Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música

6º PRÉMIO INTERNACIONAL SUGGIA/CASA DA MÚSICA Prova Final

Pedro Neves direcção musical

Finalistas Jérémy Garbarg violoncelo Conservatório Nacional de Música e Dança de Paris –­ França

Hyazintha Andrej violoncelo Universidade de Artes de Zurique –­ Suíça

Elia Cohen Weissert violoncelo Conservatório Real de Bruxelas – Bélgica

5 Jul 2019 · 21:00 Sala Suggia

SUGGIA

APOIO INSTITUCIONAL MECENAS PRINCIPAL CASA DA MÚSICA Maestro Pedro Neves sobre o programa do concerto.

https://vimeo.com/345889848

Participantes do 6º Prémio Internacional Suggia/Casa da Música

https://vimeo.com/345889040

A CASA DA MÚSICA É MEMBRO DE JÚRI Marc Coppey · Maria de Macedo · Nikolai Gimaletdinov · Paulo Gaio Lima · Pedro Neves

1ª PARTE Antonín Dvořák Concerto para violoncelo e orquestra em Si menor, op. 104 (1895; c.40min) 1. Allegro 2. Adagio ma non troppo 3. Finale: Allegro moderato – Andante – Allegro vivo Solista: Jérémy Garbarg

2ª PARTE Robert Schumann Concerto para violoncelo e orquestra em Lá menor, op. 129 (1850; c.25min) 1. Nicht zu schnell [Não muito rápido] – 2. Langsam [Lento] – 3. Sehr lebhaft [Muito animado] Solista: Hyazintha Andrej

Edward Elgar Concerto para violoncelo e orquestra em Mi menor, op. 85 (1918­‑19; c.30min) 1. Adagio – Moderato – 2. Lento – Allegro molto 3. Adagio 4. Allegro, ma non troppo Solista: Elia Cohen Weissert

