GOVERNO FEDERAL MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE - MMA INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE – ICMBIO CENTRO NACIONAL DE PESQUISA E CONSERVAÇÃO DA SOCIOBIODIVERSIDADE ASSOCIADA A POVOS E COMUNIDADES TRADICIONAIS – CNPT

RESERVA EXTRATIV ISTA BAÍA DO TUBARÃO Municípios de Icatu e Humberto de Campos, Estado do Maranhão.

ESTUDO SOCIOAMBIENTAL

Foto: Karina Soares Ilha Coqueiro, Humberto de Campos – MA.

São Luís/MA 2017

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RESERVA EXTRATIVISTA BAÍA DO TUBARÃO Municípios de Icatu e Humberto de Campos, Estado do Maranhão.

ESTUDO SOCIOAMBIENTAL

Estudo predisposto conforme a IN Nº 3, de 18/09/07 que disciplina as diretrizes, normas e procedimentos para a criação de Unidade de Co nservação Federal das categorias Reserva Extrativista e Reserva de Desenvolvimento Sustentável.

Anna Karina Araújo Soares Analista Ambiental do CNPT/ICMBio Médica Veterinária/UEMA Mestre em Agroecologia/UEMA

São Luis/MA 2017

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REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL Presidente MICHEL TEMER

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE Ministro JOSÉ SARNEY FILHO

INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE Presidente RICARDO SOAVINSK

Diretor de Pesquisa, Avaliação e Monitoramento da Biodiversidade - DIBIO MARCELO MARCELINO DE OLIVEIRA

Diretor de Ações Soci oambientais e Consolidação Territorial em UCs - DISAT CLAUDIO MARETTI

Diretor de Criação e Manejo de Unidades de Conservação - DIMAN PAULO HENRIQUE MAROSTEGAN E CARNEIRO

Coordenadora do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Sociobiodiversidade Ass ociada a Povos e Comunidades Tradicionais – CNPT LOUIZIANE GABRIELLE SOUZA SOEIRO

INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE - ICMBio. Diretoria de Ações Socioambientais e Consolidação Territorial em UCs -DISAT/ICMBio Centro Nacional de Pesq uisa e Conservação da Sociobiodiversidade Associada a Povos e Comunidades Tradicionais – CNPT Endereço: Rua das Hortas, nº 223, Centro, São Luis -MA, CEP 65020 -220. Fone: 98-3221 4167/ 98-3221 0191

www.icmbio.gov.br

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SUMÁRIO

Lista de Ilustrações 04

1. Apresentação 07

2. Contextualização Regional 08

3. Caracterização da Resex Baía do Tubarão 13

4. Identificação e Caracterização da População Tradicional Envolvida 21

5. Infraestrutura Básica e o Modo de Vida nas Comunidades de Icatu/MA 31

6. Infraestrutura Básica e o Mod o de Vida nas Comunidades de Humberto 46 de Campos/MA

7. Considerações Finais 69

Referencias Bibliográficas 71

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Mapa 1 Localização dos municípios de Icatu e Humberto de Campos em relação ao estado do Maranhão. (Mapa elaborado por Nayara 9 Marques). Foto 1 O m aior Bumba Meu Boi do Maranhão - Famosão de Humberto de 11 Campos. Mapa 2 Limites da APA Upaon -açu. 13

Mapas 3 Proposta inicial de perímetro para Resex Baía do Tubarão (em 14 e 4 amarelo) e proposta de Revis (em verde). Ao lado a localização da Resex em relação à área territorial dos municípios. Foto 2 Assembleia no Sindicato de Pesca de Icatu com representantes das 15 Comunidades inseridas na área da Resex Baía do Tubarão/MA. Fotos 3 e Redesenho dos limite s da Resex Baía do Tubarão/MA junto com as 16 4 comunidades tradicionais. Fotos 5 e Reunião e depoimentos colhidos pela equipe de consultoria para 17 6 levantamento fundiário na área da Resex Baía do Tubarão. Mapa 5 O traçado em vermelho delimita a área da Resex nos Municípios de 17 Icatu e Humberto de Campos e em amarelo a área da pretensa REVIS. Foto 7 Observatório de peixes -boi em vida livre localizado próximo a Ilha do 19 Gato, Humberto de Campos -MA. Fotos 8 e O manguezal na Baía do Tubarão alterna entre áreas com árvores mais 19 9 baixas e densas e manguezal com arvores de ate 25m. Foto 10 Revoada de guarás ao entardecer na Baía do Tubarão/MA. 20 Foto 11 Presença de garças brancas na Baía do Tubarão/MA. 20 Quadro 1 Comunidades relacionadas a Rese x Baía do Tubarão. 22 Mapa 6 Distribuição das comunidades dentro e no entorno da Resex Baía do 23 Tubarão. (Mapa elaborado por Nayara Marques). Fotos 12 Parte externa da lancha de linha destinada ao transporte de passageiro, 23 e 13 ao lado, a parte intern a, abarrotada de redes, mercadorias e malas. Fotos 14 Acesso às comunidades da Resex Baía do Tubarão-MA. 24 e 15 Fotos 16 Embarcações a vela e a motor usadas em pescarias na área da RESEX 24 e 17 Baía do Tubarão/MA. Foto 18 Embarcação sendo calafetada. 25 Foto 19 Embarcação sendo construída artesanalmente. 25 Foto 20 Armadilha fixa conhecida como Curral de Pesca. 26 Fotos 21 Parte externa e interna dos ranchos de pesca instalados em ilhas da 29 e 22 Resex Baía do Tubarão/MA. Foto 23 Sede do Sindicato de Pesca na Comunidade Sertãozinho, Icatu/MA. 31 Foto 24 Fábrica de gelo instalada na Comunidade de Sertãozinho ao lado da 31 sede do Sindicato de Pesca. Mapa 7 Comunidades do município de Icatu que estão dentro do limite da 32 RESEX Baía do Tubarão/MA e outras no entorno. Foto 25 Caixa d’agua comunitária no povoado de Palmeiras, Icatu/MA. 33 Foto 26 Documento da gleba concedida a antepassados de moradores da 34 comunidade de Palmeiras. Foto 27 Templo da Igreja Assembleia de Deus na Comunidade de Palmeiras, 34 Icatu/MA. Foto 28 Condições precárias do Porto da Comunidade de Palmeiras, Icatu/MA 35 Fotos 29 Casa de forno e a produção da farinha de mandioca na Comunidade de 35 e 30 Palmeiras. Foto 31 Porto da Comunidade Mamuna, município de Icatu/MA. 37 Foto 32 Equipamentos e moveis abandonados no posto de saúde inacabado na 37 comunidade de Mamuna. Foto 33 Camarão em processo de secagem ao ar livre, Comunidade Mamuna. 38 Foto 34 Ostra coletada na Comunidade de Mamuna. 39 Foto 35 Desembarque e lavagem de sururu no Porto da Comunidade Mamuna. 39

Foto 36 Extensão de praia na Comunidade de Prainha, Icatu/MA. 41 Foto 37 Templo da Assembléia de Deus na Comunidade de Papagaio, 45 Icatu/MA. Mapa 8 Comunidades costeiras limítrofes da RESEX Baía do Tubarão/MA. 46 Foto 38 Igreja Católica na praça da comunidade de Cedro, Município de 48 Humberto de Campos/MA. Foto 39 Porto da comunidade de Cedro, Humberto de Campos/MA. 48 Fotos 40 Carne e patas de caranguejo para comercialização. 49 e 41 Foto 42 Mulheres reunidas para realizar o “esquartejamento” dos caranguejos. 49 Fotos 43 Porto da comunidade de Santa Clara, município de Humberto de 50 e 44 Campos/MA. Foto 45 Igreja de Santa Clara, Município de Humberto de Campos/MA. 51 Foto 46 Armadilha fixa denominada curral de pesca. 52 Foto 47 Destruição gerada pelo avanço da maré sob as construções. 53 Foto 48 Estrutura para contenção do avanço da maré em alguns pontos da 53 praia de Santa Clara. Fotos 49 Tanques cobertos e laboratório em estrutura desativada na Praia de 54 e 50 Santa Clara. Fotos 51 Tanques de alvenaria na parte externa (não coberta) e próximo a 54 e 52 lamina d’agua da Praia de Santa Clara. Foto 53 Igreja Católica da comunidade de Porto da Roça, Resex Baía de 56 Tubarão/MA. Foto 54 Fábrica de gelo desativada na comunidade de Porto da Roça. 56 Foto 55 Ilha de Rosarinho com uma única casa de morada, município de 58 Humberto de Campos/MA. Foto 56 Ranchos de pesca na Ilha de Coqueiro, município de Humberto de 58 Campos/MA. Foto 57 Embarcações no Porto da Ilha do Gato, Município de Humberto de 59 Campos/MA. Foto 58 Maquetes da extinta base do CMA/ICMBio/MA expostas as 60 intempéries do tempo na Ilha do Gato. Foto 59 Placas solares na Ilha Grande, Município de Humberto de 62 Campos/MA. Foto 60 Templo da Igreja Católica na comunidade da Ilha Grande. 63 Foto 61 Sede do Boi Mimo de São João na Comunidade da Ilha Grande. 63 Fotos 62 Ruas de areia nas comunidades de Carrapatal e Jurucutoca, Município 65 e 63 de Humberto de Campo-MA. Foto 64 Templo Católico na comunidade da Ilha de Carrapatal. 66 Foto 65 Templo da Assembleia de Deus na comunidade de Jurucutoca. 66 Foto 66 Porto da comunidade de Carrapatal, Humberto de Campos/MA. 66 Foto 67 Porto da comunidade de Jurucutoca. 66 Foto 68 Farol instalado na vila da Marinha do Brasil localizada na Ilha de 67 Santana. Foto 69 Paisagem avistada de cima do Farol de Santana 67

1. Apresentação

Segundo a Instrução Normativa nº 03 de 18 de setembro de 2007, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, que disciplina as diretrizes, normas e procedimentos para a criação de Unidade de Conservação Federal das categorias Reserva Extrativista e Reserva de Desenvolvimento Sustentável este documento comporá o processo nº 02012.001628/2004-51 definido como estudo socioambiental de embasamento à proposta de criação da Reserva Extrativista Baía do Tubarão, em parte dos municípios de Icatu e Humberto de Campos, ambos no estado do Maranhão.

Em 2004 este processo foi aberto a partir de abaixo assinado solicitado pelo Sindicato de Pesca de Icatu/MA e logo no ano seguinte foi realizado seu laudo de vistoria prévia. Em 2006 um parecer técnico aponta para a ampliação da área da unidade de forma a abranger os municípios de Humberto de Campos e , considerando a similaridade das formas e locais de uso dos recursos naturais pelas populações tradicionais solicitantes da RESEX e pela importância da região como área de ocorrência do peixe-boi- marinho ( Trichechus manatus manatus ), mamífero aquático criticamente ameaçado de extinção.

Em 2006 o IBAMA/MA elaborou um Plano de Gestão Compartilhada para a Baía do Tubarão como experiência de gestão piloto no estado, que envolvia, entre outros, a realização de levantamentos biológicos para subsidiar a criação da reserva extrativista. No processo, constam ainda, documentos referentes à gestão compartilhada da pesca do camarão e um diagnostico sobre o extrativismo do caranguejo uçá, ambos realizados no ano de 2006, além de adereços como o estatuto, atas de assembleia e declarações do Sindicato de Pesca de Icatu.

A vistoria técnica na área do município de Humberto de Campos ocorreu no ano de 2007 ponderando que para cumprir a viabilidade ecológica e social designada a uma Resex seria necessário amplia-la de forma a englobar toda a baía. Ainda neste ano realizou-se o 1° Seminário Regional da Baía do Tubarão com a presença de representantes dos três municípios da região e que teve o tema “Gestão Compartilhada dos Recursos Pesqueiros. Reserva Extrativista como Instrumento de Gestão”.

No ano de 2014 foram retomadas as atividades de complementação deste processo iniciando-se pela mobilização das lideranças comunitárias, representantes de organizações dos 7 pescadores e prefeitura através de contatos telefônicos, emails e por fim a realização de reuniões in loco e vistorias. As primeiras reuniões foram realizadas em março de 2014 na prefeitura de Icatu e no sindicato de pesca na comunidade de Sertãozinho, conforme consta no relatório técnico elaborado pela analista ambiental do CNPT, Anna Karina A. Soares, e incluso ao respectivo processo.

O presente estudo provém do esforço e da parceria entre CNPT/DIBIO, COCUC/DIMAM e CONFREM com apoio do Projeto Manguezais do Brasil para ampliação de áreas protegidas nas Reentrâncias Maranhenses. Havemos de ressalvarmos e agradecermos a todo o apoio prestado pelo Sindicato de Pesca de Icatu, pelo Sindicato de Pesca de Humberto de Campos, pela Colônia de Pesca de Humberto de Campos, pelas estagiarias do CNPT/ICMBio, Nayara Marque e Milena Moraes, e pelos pescadores e marisqueiras da região que nos deram a honra de conviver e compartilhar seus conhecimentos conosco.

O fruto deste trabalho compila dados secundários disponíveis sobre a área e dados primários levantados junto à população tradicional presente na área proposta para criação da Resex, onde lançamos mão de ferramentas apropriadas primando pela integração de conhecimentos técnico-científicos a saberes e práticas tradicionais. No decorrer deste estudo apresentaremos ainda as principais ameaças, conflitos e impactos ambientais e sociais descritos pelos potenciais beneficiários desta Resex, bem como estaremos indicando levantamentos e estudos complementares que se apresentaram como lacunas ao longo de sua elaboração.

2. Contextualização Regional

Ao longo do litoral do Amapá, Pará e Maranhão concentram-se cerca de 80% dos manguezais, totalizando 8.900 km² que representa a maior área contínua de manguezais do mundo. Justifica-se tal incidência pelas condições favoráveis ao desenvolvimento deste ecossistema em sua exuberância plena apresentando vegetação extremamente desenvolvida e abrigando os quatro gêneros e as sete espécies arbóreas, características de manguezais, existentes no país: Rhizophora mangle , Rhizophora racemosa , Rhizophora harrisonii , Avicennia germinans , Avicennia schaueriana , Laguncularia racemosa e Conocarpus erectus (REBELO-MOCHEL, 1995). A área proposta para criação da Resex Baía do Tubarão esta

8 localizada ao norte do Maranhão e abrange parte dos municípios de Icatu e Humberto de Campos (Mapa 1).

Mapa 1: Localização dos municípios de Icatu e Humberto de Campos em relação ao estado do Maranhão. (Mapa elaborado por Nayara Marques).

Depois de São Luís e Alcântara, a cidade de Icatu é a mais antiga localidade do Maranhão. A descoberta desta localidade vem após a vitória dos portugueses sobre os franceses, em 1614, onde foi realizada uma procissão em ação de graças a Nossa Senhora da Ajuda em um lugar denominado de Águas Boas. Em 1688 este local passa a ser a Vila de Águas Boas, posteriormente transferida para margem direita do rio munim, e que inicialmente chamava-se Arraial de Santa Maria de Guaxenduba, denominação dada pelo seu fundador Jerônimo d’ Albuquerque do Maranhão. Em novembro de 1614 ocorreu à famosa Batalha de Guaxenduba, confronto militar entre portugueses e tabajaras contra os franceses e tupinambás, ocorrido onde se localiza atualmente a cidade de Icatu, no estado do Maranhão. A batalha contribuiu para a expulsão definitiva dos franceses do Maranhão em 04 de novembro de 1615.

Entre os anos de 1757 e 1759, transfere-se a sede da antiga vila de Águas Boas para Icatu. Em divisão administrativa referente ao ano de 1911 a vila apareceu constituída de 3 distritos: Icatu, Axixá e Salgado. Pela lei estadual nº 1.179 de 22/04/1924 foi elevado à condição de cidade com a denominação de Icatu. O decreto estadual nº 844 de 12/06/1935 desmembra do município de Icatu os distritos de Axixá e que foram elevados à categoria de municípios.

