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Seção 2 – Artigos Científicos Artigo Original

POPULAÇÕES URBANAS E RURAIS ATINGIDAS POR ESCORPIÕES E ARANHAS NO MUNICÍPIO DE MANHUAÇU E REGIÕES VIZINHAS

URBAN AND RURAL POPULATIONS REACHED BY SCORPIONS AND SPIDERS IN THE MUNICIPAL DISTRICT OF MANHUAÇU AND NEIGHBORING AREAS

RESUMO Maria Lúcia Medeiros de Freitas 1 Os objetivos deste estudo foram comparar populações urbanas Queile Paula de Oliveira 1 e rurais com relação ao número de acidentes com arachnidas e Luíza da Silva Miranda 1 quais as possíveis causas destes acidentes. Foram analisados no Sistema Único de Saúde da cidade de Manhuaçu, na seção Fernanda Aparecida Batista 1 de Epidemiologia, 476 prontuários das vítimas de animais Daniela Martins Salazar 1 peçonhentos do ano de 2007 e também coletados dados do período de 2002 à 2006 do site www.datasus.gov.br. Foram Danilo Scherre Garcia da Silva 1 coletados dados como, idade, sexo, local do corpo atingido, Terdiseia Fabiana de Jesus 1 zona de ocorrência, tipo de animal (ordem), presença de seqüelas, ocupação do acidentado, tempo decorrido até o Josiane de Assis Ferreira 1 atendimento, evolução do tratamento, diferentes tipos de Thaís Maya Aguilar 1 agricultura, sazonalidade climática e biologia do animal. Palavras-Chave: Arachnidas, Scorpiones, aranhas, segurança, ¹Faculdade do [email protected]. zona rural, acidentes

ABSTRACT The objective of this study was to compare urban and rural populations concerning the number of accidents with arachinida and the possible reasons for them. In the Unified Health System of Manhuaçu City, in the epidemiology section, 476 records of victims of venomous animals in the year of 2007 were analyzed. Information such as age, sex, attacked part of the body, occurrence area, animal type (order), presence of sequelae, victim’s profession, delay between the accident and the assistance, evolution of the treatment, different types of agriculture, climatic seasonality and the animal biology was also collected from the website www.datasus.gov.br , relative to the period of 2002 to 2006. Key-Words: Arachnidas, Scorpiones, Araneae, safety, rural

Rev. Edu.,Rev. Meio Amb.e Saúde 3(1):2-18. 2008; area, accidents

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INTRODUÇÃO A zona da Mata, uma das doze mesorregiões de , está localizada na região Sudeste do estado. Pertencente a essa mesorregião, a microrregião de Manhuaçu é composta por uma população de 257.570 habitantes, sendo, constituída por 20 municípios, , Alto Caparaó, Alto Jequitibá, Caparaó, Caputira, Chalé, Durandé, , , Manhuaçu, , , Matipó, , , Santa Margarida, Santana do Manhuaçu, São João do Manhuaçu, São José do Mantimento e Simonésia, totalizando uma área de 4.857 Km 2 (IBGE 2000). A agricultura de Manhuaçu, predominantemente cafeeira, contribuiu para o desmatamento da região, e este cenário não é exclusivo da microrregião de Manhuaçu. Atualmente, apenas 7% da formação original da mata Atlântica encontra-se preservada, a degradação deste bioma ocorre devido a fatores como crescimento demográfico, industrialização, a prática agropecuária, entre outros (Mendes e Chiarello 2004). Ainda assim, a sua amplitude térmica favorece a presença de grande biodiversidade, sendo a maior do país, destacando-se a fauna. A Mata Atlântica abrange terras das bacias dos rios Paraíba do Sul, Doce, e São Francisco. Manhuaçu está inserida no bioma Mata Atlântica, na Bacia do Rio Doce (IGAM 2008). Embora o cultivo de café seja a maior prática agrícola do município, há também outras, como produção de leite, cereais nobres, cana de açúcar, pecuária (maior destaque bovino), entre outros. O clima e relevo montanhoso da cidade favorecem o cultivo do café (Coffea arábica L), posicionando a região de Manhuaçu entre as principais produtoras da região Sudeste. Seu cultivo ocorre entre os meses de abril a junho (IBGE 2006). Como o relevo da Zona da Mata é montanhoso, torna-se inviável em muitos locais, o uso de máquinas agrícolas tanto para o preparo do terreno, quanto para o cultivo de produtos como o café, dessa forma, as atividades são executadas manualmente, expondo os trabalhadores a riscos diversos, como quedas, devido ao uso de escadas para coleta do fruto do café, lesões por ferramentas como foices, enxadas e acidentes com animais peçonhentos, entre outros (Fehlberg et al . 2001). Rev. \edu., Meio Amb.e Saúde 2008;3(1):2-18. Artrópodes, o maior filo do reino animal surgiu há aproximadamente 550 milhões

