AMBIENTE E PESCA TRADICIONAL: FOCO EM ITAPISSUMA, NO CANAL DE SANTA CRUZ, 1

Tarcisio Quinamo

Introdução

O desemprego e a degradação ambiental tem e se acentuam. E, vale acrescentar, são são dois dos mais graves aspectos da crise agravados por sérios danos causados ao meio global que afeta a sociedade moderna, atin- ambiente, que podem se traduzir em perdas gindo, de forma marcante, as populações na biodiversidade, na produtividade e em ou- pobres, Conciliar a geração de emprego e de tras importantes funções dos ecossistemas renda com a conservação ambiental é, sem naturais, com conseqüências diretas sobre a dúvida, um dos grandes desafios que se en- qualidade de vida, e prejudicando atividades frentam na atualidade. Nas últimas décadas, que tradicionalmente vêm desempenhando o Brasil e o mundo passaram por grandes importante papel na subsistência e no empre- transformações. O desenvolvimento científi- go de vastos segmentos populacionais. co e tecnológico, associado a novas formas Há quase 70 anos, Gilberto Freyre (1937) de gestão empresarial, propiciou um grande já demonstrava preocupação com a degra- desenvolvimento das forças produtivas da dação ambiental causada pela cultura da economia mundial. Contudo, concordando cana e produção de açúcar no Nordeste do com Araújo et. ai. (1996), a despeito desse Brasil, Responsabilizava o usineiro monocul- fenomenal avanço desenvolvimentista, pro- tor, rico, pelo desmatamento em larga esca- blemas como a fome e o desemprego persis- la, pela poluição dos rios, matança e queda

Mestre em Economia. Pesquisador da coordenação-Geral de Estudos Ambientais e da Amazônia da Fundação Joaquim Nabuco, na produção de peixes e pela deterioração econômicos e ambientais que envolvem a da qualidade de vida dos pobres. pesca praticada na região do Canal. Hoje, a situação apresenta-se mais Inicialmente, o trabalho aborda a dinâmi- drástica do que a denunciada por Freyre. ca e a importância dos manguezais e estuári- Importantes ecossistemas remanescentes, os, dentre outros aspectos, na manutenção como os manguezais, sofrem com ações da vida marinha e na produção pesqueira; e antrópicas de diversas naturezas, chegan- procede a uma breve caracterização dos es- do mesmo a correr o risco de desaparecer tuários e manguezais da região do Canal de em algumas áreas, causando irreparáveis Santa Cruz. Em seguida, foca a atividade prejuízos ecológicos e soei oambientais, pesqueira artesanal desenvolvida na região, principalmente. a partir do município de Itapissuma, obser- A pesca artesanal, uma importante ativi- vando aspectos socioeconômicos e ambien- dade geradora de emprego e produtora de tais relevantes, destacando a sua importância alimentos, tem sofrido com a degradação dos na produção pesqueira estadual, na geração manguezais e de outros importantes ecos- de emprego e renda e na produção de meios sistemas costeiros. de subsistência para a população local. Abor- Com essas preocupações, o presente tra- da também os principais problemas enfren- balho tem como objeto de estudo a atividade tados pela atividade, especialmente os pesqueira realizada a partir do município de problemas ambientais que afetam os ecos- ltapissuma, na região do Canal de Santa Cruz, sistemas naturais que lhe dão sustentação. no litoral norte de Pernambuco, Brasil, e os E, por fim, tece algumas considerações so- principais problemas socioambientais relaci- bre desenvolvimento e sustentabilidade, fo- onados a essa atividade. cando a pesca artesanal no contexto da Foram realizados levantamentos primári- expansão econômica que se processa na re- os, com a aplicação de questionários (formu- gião e a importância ambiental e estratégica lários) junto a uma amostra de 380 domicílios do ecossistema manguezal que lá ocorre. de Itapissuma, escolhidos por sistema de Mangues e estuários amostragem aleatória simples, resultando Ao longo da história, os ecossistemas numa amostragem de 187 domicílios com manguezais têm se mostrado de grande im- pescadores e 193 domicílios sem pescado- portância para as populações humanas da res. Também como parte do levantamento de costa brasileira. Há estudos (Figuti, 1993, Ambiente e pesca dados, numa abordagem mais qualitativa, a apud Schaeffer-Novelli, 1999) que apontam tradicional: foco em Itapissunia, pesquisa valeu-se da observação direta, le- a descoberta de restos de conchas de bival- no Canal de Santa Cruz, vantamentos fotográficos, conversas infor- ves, carapaças de crustáceos e espinhas de Pernambuco mais com pescadores de Itapissuma, peixes, em sambaquis datados de 7.000 a representantes das entidades de pescadores 10.000 anos B.R 3, evidenciando a utilização Tarcisio Quinamo de Itapissuma e de outros núcleos pesquei- dos recursos dos manguezais, na alimenta- ros da região do Canal de Santa Cruz e tam- ção, pelos primeiros americanos. No caso bém com técnicos e lideranças políticas que brasileiro, especificamente, Cabral (2003) atuam na região. observa que há registros de que entre dois Como principais fontes de dados secun- mil e sete mil anos atrás, tribos nômades se dários, foram utilizados os censos demográ- utilizavam da fauna do manguezal. ficos (IBGE) de 1991 e de 2000—, base de Presentes em 112 países, os mangue- dados da RAIS2-2003 (MTE, 2003), mapas zais têm um padrão de distribuição condici- e fotografias. A pesquisa também se valeu onado por diversos fatores geo-ambientais, do levantamento de dados realizado pela dentre eles, o clima, a geografia local, a hi- Fundaj, em fevereiro de 1996 (FUNDAJ, drologia e as correntes marítimas. Estão 1996), sobre aspectos demográficos, socio- adaptados a áreas de baixas latitudes, de

74 clima quente e úmido, e exibem fauna e flo- sociação vegetal tipicamente anfíbia, que ra diferenciadas em relação aos demais bi- prolifera nos solos frouxos e movediços dos omas e alterações filológicas e morfológicas estuários, dos deitas, das lagunas litorâne- condicionadas pelo meio (Marcelino, 2000). as", constituindo-se em um lugar de uma Característicos de regiões costeiras tro- expressiva atividade biológica (Castro, 1948, picais e sublropicais, os manguezais são p. 19— apud Meio Filho, 2003). considerados ecossistemas de transição Entre os pescadores e pescadeira? de entre os ambientes terrestres e marinhos Itapissuma, os termos "mangue" e "mangue- (Schuler et. ai., 2000) e são formados "por zal" são utilizados indistintamente, tanto para uma associação muito especial de animais designar a vegetação de mangue, como para e plantas que vivem na faixa entre-marés das designar o próprio ecossistema onde esta costas tropicais baixas, ao longo de estuári- vegetação ocorre, podendo assumir, a partir os, deitas, águas salobras interiores, lagoas daí, diferentes conotações. Pode ser fonte e lagunas." (Vannucci, 1999, p. 25). de vida, fonte de alimento, local de trabalho, Odum (1985) observa que em um ecos- local onde se criam e de onde se tiram o sistema (como é o caso do mangue) os or- caranguejo, a ostra, o sururu, o siri, o peixe, ganismos vivos e o seu ambiente não-vivo o camarão. Pode ser ainda toda a região do (abiótico) estão irremediavelmente interliga- Canal de Santa Cruz, de onde se tiram os dos, interrelacionados, e interagem entre si "produtos do mangue". através de redes de informações. Fluxos de O mangue pra mim é uma vida (...) é comunicação físicos e químicos conectam muito importante porque graças ao man- as diversas partes, governando e regulando gue que foi que eu criei meus filhos, tirei o sistema como um todo. E destaca: meu sustento e o sustento deles (..) é através do mangue que muita gente, Chamamos de sistema ecológico ou muitas famílias tira seu sustento, sobre- ecossistema qualquer unidade (biossis- vive do mangue pra não ta aí praticando tema) que abranja todos os organismos atos errados. E nós temos que respeitar que funcionam em conjunto (a comuni- o mangue, respeitara natureza. E como dade biótica) numa dada área, interagin- se fosse assim um pai, uma mãe, que a do com o ambiente físico de tal forma que gente costuma dizer que a maré é mãe um fluxo de energia produza estruturas (...) Porque, aqui em ltapissuma, infeliz bióticas claramente definidas e uma ci- da gente se não fosse o manguezal. Ambiente e pesca clagem de materiais entre as partes vi- Então, é tudo. Abaixo de Deus, e fora tradicional: toco em Itapisstima, vas e não-vivas (Odum, 1985, p. 9). minha mãe e meus filhos, o mangue tem no Canal de pra mim uma grande importância. (Joa- Santa Cruz, Diegues (1994) lembra que a noção de Pernambuco ecossistema, criada por Tansley em 1935, na Mousinho, Presidente da Colônia de leria influenciado os trabalhos do preserva- Pesca de Itapissuma). Tarcislo Quinanio cionista Aldo Leopold, no início do século XX, Os manguezais do Canal de Santa Cruz, que no seu livro intitulado A Sand County assim como a maioria dos manguezais brasi- Almanac, afirmou: leiros, ocorrem em ambientes estuarinos, es- Uma decisão sobre o uso da terra é cor- tando, portanto, condicionados à dinâmica reta quando tende a preservar a integri- desses ambientes. Macedo et. ai. (2000) des- dade, a estabilidade e a beleza da tacam que, na dinâmica dos estuários, fato- comunidade biótica. Essa comunidade res climatológicos, hidrológicos, biológicos e inclui o solo, a água, a fauna e flora, como também de origem mista assumem grande também as pessoas. É incorreto quando importância. Consideram a salinidade um dos tende para uma outra coisa (Leopold, 1949, fatores mais importantes a condicionar a vida pp. 224-225, apud Diegues, 1994, p. 27). nesses ambientes, pois que ela varia confor- De acordo com Josué de Castro, o "man- me a mistura de água doce com a água do gue" é caracterizado por uma peculiar Las. mar, cuja concentração salina diminui gradati-

