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Dinossauros do Jurássico Médio e Superior português

A maior parte das jazidas onde foram encontrados vestígios de Dinossauros estão localizadas na orla Meso-Cenozóico portuguesa, entre Aveiro e Sesimbra, muitas delas em arribas litorais da costa atlântica (fig.21). Vestígios de um pressuposto Saurópode Diplodocídeo, inicialmente identificado como alenquerensis Lapparent & Zbyszewski, 1957, são referidos do Jurássico Superior de Alenquer, Foz do Arelho, S. Bernardino (peniche), Alcobaça, Praia da Areia Branca (Peniche), Porto das Barcas (Lourinhã), Salir de Matos (Caldas da Rainha), Óbidos, Torres Vedras, Ourém e Castanheira (Lapparent & Zbyszewski 1957). Reexaminando este material Dantas et ai (1998) consideram contudo .que este não corresponde a Apatosaurus Marsh, 1877 nem a Camarasarus Cope, 1877, como fôra depois interpretado por McIntosh (McIntosh 1990; Hunt et ai 1996 e Wilson & Sereno 1998), mas que corresponderia a um . novo género, Lourinhasaurus e, como tal, propuseram uma nova combi­ nação para o designar, Lourinhasaurus alenquerensis (Lapparent & Zbyszewski em 1957) tomando por holótipo o mesmo que fora proposto por Lapparent & Zbyszewski em 1957. Paleo-herpetofauna de Portugal 45

Nesta nova espécie Dantas et ai (1998) incluiram também um espécimen descoberto em 1987 no Jurássico Superior (Kimeridgiano) de Porto Dinheiro (Lourinhã) cujo achado foi depois e preliminarmente anunciado por Dantas et ai (1992b). Mais recentemente, Bonaparte & Mateus (1999) embora conside­ rando que, baseada no holótipo descrito por Lapparent & Zbyszewski (1957), a designação do novo género e espécie fôra correcta, englo­ bando eventualmente muitos dos vestígios inicialmente atribuidos a Apatosaurus aienquerensis, era contudo muito duvidosa a inclusão neste taxa do esqueleto incompleto que tinha sido encontrado em Porto Dinheiro e que se encontra depositado no Museu da Lourinhã. Argumentam que os vestígios disponíveis não permitem fazer comparações fiáveis entre os diferentes espécimens que foram encontrados. Enquanto que no exemplar de Porto Dinheiro se dispõe de vértebras dorsais e cervicais (mas não de restos apendiculares ou das cinturas pélvicas e escapulares), no restante material identificado como Lourinhasaurus, pelo contrário, embora 'existam peças apendiculares e das cinturas, não existem todavia quaisquer vestígios de vértebras. Assim sendo, e embora admitindo que estudos posteriores possam vir a revelar que todo este material pertence na realidade a uma única espécie, propuseram um novo género e espécie pata o exemplar de Porto Dinheiro - iourinhanensis Bonaparte & Mateus, 1999. Os Apatosaurus (fig. 22), tal como os Camarasaurus e Dipiodocus, e presume-se que também LourinhasauruslDinheirosaurus, eram gigantescos quadrúpedes herbívoros, com mais de 20 metros de com­ primento e 20 toneladas de peso, de cauda muito longa e pescoço comprido, onde culminava uma pequena cabeça. Viveriam em manadas, em áreas baixas e planas. 46 E. G. Crespo

FIG. 22 -Apatosaurus sp. (baseado em Norman 1985)

Um outro Saurópode, do grupo dos Brachiossaurideos, Brachiosaurus atalaiensis Lapparent & Zbyszewski, 1957 é mencionado do Jurássico Superior de Atalaia (Lourinhã), Ourém, Praia da Areia Branca, Ribamar, Maceira, Alcobaça, Porto Novo, Cambelastrorres Vedras e da praia de Almoinhas (Lapparent & Zbyszewski 1957). Os Brachiosaurus (fig.23) eram também gigantescos quadrúpedes herbívoros com 25-30 metros de comprimento e cerca de 60170 toneladas de peso, elevando a cabeça a perto de 12 metros do nível do solo. Tinham os membros anteriores mais compridos do que os posteriores, assumindo, portanto, uma postura que lembra a dos actuais girafídeos.

