UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Faculdade de Educação Física

DIRCEU SANTOS SILVA

A COPA DO MUNDO DA FIFA 2014 VEIO AO BRASIL: A GESTÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO COMO SEDE

CAMPINAS 2016

DIRCEU SANTOS SILVA

A COPA DO MUNDO DA FIFA 2014 VEIO AO BRASIL: A GESTÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO COMO SEDE

Tese apresentada à Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do título de Doutor em Educação Física, na Área de Educação Física e Sociedade

Orientadora: Profa. Dra. Silvia Cristina Franco Amaral

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA TESE DEFENDIDA PELO ALUNO DIRCEU SANTOS SILVA, E ORIENTADA PELA PROFA. DRA. SILVIA CRISTINA FRANCO AMARAL

CAMPINAS 2016

Agência(s) de fomento e nº(s) de processo(s): CNPq, 140853/2013-8; CNPq, 202817/2014-8

Ficha catalográfica Universidade Estadual de Campinas Biblioteca da Faculdade de Educação Física Dulce Inês Leocádio dos Santos Augusto - CRB 8/4991

Silva, Dirceu Santos, 1986 – Si38c A Copa do Mundo da FIFA 2014 veio ao Brasil : a gestão do estado de São Paulo como sede / Dirceu Santos Silva. – Campinas, SP : [s.n.], 2016.

Orientador: Silvia Cristina Franco Amaral. Tese (doutorado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação Física.

1. Políticas Públicas. 2. Eventos Esportivos. Copa do Mundo (Futebol). 4. Esporte. I. Amaral, Silvia Cristina Franco. II. Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Educação Física. III Título.

Informações para Biblioteca Digital

Título em outro idioma: 2014 FIFA World Cup como to Brazil : the management of the state of São Paulo as host Palavras-chave em inglês: Public policy Sport events World Cup (Football) Sports Área de concentração: Educação Física e Sociedade Titulação: Doutor em Educação Física Banca examinadora: Fernando Mascarenhas Alves Geraldo Di Giovanni Reinaldo Tadeu Boscolo Pacheco Carlos Nazareno Ferreira Borges Data de defesa: 31-03-2016 Programa de Pós-Graduação: Educação Física

COMISSÃO EXAMINADORA

Profa. Dra. Silvia Cristina Franco Amaral Orientadora

Prof. Dr. Fernando Mascarenhas Alves

Prof. Dr. Geraldo Di Giovanni

Prof. Dr. Reinaldo Tadeu Boscolo Pacheco

Prof. Dr. Carlos Nazareno Ferreira Borges

As assinaturas dos membros da Comissão Examinadora estão na ata da defesa que consta no processo de vida acadêmica do aluno

DEDICATÓRIA

Dedico esta tese a todo brasileiro que lutou por uma gestão democrática dos recursos públicos durante a preparação da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014.

AGRADECIMENTOS

A toda minha família, em especial à melhor mãe do mundo (Deuzir). Ao meu pai Valdemir, pela compreensão e incentivo. Ao meu irmão Thadeu, por me apoiar e ser um exemplo positivo para eu iniciar os estudos científicos. À minha irmã Mayra, pelo carinho, incentivo e ajuda na trascrição das entrevistas. Ao meu avô Antônio, pelo carinho, abraços verdadeiros e afeto recíproco. Ao meu avô Alcebiades e às minhas avós Cecília e Domingas (In memorian). À Universidade Estadual de Campinas, pela estrutura física, conhecimento e formação que recebi. À minha orientadora Sílvia, por ter acreditado em mim, mesmo sem me conhecer. Aos professores presentes nesta fase, em especial: Geraldo Di Giovanni, Fernando Mascarenhas, Jocimar Daolio, Gastão Wagner, Carlos Nazareno e Evelina Dagnino. À University of Southampton, em especial ao supervisor estrangeiro, Will Jennings, que contribuiu significativamente para a construção da tese. Thank you very much! Aos que fizeram presente durante minha aventura na University of Southampton, em especial a Katerina, Stephanie, Gerardo, Duygu, Carlisson, Tas e Diana. Aos meus colegas de Grupo de Pesquisa, em especial: Olivia (obrigado pela contribuição), Marília (obrigado pela revisão e boas sugestões), Bruno (obrigado pela formatação), Viviane (obrigado pela amizade, minha irmazinha), Gabriel (obrigado pelas conversas no primeiro ano), Flávio, Regiane, Gisela, Alexandre e Rafaela. Aos meus amigos de Unicamp e Campinas: Juliana Saneto (amiga desde o mestrado, sempre ao meu lado), Mariana, Ana Beatriz, Leonardo, Diego, Dani, Maristela, Ana Carmen, Nara e Renata por também fazerem parte desta história. Aos meus amigos que apoiaram a presente tese, em especial: Tamilis, Kleidiana, Marcel, Wagner, Doiara, Keni, Grece e Carol. Aos companheiros de república, Matheus, Alison, Caio e Nestor, pela convivência e amizade ao longo do doutorado. À Dona Zezé por ser a melhor vizinha de todos os tempos.

Aos brasileiros que financiaram via impostos a bolsa de doutorado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Espero retribuir o investimento para toda a sociedade brasileira em cada ano de trabalho como docente! Aos demais idealizadores, coordenadores e funcionários da Unicamp, em especial à atenciosa Simone. Por fim, a todos os meus amigos que, direta ou indiretamente, ajudaram-me na concretização desse trabalho, que não estão citados nesta folha e que fizeram parte desta história.

RESUMO

O objetivo desta pesquisa foi analisar o planejamento e a gestão de risco da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, com ênfase no estado de São Paulo. Foi utilizado o método descritivo-interpretativo e os procedimentos metodológicos foram desenvolvidos em três etapas: na primeira, ocorreu uma análise documental de relatórios, orçamentos/financiamentos, leis e outras fontes primárias da gestão; na segunda, ocorreu uma análise de jornais que realizaram a cobertura sobre a temática no estado de São Paulo; e, na terceira, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com os gestores que atuaram diretamente no planejamento e na gestão de risco dos megaeventos esportivos no estado de São Paulo. Para a interpretação dos dados, a técnica utilizada foi a análise de conteúdo, que permitiu o agrupamento, a categorização e a inferição dos dados. Os resultados foram apresentados a partir da análise dos riscos econômicos, políticos e governamentais, infraestrutura, riscos ambientais e de saúde, segurança e proteção. Os riscos econômicos tanto em âmbito nacional quanto no estado de São Paulo não foram frequentes. A Copa do Mundo teve impacto positivo na economia e no PIB, no entanto, foi reportada inflação de custos em todas as ações políticas. Os riscos políticos e governamentais analisados indicaram frequente violação de direitos e remoção forçada de famílias das suas casas devido às construções e reformas da infraestrutura para o torneio. A Copa do Mundo da FIFA no Brasil configurou-se como a edição do torneio analisada com o maior número de protestos, especialmente no estado de São Paulo. As convicções de corrupção foram incidentes em âmbito nacional e, no estado de São Paulo, existe um inquérito de irregularidade nos contratos entre a construtora Odebrecht e o Sport Club Corinthians Paulista. Os riscos ambientais não tiveram destaque nos projetos da Copa e as mortes de operários no Brasil foram o risco de saúde mais incidente entre todas as edições do torneio desde 1994, com destaque para a Arena Corinthians com três mortes. Por fim, não foi reportado nenhum incidente grave de segurança tanto em âmbito nacional quanto no estado de São Paulo.

PALAVRAS-CHAVE: Políticas públicas; Megaeventos esportivos; Copa do Mundo (Futebol); Esporte.

ABSTRACT

The aim of this study was to analyse the risk management in 2014 FIFA World Cup Brazil in São Paulo. The descriptive and interpretative method and the methodological procedures were developed in three stages: first all, a documental analyse of reports, budgets, law and other primary sources of management was used; second, an analysis in newspapers that carried out the coverage on the topics in the state of São Paulo was analised; and third a semi-structured interviews with managers who worked directly in the planning management of sports mega-events in the state of São Paulo were conducted. For the interpretation of data the technique content analysis was used, which allowed the grouping, categorizing and inference data. Results were presented based on the analysis of economic, political and government, infrastructure, environmental and health, safety and protection risks. The economic risks at the national level and in the state of São Paulo were not frequent. FIFA World Cup had a positive impact on the economy and GDP, however, cost inflation in all political actions were reported. Political and governmental risks analysed have indicated frequent violation of rights and forcible evictions of families due to buildings and infrastructure refurbishments to the tournament. FIFA World Cup in Brazil is configured as the edition of the tournament analysed with the largest number of protests, especially the frequent protest in São Paulo. The corruption convictions have been incidents at the national level and in the state of Paulo there is an inquiry investigating irregularities in the contracts between Odebrecht and the Sport Club Corinthians Paulista. The positive and negative environmental risks were not prominent in the FIFA World Cup projects and the deaths of workers in Brazil was the most frequent health risk among all editions of the tournament, especially the Arena Corinthians with three deaths. It has not reported any serious incident safety at national level and in the state of São Paulo.

KEYWORDS: Public policy; Sports events; World Cup (Football); Sports.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 Remoção Forçada na Copa do Mundo da FIFA entre 1994 e 2014...... 44 Figura 2 Número de estádios da Copa do Mundo da FIFA de 1994 para 2022...... 54 Figura 3 Morte de operários na Copa do Mundo da FIFA entre 1994 e 2014...... 61 Figura 4 Organização do Futebol Mundial...... 70 Figura 5 Investimento global da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014...... 74 Figura 6 Parceiros e patrocinadores da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014...... 75 Figura 7 Parceiros e patrocinadores da Copa do Mundo da FIFA Rússia 2018...... 76

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Categorias de riscos em megaeventos esportivos...... 34 Tabela 2 Impactos econômicos e PIB da Copa do Mundo da FIFA de 1994 para 2014...... 37 Tabela 3 Inflação de custos da Copa do Mundo da FIFA, de 1994 para 2018...... 41 Tabela 4 Protestos na Copa do Mundo da FIFA de 1994 para 2014...... 47 Tabela 5 Corrupção nas edições da Copa do Mundo da FIFA de 1994 para 2014...... 51 Tabela 6 Estádios da Copa, clubes mandantes emédias de público...... 97 Tabela 7 Protestos contra a Copa do Mundo da FIFA...... 148

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AFC – Asian Football Confederation ANCOP – Articulação Nacional de Comitês Populares da Copa BNDES – Banco Nacional do Desenvolvimento BRICS – Brazil, Russia, India, China and South Africa BRT – Bus Rapid Transit CAF – Confederation of African Football CBF – Confederação Brasileira de Futebol COB – Comitê Olímpico Brasileiro COI – Comitê Olímpico Internacional COL – Comitê Organizador Local CONCACAF – Confederation of North, Central American and Caribbean Association Football CONMEBOL – Confederação Sul-Americana de Futebol CIDs – Certificados de Incentivo ao Desenvolvimento CNE – Conferência Nacional do Esporte CTOs – Centro Oficial de Treinamentos FBI – Federal Bureau of Investigation FIFA – Fedération Internationale de Football Association FHC – Fernando Henrique Cardoso OFC – Oceania Football Confederation PAC – Programa de Aceleramento e Crescimento PC do B – Partido Comunista do Brasil PIB – Produto Interno Bruto PT – Partido dos Trabalhadores PRB – Partido Republicano Brasileiro PSDB – Partido da Social Democracia Brasileira SPE – Sociedade de Propósito Específico TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido TGV – Train à grande Vitess UEFA – Union of European Football Associations

VLT – Veículos Leves sobre Trilhos

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...... 16

1.1 Objetivo ...... 26

1.2 Metodologia ...... 26

1.3 Organização da tese...... 29

2 GESTÃO DE RISCO DA COPA DO MUNDO DA FIFA ENTRE 1994 E 2014 31

2.1 Copa do Mundo da FIFA ...... 31

2.2 Gestão de Risco na Copa do Mundo da FIFA...... 33

2.2.1 Riscos Econômicos ...... 38

2.2.2 Riscos Políticos e Governamentais ...... 45

2.2.3 Riscos de Infraestrutura...... 55

2.2.4 Riscos Ambientais e de Saúde ...... 62

2.2.5 Riscos de Segurança e Proteção ...... 67

3 GESTÃO DA COPA DO MUNDO DA FIFA BRASIL 2014 ...... 71

3.1 Características da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 ...... 71

3.1.1 Instituições Envolvidas na Organização da Copa do Mundo do Brasil ...... 71

3.1.2 Atores Políticos ...... 84

3.1.3 Estados e Cidades-Sede...... 94

3.2 Intersetorialidade e Interinstitucionalidade ...... 106

3.3 Interesses Privados da Lei Geral da Copa ...... 111

4 A COPA DO MUNDO DA FIFA VEIO A SÃO PAULO...... 123

4.1 Copa do Mundo da FIFA no Estado de São Paulo...... 123

4.1.1 Da reforma do Estádio do Morumbi a Construção da Arena Corinthians ...... 131

4.1.2 Centros Oficiais de Treinamento e FIFA Fan Fest em São Paulo ...... 137

4.2 Gestão de Risco da Copa do Mundo no Estado de São Paulo ...... 140

4.2.1 Riscos Econômicos no Estado de São Paulo...... 141

4.2.2 Riscos Políticos e Governamentais no Estado de São Paulo ...... 145

4.2.3 Riscos de Infraestrutura do Estado de São Paulo ...... 151

4.2.4 Riscos Ambientais e de Saúde no Estado de São Paulo...... 156

4.2.5 Riscos de Segurança e Proteção no Estado de São Paulo ...... 158

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...... 162

REFERÊNCIAS ...... 165

APÊNDICES ...... 185

ANEXOS ...... 195

16

1 INTRODUÇÃO

A Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 faz parte de uma agenda política brasileira mais ampla para os megaeventos1 no País. Os megaeventos esportivos passaram a integrar a agenda política do Governo Federal do Brasil, no ano de 1995, na gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC/PSDB2). Naquela ocasião, solicitou-se a inscrição do Rio de Janeiro como cidade-sede para os Jogos Olímpicos3 de 2004 para o Comitê Olímpico Internacional (COI). A inscrição foi efetivada no ano de 1996, com apresentação oficial do projeto de candidatura. No entanto, a cidade foi eliminada na primeira fase e a cidade escolhida para sediar os Jogos Olímpicos de 2004 foi Atenas. Na candidatura aos Jogos Olímpicos de 2012, realizada no ano de 2003, mais uma vez Rio de Janeiro4 se inscreveu como postulante a sediar o megaevento esportivo. A cidade também foi eliminada na primeira fase, e Londres foi anunciada em 2004 como sede oficial dos Jogos Olímpicos de 2012. Em ambas tentativas o Rio de Janeiro não chegou a se materizalizar como candidata a sede oficial, a cidade foi apenas postulante aos Jogos Olímpicos (BENEDICTO, 2009). Paralelamente às tentativas de sediar os Jogos Olímpicos, o Rio de Janeiro realizou em 2000, a candidatura aos Jogos Pan-Americanos de 2007 e, no ano de 2002, Rio de Janeiro foi anunciada como sede oficial do evento (COB, 2007). Em 2003, a agenda política dos megaeventos esportivos no Brasil ganhou mais evidência, após o anúncio da Confederação Sul-Americana de Futebol (CONMEBOL) e a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) de que o Brasil seria candidato à sede da Copa do Mundo da Fedération Internationale de Football Association (FIFA) de 2014. No ano de 2003, é importante lembrar, deu-se a criação do Ministério do Esporte e a chegada de Luís Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores (PT) ao cargo de presidente. O Ministério foi criado a partir da Medida Provisória nº. 103, de 01 de

1 Os megaeventos são acontecimentos “de larga escala cultural (incluindo eventos comerciais e esportivos) que têm característica dramática, apelo popular massivo e significância internacional” (ROCHE, 2000, p.1). A organização de um megaevento envolve tipicamente combinações variáveis de governos nacionais e organizações internacionais (ROCHE, 2000; 2003). 2 O PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira) dirigiu o Governo Federal do Brasil entre 1995 e 2003. 3 Os Jogos Olímpicos têm três edições oficiais: os Jogos Olímpico-Paraolímpicos de Verão, os Jogos Olímpicos de Inverno e os Jogos Olímpicos da Juventude. 4 A cidade de São Paulo entrou na disputa para ser sede aspirante aos Jogos Olímpicos de 2012, mas em 2003 em assembleia do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), a cidade do Rio de Janeiro foi escolhida como representante do Brasil, com 23 votos a favor, enquanto que a cidade de São Paulo só recebeu 10 votos.

janeiro de 2003. Inicialmente a sua estruturação ocorreu por meio de quatro secretarias: Secretaria Executiva; Secretaria Nacional de Esporte de Alto Rendimento; Secretaria Nacional de Esporte Educacional; e Secretaria Nacional de Desenvolvimento de Esporte e Lazer (BRASIL, 2003a).5 O objetivo inicial do Ministério do Esporte, em 2003, foi desenvolver ações políticas que contemplem as três dimensões do esporte. Para tal objetivo, foi criada proposta de construção do Sistema Nacional de Esporte e Lazer, que objetivava a democratização do esporte e do lazer para todos os cidadãos. Além disso, a nova proposta de governo era inserir a sociedade civil no processo participativo e para isso foi criada a Conferência Nacional do Esporte (CNE). A CNE corresponde a um espaço de participação popular, aprovado no governo de Luís Inácio Lula (PT), propício ao debate, formulação e deliberação das políticas públicas6 de esporte e lazer no Brasil. A CNE tem uma dinâmica de realização, a cada dois anos, em três etapas: municipal, estadual e federal (CASTELAN, 2010). A I Conferência Nacional do Esporte (I CNE) realizada em 2004 teve como objetivo “[...] democratizar a elaboração da Política Nacional de Esporte e Lazer e os Planos Nacionais subsequentes” (BRASIL, 2004). De acordo com Castelan (2010) os debates que ocorreram nesta conferência tiveram como meta a democratização do esporte e lazer, com ênfase na gestão participativa. A ideia central da I CNE foi construir um Sistema Nacional de Esporte e Lazer. A II CNE, realizada em 2006, foi marcada pela avaliação da tentativa de implementação do Sistema Nacional de Esporte e Lazer. O documento final definiu que o Ministério do Esporte objetivava a consolidação da Política Nacional do Esporte, bem como o acesso do esporte a toda população (BRASIL, 2006a). O marco central foi a criação