Cerimónia de atribuição do Prémio Apresentação por Joana Costa

3 Guilhermina Suggia nasceu na freguesia de O Prémio Internacional Suggia/Fundação S. Nicolau, no Porto, a 27 de Junho de 1885. Casa da Música foi instituído em 2009, dando O seu pai, Augusto de Medim Suggia, tinha uma dimensão internacional ao legado de sido violoncelista do Real Teatro São Carlos Guilhermina Suggia ao acolher jovens violon- e leccionava música em Matosinhos. Foi ele o celistas nomeados em representação dos primeiro professor de Guilhermina. Aos 7 anos mais prestigiados conservatórios e escolas apresentou-se pela primeira vez em público e superiores de música da Europa. Após as aos 13 integrou o célebre Quarteto Moreira de primeiras provas de recital, na qual partici- Sá. Em 1901 foi-lhe concedida uma bolsa de param sete candidatos, três violoncelistas estudos, atribuída pela Rainha D. Amélia, que disputam a prova final em concerto com a lhe permitiu estudar com no Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música. Conservatório de , na Alemanha. Dois Os vencedores das primeiras cinco edições anos mais tarde alcançou grande sucesso foram Konstanze von Gutzeit (2009), Michael como solista com a Orquestra da Gewandhaus Petrov (2011), Ivan Karizna (2013), Stéphanie sob a direcção de . Huang (2015), Jonas Palm e Nadja Reich Durante sete anos (1906-13), Guilhermina (2017). Para além do Prémio Suggia/Funda- Suggia viveu com , em Paris, na ção Casa da Música, atribuído com o apoio do Vila Molitor. Formaram o célebre ‘duo ibérico’ BPI, o vencedor poderá utilizar o violoncelo aclamado em toda a Europa. Em 1914 instalou- Montagnana que pertenceu a Guilhermina -se em Inglaterra. Era já uma intérprete consa- Suggia, hoje propriedade da Câmara Munici- grada e começou a passar longas temporadas pal do Porto, até à edição seguinte do Festival naquele país, recolhendo os maiores elogios Suggia, no qual se apresenta novamente em da crítica internacional. A sua arte ficou igual- concerto na Casa da Música. mente registada em disco, tornando-se numa das raras mulheres do seu tempo a fazer carreira internacional como solista. No final dos anos quarenta, assumiu a direcção do naipe dos violoncelos da recém- -criada Orquestra Sinfónica do Conservató- rio de Música do Porto, desempenhando um importante papel pedagógico. Já atingida pela doença que lhe poria termo à vida, foi pela última vez aplaudida pelo público inglês num concerto em Bournemouth, a 22 de Outubro de 1949. Legou os seus dois instrumentos predi- lectos, um Stradivarius e um Montagnana, para que a sua venda pública constituísse um fundo para premiar os melhores alunos de violoncelo da de Londres e do Conservatório de Música do Porto, respectiva- mente. Guilhermina Suggia faleceu no Porto a 30 de Julho de 1950. Antonín Dvořák apresentação pública, não foi Wihan que NELAHOZEVES (BOÉMIA), 8 DE SETEMBRO DE 1841 estreou a obra, mas sim o violoncelista inglês PRAGA, 1 DE MAIO DE 1904 Leo Stern. O Concerto op. 104 apresenta uma Concerto para violoncelo e orquestra estrutura em três andamentos revelando em Si menor, op. 104 uma escrita orquestral intensa e pautada por grandes efeitos dramáticos. O primeiro Em 1892, a convite de Jeannette Thurber, andamento inicia­‑se com o principal motivo fundadora do Conservatório Nacional de rítmico­‑melódico exposto pelos clarinetes, Música da América, em Nova Iorque, Dvořák e depois pela orquestra, de modo intenso assumiu a direcção da instituição, abando- e trabalhado com diferentes sonoridades. nando a docência no Conservatório de Praga. Segue­‑se o segundo tema pela trompa, A estadia nos Estados Unidos da América foi juntando­‑se depois o clarinete, o oboé e a particularmente prolífica no âmbito do ensino, orquestra. O violoncelo surge repetindo o da direcção de orquestra e da composição, primeiro tema e revelando de forma assaz privando o compositor com a elite cultural vigorosa a sua capacidade como solista. O e intelectual. Em Março de 1894, assistiu à jogo entre a orquestra e o violoncelo, explo- estreia do Segundo Concerto para violoncelo rando a paleta sonora e efeitos de ambos, e orquestra de Victor Herbert, seu colega no encontra­‑se presente ao longo do andamento, Conservatório, constatando as possibilidades sobretudo através da liberdade criativa com do instrumento no lugar do solista. Até então, que é tratado o motivo principal, lançando o Dvořák considerara o violoncelo como um solista num caminho de constante explora- instrumento mais adequado para a música ção. A intensidade do conjunto orquestral e de câmara. A ideia de compor um concerto do violoncelo é crescente à medida que o final para violoncelo não era, no entanto, nova para do andamento se aproxima, terminando de Dvořák, que esboçara em 1865 um concerto forma triunfal. dedicado ao violoncelista Ludevít Peer, mas Introduzindo um contraste, o segundo que não chegou a orquestrar. Entusiasmado andamento conduz­‑nos por uma paisagem pelo violoncelista checo Hanuš Wihan, a sonora mais meditativa e pastoral, iniciada quem já dedicara o Rondó op. 94, em Novem- pelo clarinete, juntando­‑se depois os fagotes e bro de 1894 Dvořák iniciou a composição do os oboés, que antecedem a entrada do violon- Concerto para violoncelo op. 104. Ao longo do celo. A secção intermédia, um pouco mais processo, recorreu várias vezes à opinião de dramática, antecede a cadência do violoncelo Wihan, a quem dedicou a obra. e a coda final, num ambiente calmo. O Concerto op. 104 foi terminado em Feve- O último andamento, um rondó marcial, é reiro de 1895, em Nova Iorque, mas sofreu particularmente rico no tratamento motívico ainda uma revisão final quando Dvořák chegou e temático. O tema principal é apresentado à Boémia. A estreia teve lugar no Queen’s Hall, pela orquestra e depois pelo solista, revelando em Londres, quase um ano depois, a 19 de um carácter acentuado, ao qual se segue um Março de 1896, pela London Philharmonic momento mais contemplativo, antes de surgir Society dirigida pelo compositor. Na primeira o tema principal do Allegro inicial. Ao longo