75 vamente à medida que, a partir do mar, se • fonte de alimento e área de reprodu- aproxima da desembocadura do rio ou mes- ção e de abrigo para várias espécies mo se adentra rio acima. E as vadações que aquáticas e terrestres; se verificam na salinidade, e também em ou- • fertilização de ambientes marinhos, e tros parâmetros (como temperatura e turbi- base da cadeia trófica de várias es- dez), guardam estreita relação como ciclo das pécies, inclusive marinhas, de gran- marés, o aporte fluvial, a precipitação pluvio- de interesse comercial; métrica e as estações do ano. • área de pousio de aves migratórias; Quanto ao aporte fluvial e de águas con- • na retenção de sedimentos continen- tinentais em geral, Meio (1980) observa que tais trazidos pelos rios e pela atividade quando as águas que lixiviam o solo carre- pluvial, desempenhando, assim, um am material nutriente, requerido pelos vege- papel de filtro, absorção, imobilização tais, para o meio estuarino, o processo de e reciclagem de materiais poluentes; diluição da água marinha pode ser benéf i- • proteção da linha costeira ao diminuir co. Entretanto, o processo será nocivo se a a energia cinética da velocidade das água continental carreada contiver resíduos águas das marés, impedindo, desta de esgotos domésticos e industriais. forma, o processo erosivo e evitando Schaeffer-Novelli & Cintrón (1986) desta- inundações; cam que fatores ambientais como as marés, • elevado valor paisagístico e fonte de as águas de drenagem, as temperaturas do ar e da água e a pluviosidade influenciam o recreação e lazer; ecossistema manguezal, regulando seu de- • e rica fonte de proteína animal e tam- senvolvimento. E que "tanto a intensidade dos bém de emprego em atividades co- fluxos de matéria como os de energia entre o merciais e relacionadas à subsistência manguezal e os ecossistemas vizinhos, de- de milhares de pessoas nas áreas pendem dos regimes e periodicidades des- costeiras. ses fatores abiáticos" (idem, p. 9). Cabral (op. cit.) destaca também que os Os mangues da costa brasileira situam- manguezais fornecem ao homem vários ou- se em hábitats sujeitos à ação de variadas tros produtos, como medicamentos para fontes de energia (solar, das ondas e das combater o reumatismo e a lepra, por exem- marés, e cinética dos ventos, além do aporte plo, e vários produtos químicos, dentre eles, de água doce), como também a fluxos de óleos, álcool, desinfetantes, ácido acético, Ambiente e pesca cola, tanino, corantes, alcatrão e piche, além tradicional: foco materiais que variam em quantidade e tempo em Itapissuma, de outros materiais vegetais. no Canal de de distribuição (Schaeffer-Novelli & Cintrón- Santa Cruz, Molero, s.d.). Estes fluxos propiciaram o sur- Interações e ecologia dos manguezais Pernambuco gimento de estruturas morfodinâmicas que Todavia, conforme referido anteriormen- dissipam e alteram a forma como a energia é te, no ecossistema manguezal, além das Tarcisio Quinaino distribuída, criando espaços e conformações espécies da vegetação de mangue, uma geoambientais características, onde os man- grande variedade de espécies animais e guezais podem ser estabelecidos (Schaeffer- vegetais se apresentam associada a essa Novelli & Cintrón-Molero, op. cit.). vegetação. Schaeffer-Novelli (1995), chama Vários estudos - dentre eles, Barros et a atenção que nos sedimentos dos mangue- ai (2000), Coelho Junior & Noveili, (2000), zais estão presentes micro e macroalgas, Schaeffer-Novelli & Cintrón (1999) e Vidal & que são criptágamas (plantas destituídas de Sassi (1998), Diegues (1995)— fazem refe- flores, sem órgãos sexuais aparentes) adap- rência às funções e importância dos man- tadas a ambientes pobres em oxigênio e com guezais sob variados aspectos: grande flutuação de salinidade. manutenção da biodiversidade da re- Camargo (1986) observa que nos man- gião estuarina e costeira; guezais ocorrem espécies faunísticas pro-

76 venientes do componente marinho eurihali- sucessional do manguezal para outras co- no e estenohalino, do componente de água munidades vegetais e resulta da deposição doce e do componente terrestre; e que atra- de areias finas por ocasião da preamar. vés de diferentes formas de adaptações, a Nascimento (1993), apud Schaeffer-No- fauna manguezal ocupa o ambiente "desde velli (op. cit.), caracteriza o apicum como uma o solo até a copa das árvores, migrando com zona de solo geralmente arenoso, que abriga o fluxo da maré e escavando o substrato." uma vegetação herbácea ou é desprovida de (Idem, pp. 1-2). cobertura vegetal e aparentemente desprovi- Macnae (1968), apud Camargo (op. cit.), da de fauna. Considera que as camadas infe- destaca que poucas espécies da fauna são riores (abaixo de 60 cm) do solo do apicum exclusivas dos manguezais. Tratam-se, em são ricas em matéria orgânica típica de man- sua maioria, de espécies oportunistas e de guezal, apresentando, inclusive, restos de ampla distribuição, cujas estruturas das co- material botânico e valvas de ostras. munidades são determinadas mais por fato- Animais escavadores, como caranguejos, res físico-químicos (como salinidade, dentre outros, revolvem o sedimento das ga- inundação/dessecação e características do lerias trazendo nutrientes à superfície, enri- solo) do que por fatores bióticos. Em Josué quecendo-a. Carreados pelas águas da de Castro, a questão ecológica dos mangues chuva, para o manguezal, esses nutrientes é assim exemplificada: exercem importante papel no equilíbrio orgâ- o mangue abriga e alimenta unia fauna nico-mineral do ecossistema, desempenhan- especial, formada principalmente por do, assim, função vital na sua ecologia (idem). crustáceos, ostras, mariscos e carangue- Tal fato caracteriza "a região do apicum jos, numa impressionante abundância de como um reservatório de nutrientes, no con- seres que pululam entre suas raízes no- texto do ecossistema manguezai, manten- dosas e suas folhas gordas, triturando do em equilíbrio os níveis de salinidade e a materiais orgânicos, perfurando o loda- constância da minera!omassa' (idem). çal e umidificando o solo local. Muitos desses pequenos animais contribuem Os estuários e manguezais do Cana! de também com suas carapaças e seus es- Santa Cruz queletos calcários, para a estruturação O Canal de Santa Cruz circunda o lado e consolidação do solo em formação. oeste da Ilha de Itamaracá, comunica-se com Desempenha também essa fauna espe- o mar pelas suas extremidades norte e sul, Ambiente e pesca cializada um importante papel no equilí- tradicional: foco conhecidas, respectivamente, por Barra Nor- em ltapissunia, brio ecológico da região ocupada pelo no Canal de te ou Barra de Catuama e Barra Sul ou Oran- Santa Cruz, homem, ao possibilitar recursos de sub- Ftrnambuco sistência para uma grande parte das po- ge- Dessa forma, o Canal fecha, junto com o pulações anfíbias que povoam aqueles mar, todo o contorno da Ilha de Itamaracá, Tarcisio Quinamo mangues, vivendo nas suas habitações que tem seu lado leste banhado pelo Oceano típicas - os mocambos. (Castro, 1948, Atlântico. Na área continental, o Canal abran- p. 23, apud Meio Filho, op. cit.) ge os municípios de Igarassu, Itapissurna e, Associada ao ecossistema manguezal, mais ao norte, . Tem cerca de 22km em muitas áreas - no caso do Brasil, das re- de extensão e larguras variáveis de 0,6 a giões Sudeste, Nordeste e Norte - existem a 1,5km. A profundidade máxima, no seu interi- zona de apicum. O apicum, também conheci- or, na maré baixa, fica em torno de 4-5m, po- do como salgado, normalmente ocorre na par- dendo atingir até 17m, nas suas extremidades te mais externa do manguezal, na região de norte e sul (Macedo et ai, op. cit.; FUNDAJ, interface médio/supra litoral, sendo rara a sua UFPE & IJFRPE, op. cit.). Nele desembocam ocorrência em pleno interior do bosque. De os rios Igarassu, Congo, Carrapicho, Botafo- acordo com Bigarella (1947), apud Schaeffer- go e Catuama, localizados na área continen- Noveili (1999), o apicum faz parte da área tal, e também o do Paripe, localizado na Ilha.

