O “Destaque do Meio-dia” da Rádio Renascença

Análise de um noticiário mono temático radiofónico

Autor: Joana Marta Valdeviesso Sobral

Orientador: Dra. Isabel Reis

Mestrado Ciências da Comunicação, variante Estudos de Media e Jornalismo

Faculdade de Letras da Universidade do

Junho de 2010

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Agradecimentos:

Aosmeuspais.Semoapoiodeles,esteregressoaosestudosnãoteriasidopossível.

AoPedro,peloincentivo.

AoJoséBastoseaoSérgioCosta,pelocontributo,disponibilidadeeamizade.

ÀDra.IsabelReispelaorientação,disponibilidadeepaciência.

ÀAnaPaula,responsávelpelofactodoestágioseterrealizadonaRádioRenascença.

AtodososprofissionaisdaRádioRenascença(Porto),pelocarinhoesimpatiacomque me receberam.

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Índice

Resumo...... 6 PARTEI OEstágioCurricular...... 7 Introdução...... 9 1.HistóriaeCaracterizaçãodaRádioRenascença...... 10 2.OProcessodeElaboraçãodoDestaquedoMeio-dia...... 16

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PARTEII ODestaquedoMeio-diadaRádioRenascença...... 21 Introdução...... 23 1.AInformaçãoSonora...... 24 2.O“DestaquedoMeio-Dia”naProgramaçãodaRenascença...... 27 3.Metodologia...... 30 4.Resultados...... 38 5.DiscussãodosResultados...... 40 6.Conclusões...... 43 Bibliografia...... 49

Anexos………………………………………………………………………………………..52

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Resumo Estetrabalhorepresentaoculminardeumprocessodedoisanosquetevepor baseumaapostanodesenvolvimentodaminhaformaçãopessoaleprofissional. Trabalheidurantetrêsanoscomojornalista,semprenarádio,masfaceauma situaçãodeestagnaçãoeperanteumfuturosemgrandesperspectivas,decidiqueeraa alturacertaparainterromperaminhacarreiraprofissionaleregressaràUniversidade. IngresseinoMestradoemCiênciasdaComunicação,variantedeEstudosdeMediae Jornalismo,daUniversidadedoPorto,comoobjectivodeadquirirmaisformação,uma visãoacadémicasobreosgrandesdesafiosqueacompanhamarealidadejornalísticaea oportunidade de regressar uma vez mais à rádio, e trabalhar numa redacção de referência. Cumpridos os dois primeiros objectivos, optei por seguir a via de especialização profissional, que me permitiu desenvolver um estágio na delegação do Porto da Rádio Renascença, realizando assim, o último dos propósitos. Durante esse período,tiveapossibilidadedeobservar,etambém de colaborar, na elaboração e na concepçãodoespaçoinformativo“DestaquedoMeio-dia”,razãopelaqualdecidique seria esse o objecto de estudo deste trabalho. O objectivo é caracterizar este espaço noticioso que se distingue pela sua singularidade, através da análise dos temas em evidência,dotipodepeçasutilizadasedotipodefontesrecorridas.Esteestudodecaso pretendecontribuirparadaraconhecerestenoticiáriomonotemático,bemcomotodoo processodeconstruçãodomesmo.

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PARTEI

OEstágioCurricular

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Introdução

O presente trabalho surge no âmbito do estágio curricular do Mestrado em CiênciasdaComunicação,realizadonaDelegaçãodo Porto da Rádio Renascença. A opção pela realização de um estágio teve como principal objectivo a especialização profissional. Apesar de ter já alguma experiência profissional como jornalista, nomeadamente,narádio,queriateraoportunidadedeaprenderetrabalharnumarádio queéumareferêncianainformaçãonacional.PoisconsideroqueaRádioRenascença temprofissionaisdeexcelênciaeéumexemplodeinformaçãoderigorequalidade.A minha passagem pelo mercado de trabalho fez-se, única e exclusivamente, no jornalismoradiofónico,porseresseomeiocomoqualmaismeidentificoenoqual ambicionovoltaratrabalhar.Juntar,àminhacurtaexperiênciadetrêsanos,umestágio naRádioRenascença,permitiu-meacrescentarvaloraessaespecializaçãoprofissional que procuro. Numa altura em que o jornalismo se debate com tantos desafios, que advêm de novas realidades, de crescentes necessidades, da proliferação de novas plataformasdecomunicação,entreoutros,creioqueaespecializaçãopodeserencarada como uma mais-valia. Não descurando nunca, a necessidade de adaptação e aprendizagem constantes face a todas essas novidades, penso que um jornalista que estejaespecializadonummeio,temumconhecimentoquelhepermiteretirarummaior partidodomesmo.Ouseja,nocasoespecíficodarádioquerestasejaescutadadaforma maistradicional,atravésdeumtransístor,ouviadigital,atravésdainternet, Ipod ,ou outros,oprocessodecomunicaçãocomoouvintefuncionarátantomelhor,quantoo emissor souber usar todas as potencialidades do meio. Alguém que está habituado a comunicaremrádio,saberáfazerpassarmelhoramensagemdoque,porexemplo,um jornalista de imprensa, que apesar de ser brilhante,podenãoconseguiradaptarasua escritaaomeio.EmboraosmeiosdecomunicaçãosocialemPortugal,pareçamestara dar preferência ao jornalista “multitarefa”, capaz de escrever e comunicar através de múltiplasplataformas,tenhograndesdúvidasquantoàqualidadedojornalismoqueestá a ser produzido, sob essa política. Pelo simples facto, de que o jornalista pode desempenharváriasfunçõeseterumasériedecompetências,masnãocreioquepossa serexcelentenodesempenhodetodaselas.Édesalientarofactodequenarádio,hoje emdia,ojornalistarealizatarefasque,outrora, eramdacompetênciadostécnicosde som.Actualmente,ojornalistanãoselimitaaotrabalhojornalísticodepesquisa,recolha

9 sesonseproduçãodotexto,éeletambémqueeditaefazamontagemdaspeças.Pelo que,estetrabalhoaoníveldascompetênciastécnicasassumeumpapel,queeudiriaser tãoimportantequantootrabalhojornalístico,propriamentedito.Poisumtextobrilhante e um som em primeira mão, pode perder toda a força se a montagem da peça for deficiente, ou os sons não apresentarem qualidade. Como tal, a edição é hoje parte integrantedoprocessojornalísticosendotãoimportantecomoqualqueroutradasfases deproduçãodanotícia,devendoserumacompetênciavalorizadanojornalista.Neste sentido,acreditoqueaespecializaçãopodeservistacomoumvaloracrescentado,eé partindodessepressuposto,quetenhovindoadireccionaromeupercursoprofissional paraarádio.

A opção de escolher, para a realização de um estudo de caso, o espaço informativo“DestaquedoMeio-dia”prende-secomofactodetertidoaoportunidade deacompanhardiariamente,duranteoestágio,aproduçãodestenoticiário.Nãosótive oprivilégiodeestar“pordentro”detodaarotinaprodutiva,bemcomo,emalgumas ocasiões, pude também dar o meu contributo. A pertinência de uma análise a este noticiário assenta na singularidade do mesmo. Por um lado porque se trata de um noticiáriomonotemático,comumaestruturadiferente de todos os outros noticiários produzidospelaRenascença.Eporoutro,pelofactodeapresentarumformatoúnicono panorama da informação radiofónica nacional. O objectivo deste trabalho é traçar o perfildo“DestaquedoMeio-dia”,identificarasprincipaiscaracterísticas,perceberos conceitos e finalidades que servem de base à sua concepção, mas também as dificuldadeseconstrangimentosqueacompanhamestenoticiárioquesemantémnoar desde2001.

HistóriaeCaracterizaçãodaRádioRenascença

ARádioRenascençacomeçaaserpensadaem1933.EmFevereirodesseanoé publicadonarevistacatólica“Renascença”,umeditorialondeélançadaaideiadecriar umarádiocomomesmonome.Nadécadadetrintacomeçavamasurgir,emPortugalas primeirasemissoras,comemissõesregulares.Umpoucoportodoapaís,assistiam-sea diversasexperiênciasradiofónicas.E“noar”,estavamjáo“RádioClubePortuguês”ea “Emissora Nacional”, onde a Igreja Católica era presença assídua. Ainda assim, “era

10 necessárioreforçarapresençadaIgrejanomundodacultura.Eseaimprensacatólica estava tão implantada a nível nacional e diocesano, os tempos que corriam não permitiamqueseficasseinactivofaceaosnovosdesafios”(cit.porMiguel,1992:26). EstaeraaopiniãodoPadreLopesdaCruz,umdosprincipaisimpulsionadoresdaRádio Renascença, que desde logo se envolveu na mobilização da opinião pública para a importância do projecto e numa campanha de angariação de fundos, com vista à concretização do mesmo. Durante seis anos, assinou na revista “Renascença”, uma página com o objectivo de tornar possível a existência de uma rádio católica em Portugal.OPadreLopesdaCruzvianarádioumanormaformadeevangelizaçãoao alcancedaIgreja.Oobjectivodaemissoracatólicaderadiodifusãoeraclaro:“utilizara rádio para a propaganda dos valores católicos, para combater o mal e os ataques à Igreja, para desfazer os erros e esclarecer a opinião pública com boas notícias e programasdequalidade,parareporaverdadehistórica”(cit.porMiguel,1982:26).

Em1936aRádioRenascençacomeçaaemitirdemodoexperimental,apartirde Lisboa,duasvezesporsemana.Ea1deJaneirode1937,tiveraminícioasemissões diárias.MassóemAbrilde1938équeaRádioRenascençasetornouoficial,enquanto instituiçãocatólicaintegradanoSecretariadodoCinemaedaRádio,noseiodaJunta CentraldaAcçãoCatólicaPortuguesa.Trêsanosdepois,entramemfuncionamentoos estúdiosdoPorto.

Relativamente aos conteúdos da emissora, estes tinham por base critérios evangélicos, obviamente. “O plano dos programas pretendia ser variado e agradar a todososgostoseidades.Palestras,cursosdelínguas,númerosdediversão,músicae noticiáriospreenchiamasprimeirasemissões”(Miguel,1982:89).Adécadade50fica marcadapeloaparecimentodealgunsprogramasinovadores.Enosanos60surgemna Renascença,espaçosdeprogramaçãovanguardistasebastantecríticosfaceàsituação políticaemqueseencontravaopaís.Oquecontribuiuparaqueduranteoregimede MarceloCaetano,aRenascençafossebastantevigiada,ereprimidapelacensuradevido aosprogramascontestatáriosqueexibia.“Estávamos,pois,peranteumarádiocadavez maisactivaeconscientedoseupapelnasociedade”(Ribeiro,2001:103).

Em1972teveiníciooserviçodenoticiáriosdaRádio Renascença, com uma equipacompostapornoveprofissionais.Atéentão,osespaçosinformativostinhampor baseasnotíciasveiculadaspelaimprensa.Aproduçãodeinformaçãoprópriatornou-se

11 umfactoracrescidode atracçãoporpartedacensura. Mas a história da Renascença ficaráparasempreligadaao25deAbril.Poisfoiaosmicrofonesdaemissoracatólica que foi emitida a senha para o início da revolução dos cravos. Segue-se depois um período de grande conturbação interna, decorrente do PREC (Período Revolucionário emCurso).DiasdepoisdaRevoluçãodosCravos,noticiaristaseoperadoresdãoinícioa uma paralisação, ocupando a redacção de Lisboa, fazendo exigências, o que levou a gerênciaaabandonaraestação.ApedidodoMFA,ostrabalhadoresacordamemrepor a emissão no ar e elegem dois funcionários como delegados dos trabalhadores. A administração fica na mão dos funcionários da emissora, representados por uma comissãocomfunçõesdeliberativasedá-seinícioaumperíododeautogestão,durante o qual foram suspensos vários chefes de serviço. A 21 de Maio, um grupo de trabalhadoresdosestúdiosdeLisboa,propôsaoPatriarcadoumprotocolocomvistaà divisão da Rádio Renascença em duas entidades: uma responsável pela gestão da actividaderadiofónicaeoutra,responsávelpelagestãofinanceiraedo patrimónioda estação. Mas o protocolo não agradou a todos os funcionários e houve um segundo grupoqueapresentouumoutrotexto,quepreviaamanutençãodaRádioRenascença como uma só empresa, num processo de co-gestão: dois gerentes nomeados pela entidadepatronaleosoutrosdois,pelaAssembleiadosTrabalhadores. OPatriarcado acaboupordecidir-sepeloprimeirotextoenomeouumConselhodeGerência,embora, reforçandoocarácterpeculiardaRenascençacomoemissoracatólicadefendendoquea estaçãodeviaterumaprogramaçãoemconsonânciacomoespíritodamensagemcristã, equeaIgrejanãopodiarenunciaraodireitoeaodeverasseguraraorientaçãocatólica daprogramação,edeteraúltimapalavrana admissão de pessoal. “Esta tomada de posição por parte do Episcopado não agradou nada ao primeiro-ministro Vasco Gonçalvesqueacusouosbisposdeseestaremaintrometernumcampoquenãolhes diziadirectamenterespeito”(Ribeiro,2001:107).Semanasdepois,umconflitolaboral queopôstrabalhadoresegerentesacaboupordarinícioaumalutapolíticapelocontrolo daemissoracatólica.EmFevereirode75ostrabalhadoresdosectorradiofónicoderam inícioaumanovagreve,comoapoiodeváriospartidospolíticosdeextrema-esquerdae organizaçõessindicais.Masnemtodososfuncionáriosdaemissoraconcordavamcom os motivos da greve, nem tão pouco com os métodos de luta utilizados. Mas ainda assim, um grupo minoritário decide ocupar as instalações em Lisboa e o emissor da Buraca, emitindo uma programação de conteúdo extremista e anticlerical. “Este episódio marcou o isolamento definitivo dos funcionários do sector radiofónico da

