Macieira de Relvas s Cambra 2 e u i g 5 V Presa do o Carvalhas 6 i Monte R Moradal Rôge Passos 7

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POR FERREIRA DE CASTRO São Pedro de Castelões 3 Igreja

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LEGENDA 5 SOBRE O ROTEIRO Roteiro Literário 1 Miradouro das Baralhas

2 Pinheiro Manso Vale de Cambra abre aqui uma janela Os trilhos que aqui percorreu, 3 S. Pedro de Castelões que parecia querer fechar-se. Abre-a pontuados com as suas descrições tão 4 Gestoso, Senhora da Saúde em nome de Ferreira de Castro e em pitorescas que volta a Macieira de Cambra nos levam de 5 Praça da República nome de todos aqueles que hoje vão um tempo em que o bucólico contrasta Macieira de Cambra 6 Praceta Anna Horvath redescobrir um vale contado pelo com a azáfama de um vale em pleno Macieira de Cambra Gestoso 7 Cruz S. Domingos romancista que se despojou de crescimento industrial, trazem-nos um 8 Rôge 4 qualquer argumento ficcional para Roteiro sustentado em duas narrativas Povoações nos descrever o que os seus olhos de viagem: uma, a partir do Guia de Decide viram e o que o seu coração sentiu , onde Ferreira de Castro Rios Santuário de por um Vale que também era seu! descreve o percurso entre o miradouro Estradas Nossa Srª da Saúde das Baralhas e a Nossa Senhora da Serra da Freita Ferreira de Castro viu dessa janela um Radar Meteorológico IPMA Vila de Saúde; e outra, entre Macieira de Vila de (1046m alt.) Vale Mágico, uma terra cercada de S. Pedro de Macieira de Cambra Cambra e Rôge, publicada pela Castelões montanhas de formas Praça da Replública, Rio Caima Revista Semestral da Junta Distrital de Entre Pontes extravagantes... onde tudo é verde e Praceta Anna Horvath, Serra da Freita Aveiro, intitulada Velha Macieira de continuação do roteiro... Marco Geodésico Pinheiro Manso S. Pedro Velho azul e é aqui que recuámos a um Antigo edifício do Cambra, Sempre Jovem. (1077m alt.) tempo outro que já deixou de ser mas Centro da cidade de Martins & Rebello Vale de Cambra que também se deixou escrever e, por Um património literário perpetuado isso, será sempre revivido nessas ao longo do Roteiro, nos pontos onde narrativas só possíveis pela mão de Ferreira de Castro mais se demorou e, quem, como nós, se apaixonou por agora, mais do que excertos, parecem este Vale. companheiros de uma viagem que começa aqui. 1 Miradouro das Baralhas 2 Pinheiro Manso 3 S. Pedro de Castelões 4 Gestoso, Senhora da Saúde ...”é tudo verde e azul” ...”romântica, melancólica” ...”no pico da serra” “Cercado de montanhas de formas Nas noites de luar, quando o grande balão de Castelões. Velha , com algumas No pico da serra, a 763 m de alt., ergue-se a O píncaro está cheio de bandeirolas, de extravagantes, não é fácil descortinar em oiro surge na lomba das montanhas, o vale vetustas moradias, o seu cemitério e a sua igreja Senhora da Saúde, ermida até há pouco, vendedores de quinquilharias coloridas, de Portugal outro mais grandioso e espetacular. enche-se de magia, dum sortilégio que paira (construção de 1899), postos em sítio airoso, recentemente templo maior, acompanhado por frutos estivais, de chitas das mulheres; não há Quase não tem planos. A vista desce para a desde os píncaros longínquos às águas dão uma sugestão romântica, melancólica um albergue. Para a festa que em sua honra se maior cromatismo em parte alguma, nem bulício imensa cavidade onde refulgem o Caima e o sussurrantes do Caima. embora, a quem arriba. Mas não é a ideia da celebra todos os anos, começam a passar maior. Eles e elas pousam o farnel debaixo de Vigues; erra entre os campos agricultados e, O espetáculo imponente pode-se contemplar morte que nos sai ao caminho e sim uma ideia aqui, na madrugada de 14 de Agosto, velho carvalho, na vizinhança dum carro de depois, encontra, lá longe, o contraforte das da estrada, onde existe de comunhão ilimitada e eterna com a verdadeiras multidões. Vem gente da beira-mar, bois com uma pipa de vinho em cima, e logo serranias, onde branquejam dispersas aldeias, um miradoiro próprio.” Natureza bela que nos cerca, com o sol que a muitas léguas de lonjura, vem gente de todos desatam a bailar, não acompanhando a humildes casitas. prateia