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Argumentum E-ISSN: 2176-9575 [email protected] Universidade Federal do Espírito Santo Brasil

RODRIGUES, Sandro Eduardo; Rocha BESERRA, Fernando Drogas pesadas em discussão no Primeiro Seminário sobre Psicodélicos do Rio de Janeiro Argumentum, vol. 7, núm. 1, enero-julio, 2015, pp. 108-125 Universidade Federal do Espírito Santo Vitória, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=475547144010

Como citar este artigo Número completo Sistema de Informação Científica Mais artigos Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Home da revista no Redalyc Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto DOI: http://dx.doi.org/10.18315/argumentum.v7i1.9053

ARTIGO

Drogas pesadas em discussão no Primeiro Seminário sobre Psicodélicos do Rio de Janeiro

Hard Drugs under discussion at the First Seminar about Psychedelic Drugs in Rio de Janeiro

Sandro Eduardo RODRIGUES1 Fernando Rocha BESERRA2

Resumo: O artigo problematiza a produção de danos pelo modo como o proibicionismo vem abordando a relação humana com substâncias psicodélicas, que levou à necessidade de promoção de um debate clínico- político, realizado através do Primeiro Seminário sobre Psicodélicos do Rio de Janeiro. Com base em tal de- bate, o texto introduz uma terminologia sobre psicodelia e apresenta alguns aspectos da história de dois fármacos psicodélicos – o LSD e o MDMA – que colocam em xeque notícias de surgimento de novas drogas pesadas ou perigosas em si mesmas. Apostando na redução de danos como paradigma e diretriz das políti- cas de cuidado, o seminário ressaltou a necessidade urgente de se dar relevo aos aspectos pessoais (set) e ambientais (setting) na determinação da qualidade das experiências de usuários de drogas. Palavras-chave: Drogas psicodélicas. Redução de danos. Políticas sobre drogas.

Abstract: The article examines the harms caused by the way how the prohibitionism has been approaching the human relationship with psychedelic substances, which has led to the necessity of promoting a clinical and political debate, carried out through the First Seminar about Psychedelic Drugs in Rio de Janeiro. Based on such debate, the text introduces a terminology about and presents some historical aspects of two psychedelic drugs – LSD and MDMA – that raise doubts about reports regarding the advent of new hard or inherently dangerous drugs. Relying on minimizing damages as a paradigm and guideline of care policies, the seminar highlights the urgency of acknowledging the individual (set) and environmental (set- ting) aspects when determining the quality of the drugs users' experiences. Keywords:Psychedelic drugs. Harm reduction. Drug policies.

Submetido em: 30/01/2015. Aceito em: 28/04/2015.

1 Doutor em Psicologia pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal Fluminense (UFF, Brasil). Pesquisador do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos (NEIP, Brasil), integrante da Frente Estadual Drogas e Direitos Humanos do Rio de Janeiro (FEDDH-RJ, Brasil) e organizador da Ala Psicodélica da Marcha da Maconha (RJ). E-mail: . 2 Mestre em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP, Brasil). Professor do Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro (ISERJ, Brasil), pesquisador do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos (NEIP, Brasil), integrante da Frente Estadual Drogas e Direitos Humanos do Rio de Janeiro (FEDDH-RJ, Brasil) e organizador da Ala Psicodélica da Marcha da Maconha (RJ). E- mail: . 108 Argumentum, Vitória (ES), v. 7, n.1, p. 108-125, jan./jun. 2015. Sandro Eduardo RODRIGUES; Fernando Rocha BESERRA

Introdução ilícito há cerca de trinta anos, e onze feneti- laminas da família 25xNBOMe (25iNBOMe, m 26 de novembro de 2014 foi reali- 25cNBOMe, 25eNBOMe etc), usualmente zado, no Instituto Superior de Edu- vendidas como se fossem o LSD, proscri- E cação do Rio de Janeiro (ISERJ), o I tohá cerca de quarenta anos. Em setembro Seminário sobre Psicodélicos-RJ, com a pre- um estudante da Universidade de São Pau- sença de pesquisadores, profissionais e ati- lo morreu afogado durante uma festa, ten- vistas do campo das drogas tornadas ilícitas do o laudo do Instituto Médico Legal (IML) pelo proibicionismo. O evento contou com identificado a presença, em seu sangue, de uma abertura e duas mesas: a primeira, Psi- um nanograma por mililitro de 25bNBOMe codélicos e Redução de Danos, teve a partici- (MAIS..., 2014). O momento se mostrou ur- pação do músico e psicólogo Sandro Rodri- gente para a realização de um seminário, gues e dos cientistas sociais e redutores de visando levantar questões como a da abor- danos Dênis Petuco e Tiago Coutinho, além dagem proibicionista que prevalece na dos fotógrafos do site Mundo Cogumelo, grande mídia, com foco exclusivo em danos Rafael Beraldo e Danyel Sylvestre; a mesa associados ao consumo e na repressão ao Psicodélicos e políticas de drogas contou com a comércio, causando grande desinformação presença do psicólogo Fernando Beserra, de e a banalização do tema (GORGULHO, uma das organizadoras da Ala Feminista da 2006). Marcha da Maconha do Rio de Janeiro, Thamires Regina, do integrante da Frente Levantamentos realizados nos últimos dez Estadual Drogas e Direitos Humanos do anos (BRASIL, 2005; RONZANI et al., 2009) Rio de Janeiro (FEDDH-RJ), Rodrigo Mat- indicam uma incompatibilidade entre o tei, e do vereador Renato Cinco (PSOL-RJ). enfoque editorial predominante na impren- O evento, organizado pelos presentes auto- sa brasileira e a realidade do consumo de res, foi motivado por notícias alarmantes na drogas ilícitas no país, em que pese a in- mídia e políticas proibicionistas envolven- fluência da mídia na produção não apenas do novas drogas sintéticas. de crenças sobre as substâncias, mas tam- bém da política de drogas cunhada no le- Em 16 de fevereiro de 2014 foi transmitida gislativo (VIANNA, 2014). Este problema pela televisão uma reportagem sobre novas não é de modo algum exclusivo da impren- drogas muito perigosas (BRECHA..., 2014), sa brasileira. Desde os anos 1960, a mídia começando a circular no mercado ilícito dos Estados Unidos, país que declarou mais brasileiro como se fossem “balas” (compri- de uma vez guerra mundial às drogas, se- midos de ecstasy, cujo princípio ativo é o guida pela mídia dos demais países signa- MDMA) e “doces” (cartelas de “ácido”, cu- tários dos acordos proibicionistas internaci- jo princípio ativo é o LSD-25). Dois dias onais capitaneados pelos norte-americanos, depois o título de uma matéria da mídia tem, ainda que com altos e baixos, constan- impressa anunciava: Anvisa proíbe a comerci- temente promovido um verdadeiro pânico alização de 21 novas drogas(ANVISA, 2014), moral em relação a substâncias específicas dentre as quais a metilona, usualmente como, por exemplo, a maconha, a cocaína e vendida como MDMA, fármaco tornado o crack, sendo que tal sensação, junto com