77 De acordo com Coelho & Torres (1982) retamente influenciada pelos manguezais ali apud Schuier et. ai. (2000), os estuários do presentes, sendo estes um dos habitats mais Estado de Pernambuco abrangem uma área importantes em todo o bioma da região. total de aproximadamente 25 mil hectares, Contudo, a despeito da inegável impor- sendo que cerca de 17,4 mil hectares estão tância dos manguezais para a riqueza bioló- localizados no litoral norte do Estado, pre- gica e para a pesca que se desenvolve na dominantemente nos municípios de Goiana, região do Canal de Santa Cruz, Magalhães & igarassu e Itapissuma, com destaque para Eskinazi-Leça (2000) chamam a atenção para a região do Canal de Santa Cruz. Conforme os prados de fanerógamas marinhas que Eskinazi et. ai. (1980), apud FUNDAJ, UFPE ocorrem nos arredores do Canal. Tais prados & UFRPE (1995), a região do Canal abarca representam complexos ecossistemas de fun- cerca de 5,3 mil ha de área estuarina e man- damental importância para a diversidade e ri- guezais associados. Schuler et. ai. (op. cit.) queza biológica das áreas costeiras (idem). A observam que em 1974 a área de mangue importância desses prados reside também da região era de cerca de 3,6 mil hectares, nas suas funções de alimento e/ou de área tendo sido reduzida para cerca de 2,8 mil de proteção e abrigo para muitos animais, hectares, em 1986. como crustáceos, moluscos, peixes, mamí- Estudos realizados, ao longo de vários feros marinhos e aves (Zieman, 1987, apud anos, por instituições locais - como UFPE, Magalhães & Eskinazi-Leça, op. cit.). UFRPE e FUNDAJ -, demonstram que a re- As espécies de fanerógamas que ocor- gião do Canal de Santa Cruz apresenta fau- rem na região são quatro: Halodule wrigh- na e flora complexas que proporcionam um tu, Halophila baullonii, Halophila decipiens ambiente de alta biodiversidade, servindo e Ruppia marítima. A Halodule wrightü, vul- ainda de fonte de emprego/renda e de sub- garmente conhecida como "capim agulha" é sistência para milhares de pessoas, princi- a espécie mais comum, povoando extensas palmente através da pesca e coleta de áreas da região (Magalhães & Eskinazi- peixes, moluscos e crustáceos (Barros et ai, Leça, op. cit.). op.cit; Lima & Quinamo, 2000). Alves (2000) observa que os prados de Com relação à biodiversidade, pelo me- capim agulha constituem-se, presumivel- nos 878 espécies floristicas e faunísticas mente, em um ecossistema de grande im- portância para a produção pesqueira da foram reconhecidas na região do Canal. De Ambiente e pesca acordo com Eskinazi-Leça & Barros (2000), região. A macrofauna associada a esse ecos- tradicional: foco em Itapissiima, já foram identificadas cerca de 314 espéci- sistema tem como principais representantes no Canal de es vegetais e 564 espécies da fauna. "anelídeos poliquetas, moluscos, crustáce- Santa Cruz, Peniambuco De acordo com Schuler et. ai. (op. cit.), os de várias ordens, equinodermas, ascidi- áceos e peixes, além de outros grupos no Canal de Santa Cruz o manguezal é do Tardsio Quinamo tipo ribeirinho e se estendem por toda a ex- menores" (idem, p77). Na microfauna epífi- tensão do Canal, especialmente nas desenà- ta predominam as diatomáceas. Essa micro- bocaduras de rios em sua margem oeste. fauna representa a As três principais espécies de mangue que principal fonte de suprimento alimentar lá ocorrem são: Rhizophora mangle L., La- para os invertebrados herbívoros. Estes, guncularia racemosa Gaertn. e Avicennia por sua vez, são responsáveis pela trans- ferência de energia aos elos superiores shaueriana Staf. Leechosan. Uma outra es- da teia tró fica daquele ecossistema, ser- pécie, a Conocarpus erectus, é a menos re- vindo como fonte de suprimento alimen- presentativa, ocorrendo apenas nas áreas tar para diversas formas de moluscos, mais elevadas. crustáceos e peixes, muitos deles de con- Schuler et. ai. (op. cit.) observam que a siderável importância para a economia produtividade de toda a área do Canal é di- pesqueira da região (idem, p77).

78 Os ecossistemas estuarinos e de man- ca de 45km do , capital do Estado. A guezais, assim como as fanerógamas mari- Microrregião de Itamaracá possui uma área nhas da região do Canal de Santa Cruz, total de 443,9 km2 (FIAM, 1997) e cerca de desempenham papéis vitais no ciclo produ- 150,3 mil habitantes (Moreira, 2002). Como tivo e na cadeia alimentar de várias espéci- parte da Região Metropolitana do Recife es marinhas, inclusive de muitas das que (RMR), a Microrregião sofre com a pres- ocorrem distantes dos estuários e mangue- são do crescimento populacional e com o zais. Este fato dá uma dimensão da impor- desemprego, cuja taxa, no mencionado tância dos mencionados ecossistemas, contexto urbano, em maio de 2005, foi da inclusive enquanto fonte de renda e de sub- ordem de 23,1% da População Economi- sistência para os pescadores e suas famíli- camente Ativa - PEA (DIEESE, 2005). as. No Estado de Pernambuco, cerca de 25 Nas últimas décadas, as taxas de cres- mil homens e mulheres atuam em ativida- cimento populacional apresentadas pelos des pesqueiras na zona costeira (GAP, municípios da Microrregião foram bastante 1998). Apenas na região do Canal de Santa expressivas, galgando patamares superio- Cruz, em foco neste trabalho, mais de qua- res às apresentadas pela Cidade do Recife tro mil homens e mulheres atuam na ativida- e também às taxas verificadas na RMR de pesqueira (Lima & Quinamo, 2000). como um todo. No período 1991-2000, a A atividade pesqueira de Itapissuma: taxa de crescimento geométrico anual do uma cantexwalização socioambiental município de Igarassu foi de 1,9%; a de Ita- O Canal de Santa Cruz localiza-se no pissuma, 2,3%; e a de Itamaracá, 3,5%, Litoral Norte do Estado de Pernambuco, contrastando com as taxas observadas para abrange o sul do Município de Goiana e a o Recife, de 1,0%, e para a Região Metro- Microrregião de Itamaracá, esta, integrada politana dessa Capital como um todo, de pelos municípios de Ilha de Itamaracá, Ita- 1,4% (ver Tabela 1). pissuma, Igarassu e Araçoiaba (704000", Como atividades econômicas, além da 705510011 Se 34048'OO", 35010'00" W), acer- pesca tradicional, que será abordada mais

Tabela 1 - População RMR, Recife, Igarassu, Itamaracá e Itapissuma: Ambiente e pesca 1980, 1991 E 2000 tradicional: foco em Itapissunia. no Canal de 1980 1991 2000 Tx. Cresc. Santa Cruz, Pernambuco 1991-2000*

Discriminação 1000 hab 1000 hab 1000 hab %aa Tarcisio Qulnarno RMR 2386,5 2920,0 3337,6 1,5

Recife 1203,9 1298,2 1422,9 1,0

Igarassu 60,7 69,2 82,3 1,9

Itamaracá 8,3 11,6 15,9 3,5

Itapissuma 12,5 16,4 20,1 2,3 • Taxa de crescimento anual geométrica Fonte dos dados básicos: 1BGE: Censos Demográficos de 1980, 1991, 2000

adiante, na Microrregião de Itamaracá, des- formal, em Itapissuma, e por 52,5%, na MRI. tacam-se as produções de cana-de-açúcar, As principais atividades dessa indústria, na coco da baía e mandioca. Na área de mi- MRI, geradoras de emprego, são a produ- neração, sobressai a exploração de calcá- ção de açúcar, em primeiro lugar, que repre- rio, fosfato, argila, gnaisse e areia. Existe senta 52,3% dos empregos do setor, seguida também um considerável parque industri- da produção de artigos de alumínio, esta al, formado por empresas dos setores de concentrada em Itapissuma, respondendo metalurgia, alimentos, papel e celulose, por 22,1% dos empregos da indústria de mecânica, têxtil e química. Algumas des- transformação da microrregião. sas empresas são consideradas de médio Em Itapissuma, as atividades de pesca e alto potencial poluidor do ar e da água e maricultura despontam em terceiro lugar, (MMA/PNMA/PED, 1998). A esse conjunto representando cerca de 11% dos empregos de atividades, acrescentem-se ainda a ex- formais do município. Esta expressiva parti- pansão do turismo e a recente instalação cipação das atividades de pesca e aqüicul- de projetos de carcinicultura na região. tura no emprego formal deve-se quase que Os dados da RAIS-2003 exibem o perfil exclusivamente à atividade de carcinicultu- do emprego formal do Município de Itapis- ra. Já na MRI, as atividades que despontam suma, em comparação ao perfil da Micror- em terceiro lugar são as de comércio, repa- região de Itamaracá (MRI), à qual pertence ração de veículos automotores, objetos pes- o município. soais e domésticos, responsáveis por 7,6% Para Itapissuma e para a Microrregião do emprego formal. Na MRI, as atividades de Itamaracá (MRI), a atividade de indústria de pesca e maricultura respondem por apro- de transformação desponta como a princi- ximadamente 2% do emprego formal. pal empregadora formal, respondendo, em Contudo, cabe destacar que os dados dezembro de 2003, por 44,5% do emprego acima apresentados, referentes a dezembro