5 do andamento, o solista tem várias oportu- Robert Schumann nidades de revelar o domínio do instrumento ZWICKAU, 8 DE JUNHO DE 1810 e, sobretudo, de percorrer um caminho de ENDENICH, 29 DE JULHO DE 1856 intenso virtuosismo que contrasta, por exem- plo, com momentos de lirismo quase contem- Concerto para violoncelo e orquestra plativo, como na coda. O final, após uma nota em Lá menor, op. 129 pedal longa, faz emergir o tutti orquestral em fortissimo, de modo triunfante. Robert Schumann foi um dos principais PEDRO RUSSO MOREIRA expoentes do Romantismo musical, tendo- Nota ao programa gentilmente cedida -se destacado sobretudo pelo contributo que pela Fundação Calouste Gulbenkian deu à música para piano e ao Lied germânico. Cedo revelou o seu interesse pela música e pela literatura, o que o levaria a desenvol- ver um estilo composicional profundamente marcado por modelos literários, cujas impli- cações se observam não só na sua produção liederística mas também na própria música instrumental. A música com orquestra conta- va-se também entre os seus interesses enquanto compositor, mas só a partir de 1839 começou a dedicar-se a ela mais seriamente. Um episódio determinante nesse sentido terá sido certamente a sua nomeação como direc- tor de orquestra municipal em Düsseldorf, em 1850, cidade para onde se mudou com a família em Setembro desse ano, após um período de insatisfação com a vida musical de Dresden. De facto, nos três meses seguin- tes, Schumann viria a completar duas das suas principais obras orquestrais: a Sinfonia n.º 3, em Mi bemol maior, op. 97, Renana, e o Concerto para violoncelo e orquestra, em Lá menor, op. 129. Composto no espaço de apenas duas semanas em Outubro desse ano, este concerto seria depois alvo de algumas revisões até à sua publicação em 1854, tendo a estreia ocorrido a 23 de Abril de 1860, em Oldenburg. Apesar de hoje ser considerada uma obra central no repertório do instru- mento, a sua recepção inicial não foi particu- larmente positiva, o que terá sido devido em

6 boa parte à sua natureza predominantemente o tema que inaugurou o concerto e logo o introspectiva e ao reduzido espaço conce- solista inicia um recitativo, o qual, cada vez dido à exibição virtuosística do solista. Mas o mais agitado, abre com determinação o cami- compositor não deixou de explorar o instru- nho para o Finale. O 3º e último andamento, mento ao máximo, mantendo a orquestra num Sehr lebhaft, novamente em Lá menor, é um plano secundário que permite que o solista resoluto rondó em que o solista, depois da projecte todo o seu lirismo. introversão que caracterizou os andamentos O 1º andamento, Nicht zu schnell, abre anteriores, tem a possibilidade de demonstrar com três acordes nas madeiras que desde outra vertente das suas competências, não logo enunciam um importante motivo, ao que obstante a abominação do compositor pela se segue imediatamente, sem a tradicional ostentação virtuosística. São apresentados exposição orquestral dos temas principais, dois temas contrastantes, um primeiro mais a entrada em cena do violoncelo solista com determinado e um outro mais intimista, em o 1º tema, uma melodia marcada pela melan- que se destaca o diálogo entre o violoncelo e colia e pelo ardor característicos do imagi- as madeiras, continuando as reminiscências nário do romantismo musical. Um curto mas do 1º andamento a pontuar o fluxo do discurso. vigoroso episódio orquestral vem introduzir A cadência em que tradicionalmente cabe ao um novo tema, uma ideia mais apaixonada, solista exibir o seu virtuosismo surge perto do em Dó maior, que integra o motivo inicial final deste andamento, com a peculiaridade de três notas, e que é marcada pelas suas de incluir um acompanhamento orquestral, inflexões cromáticas e expressivos interva- conduzindo a uma curta coda que encerra o los ascendentes, para além de um conciso concerto com vigor. ritmo de tercina. Esse mesmo ritmo assume LUÍS MIGUEL SANTOS um destaque considerável na secção de desenvolvimento, na qual a música se torna bastante mais tempestuosa, surgindo o 1º tema na trompa em tonalidades remotas. A recapitulação pouco modifica o material da exposição, fluindo até que uma inesperada intervenção do solista opera a modulação e a transição para o 2º andamento, Langsam, em Fá maior. Este consiste essencialmente num curto episódio lírico que tem o violon- celo solista como grande protagonista, com uma linha melódica de grande expressividade e delicadeza que paira sobre um elegante acompanhamento em pizzicato, destacan- do-se ainda o diálogo com um outro solista do naipe dos violoncelos. Depois de, numa secção central, o solista adornar essa melo- dia com cordas duplas, a orquestra recorda