as vinhas e os pinhais, os jardins e as os concelhos próximos, das montanhas vizinhas música da filarmónica de Cambra e sim a dos A terra é verde e o céu é azul; é tudo verde a Castro, José Maria Ferreira de Castro. I Beira Litoral. vertentes. Estamos já ao pé da serra de e das montanhas distantes – e até das bandas milhares de instrumentos populares que os In Dionísio, Sant' Anna (Coord.), Guia de Portugal. azul com raras pintas brancas do casaredo, que Lisboa: Fundação Calouste Castelões, que se levanta por detrás da do e de Coimbra. Desde as regiões romeiros levam. Bailam, cantam, suam e comem mais do que moradias dos homens parecem Gulbenkian, 1944. Vol. 3 ...”mundo da manteiga” freguesia e fecha o majestoso Vale de Cambra. vareiras às regiões de Arouca, não há estrada durante o dia inteiro. À noitinha, as chitas das janelas da própria paisagem. Ao crepúsculo, nem sinuoso atalho onde neste dia não se raparigas, depois do sol e do suor, desbotaram porém, o enorme vale sofre metamorfose, torna-se A estrada desce, depois faz algumas curvas e projete a sombra dos romeiros a caminho da levemente; mas eles e elas compram plumas polícromo – e as suas cores separam-se aqui, entra em Pinheiro Manso, burgo mui asseado e Senhora da Saúde. (...) A maioria vai a pé nu – tingidas e estampadas polícromas da santa; muito nítidas, e dissolvem-se e confundem-se muito branco, já com seus ares de urbanismo e que a festa nasceu humilde como a ermida colocam-nas no peito e no chapéu e, assim além, num encanto visual indescritível. de modernidade. Estamos no mundo da primitiva e é, sobretudo, para gente de pé adornados, iniciam a descida da serra, sempre manteiga, na região de lacticínios mais descalço. Lá vão elas com os pés grandes a cantar e a bailar, enquanto outros, dispondo importante de Portugal. O leite vem quase sobre o pó dos caminhos, a saia nova a de maiores ócios, ficam, durante a noite, a fazer todo das serras, como as águas que irrigam o bater-lhes na barriga das pernas; nas orelhas a mesma coisa no arraial. E cantando aqui, vale, e, transformado aqui, corre o País inteiro. as arrecadas e, sobre a cabeça, um cesto parando ali para o bailarico, cobrem léguas e Atravessa-se Coelhosa, com a sua capela, com o farnel. Ao lado, vão eles. Como ganham léguas, até que a voz do oceano, lá para as suas residências silenciosas, mui diferentes das mais dinheiro do que elas, compraram sapatos praias de , se sobreponha à voz deles e que existem nas outras aldeias da região; para este dia; levam cavaquinhos, harmónicas, delas ou o silêncio das montanhas arouquesas cortam-se vários campos do vale, passa-se violas e, desde madrugada alta, começam a lhes lembre que chegaram a casa – às cerca da junção do Vigues e do Caima, sítio cantar por todos os caminhos. Chegados à preocupações da vida, ao árduo trabalho pitoresco, Entre-Pontes chamado ermida, não entram, pois já a viram da primeira pelo pão de cada dia (…). vez que ali vieram e a festa é mais pagã do Castro, José Maria Ferreira de Castro. I Beira Litoral. Castro, José Maria Ferreira de Castro. I Beira Litoral. In Dionísio, Sant' Anna (Coord.), Guia de Portugal. que outra coisa. In Dionísio, Sant' Anna (Coord.), Guia de Portugal. Lisboa: Fundação Calouste Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1944. Vol. 3 Gulbenkian, 1944. Vol. 3

Macieira de Cambra Macieira de Cambra Macieira de Cambra 8 Rôge 5 Praça da República 6 Praceta Anna Horvath 7 Cruz S. Domingos ...”Varanda do Céu” ...”obra lírica da Natureza“ Depois, é a estrada de Roge. A princípio, entre Em ROGE, à obra lírica da Natureza ligam-se as Jardim Anna Horvath... pequenas, modestas quintas, logo entre obras de arte do Homem – o cruzeiro garboso José Maria Ferreira de Castro, nasceu no pinheiros e carvalhos, por fim ladeando, a meio e célebre, a igreja de fachada esculturada, num concelho vizinho de Oliveira de Azeméis, a da encosta, o vale do Caima. O vale é o adro que é outro terraço sobre o romântico 24 de Maio de 1898, filho de José Eustáchio troféu da estrada, sinuoso com as suas Vale do Caima. Ferreira de Castro e de Maria Rosa Soares caprichosas saliências e seus desvãos, seus O rio murmura perto dali. E seja nas suas de Castro, da