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as soluções simplistas propostas, incita a o LSD, os cogumelos Psylocibe e Amanita população a pedir cada vez mais o endure- muscaria, a , a anahuasca, o cimento das leis de drogas (COSTA, 2015). MDMA, os cactos com mescalina, o LSA, Embora raras exceções demonstrem ser encontrado em sementes de plantas como a possível cobrir o tema na grande mídia sem Ipomoea violácea, a Argyreia nervosa e a Tur- restringir-se a notícias alarmistas, a peda- bina corymbosa, além dos 25x-NBOMe, o gogia do amedrontamento é tipicamente AL-LAD, os DOx, etc. Mesmo a maconha empregada, mostrando-se, não apenas uma (plantas do gênero cannabis), o psicofárma- tática ineficaz de prevenção (MOREIRA; co tornado ilícito mais utilizado pelo mun- ANDREOLI, 2006), como ainda instrumen- do afora (UNODC, 2014), possui algumas to de reforço de estereótipos e estigmas propriedades que nos permitem incluí-la (GOFFMAN, 1988), além de guiar políticas neste grupo, no qual podemos também lo- públicas sobre drogas sem o devido cuida- calizar ervas de efeito mais brando como a do que a questão exige. Levando-se em con- Canavalia maritima e o Leonurus sibiricus (co- ta o aumento detectado no consumo de nhecido como Marihuanila). Além desses substâncias psicodélicas (UNODC, 2014), fármacos sintéticos e alcaloides semissinté- urge pensarmos a respeito dos riscos de ticos e de origem vegetal (alcaloides são serem veiculadas notícias que afirmem que compostos orgânicos cuja ingestão é capaz elas são muito perigosas e a respeito dos de produzir efeitos psíquicos como torpor, danos produzidos pela proibição de fárma- excitação, tremores, delírios, etc), podemos cos ainda pouco pesquisados. ressaltar os de origem animal, como o Kyphosus fuscus, o “peixe dos sonhos” Colocando os termos (GROF, 1997, p. 255), do Pacífico Sul, cau- sador de poderosas visões de pesadelo e a O que são drogas psicodélicas? Um sistema Phyllomedusa bicolor, secreção da rã conhe- simplista de classificação dos diversos tipos cida como kampo ou kampu, embora seja de ação farmacológica das drogas no Siste- considerada discutível a classificação desta ma Nervoso Central (SNC) distingue três última como psicodisléptico (LIMA; LA- tipos de substâncias (MASUR; CARLINI, BATE, 2008), assim como é discutível toda 2004): há as chamadas psicoanalépticas, ou tentativa de classificar um psicodélico em estimulantes do SNC, como cocaína, cafeína uma categoria que tente excluir dela quais- e anfetaminas, que aceleram as conexões; quer características de outras (XIBERRAS, há as psicolépticas, ou depressoras do SNC, 1989). O próprio uso da cannabis, por exem- como a morfina e o diazepam, que retar- plo, em função não apenas da variedade e dam as ligações. Ambas são como pedais de qualidade da planta, mas também da cir- controle de velocidade das transmissões cunstância, de quem usa e como usa, pode sinápticas: as primeiras aumentam e as úl- apresentar características ora relaxantes, ora timas reduzem a atividade cerebral; mas as euforizantes, ora fantásticas e perturbado- que aqui nos interessam são as classificadas ras, ora mistas. como psicodislépticas, que, por envolverem efeitos mais complexos, foram também O termo mais comumente utilizado em re- chamadas de perturbadoras do SNC, como ferência a tais drogas é alucinógeno, ligado à

