Agradecimentos É, De Facto, Uma Honra Baixar Em Palavras O Agradecimento a Nível Académico Ao Professor Doutor Manuel Frias M
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Agradecimentos É, de facto, uma honra baixar em palavras o agradecimento a nível académico ao Professor Doutor Manuel Frias Martins e, de salientar, à Professora Doutora Mentora Teresa Cadete. A nível mais intimo, Obrigado pelo regresso dos que nunca partiram. Por vós, Sou eu. 3 Resumo O mito, sendo trilho para as potencialidades espirituais da vida humana, funciona como mediação simbólica entre o sagrado e o profano, surgindo como guia que acalma os “espíritos” mais descontentes com a realidade, ajudando-os a curar a sua ferida de existência. Reflexo da contracultura dos anos 60 nos Estados Unidos da América, Jim Morrison, vocalista do grupo The Doors , quis, através da sua música e das suas palavras, libertar as pessoas que julgava estarem presas a uma conformidade de normas sexuais e sociais, desempenhando, assim, o papel de xamane. Jim viveu intensamente e morreu cedo. Uma carreira curta e poderosa, que o consolidou como lenda viva, herói trágico. Analisando a complexidade do seu ser, verifica- se que reactualizou mitos ancestrais ao representar histórias de deuses e de heróis titânicos, tais como Dioniso, Édipo e Prometeu. Surge, assim, o mito do eterno retorno através da repetição de arquétipos. Numa cronologia sem tempo, contendo, porém, uma tonalidade nebulosa, Jim Morrison permanece no âmbito do eterno, remetendo para um tempo que não é histórico, mas cíclico. O mito de Jim Morrison perdura através da sua poesia, da sua música, da sua sepultura, da sua incessante audiência. Palavras-chave: Jim Morrison – Xamane – Herói Trágico - Mito 4 Abstract The myth, path for the spiritual potentialities of human life, acts as a symbolic mediation between the sacred and the profane, emerging as a guide that calm down the "spirits" more dissatisfied with the reality and help them to heal their wound of existence. Jim Morrison, lead singer of the band The Doors, is a reflection of the counterculture of the 60s in the United States of America. Through his music and his words, he wanted to free the people that he thought to be attached to sexual and social norms, performing thus the role of a shaman. Jim lived intensively and died young. He had a short and powerful career, that have consolidate his character of living legend, of tragic hero. When analyzing the complexity of his person, it is verified that he updated ancient myths by representing stories of gods and titanic heroes, such as Dionysus, Oedipus and Prometheus. It is in this way that emerges the myth of the eternal return, through the repeat of archetypes. In a chronology with no time but with a misty tone, Jim Morrison remains as eternal, referring to a time that is not historical but cyclical. The myth of Jim Morrison endures through his poetry, his music, his grave, his incessant audience. Key words: Jim Morrison – Shaman – Tragic Hero - Myth 5 Introdução Jim Morrison, poeta e vocalista do grupo The Doors , trouxe uma nova dimensão espiritual à música. Dotado de ambições titânicas e de uma forte necessidade de transgressão, viveu experimentando a sua vontade de poder. A sua acção quis causar a ruína de todas as leis, criando um círculo mágico mais elevado, entenda-se transcendente, pretendendo a fundação de um novo reino. No seu impulso heróico em direcção à universalidade, na tentativa de ultrapassar a barreira da individuação, a lenda transgride, perece jovem e revela-se trágica. William Blake escreveu em Marriage of Heaven and Hell : “The road of excess leads to the palace of wisdom” (Blake, 1993: 29). Jim Morrison compreendeu e foi imoderado. Sendo um herói metamórfico, repleto de energia e respirando audácia, jogou com os seus sentidos e alterou-os com álcool, com ácido e com o elixir interior da sua própria glorificação e inspiração, colocando, deste modo, a máscara de Dioniso. Jim pretendia romper com tudo o que se lhe apresentasse como obstáculo, numa busca metafísica até ao desconhecido, mas queria levar o público consigo, no seu pensar, para um reino melhor, porventura ideal. Se por um lado permanece a ideia de auto-destruição, em que o excesso e a fama foram aspectos determinantes e exclusivos para a morte de Jim Morrison; esta tese surge como tentativa de demonstrar o lado oculto deste processo, ou seja, o seu percurso de herói trágico tendo como último estádio o estatuto de mito. Os padrões pelos quais a sua arte deve ser medida são ancestrais e mais profundos. Estruturada em três partes, esta dissertação visa o contexto, conjunto de condições para a erupção mitológica; a narração e interpretação da lenda viva que foi Jim Morrison, espelho da sua era; e a construção e constatação do mito que surge como eco da sua morte. O primeiro capítulo transmitirá a imagem do pano de fundo, do palco do estudo de