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de anos, tendo sido descritas aproximadamente três quartos de um milhão de espécies (Ruppert et al . 1996). Isto se deve à sua grande diversidade adaptativa, e a principal causa é o seu sucesso da colonização de habitats terrestres em virtude da evolução dos seus apêndices. Esses, juntamente com seus músculos são usados como alavancas, proporcionando-lhes maior velocidade e facilidade de locomoção, podendo assim sobreviver em diferentes ecossistemas (Ruppert et al . 1996). A classificação dos artrópodes, segundo a maioria dos zoólogos, é representada por quatro subfilos, os Trilobita que estão extintos; Crustácea (composta por copépodes, cracas, camarões, lagostas e caranguejos); Tracheata (Myriapode – lacraias e piolhos de cobra e Hexapoda – insetos) e os Chelicerata que é composto pelos límulus, escorpiões, aranhas e os ácaros (Ruppert et al . 1996). Porém, os mais familiares entre os artrópodes são as aranhas, os escorpiões, os insetos, as centopéias, os caranguejos e os camarões. Dentre as ordens que compõe o filo Arthropoda, os Arachnidas foram os primeiros a colonizar o ambiente terrestre, compõem a maior parte do subfilo Chelicerata, tendo sido descritas 70.000 espécies. (Hickman et al . 2004). As aranhas são encontradas em todos os continentes, são carnívoras, habitam geralmente residências, jardins, preferencialmente onde há entulhos e folhiços (FIOCRUZ 2008), atingem de 0,5 mm a 9 cm de comprimento corporal. São registrados no Brasil acidentes com três gêneros, as armadeiras, ( Phoneutria) , aranha marrom, (Loxosceles reclusa) e viúva negra, ( Latrodectus mactans) (FUNDACENTRO 2001) . A espécie Phoneutria sp (armadeira), é encontrada nas regiões da Amazônia, Centro Oeste, Sudeste e Sul. Sua estrutura corporal atinge de 4 a 5 cm e de uma ponta a outra da perna 17 cm de comprimento. Possui corpo coberto de pêlos curtos e vermelhos. São errantes, habitantes de cascas e frestas de árvores, cachos de bananas, terrenos baldios, dentro de residências, ou onde há entulhos acumulados. Possui comportamento agressivo (FIOCRUZ 2008). De cor marrom amarelada, a Loxosceles sp (aranha-marrom) é encontrada em todo o Brasil, principalmente na região sul. Alcançam 1 cm de corpo, e de uma perna a Rev. Edu.,Rev. Meio Amb.e Saúde 3(1):2-18. 2008; outra, 3 cm. Em formato de estrela, seu corpo é coberto por pêlos curtos e sedosos,