FIG. 23 - Brachiosaurus sp. (baseado em Norman 1992)

Refira-se contudo que a ocorrência de Brachiosaurus no Jurássico Superior português carece ainda de uma mais cabal confirmação .(McIntosh 1990b; Wilson & Sereno 1998; Dantas et ai 1999). O material recolhido Paleo-herpetofauna de Portugal 47 no nosso território parece pertencer efecti vamente a Brachiosauridae mas não permite ser identificado com segurança como correspondendo a Brachiosaurus. Outros Saurópodes, Brachiosauridae, de dimensões mais modestas, foram igualmente referidos do Jurássico português, mas o seu reconheci­ mento veio a revelar-se errado ou muito duvidoso. São os casos de Astrodon pusillus Lapparent & Zbyszewski, 1957, do Jurássico Superior de Atalaia (Lourinhã), da Praia da Areia Branca e do Casal da Pedreira, de Pelorosaurus humerocristatus Hulke, 1874 do Jurássico Superior de Ourém e Alcobaça (Lapparent & Zbyszewski 1957; Carvalho 1989) e de Bothriospondylus sp., do Jurássico Superior da GuimarotalLeiria (Thulbom, 1973). Os restos originalmente atribuidos ao pequeno Saurópode Astrodon pusillus foram posteriormente reconhecidos como pertencendo a indi­ víduos jovens do Estegossauro Dacentrurus (Galton 1981 , 1991). Quanto a Pelorosaurus é considerado um táxone Saurópode muito duvidoso (Norman 1985, 1997). A descrição deste género (P. conybeari) foi feita a partir de um húmero moderadamente grande, encontrado no Wealden (Cretácico Inferior) de Inglaterra. Para Norman (1997) na ausência de quaisquer restos associados de esqueleto, apenas se poderá dizer que se trata de um Brachiossaurídeo. O mesmo acontece com os restos atribuidos a Bothriospondylus, género descrito de Madagascar a partir apenas de uma única vértebra (Norman 1985), cuja presença no nosso país é extremamente duvidosa. No que respeita aos Terópodes, restos de um grande Dinos­ sauro, identificado como Megalosaurus insignis Deslonchamps & Lennier, 1870, foram encontrados no Jurássico Superior de Salir do Porto, Foz do Arelho, Atalaia (Lourinhã), Colmeias, Ourém, Peniche e na Praia da Areia Branca. Uma outra espécie congénere, M .pombali Lapparent & Zbyszewski, 1957, viveria na mesma época em Pombal, Ribamar, Porto das Barcas (Lourinhã), Torrinha (Batalha) e Albergaria (Lapparent & Zbyszewski 1957). 48 E. G. Crespo

Estes Megalosaurus (fig.24) eram grandes carnívoros bípedes, de enorme cabeça, com cerca de 9 metros de comprimento

Fig.24 - Megalosaurus sp. (baseado em Dixon 1991 )

Dado que se trata de identificações já antigas e deste género ter limites pouco definidos, justifica-se uma revisão do material então estudado a fim de se confirmarem os estatutos taxonómicos que lhes foram atribui dos (ver MoInar 1990 e MoInar et aI 1990). O género Megalosaurus é hoje considerado por muitos autores como um táxone parafilético. Será portan­ to mais prudente considerarem-se os vestígios portugueses atribui dos a estas duas espécies como pertencendo simplesmente a Theropoda indeterminados. No Jurássico Superior (Kimeridgiano Superiorffitoniano/ unidade do Sobral) da localidade de Peralta (Lourinhã) foi há poucos anos descoberto um Dinossauro Terópode, Allossauróide, Lourinhanosaurus antunesi Mateus, 1998 (esqueleto parcial jazendo sob o lado direito­ parte do esqueleto axial, cintura pélvica e parte dos membros inferio-res) (fig.25). Como curiosidade é de assinalar que na sua caixa toráxica foram encontrados 32 gastrólitos. Estes restos estão depositados no Museu da Lourinhã. Segundo o autor (Mateus 1998), este Dinossauro será mais primitivo que os Allossaurídeos, sendo, possivelmente, um Sinraptorídeo. A confirmar-se esta suposição seria o primeiro e único Dinossauro deste grupo conhecido na Europa. Paleo-herpetofauna de Portugal 49

