitectura meiro, é uma organização política. A segunda, refere-se a identida- perdurou o vínculo à geometria, que des culturais específicas. desde cedo lhe pontuou o trabalho A partir do final do século passado, a globalização – nela incluída gráfico e continua a estruturar o a maior circulação de pessoas, os menores custos de transporte e a seu trabalho de ilustrador. Tendo já facilidade de circulação das comunicações – trouxe um forte mo- publicado nos principais títulos da vimento de harmonização e estandardização culturais, a partir de imprensa portuguesa, as suas ilustrações padrões dominantes, nesta nova aldeia global planetária em rede. são também presença assídua em publicações internacionais, incluindo o A História, contudo, tem demonstrado que, quando tais movi- prestigiado The New York Times. mentos estandardizadores são intensos, a partir de polos dominan- O seu traço de pendor conceptual foi tes, e confrontados com culturas diferenciadas e profundamente reconhecido pela Society for News Design, enraizadas, estas reagem, emergindo movimentos endógenos, com pela revista Creative Quarterly e pela forte impacte nas novas gerações, no sentido da sua defesa e preser- colectânea 200 Best Illustrators Worldwide, vação. Por exemplo, o período do domínio castelhano, talvez tenha da Lüerzer’s Archive. sido aquele em que mais edições de gramáticas portuguesas se re- Em 2008, ganhou o Prémio Stuart para gistou em Portugal. melhor ilustração e cartoon de imprensa. Assim, em todo o Mundo, os Povos lutam pelas suas identidades, Em 2011, as ilustrações para o livro com os agentes culturais, nos diversos domínios, como protago- Esqueci-me Como Se Chama foram também nistas destas reações. É neste contexto que vivemos momentos de distinguidas pela revista 3x3 na selecção reencontro dos Povos com os seus territórios, as suas identidades e anual de ilustração infantil. culturas. A diversidade cultural é hoje assumida como uma riqueza. Uma riqueza de conhecimento. Uma riqueza também económica. O tu- rista procura o diferente e viver experiências únicas. Neste número, o Tempo Livre, dedica particular atenção a este fe- nómeno e à necessidade de sermos capazes de estabelecer diálogos interculturais, alternativa fundamental aos movimentos xenófobos e nacionalistas, reverso desta realidade, que a História mostra como podem ser dramáticos. Usufrua deste Tempo Livre!

Jornal Tempo Livre | email: [email protected] | Propriedade da Fundação Inatel | Presidente do Conselho de Administração Francisco Madelino Vice-Presidente Lucinda Lopes Vogais Álvaro Carneiro e José Alho Sede da Fundação/ Sede do Editor/ Sede da Redação Calçada de Sant’Ana, 180 – 1169-062 Lisboa NIPC 500122237 Diretor Francisco Madelino Publicidade Tel. 210027000/ [email protected] Impressão Lidergraf Sustainable Printing – Rua do Galhano, 15 – 4480-089 Vila do Conde Tel. 252 103 300 Dep. Legal 41725/90 Registo de propriedade na ERC 114484Preço 1 € Tiragem deste número 104.105 exemplares Membro da APCT – Associação Portuguesa para o Controlo de Tiragem e Circulação | Estatuto editorial publicado em www.inatel.pt 4 TL SET-OUT 2019 etnografia

Mais de 2000 pessoas assist iram ao desfile da Tradição Cais de Gaia foi palco para o XXIV Desfile Nacional do Traje Popular Português

Federação do Folclore Portu- exige ser revivida com a partilha e a pas- com o Gaia Todo Um Mundo, onde, ao Gaia, o Vereador deixou claro quando afir- guês em parceria com a Fun- sagem de testemunho, um trabalho que mesmo tempo com o Desfile, trouxemos ma que há “30 grupos de folclore em Vila dação Inatel e a Câmara Mu- Daniel Café se comprometeu a fazer des- para o norte pela primeira vez o Ciclo Nova de Gaia, e a forma de prestar o reco- nicipal do Vila Nova de Gaia, de 2017 quando assumiu as funções de Mundos”, explicou Francisco Madelino, nhecimento e homenagem e tudo aquilo realizaram no passado dia 14 presidente da direção da Federação do presidente da Fundação Inatel que real- que eles fazem na defesa das tradições e de setembro, a XXIV edição do Folclore Português. çou o facto de a Inatel ter na programa- dos costumes é efetivamente mostrar este Desfile Nacional do Traje Po- A Fundação Inatel manteve sempre um ção do Gaia Todo um Mundo, não ape- momento tão nobre aqui, que ficará na Apular Português. vínculo com a Federação, vínculo esse nas o Desfile do Traje, em coorganização memória. Folclore é arte, é Gaia todo um Mais de 1400 figurantes, vestidos a ri- que se aprofundou na parceria da organi- com a Federação de Folclore Português, mundo e Gaia todo um mundo é arte”. gor, desfilaram pelo cais de Gaia, acom- zação do evento do desfile do Traje, e que mas também os concertos de Bia Ferreira Com arte, com amor pelo que fazem, panhados de música tradicional portu- contou também com a Câmara Municipal e Lura, duas mulheres que têm na músi- foram muitos os figurantes que se dife- guesa, com encenações dos diferentes de Vila Nova de Gaia, sem a qual nada ca uma missão, Bia é a Voz de um Brasil renciaram não apenas pelas roupas, mas quadros apresentados. seria possível. corrupto e homofóbico, e Lura é raiz de pelo que traziam consigo, o caso do Al- Foram 13 quadros, 13 temas, 13 inter- “Este é mais um salto com a Federação Cabo Verde. garve, quem os representa é a Algarvia, pretações, 13 oportunidades para dar a do Folclore Português, que passa por uma Para Elísio Pinto faz todo o sentido que a bezerra que os acompanha de norte a conhecer a diversidade da tradição por- produção maior que só é possível com a o Desfile do Traje, que a celebração do sul. Para os algarvios participar em even- tuguesa, de norte a sul do país e ilha da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, popular, do folclore seja em Vila Nova de tos como este devia de ser obrigatório, é Madeira. um crescimento coletivo, “Estamos com Nas palavras de Daniel Café, presiden- outros grupos, temos mais ideias, parti- te da Federação do Folclore: “Queremos lhamos entre nós para fazermos melhor que seja um evento pedagógico que de- na nossa cidade.” monstre ao público que está a assistir De Andorra, com raízes portuguesas, à diversidade de todos os quadrantes saíram às três da manhã um grupo de 8 de antigamente da nossa vivência. Por pessoas para participarem no desfile às exemplo, como é que era o traje do pastor 21h00. Se é arte, se é mundo, não sabe- de norte a sul do país? E há uma diversi- mos, mas é amor pelo traje que vestem. dade imensa onde é possível verificar o É orgulho. porquê de ser diferente. Tem que ver com Vieram representar o quadro do tra- as características geológicas, geográficas, balho, a rigor, com o “chapéu para não climatéricas, da região onde se habitava.” apanharem sol e ficarem trigueirinhas”, Da primeira infância, à montanha, ficarem branquinhas. Pouco ouro, mas ao trabalho, rio e mar, feira, casamento, furam sempre as orelhas para “não en- missa, festas e romarias, foram muitos os trarem espíritos”, dizem eles, e talvez o quadros e trajes que, honrados e orgu- digam com razão. lhosos, se fizeram mostrar, com todas as Uma noite onde não houve lugar para diferenças que os caracterizava. espíritos nem tempo nem campo para la- Vinte e quatro edições depois faz ain- vrar, foi a noite de o palco ser de quem da mais sentido dar continuidade a um honra e não deixa esquecer o que é nos- evento de tamanha dimensão, “um dos so. As raízes. A tradição. O popular. vetores que nos define enquanto povo é A XXV edição ainda sem data, mas o traje tradicional, porque é nele que se promete ser memorável. Em 2020, 25 des- espelha toda a vivência das pessoas de files. E 85 anos da Inatel. Não podemos antigamente, o local onde habitavam, o esperar menos do que o memorável estado de espírito”, e é essa vivência que Maria João Costa TL set-out 2019 5

Fotos: beatriz Lorena

Mais de 2000 pessoas assist iram ao desfile da Tradição 6 TL SET-OUT 2019 efeméride

Voz eterna Há nomes que carregam um país inteiro aos confins da terra. Amália é sinónimo de Portugal. Com cheiro a Lisboa. De flores e de mar. É povo que lava no rio. É coração independente. É fado. É ventura, saudade, ternura, e talvez amor. É lágrima. É dar de beber à dor. É tristeza e alegria. É pão e vinho sobre a mesa. É uma casa portuguesa, com certeza. Estranha forma de vida. TL set-out 2019 7