5 Com o intuito de atender a nova agenda política, o Governo Federal do Brasil a partir do Decreto nº. 7.529, de julho de 2011, reestruturou os cargos de comissão e as funções gratificadas do Ministério do Esporte. Duas secretarias foram mantidas: a Secretaria Executiva e a Secretaria Nacional de Esporte de Alto Rendimento. Duas outras secretarias foram extintas: a Secretaria Nacional de Esporte Educacional e a Secretaria Nacional de Desenvolvimento de Esporte e Lazer, o que deu origem a Secretaria Nacional de Esporte, Educação, Lazer e Inclusão Social. A novidade do Decreto foi a criação da Secretaria Nacional de Futebol e Defesa dos Direitos do Torcedor em decorrência das novas demandas da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 e do futebol brasileiro (BRASIL, 2011a). 6 Políticas públicas são decisões e ações formuladas, implementadas e avaliadas pelos governos dos Estados nacionais, supranacionais e subnacionais, em conjunto com a sociedade e o mercado (HEIDEMANN, 2009).

da Lei de Incentivo ao Esporte.7 Contudo, os debates nas CNEs não se desdobraram em ações políticas consistentes do Ministério do Esporte (CASTELAN, 2010). Até a II CNE, a discussão da agenda política dos megaeventos esportivos no Ministério do Esporte foi mínima e só ganhou destaque em 2007, após o anúncio oficial do Brasil como sede da Copa do Mundo da FIFA 2014. No ano de 2007, o Brasil sediou os Jogos Pan-Americanos Rio 2007. Em 07 de setembro de 2007, Rio de Janeiro também realizou sua candidatura, pela terceira vez, a ser sede dos Jogos Olímpicos e Jogos Paraolímpicos de Verão de 2016.8 Ao contrário do que ocorreu na candidatura da Copa do Mundo, quando as confedereções votam e escolhem o continente e federação responsável, no caso dos Jogos Olímpicos, o Rio de Janeiro enfrentou uma concorrência ampla, com destaque para as cidades de Madrid, Chicago e Tóquio, que conseguiram a candidatura oficial. No entanto, dessa vez a cidade do Rio de Janeiro foi anunciada, em 02 de outubro de 2009,9 como sede oficial dos Jogos Olímpicos de 2016, em Copenhague, na Dinamarca (OLYMPIC GAMES, 2009). Apesar de a Copa do Mundo da FIFA ser um evento de grande impacto, o anúncio do Brasil como sede oficial dos Jogos Olímpicos envolveu mais entusiasmo que a candidatura da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 devido à concorrência de diferentes países. No caso do evento da FIFA a Copa foi tratada com indiferença, uma vez que o Brasil não enfrentou grande concorrência entre os países membros da CONMEBOL. Além disso, a Copa do Mundo da FIFA declara-se mais comercial, enquanto os Jogos Olímpicos buscam associar os megaeventos esportivos com a transformação urbana da cidade (DAMO, 2012).

7 A Lei de Incentivo ao Esporte tem como objetivo estimular a prática esportiva, o que permite os benefícios fiscais para pessoas jurídicas ou físicas. A lei beneficia os clubes, federações e associações de pessoas jurídicas. A instituição para captar os recursos por meio dessa legislação tem que atender aos seguintes requisitos: fins não econômicos, natureza esportiva e um ano de funcionamento (BRASIL, 2006b). 8 O anúncio da cidade do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos de 2016 não aconteceu por acaso. Esse projeto começou nos anos de 1990, durante a primeira gestão do ex-prefeito Cesar Maia (PMDB) (1993- 1996). O objetivo principal do projeto foi inserir a cidade em uma competição urbana globalizada. A agenda urbana foi adaptada para as tendências internacionais e a gestão da cidade foi planejada como uma “empresa”, em busca da atração de eventos e de turistas. Esse padrão de cidade desejado tem a intenção de impor universalmente o modelo como um ideal a ser seguido. O Planejamento Estratégico da cidade do Rio de Janeiro articulou ainda três analogias: a cidade como empresa; a cidade como mercadoria; e a cidade como pátria (VAINER, 2004). 9 No ano de 2009, a cidade do Rio de Janeiro foi eleita “a cidade mais feliz do mundo” segundo a revista Forbes. Esta escolha esteve relacionada ao bom humor, a qualidade de vida e ao carnaval (GREENBURG, 2009).

Os dois megaeventos esportivos fazem parte de uma mesma agenda política do Governo Federal do Brasil de sediar grandes eventos esportivos internacionais. O governo PT compreendeu a agenda política dos megaeventos esportivos inseridos dentro da proposta de governo neodesenvolvimentista, do Estado investidor, Estado finaciador e Estado social. Ambos eventos estão conectados e os governos e organizadores fizeram promessas de melhoria na infraestrutura esportiva, mobilidade urbana, transporte, saúde e educação nas cidades-sede (BIENENSTEIN; SÁNCHEZ; MASCARENHAS, 2012). A partir do anúncio de que o Brasil sediaria os dois maiores megaeventos esportivos foram iniciados debates nas esferas federal, estadual, municipal, distrital, setor privado e sociedade civil acerca dos elementos catalisadores de oportunidades que poderiam influenciar os desempenhos econômicos, políticos, culturais e sociais. A agenda política dos megaeventos esportivos foi responsável por fomentar discussões em diversos setores da sociedade. Além disso, o debate acadêmico e científico, no Brasil, variou entre discursos com entusiasmo e discursos com prudência e cautela. Nos discursos com mais entusiasmo os megaeventos esportivos no Brasil foram considerados benéficos para construção dos legados e impactos10 para as cidades que foram sedes (TAVARES, 2005; FILGUEIRA, 2008; REIS; TELLES; DaCOSTA, 2013). Preuss (2008), ao propor os estudos dos impactos, transcende a discussão acerca dos legados e apresenta uma proposta de estudos que avalie aspectos positivos e negativos, no que se refere ao impacto físico/ambiental, social/cultural, psicológico, e político/administrativo. O conceito de legado tem uma conotação positiva, enquanto que o conceito de impacto é mais amplo e enfatiza aspectos negativos e positivos acerca dos megaeventos esportivos. No que se refere às principais experiências dos megaeventos esportivos realizados no mundo, o modelo que tem a conotação mais positiva em termos de legados sociais, ocorreu nos Jogos Olímpicos de Barcelona 1992. Este megaevento marcou as diversas mudanças e transformações da cidade. Nos discursos com certa prudência e cautela, as críticas aos megaeventos esportivos no Brasil foram direcionadas à aproximação das ações políticas com as estratégias do projeto neoliberal, enfatizando-se a acumulação de capital. Para esses

10 O uso do termo legado está associado aos benefícios alcançados por cada cidade ou país sede. Apesar de existirem legados negativos o termo tem uma conotação positiva. Assim, para a presente pesquisa, foi utilizado o termo impacto, o que envolverá aspectos positivos e negativos na análise da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 no estado de São Paulo.

autores, os megaeventos configuram-se como um evento empresarial e efêmero, inserido na economia política global (CAPEL, 2007; DAMO, 2012; MASCARENHAS, BORGES, 2009; MASCARENHAS, 2012; COAKLEY; ROCHA, 2013). No caso da presente tese, a Copa do Mundo, não foi compreendida como panaceia para todos os problemas sociais e nem como raiz de todo o mal, mas sim como um evento de gestão complexa, dinâmica, multifacetada e com diversos riscos a serem investigados. No entanto, dentre as duas correntes identificadas a partir da literatura nacional a tese tende a um discurso com mais prudência e cautela. Dessa forma, a análise da consolidação da agenda política dos megaeventos esportivos, no Brasil, foi realizada a partir de uma visão mais cautelosa. Seguindo a análise, o Ministério do Esporte desistiu da realização de uma nova CNE em 2008, quando realizar- se-ia conforme fora previsto. Somente em 2010, o Ministério do Esporte convocou e realizou a III Conferência Nacional do Esporte (III CNE), já com ênfase na agenda política dos megaeventos esportivos. Durante o evento, foi discutido o Plano Decenal de Esporte, que consiste em “10 pontos em 10 anos para projetar o Brasil entre os 10 mais”, cujo documento foi intitulado “Por um time chamado Brasil!” (BRASIL, 2010a). A partir daquele momento, ficou evidente que o interesse do Governo Federal do Brasil foi priorizar o esporte de alto rendimento, como meta para colocar o Brasil entre “os 10 mais” bem colocados no ranking de medalhas. A proposta dos megaeventos esportivos no Brasil se opõe às discussões realizadas na I CNE em 2004 e II CNE em 2006, quando o objetivo central foi a criação de um Sistema Nacional de Esporte e Lazer (BRASIL, 2004, 2006). A III CNE contou com a participação de mais de três mil municípios, de todos os estados brasileiros, com a meta de colocar o país entre as dez maiores potências do esporte no mundo (BRASIL, 2010a). O número oficial de participantes na etapa nacional foi cerca de 1,5 mil pessoas. Vale ressaltar que nas duas Conferências anteriores a palavra megaevento esportivo não foi citada em documentos, mas na III CNE foi o debate central em Brasília (CASTELAN, 2010). O avanço da agenda política dos megaeventos esportivos e a mudança de objetivo das CNEs são indícios significativos de que o Governo Federal do Brasil tem enfatizado o desenvolvimento das políticas públicas de esporte de alto rendimento, em detrimento das políticas públicas de esporte educacional e esporte de participação.

De acordo com Heidemann (2009), as políticas públicas englobam tudo que diz respeito à vida coletiva e das pessoas em sociedade e suas instituições. No caso do Governo Federal do Brasil, foi notória a decisão de atender à agenda internacional dos grandes eventos esportivos, o que atende determinada parcela da sociedade que concorda com tal tipo de financiamento. A partir dos dados apresentados, pode-se afirmar que o Ministério do Esporte não tem seguido o seu objetivo inicial de democratização do acesso ao esporte e ao lazer. A meta do Governo Federal do Brasil de colocar o país entre os 10 mais não representa garantias de ganhos em termos de infraestrutura esportiva, ou acesso do direito ao lazer e ao esporte, o que pode maquiar o desenvolvimento esportivo brasileiro com o número de medalhas. Além disso, pode ser compreendido como uma estratégia ideológica do Estado que não contribui para o desenvolvimento das políticas públicas de esporte e lazer no Brasil e nem para o benefício do cidadão. Além da crítica relacionada à III CNE, existe uma crítica incidente no que diz respeito à entrega do Ministério do Esporte ao Partido Comunista do Brasil (PC do B). A confiabilidade do PT pode estar relacionada à base dada pelo PC do B, que apoiou a candidatura de Luis Inácio Lula da Silva desde a sua primeira tentativa de chegada à presidência, no ano de 1989. A entrega do Ministério do Esporte ao PC do B, de acordo com Castellan (2010) foi uma troca de favores políticos, já que o partido não tinha uma discussão acumulada sobre a temática esportiva. A Secretaria Nacional de Desenvolvimento de Esporte e Lazer foi ocupada por quadros do PT no primeiro mandato do presidente Luís Inácio Lula da Silva e contou com a presença de pesquisadores na gestão e intelectuais da Educação Física e do Lazer. O PT tinha uma setorial nacional de esporte e lazer fundada em 1998 e, desde 1992, já discutia o tema por meio dos cadernos “O Modo Petista de Governar”. No entanto, a ocupação do PT só ocorreu até o início de 2006, de forma isolada, apenas na Secretaria Nacional de Esporte Lazer e desde então o Ministério do Esporte foi ocupado por partidos da base de apoio do PT. O PC do B foi questionado sobre o crescimento das doações eleitorais entre 2006 e 2010 e a relação com os patrocinadores da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 e dos Jogos Olímpicos Rio 2016. Os patrocínios saltaram de R$ 194,4 mil em 2006 para R$ 940 mil em 2010. Os principais patrocinadores dos megaeventos esportivos no Brasil e do

PC do B nas eleições de 2010 foram a Coca-cola, McDonald’s e o Bradesco (MATTOS, 2011). A confirmação da entrega do Ministério do Esporte ao PC do B pode ser evidenciada na lista de todos os ministros do esporte até o ano de 2014: Agnelo Queiroz (2003-2006), Orlando Silva (2006-2011) e José Aldo Rebelo (2011-2014), todos estavam vinculados ao PC do B. A partir de 2015, a presidenta Dilma Rousseff anunciou como novo ministro de estado do esporte o pastor da Igreja Universal, George Hilton, do Partido Republicano Brasileiro (PRB) e após doze anos, o Ministério do Esporte passou a não ter mais a gestão do PC do B (OURIQUES, 2009). Por fim, pode-se afirmar que após três gestões, mais do que treze anos de existência do Ministério do Esporte, os avanços não foram significativos no que se refere à garantia do esporte como direito individual e do lazer como direito social. A troca de ministros e de partido político está relacionada à governabilidade, em detrimento da materialização do esporte como direito individual e do lazer como direito social, uma vez que o partido político vigente não apresenta nenhuma discussão política sobre o esporte no Brasil. As políticas públicas de esporte e lazer no Brasil, de acordo com Castellani Filho (2009) tiveram os seguintes encaminhamentos: avanço dos setores conservadores no interior do próprio governo; terceirização das ações políticas; e a “síndrome de Estocolmo”, que é definida como um estado psicológico desenvolvido por pessoas vítimas de sequestro, que se identificam com o sequestrador. No caso do Ministério do Esporte, a síndrome está relacionada a não implementação dos processos democráticos que foram discutidos pelo PT na década de 1980. Dessa forma, existem indícios suficientes que a entrada do PT, em 2003, reforçou a continuação da prioridade do esporte de alto rendimento, em detrimento da materialização do esporte como direito individual e do lazer como direito social. As discussões sobre os megaeventos esportivos transcenderam a esfera federal, e avançaram em direção aos estados e municípios. Nas esferas estaduais merecem destaque Rio de Janeiro e São Paulo, o último estado citado, o lócus desta pesquisa. Os dois estados concentram grande parte dos recursos públicos, além de terem sido responsáveis pela abertura e final da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014.

No contexto organizacional, segundo o governo do estado de São Paulo11, as secretarias envolvidas na gestão da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 são: Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Regional; Secretaria de Esporte, Lazer e Juventude; Secretaria de Turismo; Secretaria dos Transportes Metropolitanos; Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia; Secretaria do Meio Ambiente; Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência; Secretaria de Segurança Pública e Casa Civil, articuladas com as secretarias do município de São Paulo, além da colaboração institucional da São Paulo Turismo S.A – SPTuris12 e Federação Paulista de Futebol (FPF) (SÃO PAULO, 2012a). Após uma pesquisa documental no website do Ministério do Esporte e nos websites de todas as secretarias do estado de São Paulo para entender como estava se dando a gestão da Copa do Mundo da FIFA, foi selecionada a Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Regional para análise, já que esta criou em seu interior uma subsecretaria denominada de Secretaria Executiva do Comitê Paulista da Copa. Essa subsecretaria foi responsável pela gestão da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 no estado de São Paulo. Seu objetivo foi de articular o Governo Federal do Brasil, o Governo Municipal, o Comitê Organizador Local (COL), a FIFA e o Sport Club Corinthians Paulista. Além das instituições em âmbito estadual, foram selecionados para a pesquisa o Comitê Integrado de Gestão Governamental Especial para a Copa do Mundo de Futebol de 2014, responsável por articular as secretarias municipais nas ações da Copa do Mundo da FIFA. Dessa forma, foram utilizadas essas instituições como recorte da pesquisa. Depois da escolha das instituições a serem pesquisadas, a difícil tarefa foi selecionar os aspectos da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 a serem estudados, já que se trata de um objeto de pesquisa interdisciplinar que envolve os aspectos econômicos, políticos, jurídicos, culturais, sociais, simbólicos, dentre outros. Dessa forma, foi selecionada a gestão de risco para análise da Copa do Mundo, uma vez que esse tipo de metodologia envolve uma investigação sobre os aspectos econômicos, políticos, sociais,

11 Em uma primeira análise, o estado de São Paulo apresentou as seguintes funções a partir dos megaeventos esportivos: financiador, aliança ao capital nacional via Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES); investidor, associado ao Programa de Aceleramento e Crescimento (PAC); e fomentador social, associado à redução da pobreza e o desenvolvimento de políticas sociais. 12 São Paulo Turismo S/A é a empresa de turismo e eventos da cidade de São Paulo. Possui capital aberto e tem como sócia majoritária a Prefeitura de São Paulo. Entre suas atividades estão a administração do Parque do Anhembi e do Autódromo de Interlagos e a estruturação de mecanismos que reafirmem o município como polo de turismo de negócios, entretenimento e lazer (SPTURIS, 2014).