Do Jurássico Superior da povoação de Andrés, nos arredores de Pombal, foi igualmente descoberto restos de um Terópode identificados como pertencendo ao conhecido Allosaurusfragilis Marsh, 1977 (fig.26) da América do Norte. Esta foi a primeira referência à existência desta espécie fora daquele continente, tomando-se mesmo a única espécie de Dinossauro conhecida em dois continentes. Trata-se de um bípede de grande porte que podia atingir cerca de 12 metros de comprimento e pesar cerca de 2 toneladas.

FIG. 26 - fragilis (baseado em Norman 1985)

Do ponto de vista paleogeográfico esta descoberta de A.Jragilis em Portugal parece demonstrar que no Jurássico Superior, há portanto cerca de 140-150 M.a B.P., ainda existiriam ligações entre a América do Norte e a Europa, o que põe em dúvida que o Atlântico Norte já estivesse nessa altura completamente aberto como geral­ mente se admitia. A presença de no Jurássico Superior de Inglaterra e da América do Norte já tinha aliás levado Galton a sugerir a possível existência, durante o Jurássico Superior, de ligação entre os dois continentes (Pérez-Moreno et ai 1999). Globalmente as faunas jurássicas portuguesas e norte-americanas (Formação de Morrison) de Dinossauros parecem ser efectivamente bastante semelhantes. 50 E. G. Crespo

Segundo Peréz-Moreno et aI (1999) este facto pode estar também relacionado com a importante regressão do Titoniano que poderia ter dado origem à formação de mares epicontinentais que teriam possibilitado a ocorrência de episódicos intercâm• bios faunísticos.

Um outro Terópode (fémur direito e a tíbia esquerda) foi também encontrado, muito recentemente, no Jurássico Superior (Kimeridgiano// unidade da Praia de Amoreira-Porto Novo/ formação das "camadas de Alcobaça") de Rodela do VaI mi tão (Lourinhã), Ceratosaurus sp. (Mateus & Antunes 2000 ). Trata-se de um Dinossauro do grupo dos Ceratosauria (grupo que inclui os Terópodes mais primitivos), da fanulia Ceratosauridae, caracteri­ zado pela presença de um pequeno "como" na extremidade do focinho (fig.27). No dorso destes Dinossauros era evidente uma fiada de placas ósseas formando uma crista serreada que se estendia até à cauda. Eram, ao que parece, activos predadores, de cerca de 6 metros de comprimento, que caçavam em grupo. O Ceratosaurus português é aparentemente uma forma próxima de C. nasicomis e C.dentisulcatus.

Fig. 27 - Ceratosaurus sp. (baseado em Dixon 1991) 6m

Em 1998 foi encontrada no Jurássico Superior (Titoniano Inferior/ formação de "Grés Superior" do Casal do Bicho/Caldas da Rainha! Alcobaça) uma tíbia bastante robusta de um Terópode, identificado como sp. (Mateus & Antunes 2000). Paleo-herpetofauna de Portugal 51

Trata-se de um Tetanurea basal (Fastovsky & Weishampel 1996), com cerca de 9 metros de comprimento (fig. 28), contemporâneo dos Terópodes de Cleveland-Lloyd (mas do lado do Colorado) da Formação de Morrison (US.A.), próximo de Torvosaurus tanneri.

FIG. 28 - Torvosaurus sp. (baseado em 9m G. Rymill, www.dinodata.net 2(01)

Finalmente, do Jurássico Superior da mina da GuimarotalLeiria, foram mencionados uma série de Dinossauros Terópodes (Martin & Krebs 2000):

• cf. Compsognathus sp. (TetanurealCoelurosaurial Coelurosauria incertae sedis) (fig. 29); • Stokesosaurus sp. (Tetanureal ? Tyrannosauridae); • Tyrannosauridae indeterminado; • Dromaeosaurinae indeterminado (Tetanurae/Maniraptora); • Velociraptorinae indeterminado (Tetanurae/Maniraptora) (fig. 30); • ? Troodontidae indeterminado (Tetanurae/Maniraptora); • cf. Ricardoestesia sp. (Theropoda incertae sedis); • aff. Paronychodon sp. (Theropoda incertae sedis); • Cerotosauria indeterminado; • ? Allosauroidea indeterminado.