© Fundação amália rodrigues

ção. É meu, é teu, é nosso. E há de ser de- pela primeira vez. Está em Lisboa, onde les. Ansiedades, saudades e ais. “Coração Centenário 1920-2020 não tem qualquer ligação, os seus avós Amáliaindependente/Coração que não comando/ eram do Porto, Bragança e Viseu, mas não Vives perdido entre a gente/Teimosamen- o próximo ano comemora-se o esconde que chorou mal aterrou na capi- te sagrando/Coração independente.” centenário do nascimento de tal. Lembrou a mãe “que era muito fã de Alma de um povo. É perfeito coração. NAmália da Piedade Rebordão Amália”. A fadista “era muito querida no “Se ao dizer adeus à vida/As aves todas do Rodrigues. Nasceu no primeiro dia de Brasil e a minha mãe ia assistir ao show”. céu/Me dessem a despedida/O teu olhar julho de 1920. Mas foi registada em 23 Talvez por isso, diz, se emocionou. derradeiro/Esse olhar que era só teu/Amor de julho de 1920. Na rua de Martim No Museu do Fado, em Alfama, há pa- que foste o primeiro.” Vaz, na extinta freguesia da Pena lavras que se leem, em português e inglês, (atual Arroios), em Lisboa, é visível que valem a pena ter presentes. Memó- Um símbolo do país uma placa junto aos números 84 e 86: rias que constroem a identidade. “A di- Rainha do fado. Diva do fado. Aclamações “No pátio desta casa nasceu Amália vulgação internacional do fado começa- que pertencem a quem vive lá em cima, Rodrigues.” Ela preferia celebrar o seu ra a esboçar-se a partir da década de 30, num monte olimpo onde estão os imor- aniversário a 1 de julho, “no tempo em direcção ao continente africano e ao tais. Amália está no Panteão desde julho das cerejas”. Tinha origens na Beira Brasil, destinos preferenciais para actua- de 2001. Os seus restos mortais foram tras- Baixa (o pai era de Castelo Branco e ção de artistas como Ercília Costa, Berta ladados do cemitério dos Prazeres para a mãe do Fundão). A sua voz, que Cardoso, Madalena de Melo, Armando o Panteão Nacional, onde estão ilustres cabia em todos os continentes, levou-a Augusto Freire, Martinho d’Assunção ou portugueses. Ao lado de personalida- para lá das fronteiras portuguesas. Foi João da Mata, entre outros. Será, porém, a des que divulgaram a língua portuguesa longe. Pisou palcos em todo o mundo. partir de 1950 que o processo de interna- através da literatura, como Guerra Jun- As palavras são como as cerejas e cionalização do Fado se consolidará defi- queiro, João de Deus e Almeida Garrett, quase tudo já foi escrito e dito sobre nitivamente, sobretudo através de Amália está o nome maior do canto. Junto ao seu aquela que é considerada a rainha Rodrigues. Ultrapassando as barreiras da túmulo, com flores variadas e de todas as do fado. Embora haja sempre mais cultura e da língua, o Fado consagrar-se-ia cores, tal como os fados que imortalizou, um pormenor a desvendar quando definitivamente como um ícone de cultu- recorda-se que, na década de 60, “a cum- escavamos mais. Detalhes que não ra nacional.” plicidade com Alain Oulman, compositor são de somenos. Há sempre mais um franco-português que pesquisou a poesia aspeto para conhecer. Que não esgota Legado para honrar portuguesa para a escolha das letras, trou- a capacidade de espanto dos seus Fadistas da nova geração cantam e vestem xeram mudanças e evoluções na sua car- admiradores. de maneira diferentes, mas apontam para reira. Amália cantou, então, grandes poe- Para assinalar a vida da cantora, o nome de Amália como alguém que lhes tas portugueses como Camões, Manuel atriz e fadista, a Fundação Amália deixou um forte legado para respeitar e Alegre, David Mourão-Ferreira, Pedro Rodrigues já revelou que se propõe perpetuar. E continuar a criar. Tamanha Homem de Mello e Alexandre O´Neill”. a realizar uma série de eventos, responsabilidade. Fartura de carinho. Há O estilo particular desta figura ímpar da nacionais e internacionais, para caminhos que se abrem quando não se cultura nacional contribuiu também para celebrar o raro percurso profissional tem vergonha das raízes. Quando se can- ter o nome inscrito na eternidade. da embaixadora de Portugal que tam sentimentos. Quando se dá vida e ex- De saída do Panteão, por ocasião da carregou o nome do país onde a voz a pressão às palavras que falam. De mim. De alvez tenha sido por “por von- data que assinala a morte da fadista, está levou. Exposições, debates, concertos e ti. Deles. De nós. Falamos da alma, daque- tade de Deus” que Amália tenha Inês Aires, de 83 anos. Anualmente, gos- muitas outras iniciativas culturais estão la que não é pequena, que aprendemos vivido assim. Escutamo-la ain- ta de “marcar a sua presença”. Faz breves previstas no programa do centenário. dos poetas e do que vivemos. É a vida no da – como não recordar? –, voz orações e lembra o legado da fadista. Me- Depois de Lisboa receber o concerto seu esplendor. Na saúde e na doença. Na singular, “Foi Deus/ Que deu luz mórias inolvidáveis desta mulher que diz Amar Amália a 5 de outubro, seguem-se tristeza e na alegria. Amores. E desamores. aos olhos/ Perfumou as rosas/ ser simples, do povo. “Para mim, Amália é Guimarães (8 de novembro) e Porto (16 Todos os momentos que cabem nas vidas. Deu oiro ao sol/ E prata ao luar/ o número um em fado. Agora há muitas de novembro). Longas ou curtas. Tanto faz. Intensidade. TFoi Deus/ Que me pôs no peito/ Um rosá- fadistas novas que também cantam bem, Vinte anos após a morte de Amália, Emoção. Ai, a emoção. Sempre a vir ao de rio de penas/ Que vou desfiando/ E choro mas Amália é insubstituível.” Há qualquer Marcelo Rebelo de Sousa divulga, cima. Como não? Porque não? Mistérios a cantar/ E pôs as estrelas no céu/ E fez o coisa na voz e na postura dela que é inex- numa mensagem na página oficial do fado. Magia. Alma. Tudo o que vem de espaço sem fim/ Deu o luto às andorinhas/ plicável. É qualquer coisa que se sente. E da Presidência da República, que ela dentro. Com veemência. “Para cantar o Ai, e deu-me esta voz a mim”. talvez não haja palavras que exprimam “não pertence apenas a um tempo e fado é preciso ter coisas dentro”, escuta- Passam duas décadas sem Amália. Ou- tudo o que se vive quando se ouve al- a um país situados no tempo, e mais mos Maria do Rosário Pedreira, no Museu tubro de 1999, dia 6. Morre na sua casa em guém assim, especial e única. “Amália foi ou menos extintos, mas continua a do Fado, num excerto do filme Fado. Ou S. Bento. Aos 79 anos. O país chora a sua um símbolo que apareceu no país e deu ser a voz de Portugal, no seu orgulho Ricardo Ribeiro, que pergunta “do que artista que é também do mundo. Hoje e a conhecer ao mundo o que era o fado.” e brio, na sua mágoa e alegria, voz vale a mais bela melodia se não lhe dou amanhã evoca-se a voz de Portugal. Ah, dos grandes poetas e voz do povo”. alma?” Ou, ainda, Camané, que solta es- com que voz! As palavras e emoções. Vida Internacionalização do fado E prossegue: “Sucessivas gerações tas palavras que ficam a ecoar: “A melhor e morte. Coisas que ficam no peito. “Este Tânia Vaz, de 61 anos, é brasileira, “carioca de músicos, do fado e fora do fado, maneira de cantarmos o fado é sermos jeito, o jeito de querer tanto.” Se nós sou- da gema”, partilha que viveu um misto de continuam a medir-se com Amália nós próprios.” Talvez por isso tanta gente béssemos, oh!, se soubéssemos... “Se eu emoções quando se aproximou do túmulo e a prestar-lhe tributo. Admiradores se reveja no fado, na canção da alma. Na- soubesse que morrendo/Tu me havias, tu de Amália. Num dia de céu azul, com a tal nacionais e internacionais continuam quela entrega que extravasa tudo e todos. me havias de chorar/Por uma lágrima, por luz peculiar de Lisboa, e o Tejo com uma fiéis ao discos canónicos e atentos Que desassossega. Que conforta. Que in- uma lágrima tua/Que alegria me deixaria cor perfeita, facilmente vem à memória: a reedições e gravações inéditas. E quieta. Que sacia. Não enche – preenche. matar.” Cheios de pena nos deitamos e “Se uma gaivota viesse/ Trazer-me o céu gente de todas as idades, condições e Ao longe, parece que avistamos um Bar- levantamos, mas nem às paredes confes- de Lisboa/ No desenho que fizesse/ Nesse convicções reconhece na obra e figura co negro e ainda ouvimos a voz. Voz de samos. Ter Amália na voz é também ir fla- céu onde o olhar/ É uma asa que não voa/ de Amália Rodrigues um dos mais sempre. Para sempre: “Eu sei, meu amor,/ nando, por aqui e por ali, em versos que Esmorece e cai no mar.” Tânia parece ga- altos momentos da cultura portuguesa que nem chegaste a partir,/ pois tudo, em eternizou, e fazê-los nossos. É património nhar asas depois de se aproximar das raí- e da arte de ser português.” meu redor,/ me diz qu’ estás sempre comi- imaterial. Que passa de geração em gera- zes. Neta de portugueses, visita Portugal go.” Sílvia Júlio 8 TL SET-OUT 2019

Viajando com livros «ESTOU VIVO E ESCREVO SOL»

Por António Valdemar

© Fernando Bento s anos 20 do século passado repleta de dificuldades. Por questões de constituem uma década de saúde não concluiu os estudos secun- ouro da poesia portuguesa. É dários. Pela oposição à ditadura, desde o tempo em que prosseguiu a muito jovem, enfrentou sucessivos pro- rutura plural do Orpheu (1915) blemas com a polícia política e com a cen- e do Portugal Futurista (1917), sura. Não teve acesso à função pública. na revista Athena (1925) que Para sobreviver foi empregado de escri- Onos revelou duas outras máscaras de Fer- tório, colaborador de revistas e jornais nando Pessoa: Alberto Caeiro, Guardador e tradutor. Tinha conhecimento profun- de Rebanhos e criador de Poemas Inconjun- do da língua portuguesa e dominava o tos «poeta impuro e diluído» sempre a francês, o espanhol e o italiano. Traduziu reconhecer que «tudo até a verdade está autores e obras de nomeada, designada- em fluxo contínuo»; e também Ricardo mente Éluard, Camus, Hervé Bazin, Ri- Reis com a primeira apresentação das chard Bach, Sanguinetti, André Gide e Odes, a transgredir a disciplina clássica, Marguerite Yourcenar. a austeridade formal, a fim de convocar Radicou-se, definitivamente, em Lis- para o espaço da poesia e do quotidiano boa a partir de 1962. Escreveu nas re- os deuses que procuram a natureza que vistas Árvore (1952-54), Cassiopeia (1956), nos rodeia. Cadernos do Meio-Dia (1958-1960). Cola- É o tempo da apresentação pública e da borou na Seara Nova, Vértice, O Tempo e o edição da Invenção do Dia Claro de Alma- Modo, Ler, Colóquio Letras, Raiz e Utopia, da Negreiros, a mais bela narrativa lírica, Sílex. Enumerar estes títulos significa elegíaca da língua portuguesa. As confi- que permaneceu associado às tendências dências mais íntimas e a evidência das mais representativas da segunda metade parábolas para a reinvenção do espanto. do século XX. É o tempo da revista Presença (1927- 1940) Simultaneamente com a criação poé- que surgiu, numa encruzilhada política, tica fez crítica literária. Livros como A com a implantação da ditadura e da Cen- Poesia Moderna e a Interrogação do Real reú- sura. nem textos onde se depara a fidelidade A Presença revelou não só a amplitude a uma poesia total – «ser no olhar o pró- e o significado da obra de Fernando Pes- prio olhar» – sem inserir a obra e o autor soa mas, nos últimos anos de vida, colo- numa perspetiva reduzida aos limites cou-o entre os principais colaboradores. geográficos, às relações com a sociedade, Divulgou a carta sobre a génese dos hete- à herança da história e às determinantes rónimos. Em primeira página, num gra- económicas. Procurava comunicar com fismo audacioso, publicou a Tabacaria, de os outros, na energia da palavra, na irra- Álvaro de Campos, onde subiu mais alto diação da luz capaz de afastar o frio do e desceu mais fundo o génio de Pessoa, mundo. num dos maiores poemas do século XX e Antes da consagração de Saramago de todo o mundo. pela Academia Sueca, em 1998, o nome É ainda, a década de 20 do século pas- de António Ramos Rosa foi, várias vezes, sado, o tempo em que nasceram poetas, apresentado como candidato ao Prémio escritores, dramaturgos, ensaístas, inves- Nobel da literatura de língua portuguesa. tigadores científicos, protagonistas polí- Recebeu, todavia, distinções de prestígio, ticos que têm promovido a identificação umas atribuídas ao poeta e escritor, ou- e a projeção nacional e internacional da tras atribuídas a obras publicadas nesse cultura portuguesa. António Ramos Rosa individual e finito; na génese e na cele- ano. é uma dessas grandes personalidades. António Ramos bração do ato poético, no dinamismo da Nunca deixou de afirmar o empenha- Tão notáveis e, quantas vezes, tão dife- palavra e na relação contínua do tempo mento cívico. Apesar da transformação rentes. Rosa – nascido nos com a memória e a vida. democrática da sociedade portuguesa, Deixou Ramos Rosa uma vasta obra O próprio Ramos Rosa confessou: A pa- da abertura resultante do 25 de Abril, poética. Estreou-se, em 1958, com o livro anos 20, década lavra é uma estátua submersa,/ um leopardo não escondia a amargura, o desencanto O Grito Claro, editado ainda em Faro, ci- que estremece em escuros bosques, uma ané- e a frustração em face de aspetos preo- dade onde nasceu e onde impulsionou de ouro do século mona/ sobre uma cabeleira. Por vezes é uma cupantes da realidade política e social do significativa atividade cultural. Adolfo estrela/ que projeta a sua sombra sobre um País. E, também, perante o desconcerto Casais Monteiro, na altura exilado po- XX – realizou uma torso./ Ei-la sem destino no clamor da noite,/ do mundo: A madrugada da nossa liberdade/ lítico no Brasil, acompanhou o apareci- cega e nua, mas vibrante de desejo/ como uma foi apenas um momento. O que se seguiu de- mento de Ramos Rosa destacando a sua obra singular que se magnólia molhada. Rápida é a boca/ que ape- pois/ é um sistema que não sabemos combater/ “profunda autenticidade”, numa síntese enraíza no enigma do nas aflora os raios de uma outra luz./ Toco-lhe porque a sua teia é anónima, de uma violência entre o surrealismo e neorrealismo. O os subtis tornozelos, os cabelos ardentes./ E esparsa/ que nos impede a defrontação/ com os discurso de Ramos Rosa evoluiu, teve vá- ser e na celebração vejo uma água límpida numa concha mari- seus disfarces e os seus estratagemas./ (…) os rias fases. nha./ É sempre um corpo amante e fugidio/ nossos sonhos diluíram-se apagaram-se. Demarcou-se de Fernando Pessoa e dos do ato poético, Que canta num mar musical o sangue das As últimas palavras que proferiu – e seus epígonos, do neorrealismo e do sur- vogais. escreveu a pedido da filha – poucos mi- realismo. Em muitas dezenas de livros, no dinamismo da Exerceu António Ramos Rosa influên- nutos antes de falecer constituem o seu que saíram com um ritmo impressionan- cia decisiva no Movimento 61, na geração epitáfio: «Estou vivo e escrevo Sol». Foi a te, o último dos quais em 2012, com o tí- palavra e na relação que se manifestou naquele ano: Luísa 23 de setembro de 2013, num hospital de tulo revelador e emblemático Em Torno do Neto Jorge, Casimiro de Brito, Fiama, Lisboa. Tinha 89 anos. Assim se comple- Imponderável atingiu uma linguagem pró- contínua do tempo Gastão Cruz. Para Ramos Rosa «o poeta tou mais de meio século de grande inten- pria. Essa poética que se enraíza no enig- com a memória cria o poema, mas o poema também cria sidade criativa, para realizar e cumprir ma do ser, na angústia das interrogações o poeta». o que sempre ambicionou e designou sucessivas, para se libertar do que há de e a vida António Ramos Rosa teve uma vida «poesia, liberdade livre». TL set-out 2019 9