12 capital,umavezqueostrabalhadoresdetodososrestantessectorespassaramaapoiara posição da gerência” (Ribeiro, 2001:107). A luta dos trabalhadores descontentes radicaliza-se, e culmina numa manifestação, frente ao Patriarcado promovida pelos sindicatos da radiodifusão e pela UDP, que contou também com o apoio de outros sectores da extrema-esquerda, para quem a Rádio Renascença passou “ a funcionar como bandeira” (Ribeiro, 2001:107). A Igreja procurou responder com uma contra manifestaçãoquereuniucercadeummilhardecatólicosequeterminounumarremesso de pedras que deu origem a dezenas de feridos. Após este episódio, PS e todos os partidos à sua direita, ficaram ao lado da Igreja Católica. Mas a consequência mais visíveldesteacontecimentofoiodesencadeardeváriasmanifestaçõesafavordaIgreja provocando uma onda de indignação anti-extremista e anti-comunista. “O caso da Emissora Católica acabou assim por ter efeitos decisivos no rejeitar do modelo socialistaenodesencadeardo25deNovembro”(Ribeiro,2001:108).A2deDezembro de1975,opresidentedaRepúblicaFranciscodaCostaGomespromulgaodecreto-lei queconstituia"EmpresaPúblicadeRadiodifusão”e avança com a nacionalização e reestruturaçãodasemissorasdemaiorpotênciaealcance,concedendoapenasumaúnica excepção, à Rádio Renascença: “justificada pelo respeito devido aos vínculos dimanantes da Concordata com a Santa Sé e aos sentimentos religiosos do povo português.Tomadofoiaindaemconta,emboraquetão-sóporantecipaçãoeacréscimo, o disposto na disposição já aprovada do novo texto constitucional, que garante às confissões religiosas «a utilização de meios de comunicação social próprios para o prosseguimento das suas actividades».”1 Este decreto-lei permite, assim que a RenascençanãosejanacionalizadaesemantenhanasmãosdaIgrejaCatólica.Em78 dá-seinícioaumanovafasedeexpansão, em quea emissora aposta no reforço da cobertura nacional. “Para fazer face às despesas de investimento foi lançada a “CampanhadosNovosEmissores”,paraaqualcontribuírammilharesdecatólicosde Norteasuldopaís”(Ribeiro,2001:109).Umanodepois,aRenascençapassaasera estaçãocommaioraudiênciaemPortugal.“NomêsdeNovembro,o“EstudodeMeios” daNORMAapresentavaaRRcom34%deaudiênciatotal,oquecorrespondiaacerca de2milhõese300milouvintes.Tratou-sedeumasubidasurpreendente,setivermos

1“MinistériodaComunicaçãoSocialDecreto-Lein.º674-C/75de2deDezembro”, in http://www.igf.min- financas.pt/inflegal/bd_igf/bd_legis_geral/Leg_geral_docs/DL_674_C_75.htm,(Consultaem22deJunho 2010).

13 emcontaquedoisanosantesomesmoestudoestimavaaaudiênciadaRRempouco maisde570milouvintes”(Ribeiro,2001:109).

Nos anos 80 e 90 mantém-se a tendência de crescimento que passa por uma consolidação do grupo, nomeadamente, através do lançamento de outras rádios. “A Rádio Renascença - Emissora Católica Portuguesa transmite através de dois canais nacionais:CanalRádioRenascença(generalista)eRFM,estecriadoem1deJaneirode 1987.Em7deSetembrode1998surgiuumnovocanaldeâmbito,aMegaFM,dirigido aos jovens (Lisboa, Porto e ). A Renascença produz ainda programação regionalatravésdeestúdiosprópriosemBraga,Porto, Viseu, Fátima, Leiria, Lisboa, Elvas e Évora”2. A tendência de crescimento do grupo é visível no seguinte quadro referenteao share deaudiênciasdascincoestaçõesderádiomaisouvidasemPortugal entre os anos de 1994 e 2002. O quadro mostra que apesar da RR ter sofrido uma quebradeaudiência,mantém-secomolíder.SendoapenassuperadapelaRFM,noano de2002,oquepermitequealiderançasemantenhadentrodogrupo. Share deAudiênciadascincoestaçõesderádiomaisouvidas 3 Anos RádioRenascença RádioCidade RDP RFM RádioComercial 1994 23,6 10,7 9,5 10,0 4,8 1995 20,8 10,1 17,3 8,7 4,8 1996 20,0 12,2 14,0 7,9 4,6 1997 18,3 13,3 12,9 8,9 4,7 1998 18,1 13,1 11,6 10,1 5,0 1999 18,8 10,3 10,3 9,1 8,4 2000 19,3 9,5 8,0 10,7 13,2 2001 18,6 7,8 7,6 18,6 12,2 2002 19,9 5,4 9,5 23,2 9,9

Umatendênciaquesemantématé2007.“Selermoso share à luz da agregação das rádiospelosseusgruposeconómicos,percebemosaposiçãodeliderançadogrupoda RádioRenascença.Nesteinserem-seasseguintesrádios:R.Renascença,RFM,Mega

2“Rádio”, in GabineteparaosmeiosdeComunicaçãoSocial, http://www.ics.pt/index.php?op=cont&cid=78&sid=329 (Consultaem22deJunho2010).

3“Rádio”, in GabineteparaosmeiosdeComunicaçãoSocial, http://www.ics.pt/index.php?op=cont&cid=78&sid=329 (Consultaem22deJunho2010).

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FMetodasasregionaisdaRenascença,comumamédiade40,3%dototalde share de 2003a2007.Segue-seoGrupodaMediaCapitalRádio(…)comum share médiode cerca de metade (21,8%) Em terceiro lugar esteve o Grupo RDP (…) com cerca de metadedoanterior(11,9%).Porfim,aTSFregistouumamédiaaolongodasériede 5,7%.”4.Jáem2010(dadosrelativosao1ºtrimestre)oGrupoRenascençamantém-se líderdeaudiênciascom41,4%de share 5. Nonovomilénioaemissoracatólicasurgecomumanovaimagemecomuma mudançadeposicionamento,comvistaaatrairmaisouvintesnafaixaetáriaentreos35 eos54anos.Em2006odirectordeprogramas,NelsonRibeiro,afirmavaqueessas mudançasnãocolocavamemcausaagénesedaestação:“Nãohaverá"umarupturacom amatrizcatólicadaRenascença.Aemissoravaimanterasuaessêncianaselecçãode conteúdos,naabordagemdostemaseinformação.” 6No2.ºsemestrede2008surgea rádioSim” 7,e em2009surgeaquelaqueéactualmenteagrandeapostadaRenascença: omultimédia.EmboraarádiojáestivessepresentenaInternet,énestaalturaquesedá uma renovação do site , fazendo com que a rádio se assuma como um órgão de comunicaçãosocialmulti-plataforma.DeacordocomPedroLeal,Director-Adjuntode Informação,“Ainformação,enquantoórgãodeinformação, pretende ser um órgão total. Ou seja, dá a notícia, explica a notícia e mostra a notícia”. 8 Assim o novo site oferece, através do multimédia, toda uma nova dimensão da rádio. “Oreforçodosconteúdosde opinião,naáreadainformação,oaumentodosconteúdoscomamarcaBolaBrancana secçãodedesporto,maismúsicaedebatenaáreadeprogramação,visívelatravésdo novo espaço, onde semanalmente são abordados temas ligados a família, saúde,

4“Rádio”, in AnuáriodaComunicação2006-2007Obercom, http://www.obercom.pt/client/?newsId=14&fileName=anuario_06_07_radio.pdf (Consultaem22de Junho2010).

5 “Marktest disponibiliza 1ª vaga 2010 do Bareme Rádio” in Marktest, http://www.marktest.pt/produtos_servicos/Bareme_Radio/default.asp?c=1014&n=2134 (Consulta em 24 deJunho2010):

6“RádioRenascençaquercativarouvintesmaisjovens”, in JPN, www.jpn.icicom.up.pt (Consultaem1 deJunho2010).

7 “Rádio”, in GabineteparaosmeiosdeComunicaçãoSocial, http://www.ics.pt/index.php?op=cont&cid=78&sid=329 (Consultaem22deJunho2010).

8“Renascençaanovadimensãodarádio”, in RádioRenascença, www.rr.pt (Consultaem01Junho2010).

15 educação, entre outros.” 9 Para além desta vertente inovadora, o site pretende, igualmente, proporcionar uma maior interactividade com os ouvintes. O director de Programas, Nelson Ribeiro, explica que um dos objectivos é “estreitar através da Internet,essarelaçãodeproximidadequeexisteporpartedequemfazaRenascençae dequemouveaRenascença,todososdias”. 10

Actualmenteogrupoencontra-seemfasedereestruturação,àqualcorresponde umanovadesignação: R/Com.Embreve,deverãoserlançados três novos projectos: umarádio online deInformaçãoeduas Web Tv’s.

OProcessodeElaboraçãodoDestaquedoMeio-dia

Duranteoestágiocurriculartive,comojáreferi,aoportunidadedeacompanhar diariamentetodooprocessodeproduçãoerealizaçãodo“Destaquedomeio-dia”.Neste pontodotrabalho,vouprocurarretratartodoesseprocessocombasenaobservaçãopor mimrealizada.

Aprimeiraetapana“construção”do“Destaque”dizrespeitoàescolhadotema, quepodesurgirsobdiversasformas.Podeserumassuntoqueestejaemagenda,como foi o caso do 5º aniversário da Casa da Música do Porto. Nestas situações, há a possibilidadedeprepararcomumamaiorantecedênciaalgumaspeças,nomeadamente, entrevistasereportagens.Noentanto,ostemas agendados correm sempre o risco de serem preteridos por acontecimentos que venham a surgir entretanto, e que pelo seu valornotícia,seassumamcomooassuntomaisimportantedodia,obrigandoaqueo “Destaque”secentreneles.Aescolhadotemapodetambémtercomopontodepartida umanotíciapublicadaporumjornal.Razãopelaqual,todososdias,Editorejornalistas quefazempartedaequipaqueproduzo“Destaquedo meio-dia”, analisam todos os jornaiserevistasquechegamàredacção.Aliás,essaémesmoaprimeiratarefaqueos jornalistasexecutam,paraestarapardetodasasnotíciasdasúltimas24hhoras.Mas

9“Renascençarenovasite”, in ,Meios&Publicidade, www.meiosepublicidade.pt (Consultaem01Junho 2010).

10 “Renascençaanovadimensãodarádio”, in RádioRenascença, www.rr.pt (Consultaem01Junho 2010).

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Sérgio Costa, jornalista da Rádio Renascença, lembra que a notícia do jornal serve apenas como mote: “Por vezes o assunto escolhido para o “Destaque” pode surgir inicialmente num jornal diário e posteriormente tentamos desenvolver o assunto abordandoângulosdiversificados.”11 Paraalémdosjornais,aInternetéumaoutrafonte de informação. Pelo que compete também aos jornalistas estarem atentos ao ciberespaço. José Bastos, editor de Internacional evoca a jornalista espanhola e provedoradoleitordojornal“ElPaís”,PérezOliva,paralembrarqueaInternetestáa mudaraformadetrabalhardosjornalistas:“PerézOlivasublinhava,recentemente,que a notícia pode saltar de um comentário a qualquer momento em qualquer sítio do planeta:todosobservamtodos,nãoháexclusivoqueduremaisdecincominutos,ouo tempoqueleveaserreproduzido”. 12 ESérgioCostadámesmoumexemplodeuma declaraçãoquedeuorigemaum“Destaque”:“EmDezembrode2009,ementrevistaà Renascença, o vice-presidente da bancada parlamentar socialista, Ricardo Rodrigues, afirmouqueseaoposiçãomantivesseumaposturadeconstantereprovaçãooualteração depropostaslançadaspelamaioriarelativadoPS(noqueeledefiniucomoesticarde corda),aquedadogovernoseriainevitável,oqueconduziriaopaísparanovaseleições. Naturalmente que, pela polémica suscitada e pela novidade, esse foi tema de Destaque.”13 Mas também tive oportunidade de verificar que nem sempre o tema escolhidoacabaporseraprimeiraopção.Podemsurgirconstrangimentosdediversas ordens,queobriguemaumamudançadetema.“Aprincipaldificuldadeprende-secom arecusaemprestardepoimentos.Nãoserádetodopossívelproduzirumdestaquede10 minutoscomfaltadedepoimentos” 14 ,afirmaSérgioCosta.Partindodeváriospontos possíveisotemado“DestaquedoMeio-dia”,começaaserdefinidologodemanhã,em conjunto pelos elementos que constituem a equipa que trabalha neste noticiário. Ao todo, são quatro elementos, mas nem sempre estão todos presentes. Os casos mais frequentesquelevamàausênciadestesprofissionaisestãorelacionadoscomodireitoa gozar folgas, decorrente do trabalho exercido durante o fim-de-semana, férias, ou no casodoEditordeInternacional,reuniõesqueobrigamàsuadeslocaçãoatéàredacção

11 Ementrevistaporescritoconcedidaa22deAbrilde2010.

12 Ementrevistaporescritoconcedidaa22deAbrilde2010.

13 Ementrevistaporescritoconcedidaa22deAbrilde2010.

14 Ementrevistaporescritoconcedidaa22deAbrilde2010.

17 deLisboa.Paraalémdestesquatroelementos,qualqueroutrojornalistapodedaroseu contributoparao“Destaque”semprequeissosejustifiqueequeoEditorosolicite.

