UNIVERSIDADE FEDERAL DE INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO EM GEOGRAFIA

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

O AVANÇO TÉCNICO DO CAMPO E AS CONTRADIÇÕES INFRAESTRUTURAIS DO URBANO EM CAMPO VERDE/MT

DANIEL BORGES DE SOUZA

ORIENTADORA: SÔNIA REGINA ROMANCINI

CUIABÁ, MT 2010

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO EM GEOGRAFIA

O AVANÇO TÉCNICO DO CAMPO E AS CONTRADIÇÕES INFRAESTRUTURAIS DO URBANO EM CAMPO VERDE/MT

DANIEL BORGES DE SOUZA

Dissertação de mestrado apresentada ao programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal de Mato Grosso, como requisito para a obtenção do título de Mestre em geografia, sob a orientação da Profª Drª Sônia Regina Romancini.

Cuiabá/MT 2010

FICHA CATALOGRÁFICA S729a Souza, Daniel Borges de

O avanço técnico do campo e as contradições infraestruturas do urbano em Campo Verde/MT / Daniel Borges de Souza. – 2010.

97 f. : il. ; color. ; 30 cm.

Orientadora: Profª. Drª. Sônia Regina Romancini.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Mato Grosso, Instituto de Ciências Humanas e Sociais, Pós-graduação em Geografia, 2010.

Bibliografia: f. 94-97.

1. Infraestrutura urbana. 2. Agronegócio – Campo Verde (MT). 3. Campo Verde (MT) – Desenvolvimento. I. Título.

CDU – 911.3(817.2)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO EM GEOGRAFIA

O AVANÇO TÉCNICO DO CAMPO E AS CONTRADIÇÕES INFRAESTRUTURAIS DO URBANO EM CAMPO VERDE/MT

DANIEL BORGES DE SOUZA

Aprovado em 22/10/2010

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Profª Drª Sônia Regina Romancini Orientadora - UFMT

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Prof. Dr. Eduardo Paulon Girardi Examinador - UFMT

______

Prof. Dr. Jorge Luiz Gomes Monteiro Examinador externo – UFMT/Campus Rondonópolis

SUMÁRIO

2 – Introdução ...... 14

3 - Projetos de colonização e os migrantes no estado de Mato Grosso após 1970 ...... 21

3.1 – Campo Verde: a gênese ...... 25

4 - Uma cidade que existe para o campo ...... 33

4.1 – O potencial do agronegócio ...... 38

4.2 – A expansão urbana ...... 39

4.2.1 – Campo Verde: sua área urbana ...... 48

4.3 – A Infraestrutura urbana ...... 52

5 - Distorções no intraurbano: o trânsito e suas deficiências ...... 56

5.1 - O abastecimento de água, esgoto e a drenagem pluvial ...... 59

5.2 – Outras Ocorrências ...... 69

5.2.1– Como são escondidas ...... 72

6 – As Qualidades do campo ...... 75

6.1– A qualidade de vida ...... 78

6.2– As relações entre o meio rural e o urbano ...... 80

7– Praças, usos e apropriações ...... 81

7.1– O Plano Diretor ...... 85

8 - A industrialização em Campo Verde: o algodão ...... 89

8.1– A implantação do Grupo Sadia/Perdigão ...... 93

8.2 – A preparação da cidade para a implantação do complexo Sadia ...... 96

9 – A criação de novos loteamentos e moradias ...... 99

Considerações Finais ...... 103

Referencias ...... 105

AGRADECIMENTOS

Aos responsáveis pelo início de minha trajetória de crescimento: minha mãe Geralda Aparecida e a meu pai: José Ferreira de Souza (im memoriam).

Minha irmã Elisa Borges, uma pessoa cheia de alegria e energia que contagia a minha alma de felicidade.

Ao Professor Doutor Jorge Luis Gomes Monteiro por acreditar na nossa turma de graduação em Geografia. Mesmo sabendo das dificuldades que enfrentávamos o seu encorajamento foi e é sempre um exemplo.

Faço um agradecimento especial a minha orientadora, professora doutora Sônia Regina Romancini. Profissional séria, dedicada e ética que proporcionou os desafios que me obrigaram a superar meus medos e limites, fazendo valer a pena cada momento dedicado a essa pesquisa.

Aos amigos de mestrado que souberam o valor do companheirismo em momentos de necessidade;

E a minha companheira, amiga e esposa Andrea Albiero pelo carinho e compreensão em todas as fases deste estudo.

RESUMO

Analisar a urbanização nas cidades do agronegócio brasileiro nos leva a objetivos sociais que são postos de lado para que interesses do capital prevaleçam. É verdade que desde sua criação após 1970 até a atualidade, mudanças ocorreram e estão ocorrendo numa dinâmica incontestável. A origem de Campo Verde a sua análise desde a época do Capim Branco até a atualidade que se mistura ao potencial do agronegócio que transforma e intensifica a urbanização e sua expansão urbanas. Campo Verde e sua organização sócio-espacial que se assemelha a diversas outras cidades como e considerando que os pioneiros que participaram da construção dessa nova cidade procuravam manter o modelo urbano das do Sul do Brasil. A sua infraestrutura cujos elementos vão desde à falta de saneamento básico à o desenvolvimentos de tecnologias que visam a interação do cidadão campoverdense ao mundo da internet e essa mesma tecnologia vem sendo utilizada para a criação da cidade digital, um projeto que afundou antes de sequer sair do papel, como outros que fazem parte da infraestrutura tanto digital quanto física. O aproveitamento dos espaços procura levar em consideração a necessidade efetiva da evolução e o crescimento da cidade. O trânsito de veículos automotores não somente faz parte dessa infraestrutura como também é o mais dispendioso no sentido da criação de novas vias e da manutenção das já existentes, Não somente as vias, que analisadas demonstram preocupação, mas os projetos que nunca se tornaram efetivos para a melhoria da cidade. As dificuldades são um retrato das contradições sociais que emergem na paisagem dessa cidade que se auto-intitula moderna, porém a realidade revela uma falácia. Dentre tantos desafios Campo Verde como tantas outras cidades brasileiras vem enfrentando e superando dificuldades como o déficit habitacional e o desemprego a assim continuar dentre as mais prósperas do Estado de Mato Grosso.

Palavras-chave: Campo Verde, Agronegócio, Desenvolvimento, Infraestrutura Urbana.

ABSTRACT

Analyzing urbanization in the cities of the Brazilian agribusiness leads to social objectives that are set aside for capital interests prevail. It is true that since its creation after 1970 to the present, changes have occurred and are occurring in a dynamic indisputable. The origin of Green Field your analysis since the time of the Capim Branco until today that it mixes with agribusiness potential that transforms and intensifies the urbanization and urban expansion. Campo Verde and its socio-spatial organization that resembles several other cities like Lucas do Rio Verde and Sorriso whereas the pioneers who participated in the construction of this new city sought to maintain the urban model of southern . Its infrastructure whose elements range from the lack of basic sanitation to the development of technologies aimed at the citizen interaction campoverdense the internet world and this same technology has been used to create the digital city, a project that sank before even leaving paper, like others who are part of both digital and physical infrastructure. The use of space seeks to consider the actual need of the development and growth of the city. The traffic of motor vehicles not only as part of this infrastructure is also the most expensive in the creation of new routes and maintaining existing ones, not only the pathways that analyzed show concern, but the project never became effective for improving the city. The difficulties are a portrait of social contradictions that emerge in the landscape of this city that calls itself modern, but actually reveals a fallacy. Among many challenges Campo Verde and many other Brazilian cities is facing and overcoming difficulties such as the housing shortage and unemployment remain so among the most prosperous in the State of Mato Grosso.

Key words: Campo Verde, Agribusiness Development, Urban Infrastructure.

LISTA DE GRÁFICOS

01 – Evolução populacional no Município de Campo Verde no período de 1991 a 2007...... 34

LISTA DE FIGURAS

01 – Mapa de localização de Campo Verde...... 27

02 – Avenida Brasil...... 42

03 – Praça João Paulo II...... 91

04 – Praça 04 de Julho...... 92

05 – Praça Aírton Senna da Silva...... 92

06 – Plantação de algodão (o ouro branco) próximo à érea urbana...... 99

07 – Locas das futuras instalações da Sadia em Campo Verde-MT...... 103

08 – O anúncio do investimento da Sadia em Campo Verde-MT...... 104

09 – Escola modelo. Em construção no Bairro Cidade Alta...... 106

10 – Planta baixa do Bairro São Lourenço...... 108

11 – Loteamento Cidade Alta...... 109

LISTA DE TABELAS

01- Evolução populacional no município de Campo Verde no período de 1991 a 2007...... 33

02 – Dados Estatísticos – Janeiro/2010 – Quantidade de veículos emplacados em Campo Verde – MT...... 66

03 – Algodão herbáceo – por tonelada – produzida em 2006...... 98

04 – Algodão Herbáceo (em caroço) rendimento médio da produção em quilogramas por hectare em 2006...... 98

05 – Área colhida e produção da cultura de soja em Campo Verde-MT/2004 e 2005...... 102

06 – Estimativa populacional do Estado de Mato Grosso, por município 2006, 2007 e 2008...... 108

07 – Programa habitacional entre 2005 e 2009...... 109

08 – Investimentos na habitação em Campo Verde de 2005 a 2008...... 110

LISTA DE GRÁFICOS

01 – Evolução populacional no Município de Campo Verde no período de 1991 a 2007...... 34

Apresentação

O presente trabalho analisa o avanço técnico do campo e as deficiências infraestruturais do espaço urbano na cidade de Campo Verde no estado de Mato Grosso. O objetivo central dessa pesquisa é analisar a função da cidade diante do Avanço técnico do campo. Verificou-se ainda como as pessoas fazem uso das praças, vias, logradouros e como elas se divertem levando em consideração aspectos funcionais ambientais e comportamentais.

O estudo permite analisar a expansão urbana em seus diversos aspectos como a infraestrutura urbana, sua função e as disparidades como o que ocorre no trânsito, as diferenças existentes entre as modernas empresas agrícolas e a cidade no que diz respeito aos moradores que nelas trabalham, bem como investigar o abastecimento e tratamento de água e outros serviços básicos.

Para efetuar esse trabalho e alcançar os objetivos propostos a pesquisa foi dividida em fases, explicadas a seguir:

Primeiramente foram realizados estudos bibliográficos que permitiram maior conhecimento sobre o espaço urbano e, com esse mesmo objetivo, foram selecionadas notícias de jornais locais, estaduais e até mesmo nacionais, revistas e informações na internet relacionados ao tema. Da mesma forma foi analisada a legislação municipal de Campo Verde.

Em seguida procedeu-se aos estudos de campo na área urbana da cidade com observação dos usos e levantamento através de registros realizados em agosto de 2009. Na oportunidade, foram realizadas entrevistas com cautela por compreender que, sendo um estranho, inibe a pessoa que está sendo entrevistada para expor suas opiniões de forma clara e objetiva sem se sentir num tipo de “obrigação” para com o entrevistador. As entrevistas foram semi-estruturadas, utilizando um roteiro simples que permitiu aos entrevistados apresentarem outras informações que julgassem importantes.

13 Foram entrevistados moradores das áreas mais carentes da cidade nos dois primeiros meses de 2009 com ensino médio completo ou incompleto que pagam aluguel e possuem uma renda média de um salário mínimo a um salário mínimo e meio e assim compreender a dinâmica em que os moradores estão inseridos para posteriormente possuir uma resposta sobre a questão da migração em Campo Verde e o esclarecimento de tal informação visa também, orientar e criar políticas públicas e assim melhorar as condições de vida dessas pessoas de culturas e regiões diferentes que chegam à cidade na tentativa de se inserirem na comunidade. Tal conhecimento vem esclarecer como instrumentos tão diversos se interagem em uma cidade com problemas comuns encontrado na maioria das cidades brasileiras.

O conhecimento atuante sobre os instrumentos de trabalho e as modificações é significativo, pois produz males ou benefícios segundo as condições de utilização desses mesmos conhecimentos. Apesar de não ser uma regra quando a ciência se deixa levar por uma tecnologia cujos objetivos são mais econômicos do que sociais, toda a vocação de servir a essa sociedade é posta de lado e todo o processo produtivo transforma o lugar de maneira direta ou indireta de acordo com suas necessidades.

Portanto quando os objetivos sociais são abandonados para que interesses de certos grupos sejam atendidos, a cidade onde estes mesmos grupos atuam se transforma em um palco e os espectadores e a sociedade ali existente fica a margem dessa atuação.

Também foram levantados dados estatísticos da produção da soja e algodão no município para elucidar a análise das transformações ocorridas na área urbana de Campo Verde nos últimos cinco anos. Transformações essas que ocorreram tão rapidamente quanto os problemas causados por elas e soluções como a criação de novos bairros são, de fato, consequência desse crescimento.

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2 – Introdução

A geografia é uma ciência espacial, que estuda fenômenos sociais e da natureza sob um objetivo comum onde a concepção de espaço não é muito vaga, muitas vezes estando associada a uma porção específica da superfície do planeta ou pelo modo particular onde o homem imprime as suas marcas. O uso da concepção de espaço vem sendo utilizado sem restrições ou indiscriminadamente nas escalas tanto regional, global e da cidade, do bairro etc. E tendo também a sociedade como objeto de estudo, a geografia busca analisar tanto a região, o espaço, o lugar e o território.

Portanto, cada um desses objetivos vem sendo alvo de intensos e amplos debates e conceitualização e assim cada um deles possui várias acepções calcadas em uma específica corrente de pensamento e os conceitos de paisagem e região. Assim CORRÊA (2007, p. 17) esclarece que:

A geografia tradicional em suas diversas versões privilegiou os conceitos de paisagem e região, em torno deles estabelecendo-se a discussão sobre o objeto da geografia e a sua identidade no âmbito das demais ciências. Assim, os debates incluíam os conceitos de paisagem, região natural e região-paisagem, assim como os de paisagem cultural, gênero de vida e diferenciação de áreas.

A abordagem espacial, associada à localização das atividades dos homens faz com que o domínio do espaço transforma-se em elemento essencial na história do homem e que a apropriação de uma determinada porção desse espaço por um determinado grupo o lócus da reprodução das relações sociais de produção como as cidades.

Algumas cidades tentam suprir-se de todos os bens e serviços, porém quando os valores, vocação predefinida, técnicas de trabalho no campo avançadas e uma sociedade que se formou sobre as benesses do agronegócio são acima do que se encontra em outras cidades, a necessidade de se adquirir esses bens e serviços se torna um agravante para os moradores mais pobres e um paraíso para os donos dos meios de produção.

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A cidade é um fixo cruzado por fluxos enormes (homens, produtos, mercadorias, ordens, idéias...), diversos em volume, intensidade, ritmo, duração e sentido. Aliás, as cidades se distinguem umas das outras por esses fixos e fluxos (SANTOS 2008, p. 129).

Como um objeto, como um modo de vida, a cidade é a concentração de possibilidades (trabalho, informação...). A concentração do espaço onde se realiza a vida coletiva, onde os ricos e os pobres, os que mandam e os que não mandam, os poderosos e os subalternos estão presentes e a cidade espelha a obra humana. Ela é resultado da interação social, do conhecimento de técnicas que permitem a manipulação de recursos naturais e da cultura em suas diversas manifestações. Ela é o resultado dessa teia de relações humanas.

Existem cidades em função da atividade comercial, ou seja, a reunião de pessoas para venderem excedentes está na origem das aglomerações humanas. Portanto, as cidades nasceram da divisão do trabalho. Mesmo que continuassem a produzir mercadorias no campo, os homens passaram a encontrar-se em cidades para a troca de seus produtos.

Mas todas mantêm o caráter gregário de pessoas. A maior característica de uma cidade é justamente a concentração populacional e de poder. Por isso as cidades ainda são classificadas em pequenas, médias, grandes ou metrópoles, de acordo com a quantidade de pessoas que nelas vivem e dos seus serviços que elas oferecem.

À medida que as relações sociais passaram a se tornar mais sofisticadas, obrigando a construir equipamentos específicos, passou-se a ter novas formas urbanas. A cidade espelha a cultura de um povo, seus costumes, suas crenças. A cidade permite que um povo se encontre para expressar seus sentimentos, para celebrar a fé religiosa, para comemorar datas e eventos que julgue importantes. Mas mantém para trabalhar, para distrair-se, para morar. A cidade é resultado da reunião de pessoas e de formas urbanas construídas para elas poderem abrigar-se e se encontrarem. 16 Essa gama de possibilidades torna as cidades um ambiente complexo. Ela é plena em tecnologias e é composta de vias, pontes, sofisticados sistemas de comunicação (como redes de telefonia, cabos interligando computadores), de transmissão de energia, de iluminação pública, de edificações as mais diversas, para abrigarem diferentes atividades sociais. As cidades espelham um domínio técnico que expressa a cultura de um povo.

Como explica Santos (1986b, p. 124), “o espaço é a acumulação desigual de tempos. Ou seja, é possível identificar temporalidades distintas em uma cidade, isto é, no espaço urbano.” Ele retrata a soma de conhecimentos aplicados em sua produção. O aprofundamento desse debate trata a cidade como meio técnico científico informacional, uma síntese do avanço do conhecimento humano.

Dando continuidade na explicação do que é a cidade devemos considerar vários elementos que se relacionam historicamente em diferentes parcelas do território. Na afirmação de Sposito (2008, p 13) “a cidade não se resume, portanto, ao conjunto de edifícios com diferentes formas de uso, ao arruamento, por onde circulam pessoas e veículos, ao território ocupado, diferentemente, pelos atores sociais e suas atividades econômicas, nem tampouco aos aspectos culturais dos grupos populacionais que vivem na área urbana. A cidade que se analisa se resume em muito mais.” Todo esse mecanismo onde as diferentes formas de uso são explícitas não deve ser apenas observado, mas estudado com afinco a fim de se formar opiniões específicas.

Na estruturação interna da cidade é preciso analisar também quem são os sujeitos que produzem a cidade e o papel que estes sujeitos representam. As desigualdades da cidade são compreendidas na observação dos agentes produtores do espaço nela construído que são os proprietários dos imóveis, as organizações econômicas que utilizam o espaço para seus próprios fins como bancos, comércio, empresas industriais, companhias imobiliárias e empresas de construção. O poder público que com modalidades variadas, muitas vezes contraditórias, entra acompanhando as operações do capital privado.

Dentro dessas diferenças e afirmações onde a cidade é o ator principal a análise se torna necessária. Diferenças na qualidade de vida, nas especificidades do trabalho, na qualidade dos serviços prestados pelo poder público e até onde o capital privado é capaz de atender as suas próprias necessidades que além da própria sobrevivência, em alguns casos o suficiente não é apenas o necessário. A 17 cidade tem em suas características principais os seus moradores, suas empresas, seus colaboradores e até aqueles que não gostam dela.

Uma cidade para pessoas limitadas concentra-se num único propósito: é vista sob um único prisma. O intelectual fica impressionado com a cidade, pois aprende a totalidade da vida humana em sua imensa variedade, cuja concentração é inexaurível. (JACOBS, 2000, p. 115).

Desde a emigração e a imigração que ela sofre destacando suas qualidades e defeitos a cidade sempre desperta o fascínio naquele que a visita pela primeira vez, tanto pela curiosidade como pelo interesse de alguma forma. Dependendo de quem analisa a cidade, suas impressões dependem muito de seus limites em se tratando de conhecimento e capacidade de ver o que ela pode oferecer o que ela tem. Dentro desse aspecto a cidade sempre abre um fascínio inicial: a população, o clima, a paisagem urbana, a cultura específica de sua região, entre outros aspectos e sem dúvida, com todas essas características deve-se analisar a combinação de seus usos.

Para Santos (2008, p. 15):

A universalização do mundo pode ser constatada nos fatos. Universalização da produção, incluindo a produção agrícola, dos processos produtivos e do marketing. Universalização das trocas, universalização do capital e de seu mercado, universalização da mercadoria, dos preços e do dinheiro como mercadoria-padrão, universalização das finanças e das dívidas, universalização do modelo de utilização dos recursos por meio de uma universalização relacional das técnicas, universalização do trabalho, isto é, do mercado do trabalho e do trabalho improdutivo, universalização do ambiente das firmas e das economias, universalização dos gostos, do consumo, da alimentação.

A cidade se insere dentro dessa universalização e Campo Verde, como objeto de estudo desse trabalho, está repleta de técnicas e ciência na tentativa do perfeito encaixe nessa universalização. E os que governam estas cidades se deixaram aliciar por tecnologias implantadas no campo cujos objetivos são mais econômicos do que sociais e toda a vocação de servir à sociedade é posta de lado. Universalização essa que muitas vezes é necessária no contexto da aquisição de bens e serviços que não possuem preços atrativos no comércio local e acabam por perder boa parte de seus habitantes na qualidade de consumidores 18 Quem pode vai consumir em outros centros como Rondonópolis e Cuiabá, quem não pode se vê obrigado a sofrer com os altos custos desses bens e serviços possuindo outra característica peculiar: seguem uma lógica associada ao poder que o agronegócio exerce dentro da área urbana. O estilo de vida em que o algodão a soja e o milho exercem em Campo Verde impressiona não apenas através do comportamento dos grandes fazendeiros como dos comerciantes, lojistas, funcionários públicos dentre outros profissionais ligados direta e indiretamente ao agronegócio.

Inicia-se pela monocultura da soja que vem abrindo fronteiras, inovando territórios e criando novas concepções negativas e positivas tanto de caráter econômico quanto sociocultural. Ela elege prefeitos e vereadores e mantém praticamente um exército de homens e máquinas de última geração à sua disposição, gera empregos, utiliza mão-de-obra de trabalhadores de diversas regiões do país. Cidades inteiras funcionam de acordo com a dinâmica da monocultura. Esses argumentos evidenciam que aqueles envolvidos no agronegócio estão sujeitos a diversas situações que serão detalhadas no decorrer deste trabalho. O avanço técnico do campo e as contradições infraestruturais do urbano em Campo Verde vêm sendo as principais motivos nesse palco de diversidades muitas vezes injustas e raramente compensatórias.

Uma das imagens que se deve ter a respeito do que ocorre dentro de cada cidade e de seu ciclo de vida é que não existe apenas o morador e seu emprego, seu salário, sua família com seus filhos na escola, o comércio, as festas, a prefeitura e, principalmente, seus benefícios a que tais trabalhadores têm direito. Em se tratando de benefícios expostos ao trabalhador e toda sua família as pequenas e médias cidades não são grandes provedoras.

Nas cidades do agronegócio, existem os exemplos com agravantes: todas as pessoas estão em função do que se produz. A soja, o milho e o algodão são a base da economia dessas cidades. Campo Verde se destaca como um dos grandes produtores estaduais e nacionais de algodão e soja. Com o maior PIB agropecuário do Brasil, se destaca também como o maior produtor estadual de frangos. Tendo toda essa “fama” há necessidade de um trabalho visando a análise desses atributos relacionados com a qualidade de vida de cidadãos e suas famílias.

Trabalho esse que retrata o rural moderno em detrimento do urbano deficiente e onde a mídia local com a desgastada palavra “pujante” juntamente com 19 os representantes do poder público que a mantém, fazendo assim, parte do discurso e esses mesmo meios de comunicação que encobre os conflitos gerados pela prioridade que é dada ao agronegócio vem sendo controlada para perpetuar tal afirmação e assim manter as especificidades do agronegócio excludente e\ou extremamente seletivo.