A Casa na árvore

que passo a citar: «O codorno, aparallo, e partillo em talhadas, deita-se no assucar, e nele se coze até que o assucar vá engros- sando, e pareca que a pera está cozida. O pezo, he arratel de assucar, a arratel e quarta de codorno, depois de cozido, se lhe deita o cheiro e agoa de flor, e se deita nas caxas». Pelo que se deduz da leitura das duas obras de culinária referidas – a que acaba- mos de citar, disponível numa edição da Colares Editora, e o manuscrito da Infanta D. Maria de Portugal, conservado na Bi- blioteca Nacional de Nápoles –, não existe qualquer dúvida de que o codorno é uma pêra e não uma maçã (Malus domestica L.). No entanto, durante o século 19, a falta de catalogação dos nossos frutos e a desor- dem dos nomes regionais, que reuniam sob um mesmo nome espécies diferentes ou pelo contrário as desirmanavam em designações distintas, atirou os estudiosos desta fruta «agra», «dura» e «nozelhenta», para o intrincado «labirinto» de regiona- lismos, uma espécie de «Babel» da pomo- 1 logia nacional. De facto, durante o Primeiro Congresso Pomológico, iniciativa da redacção do Jor- nal de Horticultura Prática, que teve lugar no Porto, nos dias 10, 11 e 12 de Outubro de 1879 (há precisamente 140 anos), dis- cutiu-se a forma como vários autores no passado se referiram ao codorno, geran- A doce do-se a dúvida se seria uma pêra ou um pêro. Não obstante algumas imprecisões encontradas pelos congressistas oradores — em obras como Descrição do terreno em redor de Lamego duas léguas (1531-1532), de Ruy Fernandes (?-?), Descripção do Reino garabulhenta de Portugal (1610), do historiador Duarte Nunes de Leão (1530?-1608) e na Miscel- É mais fácil partir um vidro com um codorno do que trincá-lo cru. Há 140 lanea (1629), de Miguel Leitão de Andrada (1553-1630) reforçadas pelo facto de, em anos, no Primeiro Congresso Pomológico que se realizou em Portugal, não se 1728, o religioso teatino Rafael Bluteau tinha a certeza se codorneiro dava pêras ou maçãs Por Susana Neves (1638-1734) ter considerado o codorno uma maçã, e o botânico Félix de Avelar Brotero (1744-1828) ter visto nele uma um dia quente de Setembro tor Miguel Leitão de Andrada (1553-1630) livro Arte nova e curiosa para conserveiros, pêra «talvez, porque não a conhecesse» fomos a Sintra à procura de co- –, num simples relance, aguçam o apetite, confeiteiros, e copeiros, e mais pessoas que se —, o Diccionario das peras portuguezas, pu- dornos, uma variedade de pêra mas assim que os agarramos (e assentam occupaõ em fazer doçes, e conservas com frutas blicado no âmbito do histórico congresso, parda que aparece referida no na palma da mão como uma bola de ténis) de varias qualidades, obra anónima de 1788, acabou por integrar o codorno entre as mais antigo livro de receitas parecem mais calhados à arte de «guer- pêras. português. Datado de finais do rejar» do que à gastronomia. Porque não 1. Pormenor do tronco e copa de um Decorridos 47 anos, a controvérsia pa- século 15, pertenceu a D. Maria se apalpa nem se trinca um codorno cru, elegante codorneiro rece ter-se diluído e não é retomada no 2.º Nde Portugal (1538-1577), Duquesa de Par- mas facilmente com ele se parte um vidro. 2. Belas e rijas pêras de codorneiro, Congresso Nacional de Pomologia, que ma e Placência, neta do rei D. Manuel I Não admira por isso que o linguista e pro- fotografadas na Quinta do ocorre em Alcobaça em 1926. Na obra Mé- (1469-1521) e é por esse motivo conhecido fessor régio no Trinita College de Dublin, Castanheiro, em Sintra, por cortesia todo de caracterização das variedades de peras como Livro de Cozinha da Infanta D. Maria. António Vieyra Transtagano (1712-1797) do seu proprietário portuguesas ou tidas como tais, resultante Escrito em gótico cursivo ou letra joanina, no dicionário bilingue A Dictionary of the deste evento, o engenheiro agrónomo e este códice de autor anónimo fornece uma Portuguese and English Languages, in two silvicultor Joaquim Vieira da Natividade receita de conserva que supõe a utilização parts, Portuguese and English and English (1899-1968), aponta o codorno (com pro- de codornos não muito maduros mas «so- and Portuguese, publicado em 1773, reco- veniência de Sintra) como uma das castas bre o verde», furados três vezes cada um, nheça no codorno uma «fruta garabu- classificadas de pêras num quadro que in- a «começar no olho e acabar no pé». Con- lhenta» (ou seja rude, inflexível), feita de clui cerca de 49 designações. tudo, face à extrema rijeza desta varieda- «pedra» («stony fruit»). Resta agora saber qual é origem etimo- de de pêra, comprovada pelas que colhe- Vindo em auxílio desta bonita espécie lógica da palavra codorno. Segundo o Di- mos na secular Quinta do Castanheiro, de pereira típica de Sintra, acrescentamos cionário Etimológico da Língua Portuguesa, em Sintra, bem difícil nos parece tal tarefa que o seu fruto é apesar de tudo, de uma de José Pedro Machado (1914-2005), «tal- e suspeitamos ter existido nas cozinhas rudeza amável, e antes de mais oportuna, vez» provenha do latim «cotõnu-, por co- medievais um «fuso» próximo do nosso porque sendo serôdio (de colheita tardia), toneu-» ou «cytõnu- por cydoniu», vocá- actual berbequim. é um fruto de inverno ideal para ter na bulos que são a raiz da palavra marmelo. Pendendo nos graciosos ramos de co- dispensa, e ir consumindo lentamente Sem querermos entrar nas disputas que dorneiro (Pyrus communis L.), redondos, cozido, assado ou bêbedo. Na feira saloia nos levariam a um novo labirinto linguís- achatados e de cor semelhante à maçã das Mercês, que decorre na Rinchoa (Sin- tico, concluímos que embora o codorno reineta, os codornos, «tão gabados» pela tra) em Outubro (este ano de 18 a 20 e de amadureça na mesma época do marmelo, rainha Catarina de Áustria (1507-1578), 25 a 27), o codorno pode ser comprado cru é sem dúvida muitíssimo mais rijo e “Deus que todos os anos recebia «cargas deles», ou cozido inteiro — com casca, grão de nos livre!” De quê? pergunta o leitor. De enviadas pelos Dominicanos do Conven- erva doce, pau de canela e açúcar (ou sal) “levar uma pêra” de codorno no toutiço! to de Nossa Senhora da Luz de Pedrógão —, mas se o leitor quiser testar a lâmina Por certo, faria nascer um galo capaz de Grande – conforme se lê no livro Miscella- das suas facas de cozinha pode confeccio- cantar até à próxima crónica. nea, de 1629, assinado pelo jurista e escri- nar a «Receita de Codornada», descrita no 2 [A autora escreve de acordo com a antiga ortografia] 10 TL SET-OUT 2019

MEMÓRIAS DE JÚLIO ISIDRO BREVE HISTÓRIA DE ANTÓNIO JOAQUIM dr ro que a partir daquele instante deixava para o passado o António Joaquim. Com energia de inspiração divina, Ro- berto cantou e dançou o seu primeiro grande sucesso, “Arrebita”. Daí para a frente não havia brasileiro que não soubesse de cor o refrão: Ai ca- chopa se tu queres ser bonita, arrebita, ar- rebita, arrebita. Esta é a história imprecisa e cheia de ternura de mais um herói português que soube dizer que não ao destino sombrio e ganhar a vida a pulso. Roberto Leal, conquistou uma enorme popularidade no Brasil e assim-assim em Portugal. O preconceito, os rótulos e nalguns ca- sos o despeito, fizeram dele um estrangei- ro na sua terra de origem e um emigrante bem-sucedido na pátria de acolhimento. Nas diversas entrevistas que dava, sen- tia-se sempre essa entristecida duplicida- de de sentimentos que foi também ate- nuando com o tempo. Roberto Leal era um místico de fino tra- to, um defensor da música popular por- tuguesa que vestiu de roupagens tropicais para ser mais entendida pelo público bra- sileiro. Fez espectáculos com os grandes nomes da música de Portugal e do Brasil, fez ci- nema, gravou mais de trezentas canções, vendeu para além de vinte milhões de dis- cos, muitos em ouro e platina, e manteve uma ponte constante entre os dois países que amava de forma diferente. Morreu aos 67 anos deixando vazia a casa da sua mulher Márcia Lúcia e dos seus três filhos. Como acontece sempre, os elogios fú- nebres, as confissões de amizade desde sempre, as carpideiras que já de longe admiraram o talento do artista falecido, invadiram durante alguns dias, (poucos ra dura a vida neste país de tan- O António Joaquim tinha onze anos. porque há mais tristezas para entrar de tos pobres longe da vista. Famílias Em S. Paulo todos se viraram à vida por- vendeu para além moda) as nossas novas formas de comuni- grandes, com dinheiros pequenos que o português não é de se render. car, as chamadas redes anti-sociais. lutando dia a dia pelo prato de Foi sapateiro, estudou os mínimos, ven- de vinte milhões Houve até vozes que descobriram final- sopa meio vazio de esperança no deu doces e ajudou a família nesta nova mente a grande mensagem cultural do futuro. descoberta. de discos, muitos defunto. Uma certa noite de um certo Trabalhava a cantarolar fados e músicas No meio deste desconforto moral, re- Eano em Vale da Porca, Macedo de Cavalei- românticas e, era afinadinho o miúdo. em ouro e platina, cordo a frase do seu filho Rodrigo Leal: ros, o pai daquela família de mulher e dez Como o direito ao sonho não paga im- “Perdi o meu melhor amigo, mas ele dei- crianças, reuniu junto ao fogo que lhes posto, foi sonhando com uma carreira e manteve uma xou-me uma história linda.” aquecia mal, o corpo e alma. de cantor já com algumas passagens por Profundamente religioso, Roberto Leal, - Como sabem, com as trovoadas e a casas onde o aplaudiam em troca de uns ponte constante o António Joaquim da aldeia de Vale da chuvas, o nosso trigo morreu. Portanto, quantos cruzeiros. Porca ainda em luto, teve uma resposta ao vamos ficar um ano sem pão. Assumiu, anos mais tarde, que comeu entre os dois países humorista Bruno Nogueira, que definiu a A família Fernandes, sempre unida no menos do que a fome que tinha enquanto sua luta, as suas conquistas, as suas dores suor de cada dia, sentia que Portugal era contava as moedas, mas não ia desistir. que amava de forma e as suas vitórias na vida. para eles uma terra madrasta. Num lampejo de sorte, estava nos bas- O Bruno perguntou-lhe: “Roberto, gos- O pai percebendo que aquilo não era tidores do célebre programa de televisão diferente tavas mais de morrer em Portugal ou no nem seria vida para ninguém, juntou as A Discoteca do quando lhe de- Brasil?” moedas do fundo da arca e marcou via- ram três minutos para mostrar o que valia. A resposta: “Gostava de morrer em gem para os Brasis num velho navio que - Como te chamas? – perguntou o mítico paz.” atravessou o Atlântico à procura de uma apresentador. terra prometida. - Roberto Leal – respondeu o jovem lou- [O autor escreve de acordo com a antiga ortografia]