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assumem comportamento de defesa quando são pressionadas. Suas teias são irregulares e habitam em fendas de barrancos, frestas de árvores, entulhos e residências. (FIOCRUZ 2008). Podendo ser encontrada em toda a região brasileira, a Latrodectus sp (viúva- negra), habita em suas teias irregulares, tecidas em barrancos, vegetações rasteiras e arbustos. Corpo de aspecto liso, sem pêlos, cor preta, podendo apresentar manchas vermelhas ou marrons no abdômen. Possuem mancha avermelhada no ventre em forma de ampulheta (FUNDACENTRO 2001). Apresentam comprimento médio entre 2,5 cm a 3 cm (FIOCRUZ 2008). Os escorpiões habitam todos os ecossistemas da biosfera, como cerrado, deserto, savanas, florestas temperadas e tropicais. São animais de hábitos noturnos, durante o dia permanecem sob cascas de árvores, pedras e residências (FIOCRUZ 2008). Apenas 25% das espécies (de um total de 1600) podem causar acidentes graves, podendo ocasionar óbito. Das 100 espécies encontradas no Brasil, apenas três são consideradas perigosas, sendo, Tityus serrulatus , Tityus bahiensis e Tityus stigmurus . Em Minas Gerais são encontradas apenas as duas primeiras espécies citadas acima (FUNDACENTRO 2001). O corpo da espécie Tityus serrulatus é amarelado, não possui manchas nas pernas e papos, o cefalotórax e o abdômen são escuros e possui serrilha na face dorsal (Carter 2008). São encontrados nos estados da Bahia, Goiás, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, São Paulo e Espírito Santo (FIOCRUZ 2008). De cor marrom avermelhado, os indivíduos da espécie Tityus bahiensis , possuem cefalotórax escuro e sem manchas, pernas com pequenas manchas escuras e presença de manchas mais escuras na tíbia e fêmur dos palpos (Carter 2008). Corpo de 5 a 7 cm de comprimento, e presença de espinho subaculear no telson, onde ejetam o veneno. São animais noturnos, vivendo durante o dia sob pedras, madeiras, troncos, entulhos e outras fendas escuras. São carnívoros, tendo como base alimentar os insetos (baratas, grilos etc.), aranhas e pequenos vertebrados. As espécies que habitam os trópicos são ativas durante todo o ano, enquanto outras, apenas em meses Rev. \edu., Meio Amb.e Saúde 2008;3(1):2-18. quentes (Carter 2008). Os animais peçonhentos produzem veneno em seu próprio

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corpo, no caso das aranhas, através de uma glândula e os escorpiões por um par de glândulas, injetando seu veneno através do aguilhão. Assim sendo, o presente estudo teve por objetivo determinar a zona de maior ocorrência de acidentes com aranhas e escorpiões, comparando-se área rural e urbana.

MATERIAL E MÉTODOS 1. Área de estudo

Localizada a 20º02’00” de longitude oeste, Manhuaçu, é limitada pelos municípios de Simonésia, Santa Bárbara do Leste, , Caputira, Matipó, São João do Manhuaçu, Luisburgo, Manhumirim, Reduto e . Encontra-se a uma altitude de 635,19 m em seu ponto central (ALMG 2005) e possui uma área de 627 Km 2 (IBGE 2006). A microrregião de Manhuaçu possui uma área de lavouras permanentes de 198.873 hectares sendo que 112.650 hectares são destinados ao cultivo de café (IBGE 2006). A região apresenta, segundo a classificação de Köppen, clima de temperaturas médias, em geral úmido, com verão quente e úmido. Possui altitude máxima de 1760m e as temperaturas médias máximas, no verão, alcançam 27,6ºC e média mínima, no inverno, de 15,4ºC. O índice médio pluviométrico anual é de 1.860,8 mm (ALMG 2005).

