O Processo De Formação Do Reino Das Astúrias (Dos Séculos Viii Ao X)
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1 UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO DE ESTUDOS GERAIS INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA ÁREA DE HISTÓRIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA BRUNO DE MELO OLIVEIRA REORGANIZAÇÃO POLÍTICA NORTENHA: O PROCESSO DE FORMAÇÃO DO REINO DAS ASTÚRIAS (DOS SÉCULOS VIII AO X) NITERÓI 2010 2 BRUNO DE MELO OLIVEIRA REORGANIZAÇÃO POLÍTICA NORTENHA: o processo de formação do Reino das Astúrias (dos séculos VIII ao X) Defesa da Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História. Orientador: Prof. Dr. MÁRIO JORGE DA MOTTA BASTOS, do Programa de Pós- Graduação em História da Universidade Federal Fluminense. Co-orientadora: Prof. ª Dr. ª LÍVIA LINDÓIA PAES BARRETO, do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Universidade Federal Fluminense. NITERÓI 2010 3 REORGANIZAÇÃO POLÍTICA NORTENHA: o processo de formação do Reino das Astúrias (dos séculos VIII ao X) Defesa da Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História. BANCA EXAMINADORA: Prof. Dr. Mário Jorge da Motta Bastos (UFF) Orientador Prof. ª Dr. ª Lívia Lindóia Paes Barreto Co-Orientadora (UFF) Prof. Dr. Edmar Checon de Freitas (UFF) Prof.ª Dr.ª Renata Vereza (UFF) Prof.ª Dr.ª Leila Rodrigues da Silva (UFRJ) Prof.ª Dr.ª. Maria do Carmo Parente Santos (UERJ) Niterói 2010 4 ―— O poder não é um distintivo e nem uma arma. Poder é mentir. Mentir muito e fazer o mundo ficar do seu lado. Quando todos crêem em algo que no fundo sabem que é mentira, você os conquistou‖. Senador Roark, personagem do filme Sin City. 5 À minha família e aos meus amigos, por estarem sempre presentes em todas as horas. Principalmente, nestes últimos e difíceis momentos do Doutorado. 6 AGRADECIMENTOS Os agradecimentos aqui presentes compõem o encerramento de um ciclo de 10 anos como estudante da Universidade Federal Fluminense, mais precisamente como integrante do corpo discente da Graduação e da Pós-Graduação (Mestrado e Doutorado). Minhas peripécias, iniciadas em setembro de 1999, obviamente, não foram experimentadas sozinhas, mas foram fruto direto da interação com diversos indivíduos até este mês de abril do ano de 2010. Tive a oportunidade e a honra de conhecer pessoas para além do âmbito acadêmico, para além da cadeira de História, para além da Faculdade de Letras, para além da Xerox. Agradeço sinceramente à minha família brasileira, à minha família chinesa, aos meus afilhados, aos fãs do Rush, do Misfits, do MötorHead, do Iron Maiden e afins, aos membros do Magilis, aos Nobres Garotos e Garotas, às Dançarinas dos Sete Véus, à Velha-Guarda dos Estudos Medievais (2002-2005), à família da Xerox, aos alunos da turma 2º./1999 (Noite) e àqueles que freqüentaram o Vestibular do Chopp (com sua pizza), o Tio Cotó e o antigo Bar da Elvira (lembrem-se do Cocoon!). Agradeço também aos meus orientadores e aos professores que me auxiliaram na condução desta longa e sinuosa estrada chamada Estudos Medievais. Agradeço ao CAPES pelo financiamento de minha bolsa de Doutorado. 7 RESUMO: A intenção central desta pesquisa é analisar a constituição do Reino das Astúrias entre os anos 711 e 910, identificando sua estruturação enquanto entidade político-territorial surgida após a fragmentação do Reino Visigodo de Toledo. Intentaremos constatar que o reino nortenho não foi tão somente a continuidade da realidade precedente, nem tampouco uma ruptura radical, mas algo que conjugou tradição e renovação política. Para isto, concentramo-nos nos primeiros passos do nascente reino e na identificação da relação entre a sua monarquia e setores aristocráticos laicos e religiosos, grupos que cooperavam imediatamente com as ações perpetradas pelos jovens reis asturianos ou que resistiam aos desígnios destes. Além destas referências contidas no interior do território que veio a pertencer aos soberanos asturianos, agregamos ainda um fator de não pouca importância: a pressão exercida pelos exércitos emirais. Portanto, a interação de elementos internos e externos delimitou também a construção política nortenha. Trabalhando com fontes narrativas latinas e muçulmanas, documentação notarial e epigráfica, procuramos rastrear as transformações, desde a revolta de Pelágio, em 718, até o final do reinado de Afonso III, em 910. 8 RESUMÉN: La intención central de esta pesquisa es analizar la constitución del Reino de Asturias entre los años 711 e 910, identificando su estructuración mientras entidad político-territorial surgida tras la fragmentación del Reino Visigodo de Toledo. Intentaremos constatar que el reino norteño no fue solamente la continuación de la realidad precedente, ni tampoco una ruptura radical, pero algo que conjugó tradición y renovación política. Para esto, nos concentraremos en los primeros pasos del naciente reino y en la identificación de la relación entre su monarquía y sectores aristocráticos laicos y religiosos, grupos que cooperaban inmediatamente con las acciones perpetradas por los jóvenes reyes asturianos o que resistían a los designios de estos. Además de estas referencias contenidas en el interior del territorio que ha venido a pertenecer a los soberanos asturianos, agregamos todavía un factor de gran importancia: la presión ejercida por los ejércitos emirales. Por tanto, la interacción de elementos internos y externos ha delimitado también la construcción política norteña. Trabajando con fontes narrativas latinas e musulmanas, documentación notarial y epigráfica, procuramos rastrear las transformaciones, desde la rebelión de Pelayo, en 718, hasta el final del reinado de Alfonso III, en 910. 