ambientais, de infraestrutura e de segurança. A análise da gestão de risco permitiu um diagnóstico dos riscos aceitáveis em diferentes países e cidades-sede (JENNINGS, 2012) como suporte para discutir a edição da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, com ênfase no estado de São Paulo. A análise a partir da gestão de riscos permite identificar as incertezas para um governo que venha a ser sede de um megaevento esportivo. No entanto, análise dos riscos também serve para a instituição internacional organizadora e para a população local avaliar os principais perigos relacionados à realização de um grande evento esportivo internacional como os Jogos Olímpicos e a Copa do Mundo da FIFA. Ambos os eventos citados têm aumentado seu nível de complexidade e multiplicado as incertezas (JENNINGS, 2012). A análise da gestão de risco foi escolhida por se tratar de um aspecto pouco explorado nas edições da Copa do Mundo da FIFA e não existem artigos científicos, dissertações ou teses defendidas sobre a temática em língua portuguesa, conforme levantamento da produção científica (APÊNDICE D) sobre os megaeventos esportivos, que foi realizado até o ano de 2013, período final de construção do projeto de pesquisa. No entanto, em nível internacional, a análise da gestão de risco é frequente nos Jogos Olímpicos, conforme pesquisas de Toohey e Taylor (2008), Jennings e Lodge (2011) e Jennings (2012). A partir desta identificação, justifica-se a aplicação da análise da gestão de risco na Copa do Mundo da FIFA, uma vez que se trata de um evento similar aos Jogos Olímpicos, já que envolve governos e instituições internacionais. No entanto, inexistem pequisas relacionadas à gestão da Copa do Mundo da FIFA, o que torna a tese original. A Copa do Mundo da FIFA, assim como os Jogos Olímpicos, corresponde a megaeventos esportivos globais, datados, multifacetados, defensáveis e ao mesmo tempo contestáveis. Além da gestão de risco, foi selecionada para análise a teoria da intersetorialidade, já que o planejamento da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, no estado de São Paulo, indicou um caráter intersetorial no planejamento, ao propor o envolvimento de diferentes setores na execução das ações políticas relacionadas ao torneio. Uma ação intersetorial implica uma articulação de saberes e experiências no planejamento, execução e avaliação das ações políticas (JUNQUEIRA, INOJOSA, 1997; JUNQUEIRA, INOJOSA, KOMATSU, 1997). No caso da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, merece destaque a articulação entre as diferentes esferas do governo (federal, estadual, municipal e distrital)

ou descentralização, com ênfase nas articulações entre secretarias de um mesmo governo e articulações com a sociedade civil, na construção dos equipamentos esportivos (arenas e estádios de futebol), além da melhoria da infraestrutura urbana. O envolvimento de diferentes esferas de governos federal, estadual e municipal pode aumentar o nível de complexidade do planejamento, execução e avaliação das ações políticas, bem como dos riscos associados à gestão. Para além da intersetorialidade, foi utilizada a abordagem neoinstitucionalista histórica para análise da gestão da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 no estado de São Paulo, com ênfase nas instituições e nos seus atores políticos. Vale ressaltar que nesta abordagem as instituições são consideradas centrais e tem capacidade de interferir na cultura política, na estratégia dos atores e na produção da própria agenda política. As instituições são procedimentos, protocolos, normas e convenções inerentes à estrutura organizacional da economia política (HALL; TAYLOR, 2003). A vertente neoinstitucionalista histórica surgiu a partir das análises de grupos e permite a análise dos interesses e poderes dos grupos socioeconômicos e dos conflitos entre os atores sociais e governamentais. Além disso, a análise da tese envolveu a interferência da FIFA na cultura política e na agenda política brasileira (HALL; TAYLOR, 2003). O neoinstitucionalismo enfatiza a instutição para a explicação dos acontecimentos políticos, e “parte do pressuposto de que as possibilidades da escolha estratégica são deminadas de forma decisiva pelas estruturas políticos-institucionais”. Além disso, os atores políticos são centrais na modificação das estruturas de acordo com suas estratégias e interesses (FREY, 2000). A discussão sobre o neoinstitucionalismo envolveu o debate sobre a fragmentação institucional, à medida que foi verificada as inter-relações das instituições envolvidas na organização da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 no estado de São Paulo, bem como as suas rupturas, incoerências, inconsistências, descoordenação e ineficiência (MARTINS, 2013). A partir do delineamento apresentado na introdução, foi possível estruturar duas questões interdependentes que guiaram a pesquisa: como foi planejada e realizada a gestão de risco na Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 no estado de São Paulo? Como foram conduzidas as articulações intersetoriais e institucionais nesta gestão?

Estas questões podem ser justificadas a partir do momento que os megaeventos esportivos estão em evidência nas políticas públicas de esporte e lazer no Brasil, e na área acadêmico-científica nacional e internacional. A Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 envolveu uma considerável transferência de recursos do setor público em direção ao setor privado. Na Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, por exemplo, os investimentos não podem ser reduzidos aos estádios ou infraestrutura urbana, e existe uma preocupação com o pós-torneiro, que envolve a manutenção e o uso adequado do equipamento, para não serem abandonados futuramente. Além disso, a tese ao trazer dados da gestão de risco econômico, político, social, ambiental e de infraestrutura em diferentes edições da Copa do Mundo da FIFA se configura como original. A discussão de diferentes edições do torneio vai contribuir para o desenvolvimento da produção científica no campo da Educação Física e das políticas públicas no campo do esporte. Além disso, a pesquisa ganha em relevância ao instigar novas pesquisas, ao apresentar dados das edições futuras da Copa do Mundo da FIFA da Rússia, em 2018, e do Catar, em 2022.13

1.1 Objetivo

O objetivo do estudo foi de investigar e analisar a gestão de risco da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 no estado de São Paulo, sobretudo no que tange as ações intersetoriais e interinstitucionais.

1.2 Metodologia

Na presente pesquisa o método utilizado foi o descritivo-interpretativo, com abordagem fundamentalmente qualitativa, com o intuito de compreender o planejamento e a gestão de risco da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 no estado de São Paulo. A escolha da pesquisa qualitativa pode ser justificada por privilegiar a dimensão processual

13 Associa-se a essa justificativa a minha experiência com pesquisas anteriores na graduação na Universidade Estadual de Santa Cruz e mestrado na Universidade Federal do Espírito Santo com a temática das políticas públicas de esporte e lazer, que me permitiu perceber os problemas e indagações no campo dos megaeventos esportivos, atual agenda das políticas públicas de esporte no Brasil. Soma-se a essa experiência o doutorado sanduíche, realizado na University of Southampton, na Inglaterra, entre fevereiro de 2015 e janeiro de 2016, quando foi realizado um levantamento sobre a gestão de risco na Copa do Mundo da FIFA entre os anos de 1994 e 2014.

do conhecimento, no entanto, foram utilizados dados quantitativos como forma de contribuir para a compreensão do fenômeno estudado (MINAYO, 1994). O recorte temporal da pesquisa compreendeu os anos de 2007 a 2015. O período pode ser justificado pela consolidação da agenda política da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014. Em 2007, foi realizado o anúncio oficial do Brasil como sede oficial e o ano de 2015 marcou o pós-torneio. Assim, o recorte temporal selecionado permitiu o processo de avaliação e análise dos resultados alcançados. Os instrumentos metodológicos para coleta seguiram uma triangulação de dados empíricos no campo das políticas públicas em três etapas. Na primeira etapa foi realizada uma análise documental do governo do estado e do município de São Paulo sobre o tema, na tentativa de compreender a instituição e a ação dos agentes sociais: Secretaria Executiva do Comitê Paulista da Copa, coordenadoria geral da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 no estado de São Paulo, responsável pelo documento “Cidade Base: o potencial do Estado de São Paulo para sediar os Centros de Treinamento das Seleções para a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014”; e Comitê Integrado de Gestão Governamental Especial para a Copa do Mundo de Futebol de 2014, responsável pelas ações em âmbito municipal. Foram coletados e analisados os relatórios, plano plurianual, orçamentos, arquivos, programas, projetos, leis, vídeos,14 e outras fontes de dados que embasaram o planejamento e a gestão de risco da Copa do Mundo. Na segunda etapa, constituiu o corpus15 de fontes secundárias da investigação as publicações relacionadas à temática da Copa do Mundo da FIFA nos principais jornais do estado de São Paulo (Folha de S.Paulo e o O Estado de S. Paulo “Estadão”). A análise da mídia impressa nas políticas públicas se configura como uma importante fonte de pesquisa, uma vez que permite a discussão e cobertura de diferentes temáticas. No entanto, por um lado, as políticas editoriais dos jornais podem ter interesses específicos e omitirem acontecimentos, além da possibilidade da escolha de agentes privilegiados para escreverem determinada coluna. Por outro lado, os jornais, são importantes fontes de dados para a compreensão da gestão, a partir do momento que faz um acompanhamento sobre as ações

14 A priori já foi coletado o vídeo produzido pela Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Regional, intitulado “São Paulo na Copa do Mundo FIFA de 2014”. Disponível em: Acesso em: 20 mar. 2012. 15 “O corpus é o conjunto dos documentos tidos em conta para serem submetidos aos procedimentos analíticos. A sua constituição implica, muitas vezes, escolhas, seleções e regras” (BARDIN, 2009, p.122).

políticas em todos os estados que participaram como sede. Por fim, os jornais democratizaram as informações para outros setores da sociedade. Na última etapa foram realizadas entrevistas semiestruturadas (RICHARDSON et al., 1999) com dois atores políticos envolvidos com a gestão da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 em São Paulo. O primeiro gestor entrevistado foi membro da Secretaria Executiva do Comitê Paulista da Copa (gestão estadual), e foi representado na tese como Gestor 1. O segundo gestor entrevistado foi membro do Comitê Integrado de Gestão Governamental Especial para a Copa do Mundo de Futebol de 2014 (gestão municipal), e foi representado na tese como Gestor 2, como forma de manter o anonimato do sujeito entrevistado, conforme exigência do Comitê de Ética e Pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, aprovado em 18 de dezembro de 2012 na Plataforma Brasil, CAAE 05543412.0.0000.5404, parecer nº 182.444. O critério de escolha das duas instituições como área de seleção dos sujeitos da pesquisa se deu por sua atuação mais ativa no desenvolvimento da gestão da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 no estado de São Paulo. Os procedimentos de pesquisa adotados seguiram a seguinte ordem: 1. Contato inicial e entrega das cartas de apresentação da pesquisa (APÊNDICE A); 2. Confecção do roteiro da entrevista (APÊNDICE B); 3. Confecção do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (APÊNDICE C); 4. Levantamento da produção científica sobre os megaeventos esportivos (APÊNDICE D); 5. Carta de aprovação do Comitê de Ética (ANEXO A); 6. Coleta de dados documentais; 7. Entrevista semiestruturada com os gestores; e 8. Organização, tabulação, análise e discussão dos dados. Para interpretação dos dados, a técnica utilizada foi a análise de conteúdo (BARDIN, 2009, p. 44), que corresponde a “[...] um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens indicadores”. A análise de conteúdo foi escolhida por se tratar de uma técnica multiforme, que permite a realização de uma análise qualitativa e inferência de conhecimentos relativos às condições de emissão/recepção destas mensagens. A análise de conteúdo é múltipla e multiplicada, e varia de uso de “cálculo de frequências que fornece dados cifrados, até à extração de estruturas traduzíveis em modelos”. A análise de conteúdo apresenta diferentes abordagens: quantitativa, quando a frequência que surge certas características do conteúdo é tomada em consideração;

qualitativa, quando a presença ou a ausência de uma dada caractéristca de conteúdo é o mais importante; ou qualitativa e quantitativa, quando a análise envolve os dois tipos de abordagens (BARDIN, 2009). A escolha da abordagem varia de acordo com a temática a ser analisada e na presente pesquisa foram utilizados dados prioriatariamente qualitativos. No entanto, no capítulo de discussão da gestão de risco nas diferentes edições da Copa do Mundo da FIFA os dados quantitativos foram fundamentais para guiar a análise de conteúdo. A análise de conteúdo, de acordo com Bardin (2009) tem como objetivo a superação de um olhar imediato, espontâneo, um método de análise que vai além da transformação de um documento primário em um documento secundário. A sistematização da presente pesquisa teve como base a análise temática, que permite a divisão dos temas principais em subtemas ou categorias. Os dados da análise de conteúdo temáticos da gestão de risco envolveram os seguintes subtemas: econômicos; políticos e governamentais; infraestrutura; ambientais e de saúde; segurança. A codificação ou recorte de trechos de textos utilizados na análise aconteceu de acordo com os conteúdos mais significativos, com base na hermenêutica controlada: a inferência. A análise de conteúdo se configura como um dos métodos que ofereceram condições objetivas de utilização, pois permite relacionar os textos com suas respectivas condições de produção, conforme será apresentado nos resultados da pesquisa (BARDIN, 2009). As fases da análise de conteúdo foram organizadas em três polos cronológicos: a pré-análise, que tem como objetivo tornar operacionais e sistematizar as ideias iniciais, ler e escolher a documentação; a exploração do material, que corresponde à fase de aprofundamento na leitura e análise; e o tratamento dos resultados e a inferência (BARDIN, 2009).

1.3 Organização da tese

A tese foi organizada em cinco capítulos. O primeiro capítulo foi a “Introdução” e apresentou o contexto de materialização da agenda política dos megaeventos esportivos no Brasil e como a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 foi incluída como importante política no cenário nacional. Neste capítulo introdutório, também

foi realizada a caracterização da gestão da Copa do Mundo Brasil 2014 no estado de São Paulo e as principais instituições envolvidas. Além disso, foram detalhados os aspectos metodológicos, as fontes de dados utilizadas, o tipo de análise utilizada no decorrer da pesquisa e a estruturação da tese. No segundo capítulo, foi realizada uma análise da “gestão de risco das edições da Copa do Mundo da FIFA entre 1994 e 2014” como forma de construir um cenário favorável e comparativo para discutir o caso específico do Brasil. O capítulo apresenta uma discussão sobre os aspectos econômicos, políticos, sociais, ambientais e de infraestrutura de diferentes edições da Copa do Mundo da FIFA. Por fim, o capítulo encerra com dados e perspectivas para as edições da Copa do Mundo da FIFA Rússia 2018 e Copa do Mundo da FIFA Catar 2022. No terceiro capítulo, foi discutida a “gestão da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014”, com ênfase no panorama mais geral deste megaevento esportivo. Este capítulo foi importante para analisar a gestão do torneio em âmbito nacional, bem como discutir as principais instituições e atores políticos envolvidos, a partir da análise neoinstitucionalista. Para além dos atores e instituições, foram analisadas as legislações relacionadas ao megaevento esportivo, com ênfase na Lei Geral da Copa (LGC), principal marco legal do torneio. Por fim, o capítulo mostra um panorama geral da gestão da Copa do Mundo da FIFA no Brasil e faz uma discussão no cenário pós-megaevento esportivo. No quarto capítulo foi realizada uma análise do planejamento e discussão sobre a gestão de risco da “Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 veio a São Paulo”. Este capítulo apresenta a discussão sobre o planejamento das secretarias estaduais e municipais, bem como as instituições envolvidas, as articulações intersetorias, a descentralização da gestão e o envolvimento da sociedade civil no processo de desenvolvimento do megaevento esportivo. Além disso, foi desenvolvida uma discussão sobre a gestão de risco deste megaevento no Estado de São Paulo, o que abrangeu aspectos econômicos, políticos, sociais, administrativos, ambientais e de segurança. Por fim, o capítulo 5 se refere às “considerações finais”. Nesta seção foi apresentada a síntese sobre a gestão de risco da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, com ênfase no estado de São Paulo. As considerações finais permitiram apontar os principais resultados alcançados e as principais limitações da tese, além de indicar possíveis questões de pesquisas para serem investigadas no futuro.

2 GESTÃO DE RISCO DA COPA DO MUNDO DA FIFA ENTRE 1994 E 2014

Este capítulo teve como objetivo analisar a gestão de risco da Copa do Mundo da FIFA entre as edições de 1994 e 2014. As análises dessas edições do torneio criam um cenário favorável para a discussão do objeto de estudo da tese. O capítulo apresenta dados comparativos que permite discutir a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, sobretudo suas ações no estado de São Paulo. Além disso, os resultados servem como suporte para discussão das edições futuras do torneio como a Copa do Mundo da FIFA Rússia 2018 e a Copa do Mundo da FIFA Catar 2022.

2.1 Copa do Mundo da FIFA

A Copa do Mundo é uma competição internacional da FIFA que acontece a cada quatro anos em diferentes países. A primeira edição da Copa do Mundo foi planejada na França, em 1928, pelo ex-presidente da FIFA Jules Rimet. O primeiro país a ser sede foi o Uruguai em 1930, já que uma crise econômica atingia os países da Europa naquele período, Uruguai foi o último campeão olímpico no futebol em 1928 e o país comemorava 100 anos de sua independência em 1930. O formato do evento era totalmente distinto do que acontece atualmente, não existia eliminatória, e contou com a participação de apenas 13 seleções convidadas. No total, foram jogadas 18 partidas e o sorteio só foi realizado quando todas as seleções chegaram ao país. Após a competição em 1930 a Copa do Mundo passou por um processo de profissionalização e passou a ser disputada em duas fases: a primeira fase eliminatória; e a segunda fase competição (FIFA, 2014a). Quando a Copa do Mundo da FIFA foi iniciada existiam diversos riscos de gestão. Os principais riscos daquele período estavam relacionados: a dificuldade no transporte das seleções nacionais até o torneio; e presença de guerra mundial no período de realização das eliminárias e do torneio. No contexto de guerra, pode-se destacar a suspenção da Copa do Mundo da FIFA de 1942 e de 1946 devido a Segunda Guerra Mundial. Desde a edição de 1930, a FIFA tem realizado um rodízio na realização da Copa do Mundo entre a América Latina e a Europa. O rodízio foi definitivamente

finalizado após a Copa do Mundo da FIFA Estados Unidos 1994, quando a FIFA objetivou difundir o torneio em diferentes lugares do mundo. Destacam-se a Copa do Mundo da FIFA Japão e Coréia do Sul 2002 na Ásia e a Copa do Mundo da FIFA África do Sul 2010 como processo do fim do rodízio entre a América Latina e a Europa. A expansão do torneio para diversos continentes consolida o futebol espetáculo inserido dentro de um processo de globalização e mercantilização da Copa do Mundo da FIFA (FIFA, 2014a). Outra alteração importante no megaevento esportivo foi iniciada na edição da Copa do Mundo da FIFA França 1998, quando o torneio passou a ser disputado entre 32 seleções. A edição da Copa do Mundo da FIFA Estados Unidos 1994 foi a última edição organizada com a participação de 24 seleções. A edição da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 se manteve no formato de 32 seleções e a FIFA já indicou que continuará no mesmo formato nas edições da Copa do Mundo da FIFA Rússia 2018 e da Copa do Mundo da FIFA Catar 2022 (FIFA, 2014b). A Copa do Mundo da FIFA corresponde a um evento sediado em uma área geográfica determinada, por um ou dois países, em diferentes cidades-sede. O país e a cidades-sede precisam garantir uma infraestrutura esportiva adequada aos padrões da FIFA, bem como uma infraestrutura urbana adequada em função da realização do megaevento esportivo. A infraestrutura esportiva corresponde às arenas ou estádios de futebol, enquanto que a infraestrutura urbana envolve a construção, reforma e ampliação de transporte público, aeroportos, portos e tecnologia. No formato atual, a Copa do Mundo inclui atividades culturais, mercantis, financeiras e industriais. De acordo com Damo (2012) a Copa do Mundo da FIFA promove:

[...] grande impacto local, sendo este concreto e imaginário, imediato e prolongado, estimulante e deletério, defensável e contestável e assim por diante. A disposição de sediá-la implica constrangimentos, convencimentos, barganhas, pressões, interesses confessos e escusos, enfim, trata-se de algo que extrapola os pontos de vista maniqueístas (DAMO, 2012, p.47).