Tabela 2-Emprego formal por setores de atividades em Itapissuma (2003-2005)

Dez. 2003 Variação Jul. 2005

Discdminação Abs. Abs. % Abs. Ambiente e pesca Indústrias de transformação 1.192 44,5 351 29,4 1.543 52,6 tradidonal: foco em ltapisstima, no Canal de 956 32,6 • Administração pública, defesa 956 35,7 Santa Cruz, e seguhdade social Pernambuco

Pesca (Aqüicultura e serviços relacionados) 294 11,0 -110 -37,4 184 6,3 Tardalo Quinamo

• Comércio, reparação de veículos 90 3,4 6 6,7 96 3,3 automotores, objetos pessoais e domésticos

• Construção 44 1,6 18 40,9 62 2,1

• Total dos cinco principais setores 2.576 96,2 265 10,3 2.841 96,8

• Outros setores de atividades 102 3,8 -9 -8,8 93 3,2

Total geral 2.678 100 256 9,6 2.934 100

Fontes: RAIS -2003 (MTE, 2003). CAGED - jaril2004 a juV2005.

80 de 2003, já sofreram expressivas alterações. mércio em geral (excluindo o comércio am- Dados da CAGED revelam que, em ltapis- bulante), com 8,8%. Já o Censo 2000 mos- suma, no período de dezembro de 2003 a tra que, naquele ano, a pesca representava julho de 2005, em termos gerais houve um 10,7% do emprego para os moradores de incremento do emprego fixo com carteira as- Itapissuma, o que sugere uma queda de sinada, que representa cerca de 9,6% em participação da atividade, no total do empre- relação ao total de emprego formal obser- go, em relação aos 13,3% verificados em vado em dezembro de 2003. No caso da 1991. Todavia, a despeito dessa perda de pesca (aqüicultura e serviços relacionados), participação, no ano 2000 a pesca ainda todavia, a variação foi negativa, represen- permanece como a principal atividade em- tando urna perda de 110 empregos fixos no pregadora, seguida da atividade de indús- segmento (-37,4%) (ver Tabela 2). Esses tria de transformação, com 9,4%, que saiu dados, no entanto, devem ser vistos com do sétimo lugar, em 1991, passando a ocu- cautela, pois essa variação registrada pela par o segundo lugar, em 2000, tendo como CAGED refere-se apenas aos empregos fi- segmento mais representativo a indústria a xos com carteira assinada, ficando de fora de metalurgia. O comércio ambulante, que os empregos temporários. em 1991 ocupava o quinto lugar, com 7,9% Os dados na tabela 2 à esquerda mos- dos empregos em 1991, passa a ocupar a tram importantes diferenças na estrutura da terceira posição em 2000, com 9% (ver Ta- economia formal de Itapissuma em relação bela 3). Vale observar que talvez a principal à própria MRI. Todavia, pelo menos no caso atividade de comércio ambulante desenvol- de Itapissuma, esses dados ficam longe de vida pelos moradores de ltapissuma, seja ao refletir a real situação do emprego para a comércio de ostras vivas nas praias, em pri- população local. Os dados da RAIS rele- meiro lugar, e de outros produtos pesquei- rem-se a empregos formais, declarados ros, prontos para consumo, como ensopados pelas empresas. No caso de ltapissuma, ou moquecas de sururu e siri desfiado, e tam- referem-se às unidades empresariais ins- bém o camarão cozido-salgado, sendo este taladas no município, as quais empregam último suprido em boa parte por camarões também pessoas residentes em vários ou- produzidos em viveiros, da própria região ou tros municípios, especialmente no que se mesmo provenientes de outros estados, referem às atividades que exigem maior como Paraíba e Rio Grande do Norte. Ambiente e pesca qualificação. Por outro lado, as atividades Contudo, embora se constituam em in- tradidonal: foco em Itapissuma, informais - no sentido de que não há um dispensáveis referências, os dados da RAIS no Canal de registro ou um contrato de trabalho forma- e dos censos demográficos aqui apresenta- Santa Cruz, rema mbuco lizado nas formas da. lei - não aparecem dos não permitem uma maior aproximação nas estatísticas da RAIS. da real importância da atividade pesqueira, Tarcisio Quinanio Contrastando com os dados da RAIS- enquanto geradora de emprego e de meios 2003, os dados dos censos revelam as prin- de subsistência, em Itapissuma. Levanta- cipais atividades desenvolvidas . pela mentos primários realizados pela Fundação população residente do município de Itapis- Joaquim Nabuco, em janeiro de 2005, per- suma, incluindo as atividades formais e in- mitem que se estime em cerca de 3,3 mil o formais. De acordo com o Censo de 1991, número de homens e mulheres diretamente naquele ano a pesca artesanal era a princi- envolvidos na captura/coleta de peixes, mo- pal atividade empregadora, no município, luscos e crustáceos, como atividade comer- abrangendo 13,3% das pessoas que esta- cial e de subsistência, em Itapissuma. E, vam desenvolvendo alguma atividade eco- contabilizandose também as atividades nômica regular. Em seguida vinham as complementares à pesca, como as de be- atividades de serviços administrativos mu- neficiamento e comercialização do pescado, nicipais, com 9,9%, e as atividades de co- o número de emprego na atividade pesquei-

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Tabela 3 - Principais atividades econômicas desenvolvidas pela população residente (Itapissuma - 1991 e 2000)

Ano de 1991 Ano de 2000

Clas. Atividades Abs.j % Atividades Abs. 1 %

1° Pesca 647 13,3 Li_ Pesca 667 10,7

2 Serviços administrativos 484 9,9 2° Indústria de 585 9,4 0 municipais transformação

3° Comércio em geral 430 8,8 1 3° Comércio ambulante 564 9,0

Serviços 40 Agricultura 419 8,6 1 4° administrativos 557 8,9 municipais

5° Comércio ambulante 386 7,9 1 5° Comércio em geral 500 8,0

Subtotal 2366 48,5 Subtotal 2873 46,0

Demais atividades 2517 51,5 Demais atividades 3365 54,0

Total geral 4883 100 Total geral 6238 100

Fonte: Censos Populacionais de 1991 e 2000- IBGE

ra vai para cerca de 3,6 mil (ver Tabela 4). 2000), constitui-se em um importante indica- Esses dados, embora aquém do que se dor sobre a representatividade da pesca na poderia esperar, considerando-se a estimati- economia do município- A esse respeito um va realizada anteriormente (referente a 1996), outro aspecto relevante, que merece desta- que apontava a existência de 4,2 mil pesca- que, é que se pode estimar que, atualmente dores em ltapissuma6 (Lima & Quinamo, (2005), a atividade pesqueira envolve direta-

Tabela 4— População e pesca em Itapissuma, PE -2005 Ambiente e pesca ValoresDiscriminação tradicional: [oco em Itaplssuma, 22,6- População de Itapissuma (Projeção - 2005) mil no Canal de Santa Cruz, 380- Número total de domicílios pesquisados Úaneiro, 2005) Pernambuco - Proporção de domicílios com pescadores (%) 48,2 Tarcislo Quina= - Proporção de domicílios envolvidos na pesca tradicional e atividades 50,5 de beneficiamento e comercialização de pescado (%)

- Estimativa do número total de pescadores em Itapissuma 3,3 mil

- Estimativa do número total de pessoas envolvidas na pesca tradicional e atividades 3,6 mil de beneficiamento e comercialização de pescado

- Participação da população de pescadores na população 19,3 de 15 anos de idade e mais (%)

- População total nos domicílios amostrados 1,5 mil

- Participação da população dos domicílios de pescadores na população total (%) 53,4

Pesquisa direta da FUNDAJ. Janeiro de 2005. Moreira, 2002.