Toda essa característica gera um processo, uma nova forma espacial urbana que está sendo fundada em estratégias de ação associadas à expansão da agricultura moderna, a difusão do processo de industrialização vinculado ao agronegócio, a criação de serviços especializados e expansão comercial e a formação de redes isso significa transformações nas tradicionais relações campo/cidade, resultando na intensificação das desigualdades e conflitos sócio econômicos conforme análise realizada por Santos ( 2008a, p. 68):

O Centro-Oeste apresenta-se como extremamente receptivo aos novos fenômenos da urbanização, já que era praticamente virgem, não possuindo infraestrutura de ponta, nem outros investimentos vindos do passado e que pudessem dificultar a implantação de inovações. Pôde, assim, receber uma infraestrutura nova, totalmente a serviço de uma economia moderna, já que em seu território eram praticamente ausentes as marcas dos precedentes sistemas técnicos. Desse modo, o novo vai dar-se com maior velocidade e rentabilidade.

Deve-se assinalar que a urbanização do Cerrado corresponde às necessidades do modelo agrícola implantado, constituindo cidades que surgem no âmbito de um conceito de modernidade, porém com frequência reproduzem algumas características arcaicas, como o poder de mando local, na figura dos fazendeiros que influenciam o movimento político/administrativo dessas cidades.

Em Mato Grosso, a maioria dessas cidades surgiram a partir de processos de colonização privada, adquirindo os empresários do Sul do país as glebas de terras para revenda, implantando núcleos de assentamentos desses novos colonos e estas novas estruturas socioespaciais são reveladoras. Podemos ter um olhar homogêneo sobre a urbanização desses espaços, porque tal fenômeno resulta numa expansão excludente, controlando a presença da mão-de-obra excedente dentro da utilidade de uma farta gama de técnicas modernas justificando tal impossibilidade da fraca mão-de-obra. Por vezes, nos novos espaços urbanos, a construção dessas cidades dotadas de grandes avenidas e a formação de bairros mais carentes, a distribuição dos objetos no espaço revelam formas dotadas de 20 novos conteúdos, estratificando-se os espaços de acordo com as relações dominantes, produzindo um novo tecido urbano, o que se vincula em parte ao preço do solo, sendo emblemática dessa situação Campo Verde que em julho de 1988, surgiu com a promessa de se tornar um “novo eldorado”.

Concomitantemente, as atividades humanas se encontram em uma realidade direta com a que vivemos neste mundo de um período técnico-científico que a ciência e a técnica estão presentes em todas as atividades humanas. Nestas condições, é grande a quantidade de trabalho intelectual solicitada para trabalhar com novas tecnologias como a biotecnologia, incluindo o monitoramento de pragas, informações sobre as possibilidades naturais, o uso do GPS dentre outras inovações “mesmo porque a produção material diminui em benefício da produção não material” (SANTOS, 2008a, p. 54).

A agricultura moderna do cerrado pautada num desenvolvimento técnico, científico e informacional e numa racionalidade econômica também se utiliza da mão-de-obra pouco qualificada. Um reflexo que revela pouco trabalho vivo frente ao elevado nível técnico da região, expressando o livre movimento do capital e o rígido controle do movimento do trabalho.

Cidades onde o trabalho intelectual sofre um aumento nos índices relativos à mão-de-obra e o resultado fica estampado na urbanização, na qualidade de vida sendo essa exigência e essa valorização da mão-de-obra ficam fixadas e no que afirma de Santos (2008a, p. 56):

As cidades locais mudam de conteúdo. Antes eram cidades dos notáveis, hoje se transformam em cidades econômicas. A cidade dos notáveis, onde os personagens eram o padre, o tabelião, a professora primária, o juiz, o promotor, o telegrafista, cede lugar a cidade econômica, onde são imprescindíveis o agrônomo, o veterinário, o bancário, o piloto agrícola, o especialista em adubos, o responsável pelos comércios especializados.

Mesmo com uma imensa capacidade de atrair uma tão valiosa mão-de- obra a área urbana analisada é deficiente em bens e serviços públicos. Campo Verde já nasceu como a cidade dos notáveis, Assim as reflexões apresentadas buscam formular como a modernização não ocorre de maneira uniforme, pois é seletiva e excludente, ela revela dupla face. De um lado propicia desenvolvimento e riqueza aos segmentos atendidos por essa valiosa mão-de-obra e assim passam a desfrutar de um crescente conforto material. Por outro lado a modernização tem 21 aprofundado as diferenças entre ricos e pobres que já se evidenciavam desde seu nascimento em meados dos anos 1970 e 1980.

Figura 01 - Mapa de localização de Campo Verde

3 - Projetos de colonização e os migrantes no estado de Mato Grosso após 1970 Em Mato Grosso as tentativas de ocupar e atrair investimentos para a área norte (o atual estado de Mato Grosso) foram intensificadas com a “Marcha para o Oeste” em 1937 com o intuito de ocupar e atrair novos investimentos. Mas os concretos efeitos apenas vieram na década de 1970, com a transformação da região em “Fronteira Agrícola”. Fartos incentivos do governo aos empresários, viabilizados através dos órgãos governamentais como a Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia – SUDAM a Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste - SUDECO o Banco da Amazônia S.A - BASA e programas governamentais como o Programa de Integração Nacional - PIN e o Programa de Desenvolvimento do Noroeste do Brasil – POLONOROESTE. O Instituto de Colonização e Reforma Agrária - INCRA órgão que canalizou os incentivos fiscais e linhas de financiamento, juros subsidiados e prazos generosos. 22

Era um movimento pioneiro no sentido de inaugurar vias de circulação para a integração político-econômica, de valorizar a propriedade com um novo preparo da terra, com a presença do migrante, viabilizando a construção do “novo” numa estrutura ainda não consolidada. (BERNARDES; FREIRE FILHO, 2006, p.15).

O objetivo então do governo era ocupar a Amazônia para garantir sua integração ao restante do Brasil e produzir para o mercado nacional e internacional. Mesmo com a “operação Amazônia” proposta pelo governo militar, na década de 1970, com a proposta de atacar em várias frentes os problemas da região, a concepção do governo para a Amazônia era de uma região desabitada onde pouco se produzia além de não estar integrada ao Brasil e, portanto, essa forte ocupação se deu em um período de grandes investimentos do governo federal atraindo uma grande quantidade de migrantes do Sul e Sudeste do Brasil. Nas palavras de Joanoni Neto (2007, p. 20):

Mato Grosso, visto como “confins da civilização”, tornou-se fronteira, ou área que necessitava ser dominada, modernizada e na década de 70 e 80, com a introdução do cultivo da soja para exportação, com a mecanização das lavouras e a necessidade de propriedades extensas para tal cultivo, novas técnicas e espaços urbanos seriam criados.

As possibilidades de riquezas que a terra oferece aos homens povoaram os sonhos de muitos. Portanto, a procura pelas terras mato-grossenses era muito grande, seu preço era menor em relação às de outros estados. A chance de se adquirir grandes extensões de terras eram maiores. Possibilidade que ia ao encontro , dos sonhos de muitos.

A esse exemplo temos o Programa de Integração Nacional (PIN), estabelecido no inicio de 1970, que planejou e executou as rodovias federais da Amazônia, destacando-se a Transamazônica, a Cuiabá-Santarém, a Cuiabá-Porto Velho. Os empresários do Sul-Sudeste, através de incentivos fiscais e crédito subsidiado, receberam vantagens irrecusáveis para se instalarem na região. Atraídos por tais incentivos, pelas terras abundantes e de baixo custo apresentaram projetos a SUDAM, dos quais muitos foram aprovados. 23 No fim da década de 1960, o Governo Federal implementou no Centro-Sul do Brasil uma política de modernização da agricultura para competir no mercado internacional. O plano iniciou com a “operação Amazônia” cujo lema era integrar para não entregar, já utilizado anteriormente pelo Projeto Rondon.

No Rio Grande do Sul, particularmente em área de colonização com imigrantes italianos e alemães, os problemas principais eram o esgotamento da fertilidade do solo e o minifúndio. Para modernizar a agricultura na região o governo propôs a saída de milhares de agricultores, oferecendo-lhes lotes de 100 a 200 hectares, disponíveis no estado de Mato Grosso.

No final da década de 1970 para resolver problemas emergenciais de agricultores em conflito com populações indígenas no Rio Grande do Sul, o INCRA implantou no que Barrozo (2008, p. 22) afirma: “O governo preferia ocupar a Amazônia com agricultores do Sul, que tivessem vocação para agricultura, e que melhor atendessem às suas expectativas de colonização.”

O mais importante que projetos e incentivos governamentais e suas consequências dentro desse contexto é que no início desta ocupação e suas relações sociais justamente porque o objetivo desses imigrantes era conseguir terra para trabalhar, pois com a venda de suas terras no Sul a diferença de preço em comparação ao preço das terras de origem permitiam-lhes obter uma maior parcela e ainda guardar uma quantia para sobreviver até as primeiros safras.

No Sul não possuíam grandes lotes de terras e agora se orgulhavam de estar em uma terra que lhes proporcionaria um título de propriedade, que poderiam legar aos filhos. O conjunto de todas essas razões fez com que eles compartilhassem o sentimento da chegada à “terra prometida”.

Constituída como uma das regiões pouco conhecidas do território brasileiro, Mato Grosso, que corresponde ao domínio amazônico, do cerrado e pantanal revelou-se uma grande área com redes hidrográficas, matas e florestas de uma variedade de fauna e flora reveladoras das incalculáveis riquezas da região que somente eram conhecidas por exploradores, desbravadores e/ou representantes de expedições científicas estrangeiras ou nacionais.

Considerado “território vazio” ou como “natureza intocada” o território de Mato Grosso passa a ser conhecido, a partir do início de século XX como “vazio populacional” a ser incrementado à exploração e colonização. 24

A abundância de recursos naturais, a distância dos grandes centros metropolitanos, a dimensão territorial, a baixa densidade demográfica e a natureza primitiva são elementos fundamentais na composição da imagem de Mato Grosso como um território rico a ser conquistado para a expansão do capital. (ARRUDA, 2007, p. 54)

A partir do século XX com a expansão da fronteira agrícola, o território de Mato Grosso, antes concebido como “natureza intocada” tornou-se uma nova fronteira dos interesses econômicos do capitalismo onde se incorporaria novos elementos técnicos e onde a terra seria inserida nesse novo processo de expansão e acumulação do capital materializado por essa expansão, em resumo, pela inserção desse espaço numa (re)configuração.

O Estado foi o principal agente viabilizador dessa nova lógica da produção capitalista. Para a expansão da fronteira agrícola por mecanismos de adoção dos meios institucionais, novas legislações, decretos, planos de incentivos governamentais e políticas públicas foram responsáveis por essa transformação espacial que se iniciou.

Minimizar parte dos sérios problemas e conflitos urbanos e rurais que eclodiam em vários pontos do território brasileiro solicitando a reforma agrária foi o motivo para se ocupar os “espaços vazios” existentes na maior parte de Mato Grosso. Interesses emergentes no contexto espacial de expansão das forças capitalistas/produtivas fariam parte das condições para tal expansão.

Para exemplificar, devido a essa reprodução ampliada do capital no território, a partir de 1970 passa a ser evidente a conversão da terra em mercadoria utilizando a privatização das terras devolutas que são terrenos presumidamente públicos, ou seja, propriedades públicas que nunca pertenceram a um particular mesmo estando ocupadas. Esse termo “devolutas” relaciona-se com a decisão de devolução desta terra para o domínio público ou não, dependendo de ações denominadas discriminatórias e à medida que proliferaram as companhias de terras e negociações imobiliárias no território de Mato Grosso. Pode-se demonstrar que algumas companhias colonizadoras como a Sociedade Imobiliária Noroeste do Paraná - Sinop Ltda, hoje Sinop Terras S\A, apresentaram particularidades no processo de parcelamento da terra e do controle de seus empreendimentos com um 25 único e claro objetivo: o controle das terras. A colonização dessas terras foi um grande negócio para essas colonizadoras.

Em fins de 1971, deslocou o peso maior de sua empresa para Mato Grosso e, numa extensão de 645 mil hectares, adquiridos de terceiros, na altura do km 500 da rodovia Cuiabá-Santarém (BR-163), iniciou o projeto de colonização da Gleba Celeste, do qual faziam parte as áreas onde se encontram as cidades de Sinop, Vera, e Cláudia.

É, então, importante estabelecer no território o desenvolvimento para otimizar os projetos de colonização como escreve Arruda (2007, p. 56) Assim, as empresas privadas assumem o papel de criar mecanismos capazes de viabilizar a concretização de seus interesses capitalistas por meio da implementação de estruturas espaciais como estradas vicinais, construção de cidades, entre outras.

Em busca de concretizarem suas ambições pelo lucro, essas empresas procuravam não somente as terras favoráveis aos seus planos e estratégias como assumiam a responsabilidade de concretizar todo o empreendimento: como loteamento para o surgimento de bairros nas novas cidades, construção de igrejas e templos, enfim, a implantação dos núcleos urbanos. Na maioria dessas cidades, a procura de ganhos rápidos e lucros importantes por parte dos colonizadores geraram sérios problemas, pois não se preocuparam com a implantação das infraestruturas básicas, como rede de águas pluviais, rede de coleta de esgotos sanitários ou até mesmo estações de tratamento de águas para as residências.

3.1 – Campo Verde: a gênese

Um dos traços marcantes da economia nessa fase do desenvolvimento capitalista é a necessidade de criação constante de inovações, indicando a necessidade de modernização na reestruturação do trabalho e do território, constituindo a ciência, a técnica, a informação, o planejamento. Instrumentos cada vez mais eficazes no controle da natureza e da sociedade.

Desse modo, aí o novo vai dar-se com maior velocidade e rentabilidade. E é por isso que o Centro-Oeste conhece uma taxa extremamente alta de urbanização, podendo nele se instalar, de uma só vez, toda a materialidade contemporânea indispensável a uma economia exigente de movimento. (SANTOSa, 2008, p. 89) 26

Portanto as cidades existentes no contexto do agronegócio possuem um aspecto interessante: a grande maioria dos serviços prestados dentro desse mesmo contexto são para atender à demanda do que ocorre no campo como máquinas e equipamentos agrícolas e técnicos especializados para a atuação nessa materialidade contemporânea.

Na multiplicação das técnicas e dos fixos e fluxos, os lugares são valorizados e especializados, passando a diferenciar-se por sua distinta capacidade de oferecer rentabilidade às inversões em função de condições de ordem técnica e organizacional, passando a exercer uma função que lhes é atribuída por uma nova ordem fundada na lógica da acumulação do capital.

Então procuramos entender a expansão da fronteira agrícola do capital no cerrado brasileiro, procurando conhecer a atual dinâmica urbana e das territorialidades estimulada pelo aumento do nível de aplicação de inovações tecnológicas e da difusão das redes técnicas, no âmbito das relações capital/trabalho.

Assim verificou-se a expansão acelerada dos espaços ocupados pelas atividades agropecuárias enquanto ocorria, ao mesmo tempo, acentuada “modernização” do setor agrícola. A construção de novas rodovias, a exemplo das BRs 163 e 070, favoreceu não apenas o fluxo de migrantes para a região como também de grandes empresas contempladas com projetos agropecuários, sendo realizados investimentos em infraestrutura e pesquisa para facilitar a ação do capital.

Nesse aspecto as migrações tiveram grande importância e temos registros históricos que nos demonstram a existência do processo de migração e o homem, um ser capaz de avaliar seu contexto e procurar novas fronteiras, possibilitou mudanças de estruturas de sobrevivência. Antigamente o homem migrava em busca de melhorias, contudo essas melhorias são diversas, as pessoas buscam novas fronteiras motivadas por vários fatores: melhores expectativas de vida, trabalho, condições da vida saudável, ascensão profissional, intercâmbio cultural, perseguições políticas e religiosas dentre outros. Assim coloca Santos (2004d, p. 17):

O problema da habitação, do emprego e da marginalidade, o problema das migrações e do congestionamento urbano recebem então um tratamento que demonstra uma maior preocupação com as consequências da miséria urbana de que 27 com suas causas, as quais, no entanto, agravam-se por toda parte.

As reais dificuldades encontradas pelos migrantes em geral ficam como um agravante durante tempos e, atualmente, podemos perceber que muitas pessoas e famílias de todas as partes migraram e ainda migram em busca de condições e de uma situação que, na maioria das vezes, termina com o aumento da miséria urbana sem perspectivas de um futuro melhor.

O Município de Campo Verde possuía em 1991 (Tabela 01) uma população de 5.975 habitantes e, segundo dados do Censo Populacional do IBGE, no ano de 2007 a população era de 28.147 habitantes e quando se analisam os movimentos migratórios no Centro-Oeste brasileiro a construção de Brasília foi um marco importante que atraiu populações de todo o país, principalmente do Nordeste, e favoreceu a ocupação da região.

Tabela 01 - Evolução Populacional no Município de Campo Verde no período entre 1991 a 2007

Ano População 1991 5.975 1996 10.651 2000 17.221 2007 28.174

Fonte: IBGE. Org. Daniel Borges de Souza.

Gráfico 01 – Evolução Populacional no Município de Campo Verde no período de 1991 a 2007

Fonte: IBGE. Org: Daniel Borges de Souza 28

Portanto, parte da população expulsa do campo desloca-se para o Centro-Oeste, fazendo avançar a fronteira agrícola. Mas o crescimento das oportunidades surgiu a partir de então. Oportunidades de trabalho e negócios fazem do Centro-Oeste a nova frente de expansão econômica do país, resultado dos empreendimentos bem sucedidos no setor agropecuário, como o plantio de grãos e a criação de gado.

De acordo com o levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, mais de 54% das pessoas que residiam no Centro-Oeste não eram nascidas nos municípios em que estavam vivendo, e mais de 1/3 não era original de nenhum dos estados da região. O período em que a população do Estado de Mato Grosso cresceu de modo mais intenso ocorreu na década de 1970 numa taxa de crescimento de 6,6% ao ano.

A implantação de rodovias e entroncamentos, a partir da década de 1950, constituiu o principal determinante para a ocupação, através da agricultura de subsistência, de vastas áreas mato-grossenses ao longo de seus percursos. A agricultura voltada para o mercado, contudo, somente se iniciou no Estado efetivamente a partir de 1972 quando asfaltaram as ligações rodoviárias com São Paulo (BR-163) e Distrito Federal (BR-070). Cumpre salientar que o setor pecuário, produziu não apenas para o abastecimento interno, mas principalmente para o fornecimento de matérias-primas para a agroindústria paulista. Como a pecuária caracteriza-se como uma atividade de baixíssimo emprego de mão-de-obra, como a mato-grossense, utiliza tecnologia rudimentar, o seu desenvolvimento não contribuiu para o povoamento da região.

A região Centro-Oeste e, principalmente, Mato Grosso do Sul e Goiás distingue-se da Amazônia pela continuidade espacial da ocupação, feita a partir de capitais mais intensivos, com a presença de uma maior composição orgânica e num subespaço onde a fluidez é maior (SANTOS, 2008b, p. 68).

A região Centro-Oeste é considerada uma região em alta ascensão populacional sendo que o processo migratório vem se acelerando principalmente nos estados de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, estados cheios de oportunidades de empregos e condições capitalistas motivadoras. Nestes estados 29 muitas comunidades migratórias tiveram oportunidades de adquirir suas terras, suas casas, lotes próprios e assim condições de plantar e fixar moradia em uma região que prometia grandes dividendos para o futuro que se anunciava. Com essa acelerada migração os estados cresceram aumentando sua densidade demográfica, desenvolvendo sua economia, assim a região passou a ocupar um maior destaque no cenário nacional.

Dessa feita, a produção do espaço no Brasil passa a ser orientada por novas relações sociais, de modo que surgem necessidades de novas configurações espaciais para a reprodução das novas lógicas que estavam sendo introduzidas e num movimento dialético, também, as novas configurações espaciais passam a difundir as novas lógicas e a modificar as estruturas sociais (SILVA, 2006, p. 65).

Em Mato Grosso esse fator é marcante e atualmente passa por um processo de expansão socioeconômica marcada principalmente pelo desenvolvimento agrícola. Em decorrência disso, vários municípios foram criados e desenvolveram-se tornando grandes “potências” agrícolas do Estado, além de elevá- lo como grande produtor nacional de grãos e responsável por significativa parte da produção agrícola brasileira.

Nessa nova configuração, onde novas relações sociais surgiram, o estado de Mato Grosso foi “contemplado” com a materialização dessas novas estruturas também materializadas em novos centros urbanos, a exemplo de Campo Verde objeto desse estudo.

O processo migratório na região onde hoje está localizado o Município de Campo Verde pode ser dividido em três etapas e remonta ao século XIX. Porém, apenas um desses processos migratórios, iniciados no final da década de 1960 impulsionou a economia da região e imprimiu nela novas características culturais.

Embora o município possua apenas 22 anos de emancipação político- administrativa, na segunda metade do século XIX começam a surgir as primeiras fazendas e localidades que abrigam migrantes de outras regiões de Mato Grosso e também de outros lugares da região. Eram famílias que vinham em busca de terras para plantar ou levas de garimpeiros que vagavam pelos rios da região à procura de ouro e diamantes. Muitos desses aventureiros, sem conseguir encontrar o que procuravam, acabavam por fixar residência no distrito de Capim Branco que, na 30 época, pertencia ao Município de Poxoréo então importante centro de extração de diamantes.

Antes de ser criada a cidade de Campo Verde, os pontos de maior referência do território do qual se encontra o município eram as localidades de Capim Branco ou Cel. Ponce e Buriti dos Borges, propriedade da família Borges e Fernandes, cujo patriarca chegou à região, vindo com familiares, da cidade mineira de Uberaba, em fins do século XIX (FERREIRA; SILVA, p. 43).

A localidade também abrigou centenas de famílias que exploravam pequenas áreas onde aplicavam a agricultura e a pecuária de subsistência. Com um comércio que, segundo os moradores mais antigos e descendentes das primeiras famílias que chegaram ao lugar, era relativamente forte, Capim Branco passou a ser um importante centro da região, com cartório, delegacia e escola com desfile em comemoração à independência do Brasil.

Em 1896, Cândido Mariano Rondon inaugurou ali uma das estações telegráficas de Mato Grosso, que recebeu o nome de Coronel Ponce e a localidade era também uma das poucas do estado a ter uma sessão eleitoral. Com várias moradias e um comércio movimentado, o lugar ganhou ainda mais importância no contexto estadual.

Historicamente, Capim Branco serviu como referência para a coluna liderada por Luiz Carlos Prestes que por lá passou em 1927 a caminho da Bolívia. Segundo relatos de antigos moradores, às margens do Rio das Mortes houve um enfrentamento entre os revoltosos e as forças legalistas do Estado, 36 homens da força política de Mato Grosso morreram durante o combate e conforme contam algumas moradoras antigas¹ que o sistema deu certo por um longo período e sua abolição é tida pelas moradoras como o início do processo de decadência de Capim Branco.

“Desde 1934 e 1935, existe na localidade de Capim Branco, a exploração das pequenas propriedades e no entorno do núcleo urbano era feita de maneira que as terras não eram vendidas, mas repassadas a outro morador e assim por diante.” Dona Rosalina de 81 anos.

Por volta dos anos 1940 e 1950 a prefeitura de Poxoréo resolveu dar os títulos de posse às famílias que ocupavam as pequenas propriedades. Com o 31 documento em mãos conforme lembram as duas moradoras, a maioria decidiu vender os lotes aos grandes fazendeiros da região e se mudar para os maiores centros urbanos como Cuiabá e Várzea grande. Hoje, Capim Branco em nada lembra a localidade dinâmica e ativa retratada pelas antigas moradoras que ali chegaram aos 9 e 7 anos de idade e a esperança, que de acordo com Zuquim (2007, p.101), encontrada na cidade serviria para mudar um quadro de “atraso” da zona rural daquela região enquanto as cidades passavam a ser definidas como palco da modernidade, a zona rural e a rede de pequenas cidades dependentes da economia agrária passavam a ser vistas como um lugar “arcaico”, onde viva uma população “atrasada”.