2. Metodologia

Foi realizada a análise de 476 prontuários das vítimas de animais peçonhentos, referentes ao ano de 2007, e também registros do período de 2002 a 2006 no site do Sistema Único de Saúde de Manhuaçu (SUS). Foram analisados dados dos acidentados como, idade, sexo, local do corpo atingido, zona de ocorrência, presença de seqüelas, ocupação do acidentado, tempo decorrido até o atendimento, evolução do tratamento e a espécie do animal que causou o acidente. Rev. Edu.,Rev. Meio Amb.e Saúde 3(1):2-18. 2008; Além dos prontuários, foram extraídos dados do site www.datasus.gov.br dos

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últimos cinco anos (2002 a 2006), a fim de identificar as estações do ano de maior ocorrência. Como o site não disponibiliza os dados referentes a zona de ocorrência, utilizou-se como amostragem o ano de 2007. Foram levantadas as temperaturas máximas e mínimas dos últimos seis anos (2002 a 2007), tendo sido utilizados os Relatórios Diários da Estação de Tratamento de Água, do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE 2007). Quanto a pluviosidade, utilizou-se os registros de pluviosidade do período de 2002 a 2007, publicados no jornal local, Jornal Tribuna do Leste. Os resultados foram analisados por meio de porcentagens e teste de qui- quadrado. Foram considerados significativos valores de p < 0,05. As analises foram realizadas no pacote estatístico Statistica 6.0 (StatSoft 2001).

RESULTADOS E DISCUSSÃO Apenas no ano de 2007, foram registrados no Sistema Único de Saúde, 476 casos de acidentes com animais peçonhentos. Entre esses acidentes, 234 foram vítimas de aranhas e escorpiões. Os distritos da microrregião da Zona da Mata, envolvidos foram: Manhuaçu, Luisburgo, Alto Caparaó, Caputira, Durandé, Irupi, Lajinha, Manhumirim, Martins Soares, Matipó, Orizônia, Reduto, Santana do Manhuaçu, São João do Manhuaçu, Simonésia e Vermelho Novo. Em muitos casos os animais invadem as residências, porém conforme coleta de dados, a maioria ocorrem em zonas rurais, onde o homem é o invasor. Segundo análise dos dados coletados no Sistema Único de Saúde, no período de 2002 a 2006, foram registradas 399 ocorrências de acidentes, por Araneae e Scorpiones e no ano de 2007, 234 casos, totalizando 633 ocorrências nos últimos seis anos. A Tabela 1 demonstra as partes do corpo atingidas por esses animais no período de 2007 (o Sistema Único de Saúde não dispõe desses dados no período de 2002 a 2006). As partes mais atingidas são os dedos dos pés e das mãos, bem como os pés e as mãos.

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Tabela 1. Partes do corpo atingidas por picadas de escorpiões e aranhas, em 2007. Microrregião de Manhuaçu/MG.

Local do corpo atingido Freqüência % Antebraço 13 5,56 Braço 9 3,85 Coxa 7 2,99 Ignorado 25 10,68 Tronco 5 2,14 Cabeça 2 0,85 Perna 10 4,27 Dedo da mão, pé, mão e pé 163 69,66 Total 234 Fonte: Arquivo Sistema Único de Saúde - Seção de Epidemiologia.

A população rural de Pelotas (RS) apresentou como segunda principal causa de acidentes de trabalho, ataques por animais peçonhentos. E estes ataques atingiam principalmente as regiões dos pés e das mãos destes trabalhadores (Fehlberg et al . 2001), como observado na região de Manhuaçu. Em Salvador, na maior parte dos acidentes registrados com escorpiões, foram as mãos os locais do acidente (Barbosa et al . 2003). Cerca de 65% dos acidentes com escorpiões, registrados no país, ocorrem na região da mão e antebraço (FUNASA 2001). Foram comparadas as ocorrências de acidentes no período de 2002 a 2007. Não houve diferenças estatísticas no número de homens e mulheres que sofreram acidentes com aranhas e escorpiões ( λ2 = 0,01; g.l. = 1, p = 0,92) (Figura 1).

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Figura 1. Ocorrências de acidentes com aranhas e escorpiões no período de 2002 a 2007, com homens e mulheres da microrregião de Manhuaçu. Fonte: Arquivos do Sistema Único de Saúde de Manhuaçu/MG – Seção de Epidemiologia e site: datasus.gov.br.