7 no Royal Albert Hall, num programa que se BROADHEATH, 2 DE JULHO DE 1857 iniciou com a célebre Pompa e Circunstância WORCESTER, 23 DE FEVEREIRO DE 1934 de Elgar dirigida pelo compositor. Foi nessa década que a violoncelista adicionou ao seu Concerto para violoncelo e orquestra repertório o Concerto para violoncelo, que em Mi menor, op. 85 anos mais tarde mereceria a seguinte crítica da imprensa: “(…) a colossal artista emocionou O Concerto para violoncelo e orquestra de e encantou a assistência, que lhe fez justa- Edward Elgar marcou o repertório de Guilher- mente uma verdadeira apoteose. Tocou o mina Suggia nos anos finais da sua carreira. A Concerto em Mi menor de Elgar com a sua célebre violoncelista portuense visitou Ingla- arcada que arrebata, com o brio e a expres- terra pela primeira vez em 1905, e foram espo- são que só ela possui e ouvido em religioso rádicos os regressos até aí se estabelecer em silêncio, teve aplausos intermináveis, tendo 1914. Embora coleccionasse já sucessos por de repetir o último andamento.” (República, toda a Europa, estava então ainda longe da 16/02/1946). fama arrebatadora que atingiria em Londres Edward Elgar teve de esperar até aos 42 ao longo da década seguinte, em que se torna- anos para alcançar notoriedade, mas nesse ria favorita dos críticos e do público, estrela momento tornou­‑se o mais celebrado dos da imprensa anunciada até como “a mais compositores ingleses com obras emblemá- atraente entre as violoncelistas” por ocasião ticas como as Variações Enigma (1899), que de um concerto no Queen’s Hall, em 1917, ou lhe valeram um doutoramento honorário pela mais tarde como “artista brilhante de reputa- Universidade de Cambridge, a obra coral­ ção mundial” (The Musical Mirror, 1924). Foi ‑sinfónica The Dream of Gerontius (1900), precisamente no Queen’s Hall, em 1919, que ou as marchas Pompa e Circunstância, espe- Edward Elgar teve oportunidade de ver e ouvir cialmente a primeira que deu origem ao bem­ Guilhermina Suggia, poucos meses antes de ‑amado hino alternativo da Grã­‑Bretanha, terminar a escrita do Concerto para violon- Lord of Hope and Glory – tocado na coroação celo. Não consta que tal facto tenha tido rele- de Eduardo VII em 1902 e que ainda encerra vância especial na composição da obra, mas os Proms em Londres todos os anos, em sabemos pelo menos que ficou o composi- impressionante apoteose patriótica. Em 1904, tor impressionado com a “imagem maravi- o Festival Elgar realizado ao longo de três dias lhosamente pictórica” da violoncelista de 33 na Royal Opera House, Covent Garden seria anos. Em 1921, encontramos Elgar entre os um sinal bem claro do estatuto que atingira convidados da festa em honra do aniversá- Elgar – o do compositor inglês mais impor- rio de Suggia promovida pelo editor Edward tante da época, responsável pela elevação da Hudson. Num dos pontos altos da carreira da música inglesa ao nível dos nomes maiores do violoncelista, já em 1932, os percursos dos panorama internacional. dois músicos cruzar­‑se­‑iam novamente: nas O Concerto para violoncelo surge numa celebrações do 65º aniversário da Rainha época em que Elgar é já uma figura asso- Maria de Teck, consorte de Jorge V, Suggia ciada ao passado, longe das honrarias de tocou perante um público de 10 mil pessoas outros tempos. Terminada a primeira década