Por fim, o topônimo Icatu ou hicatu que significa “Águas Boas” localiza-se na microrregião de Rosário e na mesorregião do norte maranhense. Segundo dados do IBGE sua população estimada em 2015 permeia 26.452 habitantes, tem uma superfície de 1.448,779 km 2. O município de Icatu é banhado pelo rio Munim que deságua na baía de São José, a 9 altitude da cidade está a 5m acima do nível do mar e esta limitado ao norte pelo Oceano Atlântico; ao sul, pelos municípios de Axixá e Morros; a leste pelo de Humberto de Campos e a oeste, pelos municípios de Axixá e São José de Ribamar.

O sistema de saúde do município de Icatu possui 10 estabelecimentos, sendo que 07 destes possuem atendimento ambulatorial odontológico e vinte e cinco leitos de internação total. Dados de 2012 para a rede escolar registram 50 escolas públicas municipais e cerca de 320 docentes no ensino fundamental, 60 docentes no ensino médio e 56 docentes no ensino pré-escolar municipal. A relação de matriculas no ensino fundamental público municipal no primeiro semestre de 2012 foi de 5.076 alunos e no ensino médio no mesmo período foram de 1.453.

A atividade rural de lavoura temporária, com o cultivo de arroz, feijão, mandioca e milho é à base da economia deste município. Pelos dados da Produção Agrícola Municipal em 2012 foram produzidas 16.384 toneladas de mandioca, 4 toneladas de arroz em casca, 108 de milho em grão e 13 toneladas de feijão em grão. Quanto à extração vegetal deste mesmo ano houve a produção de 122 toneladas de carvão vegetal e 11 toneladas de açaí (Produção Agrícola Municipal, 2012). Os rebanhos efetivos de produção contabilizam 1.490 bovinos, 3.081 suínos, 368 caprinos. Com destaque também aos animais de carga que permeiam 305 equinos e 563 asininos, e as aves com 3.478 galinhas (Produção Pecuária Municipal 2012).

Agora regressaremos ao ano de 1612 para conhecer sobre o outro município que integra a Resex de Baía do Tubarão, o município de Humberto de Campos, neste ano, uma expedição francesa veio para colonizar o Maranhão e aportou em Upaon-Mirim (Ilha Pequena, hoje denominada de comunidade de Farol de Santana), pois a caravela chamava-se "Santana", aguardavam as negociações relacionadas a Upaon-Açu-Ilha Grande (atualmente cidade de São Luís). Somente por volta de 1817, José Carlos Frazão, vindo do Mearim no propósito de fazer comércio ou à procura de lugar apropriado para a lavoura e com seus escravos construiu um prédio com dois pavimentos para sua moradia, que ficou conhecido como "Casa-Grande" iniciando a localidade de Miritiba (atualmente cidade de Humberto de Campos), em 12/03/1819 Frazão obteve as léguas destas terras por carta de sesmaria. O distrito Miritiba de São José do Piriá foi criado pela lei nº 13, de 08/05/1835 e era subordinado ao município de Icatu.

A guerra da balaiada (1838-1841) ocorreu em Miritiba tomada pelos rebeldes em luta com as forças legais. A revolta tomou o nome de Balaiada porque Balaio era o apelido de

10 um de seus principais líderes, Manuel Francisco dos Anjos Ferreira, que era fabricante de balaios. Os balaios ainda tiveram o apoio de escravos que fugiram das fazendas e se aquilombaram sob a liderança do negro Cosme Bento das Chagas, dando inicio a monarquia do negro Cosme formando uma corte de 2.000 negros foragidos. Foi elevado à categoria de vila com a denominação Miritiba de São José do Piriá, pela lei provincial nº 543, de 30/07/1859 foi desmembrado de Icatu e no ano seguinte foi constituído distrito sede.

Pelo Decreto-Lei estadual nº 743, de 13/12/1934, passou à condição de município com o nome de Humberto de Campos, em homenagem ao escritor que lá nasceu e honrou ao mundo das letras brasileiras com suas obras. Aos seis anos de idade Humberto de Campos deixou a cidade natal e foi para São Luís, aos 17 anos para o Pará e posteriormente transferiu- se para o Rio. Entrou para O Imparcial trabalhando com escritores renomados, tais como Goulart de Andrade, Rui Barbosa, José Veríssimo, Júlia Lopes de Almeida, Salvador de Mendonça e Vicente de Carvalho. Logo depois o jornalista militante deu lugar ao intelectual usando o pseudônimo de Conselheiro XX e assinando contos e crônicas, hoje reunidos em vários volumes e em 1919 foi eleito para a cadeira nº 20 sucedendo Emílio de Menezes na Academia Brasileira de Letras. Humberto de Campos era jornalista, político, crítico, cronista, contista, poeta, biógrafo e memorialista, nascido em Miritiba em 25/10/1886 (hoje Humberto de Campos) veio a falecer no Rio de Janeiro em 05/12/1934.

Segundo dados do IBGE (2015) a população estimada neste município é de 27.976 habitantes em uma superfície de 2.131,247 km2. O acesso a partir de São Luís, capital do estado, a este município é de aproximadamente 259 km. Algumas especificidades em Humberto de Campos o destacam dentre os municípios como possuir o maior bumba meu boi do Maranhão, onde são doze pessoas no miolo (debaixo) do boi, conhecido como Famosão de Humberto de Campos (Foto 1) e o tradicional Festival do Peixe-Boi promovido anualmente para ressaltar a presença constante destes animais nos igarapés da região.

Foto: www.flogao.com.br Foto 1: O maior Bumba Meu Boi do Maranhão - Famosão de Humberto de Campos. 11

O município esta inserido na Bacia Hidrográfica do rio Periá, este rio nasce no Município de Morros, serve de limite entre os municípios de Humberto de Campos e Primeira Cruz e deságua na Barra do Veado, sendo o rio mais importante da Região. Humberto de Campos apresenta precipitação pluviométrica anual variando de 1.600 a 2.000mm, já a altitude da sede deste município é de 17 metros acima do nível do mar e a variação térmica durante o ano é pequena, com a temperatura oscilando entre 22,9°C e 30,7°C. O clima, segundo a classificação de Köppen, é tropical (AW´) úmido com dois períodos bem definidos: um chuvoso que vai de janeiro a junho, com médias mensais superiores a 271 mm e, outro seco, correspondente aos meses de julho a dezembro.

A cidade conta com 12 estabelecimentos de saúde pública de atendimento ambulatorial. Em 2012 o município contava com 79 escolas públicas municipais sendo que 69 no ensino pré-escolar, com aproximadamente 349 docentes no ensino fundamental, 43 docentes no ensino médio, 66 docentes no ensino pré-escolar municipal, já a relação de matriculas no ensino fundamental público municipal no primeiro semestre de 2012 foi de 7.190 alunos e no ensino médio no mesmo período foram de 1.201.

O município de Humberto de Campos possui economia baseada na atividade rural marcado pela lavoura temporária, com o cultivo de arroz, feijão, mandioca e milho. Pela Produção Agrícola Municipal 2012 foram produzidas 12.752 toneladas de mandioca, 07 toneladas de arroz em casca, 387 de milho em grão e 49 toneladas de feijão em grão. Quanto à extração vegetal houve a produção de 977 toneladas de carvão vegetal e 1146 toneladas de açaí (Produção Agrícola Municipal, 2012). Pela Produção Pecuária Municipal 2012 a criação de animais contabilizam 7.880 bovinos, 13.570 suínos, 4.085 caprinos, 798 equinos, 685 asininos e 6.355 galinhas.

A autarquia municipal SAAE- Serviço Autônomo de Água e Esgoto é responsável pela água consumida na cidade de Humberto de Campos que a distribui a 653 domicílios através de uma central de abastecimento. Os efluentes domésticos e pluviais são lançados em cursos d’águas permanentes e o lixo urbano possui coleta domiciliar porem é inexpressiva e são levados para os lixões a céu aberto, pois não há aterro sanitário.

Dessa forma a disposição final do lixo do esgotamento sanitário dos municípios de Icatu e do município de Humberto de Campos, infelizmente, possuem realidades bem semelhantes, pois não atendem as recomendações técnicas necessárias, e não há tratamento do chorume, dos gases produzidos pelos dejetos urbanos, nem dos efluentes domésticos e

12 pluviais, como forma de reduzir a contaminação dos solos, a poluição dos recursos naturais e a proliferação de vetores de doenças de veiculação hídrica. Tal situação agrava o assoreamento dos corpos d’água em decorrência da degradação da mata ciliar, da expansão da atividade agrícola e da erosão do solo. Além disso, o desmatamento e as queimadas no perímetro dos municípios constituem impactos ambientais significativos nas áreas legalmente protegidas.

3. Caracterização da Resex Baía do Tubarão

A área proposta para criação da Resex Baía do Tubarão encontra-se totalmente dentro dos limites da APA Estadual Upaon Açu-Miritiba-Alto Preguiças (Mapa 2). APA é uma Área de Proteção Ambiental geralmente extensa e tem por objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais, e é constituída por terras públicas ou privada. Criada em 1992, esta APA compreende uma área de 1.535.310 hectares de superfície, e abrange os municípios de Axixá, , Humberto de Campos, Icatu, Morros, Paço do Lumiar, Presidente Juscelino, Primeira Cruz, Rosário, Santa Quitéria do Maranhão, Santa Rita, São Benedito do Rio Preto, São Bernardo, São José de Ribamar, São Luís, Tutóia e . Tal fato não propiciará conflitos a considerar que não há impeditivos para se implantar uma Resex dentro de uma APA.

Mapa 2: Limites da APA Upaon-açu. Fonte: www.zee.ma.gov.br

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A proposta inicialmente solicitada à pretensa Resex Baía do Tubarão (Mapas 3 e 4) abrangia parte norte dos municípios de Icatu, Humberto de Campos e Primeira Cruz conciliando duas categorias de unidade de conservação federal, Resex e Revis, em uma área aproximada de 254.000 hectares.

Mapas 3 e 4: Proposta inicial de perímetro para Resex Baía do Tubarão (em amarelo) e proposta de Revis (em verde). Ao lado a localização da Resex em relação à área territorial dos municípios.

No decorrer das vistorias e reuniões comunitárias realizadas junto aos potenciais beneficiários e usuários da Resex Baía do Tubarão buscamos entender a distribuição dos recursos e seus usos no intuito de refinar os limites da área, além de identificar eventuais sobreposições de territórios que venham a promover conflitos de gestão. Nesta etapa além da analista ambiental Anna Karina A. Soares do CNPT/ICMBio também contamos com a participação do analista Thiago F. Dias, que estava como gestor da Resex Chapada Limpa/MA. Longe de nós a pretensão de que estas resumidas informações viessem a suprir as necessidades previstas no Levantamento Fundiário, contudo, como de fato ocorreu, o conhecimento destas áreas e indicativos de sobreposição foi somado à elaboração da proposta de limites realizada durante os estudos fundiários.

Durante os contatos de mobilização e no decorrer das reuniões comunitárias ficou notória a insatisfação de algumas lideranças ou organizações, de modo óbvio, ocasionada pelo longo período decorrente entre a solicitação de criação desta unidade e a retomada destas atividades. Sendo assim algumas comunidades desacreditadas na criação da Resex procuraram outras formas de garantir seus territórios, como por exemplo, através da criação de assentamentos.

Na área proposta inicialmente à criação desta Resex, conforme consta no abaixo assinado solicitante, 14 comunidades no município de Icatu estariam envolvidas diretamente:

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Salgado, Boa Vista, Bom Gosto, Jurupari, São Paulo, Armazém, Fazenda Serraria, timbotíua, Palmeira, Santa Izabel, Entre Rios, Mamuna, Itapera e Sertãozinho. De antemão foi observado que há comunidades que não foram mencionadas no processo de criação, porém se encontram totalmente dentro do perímetro indicado.

Temos ainda comunidades que possuem solicitação de estudos almejando o reconhecimento e a titulação como Territórios Quilombola fato que ainda não caracterizaria sobreposição, pois não estão legalmente criadas, contudo podem ser potenciais áreas de conflito. São as comunidades de Itatuaba, Santo Antônio dos Caboclos, Sertãozinho, Salgado, Prainha, Itapera, Santa Isabel e Boa Vista. Vale ressaltar que houve reuniões nestes locais e que alguns destas optaram por permanecer no processo da Resex na esperança que este venha a suprir suas expectativas de conservação do uso dos recursos e garantia de território. Outras porventura são caracterizadas como aglomerações urbanas no entorno da sede municipal e ficarão no entorno da Resex.

Findando-se essa sequencia de reuniões realizamos uma Assembleia Geral na sede do Sindicato de Pesca (Foto 2), situado na comunidade de Sertãozinho, ainda no ano de 2014, cogitou-se a hipótese de redefinir os limites propondo-se a criação da Resex abrangendo somente o município de Icatu, que, por conseguinte excluiria o município de Humberto de Campos e de Primeira Cruz, todavia considerando o uso e distribuição dos recursos, com enfoque principal aos pesqueiros, aliado as estratégias de conservação e gestão desta UC e territórios, seria infactível ecologicamente retirar o município de Humberto de Campos, pois estaríamos dividindo a Baía, e mais ainda, estaríamos deixando cerca de dois terços desta Baía fora dos limites da Resex.

Foto: Thiago Dias Foto 2: Assembleia no Sindicato de Pesca de Icatu com representantes das Comunidades inseridas na área da Resex Baía do Tubarão/MA.

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Sendo assim, após a realização de reuniões e vistorias na área da RESEX pertencente ao município de Icatu/MA, iniciamos as atividades no pertencente ao Município de Humberto de Campos/ MA. Agora nos deparamos com outra realidade, pois as comunidades neste município não são tão próximas quanto às do município de Icatu e consequentemente inviabilizou a estratégia de reunir comunidades em um mesmo local, desse modo, realizamos vistorias e reuniões em suas respectivas comunidades (Foto 3), são elas: Rampa, Flexeiras, Cedro, Santa Clara, Porto da Roça, Ilha do Gato, Ilha Grande e posteriormente nas comunidades mais distantes da sede do município, como as ilhas de Carrapatal, Jurucutoca e Farol de Santana, entretanto mantemos o mesmo foco de discutir e refinar os limites da resex através do uso de mapas (Foto 4). Ressaltamos que há muitas outras ilhas nesta área, entretanto sem comunidades residentes, apenas casas de morada isoladas e ranchos de pesca, que conheceremos mais afundo na caracterização da população tradicional da Resex.

Fotos: Karina Soares

Fotos 3 e 4: Redesenho dos limites da Resex Baía do Tubarão/MA junto com as comunidades tradicionais.

Previamente foi identificada justaposição entre os limites da Resex Baía do Tubarão com uma pequena porção a oeste do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, localizado no Município de Primeira Cruz/MA, que de imediato foram ajustados de forma a evitar sobreposição entre as unidades de conservação de uso sustentável e de proteção integral, respectivamente. Igualmente reajustamos os limites em decorrência da sobreposição com áreas dos Assentamentos de Mutuns e de Achuí, ambos sob a gestão do ITERMA (Instituto de Colonização e Terras do Maranhão) no intuito de evitar justaposição entre os limites das áreas e futuros conflitos.

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Logo após o encerramento das atividades em campo, que culminou na construção deste estudo, foi contratada pelo Projeto Manguezais do Brasil uma consultoria especializada para realização do levantamento fundiário, desse modo, as informações básicas referentes aos limites foram repassadas aos consultores contratados e em parceria com a equipe que elaborava este estudo, articulamos e promovemos vistorias e reuniões com comunitários da área proposta para criação das RESEX Baía do Tubarão (Fotos 5 e 6). O produto dessa consultoria deverá constar como peça processual caracterizando o estudo fundiário conforme predispõe a IN para criação de UC.