freguesia de Vila Chã no verdes pendores, suas brancas casitas margens, seja nas dos ribeiros seus afluentes, ...”a primeira gentileza concelho de Cambra. dispersas, seus soberbos contrafortes relvados e edénicos recantos se abrem ao montanhosos, os olhos deslumbrados jamais se aos olhos” Percursor do neorrealismo em Portugal, toda a nosso passo sob as frondes de amieiros e de fatigam de vaguear do todo para os outras árvores que se foram avizinhando da Quem de automóvel ou camioneta se sua obra é um documento humanista e social pormenores, para os milhentos pormenores de água, para no seu espelho azul se mirarem detenha, um dia, na velha praça de Macieira numa linguagem direta e realista Aqui, antes de descer para ROGE, ela forma beleza com que o seu colo acidentado nos garridamente. O rio murmura, o rio canta de Cambra e por ela avalie da linda terra da simultaneamente romântica e bucólica onde como que uma sacada sobre o vale. Mas já brinda. E se porventura uma esfarrapada também uma canção suavíssima, que parece vir saúde, tecerá errado juízo. Macieira de o intenso drama do quotidiano ocorre nos não é o vale que ela parece querer ofertar-nos névoa veio de longe, do mar vareiro, pairar ali, da noite de todos os séculos para as auroras Cambra é como essas vetustas mansões de cenários mais idílicos. e sim o próprio mundo sideral. E por isso, numa tem-se a ilusão – inesquecível ilusão! – de que de todos os dias. fachada medíocre, que possuem um parque Dentro do que Ferreira de Castro escreveu é o vale do Caima é um dos fantásticos noite constelada, a crismamos de «Varanda do esplendoroso nas traseiras. Um parque sem possível encontrarmos descrições generosas palácios onde a Quimera dá recepções. Céu». Dir-se-á que podemos falar com as Castro, José Maria Ferreira de, (1975), portão heráldico, um deslumbrante álbum de sobre o concelho de Vale de Cambra, fruto estrelas, que podemos, se estendermos os Velha Macieira de Cambra, A estrada de onde se abrange a maravilha, Sempre Jovem, Aveiro e o seu Distrito, paisagens sem frontispício. de uma ligação afetiva provada pelo tempo braços, colher a mãos cheias as joias celestes, nada tem, em si própria, de extraordinário, Publicação Semestral da Junta Distrital de Aveiro, de veraneio que passava aqui na Vila de estes frutos de luz e de oiro que estão longe e n.º 20, Dezembro de 1975 É preciso irradiar da antiga praça, é preciso nada das estradas famosas. E, contudo, Macieira de Cambra, hospedado na Pensão são tão grandes e parecem estar pertinho e deambular por estradas e caminhos, para se quando um dia sentirmos aproximar-se a nossa Suissa, muitas vezes na companhia de autores serem pequeninos. surpreender a inefável beleza, ora discreta, morte, esta velha estrada há-de incluir-se entre como Jorge Amado, Assis Esperança, ora imponente, desta sortílega região.O adro O jardim Anna Horvath, exibe orgulhosamente o aquelas outras que nos darão pena, muita Alexandre Cabral ou Natália Correia. Castro, José Maria Ferreira de, (1975), oferece a primeira gentileza aos olhos. Lombas seu busto, da autoria do mestre António Duarte, pena, de não podermos voltar a trilhá-las. Ela Velha Macieira de Cambra, Sempre Jovem, Derradeira morada do romancista que após Aveiro e o seu Distrito, Publicação Semestral da e vales, colinas e regaços abrem-se perante como forma de perpetuar a memória do Escritor, possui um encanto geórgico, uma doçura Junta Distrital de Aveiro, n.º 20, Dezembro de 1975 ter sofrido um acidente vascular-cerebral nós, tudo verde e azul de manhã, todas as do Romancista mas sobretudo do Homem que campestre inexprimível, que se mantém sempre, deixa a Pensão Suissa para receber cores do arco-íris às horas crepusculares. acolhemos como sendo nosso e nós dele numa sempre, através das sucessivas paisagens que cuidados médicos no Hospital de Santo Castro, José Maria Ferreira de, (1975), certeza eternizada na vaidade que sentimos nos vai revelando. Velha Macieira de Cambra, Sempre Jovem, Aveiro e o seu Distrito, António, no Porto. A morte chegara a 29 de nas palavras que escreveu sobre a terra onde Publicação Semestral da Junta Distrital de Aveiro, junho de 1974. n.º 20, Dezembro de 1975 é tudo verde e azul.