8 do século XX, as novas abordagens de Stra- apropriado pelo violoncelo em rasgos de luz vinski ou Schoenberg abriam um novo mundo que contagiam uma orquestração comedida de possibilidades onde o romantismo tardio mas refulgente. O andamento termina com de Elgar poderia parecer já não se enquadrar, a reexposição do primeiro tema, novamente e na verdade a fama do compositor já não concluído no bordão em Mi que liga directa- atraía o mesmo público aos concertos. Não só mente ao segundo andamento. a estreia deste Concerto foi realizada perante Este segundo andamento baseia­‑se num um Queen’s Hall por esgotar, como a atitude curto motivo de notas repetidas que surge do maestro que dirigiu o restante programa logo após uma breve reminiscência do reci- dessa noite – ocupando praticamente todo tativo que iniciou o Concerto. Desta vez a o tempo de ensaios da Sinfónica de Londres orquestra impele o solista para um novo sem deixar espaço suficiente para a prepara- destino, uma dança leve e rápida com acom- ção do Concerto – se fez sentir pesadamente panhamento esparso da orquestra, reser- sobre o sucesso da interpretação: “Nunca vando todo o protagonismo para o solista, uma orquestra tão boa fez figura tão lamen- aqui sim com possibilidade para demonstrar tável”, escreveu o crítico Ernest Newman. o seu virtuosismo. Curiosa é a visita frequente Embora tivesse posto a hipótese de cancelar de um pequeno tema interrogativo e algo a estreia, Elgar decidiu mantê­‑la apenas por nostálgico, que não tem outra consequência consideração pelo solista, Felix Salmond. senão o regresso imediato ao ritmo frenético Elgar escreveu o tema principal do do motivo principal. primeiro andamento do Concerto em Março O Adagio é uma canção inspiradíssima de 1918, para apenas desenvolver o restante acompanhada apenas pelas cordas, com no Verão do ano seguinte. Não se trata de uma apontamentos pontuais de clarinetes, fago- obra destinada propriamente a valorizar os tes e trompas aos pares. Segue­‑se o Finale, o artifícios técnicos do solista, porque o clima mais longo de todos os andamentos e o único dominante é de introspecção e um reflexo que é lançado em movimento pela orquestra. da personalidade recolhida do compositor, Ainda antes de o violoncelo cumprir o espí- com melodias de enorme lirismo suportadas rito sugerido pela entrada da orquestra, vê­‑se por sonoridades esparsas da orquestra ao regressado à disposição aberta do recitativo, longo de grandes secções da obra, com uma numa cadência que acaba por desembocar profundidade que muito ultrapassa as suas então no tema lançado no início do anda- obras anteriores. Assim, o Concerto inicia­ mento. É também aqui que Elgar desenvolve ‑se com um recitativo pungente do violoncelo o tema como nunca o havia feito nos anda- que conduz ao tema principal, apresentado mentos precedentes, num constante diálogo pelas violas, primeiro, e depois pelo violon- com a orquestra em forma de rondó livre. celo solo. Este tema virá a tomar conta do A meio do andamento, no entanto, a leveza primeiro e mais longo dos poucos tuttis deste da música desaparece com a apresentação andamento – apenas 6 compassos. Esta pelo violoncelo de um novo tema dramático secção termina com um bordão na tónica, Mi, recheado de cromatismos descendentes, abrindo espaço a um novo tema iniciado em que domina todo o restante andamento até diálogo entre os sopros e as cordas, mas logo repousar numa evocação do recitativo inicial

9 do Concerto, antes de a orquestra colocar um ponto final ao restabelecer a tonalidade de Mi menor com uma reprise abreviada do tema que iniciara o Finale. Apesar de viver ainda mais 15 anos, Elgar não voltaria a concluir qualquer obra de fôlego – embora deixasse pendentes uma oratória, uma ópera e uma sinfonia. Estreado no concerto de abertura da primeira tempo- rada da Orquestra Sinfónica de Londres após o final da Grande Guerra, o Concerto para violoncelo surpreende na sua expressão dolente e na forma original como descarta os paradigmas da forma ‘concerto’. Segundo Diana McVeagh, é uma obra que “reúne à sua volta símbolos de tristeza, do Outono da civi- lização tal como Elgar a conhecia, do Outono da sua própria vida”. FERNANDO PIRES DE LIMA