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noção de alucinação, que vem do campo da ou mesmo notarmos uma ligação de tipo psicopatologia, referida a quando notamos muito profundo entre cada um de nós e algo, mas não existe um estímulo externo todo o cosmo, uma ligação de grande inten- que cause essa percepção. Ou seja, ouço sidade entre corpos e almas, correntes de uma voz agora, mas ninguém aqui compar- energia, fluxos, vibrações, pulsações, ondas. tilha dessa voz que estou escutando. Con- tudo, a ingestão de psicodélicos, produz Outros termos são também utilizados: subs- algo que seria melhor classificar como ex- tâncias como a , planta pro- periências visionárias, experiências de ima- ibida pela Agência Nacional de Vigilância ginação ampliada, no sentido de intensifi- Sanitária (ANVISA), no Brasil, em 2013, cação de aspectos usualmente pouco nota- promoveriam um efeito denominado oniró- dos nas imagens (sejam visuais, sonoras, de geno, termo que vem de genos, produção, si, etc). Afinal, a percepção se altera, mas o geração, somado ao oniros, sonho, então usuário em geral permanece consciente do tratar-se-ia de uma substância geradora de uso de uma substância que mudou seu es- sonhos, tal como a Calea Zacatechichi, ou tado de consciência, além de a ingestão de erva dos sonhos mexicana. No final da dé- tais fármacos usualmente ser avaliada posi- cada de1970 um conjunto de pesquisadores, tivamente pelos usuários, muitos dos quais dentre os quais, um dos criadores da cha- consideram a experiência como promotora mada etnobotânica, Gordon Wasson, e o de uma transformação de consciência posi- químico Jonathan Ott (2004), além de al- tiva em suas vidas (CASHMAN, 1970). guns etimólogos, sugeriram o termo enteó- geno, que vem de en (interior), mais theos Um primeiro termo para nomear estas (deus), mais genos, significando algo como a substâncias veio do farmacólogo do final do produção do divino interior. Outro termo é século XIX, Louis Lewin (1924), que pesqui- enteodélico (delos, que vem de delein, signifi- sou o cacto peiote, observando seu consu- ca manifestação, revelação), referente a mo tradicional, tipicamente religioso. O substâncias que, embora não o produzam, peiote tem como princípio ativo a mescali- tornam manifesto o divino interior (PIÑEI- na, identificada quimicamente em 1897 por RO, 2000). Outro nome é empatógeno, que Arthur Heffter (GROF, 1997). Lewin (1924) promove empatia (BRAVO, 2001), termo chamou este tipo de substância de phantas- muitas vezes associado a fármacos como o tica, por produzir efeitos estéticos incríveis, Ecstasy, popularmente conhecido como a fantásticos. À medida que alteram as for- droga do amor. O historiador e filósofo An- mas de nossa sensibilidade, de nossa per- tonio Escohotado (1994) chama tais subs- cepção de espaço e tempo – condições de tâncias de visionárias e caracteriza seus usu- possibilidade de toda experiência sensível ários como pessoas em geral insatisfeitas (KANT, 2000) –, a ingestão de tais substân- com a realidade ordinária e seus limites, cias investe de desejo a percepção (DE- tendo interesse de ir além, buscando alter- LEUZE, 1997), podendo nos permitir, por nativas e soluções para estagnações cultu- exemplo, ver as paredes se dissolvendo, o rais, sociais e individuais. Podemos tam- chão granulando, notar o cintilar de mati- bém considerar estas substâncias como psi- zes e cores jamais vistos, ou já esquecidos, coscópicas (CARNEIRO, 2005a), pois, tal

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como os telescópios e microscópios, que do nos levar a uma sensação de infinito, tornam visíveis coisas em escala bem dis- parecendo ora que o tempo não vai passar, tante de nossos limiares de percepção, elas ora vem voando voraz e veloz, ora passa nos permitem um olhar mais aguçado sobre lento demais, ou mesmo jamais existiu. As a mente humana. drogas psicodélicas promovem experiên- cias nas quais a mente não se orienta por Optamos, em nosso seminário, pelo termo meio de conceitos ou significantes, nas psicodélico, de origem grega, que significa quais não há distinção entre o que pensa- tornar manifesta a mente, ou a alma. Psico- mos, o que vivemos e como a realidade se délicossão fármacos cuja ingestão altera manifesta: tudo é um e toda unidade é múl- nossa percepção espaço-temporal, reduzin- tipla. do o papel do ego consciente na avaliação da experiência subjetiva, e fortalece as ma- A experiência humana com substâncias psi- nifestações da imaginação, intensificando codélicas depende, de forma singular, de aspectos celestiais e infernais da experiên- considerações não somente sobre o fármaco cia. O termo foi proposto em 1957 pelo psi- utilizado (composição, armazenamento, quiatra britânico Humphry Osmond (1957), etc), mas também da preparação pessoal a partir de uma rica troca de cartas com o para o uso, no que diz respeito à alimenta- escritor Aldous Huxley (1983), tendo sido ção, ao sono, às expectativas, ao ambiente posteriormente associado ao e à (religioso, festivo, etc) no qual é utilizado, contracultura dos anos 1960 (RO- se o usuário está ou não sendo acompanha- DRIGUES, 2014b), com cujas potências éti- do por um cuidador, alguém com experiên- cas, estéticas e políticas temos afinidade. cia em psicodelia (are you experienced?). A possibilidade de o novato ser acompanhado Os psicodélicos produzem estados não ordi- por alguém em quem confia e que conheça nários, ou alternativos de consciência. No o uso de substâncias psicodélicas pode re- cotidiano, estamos acostumados a tomar a duzir drasticamente qualquer risco no uso, realidade apenas a partir de uma modali- a tal ponto que somos levados a crer que dade de tempo, o tempo cronológico, que apenas uns 10% dos riscos, se tanto, sejam passa em intervalos regulares, isócronos devidos ao consumo, em si, da substância, (RODRIGUES, 2011). Nos vemos diante os outros 90%, pelo menos, parecem de- desse regime de tempo, por exemplo, ao pender do contexto e de quem está fazendo contarmos os minutos e segundos do reló- uso. Estudos pioneiros sobre o uso do LSD gio, os dias do calendário, os compassos em em psicoterapia observaram o surpreen- uma partitura musical, assim como ao nos dente poder de transformação pessoal en- remetermos a uma experiência particular volvido, mesmo em experiências nas quais de mundo, uma experiência privada, pro- foi utilizado placebo em lugar do fármaco duzida em uma história pessoal, à qual te- (STAFFORD; GOLIGHTLY, 1967). mos acesso através de memórias com as quais construímos nossa identidade. Mas o No livro : a manual uso de psicodélicos ajuda a experimentar- based on the Tibetan Book of the Dead, escrito mos outras modalidades de tempo, poden- pelos psicólogos , Richard

