Seqüência Conglomerática Do Membro Araguari - Grupo Bauru - Norte Do Triângulo Mineiro
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SEQÜÊNCIA CONGLOMERÁTICA DO MEMBRO ARAGUARI - GRUPO BAURU - NORTE DO TRIÂNGULO MINEIRO Luiz Antônio de OLIVEIRA 1 & José Elói Guimarães CAMPOS 2 (1) Rua Patrulheiro Osmar Tavares, 355 - Santa Mônica. CEP 38.408-294. Uberlândia, MG. Endereço eletrônico: [email protected]. (2) Instituto de Geociências, Universidade de Brasília. Campus Universitário Darcy Ribeiro. CEP 70.910-970. Brasília, DF. Endereço eletrônico: [email protected]. Introdução Contexto Geológico Estratigrafia e Petrografia Condições Deposicionais Paleogeografia Evolução Regional do Relevo Área-fonte Comparação entre os depósitos das formações Uberaba e Nova Ponte e do Membro Araguari Conclusões Referências Bibliográficas RESUMO - Este trabalho é parte de estudos que objetivam a caracterização hidrogeológica do Sistema Aqüífero Bauru na Região de Araguari, Estado de Minas Gerais. A sucessão conglomerática estudada é aqui definida como Membro Araguari, identificada pela primeira vez na cidade homônima, com ampla extensão regional, ocupando áreas nos municípios de Tupaciguara, Monte Alegre de Minas, Uberlândia e Indianópolis. O Membro Araguari representa uma fácies basal da Formação Marília na região. A referida sucessão, em função de suas características granulométricas e permo-porosas, constitui o principal reservatório de água subterrânea da área estudada. A análise das estruturas sedimentares, tamanhos e forma dos seixos permitem interpretar que a sucessão foi depositada por sistema fluvial entrelaçado (braided) de alta energia em terrenos com alto gradiente topográfico. Os seixos dos conglomerados são compostos essencialmente por quartzito e quartzo. A fonte dos sedimentos, situada ao norte da área de deposição, foi determinada por medidas de paleocorrentes, sendo representada pelo embasamento proterozóico, incluindo rochas metassedimentares do Grupo Araxá e granitos intrusivos. Palavras-chave: Grupo Bauru; Bacia do Paraná; Membro Araguari; conglomerados. ABSTRACT - L.A. de Oliveira & J.L.G. Campos - Conglomeratic sequence of the Araguari Member – Bauru Group, Northern Triângulo Mineiro. This paper is part of studies related to the hydrogeologic characterization of the Bauru Aquifer System in the Araguari region, State of Minas Gerais. The conglomeratic sequence of the Araguari Member, due to the characteristics of grain size and high porosity, constitutes the main groundwater reservoir of the area. The conglomeratic sequence is defined as the Araguari Member, and is included in the Marília Formation, base of the Bauru Group. This sequence was observed for the first time in the Araguari region and represents a wide regional sedimentary cover, extending in parts of five municipalities of the Triângulo Mineiro region: Araguari, Uberlândia, Tupaciguara, Indianópolis and Monte Alegre de Minas. The analysis of the sedimentary structures, size and roundness of the clasts, support an interpretation of braided-river depositional systems of high-energy streams in terrain of considerable topographic gradient. The composition of the clast is represented predominantly by quartzite and quartz pebbles and the paleocurrent data indicate source of sediments from the Proterozoic basement, including the Araxá Group schist and related granites, situated northward of the depositional areas. Keywords: Bauru Group; Paraná Basin; Araguari Member; conglomerates. INTRODUÇÃO Este trabalho tem como objetivos descrever um O Membro Araguari é composto por fácies conjunto de rochas psefíticas presente na região de conglomeráticas na base e seqüência de fácies arenítica Araguari (MG); definir seu ambiente deposicional, sua em direção ao topo da sucessão. Os conglomerados paleogeografia, e seu posicionamento litoestratigráfico. são monomíticos, predominando seixos de quartzito A seqüência de fácies descrita é aqui denominada de (90% do total), seguidos por quartzo e em menor Membro Araguari. A designação de Membro Araguari número, presentes na base, fragmentos líticos de faz-se necessária uma vez que os depósitos observados granito, xistos e arenitos. As fácies da sucessão conglo- naquela região do Triângulo Mineiro não se correla- merática apresentam mau selecionamento de seixos, cionam petrográfica e estratigraficamente aos demais elevada maturidade, com clastos de formas subarre- sedimentos psefíticos atribuídos ao Grupo Bauru nas dondadas a arredondadas, são clasto-sustentados e outras áreas de ocorrência desta importante unidade localmente apresentam predomínio de matriz arenosa. litoestratigráfica do Cretáceo Superior da Bacia do Em alguns perfis ocorrem intercalações de fácies Paraná. conglomeráticas com fácies arenosas, e em outros São Paulo, UNESP, Geociências, v. 22, n. 1, p. 43-51, 2003 43 predominam