A Trajetória Do Desenvolvimento Econômico De Mandaguari – Pr: Uma Interpretação a Partir Das Teorias De North, Perroux E Myrdal
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A TRAJETÓRIA DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO DE MANDAGUARI – PR: UMA INTERPRETAÇÃO A PARTIR DAS TEORIAS DE NORTH, PERROUX E MYRDAL Gustavo Nunes Mourão * Resumo A partir da metade do século XX, a Ciência Econômica passou a ocupar-se do estudo da Economia Regional, a fim de esclarecer quais as causas determinantes do processo de desenvolvimento no espaço econômico. Este artigo utilizará as teorias desenvolvi- das por Dougglas North, François Perroux e Gunnar Myrdal para identificar na história de Mandaguari os elementos determinantes para o desenvolvimento econômico no município. Palavras-chave: Desenvolvimento Regional. Economia Regional. Economia Paranaense. Introdução O estudo da Economia Regional como ramo da Ciência Econômica tem início em meados da década de 1950. A partir dessa época, alguns economistas de linha institu- cionalista passaram a estudar e apresentar de forma teórica as causas do desenvolvi- mento das regiões, sob a ótica em que a região é tratada como espaço econômico, pois é dentro desta que ocorrem as relações econômicas. A necessidade de se estudar a região como espaço econômico surge do fato de esta não estar presente na análise econômica tradicional, em que para Souza (2010, p. 2), “[...] a teoria clássica e neoclássica fundamenta-se em um mundo estático e sem dimensões, onde o fator tempo é a variável essencial [...]”. A partir desse fato, surgiram várias teorias a fim de explicar o desenvolvimento das regiões. Aqui serão utilizadas três delas: a Teoria da Base de Exportação, de Dou- gglas North; dos Polos de Crescimento, de François Perroux; e da Causação Circular Cumulativa, de Gunnar Myrdal, para explicar o desenvolvimento do município de Mandaguari, um dos mais antigos de uma região relativamente nova e de ocupação singular: o Norte Novo do Paraná. A Teoria da Base de Exportação explica o desenvolvimento econômico a partir de uma atividade exportadora, que fomentaria as demais atividades voltadas ao merca- do interno. A Teoria dos Polos de Crescimento prega a concentração das atividades econômicas em um único polo, de onde irradiaria para os demais. Para a Teoria da * Mestrando em Teoria Econômica (PCE/UEM); Pós-graduando em História e Humanidades (PPH/UEM) e economista pelo Centro Universitário Franciscano do Paraná (FAE - Curitiba). E-mail: [email protected] Diálogos & Saberes, Mandaguari, v. 7, n. 1, p. 37-50, 2011 37 Causação Circular Cumulativa, os efeitos positivos do crescimento econômico ou os efeitos negativos de uma recessão são desencadeadores de uma série de efeitos da mesma ordem na região, alimentando o processo de desenvolvimento ou estagnação. O objetivo geral deste artigo é descrever o processo de desenvolvimento regi- onal de Mandaguari através das três teorias. Este objetivo se desdobrou em três objetivos específicos: apresentar algumas das principais teorias de desenvolvimento regional; caracterizar a história da colonização e da base produtiva da região e do município; e analisar brevemente o estágio atual de desenvolvimento. Procedimentos Metodológicos O problema de pesquisa foi o de identificar como se deu o processo de ocupa- ção e desenvolvimento de Mandaguari e de que forma o processo pode ser explicado pelas teorias de Desenvolvimento Regional. As hipóteses levantadas são de que o desenvolvimento de Mandaguari e da região Norte Novo do Paraná pode ser explica- do através da Teoria da Base de Exportação, dos Polos de Crescimento e da Causação Circular Cumulativa. O método empregado na análise é o método hipotético-dedutivo, utilizando-se de dados extraídos de fontes secundárias (IBGE, IPARDES e Prefeitura Municipal), e através de uma revisão bibliográfica de algumas teorias de Desenvolvimento Regional e de autores da História e Economia do Paraná e do município. Revisão de literatura A Teoria da Base de Exportação, desenvolvida por Dougglas North em 1977, considera as exportações da região como a principal força desencadeadora do proces- so de desenvolvimento. Dentro deste conceito, as atividades são divididas em 2 gru- pos: Atividades Básicas e Não Básicas (complementares), sendo consideradas ativi- dades básicas aquelas que vendem produtos para outras regiões (que “exportam”), o que movimenta a economia, e as atividades complementares como as que dão suporte a essas atividades. Entretanto, a teoria da Base de Exportação pode ser considerada uma variação (ou crítica) da Teoria da Base Econômica (OLIVEIRA, 2008, p. 39). A Teoria da Base Econômica considera os empregos gerados pelas atividades de exportação e pelas atividades locais não destinadas à exportação, sendo o total de empregos, a soma das duas parcelas. Entretanto, a Teoria da Base Econômica se