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Alpert e Ralph Metzner (1992) e publicado fármaco e droga pareça se dirigir a realida- originalmente em 1964, os autores subli- des totalmente distintas (RODRIGUES, nharam a importância do que chamaram de 2014a). set e setting, ou seja, a preparação pessoal (set) e a do ambiente (setting), para a redu- A palavra droga porta uma ambiguidade, ção de danos e ampliação dos benefícios da pois tecnicamente é sinônimo de fármaco, ingestão de psicodélicos, intensificando ao tal como nos termos farmácia e drogaria. máximo a experiência dos usuários. Tais Enquanto para os gregos antigos o termo ideias foram estendidas a toda substância phármakon significava ao mesmo tempo re- psicotrópica pelo psiquiatra Norman Zin- médio e veneno (DERRIDA, 2005), com a berg (1984), no livro Drug, set and setting, diferença entre um e outro residindo, sobre- focado, sobretudo, nos usuários de drogas tudo, na dose utilizada, hoje em dia o termo injetáveis. fármaco costuma ser utilizado exclusiva- mente para remédios, tidos como bons e A palavra psicotrópico advém da junção seguros. Apesar do sentido farmacológico dos termos psykhé (alma, mente) e trópico do termo droga, sem qualquer valor positi- (de tropismo, capacidade que algumas vo ou negativo, a priori, em nossa cultura plantas e fungos apresentam de se move- predomina o uso da palavra droga ligado a rem em direção a um estímulo atraente). algo ruim (que droga!), o que não ocorre so- Psicotrópico é o que se atrai pela mente. mente em português, mas também em in- Chamamos de psicoativa qualquer substân- glês, onde o termo junk se refere ora a lixo, cia que tenha ação no sistema nervoso cen- algo imprestável, como na expressão junk tral. O termo psicotrópico ressalta que essa food, ora a psicotrópicos em geral, ora aos psicoatividade não se trata da ação exclusi- injetáveis em especial (heroína, morfina, va de um agente sobre um sujeito/objeto cocaína, etc), comumente chamados de dro- passivo, mas de uma relação de afinidade gas pesadas (HARRIS, 2005). (RODRIGUES, 2014b). Na definição do Dic- tionnaire de la Psychologie Larousse, psicotró- Mas o que seriam drogas pesadas? A esse pico é toda “[...] substância natural ou sinté- respeito, o crítico musical Mikal Gilmore tica, cuja ação sobre o sistema nervoso cen- tem uma frase particularmente interessante: tral é capaz de modificar a atividade mental “[...] no auge do verão de 1967, no Haight- e a conduta do indivíduo [...]” (SILLAMY, Ashbury, vendiam-se e se consumiam dro- 1996, p. 211), sem qualquer atribuição de gas pesadas – drogas que não eram o que valor, positivo ou negativo, às alterações pareciam ser” (GILMORE, 2010, p. 119). que esta é capaz de fazer em quem ingere. Uma questão primordial para o Primeiro O uso de psicotrópicos pode produzir tanto Seminário sobre Psicodélicos foi a possibi- efeitos terapêuticos quanto colaterais e o lidade de pensarmos a respeito da noção de termo é utilizado tanto para os psicofárma- drogas pesadas como aquelas que não são o cos prescritos em saúde mental quanto para que parecem ser; uma ideia simples, embo- substâncias que, em razão da proibição, da ra usualmente ignorada. Para tentar trans- proscrição, são qualificadas como drogas mitir essa ideia e, com isso, abordar a ques- ilícitas, embora o uso corrente dos termos tão urgente que mobilizou o debate, inte-

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ressa contar um pouco da história de duas 36), produzida pelo chamado ergotismo, ou dentre as mais incríveis substâncias produ- Fogo de Santo Antão, conhecido há mais de zidas pela humanidade. 600 anos. O ergotismo se apresenta de dois modos: o gangrenoso, que causa dor intensa Doce, ácido; bala, ecstasy e queimação de mãos e pés, podendo levar à necrose dos membros; o convulsivo, mar- O ano era 1929. Em Basel, na Suíça, o re- cado por espasmos musculares e convul- cém-doutor em química sões, acompanhadas de alucinações. Mas o (1980) começava a trabalhar na companhia esporão não era só veneno, pois, em doses de produtos químicos Sandoz. O químico precisas, podia ajudar a medicina como tinha especial interesse em plantas cuja po- pulvis parturiens, o pó parturiente. No sécu- tência e efeitos de seus princípios ativos lo XIX, conta o historiador Henrique Car- eram muito instáveis, tornando difícil esta- neiro (2005b), belecer uma dosagem segura. A equipe do laboratório, dirigido pelo professor Arthur [...] a Claviceps tornou-se uma matéria- Stoll, tentava descobrir como fabricar pre- prima farmacêutica com importantes usos parados farmacêuticos estáveis, no intuito como remédio auxiliar do parto ou para de estabelecer dosagens terapêuticas segu- dores de cabeça. O princípio ativo mais ras de plantas como a Digitalis purpurea (co- importante desse cogumelo, a ergotami- nhecida como dedaleira) e a Scilla maritima na, foi isolada em 1818 (CARNEIRO, 2005b, p. 116-117). (cebola marítima). Nessa busca por domar compostos instáveis, o jovem doutor Ho- Embora a ergotamina seja utilizada até hoje fmann desenvolveu especial interesse no para dores de cabeça que acompanham a estudo não exatamente de uma planta, mas enxaqueca, é outro derivado da cravagem de pequenos cogumelos que crescem, so- que aqui nos interessa. Em 1938, com a in- bretudo, em grãos de centeio. O fungo é tenção de produzir um estimulante circula- conhecido por nomes diversos, como cra- tório e respiratório, Albert Hofmann (1980) vagem do centeio, esporão do centeio, ergot, combinou o ácido lisérgico, derivado da ou o nome que talvez nos soe mais elegan- Claviceps purpurea, com uma série de subs- te, Claviceps purpurea. Um cogumelo minús- tâncias chamadas, em química, dietilami- culo que mostra em cores berrantes que a das. Assim, a vigésima quinta dietilamida diferença entre o remédio e o veneno está do ácido lisérgico, sintetizada em 2 de maio bem mais na dose que no rótulo, pois não de 1938, recebeu a sigla LSD-25. Testes logo basta rotular algo como remédio para tirar- foram feitos, administrando doses diminu- lhe os riscos, nem basta taxar algo de droga tas do fármaco em animais de laboratório, para tirar-lhe os benefícios. resultando em contrações uterinas, além de