Fotos 5 e 6: Reunião e depoimentos colhidos pela equipe de consultoria para levantamento fundiárioFotos: Karina na Soares área da Resex Baía do Tubarão Por fim, este estudo levará em consideração a proposta abaixo (Mapa 5) aonde os limites para a RESEX Baía do Tubarão envolvem 13 comunidades (dentro da área) e cerca de 40 comunidades no entorno, abrangendo 152.583 hectares, sendo 63.697,2 no município de Icatu e 88.885,8 ha no município de Humberto de Campos, inclui ainda a área que era prevista a Revis.

Mapa 5: O traçado em vermelho delimita a área da Resex nos Municípios de Icatu e Humberto de Campos e em amarelo a área da pretensa REVIS. (Mapa elaborado por Nayara Marques). 17

Revis ou refúgio de vida silvestre tem como objetivo proteger ambientes naturais para a existência ou reprodução de espécies da flora local e da fauna residente ou migratória pode ser constituído por áreas públicas ou particulares, entretanto a visitação pública está sujeita às normas e restrições estabelecidas no plano de manejo da unidade. Na Baía do Tubarão a proposta de criação da Revis surgiu pelo frequente avistamento de peixe-boi na região, com maior incidência na área do Mapari, baseada nos relatos de pescadores e nas atividades desenvolvidas pela base do Centro de Mamíferos Aquáticos (CMA/IBAMA), localizada em São Luís – MA. A área da bacia do rio Mapari apresenta-se como um ecossistema de restinga peculiar a transição entre três biomas: o amazônico, o cerrado e a caatinga.

O peixe-boi marinho ( Trichechus manatus manatus ) é o mamífero aquático mais ameaçado de extinção no Brasil em decorrência da caça intencional, captura acidental, degradação ambiental, aumento do tráfego de embarcações a motor e encalhe de filhotes (IBAMA, 2001). Sua distribuição ocorre de forma descontínua ao longo dos estados do Amapá a Alagoas, no Maranhão há grupos remanescentes de peixes-bois especificamente na Barra do Gato, ilha que esta dentro da proposta de criação da Resex Baía do Tubarão, que segundo Alvite (2006), grupos de até 14 peixes-boi foram observados tratando-se da maior população registrada no nordeste desde 1999.

As atividades voltadas à conservação do peixe-boi marinho tiveram início no estado do Maranhão com a expedição “Igarakuê” (1992), em 2001 foi criada a base do CMA/MA com a realização de campanhas informativas e implantação de pontos fixos de observação de peixes-boi em vida livre. Em 2005 realizaram-se os resgates de carcaças de outros mamíferos aquáticos, coleta de material biológico e formação de banco de dados expandindo a campanha informativa para o atendimento dos encalhes, através da parceria com a Fundação Mamíferos Aquáticos, Instituto Alcoa e Alumar (CMA/IBAMA, 2007). Houve ainda a implantação de uma torre de observação de peixe-boi em liberdade (Foto 7) sob a responsabilidade do monitor Sr. Sérgio, morador da ilha do gato, enfatizamos ainda a realização do Festival do Peixe-Boi que passou a integrar o calendário de festas do município de Humberto de Campos e será descrito quando falarmos sobre a Ilha do Gato.

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Foto: Karina Soares Foto 7: Observatório de peixes-boi em vida livre localizado próximo a Ilha do Gato, Humberto de Campos -MA.

Esse extenso e conservado manguezal apresenta-se como habitat propício à diversidade biológica, contudo se torna redundante falar sobre a riqueza da biodiversidade local e seu vivaz manguezal, que alterna entre áreas com árvores mais baixas e densas (Foto 8) e manguezal mais com arvores de ate 25m (Foto 9).

Fotos: Karina Soares Fotos 8 e 9: O manguezal na Baía do Tubarão alterna entre áreas com árvores mais baixas e densas e

manguezal com arvores de ate 25m .

Fotos: Karina Soares Outra espécie em risco de extinção e presente no local são os guarás ( Eudocimus ruber ). Relatam que o período reprodutivo deles vai de abril a julho e que seu nicho reprodutivo é a “Ilha dos Guarás” e curiosamente estas aves vermelhas não nascem com esta tonalidade, pois seus filhotes são cinza com o ventre branco. Por toda a área da unidade podemos avista-lo e em cada município foi descrito no mínimo uma ilha de dormida destas aves e em suas proximidades registramos revoadas ao amanhecer ou ao entardecer (Foto 10).

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Fotos: Karina Soares Foto 10 : Revoada de guarás ao entardecer na Baía do Tubarão/MA.

Há ainda a ocorrência de diversas outras aves na região, algumas facilmente avistadas, como os maçaricos e garças brancas (Foto 11) e outras relatadas pelos moradores locais, tais como: anum, bem-te-vi, caboré, coruja, curica, curió, gavião do mangue, garça- morena, martim pescador, maçarico, marreco, manguari, pardal, papagaio-do-mangue, papa- capim, pica-pau, rolinha, sabiá, socó, taquiri e urubu. Acima apenas colocamos os nomes vulgares, pois necessitaríamos de um levantamento especifico para a identificação das espécies por nomes científicos considerando que alguns destes possuem nomes vulgares que diferem de região para região.

Foto: Karina Soares Foto 11 : Presença de garças brancas na Baía do Tubarão/MA.

Dentre os mamíferos citam a presença do boto-cinza, guaxinim, mambira, diferentes morcegos “de frutas e de sangue”, raposa, tamanduá e o peixe-boi marinho. Nos répteis há representantes da jibóia, jararaca, camaleão, jaboti, tartaruga-verde verdadeira, tartaruga de pente ou cabeçuda e tartaruga-de-couro. A necessidade de um levantamento 20 faunístico na resex torna-se evidente frente à escassa literatura sobre o local e associada às diferentes terminologias populares.

4. Identificação e Caracterização da População Tradicional Envolvida

Após a explanação sobre os limites da área proposta para Resex agora conheceremos um pouco mais sobre a população tradicional residente, as formas de uso e ocupação do território, bem como sua forma de organização. As informações descritas a seguir foram obtidas de forma direta e in loco, através de diferentes meios e ferramentas, a incluir reuniões, participação em assembleias, rodas de conversa, entrevistas semiestruturadas, conversas informais, vistorias e observação direta da área em estudo.

Foge a nossa aspiração que este estudo venha a exaurir as lacunas de informações que paira sobre estas comunidades, que são inúmeras, e ficam mais evidentes ainda pelo fato de suas próprias secretarias municipais, seja educação, saúde, meio ambiente e outras mais, não possuírem nem mesmo dados brutos sobre tais comunidades. É relevante destacar ainda a necessidade de estudos interdisciplinares para analisar o contexto da pesca numa visão sistêmica, enfocando não apenas os aspectos etnoecológicos, tratando-a como uma atividade de subsistência, mas realizar uma analise, também, dos aspectos exploratórios, já que estamos falando de uma atividade voltada a comercialização. Neste momento buscamos minimamente caracterizar a área da unidade e a população tradicional envolvida e solicitante da criação desta RESEX através de dados primários, não obstante, a diversidade desta vasta área nos levará a explanar de forma mais geral deixando para relatar as especificidades ao se tratar de cada comunidade em particular, e ainda sim, será de forma genérica.

As vistorias e reuniões realizadas tiveram por objetivo central levantar subsídios à elaboração deste estudo e a revisão da proposta de limites do perímetro. Este momento também foi marcado por esclarecimentos desde o procedimento de criação e implementação de uma reserva extrativista. Os dados foram coletados em varias expedições e a equipe de trabalho variava de acordo com o objetivo almejado e o período a ser realizado, assim participaram das expedições a então coordenadora do CNPT, Kátia Regina A. Barros, os analistas ambientais Anna Karina A. Soares e Thiago F. Dias, e os representantes da CONFREM, Francisco G. Neto e Alberto C. Lopes. 21

O trabalho primou pela construção coletiva expressa através das ações junto às comunidades da área envolvida, iniciando pela retomada da mobilização e contatos com as lideranças. Prezou-se por registrar, além das informações, os contatos de atores chave identificados como referencia na mobilização em suas comunidades, tais como agentes de saúde, capatazes de colônias de pesca, representantes de associações de moradores, representantes do sindicato de pesca, representantes do STTR e outras formas de organização existente no local.

Abaixo relacionamos as comunidades que estão dentro e no entorno da Resex em cada município (Quadro 1), nos ateremos a população tradicional residente nas comunidades que estão localizadas dentro dos limites da Resex, entretanto é sabido que o território de uso não se limita a polígonos pré-definidos.

Quadro 1: Comunidades relacionadas a Resex Baía do Tubarão MUNICÍPIOS DENTRO DA RESEX ENTORNO DA RESEX Itapera, Entre Rios (ou Retiro), Itatuaba, São Palmeira, Serraria, Lourenço, Ribeira, Vista Alegre, Moinho, Mata, ICATU Papagaio, Prainha e Ananais, Santo Antonio dos Caboclos, Boi, Cavalo, Mamuna , Sertão Grande, Salgado, Sertãozinho, Manajuí, Boa Vista, Morre Besta, Olho D’água, Cabral, Pedro Gonçalves, Santa Isabel.

Santa Clara, Cedro, Porto Assentamentos de Achuí e Mutuns HUMBERTO DE da Roça, Ilha Grande, Ilha Comunidades Flecheiras e Rampa CAMPOS do Gato, Carrapatal, Jurucutoca, Farol de Santana.

Ressalvamos que há outras localidades que serão citadas ao longo deste estudo, mas por possuírem apenas ranchos de pesca ou poucas casas de morada (menos de três) não estão sendo incluídas como comunidades. O mapa a seguir (Mapa 6) localiza geograficamente as comunidades em relação ao polígono da Resex Baía do Tubarão.

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Mapa 6: Distribuição das comunidades dentro e no entorno da Resex Baía do Tubarão. (Mapa elaborado por Nayara Marques e complementações Milena Moraes ).

O acesso às comunidades da R esex se dá por via aquática e por via terrestre. Pela via aquática utilizam barco s de pesca, a vela ou a motor (Fotos 12 e 13 ) e o acesso à parte delas somente é possível em determinadas marés através de “furos”, rotas navegáveis com acesso restrito as condições da maré ou ainda através das lanchas de “linha”, que são embarcações que fazem transporte de passageiros e cargas das comunidades para a sede de São Jose de Ribamar e para a sede de Icatu e de Humberto de Campos , o horário de saída depende da maré necessária.

Fotos: Karina Soares Fotos 12 e 13: Parte externa da lancha de linha destinada ao transporte de pa ssageiro, ao lado, a parte interna, abarrotada de redes, mercadorias e malas.

Pela via terrestre encontramos rodovias asfaltadas até a sede dos municípios de Icatu e Humberto de Campos, a partir destas em direção as comunidades as vias são de terra e

23 ate batidas com piçarra. Alguns trechos só foram possíveis com o uso de carro a tração, entretanto enganasse quem acha que o acesso por terra foi mais fácil, encontramos alguns diversos entraves tais como a grande quantidade de areia e até pontes de madeira que dependem do horário da maré para passagem de veículos (Fotos 14 e 15).

Fotos: Karina Soares Fotos 14 e 15: Acesso às comunidades da Resex Baía do Tubarão-MA.

A população presente no território alvo deste estudo está inclusa nos moldes tradicionais da agricultura familiar e da pesca artesanal realizada nos estuários dos manguezais e os que possuem embarcações maiores adentram “mar aberto”, conseguem ir mais longe da costa. As embarcações locais mais comuns são de propulsão à vela e barcos motorizados de pequeno tamanho (Fotos 16 e 17). Deixando a parte nossos pré-conceitos ou mesmo preconceitos, não entendamos técnicas tradicionais como técnicas arcaicas, Berkes (1999) já afirmava que os sistemas tradicionais de manejo dos recursos vêm sendo transmitidos de geração a geração, embora de maneira adaptativa, uma vez que as práticas tradicionais evoluem para responder às pressões modernas.

Fotos 16 e 17: Embarcações a vela e a motor usadas em pescarias na área da RESEX Baía doFotos: Tubarão/MA. Karina Soares

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É comum encontrar nos portos e praias os pescadores “calafetando” suas embarcações, entende-se como calafetar o ato de vedar com estopa os buracos ou fendas de uma embarcação para impedir a entrada de água (Foto 18). Por outro lado, segundo os pescadores, é cada vez mais difícil encontrar nas redondezas carpinteiros navais, pessoas que fabriquem as embarcações artesanalmente, e os poucos que restam aprenderam através da transmissão de conhecimentos entre gerações. A foto 19 mostra a fabricação de uma embarcação na sede de Humberto de Campos.

Fotos: Karina Soares Foto 18: Embarcação sendo calafetada. Foto 19: Embarcação sendo construída artesanalmente.

Os utensílios de pesca, conhecidos também por arte ou apetrecho de pesca, usados ao longo do litoral de Icatu e Humberto de Campos são geralmente confeccionados pelos pescadores ou por artesãos da pesca provenientes da própria comunidade ou das redondezas, contudo o material é adquirido nas sedes municipais ou ainda na capital, tais como linhas de nylon ou ate os panos de redes.

Os apetrechos de pesca mais comuns nessas localidades são: linha, espinhel, tarrafa, rede de tapagem, malhadeira, curral, caçoeira, serreira, puçá ou redinha, rede de enseada, rede de lanço, gozeira e zangaria. Observando a variedade de apetrechos e de “apelidos” para o mesmo apetrecho apontamos a necessidade de melhor identifica-los fato que requer acompanhar as pescarias e catalogar as artes de pesca. Longe de nossa aspiração atingir esse objetivo, mas destacaremos algumas artes comumente avistadas na área pretensa a criação da Resex durante o período de vistorias. Por serem armadilhas fixas, os currais (Foto 20) foram os mais avistados seguidos das redes fixadas com boias de isopor.

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Foto: Karina Soares Foto 20: Armadilha fixa conhecida como Curral de Pesca.

Em ambos os município os pescadores artesanais relatam a captura de uma grande diversidade de espécies de peixes, crustáceos e moluscos. Vale ressaltar que na comercialização dos peixes algumas espécies possuem notório valor, não somente pela comercialização da carne, mas também pela comercialização do “grude”, que os pescadores chamam de “bucho” do peixe, na realidade, estamos falando da bexiga natatória extraído das espécies gurijuba, pescada amarela e dourada, que é retirada ainda em alto mar e colocada para secar na embarcação.

Esse negócio tem movimentado o mercado pesqueiro e é mais valioso que o file do peixe, para exemplificar valores, a depender da região, o quilo do grude pode chegar a R$ 800,00. Essa atividade acontece informalmente, por isso não existem dados sobre quantidade produzida, entretanto os relatos dos pescadores nos remetem a uma grande produção de grude e sem nenhum valor agregado, além de passar despercebido pelo fisco.

A literatura cita seu uso nas formas mais diversas, como filtro e clareador de cerveja, iguaria gastronômica, matéria-prima para colas de alto desempenho e na elaboração de gelatina utilizada na composição de medicamentos, cosméticos, filmes fotográficos, móveis, instrumentos musicais e varas de pescar de grande resistência. E em especial como matéria prima de linha para sutura cirúrgica, usado especialmente nos procedimentos internos devido ao alto poder de absorção pelo corpo.

Na região há uma grande variedade de espécies de peixes, as que foram relatadas pelos pescadores de cada comunidade serão citadas no tópico especifico da comunidade, todavia Monteles (2010), ao caracterizar a pesca artesanal em Humberto de Campos cita as seguintes espécies.

