História Oliveira
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L. Gonzaga da Fonseca HISTÓRIA D E OLIVEIRA 1 9 6 1 EDIÇÃO-CENTENÁRIO 1 2 “… terra das moças bonitas!” 3 4 Para estas criaturas que enfeitam os meus dias: Yone, Maria Luísa, Rosana …e para meus irmãos, especialmente você, Saria. 5 6 Em memória de meu pai João Antônio da Fonseca fazendeiro que consumiu sua vida no pioneirismo ru- ral do Oeste mineiro. minha mãe Maria Genoveva da Fonseca que sempre acompanhou meus esforços, principal- mente os da confecção dêste livro, e que, até à morte, sempre desejou conhecer Oliveira. quem me chamou para Oliveira e aí me foi o amigo de todas as horas: padre José Ferreira de Carvalho. 7 Honradamente Ao historiador João Dornas Filho, em cujos trabalhos de pesquisa histórica, iniciados sobre a própria cidade natal, Itaúna, hauriu este seu conterrâneo a coragem de perpetrar este livro sôbre Oliveira; ao deputado Nélson Ferreira Leite, pela iniciativa e patrocínio desta Edição-Centenário; a Helvécio Silveira, pela concepção da capa e a Eurico Santos, pela paciência com que redatilografou os originais atualizados; aos atualizadores dr. Honório Silveira Neto e dr. Geraldo Ribeiro de Barros: ao primeiro, pelos apontamentos de 1942 a 1954; ao segundo, pelos de então até nossos dias, acrescidos ainda da sua assistência técnica na paginação, revisão, coleta de fotos, mapa, fac-símiles, confecção de clichês e legendas; a ambos, enfim, pelo prefácio, biografia do livro e do autor, bem como pelas suas reiteradas campanhas na imprensa contra o esquecimento a que vinha, há dezenove anos, sendo relegada esta humilde obra; por iguais campanhas e interesse, ao bravo jornal oliveirense Gazeta de Minas, ao seu colunista Oliva, ao Prefeito Municipal e à Câmara de Vereadores de Oliveira, na administração e legislatura assim do período atual como principalmente do de 1952-55; a quantos, direta ou indiretamente, contribuíram já nas pesquisas arquivais e informações orais ou cessão de fotos, já na publicação e difusão dêste livro – e especialmente ao leitor, pela sua leitura e crítica esclarecida: agradecimentos sinceros, extensivos ao editor Bernardo Álvares, aqui apresenta o AUTOR. 8 • Notícia Histórica • Estatísticas • Aspectos Pitorescos • Biografias • Folclore 9 PALAVRAS DE SAINT-HILAIRE EM 1819 “Tempo virá em que cidades florescentes tomarão o lugar das miseráveis choupanas nas quais eu mal podia encontrar abrigo, e então os habitantes gozarão de uma vantagem que raramente se tem na Europa. Admirar-se-á de saber que, onde então estiverem localizadas cidades ricas e populosas, não havia mais do que uma ou duas casinhas quase iguais à choça do selvagem”. 10 Este Livro Não nos conformávamos a que continuasse indefini- damente inédita uma obra de tão alta significação cultural. Concluídos em 1942, após árdua pesquisa iniciada em 1938, os originais deste livro foram, então, pacientemente datilografados e encadernados pelo autor que, decepcionado, os trazia na gaveta, à espera de quem os publicasse. Doze anos depois, por motivos de ordem cultural, educativa e sentimental, levávamos a termo uma campanha contra esse esquecimento e essa injustiça. Por que, afinal, não se editavam os originais da história de nossa terra? Através da imprensa, particularmente dos jornais A Lanterna e Gazeta de Minas , vínhamos concitando auto- ridades e povo de Oliveira a que promovessem a publicação do livro do professor Gonzaga da Fonseca. Tínhamos presentes, então, aquelas palavras do his- toriador Nélson de Sena: – “Desde a escola primária, con- vém ensinar à juventude mineira a se interessar pelos ne- gócios de seu cantão, de seu burgo, da sua aldeia ou cidade; daí, do perfeito conhecimento do seu município, é que o pequeno cidadão irá evoluindo o próprio espírito e a inteli- gência, para melhor conhecer e amar a Pátria Grande – que é o Brasil”. Coroados de êxito os nossos esforços, conseguimos pelo menos isto: que os poderes municipais, na administra- ção José Silveira, em 4 de setembro de 1954, mercê da lei municipal 325, de 8 de fevereiro do mesmo ano, adquirissem do autor os direitos editoriais por trinta mil cruzeiros, com a obrigação de, no prazo de cinco anos, promoverem a publicação da obra. Entregues à Prefeitura, sob essa condi- 11 ção, os originais, fomos simultaneamente encarregados de lhes adicionar, com aprovação do autor, os fatos locais advindos nos doze anos já decorridos. Carência de verba e – por que não dizê-lo? – injun- ções políticas oriundas da natural mutação dos quadros administrativos locais retardaram novamente a publicação.