certa inquietação. A Sandoz não demons- O ergot, por exemplo, em doses tóxicas, po- trou interesse e os testes foram descontinu- de produzir intensas perturbações mentais, ados. Uma boa síntese do LSD é custosa, ou mesmo chegar a mutilar ou matar, atra- exigindo minúcia e cuidado. Qualquer pes- vés da “[...] constrição dos capilares da ex- quisa farmacêutica séria é custosa e de- tremidade do corpo” (CASHMAN, 1970, p. manda muito tempo, além do risco de não 114 Argumentum, Vitória (ES), v. 7, n.1, p. 108-125, jan./jun. 2015. Sandro Eduardo RODRIGUES; Fernando Rocha BESERRA

se chegar a obter fármacos melhores que traordinária realidade e com um intenso aqueles já existentes (PIGNARRE, 1999). jogo caleidoscópico de cores. Após cerca Este é um dos fatores pelos quais, quando de duas horas este estado desapareceu um laboratório farmacêutico se desinteressa (HOFMANN, 1980, p. 12). por uma substância qualquer, abandona toda pesquisa a respeito. Em geral, há ou- Hofmann (1980), homem de ciência, sentiu tros fatores em conta, mercadológicos, co- sua imaginação superestimulada e, acredi- mo a questão das patentes, cujo debate, tando ter em mãos uma substância de po- contudo, foge ao que queremos chamar der extraordinário, decidiu ingerir uma do- atenção agora. se experimentalmente, três dias depois. Conforme o relatório de pesquisa, entregue Hofmann (1980) jamais abandonou o com- ao professor Arthur Stoll, consta que, numa promisso ético com a pesquisa e, ao longo segunda-feira, 19 de abril de 1943, mais dos cinco anos seguintes, continuou a in- precisamente às quatro horas e vinte minu- vestigar o esporão do centeio, tendo chega- tos da tarde, Albert ingeriu 250 microgra- do, com isso, a produzir fármacos impor- mas de LSD-25 no laboratório da Sandoz. tantes como o Hydergine, remédio para a Uma dose baixíssima (um micrograma é a circulação periférica e controle da função milésima parte do miligrama), embora dez cerebral em desordens geriátricas, que che- vezes maior do que aquela que viria a ser gou a ser, por décadas, oprincipal produto considerada a mínima eficaz para se come- comercializado pela Sandoz. Em 1943, to- çar a sentir os efeitos psicodélicos. Cerca de mado pelo peculiar pressentimento de que quarenta minutos após a ingestão, o quími- o LSD-25 possuía importantes característi- co precisou cessar as notas e ir para casa. cas, diferentes daquelas investigadas cinco Como havia restrição no uso de automóveis anos antes, Albert Hofmann, então diretor por conta da guerra, foi para casa naquela adjunto do laboratório de pesquisas, voltou que talvez tenha sido a mais psicodélica a sintetizar o fármaco, sendo que, desta vez, viagem de bicicleta de que se tem notícia, a droga entrou em contato acidental com com direito a móveis se movendo, bruxas sua pele e o químico acabou sentindo efei- insidiosas, medo de enlouquecer, de mor- tos estranhos, embora em nada desagradá- rer, dificuldade em falar, paranoia, litros de veis. leite, seguidos, contudo, de uma sensação duradoura de profundo bem-estar (RO- Na última sexta-feira, 16 de abril, tive que DRIGUES, 2014c). interromper meu trabalho de laboratório no meio da tarde e ir para casa, pois fora A conclusão do autoexperimento de Ho- tomado de uma grande inquietação e fmann indicou o LSD como uma droga de uma ligeira tontura. Em casa, deitei-me e potências e propriedades extraordinárias. mergulhei num estado não desagradável de delírio, caracterizado por fantasias ex- Não se conhecia outro fármaco capaz de tremamente excitadas. Num estado semi- produzir efeitos tão intensos em doses tão bai- consciente, de olhos cerrados (sentia a luz xas. Ele estava seguro de que a substância como desagradavelmente ofuscante), fui teria utilidade na farmacologia, na neurolo- invadido por imagens fantásticas de ex- gia, na psicologia e na psiquiatria, embora

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não suspeitasse ainda, por um lado, de usos pedindo-lhes feedback sobre os resultados espirituais e recreativos e, por outro, das das investigações. As amostras do tartarato dores de cabeça que as políticas insensatas dietilamido de ácido D-lisérgico eram envi- do proibicionismo e da guerra às drogas adas em tabletes de açúcar contendo 25 µg tanto viriam a lhe causar poucas décadas (microgramas) ou em ampolas com 100 µg, após sua descoberta. Na época apenas en- distribuídas sob o nome comercial sugerido tregou o relatório ao professor Stoll. por Hofmann, Delysid.

Em seguida, estudos de laboratório na San- Milhares de pesquisas foram realizadas doz indicaram a baixíssima toxicidade da com uso da substância. Pesquisas científi- substância, apesar da intensidade e impre- cas, clínicas, militares, artísticas, sexuais, visibilidade de seus efeitos (embora fossem místicas, etc., embora o que seja urgente comuns acidentes em meio a viagens de sublinharmos aqui é que o LSD apenas de- LSD mal administradas, e ainda mais co- sencadeia certos mecanismos que já possu- muns as bad trips, viagens ruins, não há re- ímos, podendo servir inclusive como uma latos de intoxicação por overdose da subs- espécie de lente de aumento, um psicoscó- tância). Observando que os efeitos persis- pio, para analisarmos com mais precisão o tem mesmo quando a substância não pode funcionamento de tais mecanismos. Afinal, mais ser detectada no organismo, os cientis- como psicólogos, clínicos, afirmamos que o tas lançaram a hipótese de que o principal não está mesmo nas substâncias em si, mas em quem as utiliza, como e em [...] LSD não é ativo enquanto tal, mas de- que contexto, o que também não quer dizer sencadeia certos mecanismos bioquími- que não haja diferenças entre as substân- cos, neurofisiológicos e psíquicos que cias, como se todas fossem placebos. É aí provocam a embriaguez e continuam que reside parte considerável do perigo que mesmo na ausência do princípio ativo a ignorância produzida e propagada pelo (HOFMANN, 1980, p. 18). proibicionismo faz recair especificamente