A Copa do Mundo da FIFA, com o avanço da tecnologia e do processo de globalização passou a apresentar um caráter mercantil e de gestão de risco, ao envolver instituições esportivas nacionais e internacionais, diferentes esferas do governo municipal, estadual e federal, parceiros e patrocinadores nacional e internacional, rede de televisão

nacional e internacional, além de instituições da sociedade civil, já que existe o uso de investimento e de financiamento público. A Copa do Mundo da FIFA apresenta um potencial de conciliação de agendas políticas e cooperação entre diferentes atores políticos, o que afeta diversos aspectos da vida da população que sedia o torneio, como a habitação, o trabalho, o transporte, a legislação e os impostos. A Copa do Mundo da FIFA tem buscado grandes centros urbanos como Estados Unidos em 1994, França 1998, Japão e Coreia do Sul em 2002, Alemanha 2006, e recentemente tem buscado países em desenvolvimento como a África do Sul em 2010, Brasil em 2014 e Rússia em 2018. A Copa do Mundo da FIFA tem sido associada a potencialização de benefícios para as cidades-sede em um modelo empreendedor. De acordo com Harvey (1989) os empreendedores urbanos têm associado a realização de grandes eventos esportivos internacionais como uma ferramenta para a melhoria e renovação das cidades-sede. A associação entre a realização de uma Copa do Mundo da FIFA e as melhorias nas cidades-sede apresenta elevado risco de gestão, à medida que requer negociação e consenso dos organizadores, governos e população local.

2.2 Gestão de Risco na Copa do Mundo da FIFA

O Fórum de Economia Mundial (World Economic Forum) por meio do relatório de Riscos Globais para 2014 (Global Risks 2014) selecionou 31 riscos mais incidentes para serem efetivamente administrado dentro do planejamento das políticas públicas e pelo setor privado ao redor do mundo. O Fórum foi organizado por diversas universidades e pesquisadores ao redor do mundo e em 2014 chegou à sua nona edição (RISCOS GLOBAIS, 2014). Os riscos mais incidentes no Fórum de Economia Mundial no ano de 2014 foram: econômicos (crises fiscais, falha de mecanismo financeiro ou institucional, crise líquida, desemprego e subemprego, choque petrolífero, falta de infraestruturas críticas e declínio da importância do dólar norte-americano); geopolítica (falha de governança global, o colapso do estado, a corrupção, o crime organizado, o tráfico ilícito, ataque terrorista, armas de destruição em massa, os conflitos interestaduais e nacionalização econômica de recursos); ambientais (eventos climáticos extremos, catástrofes naturais, catástrofes

ambientais provocadas pelo homem, a perda de biodiversidade e colapso do ecossistema, crises de água e as mudanças climáticas); riscos sociais (crises alimentares, pandemia, as doenças crônicas, a disparidade de renda, bactérias resistentes aos antibióticos, má gestão da urbanização e instabilidade política e social); e tecnológicos (infraestrutura de informação crítica, colapsos tecnológicos, os ciber-ataques, fraude de dados/roubo) (RISCOS GLOBAIS, 2014). Os riscos indicados no relatório Global Risks 2014 tem contribuido sinificativamente no levantamento de riscos de gestão que os governos de diversos países do mundo precisam lidar a cada ano. A gestão de risco também tem sido uma das preocupações dos megaeventos esportivos como os Jogos Olímpicos e a Copa do Mundo da FIFA. De acordo com Jennings (2012), os Jogos Olímpicos envolvem diferentes tipos de riscos, os quais afetam a tomada de decisão das instituições internacionais organizadoras, governos-sede e sociedade civil. Os principais riscos são: a) financeiros e econômicos; b) políticos e governamentais; c) de infraestrutura; d) de saúde e meio ambiente; e) de segurança e proteção; f) do esporte e sua administração; e h) de operações e organização. Os riscos financeiros e econômicos associados com a governança dos Jogos Olímpicos estão entre os mais visíveis, com diversas estimativas de impactos e avaliações de impactos após a realização do megaevento esportivo (JENNINGS, 2012). Os riscos políticos e governamentais estão relacionados à organização dos Jogos Olímpicos e suas consequências para as cidades-sede, e esta categoria tende a ser menos quantificável que os riscos financeiros e econômicos. O apoio político e governamental tem sido um dos critérios definidos para a candidatura das cidades-sede, de acordo com o Comitê Olímpico Internacional (COI). Além disso, os incidentes diplomáticos e os conflitos geopolíticos têm sido um dos principais limites para a realização dos Jogos Olímpicos, com destaque para a Guerra Fria (JENNINGS, 2012). Os riscos de infraestrutura são fundamentais para a realização dos Jogos Olímpicos. A infraestrutura corresponde às instalações, sistemas, lugares e redes necessárias para a prestação de serviços nos setores de comunicação, saúde, transporte, alimentação, energia, água e governo (JENNINGS, 2012). Os riscos de saúde e meio ambiente são perigos representativos para a organização dos Jogos Olímpicos bem como para dar origem aos riscos sociais. Os riscos

ambientais são imprevistos, tais como as condições climáticas extremas e os impactos ao meio ambiente (JENNINGS, 2012). Após as incertezas financeiras e econômicas, os riscos de segurança e proteção são a principal preocupação dos organizadores, meios de comunicação de massa e do público de forma geral. Pode-se destacar a ameaça de ataques terroristas, crimes locais, segurança dos espectadores, dentre outros (JENNINGS, 2012). Existem ainda riscos do esporte e sua administração, tal como a preocupação relacionada ao processo de competição bem como aos problemas associados ao doping, o que pode gerar escândalos quando ocorre o teste positivo (JENNINGS, 2012). A última categoria corresponde aos riscos operacionais e organizacionais, associados com o COI e o governo local, de entregar no prazo todos os locais de competição, cumprir o orçamento e garantir o padrão dos serviços de acordo com as expectativas dos atletas e dos organizadores. Os principais riscos operacionais e organizacionais são a cerimônia de abertura e as falhas na transmissão das competições (JENNINGS, 2012). Os riscos de gestão podem ser ameaças endógenas (internas) e exógenas (externas). Os riscos endógenos são: a diminuição da receita de direitos de transmissão e patrocínio; a gestão de ticket de entrada e das mutidões; a gestão de projetos e prazos; a segurança em canteiros de obras; o apoio do público da cidade-sede; o terrorismo; a dopagem; a governança; os ciber-ataques nos websites oficiais; políticas olímpicas. Enquanto que os riscos exógenos são: os desastres naturais; a poluição; os acidentes de transporte; a desordem pública; a continuidade de água e fontes de alimentação; o terrorismo internacional; as condições econômicas globais; as doenças infecciosas; o conflito militar; as flutuações nas taxas de câmbio e os preços de commodities (JENNINGS, 2012). Dessa forma, pode-se afirmar que os megaeventos esportivos apresentam planejamento complexo, e pode trazer um volume desproporcional de inceretezas e riscos. Além disso, cada vez mais tem aumentado a pressão para realizar as medidas dos perigos da gestão, uma vez que existe uma discussão sobre o cálculo do custo e benefício social, econômico, político, ambiental e de segurança. A gestão dos riscos associados aos megaeventos esportivos inclui: 1. Perigos e identificação do tratamento, que envolve o mapeamento de todos os riscos de gestão; 2. Avaliação de risco, que diz respeito à

estimativa de probilidade dos perigos; e 3. A propriedade dos riscos, que identifica a competência instituicional em que o risco se insere (JENNINGS, 2012). A análise da gestão de risco tem sido mais comum nas edições dos Jogos Olímpicos em detrimento da Copa do Mundo da FIFA. Destacam-se as pesquisas de Toohey e Taylor (2008), Jennings e Lodge (2011), Jennings (2012) que analisam a gestão de risco dos Jogos Olímpicos e apenas uma pesquisa de Cabral e Silva Junior (2003) que analisou a gestão de risco sobre as arenas e estádios de futebol na Copa do Mundo da FIFA. No entanto, não foram encontradas pesquisas científicas que aplicaram o quadro teórico da gestão de risco nas análises relacionadas à Copa do Mundo da FIFA. Dessa forma, surgiu o interesse de aplicação deste quadro teórico nas edições da Copa do Mundo da FIFA, entre 1994 e 2014, uma vez que os megaeventos esportivos apresentam semelhanças na sua gestão. Para atingir o objetivo foi criada uma metodologia de análise de gestão de risco a partir do relatório “Global Risks 2014” e das categorias de riscos dos Jogos Olímpicos (JENNINGS, 2012), conforme Tabela 1. Ao analisar a Copa do Mundo foi possível a realização da discussão entre os riscos nos países emergentes membros do BRICS e os riscos nos países desenvolvidos, uma vez que as edições recentes da Copa do Mundo da FIFA foram sediadas na África do Sul e Brasil, e a próxima edição será realizada na Rússia, país também membro do BRICS. Nos Jogos Olímpicos não é posssível realizar a análise entre os países desenvolvidos e emergentes, já que o único país membro do BRICS que sediou o megaevento foi a China em 2018.

Tabela 1 Categorias de riscos em megaeventos esportivos Financeiros e Políticos e Infraestrutura Saúde e meio Segurança Esporte e sua Operacional e econômicos governamentais ambiente e proteção adiministração organizacional -Previsões e -Boicotes -Tempo de -Lesões e -Terrorismo -Doping -Venda de suposições políticos conclusão do doenças -Crime (ex: -Juízes e tickets orçamentárias - Mudanças de projeto -Poluição roubos, arbitragem -Gestão de -Variação na governo ou -Tecnologia -Contaminação violência) -Resultados e multidões taxa de câmbio colapso -Água e de terra -Desordem arbitragem -Acreditação -Preços de -Crise militar suprimentos de -Desastres pública -Participação -Serviço VIP commodities e -Protestos energia naturais (ex: -Controle -Pontuação, -Mídia fornecimento -Renúncias de -Rede de terremotos, de resultados e -Força de -Condições funcionário transportes enchentes, multidões sistema de trabalho econômicas público eleito e -Capacidade avalanches e Ex: barreira tempo. -Sistema de nacionais e burocracia dos aeroportos ondas de calor). de venda de hotelaria globais (Ex: - Reputação de -Fraudes tickets, -Contrato legal crise financeira governo e -Interrupções de evacuações. -Escala e global) organizações redes -Lesões de complexidade -Marketing de -Disputas espectadore do megaevento emboscada16 trabalhistas s ou atletas esportivo

16 Marketing de Emboscada corresponde a qualquer tentativa, por parte de uma entidade não autorizada, de explorar a imagem de um determinado megaevento esportivo. Na Copa das Confederações da FIFA Brasil 2013 e na Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 o governo brasileiro garantiu a exclusividade da FIFA e de suas instituições parceiras em explorar os lucros com as competições.

-Cancelamento -Legados -Ataques sociais e cibernéticos econômicos -Acidentes com veículos Fonte: JENNINGS, 2012

Os riscos selecionados para serem investigados na presente pesquisa foram: 1) Riscos econômicos, com ênfase no impacto econômico, impacto no Produto Interno Bruto (PIB) e existência ou não de inflação de custos dos projetos; 2) Riscos políticos e governamentais, com destaque para a existência ou não de remoção forçada de famílias das suas casas, frequência dos protestos e as convicções ou não sobre a corrupção; 3) Risco de infraestrutura, com ênfase na construção, reforma ou ampliação da infraestrutura esportiva e infraestrutura urbana; 4) Riscos Ambientais e de saúde, principalmente o aspecto morte de operários nas construções de infraestrutura e o aspecto impacto no meio ambiente; e 5) Riscos de segurança, com ênfase no terrorismo e no plano de segurança do torneio. A escolha dos riscos de gestão para a análise foi selecionada de acordo com os temas mais incidentes nos documentos e meios de comunicação de massa sobre a Copa do Mundo da FIFA, os quais permitiram uma análise das diferentes edições do torneio entre 1994 e 2014. Os riscos apresentam uma variação em cada edição de um megaevento esportivo, uma vez que os países ou cidades-sede têm contextos econômicos, políticos, sociais, ambientais e tecnológicos específicos. Para a presente discussão sobre a gestão de risco da Copa do Mundo, foi realizada uma análise de dados sobre o tópico em documentos oficiais da FIFA e dos governos, revistas científicas e jornais que realizaram a cobertura sobre a temática. A discussão dos dados envolveu a diferença de riscos entre os países considerados desenvolvidos que sediaram o torneio (Estados Unidos, França, Japão/Coreia do Sul e a Alemanha) e os países emergentes, participantes do BRICS (Brasil e África do Sul)17, entre 1994 e 2014, já que este período marca o período de expansão do torneio para diferentes continentes e permite o debate dos últimos 20 anos. Vale ressaltar que a realização da discussão sobre a gestão de risco em diferentes edições da Copa do Mundo da FIFA serve de suporte para um aprofundamento da discussão sobre a gestão de risco na Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, sobretudo no estado de São Paulo.

17 BRICS (Brazil, Russia, India, China and South Africa) é a sigla de um grupo político formado por cinco países, Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Em 16 de junho de 2009 foi iniciado o BRIC e em 14 de abril de 2011 a África do Sul foi aceita e expandiu o número de países que cooperam entre si em prol do desenvolvimento econômico e a sigla oficial passou a ser BRICS.

Reportou-se recentemente um aumento significativo dos países emergentes em sediarem os megaeventos esportivos como a Copa do Mundo da FIFA e os Jogos Olímpicos (GIULIANOTTI; KLAUSER, 2010), com destaque para os países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). O Brasil sediou a Copa do Mundo da FIFA de 2014 e será sede dos Jogos Olímpicos Rio 2016. A Rússia sediou os Jogos Olímpicos de Inverno Sochi 2014 e vai sediar a Copa do Mundo da FIFA de 2018. A Índia sediou os Jogos da Commonwealth de 2010. A China sediou os Jogos Olímpicos Pequim 2008 e a África do Sul sediou a Copa do Mundo da FIFA de 2010. As recentes edições da Copa do Mundo, nos países do BRICS demonstra o interesse da FIFA em explorar os mercados emergentes em desenvolvimento (GRIX, 2012).

2.2.1 Riscos Econômicos

A primeira análise realizada está relacionada aos riscos econômicos e a discussão dos dados envolveu três aspectos da gestão: o impacto econômico; o impacto no Produto Interno Bruto (PIB); e a existência ou não de inflação de custos (comparação entre o custo inicial planejado e o custo final). Os riscos econômicos são os mais difíceis de serem mensurados, já que existem diferentes modelos metodológicos de análises (anterior e posterior aos megaeventos esportivos). Durante a análise dos riscos econômicos foi comum encontrar dados contraditórios publicados em artigos científicos, reportagens de jornais que realizam a cobertura da temática, e relatórios oficiais da FIFA e documentos dos governos que foram sede do torneio, o que dificultou a análise dos dados econômicos. Os megaeventos esportivos selecionados para análise foram datados entre a Copa do Mundo da FIFA Estados Unidos 1994 e a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, período este em que o torneio foi sediado por países de diferentes continentes. No entanto, foi utilizada informação das edições futuras da Copa do Mundo da FIFA Rússia 2018 e da Copa do Mundo da FIFA Catar 2022 (Tabela 2). No primeiro aspecto analisado foi evidenciado que o impacto econômico da Copa do Mundo da FIFA tem variado de US$ -9.3 bilhões na edição de 1994 para US$ 12 bilhões na edição de 2006 (Tabela 2).

Tabela 2 Impactos econômicos e PIB da Copa do Mundo da FIFA de 1994 para 2014 Megaevento Referências Patrocinador Método Data Impacto PIB (%) esportivo da pesquisa- Econômico Fonte Copa do (GOODMAN; Governo Anterior 1994 US$ 4 - Mundo da STERN, 1994) bilhões FIFA Estados (BAADE; Independente Posterior 1994-2004 US$ -9.3 - Unidos 1994 MATHESON, bilhões 2004) (RAPOZA, Independente Posterior - - 1,4% 2011; ACCENTURE, 2011) Copa do (DAUNCEY; Independente Posterior 1998-1999 - 0,1% Mundo da HARE, 1999) FIFA França (ACCENTURE, Independente Posterior 1999 - 1,3% 1998 2011) Copa do (FINER, 2002) Independente Anterior 2001 US$ 24.8 0.6% Mundo da bilhões (Japão) FIFA Japão e 2.2% Coreia do Sul US$ 8.9 (Coreia) 2002 bilhões

(HORNE; Independente Posterior 2002-2004 - -0,1% MANZENREIT (Japão) ER, 2004) 3.2% (Coreia) (CHADWICK, Independente Posterior 2014 US$ 9 - 2014) bilhões 0,3% (ACCENTURE, Independente Posterior 2003 - (Japão) 2011) 3,1% (Coreia) Copa do (CHADWICK, Independente Posterior 2014 US$12 - Mundo da 2014) bilhões FIFA Alemanha 2006 (RAPOZA, Independente Posterior - - 1,7% 2011) Copa do (THORNTON, Independente Anterior 2004 U 1.5% Mundo da 2004) FIFA África do S$ 2.7 Sul 2010 bilhões18 Independente Posterior 2014 US$ 5 (CHADWICK, bilhões 2014)

Copa do US$ 13.4 Mundo da (ROLLI; Independente Posterior 2014 bilhões19 0,6%

18 O impacto econômico foi de R 21.3 bilhões rands, o que equivale a 2.7 bilhões de dólares. Considerou-se a cotação do dia da abertura da Copa do Mundo da FIFA África do Sul 2010, em 12 de junho de 2010, quando 1 dólar americano estava equivalente a 7,7 rand sul-africano. 19 O impacto econômico foi de R$ 30 bilhões de reais, o que equivale a 13.4 bilhões de dólares. Considerou- se a cotação do dia da abertura da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, em 12 de junho de 2014, quando 1 dólar americano estava equivalente a 2,2 real brasileiro.