Depoisdeescolhidootema,importadecidirdeque forma é que ele vai ser abordado.Osângulospossíveis,ostestemunhosqueimportaouvir,tudoaquiloqueé fundamental para que o ouvinte disponha das informações necessárias para compreenderasituação,eposteriormente,fazerasuaprópriainterpretaçãodoassunto em causa. É também nesta fase que o Editor decide a melhor forma de transmitir a informaçãoouotestemunho.Podeserumaentrevistaportelefoneoupresencial;uma reportagememdirectoouemdeferido,umcomentadoremestúdio,um vox-pop 15 ,etc. Tudodependedotema,mastambémdosrecursosdisponíveis,porqueháumfactorque está sempre presente: o tempo. Por exemplo, um tema que está a ser preparado de vésperanãotemaslimitaçõesdeumtemaquesurgenoprópriodiaecomosegunda opção.Ouseja,sedemanhãsedecidiuporumtema,massechegaàconclusãodeque nãoépossívelavançarporfaltadetestemunhos,etemdesemudarparaumoutrotema, o tempo disponível torna-se escasso. Logo, é provável que uma entrevista em que o idealeraquefosserealizadapresencialmente,tenhadeserefectuadaportelefone.Ou, ainda, que apesar do assunto em causa, merecer uma reportagemnolocal,épossível que não haja tempo (consoante a distância) para enviar um repórter para a fazer. Contudo,estaseoutrassituações,sópodemseravaliadasnaalturaprópriaefazemparte dolotededesafiosqueoEditorenfrentadiariamente.Umadassuasoutrasfunçõesé distribuiçãodotrabalho.Deacordocomaabordagemqueseoptouporfazer,cabeao Editordecidirquemfazoquê.Sendoqueummesmojornalistapodefazerváriaspeças. Emboratodososprofissionaisdevamestaraptosparaexecutarqualquerumadastarefas quelhessejasolicitada,numaequipacomoado“Destaquedomeio-dia”éhabitualque osjornalistasacabempordesempenharquasesempreomesmotipodefunções.Ouseja, há aqueles que fazem, essencialmente reportagem, há outros que raramente saem da redacção esededicam maisàsentrevistasportelefone,ouaeditarsons.Masomais importanteéqueesteéumtrabalhodeequipa,ainda que o ouvinte raramente tenha percepçãodaquantidadedepessoasenvolvidasnoprocessode“construção”detodoo

15 Provém da expressão Latina vox populi que significa a voz do povo. Trata-se de uma espécie de inquéritoderua,emqueojornalistavairecolheropiniõessobredeterminadoassunto.Temumcarácter meramente ilustrativo da realidade, sem existir uma preocupação noticiosa, até porque nem os entrevistadossãoidentificados,nemexistemcritériosdefinidosparaaselecçãodaamostra.

18 noticiário. Também é de salientar, que caso se trate de um tema que já tenha sido abordadonosblocosinformativosanteriores,noperíododa“Manhã1”,porexemplo, mas que será desenvolvido mais aprofundadamente no “Destaque do Meio-dia”, se existiremjásons,osmesmospodemserreutilizados.Damesmaformaque,sejaqual for o tema, os sons usados no “Destaque” podem ser recuperados nos noticiários seguintes,semprequesejustifique.Seduranteoprocesso de recolha de informação, nomeadamenteduranteumaentrevista,ojornalistaqueaexecutaverificarqueháuma informação que devido à sua importância merece “ir para o ar”, o mais depressa possível, esse som também pode entrar nos blocos informativos anteriores ao “Destaque”. Sendo que é habitual ser feita uma chamada de atenção, por parte do jornalistaqueestáaeditaronoticiário,paradizerqueaqueleéumassuntoqueiráser desenvolvidoaomeio-dia,no“Destaque”.

Apóstersidorecolhidaainformação,osjornalistasapresentamaoeditoraquilo que têm de mais relevante, e ambos discutem o lead e as informações que importa fazerempartedapeça. Sendoqueaúltimapalavracabe,sempre,aoEditor.Otempo quelevaaprepararo“Destaque”nãoéexacto,dependedeumasériedefactores,quejá foramreferidos,taiscomoosentrevistados,otipodepeças,otema escolhido,entre outros.Esãoessesfactoresquevãodeterminarotempodisponívelparaaproduçãodo noticiário.Aequipachegaàredacçãoàs07horasdamanhãeo“Destaque”temdeir paraaantenaàs12horas.Sendoassim,estamosperanteumperíodode5horas,mas nãoéconvenienteestaraligarparaumentrevistadoàs07:30,peloque,écostumefazê- loapenasdepoisdas09h.Porisso,eudiriaqueotempomédiodepreparaçãositua-se entreasduaseastrêshoras.Nãocreioqueexistaum deadline pré-estabelecidocomo limiteparasecomeçaraprepararo“Destaque”,noentanto,pensoquemenosdeduas horaspodeserarriscado,namedidaemquepodefaltartempoparaconcretizaralgumas coisas.

Enquantoosjornalistastrabalhamaspeçasquelhesforamatribuídas,editando ossons,escrevendootexto,gravandootexto,efazendoamontagemdapeça,oEditor estájáatrabalharnoalinhamentodonoticiário.Oobjectivoéapresentarainformação comosedeumahistóriasetratasse,sendoque,emprimeirolugarsurgemsempreas notícias mais importantes. Nesta fase, o Editor, procura saber a forma como os jornalistascomeçamassuaspeças,paraescreverolançamentodasmesmas,comvistaa criar uma sequência lógica e uma transição “suave” entre os diferentes textos que

19 compõemo“Destaque”.Noalinhamentoconstamtambém as indicações de todos os sons que vão para o ar, desde peças, RM’s, sons em directo, entre outros. Estas indicaçõessãodeextremaimportânciaporquepermitemaoEditorsaberaspausasque tem de fazer, a entoação que tem de dar, mas tambémassumirocontrolodetodoo noticiário,nomeadamenteemtermosdetempo.Poisumavezqueo“Destaque”éfeito emdirecto,convémqueoEditorsaibaotempoquevaidurarcadaumadaspeçasque vão entrar no noticiário. Alguns minutos antes de ir para a antena, o alinhamento é entregue ao técnico que vai prestar apoio à emissão, para que este também tenha conhecimentodetodosossonsquevaicolocarnoareaordempelaqualelesdeverão aparecer.DuranteonoticiáriooEditorfazumsinalaotécnicosemprequepretendeque este“lance”opróximosom.

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PARTEII

ODestaquedoMeio-diadaRádioRenascença

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Introdução

O presente estudo surge no âmbito do estágio curricular do Mestrado, que realizeinaRádioRenascençaentreosdias28deSetembroe23deDezembrode2009. Oestágiodesenvolveu-senaredacçãodoPorto,responsávelporassegurarainformação noticiosanohoráriohabitualmentedesignadode“Manhã2”,queproduzosnoticiários entre as10heas14h. Tendoacompanhadoe, atécerto ponto, participado da rotina produtivada“Manhã2”,acheiporbem,queesteestudoestivesserelacionadocomo trabalhodesenvolvidopelamesma.

Este trabalho pretende traçar o perfil do “destaque do meio-dia” da Rádio Renascença.Umnoticiárioalargado,decarácterdiário,sobreumtemaespecífico.Para realizaraanáliseforamtidosemcontaos“Destaques”quepassaramnaantena,durante asemanade2a6deNovembrode2009,quefoiescolhidaaleatoriamente.Ométodo utilizadoéanálisedeconteúdo,queassentanaanálisequantitativadostemas,tiposde peçasefontes.Oobjectivoécaracterizaresteespaçoinformativo,aomesmotempoque setentaperceberquaisassuasbaseselinhasorientadoras.Oassuntotorna-serelevante namedidaemqueesteformatonãotemlugarnoutrasestaçõesderádionacionaissendo assimumamarcadaRádioRenascença.

Ofactodaescolhaterrecaídosobreo“DestaquedoMeiodia”prende-se,nãosó pelo facto de ter sido objecto de observação e participação, da minha parte, mas também,peloseucaráctersingular.Trata-sedeumnoticiáriomonotemático,oúnicodo género em toda a programação da Rádio Renascença. Mas também, como já foi referido, exclusivo da estação, tendo em conta que não existe nada de semelhante no panoramainformativoradiofóniconacional.Creioqueotemaérelevante,nãosópelos motivosjáapresentadosmastambémporquenãoexistequalquerestudopréviosobreo mesmo,oqueconstituiuumadificuldadeacrescida.Noentanto,pensoquepoderáser útil,atéparainvestigaçõesfuturas,maisaprofundadas,existirjáumabase,umpontode partida.Assim,comestetrabalhopretende-setraçaroperfildestenoticiário,enquadrá- lo na estrutura informativa da estação, bem como perceber alguns pressupostos que servemdebaseàsuaedição.

Aanálisecentra-seemtrêscategoriasprincipais:temas,tiposdepeçasefontes de informação. Em primeiro lugar pretende-se saber quaisostemasquesurgemcom

23 maisfrequência,mastambémoscritériosquelhesestãosubjacentes e asrazõesque levamaescolherdeterminadotemaemdetrimentodeoutros.Emsegundolugar,saber comoéapresentadaainformação:quaisosgénerosjornalísticospresenteseoqueéque representamessasescolhas.Emterceirolugar,seháalgumapreferênciarelativamente aotipodefontes.Nestesentidooobjectivoéresponderàsseguintesquestões:Existem temaspreferenciaisouqualquerassuntopodeserobjectodo“destaque”?Háumaaposta na diversificação das peças jornalísticas? Existe um recurso tanto a Fontes Oficiais comoaNãoOficiais?

Osresultadosrevelamqueo“Destaque”podeincluirqualquertema,sendoque ostemasestruturantessãomaisfrequentes,talvezporteremummaiorimpactonodia-a- diadaspessoas.Existeumagrandediversidadedeconteúdosmascujopotencialesbarra numaestruturaquerecorrefrequentementeaousoda“Declaração”,nãotirandopartido deoutrostiposdepeçasqueimprimemritmoaonoticiárioequepossamcontribuirpara umprocessocomunicativomaiseficaz.Relativamenteàsfontesexisteumapreocupação emestabelecerumequilíbrioentreOficiaiseNãoOficiais,comumatendênciaparadar preferênciaàsFontesOficiaiscomo,deresto,épráticacorrentenojornalismo.

AInformaçãoSonora

Arádioaindaé,porventura,omeiodecomunicaçãosocialmaisdemocrático,na medidaemqueéaquelequechegaamaispessoas,emtodoomundoedeformamais acessível. Por um lado, porque se trata de um meio tecnologicamente barato, ao contráriodatelevisãooudaimprensa.Poroutro,porquenãoexigedapartedequemo escuta, grandes competências intelectuais. Requisito fundamental para a imprensa ou paraainternet,doismeiosvedadosatodaapopulaçãoanalfabeta.Istoporquesetrata deummeioconsideravelmentesimples,oquelevaaquesejamuitasvezesvistocomoo “parentepobre”dacomunicaçãosocial.Masessasimplicidadequecaracterizaarádioé também, talvez, a sua maior vantagem, relativamente aos restantes meios de comunicação.Dadoqueénelaqueresideasuacapacidadede chegar maislongee a maispessoas.Numasituaçãodeemergência,porexemplo,arádioapresenta-secapaz nãosódecontinuarainformar,comotambémdeseramaisrápidaafazê-lo.“Emcaso

24 de catástrofes, como terramotos e inundações, em situações tão díspares como uma guerra ou um apagão generalizado de uma cidade, a rádio serve para informar da situação,manteroalertaedifundirnormaseinstruçõesnecessáriasparaapopulação” (Muñoz e Gil, 2002: 13). Ainda recentemente sucedeu no Haiti um exemplo disso mesmo.Apósoterramotoquedevastouopaís,emJaneirode2010,foiatravésdeuma rádioqueoshaitianospuderamtomarconsciênciadoqueseestavaapassar,dasajudas queiamchegandoedecomolhespodiamaceder.Foitambématravésdessarádioque muitaspessoasconseguiramreencontrarosseusfamiliares,bemcomodarinformações àsequipasderesgate,sobrealocalizaçãodepessoasqueestavamsoterradas.Estassão algumasdasrazõesquecontribuemparaquearádiosejaummeiodeinestimávelvalor, capaz de sobreviver e cumprir o seu propósito nas situações mais adversas e elementares.

Asimplicidadedequesefalavaanteriormente,equecaracterizaarádio,reside nofactodestatercomolinguagemprincipal,osom.Aocontráriodosoutrosmeiosde comunicaçãoquecombinamdoisoumaistiposdelinguagem(palavra,som,imagem),a rádio é som. “A rádio é um meio de comunicação ambivalente, instrumental, à distância,colectivo,directo,recente,efémeroequeutilizacomoveículofísicoprimário osom(MuñozeGil,2002:17).Osomé,defacto,oprincipalelementoexpressivoda rádio, assumindo múltiplas funções. É apenas e só através do som, que a rádio comunica,informaeentretém.“Semimagemouapalavraescrita,aemissãoradiofónica hertzianaestabeleceumvínculocomunicativocomosseusouvintesapartirdoscódigos e ícones da realidade que as diversas sonoridades constroem ao serem emitidas. É a partir desses sons que os ouvintes criam imagens mentais sobre aquilo que ouvem (Bonixe,2007:29).Acomunicaçãoemrádiofaz-secombasenapalavraoral,efeitos sonoros captados na realidade, música, sons tecnificados (criados pela técnica radiofónica),eéamisturadetodasessassonoridadesquepermitequeseestabeleçaum discurso. “A narração radiofónica enriquece-se graças às múltiplas possibilidades combinatóriasdasdiversasfontessonorasqueseutilizam, sejam da mesma natureza (várias vozes) ou de naturezas distintas (voz, música ou efeitos). E nessa mescla heterogéneaháumduploenriquecimento:porumlado a natureza particular de cada fontefavoreceaheterogeneidadeestéticaedeconteúdos,eporoutrolado,aalternância deelementosgeraritmodeformaautomática”(Soengas,2006:101).

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Nainformação,queéoqueinteressanopresentetrabalho,éigualmenteatravés do som que a mensagem vai chegar ao ouvinte. Mas porque estamos no plano informativo,oobjectivoéfazerumretratoomaisfielpossíveldaquiloquesepassana realidade.Peloqueadificuldadepassaporseleccionaramelhorformadearticularos sonsdisponíveis,provenientesdeváriasfontes,deformaaqueoouvinteobtenhaesse mesmo retrato. “O desafio na informação radiofónica é o de reproduzir a realidade utilizandoparaissoapenasosom.Semaajudadaimagem,arádioreproduzarealidade construindo imagens auditivas que facilitam a descodificação das mensagens e as tornam mais próximas dos ouvintes, e como tal perceptíveis” (Bonixe, 2007:33). SegundoXoséSoengas(cit.porBonixe,2007:33)asimagensauditivasfuncionamno campo da informação a três níveis distintos: Informativo (ajudam a compreender o conteúdo da informação, facilitando a descodificação); Referencial (proporcionam a percepçãoealigaçãoaoespaçogeográfico);Expressivo(atravésdasimagensauditivas oouvinterecebesensaçõesqueoajudamaassimilaraspectosconotativosprópriosdas mensagens).Cabe aojornalistaseleccionarossons dequedispõe,eapresentá-losde maneira a que o ouvinte encontre neles, tudo o que precisa para compreender a totalidadedainformaçãotransmitida.