sobre algumas drogas. Devido a esse efeito poderoso em doses diminutas, o fármaco atraiu a atenção de A história do proibicionismo e sua política muitos psiquiatras e logo foi feita a primei- de “guerra às drogas”, consagrada em três ra investigação sistemática em seres huma- grandes convenções internacionais – a nos, na clínica psiquiátrica da Universidade Convenção Única sobre Entorpecentes, de de Zurique, com os resultados publicados 1961, a Convenção sobre Substâncias em 1947. Embora na ocasião não se tenha Psicotrópicas, de 1971, e a Convenção proposto uma aplicação terapêutica, pois os Contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e efeitos eram mutantes e não previsíveis na Substâncias Psicotrópicas, de 1988 –, remissão de sintomas específicos, a Sandoz embora pretendesse se tornar a história da se convenceu de que tinha em mãos uma erradicação mundial de algumas drogas excelente ferramenta para a investigação da (RODRIGUES, 2012), da realização do mente humana e começou a produzir o sonho de uma sociedade abstinente de LSD, enviando amostras para faculdades, certas substâncias e da experiência que centros de pesquisa e terapeutas privados, 116 Argumentum, Vitória (ES), v. 7, n.1, p. 108-125, jan./jun. 2015. Sandro Eduardo RODRIGUES; Fernando Rocha BESERRA

envolve a ingestão dessas substâncias, uma verdadeira necessidade face à sua acabou se tornando a história de uma natureza de fera (D'ELIA FILHO, 2007, p. constante criação de settings negativos, 118). favorecedores de bad trips e pesadelos, conforme exemplificamos adiante. Pois, se Essa imagem do traficante como ser perigoso afirmamos que drogas pesadas são aquelas foi trazida por não ser tão diferente da ima- que não são o que parecem ser, sabemos gem que a grande mídia tenta fazer dos que este não é o discurso hegemônico, por pesquisadores, criadores e estudiosos de exemplo, na grande mídia, para a qual tais fármacos. Enquanto se proíbe uma haverá sempre disponível uma droga mais substância, outras são criadas e o discurso sinistra, muito pesada, assustadora e predominante tem o tom de Eles são tão per- perigosa em si mesma: demonizam-se versos que você proíbe uma droga e eles têm a certas drogas, sem levar em conta com maldade e a ganância de criar outra mais poten- seriedade como os danos são produzidos. te, como se não houvesse legitimidade em Acontece que esta guerra às drogas, se utilizar bem a inteligência e a intuição declarada pelo proibicionismo, se configura para criar novos meios de alterar a percep- de fato como uma guerra a pessoas, a ção. Agrava o problema a chamada “[...] classes sociais, etnias, minorias em geral. antecipação do momento criminalizador da Em sua dissertação de mestrado em produção e da distribuição das drogas qua- criminologia, o delegado da polícia civil do lificadas de ilícitas” (KARAM, 2008, p. 106), Rio de Janeiro, Orlando Zaccone D'Elia presente em nossa legislação de drogas atu- Filho (2007), secretário-geral da Law al, a Lei 11.343/06, que denomina “tráfico” Enforcement Against Prohibition(LEAP) no todo porte, transporte ou expedição de pre- Brasil – formada por profissionais cursores (matérias-primas, insumos) e torna integrantes e ex-integrantes das forças passiveis de serem indiciadas como trafi- armadas e do poder jurídico que, perante o cantes pessoas que produzem ou pesqui- fracasso da guerra às drogas, decidiram sam psicotrópicos proscritos (BRASIL, lutar pelo antiproibicionismo, pela 2006). Assim, quem cultiva maconha por legalização e regulamentação de todas as iniciativa própria – ou seja, sem a Autoriza- drogas classificadas hoje como ilícitas –, ção Especial, prevista apenas para institui- mostrou bem como a grande mídia constrói ções, no artigo 5º da portaria 344/98 da An- a identidade social do traficante, como visa, para “[...] atividades de plantio, culti- vo, colheita, preparo e extração dos princí- sendo pios ativos” (SANO, 2010, p. 6) –, no intuito Um homem ou mulher sem nenhum limi- de pesquisar, por exemplo, óleos para auxí- te moral, que ganha a vida a partir de lu- lio a portadores de epilepsia refratária, cân- cros imensuráveis às custas da desgraça cer, enxaqueca e outras enfermidades, pode alheia, que age de forma violenta e bárba- ser indiciado como traficante. ra, ou seja, uma espécie de incivilizado, aos quais a prisão é destinada como metá- Aproveitemos, contudo, essa antecipação fora da jaula. O traficante é sempre um ser para voltarmos no tempo novamente e co- perigoso e seu encarceramento se justifica nhecermos mais um personagem dessa his- para além da realização do direito, como