dife- rencia da Base de Exportação, conforme observa Oliveira (2008, p. 38-39): [...] A teoria da base econômica somente considera o investi- mento derivado do estímulo das atividades básicas de exporta- ção o que significa que ela também “deixa de fora” algumas variáveis como investimento autônomo, crescimento populaci- onal e progresso tecnológico. Em outros termos, nesse modelo, o nível de emprego total e, por conseguinte, o nível de crescimento regional é dependente Diálogos & Saberes, Mandaguari, v. 7, n. 1, p. 37-50, 2011 38 exclusivamente do nível da demanda externa. Justamente por isso a teoria da base econômica é incapaz de explicar plenamen- te, em longo prazo, o crescimento ou o declínio das regiões. A diferença entre as teorias está principalmente nas variáveis usadas para explicar o crescimento. North (1977 apud OLIVEIRA, 2008, p. 39) passou a considerar o desenvolvimento como um processo de variação da renda real por um longo período de tempo. A análise feita por North, na Teoria da Base de Exportação, é usada para entender a economia no longo prazo, calculando a variação da renda real pela ótica da mão de obra. Outros fatores inseridos por North são os custos de transferência (trans- porte), e os de processamento (razão entre capital e mão-de-obra). Para a Teoria da Base de Exportação, o multiplicador gera três efeitos distintos na região. Estes são denominados diretos, indiretos e induzidos. Os efeitos diretos são aqueles causados pelas atividades exportadoras na região de origem; os indiretos são consequências das compras realizadas pelas indústrias que vendem insumos para as empresas exportadoras; e os induzidos são as despesas realizadas pelos auferido- res de renda em cada setor. Outra teoria clássica é a Teoria dos Polos de Crescimento, desenvolvida por François Perroux. Esta teoria prega a concentração dos investimentos para um me- lhor aproveitamento dos efeitos de encadeamento. Perroux (1978) argumenta que o ponto de partida para desencadear o processo de crescimento é através da inserção de uma indústria motriz, que possui a capacidade de difundir os efeitos de encadea- mento em direção às atividades polarizadas. Tal inserção dentro de um sistema regi- onal suscitará efeitos positivos e negativos à região receptora. À medida em que tais efeitos vão se concentrando, a atividade motriz se tornará um polo propulsor da economia da região. O desenvolvimento dependerá do nível e da qualidade dos efeitos positivos e negativos. Perroux coloca que: “O nascimento duma indústria nova é sempre fruto duma antecipação [...] o projeto depende da amplitude do seu horizonte econômico [dos vários sujeitos]” (PERROUX, 1978, p. 103). Roura (1995 apud OLIVEIRA, 2008, p. 43-44) resume tais efeitos em: Derivados do multiplicador keynesiano; efeitos de aceleração em razão das altas taxas de inver- são e reinversão de lucros; efeitos ligados às vantagens de localização devido à exis- tência e/ou criação de estoque de infraestrutura e capital social; e de imitação e apren- dizagem. Outra teoria é a do crescimento cumulativo ou de causação circular cumulativa, originada de um trabalho de Gunnar Myrdal intitulado “Teoria econômica e regiões subdesenvolvidas”. Myrdal (1972, p. 47-51) usou o exemplo de uma comunidade cuja subsistência dependia de uma única fábrica que é destruída por um incêndio e sua reconstrução na mesma localidade não interessa aos proprietários. Essa mudança é chamada primária. Seus resultados seriam a redução do emprego, da renda e da demanda regional, desen- cadeando efeitos recessivos por conta da queda nas vendas e no faturamento da Diálogos & Saberes, Mandaguari, v. 7, n. 1, p. 37-50, 2011 39 região. Os empresários, num impulso de sobrevivência, transfeririam seus negócios para outra região para encontrar melhores e novos mercados. Nesse contexto, para manter a qualidade dos serviços públicos prestados à sociedade, o governo seria obrigado a aumentar os impostos, isso afastaria outros investidores. Ao mesmo tempo, uma mudança primária inversa também seria verdadeira. Se uma fábrica fosse instalada em uma localidade desprovida de atividade industrial, além de aumentar a renda e a demanda, atrairia mão de obra de outras regiões. A região Norte do Paraná é dividida principalmente em Norte Velho (ou Pionei- ro) com municípios fundados até 1930, e Norte Novo, com municípios fundados após 1930, sendo historicamente a região do estado conhecida por primeiro pelos jesuítas espanhóis (1610) com as reduções de Loreto e Santo Inácio, destruídas posteriormen- te por Antônio Raposo Tavares. O município mais antigo da região é São José da Boa Vista, que passou a condição de distrito judiciário de Wenceslau Braz, indo até às margens do rio Itararé, onde havia um posto fiscal desde 1800, servindo de base para o povoamento da região (DORFMUND, 1963, p. 173). O “Norte Novo” passou por um processo de colonização