FIFA Brasil FRAGA, 2014) 2014 Fontes: Documentos oficiais, artigos científicos e reportagens dos meios de comunicação de massa.

Os impactos dos megaeventos esportivos sobre a economia nacional envolvem a venda de ingressos, direitos de transmissão, a criação de empregos, bem como a demanda por hospedagem e alimentação (AHLERT, 2006). O impacto econômico positivo da Copa do Mundo da FIFA foi identificado em cinco das seis edições investigadas. O impacto econômico negativo foi reportado em apenas uma edição da Copa do Mundo da FIFA Estados Unidos 1994, única edição do torneio em que foi realizada uma análise econômica em longo prazo, com dados publicados dez anos após o torneio, no ano 2004. O impacto negativo na edição da Copa do Mundo da FIFA Estados Unidos 1994 está relacionado a diferentes fatores. Em primeiro lugar, destacou-se a diferença de dólares entre ganhos e perdas de renda. Em segundo, pode-se destacar o declínio de renda ao invés do aumento esperado. Em terceiro lugar, o torneio teve um impacto negativo global na economia das cidades-sede. A Tabela 2 mostra que o impacto econômico pode ser considerado de baixo risco para a gestão da Copa do Mundo da FIFA, no entanto, apesar do frequente impacto econômico, a gestão do torneio tem levando disversas discussões sobre os impactos políticos e sociais negativos, conforme serão discutidos no decorrer da presente tese. A Copa do Mundo da FIFA Alemanha 2006 corresponde ao modelo de megaevento esportivo com significante impacto econômico positivo. O efeito econômico positivo do torneio na economia nacional envolveu aproximadamente US$ 12 bilhões (CHADWICK, 2014), cerca de 1,7% do PIB (RAPOZA, 2011). Em outras pesquisas complementares e de médio prazo, foi afirmado que o PIB na Alemanha aumentou cerca de US$ 288.2 milhões (€ 246 milhões) em 2003 para US$ 530.9 milhões (€ 420 milhões) em 2010 (AHLERT, 2006).20 No caso da análise de dados da Copa do Mundo da FIFA Alemanha 2006, ambas as pesquisas foram realizadas posteriormente à realização do torneio e indiciaram que o megaeveno esportivo pode ter efeito positivo para a economia do país ou cidades-sede.

20 Considerou-se a cotação do dia da abertura da Copa do Mundo da FIFA Alemanha 2006, em 08 de junho de 2006, quando 1 dólar americano estava equivalente a 0,79 euros.

A Tabela 2 mostra a diferença entre pesquisas realizadas anterior e posteriormente (ex e post21) à realização do megaevento esportivo, o que possibilita a análise dos resultados esperados e os resultados alcançados. A Copa do Mundo da FIFA Japão e Coreia do Sul 2002, marcou o primeiro megaevento esportivo organizado por dois países, além de ter marcado a primeira Copa da Ásia. Segundo Finer (2002), um dos resultados esperados da Copa do Mundo da FIFA Japão e Coreia do Sul 2002 era aumentar em US$ 24,8 bilhões na economia japonesa, cerca de 0,6% do PIB e aumentar em US$ 8,9 bilhões na economia sul-coreana, cerca de 2,2% do PIB. No entanto, os resultados alcançados de acordo com Chadwick (2014) foram insignificantes, isto é, um pequeno aumento de US$ 9 bilhões em ambos os países, sendo que o Japão teve um decréscimo de - 0.1% PIB e a Coreia do Sul teve um acréscimo de cerca de 3,2% no PIB. Estes dados evidenciam a superestimação do impacto econômico positivo do megaevento esportivo antes da sua realização do mesmo em comparação com os resultados alcançados posteriormente. No caso da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 foi verificado um impacto econômico de R$ 30 bilhões com a realização do torneio, o que corresponde a um crescimento do PIB em 0,6% (ROLLI; FRAGA, 2014). Sobre a discussão do impacto econômico na Copa do Mundo da FIFA no Brasil, Proni (2013) afirma que o aprofudamento da crise econômica mundial causou mudanças significativas no cenário de realização do torneio. Desde 2011 existe um cenário de desaceleração do crescimento econômico e os investimentos privados foram retraídos. O investimento de recursos financeiros, sobretudo do setor privado, poderia influenciar positivamente na economia do país. No entanto, no caso brasileiro, ocorreu justamente o oposto, o Estado assumiu um papel central no financiamento do torneio, o que diminuiu o investimento de recursos públicos em outras áreas como a saúde, educação, lazer, moradia e assim por diante. Os investimentos com a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 representaram cerca de 5% do valor dos investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e os empréstimos do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) concedidos para a construção de arena e estádios de futebol para o torneio correspondem a 3% do financiamento anual da instituição. Dessa maneira, os investimentos nos equipamentos

21 “Os modelos ex ante podem não fornecer estimativas confiáveis sobre o impacto econômico de um megaevento. Um modelo ex post pode ser útil no fornecimento de filtro por meio dos quais as promessas feitas pelos impulsionadores do evento podem ser tensas" (BAADE; MATHESON, 2004, p.346).

esportivos não são capazes de gerar uma crise econômica em um país estável como o Brasil, no entanto, os governos estaduais e principalmente os municipais devem se atentar com os riscos de endividamento (PRONI, 2013). O impacto econômico negativo do megaevento esportivo foi relatado em apenas uma edição da Copa do Mundo da FIFA, no torneio realizado nos Estados Unidos, no ano de 1994, quando o impacto econômico positivo foi de US$ 4 bilhões no anor de realização do torneio (GOODMAN; STERN, 1994), mas as cidades-sede perderam nos anos seguintes entre US$ 5.5 bilhões para US$ 9.3 bilhões em prejuízos com os investimentos relacionados ao torneio. Esta edição da Copa do Mundo nos Estados Unidos marca o primeiro torneio realizado fora da Europa e da América Latina (BAADE; MATHESON, 2004). Não existem diferenças significativas no impacto econômico e no crescimento do PIB entre os países desenvolvidos e os países emergentes na realização de uma Copa do Mundo da FIFA. O modelo mais positivo e o modelo mais negativo foram identificados nas edições da Copa do Mundo da FIFA nos países desenvolvidos, mais específico nas edições dos Estados Unidos em 1994 e da Alemanha em 2006. O modelo mais positivo e negativo no que se refere ao PIB foi reportado em uma mesma edição da Copa do Mundo da FIFA, organizada por dois países, Japão, quando o PIB teve um decréscimo de -0,1% e Coréia do Sul, quando teve um significativo acréscimo do PIB em 3,2%. A Tabela 2 comprova que existe um impacto econômico positivo e um crescimento do PIB, para o país e cidades-sede no ano de realização do megaevento. No entanto, não existem evidências suficientes que comprovam o impacto econômico do torneio nos anos seguintes à realização do megaevento esportivo. No caso da Copa do Mundo da FIFA Estados Unidos 1994 foi o único registro de pesquisa realizada que avalia o impacto econômico em longo prazo e os dados analisados indicam a existência de riscos de gestão no que diz respeito ao aspecto econômico. A inflação de custos foi outro risco econômico de gestão recorrente referente à realização de um megaevento esportivo. As principais razões para a inflação de custos de um megaeprojeto como a Copa do Mundo da FIFA estão relacionadas à ausência de planejamento adequado, orçamento incompleto, reavaliação e desvalorização da moeda (Tabela 3).

Tabela 3 Inflação de custos da Copa do Mundo da FIFA, de 1994 para 2018. Megaevento Esportivo Inflação de Detalhes Fonte(s) Custo Copa do Mundo da - Custo total: - para US$1 bilhão BAADE; MATHESON, FIFA Estados Unidos (1994) 2004) 1994

Copa do Mundo da 66% Custo total: US$ 326 milhões (DAUNCEY, 1999; FIFA França 1998 ou ₣1.6 bilhão (1995) para US$ SZYMANSKI, 2002) 445 milhões ou ₣2.67 bilhões (1999)22 Copa do Mundo da - Custo total: - para US$ 500 (ANDREFF, 2003; FIFA Japão e Coreia do 32% milhões (2002) SLOAN, 2002) Sul 2002 Custo dos estádios: US$ 1,3 bilhão (Coreia do Sul) e US$ 4.6 bilhões (Japão) para US$ 2.5 billhões (Coreia do Sul) e - US$ 5 bilhões (Japão). Custo dos estádios: US$5.9 bilhões (1995) para US$ 7.5 bilhões (2002) Infraestrutura: - para 750 billhões de yen (US$ 5.6 bilhões) (2002)

Copa do Mundo da 73% Custo total: US$ 3,1 bilhões (FIFA 2004; FIFA Alemanha 2006 (€3 bilhões)23 (1999) para US$ SKRENTNY, 2001; 6,5 bilhões (€5.2 bilhões) GERMANY, 2006) (2006)24 Infraestrutura: US$ 1.67 bilhão (€1.6 bilhão) (1999) para US$ 4,6 bilhões (€3.7 bilhões) (2006) Custo dos estádios: US$ 1,46 bilhão (€1.4 bilhão) (1999) para US$ 1,8 bilhões (€ 1.5 bilhão) (2006) Copa do Mundo da 1608% Custo total: US$286 milhões (R (COTTLE, CAPELA e FIFA África do Sul 2,3 bilhões) (2006) para US$5.1 MEIRINHO, 2013; 2010 bilhões (R 39,3 bilhões) (2010) COATES, 2010).

Copa do Mundo da 42% Custo total: US$ 9,2 bilhões (BRASIL, 2015a) FIFA Brasil 2014 (R$ 18 bilhões) (2007)25 para US$ 11,4 bilhões (R$ 25,6 bilhões) (2014)26. Custo dos Estádios: US$ 2,6 bilhões (R$ 5,1 bilhões) (2007) para US$ 3,1 bilhões (R$

22 Considerou-se a cotação do dia do mês de abertura da Copa do Mundo da FIFA França 1993 e 1998, quando 1 dólar americano equivalia respectivamente 4,9 franco francês em 1993 e 6,0 franco francês em 1998. 23 A cotação de 1 dólar americano equivalia 0,95 euros em 08 de junho de 1999 24 A cotação de 1 dólar americano equivalia 0,79 euros em 08 de junho de 2006 25 A cotação de 1 dólar americano equivalia 1,9 real brasileiro em 12 de junho de 2007 26 A cotação de 1 dólar americano equivalia 2,2 real brasileiro em 12 de junho de 2014

7,09 bilhões) (2014). Copa do Mundo da 265% Custo total: US$11.8 bilhões (GOLUBKOVA, 2015; FIFA Rússia 2018 (2010) para US$43 bilhões ASSOCIATED PRESS, (Expectativa) 2013). Fontes: Documentos oficiais, artigos científicos e reportagens dos meios de comunicação de massa.

Com base na Tabela 3 é possível afirmar que a inflação de custos foi evidente em todas as edições da Copa do Mundo da FIFA. O aumento entre as estimativas de gastos dos projetos inciais e o custo final do megaevento tem sido significativo. A edição com a maior inflação de custo foi a Copa do Mundo da FIFA África do Sul 2010, a estimativa de custo inicial foi calculada em US$ 286 milhões (R 2,3 bilhões) e o custo total final foi de aproximadamente US$ 5,1 bilhões (R 39,3 bilhões), um aumento de 1,608%. As empresas de construção na África do Sul (Aveng, Murray & Roberts, Group Five, Wilson Bayly Casas-Ovcon-WBHO e Basil Read) foram todas investigadas devido às suspeitas de corrupção e aumento de custos, no entanto, não existem evidências sobre a corrupção até o momento de análise destes dados, mas as investigações continuam em processo (MEIRINHO, 2013; COATES, 2010). Por outro lado, a edição da Copa do Mundo com menor inflação de custos foi a Copa do Mundo da FIFA Japão e Coreia do Sul 2002, com 32% de aumento entre o plano incial e os gastos finais (ANDREFF, 2003; SLOAN, 2002). A edição da Copa do Mundo da FIFA Brasil foi a segunda com a menor inflação de custos, com 42% de aumento, levando-se em consideração a Matriz de Responsabilidades da Copa original27. A legislação brasileira no que diz respeito às obras públicas não permite inflação de custos acima de 50% do orçamento (BRASIL, 2014e). Foi verificada, no caso brasileiro, uma relação entre os atrasos das obras e a inflação de custos dos projetos da Copa do Mundo, uma vez que a necessidade de terminar a obra gera um sobrefaturamento da infraestrutura a ser construída. Se a análise for realizada a partir do plano incial, a inflação de custos no caso brasileiro pode ser ainda maior, e o aumento foi de aproximadamente 285%, de acordo com os dados do Senado Nacional do Brasil (BRASIL, 2014b). Para além da inflação de custos, o planejamento previa nove estádios prontos até dezembro de 2012, para a realização da Copa das Confederações da FIFA Brasil 2013, e

27 A matriz de responsabilidades é um documento que detalha os investimentos da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014. O documento define o papel dos governos federal, estaduais, municipais e distrital, bem como do setor privado, na liberação de recursos e execução das obras (BRASIL, 2014e).

apenas três estádios ficaram prontos dentro do prazo (O Estádio Governador Plácido Castelo, Castelão; Estádio Governador Magalhães Pintos, Mineirão; e Estádio Nacional de Brasília, Mané Garrincha). Os indícios de corrupção e superfaturamento, bem como os atrasos nos prazos para finalizar as arenas e os estádios de futebol para torneio foram os principais motivos da inflação de custos dos equipamentos esportivos (CHADE, 2011). A tendência para as edições futuras da Copa do Mundo da FIFA, conforme Tabela 3 é continuar a inflação de custos dos projetos relacionados ao torneio. Sobre a Copa do Mundo da FIFA Rússia 2018, foi estimado em 2010 que a inflação de custos poderá chegar a 265% até 2018. A expectativa sobre a inflação de custos na Rússia foi estabelecida antes do início das construções dos estádios de futebol e da infraestrutura das cidades-sede (GOLUBKOVA, 2015; ASSOCIATED PRESS, 2013). Com base na Tabela 3 é possível afirmar que a inflação de custos corresponde a um risco recorrente de gestão da Copa do Mundo da FIFA, e não existem diferenças significativas entre a inflação de custos dos países desenvolvidos e países emergentes que fazem parte do BRICS. A edição com maior inflação de custos ocorreru na Copa do Mundo da FIFA África do Sul 2010, quando foram indicados 1,608% e a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 foi a segunda edição com menor inflação de custos. Em todas as edições do torneiro foram evidenciados acréscimos dos custos dos projetos, o que indica que a FIFA tem superestimado os benefícios econômicos e os governos têm subestimados os custos da realização de uma Copa do Mundo, conforme discutido por Gratton, Shibli e Coleman (2006) ao pesquisar os Jogos Olímpicos. O uso de recursos públicos e financiamento público tem sido evidente, apesar de não existir evidência significativa sobre os benefícios econômicos ao país afitrião.

2.2.2 Riscos Políticos e Governamentais

A segunda análise realizada está relacionada aos riscos políticos e governamentais, o que envolveu a análise sobre a remoção forçada de famílias, protestos contra a Copa do Mundo da FIFA, bem como as suspeitas e convicções sobre a corrupção. De acordo com Jennings (2012), a probabilidade de riscos políticos e governamentais ligados à organização do torneio são critérios importantes para a FIFA selecionar o país como sede do torneio.

A remoção forçada de pessoas das suas casas tem sido frequente em diferentes megaeventos esportivos. No entanto, nas cidades-sede com grande número de construções de infraestruturas esportivas (arenas ou estádios de futebol) e de infraestrutura urbana (aeroporto, mobilidade urbana e portos) apresentam maior incidência nas remoções forçadas.

Figura 1 Remoção Forçada na Copa do Mundo da FIFA entre 1994 e 2014

Fontes: Documentos oficiais, artigos científicos e meios de comunicação de massa.