Neste mesmo estudo de Pelotas, observou-se que homens e mulheres estão igualmente envolvidos na atividade rural (Fehlberg et al . 2001). Não foi possível obter este tipo de estatística para a região de Manhuaçu, mas a ausência de uma predominância de acidentes em um dos sexos, é um indicativo de que provavelmente homens e mulheres se envolvem na colheita do café de forma similar. Porém, na região urbana de , observou-se um maior número de casos masculinos de acidentes com escorpiões (Soares et al . 2002), e na região metropolitana de Guarulhos foram observados um maior número de homens vítimas de animais peçonhentos (Salomão et al . 2005). Em municípios do interior de Roraima, homens foram as principais vítimas em acidentes ofídicos (Nascimento 2000). Contudo, na região metropolitana de Salvador, foram observados um maior número de mulheres vítimas de acidentes com escorpiões (Barbosa et al . 2003). Rev. \edu., Meio Amb.e Saúde 2008;3(1):2-18.

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Quanto às espécies que ocasionaram os acidentes, foram identificadas pelo Sistema Data SUS apenas as espécies de aranhas que ocasionaram os acidentes entre 2002 e 2006. Dos 207 agravos notificados de acidentes com aranhas, 23,19% foi ocasionado pelo gênero Phoneutria , 12,56 % por Loxosceles , 0,48 % pelo gênero Latrodectus , 1,93% por outras espécies. Os demais (61,84%) foram registrados como casos ignorados (Figura 2).

Figura 2. Agravos notificados no Sistema Único de Saúde no período de 2002 a 2006 na microrregião de Manhuaçu. Espécies de aranhas identificadas.

Para o país, de uma forma geral, observa-se uma maior número de registros de acidentes para a espécie Loxosceles sp. (6.512 registros de 1990 à 1993), seguido pelos casos registrados para Phoneutria sp. (4.809 registros de 1990 à 1993), sendo Latrodectus sp. a espécie com menor número de registros (71 registros de 1990 à 1993) (FUNASA 2001). Com relação à época do ano em que ocorrem os acidentes, verifica-se que os mesmos ocorrem durante o período de seca (Figura 3), onde as temperaturas são mais baixas (Figura 4). Esta época coincide com a época da colheita do café. Rev. Edu.,Rev. Meio Amb.e Saúde 3(1):2-18. 2008;

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Figura 3. Acidentes com aranhas e escorpiões e a pluviosidade média dos últimos seis anos em Manhuaçu. Fonte: Ministério da Saúde/SVS - Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan, e Jornal Tribuna do Leste.

O número de acidentes com aranhas aumenta consideravelmente com o período do inverno. Porém, o número de acidentes com escorpiões permanece relativamente constante.

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Figura 4. Ocorrências mensais de acidentes com aranhas e escorpiões e temperaturas médias (mínima e máxima) do período de 2002 a 2007. Fonte: Sistema Único de Saúde, Seção de Epidemiologia e Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Manhuaçu/MG.

De forma geral, os resultados demonstram que a maior parte dos acidentes ocorrem durante o período do inverno (período seco e de baixas temperaturas) que coincide com a época da colheita de café na região. Na região do município de Guarulhos, ao contrário, os acidentes ocorreram em períodos úmidos, outubro a maio (Salomão et al 2005). O padrão observado em Guarulhos é similar ao observado para o resto do país (FUNASA 2001) e contrário ao padrão observado na região de Manhuaçu. Com relação ao local do acidente, o número de acidentes foi significativamente maior na região rural ( λ2 = 6,84; g.l. = 1; p = 0,009), tanto para acidentes com aranhas (Figura 5), quanto para escorpiões (Figura 6).

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Figura 5. População da microrregião de Manhuaçu, das áreas rural e urbana, atingida por aranhas no ano de 2007. Fonte: Arquivos do Sistema Único de Saúde, Seção de Epidemiologia, de Manhuaçu/MG.

Figura 6. População da microrregião da Zona da Mata, áreas rural e urbana, atingida por escorpiões no ano de 2007. Fonte: Sistema Único de Saúde, Seção de Rev. \edu., Meio Amb.e Saúde 2008;3(1):2-18. Epidemiologia, de Manhuaçu/MG.