12 TL SET-OUT 2019 Entrevista Soraia Tavares Do palco da Academia Inatel para o palco do Teatro da Trindade

Em 2015 conseguiu entrar, a partir de uma bolsa, no curso de teatro musical da Academia Inatel Lisboa, onde protagonizou “Nham Nham, Um Delicioso Musical”. Em 2019 é uma das protagonistas de “Chicago”, em cena no Teatro da Trindade Inatel

oraia Tavares não consegue ser família, pessoas que pagam bilhetes protagonista ao lado da Gabriela Barros imaginar o que vai estar a e que querem mesmo ver um espetáculo e com encenação do Diogo Infante. fazer daqui a 10 anos, mas teu. Falamos de “Chicago”. “Se tiver que sabe o que quer fazer hoje, e Sabiam desde o início que o curso Já tinha trabalhado no Trindade antes do hoje ela quer ser e é a menina culminava com uma peça no Trindade? curso na Academia. Posso dizer que já me escolher – mulher que sonhou, lutou e Sabíamos que íamos ter uma sinto em casa naquele palco. Já fiz quatro concretizou o sonho de ser apresentação, não sabíamos é que espetáculos. entre cantar ou Scantora e atriz. É artista. éramos nós a criar todo o espetáculo. Lembro-me de dizer, quando era Lembras-te do primeiro dia em que Começámos por fazer as canções, que pequena, “eu adorava estar aqui um dia”, representar – vou ensaiaram pela primeira vez o “Nham depois acabaram por ser reformuladas no palco do Teatro da Trindade, e hoje Nham”? pelo diretor musical, o Carlos Garcia. posso dizer que conheço os técnicos, a ser muito infeliz, Não me lembro do primeiro dia, mas Escrevemos as letras, criámos melodias, produção, a equipa e pensar nisso, fazer lembro-me do dia em que fiz a audição tudo feito por nós, inclusive o texto que esta retrospetiva, deixa-me muito feliz. sou feliz a fazer – porque no meu ano a Inatel ofereceu 2 depois foi adaptado pelo Claudio, e Atriz ou cantora? bolsas a alunos, porque se não ganhasse isto tornou o espetáculo muito especial Eu sinto-me bem quando estou só como as duas coisas. Até a bolsa não podia fazer o curso e quando para nós porque era inteiramente nosso, atriz, como me sinto bem só a cantar. fiquei com a bolsa, fiquei muito feliz. no seu todo. Mesmo as coreografias, Ter o melhor dos dois mundos é ótimo, hoje nunca tive Era importante para mim fazer este partiam de nós e depois era o Bruno mas também não quero fazer só teatro curso porque queria trabalhar com Cochat que aproveitava o melhor e musical. E se tiver que escolher vou ser que escolher e os os professores da altura, conhecia o ampliava. muito infeliz, sou feliz a fazer as duas percurso deles e queria aprender o que O grupo na altura era todo amador ou já coisas. Até hoje nunca tive que escolher e projetos têm vindo tinham para me ensinar. tinham experiência de palco? os projetos têm vindo até mim. O Claudio Hochman é um deles. Profissionais, que já estivessem ligados, Foi o teatro musical que te chamou para até mim” Sim, o Claudio é um excelente encenador éramos apenas quatro, e eu a que tinha a Academia? e é mesmo incrível trabalhar com ele. Ele feito mais trabalhos como atriz, mas Sim, foi o teatro musical que me chamou tira o melhor de nós, mesmo quando nós estar com quem ainda estava a dar os para o curso na Academia Inatel. achando que temos dificuldades, ele usa primeiros passos foi muito enriquecedor Quando vi a oportunidade de fazer essas dificuldades e transforma em cena, para mim. Aprender com essas pessoas parte da turma achei que o curso ia em teatro. que não têm manias, nem vícios, é uma ser bom para complementar o pouco O que é este curso na Academia Inatel mais-valia. que já sabia, para me fazer crescer e acrescentou enquanto atriz? Ainda te lembras das músicas? acho que a mais-valia deste curso foi Eu acho que workshops, e cursos Claro. “Para fazer um musical alucinante, a interpretação, o trabalho de ator é diferentes, acabam sempre por nos num restaurante ...” Toda a história muito forte. O que sentia nos outros ensinar muito. acontecia num restaurante, com várias cursos era que a parte de ator não era Eu já tinha feito teatro musical na cenas, situações, onde fiz de cliente e de tão trabalhada, ou se trabalhava mais a altura, mas nunca tinha feito nenhum empregada de mesa. dança, ou mais o canto, e aqui, naquele workshop, nem nenhum curso focado Em 2015 o teu palco é o palco da curso, estavam as três áreas muito fortes. nessa área e que tenha terminado num Academia Inatel, e em 2019 o teu palco Como é que o “Chicago” entra na tua espetáculo com “pessoas normais”, sem é o Teatro da Trindade Inatel como vida? TL set-out 2019 13

© filipe ferreira

Foi a minha agente, e é engraçado porque a minha agente abordou-me a primeira vez após a apresentação do Conversa com Soraia “Nham Nham”. Uma amiga dela viu a peça e disse que ela tinha que me Tavares e Claudio Hochman conhecer e assim foi. Com o “Chicago”, foi ela que, um ano antes, me disse que iam fazer casting para o musical e que Claudio Hochman, quem era a Soraia Nham” foi muito bonito, o que ela fez mas aqui, em Portugal, não há muita devia preparar-me para isso. Comecei a como aluna na Academia Inatel? neste espetáculo foi lindo de morrer. coisa e o conselho foi porque ela tem fazer muito mais ginásio de resistência, Era talento. A capacidade dela como atriz Já sabia que ela ia ser uma atriz de muito talento e queria que ela exprimisse cheguei a dançar e na altura certa mandei e cantora fazia com que me apoiasse sucesso da sua geração? ao máximo as suas capacidades. o meu vídeo da primeira fase do casting muito nela, porque tinha um talento CH – Sim, e disse-lhe para ir para fora ST – A verdade é que não sentia e fui chamada para a 2.ª fase, para o incrível e abria o espetáculo “Nham do país trabalhar e estudar, ela disse que necessidade de sair daqui e queria ir até ensemble, para fazer parte do coro e para Nham” com música à capela, e sozinha. queria estar aqui e fazer carreira cá. Eu ao máximo do que ainda posso e quero os bailarinos. Mas não sabia muito bem. Ela tem uma voz preciosa. O “Nham não estava a desvalorizar a vontade dela fazer aqui e porque eu acho que não A verdade é que era só dança e, quando tenho muito o espírito de imigrante, achava que tinha corrido muito mal, o beatriz lorena confesso. Também não quis ir porque Diogo falou comigo e pediu para fazer quis e quero fazer parte de uma “leva” casting para protagonistas. que estava a nascer da aposta no teatro Aí já cantei e dancei, e na fase final musical, que é hoje melhor do que aquela éramos apenas três, a Gabriela Barros, que se via há uns anos. Mas a verdade que já estava escolhida, e eu e outra atriz. é que às vezes sinto a necessidade de ir Fiquei eu. A menina que passa do coro para fora e fazer outras coisas, mas ainda para protagonista, como nos filmes. É um tenho tempo, só tenho 25 anos, e quero sonho. viver o que estou a fazer. E a tua família, acompanha desde CH – Pensando bem, se tivesse ido para sempre esta escolha, a tua vida como fora não estaria a fazer “Chicago” que é atriz? um trabalho prestigiante e muito bonito. Os meus pais não têm o hábito de ir Daqui a 10 anos, onde vamos ver a ao teatro, mas vão ver todos os meus Soraia Tavares? espetáculos e a minha mãe foi a que mais ST – Não sei, não sei mesmo. Estou me empurrou para isto. Se fui para a a viver o agora, porque o “Chicago” Escola Teatro Profissional de Cascais, foi absorve muito e estou mesmo a viver porque a minha mãe me empurrou muito o momento que é uma oportunidade para ir, “segue aquilo que tu queres”. Ela única na minha vida. Tenho sempre um tem uma profissão tão humilde e é feliz, objetivo e um caminho traçado, mas que quer que também faça aquilo que desta vez quero estar aqui, inteira, a dar goste mesmo que ganhe menos dinheiro. o meu melhor e a viver este momento da Maria João Costa melhor forma. M.J.C. 14 TL SET-OUT 2019 ciclo mundos Entrevista Mamadou Diabaté “A minha escola foi o meu balafon” Intérprete de um dos mais antigos instrumentos de percussão da África Ocidental. Virtuoso balafonista que carrega consigo a herança dos griots de etnia mandinga. Cavaleiro da Ordem Nacional do Burquina Faso. Empreendedor educativo que construiu uma escola para oferecer educação gratuita a mais de 650 crianças de Bobo Dioulasso. Eis Mamadou Diabaté que encerrou a temporada do Ciclo Mundos de 2018

