O Consórcio De Ecodesenvolvimento Regional E a Proposta De Redelimitação
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42º ENCONTRO NACIONAL DA ANPOCS GT 20: OS DIREITOS DOS POVOS INDÍGENAS E DE OUTRAS POPULAÇÕES TRADICIONAIS E AS POLÍTICAS DO ESTADO: EIXOS DE DESENVOLVIMENTO E RESISTÊNCIAS SOCIAIS NA AMÉRICA LATINA TITULO: AVANÇOS E DESAFIOS NA SERRA DO PAPAGAIO, SUL DE MINAS GERAIS: O CONSÓRCIO DE ECODESENVOLVIMENTO REGIONAL E A PROPOSTA DE REDELIMITAÇÃO Mariana Gravina Prates Junqueira – PUC-SP1 RESUMO Esse artigo é parte da pesquisa de doutorado sobre o processo histórico de criação da unidade de conservação Parque Estadual da Serra do Papagaio (PESP) e os conflitos socioambientais com a população do entorno. A região situa-se no sul de Minas Gerais, nos municípios de Alagoa, Aiuruoca, Baependi, Itamonte e Pouso Alto, com peculiares características culturais e grande preservação do ambiente natural. Os distintos atores sociais que vivem na região compõe uma amálgama de realidades, características culturais, valores e modo de vida. No entanto estão todos, inexoravelmente em contato com os conflitos socioambientais que perduram na região, em face da criação de unidades de conservação que não contemple as comunidades humanas e são criadas de forma autoritária e autárquica. Muitos bairros rurais foram inseridos no traçado, inviabilizando a manutenção das atividades econômicas desenvolvidas até então. Nessa realidade houve uma aproximação política de atores sociais da região com lideres do governo estadual, possibilitando a implementação de um Consórcio de ecodesenvolvimento regional, que pretendia melhorar a gestão do território do entorno a partir da melhoria de infraestrutura e participação social. Posteriormente foi aprovado um projeto de redelimitação da unidade, no qual houve a consulta da população e criação de uma nova proposta de limites. Projeto de Lei que está tramitando desde 2012 na Assembleia Legislativa de Minas Gerais e que de fato tem gerado muitos novos conflitos e avivado antigas rivalidades regionais. Enfim, a incerteza dos limites do Parque, mais uma vez, se torna vetor de conflitos sociais no qual as comunidades rurais são as mais prejudicadas no processo. 1 Possui graduação em ciências sociais pela Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP. Mestre em Ciências Sociais- Antropologia pelo Programa de Estudos Pós graduados em Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo- PUC-SP. Doutora pelo Programa de Programa de Estudos Pós graduados em Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo- PUC-SP e. Atua nos estudos de populações e comunidades tradicionais, cultura, patrimônio, unidades de conservação e conflitos socioambientais. INTRODUÇÃO O Parque Estadual da Serra do Papagaio, é uma unidade de conservação criada em 1998 na região da Serra da Mantiqueira, sul de Minas Gerais. Região que envolve cinco municípios: Alagoa, Aiuruoca, Baependi, Itamonte e Pouso Alto e que também está inserido na Área de Preservação Ambiental da Mantiqueira- APA- Mantiqueira. Anteriormente houve a criação de uma outra unidade chamada Estação Ecológica do Papagaio e o processo de recategorização envolveu muitas incertezas relacionadas aos limites da unidade. Processo estudado em minha tese de doutorado sobre o contexto histórico de criação da unidade, as características demográficas da região, os atores sociais envolvidos, suas atividades econômicas e culturais, assim como os conflitos socioambientais gerados pela criação dessas unidades de conservação de proteção integral. No qual esse artigo se insere e aqui me proponho comentar o processo de constituição do Consórcio de Ecodesenvolvimento regional da Serra do Papagaio, a proposta de redelimitação do parque e a atuação política de agentes do governo estatal, do Instituto estadual de Floresta(IEF) e de organizações não governamentais. Longe de pretender percorrer todo o processo histórico da criação dessas unidades, mas com intuito de contextualizar o leitor para facilitar a compreensão desse processo posterior de redelimitação. A criação do Parque Estadual partiu dos limites propostos pela Estação Ecológica, embora não haja estudos disponíveis de como a proposta de traçado foi feita, motivos, e nem consulta ou informe à população. Isso porque não houve manutenção das linhas da Estação, mas modificações aparentemente inexplicáveis. Fato que foi explicitado na elaboração do plano de manejo, quando a equipe técnica deixa como proposta dois traçados que poderão ser solucionados após regularização fundiária da unidade, o que ainda não ocorreu. Nesse trâmite, bairros inteiros foram inseridos na unidade, inviabilizando suas atividades econômicas e seu modelo de vida e gerando um ambiente de conflito social, insatisfação e êxodo rural. Nesse contexto de conflitos foi pensada a proposta de redelimitação, no qual se propunha a retirada de áreas antropizadas e ocupadas com atividades econômicas e inclusão de biomas relevantes para a preservação ambiental. Após elaborado o desenho da unidade, projeto foi enviado para a Assembleia legislativa de Minas Gerais, aonde continua tramitando. A metodologia utilizada na pesquisa constituiu-se de observação participante associada a entrevistas a diversos atores do processo, nos anos de 2013, 2014, 2015 e 2016. 