Na informação radiofónica a presença ou ausência dedeterminadossonspode significar a existência ou a inexistência da notícia. Isto porque há notícias que simplesmentenãoexistemsenãohouverasdeclaraçõesdoprotagonista,porexemplo. Masmesmonaquelassituaçõesemqueorelatodeumacontecimentovaleporsisó,a notícia sairá enriquecida, se dela fizer parte um som que a reforce e lhe dê uma credibilidadeacrescida.“Autilizaçãodesonscaptadosnotempoenoespaçoemque decorre a acção atribui à peça radiofónica credibilidade, para além de ajudar a criar ambientes”(Bonixe,2007:49).Maspara alémdesseacréscimo de credibilidade e do facto de proporcionar ao ouvinte mais elementos que o ajudam a compreender a mensagem, o som, ou a ausência dele, pode também atribuir uma significação ao assunto.Istoé,podeaindainformaroouvinteacercadovalorqueojornalistaatribuia determinado acontecimento, principalmente quando se tratam de declarações ou testemunhos. Pois umanotícia sem declarações, pode significar que não foi possível obtê-las, mas também, que o tema não possui relevância suficiente para as incluir (Bonixe,2007:41).Nestesentido,podemosretiraraseguinteconclusão:“Aconstrução sonora da realidade depende, assim, de três pilares fundamentais: os sons do

26 acontecimento, a construção feita pelo jornalista e a imagem mental criada pelos ouvintes(Bonixe,2007:50).Sendoque,emtodasasetapasdaproduçãoinformativa,o jornalistadevetercomopreocupaçãoessaimagemmentaldoouvinte.Ouseja,deve articular os sons por forma a que o ouvinte construa uma imagem mental o mais próximapossíveldarealidade.Sendocertoquecadaouvinteiráproduzirasuaprópria imagemmental,tendoemcontaquetodososindivíduossãodiferentes.

Nopresentetrabalhoosomestásubjacenteaostrêsníveisdeanálisequeforam definidos: Temas, Tipos de Peças e Fontes. Ou seja,écombasenosomquesevai procederàclassificaçãodestastrêscategorias.Dependendodoconteúdodossons,vão- sedeterminarostemasemdestaque.Olhandoparaformacomoossonssãoarticulados e apresentados, vão-se definir os tipos de peças. Determinando os protagonistas dos sonsvão-seidentificarasfontes.Portudoisto,osomvaiseramatéria-primaparaeste estudo .

O“DestaquedoMeio-Dia”naProgramaçãodaRenascença

Antes de se avançar para a análise, importa perceber o contexto em que o “destaque do meio-dia” se insere na programação da Rádio Renascença, bem como, conhecerospressupostosdaemissora.

ARádioRenascençaéummeiodecomunicaçãodeinspiraçãocatólica.Nasceu em 1937 através da Igreja, que viu na rádio, uma nova forma de apostolado. “Os objectivosdaEmissoraCatólicaforamsempremuitoclaros:tornarCristopresentena sociedade e na cultura portuguesa, pela constante formação de uma opinião pública católica, consciente dos seus deveres e da sua missão” (Miguel, 1992: 89). Um dos principais impulsionadores do projecto Renascença, o Padre Lopes da Cruz (cit. por Ribeiro,2001:99),desdecedodeixouclaroqueosvaloresdaIgrejaserviriamdebaseà programação da Rádio Renascença: “A Emissora Católica não se destina apenas a transmitirlongossermões.Faremostambémoqueasoutrasfazem,emborasemprecom critérioesentidocatólicos”.ActualmenteaRádioRenascençaéparteintegrantedeum grupodecomunicaçãomaisvasto,queseencontraemfasedereestruturação.“R/Com”

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éaactualdesignaçãodogrupo,queenglobaoutrasrádios(RFM,MegaHitseSim);o jornalonline“Página1”;aempresadepublicidade“Intervoz“;ea“GeniuseMeios” uma empresa de promoção de eventos e espectáculos, e de formação na área da comunicação.60%DogrupopertenceaoPatriarcadodeLisboaeosrestantes40%à ConferênciaEpiscopal.Mas73anosdepois,apesardaquiloqueéhojeaRenascençae daexpansãoquejáestáemmarcha,avocaçãomissionáriamantém-se,comoassegurao directordogrupoJoãoAguiardeCampos:“Antesdesermosemissoracatólicatemosde seremissor,edepoisprofissionaiscomumolharevangélicosobreassituações”. 16

A Rádio Renascença assume-se como generalista, sendo que Informação, DeportoeReligião,constituemumaparteimportantedaprogramação.Relativamenteà Informação,queéaáreadeinteressedestetrabalho,importaperceberapreponderância queestaassumenagrelhadaestação.ARenascençatemserviçosnoticiososatodasas horas,24horaspordia.Essesblocosinformativostêmaduraçãode7minutosemeioe têmcomoobjectivoactualizaredesenvolverasnotíciasaolongododiainformativo. Duranteoperíododamanhãhátambémnoticiáriosàsmeias-horas(06:30h/07:30h/ 08:30h/09:30h)Tambémtodososdias,às09:45hvaiparaoararevistadeimprensa internacional,umespaçoondesefazumabreverondaporaquiloquedemaisimportante acontecenomundo.Existemaindaprogramasinformativos,quevãodesdeaentrevista, passando pelo debate, reportagem até à opinião, e que variam consoante os dias da semana. Exemplo disso são os programas “Falar Claro”, Terça à noite”, “Espaço Aberto”, ou “Edição Internacional”, que vão para a antena essencialmente no horário nocturno.Estesprogramaspodemserapenassobreum tema como é o caso do “Res Publica”,umespaçodedicadoaocentenáriodaRepúblicaPortuguesa,oudoprograma “Europa,paraqueteQuero?”,ondesãoabordadosassuntosrelativosàUniãoEuropeia. Mas, na sua maioria, são espaços que procuram discutir e desenvolver problemas e acontecimentosdaactualidade,cujaabordagemvariaconsoanteosprotagonistasouo formato do programa. Diariamente, logo após o noticiário do meio-dia, surge o “Destaquedomeio-dia”,queseráalvodeanálise,nopresentetrabalho.Trata-sedeum noticiáriode10minutosque,segundoojornalistaSérgioCosta 17 ,temcomoobjectivo“ desenvolver,explorandotodososângulospossíveis,otemamaisfortedaactualidade”.

16 “GostaríamosdedesafiaraIgrejaparaaconstituiçãodeumbomgrupodecomunicação”, in Meiose Publicidade, www.meiosepublicidade.pt (consultaem22Abril2010).

17 Ementrevistaporescritoconcedidaa22deAbrilde2010.

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Oconceitodesteespaçoinformativoéúnicoanívelnacional,sendoporissoumamarca daemissora.

O “Destaque do meio-dia” é um espaço de informação mono temático que permiteumadiversidadedegénerosjornalísticos,queoformatorígidodonoticiário 18 não possibilita, nomeadamente por questões de tempo. Numa entrevista 19 a Sérgio Costa,ojornalistarevelouqueo“Destaque”permiteadivulgaçãodeentrevistascom maiorprofundidade,adiversificaçãodereacções(deinúmerassensibilidades),tornando oespaçomaisdemocrático,eaindairparaoterrenocomreportagens,nãoesquecendoo comentárioeaanálisecomumavisãoindependentesobreotemaprincipal.Sendoo “Destaque”umnoticiário,cabeaoeditordecidirosconteúdos,aformacomoestesvão serapresentados(notícia,reportagem,entrevista,etc.),eosjornalistasqueosvãotratar. “De todos os temas e conteúdos possíveis, o editor seleccionará aqueles que no seu entender têm mais interesse e decidirá sobre o seu tratamento formal dentro do noticiário”(OrtizeMarchamalo,1994:130).Depoiscabetambémaoeditorelaborarum guiãoondeestaráformalizadatodaaestruturadonoticiário e que servirá de guia de orientação não só para o editor, mas também para a equipa técnica. “O guião deve incluir todos os temas a desenvolver (textos, entradas, assim como a descrição dos suportesquesevãoutilizar),emborafiquesempreemabertoparainformaçõesquese possamproduziràúltimadahoraeque,emmuitoscasos,vaitornarobsoletaalguma notíciaincluídanoprincípiodoguião”(OrtizeMarchamalo,1994:130,131).Peloque, o guião não tem uma estrutura fechada, deixando espaço para tirar partido da capacidade de instantaneidade que a rádio possui. “Outro desafio de um espaço de actualidade,opiniãoeanálisecomooDestaqueéodequetenhodeestarpreparadopara umaÚltimaHora,uma BreakingNews ,umdesenvolvimentodetodoimprevisível,uma respostaprovocatória,tudo.Equandodigotudo,étudomesmo”,refereJoséBastos 20 ,

18 “Trata-sedeumespaçodecurtaduração,entretrêsacincominutos,masdeamplíssimoalcance.Em cinco minutos, pontualmente e com uma periodicidade horária, a rádio generalista informa a sua audiênciadaúltimahorainformativa.Fá-lodeformaglobal,tendoemcontaquealimitaçãotemporalé extraordinária,maseficazmente”(MARTÍNEZ-COSTA,MariadelPilareMORENO,Elsa,2004:63).

19 VerAnexo1.

20 Ementrevistaporescritoconcedidaa5deMaiode2010.

29 editorprincipaldoprograma 21 .No“Destaque”,àsemelhançadoqueacontecenoutros noticiáriosoeditorprocurainformar,comoquemcontaumahistória,emqueháuma linhaderaciocínioquetemdeserfacilmenteassimiladapeloouvinte.Casocontrário,a mensagem, perde-se. A esse processo dá-se o nome de “alinhamento”. A ideia é escolheraordempelaqualasnotíciasvãoserapresentadas,porformaaquehajaumfio condutorentreelas.Quetalcomoaconteceemqualquerhistória,hajaumprincípio,um meioeumfim.No“DestaquedoMeio-dia”oalinhamentoprocede-se,normalmente,de acordo com Sérgio Costa, tendo em conta a seguinte estrutura: “Tentamos sempre conferirumalinhamentológico,comofactornovidadeemprimeirolugar(…)Segue-se o plano das reacções (…) De seguida a reportagem que tem quase sempre como objectivo avaliar os efeitos de determinada questão junto da população e conferir a opiniãocomum.Porúltimoocomentárioeanálisequesintetizaeavaliaosefeitosde todasasopiniõesanteriormentetransmitidas”.

O“DestaquedoMeio-dia”distingue-sedosrestantesnoticiários,porsermono temático e pelo facto do tema em causa ser desenvolvido sob vários prismas. Aproximando-se mais de um formato característico da imprensa escrita, do que da rádio. Isto porque é habitual na imprensa escrita ter como ponto de partida um determinadoacontecimentoedepois,analisá-losobdiversasperspectivas,quaseatéà exaustão.Nestesentido,o“Destaque”procuraexplicar e analisar os acontecimentos, muitoàsemelhançadoquesepodelernosjornaisequenãoéapanágiodainformação radiofónica.Ainformaçãoque,devidoaoslimitesdetempo,nãopodeserdesenvolvida nosblocosinformativosdehoraahora,dispõedesseespaçonestenoticiárioespecífico, quepoderáserentendidocomoumaformadecontrariarolimitetemporalimpostopela programação,dandoumcontextoànotícia,investigandocausaseconsequências,por oposiçãoàhabitualinformaçãodecarácterimediatoeefémero.

Metodologia

21 VerAnexo2.

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Opresentetrabalhoassume-secomoumestudodecaso.Estetipodetrabalhos envolve, geralmente “pesquisas descritivas em que vários métodos e técnicas são combinados (desde a observação participante; às entrevistas, inquéritos, etc.) para investigaraprofundadaesistematicamenteumapessoa,umgrupo,umaorganizaçãoou uma determinada ocorrência no seu contexto, dentro de um período determinado de tempo” (Sousa, 2006:322). Neste sentido a metodologia de análise desenvolveu-se segundotrêsfasesoumétodos:

ObservaçãoParticipante :Aobservaçãorealizadaduranteoestágiosobreoprocessode preparaçãodo“DestaquedoMeio-dia”.

Recolha de Dados :Arecolhaquantitativadedadoseotratamentodos mesmos, que teveporbaseométododeanálisedeconteúdo(queserádesenvolvidoembaixo).

Entrevistas :Asentrevistasrealizadasadoisjornalistasque diariamente trabalham na concepçãoerealizaçãodo“Destaque”equesurgemcomoumcomplementoàanálise deconteúdo.OsjornalistasentrevistadosforamoJoséBastos(EditordeInternacional), que é também o editor do “Destaque do Meio-dia” e consequentemente responsável máximo por aquele espaço informativo. E o Sérgio Costa (Jornalista) que não só desempenha funções enquanto jornalista que produz peças para o “Destaque” mas tambémassumeopapeldeeditor,semprequeoJoséBastosnãoopodefazer,oquelhe permite ter duas visões e duas colaborações distintas no processo de produção deste noticiário. Procurei também entrevistar o Pedro Leal, subdirector de informação da RádioRenascençaeomaisaltoresponsávelpelaInformaçãonaredacçãodoPorto.O objectivoeraqueelepudessedarumavisãomaisglobalsobreospilareseopropósito da informação da Renascença, por forma a realizar uma melhor caracterização da Informaçãodaemissora,mastambémparapercebero espaço e a importância que o “Destaque”,emparticular,assumenointeriordamesma.Noentanto,arespostaaessa entrevistanãochegouemtempoútil,porrazõesalheiasàminhavontade.