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Peixes Bandeirado (Bagre bagre), Cangatã (Aspistor quadriscutis), Mandi (Pimelodella cristata), Cambéua (Arius grandicassis), Uritinga (Sciades proops), Traíra (Hoplias malabaricus), Sardinha dourada (Pellona flavipinnis), Sardinha verdadeira (Cetengraulis edentulus), Tralhoto (Anableps anableps), Piau (Leporinus friderici), Pescada amarela (Cynoscion acoupa), Serra (Scomberomurus brasiliensis), Parú (Chaetodipterus faber), Solha urumaçara (Etropus crossotus), Solha verdadeira (Achirus achirus), Solha verdadeira (Trinectes aff paulistanus), Baiacu açu (Colomesus psittacus), Baiacu guará (Lagocephalus laevigatus), Baiacu areia (Sphoeroides greeleyi), Baiacu pininga (Sphoeroides testudineus), Carapitanga (Lutjanus jocu e Lutjanus synagris), Tainha sajuba (Mugil curema), Tainha pitiu (Mugil gaimardianus), Tainha (Mugil trichodon), Cabeçudo (Stellifer brasiliensis), Camurim (Centropomus paralelus), Corvina uçú (Cynoscion microlepidotus), Corvina gó (Macrodon ancylodon), Guaravira (Trichiurus lepturus), Peixe Pedra (Genyatremus luteus), Pampo (Trachinotus carolinu e Trachinotus falcatus), Arraia morcego (Dasyatis geijskesi), Arraia bicuda (Dasyatis guttata), Arraia baté (Gymnura micrura), Arraia pintada (Aetobatus narinari), Arraia jaburana (Rhinoptera bonasus), Xaréu branco (Caranx crysos), Xaréu (Caranx hippos e Caranx latus), Jurupiranga (Arius rugispinis), Uriacica (Arius bonillai), Camurupim (Megalops atlanticus), Mero (Epinephelus itajara), Moréia (Lycodontis funebris e Gymnothorax ocellatus),* Caíca (Mugil curema), Cação (Carcharhinus perezi),* Serra (Scomberomurus brasiliensis), Pataca (Metynnis sp.) *Crustáceos Camarão Piticaia (Xiphopenaeus kroyeri), Camarão Branco (Litto pennaeus schimitti), Caranguejo (Ucides cordatus), Siri (Callinectes boucourti) Moluscos Sururu (Mytella falcata), Sarnambi (Anomalocardia brasiliana), Ostra (Crassostrea rhizophorae) e Tarioba (Iphigenia brasiliensis). Na arte de pescar a força de trabalho é constituída por homens e mulheres, contudo semelhante culturalmente a outras áreas do Maranhão há definições claras de funções pelo gênero, onde geralmente o homem pesca embarcado e a mulher marisca e beneficia o pescado, além das atividades domésticas. Na comunidade de Cedro a mulherada orgulhosa se destaca pela habilidade na retirada da carne do caranguejo para comercialização, falaremos mais delas no tópico referente a esta comunidade.

Dentre estes recursos pesqueiros, o camarão, vem se valorizando a cada dia mais, em face da grande demanda do mercado pelo produto, principalmente o camarão branco, que é comercializado in natura, seja ao consumidor local ou ao atravessador. O camarão piticaia não compartilha tal valorização, pois necessita de beneficiamento para venda o que requer 27 mais esforço de trabalho, mas, contudo gera menor lucro. Caldas (2008) enfatiza que o Maranhão possui um grande potencial para o cultivo de camarões marinhos nesta região e afirma ainda que a inexistência de tecnologias de cultivo apropriada inviabiliza a criação comercial em condições mais rentáveis.

Na captura dos siris (Callinectes boucourti) e caranguejos (Ucides cordatus) os retiram das tocas com o uso das mãos alguns utilizam gancho e até a predatória redinha. Na extração do sururu e do sarnambi utilizam também as mãos além de instrumentos simples, como pá ou tesoura, e até utensílios domésticos, tais como facas e colheres. Apesar de serem recursos abundantes em algumas comunidades, pois sua distribuição é irregular, a minoria comercializa, e o produto fica restrito ao consumo pela família ou extração para venda quando há encomendas pelos atravessadores.

Tal situação foge a realidade dos litorais brasileiros em que observamos uma corrida por estas iguarias, para exemplificar o descaso com a extração de sururu alguns pescadores relatam que queimam bancos de sururu simplesmente para atrair cardumes de peixes, ressalvamos que tal pratica é predatória e elimina de forma temporária ou ate definitiva este banco de bivalves.

A extração da ostra nativa ocorre com faca ou outro objeto pontiagudo, em poucas comunidades este recurso representa fonte de renda, pois na maioria, é retirado para o consumo da família. Durante as vistorias observou-se a abundancia de ostras nos estuários, entretanto, recentemente foi implantado na Baía do Tubarão, mas precisamente nas proximidades da comunidade de Cedro, no município de Humberto de Campos, áreas de cultivo de ostras através de projeto do governo do estado do Maranhão visando à geração de empregos diretos e indiretos.

Ministério da Pesca e Aquicultura anunciou a implantação de áreas de cultivo de ostras em Humberto de Campos. São mais de seiscentas e quinze áreas aquícolas ao norte do estado com capacidade para a produção de 7 mil toneladas de ostra por ano (hoje produz cerca de 300 toneladas) e geração de mais de 3 mil empregos diretos e indiretos, além de contribuir também no monitoramento ambiental destes parques. Fonte:

Os beneficiários da comunidade Cedro participaram de capacitação em todas as etapas do cultivo desde a implantação, confecção das estruturas, aquisição das sementes, manejo, despesca, acondicionamento, processamento, depuração e 28 comercialização. O projeto prevê ainda a implantação de sementeiras que servirão como substrato, próximas às mesas com ostras, visando à coleta de sementes oriundas da reprodução natural e desova das ostras que estarão confinadas nas estruturas de engorda de cultivo. Muitos moradores locais se perguntam –Por quê cultivar se tem muita ostra no mangue e esta se estragando?. Questionamos-nos mais além, porque eles não retiram as ostras? A resposta é unanime – não tem comprador e é de difícil armazenamento, pois estraga fácil. Na realidade existe um restrito mercado a ser desbravado e a qualidade do produto se torna essencial.

Os pescadores e as marisqueiras estão distribuídos pela pretensa unidade tanto em terra firme, como nos apicuns e nas ilhas. Em algumas ilhas residem grandes comunidades, porém outras são usadas apenas como rancharias, nome derivado de “rancho”, abrigo utilizado pelos pescadores de forma temporária (Fotos 21 e 22). Em que período os pescadores ficam nestes ranchos? Para esta pergunta a resposta sempre é depende, depende do tempo, da lua, da maré e muitas outras variáveis, não se busca o recurso em qualquer época ou de qualquer forma. Isso nos remete a Souto (2007), em uma área de manguezal da Bahia, registrou esta interessante frase de um pescador.

“Nós pescador também a gente tem que reparar as coisas. Tem que pesquisar também porque a gente tem que saber como trabalha o marisco. A gente tem que ter a curiosidade de procurar saber como tá trabalhando o marisco. Eu não pesco à toa não! Porque a pesca é uma pesquisa na natureza. Você tem que procurar pesquisar ela. Você tem que saber como o marisco anda, como dorme, aonde ele vai dar. Você tem que pesquisar isso tudo, tá entendendo.”

Fotos: Karina Soares Fotos 21 e 22: Parte externa e interna dos ranchos de pesca instalados em ilhas da Resex Baía do Tubarão/MA. 29

Como atividade econômica complementar as comunidades “lavram” a terra, ou seja, implantam roças dentro dos limites da Resex, contudo é notória uma maior dedicação a pesca, seja pela ausência de traços culturais voltados a pratica da agricultura ou ainda, a ausência de terra firme para este fim. Deste modo, a implantação de roças e o cultivo de hortas, que ocorrem em algumas destas comunidades, serão comentadas no item especifico de cada comunidade. Prosseguindo sobre atividades econômicas complementares destacamos ainda a criação de animais principalmente galináceos e bovinos, estes últimos essencialmente para consumo ou como forma de garantia de renda imediata, a afamada “poupança”, do mesmo modo serão discorridos ao se falar da comunidade onde estão presentes.

A diversidade desta pretensa Resex também se manifesta no campo espiritual, deixando dilemas e polêmicas à parte, sejam esses considerados religiões, doutrinas ou seitas, temos a Instituição Protestante, Católica, Assembleia, Batista, Testemunha de Jeová, Adventista, Terreiro de Tambor de Mina, Tambor de Crioula, Umbanda e Candomblé.

Observamos que na maioria das comunidades da Resex Baía do Tubarão temos representante do Sindicato de Pesca e/ou da Colônia de Pesca, a minoria possui Associação de Moradores, e dentre este restrito amostral, boa parte está formalizada, mas inativa na pratica, todavia ainda temos outras formas de organização como Associação de Quilombolas, Sindicato dos lavradores (nome local dado ao Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais), Clube de Mães, Clube de Pais e Times de Futebol.

Em Icatu, mais precisamente na comunidade de Sertãozinho localiza-se a sede do Sindicato de Pesca do Município de Icatu (Foto 23), instituição solicitante e mobilizadora do processo de criação desta RESEX. Este Sindicato possui uma fábrica de gelo (Foto 24) adquirida em parceria com extinto Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), entretanto não estava funcionando, pois aguardavam o conserto da mesma. Ressalvamos o amplo apoio prestado por este sindicato, em especial ao Presidente Domingos Barros (conhecido como Piticaia), à realização das ações necessárias a elaboração deste estudo na área, tanto pela mobilização das comunidades quanto pelo acompanhamento prestado pela sua diretoria. Em Humberto de Campos o acompanhamento da elaboração e o apoio ao ICMBio foi prestado tanto pela Colônia de Pescadores como pelo Sindicato de Pesca, na responsabilidade dos Presidentes Gutemberg Lima e Mailson Santos, respectivamente.

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Fotos: Karina Soares Foto 23: Sede do Sindicato de Pesca na Foto 24: Fábrica de gelo instalada na Comunidade de Comunidade Sertãozinho, Icatu/MA. Sertãozinho ao lado da sede do Sindicato de Pesca.

Seria obsoleto considerar “unidade” como algo único ou uniforme, na práxis as particularidades afloram em cada comunidade, desde o seu modo de vida, sua infraestrutura, suas formas de uso e ocupação do território e, por conseguinte suas praticas produtivas, não obstante, indiscutivelmente caracterizadas como extrativista tradicional de tal modo que se faz necessário dedicar-se a descrição de cada uma delas em suas minudências. Muito falaremos em pesca no decorrer deste estudo, é sabido que estaremos nos referindo designadamente à pesca artesanal, e ainda estaremos aqui nos reportando aos recursos através dos “nomes” locais ressalvando que não houve identificação dos nomes científicos, fato necessário, porém demandaria ir além de nossas expectativas neste estudo e requereria maiores expertises.

5. Infraestrutura Básica e o Modo de Vida nas Comunidades de Icatu/MA

As comunidades do município de Icatu que estão dentro do limite proposta para Resex Baía do Tubarão, conforme ilustra o mapa abaixo, são: Prainha, Papagaio, Palmeiras, Serraria e Mamuna. Inclui ainda as ilhas marinhas de Cararaí, Cinibutíua e Banco Feliz. Ressaltamos que nestas ilhas não há comunidades residindo, entretanto há diversos ranchos de pesca.

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Mapa 7: Comunidades do município de Icatu que estão dentro do limite da RESEX Baía do Tubarão/MA e outras no entorno. (Mapa elaborado por Nayara Marques).

Palmeiras

Esta comunidade com cerca de 80 famílias localiza-se a 65 km da sede do município de Icatu, o acesso a ela pode ser por via terrestre, apenas com carro a tração devido à demasiada quantidade de areia, e por via aquática, através das embarcações de pesca.

Em relação à educação a comunidade não possui estrutura para o funcionamento da Unidade Escolar, porém a prefeitura alugou um clube e uma casa onde funciona o ensino referente ao jardim ate o 9º ano. Sendo assim, para ter acesso ao ensino médio os alunos deslocam-se para a sede do município ou para uma comunidade mais próxima. Da mesma forma, por não possuírem posto de saúde na comunidade, os pacientes deslocam-se para a comunidade de Sertãozinho em busca de atendimento médico, contudo, os casos mais graves são direcionados a sede do município de Icatu. Localmente a comunidade conta apenas com o apoio de uma agente de saúde, a Sra. Iraci.

Com relação ao saneamento básico, o fornecimento de água é possibilitado através dos poços comunitários que esta sob a responsabilidade da Prefeitura, entretanto não há distribuição desta água através de encanações com destinação as casas, assim os moradores carregam em baldes e ainda utilizam-na para banho e lavagem de roupas junto a uma caixa d’agua próximo ao poço (Foto 25) ou mesmo, de acordo com as condições financeiras do morador, alguns constroem um poço em seu quintal de forma a facilitar as atividades diárias.

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Foto: Karina Soares Foto 25: Caixa d’agua comunitária no povoado de Palmeiras, Icatu/MA.

Nestas condições já é previsível a ausência de qualquer tipo de captação de esgoto através de rede, sendo assim, os dejetos são descartados em fossas sépticas ou nas sentinas (“cintinas ou casinhas”), refere-se a um buraco de até dois metros de profundidade com uma “tampa” de madeira em cima para apoiar os pés e nesta, uma pequena abertura, onde o usuário fica de cócoras. As “paredes” da sentina podem ser de palhas ou lona com estrutura de madeira. Como também não há coleta do lixo, este tem como principal destinação a queima, entretanto também o observamos exposto a céu aberto.

A comunidade possui sistema de distribuição elétrica fornecida pela CEMAR (Companhia Energética do Maranhão), e alegam que apenas parte dos moradores são beneficiados pelo Programa Federal Luz para Todos que esta sob a responsabilidade do Ministério de Minas e Energia, estes são isentos do pagamento das contas de energia, os demais moradores arcam com seus custos para uso do serviço. Os meios de comunicação presentes na comunidade são restritos telefones fixos interligados a antenas rurais e a transmissão via rádio da emissora AM.

Na comunidade há um representante do Sindicato de Pesca do município, o Sr. Almir, que também acumula o cargo de Presidente da Associação de Moradores. Este relata que esta em andamento, junto a Fundação Palmares, um processo de reconhecimento como quilombolas, entretanto não há solicitação de titulação da área. Ao adentrar no assunto de “propriedade” da terra nos mostrou um antigo documento que alega ser a doação desta sesmaria onde se localiza a comunidade de Palmeiras para um dos antepassados de sua família (Foto 26). O documento esta se deteriorando pelo tempo e em muitos momentos se torna difícil realizar a leitura de seu conteúdo, todavia esse fato foi repassado à equipe de

Fotos: Karina Soares 33 consultoria contratada para realizar o levantamento fundiário da área e que deve relata-lo de uma forma mais completa em seu produto.

Foto: Karina Soares Foto 26: Documento da gleba concedida a antepassados de moradores da comunidade de Palmeiras.

Em relação aos preceitos religiosos a comunidade possui seguidores do catolicismo (tendo dois grupos de jovens, liderados pelo Sr. Jailson), um grupo de protestantes da Igreja Assembleia de Deus (Foto 27) e dois Terreiros, que cediam alguns festejos tradicionais na comunidade, entre eles estão o Festejo de Todos os Santos e a Festa do Terreiro de Minas.

Foto: Karina Soares

Foto 27: Templo da Igreja Assembleia de Deus na Comunidade de Palmeiras, Icatu/MA.

A principal atividade econômica dos moradores desta comunidade é a pesca artesanal complementada pela produção agrícola, contudo ambos voltados para o consumo e venda. Os principais recursos citados pelos pescadores são os peixes pedra, tainha, pescada, e os camarões, branco, piticaia ou sete barbas e o camarão roxo. Sendo estes capturados por distintas artes de pesca, tais como: puçá de arrasto, rede de lanço, tapagem, caçueira e linha. Ressaltamos que cada arte de pesca esta voltada à captura de uma espécie, e que 34 ocasionalmente captura outras. Uma das dificuldades encontradas pelos pescadores é a ausência de um porto estruturado para embarque e desembarque do pescado (Foto 28). No território também há a disponibilidade de sururu e caranguejo, porém estes são coletados por pessoas de fora da comunidade para fins de comercialização.

Foto: Karina Soares Foto 28: Condições precárias do Porto da Comunidade de Palmeiras, Icatu/MA.