Existe hoje, apenas um pequeno bar. Não há armazém, farmácia ou loja de roupas. Das antigas casas, apenas quatro continuam de pé. A estação telegráfica inaugurada por Rondon já se encontra totalmente reformada visando complementar o fraco turismo da região que se baseia apenas no tecnológico deixando de lado o histórico, considerado menos importante.

O apogeu e a decadência de Capim Branco nada acrescentam ao desenvolvimento da região que continuou praticando apenas a agricultura de subsistência por mais de cem anos. Culturalmente também não houve avanço, já que as danças, as tradições e a culinária mato-grossense, aos poucos foram dando espaço para as culturas dos migrantes do sul do Brasil. (BEAL, 2006 p. 24)

Capim Branco tornou-se apenas uma lembrança, um lugar que apesar de sua importância histórica, vem sendo esquecido pelas autoridades e por aqueles que chegaram no início das décadas de 1970 e 1980 e o segundo processo migratório ocorrido no atual município de Campo Verde ocorreu no início do século XX. Em 1902 chegaram à região conhecida como Ponte Alta, quando um grupo de famílias nordestinas, expulsas de seu estado de origem, o Ceará, foram assentadas em pequenos lotes e naquela que é tida por muitos como a primeira reforma agrária de Mato Grosso.

Depois de devidamente assentadas, essas famílias iniciaram o processo de exploração de suas áreas cultivando apenas o suficiente para se manterem. Povo de grande religiosidade implantou na região uma das maiores festas religiosas do estado: a Festa da Ponte Alta que, desde 1906, vem sendo realizada com grande participação de moradores de Cuiabá, Chapada dos Guimarães, , Campo Verde, Nova Brasilândia e até de Barra do Garças. Essa foi e é a maior 32 contribuição dos nordestinos para a região quando se fala em cultura em Campo Verde.

Além da cultura religiosa, a migração dos nordestinos em nada contribuiu para a fixação de manifestações artísticas como a dança ou a música. Essas características foram “engolidas” pelas tradições locais. As danças e a música mato-grossense, com o passar dos anos, acabaram por conquistar a preferência dos filhos dos nordestinos que aqui chegaram e por muitos anos a cultura mato- grossense na região sofreu interferência nos outros estados. Os migrantes que vieram não conseguiram imprimir suas tradições culturais. A cultura mato-grossense sempre prevaleceu e isso só mudou com a chegada do terceiro ciclo registrado na região.

Em 1967, famílias vindas da Região Sul do Brasil começaram a chegar a Campo Verde segundo o historiador João Carlos Vicente Ferreira, no local onde está o sitio urbano do Município existia apenas um pequeno sítio, cujo proprietário era um cuiabano conhecido por “Duca”.

Com a chegada das famílias Cocco, Forgiarini e Bertoldo, “Duca” se mudou do lugar e novos moradores vindos do Sul se instalaram e começaram a viver, finalmente, um processo de desenvolvimento econômico que se acentuou a partir da década de 1970 quando teve início a formação da cidade.

Em 1974 chegou à região o Sr. Otávio Eckert, gaúcho de Carazinho adquirindo terras e fundando a fazenda Campo Real e posteriormente no ano seguinte abriu um posto de gasolina com o nome de Posto Paraná às margens da BR 070 sendo o primeiro grande estabelecimento comercial da futura Campo Verde e por muitos anos o povoado ficou conhecido como Posto Paraná. Eckert previu o surgimento de uma cidade naquele lugar. Animando-se com o aumento populacional do bairro Jupiara, loteou parte de suas terras surgindo então o loteamento Campo Real e as vendas iniciaram com lotes a quem pudesse pagar.

O processo colonizador fortaleceu-se com a instalação da rede energética da Fazenda de Sr. Otávio até o Posto Paraná no início da década de 1980 e enfrentando grandes dificuldades o Sr. Otávio Eckert no inicio, como tudo nas regiões que se tornariam grandes produtoras de soja, dependia exclusivamente de Cuiabá quando ocorriam problemas mais sérios e urgentes e necessitavam dos serviços da capital do estado. Problemas como a falta de peças importantes para o funcionamento do posto de gasolina, cabos de energia elétrica de importância 33 relevante, saúde e até de abastecimento de alimentos às vezes esses mesmo problemas levavam de sete a dez dias para serem sanados gerando um custo elevado.

Em 24 de março de 1988 foi realizado um plebiscito para consultar a comunidade sobre a viabilidade ou não, da emancipação Municipal. Não demorou muito e ocorreu outro para definir o nome da cidade, se Campo Real ou Campo Verde, prevalecendo o segundo em referência aos verdes campos do lugar totalmente plantados com a soja formando um imenso tapete verde. Esta monocultura foi trazida pelos colonos do sul e se valeu da topografia formando Campo Verde, município criado em 04 de julho de 1988, pela Lei nº5. 314. Com uma contagem populacional de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE/2007 de 28.174 habitantes.

4 - Uma cidade que existe para o campo

As reflexões sobre o urbano foram estimuladas por sua irrupção vinculada à expansão da agricultura moderna, que envolve o cultivo de soja, algodão, milho. Não se trata de pensar campo e cidade como realidades distintas, mas como sentido da racionalidade industrial do campo.

A produção agrícola perdeu toda a autonomia nos novos países industriais inseridos na economia global, não representando mais um setor de características distintas, convertendo-se num setor da produção industrial, subordinado aos seus imperativos, submetido às suas exigências. Essa nova realidade significa um processo espacial que se difunde assumindo determinadas formas e que se modifica temporalmente, uma vez que se insere em determinado contexto histórico.

Ao considerar o processo de urbanização contemporâneo vinculado à agricultura moderna do cerrado, estamos tratando de centros que se articulam a redes econômicas e técnicas nacionais e globais, como também de áreas submetidas a um processo de nova hierarquização em função da intensificação do processo de urbanização, que passaram a adquirir novos ritmos a partir de novos fluxos econômicos. 34 Nesse contexto, os projetos de modernização concretizados pelas corporações e redes técnicas no âmbito do estímulo à competitividade, nos remetem à reflexão sobre o urbano que vai sendo construído no contexto da agricultura moderna no cerrado, proporcionando a criação de novos núcleos.

Em síntese, os processos vinculados à viabilização do agronegócio globalizado, responsáveis pela dinâmica de produção dos modernos espaços agrícolas altamente tecnificados, necessitam de novos espaços urbanos, com novas funções, associadas à gestão das necessidades da produção, da comercialização e da circulação, assim como dos sistemas de comunicação e fluxos de informações que possibilitam a redução do tempo e redefinem a espacialidade dos circuitos de produção, permitindo que a região possa seguir a velocidade das mudanças e incorporar os elementos que facilitam sua competitividade no mercado internacional.

A cidade também constitui um local central de cristalização de idéias, situações e construção de um discurso novo, assumindo a presidência do mundo rural, mundo que é extremamente vulnerável ao grande capital, resultando no surgimento de distintas territorialidades no interior desses urbanos. A cidade torna- se o lócus da regulação do que se faz no campo. É ela que assegura a nova cooperação imposta pela nova divisão do trabalho agrícola, porque está obrigada a se adequar às exigências do campo, respondendo às suas demandas cada vez mais prementes e dando-lhe respostas cada vez mais imediatas.

Nessa definição, um lugar especial é reservado para as maneiras como pensamos e vivenciamos o tempo e o espaço, a história e a geografia, a sucessão e a simultaneidade, o evento e o local, o período e região imediatos em que vivemos (SOJA, 1993. p. 34).

Acreditando nesses novos modos de relacionar-se com o que é novo, moderno, extremo, belo, único e tecnológico, o novo morador, com sua família, chega acreditando que facilmente se encaixará nessa conspiração da falsa inovação urbana, da falsa relação social e da real face do que o capitalismo exige dessas relações. Marcando assim o que realmente seria o papel desse indivíduo no palco dessa áspera realidade: sua posição em decorrência das relações de produção e suas divisões do trabalho definitivas.

Em suma, os processos geradores de novas formas espaciais urbanas, fundados em estratégias de ação associadas à expansão da agricultura moderna, à 35 difusão do processo de industrialização vinculado ao agronegócio, à criação de serviços especializados e expansão comercial, à formação de redes, significam transformações nas tradicionais relações campo/cidade, resultando na intensificação das desigualdades e conflitos socioespaciais.

Deve-se assinalar que a urbanização do Cerrado corresponde às necessidades do modelo agrícola onde novos espaços produtivos que superaram barreiras naturais para viabilizar a construção do novo e priorizar o rendimento e implantar e constituir cidades que surgem no âmbito de um conceito de modernidade, porém com frequência reproduzem algumas características arcaicas, como o poder de mando local, não na figura do coronel do interior, mas dos modernos empresários que constroem essas cidades.

As novas estruturas socioespaciais são reveladoras do não olhar homogêneo sobre a urbanização desses espaços, porque esse fenômeno implica numa expansão excludente, que se constrói impossibilitando os espaços aos pobres, controlando a presença da mão-de-obra excedente, dos assentamentos dos pequenos produtores, pois todas as terras devem estar disponíveis para o sistema do agronegócio.

A estruturação desses municípios, dotados de grandes avenidas (Figura 02) e a formação dos bairros, a distribuição dos objetos no espaço revelam formas dotadas de novos conteúdos, estratificando-se os espaços de acordo com as relações sociais dominantes, produzindo um novo tecido urbano, o que se vincula em parte ao preço do solo, sendo emblemáticas dessa situação algumas cidades surgidas nos últimos 30 anos, como Sorriso, Lucas do Rio Verde, Sinop, , , Campo Verde e .

A estrutura interna dos espaços urbanos que emergem nessa fronteira, tem na divisão territorial do trabalho o seu reflexo, traduzindo-se a divisão social e técnica do trabalho em uma divisão social e técnica do espaço, agravando-se a diferença entre o caráter socializado do espaço urbano e a apropriação privada que se faz dele, resultando na origem de distintas territorialidades em seu interior. Essas estruturações atendem à nova dinâmica de acumulação capitalista, assumindo a escala local significados mais amplos, uma vez que é remetida a um conjunto de ocorrências que envolvem a escala global.

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Figura 02 – Avenida Brasil

Figura 02: Avenida Brasil. Fonte: Prefeitura Municipal de Campo Verde, 2009

Zuquim (2007, p. 101) chama a atenção para o fato que:

O modelo da agroindústria da monocultura e da mecanização foi estimulado por diversos governos como exemplo de agricultura “moderna e racional”, e praticamente todas as políticas públicas e os grandes investimentos foram direcionados para expandir e modernizar aquele modelo. E novamente, foram esquecidos ou ignorados outros modelos de desenvolvimento rural que alcançassem o pequeno agricultor rural, proprietário ou não de terras, todos os outros tipos de trabalhadores rurais.

O novo urbano no cerrado mato-grossense ao contrário do ritmo antigo e lento de ocupação do território, com sua rede de cidades dispersas e dependentes das atividades agrário-exportadoras dos primeiros séculos de nossa história, começa a se modificar, na medida em que se intensificam os processos de urbanização se vinculando ao fechamento dos espaços rurais para o pequeno produtor e às formas de desenvolvimento assentadas num modelo técnico produtivo concentrador da propriedade e poupador de mão-de-obra

Tal como afirma Soja (1993, p. 102) O espaço é político e ideológico. É um produto literalmente repleto de ideologias. Enfim, as novas territorialidades que 37 surgem na fronteira agrícola mato-grossense só podem ser compreendidas no âmbito das práticas de certos segmentos sociais que tentam impor sua lógica e domínio sobre o espaço, práticas que estão associadas à reacomodações no âmbito do sistema capitalista.

A materialização das condições necessárias à formação das cidades mato-grossenses do agronegócio foi implantada na década de 1970 e agora, no inicio do século XXI a construção de núcleos urbanos que tem como resultado a materialização dessas políticas a urbanização dessas cidades não foi uma consequência direta. Nas décadas de 1970 e 1980 no processo de industrialização que ocorreu na maior parte do território brasileiro, foi sim um ordenamento do território para a expansão da fronteira agrícola que na realidade teve a inserção desse espaço na escala de reprodução do capital.

Esses espaços são usados para a construção de núcleos urbanos, espaços esses viabilizados na perspectiva de uma nova estética urbana do século XXI onde novas formas seriam implantadas como ruas e avenidas diferenciadas e consideradas modelo de um “novo” espaço urbano que na verdade mascara problemas comuns existentes em outras cidades consideradas ultrapassadas.

Vale salientar que são cidades que foram “inventadas” por colonizadores particulares, cooperativas ou colonização realizada pelo Estado. Com uma atividade rural servindo de base para a economia dessas cidades, o povoamento das áreas urbanas foi um meio utilizado para valorizar essas terras em que tais colonizadores particulares vinham se instalando.

A produção espacial expressa as contradições da sociedade atual na justaposição de riqueza e pobreza, esplendor e fealdade; em última análise, na segregação estampada na paisagem, e que tem sua natureza no modo de exploração do trabalho pelo capital fundado na propriedade, em que os homens se distinguem pelo ter, isto é, pela sua condição de proprietários de bens. (CARLOS, 2008. p.23)

Portanto, aprecia-se uma das mais importantes condições do urbano onde seu espaço não deve ser visto como apenas uma condição geral de realização do processo de reprodução do capital; é necessário também como produto das necessidades da sociedade como um todo e numa sociedade de classes o espaço não se (re) produz sem conflitos e contradições e aparentemente, quando inseridos em certas cidades, não imaginamos que a existência dessas diferenças geradoras 38 de uma forte segregação tanto espacial quanto social se é atingido tanto direta quanto indiretamente por ela.

4.1 – O potencial do agronegócio

Nos últimos 15 anos, o agronegócio brasileiro tem dado uma demonstração de vigor e competitividade sem precedentes em toda a história elevando o saldo da balança comercial de U$ 15 bilhões, em 1995, para US$ 34 bilhões em 2004. Hoje o Brasil exporta mais de 150 itens, embora mais de 50% do valor exportado esteja concentrado em soja, carnes, açúcar, café, laranja e o tabaco. É importante salientar que o país tem conseguido ampliar o mercado importante para os seus produtos, podendo-se registrar, como conquista mais recente, a entrada da China.

A explicação para esse alentador desempenho do comércio externo do nosso agronegócio está no ganho de competitividade das commodities brasileiras, em boa medida, em decorrência de melhores condições de qualidade e preço. Por sua vez, a capacidade em ofertar preços competitivos decorre, em grande parte, do esforço de pesquisa e desenvolvimento da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - Mapa. Em função desse trabalho, ocorreram saltos de produtividade no caso do algodão e da soja, valendo ressaltar que enquanto a área de lavouras aumentou a produção física elevou-se, resultando em redução de custos de produção e, portanto, dos preços dos produtos. Sem esquecer, também, que sem a atuação dos produtores, incorporando modernas técnicas assumindo riscos e gerenciando um processo de agregação de valor aos produtos, esse grande feito não teria acontecido. Analisando a modernização desse processo, Souza; Romancini (2006, p. 57) afirmam que:

Com a introdução da ciência, tecnologia e informação na atividade agrícola, em espacial na cultura da soja, efetivou-se uma contínua renovação das forças produtivas, que começaram a responder com velocidade às necessidades 39 colocadas pelo grande capital do setor, resultando no aumento da produção e da produtividade.

Esses fatores positivos, associados à flexibilização das taxas de câmbio, a partir de 1999, e aumentos na demanda global e conseqüente elevação dos preços das nossas commodities fizeram do Brasil o maior produtor mundial de café, laranja e cana-de-açúcar; segundo maior produtor de soja, carne de frango e carne bovina; e terceiro de frutas e milho. Não há como negar que o agronegócio tem revelado grande capacidade em gerar divisas, destacando um potencial considerável de crescimento da economia do País. Passando a circular no mercado interno, esses recursos gerados poderiam aumentar a capacidade de compra de bens e serviços produzidos no Brasil e ensejar acréscimos nas importações dos bens de capital necessários à ampliação e tecnificação do nosso sistema produtivo.

Deve-se, portanto, considerar que a maior parte desses saldos da balança comercial do agronegócio tem sido utilizada para cobrir déficits do balanço de pagamentos, gerados pela entrada de poupança externa e conseqüentes obrigações de curto prazo, pouco restando para que as divisas geradas cumpram o seu papel de fator de crescimento econômico. (Menezes; Pinheiro. 2005 p. 56)

Convém observar, que não há evidências que mostrem qualquer contribuição da entrada de capitais externos para o crescimento da economia brasileira, especialmente porque esses capitais têm caráter eminentemente especulativos, gerando-se um círculo vicioso de fazer mais dívida, para pagar os juros do período anterior.

4.2 – A expansão urbana

Nas palavras de Santos (2008a, p. 42) “O espaço torna-se fluido, permitindo que os fatores de produção, o trabalho, os produtos, as mercadorias, o capital passem a ter uma grande mobilidade”. Se as atividades do agronegócio no cerrado são globais também são locais e o progresso técnico-científico uma totalidade que aí se concretiza e pode proporcionar a possibilidade de constituir futuros a partir de uma história das ações que sejam diferentes dos projetos dos atores hegemônicos. 40 Enfim, as novas territorialidades que surgem na fronteira agrícola mato-grossense só podem ser entendidas no âmbito das praticas de certos segmentos sociais que tentam impor sua lógica e domínio sobre o espaço, práticas que estão associadas a reacomodações no âmbito do sistema capitalista.(BERNARDES, 2005, p. 15).

São as ações do sistema capitalista que determinam a bolsa de valores, as taxas de juros, os insumos, a técnica, refuncionalizando as formas, criando novos tipos de espaço, significando novas relações com o tempo. Essas ações também determinam a expansão urbana e os interesses que estão por trás dessa mesma expansão.

Como assinala Harvey (2005, p. 89), a acumulação de capital foi um processo geográfico, seja no que diz respeito à expansão, à reorganização espacial ou ao desenvolvimento geográfico desigual. Na análise do município de Campo Verde percebe-se sua expansão urbana numa reorganização espacial que atende às necessidades dos atores hegemônicos do município.

Portanto, essa nova expansão tornou-se extremamente necessária devido ao déficit habitacional existente e a quantidade de novos moradores que tinham que conviver com aluguéis de valores extremamente altos e tendo que se sujeitar a exigências ditatoriais dos donos dos imóveis.

Por outro lado como afirma Santos (1994, p.55) “cidades de porte médio passam a acolher maiores contingentes de classes médias, um número crescente de letrados, indispensáveis a uma produção material, industrial e agrícola que se intelectualiza”. Assim esses novos moradores “intelectualizados” ou mesmo considerados como “mão-de-obra” muito qualificada necessitam de moradias que atendam suas necessidades de conforto, tranquilidade, segurança e a não diminuição do conforto que tinham nas suas cidades natais ou de origem. Então, certos serviços como os prestados pelo poder público teriam que ser essenciais para atender a esses moradores.

Com tantas modificações que ocorreram nos últimos 30 anos tais profissionais exigem moradias que se encaixam às suas exigências e modo de vida, embora muitos desses não possuíam tais exigências anteriormente em seus estados de origem como no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, ao se instalarem em Campo Verde, ficam se vangloriando e desqualificando os cuiabanos e mato- grossenses em geral, apenas desejam conviver com seus iguais e instalam um 41 modo de vida que exclui qualquer igualitarismo entre cuiabanos ou qualquer mato- grossenses com os sulistas.

Assim, Campo Verde hoje é considerado um reduto dos emigrantes do Sul do Brasil e a sua expansão urbana no final de 2009 agora está se adaptando às exigências do mercado e como havia nascido para ser uma agrocidade, agora sua função se designa efetivamente às transformações na produção agrícola com uma crescente inter-relação entre agricultura, indústria e serviços e está inserida na ordem espaço-tempo do capitalismo no campo.

As cidades que surgiram como suporte logístico para a implementação da fronteira agrícola na década de 1970, tais como Sorriso, Sinop e Lucas do Rio Verde, são reorganizadas em função da agricultura tecnificada-globalizada destinada à produção de commodities; elas ampliam e diversificam suas funções urbanas (ARRUDA 2008. p, 183).

A cidade agora com sua função voltada exclusivamente a produção de commodities que é um termo da língua inglesa, no plural, significando mercadoria, é utilizado nas transações comerciais de produtos de origem primária nas bolsas de mercadorias sendo usada como referência aos produtos base em estado puro (matérias-primas) ou com pequeno grau de industrialização, de qualidade quase uniforme, produzidos em grandes quantidades e por diferentes produtores. Estes produtos “in natura”, cultivados ou de extração mineral, podem ser estocados por determinado período sem perda significativa de qualidade.

O que torna o produto de base muito importante na economia é o fato de que, embora sejam mercadorias primárias, possuem cotação e “negociabilidade” globais visando um direcionamento e satisfazendo as necessidades dos moradores que trabalham envolvidos direta ou indiretamente com o agronegócio como engenheiros e técnicos agrônomos, fazendeiros e gerentes de fazendas, representantes de produtos para lavoura, caminhoneiros, funcionários das fazendas e suas famílias toda a funcionalidade é voltada para servir ao agronegócio. Portanto as oscilações nas cotações destes produtos de base têm impacto significativo nos fluxos financeiros mundiais e locais, podendo causar perdas a agentes econômicos

Para Vieira Neto (2000) “as cidades, de forma geral, tem atenção merecida uma vez que ao surgirem simultaneamente, tem favorecido uma forte concentração populacional urbana principalmente nas maiores.” O Estado de Mato Grosso que em 1980 apresentava 55 municípios e em 1996 para 117 contando 42 ainda com mais 9 distritos que se encontravam em fase de emancipação aumentando posteriormente para 126 no Estado. Com esse aumento e consequentemente as novas cidades que surgiram numa trama político-partidária que o forte fluxo migratório engendrou.

Atualmente o Estado possui 141 Municípios sendo que após 1970 os programas de colonização e os projetos de assentamento deram respaldo à criação dos demais que já na década de 1990 ficaram redistribuídos para que a dominação local e regional não sejam influenciados pelos municípios de origem.

Portanto Mato Grosso representa, a partir de então um espaço altamente receptivo aos novos fenômenos da urbanização, pois não possuía infraestrutura significativa e nem outros investimentos fixos oriundos do passado e que fossem dificultar a implantação de inovações. Então, assim, pode receber uma nova infraestrutura completamente a serviço da economia moderna. O novo então acontece de maneira mais rápida e mais rentável. Da mesma forma, essa região conhece uma taxa bastante elevada de urbanização, podendo se instalar de uma única vez toda a materialidade dos dias atuais e universalizando as relações de consumo.

Todo esse espaço foi então adaptado às mudanças tecnológicas ocorridas no campo gerando deficiências no urbano e assim, na concepção de SANTOS (2008a, p. 56) “A cidade torna-se um lócus da regulação do que se faz no campo. É ela que assegura a nova cooperação imposta pela nova divisão do trabalho agrícola, porque obrigada a afeiçoar-se às exigências do campo.”

A mecanização do campo no Brasil exigiu um aparato tecnológico fundado em logística empresarial, que necessita de altos investimentos públicos e privados em infraestrutura para dar suporte à produção agrícola voltada à exportação de commodities, com destaque para a soja. Logística onde as organizações em redes dos sistemas de transporte e de comunicação envolvem toda a cadeia produtiva que é estratégia central na conquista de mercados internacionais.