m pouco por toda a África, há antigo que remonta aos tempos de de kora (não de forma profissional). histórias de empreendedores Sundiata Keita [fundador do Império Mas o balafon é o meu primeiro improváveis que tentam do Mali em 1235] e de Soumaore Kanté. instrumento. Contudo, quando via um melhorar a vida daqueles que Aquele que trouxe o balafon para o novo instrumento sentia que tinha de o lhes estão mais próximos. mundo. Só cerca de duzentos anos aprender. Mamadou Diabaté não se depois é que começou a ser tocada a O que é que mudou na sua forma chama William Kamkwamba, kora. A origem é a mesma, tocamos as de compor e de tocar após tornar-se Unão nasceu no Malawi, nem tão pouco mesmas melodias, nas mesmas escalas. “vienense”? Aí começou a tocar com criou uma turbina que salvou uma aldeia Hoje existem vários tipos de balafons. muitos músicos europeus. da fome, conforme podemos aferir no O Mandinga da Guiné Conacri que é Muita coisa mudou. Mas a minha cultura filme “O Rapaz Que Prendeu o Vento” diatónico e mais aproximado da kora. O não mudou. Todos os anos vou ao disponível no Netflix. balafon que eu toco é pentatónico. Quem Burquina Faso para aprender mais e mais. Mamadou Diabaté nasceu griot, toca kora pode tocar balafon. As melodias Em 2000, apenas tocava música tradicional em berço de músicos tocadores de que tocamos na kora são as mesmas que da minha etnia sambla. Algumas pessoas balafon. Saiu de casa aos 12 anos porque tocamos no balafon. não a entendiam. Esta música sambla era queria conhecer outras músicas, outros A timbila moçambicana da etnia chope para tocar e para falar com o balafon. instrumentos. Emigrou para a Áustria há está muito distante do seu instrumento? Fala com o balafon? vinte anos atrás. Apesar da sua exímia Conheço bem a timbila. É muito Sim. Falo. Não toco apenas. Sei que é técnica enquanto intérprete, viveu um importante para mim saber em que difícil para os europeus entenderem. inferno na Europa por não ter tido a locais existem instrumentos da família do Quando toco balafon na tonalidade em com músicos de diferentes culturas. possibilidade de ir à escola quando era balafon, como a amadinda no Uganda. que o faço, sei que é muito difícil integrar Ouvir o que o outro toca. Quando chego criança. Até mesmo na Indonésia. Já viajei por saxofone, piano, ou outro instrumento de a casa tento integrar na minha música Actualmente, para além de manter muitos países para ver diferentes balafons. teclas. Vi que tinha uma audiência não algumas das coisas que aprendi nessas vários projectos musicais de fusão de O balafon mandinga foi levado há muito muito grande. Vi que tinha de aprender, sessões. uma miríade de músicas é, sobretudo, tempo para outras regiões de África. de mudar o sambla que estava a tocar, É por isso que tem tantos projectos um empreendedor educativo apostado São todos da mesma família, apesar para tocar com outro tipo de balafons paralelos? Como, por exemplo com o em reduzir os elevados níveis de iliteracia de não falarem a mesma língua. Posso também pentatónicos. Esta noite vou saxofonista Sigi Finkel, com músicos em África e, mais concretamente, no tocar timbila mas não o faço como os tocar jula balafon. Fiz alterações para indianos, com um flautista africano? Burquina Faso. moçambicanos. Toco de forma diferente. outros instrumentos como guitarra e Tento fazer o meu melhor. Tento ser O que significa para si carregar a E os moçambicanos podem também tocar baixo poderem acompanhar-me. Peguei profissional. A música não é para brincar. herança mandinga dos Diabaté? o meu balafon numa outra língua. As nas canções sambla e traduzi-as para A música é música. Se eu tiver um Diabaté é uma única e grande família pessoas em África dão muita importância outras línguas de modo a poder tocar instrumento e se me cruzar com bons em toda a África Ocidental, proveniente aos griots. São como jornalistas. Trazemos com outros músicos de outras culturas. músicos, quero aprender e quero tocar da etnia Mandinga espalhada pelo Mali, a informação e transmitimos os saberes Foi difícil, mas é uma experiência com eles. Se tiver aí um instrumento, posso Burquina Faso, Guiné Conacri, Senegal... dos antepassados às novas gerações. Estou gratificante. tocar consigo. Eu aprendo consigo e você é uma família griot que toca instrumentos igualmente muito contente por partilhar O Youssou n’Dour tocava mbalax comigo. A experiência é um pouco isto. como kora, balafon e que canta. Nasci a minha música, o meu instrumento, com tradicional para os ouvidos senegaleses Quando começou a tocar com o Sigi, numa família de tocadores de balafon e audiências de todo mundo. Tento dar e rearranjava essas canções para ele tentava dialogar consigo em sembla, por isso toco este instrumento. Nascer no o meu melhor, mas não estou sozinho. audiências internacionais. Também certo? seio de uma família desta, é como nascer Temos muito mais instrumentos e músicos. readapta desta forma o seu repertório? Sim. Quando comecei a trabalhar com dentro de numa escola. Todos têm de Veio de uma família de balafonistas. Sim. O que eu toco agora é para todos ele, tocávamos a música do meu povo aprender a tocar o instrumento. Entre os Quando saiu de casa, com cerca de ouvirem. A qualquer sítio a que vou sembla. Era muito difícil para o Sigi, meus familiares há cerca de 3000 músicos 12 anos, começou a explorar outro tocar, tento perceber que tipo de música porque tinha de falar em sembla com que tocam balafon. instrumento: o ngoni. Que outros tocam nesse país. Ao tocar em Portugal, o seu saxofone. Um dia, estávamos Porque é que no Norte tocam kora e no instrumentos toca? tento tocar também algo similar. Nunca no Burquina Faso, começou a tocar Sul balafon? Toco todos os instrumentos africanos. o mesmo. É por isso que adoro conhecer, uma música e a audiência riu-se. Ele O balafon é um instrumento muito Ngoni, dundun, talking drum, um pouco tocar, participar em sessões de improviso pensou que estava a tocar muito bem. TL set-out 2019 15

Fotos: beatriz lorena não têm dinheiro para mandar os seus filhos estudarem. Parece que 50 euros de propinas por ano não é muito para um europeu, mas a maior parte das famílias africanas não tem esse dinheiro para pagar um ano de escola dos seus filhos. O nosso governo não é mau, apenas não pode subsidiar todos os estudantes. O mais importante é a escola. O que é que ensina na sua escola? música? Neste momento, estou a tentar ampliar o espaço da escola. Não é muito grande. Temos apenas uma oferta lectiva de seis anos de ensino básico para 650 alunos. Estou a tentar encontrar um patrocinador para me ajudar a aumentar a lotação da escola e a oferta formativa mais especializada em música. As crianças nesta escola ficam a saber ler e escrever, a poder exprimir-se em várias línguas. Podem cantar e saber fazer várias coisas, mas o seu percurso escolar termina ao fim de seis anos. Preocupa-me o que vão fazer a seguir. Por isso estou a tentar aumentar o programa de ensino para nove anos e para matérias mais especializadas como o ensino de música e de negócios relacionados com a música. De forma a que o jovem músico ganhe os dias. Mesmo que não tenhamos um ferramentas para poder emigrar para a concerto, ensaiamos durante sete a oito Europa? horas por dia para desenvolver esta técnica Não precisam de ir para a Europa. em que há quem afirme que tocamos como Precisam é de saber montar o seu próprio se estivessem a ouvir três balafonistas em projecto. África é muito grande. Existem simultâneo. Fazemos imensos exercícios, muitos sítios para tocar. Também podem muito mais exigentes daquilo que tocamos viver em África e tocar pontualmente na num espectáculo. Tocamos de forma muito Europa. No meu caso específico, estive rápida com baquetas muito maiores e bem agora três meses nos Estados Unidos, mais pesadas. hoje estou em Portugal e amanhã vou É um pouco como o Cristiano Ronaldo para Marrocos. Os músicos não têm casa. treinar com pesos suplementares nas Movimentam-se por todo o lado. Tenho pernas para posteriormente poder correr residência em Viena, mas não estou lá mais rápido num jogo? durante sete a oito meses. Se quiser, Sim. Podemos tocar bem, dar um bom posso regressar a África e continuar a ter espectáculo, sem estes exercícios. Mas as mesmas oportunidades de trabalho. É se queremos surpreender uma plateia isto que eu digo aos meus alunos. África temos, se queremos transmitir esta é um bom sítio. Europa não é o melhor. energia, temos de praticar, praticar, Hoje em dia, temos muitos migrantes praticar. a tentarem entrar na Europa. Mas o Criou uma escola de frequência gratuita que é que eles aqui querem fazer? Esse no Burquina Faso. Que metas espera que é o problema. A minha mais-valia é o os seus estudantes atinjam? balafon. É através dele que me relaciono A educação das crianças é extremamente consigo enquanto jornalista, com o meu importante. É impossível uma criança agente, com todos os organizadores de fazer um percurso semelhante ao meu concertos. Vou tendo trabalho. Se não – emigrar para a Europa – se não for à tiver uma boa ferramenta para trabalhar escola. Eu não fui à escola, a minha escola morro aqui. Por vezes pergunto aos foi o meu balafon. Os meus pais e avós estudantes da minha escola o que é Agora toca e a audiência percebe-o. diziam-me para tocar balafon, que não que eles querem fazer na vida. Como Aprendi muita coisa com ele porque é “A educação precisava de sair da minha aldeia para ir à projectam a sua vida para daqui a 15 ou um músico de jazz. Não toco jazz, mas escola. Quando saí da minha aldeia, tocava 20 anos. 500 das 650 crianças dizem-me ganhei ferramentas para tocar com das crianças é balafon muito bem, mas não sabia fazer que querem ir viver para a Europa. E eu outros músicos de jazz. Sei o que fazer. mais nada. Não sabia francês, não sabia explico que se querem ir para a Europa Por vezes poderá afirmar que a minha extremamente ler nem escrever, assinar documentos. têm de ganhar competências numa música é jazz, mas eu não toco nem sei Quando cheguei à Europa, senti que profissão em que façam a diferença. tocar jazz. O jazz nasceu há cem anos em importante. É não sabia fazer nada sozinho. Precisava Têm de ser bons em negócios, em África, mas a geração actual de músicos sempre de alguém que me ajudasse, até matemática. Toda a gente quer montar de jazz é muito diferente da do jazz impossível uma mesmo para ir aos correios enviar uma um restaurante, mas antes de o fazer têm africano. Mudaram tudo. Antes o jazz era carta. Muitas vezes ouvia os meus amigos de saber como arranjar fundos, têm de pentatónico. Hoje em dia, a geração mais criança fazer dizer: “Agora não tenho tempo!”, “Agora ter contactos, têm de ser boas pessoas, nova não considera a escala pentatónica não tenho tempo!”, Agora não tenho falar com imensa gente, ser positivos. Se como a do jazz. um percurso tempo!”. E isso era muito importante para não forem à escola, não poderão saber No seu espectáculo costuma dialogar mim. Ia tocar num outro país, precisava isso. A educação em África continua com outro tocador de balafon: o seu semelhante ao meu de obter um visto no passaporte. Acabei a ser um problema muito sério. Cerca irmão. É importante dar esta dinâmica por perder muitos trabalhos por causa de 90% das crianças não a frequenta. É de conversa, de improviso, num – emigrar para a disso. Chorei, reflecti, rezei muito e pensei muito. Seria óptimo que conseguíssemos espectáculo? em fazer algo grandioso que me fizesse diminuir estes números para 30% a 40%. O meu irmão mais novo é um excelente Europa – se não feliz. Deus escutou-me, deu-me algum No Burquina Faso, os políticos afirmam executante de balafon. Toca muito rápido. trabalho, algum dinheiro. Regressei ao que 99% das crianças vão à escola, mas, Num espectáculo, por vezes, começamos for à escola” Burquina Faso, criei a escola. Tento pagar na realidade, 85% não vão à escola. Não a dialogar, por vezes, peço-lhe para tocar tudo. Quando dou concertos, divulgo este quero criticar os políticos, quero fazer como eu. É bom para o espectáculo e para projecto. Alguns espectadores oferecem apenas o melhor que posso. Ampliar a a audiência. Podem aferir o quão rápido donativos à escola. escola para os 1000 alunos e para o ensino o balafon pode ser tocado. Por vezes, as As crianças têm de ir à escola. Existem especializado em música. Luís Rei pessoas dizem que não é possível. Mas é escolas no Burquina Faso, mas em todas mesmo possível porque tocamos todos a frequência é paga. Muitas famílias [O autor escreve de acordo com a antiga ortografia] 16 TL SET-OUT 2019 VIAGEns ISLÂNDIA: SONHO, FOGO E GELO Uma ilha situada no topo do mundo, conhecida pelos seus glaciares, vulcões e parques naturais de rara beleza