Para analisar os “Destaques”, bem como as notícias que deles fazem parte, procedeu-seaométododeanálisedodiscursoconhecidocomoanálisedeconteúdo,que diz respeito à análise quantitativa do discurso. Este método permite “trabalhar com valores essencialmente quantificáveis, definidos por categorias estabelecidas e comprovadas em estudos similares. Desta forma, a colecta de dados é baseada na mensuração de textos e as conclusões expressas de forma numérica, o que facilita o

31 cruzamento de informações e a elaboração de tabelas e gráficos explicativos…” (MarquesdeMelocit.porSousa,2006:345).

Aamostraécompostapelasnotíciasqueconstamdosdestaquesquepassaram na antena da Rádio Renascença entre os dias 2 e 6 de Novembro de 2009. São 5 destaques,comaduraçãode10minutos,cada.

Para realizar a análise torna-se necessário definir categorias. Este conceito permiteclassificarelementossubstantivosdodiscurso.Noestudoemcausadefiniram- se3categorias:Temas,TiposdePeçaseFontes.

1. Temas

Àsemelhançadoqueacontecenaimprensa,narádiotambémexistemeditorias, aindaque,nãosejamtãofacilmenteidentificáveis,umavezquenemsempre,oouvinte é informado previamente sobre a temática da notícia que se segue. Ao contrário da imprensaondeessainformaçãoconsta,normalmentenotopodapágina,revelandoao leitor qual a editoria a que determinada notícia pertence. Segundo Carmen Carvalho (2007: 7) esta divisão dos conteúdos informativos surgiu como uma estratégia mercantilista. Dividindo os consumidores, que estão previamente identificados e mapeando os seus gostos e preferências, transformando-os em produtos, estamos peranteumaestratégiademarketingparaaobtençãodelucronomercado.Destaforma, o consumidor do produto informativo pode, com maior facilidade, procurar apenas sabersobreosassuntosquemaislheinteressam.Assim,aseditoriasaparecemcomo intuito de atender aos mais diferentes segmentos de públicos. “O conceito de segmentação da notícia é conhecido como “jornalismo especializado”: informação dirigidaàcoberturadeassuntosdeterminadoseemfunçãodecertospúblicos,dandoa notícia em carácter específico” (Bahia cit. por Carvalho,2007:8).Umdosexemplos maisfrequentesemaisinfluentesdejornalismoespecializadoéojornalismodesportivo. Mas há muitas outras editorias: política, economia, internacional, cultura, etc., cuja prevalência varia consoante o órgão de comunicação social. Também na rádio, a informaçãoésegmentada,agrupada,consoanteostemasouassuntos.Adiferençaéque asuaapresentaçãonãoéfeitacombasenaseditorias,massimporordemdecrescentede importânciadasnotícias.Ouseja,ainformaçãoédadaapartirdamaisimportante,para amenosimportante,tendoemcontaoscritériosdenoticiabilidade.

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No“DestaquedoMeio-dia”aprincipalcaracterísticaresidenofactodetodasas notíciasseremsobreummesmotema.Logo,significaquediariamenteestáemrelevo umaeditoria.Maspelo factode estarem causaomeio rádio, onde as editorias não assumemgranderelevânciaparaopúblico,nestetrabalho,vamosoptarporsubstituiro termo editoria, por tema, que será entendido como uma subcategoria. Assim, estabeleceram-se as seguintes subcategorias: Política, Economia, Desporto, Religião, Saúde,Cultura,Internacional,Justiça,Educação,Sociedade,eOutros.Estaúltimavisa contemplar todas as notícias que não se enquadrem em nenhuma das subcategorias anteriores.

2. TiposdePeças

“Os géneros jornalísticos correspondem a determinados modelos de interpretaçãoeapropriaçãodarealidadeatravésdelinguagens.Arealidadenãocontém notícias,entrevistas,reportagens,etc.Sendoumaformadeinterpretaçãoapropriativada realidade, os géneros jornalísticos são uma construção e uma criação” (Sousa, 2005: 168). O mesmo é dizer que os géneros jornalísticos, mais não são do que formas estruturadas de transmitir aquilo que se passa no mundo. Notícia, reportagem, entrevista, crónica, comentário, análise, etc., são alguns dos géneros jornalísticos existentes,cujapreponderânciavariaconsoanteomeioeoórgãodecomunicação.No presentetrabalhovaiserdadorelevoànotíciaeàreportagem,porseremosdoisgéneros predominantesnaamostra.Mas,optou-sepordenominarestacategoriapor“Tiposde Peças”,umavezqueomesmogénerojornalísticoaparecesobdiversasformas:

Notícia:

“Anotíciaéainformaçãoclaraebrevesobrefactosouacontecimentosrecentes (actuaiseoportunos)deinteressesocialoucolectivo”(MuñozeGil,2002:127).Éo género básico do jornalismo. Todos os outros derivam da notícia. “A notícia é concebida como um relato puro e realista dos factos e opiniões que aparecem na realidade. É uma narração de factos e circunstâncias para que as pessoas que não estiveram presentes tenham um conhecimento o mais exacto possível daquilo que ocorreu” (Herreros, 1992: 121). Mas o género jornalístico “notícia” contempla diferentesformatos.Ouseja,anotícia,emparticularnarádio,podeapresentar-sesob diversas formas: com sons, sem sons, com testemunhos, sem eles, com a voz do jornalistaalternadacomtodosestesfactores,etc.Razãopelaqualsedecidiuanalisaras

33 subcategorias que se seguem e não apenas ter em conta os géneros jornalísticos clássicos 22 .Importatambémreferirqueassubcategoriasreferidasforamdefinidascom basenosgénerosjornalísticosaudiovisuais 23 .Nestesentido,distinguiram-se,noâmbito danotícia,3subcategorias:

a) Notíciasójornalista –Éanotíciaqueénarradasomentepelojornalista,que não o editor do noticiário, sem recorrer a RM’s. O jornalista relata o acontecimentoepodeatétransmitirasdeclaraçõesouopiniõesdeterceiros,mas recorrendo ao discurso indirecto. É a notícia construída somente através da palavra dita que “é uma linguagem magnífica para resumir uma série de detalhesdeumamaneiraglobaledefáciltransmissãoecompreensãoporparte do destinatário. O que se pretende é que a versão oral da realidade seja um relatoomaisfielpossíveldaquiloqueocorreu”(Herreros,1992:122).

b) NotíciacomRM’S –Éanotíciacompostapelorelatodojornalista,quenãoo editor do noticiário, que alterna com a introdução de RM’s, que podem ser declaraçõesououtroselementossonoros,taiscomo ruídos, sons ambiente ou música.NocasodosRM’sseremdeclaraçõeséchamadaanotíciacomcitações. “Anotíciacomcitações“comvoz”temumaestruturageralsimilarànotícia estrita,masalgunsdosdadossãoexpressospelavozdoprotagonistadosfactos oupelafonte.Anotíciaassimpreparadaganhaemritmoesustentação,jáque

22 “Correntemente,tipificam-seosprincipaisgénerosjornalísticosem notícia,entrevista,reportagem, crónica, editorial e artigo (de opinião, de análise, etc.). Porém os géneros jornalísticos não têm fronteiras rígidas e, por vezes, é difícil classificar uma determinada peça, até porque, consideradas estrategicamente,todasaspeçasjornalísticassãonotícias ,seaportareminformaçãonova.”(Sousa,2005: 168).

23 Mariano Cébrian Herreros define uma série de géneros jornalísticos audiovisuais que, segundo o próprio,resultamdeumatriplajunção:“Primeiro,comalargatradiçãodosgénerosliterários;segundo, com a prática dos géneros jornalísticos escritos; e terceiro, com a própria história da comunicação e informação audiovisuais” (Herreros, 1992: 11). Assim, para Herreros existem 3 grupos de géneros informativosaudiovisuais:

• GénerosExpressivoseTestemunhais:Editorial;Comentário;Crítica;Crónica.

• GénerosReferenciaisouExpositivos:Notícia;Reportagem;ReportagemdeInvestigação;Relato Jornalístico;Documentárioinformativo;DocumentárioDramático.

• Géneros Dialogais ou Apelativos: Entrevista; Inquérito; Conferência de Imprensa e Roda InformativaemEstúdio;GénerosColoquiaisedeDebate;GénerosdeParticipaçãoDialogalda Audiência.

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introduz mudanças de voz e, sobretudo, pode incluir o cenário sonoro dos factos, transmissor de informação em si mesmo” (Prado, 1985: 53). Mas os RM’spodemsertodoequalquersomqueactuenacomposiçãodanotícia.Para Herreros (1992: 123) os ruídos são a manifestação sonora da realidade, pertencemaqualquerrealidadefísica,animalouhumana.Eporisso,constituem umvalordocumentalmagníficoservindoderelatosemmaisadiçõesàsituação.

c) Declaração –Surgequandoanotíciaenunciadapeloeditorécomplementada com um testemunho de alguém, que não um jornalista. O editor apresenta a notíciaecolocanoarumRM.TendoemcontaqueovulgoconceitodeRM (que significa registo magnético, embora actualmente se trabalhe com RD, registo digital) engloba vários tipos de sons, optou-se delimitar o conceito. Assim, por “declaração” entende-se que se trata apenas da palavra, ou testemunho de alguém. A declaração é usada para dar mais credibilidade à informação. “As declarações de protagonistas, testemunhos, personagens que ampliamdados(nãoconfundircomentrevistas)sãomaisumapartedanotícia contadapeloinformador”(MuñozeGil,2002:128).

Reportagem:

Areportagemusa-separarelatarosacontecimentos.Podeincluiroutrosgéneros jornalísticos tais como a notícia ou a entrevista. É o formato que mais potencia a capacidadecriativadojornalista(Martín,2007:10).Ofactorqueserviudebase,neste trabalho,paradistinguirareportagemdanotíciaéaindicaçãodequeestaserealizafora daredacção,nolocalondeocorreramosfactos.Éessa,aliás,aessênciadareportagem: “aideiadeexterior,dedeslocação,fazendojustiçaàetimologiadapalavraemlatimque significa transportar, levar… ao ouvinte as informações apuradas pelo repórter” (Meneses, 2003: 189). Assim, consideraram-se reportagens todas peças jornalísticas realizadasapartirdoexterior.Oqueseaferiuatravésdaindicaçãodadapeloeditor,ao lançarorepórternaantena,oupelapercepçãodomeioenvolvente,claramenteexterior à redacção. Neste trabalho, optou-se por dividir o conceito de reportagem em duas subcategorias:

d) Reportagemsójornalista –Éaquelaquecontaapenascomaspalavrasdo repórter.Quandoestereportaos acontecimentossem recorrer a RM’s. “Fazer umareportagemsignifica,emgrandemedida,contarumahistória.Areportagem

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é um espaço apropriado para expor causas e consequências de um acontecimento,paraocontextualizar,interpretareaprofundar,massemprenum estilovivo,queaproximeoleitordoacontecimento,que“afogue”oleitorna história”(Sousa,2005:187).Aquiojornalistanarraahistóriacombasenaquilo que viu, nos testemunhos que recolheu, mas apenas e só, através das suas palavras,fazendoumareconstituiçãodosfactosocorridos.

e) ReportagemcomRM’s –Consistenorelatodosacontecimentoscomrecursoa testemunhos, declarações ou outros sons, que ajudem a contextualizar os acontecimentos. Neste caso, a voz do jornalista passa para segundo plano. Herreros defende mesmo que palavra do repórter é só um factor coadjuvante pararessaltaraqualidadedeumareportagem.Masquenasboasreportagensé cada vez mais escassa a palavra do narrador, sobretudo quando os sons se expressamporsisó(Herreros,1992:155).

3. Fontes

Deumaformageral,fonteétodaequalquerpessoa,organização,documento, acontecimento ou outros, a que o jornalista recorre para obter informação. “É todo aquele sujeito que possa, de alguma maneira, transmitir informações sobre um dado acontecimento ao jornalista. Essa informação pode ser transmitida pessoalmente ou atravésdeferramentasquefaçamamediaçãodarelaçãofonte–comunicador”(Lopez, 2009:2).MasVascoRibeiro(2009:18)chamaaatençãoparaofactodeque“nemtodas as notícias dependem de fontes externas, pois a fonte pode ser o próprio jornalista, quandoobservaoacontecimento”.Existemdiversasteoriassobrefontesdeinformação, bemcomo,váriasclassificaçõesquepodemseratribuídasàsmesmas.Tendoemconta que este não é um estudo sobre fontes de informação, optou-se por fazer uma classificaçãosimplista.Comotal,dividiram-seasfontesem3subcategorias:Oficiais, NãoOficiais,NãoIdentificas/Nãoatribuídas.Entendeu-seserimportanteanalisaras fontes,paraperceberseexistealgumatendênciaparapreferirumasemdetrimentodas outras.

f) FontesOficiais:

“São aquelas mantidas pelo Estado ou por instituições, como empresas, organizações, sindicatos, etc.” (Lopez, 2009: 10). São, normalmente,

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consideradas mais fiáveis e por isso mesmo, são frequentemente valorizadas pelos jornalistas. Hall et al. (cit. por Santos, 1997: 29) considera que essa tendência se limita a reproduzir a ordem institucional da sociedade. Ou seja, parte-sedoprincípioqueosmaispoderososoucomestatutosocialmaiselevado terão as suas definições mais bem aceites. Trata-se da hierarquia da credibilidade.

Nesteestudoforamconsideradasfontesoficiais,todasaquelasqueseenquadram nas seguintes categorias: Órgãos de Soberania, Poder Executivo, Poder Legislativo, Poder Judicial, Forças Armadas, Partidos Políticos, Sindicatos, Universidades, Instituições Governamentais, Assessores de Imprensa, Porta- vozes,RelaçõesPúblicas,EmpresasPúblicasePrivadas.

g) FontesNãoOficiais:

Sãoasfontesnãoautorizadas,ouseja,nãoestãodependentesdenenhumtipode poder,porissofalamapenasemnomedoseuinteresse próprio. São também mais espontâneas, uma vez que, podem nem sequer estar directamente relacionadas com o acontecimento, ou não apresentar nenhum interesse específico.