Esse novo urbano, a partir de então, chega para a modernização rural, da modernização dos transportes, da modernização do consumo e, de modo mais abrangente, da modernização do país. Uma rede urbana preparada para a modernização e essa palavra rede provém do latim retis e aparece no século XII para designar o conjunto de fios entrelaçados, linhas e nós. Os diversos tipos de 43 redes apresentados em suas diferentes formas possuem uma relevante importância na atual produção capitalista, haja vista que esta se apresenta bastante variada e intensa, fato que pressupõe a necessidade crescente de uma analogia da atual fase da globalização dentro de uma perspectiva geográfica.

A constante interação entre as variadas escalas e territórios tem como produto a rede que é um termo que vem sendo muito utilizado na atualidade, pois favorece a compreensão das articulações que ocorrem entre as diferentes territorialidades, bem como a maneira que foi estruturada internamente (HAESBAERT 2006. p, 114).

A rede não se resume em forma de composição do espaço, no sentido de um conjunto de pontos e linhas, mas como um território componente indispensável que enfatiza a dimensão tempo espaço do território e que conjugada com a superfície territorial, ressalta seu dinamismo, seu movimento e suas perspectivas de conexão e profundidade.

Quando se analisa a rede urbana preparada para uma “revolução” tecnológica, essa revolução juntamente com uma reestruturação concebida pelo capitalismo que no final do século XX incorporaram grandes modificações de ordem econômica e social que impactaram a organização dos espaços locais.

Portanto essa “revolução” tecnológica reestruturada se encaixa na importância de se modificar o que há de concreto e eliminar as obrigações irrelevantes, dissolver o que persiste no tempo, destruir as obrigações sem importância. Afinal já dizia Bauman (2001. p, 52) “os fluidos se movem com facilidade, fluem, escorrem, esvaem-se, respingam, transbordam, inundam, borrifam, pingam. São filtrados, destilados. Diferente dos sólidos que são facilmente contidos.”

Na evolução urbana de Campo Verde vem ocorrendo situações que se encaixam perfeitamente em cidades novas que nasceram numa revolução que chega a ser, diga-se: “estranha”. Como a cidade nasceu em um sistema de montagem, Milton Santos deixa isso bem claro quando afirma que a cidade torna-se um lócus da regulação do que se faz no campo. É ela que assegura a nova cooperação imposta pela nova divisão do trabalho agrícola, porque é obrigada a afeiçoar-se às exigências do campo, respondendo às suas demandas cada vez mais prementes e dando-lhes respostas cada vez mais rápidas. Portanto a urbanização também aumenta porque cresce a quantidade de agricultores residentes na cidade. “Na verdade não nascem rurais, já nascem urbanas.” (SANTOSb 2008, p. 57). 44 Ao abordar esse tema, não se poupou alguns detalhes como o Código Administrativo do Município de Campo Verde. Criado para assegurar melhor diretriz administrativa tem-se a certeza que esse código na realidade é o código de posturas do Município.

O Código Administrativo de Campo Verde foi criado no ano de 1994 e votado na Câmara Municipal de Vereadores no dia 16 de dezembro do mesmo ano e dentre várias características encontram-se multas, penalidades. O código é desconhecido pela maioria da população. Mas o que chama a atenção é a existência de muitos artigos que regulam os apartamentos e prédios de habitação coletiva em se tratando do lixo, a arborização das ruas da cidade, vilas e povoados. As ruas devem ter alinhamento regular para atender um plano estético desconhecido para os moradores leigos. Quando as ruas ou avenidas, onde houver irregularidades de alinhamento, reserva-se a Prefeitura Municipal o direito de fazer avanço ou recuo das construções observadas às disposições legais e em sua totalidade é, antes de qualquer coisa, uma adaptação adquirida de outro Município do mesmo estado ou até mesmo de outro estado. Percebe-se também que as peculiaridades não se encaixam.

Portanto, para esclarecer, a urgência de se criar o Município gerou a necessidade de se buscar em outros mais antigos e com mais experiência os exemplos de como se portar diante das diferenças e como adaptar as características de cada cidadão ao novo Município que surge.

Agora, na segunda década do século XXI, surgem novos modelos de adaptação a que a cidade vem sofrendo como a adaptação ao que seria conhecido como moderno dentro dos parâmetros de uma cidade grande ou média e temos como exemplo peculiar a internet.

Em 2002, parcela considerável de moradores do centro de Campo Verde já tinham acesso a internet discada, apesar da demora de acesso, era quase um privilégio possuir um computador em casa com acesso a internet. Então o empresário Otávio Eckert, presidente do Grupo Otávio Eckert que engloba o Posto Paraná, Transportadora Campo Real Ltda, TV Real Canal 07, Rádio Cidade Belo FM, Eckert Imobiliária e a Lanchonete e Restaurante Paraná implantou no início de 2002 a Campo Verde Internet que consistia na instalação via cabos subterrâneos do serviço. Não deu certo e já em 2005, com a chegada de outros serviços como a TIM, Brasil Telecom, Oi, Vivo e outros, o serviço de internet oferecido pelo grupo Otávio 45 Eckert ficou obsoleto sem considerar a inauguração de diversas LanHouses levando definitivamente o serviço de internet oferecido pelo Grupo Otávio Eckert a falência.

Agora a administração pública, sabendo dessa necessidade pela informação nos últimos meses de 2009 implantou a “Cidade Digital” uma infovia digital municipal que visa proporcionar um modelo de estrutura de comunicação dos dados de modo que a Prefeitura Municipal se torne a própria provedora dos serviços de comunicação de dados possibilitando rápida expansão, dinamização de custos e aumento da confiabilidade no que Castells (1999, p. 67) afirma que vivemos em intervalos raros na história da vida cuja característica é a transformação de nossa “cultura material” pelos mecanismos de um novo paradigma tecnológico que se organiza em torno da tecnologia da informação.

Em um primeiro momento entende-se por “Cidade Digital” a concepção de infraestrutura, serviços e acesso público em determinada área urbana para o uso das novas tecnologias e redes de informação.

Observa-se um grande aumento nos últimos anos na demanda de serviços de multimídia e internet por clientes residenciais, comerciais e na esfera pública e um mercado ansioso por novas tecnologias que proporcionam acesso de banda larga e conectividade para o usuário final de forma eficiente, rápida e com baixos custos de implementação e manutenção.

Para tal implementação, encontramos hoje, com a capacidade de utilização de tais tecnologias nunca antes imaginadas, nem mesmo quando da criação da própria internet nos Estados Unidos por volta da década de 1960 e a primeira rede de computadores que ousou ser chamada de ARPANET.

Com essa implantação a cidade poderá contar com a capacidade de atender a grandes áreas geográficas sem as limitações de distância do DSL ou o alto custo da instalação de infraestrutura de cabos com menos custo de conservação, grande facilidade e rapidez de instalação da rede a capacidade de chegar a regiões nas quais não existe infraestrutura de banda larga com fio, como as áreas rurais.

Com essas mudanças e consistência de tecnologias na administração municipal o acesso à informação se torna confiável e na velocidade no atendimento a população e consequentemente economizando tempo e aumentando a 46 produtividade de todas as secretarias municipais e órgãos pertencentes ao Município, portanto a universalização do acesso à internet na cidade com tecnologia inovadora e de baixo custo, porém devido a incapacidade administrativa do chefe do poder executivo, a implantação não se iniciou.

Porém quando se fala de internet e a sua moeda que é a informação lembramos o que afirmam Dubner, Stephen; Levitt, Steven (2005, p.69);

A informação é um facho de luz, uma vara, um galho, um freio, dependendo de quem a controla e da maneira como a faz e como veiculo, a internet é incrivelmente eficiente na transferência da informação das mãos de quem a possui para as mãos de quem não a possui.

Com essa mudança e consistência de tecnologia na administração municipal o acesso à informação se torna essencial para o sucesso de uma gestão o que justifica o pensamento de Dubner e Levitt em relação ao controle efetivo da Cidade Digital a ser efetuado pela Prefeitura Municipal de Campo Verde onde a administração alega que do mesmo modo, ter acesso à informação confiável e na velocidade amoldada se torna premissa para os governos.

Tal projeto terá em toda sua área uma infraestrutura das telecomunicações e internet para acesso singular e público (escolas, hospitais e bibliotecas). Fornecendo a sua população informações e serviços públicos e privados em atmosfera virtual.

Dentro dessa perspectiva os serviços poderão ser oferecidos para o cidadão como, por exemplo, a conexão com a polícia, bombeiros, funcionários públicos municipais no exercício de suas funções no atendimento social aos cidadãos, recolhimento volante de impostos, informações sobre o turismo local, acervo da biblioteca municipal e a possibilidade de empréstimos sem falar da monitoração da segurança do trânsito e comunicação tanto escrita quanto de voz.

Assim se torna um portal com informações gerais e de suma importância tais serviços virtuais e representação política sobre uma determinada área urbana onde determinados benefícios serão abarcados como a modernização dos órgãos públicos com economia para o município juntamente com a implantação de novos instrumentos de difusão cultural. Isso sem as grandes vantagens da inclusão digital que possibilitará a democratização no acesso a serviços e informações de governo; projeção do ensino à distância, aperfeiçoando os instrumentos pedagógicos à 47 disposição dos professores; democratização e universalização no acesso às comunicações; desenvolvimento dos negócios eletrônicos e a criação de inúmeros empregos especializados.

Logo governo, empresas e cidadãos podem, a médio e longo prazo, se beneficiar de uma solução que racionaliza o uso dos recursos de comunicação que reduz as despesas financeiras e sociais. Com isso a prefeitura se tornará uma provedora de serviços de comunicação, criando novas alternativas nesse meio melhorando assim os recursos para a municipalidade. Diante de tantos detalhes o poder publico Municipal fica responsável pela construção dos telecentros.

Os telecentros são espaços com computadores conectados à internet banda larga. Cada unidade possui normalmente entre 10 e 20 microcomputadores, como uma LanHouse. O uso livre dos equipamentos, cursos de informática básica e oficinas especiais são as principais atividades oferecidas à população. Cada telecentro possuirá um conselho gestor formado por membros da comunidade e eleitos pela mesma que ajudam os funcionários na fiscalização e gestão do espaço.

Será um projeto de uso intensivo TIC (Tecnologia da informação e Comunicação) para ampliar a cidadania, visando garantir a privacidade e segurança digital do cidadão, sua inserção na sociedade da informação e o fortalecimento do desenvolvimento local. Um dos objetivos principais do projeto é organizar uma rede de unidades e privacidade a partir do software livre. Com bater a exclusão digital é o objetivo central dos telecentros. Trata-se de uma iniciativa fundamental para capacitar a população e a inserir na sociedade da informação, para assegurar a preservação da cultura nacional com a construção de sites de língua portuguesa e de temáticas vinculadas ao nosso cotidiano para qualificar trabalhadores, incentivar a criação de postos de trabalho de maior qualidade e aprimorar melhor a relação do cidadão com o poder público.

De acordo com o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, apenas 10,6% dos domicílios brasileiros possuem computadores. Tudo indica que nosso país tem 13,6 milhões de usuários de internet (7,4% da população brasileira).

Entendendo a inclusão digital como política e o telecentro como um equipamento público de responsabilidade da esfera governamental para uso da população do entorno, com as mesmas características de um posto de saúde, uma creche, um centro de assistência, dentre outros onde seu produto (inclusão digital) 48 universalizado e acessível para todos os habitantes sendo que estes habitantes já arcam com impostos nos quais devem ser revestidos em benefícios para a própria comunidade.

A exclusão digital é um desses desafios a serem superados. O cidadão que porventura não paga seus impostos, neste caso, por não ter condições ou justamente por estar tão profundamente excluído e marginalizado a ponto de não usufruir dos princípios elementares da dignidade humana, carece do amplo atendimento e assistência do Estado, obviamente não apenas em inclusão digital. Sendo assim, o telecentro não é gratuito, são os recursos de instituições e tributos revertidos diretamente para o atendimento da população e nesse sentido, transformar a inclusão digital em política pública consolidada em no mínimo quatro pressupostos:

- É o reconhecimento de que a exclusão digital amplia a miséria e dificulta o desenvolvimento humano local e nacional. A exclusão digital não se trata de uma mera consequência da pobreza crônica, mas torna-se fator de congelamento da condição de miséria e de grande distanciamento das sociedades ricas;

- É a constatação de que o mercado não irá incluir na era da informação os extratos pobres e desprovidos de dinheiro e sim formar consumidores. A própria alfabetização e escolarização não seriam massivas se não fosse pela transformação da educação em política pública e gratuita. A alfabetização digital e a formação básica para viver na cibercultura também depende da ação do Estado para serem amplas e/ou universalistas:

- A velocidade da inclusão é decisiva para que a sociedade tenha sujeitos e quadros em número suficientes para aproveitar as brechas de desenvolvimento no contexto da mundialização de trocas desiguais e, também, para adquirir capacidade de gerar inovações.

4.2.1 – Campo Verde: sua área urbana

A organização territorial de Campo Verde remete à organização de algumas cidades do Estado como Sinop, Lucas do Rio Verde e Primavera do Leste, considerando que os pioneiros que participaram da construção dessa nova cidade procuravam manter o modelo urbano das cidades do Sul do Brasil. 49 Campo Verde como cidade nova, traz na sua construção espacial a memória da cidade de origem de seus habitantes, os moradores buscam os padrões da modernidade na arquitetura de suas casas, buscando os padrões de conforto nas casas e na paisagem da cidade onde observa-se a criação de um espaço que se assemelha ao lugar de origem dos migrantes, mais precisamente do Sul do país na disposição das construções e na arquitetura de suas casas e prédios e nas praças da cidade.

O traçado urbano de Campo Verde com suas largas avenidas que abrem para fluir o progresso possui uma área central bastante dinâmica onde se localizam o hospital Municipal, um posto de saúde, os principais bancos, os maiores supermercados enfim as instituições de serviço que a população necessita diariamente.

Na afirmação de Corrêa (2005, p.123) a emergência da área central é concomitante à ampliação das relações entre a cidade e o mundo externo a ela conforme a necessidade de deslocamento dos residentes em maiores distâncias para a solução dos problemas bancários e de saúde, pois o restante é facilmente solucionado nas localidades como assentamentos e fazendas.

Apenas os mais pobres utilizam o Serviço Único de Saúde - SUS na cidade que mantém apenas 06 postos de saúde na área urbana e 03 na área rural. Outros serviços públicos como educação nas áreas rurais servem de ponto de “contato” com a administração municipal.

Dentro dessa dinâmica encontram-se moradores que trabalham na cidade apenas para ganhar o que em seus municípios de origem é bastante difícil: “dinheiro”. Muitos migrantes buscam em Campo Verde uma tentativa de melhoria nas condições de vida, mesmo trazendo toda a família para residir em pequenos espaços. Às vezes vindo sozinho, dividindo o aluguel de um quarto, banheiro e sala com outros quatro, cinco e até nove pessoas achando que encontraram a “terra prometida”, mas se deparando com enormes dificuldades. Fato que se observou em entrevistas concedidas:

Cheguei em Campo Verde vindo da cidade de Orobó no Piauí e minha esposa está grávida de dois meses mas meu pai mora aqui há três anos e vim com emprego garantido numa algodoeira e minha mulher com 16 anos veio ter a criança aqui porque a saúde é melhor do que na minha cidade natal. Mesmo estando aqui seis meses não penso em voltar pra Orobó. Anderson (21 a). 50

Muitas pessoas buscam na cidade uma melhora na qualidade de vida e se deparam com uma segregação socioespacial que se revela com o surgimento de bairros como o São Miguel, Cidade Alta, Recanto do Bosque e Eckert que juntos possuem uma quantidade significativa de moradores.

É bastante evidente a separação dos bairros mais pobres e os mais ricos da cidade. A BR 070 é o divisor dessa evidente separação. Indo em direção ao oeste para Cuiabá, pela mesma rodovia ao sul a pobreza se revela, porém ao norte, o lado mais “rico” se revela. A principal diferenciação dessa categoria é qualidade das residências como o tamanho dos lotes, a localização dos serviços prestados à população como os bancários, casa lotérica, emergência e os serviços como diversão com os bares mais badalados, a única boate, pizzaria e outros estabelecimentos frequentados pelos mais jovens. Na realidade os bairros mais carentes possuem a mesma função das cidades satélites de Brasília: cidades dormitório. Pois durante o dia o morador trabalha, à noite dorme e, no dia seguinte, inicia-se o mesmo ciclo.

Na entrevista realizada, fica evidente o que a população dos bairros mais pobres como o Jupiara sentem quando freqüentam as lojas sofisticadas do centro da cidade:

A gente se sente discriminado nessa cidade! Quando a gente chega nas lojas do centro o vendedor demora pra atender e atende as pessoas mais bonitas primeiro. Acho que é porque a gente mora no Jupiara por isso que eles são ruins com nóis. As vezes da vontade de grita com eles mais é pior! Fazendo isso aí que ele não atende mesmo! Silvério (33 a).

Carlos (2008, p.22) escreve:

Faz parte de nossas utopias uma sociedade mais justa, onde o homem possa se libertar das amarras impostas pela formação econômica e social capitalista, onde seu trabalho possa ser criativo, seu horário de lazer algo mais que o “repouso físico”; sua habitação, algo mais que um teto; e onde os homens tenham assegurado, na prática, direito à vida, o direito à felicidade. Sabe-se que essa diferenciação na vida social e essa discriminação são sérios problemas sociais e as vítimas apenas querem algo mais que diversão, querem ser cidadãos inseridos em espaços na cidade que na realidade são de todos. 51 O surgimento de novos bairros foi o verdadeiro exemplo de exagero da administração municipal em relação ao descontrole populacional evidente. Então o que se espera de uma cidade que possui uma política habitacional que visa agregar mais 200 habitações até o segundo semestre de 2010? Mais problemas mesmo com o maior PIB agropecuário do Brasil e considerada pela atual administração municipal cidade polo no setor do agronegócio, Campo Verde não possui condições de administrar o crescimento desordenado proporcionado pela distribuição de casas populares em grande escala.

Solucionar o problema do déficit habitacional em Campo Verde não significa apenas construir mais habitações financiadas pela Caixa Econômica Federal, mas sim a instalação de uma infraestrura básica para evitar um grande crescimento populacional que certamente a propaganda da atual administração vem promovendo em relação à “facilidade” de se possuir a casa própria em Campo Verde. A prefeitura vem administrando o crescimento da cidade tendo como base a habitação e políticas públicas que vem dando certo em várias áreas como saúde, educação, esporte, meio ambiente e social. Porém o investimento na área social (emprego) fica retido em qualificações profissionais como cursos ministrados pela Secretaria de Ação e Promoção Social, onde, de maneira nenhuma se enquadra no principal motor da economia do município: o agronegócio. Levando a um descrédito em relação ao município que vem aumentando nos últimos quatro anos, pois são atividades de qualificação como costureira, artesanato, atendente de farmácia e padeiro. São profissões importantes, mas fora da realidade do município.

Entretanto a parte ocupada com o setor do agronegócio, quando se analisa a relação crescimento populacional e crescimento do trabalho com vínculo, percebe-se que nessa expansão da agricultura moderna, a qual, ao mesmo tempo em que induz à redução das necessidades de trabalho em termos quantitativos, em função do nível técnico aplicado, em contrapartida exige maior novel de qualificação no que afirma Bernardes (2009, p. 26) da análise é possível inferir que, se as exigências do agronegócio em qualificação esbarram na falta de pessoal preparado na região, ainda assim tentam utilizá-la, na medida do possível, no contexto de existência de um imenso exército de reserva.

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4.3 – A Infraestrutura urbana

Sabe-se que infraestrutura é o sistema de serviços públicos de uma cidade como, por exemplo, o abastecimento de água, esgoto, iluminação e outros elementos estruturais que enquadram e suportam toda uma estrutura, possui concepções diferenciadas em diversas áreas do conhecimento e que aqui será analisada a parte do urbano. Então estes elementos, no seu todo, podem ser designados de infraestruturas civis, infraestruturas municipais ou obras públicas, se bem que possam ser desenvolvidas e geridas tanto pela iniciativa privada como por empresas públicas. Noutros campos, infraestrutura pode designar as tecnologias da informação, canais de comunicação, ferramentas de desenvolvimento de software, redes políticas e sociais ou sistemas de crença partilhadas por membros de grupos específicos. Estas acepções gerais trazem subjacente o conceito de que as infraestruturas constituem um quadro organizacional e uma estrutura de suporte do sistema ou organização em causa, seja uma nação ou mesmo um município.

Zmitrowicz (1997, p. 02) deixa claro em sua concepção de infraestrutura que pode ser conceituada como um sistema de equipamentos necessários ao desenvolvimento das funções urbanas, podendo estas funções ser vistas sob aspectos social, econômico e institucional.

Neste aspecto a evolução da cidade corresponde a modificações quantitativas e qualitativas na gama de atividades urbanas e, consequentemente, surge a necessidade desses espaços, e da própria infraestrutura que a eles serve. O crescimento da cidade, resultante do seu crescimento econômico e demográfico, se traduz numa expansão da área urbana através de loteamentos, conjuntos habitacionais, indústrias, shopping centers, diversos equipamentos urbanos, e/ou em adensamento, que se processa nas áreas já urbanizadas e construídas, muitas vezes resultando em renovações urbanas, quando construções existentes são substituídas por outras, mais adequadas às novas atividades pretendidas, em locais onde são expulsas as atividades anteriores.

Assim a localização das atividades urbanas procura levar em consideração a necessidade efetiva de espaços adaptados a essas atividades. Para tanto, podem ser aproveitados espaços vagos em edificações existentes como o caso do edifício onde hoje se localiza o Pátio Brasil Shopping em Brasília, onde o 53 inicio das obras se deram na década de 1970 ficando inacabado durante mais de 15 anos. Assim o seu subsolo foi reaproveitado no final da década de 1990 como edifício garagem por uma empresa especializada e, assim, resolvendo parte do problema de estacionamento do Setor Comercial Sul, local bastante frequentado na capital federal por ser um lócus das principais empresas de prestação de serviços e bancos como o Citibank, BankBoston e diversas financeiras e onde se localiza também o edifício sede da Empresa de Infraestrutura Aeroportuária – INFRAERO.

A acessibilidade desses espaços, ou seja, a facilidade de deslocamento de pessoas também se torna necessário visando facilitar o ir e vir não apenas dos pedestres, mas também dos automóveis. Isto é de fundamental importância, pois uma atividade não se desenvolve isolada na cidade: ela se interrelaciona com uma série de outras atividades, e sem essas ligações ela não consegue subsistir. Para tanto as vias devem apresentar uma capacidade disponível para os veículos utilizados em função da nova atividade. No caso do transporte público (coletivo), as linhas devem possuir uma capacidade ociosa ou permitir o seu reforço nos períodos necessários. No caso de transporte por automóvel particular, há necessidade também de espaços para o estacionamento dos veículos junto às origens e destinos das viagens.

Em consequência disso as palavras de Santos (2008b, p.122) completam o raciocínio em afirmar que o próprio poder público torna-se criador privilegiado de escassez; estimula, assim, a especulação e fomenta a produção de espaços vazios dentro das cidades, incapaz de resolver o problema da habitação, empurra a maioria da população para as periferias; e empobrece ainda mais os mais pobres, forçados a pagar caro pelos precários serviços de transporte.

No caso das áreas residenciais, devem ser consideradas também as necessidades quanto a equipamentos sociais urbanos: creches, clubes sociais, centros de eventos, escolas, hospitais, entre outros. Assim o espaço urbano não se constitui simplesmente pela tradicional combinação de áreas construídas e áreas livres, interligadas através dos sistemas viários. Outros sistemas são desenvolvidos para melhorar o seu desempenho como os sistemas de infraestrutura. Em algumas cidades como as que possuem pólos industriais, comerciais e sedes administrativas nas capitais, entre outras. A demanda por infraestrutura urbana cresce significativamente. A infraestrutura urbana nem sempre se restringe aos limites da área urbana como o caso da implementação da Sadia/Perdigão em que seu parque industrial se localizará fora dos limites da área urbana de Campo Verde. Exemplos 54 disso são alguns sistemas de abastecimento em grandes capitais, que envolve toda uma região e os sistemas de produção e distribuição de energia elétrica, que são nacionais; e os sistemas de telecomunicações, que são internacionais.