82 mente cerca de 19,3% da população de 15 mens e mulheres que atuam em toda a área anos e mais, de Itapissuma (ver Tabela 4). do Canal de Santa Cruz, podendo, todavia, Da mesma forma, a pesquisa também se estender pelos mares das praias dos mu- evidencia que apenas a atividade pesqueira nicípios de Goiana, Itamaracá e tradicional, sem considerar as atividades de (Lima & Quinamo, op. cit.). beneficiamento e comercialização do pesca- Do ponto de vista da produção pesquei- do, envolve diretamente quase a metade ra, a pesca realizada na região do Canal de (48,2%) dos domicílios pesquisados, cola- Santa Cruz e em Itapissuma, particularmen- borando, assim, no orçamento e na subsis- te, tem grande destaque no cenário estadu- tência de seus membros, que representam al. Em anos recentes, exceção feita ao ano mais da metade (53,4%) da população total de 2001, as estatísticas pesqueiras indicam dos domicílios com e sem pescadores, con- que mais da metade da produção pesqueira siderados conjuntamente. costeira (marítima e estuarina) do Estado de Esses resultados não confirmam a no- Pernambuco provém dos municípios da re- ção corrente de que a atividade pesqueira gião do Canal de Santa Cruz (Tabela 5). contribui diretamente para o sustento de Ao longo dos anos o Município de Itapis- cerca de 70% da população de Itapissuma suma tem liderado as estatísticas de produção (ver Lima & Quinamo, op. cit.). Mas, de todo pesqueira em Pemambuco, particularmente na modo, reafirmam, em bases consistentes, o região do Canal de Santa Cruz, respondendo importante papel da pesca tradicional para a população e a economia de Itapissuma. por entre um quarto e um terço da produção pesqueira estadual. No entanto, nos anos de A importância da pesca artesanal 2000 e 2001, ltapissuma aparece, nas esta- realizada na região do CSC e em tísticas, com uma produção inferior à do mu- Itapissuma, no contexto da produção nicípio de Goiana (Tabela 5). De acordo com pesqueira de Pernambuco pessoal técnico do IBAMA (Recife-PE), tal A pesca tradicional destaca-se como uma fato se deve, em grande medida, a deficiên- das principais atividades econômicas da re- cias que ocorreram no próprio processo de gião do Canal de Santa Cruz. Realizada a coleta de dados que geraram as estatísticas, partir dos núcleos pesqueiros de Vila Velha devido a problemas de doença que afeta- (Ilha de Itamaracá), Igarassu, Itapissuma, e, ram a pessoa então encarregada da coleta em Goiana, os de Atapuz e Barra de Catua- de informações sobre a produção pesqueira Ambiente e pesca tradicional: toco ma, essa atividade é desenvolvida por ho- de Itapissuma. em Itapissuma, no Canal de Santa Cruz, Tabela 5- Produção pesqueira marítima e estuarina dos municípios Canal de Santa Cruz Pernambuco e total Pemambuco (1999-2003)

Tarclslo Quinanio Ano 1999 1 2000 1 2001 1 2002 1 2003

Localidade Ton Ton J % 1 Ton Ton 1 °° Ton 1 % Itapissuma 1.744 33,4 1.075 19,8 695 15,9 1.785 30,3 1.611 26,1

Itamaracá 352 6,7 514 9,4 347 8,0 420 7,1 329 5,3

Igarassu 18 0,3 20 0,4 33 0,8 90 1,5 189 3,1

Goiana 934 17,9 1.307 24,0 906 20,8 959 16,3 1.231 19,9

Total C. Sta. Cruz 3.047 58,3 2.916 53,6 1.982 45,5 3.253 55,3 3.359 54,4

Demais municípios 2.175 41,7 2.523 46,4 2.378 54,5 2.632 44,7 2.816 45,6

Pernambuco 5.222 100 5.439 100 4.360 100 5.885 100 6.175 100 Fontes: Ibama/Cepene. Boletim estatístico da pesca maritma e estuarina do Nordeste do Brasil. Tamandaré: anos 2000; 2001;2002;2003.

83 Essa produção, além de atender ao con- Tabela 6). Quando se consideram também sumo das próprias famílias dos pescadores os domicílios que recorrem aos produtos da e das comunidades locais, também destina- pesca local para alimentação pelo menos se à comercialização e consumo nas prai- uma ou duas vezes por semana, a repre- as, feiras livres, bares, restaurantes, hotéis sentatividade passa para 93%, no caso dos etc., da Região Metropolitana do Recife e de domicílios dos pescadores, e para 82%, nos outras localidades, inclusive fora de Pernam- domicílios de Itapissuma em geral. buco, o que atesta a sua inestimável impor- A pesca artesanal no Canal tância na alimentação de vastos segmentos de Santa Cruz populacionais, em especial os de baixa ren- A grande importância da atividade pes- da, e também na culinária regional, impor- queira na região do Canal contrasta com os tante atrativo para o turismo - outra atividade baixos níveis de renda auferidos pelos pes- geradora de emprego e tida como de gran- cadores dali. Em Itapissuma, os pescado- de potencial para o desenvolvimento local e res e pescadeiras apresentaram níveis de do Estado (Lima & Quinamo, op. cit.). renda ainda inferiores aos já reduzidos ní- A importância da atividade pesqueira na veis obtidos pela população em geral, da alimentação da população local em localidade. Enquanto na população em ge- ltapiss uma ral, as pessoas que têm renda de até 112 Um dos aspectos de maior relevância da salário mínimo representam 16% do conjunto pesca estuirina na região do Canal de San- das pessoas que tiveram seu rendimento ta Cruz, é o papel primordial que a atividade declarado, no caso dos pescadores, essa representa na alimentação da população lo- faixa de renda abrange cerca de 35% da cal, tanto para as famílias de pescadores categoria (ver Gráfico 1). Considerando as como para considerável parcela da popula- faixas de renda acumuladas até dois salári- ção não pesqueira da região. No caso de os mínimos, observa-se que 86,8% da po- Itapissuma, estima-se que cerca de 53% dos pulação em geral, têm rendimento de, no domicílios de pescadores e pescadeiras, e máximo, dois salários mínimos. No caso dos perto de 35% dos domicílios em geral utili- pescadores, a quase totalidade da catego- zam os "produtos do mangue" na alimenta- ria (99,3%) tem rendimento de, no máximo, ção, três vezes ou mais por semana (ver dois salário mínimos. Ambiente e pesca tradicional: foco em Itapissuma, Tabela 6— Consumo de produtos pesqueiros da região do Canal de Santa Cruz, no Canal de nos domicílios de Itapissuma (freqüência com que consomem durante a semana) Santa Cruz, Pernambuco Domicílios Dom. c/ pescador Dom. si pescador Dom. em geral Tardsio Quinamo N°. de dias por semana % %Ac % %Ac % %Ac Diariamente 27,1 27,1 13,0 13,0 17,9 17,9 Três ou mais de vezes por semana 26,3 53,4 12,1 25,1 17,1 35,0 Uma ou duas vezes por semana 39,8 93,2 51,4 76,5 47,4 82,4 Raramente 6,0 99,2 19,8 96,4 15,0 97,4 Não respondeu 0,8 100 3,6 100 2,6 Total geral 100 100 100 Fonte: Pesquisa direta da Fundei. Janeiro de 2005.

84 Gráfico 1 - Pescadores de Itapissuma e trabalhadores em geral de Itapissuma, MRI e RMR, por faixa de renda - 2000

0% 100%

Salário Mfneno (SM) O Acima de 3 SM • Acima de 2 a 3 SM O Acima del a2SM 50% • Acima de 1/2 a 1 SM • Até 1f2SM

0% Pescador Trabalhador Trabalhador Trabalhador Itapissuma Itapissuma MRI RMR

Fonte: Censo Demográfico - IBGE 2000.

Os baixos níveis de renda dos pescado- pescadores. Considerando conjuntamente res e pescadeiras são, em parte, condicio- os que nunca foram à escola e os que não nados pelos baixos níveis de escolaridade concluíram o Ensino Fundamental 1, essas da categoria, pela falta de alternativas de duas faixas abrangem cerca de 47,4% dos emprego, pela forma como se estruturam a pescadores e 33,8% dos não-pescadores. produção e o mercado em que estão inseri- De forma similar, somando os três níveis dos e pelas condições ambientais da região. de escolaridade mais elevados, represen- Escolaridade tados no Gráfico 2, observa-se que os que Ambiente e pesca concluíram o Fundamental 2 perfazem tradicional: foco No período de 1996 a 2005 verificou-se em Itapissuma, um aumento significativo no nível de alfa- 29,3%, para o caso dos não-pescadores, e no Canal de 18,2% para o caso dos pescadores. Santa Cruz, betização e escolaridade dos pescadores Pernambuco de Itapissuma. De acordo com levantamen- Com efeito, ao longo do tempo, a ativi- tos realizados pela FUNDAJ, em 1996, dade pesqueira realizada na região tem se Tarclslo Quinamo 41,9% dos pescadores era considerado caracterizado como uma das principais al- analfabeto ou sem qualquer escolaridade ternativas de emprego para vastos segmen- formal, percentual este que foi reduzido tos da população local. O baixo grau de para 19,6% em 2005. Entretanto, a despei- instrução formal, associado aos elevados ní- to dessa melhoria no nível de escolaridade veis de desemprego que afeta o país e, par- do pescador, em 2005, comparativamente ticularmente, a Região Metropolitana do com as pessoas que não pescam, também Recife, limita bastante as possibilidades de de Itapissuma, os níveis de escolaridade trabalho remunerado ou mesmo de subsis- dos pescadores então se revelam ainda tência. A pesca, na verdade, tem absorvido extremamente baixos. Observe-se no Grá- expressivo contingente de mão-de-obra fico 2 que, no caso dos não pescadores, os oriundo de outras atividades, contingente, que nunca freqüentaram escola represen- esse, que, em 1996, compreendia cerca de tam 12,7% do total, contra 19,6% para os 29% dos pescadores (Quinamo, 2000).