Consideraram-se fontes Não Oficiais as que derivam das seguintes categorias: Organizações Não Governamentais, Líderes de opinião, Analistas, Cidadãos individualizados,Movimentossociais,Gruposdepressão,Especialistas,Grupos depequenarepresentação,OutrosórgãosdeComunicação(nãoquandooórgão deComunicaçãoemiteumaposiçãosobreumassuntoquelhedizrespeito,mas sim,quandoojornalistarecorreanotíciaspor ele veiculadas, relativamente a terceiros).

h) FontesNãoIdentificadas/Nãoatribuídas:

Dizem respeito às notícias em que o jornalista ou o editor do noticiário transmitemdeterminadainformaçãosemquearesponsabilidadedamesmaseja atribuídaaalguém,ounoscasosemqueafontenãosejaidentificada.

Após a caracterização e definição das categorias e subcategorias em que foi dividida a amostra, importa referir que as unidades de análise dizem respeito às

37 subcategorias.Ouseja,oquesevaiquantificarsãoassubcategorias.Porexemplona categoria fontes, o que se pretende saber é quantas dessas fontes são Oficiais (subcategoria)eNãoOficiais(subcategoria).

Recorrendoàmediçãonominal,iráquantificar-seafrequênciadaocorrênciadas unidadesdeanálisedentrodecadacategoria.Destaformavaiserpossívelsaberquais ostemas,tiposdepeçaefontesmaispredominantes,procurandoaferirashipótesesque seseguem:

Hipótese1 :Ostemasestruturantesparaopaíssãooseleitosparaodestaquedomeio- dia.

Hipótese2 :Nãoháumaapostanadiversificaçãodaspeçasjornalísticas.

Hipótese3 :AsfontesoficiaissãoprivilegiadasporoposiçãoàsfontesNãoOficiais

Paraaferirestastrêshipótesesforamanalisadoscinconoticiários,oquecorrespondea 50minutosdesom.

Resultados

Tabela:ResultadosdaMediçãoNominaldassubcategoriasverificadasno“destaquedo meio-dia”daRádioRenascençanosdias2,3,4,5e6deNovembrode2009.

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Categoria Subcategoria Totais % Temas Política 3 60 Economia 0 0 Desporto 0 0 Religião 0 0 Saúde 0 0 Cultura 0 0 Internacional 0 0 Justiça 2 40 Educação 0 0 Sociedade 0 0 Outros 0 0 Total 5 100 TiposdePeças Reportagemsójornalista 1 3 ReportagemcomRm's 2 6 Entrevista 0 0 Debate 0 0 Voxpop/Inquérito 0 0 Crónica 0 0 Declaração 26 79 Notíciasójornalista 3 9 NotíciacomRM's 1 3 Outros 0 0 Total 33 100 Fontes Oficiais 21 62 Nãooficiais 13 38 Nãoidentificada/Não atribuída 0 0 Total 34 100

De acordo com a Tabela verifica-se que em 5 dias foram abordados apenas 2 temas.Sendoque3diasforamdedicadosàPolítica,oquesetraduznumtotalde60%e osoutros2,àJustiça(40%).

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Relativamente às peças jornalísticas, o “Destaque do meio-dia” privilegia a “Declaração”, que aparece 79% das vezes, representando o grosso da informação transmitida.A“notíciasójornalista”surgepor3vezes(9%),“notíciacomRM’s”,uma vez(3%),a“reportagemsójornalista”umavez(3%)ea“reportagemcomRM’s”,duas vezes (6%). Não se verifica a presença de outros géneros jornalísticos para além da NotíciaedaReportagem.

Quanto às fontes de informação, recorreu-se a 21 fontes oficiais, o que corresponde a um total de 62%. E a 13 fontes Não Oficiais, que resultam numa percentagem de 38%. É de salientar que todas as fontes foram devidamente identificadas,nãosetendoverificadoumaúnicanotíciacominformaçãoprovenientede fontesnãoatribuídasounãoidentificadas.

DiscussãodosResultados

Relativamente aos temas, aquilo que sobressai é que em cinco dias foram abordadosapenasdoistemas:PolíticaeJustiça.Oqueseexplicapelofactodasemana que serviu de amostra ter sido pautada por dois assuntos dominantes. No campo da Justiçaviviam-seosprimeirosdiasdaquelequeviria a ser o famoso “Processo Face Oculta”,aindaa correr nostribunais.Umcasodealegadacorrupçãoqueenvolveum empresáriodoramodasucataealtosquadrosdeempresascomparticipaçãodoEstado. O caso tinha “rebentado” em finais de Outubro e dominouosmeiosdecomunicação social durante várias semanas. Sendo que, em meados de Novembro, altura a que reporta a amostra, o fluxo de informações, nomeadamente o crescente número de empresas e personalidades alegadamente envolvidas, era constante, fazendo deste Processoumdosmaismediáticosnahistóriadacomunicaçãosocialportuguesa.Nessa semana,ocaso“FaceOculta”dominava,comojásedisse, os media nacionais. Mas durantedoisdias,oassuntofoirelegadoparasegundoplanoporquenaAssembleiada República,decorriaodebatesobreoprogramadoGoverno.Umdebatequeduroudois diasequefezcomqueduranteesseperíododetempo todas as atenções estivessem centradas no Parlamento. O que é perfeitamente legítimo, pois tratava-se de discutir

40 aquelequeseriaoprojectodatutelaparaopaís,duranteospróximosquatroanos.A importância destes dois assuntos explica a predominância dos temas “Política” e “Justiça”,numaúnicasemana.Eenquadra-senaquelesquesãooscritériosquesegundo Sérgio Costa, servem de base à escolha do “Destaque”: “A novidade absoluta, a relevânciadotemaparaoauditório,aproximidade”.Emboranãoestejacomprovado estatisticamente, verificou-se de forma empírica, através da observação realizada durante o estágio curricular, que estes dois temas, “Política” e “Justiça”, bem como outrostaiscomo“Saúde“,“Economia”ou“Educação”,estavamentreaspreferências doseditores.Emdetrimentodeassuntoshabitualmentevistoscommaiorligeirezacomo o“Desporto”oua“Cultura”.OjornalistaSérgioCostarefereque“Apreferênciadadaa temascomo“Política”,“Educação”,“Economia”etc.,estárelacionadacomummaior volumenoticiosoeaindacomofactodeseremassuntosqueestãorelacionadoscomo dia-a-diadaspessoas”.Oquevemconfirmaratendênciaparadarprevalênciaaestes temas,conformerevelaaamostra.

No que ao tipo de peças diz respeito, verificou-se uma preponderância da “Declaração” que surge em 79% dos casos. Este resultado revela uma reduzida diversificaçãodosgénerosjornalísticosutilizados.Oquecontribuiparaumamonotonia nainformação,quesepodetraduzirnumfactordepoucaatractividadeparaoouvinte. Mas a respeito da “Declaração”, importa fazer a seguinteressalva:Seé verdadeque algumasdestasdeclaraçõessurgememjeitodecomentário/análise,oquesucedeéque não foram consideradas comentário informativo, enquanto género jornalístico. Pois o género “Comentário” implica a presença em estúdio do comentador, o que não se verifica em nenhuma das situações constantes da amostra. “O comentário faz-se e difunde-seapartirdolugarondeestálocalizadaaredacçãodaemissora.Destemodo produz-seumdistanciamentofísicodosfactosparaobservá-loscomacalmaadequada” (Herreros,1992:67).Nestesentido,mesmoostestemunhosqueforamapresentadossob adesignaçãode“comentário”ou“análise”,foramconsiderados“Declaração”.Supõe-se queasreferidasdesignaçõesnãoqueriamdefactofazercorrespondênciacomogénero jornalísticoemcausa,emaisnãoforamdoqueexpressõesoraisfrequentementeusadas nojornalismoradiofónicoparaintroduzirodiscursodeterceiros.

Acombinaçãodosdiversosgénerosjornalísticos,contribui para dar ritmo ao noticiário,mastambémpara“prender”aatençãodoouvinte,quefacilmenteseabstrai seconsiderarainformaçãomonótona.DeacordocomSilviaMartín(2007:20)orecurso

41 a reportagens ou entrevistas, géneros que primam pelo diálogo, conduz a uma comunicaçãomaiseficaz,proporcionandoaosespaços informativos tornarem-se mais atractivos para o ouvinte. “O diálogo é uma das formas que mais nos aproxima da comunicaçãointerpessoal,porissoosgénerosqueoempregamsãoosquemelhorse adaptam ao meio, incrementando a proximidade psicológica com a audiência” E de facto,parecehaveressapreocupaçãoemcolocarodiálogonaantena.Queratravésde directos a que, pelo que pude observar, é sempre dada preferência relativamente ao deferido (sejam intervenções no exterior ou mesmo em estúdio), quer através das entrevistas, em que muitas vezes, apesar dos sons serem editados não se corta a pergunta ou a observação feita pelo jornalista, precisamente para dar essa noção de diálogo. Tendo tudo isto em conta, e principalmente a minha observação durante o estágio,parece-mequeexisteumaclarapreocupaçãoemmanterafluidezdonoticiário edecaptaraatençãodoouvintedoprincípioaofim,atravésdeumagrandediversidade dedepoimentos,edecolocarnoarváriasvozesdiferentes,ouatéasmesmas,masde forma alternada, mas sem uma grande consciência e preocupação relativamente ao aspectoformalatravésdoqualessesdepoimentosevozessãoapresentados.

Relativamenteàsfontesverifica-seumapredominânciadasfontesoficiais,oque vaiaoencontrodeumatendêncianojornalismo.Normalmenteasfontesoficiaisfazem parte das preferências dos jornalistas. O que de acordo com Mauro Wolf advém de quatro factores. Um deles é a produtividade, na medida em que este tipo de fontes corresponde melhor do que as outras, às necessidades organizativas das redacções, evitando o recurso a mais fontes para obter a mesma informação. Depois vem a credibilidade,jáqueainformaçãoveiculadaporfontesoficiaisevita,muitasvezes,ter deserconfirmadaporoutrasfontes,porquearesponsabilidadedainformaçãopassaa serdafonteenãodojornalista.Associadaaestefactorsurgea“garantia”que,nocaso dainformaçãonãopoderserconfirmada,ojornalistaprocurabasear-senahonestidade dafonte.Eporfim,arespeitabilidade,tendoemcontaqueseapresentamcomomais credíveis.Nãosóporquenãopodempermitir-sementir,mastambémporquesãomais persuasivasemvirtudedassuasacçõeseopiniõesseremoficiais(Wolf,1999:225,226). Aestesfactoresacresce-seomeiorádio,ondeorecursoafontesnãoidentificadasou outras menos perceptíveis raramente se verifica, porque não resulta. Uma vez que a rádiosecaracterizapelasuainstantaneidadetorna-senecessárioqueoouvinteperceba, sem margem para dúvidas, de onde provém a informação difundida. “A existência

42 apenasdeumsuporte/sentido(osom/ouvido)eaprecariedadedaescutadarádiodevem levar à identificação prévia e sistemática de todos os sons” (Menezes, 2003:68). O mesmo é dizer, que se devem identificar todas as fontes. “A informação escrita prevalece, ainformação radiofónicaacabaporsermaisefémerapeloqueorecursoa fontesoficiaisserámaiscredível” 24 .Razãopelaqualseexplicao factodenãoseter verificadonenhumcasodefontenãoidentificadaounãoatribuída.

Conclusões

Deacordocomoestudorealizadoverifica-seque é dada preferência a temas como“Política”ou“Justiça”.PeloquesepodeafirmarqueseconfirmaaHipótese1: Ostemasestruturantesparaopaíssãooseleitosparao“DestaquedoMeio-dia”.Tendo emcontaque“Política”e“Justiça”são,semdúvida,temasestruturantes.Édesalientar queapreferênciadadaaestesdoistemasresultadofactodeestarememcausaassuntos como o “Processo Face Oculta” e o “Debate do Programa do Governo”. Que não só conferemumenormeinteressenoticiosocomotambémacarretamumelevadonúmero denotícias.DeacordocomJoséBastos:“Atemáticadeescolhanãoéestanque:abrange umlargoespectrodostemasdeactualidade, currentaffairs ,naexpressãoinglesaque prefiro: temas com impacto na vida quotidiana das pessoas (combustíveis, por exemplo), saúde, educação, ambiente, novas tecnologias” 25 . Pelo que, se poderá acrescentar que para além dos temas estruturantes, têm lugar no “Destaque”, todos aquelesqueinfluenciamavidadaspessoas.Nestesentidooscritériosqueservemde baseàescolhadostemassão,segundoJoséBastos,“osmesmoscritériostradicionaisde impacto, relevância, proximidade que filtram as opções noticiosas nos jornais radiofónicos mais “tradicionais”, mas que podem, em função das circunstâncias ser alterados” 26 isto,emboraoEditorchameaatençãoparaofactodaInternetestaramudar aformacomoojornalistasatribuemvaloraosacontecimentos:“AInternetestáaalterar os parâmetros de valoração das notícias. A proximidade pode não ser já o valor

24 Ementrevistaporescritoconcedidaa22deAbrilde2010.

25 Ementrevistaporescritoconcedidaa5deMaiode2010.

26 Ementrevistaporescritoconcedidaa5deMaiode2010.

43 relevante,orelevantepodeseralgorelativo,passíveldeserdesalojadopeloquecausa maior impacto”. 27 No entanto, da observação realizada durante o estágio, poder-se-ia afirmarquemesmoqueaamostrafosseoutra,otema“Política”seriaprevalecente.Não sóporquedeumaformaempíricaseaferiuqueesteéumtemaqueestáquasesempre presente nos “Destaques” mas também, porque mesmo sendo outro o tema em evidência,omesmoé,muitasvezes,tratadosobumprismapolítico.Exemplodissoéo “Destaque”dodia2deNovembrosobreoProcessoFaceOculta,emqueapósserem fornecidas algumas informações novas sobre o Processoeseterfeito um“pontoda situação”domesmo,ostestemunhosquesurgemnaantena, e que compõem a maior parte do “Destaque” fazem uma análise que, embora se centre num acontecimento ligadoà“Justiça”,poderáserentendidacomopolítica.Ouseja,coloca-seemcausase hácondiçõesparaqueosarguidosnoProcesso(titularesdecargosdechefia)sedevam manter em funções, sob pena de envolverem as empresas que representam num escândalo de corrupção. Se, face ao fenómeno da corrupção, o sistema judicial e as instituições responsáveis pela supervisão das empresas evolvidas funcionam. Estas questõeslevamapensarse,nãoseráesta,umaanálisepolítica?Nãoestãoaquiaser retiradas consequências políticas? Por um lado, relativamente aos arguidos, ao ser sugerida a possibilidade de renúncia dos cargos que ocupam, pelo facto de estarem envolvidos num escândalo de corrupção. Dado que apesar do estatuto de arguido contemplarapresunçãodeinocênciae,àdatadosacontecimentosnãoterhavidoum julgamento,muitomenosumacondenação,são apontadas já consequências políticas. Por outro, quando se põe em causa o funcionamento do sistema judicial e das instituições envolvidas nos processos de supervisão. Pois ao avançar-se para uma eventualreestruturaçãonosectorda“Justiça”,amesma,terásempredepartirdeuma discussãoedecisãopolíticas.