Entre as edições analisadas da Copa do Mundo da FIFA o maior número de remoção forçada de pessoas das suas casas ocorreu na Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014. O número total envolveu cerca de 25.000 mil pessoas em 12 cidades-sede em todo o País, de acordo com dados levantados pela Articulação Nacional de Comitês Populares da Copa (ANCOP). Além disso, os movimentos sociais do Brasil reportaram, durante o período de preparação para o megaevento esportivo, violações do direito à habitação, bem como um processo despejo arbitrário (ANCOP, 2014). De acordo com Butler e Aicher (2015) a remoção forçada no Brasil foi realizada principalmente nas favelas, com o objetivo de construir as obras para a Copa do

Mundo da FIFA Brasil 2014. As obras variaram de construções de hotéis e restaurantes até contruções, reforma e expansão da infraestrutura urbana, arenas e estádios de futebol. As famílias que moravam na Favela do Metrô, próximo ao Macaranã, por exemplo, deixaram suas casas de forma forçada após mandato do governo. Na cidade de Recife, 68 famílias da favela São Franscico foram atingidas pela remoção forçada, para darem espaço para a expansão do transporte público e mobilidade urbana da cidade. As remoções forçadas no Brasil ocorreram com os pagamentos abaixo do valor real das casas e com as ameaças aos moradores. A ANCOP lutou contra a violação do direito à moradia e contra o capital imobiliário. Os movimentos sociais (composto por movimento estudantil, associações de moradores, ONGs etc.) que formam a ANCOP se organizaram e fizeram um levantamento do número de pessoas atingidas nas cidades-sede da Copa do Mundo da FIFA. Por fim, foi escrito um relatório nacional com dados sobre os desdobramentos da Copa do Mundo no Brasil, o que envolveu pautas sobre o meio ambiente, leis trabalhistas, acesso à informação, corrupção, mobilidade urbana e segurança pública (AMARAL et al., 2014). De acordo com Kfouri (2011, D5) o país estava se mobilizando, desde 2011, contra a violação dos direitos, quando foram intensificadas as construções de obras para a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014. As mobilizações ganharam força e destaque nos meios de comunicação de massa a partir do momento que houve “ocupações à força, desapropriações com pagamentos abaixo do valor das moradias, ameaças, tudo sob quase absoluto silêncio da imprensa em geral, mas, menos mal, não nas comunidades em particular”. A edição da Copa do Mundo da FIFA África do Sul 2010 foi a segunda edição com maior número de remoções forçadas reportadas desde o ano de 1994. De acordo com Raghaven (2010) e Gibson (2010) cerca de 20.000 mil pessoas foram prejudicadas e tiveram que sair de sua casa devido às construções dos equipamentos esportivos e infraestrutura urbana para a primeira Copa do Mundo na África. Rolnik (2010) acrescenta que na Copa do Mundo da FIFA África do Sul 2010 o projeto de moradias N2 Gateway prejudicou os moradores do assentamento informal de Joe Slovo, o que gerou uma realocação para áreas mais pobres da cidade, sem nenhuma infraestrutura básica.

Em duas edições da Copa do Mundo da FIFA foram reportadas remoções forçadas em menor número do que nas edições do Brasil e da África do Sul. Na edição da Copa do Mundo da FIFA Japão e Coreia do Sul 2002 os relatórios indicaram 300 remoções forçadas. Na edição da Copa do Mundo da FIFA Estados Unidos 1994 foram reportadas mais 300 remoções forçadas de pessoas das suas casas. De acordo com o Harvey (2006) os megaeventos esportivos como a Copa do Mundo da FIFA e os Jogos Olímpicos são eventos de acumulação de capital, em que os pobres tendem a sofrer com a remoção forçada e os ricos tendem a concentrar mais riquezas. Em outras duas edições do torneio não foram descritas remoções forçadas de pessoas das suas casas, especificadamente na Copa do Mundo da FIFA França 1998 e na Copa do Mundo da FIFA Alemanha 2006. Na França, só foi construído um estádio, o State de France, enquanto que na Alemanha foram construídos sete estádios de futebol. Os relatórios das duas edições do torneio em que não foram reportadas remoções forçadas de pessoas das suas casas indicaram uma infraestrutura esportiva adequada precedente a realização da Copa do Mundo, com arenas e estádios de futebol no padrão FIFA, já utilizada nos campeonatos locais. A Copa do Mundo da FIFA Alemanha 2006 envolveu na sua organização o governo nacional e os governos locais, empresas públicas e privadas, universidades, escolas, meios de comunicação e sistemas de transporte público. Apesar dos relatórios indicarem uma infraestrutura urbana adequada na Alemanha, antes da realização da Copa do Mundo da FIFA, pode-se destacar que houve discussões, questionamentos, contradições e críticas sobre as ações relacionadas ao torneio, o que é comum nas sociedades democráticas. Por fim, pode-se afirmar a partir dos dados da Figura 1 que as remoções forçadas de pessoas das suas casas são mais frequentes em edições da Copa do Mundo realizada nos países emergentes, que fazem parte dos BRICS, com destaque para o Brasil e a África do Sul. Esses países têm em comum a necessidade de construções de um número maior de novos equipamentos esportivos e melhoria da infraestrutura urbana antes da realização do torneio. Os dados apresentados na tabela servem de suporte para discutir a próxima edição da Copa do Mundo da FIFA Rússia 2018, que será sediada em outro país

membro do BRICS, e que pode apresentar riscos semelhantes às edições da África do Sul e do Brasil. A confirmação de que as remoções forçadas de pessoas das suas casas são recorrentes nos países emergentes pode ser encontrada na edição dos Jogos Olímpicos Pequim 2008, quando foi relatado aproximadamente 1,25 milhões de pessoas despejadas forçadamente das suas casas devido às construções relacionadas ao megaevento esportivo (COHRE, 2007; REYNOLDS, 2008). Por outro lado, o Comitê de Construção Municipal de Pequim, defendeu-se de tais números e afirmou que a remoção forçada de pessoas das suas casas atingiu apenas 14.901 (REYNOLDS, 2008). As remoções forçadas estão ligadas a outras ameaças da gestão de risco da Copa do Mundo da FIFA, especificadamente ao risco de protestos devido à violação do direito à moradia. A Tabela 4, sobre os protestos nas edições da Copa do Mundo, entre 1994 e 2014, mostra diferentes razões que motivaram as ações dos movimentos sociais. Destacam-se o movimento antiglobalização, os protestos contra a inflação de custo dos projetos da Copa do Mundo, a gestão inadequada dos fundos públicos destinados a construção de arenas e estádios de futebol, as supeitas e convicções de corrupção da FIFA e dos governos.

Tabela 4 Protestos na Copa do Mundo da FIFA de 1994 para 2014 Megaevento Protestos Fontes(s) esportivo Copa do Mundo da Os protestos não foram reportados na edição da Copa do - FIFA Estados Unidos Mundo nos Estados Unidos. A edição americana do torneio 1994 operou com sua própria infraestrutura esportiva e urbana. Copa do Mundo da Na Copa do Mundo da FIFA França 1998 foi reportada greve (DAUNCEY; FIFA França 1998 do transporte público e um processo contra a Copa do Mundo HARE, 1999) em diferentes aspectos do megaevento esportivo. Copa do Mundo da Os protestos não foram mencionados na edição da Copa do - FIFA Japão e Coreia Mundo organizada pelo Japão e Coreia do Sul. do Sul 2002 Copa do Mundo da Os protestos não foram reportados na edição da Copa do - FIFA Alemanha Mundo na Alemanha. 2006 Copa do Mundo da A população sul-africana realizou diferentes protestos e RAGHAVEN, FIFA África do Sul durante o megaevento esportivo foi reportado o uso da Copa 2010; 2010 do Mundo como veículo para protestos políticos. As principais GIBSON, razões foram à inflação de custos dos projetos relacionados ao 2010; VEITH, megaevento esportivo e a gestão dos fundos públicos para a 2010 construção de arenas e estádios de futebol. Copa do Mundo da Milhões de brasileiros em mais de doze estados sedes da Copa ANCOP, FIFA Brasil 2014 do Mundo da FIFA fizeram protestos nas ruas contra a FIFA e 2014 o investimento público dos governos nas novas arenas e estádios de futebol. Uma semana antes da abertura do megaevento esportivo foi reportado greves em diferentes

setores da sociedade. Além disso, foi relatada repressão policial aos movimentos sociais e agressão aos manifestantes e repórteres nacionais e internacionais. Fonte: Documentos oficiais, artigos científicos e reportagens dos meios de comunicação de massa.

No total, foram analisadas seis edições da Copa do Mundo da FIFA e em três edições os protestos não foram incidentes. Os protestos não foram mencionados na Copa do Mundo da FIFA Estados Unidos 1994, Copa do Mundo da FIFA Japão e Coreia do Sul 2002 e Copa do Mundo da FIFA Alemanha 2006. O ponto em comum nas três edições do torneio foi à realização do torneio em países desenvolvidos, com infraestrutura urbana no padrão exigido pela FIFA no processo de candidatura. Na Copa do Mundo da FIFA França 1998 foi mencionada no relatório a greve nos transportes públicos, bem como um sentimento antiglobalização e anti Copa do Mundo contra diferentes aspectos do torneio. No entanto, os protestos foram gradualmente diminuindo durante o megaevento esportivo, especialmente com o sucesso da equipe nacional da França. A equipe nacional anfitriã terminou o torneio como campeã do mundo, com uma vitória sobre o Brasil, com um placar de 3 a 0 (DAUNCEY; HARE, 1999). No caso da Copa do Mundo da FIFA África do Sul 2010, os protestos reportados tiveram como alvo a lavagem de dinheiro e as suspeitas de corrupção. A África do Sul tem cerca de 40% da população abaixo da linha de pobreza e a inflação de custos dos projetos relacionados ao torneio foi uma das principais razões que motivaram os protestos no país. Cerca de 3.000 pessoas marcharam contra a FIFA e o governo, com o slogan "Get out FIFA mafia!". Além disso, as greves em diferentes setores da sociedade foram incidentes, com destaque para os comissários de bordo e os motoristas de ônibus (RAGHAVEN, 2010; GIBSON, 2010; VEITH, 2010). Antes da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 teve um grande número de protestos, com maior incidência durante a Copa das Confederações da FIFA Brasil 2013. Os protestos em junho 2013 tiveram como objetivo chamar a atenção para as despesas do governo com a Copa do Mundo, a inflação de custos dos projetos, os encargos fiscais e o uso de fundos públicos de forma inadequada para a construção de arenas e estádios de futebol. As pessoas foram às ruas para protestar e fizeram passeatas contra a FIFA com o slogan principal "FIFA go home" e “Não vai ter Copa” (ANCOP, 2014). O slogan “Não vai ter Copa” foi compreendido como o risco para a FIFA, que chegou a ameaçar o governo brasileiro. No entanto, de acordo com os movimentos sociais o

significado do “Não vai ter Copa” vai além do que o termo pode passar a princípio, já que a Copa das Confederações da FIFA Brasil 2013 foi realizada, mas os protestos ocuparam as principais páginas dos jornais do mundo. Os protestos foram o centro das atenções e o torneio chegou a ser nomeada pelos movimentos sociais e meios de comunicação de massa como “Copa das Manifestações”, em que parte da população brasileira foi para as ruas lutar pelos seus direitos. De acordo com Safatle (2014) a função da copa “era completar a narrativa política da transformação nacional apelando ao acolhimento do olhar estrangeiro”. No entanto, não houve copa, já que outra imagem do país foi mostrada, o brasileiro passou de torcedor no “país do futebol” ao manifestante consciente dos seus direitos. Os protestos chamaram a atenção dos meios de comunicação de massa nacional e internacional, e expressou para o mundo as dificuldades do Brasil no que diz respeito à garantia de acesso aos direitos sociais. Os movimentos sociais clamaram por mais investimentos em áreas prioritárias como educação, saúde, moradia e segurança. As mobilizações contra a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 se estenderam até o ano de 2014, mas em menor número se for comparar com o ano de 2013 (ANCOP, 2014). Os protestos evidenciaram a arena política (FREY, 2000) na preparação da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, uma vez que não existe um concenso sobre os investimentos públicos na construção das arenas ou estádios de futebol. Além disso, a partir da análise da arena política foi possível afirmar que de um lado aparecem os vencedores e os que lucram com a realização do megaevento esportivo como a FIFA, os patrocinadores e os governos, e de outro os perdedores ou prejudicados com as ações políticas, como as famílias que correm o risco de remoção forçada, gentrificação próximo das construções e o a população de forma geral, que financia grande parte do torneio com recursos públicos. Somados aos protestos, houve greve dos operários nas construções do Estádio Mineirão, Estádio do Maracanã e da Itaipava Arena Fonte Nova, além de ameaça de diferentes greves e paralisações uma semana antes de começar a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014. A possibilidade de greve de policiais no torneio fez o Governo Federal do Brasil ir à justiça, já que a LGC garante segurança para a FIFA e em caso de desordem, a União indenizará por danos causados por distúrbios (KATTAH, RESKALLA, 2011; MAIA, 2011; COELHO, 2014). No Estádio do Mineirão, o Governo Federal do Brasil classificou como oportunista e no caso da paralisação do Estádio do Maracanã, o Tribunal Regional do Trabalho do Rio (TRT-RJ) exigiu retomanda dos trabalhos e considerou

abusiva, já que os operários estavam parados há 17 dias (KATTAH, RESKALLA, 2011; MAIA, 2011). A Tabela 4 mostra que os protestos são mais comuns em edições da Copa do Mundo realizadas em países emergentes em comparação com os países desenvolvidos. Nas duas edições do torneio nos países do BRICS (Brasil e África do Sul) os protestos foram mais incidentes do que nos países desenvolvidos. O déficit de acesso aos direitos como saúde, habitação, educação, e segurança, bem como a gestão dos fundos públicos em direção ao setor privado foram às razões centrais que motivaram os protestos contra a FIFA e os governos responsáveis pela realização da Copa do Mundo. O risco de protesto tem sido intensificado quando existem violações do direito à moradia (risco anteriormente discutido) e alegações ou convicções sobre a corrupção no país sede (risco discutido na próxima seção da tese), como no caso da África do Sul e do Brasil. A corrupção relacionada aos megaeventos esportivos ganhou mais ênfase no ano de 2015, quando foram intensificadas as investigações de corrupção da FIFA. O Federal Bureau of Investigation (FBI) realizou um grande número de condenações sobre a corrupção e prendeu um número de cartolas do alto escalão da FIFA. A população brasileira compreende os investimentos direcionados para a Copa do Mundo da FIFA como um desperdício de recursos públicos e as suspeitas de corrupção mobilizaram desagradaram parte dos cidadãos, que mobilizaram contra a entidade internacional e o governo brasileiro. Por fim, os protestos no Brasil estão relacionados ao descontentamento e a desilusão do brasileiro com o sistema político bem como os partidos políticos que não cumpriram suas promessas de campanha (LUCENA, 2013). A Tabela 5 apresenta apenas as convicções sobre a corrupção da FIFA e nesta seção é importante destacar as investigações e acusações de corrupção da FIFA no ano de 2015. O FBI e o Departamento de Justiça dos Estados Unidos publicaram um relatório que prenderam nove funcionários com grande poder político dentro da FIFA e mais cinco executivos de empresas em maio de 2015. As prisões ocorreram após alegações e investigações sobre a corrupção em contratos de diferentes edições da Copa do Mundo da FIFA.

Tabela 5 Corrupção nas edições da Copa do Mundo da FIFA de 1994 para 2014 Megaevento esportivo Convicções de Corrupção Fonte(s)

Copa do Mundo da As convicções de corrupção não foram reportadas - FIFA Estados Unidos nesta edição da Copa do Mundo. 1994 Copa do Mundo da Foi relatado pelo FBI o pagamento de propina para a (GIBSON e FIFA França 1998 realização da Copa do Mundo da FIFA França 1998. LEWIS, 2015; FBI 2015). Copa do Mundo da As convicções de corrupção não foram comprovadas - FIFA Japão e Coreia nesta edição da Copa do Mundo. do Sul 2002 Copa do Mundo da Foi noticiado um escândalo da FIFA nesta edição do (RICHAMAN, FIFA Alemanha 2006 torneiro, quando a Alemanha enviou para a Arábia HURREY e Saudita lançadora de granadas em troca de apoio BROWN, 2015; para sediar a Copa do Mundo. FBI 2015). Copa do Mundo da Foi relatado um pagamento de US$ 10 milhões de (THOMAS, 2015; FIFA África do Sul propina para ajudar a Associação de Futebol Sul- GIBSON e LEWIS, 2010 Africana (South African Football Association) a 2015; FBI, 2015). assegurar o direito de sediar a Copa do Mundo FIFA 2010. Além disso, foi relatada a corrupção na venda de ingressos. Copa do Mundo da Foi reportado a operação chamada "Jules Rimet" que (ANCOP, 2014; FIFA Brasil 1994 levou 11 prisões e mais de 50000 telefonemas GIBSON, 2014; grampeados. Ray Whelan, executivo do grupo de FBI, 2015). empresas foi preso por corrupção na venda de ingressos e as investigações sobre essa edição continuam em processo. Além disso, José Maria Marin, membro da FIFA e ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) foi preso em 2015. Fontes: Documentos oficiais, artigos científicos e reportagens dos meios de comunicação de massa.