No plantio agrícola o destaque é a produção da mandioca num sistema de cultivo tradicional que agriculta em média duas a três linhas de roça exclusivamente sob a força de trabalho familiar, outra peculiaridade desse sistema é o consorcio com o cultivo de outras espécies, tais como: melancia, maxixe, vinagreira, banana e milho. Estas últimas são voltadas exclusivamente para consumo, entretanto a mandioca possui um mercado garantido, e logo após ser colhida é descascada, pubada (amolecida), escorrida e torrada, estes processos ocorrem na casa de forno da comunidade no intuito de produzir a farinha (Fotos 29 e 30) destinada ao consumo e a venda, que por sinal é garantida na própria comunidade no valor médio de R$ 5,00 por quilo.

Fotos: Karina Soares Fotos 29 e 30 : Casa de forno e a produção d a farinha de mandioca na Comunidade de Palmeiras.

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Destacaram como principais problemas no plantio da mandioca o ataque de “caças” as plantações, ou seja, animais silvestres que comem as mandiocas ainda nas roças, e ainda o ataque às plantas realizado pela “formiga cortadeira” ou saúva, para esta derradeira, a solução encontrada pelos moradores foi o uso de produtos químicos na roça, principalmente o Mirex-S, que consiste em uma isca formicida, na forma de composto granulado utilizada no controle de saúvas, entre outros venenos. As embalagens são descartadas diretamente no lixo, que pode ser queimado ou ficar a céu aberto, o que ocasiona danos ao meio e gera riscos a saúde dos moradores.

Dentre as plantas medicinais utilizadas pela comunidade, destacaram o boldo utilizado para dores estomacais, a casca de laranja para má digestão, a hortelã para problemas respiratórios, o manjericão para dor de cabeça, o alho para controle da pressão assim como o fumo e o mastruz, além de outros fins. Esses são singelos relatos sobre o uso popular destas plantas, não devem ser adotadas como recomendações terapêuticas. No extrativismo vegetal destaca-se o fruto do bacuri que é extraído com bastante frequência, sendo utilizado também o caule da planta para fazer canoas. Temos ainda o caju e a juçara, esta ultima tem maior valorização dentro da comunidade.

Os sistemas pecuários consistem na criação de gado, onde alguns moradores possuem de quatro a dez cabeças, criados de forma extensiva e sem finalidades de comercializações. A tradicional criação de galinha é realizada principalmente solta, assim também ocorre com a criação de porcos. Há ainda a captura de animais silvestres que servem tanto para o consumo quanto para a venda, principalmente paca, veado, tatu e o catitu, ambos abatidos a tiros de espingarda.

Mamuna

Nesta comunidade residem cerca de 160 famílias que se dedicam as tradicionais atividades da agricultura e da pesca. O acesso à comunidade pode ser por via terrestre e por via aquática, este ultimo se torna mais fácil, pois barcos de linha saem diariamente do porto de Mamuna (Foto 31) com destino a sede do município de São José de Ribamar/MA, município pertencente a grande Ilha de São Luis.

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Foto: Karina Soares Foto 31: Porto da Comunidade Mamuna, município de Icatu/MA.

O povoado possui sistema de distribuição elétrica fornecida pela CEMAR, e alguns moradores são beneficiários do Programa “Luz para Todos”, assim ficam isentos do pagamento da conta de energia elétrica. Os meios de comunicação utilizados pelos moradores são os telefones residenciais através de antena rural, a emissora de rádio AM e telefonia móvel sob a cobertura da operadora Claro.

Em relação à educação o povoado possui uma escola que fornece o ensino desde o jardim até o 9º ano. Os alunos que terminam o ensino fundamental precisam se deslocar à sede do município para dar continuidade aos seus estudos, fato que depende das condições financeiras da família. Não existe posto de saúde na comunidade, entretanto há uma obra inacabada onde se pretende instalar o posto, não nos referimos aqui à mera estrutura física e sim da existência de equipamentos e moveis abandonados no local, conforme demonstra a foto 32. Diante de tal situação, os pacientes buscam atendimento na comunidade mais próxima, que é a comunidade de Itapera, e os casos mais graves são encaminhados para os estabelecimentos hospitalares da sede do município. Localmente a comunidade de Mamuna conta apenas com a Sra. Vera que realiza a assistência domiciliar como agente de saúde comunitária.

Fotos: Karina Soares Foto 32: Equipamentos e moveis abandonados no posto de saúde inacabado na comunidade de Mamuna. 37

A respeito do saneamento básico, a distribuição de água é realizada através de três poços comunitários que são de responsabilidade da prefeitura, contudo alguns moradores possuem poços individuais em suas casas. A ausência de uma rede de esgoto leva os moradores a utilizarem fossas sépticas, sentinas ou ainda descartarem os dejetos a céu aberto, fato que possibilita prejuízos à saúde do meio ambiente e consequentemente às pessoas. Da mesma forma, pela inexistência do serviço de coleta de lixo este vem a ser queimado e em alguns casos, enterrado.

Na comunidade de Mamuna há adeptos a crença Católica, Assembleia de Deus, Igreja Nova Aliança, Adventistas e Candomblé. As principais festividades tradicionais da comunidade são a Festa de São Pedro, que ocorre em julho, e a Festa de São João que é realizada juntamente com o Festival do Camarão no mês de junho.

Falando em camarão, os pescadores relatam que é um dos produtos mais importantes para esta comunidade, são capturados através de puçá de arrasto e destacam quatro espécies: branco, vermelho, pitu e o piticaia. Este último, também chamado de camarão sete barbas, necessita passar pelo processo de secagem que é realizado ao ar livre sobre lonas estiradas no solo, e posteriormente é batido e peneirado, ainda um processo arcaico que não leva em consideração as condições higiênicas sanitárias exigidas pelo mercado, pois o produto fica exposto a diferentes formas de contaminação (Foto 33), o que prejudica a qualidade do produto e consequentemente pode afetar a saúde daqueles que os utilizam para alimentação.

Fotos: Karina Soares Foto 33: Camarão em processo de secagem ao ar livre, Comunidade Mamuna.

Dentre os recursos pesqueiros citam ainda a coleta do sururu e da ostra (Foto 34) que ocorre nos meses de janeiro a maio. A principal forma de coleta do sururu se dá

38 utilizando as próprias a mãos, ou ainda a pá ou o “xácho”, instrumento pontiagudo fabricado artesanalmente, então são colocados em tachos e desembarcados no porto de Mamuna, como observamos na foto 35. Contudo este desembarque traz transtornos aos moradores desta comunidade que reclamam que a lavagem do sururu suja a agua do porto, causa mau cheiro temporário e deixa muitas cascas que causam acidentes com ferimentos. Já para a coleta do caranguejo não possuem captura voltada para comercialização, pois esta comunidade o extrai apenas para consumo pela família, entretanto as comunidades vizinhas realizam a captura e comercialização deste recurso.

Fotos: Karina Soares Foto 34: Ostra coletada na Comunidade de Foto 35: Desembarque e lavagem de sururu no Porto da Mamuna. Comunidade Mamuna.

Em relação ao extrativismo vegetal, seja para consumo ou para venda, enfatizam a juçara como o fruto local mais cobiçado, e esta distribuída em áreas particulares e em áreas “sem dono” nas proximidades do rio. O ápice da sua produção ocorre no mês de setembro, todavia há entressafras ao longo do ano que oscilam o valor de venda da juçara de acordo com a disponibilidade do fruto, assim são vendidas em valores entre R$ 5 a R$10,00 o litro. Outros frutos que são comercializados é a manga, o buriti e o caju, ambos são colhidos e beneficiados para retirada da polpa, já o ultimo, possui a polpa e as castanhas absorvidas pelo mercado.

Da mesma forma, a produção agrícola é destinada ao consumo e a venda, com destaque para o cultivo de mandioca, este ocorre em sistema de plantio tradicional, a origem da semente ou maniva provem da roça do ano anterior, cada família tem no máximo três linhas de roça, o pousio ou tempo de descanso da terra dura de 3 a 4 anos. O valor do quilo da farinha fica entre R$3,00 a 5,00 e o paneiro, com em media 30 kg de farinha, é vendido entre R$40,00 e 100,00, a depender da época do ano. Estimam cerca de 80 paneiros de farinha por linha de roça plantada. O milho também é cultivado e está em segundo lugar na produção, da

39 mesma forma, destinado ao consumo e a venda. Há ainda outros produtos que são cultivados entre as linhas de mandioca, como arroz, melancia, maxixe e jerimum, entretanto apenas para o consumo.

Relatam o ataque da saúva como principal entrave ao plantio da mandioca, e para mitigar os impactos sob a produção utilizam produtos químicos na roça, citam Mirex-S e o uso de óleo queimado e gasolina para eliminação das saúvas. As embalagens destes “defensivos” geralmente são queimadas, fato que comprovadamente tendem a provocar riscos à saúde, uma vez que compostos químicos expostos às altas temperaturas tendem gerar outros compostos mais nocivos à saúde do trabalhador e ao meio ambiente.

Dentre as plantas medicinais utilizadas pela comunidade, as mais corriqueiras foram o boldo para dores estomacais, a folha de tamarindo e da azeitona para controle do colesterol, o eucalipto e hortelã para chás que aliviam tosse e bronquites, a folha de algodão e da açoita cavalo usado como anti-inflamatório, a santa Quitéria para xaropes antigripais e a folha de carambola utilizada no tratamento da diabete.

Os sistemas pecuários são voltados ao consumo próprio e no máximo são vendidos na vizinhança, caracterizam-se pela criação de galinha, soltas nos quintais, e pela criação de porcos, onde alguns moradores criam soltos pela comunidade e outros presos em chiqueiros improvisados em seus quintais, ambos sem quaisquer medidas sanitárias e nutricionais. Nas redondezas relatam a presença de animais silvestres, principalmente paca e veado, que são caçados com o uso de espingarda e contam com o auxílio de cachorros de caças, alegam que não há venda destes animais e são apenas para o consumo da própria família.

Prainha

O acesso à comunidade de Prainha ocorre através da via terrestre, por meio de carro tracionado, e via aquática, por meio de pequenas e médias embarcações de pesca e “de linha”, estas são embarcações especificas para o transporte de passageiros e cargas que transitam da comunidade para a sede do município de São José de Ribamar e para sede de Icatu. Prainha possui este nome devido à larga extensão de praia que possui fato que também atrai turistas a sua bela paisagem (Foto 36).

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Foto: Milena Moraes Foto 36: Extensão de praia na Comunidade de Prainha, Icatu/MA.

Em Prainha há uma escola que oferece o ensino somente até a 4ª série, porém com tão-somente uma sala de aula, para dois professores onde um mora na comunidade e o outro em São Luis. Sendo assim no turno matutino acontecem as aulas para 1ª e 2ª séries simultaneamente no mesmo espaço e o mesmo para o turno vespertino que comungam a 3ª e 4ª séries. Logo após o término destas séries, os alunos passam a frequentar a escola da comunidade de Sertãozinho onde estudam até a 8ª série do fundamental e posteriormente cursam o ensino médio em uma escola na comunidade de Itatuaba ou mesmo na sede do município de Icatu quando há a disponibilização de transporte escolar, em muitos casos devido essa dificuldade de acesso à escola os pais levam seus filhos para a sede de São Jose de Ribamar, em casas próprias ou de parentes.

Ainda em relação á educação, os moradores citam alguns outros problemas como, por exemplo, em relação à merenda escolar que, quando tem, não dura o mês todo, pois geralmente esta disponível de oito a quinze dias e isso prejudica o horário de permanência na escola. Outro problema está na falta de diálogo entre escola e os pais dos alunos, pois segundo os moradores não são feitas reuniões de pais na escola.

A comunidade não possui posto de saúde, todavia apenas conta com a assistência de uma agente de saúde que é responsável pela comunidade de Prainha e a comunidade vizinha, a comunidade de Papagaio. Em busca de atendimento médico os moradores destas comunidades necessitam se deslocar embarcado até a sede de São José de Ribamar, em um percurso que dura cerca de uma hora, ressaltando que este acesso é o mais cômodo e mais rápido para ter acesso ao atendimento hospitalar.

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Na comunidade a energia elétrica é fornecida pela CEMAR e cada morador arca com sua conta de energia mensalmente, considerando que não são beneficiários do Programa Luz para Todos. O principal meio de comunicação é o celular, no qual todas as operadoras (Oi, Claro, Vivo e Tim) possuem área de abrangência nesta comunidade, em virtude da proximidade às torres localizadas na sede do município de São José de Ribamar.

A água é fornecida através de poços que estão sob a responsabilidade da prefeitura, alguns moradores optaram por escavar poços individualmente, estes atingem de 16 a 20m de profundidade para ter acesso à água potável. Devido à ausência de rede de esgoto os dejetos são eliminados em sentinas construídas nos quintais das casas, com profundidade que varia de 2 a 3m de profundidade, e logo que atingem seu limite máximo são fechadas, por conseguinte, outra sentina é escavada.

Os comunitários são seguidores das religiões: Protestante, que possui um templo da Assembleia de Deus, e Católica, que ainda não possui um templo para realização de seus rituais religiosos. Em virtude disto os fiéis reúnem-se nas casas das pessoas da comunidade, embaixo de arvores ou em um lugar cedido pelo proprietário do bar flor do caribe, este geralmente serve como sede para o Festejo de São Francisco das chagas que ocorre sempre no mês de novembro. Neste festejo há diversas atrações tradicionais, tais como, o levantamento de mastro, as rezas e ao final das solenidades ocorre uma festa dançante que encerra o festejo.

Os principais recursos pesqueiros mencionados pelos extrativistas desta área é o camarão branco, que é capturado através das redes de arrasto e vendido fresco por R$ 16,00 o quilo, o peixe pedra, que é capturado com linha de anzol, rede, espinhel, malhadeira ou gozeira, e a tainha, que é fisgada com o uso de rede tipo tainheira ou pitiuzeira. Todos os pescados são destinados ao porto da sede de São José de Ribamar para comercialização direta ou para atravessadores.

Na agricultura, a mandioca é o principal produto cultivado na comunidade e é destinada a fabricação da farinha tanto para o consumo quanto para a venda. Um paneiro de farinha, que corresponde a 48 litros de farinha ou 30 kg, é vendido entre R$ 40,00 a 100,00 reais, e da mesma forma o maior mercado absorvedor desta farinha é a sede de São José de Ribamar. Nas entre linhas das roças ocorrem o cultivo de culturas temporárias, como o jerimum, o milho, o feijão, o quiabo e a macaxeira, ambas voltadas exclusivamente para o consumo. Temos ainda o cultivo da melancia, que ultrapassa os fins de consumo e adentra aos

42 produtos da comercialização, atingindo uma produção em torno de 100 a 200 melancias por safra.

O extrativismo vegetal é em geral voltado para o consumo, e as espécies mais exploradas são o caju, o murici, a manga, o guajiru e o babaçu (óleo). Entre as plantas medicinais estão verga- morta para dor de barriga, boldo, hortelãzinha e folha de Santa Quitéria para lambedores eficazes no tratamento de tosses entre outras enfermidades.

Os sistemas pecuários na comunidade apresentam-se na tradicional criação de galinha, soltas nos quintais e alimentadas por restos provenientes do preparo das alimentações e da produção das roças, da mesma forma a criação de porcos, que ficam soltos pela comunidade e uma pequena parcela dos criadores possuem chiqueiros para confinar os porcos nos quintais. Ainda dentro da comunidade existe criação de gado, contudo os moradores alegam que os animais ficam soltos e causam prejuízos às produções agrícolas e que o proprietário destes animais reside na sede de Ribamar e paga um vaqueiro para vigia-los e alimenta-los.

Ressaltamos que na comunidade é observada de forma constante a presença de aves silvestres típicas das regiões litorâneas do Maranhão, tais como, guará, garça, gaivota, entre outras que buscam abrigo e alimento na praia e nos manguezais existentes na área.