Do Oxfordiano/Kimeridgiano desta mesma mina de Guimarota, são ainda referidos dentes atribuidos à conhecida Ave primitiva, pró• xima dos Dromaeosauridae (para alguns considerada mesmo como um Dinossauro Dromaeosauridae), Archaeopteryx - cf. Archaeopteryx sp. (Weigert 1995; Buffetaut 1997; Martin & Krebs 2000). 52 E. G. Crespo

O.7m

FIG. 29 -Compsognathus sp. (baseado em Fig. 30 - Veiociraptor sp. (baseado em Dhondt et ai 1992) Leglu & Ma!lava! 1999)

Entre os Ornitischia, vestígios do Estegossauro Dacentrurus arma­ tus (Owen, 1875) (fig. 31) são conhecidos do Jurássico Superior do BaleaI (Zbyszewski 1946), Foz do Arelho, Lourinhã e Sesimbra (Lappa­ rent & Zbyszewski 1957). A um seu congénere Dacentrurus lennieri (Nopcsa, 1910) foram atribuidos vestígios do Jurássico Superior de Atalaia (Lourinhã), S. Bernardino (peniche), Foz do Arelho, Praia da Areia Branca, Alfazeirão, Maceira e Pombal (Lapparent & Zbyszewski 1957). Segundo Galton (1990, 1991), Dacentrurus lennieri deve ser considerado sinónimo de D. armatus. Os vestígios que lhe foram atribui dos pertencerão a juvenis ou sub-adultos desta última espécie.

Fig. 31 - Dacentrurus armatus (baseado em Sanz 2000)

Os Estegossauros eram tipicamente um grupo de pesados quadrú­ pedes herbívoros de 2-9 metros de comprimento, de dorso e cauda ornamentada por estruturas ósseas salientes, dispostas em duplas fiadas, cuja função, mais do que defesa, se deveria relacionar com os seus processos de termorregulação. Efectivamente, eram estruturas relativa­ mente frágeis, com numerosas cavidades, onde se supõe que circulasse Paleo-herpetofauna de Portugal 53 grande quantidade de sangue. As suas patas posteriores eram mais longas do que as anteriores o que levava a que assumissem uma postura de cabeça inclinada para baixo. Embora com cabeça e cerébro minúsculos tinham, no entanto, um gânglio espinal sagrado cerca de dez vezes maior que o próprio cérebro. Outro Omitischia, este do grupo dos Ankylosauria Nodosauridae, foi descrito do Jurássico Superior de Ribamar (Ericeira) - Dracopelta zbyszewskii Galton, 1980. É de assinalar que estes restos, descritos por Galton, são, conjuntamente com os do Jurássico Médio e Superior de Inglaterra, os mais antigos vestígios de Anquilossauros que são conhecidos a nível mundial (Galton 1980). Os Anquilossauros eram, de modo geral, animais pesados e lentos, caracterizados por terem e corpo, especialmente o dorso, coberto por espessa armadura óssea com espinhos e esporões (fig.32).

FIG. 32 - SauropeIta sp., um Anquilossauro Nodossaurfdeo, tal como Draco­ peIta zbyszewskii (baseado em Palmer 1999)

Os Omithopoda são outro grupo de Dinossauros Omitischia com representantes no Jurássico do nosso país. Deste grupo são referidos: um grande Omitópode, Camptosaurus sp. (fig. 33), do Jurássico Superior de Torres Vedras e da zona da Lourinhã (Galton 1980b; Carvalho 1989); Alocodon kuehnei Thulbom, 1973 do Jurássico Superior de Pedrogão (Vieira de Leiria) (Thulbom, 1973; Dantas 1990); Trimucrodon cuneatus Thulbom, 1973 e sp. (fig.34), ambos do Jurássico Superior da praia do' Porto DinheirolLourinhã (Thulbom 1973) e Phyllodon henkeli Thulbom, 1973 do Jurássico Superior (Kimeridgiano) da mina de GuimarotalLeiria (Thulbom 1973; Martin & Krebs 2000). 54 E. G. Crespo