A corrupção na Copa do Mundo da FIFA França 1998 foi comprovada depois de 17 anos de realização do torneio, quando foi reportado pelo FBI, no ano de 2015, o pagamento de suborno em troca de apoio para realização do megaevento esportivo (GIBSON; LEWIS, 2015). Em 2015, o FBI reportou, ainda, o escândalo de corrupção no processo de licitação da Copa do Mundo da FIFA Alemanha 2006. De acordo com o jornal Die Zeit o governo alemão ao "enviar a Arábia Saudita lançadores de granadas" teve a intenção de receber o apoio para ganhar o processo de licitação da Copa do Mundo da FIFA. Além disso, as empresas Volkswagen Alemanha e Bayer prometeram envolver altos níveis de investimentos no Extremo Oriente. Além disso, a Daimler Companhia investiu US$ 138,1 milhões (£75 milhões)28 na empresa de automóveis sul-coreana Hyundai, em troca do apoio recebido (RICHAMAN; HURREY; BROWN, 2015). Na edição da Copa do Mundo da FIFA Alemanha 2006, o Vice da FIFA, Jack Warner, de Trinidad e Tobago, foi acusado de corrupção, por revenda ilegal de ingresso. Os

28 A cotação de 1 dólar americano equivalia 0,5 libra esterlina em 08 de junho de 2006

lucros chegaram a US$ 1 milhão e na Alemanha Jack Warner só recebeu uma multa e foi obrigado a devolver o dinheiro (ARRUDA, 2009). Nas edições da Copa do Mundo da FIFA África do Sul 2010 e da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 foram comprovados um esquema de corrupção na venda de ingressos nos dois países (GIBSON; LEWIS, 2015). Na África do Sul foi alegado o pagamento de um suborno no valor de $ 6.5 milhões a partir de uma conta da FIFA como caminho para ganhar apoio e votos para assegurar a Copa do Mundo na África (FBI, 2015). No Brasil uma investigação chamada "Operação Jules Rimet" prendeu 11 pessoas e grampeou cerca de 50000 telefonemas. Raymond Whelan, diretor-executivo da empresa Match foi preso por corrupção na venda de ingressos e as acusações envolveram as Copas do Mundo na África do Sul e no Brasil. O diretor-executivo foi acusado de forncecer ingressos do megaevento esportivo para serem vendidos por uma quadrilha internacional de cambistas. A acusação incluiu no processo de denúncia: organização criminosa, corrupção ativa, cambismo, sonegação e lavagem de dinheiro. A Operação “Jules Rimet” inciou em 01 de julho de 2014 e em 03 de Julho de 2014, o Ministério Público do Rio revelou conexão de Raymond Whelan, com Lamine Fofana, considerado o maior cambista do mundo (GIBSON, 2014; BRITO; MARTINS, 2014). Além disso, José Maria Marin, atual membro da FIFA e ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) foi preso no ano de 2015 após as investigações do FBI. José Maria Marin foi o sucessor de Ricardo Texeira e ambos foram substituídos do seu cargo após denúncias de corrupção, o que confirma a CBF como entidade a ser investigada e com diveras suspeitas de corrupção (GIBSON, 2014). Apesar das alegações e convicções sobre a corrupção nas práticas administrativas da FIFA a entidade tem promovido uma image como um “símbolo de esperança e integração”. A FIFA tem tentado passar os princípios de fair play, tolerância, espírito esportivo e transparência. O ápice da tentativa da FIFA de promover a integração foi a organização da partida entre Israel e Palestina, nos Estados Unidos, para mostrar “que o futebol pode ter sucesso de integração em lugares que a política não pode” (TOMLISON, 2014). Apesar da tentativa da FIFA de melhorar a sua imagem, a corrupção foi um risco recorrente nos meios de comunicação de massa na edição da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014. Desde a escolha dos 25 integrantes do Comitê Exectutivo da FIFA, o jornal a

Folha de S.Paulo chamou a atenção para o tópico. Os cartolas escolhidos para o Comitê são marcados por escândalos de corrupção, dos 25 integrantes, apenas um era brasileiro, Ricardo Teixeira. Dentre os integrantes vários já sofreram acusações de ilegalidade financeira e os casos variam de desfalques milionários a desvios de ingressos (Jack Warner, de Trinidade e Tobaco), venda de camisas falsificadas da empresa Adidas (Rafael Salgueiro, da Guatemala) e enriquecimento pessoal (Grondona, da Argentina). Os integrantes do Comitê tem papel importante durante a realização de uma Copa do Mundo da FIFA, já que são reponsáveis, por exemplo, pela escolha das cidades-sede do torneio (ARRUDA, 2009). As alegações sobre a corrupção foram incidentes nas edições da Copa do Mundo da FIFA, no entanto, só tornaram públicas e convictas após as investigações do FBI. Com base na Tabela 5 é possível afirmar que em todos os países emergentes (Brasil e África do Sul) que sediaram o torneio as convicções sobre a corrupção foram frequentes. No que se refere aos países desenvolvidos, foram reportadas convicções de corrupção na França e na Alemanha, o que comprova que a Copa do Mundo da FIFA tem sido também associada à corrupção em países desenvolvidos. O FBI continua as investigações contra a FIFA e os governos que sediaram a Copa do Mundo da FIFA e a proposta da instituição é realizar a prisão de todos os envolvidos no esquema de corrupção dos funcionários da FIFA.

2.2.3 Riscos de Infraestrutura

A infraestrutura é um aspecto importante da gestão de risco de um megaevento esportivo, à medida que articula o setor público e o setor privado, bem como instituições internacionais e nacionais. Sediar um megaevento requer equipamentos esportivos adequados (arenas e estádios de futebol no caso da Copa do Mundo da FIFA ou equipamentos esportivos para diversos esportivos no caso dos Jogos Olímpicos), além de uma infraestrutura urbana adequada (aeroportos, portos, transporte público e tecnologia) no paíse ou cidades-sede. A infraestrutura é fundamental para o desenvolvimento de um megaevento esportivo e inclui serviços como tecnologia, energia, alimentos e água. A ausência de infraestrutura é um risco incidente no que diz respeito à imagem do país-sede

responsável por organizar o torneio, sobretudo em países em desenvolvimento, que apresentam diversos problemas sociais. No caso da Copa do Mundo da FIFA a infraestrutura esportiva se limita as construções, reformas ou ampliações de arenas ou estádios de futebol. O número de equipamentos esportivos nas diferentes edições do torneio tem variado entre nove a 12 arenas ou estádios de futebol por edição, conforme a Figura 2. A única exceção foi encontrada na edição da Copa do Mundo da FIFA Japão e Coréia do Sul 2002, quando foram utilizados 20 estádios de futebol (dez em cada país).

Figura 2 Número de estádios da Copa do Mundo da FIFA de 1994 para 2022

Fonte: Documentos oficiais, artigos científicos e reportagens nos meios de comunicação de massa.

Ao analisar o planejamento futuro das próximas duas edições da Copa do Mundo da FIFA, Rússia em 2018 e Catar em 2022, foi reportada a mesma tendência no que diz respeito ao número de estádios das edições anteriores do torneio, com um total de 12 arenas ou estádios de futebol. A FIFA exige um mínimo de nove arenas ou estádios de futebol desde a edição da Copa do Mundo da FIFA França 1998, quando o novo formato de 32 equipes foi estabelecido. A FIFA tem exigido um estádio com capacidade de 80.000 assentos para o jogo de abertura e para a final do torneio. Para as semifinais a FIFA requer a capacidade da

do equipamento esportivo com pelo menos 60.000 assentos e para os demais jogos do torneio pelo menos 40.000 assentos (TRANSPARENCY, 2011). No que diz respeito ao custo com as arenas e os estádios de futebol, o Brasil quebrou o recorde. De acordo com levantanto realizado com base em relatórios oficiais, na Copa do Mundo da FIFA França 1998 o custo foi de US$ 2,8 bilhões. Na Copa do Mundo da FIFA Japão e Coreia do Sul 2002 o investimento foi de US$ 2,0 bilhões. Na Copa do Mundo da FIFA Alemanha 2006 investiu US$ 1,8 bilhão. Na Copa do Mundo da FIFA África do Sul 2010 investiu US$ 2,2 bilhões. Na Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 foi investido mais de US$ 3,0 bilhões, o que quebrou o recorde de custos relacionados às edições anteriores. No entanto, as estimativas de gastos com equipamentos esportivos na Copa do Mundo da FIFA Rússia 2018 vai quebrar o recorde, com investimento previsto em US$ 3,8 bilhões, enquanto que na Copa do Mundo da FIFA Catar 2022, estima-se US$ 3,0 bilhões (CHADE, 2010). A gestão das arenas e estádios de futebol tem sido um risco frequente para os governos que sediaram a Copa do Mundo, bem como para a FIFA. Os riscos de gestão dos equipamentos esportivos também se estendem ao cidadão local, à medida que os mesmos são se configuram como o responsável por pagar via impostos os custos de uma arena ou estádios de futebol que venha a ser subutilizado. Os meios de comunicação de massa nacional e internacional têm realizado cobertura sobre o uso do equipamento após o torneio. O campo científico-acadêmico tem analisado a viabilidade da construção ou reforma de uma arena ou estádio de futebol para a realização de uma Copa do Mundo da FIFA. Em geral, as construções destes estádios demandam financiamento público e privado, e após o torneio pode ser gerenciado pelo setor público ou privado ou público- privado. O risco mais incidente está relacionado ao uso das arenas ou estádios de futebol após o megaevento esportivo, com o objetivo de não se tornarem “elefantes brancos”, ou seja, grande construção com pouco uso e com custos contínuos para o estado. O conceito de “elefante branco”, de acordo com Alm et al. (2014, p.1) tem origem nos países asiáticos e se refere a "um empreendimento muito caro, e seus custos associados ultrapassam significativamente o seu valor em uso diário". Em outras palavras, são construções públicas valiosas, dependentes dos recursos financeiros estatais, desproporcionais ao custo e com subutilização após um determinado evento. No caso da

presente pesquisa o termo “elefante branco” está relacionado aos estádios ou arenas de futebol. A Figura 2 mostra a diferença principal entre o risco de subutilização dos equipamentos esportivos entre os países emergentes e os países desenvolvidos. As construções de equipamentos esportivos nos países desenvolvidos são baixas se comparado com o número de arenas e estádios de futebol construídos nos países emergentes, como a África do Sul e o Brasil. No grupo de países desenvolvidos, a edição da Copa do Mundo da FIFA Estados Unidos 1994 usou um número total de nove estádios de futebol, e nenhum novo equipamento esportivo foi construído. As arenas e estádios de futebol nos Estados Unidos foram adaptados para sediarem o torneio. Na Copa do Mundo da FIFA França 1998 foi utilizada dez arenas ou estádios de futebol, incluindo cinco remodelados e apenas um foi construído, o State de France (PLAY THE GAME, 2014). Na Copa do Mundo da FIFA Japão e Coreia do Sul 2002 a gestão foi realizada entre os dois países, o que torna a análise mais complexa devido às diferentes leis e burocracias de cada país. Na Coréia do Sul foram construídos dez novos estádios e no Japão foram construídos sete novos estádios de futebol e três outros foram remodelados (HORNE; MANZENREITER, 2004). Embora o Japão e a Coreia do Sul integrem o grupo de países desenvolvidos, não existem relatos de infraestrutura esportiva de qualidade para o futebol antes da realização do megaevento esportivo. Além disso, não existem no Japão e na Coreia do Sul, campeonatos nacionais de futebol estruturados e com grande suporte de torcedores. Assim, no caso do Japão e da Coreia do Sul, por ser organizada por duas diferentes burocracias se configura como uma edição que deve ser avaliada separadamente. Outro exemplo de megaevento esportivo com infraestrutura esportiva de qualidade foi reportado na Copa do Mundo da FIFA Alemanha 2006, quando foram utilizados doze estádios de futebol, oito existentes e apenas quatro reformados. Além disso, nesta edição do torneio, pode-se destacar o fato da Alemanha ter um Campeonato Nacional de Futebol estruturado, com times tradicionais e com grande número de torcedores (GERMANY, 2006). A Copa do Mundo da FIFA nos países emergentes tem uma organização diferente dos países desenvolvidos. Na Copa do Mundo da FIFA África do Sul 2010, por exemplo, foram utilizados 10 estádios de futebol, o que incluiu a construção de seis novos estádios e uso de dois estádios já existentes antes dos preparativos para o torneio. No caso

da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 foi utilizado doze equipamentos esportivos, seis novas arenas ou estádios de futebol e as outras seis foram reformadas. Ao analisar os projetos das próximas edições do torneio, na Copa do Mundo da FIFA Rússia 2018 12 estádios serão utilizados, o que inclui sete estádios novos no planejamento, e os outros três estádios serão reformados. É importante destacar que dois estádios de futebol atendem ao padrão da FIFA e já são existentes, a Kazan Arena e Estádio Olímpico (ambos foram utilizados nos Jogos Olímpicos de Inverno Sochi 2014 e estão aptos para receber o megaevento esportivo). Na Copa do Mundo da FIFA Catar 2022 não existe arenas ou estádios de futebol no padrão FIFA, e serão utilizados 12 equipamentos esportivos, dentre os quais oitos estão planejados para serem construídos e outros quatro serão reformados e expandidos. Por fim, a Figura 2 indica que nas edições da Copa do Mundo da FIFA em países emergentes foi construído ou reformado um número maior de arenas e estádios de futebol em comparação com as edições do megaevento esportivo nos países desenvolvidos. Dessa forma, o risco de atrasos nas obras e o uso de recursos públicos são mais incidentes em países emergentes, do que em países desenvolvidos devido à necessidade de reforma ou construção de novas instalações esportivas. Outro risco está relacionado ao uso do estádio de futebol após o megaevento esportivo, especialmente em países sem um Campeonato Nacional de Futebol estruturado como o Japão e a Coreia do Sul ou em regiões de países com baixa média de público nas arenas e estádios de futebol e grandes incertezas como no caso brasileiro nas cidades de Manaus, Brasília e Cuiabá, conforme será discutido e aprofundado no capítulo seguinte. A gestão de risco associado com as construções de arenas e estádios de futebol tem sido de responsabilidade dos governos que foram sedes da Copa do Mundo da FIFA. As escolhas das sedes dependem da viabilidade econômica do projeto no pós-torneio, o que pode variar entre baixa e alta incerteza de riscos (CABRAL; SILVA JR. 2013). De acordo com Garcia e Rodriguez (2001) o uso adequado das arenas ou estádios de futebol pós o torneio depende de diferentes fatores, como a estrutura do campeonato local, qualidade e reconhecimento do público sobre os jogadores, as condições climáticas, a cultura local sobre o futebol, bem como se os jogos do campeonato são transmitidos ao vivo na televisão e noticiados diariamente nos meios de comunicação de

massa. Estes fatores são de grande relevância para o equipamento esportivo não se tornar um “elefante branco” (GARCIA; RODRIGUEZ, 2001). Na Copa do Mundo da FIFA Estados Unidos 1994 foi reportada uma adequada infraestrutura urbana antes da realização do megaevento esportivo e não foi necessária construções e reformas de aeroportos (FIFA, 1994). Na edição da Copa do Mundo da FIFA França 1998 foi descrita no relatório oficial ferrovias francesas adequadas, especialmente a do Train à grande Vitess (TGV) ou trem de alta velocidade. Sobre os aeroportos foi mencionada uma infraestrutura apropriada e o aeroporto de Bordeaux registrou 50 mil viagens extras em Junho, no período de realização do megaevento esportivo (DAUNCEY; HARE, 1999). Na Copa do Mundo da FIFA Japão e Coreia do Sul 2002 foram construídos uma conecção no transporte urbano entre as vinte cidades japonesas e coreanas. Os dados coletados indicaram uma eficaz ligação no transporte entre as cidades-sede no Japão. Apesar do sistema de transporte urbano criado nas cidades-sede, os relatórios do torneio indicaram uma ineficiente conexão entre as cidades japonesas e as cidades estrangeiras (HAHN, 2002). A Copa do Mundo da FIFA Alemanha 2006 operou com o seu próprio sistema de transporte, estações ferroviárias regionais e aeroportos. Durante o torneio a infraestrutura do transporte envolveu “rotas de trens de alta velocidade e ligações de autoestradas nas regiões da Alemanha ao longo das doze cidades da Copa do Mundo” (GERMANY, 2006, p.5). Apesar da qualidade da mobilidade urbana na Alemanha, o Governo Federal do Brasil investiu em torno de US$ 4,6 bilhões (3.7 bilhões de euros) em rotas, o que incluiu a expansão de aproximadamente 370 km de autoestradas (GERMANY, 2006). Na Copa do Mundo da FIFA África do Sul 2010 foi reportada a construção e a expansão do transporte público. No total, sete aeroportos (O.R. Tambo, Cape Town, King Shaka, Bloemfontein, Port Elizabeth, George e East London) foram reformados ou expandidos antes do megaevento esportivo. Os investimentos de 2006 até 2010 foram direcionados à Companhia de Aeroportos da África do Sul (Airports Company South Africa), com aproximadamente US$ 2.2 bilhões (R17 bilhões) (AIRPORTS, 2010). No caso da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 foi possível identificar nos documentos as descrições sobre as extensões, reformas e construções de novas linhas de

metrô, Veículos Leves sobre Trilhos (VLTs), estradas, duplicação de avenidas, Bus Rapid Transit (BRT) ou sistema de linhas exclusivas para ônibus em diferentes cidades-sede. Por fim, pode-se enfatizar que as mudanças no transporte público antes dos megaeventos esportivos objetivaram criar uma ligação entre o centro da cidade, aeroporto e estádios de futebol (BRASIL, 2014a). No total, aproximadamente R$ 11.3 bilhões foram investidos entre 2011 e 2014 na expansão, reforma e construção de aeroportos. O Aeroporto Internacional de Guarulhos, o Aeroporto Internacional de Campinas (Viracopos), o Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro, o Aeroporto Internacional de Brasília, o Aeroporto Internacional de Confins (Tancredo Neves), o Aeroporto Internacional de Porto Alegre (Salgado Filho), o Aeroporto Internacional Afonso Pena (Curitiba), o Aeroporto Internacional de Cuiabá, o Aeroporto Internacional de Fortaleza, o Aeroporto Internacional de Guararapes (Recife), o Aeroporto Internacional de Salvador e o Aeroporto Internacional de Manaus foram reformados ou expandidos. Somente o Aeroporto do Estado do Rio Grande do Norte (São Gonçalo do Amarante na cidade de Natal) foi construído. As reformas e construções dos novos aeroportos, no Brasil, aumentaram aproximadamente 70 milhões a capacidade de passageiros por ano, o que pode ser considerado de grande desenvolvimento, já que os aeroportos no Brasil estavam executando voos com um número acima da capacidade permitida (AGÊNCIA ESTADO, 2014). Apesar do abandono de diversas obras prometidas e do atraso nas obras de infraestrutura urbana, o Brasil não apresentou caos nos aeroportos ou problema na logística do evento. Os principais jornais do mundo, New York Times, Al Jazeera, Wall Street Journal, The Guardian e The Telegraph destacaram na segunda semana da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, que o país apresentou infraestrutura adequada para receber o megaevento esportivo e que não foram reportados grandes problemas de mobilidade urbana (SÁ, 2014). Vale ressaltar que os dados da Copa do Mundo na África do Sul e no Brasil apresentam similaridades, sobretudo no que diz respeito à infraestrutura para receber o megaevento esportivo. Ambos os países têm largas economias regionais, na África e na América do Sul, além de apresentarem largo mercado informal e de serem países emergentes, membros do BRICS (Brazil, Russia, India, China and South Africa). Por fim,

muitos países ao redor do mundo questionaram se a África do Sul e o Brasil poderiam ou não sediar uma Copa do Mundo da FIFA (BUTLER; AICHER, 2015). Para finalizar, os dados apresentados até o momento permitem afirmar que existem diferenças significativas na infraestrutura e na organização da Copa do Mundo da FIFA nos países desenvolvidos e emergentes. Nos países emergentes o custo financeiro com infraestrutura urbana e esportiva é mais elevado do que em países desenvolvidos, que apresentam infraestrutura esportiva e urbana adequada para receber o torneio, o que torna os riscos menores. Os megaeventos esportivos organizados pelos países do BRICS como o Brasil e África do Sul passaram por diferentes reformas e construções nas cidades-sede, com o objetivo de adaptar e melhorar a infraestrutura para receber a Copa do Mundo da FIFA e os expectadores. Para a Copa do Mundo da FIFA Rússia 2018 existe uma expectativa de investimentos de larga escala no que diz respeito à infraestrutura esportiva e urbana das cidades-sede.