DR chegada a Reykjavík anuncia um cenário de filmes, com vul- cões ativos e altas nuvens de vapor. Vamos ao hotel, situado na principal rua comercial de Laugavegur, para depois en- frentar as baixas temperaturas, Acom calçado impermeável e roupa térmi- ca, sem esquecer o cachecol, as luvas e o gorro. Passeamos livremente pelo centro da cidade. Descobrimos a Harpa, a famosa casa da música clássica, cujas fachadas em vidro foram inspiradas na natureza local. Visitamos a Igreja Hallgrímskirkja, e se ti- vermos folgo, subindo ao cimo da torre, com mais de 70 metros de altura, podemos apreciar a vista sobre a capital islandesa. Na manhã seguinte, percorremos a rota do Círculo Dourado. Sentimos o vapor libertado pela área geotermal de Geysir, com nascentes de água quente e piscinas naturais que borbulham. O géiser original foi substituído por Strokkur, que entra em erupção com curtos intervalos de minutos. Continuamos até Gullfoss, a Cascata Dou- rada, uma queda de água dupla que cai no rio Hvítá. De seguida, vamos ao Parque Nacional de Thingvellir, Património da Humanidade, uma área de grande valor DR histórico e geológico. Paragem seguinte: Lagoa Azul e Reykja- Mais um dia. Partimos para o oeste do vik. Aproveitamos as águas revigorantes país para ver um glaciar islandês. Chegada da lagoa, reconhecidas pelas suas pro- à cidade de Borganes, localizada numa pe- priedades medicinais. Mergulhamos nas nínsula do fiorde de Borgarfjöroure. Ob- águas azuis, cercados pelo vapor e pela servamos locais de grande beleza como é parede de lava de quatro metros de altura. o caso de Deildartunguhver, uma das mais Antes de regressar ao navio, fazemos um importantes nascentes de águas termais passeio pela capital da Islândia, Reykjavik. da Europa, e Hraunfossar, uma queda de Nova paragem: Isafjordur, o maior po- água que corre por um vasto campo de voado nos fiordes do oeste da Islândia e lava até ao rio Hvítá. Depois, visitamos o um importante centro de comércio e cultu- segundo maior glaciar da Islândia, Lang- ra. Na parte mais antiga da cidade, Neds- jokull, num percurso em super-camião, até tikaupstadur, destacam-se as casas do sé- à maior gruta feita pelo Homem no inte- culo XVIII, comprovando que outrora foi rior de um glaciar. um dos principais centros de comércio. Se- Novo dia. Vamos ao Centro de Informa- guimos até ao bairro histórico e ao Museu ção Eyjafjallajökull para sabermos como é Marítimo, instalado numa das casas mais viver junto a um glaciar ou a um vulcão antigas da Islândia. ativo. Continuamos até à pequena povoa- Mais uma paragem: Catarata dos Deu- ção de Skógar para ver a cascata de Skóga- ses e Akureyri. A capital do norte da Islân- foss, com 62 metros de altura. Destaca-se a dia, Akureyri, rodeada por montanhas, é costa de Reynisfjara, perto da povoação de uma cidade que mistura vida urbana, rural Vík, uma das mais impressionantes praias Loch Ness e Castelo de Urquhart e, em cima, Reykjavik e marinha. Percorremos as encantadoras de areia negra e pedra na Islândia. paisagens até à Catarata Godafoss. Depois Nos últimos dias, tempo ainda para ir à cidade e o porto. Passamos pelo moderno vamos ao bairro histórico de Akureyri, Lagoa Azul, para desfrutar de um banho bairro portuário Hafen-City. Embarcamos ISLÂNDIA: UM PAÍS DE SONHO, FOGO E GELO onde se destaca a influência dinamarque- relaxante. A península de Reykjanes tem no navio ecológico MSC Preziosa, para na- Data: 28 de abril a 3 de maio de 2020 sa, herança do antigo reinado da Coroa da mais de 100 crateras diferentes, campos de vegar durante 12 dias. Partida: Lisboa Dinamarca. lava, nascentes termais, escarpas impres- Primeira paragem: Loch Ness e Castelo Última paragem: Kirkwall. Num passeio sionantes sobre o oceano atlântico e praias de Urquhart. Percorremos as margens do CRUZEIRO PELA ISLÂNDIA E ESCÓCIA a pé exploramos alguns dos locais arquite- de areia vulcânica. Cromarty Firth, passando pelas ruínas da Data: 3 a 15 de junho de 2020 tónicos mais fascinantes das ilhas Orkney. abadia em Beauly (de origem francesa), Partidas: Lisboa | Porto Iniciamos a caminhada até à antiga cidade CRUZEIRO PELA ISLÂNDIA E ESCÓCIA antes de chegar ao misterioso Lago Ness. histórica, a capital viking das ilhas. A Cate- De Hamburgo, a bordo do MSC Preziosa, As profundezas sombrias do lago origina- Informações: Tel. 211 155 779 | dral de St. Magnus, de arenito vermelho, navegamos pelas belas paisagens escoce- ram contos e avistamentos de estranhas [email protected] | www.inatel.pt conhecida como “A Luz do Norte”, é o mais sas e islandesas criaturas, incluindo o lendário Nessie, o belo edifício medieval do norte da Escócia. Em Hamburgo vemos o edifício Ra- monstro de Loch Ness. Seguimos até ao Prosseguimos até às ruínas do Palácio do thaus, as igrejas de São Nicolau e de São Castelo de Urquhart, do século XIV, outro- Bispo, seguindo-se as ruínas do Palácio do Miguel, símbolo da cidade. Subimos à tor- ra o maior castelo da Escócia, cujas ruínas Conde, um dos edifícios mais imponentes re para apreciar a vista sobre o rio Elba, a ficam à beira do lago. da época Renascentista. TL set-out 2019 17 18 TL SET-OUT 2019 Trindade Dois espetáculos a não perder “Chicago”, com encenação de Diogo Infante, um dos musicais mais populares da Broadway, que se tem revelado um enorme sucesso, em cena na sala Carmen Dolores. “Os Inimigos da Liberdade – Peça para três escravos”, de Manuel Pureza, vencedor do Prémio Miguel Rovisco – Novos Textos Teatrais, 2018/19, estreia em novembro, na sala Estúdio

Filipe Ferreira mos como nossas as suas dores, mas acima CHICAGO de tudo não questionamos, limitamo-nos a cumprir. Empurramos a pedra mais dias Não sou estranho a musicais, sou do tem- do que aqueles em que olhamos para o po em que muitos serões eram passados deserto, do que aqueles em que nos aper- a ver filmes com o Fred Astaire, Ginger cebemos do que nos rodeia, do que aque- Rogers, Gene Kelly, Esther Williams, Cyd les em que paramos para perguntar-nos se Charisse e tantos outros. A vida acabaria é mesmo isto que queremos fazer. Muitas por me colocar num caminho diferente, vezes, já nem sabemos o que era antes de mas a minha paixão por musicais nunca fazermos parte deste acordo silencioso. Às desapareceu. vezes a revolta parece surgir, mostramo- Foi assim que, em 2008, encenei, no -nos inconformados e não aceitamos que Teatro Maria Matos, o “Cabaret”, que, nos digam que tem de ser, mas fazemo-lo tal como “Chicago”, tinha como pano de já sem outra forma que não seja a expec- fundo um contexto político e social par- tável: já todos sabem que nos vamos in- ticular, corruptível e decadente, envolto dignar a horas certas, respondendo a uma em mistério, e no qual muitos dos temas cartilha que nos indica quando, como e musicais tinham uma forte inspiração no onde devemos fazê-lo, de maneira a não Jazz. deixar que o sistema se sinta abalado e Em “Chicago”, encontramos uma forte abrande. Isso não pode ser: “o sistema que crítica social, que a jornalista e dramatur- nos consome e aleija” é aquele em que ga estado-unidense Maurine Dallas Wa- nascemos, apesar de teimarmos em dizer tkins tão bem retratou na sua primeira que nos lembramos do tempo em que éra- peça, intitulada “Chicago”, escrita a partir mos realmente felizes e livres. de factos verídicos. O tempo. O deserto. O trabalho. A li- A ideia de que criminosas(os) podem berdade. ascender ao estatuto de celebridades pro- ©Pedro Macedo/Framed Photos Contamos as histórias que nos acal- movidas pela comunicação social, numa mam e desresponsabilizam desde que tentativa recorrente de criar novas notí- nascemos até aos nossos últimos mo- cias e de as vender, é, perturbadoramente, mentos antes de nos transformarmos em atual. Billy Flynn diz-nos que o mundo é areia. A liberdade não devia ser domável, um circo de três pistas, tudo é ilusão, tudo nem sequer devia deixar de permanecer é manipulável. selvagem, incontida e própria do pulsar Há, em “Chicago”, para além do univer- mais primitivo da existência – mas nós so musical que nos é tão familiar, – mui- lançámos-lhe os grilhões quando a tor- to por culpa da versão cinematográfica námos domesticada e a trouxemos para – uma deliciosa desconstrução de certo o deserto. género humano, cuja ambição e desejo de Impõe-se a pergunta: pode alguém ser visibilidade tem eco, ainda hoje em dia, na livre no deserto? forma como nos promovemos através das Rasgará o pano da verdade quem sou- redes sociais e dos media. ber cantar. A questão do verdadeiro talento, da Manuel Pureza, autor e encenador essência, é relegada para segundo plano, do espetáculo em prol do que projetamos ser e da forma como os outros nos percecionam. A reali- INIMIGOS DA LIBERDADE dade e o virtual confundem-se e confun- Texto e encenação: Manuel Pureza dem-nos. ser maioritariamente composto de peda- Com: João Craveiro, Cristovão Campos e Mas não há nada de virtual no elenco OS INIMIGOS ços de nós, da nossa pele, do nosso corpo João Vicente que integra este nosso “Chicago”. Traba- desgastado, também o deserto é o resul- De 27 de novembro a 29 de dezembro lhar com eles, para além de um privilégio, DA LIBERDADE – tado do que já foi. Se um dia se viesse Sala Estúdio foi um prazer. O melhor mesmo é convi- a descobrir que de todos os buracos da Quarta a domingo 19:00 dar-vos a virem desfrutar do seu talento Peça para três terra brotava apenas areia e mais areia, e assistirem a um espetáculo memorável! adivinhávamos que o deserto não pararia Diogo Infante, encenador do espetáculo escravos nunca de crescer e que era areia aquilo “Inimigos da Liberdade”, de Manuel em que nos tornaríamos também nós. A Pureza, foi o texto vencedor do Prémio CHICAGO O tempo. O deserto. erosão do vento e da chuva, transforma Miguel Rovisco – Novos Textos Teatrais, De: Fred Ebb e Bob Fosse O deserto será, talvez, a maior mani- a mais segura rocha em pó, em areia, tal edição 2018/2019. O prémio foi criado Música: John Kander festação do tempo, feita de forma crua e como o tempo nos fará um dia “ser pó, com o intuito de estimular novos au- Encenação: Diogo Infante bruta, sem piedade. Aparentemente, ele cinza e nada”. tores para a escrita de textos originais Com: Gabriela Barros, Soraia Tavares, Miguel é só areia, é desolador, enche-nos a vis- Até lá caminhamos seguros de que cum- em língua portuguesa, promovendo e Raposo, José Raposo, Catarina Guerreiro, ta de um vazio que tem tanto de mági- primos uma função, de que há uma razão divulgando novos valores literários na Ana Cloe, entre muitos outros co, fotograficamente apelativo e sedutor, para atingir objectivos, de que há regras área do Teatro. A entrega dos textos de- Até 29 de dezembro como, ao mesmo tempo, de imagem mais a cumprir e de que juntos somos mais corre entre 1 de dezembro de 2019 e 31 Sala Carmen Dolores que certeira do futuro. fortes. Carregamos a responsabilidade de janeiro de 2020. (Regulamento em Quarta a sexta 21:00 | Sábado 16:30 e 21:00 Trágico, dirão alguns. de fazer o sistema continuar a funcionar, teatrotrindade.inatel.pt) | Domingo 16:30 Tão certo como o pó das nossas casas como quem carrega uma pedra. Assumi- de Fred ebb e bob fosse Música John kander Encenação Diogo Infante Viagens a partir de vários pontos do país para um espetáculo coprodução imperdível! teatro da trindade inatel e força de produção Informações: 210 027 000