Na realidade, infraestrutura urbana compõem-se de subsistemas, e cada uma deles tem como objetivo final a prestação de um serviço, o que é fácil de perceber quando se nota que qualquer tipo de infraestrutura requer, em maior ou menor grau, algum tipo de operação e alguma relação com o usuário, o que caracteriza a prestação de um serviço. Por outro lado, ainda que o objeto dos subsistemas de infraestrutura seja a prestação de serviços, sempre há a necessidade de investimentos em bens ou equipamentos.

Em se tratando de subsistemas de infraestrutura urbana a classificação a seguir reflete a visão do como a cidade funciona e todos os subsistemas técnicos a seguir são relacionados, porém em Campo Verde a inexistência de alguns é preocupante:

- Subsistema Viário: que consiste nas vias urbanas;

- Subsistema de drenagem pluvial;

- Subsistema de abastecimento de água;

- Subsistema de esgotos sanitários;

- Subsistema energético;

- Subsistema de comunicações.

O subsistema viário urbano deve se moldar à configuração topográfica a ser delineada tendo-se em vista os deslocamentos fáceis e rápidos obtidos com percursos os mais diretos possíveis, entre os locais de habitação e os de trabalho e de recreação, e com comunicações rápidas do centro com bairros e destes entre si que proporciona as melhores condições técnicas e econômicas para a implantação dos equipamentos necessários aos subsistemas de infraestrutura urbana para uma constituição racional dos quarteirões, praças e logradouros públicos.

Portanto esse subsistema viário é composto de uma ou mais redes de circulação, de acordo com o tipo de espaço urbano (para receber veículos automotores, bicicletas, pedestres, entre outros). Complementa este subsistema de águas fluviais que assegura ao viário o seu uso sob quaisquer condições climáticas, 55 pois o que vem ocorrendo na cidade de São Paulo quando as condições climáticas são desfavoráveis é um exemplo das condições de não complementação.

Vale salientar que dentro dos subsistemas anteriormente comentados apenas o energético, telecomunicações e subsistema viário existem na área urbana de Campo Verde já que os outros fazem parte dos “problemas urbanos”.

Existem instrumentos avançados para se buscar soluções para tais problemas urbanos. Sendo assim a Lei Orgânica que se encontra em tramitação na Câmara de Vereadores desde 2007 é o meio pelo qual a administração municipal visa sanar problemas passados e visar uma perspectiva melhor para o futuro.

Portanto, numa infraestrutura onde se investe em reformas de praças e logradouros públicos e não se investe em melhorias no sistema viário, de drenagem pluvial e nos esgotos sanitários na área urbana. Campo Verde aguarda um futuro negro. Faltam ações inovadoras no que se diz respeito ao aumento populacional que vem ocorrendo nos últimos quatro anos. Um aumento que é um triste reflexo de uma política pública pobre que visa apenas aumentar o eleitorado para que dificulte a alternância de poder.

De toda uma infraestrutura urbana, o trânsito de veículos automotores é o mais delicado, merecendo atenção cuidadosa porque é o mais caro, já que abrange mais de 50% do custo total de urbanização o que leva tempo na elaboração de uma licitação para asfaltar como por exemplo a Avenida Vereador César Lima, principal avenida que da acesso aos bairros novos como São Miguel, Cidade Alta, Cidade Alta II ao centro de Campo Verde. Problemático, pois na entrevista com o Secretário de Obras e Viação de Campo Verde, Adriano Ronchi, sobre a função da infraestrutura da cidade, ele afirma que existem projetos de 5 milhões de reais para asfaltar a avenida, porém antes do devido asfaltamento há necessidade do manilhamento para as águas pluviais que será abordado posteriormente, encarecem a obra. Como é orçada pela prefeitura, necessita-se em uma modalidade de licitação que foi adotada recentemente: o pregão, que é um “leilão ao contrário” onde quem vence é aquele que oferece o produto ou o serviço pelo menor preço.

As principais dificuldades do pregão é aliar rapidez com a legalidade pois nem sempre a compra, depois de efetuada, se torna rápido o serviço e legal ao mesmo tempo. Sendo assim, ao fechar o pregão, muitas empresas não cumprem com a rapidez em nível de prazo anteriormente estipulado ou possui problemas de documentação que são “travados” pela administração municipal. 56 Como falar da função da infraestrutura em uma cidade sem falar de seus equipamentos e serviços urbanos. Sendo a Secretaria de Obras e Viação a responsável pelo funcionamento de parte dos serviços urbanos, nos deparamos com a questão dos equipamentos que são essenciais para a manutenção da infraestrutura da cidade.

A exemplo, temos o maquinário da Secretaria que se encontra ultrapassado. No ano de 2009 com recursos próprios a prefeitura adquiriu somente dois tratores e uma máquina niveladora para atender somente a área rural em se tratando de estradas vicinais que dão acesso à sede do Município.

Vemos uma diferenciação entre o urbano que no caso estudado, é menos valorizado que o rural. O rural possui agroindústrias que são verdadeiras empresas agrícolas possuidoras de toda uma infraestrutura necessária enquanto no urbano as necessidades de quem dele depende com o asfaltamento da rua onde aquele morador não suporta mais conviver, na chuva, com a lama e na seca, com a poeira fica desassistido na maior parte do ano.

Tais dificuldades são um retrato das contradições sociais que emergem na paisagem apesar da necessidade de se ter asfalto em frente a sua casa o morador tenta conviver com as diferenças existentes no espaço urbano como um todo. O acesso a uma habitação melhor localizada e ou urbanizada esbarra no que escreve Carlos (2008) as contradições sociais, na paisagem, em toda sua plenitude, pois aqui os contrastes e as desigualdades de renda afloram, já que o acesso a um pedaço de terra, o tamanho, os tipos de material de construção vão espelhar mais nitidamente as diferenças de classe. O acesso à habitação e aos meios de consumo coletivo serão diferenciados segundo a camada social que se localizará e morará de modo diferenciado na cidade.

5 - Distorções no intraurbano: o trânsito e suas deficiências

Como o sistema viário de uma cidade ocupa uma parcela importante do solo urbano entre 20% a 25% uma vez implantado, é o sistema que mais dificuldade apresenta para aumentar sua capacidade pelo solo que ocupa, pelos custos que envolve e pelas dificuldades operativas que cria sua alteração. Ou seja, é o sistema que está vinculado aos usuários diretamente pois os outros conduzem fluidos, 57 cargas elétricas, e este conduz pessoas. Assistimos assim que esse sistema encontra-se com vias de diversas dimensões e padrões, em função do volume, velocidade e intensidade do fluxo que pode ser em uma unida direção ou em duas direções e das interferências que pode ter o tráfego, tais como cruzamentos, estacionamentos e garagens, porém este trabalho não visa a análise da acessibilidade urbana mas se preocupa com a função das vias que servem para tal como as vias locais, as vias coletoras, as vias arteriais e as vias expressas que são consideradas as artérias de uma cidade.

Campo Verde não é diferente quanto ao perfil das vias atuais que privilegia os veículos automotores e mesmo possuindo normas de trânsito que são exigidas e necessárias como em qualquer cidade brasileira, Campo Verde tem suas peculiaridades. Mesmo com um sistema viário de sua área urbana que atende as estimativas do número atual de automóveis não existem projetos que visam melhorar ou até mesmo aperfeiçoar a capacidade de, num futuro próximo, atender à demanda do número de veículos

Uma das mais intrigantes obras realizadas nos últimos cinco anos foi a ciclovia e até hoje pergunta-se qual a sua utilidade levando em conta a localização em que ela está. A ciclovia tem como a apropriação de uma via exclusiva para bicicletas e pedestres para que os mesmos não venham concorrer por um espaço na vias com os automóveis, caminhões e motocicletas. O problema está no local onde foi construída. Localizada nas margens da BR 070, ligando a zona urbana ao distrito industrial, porém, a maioria dos trabalhadores utiliza carros ou ônibus das empresas que fazem o transporte dos funcionários entre o parque industrial e a cidade.

Mas os principais problemas enfrentados pelos usuários do sistema viário de Campo Verde, de acordo com o Sr. Ítalo Conceição Arruda, funcionário da prefeitura e responsável pelo Conselho Municipal de Trânsito Urbano – CMTU, o problema não está em cumprir e fazer cumprir a legislação e as normas de trânsito de suas atribuições, mas planejar, projetar, regulamentar e operar o trânsito de veículos, de pedestres e de animais e promover o desenvolvimento da circulação a da segurança de ciclistas. Ao CMTU compete também implantar e manter o funcionamento o sistema de sinalização, os dispositivos e os equipamentos de controle viário. Embora a cidade de Campo Verde não possua semáforos em suas vias de trânsito rápido percebe-se que na esquina entre as avenidas Florianópolis e Brasil, nos horários de “pico”, o volume de veículos é maior que em outras 58 localidades necessitando, assim, de um projeto para futura implantação de semáforos no local.

A coleta de dados estatísticos para elaboração de projetos que visam o melhor funcionamento das vias de circulação de veículos também é função do CMTU e no que afirma Jacobs (2000, p. 267) os órgãos públicos são responsáveis por alguns dos empreendimentos que ajudam a construir a diversidade urbana. Porém não somente construir, mas também fiscalizar, autuar e aplicar as medidas administrativas cabíveis relativas a infrações o que é outro problema, pois não existe uma fiscalização, por parte do poder público, para com os exageros cometidos pelos motoristas e motociclistas. Esse trabalho também se torna importante com o fato de integrar-se a outros órgãos e entidades do Sistema Nacional de Trânsito para fins de arrecadação e compensação de multas impostas na área de sua competência, com vistas à unificação do licenciamento, à simplificação e à celebridade das transferências de veículos e de prontuários dos condutores de uma para outras unidades da federação. Estando a frente do CMTU o Sr. Ítalo é um funcionário público designado para promover e implantar medidas para a redução dos acidentes e a implantação de projetos com o intuito de melhorar a infraestrutura de trânsito na área urbana de Campo Verde

Dentro de tantos problemas o CMTU recomenda a construção de quatro rotatórias “no mínimo” sendo três na BR 070 que liga os bairros da periferia ao centro que hoje existem apenas dois retornos que fazem essa ligação. Um na MT 140 para fazer ligação dos bairros Vale do Sol e Chácara das Uvas também com o centro. Tudo para agilizar a transposição dos motoristas de quatro bairros para o centro da cidade. Porém ocorre que essas rotatórias, por se tratar de uma rodovia federal (BR 070) e outra estadual (MT 140) não é de circunscrição municipal. Campo Verde possui hoje 11.407 veículos (Tabela 02) emplacados entre motos, caminhões, carretas e automóveis de passeio na cidade e vive na esperança de diminuir a incidência de acidentes de trânsito que ocorrem em sua maioria, nesses dois retornos que existem ligando os bairros ao centro da cidade e não se deve apenas admirar Campo Verde por sua beleza mascarada ou sua estética escondida por sobre muitos problemas. Somente com a convivência é revelada a real cidade.

Em Campo Verde, de acordo com dados estatísticos do DETRAN/MT, existem para cada três habitantes, um veículo automotor.

59 Tabela 02

Dados Estatísticos - Janeiro/2010

Quantidade de veículos emplacados em Campo Verde-MT

Município Quantidade % Quantidade % Total

Campo Verde Placa Antiga 0,55 Placa Renavam 99,44 11.407

63 11.344

Fonte: Detran/MT. Org: Daniel Borges de Souza (2010).

Portanto, problemas existem e com a falta dessa infraestrutura surgem outros como a falta de placas de sinalização para substituição das atuais que se encontram deterioradas. A falta de educação dos motoristas, o abuso de motociclistas em relação às normas, enfim, diversos problemas que necessariamente são de cunho educacional.

Quem quer que resolva operar a intenção de um espaço urbano guiado exclusivamente pelos preceitos da harmonia estética e da razão faria bem em ponderar primeiro que “os homens jamais podem se tornar bons simplesmente seguindo as boas ordens ou o bom plano de outros (BAUMAN 1999, p. 54).

5.1 - O abastecimento de água, esgoto e a drenagem pluvial

Este sistema tem como função promover o adequado escoamento das massas líquidas provenientes das chuvas que caem nas áreas urbanas assegurando o trânsito público e a proteção das edificações/construções, bem como evitando os efeitos danosos das inundações.

Nas cidades medievais, onde o tráfego maior era de pedestres, as águas pluviais escoavam por sobre o pavimento das vias, geralmente em sua parte central. Com o passar do tempo e o aumento das cidades, além do advento dos veículos automotores, este processo de drenagem foi substituído pelo uso de galerias pluviais subterrâneas, onde as medidas e as formas delas respondiam à dupla função de escoar os esgotos (parte inferior das galerias) e as águas fluviais (seção plena durante as chuvas), além da previsão de uma área para a circulação de pessoas, permitindo realizar tarefas de inspeção e limpeza, na época de estiagem. Este processo combinado de escoamento de águas pluviais e de esgotas, chamado 60 de Sistema Unificado, está sendo abandonado em todo o mundo, em função da dificuldade e impedimento para o tratamento dos esgotos além de favorecer o surgimento de vetores e doenças infecto-contagiosas.

O subsistema de drenagem de águas pluviais constitui-se, atualmente, de duas partes:

- Ruas pavimentadas, incluído as guias e sarjetas;

- Redes de tubulações e seus sistemas de captação.

Assim, a área urbana de Campo Verde possui meios-fios ou guias que são elementos utilizados entre o passeio e o asfalto ou leito, dispostos paralelamente ao eixo da rua, construídos geralmente de pedra ou concreto pré- moldado e que formam um conjunto com as sarjetas que existem apenas no centro e em apenas algumas ruas situadas junto ao meio-fio, executadas geralmente em concreto moldado in loco ou pré-moldado. Formam, com o meio-fio, canais triangulares cuja finalidade é receber e dirigir as águas pluviais para o sistema de captação.

No estado de Mato Grosso por meio da Lei nº 7.358/2000 de 13 de dezembro de 2000, após 34 (trinta e quatro anos) de criação da SANEMAT – Companhia Estadual de Saneamento do Estado de Mato Grosso, o Governo do Estado de Mato Grosso extinguiu a referida sociedade de economia mista e devolveu as concessões dos serviços de saneamento aos municípios.

Nesse novo cenário de descentralização, os municípios do estado de Mato Grosso, cada um a sua maneira, trataram de absorver os novos serviços, sendo certo que cada qual optou pelo modelo que julgou conveniente às suas necessidades: concessão ao setor privado, ação pela administração direta do município, criação de autarquias, companhias municipais, dentre outros.

Passados alguns anos da implementação do novo modelo institucional, alguns problemas surgiram com relação ao tema, dentre os quais se destacam as dificuldades das concessionárias privadas em atingir as metas de cobertura estipuladas nos contratos de concessão, em estabelecer reajustes tarifários e em solucionar problemas ambientais.

O município de Campo Verde se enquadra dentro deste cenário que se encontra o estado de Mato Grosso não fugindo da realidade da grande maioria dos 61 municípios de pequeno porte. O abastecimento de água no município se dá por empresa privada que ganhou a concessão no ano de 2002, sendo a mesma responsável pela operação e tratamento de esgoto dentro da zona urbana. No que tange a operação do sistema de captação, tratamento e abastecimento de água, a concessionária desempenha um papel básico. O sistema de abastecimento de água abrange 100% da população urbana do Município, em regime ininterrupto. Em relação à coleta e tratamento de esgoto, não atende às mínimas necessidades, uma vez que a cidade não possui rede coletora de esgoto, bem como de tratamento.

Então sabe-se que o subsistema de abastecimento de água compõe-se, geralmente das seguintes partes:

– Captação: o processo de captação de um conjunto de estruturas e dispositivos construídos junto a um manancial para a captação de água destinada a esse subsistema. Os mananciais utilizados para o abastecimento podem ser as águas superficiais ou como em nosso caso, subterrâneas. Os mananciais subterrâneos são mais caros, devendo-se evitar sua utilização indiscriminadamente, pois mesmo havendo uma legislação sobre a exploração de águas subterrâneas no Brasil o município de Campo Verde não a respeita e até a desconhece tanto na área urbana quanto na área rural.

- Tratamento: os recursos hídricos mais indicados para o suprimento de uma cidade principalmente as águas naturais de superfície, raramente satisfazem todos os requisitos do ponto de vista qualitativo. Entretanto, se não forem potáveis, são potalizáveis, isso é, podem ter suas qualidades melhoradas dentro dos padrões higiênicos recomendados mediante um tratamento total, parcial ou completo, de acordo com a procedência das impurezas e com a intensidade da poluição ou contaminação. Assim, a necessidade e abrangência dos processos de tratamento recomendáveis são definidas através dos dados relativos à qualidade da água no manancial e sua variação durante o ano.

– Distribuição: o processo de distribuição é constituído de reservatórios, que recolhem a água aduzida e ao tratamento. Porém não há nenhum processo de tratamento de água no município e existe apenas um reservatório para distribuição em toda área urbana localizada no centro da cidade.

62 Em Campo Verde o poder público se isentou da responsabilidade pela captação, tratamento que é inexistente e distribuição da água que a população consome que na cidade é de origem subterrânea.

De acordo com a Constituição Federal, em seu artigo 30 (BRASIL, 1988), é competência dos municípios organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços de interesse local. Tal atribuição confere a instância municipal a responsabilidade da gestão dos serviços de saneamento, embora não exclua o nível estadual e federal de atuar no setor seja no campo de estabelecimento de diretrizes, seja no da legislação ou da assistência técnica. Assim D´Águila (2000, p. 07) afirma que:

Poucas e incompletas iniciativas municipais e estaduais são efetivas, pois as normas do uso e conservação dos reservatórios nas moradias não possuem uma legislação em vigor. Os custos de análises, de manutenção, tal como a desinformação e o descaso dos responsáveis públicos, levam a população a consumir água contaminada apesar de todos os problemas de saúde pública que daí podem advir.

No caso de Campo Verde o poder público se isentou em 2002 dando a uma empresa privada a concessão por 30 anos da captação e distribuição da água para a população crescente da cidade. Barros (1978, p. 17) a esse respeito, nos faz lembrar que o vertiginoso aumento da população urbana verificada nos últimos anos em algumas regiões do Brasil vem incrementando elevadas taxas para a manutenção e abastecimento. Pensando nisso, a quantidade de água que existia no início do século XX era suficiente para atender a população mundial, quando era apenas um terço da atual. Hoje somos mais de 6 bilhões de habitantes no planeta e a água não está sendo suficientemente distribuída para todos. Em Campo Verde, uma cidade de 35 mil habitantes, não se pode prever o que se espera.

Miranda (2004, p.54) afirma que:

Hoje, tem-se dado muita relevância ao tema água, um assunto que já deveria ser motivo de preocupação no mundo. Principalmente nos meios de comunicação conhecidos como a televisão, jornal, revistas, rádio e a internet.

Com uma área urbana relativamente pequena o serviço de distribuição se estende para os novos bairros possuindo deficiência no abastecimento em 63 vários horários do dia. No período do ano ou do mês em que a falta de água atinge grande parte da população, os bairros mais próximos e os mais afastados do reservatório, localizado no centro da cidade, são o alvo de intensas campanhas para que sejam instalados os reservatórios domésticos e assim, a falta não seja tão impactante como vem ocorrendo.

A água domina três quartos da superfície da terra e a maior parte está nos oceanos onde se concentram 97,5% da água do globo. O que resta 2,5% é de água doce em forma de gelo. Somente uma pequena porcentagem pode ser captada para o consumo nos rios, lagos e reservatórios da superfície. No Brasil essa distribuição é bastante irregular, cerca de 80% desse potencial hídrico estão na Bacia Amazônica, onde vivem 5% dos brasileiros. Mas apenas 20% da água estão disponíveis em regiões onde moram 95% da população.

De acordo com Rebouças (2004, p. 205), em cerca de 90% do território brasileiro ocorre água subterrânea naturalmente potável cuja captação é bem mais em conta em relação aos custos. Campo Verde, com mais de 30.000 habitantes tem seu abastecimento de água por poços artesianos, mais barato no ato da perfuração para captação e distribuição.

Portanto, na área urbana a água possui um papel fundamental e com finalidades para o consume que vão desde o uso doméstico, industrial e serviços públicos. O desperdício dentro da área urbana é observável em casos como atividades como os lava-jatos que são responsáveis por um desperdício de cerca de 1000 litros por automóvel e somente em Campo Verde existem 5 unidades de lava-jatos sem contar com o mesmo serviço prestado pelos postos de combustíveis.

A solução de um problema de abastecimento de água de uma cidade, indústria ou de um local irrigado, já não pode ser definido com base no simples balanço entre ofertas e demandas e um plano de obras. Mas deve abranger alternativas que são proporcionadas pelo ambiente em pauta e pelas tecnologias disponíveis. (REBOUÇAS, 2004 p. 150)

No campo “tecnologia”, em relação à captação, tratamento e distribuição da água, Campo Verde não se destaca já que não existem aplicações em curto, médio ou até mesmo longo prazo, pois em relação ao tratamento, que inexiste, nenhuma tecnologia é atuante na captação e distribuição. O sistema e, na afirmação de Zmitrowicz (1997, p. 11): “Por outro lado a rede de distribuição é a 64 parte propriamente urbana e a mais dispendiosa de todo esse sistema. Com os seus ramais instalados ao longo das ruas e logradouros públicos, a interdependência entre a rede hidráulica e a rede viária (asfalto) requer um cuidadoso estudo planejado de urbanização”.

Na relação de instalação de rede, distribuição e manutenção do serviço, a empresa concessionária do serviço não mantém nenhum tipo de tecnologia ou ação preventiva para o sistema implantado na área urbana da cidade. Os problemas são resolvidos quando já estão em situação insustentável como vazamentos, canos arrebentados ou, quando é preciso, a substituição dos mesmos.

A população de Campo Verde vem cedendo enormes lucros à empresa concessionária com a prestação de tão importante serviço. As residências da área urbana pagam, aproximadamente, R$1,59 por metro cúbico consumido. Em uma residência onde moram um casal e dois filhos a possibilidade de consumo não seria menos que R$25,38 mensais. Porém deve-se salientar que os custos são apenas pela implantação do sistema de captação, tratamento, distribuição e, esporadicamente, a manutenção do mesmo, não se paga pela água.

Para Barros (2004. P, 210) “a alternativa mais plausível de gestão de um volume de água praticamente constante, para atender de maneira regular uma demanda disponível, é a eficiência inclusive o reuso.” A possibilidade do reuso de água em Campo Verde é totalmente inexistente, sendo que a água para o uso independe do objetivo, não é valorizada. Porém na sua falta percebe-se o seu valor.

A rede de captação, com cerca de 3,2km, é composta de 8 (oito) poços artesianos espalhados estrategicamente, pelo centro da cidade com uma vazão média de 50m³/hora e o crescimento acelerado da população na cidade provoca um rápido aumento no consumo que passaria de 24m³/mês para uma residência de porte médio (um casal e dois filhos).

“O vertiginoso aumento da população urbana verificado nos últimos anos em algumas regiões do Brasil vem incrementando elevadas taxas para a manutenção e abastecimento” (Barros, p. 07). Em Campo Verde observa-se quando o aumento da população acima da média nacional e isso se deve às políticas de distribuição de lotes em novos loteamentos, de casas com 65 financiamento pela Caixa Econômica Federal e a doação de casas construídas de maneira mais simples visando sanar o déficit habitacional na cidade.