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Gráfico 2: Escolaridade dos pescadores e dos não pescadores de Itapissuma - 2005 (Em %, para cada nível de escolaridade)

100% —. - 90% - U 2o Grau completo 80% 7 - 19,6 o 2o Grau 70% Incompleto 60% • Fundamental 2 148 27,7 50% - Completo O Fundamental 2 40% ii- - Incompleto 27,8- 30% o Fundamental 1 21,1 Completo 20% ------4 O Fundamental 1 10% —19,6 Incompleto 0% - 1 • Nunca freqüentou Pescador Não escola pescador

Fonte: Pesquisa direta da FUNDAJ. Janeiro, 2005.

Estrutura de produção e mercado totalidade, para a pessoa que desempenha A forma como se estrutura o sistema de este papel, ficando esta responsável pela produção e de inserção no mercado da pro- manutenção da baiteira e/ou da rede. Para dução pesqueira em Itapissuma é um impor- muitos empreseiros, o principal ganho que têm tante aspecto a condicionar a renda do como empreseiro, decorre do direito de com- pescador. A dependência do pescador em pra de toda a produção comercializável (ex- relação aos proprietários dos instrumentos cluindo o que cabe ao pescador para o de trabalho, os empreseiros7 - especialmen- consumo próprio) dos pescadores. Para o te no caso da pesca masculina, que depen- pescador, desprovido de meios para armaze- de do barco (baitera) e da rede -, já limita nar o pescado (freezer) e sem estrutura ou Ambiente e pesca bastante as possibilidades, para os pesca- condições para ele próprio comercializar o seu tradicional: foco em itapissuma, dores, de venda de seus produtos. produto, vendê-lo ao empreseiro parece ser no Canal de a única alternativa. Entretanto, essa posição Santa Cruz, Em Itapissuma, talvez o sistema mais re- Pernambuco presentativo da pesca masculina seja a pes- faz do pescador, muitas vezes, o elo mais fra- ca com rede mangote, embarcada, realizada co e menos remunerado de toda a rede de Tarcisio Quinamo por grupos constituídos por cerca de seis pes- produção-comercialização do pescado. cadores. Nesse sistema, normalmente o re- O sistema de produção e comercializa- sultado da pescaria é divido em sete partes, ção do peixe seco-salgado, um dos princi- cabendo uma a cada pescador, e a sétima pais e mais tradicionais produtos da atividade parte é o pagamento feito ao empreseiro, ou pesqueira realizada em Itapissuma, é um seja, ao proprietário do barco (baiteira) e da bom exemplo de como o resultado da pro- rede (mangote), pelo uso desses instrumen- dução e comercialização do produto pode tos de trabalho. O custo da manutenção des- ser distribuída entre os diferentes agentes ses equipamentos já está incluído na parte envolvidos no processo. que cabe ao empreseiro, que, quando não é A manjubinha é a principal espécie utili- ele próprio o mestre (ou arraio) da embarca- zada na produção do peixe seco-salgado e ção, repassa parte desse valor, ou mesmo a também a principal espécie, em volume de

86 produção, capturada pelos pescadores de de a venda do peixe pelo pescador ao em- Itapissuma (IBAMA / Cepene). O exemplo preseiro, muitos outros valores - referen- a seguir, de outubro de 1997, fornece uma tes aos processos de salga e secagem, boa visão sobre a participação de cada armazenagem, transporte e comercializa- agente na formação do preço final do peixe ção - foram adicionados ao produto. No seco-salgado. entanto, no processo, existe uma limitação Feitos os necessários ajustes relativos de preço final do produto, devido, em gran- à quebra de peso no processo de secagem, de medida, pelo baixo poder de compra dos tem-se que, do valor pago pelo consumi- consumidores (de baixa renda) a que esse dor final por 1k do produto (R$ 1,40), ca- produto é destinado, e pelo preço de pro- bia ao conjunto dos pescadores cerca de dutos substitutos, especialmente as aves. 14%. Considerando-se uma equipe padrão, Nesse processo, para que o peixe chegue de 6 pescadores, cabia a cada pescador, a preços competitivos nas feiras e peque- em média, 2,33% do preço final. Ao empre- nos varejistas, o pescador como elo mais seiro, o dono da embarcação e da armadi- fraco, termina sendo quem tem a menor lha, cabia 28%; ao intermediário, também participação nos resultados finais do pro- conhecido como pombeiro, 25%; e ao co- cesso de produção que se inicia a partir merciante ou feirante, 33%. dele. Também sofre o consumidor do pro- Naturalmente que a partir da primeira duto, com a qualidade e padrões de higie- comercialização do pescado, ou seja, des- ne extremamente baixos (ver fatos 1 e 2)

Gráfico 3: Participação de cada agente envolvido no processo de produção e comercializaçáo no preço ao consumidor do peixe seco-salgado (%)

2,3 2,3 2,3 2,3 2.373 UPescador 1 IPescador 2 oPescador 3

Ambiente e pesca Pescador 4 tradicional: foco em Itapissuma, •Pescador 5 no Canal de Santa Cruz, •Pescador 6 Pernambuco • Empreseiro Tarcislo Quinamo iPombeiro iComerciante. prwi

Fonte: Quinamo (2000:35)

87 Foto 1 - Peixe seco-salgado no processo de secagem, em Itapissuma. Data: Outubro/2005.

.,. -

F•.)tL:. Tarcisio . uinair.

Foto 2 - Peixe seco-salgado em armazenagem, em ltapissuma. Data: Outubro/2005.

Ambiente e pesa tradicional: foco em Itapissuma, no Canal de Santa Cruz, Pernambuco

i" Â4 Tarcisio Quinamo

Foto: Tarcisio Quinamo

Os problemas ambientais e a pesca pelos problemas ambientais que se apresen- no Canal de Santa Cruz tam na região, com implicações diretas sobre A atividade pesqueira desenvolvida no a renda e a subsistência do pescador, bem Canal de Santa Cruz é fortemente afetada como sobre a oferta de alimentos (produtos

88 pesqueiros) para a população local e para di- De acordo com Lima & Quinamo (op. cit.), versos outros segmentos (restaurantes, turis- a pesca com o uso de explosivos é pratica- tas, populações de baixa renda) em toda a da por umas poucas pessoas não reconhe- RMR. Em que pese a relativa regularidade cidas pelos pescadores em geral como da produção pesqueira exibida nas estatísti- integrantes da comunidade pesqueira local. cas, os efeitos adversos de problemas ambi- Esse tipo de pescaria ganha importância pelo entais são sentidos pelos pescadores. seu alto poder destrutivo, afetando a fauna, Chamam a atenção para o desaparecimento a flora e a substrato de fundo do Canal. ou redução da quantidade de algumas espé- Todavia a pesca predatória não se res- cies e a redução no tamanho médio do pes- tringe à pesca com bombas. A sobrepesca e cado. A redução no tamanho médio da ostra o uso de malhas finas e a pesca de camboa e o desaparecimento (escasseamento) do também são aspectos que inquietam alguns caranguejo uçá talvez sejam os exemplos pescadores. mais notáveis da repercussão dos problemas Com relação à poluição por esgoto, vale ambientais na atividade pesqueira. observar que cerca de 93% dos domicílios Como principais problemas ambientais, pesquisados em ltapissuma aneiro/2005) destacam-se, em primeiro lugar, a pesca pre- se utilizam de fossa como escoadouro dos datória, especialmente a pesca com bombas, dejetos da bacia sanitária. Todavia, em mui- apontada por cerca de 595% dos pescado- tos casos, essas fossas são precariamente res, seguida da poluição por esgoto, referida construídas e não sofrem qualquer tipo de por cerca de 37,9% dos pescadores, e da manutenção, estando sujeitas a transborda- movimentação de barcos motorizados (lan- mentos, especialmente em períodos chuvo- chas) dentro do Canal, citada por 30,2% dos sos. Além disso, em pelo menos 52 v/o dos pescadores. Na seqüência, foram apontados domicílios pesquisados, as águas servidas, também a poluição por lixo, no Canal, a pes- excetuando a utilizada como descarga nas ca com rede de malha fina, a destruição dos bacias sanitárias, são escoadas a céu aber- manguezais e a poluição causada pelos vi- to, tendo como destino a rede de drenagem veiros de camarão. pluvial, que desemboca no Canal (Foto 3). Foto 3 - Despejo de esgoto doméstico no Canal de Santa Cruz, em Itapissuma. Data: Outubro/2005. Ambiente e pesca tradicional: foco w em Itapissuma, no Canal de Santa Cruz, Pernambuco

Tardslo Quinamo

Foto: Tarcisio Quinamo.