PARCEIROS TEATRO DA TRINDADE INATEL APOIOS MEDIA PARTNERS COPRODUÇÃO M 12 2019 © Pedro Ferreira 20 TL SET-OUT 2019

Coluna Rancho Glória do Ribatejo DO provedor realiza a 1.a edição do festival Do popular à lusofonia, passando pela modernidade, o festival da Glória do Ribatejo foi transversal, na programação, no público, no tempo e no espaço

Fotos: beatriz lorena m três noites, houve lugar para dar voz aos Bordados Glorianos e a can- Manuel Camacho didatura do mesmo a Património [email protected] Cultural e Imaterial, na segunda noite ninguém abandonou o recinto Eaté à chegada dos UHF, e na terceira noite, ais uma vez, nem a chuva, deixou o Mundus Gloria pela na hora das metade. candidaturas ao A Banda Sinfónica do Exército atuou Ensino Superior, debaixo de chuva, e os restantes espetácu- chegam ao prelo los aconteceram na Casa do Povo da Gló- as estatísticas, as ria do Ribatejo. considerações e “Não é a mesma coisa mas é uma forma Mas análises à Educação e ao de continuar o festival e correspondermos perfil sociocultural do país. às expectativas do público e que estão aqui Foi assim que este ano para ouvir as atuações”, explicou Patrícia surgiu um dado novo, ou pelo Pote, membro da organização do Festival. menos não tão falado, que não Sobre a escolha de um cartaz tão eclé- deixa de ser preocupante. tico, Patrícia não deixa dúvidas: “A cul- Apesar de terem entrado tura evolui nesse sentido, o folclore não cerca de 44.000 jovens no se pode fechar em si mesmo, tem que se Ensino Superior, o número de abrir e fazer estas ligações intergeracio- jovens que não trabalha nem nais, só assim há futuro, há continuação estuda continua ainda muito e progressão.” superior a este. Um futuro que nas palavras de Rita Todos sabemos que a Pote, diretora do Grupo Rancho da Glória formação e a qualificação não do Ribatejo e organizadora e mentora do têm que ser necessariamente Festival, só faz sentido se criarem espaços feitas no Ensino Superior, mas e eventos para todos. “Não faz sentido fa- também é um facto que, sem zer programas para jovens, para crianças, elas, é cada vez mais difícil para idosos, todos têm que ser incluídos encontrar um trabalho estável no mesmo programa, e todos temos que e sustentável. partilhar a música, as tradições e aquilo É à sociedade e ao Estado que se faz de novo.” que compete dar resposta a Elida Almeida, com os ritmos de Cabo esta situação através das suas Verde, encerrou a primeira edição do fes- instituições, começando pela tival que teve como principal parceiro a família, passando pela escola e Fundação Inatel. indo mesmo até às empresas. “A Casa do Povo da Glória do Ribatejo É urgente contrariar está há cerca de 60 anos com a Fundação estar presentes e apoiar iniciativas como O Mundos Fest promete voltar a dar que estes números por todos os Inatel, como CCD, nas atividades etnográ- esta.” Declarações do presidente da Fun- falar no próximo ano, com ou sem chuva. motivos, mas essencialmente ficas, no desporto, em andebol, xadrez e dação Inatel, Francisco Madelino, que Mas com o apoio da Fundação Inatel. Ma- pelo facto do nosso País damas, e dança, faz parte da nossa missão marcou presença no Festival. ria João Costa estar a necessitar de muito “sangue” novo. A motivação pode também ser uma alavanca para a tomada de decisão certa AFEITEIRA DERROTA BICAMPEÃO NACIONAL quanto a um caminho profissional. E é claro que essa primeira final de futebol 2019/2020 é mais importante.” Para o presidente com muito gosto que recebemos várias motivação tem que vir muito juntou no centro do país, em da Câmara Municipal de Abrantes, Ma- finais apenas das equipas do distrito, e mais de fora para dentro do Abrantes, ACRIF, Bicampeão nacio- nuel Valamatos, todas as partes do jogo agora, pela 1.ª vez, a final nacional. É jun- que o contrário. nal e campeão do mundo, de Braga são importantes e é com satisfação que tar aqui, em Abrantes, o nosso país, com Neste contexto, a Fundação e Afeiteira, de Vendas Novas. acolheu o evento no Estádio Municipal equipas do norte e sul.” Inatel continua a promover AA “garra e determinação, o espírito de de Abrantes. “Temos uma relação mui- O Futebol 11 Fundação Inatel 2019/2020 formação certificada em sacrifício e o esforço dos jogadores nos to forte com a Inatel, o nosso concelho já deu o pontapé de saída. Novos jogos, várias áreas das Artes e do treinos e jogos” acabou por ditar a vitória (Santarém) tem muitas equipas que re- novas finais, novos desafios. Que vença o Artesanato, através da sua em grandes penalidades do Grupo Des- presentam o futebol sénior da Inatel, é melhor. Maria João Costa Academia Inatel. Informem- portivo e Recreativo Afeiteira. -se, porque Portugal tem Há cinco anos na Liga Futebol 11 da muita gente com talento — Fundação Inatel, alcançaram a primeira temos é muita dificuldade em conquista nacional na Final Nacional da admiti-lo. Taça da Fundação Inatel. Na época 2018/2019 as equipas de cada distrito chegaram a um vencedor distrital, que por sua vez terminou na final entre o Grupo Desportivo e Recreativo Afeiteira e ACRIF. Durante os 90 minutos as equipas che- garam ao empate de 2 golos, foi nas gran- des penalidades que decidiu o campeão. Tony, autor dos golos, há dois anos no Afeiteira confessa que é o convívio que os une. “O convívio é uma das razões para estarmos sempre juntos, nós aqui, por- que mais o futebol seja tudo, a amizade TL set-out 2019 21

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Tiago Guedes e Woody Allen ÚLTIMOS CONCERTOS DO ANO na “rentrée” Mas há mais: a estreia de “Asako I eII”, os filmes de Moretti e Klimov – que continuam em cartaz – e a nova aventura de “Terminator”

Exterminador Implacável: Destino Sombrio, de Tim Miller | EUA, 2019 Com: Arnold Schwarzenegger, Linda Hamilton, Mackenzie Davis. •Escusado é insistir que o novo (e sexto!) episódio da saga do super- cyborg conta com o regresso da dupla Sarah Connor/ T-800. A engenharia, essa é a mesma de sempre: acção pura e dura, heróis indestrutíveis e efeitos especiais digitais a rodos. Asako I & II, de Ryûsuke Hamaguchi | Japão, 2018 Com: Masahiro Higashide, Erika Karata, á podemos começar a apon- Cultural Vila Flor, em Guimarães e a Sairi Itô. tar na nossa agenda a última 8 de dezembro na Casa da Música, Vem e Vê, de Elem Klimov | URSS, 1985 •Um delicado, vaga de concertos até ao final no Porto. Com: Alexey Kravchenko, Olga poético e do ano. Começamos a lista Para os amantes do Hard Rock, Mironova, Lyubomiras Lautsyavitchus romântico filme com dois nomes brasileiros Bruce Dickinson, o ex-vocalista dos •Evocação do horror nazi na Bielorrusia sobre as oscilações que vêm a Portugal e prome- Iron Maden vem a Lisboa, à Aula que reduziu a cinzas mais de 600 aldeias e do amor, a paixão tem concertos memoráveis. Magna a 8 de dezembro apresentar exterminou populações. É um dos filmes e o desejo de ser JSão eles, Ney Matogrosso e Djavan. o espetáculo One-Man Speaking mais devastadores sobre a bestialidade da amado e amar. Ney Matogrosso, figura incontor- Show. Conhecido pelos sucessos guerra e a condição humana. Seleccionado para nável da história da música brasilei- como “Please Forgive Me”, “Every- os festivais de ra, vem apresentar o seu novo espe- thing I Do” ou “Summer of 69”, o Santiago, Itália, de Nanni Moretti | Itália/ Cannes e Lisbon & táculo “Bloco na Rua”. Aos 77 anos cantor Bryan Adams brinda-nos França/ Chile, 2018 Sintra Film Festival. e considerado como a terceira maior com dois concertos em Lisboa no dia •De solidariedade entre povos fala este voz do Brasil, o intérprete continua 6 de dezembro, no Altice Arena e em documentário. O que parece interessar Um Dia de Chuva em Nova Iorque, de nas digressões e atuará nos Coliseus: Braga a 7 de dezembro, no Fórum Moretti nesta Woody Allen | EUA, 2019 no Porto a dia 3 de novembro e em Braga. história das Com: Timothée Chalamet, Elle Fanning, Lisboa a 6 de novembro. O canadiano Patrick Watson, mes- centenas de vidas Jude Law. Abrindo um pouco o pano do que tre em viagens sonoras inesquecí- que foram salvas podemos esperar do repertório deste veis, está de regresso com um novo por diplomatas concerto, Ney interpretará: “Eu que- álbum “Melodie Noire” e estará em italianos no pós- ro é botar meu bloco na rua” (Sergio território nacional em dezembro. A golpe militar de Sampaio), “A Maçã” (), dia 2 de dezembro atuará no Lx Fac- Pinochet no Chile, “Álcool (Bolero Filosófico)”, da ban- tory em Lisboa, no Convento de São em 1973, é lembrar da original do filme “Tatuagem” (DJ Francisco, em Coimbra no dia 3, a à Itália actual Dolores), “O Beco”, (/ dia 4 em Guimarães no CAE São Ma- como no passado Bi Ribeiro) e “Mulher Barriguda”, do mede e a dia 5 no Porto na Casa da se era hospitaleiro e generoso a acolher primeiro álbum dos Secos e Molha- Música. refugiados. dos, de 1973 (Solano Trindade/João Terminamos os destaques de 2019 Ricardo). com a 28.ª edição do GuimarãesJazz. A Herdade, de Tiago Guedes | Portugal, Outra figura incontornável que A divulgação da música improvisa- 2019 nos vem visitar é Djavan. Conhecido da continua a crescer um pouco por Com: Albano Jerónimo, Sandra Faleiro, pelo grande público com sucessos todo o país, e com essa vontade cada Miguel Borges. como “Flôr de Liz” ou “Oceano” o vez mais nomes sonantes do pano- •A sociedade, a economia e a história cantor e compositor vem a Lisboa a rama nacional e internacional têm política do Portugal dos finais da década 6 de novembro, no Casino Estoril, ao um espaço para nos brindar com a de 40 até aos nossos dias reflectida Campo Pequeno a 8 de novembro e sua arte. numa família de passará ainda pelo Coliseu do Porto Iniciamos o destaque com dois proprietários de a dia 9 de novembro. grandes nomes internacionais. Já no grande latifúndio. Passando radicalmente de um dia 7 de novembro no Grande Au- Destaque continente para outro, os franceses ditório do Centro Cultural Vila Flor, para o sector •Uma dupla de enamorados planeia um Nouvelle Vague vêm a Portugal. A para o concerto do quinteto do saxo- interpretativo onde romance de fim-de-semana em Nova banda caracteriza-se por versões de fonista Charles Lloyd. Outra figura pontificam, João York, mas a meteorologia prega-lhes uma sucessos de géneros como o New incontornável desta edição, outro Pedro Mamede, partida. Uma comédia romântica que é Wave, Bossa Nova, ou punk-Rock. saxofonista do jazz contemporâneo, Ana Vilela da ao mesmo tempo uma sátira ao mundo Estarão a 3 de dezembro no Teatro atuará a dia 13 novembro no mesmo Costa, Rodrigo do espectáculo. das Figuras, em Faro; a 4 de dezem- espaço – Joe Lovano Tapestry Trio Tomás, Beatriz bro na Aula Magna, em Lisboa; a 5 com Marilyn Crispell e Carmen Cas- Brás, Teresa Madruga, Diogo Dória, Ana Joaquim Diabinho dezembro no Teatro Académico Gil taldi. Bustorff, Victoria Guerra, Álvaro Correia, [O autor escreve de acordo com a antiga ortografia] Vicente, em Coimbra; a 6 de dezem- Já com o pé no ano novo, 2019 ter- Cândido Ferreira, António Simão, Jorge bro no Teatro José Lúcio da Silva, em mina com grandes concertos. Loureiro, Catarina Rôlo Salgueiro, Filipe Leiria; a 7 de dezembro no Centro Susana Cruz Vargas, Marcello Urgeghe. 22 TL SET-OUT 2019