Se somarmos o aumento da população com o aumento do consumo de água, que no caso de Campo Verde é proveniente de poços artesianos, o aumento está tendo uma progressão assustadora. Essa situação já se encontra com impactos, por exemplo, na saúde onde faltam medicamentos básicos no hospital municipal e não se tem uma avaliação segura da quantidade de poços artesianos no município. De acordo com antigos moradores, estima-se que existem cerca de 400 a 600 poços desse tipo espalhados entre fazendas, assentamentos, sítios e chácaras.

De acordo com a Lei Orgânica do Município em seu artigo 143 a administração pública municipal manterá atualizado o Plano Municipal de Recursos Hídricos e instituirá, por lei, sistema de gestão dos recursos financeiros e mecanismos institucionais necessários para garantir a utilização racional e armazenamento das águas, superficiais e subterrâneas, o aproveitamento múltiplo dos recursos e rateio das respectivas obras, a proteção das águas contra os regimes que possam comprometer seu uso, atual e futuro. O mais alarmante, já que o sistema é gerido por uma empresa privada, o município, em articulação com o Estado, estabelecerá programas visando ao tratamento de despejos urbanos e industriais, e de resíduos sólidos, de proteção e de utilização racional das águas, assim como de combate a inundação e erosões.

Vale salientar que o texto da Lei Orgânica de Campo Verde foi redigido no primeiro trimestre de 1990, portanto a responsabilidade ainda era do poder público, mas nada foi feito para que se cumprisse o determinado e em 2002 a concessão desse serviço foi cedida à empresa Águas de Campo Verde por 30 anos.

Procedendo à análise do desenvolvimento da operação dos serviços de saneamento básico e esgotamento sanitário no Município de Campo Verde, verificou-se que, no dia 01 de junho de 2001, o Município optou pela prestação indireta dos serviços através da criação do Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Campo Verde – SAAE, entidade autárquica vinculada à Administração Municipal.

Então, no dia 29 de novembro 2001, por meio da Lei Municipal n. 711/2001, o Poder Executivo foi autorizado a conceder à iniciativa privada a 66 prestação dos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário no Município de Campo Verde. Na seqüência, foram editadas as Leis n. 712, 713 e 714, de 2001, responsáveis respectivamente por extinguir o SAAE, regulamentar a prestação dos serviços de água e esgoto do Município, bem como criar o Conselho Municipal de Saneamento Básico de Campo Verde – CMSB. Com a edição dessas normas, consolidava-se o cenário para a concessão dos serviços públicos de saneamento básico no município, que se concretizou com a contratação da Empresa Kullinan Engenharia e Construção Ltda, vencedora da licitação realizada por meio do Edital de Concorrência n. 02/20016.

Neste sentido, foi criada a Sociedade de fim específico Águas de Campo Verde Ltda, conforme exigência do edital, a fim de operar os sistemas de abastecimento de água e esgotamento sanitário de Campo Verde. Em 02 de Dezembro de 2003, o Município de Campo Verde (Poder Concedente) permitiu a transferência do controle societário da Águas de Campo Verde.

No entanto das carências do urbano podemos lembrar as deficiências em que a população vem enfrentando que na tentativa de resolver seus problemas, recorrem à rede de TV local para chamar a atenção das autoridades locais para ajudá-los. Sendo que em sua maioria, são moradores dos bairros mais distantes do reservatório localizado no centro da cidade como os bairros: Bordas do Lago, Recanto do Bosque, Jupiara, Eckert e outros.

Na afirmação de Ciarelli e Ávila (2009, p. 4) “que embora a mídia não seja o único fator de informação sobre a realidade que nos cerca, ela tem um impacto significativo nesse sentido e pode levar a distorções de julgamento.”

Nessa tentativa, a população não obtém nenhuma eficácia nas reclamações, não somente para os problemas relacionados ao abastecimento de água, como também saúde e outros serviços municipais, pois a Prefeitura Municipal mantém um convênio assinado com os meios de comunicação para que as reclamações que chegam não sejam repassadas ao público via TV e jornais. Então a mídia local, com poder de influência muito forte, protege o poder público municipal de suas deficiências tanto nos serviços prestados quanto na ocasião de ser cobrado por aqueles que o escolheram como representantes tanto no legislativo quanto no executivo. Portanto, a população escolhe, vota e não tem condições de exigir de seus vereadores e prefeito o cumprimento das promessas. 67 A falta de água por períodos de longa duração e a necessidade de se ter um reservatório em casa é mais que necessário. No período em que ocorriam tais problemas, sendo que grande parte das residências não possuem tal reservatório (caixa d´água) de 50 ou 1000 litros para a prevenção e o uso consciente a falta da água se torna um tormento ainda maior. E hoje a população vem sendo prevenida pelos mesmos meios de comunicação a adquirir tal reservatório.

Portanto, vemos que a distribuição da água na área urbana de Campo Verde, apesar de ser feita por uma empresa privada, vem sendo determinante para a qualidade de vida da população. Mesmo com tantas deficiências na distribuição, a população ainda confia na diferenciação do serviço acreditando que uma melhora é possível apenas com a diminuição dos valores cobrados pela concessionária.

O uso consciente da água aliado a uma distribuição correta e eficiente pode livrar a população de certa área urbana de doenças relacionadas à água. Por isso que o esgoto sanitário é tão ou até mais importante que a distribuição da água em uma cidade.

Uma vez utilizada a água distribuída à população se deteriora, tornando-se repulsiva aos sentidos, imprestável mesmo a usos secundários, e nociva, em consequência da poluição e da contaminação. O seu imediato afastamento e um destino tal que não venha a comprometer a salubridade ambiental são providências que não podem ser postergadas.

O subsistema de esgoto sanitário compreende, geralmente, a rede de canalizações e órgãos acessórios, órgãos complementares e dispositivos de tratamento dos esgotos, antes de seu lançamento no destino final, porém, em Campo Verde as ligações prediais que são constituídas pelo conjunto de elementos que têm por finalidade estabelecer a comunicação entre a instalação predial ou residencial e o sistema público de coleta não existem. As instalações de tubos e conexões que levam os dejetos e apenas estabelece conexão com as inúmeras fossas e sumidouros que cada residência ou edifício de apartamentos existentes na área urbana possuem. Um problema gravíssimo que a cidade convive desde sua origem. São qualidades que, como ficam submersas, não é possível enxergar e resolver um problema que existe, mas não aparece. 68 O tratamento das águas residuárias exige, devendo ser esgoto (doméstico, industrial, entre outros), um processo específico, devendo ser compatível com os corpos d´água receptores. Essas estações são geralmente concebidas de modo a possibilitar a sua execução em etapas, não somente em termos de vazão, mas também em função do tratamento, desarenação, flutuação, sedimentação, coagulação, irrigação, filtração, desinfecção, desodorização, digestão, entre outros. ZMITROWICZ (1997, p. 12)

A inexistência de coleta de esgoto sanitário em Campo Verde é um problema crônico e consequentemente a inexistência de uma estação de tratamento destinada a eliminar os elementos poluidores, permitindo que as águas carregadas de resíduos sejam lançadas nos corpos receptores finais em condições adequadas.

A sociedade campoverdense somente se preocupa com tamanho problema apenas quando tem que enfrentar alguma diversidade como desentupimento, controle da vazão em residências, vazamento, instalação, regulamentação perante o poder público em relação ao alvará de construção que leva em conta a área construída dentro de um lote com determinadas dimensões, mas nunca é levado em conta, no caso do morador, a preocupação em relação à instalação do esgoto sanitário, pois como não existe uma rede de coleta pública a obrigação do morador fica em apenas construir sua fossa e tampá-la para ficar livre dos problemas recorrentes.

Nessa linha, o problema se torna mais grave quando se analisa as instalações das devidas fossas sépticas que em 100% dos casos é feita nas calçadas em frente às residências. Já nos novos bairros, a instalação vem sendo feita dentro dos lotes.

Como a maioria das residências do centro e dos bairros mais antigos possui suas fossas sépticas instaladas fora dos limites dos lotes a cidade fica a mercê de acidentes com pedestres que acabam caindo dentro dessas fossas, carros que tem seu peso além dos limites das tampas (que ficam impossibilitadas de serem vistas) e assim acabam dentro das mesmas e outra série de problemas causados por essa inconsequente solução para um problema nacional: a falta de saneamento básico.

69 5.2 – Outras Ocorrências

Nas cidades as relações não se produzem apenas nas empresas nem no espaço social ou na produção de objetos, mas também no cotidiano, nos lugares. Tais relações se fazem diferenciadas de acordo com os interesses dos mais ricos sobre os mais pobres e isso se revela além do palco urbano, mas também nas relações entre o poder público quando na prestação de serviços de sua responsabilidade como saúde, segurança e educação. Nas cidades do agronegócio de Mato Grosso essas relações não são diferentes.

Nas relações entre o poder público e os problemas sociais em Campo Verde convém reforçar a afirmação de Sposito (2005, p.74) que em nível intraurbano, o poder público escolhe para seus investimentos em bens e serviços coletivos, exatamente os lugares da cidade onde estão os segmentos populacionais de maior poder aquisitivo; ou que poderão ser vendidos e ocupados por esses segmentos, pois é necessário valorizar as áreas. Os lugares da pobreza, os mais afastados os mais densamente povoados vão ficando no abandono.

Um passeio pelas ruas de Campo Verde permite-nos verificar que a escolha dos lugares dos investimentos públicos não é imparcial. Existem inúmeros terrenos desocupados na cidade, mas o tecido urbano cresce na periferia. As contradições sociais impostas pelo desenvolvimento capitalista estão impressas na estrutura e na paisagem de Campo Verde.

É de alguma forma, necessário morar. No campo, na cidade pequena, na metrópole e morar como vestir e se alimentar é uma necessidade básica do indivíduo.

No interior da casa é onde se realizam outras necessidades além de se ter um abrigo, é onde se dorme, onde parte importante da educação dos filhos é atingida, enfim, onde várias necessidades humanas são realizadas, Conforme análise de Rodrigues (1994, p. 11):

É suficiente observar qualquer cidade para verificar que há uma grande diferenciação entre as características de moradias dos bairros, tamanho dos lotes das construções, da “conservação”, de acabamento das casas, as ruas – asfaltadas ou não -, a existência de iluminação, esgotos, etc. para se ter uma noção da segregação espacial. 70

Ao mesmo tempo, há espaços na cidade com infraestrutura e outros sem. Outros densamente povoados e outros sem grande ocupação, outros mais atendidos pelos serviços públicos e outros abandonados a própria sorte e toda essa diversidade não está combinada com diferentes tempos de ocupação. Existem ruas no centro de Campo Verde que, apesar de existirem muito antes de bairros como o São Miguel, que já é asfaltado, não estão asfaltadas.

Com a implantação de três novos bairros o São Miguel, Cidade Alta I e Cidade Alta II, a organização e produção do espaço urbano envolvem uma série de agentes conhecidos como “agentes produtores do espaço urbano”, cujas ações acabam por orientar a forma e os usos do solo na cidade. Essas ações interferem na produção e na apropriação do espaço urbano (CORRÊA, 2005).

Portanto nas cidades, a maior parte das construções, cerca de 70% a 80% corresponde às unidades habitacionais. Como o processo de urbanização é decorrente da apropriação para diferentes usos cada um desses usos está preso às regras de valorização de casa capital particular.

Aqueles que não têm casa própria, terreno ou não podem ainda pagar aluguel, procuram se organizar para se opor a estas formas de exploração, através do que são denominados os movimentos reinvidicativos urbanos. Já as organizações dos proprietários e construtores são denominados de “lobbies”.(RODRIGUES, 1994 p. 24).

Os donos de terra visam obter maior renda possível, os construtores o maior lucro e os financistas, maiores juros. Os proprietários das casas e apartamentos querem obter os aluguéis mais elevados.

Em Campo Verde, o Secretário Municipal de habitação Cícero Alves dos Santos explica a existência de uma pressão sobre os políticos e o poder público exercida por um grupo que luta por seus princípios e interesses e assim tentar dificultar a expansão urbana da cidade que é cercada por fazendas. Grupo esse formado por fazendeiros que não estão interessados na venda de parte de suas terras para tal expansão e o secretário alega ainda que o desinteresse por parte dos mesmos em contribuir com o desenvolvimento da área urbana de Campo Verde é a principal barreira. Não há somente o 71 desinteresse por parte dos fazendeiros em contribuir, mas também a ganância, como a venda não é interessante para o proprietário, a especulação imobiliária se faz presente. O proprietário apresenta sua proposta quando o poder público, no interesse, apresenta também um edital para a aquisição de uma área de interesse social e assim o proprietário apresenta o valor de seu interesse que nem sempre é a realidade do mercado.

Para exemplificar, uma área de 45 hectares, que é o mínimo para a construção de mais um bairro em Campo Verde, custaria cerca de R$8.000,00 se por acaso fosse no Município vizinho a Campo Verde, . Porém como existe a especulação ligada à ganância em Campo Verde essa mesma área próxima à área urbana da cidade custaria aproximadamente R$150.000,00 e esses valores são apresentados ao poder público como proposta exigida em edital específico na compra de uma área privada, mas de interesse da administração pública que visa expandir a área urbana do município.

Quando na afirmação de Rodrigues (1994, p. 19) que o preço da terra e definido diferencialmente pela localização. Terrenos com as mesmas dimensões, as mesmas características topográficas, terão preços diferentes, dependendo da localização na cidade. Esta diferenciação que ocorre da produção social da cidade permita aos proprietários se apropriarem de uma renda extra.

Visando uma melhora no grande déficit habitacional existente, não somente no Brasil, como também em Campo Verde as informações repassadas pelo Sr. Cícero é da preocupação do prefeito em entregar 1000 (mil) casas populares até 2012, mesmo em parceria com a Caixa Econômica Federal para instituir o financiamento. Seria então um meio de se atrair um contingente populacional para perpetuar a influência do executivo municipal?

Fica então caracterizado que em Campo Verde morar é tão complicado quanto em qualquer outro local do Brasil. Alto aluguel como resultado da falta de moradias que permite extrair tais valores. Construir para alugar é um costume comum e tido como um investimento seguro mesmo com a propaganda que é veiculada nos meios de comunicação.

72 5.2.1– Como são escondidas

A Revista Anuário, impressa pelo grupo Diário, jornal de circulação local cuja sua principal financiadora é a Prefeitura e, assim, em suas páginas fica evidente a consagração dos feitos municipais sem caracterizar as deficiências do urbano, mas enfatizando as conquistas do campo nas áreas do agronegócio e fortemente denominando em uma de suas matérias as lavouras de algodão como o “ouro branco” plantado em Campo Verde esquecendo e até abafando as tensões sociais causadas pela falta de moradias, a falta de uma rede de esgotos, a falta de uma estação de tratamento de resíduos e pelas inúmeras deficiências existentes desde sua emancipação.

Afinal esse meio de comunicação de circulação livre entre as secretarias municipais, porém, nas bancas de revistas chega a um valor que é maior que a maioria das grandes revistas de circulação no Brasil (R$25,00) possui o papel de divulgar o agronegócio e os grandes feitos da administração municipal e propagandas do comércio local.

Os meios de comunicação existentes na cidade como os jornais O Diário, o jornal Visão, a revista Integração e o canal de TV Televisão Real filiada do SBT- Sistema Brasileiro de Televisão na cidade procuram mascarar ou até mesmo não divulgar os conflitos sociais existentes tanto na área urbana quando na área rural.

Interessante o trabalho da mídia que mesmo em pequenas cidades como Campo Verde exercem um papel importante no ato de se fazer da cidade em que se encontra, um palco diversificado de ações e atores que devem, pensam eles, trabalhar conforme suas determinações e até mesmo formar opiniões.

A partir da segunda metade do século XX, quando a concentração demográfica e a expansão territorial das megacidades debilitam a conexão entre suas partes e, ao mesmo tempo, as redes de comunicação levam a informação e o entretenimento aos domicílios, os usos das cidades são (re)organizados: a desordenada explosão rumo às periferias, que faz com que os habitantes percam o sentido dos limites de “seu” território, é equilibrada com 73 relatos dos meios de comunicação sobre o que acontece nos lugares mais distantes dentro da cidade.

Por sua vez, o radio, a televisão como todo o pacote telemático, comprometidos com a tarefa de descrever e narrar a cidade, redesenham suas estratégias comunicacionais para estabelecerem-se em espaços concretos e mais ou menos delimitados. Por mais transnacionais que sejam seus investimentos, a estrutura da empresa e a composição de seu público, assume-se que suas audiências esperem que lhes seja dito o que significa estar juntos. Certamente, estes meios devem cumprir o papel de contato com o que acontece em lugares distantes neste planeta globalizado. Contudo, como as cidades também se globalizam, isto é, tornam-se cenários diplomáticos, nos espetáculos de arte e nas religiões do mundo todo praticamente não é difícil sincronizar as vocações locais e globais das cidades e dos meios de comunicação. (CANCLINI, 2002 p. 41)

Portanto o disfarce ou a máscara que a imprensa impõe e engloba a cidade e mesmo onde não foram destruídos os centros históricos, as praças, os lugares que mantinham viva a memória e permitiam o encontro das pessoas, sua força diminui frente a remodelação dos imaginários operada pelos meios de comunicação. Os relatos mais influentes sobre o que significa a cidade emergem agora da imprensa, do rádio, dos jornais e da televisão.

Esse disfarce em vez de oferecer informações que orientem o indivíduo na crescente complexidade de interações e conflitos urbanos, os meios de comunicação ajudam a imaginar uma sociabilidade que relaciona as comunidades virtuais de consumidores midiáticos: os jovens com outros jovens; as mulheres com suas iguais; os que se interessam por algum esporte com outros praticantes em diferentes lugares da mesma cidade e do mundo; os gordos com os gordos; os que gostam de música sertaneja ou rock com outros que têm as mesmas preferências. As comunidades virtuais organizadas pela mídia substituíram então os encontros nas praças, os estádios ou os salões de baile pelos não-lugares. Isso faz com que esse poder midiático exerça um controle sobre tais comunidades ou mesmo espectadores que não possuem um espírito crítico diante do que ocorre diariamente.

Mas o poder de controlar a informação em uma cidade como Campo Verde esbarra na força do poder público que se coloca a impor tal controle visando manter a complexidade de interações e conflitos urbanos fora da opinião pública e sob seu comando. 74 Em abril de 2009 a Prefeitura Municipal de Campo Verde e a Televisão Real Ltda celebraram um contrato que visa a divulgação de peças publicitárias de campanhas institucionais e publicidades governamentais, avisos e comunicados de interesse do Município de Campo Verde e seus órgãos afins, que serão exibidos no período descrito no instrumento de contratação (Anexo 03). Na realidade o objeto desse contrato de publicidade é a prestação de serviços especializados na área de veiculação de informes publicitários de campanhas institucionais e publicidades governamentais, anúncios, informes publicitários de interesse do município, suas Secretarias Municipais e Assessorias.

Visando aperfeiçoar o serviço, o contrato vigorou até o dia 31/12/2009, e assim toda a produção áudio-visual de interesse do Município/Prefeitura, deverá ser acompanhada e supervisionada pela Assessoria do Município. Assim a Prefeitura Municipal através desse instrumento mantém um pagamento anual no valor de R$140.000,00 (cento e quarenta mil reais), que será pago após a emissão de notas fiscais de prestação de serviços contendo em anexo, todas as publicações e relatório detalhado das quantidades de inserções referentes ao valor da nota. Portanto o pagamento será feito com a apresentação de todas as cópias das matérias e informes publicitários juntamente com o comprovante de exibição de interesse do Município à Secretaria de Administração da Prefeitura.

O que mais chama a atenção são as obrigações de ambas as partes: a Prefeitura deverá cumprir na íntegra os motivos do contrato e assim a não transmissão total ou parcial em período e em horário estipulado pela Prefeitura Municipal e na existência de alterações depois de iniciada a veiculação. A TV somente aceitará alterações nos anúncios quando a Prefeitura providenciar tais modificações, caso contrário, permanecerá a anterior.

No entanto, o que fica caracterizado como preocupante está na cláusula 9ª item “m” e “n” onde é vedada à TV Real Ltda divulgar notícias deturpadas ou truncadas que provoquem perturbação da ordem pública ou alarme social e que através de meios de divulgação objeto do presente contrato, praticar abusos no exercício de manifestação de pensamento em desfavor da prefeitura municipal se submeterá a imediata rescisão do contrato. 75 Assustadoramente a administração municipal vem praticando o exercício de controle da informação caracterizando, assim, uma espécie de ditadura velada.

O não fornecimento das matérias ou filmes publicitários veiculados pela emissora durante sua programação, que não forem fornecidos através de suas programações na íntegra, sem cortes, da forma como foram “ao ar” o pagamento será suspendido automaticamente pela Prefeitura e o contrato seria rescindido, demonstrando assim, o tamanho poder e controle sobre a mídia local que é exercida através do valor que a Prefeitura paga ao contratado, e assim, exercer o completo controle sobre os conflitos urbanos. Quem controla a informação controla a situação.

É evidente que tais conflitos de cunho administrativo municipal como as deficiências do urbano em que são de responsabilidade da prefeitura são sumariamente subjugados por força desse contrato. Ao observar a programação da TV local, vemos que as deficiências do urbano nunca são mostradas ao público via noticiário, mas apenas através de conversas ou pelos noticiários da capital Cuiabá, ou em casos de maior repercussão, pelos noticiários nacionais.

Então, a Televisão Real Ltda praticar abusos no exercício de manifestação de qualquer pensamento em desfavor da Prefeitura se submeterá a imediata rescisão contratual independentemente de notificação judicial ou outra qualquer. A Prefeitura simplesmente deixa de pagar o valor de R$140.000,00 se os conflitos urbanos que desagradem tanto o prefeito, quanto vereadores da base aliada forem mostrados para a população via noticiário local.

6 – As Qualidades do campo

O campo hoje não se enquadra no que nossos avôs e até mesmo nossos pais viviam. Com raras exceções a ruralidade ainda persiste como, por exemplo, no interior do estado de Goiás às margens da BR 070 que antes de chegar a Goiânia, saindo de Barra do Garças, em direção a Jussara no Goiás, presencia-se diversas chácaras e sítios que despertam a curiosidade em relação à vida nessas localidades. A característica simples das residências, o gado no pequeno pasto ao fundo da residência, a quantidade de árvores frutíferas como as mangueiras, pés de jabuticaba, abacate, a paisagem típica 76 sem grandes plantações de soja, milho ou algodão dão um ar de alegria quando se enxerga o verde dessa maneira.

Com o uso da tecnologia de informação (TI) o modelo urbano- industrial se instala no campo, estabelecendo novos modos de produzir, de consumir e de viver. Equipamentos como o fax, o telefone, celular, internet, canais de TV a cabo ou por satélite, e outras tecnologias de informação, são inseridas no processo produtivo agrário facilitando a busca e o “acesso” à informação, à realização de transações financeiras e comerciais, via comércio eletrônico. (ARRUDA 2007, p. 76)

Portanto a necessidade de agregar valor aos produtos e as exigências de uma sociedade de consumo cada vez mais informada vem determinando a necessidade de mudanças profundas no sistema de produção agrário apontando assim, para um paradigma novo que se torna conhecido como o agronegócio.

O agronegócio surge a partir do conceito criado por Davis e Goldberg na Universidade de Harvard. Com a publicação do livro “A Concept of Agribusiness”, em 1957, os autores estabeleceram um divisor de águas nos estudos da agricultura norte-americana e hoje, no Brasil, o agronegócio é um dos principais componentes da nossa economia.