Sobreofactodo“Destaque”incidir,nãorarasvezes,nosmesmostemasserá interessantereferiro factode,quandoconfrontadoscomaperguntaseseriapossível fazer um “Destaque” sobre “Cultura” ou “Desporto”, ambos os jornalistas terem respondidoquesimeapontadoummesmoexemplo.Osdoisreferiramum“Desataque” emqueotemafoio5ºaniversáriodaCasadaMúsicadoPorto.Aopçãopelamesma respostapodeprender-secomofactodaqueletematersidooexemplomaisrecentede

27 Ementrevistaporescritoconcedidaa5deMaiode2010.

44 um“Destaque”sobre“Cultura”eporissomesmo,estarmaispresentenamemóriade ambos. Mas também, pode indiciar a pouca frequência com que estes temas são tratados, levando a que os dois se tivessem lembrado do mesmo “Destaque” porque outros exemplos, não estariam tão presentes nas suas lembranças. Relativamente ao “Desporto”,éumfactoqueesteassuntodispõedeespaço próprio, e até com grande visibilidade, na programação da Renascença. Talvez por isso, não tenha verificado, durante o estágio, nenhum “Destaque” relativo a esse tema. De acordo com o José Bastos, essa é a razão pela qual o “Desporto” não é um assunto frequente neste noticiário,masquandosejustificatambémpodesertratado.“Sobreodesporto,apesar dos espaços próprios da informação existentes, também já se fizeram Destaques alargandooâmbitomeramentesectorialdotemaeprocurandooseuimpactosocial.Por exemplo:olegadodoEuro2004paraapromoçãododesportoemPortugal.Porquêsó foiconstruídoumestádiocompistadeatletismo,odeLeiria?”28 QuandoJoséBastosse refere ao “alargando o âmbito meramente sectorial dotema”vaiaoencontrodaquilo quefoireferidoanteriormente,dequeapesardeestaremcausaumtemamuitoconcreto como“Desporto”,aabordagempodeseroutra.Aavaliarpelassuaspalavrasépossível quetenhahavidoaquiumaabordagempolíticaoueconómica,oquenosremete,uma vez mais, para os temas estruturantes. Mas como o próprio diz, procurando sempre avaliar“oseuimpactosocial”,oqueestáemconsonânciacomumdosobjectivosdo “Destaque”,porelereferido:odeincidirsobretemasque“tenhamimpactonavidadas pessoas”.

Curiosoétambémofactodeemplenacriseeconómica,duranteasemanaem análisenãoterhavidoumúnicodiadedicadoàsquestõeseconómicas.Atéporquepara oeditor,naactualconjunturaesteéumtemaprioritário:“Evidentementequenosdias que passam, a crise, a Economia está no primeiro plano. Apesar disso tento focar a minhaatençãoeditorialnumespectromuitoamplodetemas,semnuncaesqueceraárea do Internacional que julgo ser de máxima relevância na antecipação de problemas, tendênciaseestilosdevidacomimpactonanossasociedade.” 29 Mas,comojávimos,o “Internacional”tambémnãoécontempladonaamostra.Omesmosepassacomotema “Religião”.Sendoestaumarádiodeinspiraçãocristã,comumamissãoevangelizadora,

28 Ementrevistaporescritoconcedidaa5deMaiode2010.

29 Ementrevistaporescritoconcedidaa5deMaiode2010.

45 seriadeesperarqueestefosseumassuntomaispresenteno“Destaque”.Naverdade, nãoécontempladonaamostraeapesarde, àsemelhança do “Desporto”, ter espaço próprionaprogramaçãodaestação,creioquetenhalugar,comumarelativafrequência, nestebloconoticioso,equeapenaspormeroacaso,nãoseverificouduranteoperíodo emanálise,atéporqueaReligiãoéumdospilaresemqueassentaalinhaeditorial.

Relativamenteao“TipodePeças”oestudorevelaqueháumusoexcessivoda “Declaração”,79%.Oquevalidaahipótese2:Nãoháumaapostanadiversificaçãodas peçasjornalísticas.SérgioCostaatribuiaofactor“tempo”aresponsabilidadepelofacto denemsempreserpossívelfazerumnoticiáriocomumamaiorvariedadedepeças:“A informaçãotorna-semaisapelativaquandoéapresentadadeformadiversificadaenão “monocórdica”.Noentanto,porvezesosconstrangimentosdetemponãopermitemo tratamento adequado” 30 . Ainda assim, a aparente falta de ritmo do “Destaque” provocadapeloinvariávelrecursoà“Declaração”,pareceprocurarsercompensadapela diversificação dos conteúdos apresentados. Contudo, o recurso a um mesmo tipo de peça poderá contribuir para uma redução do potencial comunicativo deste espaço informativo,namedidaqueofactorrepetiçãopodelevaroouvintea“desligar-se”da mensagem.Peloque,oidealseriaapostarnumadiversificação de conteúdos aliada a umaalternânciaevariedadedostiposdepeças.Destaforma,ainformaçãoseriamais ritmada e consequentemente, mais atractiva, facilitando aos ouvintes manterem-se atentosaolongodosdezminutosquecompõemo“Destaque”.

DeacordocomJoséBastos“Aestruturaemquesedesenrolao“Destaque”pode ser descrita assim nestes tempos distintos: notícia, reportagem que pode incluir voxpopuli ,opiniãoe,nofinal,análise” 31 .Ouseja,emboraa“Opinião”oua“Análise” nãoseverifiquem,enquantogénerosjornalísticos(nãoexistempeças comaestrutura destesdoisgénerosequeporisso,possamserclassificadascomotal),a“Opinião”ea “Análise”surgemigualmente,massobaformade“Declaração”.Pelo que,apesarde nãosetratardomodelomaisapelativo,nãodeixadeserumaformadeimprimirritmoà informação e de procurar agarrar a atenção do ouvinte. Mas este ponto requer uma reflexão. Poderá se considerada “Análise” um testemunho de trinta ou quarenta segundos? Do ponto de vista formal, já se demonstrou que aquilo que os jornalistas

30 Ementrevistaporescritoconcedidaa22deAbrilde2010.

31 Ementrevistaporescritoconcedidaa5deMaiode2010.

46 apelidamde“Análise”ou“Opinião”nãoseenquadracomadefiniçãodestesconceitos, enquanto géneros jornalísticos. Mas, mesmo do ponto de vista informal, que tipo de análise poderá ser feita num tão curto espaço de tempo? Sérgio Costa refere que o formato do “Destaque do Meio-dia” permite enquadrar sons de maior duração, em relaçãoaaquelesquesãoeditadosparaosnoticiários:“Se,porvezesporquestõesde tempo, o registo sonoro é editado para os noticiários, o destaque possibilita a manutençãodehesitaçõesepausasnodiscurso,oquepermiteoutrainterpretaçãosobre odiscursodoentrevistado.” 32 Aindaassim,estamosafalardesonsque,pornorma,não vãoalémdeumminuto.Desdelogo,porqueemrádioossonstêmdesercurtos,caso contrário,oouvinteabstrai-seeamensagemperde-se.Sendoestaumaregrabásicana informaçãoradiofónica,podemosestarperanteumparadoxo:Porumladopretende-se fazeruma“Análise”,oqueimplicatempo,poroutro,omeiodecomunicaçãoutilizado nãopermiteessetempo.Averdadeéqueoformatodestenoticiárionãoéhabitualno meio rádio e, parece aproximar-se mais da informação característica da imprensa escrita. Existe uma velha máxima que diz: “A rádio informa, a televisão mostra e a imprensaexplica”.Istoporqueascaracterísticasdarádio,taiscomoainstantaneidadee efemeridade,nãopermitemmuitomaisdoque,simplesmente,informar.Poroposição, os jornais dispõem de tempo e espaço para tratar a informação muito mais exaustivamente,nomeadamente,contemplandoanáliseseopiniões,entreoutros.Neste sentido,ficaadúvidaseno“Destaquedomeio-dia”a“Análise”ea“Opinião”surtemo efeitodesejado.Setêmodistanciamentoesedispõemdotemponecessárioparaqueo ouvintepossacompreendertodooraciocínioquelhesestásubjacente.

Tambémahipótese3podeserconfirmada:Asfontesoficiaissãoprivilegiadas poroposiçãoàsfontesNãoOficiais.PoisosresultadosmostramqueasFontesOficiais surgemnamaioriadoscasos,62%.Decertaforma,esteresultadonãosurpreende.Por umlado,porqueéumatendênciageneralizadanojornalismocomojáfoireferido,por outro,porquesetornadifícilnãorecorrerafontesoficiais,estandoelaspresentesnos maisdiversossectoresdasociedade.Aindaassim,JoséBastosexplicaquetemcomo preocupaçãoobterumcertoequilíbrio:“Julgoquese usado na exacta medida, como elemento de validação de determinada posição ou até como ponto de partida para a desconstruçãojornalísticadateseoficialqualquerqueelaseja,nãoéinconvenienteo

32 Ementrevistaporescritoconcedidaa22deAbrilde2010.

47 recursoafontesoficiais.Semprequenãosejamúnicasequenãovalidemumqualquer pensamentoúnico” 33 .

Emsuma,podeconcluir-sequeo“destaquedomeio-dia”éumnoticiárioque procuradaraconhecer,exploraredesenvolvertodosostemasquesejamsusceptíveisde causarimpactonavidadosouvintes,queapresentemnovidadeousejamrelevantes;que correspondam aos habituais critérios de noticiabilidade. É um espaço informativo plural,ondetêmlugaropiniõeseanálisesprovenientesdosmaisdiversosquadrantesda sociedade, mas que peca por não colocar em evidência todo o seu potencial comunicativo.Umavezquenãoprimapeladiversificaçãodotipodepeças.Noquediz respeitoàs fontes, existeumatendênciaparadarpreferência às Fontes Oficiais, mas sem nunca descurar as Não Oficiais, que imprimem um carácter de equilíbrio e que reforçamopluralismo,acimareferido.

Seanálisepretendidavisavatraçaroperfildo“Destaquedomeio-dia”daRádio Renascençacreioque,nopresentetrabalho,ficaramclarososprincipaiselementosque ocaracterizam:monotemático,compluralidadedeopiniõesedefontesdeinformação, maspoucadiversidadedotipodepeças.

Relativamente ao estágio curricular, o objectivo inicial foi cumprido. A aprendizagemrealizadaeotrabalhodesenvolvidodurante o estágio contribuíram, de formasignificativa,paraaminhaespecializaçãoprofissional.Nãosó,pensoterevoluído em termos de escrita radiofónica, mas também ao nível da desenvoltura na rotina produtiva.Mastalsófoipossívelcomacolaboraçãodetodososprofissionaisqueme acompanharamequenãohesitaramempartilharcomigooseusaber.Contudo,ofactor quemaismemarcouequecreiotersidoomaiorcontributo que posso levar para a minhafuturavidaprofissionaléosentidocrítico.Istoé,olharparaumacontecimentoe teracapacidadedeapresentarumasériedeabordagenspossíveis.Emvezdeoptarpelo maissimples,conseguirolharparaalémdoóbvioevisualizarsoluçõesinéditasou,pelo menos, mais interessantes e menos prováveis. Este sentido crítico foi algo que eu entendicomoestandosemprepresentenaequipaquediariamenteproduzo“Destaque” eéalgoqueeugostariaquemeacompanhassenaminhavidaprofissional.

33 Ementrevistaporescritoconcedidaa5deMaiode2010.

48

Bibliografia

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50

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FontesOrais

• JoséBastos.EditorInternacionaldaRádioRenascença.Entrevistarealizadaem 5deMaio2010. • SérgioCosta.JornalistadaRádioRenascença.Entrevistarealizadaem22Abril 2010.

51

Coimbra,25deJunho2010

52

ANEXOS

53

ANEXO1

(EntrevistaaoJornalistaSérgioCosta)

-Quaissãoosobjectivosdodestaquedomeio-dia. Oqueéqueodistinguedos demaisnoticiáriosdaRR?

Desenvolver,explorandotodososângulospossíveis,otemamaisfortedaactualidade. Umdestaquenãoseresumeaosimples“ soundbyte ” que, não raras vezes, serve para ilustrarumassuntoduranteumnoticiárioqueépautadopeladiversificaçãodetemas.

Comoumdestaqueémonotemático,permiteadivulgação de entrevistas com maior profundidade, a diversificação de reacções (de inúmeras sensibilidades), tornando o espaço mais democrático, e ainda ir para o terreno com reportagens, recolhendo a opiniãocomumsobreoassuntoemdestaque.

Ofactodepossibilitaratransmissãodeentrevistas,permitejuntodoauditório,captara formacomooentrevistadoreageàsquestõesquelhesãocolocadas.Se,porvezespor questõesdetempo,oregistosonoroéeditadoparaosnoticiários,odestaquepossibilita a manutenção de hesitações e pausas no discurso, o que permite outra interpretação sobreodiscursodoentrevistado.