Embora Thulbom (1973) tivesse inicialmente incluido estes últimos quatro géneros -Alocodon, Trimucrodon, Hypsilophodon e Phyllodon - na família Hypsilophodontidae, acabou contudo, posteriormente, por admitir que os dois primeiros poderiam ser incluídos nos Fabrossauridos, um grupo basal dos Omitischia (ver Norman 1985). Acontece contudo que, em trabalhos de revisão posteriores, muitas destas espécies não foram reconhecidas. Assim, Alocodon kuehnei é considerado como um Omitischia nomina dubia, o mesmo se passando com Trimucrodon cuneatus (Weishampel & Witmer 1990; Sereno 1991). Da mesma forma, Phyllodon henkeli, descrita apenas com base em dentes isolados, é classificada por Weishampel (1990) como um Hypsilophodontidae indeterminado e por Sues & Norman (1990) como um Hypsilophodontidae nomina dubia.

Fig. 33 - Camptosaurus sp. (baseado em Fig. 34 - Hypsilophodon sp. (baseado em Palmer 1999) Palmer 1999)

Muito recentemente mais dois Omitópodes foram descritos do nosso país. Do Jurássico Superior do Porto das Barcas (Lourinhã), uma série de vértebras caudais e parte dos ossos dos membros posteriores e da cintura pélvica, foram atribuídos a um indeterminado (Pedro Dantas et ai 2000). A confirmar-se esta identificação trata-se dos vestígios mais antigos deste grupo que são conhecidos na Europa. Restos atribuídos a este grupo de Dinossauros apenas tinham sido assinalados do Cretácico Inferior de Inglaterra e da Paleo-herpetofauna de Portugal 55

Roménia. Vestígios contemporâneos dos agora encontrados na Lourinhã estão apenas assinalados da América do Norte e da Tanzânia. A presença destes Dinossauros no Jurássico Superior português já tinha sido aliás sugerida por M. Lock1ey et ai (1998), com base em pegadas encontradas em S. Martinho do Porto (a Norte das Caldas da Rainha) e na Praia da Areia Branca. Os autores sugeriram na altura que se poderia tratar de pegadas de um Dryosauridae ou de um Hypsilophodontidae. O Dryossaurídeo português pode pertencer a um género diferente dos já conhecidos (Jurássico Superior da América do Norte e Tanzânia) (fig.35) e (Cretácico Inferior da Europa). Este novo Iguanodontia ( grande grupo de Ornitópodes que inclui além dos dois géneros atrás referidos, os também muito conhecidos e Camptosaurus), media cerca de 1.6 metros, não se sabendo por enquanto se se trata de um jovem ou de um adulto. Alguns autores consideram Dryosaurus como um Hypsilophondontidae primitivo (Norman 1985; Palmer 1999).

FIG. 35 - Dryosaurus sp. (baseado em Palmer 1999)

Outro Ornitópode Iguanodontia foi agora descrito do Jurássico Superior (Titoniano/Unidade do Bombarral) de Vale Frades (Lourinhã), Draconyx loureiro i Mateus & Antunes, 2001 (fig.36). As peças ósseas encontradas (dentes, vértebras caudais e fragmentos de ossos apendiculares) em Vale Frades, e depois também, na Praia do Caniçal, lkm a Norte (um fémur), permitem-no identificar como um IguanodontialCamptosauridae (Mateus & Antunes 2001). Este material está depositado no Museu da Lourinhã 56 E. G. Crespo

Fig. 36 - Draconyx ioureiroi (baseado 6m em Mateus & Antunes 2(01)

'Duas pegadas descobertas em Porto Escada, em 1990 (dados não publicados) podem pertencer a indivíduos desta espécie (Mateus & Antunes 2001). Um Iguanodontia indeterminado é igualmente citado da mina de GuimarotalLeiria (Martin & Krebs 2000). Os Omitópodes eram, de modo geral, Dinossauros herbívoros, de postura bípede, mas que poderiam contudo, nalguns casos, apoiar-se nas quatro patas. Incluem formas de dimensões muito variáveis. Além de fragmentos ósseos, também se descobriam, em numerosos locais da orla Meso-Cenozóica portuguesa, pegadas destes animais (fig.37).