Papagaio

Com uma vista panorâmica da cidade de São José de Ribamar a comunidade de Papagaio vem atraindo turistas e pretensos “proprietários” de suas terras que em compensação ao difícil acesso por via terrestre, que necessita de veiculo à tração, possui a agradável facilidade pela via aquática através de barcos que saem do Porto de São José de Ribamar e atracam nas praias desertas de Papagaio e Prainha. Esta comunidade abriga 12 famílias e também é conhecida como Tacuruçá.

Nesse contexto os moradores alegam que seu território esta sendo invadido e vendido, e já há terras cercadas que impedem o acesso a parte da praia. A Família Santos se autodeclara “proprietária” das terras em Papagaio, pois foram os primeiros há residir na área e até hoje seus descendentes continuam na comunidade. A comunidade também se autodeclara remanescentes de quilombo e possui o reconhecimento através da Fundação Palmares como concerne à portaria nº 26, de 03 de abril de 2008. Dessa forma na comunidade há uma

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Associação Quilombola cuja presidente é a Sra. Raquel, e um representante do Sindicato de Pesca, o Sr. Nenzinho, que reside na comunidade de Sertãozinho.

A comunidade possui sistema de energia elétrica que esta sob a responsabilidade da CEMAR, e a conta fica a cargo de cada morador mensalmente, pois não estão inclusos no Programa Luz para Todos. Os meios de comunicação são bem diversos por conta da proximidade com a cidade de São Jose de Ribamar, pois estão separados apenas pela baía de São José, assim dispõem da cobertura de emissoras de TV e Rádio, além de todas as operadoras de telefonia móvel.

Com relação à educação, os alunos da comunidade de Papagaio compartilham da mesma escola junto aos alunos da comunidade de Prainha, aquela que funciona duas séries diferentes no mesmo espaço e no mesmo horário. Por conseguinte os alunos dão continuidade aos estudos indo para sede de São José de Ribamar que pela acessibilidade através dos barcos acaba por se tornar mais fácil para as famílias da comunidade de papagaio.

Da mesma forma que ocorre na comunidade de Prainha, possuem uma agente de saúde que atende as duas comunidades e não possuem posto de saúde, sendo assim os pacientes devem se deslocar para o posto de saúde na comunidade de Sertãozinho, na sede de Icatu ou ate mesmo atravessam a baía para a sede do município de São José de Ribamar em busca de atendimento, alegam que a depender da gravidade do caso o barco é uma alternativa menos dolorosa para o transporte do pacientes, pois as estradas estão em péssimas condições. Os moradores informam que a comunidade faz frequente uso das plantas medicinais para diversas enfermidades, e as mais comuns são: manjericão, hortelãzinha, cidreira, capim limão, folha de batata, folha de pimenta e folha de ata.

O abastecimento de água à comunidade ocorre através de poços com sistema de encanação ate as casas sob a responsabilidade da prefeitura de Icatu. Já a rede de esgoto é inexistente e acaba sendo realizado através do uso de sentinas ou “casinhas”. Da mesma forma a coleta de lixo é inexistente e consequentemente parte deste lixo é descartado a céu aberto e outra parte é queimada.

A comunidade possui seguidores da Igreja Católica, Assembleia de Deus (Foto 37) e Umbanda (tambor de mina e tambor de crioula). As festividades tradicionais são o carnaval de fita de maracatu, o Festejo do Divino Espírito Santo que ocorre no mês de outubro, o Tambor de Crioula em junho e o Festejo de São Francisco das Chagas.

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Foto: Milena Moraes Foto 37: Templo da Assembléia de Deus na Comunidade de Papagaio, Icatu/MA.

Os recursos pesqueiros são abundantes nesta comunidade localizada estrategicamente à frente da baía de São José, e é obvio que a principal atividade econômica de seus moradores esta relacionada aos pescados e aos mariscos, onde destacam o peixe pedra, o camarão piticaia e o camarão branco como principais recursos em termos de mercado, o que não exclui a extração de outros recursos como caranguejo e sururu par consumo e venda. Ressaltamos que quando nos falam de mercado referem-se especificamente à sede de São José de Ribamar, o que evidencia o “distanciamento” destas comunidades em relação à sede do seu município que é Icatu, uma vez que buscam também atendimento medico hospitalar e acesso ao ensino público naquele município .

Na produção agrícola a principal cultura é a mandioca, e geralmente cada família possui entre 1 a 3 linhas de roça de mandioca intercaladas com o plantio consorciado de milho, melancia, jerimum e feijão, além das roças também cultivam algumas arvores frutífera. Da colheita da mandioca fabricam a farinha de puba, onde cada paneiro (30 kg) custa entre R$ 50,00 a 100,00 a depender da época do ano, e boa parte desta farinha é destinada a venda na sede do município de São José de Ribamar.

Já em relação aos sistemas pecuários realizam criações em moldes tradicionais com galinhas soltas pela comunidade e pelos terreiros e uma pequena quantidade de porcos presos nos quintais. Já o gado registra uma quantidade de cabeças maior, contudo informam que estes animais não pertencem aos comunitários e que seu proprietário reside na sede do município de São Jose de Ribamar, e apenas paga a um morador para cuidar deste gado.

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6. Infraestrutura Básica e o Modo de Vida nas Comunidades de Humberto de Campos/MA

As comunidades do município de Humberto de Campos que estão dentro do limite da RESEX, conforme ilustra o mapa abaixo, são: Cedro, Santa Clara, Ilha Grande, Porto da Roça e Ilha do Gato. Temos ainda as ilhas marinhas de Farol de Santana e Carrapatal. Da mesma forma, ater-nos-emos a descrever as ilhas que possuem comunidades residentes e citaremos as que servem como ranchos de pesca.

Mapa 8: Comunidades costeiras limítrofes da RESEX Baía do Tubarão/MA (Mapa elaborado por Nayara Marques).

Cedro

Esta comunidade possui cerca de xx famílias e o acesso pode ser realizado por barco ou por carro através de estradas não pavimentadas. Diariamente ocorre a saída de carros de linha da sede de Humberto de Campos para a comunidade de Cedro percorrendo cerca de 22,5km.

Em relação à educação a comunidade conta com 02 escolas que abrange desde as series do maternal até o 9º ano e os professores moram na própria comunidade. Possui um posto de saúde que integra o PSF- Programa Saúde da Família, onde as consultas são agendadas e uma vez por semana ocorre o atendimento médico realizado pelo clinico geral, casos que necessitam de especialidades são encaminhados à sede de Humberto de Campos. No cotidiano a comunidade tem o apoio de 03 agentes de saúde (Josiane, André e Cristiane)

46 para ações de prevenção e acompanhamento de pacientes que utilizam medicações ininterruptas como os diabéticos e hipertensos.

O sistema de energia elétrica é fornecido pela Companhia Energética do Maranhão- CEMAR onde cada consumidor arca com suas despesas, ou seja, não estão inclusos no programa do governo federal “conta paga”. O acesso à energia possibilita um maior leque de alternativas para a comunicação principalmente através das emissoras de TV e rádio, há também o uso de antenas para o funcionamento de telefones fixos rurais, principalmente pela operadora Vivo, e os avisos locais são dados através do alto falante instalado em uma Igreja Batista.

A rede de abastecimento de água é composta por 01 poço construído e mantido pela prefeitura e sob a responsabilidade do Sr. Barésio, entretanto a maioria dos moradores possui poço individual. Não fugindo da realidade das comunidades do Maranhão, a comunidade não possui rede de esgoto e os dejetos são depositados em fossas e em sua maioria em sentinas, conhecidas também por “casinhas”, são estruturas com paredes de palha ou lona e que possuem um buraco na terra de profundidade média de 2 metros onde as pessoas depositam urina e fezes, ao atingirem sua capacidade máxima são fechadas e uma nova sentina é aberta em outro local, reutilizando o mesmo material na construção das paredes. O lixo é acumulado nos quintais e posteriormente queimado, em períodos chuvosos esta queima se torna impossível e o tempo de acúmulo do lixo é bem maior o que consequentemente gera um amontoado de lixo a céu aberto. Dentre os benefícios disponibilizados pelo governo federal o de maior capilaridade é a Bolsa Família, assim a maioria das famílias deste povoado recebe este auxilio.

Em relação às crenças e religiões a comunidade é dividida em seguidores dos preceitos Católicos e Evangélicos, estes subdivididos em três facetas, da Batista, da Assembleia de Deus e do Novo Nascimento. Possuem um espaço coletivo destinado às apresentações culturais, e dentre estas, o tradicional festejo de São Raimundo Nonato realizado em 31 de Agosto. Abaixo foto do templo católico localizado na comunidade de Cedro.

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Foto: Karina Soares Foto 38: Igreja Católica na praça da comunidade de Cedro, Município de Humberto de Campos/MA

Ao se perguntar por representantes dos pescadores na comunidade todos citam o Sr. Adail do Sindicato de Pesca, e como capataz da Colônia de Pesca, a Sra. Francinete. A atividade de pesca extrativista e artesanal é a principal fonte de renda desta comunidade sendo complementada por plantações em pequena escala e voltada para consumo, apenas uma parcela de 35% da comunidade realiza algum tipo de cultivo de horta.

As espécies de peixes mais capturados pelos pescadores do local são: tainha, bagre, guribu e pedra, estes desembarcam no porto (Foto 39) e são vendidos na própria comunidade ou para atravessadores que vem a comunidade buscar o pescado, o valor deste depende do período do ano e da relação oferta e procura ditada pelo mercado. Tem ainda o comércio da carne da arraia que é vendida para o mercado local por R$6,00/kg.

Foto: Karina Soares Foto 39: Porto da comunidade de Cedro, Humberto de Campos/MA. 48

O principal recurso desta comunidade é o caranguejo, como falam os moradores “o caranguejo possui venda garantida” e consequentemente boa parte da comunidade se dedica a captura deste crustáceo. Alguns relatam que no mangue mesmo já retiram o casco do caranguejo e trazem apenas o “peito” e pernas. Ao contrario do que ocorre nas comunidades do estado do Pará e litoral oeste do Maranhão, onde realizasse a venda do caranguejo inteiro e vivo, a tradição local é a venda da carne do caranguejo já tirada e das patas ou presas separadamente (Fotos 40 e 41).

Fotos: Karina Soares Fotos 40 e 41: Carne e patas de caranguejo para comercialização.

Observamos que a organização das mulheres para o “esquartejamento”, como localmente é chamada a retirada da carne do caranguejo, se mostra como uma atividade de fortalecimento de um espaço tradicional de discussões que permeiam vários assuntos relacionados à comunidade (Foto 42). Contudo é notória a necessidade de uma formação sobre boas práticas para o manuseio de alimentos considerando que esta atividade ocorre em um espaço aberto e sem as condições higiênico-sanitárias necessárias à boa qualidade do produto.

Foto: Karina Soares Foto 42: Mulheres reunidas para realizar o “esquartejamento” dos caranguejos. 49

Já ao se falar de camarão, o principalmente é o piticaia que é comercializado exclusivamente através do atravessador e ao valor de R$14,00/kg. O sarnambi e o sururu, ambos retirados diretamente com as mãos, localmente são vendidos na media de R$12,00 o quilo sem casca e a comercialização somente por encomenda. Assim as marisqueiras colocam esta atividade como fonte secundária de renda, pois tem a finalidade principal de consumo pela própria família e no mais pelos vizinhos.

Santa Clara

Nesta comunidade residem aproximadamente 311 famílias, também chamada de praia de Santa Clara, é considerado um dos lugares mais belos da redondeza assim procurada como atividade de lazer por pessoas das redondezas. O porto da comunidade é a própria praia utilizada para lazer (Fotos 43 e 44).

Fotos: Karina Soares Fotos 43 e 44: Porto da comunidade de Santa Clara, município de Humberto de Campos/MA.

O acesso à comunidade de Santa Clara ocorre diariamente e por vias não pavimentadas, onde passageiros são transportados em “toyotas”, carros de carroceria com bancos e alguns com coberta de capota caracterizando o “pau de arara” e se destinam ate a sede do município de Humberto de Campos, ou ainda em vans que seguem até a capital do estado, São Luís. Ao contrario de outras localidades esta relata que a minoria dos moradores recebe benefícios do Programa Bolsa Família, entretanto muitos acessaram os “auxílios” governamentais como o auxilio maternidade e o beneficio previdenciário da aposentadoria.

Em relação à educação possuem 02 escolas que atendem das séries do maternal até o ensino médio completo e contam com uma equipe de professores que são “filhos da região”, onde mesmo que não nascidos em Santa Clara moram em povoados vizinhos e até na

50 sede. Na área da saúde a comunidade possui um único posto de saúde, mas contam com o acompanhamento diário realizado por 05 agentes de saúde, as senhoras, Maria Dorace, Jocinalva, Josefa, Eliene e Duberleide.

A distribuição da energia elétrica é de competência da CEMAR, informam que ate meados de 2014 alguns moradores eram beneficiários do Programa Federal “conta paga”, em parceria com o Ministério de Minas e Energia. Para o abastecimento de água possuem um poço comunitário com rede de encanação, entretanto este não consegue suprir a necessidade de toda a comunidade e muitos, pela necessidade, cavaram poços individuais. Como não há sistema de esgoto predomina a utilização de sentinas, bem como pela ausência de recolhimento do lixo, os moradores geralmente o queimam ou enterram.

No que se refere à religião, na comunidade temos a Católica, Batista, Adventista, Assembleia e Terreiros. E a padroeira que nomeia esta comunidade, Santa Clara, é comemorada no mês de agosto através de um Festejo Tradicional. Santa Clara de Assis nasceu no ano de 1194, em Assis, na Itália, era de família rica e muito religiosa e aos 18 anos fugiu para pregar junto a São Francisco de Assis, fundando a ordem dos Franciscanos e a ordem de Santa Clara. Ela vendeu tudo, inclusive seu dote para o casamento e distribuiu aos pobres. Dentre seus feitos milagrosos está o surgimento de dezenas de pães e a expulsão dos muçulmanos do convento, além da visão que a possibilitou assistir uma celebração inteira à distância, assim o Papa Pio XII lhe proclamou oficialmente como a padroeira da televisão. Santa Clara de Assis é a fundadora das irmãs Clarissas que permanecem até os dias atuais. Abaixo foto da Igreja de Santa Clara.

Foto: Karina Soares

Foto 45: Igreja de Santa Clara, Município de Humberto de Campos/MA.

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Como meios de comunicação possuem acesso ás emissoras de TV, radio, telefonia residencial com antena rural, telefonia móvel através das operadoras OI e da VIVO, e de abrangência local utilizam os alto falantes das igrejas. Ao perguntarmos sobre formas de organização dentro da comunidade, informam que a Associação de Moradores encontra-se inativa, e além desta, citam que os moradores fazem parte da Colônia de Pescadores de Humberto de Campos/MA, tendo como representante a capataz Andreza.

A atividade econômica fundamental baseasse nos recursos pesqueiros tendo como principais espécies capturadas a corvina, a pescada e peixe pedra, “estas são o foco da pescaria”, mas logicamente há outras espécies que veem nas redes e que são utilizadas para comercialização e consumo próprio. Apontam como principal área de pesca dos moradores as proximidades da Ilha Macacueira e citam como principais artes de pesca a rede de malhão, colocada na entrada da barra do veado, e a instalação de currais (Foto 46).

Foto: Karina Soares Foto 46: Armadilha fixa denominada curral de pesca

O principal dentre os mariscos é o sarnambi e em segundo lugar o sururu, este apenas encontrado em época de safra, época sem chuvas, que permeia os meses de agosto a novembro e se concentra em maior quantidade na croa do Cascalinho. O camarão, seja piticaia, vermelho, cascudo ou branco, possui comercialização garantida, seja para consumo interno ou externo (vendido ao atravessador). Todos esses recursos são destinados ao consumo pela família, a venda na comunidade e a venda à atravessadores provenientes da sede.

O caranguejo também é comercializado na comunidade seja na forma in natura, na “casca” como dizem, ou somente a carne embalada em sacos de 1 kg, contudo este beneficiado é destinado aos atravessadores e consumidores externos. Relatam ainda que vendem o casco do caranguejo para um atravessador e acreditam que seja para confecção de 52 artesanatos, mas paira a curiosidade da destinação final destes cascos. Na comunidade há um morador conhecido como Capitão, ele é o principal comprador de caranguejo e faz o repasse a outros atravessadores.