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As tabelas 2 e 3 demonstram que a maioria dos acidentes ocorreram com trabalhadores rurais.

Tabela 2. Ocupação dos acidentados por aranhas em 2007.

Ocupação do acidentado Frequência % Aposentado/pensionista 1 0,60 Branco 23 13,86 Dona de casa 13 7,83 Eletricista de instalações 1 0,60 Estudante 7 4,22 Faxineiro 2 1,20 Ignorado 27 16,27 Pedreiro 1 0,60 Representante comercial autônomo 1 0,60 Trabalhador Agropecuário em geral 1 0,60 Trabalhador Volante da Agricultura 89 53,61 Total 166 Fonte: Arquivo Sistema Único de Saúde - Seção de Epidemiologia.

Tabela 3. Ocupação dos acidentados por escorpiões em 2007. Local do corpo atingido Frequência % Aposentado/pensionista 2 2,94 Avicultor 1 1,47 Branco 15 22,06 Caminhoneiro 1 1,47 Comerciamte varejista 1 1,47 Dona de casa 3 4,41 Pedreiro 1 1,47 Estudante 9 13,24 Gari 1 1,47 Ignorado 10 14,71 Mecanico de manutenção de veículos 1 1,47 Trabalhador Volante da Agricultura 23 33,82 Rev. Edu.,Rev. Meio Amb.e Saúde 3(1):2-18. 2008; Total 68 Fonte: Arquivo Sistema Único de Saúde - Seção de Epidemiologia.

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Com relação a localidade do acidente, no Estado do Rio de Janeiro têm-se notificado um maior número de acidentes de escorpiões e aranhas nas regiões do interior do Estado, quando comparadas à região metropolitana da capital (Fiszon e Bochner 2008). Porém, na região de Guarulhos, foram registrados um maior número de acidentes na região urbana comparada a região rural da cidade (Salomão et al . 2005). Em um estudo sobre acidentes ofídicos no Rio de Janeiro, observou-se que áreas de plantação aumentam a possibilidade de acidentes, isto porque, áreas alteradas propiciam um aumento na probabilidade de encontro entre animais (que perderam seu habita e buscam abrigo na plantação) e o trabalhador rural. Além disso, o analfabetismo, condição em geral associada ao trabalhador rural, aumenta o risco de acidentes. Isto porque o desconhecimento dos meios de proteção e as conseqüências de um acidente com animal peçonhento não são muito bem compreendidas por esta população sem acesso a informação (Bochner e Strunchiner 2004). A melhor forma de se proteger é conhecer os hábitos desses animais e tomar medidas preventivas usando equipamentos de proteção individual, como, luvas e perneiras (FUNDACENTRO 2001), os quais devem ser fornecidos pelo empregador, conforme determina a Norma Regulamentadora 31.

CONCLUSÃO A partir da análise de dados no site do Sistema Único de Saúde, do período de 2002 a 2006, foi possível identificar as espécies de maior ocorrência na microrregião, sendo elas: Phoneutria, Loxosceles e Latrodectus . Constatou-se que o maior índice de acidentes com aranhas ocorreu na estação seca. Embora a literatura demonstre que a maior ocorrência seja em períodos úmidos. Este fato deve-se a agricultura da região. Na estação seca, os trabalhadores rurais ficam mais expostos a riscos ambientais, pois nesta fase é feita a colheita do fruto do café. Os acidentes parecem estar relacionados com a atividade antrópica. O levantamento ora realizado permitirá novos estudos, que envolvam as espécies de Rev. \edu., Meio Amb.e Saúde 2008;3(1):2-18. aranhas identificadas e os motivos pelos quais os acidentes ocorrem.

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AGRADECIMENTOS

Aos servidores do Sistema Único de Saúde – Rodrigo J. Santos, Marilandes S.G Dutra, Maria de Luz, Gimar R. Barbosa, Elizabeth B. Espeschit, José A. Porcaro e Mara C. e Silva pela ajuda em algumas etapas da pesquisa.

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