10 Pedro Neves direcção musical do qual foi assistente. O resultado deste seu percurso faz com que a sua personalidade artís- Pedro Neves é actualmente maestro titular tica seja marcada pela profundidade, coerência da Orquestra Clássica de Espinho. Foi maes- e seriedade da interpretação musical. tro titular da Orquestra do Algarve entre 2011 e 2013, e posteriormente maestro asso- ciado da Orquestra Gulbenkian, entre 2013 e 2018. É convidado regularmente para dirigir a Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música, a Orquestra Sinfónica Portuguesa, a Orques- tra Metropolitana de Lisboa, a Orquestra Filar- monia das Beiras, a Orquestra Clássica do Sul, a Orquestra Clássica da Madeira, a Orques- tra Cidade de Joensuu (Finlândia), as Sinfóni- cas do Estado de São Paulo e de Porto Alegre (Brasil), a Orquestra Filarmónica do Luxem- burgo e a Real Filarmonia da Galiza (Espanha). No âmbito da música contemporânea tem colaborado com o Sond’arte Electric Ensemble – com o qual realizou estreias de vários compo- sitores portugueses e estrangeiros, e digres- sões pela Coreia do Sul e Japão –, com o Grupo de Música Contemporânea de Lisboa e com o Remix Ensemble Casa da Música. É fundador da Camerata Alma Mater, que se dedica à interpretação de repertório para orquestra de cordas, e com a qual tem recebido uma elogiosa aceitação por parte do público e da crítica especializada. Pedro Neves iniciou os estudos musicais na sua terra natal, e estudou violoncelo com Isabel Boiça, Paulo Gaio Lima e Marçal Cervera, respectivamente no Conservatório de Música de Aveiro, na Academia Nacional Superior de Orquestra em Lisboa e na Escuela de Música Juan Pedro Carrero em Barcelona, com o apoio da Fundação Gulbenkian. No que diz respeito à direcção de orquestra, estudou com Jean­‑Marc Burfin, concluindo a Licenciatura na Academia Nacional Superior de Orquestra, e ainda com Emilio Pomàrico em Milão e com Michael Zilm,

11 Jérémy Garbarg violoncelo Hyazintha Andrej violoncelo Conservatório Nacional de Música Universidade de Artes de Zurique –­ Suíça e Dança de Paris –­ França Hyazintha Andrej nasceu em 1995, em Graz Jérémy Garbarg representa a nova geração (Áustria). Depois de estudar em Graz com da escola francesa de violoncelo. Recebeu o Andrea Molnár, mudou­‑se para Zurique 3º Prémio e o Prémio do Público nos Concur- para fazer o mestrado na classe de Thomas sos Brahms (Áustria) e Viña del Mar (Chile). É Grossenbacher. Paralelamente aos estudos, laureado da Fondation Banque Populaire. procura a sua linguagem musical através de Tem-se apresentado em França e noutros diferentes abordagens à música. Tem um trio países. Aparece frequentemente em vários de música improvisada e um quarteto intitu- meios de comunicação, incluindo Medici.tv, lado Menschenstoff, que explora e investiga Dakapp, France Musique, Le Violoncelle, La as fronteiras entre estilos de música distin- Lettre du Musicien e TSF Jazz. É convidado tos e reflecte sobre as formas de pensar a regular do Centro de Música de Câmara de música. Fez parte da peça de teatro musi- Paris, da Academia Seiji Ozawa, do Festival cal 44 Harmonies of Apartmethouse 1776, Pablo Casals, do Palazzetto Bru Zane, dos dirigida por Christoph Marthaler, onde pôde Rencontres de Bélaye, do Festival Grands experienciar uma abordagem nova à música Crus de Bourgogne, dos Rencontres Franco e à interpretação. Américaines e do Festival Ysaÿe’s Knokke. No último ano trabalhou de perto com a Desde 2018, Jérémy Garbarg é artista pianista Marta Patrocínio, construindo um em residência na Chapelle musicale Reine repertório em conjunto que já apresentaram Élisabeth (Bélgica) sob orientação de Gary na Suíça e na Áustria. Foi premiada em vários Hoffman e Jeroen Reuling. Integra a classe de concursos, destacando­‑se o Murten Clas- excelência de Gautier Capuçon e é aconse- sics e o Concurso de violoncelo de Liezen. É lhado por Jérôme Pernoo e François Salque. apoiada pela Migros­‑Kulturprozent. Entre os projectos futuros de Garbarg destacam­ ‑se concertos e gravações com Vincent Mussat (com quem forma o Duo Morgen) e concertos como solista na Fonda- tion Vuitton e na Philharmonie de Paris. Toca num violoncelo de Frank Ravatin com um arco raro de François Peccatte, sendo apoiado pela ADAMI, a Fundação Safran e a Fundação Or du Rhin.