Odestaquepossibilitaaindaumpequenoespaçodecomentárioeanálisecomumavisão independentesobreotemaprincipal.

-Quaisoscritériosqueservemdebaseàescolhadotema/assunto?

Anovidadeabsoluta,arelevânciadotemaparaoauditório,aproximidade,opotencial polémico.Porvezesotemaésuscitadonoprópriodia.Porexemplo,emDezembrode 2009,ementrevistaàRenascença,ovice-presidentedabancadaparlamentarsocialista, Ricardo Rodrigues, afirmou que se a oposição mantivesse uma postura de constante reprovaçãooualteraçãodepropostaslançadaspelamaioriarelativadoPS(noqueele definiucomoesticardecorsa)aquedadogovernoseriainevitável,oqueconduziriao país para novas eleições. Naturalmente que, pela polémica suscitada e pela novidade essefoitemadedestaque.

54

Por vezes o assunto escolhido para o destaque pode surgir inicialmente num jornal diário e posteriormente tentamos desenvolver o assunto abordando ângulos diversificados.

-Calculoqueporvezessedeparemcomsituaçõesemqueoassuntoquepretendem tratar não seja exequível. Quais são os constrangimentos mais frequentes que levamaquetenhamderecorreraumasegundaopção?

Aprincipaldificuldadeprende-secomarecusaemprestardepoimentos.Nãoseráde todopossívelproduzirumdestaquede10minutoscom falta de depoimentos. Não é radiofonicamentepossível.

Umdostemasfortesdapolíticanacionalnosúltimosmeseseamplamentedebatidofoi o das alegadas escutas, ou vigilância a Belém. Tratava-se de um tema polémico diariamenteabordadopelosjornaiscomnovosdadospolémicos.

Sendoaprincipalnotícia,naturalmentefoi,pordiversasvezes,otemaescolhidopara destaque.Recordo-medeumdiaemqueninguém,dediversosquadrantespolíticos,se mostrou disponível para falar sobre o assunto e dos principais intervenientes se remeteremaosilêncio.Nãofoipossívelfazerumdestaquesobreisso.Aindasobreo mesmo tema deparamo-nos com uma situação idêntica. Aí conseguimos inverter a situaçãorecorrendoacomentáriosepequenasreacçõesdefiguraspolíticasenquadradas numtextomaiselaborado.

- Durante o estágio verifiquei que é dada preferência a temas como Política, Economia,Justiça,Saúde...seriapossívelfazer-seumdestaquesobreDesporto,ou Cultura?

Sim,naturalmente.ApreferênciadadaatemascomoPolítica,educação,economiaetc., estárelacionadacomummaiorvolumenoticiosoeaindacomofactodeseremassuntos queestãorelacionadoscomodia-a-diadaspessoas.

Contudo, já produzimos destaques sobre Cultura como recentemente um sobre o 5º aniversáriodaCasadaMúsicadoPorto.

FicouclaronessedestaquequeaCasadaMúsicadoPortodinamizouavidaculturalda cidade.

55

Transmitimos uma entrevista com o director artístico, uma peça sobre o centro educativoerecolhemosdiversasopiniõesdefigurasrelevantesdouniversocultural.

- Existe alguma preocupação em diversificar o tipo de peças (reportagens, entrevistas,etc.)quevãoparaaantena,ouomaisimportanteédarainformaçãoe nãoaformacomoelaé"apresentada"?

Existe. A informação torna-se mais apelativa quando é apresentada de forma diversificadaenão“monocórdica”.

No entanto, por vezes os constrangimentos de tempo não permitem o tratamento adequado.

-Deacordocomaamostraquerecolhi,verifica-sequeexisteumaprevalênciado recurso a fontes oficiais. Isso é intencional, sempre que possível, optam por recorrerafontesoficiais?

Aocontráriodoqueacontececomaimprensaescritaondeselêquefonte“y”revelou determinadainformação,narádioesseformatonãoserátãocredível.

Ainformaçãoescritaprevalece,ainformaçãoradiofónicaacabaporser maisefémera pelo que o recurso a fontes oficiais será mais credível. Não é uma opção claramente intencionalmas,semprequepossível,recorremosafontesminimamentecredíveisque permitamaoauditórioterumapercepçãoexactadeondesurgeainformação.

-Quaissãoasprincipaisquestõesateremcontanaescolhadoalinhamento?

Tentamossempreconferirumalinhamentológico,comofactornovidadeemprimeiro lugar,oquenaturalmenteécondizentecomaformacomodeveserestruturadaanotícia.

Segue-se o plano das reacções e por vezes a denominada estratégia ping-pong com respostaecontraargumentação.

Deseguidaareportagemquetemquasesemprecomoobjectivoavaliarosefeitosde determinada questão junto da população e conferir a opinião comum. Por último o comentário e análise que sintetiza e avalia os efeitos todas as opiniões anteriormente transmitidas.

56

ANEXO2

(EntrevistaaoEditordeInternacionalJoséBastos)

-Quaissãoosobjectivosdodestaquedomeio-dia. Oqueéqueodistinguedos demaisnoticiários?

O Destaque é um produto informativo híbrido: por um lado, factual, incorporando elementos noticiosos puros, permita-se a expressão, por outro lado, introduzindo elementosdeopiniãoeanálisequeprocuramampliaragamadeinstrumentos,nofundo, a grelha de que o ouvinte dispõe para descodificar a realidade, neste caso, do que, aquela hora, a decisão editorial considera ser o tema mais relevante da manhã ou, nalgunscasos,dodia.

-Quaisoscritériosqueservemdebaseàescolhadotema/assunto?

Osmesmoscritériostradicionaisdeimpacto, relevância, proximidade que filtram as opções noticiosas nos jornais radiofónicos mais “tradicionais”, mas que podem, em funçãodascircunstânciasseralterados.

Dou um exemplo: em muitos cenários a opção mais óbvia não é um tema de internacional,masaíassumoaopçãoeditorialpessoalemdetrimentodealternativasem queoauditóriosesentiriamaisconfortável,seme é permitida a expressão. Dou um exemplo, ainda recentemente prevaleceu como tema, aassinaturadonovotratadode reduçãodearmamentonuclearentreosEstadosUnidoseRússia,pormaisqueadecisão nãotivesseimpactoimediatoousequerfossefamiliarcomasfatiasmaisrelevantesdo auditório.

Estasopçõesmais“imprevisíveis”resultamtambémdoesforçoeditorialnosentidode convivercomapresençadaInternetqueestámudararelaçãodosouvintescomarádio como,deresto,comtodososoutrosmeiostradicionais.

AInternetnãomudasóostemposeasformasdojornalismo,mastambémamaneirade trabalhar dos jornalistas. A Internet está a alterar os parâmetros de valoração das notícias.Aproximidadepodenãoserjáovalorrelevante, o relevante pode ser algo relativo,passíveldeserdesalojadopeloquecausamaiorimpacto.

57

Peréz Oliva sublinhava, recentemente, que a notícia pode saltar de um comentário a qualquer momento em qualquer sítio do planeta: todos observam todos, não há exclusivoqueduremaisdecincominutos,ouotempoqueleveaserreproduzido.

ANetmudoutambémoouvinterádio:oseuescrutínioéagoramuitorigorosoporquea redelheproporcionaferramentasdecomparaçãoqueantesnãoexistiam.Ouseja,agora pode examinar ao detalhe, perguntar e contrastar muito facilmente o trabalho dos jornalistas e tirar as suas próprias conclusões. Donde, acredito, que o conceito de convergência entreasváriasplataformas éagorajáuma realidade eesseéum factor que,entreoutros,tambémpodepesarnaescolhadotemadoDestaquequetambémvai estardisponívelonlinequertransmitidoemdirectoquerem podcast .

-Calculoqueporvezessedeparemcomsituaçõesemqueoassuntoquepretendem tratar não seja exequível. Quais são os constrangimentos mais frequentes que levamaquetenhamderecorreraumasegundaopção?

A impossibilidade por razões várias – que podem ir das mais prosaicas às mais intrincadas – de conseguir reunir um conjunto de depoimentos, entrevistas, material próprioquealimente,pelomenos,dezminutosdeantenacomesseúnicotema.

- Durante o estágio verifiquei que é dada preferência a temas como Política, Economia,Justiça,Saúde...seriapossívelfazer-seumdestaquesobreDesporto,ou Cultura?

Nãosóépossívelcomosefazem.

Quandojulgoqueaimportânciadoquintoaniversáriodeumainstituiçãorelevanteno universoculturalportuguêssesobrepõeatudoomais da agenda informativa do dia. AconteceuaindarecentementecomaCasadaMusicadoPorto.AcontececomoPrémio Pessoa,porexemplo,adistinçãodereferênciadomundodaculturaportuguesa.Sobreo desporto,apesardosespaçosprópriosdainformaçãoexistentes,tambémjásefizeram Destaquesalargandooâmbitomeramentesectorialdotemaeprocurandooseuimpacto social.Porexemplo:olegadodoEuro2004paraapromoçãododesportoemPortugal. Porquêsófoiconstruídoumestádiocompistadeatletismo,odeLeiria?Eporaífora.

A temática de escolha não é estanque: abrange um largo espectro dos temas de actualidade, current affairs ,naexpressãoinglesaqueprefiro:temascomimpacto na

58 vidaquotidianadaspessoas(combustíveis,porexemplo), saúde, educação, ambiente, novastecnologias,poraí.

Evidentementequenosdiasquepassamacrise,aeconomiaestánoprimeiroplano.

Apesardissotentofocaraminhaatençãoeditorialnumespectromuitoamplodetemas, sem nunca esquecer a área do internacional que julgo ser de máxima relevância na antecipaçãodeproblemas,tendênciaseestilosdevidacomimpactonanossasociedade.

Maisdoquenunca,emtemposdeglobalizaçãoumadosemínimademundividênciaé absolutamentenecessáriaaumEditordequalquerplataformade media .

- Existe alguma preocupação em diversificar o tipo de peças (reportagens, entrevistas,etc.)quevãoparaaantena,ouomaisimportanteédarainformaçãoe nãoaformacomoelaé"apresentada"?

Sefazsentidoqueo lead doDestaqueincorporeelementosnoticiosospuros,aestrutura emquesedesenrolapodeserdescritaassimnestestemposdistintos:notícia,reportagem quepodeincluir voxpopuli ,opiniãoe,nofinal,análise.

-Deacordocomaamostraquerecolhi,verifica-sequeexisteumaprevalênciado recurso a fontes oficiais. Isso é intencional, sempre que possível, optam por recorrerafontesoficiais?

Não necessariamente! Tenho é, alguma dificuldade em imaginar qual a área de influênciadaesferagovernativa,ouemsentidomais lato, da esfera da administração pública, ou até apenas do universo da cidadania, por exemplo, uma organização ambientalista,emqueseproduzemdecisõescomimpactosocialsemqueojornalista chamadoadiscorrersobreotema,consigaevitarocontactocomuma“fonteoficial”.

Julgo que se usado na exacta medida, como elemento de validação de determinada posiçãoouatécomopontodepartidaparaadesconstruçãojornalísticadateseoficial qualquerqueelaseja,nãoéinconvenienteorecursoafontesoficiais.Semprequenão sejamúnicasequenãovalidemumqualquerpensamentoúnico.

Emresumo,omeugrandedesafiocomoEditor/Apresentadoréencontrarumafórmula deváriasmatizesparatransmitiroresultadodesta–muitasvezesimperfeita–tentativa deexercíciodeequilíbrio,éassimquedescrevooDestaque,preservandoesublinhando

59 oesforçodeumaequipa,àcabeçadaqualojornalistaqueoelaborou.Jánomeucaso,o profissionalqueestánoângulodapirâmidedeumprodutoinformativotemsemprede tentar manter um desconfortável equilíbrio. Por um lado surgir frio, distanciado, objectivo, pouco envolvido no tema que apresenta, tentando facultar elementos de julgamentoaopúblico,massemosdigerirantes,pelo menos ostensivamente, já que qualquerselecçãoimplica,nosentidolato,percepcionararealidadeatravésdosmeus própriosfiltros.

Etodoomeutrabalhoéesse,pormaistentativasdeindependênciaquepossafazere sãoinerentesaomínimodeéticaprofissional,omeutrabalhoresultadaminhafiltragem darealidade.Poroutrolado,e,jáconcluo,nãosedispensaanossaprópriaimpressão digital, a nossa assinatura, o estilo natural que reflecte até a personalidade do apresentador. Outro desafio de um espaço de actualidade, opinião e análise como o Destaque é o de que tenho de estar preparado para uma Ultima Hora, uma Breaking News ,umdesenvolvimentodetodoimprevisível,umaresposta provocatória, tudo. E quandodigotudo,étudomesmo!

-Quaissãoasprincipaisquestõesateremcontanaescolhadoalinhamento?

Julgoterrespondidonapergunta2.

60

ANEXO3

(Grelhascomosdadosrelativosacada“Destaque”)

Dia 2 de Novembro de 2009

Tema Tipo de Peça Fonte

Justiça Reportagem só jornalista 1 Oficial 2

Processo Face Oculta Peça só jornalista 1 Não O ficial 6

Declaraçã o 4

Totais 6 8

Dia 3 de Novembro 2009

Tema Tipo de Peça Fonte

Justiça Reportagem só jornalista 1 Oficial 6

Processo Face Oculta Declaração 7 Não Oficial 2

Totais 8 8

Dia 4 de Novembro 2009

Tema Tipo de Peça Fonte

Política Peça com RM’s 1 Oficial 4

Casamento Homossexual Declaração 10 Não Oficial 7

Totais 11 11

61

Dia 5 de Novembro 2009

Tema Tipo de Peça Fonte

Política Reportagem com RM’s 1 Oficial 5

Debate do Programa do Declaração 3 Não Oficial 1

Governo

Totais 4 6

Dia 6 de Novembro 2009

Tema Tipo de Peça Fonte

Política Reportagem com RM’s 1 Oficial 6

Debate do Programa do Peça só jornalista 1 Não Oficial 1

Governo Declaração 2

Totais 4 7

62