(*) Sete anos depois, nova campanha nossa. E eis que, outra vez acrescida de novos dados, sai agora editada a obra do professor Gonzaga da Fonseca. Cumpre assinalar que isto ocorre na administração Francisco Cambraia de Cam- pos, a quem devemos, como anteriormente com o prefeito José Silveira, a ressonância aos nossos apelos de 1954. Se naquela época tivemos o apoio do dr. Efigênio Salgado dos Santos, do professor Paulo Paulino de Carvalho e dos de- mais vereadores da câmara municipal de então – hoje, sob o estímulo do deputado Nélson Ferreira Leite, pomos fim à “sinfonia inacabada” da publicação da História de Oliveira. Urgia que isto disséssemos, para ficar explicada muita cousa à margem desta história, inclusive a autenticidade dos nossos acréscimos imparciais, por sinal ratificados pelo próprio autor. A este é que devemos a amplitude e a pro- fundidade da obra realizada; nosso é apenas o modesto tra- balho dos acréscimos e das campanhas pela sua publicação. Trabalho feito de boa vontade, sim, mas obstado pela in- compreensão de muitos a quem debalde recorremos para colher dados mais precisos e necessários para complementar o livro. Longe de julgar completa a sua obra, o autor, assim como aceitou adendos, espera que ela desperte, para o futuro, o interesse pela pesquisa histórica no município, como, por exemplo, a genealogia das antigas famílias locais, os roteiros primevos, as picadas dos pioneiros e a sugestão de certos topônimos circunvizinhos. Nisto estará a melhor recompensa ao seu exaustivo trabalho. (*) Ver Nota Final, pág. 447 . 12 Vivendo a cidade durante os quase sete anos em que lecionou o idioma nacional no Ginásio Mineiro “'Prof. Pi- nheiro Campos”, o autor estranhava existir entre as antigas cidades mineiras uma que não possuía, editada, uma histó- na orgânica e atual. Daí, a sua resolução de dotá-la de “um documentário que lhe descortinasse, para o porvir, todas as suas dimensões no tempo, na sua paisagem e na sensibili- dade de seus filhos. É que – dizia-nos ele em entrevista pessoal – a marcha civilizadora, de impulso em impulso, irá transfigurando a face das cousas mais familiares em novos quadros de vivência e estruturação. Era preciso, portanto, que alguém endereçasse, por escrito, à falível memória dos vindouros, como mensagem de fé, reencorajamento e civismo a visão retrospectiva de quantos viveram, sonha- ram e sofreram por esse solo e por essa gente”. Este, o motivo por que não fez apenas história, em sentido estrito. Fez muito mais. Além de nos estruturar um filosofia da história local, dourou-a de poesia e de calor humano. Colheu elementos do folclore, da lenda, da tradição e até do anedotário local, o que justifica os quatro anos que gastou, sozinho e sem qualquer ajuda oficial, a elaborar a obra, em longas vigílias sobre velhos alfarrábios. Da bibliografia compulsada, é bom lembrar que, só de antigos jornais oliveirenses, leu mais de três mil, um de cada tiragem. Soube extrair deles e de centenas de códices da história colonial aquele cerne a que ajuntou o sabor ameno da informação oral. Se, de um lado, a obra assume aspectos científicos – de outro, ela se ameniza de pitorescos. História é vivência . Nem tudo está nos documentos amarelecidos dos arquivos . Muita cousa se transmite oral- mente de geração em geração. As lendas de um povo também explicam muito da sua psicologia. Além disso, a História de Oliveira transborda do âmbito territorial da comuna por apresentar, em parte, a própria evolução geo-econômica da civilização mineira. 13 É em torno do município que, desde os primeiros tempos, vem gravitando a própria vida brasileira. E esse sentido comunitário da sociedade nacional, Oliveira o tem vivido intensa e profundamente. Ler a História de Oliveira é, sem dúvida, ler fatias da própria história pátria. Grande é, pois, a satisfação com que entregamos êste livro aos leitores, especialmente aos oliveirenses – natos ou adotivos –, justamente quando nossa terra comemora o centenário de sua elevação à categoria de cidade. Oliveira, setembro de 1961 Silveira Neto Geraldo Ribeiro 14 VERSOS A OLIVEIRA Belmiro Braga Bendigo as ditosas plagas, Berço de honrados mineiros. Terra dos Castros, dos Chagas, Dos Lobatos, dos Ribeiros. A estes — nas meias tintas Da saudade — o meu afeto: Quatro famílias distintas. Quatro esteios de um só teto. Costas Pereira, Diniz. Bernardes, Mouras, Andrades. Pinheiros, Olímpio, Assis, Mendes, Leites, mil saudades! Tendo os olhos rasos dágua. Com pesar lastimo aqui: Se foi para sofrer mágoa, Para que vos conheci? Foram-me as horas benditas Em vossa terra feliz: das moças bonitas, Terra dos homens gentis! E agora penso também: Abençoada a canseira De todo aquele que vem Buscando a vossa Oliveira! Oliveira, abril de 1910 15 16 CAPÍTULO I PRÉ-HISTÓRIA DO OESTE Primórdios – Primitivos habitantes — O primeiro homem branco – A "Picada de Goiás" e os primeiros caminhos — O destino econômico das picadas e a debandada para o Oeste. PRIMÓRDIOS Oliveira é filha duma encruzilhada. O que equivale a dizer que ela é filha da sua própria geografia: um entroncamento de caminhos provocou, pelo romércio e pelo cultivo do solo. o aparecimento do lugar. É uma das poucas cidades mineiras, cuja fundação não se liga à presença do ouro ou de gemas preciosas. Situada no Oeste mineiro, na zona do Campo ou Serra Acima, ocupa sua área territorial a acidentada região entre as primeiras vertentes do rio Grande, ao Sul.