fácies maciças de conglomerados sobre- As coberturas suprabasálticas encontram-se em postas por camadas de arenitos conglomeráticos. Em compartimentos topográficos diferenciados em decor- geral, as fácies apresentam estrutura interna desor- rência da paleogeografia do topo da Formação Serra ganizada, sem gradação aparente e o contato entre as Geral, que constitui superfícies irregulares com cotas fácies é definido por mudança de granulometria. altimétricas variáveis, em função de compartimentação Contudo, localmente apresentam gradação normal e tectônica ou da própria posição dos depocentros em acamamento plano-paralelo. direção às porções centrais da bacia. O pacote conglomerático na região atinge até 20 A área estudada inclui grande parte do município m de espessura com ampla área de deposição, distri- de Araguari e parte dos municípios vizinhos, na região buída pelos municípios de Araguari, e em partes dos norte do Triângulo Mineiro. municípios de Uberlândia, Indianópolis, Tupaciguara e O trabalho de detalhamento litoestratigráfico do Monte Alegre de Minas (Figura 1). Membro Araguari baseou-se no levantamento, des- A seqüência conglomerática, aqui designada crição e análise de perfis geológicos realizados em Membro Araguari e considerada como pertencente à voçorocas, leitos de drenagem e cortes de estradas Formação Marília do Grupo Bauru, está assentada em distribuídas pela área de estudo, além de informações discordância sobre os basaltos da Formação Serra de sondagens de subsuperfície desenvolvidas através Geral, acima da cota de 880 m de altitude. de sonda a percussão. FIGURA 1. Mapa de abrangência do Membro Araguari. 44 São Paulo, UNESP, Geociências, v. 22, n. 1, p. 43-51, 2003 CONTEXTO GEOLÓGICO O Grupo Bauru como considerado por vários autores rogêneos, arenitos conglomeráticos e em menor (Barcelos, 1984; Petri, 1983, Ferreira Júnior, 1996; proporção por calcários e calcretes. Nas descrições Fernandes, 1999, dentre outros) corresponde a uma desta unidade não há referências a importantes se- sucessão neocretácea extremamente heterogênea do pon- qüências conglomeráticas, como as descritas para o to de vista petrográfico e sedimentar. Essa unidade Membro Araguari. recobre os basaltos da Formação Serra Geral no centro- Na região extremo norte do Triângulo Mineiro, norte da Bacia do Paraná e pode ser correlacionada Ferrari (1989) descreveu um conjunto de conglo- com outras unidades cronoestratigráficas continentais, merados matriz-suportados, desorganizados, com aca- como o Grupo Urucuia na Bacia Sanfranciscana. mamento mal definido, associados a arenitos sem A diversidade litológica presente no Grupo Bauru estruturação sedimentar, os quais foram enquadrados fica evidenciada quando estudos geológicos detalhados na Formação Nova Ponte, atribuída ao Terciário. A são desenvolvidos em porções de áreas limitadas. Por Formação Nova Ponte é representada por um conjunto exemplo, o detalhamento das coberturas suprabasálticas que, em princípio, guarda algumas similaridades com o na região centro-oeste do Estado de São Paulo levou a Membro Araguari, contudo como será proposto por definição da Formação Araçatuba (Suguio, 1977; este trabalho, essas duas entidades geológicas repre- Batezelli et al., 1999) e na região de Uberaba o mapea- sentam unidades distintas. mento resultou na discriminação da Formação Uberada, Como a área está situada na borda norte atual da além dos membros Ponte Alta e Serra da Galga na Bacia do Paraná, o embasamento proterozóico é Formação Marília. exposto a norte, sendo representado por xistos e A Formação Marília corresponde a uma suces- quartzitos micáceos do Grupo Araxá e intrusões gra- são composta essencialmente por arenitos hete- nitóides associadas. ESTRATIGRAFIA E PETROGRAFIA As seções descritas neste trabalho foram levan- matriz é argilo-arenosa, vermelha escura, passando tadas em cortes de estradas, bem como nas sondagens a roxa com mosqueados brancos; que possibilitaram a observação da continuidade lateral 2. conglomerados internamente maciços, matriz- das fácies. A área-tipo é localizada próxima ao canal suportados, estratificados em camada de até 20 cm do Córrego Brejo Alegre, dentro do perímetro urbano de espessura. Os seixos variam entre 0,5 e 20 cm, de Araguari, e o holoestratótipo, nas voçorocas da sendo compostos por quartzito, quartzo e arenito localidade do Desamparo, zona rural de Araguari. As em meio a matriz de areia grossa, cor branca a fotos inseridas nas descrições das fácies representam cinza-clara; as ilustrações da seção-tipo. As descrições apresenta- 3. conglomerados matriz-suportados com matriz das também incluem informações de outras exposições, areno-argilosa que ocorre em camadas de até com onde foi possível descrever formas arquiteturais de 50 cm de espessura, que podem ser mal selecio- fácies. nados (com clastos representados por seixos