caso, remetendo, principalmente, para os Estados Unidos da América nos anos 60. Uma era de agitação política e social, de experimentação e celebração; uma época em que, através de revoluções psíquicas, sexuais e psicadélicas, se busca por um maior sentido de liberdade e 6 por uma experiência transcendente; tornando-se, assim, palco propício para o aparecimento do mito. No segundo capítulo, irei demonstrar como o herói público se mostra sensível às necessidades da sua época, visto que Jim Morrison foi reflexo do movimento de contracultura dos anos 60. O seu mito não traria tanto significado se não se encontrasse na margem, passeio da contracultura, seguindo seu princípio de libertinagem. Mais do que um mero marginal dado à introspecção, Jim afrontou símbolos de autoridade do seu país. Não sendo artista materialista, procurou, através da sua arte, atingir o seu auge interior. Foi Rei Lagarto , libertino, estrela de rock ; e foi James Douglas Morrison, poeta, tendo como único desejo a leitura das suas palavras. Por último, irei explorar o caminho do herói rumo ao mito. Ser superior, xamane, lenda viva, Jim Morrison colocou máscaras ancestrais de deuses e titãs regressando aos primórdios. A abolição do tempo surge, assim, por meio da imitação de arquétipos e da repetição de gestos paradigmáticos. Não importa como Jim Morrison morreu, apenas como viveu. Não estava na corrida para o seu fim, mas sim saboreando intensamente o agora existencial. Fiel ao seu espírito seguiu seus instintos. Viveu com o objectivo que o nascimento propõe: descobrir-se a si próprio e ao seu potencial. Ele fê-lo. A sua curta vida exprime-o bem. O xamanismo criado por Jim Morrison, a sua irreverência, a sua liberdade, as suas actuações teatrais dionisíacas, a sua vida intensa sempre no estreito muro espreitando a morte e o seu último sono envolto em mistério, evaporaram o tempo e elevou-se o mito. Nos dias de hoje, é-lhe prestado homenagem junto à sua sepultura, como que num ritual ancestral. 7 “Is everybody in? The ceremony is about to begin” Jim Morrison, 1 An American Prayer 1 Em anexo áudio, faixa 1 Awake 8 Contexto 9 Após a 2ª Guerra Mundial, nos Estados Unidos da América, verificou-se que o elevado crescimento económico originou uma sociedade de abundância, o que permitiu um aumento do poder de compra e uma melhoria da qualidade de vida. Contudo, a publicidade, o marketing, as grandes superfícies comerciais e as vendas a crédito estimularam o aparecimento de uma sociedade de consumo, ou seja, uma sociedade em que as pessoas são levadas a comprar produtos muitas vezes supérfluos e acima das suas possibilidades económicas reais. Além de originar gastos desnecessários, e até o endividamento das famílias, este tipo de sociedade gera também graves problemas ambientais, devido ao rápido esgotamento dos recursos naturais e ao aumento da poluição. Os anos 60, a era do pé na lua, de Easy Rider , do sonho de Martin Luther King; da guitarra psicadélica de Jimmi Hendrix, da harmónica de Bob Dylan, do puro rock de Rolling Stones e The Doors; de Ernesto Che Guevara, do espéctaculo Hair e de Living Theater , da arte pop de Andy Warhol e Roy Lichtenstein; do Dr. Strangelove de Stanley Kubrick, do uivo de Allen Ginsberg e seguindo Jack Kerouac pela estrada fora, abrindo as portas da percepção de Aldous Huxley, encontramos o despertar dos jovens que tentaram acordar o mundo adormecido no seu próprio consumo. Apontando o seu dedo aos símbolos de autoridade; enfurecidos pela fraude, não divagaram, acusaram. Não sendo materialistas a correr atrás do dinheiro, mas sim atrás da experiência, da acção e da riqueza espiritual, condenaram a Guerra do Vietname e acusaram não só o sistema capitalista, como também o próprio esqueleto funcional da tecnocracia e a ideia de falsidade que residia em membros da sociedade americana. Através de várias irrupções, entre as quais as mais significativas nos Estados Unidos da América e na Sorbonne, em Paris; muitos jovens americanos e europeus explodiram em contestação rumo a um novo mundo que, segundo a sua percepção, seria um reino melhor. “Um mapa do mundo que não inclua a Utopia não merece o mais breve olhar.” (Wilde, 1975: 14) 10 Uma das “enfermidades” que contaminaram os anos 60 foi designada de tecnocracia. Para melhor entendimento vou citar Theodore Roszak que a define como a “forma social em que uma sociedade industrial alcança o auge da sua integração organizacional.” (Roszak, 1971: 22); e para explicitar o sentido pejorativo do termo vou solicitar as palavras de Jacques Ellul: “A técnica exige previsibilidade e, em medida não menor, que a previsão seja exacta. É, pois, necessário que a técnica prevaleça sobre o ser humano. Para a técnica isto é uma questão de vida ou morte. A técnica tem de reduzir o homem à condição de animal técnico, rei dos escravos da técnica. O capricho humano esboroa-se ante esta necessidade: não pode haver autonomia humana perante a autonomia técnica.