Como atividades complementares possuem criação de porcos, que é realizada com os animais soltos pela comunidade e pela praia, e aparece como um dos principais problemas explicitados pelos moradores, seguido pelo descarte de lixo no mangue e na praia, pela ação de pescadores de outras comunidades com apetrechos predatórios e pela a falta de “organização” da praia (Foto 47), ao qual se referem à ausência de barreiras de contenção ao avanço da maré sob as construções, que se encontra apenas em pequenas extensões da praia (Foto 48).

Fotos: Karina Soares Foto 47: Destruição gerada pelo avanço da maré Foto 48: Estrutura para contenção do avanço da sob as construções. maré em alguns pontos da praia de Santa Clara.

Dentre as atividades produtivas complementares citam ainda a criação de galinha, que ocorre de forma rudimentar, em seus quintais e voltada apenas para o consumo. Relatam também a criação de gado, que se apresentam em grande numero de cabeças, porém não conseguem quantificar com exatidão, ademais pertence a um fazendeiro que comercializa para açougues no município de Urbano Santos. No campo da agricultura, não há implantação de roças na comunidade ou no seu entorno, alegam que são pescadores e marisqueiras e que a terra não é boa para plantação.

Na ponta da praia de Santa Clara há um grande empreendimento desativado, os pescadores afirmam que foi construído para reprodução e recria de camarões, trata-se de uma

53 estrutura com mais de 20 tanques de alvenaria com pontos de fixação para tubulações e em alguns casos com encanação afixada. Parte destes tanques está em uma área coberta (Foto 49), e ainda resiste com parte do telhado após evidentes atos de vandalismo. Próximo a estes tanques há ainda estrutura de um escritório e um laboratório (Foto 50).

Fotos: Karina Soares Fotos 49 e 50: Tanques cobertos e laboratório em estrutura desativada na Praia de Santa Clara.

Também há tanques na área externa e estes estão muito próximos a lamina d’agua conforme mostra as fotos abaixo. Há muitas versões que permeiam o abandono deste empreendimento, desde ausência de licenciamento ambiental até embargado judicial pelo uso indevido de verbas por políticos que estão sob investigação policial. Contudo não possuímos informações legais condizentes ao real motivo do abandono do espaço, apenas visualizamos tecnicamente uma oportunidade de produção em vista a aproveitar a estrutura da melhor forma possível.

Fotos: Karina Soares Fotos 51 e 52: Tanques de alvenaria na parte externa (não coberta) e próximo a lamina d’agua da Praia de Santa Clara

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Porto da Roça

A comunidade possui 130 casas e o acesso se dá através da via aquática e mais comumente pela via terrestre, por meio de estradas não pavimentadas ou “empiçarradas”, sendo o veiculo mais comum as “toyotas”, não necessariamente relacionada à empresa Toyota fabricante de veículos, mas denominação dada a qualquer carro a tração com carroceria onde instalam bancos de madeira e capota (pau-de-arara), assim ocorre diariamente o deslocamento de pessoas entre esta comunidade e a sede do município de Humberto de Campos. Algumas ruas desta comunidade são acessadas somente com o uso de carro a tração devido a grande quantidade de areia e outras a prefeitura raspou e colocou piçarra para facilitar o trafego de veículos.

A comunidade possui apenas uma escola que vai do maternal até o 9ºano, no campo da saúde, possuem um prédio onde está implantado o posto de saúde, entretanto este não está em funcionamento e sendo assim, a comunidade não possui atendimento médico, e apenas contam com o Sr. Zé Raimundo que é o único agente de saúde da comunidade. Alguns pescadores relataram que a comunidade padece pelos inúmeros acidentes ocorridos no porto de desembarque da comunidade, pois a área do porto é formada de pedras que causam muitos cortes e ferimentos, e sem posto de saúde precisam recorrer constantemente à sede do município, e em casos mais graves é encaminhado a capital, São Luís.

O fornecimento de energia elétrica é realizado pela empresa CEMAR e parte da comunidade é beneficiaria do subsídio do governo federal através do Programa Luz para Todos. A rede de comunicação local se restringe ao uso de telefones residenciais com adaptação para antenas rurais. A rede de abastecimento de água é realizada através de encanações provenientes de 02 poços comunitários, quão insuficientes ao abastecimento da comunidade muitos moradores possuem poços individuais. Pela inexistência de sistema de saneamento básico os moradores constroem fossas próximas às residências sendo que a maior parte da comunidade possui sentina. Da mesma forma não possuem serviço de coleta de lixo e este consequentemente deve ser queimado em seus respectivos quintais, e em alguns casos são enterrados.

Dentre as formas de organização nesta comunidade relatam a participação na Colônia de Pescadores, onde o representante local é o Sr. Domingos e a participação na Associação de Moradores de Porto da Roça. Em meio às instituições religiosas a comunidade possui adeptos e templos da Igreja Evangélica, Assembleia, Missionária e Católica (Foto 53).

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Foto: Karina Soares

Foto 53: Igreja Católica da comunidade de Porto da Roça, Resex Baía de Tubarão/MA.

As atividades econômicas são tipicamente relacionadas aos recursos pesqueiros com destaque principal para a captura do caranguejo, seguido pela pesca do camarão, cangatã e peixe pedra. Na comunidade há uma estrutura em que funcionava a fábrica de gelo, entretanto encontra-se desativada (Foto 54) e este fato vem dificultando o trabalho dos pescadores frente ao manuseio dos recursos pesqueiros.

Foto: Karina Soares Foto 54:. Fábrica de gelo desativada na comunidade de Porto da Roça

No relatório do CMA/IBAMA, realizado em 2007, há registros de reclamações dos pescadores da comunidade de Porto da Roça sobre a prática de pesca predatória, principalmente as de tapagem e batidura, além da extração inadequada do sururu. Há ainda relatos da observação de peixes-boi que geralmente são avistados na maré de quarta, entretanto complementam que não há mais deles devido à realização de constantes pesca de batidura na região, localmente este tipo de pratica consiste no uso de instrumentos diversos

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(pau, pedra, ferro) de forma a bater na água e produzir sons que afugentem os peixes, principalmente nos locais de reprodução destes. E ainda, adentrando a outros crimes ambientais, a realização de captura, manutenção em cativeiro e venda de pequenos passeriformes.

A atividade relacionada à agricultura é ínfima a pouco expressiva, nesta referimos apenas ao cultivo da macaxeira. Alguns moradores possuem pequenas criações de galinhas, bodes e em menor numero, os porcos, caracterizada como uma criação rudimentar e de forma extensiva, os animais ficam soltos e sem atentos aos aspectos nutricionais e sanitários, de tal modo que não vislumbram ir além do próprio consumo ou de uma fonte de renda imediata.

As comunidades tradicionais e em especial as comunidades pesqueiras possuem em comum a cordialidade a visitantes, ao contrario do que nos deparamos nesta comunidade, algumas pessoas se recusaram a fornecer informações e outras nos ignoraram e brevemente encerraram a conversa ou entrevista. Posteriormente entendemos que a comunidade sente-se insegura e amedrontada frente à presença e influencia de traficantes de drogas que estão morando no local e ainda, além das drogas também comercializam o pescado, caracterizando o habitual papel do atravessador.

Os moradores, pouquíssimos destes, e de forma discreta, relatam que o uso das drogas vem se disseminando a cada dia mais entre os pescadores, e independe de serem jovens e também do uso somente durante a pescaria, vem se tornando algo constante e influenciando diretamente nas relações de produção local, pois o pescado que antes era negociado com os atravessadores por dinheiro, remédios, favores e gêneros alimentícios estão sendo trocados por drogas, famílias foram desestruturadas, moradores abandonaram as casas e foram embora, atravessadores não envolvidos com drogas não possuem mais fornecedores de pescado e o índice de roubos as criações de animais e aos aparelhos domésticos são inúmeros ao considerar uma pequena comunidade de pescadores. Frente a este lamentável cenário contabilizam incontáveis denúncias a Delegacia de Polícia em Humberto de Campos, e sem providencias incisivas buscam o apoio da promotoria do município.

As Ilhas

No município de Humberto de Campos todas as ilhas estão inseridas no polígono proposto para criação da Resex Baía do Tubarão, contudo há diversas denominações locais e se faz necessário entender que a mesma ilha pode ter nomes distintos para os diferentes lados 57 pelos quais os pescadores a acessam, além disso, em algumas ilhas há comunidades residindo de forma permanente, outras há apenas uma casa, como na ilha de Rosarinho (Foto 55), outras ainda são usadas temporariamente através dos ranchos de pesca, por exemplo a Ilha de Coqueiro (Foto 56), e temos também as que são totalmente inabitadas. Da mesma forma que ocorre em Icatu algumas ilhas são adonadas (“possuem dono”), não entraremos no mérito da legalidade dos títulos de propriedade destas ilhas, pois tal assunto deverá ser tratado no estudo fundiário da área, entretanto ressaltamos a pressão exercida pela especulação imobiliária que ocorre de forma clara e explicita, ate mesmo através de anúncios de venda de ilhas nos sites da internet.

Fotos: Karina Soares Foto 55: Ilha de Rosarinho com uma única casa de Foto 56: Ranchos de pesca na Ilha de Coqueiro, morada, município de Humberto de Campos/MA. município de Humberto de Campos/MA.

Ilha do Gato

Esta ilha se localiza na foz do rio Mapari, e o acesso a esta comunidade ocorre exclusivamente por via aquática, através de barcos de pescadores (Foto 57). Seus limites estavam inseridos na criação da REVIS citada no tópico sobre a caracterização da unidade, em decorrência ao constante avistamento de peixes-boi. Segundo moradores o nome de “Ilha do Gato” provém da historia contada pelos antepassados sobre a existência de um “grande gato” que aceirava pela ilha, que muitos dizem que era uma onça. Atualmente residem cerca de 90 famílias nesta ilha, entretanto 70 destas moram de forma fixa (permanente) e as demais retornam por temporada, isso ocorre defronte às atividades de estudo e/ou trabalho serem realizadas em outros locais.

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Foto: Karina Soares Foto 57: Embarcações no Porto da Ilha do Gato, Município de Humberto de Campos/MA.

Ao contrario das demais comunidades, o levantamento bibliográfico nos trouxe informações sobre a Ilha do gato através de trabalhos desenvolvidos por Rebelo-Mochel (2000).

A vegetação da ilha ocorre como uma transição bem característica da zona supra-marés para a entre-marés, com restinga sendo substituída por uma faixa de carnaúbas (Copernicia prunifera), seguida por bosques de Conocarpus erectus, conhecido popularmente como mangue-de-botão, que marcam o início do ecossistema manguezal. Na sequencia, teria início o apicum, marcado pela ausência de vegetação e margeado por marismas hiperhalinos com suas espécies vegetais características (e.g. Batis maritima, Sesuvium portulacastrum, Blutaparon portulacoides, Sporobolus virginicus), também encontradas em outras áreas do litoral maranhense.

Há ainda os relatórios técnicos elaborados pelo CMA/IBAMA que descrevem a realização do 1º Festival do Peixe-Boi na Ilha do Gato, ocorrido em 21 de julho de 2007, em parceria com a União dos Moradores do Povoado da Ilha do Gato – UMPIG e com o apoio da prefeitura de Humberto de Campos, Banco do Nordeste e outros mais. Neste festival ocorreu palestra abrangendo aspectos biológicos, ecológicos e de conservação do peixe-boi, mutirão de limpeza da ilha, campeonato de futebol feminino, masculino e infantil, concurso de pinturas realizadas por alunos da escola da Ilha do Gato, concurso da Rainha do Festival encerrando com carimbó e apresentação de Bumba-Boi (CMA/IBAMA, 2007). Atualmente o festival continua sendo realizado na Ilha mesmo após a desativação da base do CMA no Maranhão e conta com o apoio da Prefeitura para tal faceta.

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Na foto abaixo estão registros das maquetes que ficavam na frente da extinta base do CMA quando sediado no Parque Bom Menino no bairro do Centro em São Luís e hoje estão aguardando destinação no quintal de um dos moradores da Ilha do Gato, ressalvamos que não há nenhum tipo de cobertura sob as maquetes e que estão expostas a sol e chuva.

Foto: Karina Soares

Foto 58: Maquetes da extinta base do CMA/ICMBio/MA expostas as intempéries do tempo na Ilha do Gato.

Em relação à educação a comunidade possui 02 escolas e conta com professores “filhos da própria comunidade”, fato que é revelado com certo orgulho pelos moradores. A estrutura de ensino local acolhe do jardim até a 8ª série e para dar continuidade ao ensino os alunos devem sair da ilha, assim frequentemente eles mudam-se, para a sede do município ou para a capital, a depender das condições financeiras ou das relações de apadrinhamento que sua família possui. Outra restrição local são os meios de comunicações que se dão principalmente através de telefones fixos rurais adaptados às antenas das operadoras, Vivo ou Oi, além das emissoras de TV e rádio.

O atendimento médico aos moradores ocorre no único posto de saúde do povoado e apenas uma vez ao mês, e tão somente pelo clínico geral, as necessidades em áreas médicas mais específicas são encaminhadas para sede municipal ou para capital. Possui ainda um agente comunitário de saúde, o Sr. Waldemir Vieira, que nos relata que os sintomas mais corriqueiros são diarreias e os relacionados à gripe. Moradores informam que o atendimento odontológico deveria também ser realizado uma vez ao mês, contudo, tal atendimento ocorre de forma irregular e exclusivamente para procedimentos de prevenção e extração, as demais precisões devem ser realizadas fora da ilha. Ultrapassando o campo exclusivo da medicina e abrangendo um cunho social, observamos que nas conversas e entrevistas é notória a preocupação dos moradores com o aumento de usuários de drogas dentro da comunidade tendo por agravante o fato de não possuírem assistência em nenhum aspecto. 60

A responsabilidade pelo fornecimento de energia elétrica é da empresa CEMAR, e os ramais são provenientes do povoado vizinho, o assentamento Achuí, onde postes e fiações foram implantados atravessando por dentro do mangue, fato que dificulta o acesso a realização das necessárias manutenções. O abastecimento de água ocorre através de poço comunitário e é distribuída por um sistema de encanação, onde as despesas relacionadas à bomba d’agua correm à custa dos moradores que pagam uma taxa de R$5,00/casa. Como não há sistema de esgoto o destino dos dejetos é realizado principalmente através de sentina e a minoria possui fossa. Sem serviço de coleta de lixo, este é preferencialmente queimado por mais da metade dos moradores e em segundo plano é enterrado.

Ao se falar de instituições religiosas em sua totalidade são católicos, com exceção de uma única família da ilha que se declara adepta as diretrizes da Igreja Batista, sendo assim construíram uma igreja na ilha para professar sua fé além de cativar outros seguidores. Ao perguntarmos por outras formas de organização citam a existência de uma Associação de Moradores da Ilha do Gato que é presidida pela Sra. Ângela, entretanto ela reside em São Luis e retornar a ilha em períodos de férias. Nas decisões diárias referentes à comunidade esta a Dona Consuelo que participa e representa a Colônia de Pescadores, por onde parte das famílias recebem auxílios como doença e maternidade. Vale ressaltar que quase a maioria das famílias é beneficiaria do Programa Federal Bolsa Família.

Esta comunidade não foge a realidade das demais em relação às atividades econômicas onde a força de trabalho esta voltada à extração dos recursos pesqueiros. Destacam a comercialização do caranguejo, sururu, camarão e peixes, e dentre as espécies de peixe sobressaem bagre, guribu, pescada e pacamão. As marisqueiras nos falam que por ser uma ilha margeada de manguezais ou apicuns não há disponibilidade de terra firme para a implantação de roças aliado ao fato de não haver a tradição de cultivar vegetais, contudo relatam a existência de singelos canteiros, e quase que imediatamente afirmam “só para o tempero do peixe”.