Então, na cadeia atual do agronegócio temos quatro níveis agregados: a agricultura em si a industrialização, o processamento e a distribuição. Assim o peso do agronegócio na economia leva-se em conta algumas das novas atividades que se tornaram vitais para o seu desenvolvimento como a logística de distribuição, os serviços urbanos realizados para a agricultura como informática, sensoriamento remoto, informações de mercado, serviços financeiros, etc.

Ao logo de vários meses o agricultor ocupa-se com a preparação do solo, plantio, mão-de-obra e serviços. A mão-de-obra e os serviços são encontrados na área urbana o que justifica o peso do agronegócio na economia. Leva-se muito em conta essas atividades.

A indústria, eminentemente a agroindustrial, em Campo Verde responsável pela geração de fluxos, haja vista que esse setor dispõe de uma 77 configuração territorial responsável pelo crescimento dessa fluidez, o aumento desse fluxo por sua vez, possibilita uma maior integração entre as cidades dessa região como Primavera do Leste e Rondonópolis como território nacional global.

Todas essas possibilidades, sendo de grande interesse do agronegócio na região, vem causando profundas transformações tanto na paisagem urbana quanto na visão que as pessoas fazem delas.

Verifica-se que a agricultura brasileira, nas três últimas décadas passa por um intenso processo de transformação. A globalização da economia tem um vetor importante de mudanças, na medida em que tem levado a uma nova estrutura de produção, especialmente aos direcionados à exportação criou-se uma estratégia para se aperfeiçoar a imagem urbana dessas cidades, como afirma Arruda (2007, p. 134):

Qualquer que seja a estratégia utilizada pelos gestores municipais das cidades de fronteira, por meio do aperfeiçoamento da imagem urbana dos municípios, pelo aprimoramento do “design espacial” ou pela (re)ordenação do espaço realizado de acordo com o plano urbanístico, a finalidade política é a mesma: estimular o seu crescimento econômico. A presença de um “design ruim” e um planejamento desordenado acabaria impedindo a formação de capital funcional à classe capitalista, assim como, se tornariam empecilhos para que esses núcleos urbanos atingissem a função aspirada de centralidade urbana no contexto regional. Na qualidade de produção espacial essas cidades puderam introduzir tecnologia avançada o que levaria Santos (2008c, p. 61) a escrever:

Todas, porém, giram em torno de fatores como o comportamento demográfico, o grau de modernização e de organização dos transportes, o nível da industrialização, os tipos de atividades, o nível das relações que mantém com os grupos sociais envolvidos, a criação e retenção local do valor agregado, o grau de redistribuição da renda entre os produtores. Os efeitos diretos ou indiretos da modernização da agricultura. Com tanta exigência algumas fazendas se enquadram nessa organização de nível tanto da industrialização quanto da especialização como efeitos diretos e indiretos da modernização da agricultura levando funcionários a um comportamento atípico em relação ao urbano.

A Prefeitura de Campo Verde vem implementando estruturas viárias para atender as agroindústrias e os serviços prestados por algumas 78 delas como a do Grupo Adriana, Fazenda Flamboyant, Fazenda Samambaia, Fazenda Mourão, Floresta, Água Limpa do Grupo Pinesso, a Fazenda Quebra Litro e a mais conhecida dos campoverdenses a Fazenda Filadélfia do grupo Bom Futuro.

As vantagens do avanço técnico do campo para seus funcionários qualificados são, diversas vezes, maiores do que as existentes na área urbana de Campo Verde: Internet gratuita 24 horas, água e luz sem custo para as famílias dos funcionários. Três refeições diárias servidas em refeitórios limpos e com a atenção de uma nutricionista.

Muitos possuem casa própria na área urbana que alugam o que justifica a qualidade de vida que alguns desses funcionários levam como carros ou motos novos. O serviço de saúde e educação para jovens e adultos é prestado pela Prefeitura nas localidades rurais do Garbúgio; Assentamento Santo Antônio da Fartura, Assentamento 14 de Agosto, Limeira e Capim Branco com apenas o posto de saúde.

Todos esses pontos de atendimento possuem professores, técnico em enfermagem, médicos, funcionários públicos do administrativo municipal. Tudo para atender exclusivamente as populações residentes em fazendas e assentamentos dos Sem Terra. Os funcionários da prefeitura recebem moradia, água, luz e alimentação custeadas pela Prefeitura Municipal de Campo Verde, sem nenhum ônus para os funcionários ao contrário da área urbana.

Certas áreas rurais que servem de ponto estratégico para atender os moradores da área rural ficam muito distantes, o que justifica tal comportamento do poder público.

6.1– A qualidade de vida

Existem consensos a respeito do que é qualidade de vida, porém não há um consenso definitivo na literatura sobre o conceito de qualidade de vida. Um compreende indicadores globais das características relevantes do modo de vida das sociedades e indivíduos, em termos socioeconômicos, demográficos e de cuidados básicos de saúde disponíveis. Outro se baseia em parâmetros que se referem à percepção subjetiva dos aspectos importantes da 79 vida de uma pessoa, os quais podem ou não coincidir com indicadores de padrão de vida.

Para esse trabalho, decidiu-se definir qualidade de vida como a percepção do individuo de sua posição na vida no contexto da “cultura” e sistemas de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações – uma das definições mais utilizadas ultimamente (PANZINI et al, 2007).

De quem é a melhor percepção de qualidade de vida: daqueles que vivem ou daqueles que a observam? Possivelmente o conjunto de ambos, desde que os aspectos humanos e os do espaço urbano se fundam em um conceito também agregado de desenvolvimento humano e sustentável.

O tema induz a uma reflexão qualitativa acerca das condições de vida individuais e coletivas. Não é uma conquista de uma mina de ouro que nos faria ricos, mas a conquista de nossas forças próprias e de nossa capacidade de audeterminação, do espaço criativo

As condições que determinam se o indivíduo é ou não feliz na cidade onde ele mora fica clara quando o cidadão, originário do interior de algum estado pobre do Brasil, afirma que em Campo Verde ele se encontra no “céu”. Não se pode negar que esse indivíduo se encontrava em uma situação lastimável em seu estado de origem, portanto ao chegar a uma cidade que lhe oferece um pouco para quem nada possui é uma questão de aceitação sem limites de agradecimento.

Ao observarmos o traçado urbano da cidade, as largas avenidas, as belas residências , as pessoas que ali moram não se pode, de imediato, enxergar as dificuldades que toda cidade enfrenta. Então esse cidadão acaba fazendo parte do problema ou acaba chegando para contribuir na solução. E cidades como Campo Verde deixam uma boa impressão nas pessoas que a visitam, porém não sabem eles o tamanho da problemática existente nelas.

A política ainda é forte na característica do coronelismo, o custo de vida é elevadíssimo se comparada à capital Cuiabá e as dificuldades decorrentes da distância dos grandes centros como Cuiabá, Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo. 80 Em se tratando de tranquilidade, Campo Verde ainda se destaca com baixo índice de violência urbana, bairros que apesar de distantes do centro são pacíficos e a tranquilidade noturna somente é quebrada nos dias de carnaval e das festas típicas do Município.

6.2– As relações entre o meio rural e o urbano

A promessa que se abria, com a modernização agrícola, é que dentro de pouco tempo a fome estaria erradicada da face da terra, o que não ocorreu. No Brasil, esperava-se que a modernização, representada não somente pela incorporação de novas tecnologias no campo, mas pela entrada de grandes grupos transnacionais interessados em adquirir terras nas regiões de fronteiras agrícolas, pudesse finalmente arrebentar os grilhões que prendiam o país as relações atrasadas do coronelismo e do compadrio. Porém a modernização acentuou o caráter concentrador da estrutura agrária brasileira, tornando o campo um palco de injustiças incomensuráveis sem afetar o poder das velhas oligarquias (PERESTRELO; MARTINS, p. 25. 2003)

Com a incorporação de novas tecnologias a modernização da agricultura passa a ser vista quase que exclusivamente como o espaço da grande produção agrícola e um número de propriedades rurais e relativamente significativo releva os grandes proprietários de terras, enfim, da “agroindústria”, um espaço extensivo e essencialmente agrícola.

Esse modelo da agroindústria, da monocultura e da mecanização, foi estimulado por diversos governos como, por exemplo, de agricultura “moderna e racional”, e praticamente todas as políticas públicas e os grandes investimentos foram direcionados para expandir e modernizar aquele modelo e novamente foram esquecidos ou ignorados outros modelos de desenvolvimento rural que favorecessem o pequeno produtor rural, proprietários ou sem terra, e todos os outros tipos de trabalhadores rurais.

Raciocinando a respeito dessa problemática Zuquim (2007, p. 102) escreveu:

Ao contra rio, contudo, do que se deveria esperar da modernização do campo e do emprego de mão-de-obra agrícola, ela não foi capaz de desenvolver-se sem 81 comprometer extensas faixas contínuas do território; sem devastar inúmeros recursos naturais, com a utilização intensiva da terra e larga utilização dos insumos agrícolas industriais; sem provocar sérios conflitos fundiários, sem estimular a grande concentração de terra e de riqueza; e, principalmente, sem impedir que aumentasse o já grave êxodo rural e o grande avanço populacional dos mais diversos pontos do território nacional em direção aos centros urbanos industrializados.

Os pequenos proprietários e trabalhadores rurais com ou sem terra, expulsos do campo, caminharam para as cidades, onde o modelo de setor urbano-industrial não cuidara de gerar um número suficiente de empregos, ou seja, a entrada dos grandes grupos transnacionais “sediados” nas regiões de fronteira agrícola fez, na realidade, criar mal-empregados, subempregados e desempregados em todo o país.

A realidade agrária de Campo Verde não é diferente do Estado de Mato Grosso, pois teve a mesma forma de ocupação, o cerrado até a década de 1970 era considerado um local de solos pobres e vegetação minguada, mas hoje vem ganhando importância para a agricultura extensiva.

A expansão da agricultura foi possibilitada pelo uso de fertilizantes e de técnicas de correção de solo, enquanto a vegetação pouco densa e o relevo plano permitiram a rápida ocupação. Diferentemente da Amazônia, onde, após a derrubada da floresta, há um período de utilização da terra pela pecuária, o cerrado pode ser utilizado pela agricultura em menos de um ano após o desmate. No cerrado a ocupação foi muito mais rápida, pois a vegetação não oferece empecilhos.

7– Praças, usos e apropriações

A paisagem urbana deve integrar o homem com o meio ambiente e satisfazer às suas necessidades. No entanto, em decorrência do crescimento muitas vezes inadequado das cidades, o meio ambiente urbano vem sofrendo diversas modificações, que contribuem para a insatisfação da população.

As praças públicas no contexto urbanístico ambiental apresentam relevante papel na melhoria da qualidade de vida da população, são bens de uso comum que contribuem para o embelezamento das cidades. Normalmente, 82 as praças são compostas por bancos, coretos, jardim, via de circulação, e muitas vezes outras estruturas.

Atualmente, as praças têm fundamental importância em uma cidade, sendo utilizadas por pessoas de todas as idades e classes sociais, com a função de promover uma qualidade de vida melhor para a população, fornecendo aos seus usuários recreação, lazer e uma vida mais saudável.

Para Ribeiro (2008, p. 50) “o lazer neste conceito é visto como uma atividade, fazer alguma coisa de caráter desinteressado. Diferencia-se do ócio, um é compreendido como atividade.” Entre as concepções de fazer alguma coisa de caráter desinteressado, na visão de Carlos (2008, p. 18) onde o homem possa se libertar das amarras impostas pela formação econômica e social capitalista, onde seu trabalho possa ser criativo, seu horário de lazer algo mais que o “repouso físico”; sua habitação, algo mais que um teto; e onde os homens tenham assegurado, na prática, o direito à vida, à felicidade e à diferença.

A praça, juntamente com as ruas, consiste em um dos mais importantes espaços públicos urbanos da história no país, tendo, desde os primeiros tempos da Colônia, desempenhado um papel fundamental no contexto das relações sociais em desenvolvimento. De simples terreiro a sofisticado jardim, de campo de jogos a centro esportivo complexo, a praça é, portanto, um centro, um ponto de convergência da população que a ela acorre para o ócio, para comerciar trocar idéias, e ainda para encontros românticos ou políticos, enfim, para o desempenho da vida urbana ao ar livre.

As praças são de grande importância numa comunidade, sendo fundamental um planejamento urbano adequado e tecnicamente bem executado, seguido de uma manutenção rigorosa, que levam à preservação e satisfação de seus usuários. (SILVA. 2008, p. 2)

É pelo uso que as pessoas fazem de uma praça um espaço importante para o seu dia-a-dia e convívio social. Com o objetivo de impulsionar o desenvolvimento de Campo Verde, a Prefeitura Municipal vem realizando melhorias importantes no Município. O crescimento é visível e para proporcionar mais uma opção de lazer a população campoverdense, o poder 83 público desenvolve um programa de manutenção e renovação dos logradouros públicos.

Na cidade existem três praças onde duas estão localizadas no centro e uma no bairro Campo Real. A Praça João Paulo II, que está sendo reformada desde março de 2009, possui um projeto que vai contar com uma moderna estrutura, o que vai torná-la um dos locais mais belos e frequentados do Município, além, de contribuir para a qualidade de vida dos moradores.

Entre as novidades a principal delas é da Praça João Paulo II (Figura 03) terá uma torre (mirante) de 20 metros onde as pessoas poderão subir e apreciar a cidade. Também vai contar com quiosques, um espaço para funcionamento da Secretaria de Indústria, Comércio e Turismo e um local para atendimento aos turistas.

A Praça 04 de Julho (Figura 04) que leva esse nome devido a data da emancipação do município, foi reformada e agora conta com um quiosque, um parque recreativo para as crianças, bancos novos, mesas para jogos como xadrez e damas e uma iluminação moderna e renovada.

A Praça Airton Senna da Silva (Figura 05) inaugurada em 15 de dezembro de 2005, a única que não se localiza no centro de Campo Verde, encontra-se no bairro Jardim Campo Verde. Possui os mesmos materiais que as outras duas localizadas no centro, mas uma única diferença é que ela foi construída pela administração municipal que reformou as outras duas.

Figura 03: Praça João Paulo II

Fonte: Prefeitura Municipal de Campo Verde. 2009 84 Figura 4: Praça 04 de Julho

Fonte: Prefeitura Municipal de Campo Verde, 2009.

Figura 05: Praça Aírton Senna da Silva

Fonte: Prefeitura Municipal de Campo Verde, 2009

Analisando a opinião dos usuários das praças, pode-se concluir que:

a) Os usuários entre 15-20 anos e acima de 60 representam a maior percentagem com relação ao uso da mesma; 85 b) Em se tratando da beleza das praças conclui-se que a maioria dos usuários as considera como ótimas; c) A praça é um local muito utilizado pela população de várias faixas etárias, em diferentes períodos do dia.

Nas praças de Campo Verde apenas a agricultura familiar do Assentamento 14 de Agosto organiza uma feira para demonstração e degustação de seus produtos no mês de julho. Também, contrariando muitos moradores dos arredores, a Praça João Paulo II é completamente tomada por foliões durante os quatro dias de carnaval.

Nos finais de semana as praças, principalmente a João Paulo II são intensamente utilizadas por jovens à procura de algo diferente e, às vezes, utilizando de muita bebida alcoólica e utilizando de aparelhos sonoros intensos instalados nos veículos, um tipo de competição entre os rapazes para atrair a atenção das moças que ficam na esperança de conseguir o rapaz mais bonito, que possui o melhor carro, melhor som, dentre outras qualidades superficiais.

7.1– O Plano Diretor

A questão urbana sempre foi fator determinante na vida do homem. Definir os caminhos da cidade, em termos globais, regionais e locais, envolve esforços conjuntos, integrados, em busca da qualidade de vida do cidadão.

Por ser um local de constante crescimento populacional e com crescentes investimentos financeiros em atividades urbanas e na própria produção do espaço urbano, a cidade é o cenário principal para as relações e conflitos sociais, com capacidade de interferir em todos os ecossistemas. Sendo assim, o espaço urbano apresenta sérios problemas, principalmente nos países em desenvolvimento, onde há concentração de renda e propriedade, tanto no campo como na cidade, observados nas diversas áreas, como saúde, educação, habitação, transporte, saneamento básico e decorrente desse 86 último, além de outros agravantes, a degradação crescente do meio ambiente (recursos naturais e o meio modificado).

O planejamento urbano não tem apresentado eficiência para construir um modelo renovador capaz de melhorar a qualidade de vida dos moradores de uma cidade. Independente do número de habitantes e do tamanho do município, os problemas sociais e os relacionados ao meio ambiente, no mundo globalizado, atingem a totalidade dos centros urbanos. Dessa forma, o planejamento urbano, como instrumento de ordenamento desses conflitos e organização dos espaços, deve ser voltado às pessoas, retomando as questões da cidadania e da humanidade.

Promover o crescimento ordenado é construir uma paisagem urbana respeitando a rua, o bairro, a cidade. E o Plano Diretor, como instrumento legal do planejamento, com as diretrizes gerais e específicas, deverá conduzir as ações para o caminho do desenvolvimento sustentável, baseado na concepção da cidade humanizada.

Nesse sentido, é preciso compreender que o contexto urbano é um sistema dinâmico de atividades humanas, numa grande variedade de escalas, acontecendo num sistema de ruas, edificações e espaços livres, cuja organização espacial vai abranger um complexo conjunto de diferentes usos da terra, definindo áreas de ocupação como, por exemplo, o centro da cidade, locais de concentração de atividades comerciais, serviços e gestão, áreas industriais e residenciais distintas em forma e conteúdo social, de lazer e, ainda, áreas de reserva para expansão futura.

O espaço urbano torna-se fragmentado e, ao mesmo tempo, articulado, onde cada uma dessas áreas é interdependente entre si, mesmo que em intensidades variáveis e a participação do Estado na organização espacial urbana é também complexa e variável no tempo e no espaço, refletindo a dinâmica da sociedade de qual é parte integrante. No caso brasileiro, o Estado atua diretamente com o industrial, consumidor de espaço e de localizações específicas, proprietário fundiário e promotor imobiliário, sendo também, agente regulador do uso do solo e alvo dos movimentos sociais urbanos. Essa atuação do Estado ocorre em três níveis político-administrativos 87 e espaciais: federal, estadual e municipal, sendo as ações variáveis conforme as dimensões aplicadas e, de acordo com os interesses dominantes; visam criar condições para o processo de acumulação e reprodução das classes sociais e suas frações.

A cidade capitalista é o lugar privilegiado para os processos sociais, onde a acumulação do capital e a reprodução social têm grande importância. Estes processos geram atividades onde sua própria distribuição espacial constitui a organização do espaço urbano. Outro elemento de transformação das formas espaciais são os chamados processos espaciais – ações ao longo do tempo onde os diversos agentes modeladores localizam e re-localizam as atividades e a população da cidade, sendo os responsáveis imediatos pela organização espacial desigual e mutável da cidade capitalista. (NUNES, 2005, p.2)

Observamos que os desafios da gestão urbana estão em considerar novas prioridades, de forma a integrá-las às gestões ambiental, sócio-econômica e cultural; discutir sobre a qualidade de vida dos centros urbanos, dentre os diversos interesses existentes na sociedade, as concepções de desenvolvimento urbano, buscando formas democráticas e participativas de gerir conflitos e possibilitar espaços de cidadania no espaço urbano cada vez mais desgastado; em ordenar o espaço de ambiência, buscando a produção de um espaço urbano mais humano.

Nesse sentido, a aprovação do Estatuto da Cidade representa, para o planejamento urbano e para a gestão das cidades no Brasil, um instrumento específico para corrigir as graves distorções do processo de urbanização do país. É certo que, antes dele, já havia instrumentos que tornavam possível a aplicação das diretrizes e leis contidas no Plano Diretor, para garantir o desenvolvimento urbano equilibrado ou sustentável. Os municípios brasileiros, certamente, perderam seu controle de crescimento por outras causas que não a falta de planos ou leis.

Com o projeto de Lei nº 004/2009 de 03 de agosto de 2009 foi instituído o Plano Diretor de Campo Verde, em conformidade com o Artigo 182 da Constituição Federal e com o objetivo geral da política municipal à valorização do ser humano e para produzir sua sustentabilidade foi necessário o envolvimento da população no âmbito intelectual e cultural e tendo como 88 política municipal a promoção do desenvolvimento local, de forma econômica, cultural, política, social e ambientalmente sustentável com direito universal à moradia digna, aos serviços públicos de qualidade, priorizando os segmentos sociais de menor renda garantindo assim, a distribuição dos benefícios e ônus advindos do processo de urbanização da cidade, transferindo para a coletividade a valorização imobiliária decorrente da ação do Poder Público.

No projeto consta em seu artigo 8º, parágrafo VI a garantia e proteção dos recursos hídricos, assegurando sua função de fornecedor da água para consumo público e como fonte de potencial turístico. Estranho para um município do Centro-Oeste brasileiro localizado em um estado rico em rios mas distante quilômetros do mais próximo considerar potencial turístico.

Em seu parágrafo VII a garantia de melhoria da qualidade de vida da população, assegurando o oferecimento de saneamento ambiental, segurança pública (que é responsabilidade do Estado), infra-estrutura, saúde, educação, áreas verdes e de lazer com equidade territorial fica em aberto devido a infra-estrutura ainda estar sendo implantada nos bairros, porém sem o saneamento básico quando se fala em rede de esgotos sanitários.

Novamente no parágrafo XI que aborda a elevação da qualidade do ambiente urbano por meio da obrigatoriedade da existência de espaços destinados à absorção das águas pluviais, novamente diz respeito a algo que não existe no Município.

Dentro do desenvolvimento socioeconômico urbano e rural a política do Município de Campo Verde articula-se às políticas setoriais, objetivando redução das desigualdades sociais e a melhoria da qualidade de vida da população. Para que se realize tal política de desenvolvimento, o Plano Diretor compromete-se a priorizar as seguintes diretrizes dentro da ação intraurbanas:

Apoio ao acesso à informação sobre os avanços científicos e tecnológicos de interesse da comunidade, bem como a difusão de tecnologias existentes ou alternativas para o incremento das atividades produtivas com incentivo à integração regional, Incentivo à criação e funcionamento das associações de bairros. Não existe nenhuma dessas associações; 89 Apoio e participação nos consórcios intermunicipais visando à criação de infraestrutura necessária à circulação e distribuição da produção. Proibição, em áreas residenciais, da instalação de estabelecimentos que emitem poluição e por fim, a garantia do saneamento básico ambiental.

A forte característica desse Plano Diretor apesar da grande desigualdade em relação à realidade de Campo Verde foi a intensa participação popular, mas o que nos leva a crer que ele nada é mais do que um molde de outro município que então, na tentativa de se encaixar na realidade campoverdense, falha em muitos detalhes.

8 - A industrialização em Campo Verde: o algodão

De acordo com o Plano Diretor, o alcance das diretrizes relativas às atividades da indústria em Campo Verde deverá ser elaborado o Plano Municipal de Desenvolvimento Industrial para abarcar as estratégias que visam estabelecer zonas para a instalação de indústrias nos Distritos Industriais em Campo Verde.

A alienação de terrenos faz-se necessária para a implantação de indústrias dos Distritos Industriais indicados em conformidade com suas características. Tal implantação fez necessários os seguintes incentivos fiscais: isenção de impostos, terraplanagem, ampliação da rede elétrica e telefônica e ampliação da rede da água.