9 SUMÁRIO: Introdução, p. 11. 1. HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA ASTURIANAS, p. 21. 1.1. Sobre a história e algumas de suas funções, p. 21. 1.2. Identificando as primeiras crônicas da Reconquista, p. 24. 1.3. O mito fundador asturiano e os redatores das crônicas de Reconquista, p. 31. 1.4. O mito fundador asturiano como um esforço pró-monárquico, p. 48. 1.5. Identificação de um cenário cultural, p, 58. 1.6. Consolidando uma imagem, p. 68. 2. OS PRIMÓRDIOS DA ORGANIZAÇÃO POLÍTICA ASTURIANA, p. 74. 2.1. Considerações iniciais, p. 74. 2.2. Ruína de um cenário e o aparecimento de outro, p. 75. 2.3. Sobre os primórdios da dominação muçulmana na Península Ibérica, p. 92. 2.4. Formação de um novo cenário no Norte da Península Ibérica, p. 102. 2.5. Articulação em torno de uma liderança, p. 115. 2.6. Para além da fronteira meridional, p. 124. 3. CRISTALIZAÇÃO DE UM CENÁRIO POLÍTICO, p. 138. 3.1. Considerando novas modificações no fazer político asturiano, p. 138. 3.2. Demandas internas de um território em formação, p. 139. 3.3. Nova mutação: reconhecimento e disputa pela titulatura régia, p. 156. 3.4. As lideranças políticas asturianas e a legitimação pelo sagrado, p. 169. 3.5. Legitimação política e religiosa, p. 175. 3.6. Sepultamentos régios: memória funerária como expressão de poder, p. 187. 3.7. Primeiros sinais da consolidação da instituição monárquica asturiana,p. 193. 4. CONFIGURAÇÃO DO NÚCLEO OVETENSE, p. 200. 4.1. Reconhecimento dos fundamentos da autoridade asturiana, p. 200. 4.2. Acerca das desigualdades sociais nas Astúrias, p. 206. 4.3. Mais vínculos entre a religião e a monarquia asturiana, p. 215. 4.4. Edificação de uma monarquia, p. 232 4.5. Retomada da expansão territorial e identificação da cooperação política, p. 246. 10 5. DELIMITAÇÃO DE UM REINO , P. 257. 5.1. Consolidação de uma entidade política, p. 257. 5.2. Refletindo sobre a natureza dos cartulários asturianos, p. 260. 5.3. (Re)construindo um aparelho de intervenção social, p. 271. 5.4. Usurpação, distribuição e autoridade, p. 295. 5.5. Política externa asturiana, p. 304. CONCLUSÃO, p. 311. BIBLIOGRAFIA, p. 322. ANEXOS, p. 331. Anexo 1: Lista de reis, p. 331. Anexo 2: Mapas, p. 332. Anexo 3: Imagens, p. 337. 11 INTRODUÇÃO: Nossa pesquisa visa analisar o processo de constituição e de consolidação do Reino das Astúrias. Tomamos como ponto de partida a invasão muçulmana de 711 e a conseqüente desagregação do Reino dos Visigodos, marco de fundamental importância para se compreender a formação de uma nova entidade político-territorial nas terras do Norte da Península Ibérica. Os sucessos das expedições lideradas pelo general muçulmano Tariq Ibn Ziyad desarticularam as estruturas políticas do reino toledano e lançaram os fundamentos para a construção, em boa parte do território da península, de um poder político árabe submetido ao Califado Omíada, em um primeiro momento, e ao Califado Abássida, em seguida. A desagregação do Reino dos Visigodos fez concluir o longo período de conflitos internos e sucessivos golpes de estado vivenciados por esta estrutura política romano-germânica1. A ausência de uma autoridade monárquica dispersou os membros da aristocracia visigoda, que acabaram por tomar diferentes atitudes diante do invasor vitorioso. A própria origem da irrupção islâmica em solo ibérico remontaria a um quase lendário pedido de auxílio de uma parcela da alta aristocracia visigótica em meio a mais uma contenda pelo trono, representada pelo conde Julião. Após a morte do rei Rodrigo em campo de batalha e o êxito das incursões árabes e berberes, muitos aristocratas ibéricos esforçaram-se por preservar seus patrimônios e privilégios, costurando pactos com os vencedores. Em meio a confrontos, sublevações reprimidas e fugas, outra postura passou a sobressair: a resistência à invasão promovida em regiões montanhosas. Crônicas árabes e cristãs relatam o sucesso desta oposição que não contava apenas com os habitantes originais dessas regiões, mas também com refugiados de diversas partes da Hispânia. Foi neste contexto amplo que se manifestaria o embrião de uma nova estrutura política cristã. Queremos dizer que uma parcela das terras ibéricas, nas zonas montanhosas dos Pirineus e na porção do Noroeste peninsular permaneceu à margem do domínio dos califas e, posteriormente, dos emires muçulmanos. Segundo alguns historiadores, os territórios situados no interior da Cordilheira Cantábrica mantiveram uma vigorosa tradição de insubmissão às investidas de conquistadores diversos, fossem eles romanos ou visigodos, e por isso prosseguiram com suas manifestações de rebeldia frente à autoridade islâmica2.