Todavia desenvolvem a criação de animais, principalmente galinhas e porcos, que vivem nos cercados dos quintais e sem mínimos cuidados sanitários e nutricionais, a produção é voltada para o consumo pela própria família e sem a menor pretensão de comercialização. Da mesma forma para a criação de gado, são poucas cabeças por família e a atividade está refreada a obtenção rápida de recurso em caso de necessidade, o famoso “gado poupança”, porém como a atividade é realizada de forma extensiva, ou seja, os animais ficam soltos pela

61 ilha, por conseguinte trazem transtornos aos moradores pela sujeira causada pelas fezes destes animais.

Ilha Grande

“A Ilha Grande não é tão grande, pois é menor que a ilha do Gato”, e nela há cerca de 57 famílias residindo. Redundantemente o acesso à ilha ocorre por via aquática através de barcos que se destinam a comunidade de Cedro, a sede do município de Humberto de Campos e a cidade balneária de São Jose de Ribamar, município integrante da grande Ilha de São Luis/MA. Os meios de comunicação ocorrem pelas emissoras de TV e radio além do sistema de telefonia residencial rural utilizando antena em um celular através dos serviços das operadoras VIVO ou Oi.

Na comunidade o ensino é oferecido em uma única escolinha que atende aos alunos do jardim ao 9º ano e considerando o isolamento desta comunidade primasse pelos professores integrantes da própria comunidade. Em relação à saúde o cenário é bem preocupante, pois além de não possuir posto de saúde também não há agente de saúde no povoado, todo e qualquer atendimento é realizado por um medico que comparece a ilha uma vez por mês, integrante do Programa Federal Mais Médicos, e que geralmente vem acompanhado de um enfermeiro. Casos de urgência e emergência, bem como a necessidades de especialistas, devem ser supridas nos hospitais da sede municipal ou nos estabelecimentos de saúde da capital.

O fornecimento de energia é realizado através de placas solares (Foto 59) interligadas a um gerador, esse sistema foi implantado através do Programa Federal Luz para Todos e localmente fica sob a responsabilidade do Sr. Zé Augusto.

Foto: Karina Soares

Foto 59: Placas solares na Ilha Grande, Município de Humberto de Campos/MA. 62

O abastecimento de água é feito através do poço comunitário (aproximadamente 12 metros de profundidade) e não há encanação para as casas, sendo assim a retirada da água ocorre através de uma bomba manual que foi fornecida pela prefeitura do município, entretanto, além deste poço houve a necessidade da escavação de poços individuais. Por não possuírem sistema de esgoto utilizam as sentinas, estas “casinhas” logo que atingem a sua capacidade de dejetos são fechadas e outra é cavada. A destinação final do lixo é a queima, no entanto frequentemente encontramos o lixo exposto a céu aberto.

Os moradores da ilha são adeptos religiosos da Igreja Batista e da Igreja Católica, todavia apenas esta possui um templo edificado (Foto 60). Ao falarmos sobre formas de organização relatam que na comunidade não há Associação de Moradores, e também não tem representante ou capataz da Colônia de Pesca, entretanto todos são colonizados e se dirigem a sede para resolução de problemas geralmente relacionados ao recebimento de benefícios. Em relação aos benefícios a maioria das famílias está cadastrada no CADUNICO e consequentemente são beneficiarias do Programa Bolsa Família e do Programa Luz para Todos. Na comunidade também há uma sede (Foto 61) onde fundadores e brincantes do Boi Mimo de São João organizam apresentações de bumba meu boi durante os festejos juninos.

Fotos: Karina Soares Foto 61: Sede do Boi Mimo de São João na Foto 60: Templo da Igreja Católica na comunidade da Ilha Grande. Comunidade da Ilha Grande

Na ilha predomina a atividade de captura do pescado como fonte de geração de renda direta, com ênfase a pescada, ao camurim e ao camarão branco, fato decorrente da grande demanda do mercado que influencia no maior preço sob estas espécies. Em segundo plano vem a mariscagem voltada principalmente para o consumo da própria família.

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No que se refere às atividades relacionadas a agriculturas informam prontamente que não há plantações, e que o cultivo de vegetais é inexistente seja sob a forma de roça, canteiro ou horta, após algumas indagações surgem uns que cultivam horta em forma de giral, canteiro construído de forma suspensa em um tabuleiro, e com o “basicão”, cultivo de cheiro verde e cebolinha.

A criação de animais se resume a uma atividade secundaria e, por conseguinte voltadas ao próprio consumo pela família, que ocorre através da criação de galinhas e porcos que ficam soltos pela ilha e raramente presos em cercados nos quintais, contudo sem pormenores referentes à dieta nutricional ou ao uso de medicamentos e vacinas. Essa criação de porcos de forma solta repercute pela comunidade como um problema ambiental, como também um empecilho ao bom relacionamento entre os vizinhos. Temos ainda o gado que também é criado solto, entretanto há poucas cabeças por família, pois apenas vem a prover uma fonte de renda imediata para casos de precisão, principalmente casos de doença na família.

Ilha de Carrapatal

Nesta grande ilha temos as comunidades de Carrapatal com aproximadamente 200 famílias, a comunidade de Jurucutoca com 14 famílias e a comunidade de Pedras com 54 famílias. O curioso nome dado à ilha “Carrapatal” provém da grande quantidade de “carrapato”, nome dado popularmente à planta da família das euforbiáceas Ricinus communis L, também conhecida como mamona ou carrapateira.

O acesso a estas comunidades ocorre por via aquática através de barcos que diariamente realizam o transporte de pessoas e cargas para o município de São Jose de Ribamar e uma vez por semana há viagens para a sede de Humberto de Campos. Os principais meios de comunicação se dão através das emissoras de TV, rádio e ainda telefones fixos com antena rural, em Carrapatal os avisos locais são mobilizados através do alto-falante que fica na Igreja da comunidade.

Nas comunidades de Jurucutoca e Carrapatal as ruas são verdadeiros areais (Fotos 62 e 63), nesta ultima há 02 estruturas escolares que atendem as séries desde o jardim ate o ensino médio, e conta com 05 professores que relatam que por iniciativa deles foi inserida a disciplina voltada a Educação Ambiental.

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Fotos: Karina Soares Fotos 62 e 63: Ruas de areia nas comunidades de Carrapatal e Jurucutoca, Município de Humberto de Campo-MA.

Em relação à saúde, na comunidade de Carrapatal há um posto de saúde onde os atendimentos são realizados somente aos sábados e domingos pela Drª Joana Rocha que vem da sede do município de São José de Ribamar, contando ainda com uma auxiliar de enfermagem e dois agentes de saúde, a Sra. Oliviane e o Sr. Roberto. Segundo este, as principais doenças que afetam os moradores desta comunidade são verminoses, hipertensão e diabete. Os moradores relatam ainda sobre a importância das benzedeiras na comunidade que com orações e conhecimentos sobre a medicina popular prestam serviços à comunidade.

A comunidade de Carrapatal não possui energia de forma contínua, pois provem de um gerador de propriedade da Prefeitura que funciona diariamente no período de 18 às 23h, e a manutenção deste fica a cargo dos moradores que pagam uma taxa que varia de R$10,00 a R$60,00 a depender da quantidade de pontos de luz e de eletrodomésticos que há na residência. Contudo algumas casas contam ainda com a energia gerada através de placas solares ou através de pequenos geradores, a depender das possiblidades financeiras. Fotos: Karina Soares A água utilizada nas casas é coletada de poços individuais com o uso de bomba manual ou artesanal, pois os moradores relatam que escavando um pouco mais de 6 metros já encontram água doce para consumo. Por outro lado, sem sistema de esgoto disponível os dejetos são lançados em sentinas, e poucas casas já possuem fossas sépticas, o que nos leva a conjecturar a qualidade desta água perante uma possível contaminação destes lençóis. Já os resíduos sólidos domésticos são queimados ou abandonados a céu aberto, e geralmente nas praias.

Quanto à religião existem na comunidade de Carrapatal adeptos do Catolicismo e do Protestantismo (Assembleia de Deus). No templo católico (Foto 64) destacam a organização do grupo do apostolado católico e o grupo de São Sebastião. Os moradores 65 também estão organizados e participam de um bloco de carnaval local, quadrilha e times de futebol. Informam que tinham Associação de Moradores, entretanto esta desativada e também não possui representante do Sindicato de Pesca nem capataz da Colônia, mas a maioria é colonizada. Na comunidade de Pedra há católico, que celebram historicamente o Festejo de Nossa Senhora do Carmo, e ainda um templo frequentado pelos seguidores da Assembleia de Deus (Foto 65).

Fotos: Karina Soares Foto 64: Templo Católico na comunidade da Ilha de Foto 65: Templo da Assembleia de Deus na comunidade Carrapatal. de Jurucutoca.

A principal atividade econômica está relacionada à pesca e cada comunidade, possui um porto para desembarque dos pescados, abaixo temos as fotos dos portos de Carrapatal e Jurucutoca, nestas o destaque é a captura da tainha, guribu, camarão e pescada, desenvolvem ainda o cultivo de hortas e o manejo de frutas, tanto pelo extrativismo quanto pelo cultivo, do murici, manga, caju e ata.

Fotos: Karina Soares Foto 66: Porto da comunidade de Carrapatal, Foto 67: Porto da comunidade de Jurucutoca. Humberto de Campos/MA.

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Na habitual criação de animais encontramos porcos, galinhas e gados, ambos sem fins de comercialização e em um sistema extensivo onde não ficam confinados e não possuem condições sanitárias e nutricionais adequadas. Os problemas relatados foram à ausência de conscientização referente à criação dos porcos soltos, a deposição de resíduos sólidos em locais inapropriados e ao desperdício de peixes em pesca predatória.

Farol de Santana

Na belíssima e distante ilha de Santana residem cerca de 60 famílias. O nome Farol de Santana decorre da presença do farol (Fotos 68 e 69) que está instalado nesta Ilha com a finalidade de nortear a direção das embarcações nesta região, sendo assim há na ilha uma vila da Marinha do Brasil onde se revezam militares com a responsabilidade de garantir o funcionamento e a manutenção do farol. O acesso ocorre por via aquática através de barcos de pesca e de barcos de linha, estes saem do porto da sede do município de São José de Ribamar /MA.

Fotos: Karina Soares Foto 68: Farol instalado na vila da Foto 69: Paisagem avistada de cima do Farol de Santana Marinha do Brasil localizada na Ilha de Santana.

Referente à educação há uma escola que oferece o ensino das séries do jardim até o 9º ano, após esta série os alunos que almejam dar continuidade aos estudos devem se mudar para sede do município de São Jose de Ribamar ou para sede de Humberto de campos. Vale ressaltar que devido o isolamento desta ilha os professores que ainda permanecem na atividade são “filhos da comunidade”. Na saúde, os moradores utilizam as dependências da

67 escola nos sábados e domingos para realização de atendimento médico, pois não possuem estrutura física para funcionamento de um posto de saúde. A comunidade possui 01 agente de saúde que realiza atendimentos domiciliares relacionados ao monitoramento de doenças como hipertensão e diabetes.

Por se tratar de uma ilha o fornecimento de energia elétrica é realizado através de um gerador que funciona diariamente das 18h às 23h, que é mantido pelos moradores através do pagamento de uma taxa que em media custa R$40,00 por mês, falamos em média, pois o valor da taxa varia de acordo com a quantidade de eletrodomésticos existentes na residência. Como alternativa para o uso da energia durante o dia, nos horários em que o gerador não estará funcionando, algumas residências possui sistema de placa solar para geração de energia.

O abastecimento de água é realizado através do uso de bomba manual instalada em um poço comunitário, entretanto também há poços individuais em algumas residências. Na ausência de sistema de saneamento básico os moradores utilizam as sentinas para captação de resíduos e em alguns casos também há fossa séptica na residência. O lixo geralmente é queimado, no entanto também o observamos amontoado a céu aberto em alguns pontos da ilha.

Dentre as manifestações de cultura e fé, os moradores relatam a presença da Igreja Católica, da Assembleia de Deus e das Benzedeiras. Sobre outras formas de organização citam a presença do Sindicato de Pesca, no entanto, está sem representante (capataz) na comunidade no momento, também não há Associação de Moradores da Ilha. Os principais meios de comunicação são os telefones residenciais, através de antena rural, e ainda a emissora de rádio AM. A maioria dos moradores recebem os benefícios do Programa Bolsa Família e também acessam os benefícios da previdência e auxílios doença e maternidade.

Ao que se refere às atividades econômicas, não obstante a realidade das demais comunidades da região a pesca é o carro chefe da geração de renda, nesta ilha ocorre principalmente através da captura e comercialização do camurupim e do bagre, e secundariamente pela cata de caranguejo, já a coleta de ostras do mangue é voltada somente para o consumo local. A complementação da renda se dá através da agricultura, onde o plantio de coco d’água esta em destaque, tendo venda garantida no comercio de São Jose de Ribamar.

Da mesma forma, esse comércio absorve os produtos oriundos do extrativismo de frutas, através da venda de polpa de murici, caju e manga. Na criação de animais, temos a 68 tradicional criação de galinhas que ficam soltas nos quintais e nas ruas da comunidade, há também um pequeno numero de cabeças de gado guardado como “poupança”, entretanto há criação de porcos em sistema semiextensivo voltados para comercialização.

Os principais problemas, segundo os moradores do local, foram à falta de segurança, que tem se agravado constantemente pela inserção do uso das drogas no local, e que consequentemente tem gerado roubos e brigas, em segundo lugar, apontam a má qualidade da água, isso se deve ao consumo de água oriunda de fontes muito rasas e poluídas, e sem qualquer tipo de tratamento. E por fim, eles relatam a ausência de luz em alguns períodos, decorrente da não realização de manutenção do motor (gerador).

A vegetação existente nesta ilha favorece a presença de animais silvestres, entretanto, alguns moradores capturam filhotes de papagaio-do-mangue que são comercializados nas sedes dos municípios de São Luís, São Jose de Ribamar e Humberto de Campos.

7. Considerações Finais

Considerando todo o arcabouço de informações apresentadas através deste estudo sobre a área almejada a criação da Resex Baía do Tubarão fica notória a caracterização destas comunidades como população tradicional e sua contribuição à conservação desta porção de manguezais, que entre outros inúmeros serviços ambientais abriga distintas espécies ameaçadas e garante o sustento de mais de 5.000 mil famílias, a considerar as comunidades inclusas na área da reserva, as do entorno e os usuários oriundos de outros municípios e de outros estados de nossa federação.

A criação desta unidade de conservação na categoria de uso sustentável como Reserva Extrativista irá promover a mitigação da exploração pesqueira baseada em técnicas predatórias que num futuro bem próximo venha a comprometer os estoques naturais, culminando com a destruição de áreas de manguezais e a degradação de bancos de reprodução de diversas espécies. Entre outros problemas relacionados à cadeia de valor dos finitos recursos pesqueiros enfatizamos principalmente o uso de técnicas predatórias para captura dos recursos, ausência de atuação permanente e orientação por parte dos órgãos fiscalizadores, inexistência de campanhas de conscientização voltadas aos pescadores, à submissão na relação com os atravessadores e por fim a deficiência na propagação de informações referente

69 aos caminhos de acesso financeiro visando o melhoramento das embarcações, apetrechos e equipamentos de pesca.

Os saberes e fazeres locais demonstra a riqueza de conhecimento destes pescadores e marisqueiras, isto constitui “o pulo do gato” para atingir estratégias de gestão eficazes em uma reserva extrativista, de modo que esta consiga alcançar seus objetivos frente à conservação dos recursos e a melhoria na qualidade de vida das comunidades locais. Sem mais delongas e de forma redundante ressaltamos que é de suma importância social, cultural, econômica e ambiental que esta área seja decretada reserva extrativista como estratégia de conservação para o manguezal e suas inúmeras relações sócio ecológicas, aliado ao anseio e direito que demanda desta população tradicional e o dever do estado em promover a conservação dos recursos.

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