Como não existem políticas para implantação de indústrias o algodão (Figura 06) é a principal matéria prima e as algodoeiras são as principais indústrias locais. Com alta tecnologia e elevados índices de produtividade em relação a outros municípios do estado no período de 2006 fez com que Campo Verde se aventurasse para a indústria de transformação. Com uma grande produção do algodão (Tabela 03) e (Tabela 04) implantados em um raio de 150 quilômetros fazendo do Município auto intitular-se, no mesmo ano, como a capital brasileira do algodão, vencendo muitas barreiras, mas sendo conhecido hoje um grande celeiro produtivo dessa fibra.

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Tabela 03 - Algodão herbáceo por tonelada produzida em 2006

UF Município Tonelada Produzida

MT Campo Verde 314.873

MT Lucas do Rio Verde 57.372

MT Primavera do Leste 188.412

MT Rondonópolis 19.056

MT Sapezal 249.194

MT Sorriso 73.115

Fonte: IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística/2006. Org: Daniel Borges de Souza

Tabela 04 - Algodão herbáceo (em caroço) rendimento médio da produção em quilogramas por hectare - 2006

UF Município Quilogramas por hectare

MT Campo Verde 4.276

MT Lucas do Rio Verde 3.820

MT Primavera do Leste 4.076

MT Rondonópolis 3.127

MT Sapezal 4.023

MT Sorriso 3.465

Fonte: IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística/2006. Org: Daniel Borges de Souza

Segundo o Sr. Luis Alberto Aguilera, engenheiro agrônomo e Coordenador do Departamento Técnico da Cooperfibra, uma das maiores cooperativas de algodão do centro-oeste que possui no total 96 empregos diretos e atualmente com 140 cooperados subdivididos em 75 grupos com as 91 informações do Sr. Luis o algodão começou a ser cultivado em Campo Verde em 1994, quando foram plantados 400 hectares. Desde então, a cultura tem se difundido ano a ano e na última safra 2008/2009 foram plantados 50 mil hectares.

Figura 06: Plantação de algodão (o ouro branco) próximo a área urbana

Fonte: Prefeitura Municipal de Campo Verde - 2009

O “ouro branco” como está sendo chamado atualmente é uma das culturas que hoje mais contribuem para que o município tenha o maior PIB – Produto Interno Bruto agropecuário do Brasil – 753 milhões de reais. Sem fugir do sentido da industrialização Campo Verde, atualmente, possui 17 indústrias algodoeiras de médio e grande porte instaladas no entorno da área urbana do município, dessas 17, três são consideradas as mais modernas do país em operação. A cultura do algodão é responsável pela geração de poucos empregos diretos devido à alta tecnologia implantada que dispensa a mão-de-obra pouco qualificada e muitos indiretos que são tornearias, oficinas para conserto dos veículos das indústrias, dentre outros.

Dentro dessas indústrias existem processos de qualificação onde a fibra é rigorosamente analisada antes da comercialização e a primeira característica avaliada é o aspecto visual da pluma. No entanto, a aparência do algodão é condicionada de acordo com o clima no momento em que é 92 realizada a colheita, isto é, se durante a mesma estiver chovendo, a pluma pode apresentar um aspecto visual de menor qualidade.

Terminado o processo de classificação visual da pluma, o algodão passa pela classificação técnica chamada de HVI, que é um instrumento importante para o processamento de triagem. O HVI realiza uma análise, ou seja, ela mede entre outras características, a resistência, o cumprimento e o índice Micronaire da fibra do algodão. Este indicativo, Micronaire mede a finura, a maturidade, bem como a fiabilidade da fibra. Até agora toda a produção do algodão de Campo Verde tem se enquadrado dentro dos padrões internacionais de qualidade fazendo com que as algodoeiras recebam visitas de técnicos, compradores e investidores de várias partes do mundo como Rússia, Índia, Irã, Estados Unidos, Alemanha e Japão.

Grande parte da produção é vendida para o mercado interno, e o restante ao exterior. Os Estados brasileiros que mais consomem o algodão de Campo Verde são Santa Catarina, São Paulo e Minas Gerais. Já os maiores compradores internacionais do algodão produzido na cooperativa é o mercado asiático sendo o Japão e a China os maiores compradores.

O “ouro branco” de Campo Verde corresponde por mais da metade do PIB agropecuários do município, e devido à fartura de matéria- prima, o município tem potencial para converter a produção em mercadoria o que ainda não e feito. De acordo com o Sr. Luis Alberto Aguilera, Campo Verde, a longo prazo, pode se tornar um polo têxtil e ainda, com orgulho, diz que ninguém supera Campo Verde quando o assunto é produção de algodão, com um clima favorável e produtores com capacidade técnica e competência para produzir cada vez mais. Ou seja, acredita que Campo Verde está preparada para receber indústrias que transformem o algodão em produtos que agregam valor.

Na realidade acredita-se nesse potencial de investimentos para que esse algodão, ao ser produzido no município, possa ser transformado em mercadoria a ser revendida diretamente ao consumidor. Acredita-se que será possível, desde que haja investimentos em mão-de-obra.

O que não foi dito é que a industrialização nem sempre pode ser benéfica para as cidades pequenas como Campo Verde e nas palavras de Furtado (2004, p. 250): 93 Ora, a industrialização vem sempre acompanhada de rápida urbanização, que só pode se efetivar se o setor agrícola responde com uma oferta adequada de alimentos. Se a totalidade das boas terras agrícolas está concentrada em um sistema ancilosado de monocultura, a maior procura de alimentos terá de ser atendida com importações.

No caso de Campo Verde, a maior procura urbana tende a ser satisfeita com alimentos importados de Goiás, Minas Gerais e São Paulo o que contribui para aumentar a disparidade entre salários dos cooperados/fazendeiros de algodão e seus empregados de baixa qualificação.

O que leva ao Sr. Luis Alberto Aguilera desejar que haja uma maior qualificação da mão-de-obra para dar uma melhor agregação de valor ao algodão de Campo Verde seja o retrato do que realmente é a disparidade entre o campo, que exige cada vez mais técnicas modernas, e o urbano que serve de depósito da massa sem qualificação esperando, mesmo que pequena e irrisória, uma oportunidade para fazer parte de um grupo considerado seleto em relação a ganhos salariais e oportunidades nas cidades do agronegócio brasileiro.

Sendo assim, Campo Verde vem sendo um alvo de interessados em trabalhar e “se dar bem” em uma cidade pequena que está repleta de serviços e de oportunidades. Porém, ao reconhecer a verdadeira face do agronegócio, que exclui os menos qualificados e exaltam os engenheiros agrônomos, médicos e até políticos que se aproveitam do apoio de fazendeiros riquíssimos e profissionais liberais que só oferecem de seus serviços mediante o pagamento de quantias elevadíssimas para poucos que se dispõem a pagar.

8.1– A implantação do Grupo Sadia/Perdigão

Em 2005 a área colhida e a produção da cultura de soja entre os anos de 2004 e 2005 (Tabela 05) mostraram a força dessa cultura no estado levando assim, a intenção da empresa Sadia de se instalar no município em 2008. É uma empresa dedicada à introdução de novas funções e, em muitos casos, essas atividades industriais são criadas no bojo da expansão do capital produtivo por meio de filiais localizadas não apenas em grandes e médios centros urbanos, mas também em pequenas cidades em razão de fatores 94 locacionais positivos, entre eles a implantação de infraestrutura e de uma boa força de trabalho “politicamente correta”.

Tabela 05 – Área colhida e produção da cultura de soja em Campo Verde, MT/2004-2005

Município 2004 2005

Área Colhida (ha) Produção (t) Área Colhida (há) Produção (t)

Campo Verde 150.600 429.120 161.206 418.658

Fonte: Anuário estatístico 2005- Org: Daniel Borges de Souza.

As empresas Sadia S.A e Perdigão Agroindustrial S.A, importantes empresas da indústria de carnes brasileira e mundial guardam diversas semelhanças em suas origens, como as datas de início das operações (1939), localização geográfica (cidades de Concórdia e Videira, ambas no oeste catarinense e distantes entre si por menos de duzentos quilômetros), principais atividades de negócios iniciais (abatedouro de suínos e moinho de trigo) e fundadores descendentes de imigrantes italianos (Attílio Fontana e Saul Brandalise, ambos filhos de italianos). Ao longo de suas histórias, as empresas ainda mantiveram comportamentos em comum em seus administradores, como o esforço para o desenvolvimento das vendas para o mercado externo, os investimentos em produção integrada com os criadores locais, a diversificação da avicultura, o transporte de cargas por via aérea, a construção de fábricas de ração e a diversificação para o setor da soja.

Apesar de todas essas semelhanças, há uma importante diferença entre suas histórias. Na primeira Metade da década de 1990, as duas empresas passaram por um período de crise, ocorrendo queda das vendas e do faturamento. Contudo, ao final dessa fase, as empresas apresentaram diferentes destinos. O grupo Sadia teve sua estrutura organizacional alterada, mas com a família do fundador do grupo mantendo o controle acionário. Já o grupo Perdigão entrou em processo de falência, sendo alvo de uma 95 reformulação que resultou em alterações na composição acionária, bem como no quadro diretor.

Um dos maiores desafios do administrador público é gerar emprego e renda, em 17 de março de 2005, o prefeito de Campo Verde Dimorvam Alencar Brescancim com o firme propósito de trazer empresas e indústrias para investir no município, em especial a Sadia, que já se encontra em Campo Verde desde o ano de 1992, realizou uma visita ao escritório Central do Grupo Sadia, onde se encontrou com o presidente Walter Fontana Filho, com o objetivo específico de convencer a empresa a realizar novos investimentos nesta localidade. A empresa, na figura de seu presidente, se entusiasmou com o perfil do município e se comprometeu a fazer uma visita a região e em julho de 2005, executivos da Sadia visitaram Campo Verde, onde constatou a realidade exposta pelo representante do executivo municipal. O local sugerido pára a construção da futura obra está distante 7 quilômetros do centro urbano em rodovia pavimentada (MT 140), e próxima ao Rio das Mortes (Figura 07).

Figura 07: Local das futuras instalações da Sadia em Campo Verde-MT.

Fonte: Daniel Borges de Souza

Definido o local da instalação da empresa, o próximo passo foi a aquisição da área localizada em ponto estratégico, a fazenda Rio das Mortes de propriedade particular. Foi escolhida após decisiva participação do poder público municipal para que houvesse uma redução nos valores. Para tal empreendimento foi criada a Lei nº 1.069/2005, de 03 de agosto de 2005 autorizando o poder executivo municipal a adquirir áreas de terra. 96 Os projetos para implantação do complexo agroindustrial SADIA incluem abatedouro, fábrica de ração, incubatório e granja de matrizes. Todo encaminhado ao órgão ambiental Secretaria Estadual de Meio Ambiente – SEMA e com a licença prévia expedida de imediato, faltando apenas a licença de instalação para o inicio das obras.

8.2 – A preparação da cidade para a implantação do complexo Sadia

O anúncio do investimento da Sadia em Campo Verde (Figura 08), gerando aproximadamente 4.000 empregos diretos e mais de 8.000 indiretos, causaram uma enorme procura de pessoal interessado em se instalar no município. A busca por parte dessas pessoas por oportunidades provocou um crescimento desenfreado no município de pessoal sem qualificação profissional e renegadas pela sociedade local e dessa forma aumentando a criminalidade e os problemas sociais já existentes.

Figura 08 – O anúncio do investimento da Sadia em Campo Verde - MT

Figura 07: Lançamento da pedra fundamental do empreendimento Sadia. Fonte: Prefeitura M. de Campo Verde - 2008

No dia 03 de julho de 2008, com a presença do diretor presidente da Sadia Gilberto Tomazoni, do governador de Mato Grosso Blairo Maggi, do prefeito de Campo Verde Dimorvan Alencar Brescancm e diversas autoridades, a Sadia fez o lançamento da pedra fundamental de início da construção do complexo industrial, com investimentos de aproximadamente 630 milhões de reais 97 Dessa forma, o crescimento acelerado vem causando sérios problemas como na área da saúde, pois o hospital municipal da cidade não suporta, com sua atual estrutura tanto física quanto em equipamentos e pessoal, a quantidade que certamente crescerá nos próximos anos.

Na área de habitação, a oferta de moradias para aluguel, que já era escassa, se tornou insustentável quando se analisam os valores. Na ação social, os programas de atendimento à população carente e aos desempregados não estão surtindo os efeitos desejados, pois estavam estruturados a uma demanda menor.

Não está havendo, na realidade, uma preparação por parte da administração municipal. Sabe-se que ao ser implantado definitivamente o projeto Sadia e assim que estiver funcionando, os serviços públicos entrarão em colapso se nada for feito e na educação, as escolas municipais e estaduais não comportavam a demanda, o que vem ocasionando listas de espera de vagas em todas as unidades e atualmente nada vem sendo preparado para suprir futuros problemas ocasionados pelo aumento da população com o advento de tamanho projeto.

As cidades vêm tentando se adequar diante dos novos papéis e relações espaciais assumidos, seja com a região, pais ou mundo. Apresentam- se, atualmente, mais diferentes, com comodidades e atrativos antes disponíveis nos grandes centros. Ao mesmo tempo, ampliam-se as demandas sociais, aguçadas pelo caráter da economia que não absorve de modo satisfatório a população migrante.

Amora (2007, p. 365) propõe um pensamento a respeito dos novos moradores e as expectativas geradas neste contexto que as atividades comerciais e de prestação de serviços vão fortalecer as cidades ampliando as suas áreas de influência. Cresce o setor educacional, com a instalação de escolas. O asfaltamento das estradas intensifica os fluxos das pequenas para as médias e grandes cidades. Com a presença de mais serviços e comércio.

Uma escola modelo atrativa (Figura 09) está em construção no novo bairro Cidade Alta. Um investimento em torno de R$ 1.388.418.66 para atender a demanda de novos estudantes e, assim, tentar sanar a deficiência educacional gerada pela ”expectativa” da vinda do empreendimento Sadia em Campo Verde. 98

Figura 09: Escola modelo em construção no Bairro Cidade Alta

Fonte: Prefeitura Municipal de Campo Verde - 2009

Em função dos investimentos realizados pelo poder público municipal, criou-se uma situação de desconforto para o município pois foram aplicados recursos próprios e outros captados em parceria com o governo estadual a fim de preparar a cidade para o desenvolvimento previsto. Posteriormente ao anúncio e assinatura do protocolo de intenções, a expectativa se instalou, sendo que o planejamento da administração municipal foi em grande parte incentivado e norteado em função do projeto, prevendo o grande crescimento socioeconômico, tomando por base o grande salto no desenvolvimento ocorrido em Lucas do Rio Verde.

Em abril de 2008, o município de Lucas do Rio Verde passou por grande transformação, provocada, principalmente pela abertura da um frigorífico da Sadia, que tem atraído uma grande quantidade de pessoas em busca de trabalho. Entretanto o alto custo de vida, mais especificamente dos custo de aluguel e alimentação, têm dificultado a vida dos novos moradores (Souza, 2009, p. 213).

Foram realizadas obras estruturais visando desde o aumento de vagas nas escolas, aumento no atendimento da saúde pública até a criação de loteamentos populares para atender a demanda dos funcionários e com esse esforço administrativo a expectativa de crescimento do município.

99 9 – A criação de novos loteamentos e moradias

A criação de loteamentos populares para atender a demanda de funcionários do complexo Sadia vem reforçar um programa habitacional existente (Tabela 06) para atender, também, pessoas de baixa renda que chegaram a cidade em busca de uma perspectiva de moradias que não existiam em suas cidades de origem.

Porém, não somente para atender aos funcionários da Sadia que loteamentos e bairros estão sendo criados pois os atuais bairros como o São Lourenço não suportariam a demanda de mão-de-obra. Então, visando amenizar um problema que preocupa a maior parte das famílias brasileiras, a falta da casa própria, e com o crescimento vertiginoso da população em Campo Verde o poder público vem juntamente com proprietários de terrenos no entorno da área urbana da cidade, criando novos bairros para por em prática a política de luta contra o déficit habitacional. Analisando a produção agrícola do município observa-se uma liderança na produção de soja em grão por tonelada produzida em relação aos outros municípios de Mato Grosso.

A estimativa populacional no estado entre os anos de 2006, 2007 e 2008 (Tabelas 06, 07 e 08) demonstra que Mato Grosso vem contribuindo para o aumento nas exportações agrícolas que alargam o mercado interno, inclusive na agregação de valor a esses produtos, gerando-se mais poupança para financiar investimentos produtivos, e por se tratar de um setor de trabalho intensivo tem grande impacto na geração de emprego. A análise desses efeitos reflete no aumento da população nas cidades do agronegócio do estado.

Apesar de o agronegócio empregar pouca mão-de-obra e sim priorizar, e muito o trabalho especializado as famílias desses empregados são indiretamente beneficiadas na relação emprego direto e indireto gerado pelo agronegócio não somente em Campo Verde, mas em todo o estão de Mato Grosso.

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Tabela 06 - Estimativa Populacional do Estado de Mato Grosso por Município – 2006 – 2007 e 2008

Ano Município População

Cuiabá 542.861

2006 Rondonópolis 169.814

Campo Verde 25.533

Município População

Cuiabá 526.831

2007 Rondonópolis 172.783

Campo Verde 25.924

Município População

Cuiabá 544.737

2008 Rondonópolis 179.094

Campo Verde 27.151

Fonte: IBGE – Contagem Populacional 2006,2007 e 2008/SEPLAN/MT. ORG: Daniel Borges de Souza

Em 2006 foi criado o loteamento popular Cidade Alta e São Miguel, projetos inéditos e inovadores em parceria com a iniciativa privada. Numa área de 67 hectares distribuídos a população de baixa renda do município que conta com a infraestrutura básica: água e energia elétrica. (Figura 11).

101 Figura 11 – Loteamento Popular Cidade Alta

Figura 11: Loteamento popular Cidade Alta.

Fonte: Prefeitura Municipal de Campo Verde/2007 – Org: Daniel Borges de Souza

Tabela 07 – Programa habitacional entre 2005 e 2009

Período Benefícios Local Beneficiados

2005 100 Unidades Habitacionais Residencial Cuiabá Famílias de Baixa Renda

2006 105 Unidades Habitacionais Bom C lima Famílias de Baixa Renda

2006 36 Lotes Recanto do Bosque II Famílias de Baixa Renda

2006 06 Unidades Habitacionais PNE – São Lourenço Portadores de Neces. Especiais

2006 808 Lotes Populares Cidade Alta Famílias de Baixa Renda

2007 75 Casas Financiadas Zona Urbana Renda Até R$ 1.875,00

2007 200 Unidades Habitacionais Cidade Alta Famílias de Baixa Renda

2008 63 Unidades Habitacionais Cidade Alta Até 03 Salários Mínimos

2008 748 Lotes Populares Zona urbana Até 03 Salários Mínimos

PREVISÃO PARA O 1º SEMESTRE DE 2009

2009 156 Unidades Habitacionais Cidade Alta Até 03 Salários Mínimos Fonte: Prefeitura Municipal de Campo Verde/2009. Org: Daniel Borges de Souza

Os investimentos executados para estruturar a habitação no município de Campo Verde são da ordem de mais de dois milhões de reais 102 (Tabela 08) e englobam a construção da unidades habitacionais e aquisição de terrenos, o que enche de orgulha grande parte da população que se encontrava nas mão dos proprietários de imóveis na maioria sem escrúpulos para com a cobrança de aluguéis.

Tabela 08 – Investimentos na Habitação em Campo Verde 2005 a 2008.

INVESTIMENTOS NA HABITAÇÃO EM CAMPO VERDE 2005 2006 2007 2008

Construção Casas Populares 37.125,85 17.940,00

179.282,30 Aquisição de Área p/ loteamento 215.002,00 364.998,00

Const. Casas Pop. c/ rec. Convênio 186.938,33 241.223,20

Const. Casas Pop. c/ rec. Convênio 376.702,04 400.000,00

1.006.221,2 TOTAL 778.642,37 0 37.125,85 197.222,30

INVESTIMENTO PERÍODO DE 2005/2008 R$ 2.019.211,60

Fonte: Prefeitura Municipal de Campo Verde. Organizado por: Daniel Borges de Souza.

Porém, em outubro de 2008 um cenário de grande turbulência internacional, os impactos dela nos resultados da Sadia e as incertezas sobre os seus desdobramentos futuros fez com que a Sadia reavaliasse todos os investimentos para os próximos anos e assim paralisando temporariamente os investimentos em Campo Verde.

103

Considerações Finais

Dos dados obtidos nessa pesquisa, apoiados pelo referencial teórico-metodológico, pelas observações em campo e a análise das entrevistas, foram realizadas as seguintes considerações:

Em Campo Verde, como em outras cidades do agronegócio, a vida encontra dificuldades diferenciadas. Não existem engarrafamentos, mas existem problemas de trânsito, não existem praças vitimadas por vândalos.

Existe um complexo relacionamento entre a população e o poder público onde uma relação de dependência, por parte da população, extrapola o nível aceitável. Nem melhorando o déficit habitacional, a educação, saúde e outros serviços públicos a população se sente satisfeita. Morar em Campo Verde é, antes de tudo, vivenciar o sujo e o limpo, o feio e o bonito tudo dentro da mesma cidade.

Em Campo Verde seus moradores, suas empresas, seus colaboradores e também aqueles que não gostam dela. Os defeitos e qualidades da cidade são um forte atrativo e um forte “repelente” para que deseja vivenciar os espaços da cidade.

A observação das deficiências de infraestrutura na urbano em detrimento da força técnica no campo leva a rever que várias áreas foram plenamente incorporadas à produção globalizada de produtos agropecuários industrializados e em Campo Verde verifica-se a difusão do agronegócio e onde processa-se uma reestruturação da economia e do espaço, resultando no incremento da urbanização, especialmente associado ao crescimento do consumo produtivo, da migração, e do mercado de trabalho.

Observa-se um novo sistema urbano reestruturado no território, muito mais complexo, resultado da difusão da agricultura mecanizada/científica e do agronegócio globalizado, que tem poder de impor especializações. E sem dúvida, o impacto de todas essas transformações técnicas, econômicas e sociais na dinâmica populacional e na estrutura demográfica é intenso. 104 Não é apenas a cidade que tem força para Receber e emitir numerosos e variados fluxos. Hoje, muitas das atividades realizadas no campo são não necessariamente agrícolas, mas industriais, visto que uma parte considerável das agroindústrias localiza-se no campo.

Feita uma análise do que ocorre no campo o urbano tenta se enquadrar para atender às necessidades impostas pela força técnica e científica do campo. Nem sempre o urbano está preparado para se adequar a tão forte imposição. E a cidade é um lócus desses acontecimentos. Desde adequação infraestrutural até a adequação pessoal são encontrados problemas que necessitam ser sanados ou as dificuldades de adaptação se perdurará e o poder público vem tentando fazer sua parte, e com poucos resultados positivos, essa adequação vem se “encaixando” com o passar dos anos.

Assim, as tentativas de fazer o urbano se identificar com o que é moderno no urbano vem sendo implantado como o projeto cidade digital e as melhorias na estrutura urbana para a implantação de indústrias de grande porte como a Sadia.

Estudar o urbano vem ao encontro com estudar o espaço público como as praças, vias e logradouros. Foi uma tentativa de inserir esta temática nos estudos geográficos e tal trabalho na cidade de Campo Verde não termina, lançam um novo olhar, novas indagações. Solucionar os problemas do urbano com políticas públicas adequadas não funcionaria sem a participação da sociedade em questão. A participação de cada cidadão nas decisões que levam a cidade, o espaço público e o urbano a um futuro é importante. Silenciar-se com o que ocorre de negativo na cidade é contentar-se com o statu quo de uma cidade cheia de deficiências e certamente outras indagações surgirão e questionar será o principal motivo para silenciar certas inquietações.

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