1 A criação do Consórcio de Ecodesenvolvimento Regional da Serra do Papagaio e o Instituto Estadual de Floresta(IEF) inseridos em peculiar contexto político Com o intuito de minimizar conflitos e de atender à população, no ano de 2012 teve início uma ação de redefinição das fronteiras do Parque Estadual da Serra do Papagaio, sob a gerência do Instituto Estadual de Florestas. Neste artigo procurarei compreender os desafios democráticos desse processo de redelimitação e as soluções alcançadas. Também me aterei aos conflitos regionais existentes, apresentando e analisando quais deles o projeto obteve êxito em solucionar. Para tanto, procurarei analisar a conjuntura na qual se tornou possível esse processo. Partirei da realidade do IEF, observando os vínculos políticos existentes entre os dirigentes estatais e a região; bem como os projetos que foram implementados. Dentre eles, apresentarei o Projeto Comunidades, que teve papel central na criação do Consórcio de Ecodesenvolvimento Regional (CER); o próprio processo de criação do consórcio; e, posteriormente, o projeto de redelimitação do PESP. Na segunda seção do artigo, discorrerei sobre o arcabouço teórico utilizado para a discussão dos conflitos socioambientais, assim como tratarei da ecologia política, disciplina capaz de abarcar a interdisciplinariedade pretendida nessa pesquisa. Enfim, serão analisadas alternativas e projetos que visam à solução dos conflitos. Os projetos mencionados acima foram implementados após mudança de gestão do IEF; ocorrida logo depois da instituição passar por cinco diretores interinos, sob grande onda de escândalos e corrupção, e grande desorganização e instabilidade institucional. A diretoria foi ocupada por um sociólogo, Marcos Affonso Ortiz Gomes2, que tinha pela frente grandes desafios, em decorrência da crise institucional e de credibilidade do Instituto, o qual passava por um momento de reestruturação organizacional. 2 Marcos Affonso Ortiz Gomes foi indicado pelo então governador de Minas Gerais, Antônio Anastasia, por indicação do Secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Adriano Magalhães, em maio de 2011 e permaneceu no Instituto até fevereiro de 2013. Segundo o entrevistado, esse contato aconteceu em decorrência do vínculo que este tinha com a região de Aiuruoca e os projetos já realizados junto à Fundação Matutu, sediada no município do secretário. Em meio a essa situação, o novo diretor executivo do IEF procurou focar na conservação ambiental e na preservação da biodiversidade, mantendo a agenda das unidades de conservação do Estado sob uma perspectiva humana e ponderada. Procurou elaborar uma gestão integrada dos diversos atores afetados, com uma proposta de planejamento mais participativo dentro do órgão e de implementação da gestão participativa das unidades de conservação com as comunidades do entorno. As práticas que buscassem diminuir os conflitos ambientais no Estado passaram, nessa conjuntura, a ser consideradas prioritárias, como: o fortalecimento dos conselhos das unidades de conservação, a renovação daqueles que estavam inativos, a recategorização de unidades, a redelimitação, enfim, a abertura de um diálogo com a sociedade mineira, fato inédito dentro desse órgão institucional, que sempre teve uma atuação autoritária na esfera de poder, tendo sido as unidades de conservação decretadas e implementadas unilateralmente, sem consulta prévia, acarretando profundos conflitos socioambientais. A ideia de que só seria possível lidar com os conflitos com transparência e diálogo insere-se em um debate no próprio campo das ciências sociais dos conflitos socioambientais. Podem ser assim considerados quando partem de embates entre grupos sociais com diferentes modos de relacionamento ecológico, nos quais o cerne do conflito está no campo das interações ecológicas, remetendo à presença de múltiplos grupos sociais em interação entre si e com o ambiente (LITTLE, 2004). Tarefa árdua é implementar gestão participativa, uma vez que o aparelho do Estado tem tido como referência o domínio do território e não o bem-estar da população. Inseridos em um sistema capitalista globalizado neoliberal, governos e empresas estão comprometidos com a degradação ambiental e constróem uma perspectiva ecológica que busque garantir seus privilégios e hegemonia sobre as formas de produção e reprodução material. Assim sendo, a introdução