Os contos do zambujal

Palavras Cruzadas Mário Zambujal

o toque leve da campainha, Da- der o agrado. Todavia, lembrou-se: – Logo veremos. O que me sabe bem é a nila abriu a porta e um sorriso. – Espera, espera, espera. E o Xavier? tua companhia. – Segurou uma das mãos Visita anunciada e aceite com Ando sempre com ele, acusa-me até de pe- dele enganchando os dedos. Gustavo gos- gosto. Bruna não era o que se gadiça, como vou justificar as ausências? tou. Com o braço livre envolveu-a pela cin- possa chamar uma amiga íntima – Envolvemos o Xavier neste golpe. Não tura. Fez por esquecer o alerta de Xavier, mas com frequência conviviam, te incomodes, eu falo com ele. talvez ele quisesse apenas impedi-lo de elas e os namorados, Xavier por voar na volúpia que Danila lhe proporcio- Aparte de Danila, Gustavo parceiro de Bru- Duas horas depois, Bruna encontrou Xa- nava. na. vier na pastelaria habitual e disse: – Podemos cear num restaurante discre- – Entra, entra, é um prazer receber-te no – Importas-te se a Danila te fizer menos to – sugeriu. meu casarão de duas assoalhadas. Só dese- companhia nos próximos dias? – Como quiseres, querido. jo que o motivo não seja algum problema. – Sou capaz de agradecer. O problema é Gustavo apertou mais o abraço em torno É? que ela quase não me larga. da cintura de Danila. Perturbado. Estavam sentadas no sofá amarelo-torra- Então, Bruna despejou de facto o plano do da sala e Bruna torceu as mãos. estabelecido com Danila. Xavier franziu o Ao mesmo tempo, sentados no paredão – É – disse. Mas trata-se de problema pes- nariz mas concordou que tinha imensa pia- do Estoril, Xavier e Bruna travavam conhe- soal, íntimo, reconheço a minha insensatez da. No entanto, colocou uma condição. cimento mais próximo do que os juntara em vir incomodar-te. – E eu? Quem me acompanha, entretan- até então. Ela disse: – Não incomodas, desabafa. Zangaram- to? Também precisarei de companhia, para – Há muito que não conhecia esta sensa- -se, tu e o Gustavo? um passeio, uma ida ao cinema, um con- ção, ao mesmo tempo de paz e excitação, Um meio sorriso animou o rosto de Bru- certo, um copo no bar. Queres tu substituir que tu me transmites, Bruna. Ainda bem na: a Danila enquanto ela está ocupada com o que a Danila anda com o Gustavo. – Zangados, nós? Gustavo nunca se zan- Gustavo? –Ainda bem que estamos aqui os dois. ga, nunca, ao invés, gasta tempo em ama- – Conta comigo. Totalmente. bilidades. Nem um gesto de aproximação, Manhã seguinte, cedo, Bruna liga para um beijo, um abraço, o menor sinal de inte- Caía a tarde quando as duas amigas se Danila, ansiosa por novidades. resse físico. Será a sua natureza ou ele seria reencontraram. – Então? frio e distante com qualquer outra namo- – Tudo certo, disse Bruna. O teu Xavier – Tinhas razão nos teus receios. O Gus- rada? alinha. tavo, ao princípio, só ao princípio, pare- – Talvez se trate de uma fase passageira. E Danila, de sorriso escancarado: ceu-me de pé atrás, mas, ai, não tardou a – Não é, Danila. Dele só recebo indife- – Giríssimo. Pois olha, eu fingi que me mostrar-se um homem ardoroso. Percebes? rença. E então ocorreu-me uma ideia louca, tinha enganado no número de telefone e Não chegamos mais longe porque fingi vais troçar de mim. liguei para o Gustavo. Disse-lhe umas mei- uma dor de cabeça. – Bruna, Bruna, de ideias loucas já usei o guices, levamos meia hora de conversa. – Entendido. Era o que eu queria saber. catálogo todo. Mas diz, diz. Saímos amanhã, à noite. – E a tua noite com o Xavier? A visitante remexeu-se no sofá e balbu- – Vês? Eu calculava. – Excelente. Há muito que um homem ciou: não me dizia piropos e me abraçava cari- – Até tenho vergonha. Mal Gustavo concluiu a conversa com nhosamente. Até excitado, pareceu-me. – Vergonha de quê? De me confidencia- Danila, o seu telemóvel voltou a tocar. Era – Volta tudo à estaca zero. Eu com o Xa- res um problema pessoal e íntimo? Somos Xavier. vier e tu consciente de que o Gustavo não crescidas, menina. – Como vais tu, meu caro? é de gelo. De olhos baixos, a queixosa despejou: – Óptimo. Encantado da vida. – Foi boa ideia, não foi? – Venho pedir-te para seduzires o Gus- – Ainda bem. Mas olha, Gustavo, acho – Brilhante. tavo. que é meu dever informar-te que as nos- – Eu? sas namoradas decidiram pregar-te uma Gustavo e Xavier almoçam no restauran- – Tu. Não há homem que resista aos teus partida. te típico “Dose e Meia”. É o namorado de encantos, torcem os pescocinhos e arrega- – A mim? Danila que inicia a abordagem ao tema. lam os olhos quando te veem. De modo – Exacto. A ideia foi da Bruna e a Danila – Para mim, não há maior ofensa que a que eu gostaria de saber como reage o meu vai fingir que está caidinha por ti. Querem deslealdade. namorado de gelo se tu o espevitares. ver como reages. Deixa-te ir na onda, faz – Tens razão. A deslealdade é imperdoá- – Realmente é uma ideia louca mas di- de conta que não te avisei. vel. vertida. E não ficas ciumenta se ele se entu- – Obrigado, Xavier. – Exacto. E eu não perdoo à Danila a gol- siasmar demais? – a gargalhada de Danila – Temos de ser uns para os outros, não? pada para fazeres de parvo. não significava uma recusa. – A ideia foi da Bruna. Dizes bem: imper- A voz de Bruna subiu de tom: Pelas nove da noite, Danila e Gustavo doável. – Ciumenta, não, ficarei é devidamente encontraram-se num bar do Cais do Sodré – Já não é a primeira vez que a Danila usa informada. sugerido por ela. A marota esmerou-se na os dotes físicos para entontecer um tipo – Calma, calma – recomendou a desafiada. maquilhagem e no vestido curto a revelar comprometido. Ela é que montou a cilada. – Para uma missão dessa natureza terei de largo espaço de pernas. Gustavo estreme- – As duas. Olha, estou a pensar em mu- arrastar o teu Gustavo a passear comigo, tal- ceu. dar de namorada. E tu? vez atrevendo-me a pegar-lhe na mão, a dar- – Que fazemos? – Vou já mandar um sms a dizer à Danila -lhe o braço, saídas para jantar, espectáculos, – Para já, desfrutemos desta noite amena que a nossa relação acabou. caminhadas à beira-mar. Concordarias? passeando junto ao rio. – Enganchou Gus- – Decidiste bem – Eu já mandei o sms à – Concordo já. Se lhe deres a volta à ca- tavo por um braço e ele voltou a estreme- Bruna a dizer adeus. beça fico a saber que só comigo ele é um cer. – Perfeito. Elas que arranjem outros. sujeito apático e inerte. – E depois do passeio? – perguntou, des- – E nós vamos à vida, havemos de arran- Danila continuou a rir-se mas sem escon- confiado. jar outras. TL set-out 2019 23

Passatempos

Palavras cruzadas POR josé lattas

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 HORIZONTAIS: 1-Palavra invariável, VERTICAIS: 1-Que se serve de ambas 1 que modifica o verbo e o adjectivo; as mãos, com igual destreza Borra. 2-Adjectivo possessivo; (fem.). 2-Altíssimo; Corrupto. 2 Formar iões em. 3-Desordem; 3-Importante (fem.); Gemido. Tempo de uma aparente revolução 4-Conceitos. 5-Ditoso; Acirra. do Sol, em torno da eclíptica. 6-Comilão; Juntaram. 7-Que 3 4-Língua de terra, que una dois não têm odor (fem.). 8-Figura continentes ou uma península mitológica, filha de Inaco, amada 4 a um continente; Soberanos de Zeus, metamorfoseada em de Veneza ou Génova. 5-Outo novilha, por Hera (inv.); Sufixo, (s.q.) (inv.); Canto em coro. que traduz a ideia de ocupação, 5 6-Panegirizar; Cidade da Papua- ofício ou emprego; Vontade. Nova Guiné, a Norte de Port 9-Pequena bala de chumbo, para 6 Moresby, sede de circunscrição. espingarda. 10-Marmita; Arsénio 7-Ajuizado. 8-Madeixas; Telegrafia (s.q.). 11-Deus Grego do Amor; Sem Fios (sigla). 9-Ruténio (s.q.); Ambiente. 7 Gozas (inv.); Cério (s.q.). 10- Preceptora; Bucha; Árgon (s.q.). 8 11-Apontam; Descrédito.

9

Soluções:

10 RASA. 11-MIRAM; AR. TACO; 10-AIA; E. CE; SIR; 9-RU;

5-D; UA; CORAL. 6-ELOGIAR; LAE. 7-S; SENSATO; S. 8-TRANÇAS; TSF. TSF. 8-TRANÇAS; S. SENSATO; 7-S; LAE. 6-ELOGIAR; CORAL. UA; 5-D; 11 DOGES. 4-ISTMO; ANO. 3-BULÍCIO; IONIZAR. 2-MEU; PE. 1-ADVÉRBIO; AF_Galp+Inatel_Dezembro_259x393,7mm_V3_OL.pdf 1 23/10/2019 16:18:51

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