ORNITÓPOOE TEROPOOE SAURÓPOOE FIG. 37 - Patas de um Ornitópode, de um Terópode e de um Saurópode e vários tipos de pegadas (na respectiva verti­ cal) produzidas por Dinos­ sauros destes grupos (dimen­ sões uniformizadas). No caso dos Saurópodes as duas primeiras pegadas representam as impressões da mão (m) e da pata (p) do mesmo . 10 D - 10 dedo da mão. (baseado em Carvalho 1989; Santos et ai 1994; Sanz et ai 1990; Sanz 2000)

Do Jurássico Médio apenas são conhecidas pegadas na Pedreira do GalinhalFátima (Saurópodes). Esta é a mais antiga pista de Dinossauros que se conhece em Portugal e uma das mais importantes a nível mundial. Paleo-herpetofauna de Portugal 57

São pistas de icnofácies Brontopodus (Saurópodes) (Santos et ai 1994; Azeredo et ai 1995). Do Jurássico Superior conhecem-se pegadas de Dinossauros no Cabo Mondego (Terópodes: Eutynichnium iusitanicum e Megaio­ sauripus - Gomes 1915/16; Lapparent & et ai 1951; Lapparent & Zbyszewski 1957; Carvalho 1994; Lockley et ai 1998; Antunes 1999), Serra da Pescaria/Nazaré (Terópodes e Saurópodes), S. Martinho do Porto (Megaiosauripus, outros Terópodes e Omitópodes), Serra do BourolFoz do Arelho (Terópodes e Saurópodes), PaimogolLourinhã (Terópodes), Praia da Areia Branca (Terópodes), praia de Vai mi tão (Terópodes e Omitópodes), praia da CorvaILourinhã (Terópodes), pedreira da Ribeira do Cavalo/Sesimbra (Terópodes/Megaiosauripus e Saurópodes), Lagosteiros/Cabo EspicheI (manada de Saurópodes, adultos e juvenis - Lockley et ai 1994), Pedreira do Avelino/Sesimbra (Saurópodes), Zambujal (Terópodes/Megaiosauripus) (Lockley & San­ tos 1993; Carvalho 1994; Lockley et ai 1998).

Lockley et ai (1998) reservam a designação de Megalosauripus para as pegadas dos grandes Megalossauridos do fim do Jurássico. Conservam contudo a designação de Eutynichnium para as pegadas de outros Terópodes do Jurássico Superior, como as encontradas no Cabo Mondego. Consideram ainda que deve ser mudada a designação aos vestígios do Cretácico Inferior, designados por M egalosauropus.

Outros vestígios da presença de Dinossauros no Jurássico português, como coprólitos, gastrólitos, ovos e até embriões fossilizados, têm sido igualmente encontrados. O primeiro ovo de Dinossauro que foi referido do nosso território foi encontrado em 1908, em Alfazeirão, e na altura atribuído a Omosaurus (= Dacentrurus) (Lapparent & Zbyszewski, 1957). No entanto, parece que não se trata efecti vamente de uma metade de um ovo, como inicialmente se suponha, mas apenas de um pseudo-fóssil (Verbatim Karl Hirsch 1992, cf. P.Dantas). 58 E. G. Crespo

Os .primeiros vestígios - a casca de um ovo - realmente de dinossauro, foram recolhidos, em 1981, no Jurássico Superior de uma jazida de Paimogo (Lourinhã). Em 1986, uma segunda casca foi descoberta no mesmo local (Dantas 1987). Cerca de 5 ovos deformados e incompletos, acompanhados de múltiplas cascas foram depois encontrados em 1987, em vários níveis de duas diferentes jazidas da região de Peralta (Lourinhã) (Dantas 1987; Dantas et ai 1991, 1992a, 1993). Cascas de ovos de Dinossauros são ainda referidos do Jurássico Superior da Praia de Porto Dinheiro (Kohring 1993). No mesmo ano (1993) foram descobertas no Jurássico Superior de Paimogo/Lourinhã cerca de uma centena de ovos com embriões de Terópodes (Mateus H.1998; Mateus I. et ai 1997, 1998; Antunes et ai 1998).