89 Contudo, a poluição por efluentes líqui- veis. Walsh (1974) destaca como favoráveis dos não se restringe aos esgotos residenci- ao desenvolvimento de manguezais as áreas ais. Resíduos industriais e o carreamento de onde a energia de ondas e marés é baixa. A agrotóxicos utilizados na cultura canavieira esse respeito, Rebelo & Medeiros (1988), também são apontados como causa de po- apud Correia (2002), observam que o bati- luição e da conseqüente mortandade de pei- mento das ondas é um dos fatores que limi- xes na região do Canal (Lima & Quinamo, tam o crescimento das árvores de mangue, op. cit.). Mais recentemente, pescadores que se abrigam em locais protegidos da ação associam o desaparecimento de algumas acentuada da maré. espécies, em algumas áreas, aos resíduos Os problemas relacionados à movimen- lançados pelos viveiros de camarão. tação de embarcações motorizadas em áre- No que se refere à movimentação de as sensíveis como os ecossistemas embarcações motorizadas no Canal, para o estuarinos e de manguezais associados, pescador, o afugentamento dos peixes, nas presentes no Canal de Santa Cruz, reme- áreas onde a movimentação é mais intensa, tem-nos a algumas considerações sobre o o risco de acidentes e a danificação de redes projeto Circuito Náutico do Litoral Norte, do estão entre os principais problemas criados Governo do Estado de Pernambuco, com pelas atuais atividades turísticas náuticas recursos do Prodetur. Dentre outros aspec- (Lima & Quinamo, op.cit.). Contudo, os pro- tos, esse projeto prevê (ou previa) a utili- blemas associados ao turismo náutico vão zação de embarcações de porte maior do além do afugentamento de peixes denuncia- que as que usualmente trafegam pelo Ca- do pelos pescadores. Recorrendo a estudos nal. Para que isso se viabilize, o projeto realizados pelo Governo do Estado de Per- propõe o aprofundamento do leito do Ca- nambuco, em 1998, Bem (2001) destaca que nal em uma extensão que, apenas no setor um grande número de poluentes é liberado norte, entre Itapissuma e a Ilha de Itamara- pelas atividades náuticas, no caso, relacio- cá, abrange de 1,8 km, aproximadamente, nadas à ação das marinas. Dentre esses po- através de obras de dragagem. luentes incluem-se resíduos sanitários sem Para a presidente da Colônia de Pesca tratamento e agentes químicos (hidrocarbo- de Itapissuma, Sra. Joana Mousinho, a im- netos e metais pesados) provenientes das tin- plantação desse projeto significaria, de ime- tas, solventes, líquidos anti-corrosivos, tintas diato, uma considerável perda de área de pesca e coleta, e precisamente em uma das Ambiente e pesca anti-incrustantes, combustíveis e graxas utili- tradidonal: foco zados nas embarcações. áreas mais utilizadas pelos pescadores, es- em Itapissuma, no Canal de Um outro aspecto relacionado à movimen- pecialmente na captura do camarão. Além Santa Cnn, tação intensa de embarcações motorizadas do aprofundamento do leito do Canal, atra- Pernambuco na área do Canal, e que talvez mereça ser vés da retirada de material do substrato, as investigado de forma aprofundada, refere-se obras ainda teriam conseqüências sobre a Tarcislo Quinamo a possíveis impactos que a agitação da água área de manguezal, onde seria lançado o e a formação de ondas, que o movimento de material que seria dragado. De acordo com rotação das hélices na superfície da água e o um estudo realizado pelo Cepene-Ibama, deslocamento veloz das embarcações podem em 2002 (referido por Leroy, 2004), um causar. Na elaboração do presente trabalho, outro problema que a dragagem, prevista não se tomou conhecimento de estudos so- no projeto, poderia implicar seria a conta- bre possíveis impactos relacionados às on- minação por mercúrio: ao se remover o das e ao turbilhonamento das águas material do leito do canal, poderiam vir à decorrentes da movimentação de lanchas em tona metais pesados - principalmente o áreas de manguezais. Também não se iden- mercúrio - que estão depositados, estáveis, tificaram estudos que atestem que não há no leito do canal, abaixo do substrato lodo- impactos ou que os mesmos sejam desprezí- so. Tal fato representaria um grande risco

JI] à saúde dos pescadores e marisqueiras, controle dessa atividade pelas populações bem como dos vastos segmentos popula- locais, que se transformam no segmento cionais que se alimentam dos pescados da mais vulnerável aos impactos negativos que região, o que corroboraria a constatação a atividade pode ocasionar. Não por acaso prática de que, em diferentes contextos da Pineda et ai (2003) observam que o apro- área litorânea do Brasil, atividades turísti- fundamento do processo de globalização da cas desordenadas ou mal estruturadas, têm- economia e das estruturas sociais em esca- se revelado potencialmente danosas ao meio la mundial tem implicações diretas sobre o ambiente e a outras atividades econômicas meio ambiente. tradicionais (Coriolando, 1996; Midáglia, Vários inconvenientes, representando 1996; Silva, 1998; Barros et ai, 1999). riscos efetivos e potenciais para o meio am- No final do ano 2002, a partir de uma gran- biente, são descritos na literatura, com rela- de manifestação dos pescadores da região, ção à carcinicubtura. De acordo com Coelho contrária ao projeto do Circuito Náutico, o Junior& Novelh (2000), os principais proble- mesmo foi suspenso - pelo menos tempora- mas ambientais ocasionados por esses em- riamente -, resultando na conseqüente reti- preendimentos são: rada da draga de dentro do Canal. • barramentos e desvios do fluxo das No que se refere à destruição de man- águas por construção de canais, bar- guezais, estudo recente, desenvolvido pelo reiras1 taludes e/ou tanques; Instituto de Tecnologia de Pernambuco - • sedimentação por erosão do talude e ITEP -, demonstra que, no período de 1974 descarga de efluente; a 1998, foram suprimidos cerca de 304 ha • contaminação por patógenos, hormô- de mangue na região do Canal, correspon- nios, carrapaticidas, compostos quími- dendo a, aproximadamente, 14% da área de cos, resíduos alimentares e fertilizantes mangue existente em 1974.0 estudo alerta, lançados por efluentes dos tanques; contudo, para o fato de que esse desmaia- mento pode ter sido ampliado, uma vez que, • e introdução de espécies exóticas. desde 1998, foram instalados, na região, pro- No caso especifico da região do Canal jetos de carcinicuftura que superam 600ha de de Santa Cruz, embora ainda não se tenha área, que podem ter acarretado novos des- conhecimento de estudos de profundidade sobre os possíveis impactos socioambien- Ambiente e pesca matamentos (Diario de Pernambuco, 2004, tradidonal: foco apud Redmanglar, 2004). tais da carcinicultura na região, projetos de em Itapissuma, no Canal de Com relação à carcinicultura, esta se grande e de pequeno porte instalaram-se ou Santa Cruz, constitui em um elemento relativamente novo estão em vias de instalação. Conforme ob- Pernambuco no contexto socioambiental da região do servado anteriormente, desde 1998, cerca de 600 ha de viveiros de cultivo de camarão Tarcisio Quinamo Canal de Santa Cruz. Tem provocado um acirrado debate sobre os impactos socioam- foram instalados na região do Canal. O des- bientais que pode engendrar, em especial matamento de manguezais e o desapareci- quando realizada em áreas de manguezais mento do caranguejo no entorno de, pelo ou a elas contíguas, como é caso em ques- menos, um desses projetos foram observa- tão. Muitos têm sido os argumentos favorá- dos e relatados por pescadores locais. veis e contrários a essa atividade. Com efeito, numa rápida visita a uma Geração de emprego, renda e divisas são dessas áreas de cultivo de camarão é pos- os principais argumentos favoráveis. Os pre- sível se identificar evidências de que houve ços alcançados pelo camarão no mercado desmatamento e aterros de áreas de man- nacional e internacional são fortes estímu- gue, sugerindo ainda que pode haver novos los à carcinicuRura, que, assim, já nasce "glo- desmatamentos e aterros (ver Fbto 4), na balizada". Este é um dificultador a mais no continuação das obras do projeto.

91 Foto 4 - Aterro e desmatamento de mangue em área de carcinicultura, em Itapissuma. Data: Outubro/2005. qp

Foto. Tarosio Quinamo.