12 Elia Cohen Weissert violoncelo Conservatório Real de Bruxelas – Bélgica

Natural de Jerusalém, Elia Cohen Weissert tocou em festivais reputados como os de Verbier e Kronberg, e apresenta­‑se regular- mente como solista e em música de câmara na Europa, na Rússia, em Israel e nos EUA. Tocou em importantes salas de concerto de Berlim, Praga, Bruxelas, Jerusalém, Telavive e Zagreb. Como solista, tocou com orques- tras como a Sinfónica de Jerusalém, a Filar- mónica de Israel, a Orquestra da Rádio e Televisão Croata, a Orquestra Nacional da Bélgica, a Orquestra de Câmara da Valónia e a Filarmónica Checa do Norte. Em música de câmara tocou com Philippe Graffin, Michael Gutman, Miguel da Silva, Josquin Otal (Duo Affetto, criado em 2016) e Maxim Vengerov. Ganhou o Prémio Kopf Röh (Alemanha), o 2º Prémio e o Prémio Especial para melhor interpretação da peça de A. T. Saban no concurso Antonio Janigro (Zagreb) e o Prémio Landgraf von Hessen nas masterclasses da Academia Kronberg em 2018. Elia nasceu em 1994 e começou a tocar violoncelo aos 7 anos, no Conservatório de Jerusalém, tendo recebido uma bolsa da Fundação América­‑Israel. Fez o Bacharelato na Universidade das Artes de Berlim, na classe de Jens Peter Maintz. Desde 2016 estuda na Queen Elisabeth Music Chapel, em Waterloo, na classe de Gary Hoffman e Jeroen Reuling, bem como no Conservatório Real de Bruxelas. Desde 2018 estuda canto lírico no Conservató- rio Real de Bruxelas, na classe de Yucheng Lu. Toca num violoncelo de Jean­‑Baptist Vuillaum (1833), cedido por Michael Gutman.