Em Espanha são conhecidos numerosos vestígios de Dinossauros do fim do Jurássico e do começo do Cretácico (Sanz et ai 1990; Quesada et ai 1998). Entre os Saurischia são referidos os Terópodes: "Megalosauridae"/ "Megalosaurus" das Astúrias, Castellón, Teruel, Cuenca, La Rioja e Valência; "Megalosaurus" cf. dunkeri, grande Terópode de estatuto duvidoso, também conhecido do Wealden (Cretácico Inferior de Inglaterra) de Valência; Ricardoestesia Currie, Rigby & Sloan, 1990, pequeno Terópode cuja descrição baseada apenas em dentes, levanta dúvidas (Dodson pp. 10-13, em Currie & Padian, 1997) de Cuenca; Coelurosauria de Sória e Burgos; Coeluridae das Astúrias, Teruel e Castellón; Paronychodon Cope, 1876, cuja descrição baseada apenas em dentes levanta dúvidas (Dodson pp. 10-13 em Currie & Padian, 1997) de Teruel ; Euronychodon Telles Antunes & Sigogneau - Russell, 1992, género também assinalado do Cretácico português, de Cuenca; Pelecanimimus polyodon Perez-Moreno, 1994, Tetanurae/Omithomimosauria, primeiro Dinossauro deste grupo encontrado na Europa e um dos mais antigos conhecidos, próximo dos Tyranossauridae (Holtz 1998) de Cuenca; Carcharondon­ tosaurus Stromer, 1931ITetanurae/Tyranosauridae, gigantesco Terópode, de Teruel; Dromaeosauridae de Cuenca. Entre os Saurópoda são assinalados: Aragosaurus ischiaticus / Camarasauridae de Teruel; Brachiosauridae de Valência; Brachiosaurinae de Teruel, Cuenca e Valência; cf. Astrodon, género também referido do Cretácico Inferior português (ver atrás), de Teruel; Cetiosaurus/Cetiosauridae (Saurópodes primitivos) de Castellón e Valência; aff. Haplocanthosaurus/ ?Brachiosauridae de Valência. Paleo-herpetofauna de Portugal 59

No que respeita aos Ornitischia são referidos os : Iguanodon de Castellón, Teruel, Cuenca e Burgos; Iguanodon bernissartensis de Teruel, Cuenca, Castellón e Burgos; Iguanodon mantelli (actualmente: I. atherfieldensis Hooley, 1924), espécie também assinalada da mesma época em Portugal, de Teruel e Castel­ lón; Valdosaurus Galton, 1977/Dryosauridae, pequeno Ornitópode primitivo também conhecido do Jurássico Superior/ Cretácico Inferior de Inglaterra e do Níger (África), de Teruel e Burgos; priscus/Iguanodontia basal, da Catalunha; Hypsilophodon Huxley, 1869, género também assinalado do Cretácico português, de Teruel e Sória; Hypsilophodon foxii, pequeno Ornitópode corredor de cerca de 3 metros de comprimento também conhecido do Wealden de Inglaterra, de Teruel e Castellón; Hadrosauridae de Teruel; EchinodonlFabrosauridae (Thyreophora incertae sedis) de Teruel, Coenca e Castellón; aff. Echinodon de Teruel; / Trachodontidae, considerado nomen dubia (Dodson pp. 10-13, em Currie & Padian 1997), de Teruel. Dos Ankylosauria são mencionados: Hylaeosaurus Mantell, 1833, também conhecido nos depósitos de Wealden de Inglaterra (Cretácico Inferior), de Burgos; Nodosauridae de Castellón e Burgos. Entre os Stegosauria são referidos: Dacentrurus armatus, espécie também assinalada no Jurássico Superior português, com cerca de 6 metros de comprimento e 2.5 toneladas de peso, de Los Serranos/Valência; Stegosauria de Teruel e Valência.