Considerações finais drásticas na paisagem e de quebrarem ou O presente trabalho abordou a importân- transformarem profundamente interações am- cia dos manguezais sob diferentes aspectos, bientais e socioambientais há muito estabele- dentre eles, na manutenção da biodiversida- cidas, podendo trazer graves conseqüências de, na proteção da linha costeira, como valor para os ecossistemas e para as populações paisagístico e como fonte de emprego e ali- envolvidas, especialmente as de pescadores. mento. Focou a região do Canal de Santa A esse respeito, Lima (1984, p. 29) considera Cruz, com seus estuários e manguezais as- que a interação homem-natureza constitui uma Ambiente e pesca tradicional: Foco sociados e também com os prados de fane- 'relação biossocial", "na medida em que a sa- em ltapissuma rógamas marinhas, um outro ecossistema de tisfação das necessidades básicas está ligada no Canal de Santa Cruz, grande importância na manutenção da biodi- ao processo de produçãd' (gfo no oginal). E Pernambuco versidade e na produtividade pesqueira da observa que a exploração dos recursos natu- região. Falou de aspectos relevantes da pes- rais de forma desordenada aumenta o domí- Tardsio Quinamo ca artesanal desenvolvida na região do Canal, nio do homem sobre o homem" na medida em a partir de ltapissuma, destacando a importân- que desarticula essa interação. cia desta atividade na geração de emprego e Se a solução para os graves problemas na produção de alimentos. Abordou também com os quais nos deparamos na atualidade aspectos socioambientais relevantes, que afe- passa pela promoção do desenvolvimento e tam e põem em risco o patrimônio natural, pela geração de emprego, isso perde o sen- assim como as atividades econômicas, soci- tido se não for firmado em bases sustentá- ais e culturais a ele vinculadas. veis, tanto do ponto de vista socioeconômico Em nome do crescimento econômico, ga- quanto da perspectiva ambiental. Branco nham ênfase atividades como as de carcini- (1989, p. 88) destaca que "a ação modifica- cultura e de turismo náutico, por exemplo, com dora do homem sobre a natureza" precisa alto potencial de provocarem transformações considerar "as conexões e a rede informáti-

92 ca que caracterizam o meio ambiente como Se gerar emprego é importante, vale lem- um sistema integrado e complexo", e não brar que os estuários, manguezais e faneró- pode se dar apenas pontualmente. gamas marinhas, presentes na região do Projetos e ações voltados para um desen- Canal de Santa Cruz, tal como hoje se en- volvimento que se pretenda sustentável, es- contram, são imprescindíveis fontes de em- pecialmente em se tratando de uma região prego e renda e contribuem para o sustento como a do Canal de Santa Cruz, não podem de milhares de famílias que vivem na região. se pautar exclusivamente pela busca do cres- No caso de Itapissuma é cerca de um quinto cimento econômico e do lucro imediatos, des- da população com quinze anos de idade e considerando as reais potencialidades e mais, trabalhando diretamente na atividade limitações que o ambiente oferece. De acor- pesqueira. E mais da metade da população do com Cavalcanti (1997, p. 24), a idéia de vivendo em domicílios com pescador que, sustentabilidade implica o estabelecimento de com sua atividade, contribui para a renda e limites às possibilidades de crescimento eco- a alimentação da família. nômico, o que se opõe ao pensamento eco- Se o turismo é importante fonte de gera- nômico convencional, que "não considera a ção de emprego e renda, vale lembrar a im- base ecológica do sistema econômico dentro portância da pesca e da mariscagem na do sistema analítico, levando assim à crença captura e coleta de peixes, moluscos e crus- do crescimento ilimitado". táceos que enriquecem a culinária regional, Todavia, pensar em limites às possibili- constituindo-se assim em um importante e dades de crescimento econômico não signi- indispensável atrativo turístico. E, também, fica necessariamente pensarem estagnação o turismo pode ser desenvolvido em bases econômica, mas, principalmente, em conce- socioambientais sustentáveis. O turismo ná- ber o desenvolvimento considerando que há, utico ecológico, com a utilização de barcos sim, limitações, mas há também possibilida- movidos a vela e remo, dos próprios pesca- des inexploradas, muitas vezes ofuscadas dores da região (Foto 5), é uma alternativa pela busca do crescimento a qualquer cus- que precisa ser considerada, como forma de to", por lemas como 'importar é o que im- oferecer alternativas de emprego à. popula- porta" e, sobretudo, pela busca do lucro ção local e melhor preservar os ecossiste- imediato como motor das decisões. mas naturais e suas funções.

Ambiente e pesca Foto 5 - O turismo ecológico representa um grande potencial para a região. tradicional: foco em Itaplesunri, Data: Julho/1999. no Canal de Santa Cruz, Pernambuco

Lrclsio Quin3mo

Foto: Tarcisio Quinamo.

93 E, para finalizar, cabe aqui enfatizar mais ai específica, por meio da Lei 993111986 uma vez o valor ambiental, social, econômi- (Pernambuco, 1986), os manguezais e os co e cultural do Complexo Estuarino do Ca- ecossistemas a eles associados vêm so- nal de Santa Cruz, frendo com as atividades humanas desen- considerado como um dos sistemas mais volvidas no Canal e no seu entorno. Não importantes do litoral do Estado de Per- se tem dado a devida atenção à sua ine- nambuco, representando uma unidade gável importância na preservação da vida ecológica de grande significado ( ... ), em marinha, na proteção da costa e também virtude de sua produtividade natural e bi- no campo econômica. Com o avanço ci- odiversidade ( .4 As funções ecológicas entífico e tecnológico, reconhece-se hoje, dos manguezais e dos prados marinhos com maior embasamento, a importância tornam necessárias e urgentes ações estratégica da riqueza biológica que en- formais de proteção, para que não ve- nham a degradar-se irreversivelmente, cerram os manguezais e os ecossistemas ao ponto de afetar a produção e manu- tropicais em geral. As irreversíveis perdas tenção da pesca artesanal de peixes, de vastas áreas de manguezais e de ma- crustáceos e moluscos, recursos econô- tas, já ocorridas no Brasil e no mundo, va- micos básicos dos municípios adjacen- lorizam ainda mais o patrimônio natural tes ao Canal (Barros e! al., 1999). remanescente, como é o caso do Canal de Tido como um ecossistema vulnerável, Santa Cruz e de outras áreas estuarinas inclusive protegido por legislação estadu- do Estado de Pernambuco.

Ambiente e pesca tradicional: toco em Itapissuma, no Canal de Santa Cruz, Pernambuco

Tarcislo Quinamo

94 Notas

O presente trabalho decorre das atividades de pesquisa mativas empregaram metodologias distintas. A estimativa desenvolvidas pelo autor, na Fundação Joaquim Nabuco e anterior baseou-se em pesquisa de campo, realizada em no âmbito da sua dissertação de mestrado, intitulada Pes- fevereiro de 1996, que envolvia exclusivamente domicíli- ca Artesanal e meio ambiente em áreas de manguezais no os de pescadores; e baseou-se também no número de complexo estuarinocosteiro de Itamaracá, Pernambuco: o pescadores então cadastrados na Colônia de Pesca de caso de Itapissuma, que desenvolveu pelo PRODEMN ltapissuma. A partir da proporção de pescadores que, na UFPB/IJEPB, sob a orientação dos professores Dr. Rober- pesquisa de campo, declararam estar cadastrado na Co- to Sassi e Or. Eduardo Rodrigues Viana de Lima. A sua lônia de Pesca, e do número de pescadores efetivamente elaboração se deu anteriormente à conclusão da disserta- cadastrados, estimou-se a população total deles. Em con- ção, defendida em fevereiro de 2006. seqüência, essa estimativa pode ter sofrido influência de 2 Relação Anual de informação Social. eventuais distorções que pudessem estar contidas no ca- dastro da Colónia. A estimativa atual (2005), foi reatada A sigla B.P. significa Antes do Presente, do termo inglês com base em pesquisa de campo junto a 360 domicilios Before Present. de Itapissuma, escolhidos aleatoriamente, independente- Em Itapissuma o termo pescadeira é utilizado para desig- mente se eram domicílios de pescadores ou não, permi- nar a mulher que pesca, assumindo, portanto, o mesmo tindo assim melhor se estimar a proporção de pessoas sentido que o termo pescadora, mais comumente utilizado envolvidas com atividades pesqueiras em relação à po- em outras localidades pesqueiras. pulação total do município. Para acossar os micro-dados dos censos populacionais Em Itapissuma o termo empreseiro é utilizado para de- do IBGE, o autor contou com o apoio de Ricardo Nóbrega, signar o empresário, via de regra informal, proprietário de da Fundaj. embarcações e armadilhas (redes) utilizadas na pesca lo- Estimativas realizadas por Lima & Quinamo (2000) indi- cal. Para ter acesso a esses instrumentos de produção, cavam a existência de 4.2 mil pessoas ligadas à atividade grande parte dos pescadores homens, que atuam na pes- pesqueira em Itapissuma, em 1996. Tal tato não permite ca embarcada, se vincula a uma equipe de pesca subor- que se afirme, no entanto, que houve uma redução no dinada a um empreseiro, o qual tem a primazia na compra número de pescadores entre 1996 e 2005, pois as esti- da produção da equipe.

Ambiente e pesca tradicional: foco em kaplssuma, no Canal de Santa Cruz, Pernambuco

Tarctslo Quinamo

95 Referências bibliográficas

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