13 Orquestra Sinfónica A Orquestra tem­‑se apresentado também do Porto Casa da Música nas mais prestigiadas salas de concerto de Baldur Brönnimann maestro titular Viena, Estrasburgo, Luxemburgo, Antuér- Leopold Hager maestro emérito pia, Roterdão, Valladolid, Madrid, Santiago Stefan Blunier maestro associado de Compostela e Brasil, e ainda no Auditório Christian Zacharias maestro convidado Gulbenkian. principal designado As temporadas recentes da Orquestra foram marcadas pela interpretação das integrais das A Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música Sinfonias de Mahler, Prokofieff, Brahms e Bruck- tem sido dirigida por reputados maestros, de ner; dos Concertos para piano e orquestra de entre os quais se destacam Stefan Blunier, Beethoven e Rachmaninoff; e dos Concertos Olari Elts, Peter Eötvös, Heinz Holliger, Elihau para violino e orquestra de Mozart. Em 2011, o Inbal, Michail Jurowski, Christoph König (maes- álbum “Follow the Songlines” ganhou a catego- tro titular no período 2009­‑2014), Reinbert de ria de Jazz dos prestigiados prémios Victoires de Leeuw, Andris Nelsons, Vasily Petrenko, Emilio la musique, em França. Em 2013 foram editados Pomàrico, Peter Rundel, Michael Sanderling, os concertos para piano de Lopes­‑Graça, pela Vassily Sinaisky, Tugan Sokhiev, John Stor- Naxos, e o disco com obras de Pascal Dusapin gårds, Joseph Swensen, Ilan Volkov, Antoni Wit, foi Escolha dos Críticos na revista Gramophone. Christian Zacharias e Lothar Zagrosek. Entre os Nos últimos anos surgiram os CDs monográficos solistas que têm colaborado com a orquestra de Luca Francesconi (2014), Unsuk Chin (2015) constam os nomes de Pierre­‑Laurent Aimard, e Georges Aperghis (2017), além de discos Jean­‑Efflam Bavouzet, Pedro Burmester, Joyce dedicados a obras de compositores portugue- Didonato, Alban Gerhardt, Natalia Gutman, ses, todos com gravações ao vivo na Casa da Viviane Hagner, Alina Ibragimova, Steven Isser- Música. Na temporada de 2019, a Orquestra lis, Kim Kashkashian, Christian Lindberg, Tasmin apresenta obras­‑chave do Novo Mundo – entre Little, Felicity Lott, António Meneses, Midori, as quais Amériques de Edgard Varèse e a Quarta Truls Mørk, Kristine Opolais, Lise de la Salle, Sinfonia de Charles Ives –, a Integral das Sinfo- Benjamin Schmid, Simon Trpčeski, Thomas nias de Tchaikovski, as sonoridades revolucio- Zehetmair, Frank Peter Zimmermann ou o Quar- nárias de Ligeti e novas obras de Jörg Widmann, teto Arditti. Diversos compositores trabalha- Pedro Amaral e Clotilde Rosa. ram também com a orquestra, no âmbito das A origem da Orquestra remonta a 1947, ano suas residências artísticas na Casa da Música, em que foi constituída a Orquestra Sinfónica do destacando­‑se os nomes de Emmanuel Nunes, Conservatório de Música do Porto, que desde Jonathan Harvey, Kaija Saariaho, Magnus Lind­ então passou por diversas designações. Engloba berg, Pascal Dusapin, Luca Francesconi, Unsuk um número permanente de 94 instrumentis- Chin, Peter Eötvös, Helmut Lachenmann, tas, o que lhe permite executar todo o repertó- Georges Aperghis, Heinz Holliger, Sir Harrison rio sinfónico desde o Classicismo ao Século XXI. Birtwistle e Georg Friedrich Haas, a que se junta É parte integrante da Fundação Casa da Música em 2019 o compositor Jörg Widmann. desde Julho de 2006.

14 Violino I Contrabaixo Zofia Wóycicka Rui Rodrigues Veliyana Yordanova* Florian Pertzborn Radu Ungureanu Nadia Choi Ianina Khmelik Tiago Pinto Ribeiro Vladimir Grinman Tünde Hadadi Flauta Andras Burai Ana Maria Ribeiro Evandra Gonçalves Alexander Auer Maria Kagan Vadim Feldblioum Oboé Catarina Resende* Tamás Bartók Flávia Marques* Eldevina Materula

Violino II Clarinete Ana Madalena Ribeiro João Moreira Nancy Frederick João Ramos* Tatiana Afanasieva Pedro Rocha Fagote Domingos Lopes Robert Glassburner Mariana Costa Vasily Suprunov Francisco Pereira de Sousa Nikola Vasiljev Trompa José Sentieiro Nuno Vaz* Jorman Hernandez* Bohdan Sebestik Eddy Tauber Viola Hugo Carneiro Mateusz Stasto Anna Gonera Trompete Hazel Veitch Ivan Crespo Jean Loup Lecomte Luís Granjo Biliana Chamlieva Rute Azevedo Trombone Emília Alves Severo Martinez Theo Ellegiers Rui Pedro Alves* Alexandre Vilela* Violoncelo Vicente Chuaqui Tuba Feodor Kolpachnikov Sérgio Carolino Sharon Kinder Michal Kiska Tímpanos Bruno Cardoso Jean-François Lézé Aaron Choi Percussão Nuno Simões

*instrumentistas convidados

15 MECENAS ORQUESTRA SINFÓNICA APOIO INSTITUCIONAL MECENAS PRINCIPAL DO PORTO CASA DA MÚSICA CASA DA MÚSICA