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tória: o químico e farmacologista Alexander PiHKAL (SHULGIN; SHULGIN, 1992), “Sasha” Shulgin, falecido há poucos meses, descreve a síntese de fenetilaminas psicodé- aos 88 anos de idade. licas, como a mescalina e o MDMA; o se- gundo, TiKHAL (SHULGIN; SHULGIN, Sasha é conhecido como o pai do Ecstasy, a 1997), descreve a síntese de triptaminas psi- denominação comum para o MDMA (Meti- codélicas, como o LSD e a psilocibina. A lenodioximetanfetamina), embora haja in- lista de substâncias, sua síntese e avaliações dícios de que, atualmente, menos de cin- são facilmente encontráveis na internet. quenta por cento das balas que circulam no Sasha costumava testar as substâncias que mercado tornado ilícito pela proibição con- sintetizava primeiro em si próprio, depois tenham de fato MDMA (um substituto que ingeria com Ann e, em seguida, com ami- vinha sendo bastante utilizado é a metilona, gos, até partilhar com toda comunidade proibida pela Anvisa na mesma lista que científica, sem jamais se importar em paten- proscreveu os NBOMe). Não foi Shulgin teá-las. Sasha viveu 88 anos, tendo se devo- quem produziu esta substância pela pri- tado até o final da vida não ao enriqueci- meira vez, embora tenha sintetizado mais mento pessoal, mas à criação, ao amor e à de 200 substâncias psicoativas (ALEXAN- coletividade. Hofmann, por sua vez, viveu DER SHULGIN RESEARCH INSTITUTE, 102 anos, tendo conseguido criar, dentre [2014]). Sasha começou a trabalhar com inúmeras outras coisas, o LSD, sua criança- química nos anos 1950 e iniciou pesquisas maravilha; acompanhar as milhares de pes- de substâncias psicodélicas nos anos 1960, quisas realizadas com a molécula; ver o testando-as primeiro em si próprio e, em desdobramento de usos diversos, conside- seguida, em amigos. Em 1967, o cientista foi rando alguns mais responsáveis e outros apresentado ao MDMA, sintetizado origi- menos; testemunhar o desenvolvimento do nalmente em 1912 e patenteado em 1914 proibicionismo, a histeria midiática, a proi- pela empresa alemã Merck, voltado para bição do LSD, inclusive das pesquisas, ten- combater o sono e a fome de militares, em- do passado o cientista quatro décadas la- bora nos anos 1960 este já estivesse fora do mentando a proscrição de sua então criança- mercado dos psicofármacos prescritos. Mas problema, mas vivendo ainda para o retorno Shulgin sintetizou o fármaco e em 1976 recente das pesquisas humanas com LSD na apresentou-a ao psicólogo Leo Zeff, tendo Suíça (GASSER et al., 2014). A relação de este passado a utilizar pequenas doses co- Sasha e Hofmann com sua prole química é mo auxiliar em terapia, tendo divulgado bem distante do que os grandes veículos de para outros psicólogos, entre os quais, a comunicação buscam formar em nossas terapeuta Ann, com quem Sasha se casaria mentes quando se remetem a pesquisadores em 1981 (NOGUEIRA, 2009). de novas substâncias psicoativas como se- res perigosos, destruidores e gananciosos. Nos anos 1990, o casal Shulgin publicou dois “romances químicos”, nos quais con- Como dissemos, Sasha conheceu o MDMA tam sua história de amor e listam um catá- em 1967, ano emblemático para o movi- logo de fármacos psicodélicos, detalhando mento hippie de San Francisco, quando sua síntese, dosagens e efeitos. O primeiro, ocorreu o famoso Verão do Amor. Já na

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primeira metade dos anos 1960, o LSD ha- que leis criadas em um ambiente ignorante via ganhado as ruas como uma substância produzem mais problemas do que supõem capaz de alterar a experiência estética, alte- resolverem e de que uma legislação repres- rar a sensibilidade, modular os sentidos, siva seria mais onerosa e violenta que a Lei ampliar o intelecto e a criatividade, estimu- Seca – quando o álcool foi proibido nos Es- lando tanto uma liberação de costumes se- tados Unidos, causando grande corrupção, xuais conservadores quanto o crescente aumento na violência, intoxicações com apetite por uma espiritualidade, uma ética e álcool metílico e a fundação do crime orga- um modo de vida comum (XIBERRAS, nizado, sem a esperada redução do consu- 1989; MACIEL, 1987). O cruzamento das mo (ESCOHOTADO, 1997) –, políticos se avenidas Haight e Ashbury, em San Fran- pronunciaram contra o estatuto legal do cisco, era o grande supermercado psicodéli- LSD, que se tornou ilegal na Califórnia em co mundial original, o lugar onde o ácido 1966, mesmo que alguns oficiais do gover- pela primeira vez era vendido e consumido no acreditassem que “[...] medidas puniti- livremente em larga escala, graças princi- vas iriam atualmente incentivar o cresci- palmente a , em- mento do mercado de drogas ilegais – e foi preendedor independente que aplicava exatamente o que ocorreu” (LEE; SHLAIN, grande parte do dinheiro obtidocom a ven- 1992, p. 153). da de ácido para produzir os shows psico- délicosdo (GILMORE, 2010). Quando o ano de 1967 começou, o uso do LSD, proibido na Califórnia, havia se tor- Acontece, porém, que o proibicionismo vi- nado grande fetiche entre os da nha avançando como política internacional Haight. Quando teve início de fato o verão, e grandes veículos da mídia haviam intensi- havia muitas flores na cabeça, como na ba- ficado o sensacionalismo em torno do uso lada pop de Scott McKenzie, mas nem tanto do ácido, com a divulgação de matérias amor no ar, pois um grande número de bad exagerando os efeitos e riscos das substân- trips vinha ocorrendo, com diversos fárma- cias. Tais exageros acabavam incitando cos sendo ingeridos em um meio hostil modalidades mais perigosas de uso. Em (GILMORE, 2010). Nesse ambiente, foram março de 1966, a revista Life publicou uma parar nas ruas, como que subitamente, matéria de capa que “[...] descrevia a expe- inúmeros novos agentes sintéticos. Um de- riência psicodélica como uma roleta-russa les era o DOM (2,5-dimetoxi-4-metan- na qual se jogava com a própria sanidade” fetamina), sintetizado pela primeira vez em (LEE; SHLAIN, 1992, p. 150) e, em abril, a 1963, por Sasha Shulgin, que testara em si Sandoz recolheu todo LSD distribuído para próprio doses de 1 a 12 mg, tendo conside- pesquisa – ignorando os resultados já pu- rado esta última dose já muito alta (SHUL- blicados e interrompendo inúmeras pesqui- GIN; SHULGIN, 1992). A fórmula dessa sas em andamento –, com a bizarra exceção fenetilamina psicodélica chegou ao amplo das remessas da droga destinadas aos estu- conhecimento dos químicos no início de dos militares e da CIA (através, sobretudo, 1967 e como no período estava difícil de se do projeto de lavagem cerebral MK- conseguir ergotamina, precursor essencial ULTRA). Apesar de terem sido alertados de para a produção laboratorial do LSD, Ows-

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ley Stanley decidiu sintetizar o DOM e doar las. Drogas perigosas, drogas pesadas são cinco mil cápsulas para a celebração do Ve- aquelas que não são o que parecem ser. A rão do Amor. Essas logo circulavam em San proscrição de substâncias psicodélicas pro- Francisco como STP, iniciais de Serenidade, duz uma restrição nas pesquisas que impe- Tranquilidade e Paz, três coisas que, infeliz- de que se estudem drogas que circulam li- mente, pouco conseguiram produzir. vremente no mercado e são amplamente consumidas, quer a sociedade busque al- Quando o STP chegou nas ruas de San guma regulamentação sobre sua produção, Francisco, foi em doses de 20 mg, bem aci- circulação e consumo, quer se utilize de ma daquelas testadas por Shulgin. Poucos uma estratégia equivocada de guerra pe- sabiam do que se tratava e durante três dias rante algo que tem muita dificuldade em os prontos-socorros ficaram lotados de gen- compreender, que é a experiência humana te se sentindo mal (GILMORE, 2010). A com estados alternativos da mente. Essa droga começava a mostrar os primeiros guerra faz muitas vítimas, diretas e indire- efeitos aproximadamente ao mesmo tempo tas. O que buscamos ressaltar, com o exem- em que surgiam os do LSD, embora os do plo trazido dos anos 1960, é que não faz STP iniciassem mais leves que os da tripta- sentido, em pleno ano de 2014 – quando, mina e levassem mais tempo para atingir felizmente, são divulgados resultados pro- seu auge, o que levou usuários desavisados missores de uma pesquisa científica suíça, a tomar novas doses que provocaram um que é o primeiro estudo controlado de tera- número considerável de overdoses, embora pia com LSD em mais de 40 anos (GASSER nenhuma fatal. Muitos médicos, acreditan- et al., 2014) –, anunciar o NBOMe, por do se tratar de bad trips de LSD, prescrevi- exemplo, como uma droga em si mesma am o antipsicótico Thorazine para acalmar perigosa, como a grande mídia alardeou no os usuários, pois funcionava como antídoto; movimento que antecedeu a proibição des- contudo, este potencializava os efeitos do sas substâncias ainda pouco conhecidas que STP, o que veio a intensificar as bad trips, haviam entrado recentemente no mercado que foram intensamente exploradas pela de drogas ilícitas. Acontece que todo psico- mídia como se fossem efeito do LSD. O trópico, mesmo o LSD, a maconha, a clor- fármaco, em 1971, foi incluído na lista ofici- promazina, o café, pode apresentar tanto al da ONU de substâncias proscritas, tendo efeitos terapêuticos como indesejáveis, as- sido considerado desde então sem possibi- sim como pode apresentar efeitos que, em- lidade de uso médico (CARNEIRO, 2005b), bora desagradáveis, são bem-vindos à ex- interrompendo por décadas um ciclo pro- periência (como o caso da náusea comu- missor de pesquisas que, somente agora, mente sentida na ingestão do chá da aya- quando o mesmo país que liderou a guerra huasca, produzindo por vezes vômitos ex- às drogas decide assumir que a guerra foi perimentados como processos de limpeza, um fracasso, tem conseguido retornar aos de purificação). Pesada e perigosa em si planejamentos oficiais (MAPS, [2014]). mesma, sem qualquer eficácia terapêutica, é, de fato, a abordagem proibicionista da O que o episódio vem evidenciar é que o questão. Um dos maiores riscos na ingestão grande perigo das drogas está em ignorá- do NBOMe, por exemplo, advém de esta

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droga muitas vezes circular no mercado e regulamentação são condições essenciais negro como sendo LSD, o que por sua vez para obtermos mais informação e controle. ocorre apenas por conta de o LSD ter sido proibido, num ciclo vicioso cronificante O seminário contribuiu também para a reu- (pois não podemos desconsiderar relatos de nião de pesquisadores e ativistas que se usuários que preferem ingerir NBOMe a puseram em contato para construir novos LSD sem deixar de ser prudentes quanto a espaços de mobilização popular na temática riscos de superdosagem e interação com e fortalecimento de alguns já existentes, outras substâncias, acontecimentos e expe- como a Ala Psicodélica da Marcha da Ma- riências). Todo fármaco guarda potências e conha do Rio de Janeiro, que teve sua pri- perigos e é preciso conhecê-los para utilizá- meira edição em 2014 e obteve um impacto los com sabedoria, tanto para reduzir danos bem positivo junto aos coletivos antiproibi- quanto para ampliar benefícios. Demonizar cionistas que se reúnem para organizar as e proibir não diminui o consumo; ao con- Marchas da Maconha. trário, apenas estigmatiza comerciantes, pesquisadores e usuários, além de estimu- Referências lar modalidades mais danosas de uso. RESEARCH INS- Considerações finais TITUTE. Alexander ‘Sasha’ Shulgin. [2014]. Disponível em: O I Seminário sobre Psicodélicos do Rio de . Acesso em: da necessidade de legalização e regulamen- 17 abr. 2015. tação do uso de todas as substâncias psico- trópicas e da relação singular da redução de ANVISA proibe a comercialização de 21 danos com as psicodélicas, devido a diver- novas drogas. São Paulo: G1, 18 fev. 2014. sos usos de tais drogas para ampliação de Disponível em: benefícios. No contexto de um aumento . Acesso em: 30 jan. 2015. gência do incentivo a experiências de redu- ção de danos especificamente relacionadas BRASIL. Mídia e drogas: o perfil do uso e ao uso dessas substâncias psicoscópicas, do usuário na imprensa brasileira. Brasília: que tanto chamam a atenção para a impor- Agência de Notícias dos Direitos da Infân- tância do cuidado com o set e o setting, de cia & Ministério da Saúde, 2005. forma tanto a minimizar riscos quanto a potencializar benefícios decorrentes de tal BRASIL. Lei no. 11.343, de 23 de agosto de uso. Com efeito, os maiores riscos e danos 2006. Institui o Sistema Nacional de Políti- no consumo de psicodélicos vinculam-se cas Públicas sobre Drogas – Sisnad; pres- diretamente a um efeito daninho da política creve medidas para prevenção do uso in- proibicionista de Guerra às Drogas: drogas devido, atenção e reinserção social de usuá- que não são o que parecem ser. Legalização rios e dependentes de drogas; [...] dá outras

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