2.2.4 Riscos Ambientais e de Saúde

O meio ambiente e a saúde também são riscos de gestão relacionados aos megaeventos esportivos e podem impactar a vida das pessoas. Para analisar os riscos desta seção, em um primeiro momento, foi realizado um levantamento do número de trabalhadores mortos nas construções das arenas e estádios de futebol entre 1994 e 2014, bem como discutidas as condições de trabalho e saúde destes operários (Figura 3). Em um segundo momento, foi analisado o impacto ambiental e ações sustentáveis relacionadas as obras de diferentes edições da Copa do Mundo da FIFA, a partir do ponto de vista da discussão da gestão de risco.

Figura 3 Morte de operários na Copa do Mundo da FIFA entre 1994 e 2014

Fontes: Documentos oficiais, artigos científicos e reportagens dos meios de comunicação de massa.

O número de mortes de operários nas construções de estádios tem sido um assunto recorrente da gestão de risco e dos meios de comunicação de massa, tanto nacional quanto interancional, durante o período preparatório da Copa do Mundo da FIFA. A preocupação sobre a gestão de risco tem aumentado nas recentes edições do torneio e os movimentos sociais têm reivindicado o acesso aos direitos trabalhistas dos operários, com ênfase nos direitos humanos e nas condições de saúde. Em duas edições do torneio foram reportadas mortes de operários e condições de trabalho inadequadas, que impactaram na saúde dos operários. Na Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 foi reportado o maior número de mortes de operários entre todas as edições do torneio entre 1994 e 2014, com um total de 10 mortes (ANCOP, 2014). Na Copa do Mundo da FIFA África do Sul 2010 foi a segunda edição com o maior número de mortes de operários reportadas, com um total de duas (ANCOP, 2014). Ambos os países, África do Sul e Brasil, são membros do BRICS e têm em comum o fato de serem considerados países emergentes e terem dificuldade em garantir ao cidadão o acesso aos direitos sociais, sobretudo o direito à saúde. Vale ressaltar que não

foram reportadas mortes de operários nas construções e reformas das arenas e estádios de futebol nas edições da Copa do Mundo da FIFA nos países desenvolvidos (Estados Unidos, Japão-Coreia do Sul, França e Alemanha). As mortes representam um risco para a saúde dos operários na construção das arenas e estádios de futebol para o megaevento esportivo. Nas duas edições da Copa do Mundo da FIFA, nos países emergentes (África do Sul e Brasil) foram frequentes os relatos de exploração dos operários e as alegações de violações dos direitos humanos. Os trabalhadores foram expostos a longas horas de trabalho devido à programação do evento e atrasos no planejamento, o que aumenta o risco de acidentes, impacta na saúde dos operários e pode levar a morte. As obras da Arena de Manaus, por exemplo, foram interditadas após a morte de segundo operário, Marcleudo de Melo Ferreira, 22 anos, que caiu da cobertura da Arena, de uma altura de 35 metros. O primeiro operário morto, Raimundo Notato Lima Costa, 49 anos, também caiu na construção do mesmo equipamento esportivo no mês de março de 2013. A Procuradoria do Trabalho indicou 114 irregularidades na obra, com destaque para os itens de segurança, condições de trabalho e saúde dos operários (COELHO, 2013). Ao analisar as notícias nos meios de comunicação de massa sobre as edições futuras da Copa do Mundo da FIFA é possível perceber uma preocupação internacional com as condições trabalhistas deploráveis dos operários no Catar. O país será sede da Copa do Mundo da FIFA de 2022 e o jornal Washington Post relatou que aproximadamente 1.200 mil trabalhadores imigrantes já perderam suas vidas em construções de infraestruturas relacionadas ao torneio. Estima-se que 4 mil trabalhadores estão propensos a morrer até 2022. O governo do Catar se defendeu das acusações e afirmou que não há mortes de trabalhadores imigrantes relacionadas com as construções da Copa do Mundo da FIFA Catar 2022 e que o relatório publicado de mortes inclui o número de mortes de operários de todos os imigrantes no País (MEZZOFIORE, 2015). Os riscos de doenças relacionadas à Copa do Mundo da FIFA que podem impactar na saúde da população local e internacional são diversos, já que existe a possibilidade de surtos de doença víricas. O ministro de estado de saúde no Brasil afirmou, em 15 de maio de 2015, que o vírus da Zika, por exemplo, só chegou ao Brasil devido à realização Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 e que tinham sido reportados 16 casos até maio de 2015. No entanto, o ministro de estado da saúde minimizou a possibilidade de

surto e chegou a afirmar que a preocupação maior continuava sendo o vírus da dengue, que pode levar a morte. De acordo com o ministro, o vírus da Zika provoca febre baixa, vermelhidão nos olhos, dores nas articulações, cansaço, dores de cabeça e dores no corpo, mas não leva à morte (FORMENTI, 2015). Apesar de o ministro de estado da saúde ter minimizado o vírus da Zika, o Brasil se tornou a maior preocupação para a Organização Mundial de Saúde (OMS), que declarou em 01 de fevereiro de 2016, como emergência mundial. A OMS criou um plano estratégico de resposta à epidemia do vírus da Zika, com investimentos em torno de US$ 56 milhões. O Brasil foi o país com maior destinação de recursos, já que tem sido o mais atingido e por preencher todos os requisos da OMS. A epidemia do vírus da Zika ganhou destaque internacional após a associação das pacientes gestantes com crianças nascidas com microcefália. O surto do vírus da Zika no Brasil confirma a Copa do Mundo da FIFA como um evento que pode potencializar de epidemias globais e doenças infecciosas em função do grande movimento de pessoas. Além disso, o Brasil vai sediar os Jogos Olímpicos Rio 2016 e os riscos de novos surtos da doença no Brasil são preocupantes para o mundo (CASTRO; TREVISAN, 2016). O risco ao meio ambiente foi o segundo risco discutido nesta seção e a partir dos dados analisados foi possível afirmar que as preocupações sobre o tópico na Copa do Mundo da FIFA são recentes e que o meio ambiente foi negligenciado na gestão do torneio nas edições anteriores, sendo que só a partir da edição da Copa do Mundo da FIFA Alemanha 2006 o assunto foi enfatizado. Nas edições da Copa do Mundo da FIFA Estados Unidos 1994, Copa Mundo da FIFA França 1998 e na Copa do Mundo da FIFA Japão e Coreia do Sul 2002 a preocupação sobre os riscos relacionados ao meio ambiente não foi recorrente e não existe menção nos relatórios e documentos oficiais (BRUNET, 2005; DAUNCEY; HARE, 1999). A edição da Copa do Mundo da FIFA Alemanha 2006 pode ser considerada um marco importante para o planejamento do risco ambiental no futebol. Este torneio marcou a criação do projeto chamado "Green Goal" ou Gol Verde.29 O Green Goal envolve no seu

29 Os Jogos Olímpicos Pequim 2008 destacou no seu plano o conceito de sustentabilidade e proteção ao meio ambiente. No que diz respeito aos equipamentos esportivos, dos trinta e um locais de competições, vinte foram permanentes e onze foram temporários. A China, no período correspondia ao país com maior índice de poluição no mundo e em 2007 diveras medidas foram tomadas pelo governo chinês em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). O plano envolveu ônibus movidos a hidrogênio (com redução da poluição), campanhas educativas sobre o meio ambiente, e campanhas

projeto o uso adequado de água (banheiros com descarga seca), reciclagem (diminuição de produção de lixo e uso reciclável ou reutilizável), utilização eficiente da energia (instalação de gerenciadores de última geração), transportes eficientes e sustentáveis e construções de cisternas de água da chuva nas arenas e estádios de futebol da Copa do Mundo. O projeto foi coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente, Conservação da Natureza e Segurança Nuclear (BMU), Comitê Organizador da Copa e Instituto Oeko, o que encorajou a proteção ao meio ambiente em outros países. Além disso, as emissões de CO2 com a realização da Copa do Mundo da FIFA Alemanha 2006 foram calculadas e compensadas por investimentos em projeto de proteção climática na Índia e na África do Sul (GERMANY, 2006; MATIAS, 2008). A partir da Copa do Mundo da Alemanha, a FIFA adotou no discurso que o torneio impacta de forma positiva no que diz respeito ao meio ambiente. De acordo com a FIFA o modelo sustentável reforçou os benefícios agregados de sediar o megaevento esportivo, com destaque para o impacto ambiental positivo desenvolvido por meio do Projeto Green Goal. A Copa do Mundo da FIFA África do Sul 2010 seguiu o modelo da Copa do Mundo da FIFA Alemanha 2006 e adotou o Projeto Green Goal. O modelo de sucesso da edição da Alemanha tem sido utilizado para minimizar os impactos criados pela Copa do Mundo ao meio ambiente, o que incluiu responsabilidade com água, uso eficiente de energia, reciclagem e transporte sustentável (FIFA, 2013). Na Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, a gestão de risco sobre o meio ambiente também seguiu o modelo da Copa do Mundo da FIFA Alemanha 2006, e o Projeto Green Goal foi utilizado novamente. Os equipamentos esportivos construídos buscaram reduzir o consumo de água, os banheiros foram planejados com descarga seca, e o lixo ultilizado teve uso reciclável e reutilizável. O objetivo do Projeto Green Goal foi reduzir os impactos ambientais negativos e no Brasil a novidade foi a utilização de um projeto contra a emissão de carbono com o objetivo de reduzir os danos ao meio ambiente (FIFA, 2013). Por fim, não há diferenças significativas entre o tratamento do meio ambiente em megaeventos esportivos realizados nos países desenvolvidos e nos países emergentes. No entanto, com base nos dados coletados é possível afirmar que a preocupação com os sustentáveis com animais ameaçados com a realização do megaevento esportivo como o animal panda, o peixe, o antílope tibetano e a andorinha (MATIAS, 2008).

riscos associados ao meio ambiente é recente e só passou a ganhar ênfase a partir da edição da Copa do Mundo da FIFA Alemanha 2006.

2.2.5 Riscos de Segurança e Proteção

A questão da segurança tem sido amplamente discutida na literatura científica e nos meios de comunicação. A gestão da segurança é fundamental para a tomada de decisão dos organizadores responsáveis pelo megaevento esportivo. De acordo com Jennings (2012) os megaeventos esportivos como a Copa do Mundo da FIFA e os Jogos Olímpicos aumentaram seus orçamentos substancialmente após o ataque terrorista aos Estados Unidos, no dia 11 de Setembro de 2001. Após o ataque terrorista, o plano de segurança dos Jogos Olímpicos Atenas 2002, por exemplo, sofreu uma inflação de custos de 190%, um aumento signfinicativo (JENNINGS, 2012). O terrorismo tem sido um tipo de risco de segurança associado aos megaeventos esportivos e os governos responsáveis têm trabalhado com especialistas no tópico e tem reunido informações sobre conflitos entre todos os países participantes. Anterior ao ataque de 11 de Setembro de 2011 nas torres gêmeas, outro marco que aumentou as preocupações sobre a gestão de risco de segurança pode ser encontrado nos Jogos Olímpicos de Munique de 1972, quando foi descrito um ataque terrorista contra atletas israelenses. Este evento ficou conhecido como o Massacre de Munique ou o Setembro Negro, quando oito palestinos entraram na Vila Olímpica, capturaram nove reféns israelenses e mataram outros dois. Os Jogos Olímpicos de Munique de 1972 foram suspensos devido aos ataques terroristas (TOOHEY; TAYLOR, 2008; JENNINGS; LODGE, 2011). Nos Jogos Olímpicos Barcelona 1992 foi citada a tentativa de ataque de dois grupos terroristas, que tinham como objetivo a cerimônia de abertura (TOOHEY; TAYLOR, 2008), no entanto, não foi mencionado qualquer ataque terrorista durante os Jogos. Esta edição do megaevento esportivo marcou o fim da Guerra Fria, bem como dos boicotes e contou com a participação de todos os países. A partir deste momento os riscos de boicotes não foram mais reportados. No entanto, os megaeventos esportivos não estão isentos de novos boicotes.

Quatro anos depois, a edição dos Jogos Olímpicos de Atlanta de 1996 foi marcada por um ataque a bomba terrorista no Centennial Olympic Park em Atlanta, Geórgia, em 27 de julho de 1996, quando a explosão de uma bomba matou um espectador e deixou 111 feridos (ACOG, 1997; JENNINGS, 2012). Nos Jogos Olímpicos Sydney 2000 não foi regristado ataques terroristas, no entanto, um homem foi descoberto com um pacote de explosivos e foi detido próximo ao local de competição (SOCOG, 2001; TOOHEY; TAYLOR, 2008). Nos Jogos Olímpicos Atenas 2004 a gestão de segurança foi amplamente discutida após os ataques nos Estados Unidos, em 11 de setembro de 2001. Os terroristas individualmente ou as organizações terroristas encontraram nos megaeventos esportivos um alvo adequado para chamar a atenção do mundo, uma vez que as competições esportivas têm significativa audiência internacional (TOOHEY; TAYLOR, 2008; JENNINGS; LODGE, 2011). Em 05 de maio de 2004, três bombas explodiram próxima a delegacia de polícia Kallithea no distrito de Atenas. O ataque terrorista causou danos faltando apenas 100 dias para a estreia dos Jogos Olímpicos, e teve a autoria do grupo autodenominado Luta Revolucionária (grupo terrorista de esquerda). Após o ataque terrorista, Atenas mudou o planejamento e aceitou a assistência da equipe internacional de segurança olímpica. A inflação de custo do novo plano de segurança influenciou no aumento de US$ 463 milhões para US$ 1,85 bilhões. Vale ressaltar que o COI e o governo grego adotaram um discurso de medo, mas a gerência mostrou resiliência, resistência e indiferença às ameaças terroristas potenciais (TOOHEY; TAYLOR, 2008; JENNINGS; LODGE, 2011). No que diz respeito aos Jogos Olímpicos de Pequim de 2008, foi mencionado um ataque terrorista na sede paramilitar da polícia de fronteira de Xinjiang norte-ocidental. No total, dezesseis policiais foram mortos e o ataque terrorista foi guiado por um grupo de separatistas uigures. O objetivo do grupo terrorista do Turquestão Oriental foi chamar a atenção para o movimento de independência e o grupo foi liderado por organizações turcas islâmicas (WATTS; BRANIGAN, 2008; JENNINGS, 2012). Após o ataque terrorista um "clima de insegurança" foi relatado antes dos Jogos Olímpicos e as medidas de segurança foram legitimadas. A gestão de segurança enfatizou pontos dentro do ambiente urbano, das redes de transporte e das instalações esportivas. O governo chinês utilizou cerca de 2000 câmeras de vigilância como estratégia de gestão de

risco. O plano de segurança enfatizou a articulação entre os setores públicos e privados, bem como a colaboração da segurança multinational (YU; KLAUSER; CHAN, 2009). Nos Jogos Olímpicos de Londres de 2012 não foi registrado ataque terrorista durante as competições. No entanto, após 24 horas da escolha de Londres como sede dos jogos uma série coordenada de ataques suicidas foi reportada na rede de transporte público. Os ataques foram registrados, em 07 de Julho de 2005, pelo governo britânico e aumentou o custo do plano de segurança do megaevento esportivo (JENNINGS, 2012). Nas edições da Copa do Mundo da FIFA os ataques terroristas não foram recorrentes. Na Copa do Mundo da FIFA França 1998 foi noticiada que o grupo terrorista Al-Qaeda tinha como alvo a seleção de futebol da Inglaterra e seus fãs, mas o ataque foi evitado pelos órgãos de segurança. Além disso, na mesma edição do torneio na França foi informado sobre a violência dos Hooligans nas cidades de Marselha e Lens, no entanto, os torcedores foram presos ou contidos pela polícia local (ROBISON, 2002). Dessa forma, é possível afirmar que não existem diferenças entre o risco de terrorismo em megaeventos esportivos nos estados desenvolvidos e emergentes. No entanto, existem diferenças significativas no tratamento do risco de segurança entre os países que receberam ameaças ou ataques terroristas e os países que não tenham sofrido ameaças ou ataques terroristas durante o período de preparação para o megaevento esportivo. Edições dos Jogos Olímpicos de Atenas, Pequim e Londres mudaram o plano de segurança, o que inflacionou os custos com o orçamento do megaevento esportivo devido às ameças e ataques terroristas anteriores as competições. Pode-se afirmar que tanto nos países emergentes quanto nos países desenvolvidos a segurança tem sido um dos tópicos mais discutidos e um dos riscos mais incidentes na organização de um megaevento esportivo. Nas edições da Copa do Mundo da FIFA África do Sul 2010 e na Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 foi possível verificar uma preocupação com os crimes locais. Ambos os países, Brasil e África do Sul, são emergentes e apresentam alto índice de violência local. No caso da Copa do Mundo da FIFA no Brasil, de acordo com Reis (2013) o COL garantiu a segurança nas arenas e estádios de futebol. O conceito de segurança da FIFA envolveu uma operação integrada de órgãos privados e públicos para garantir toda a segurança do megaevento esportivo. O plano de segurança do COL foi bem sucedido na Copa das Confederações da FIFA Brasil 2013 e foi reforçado para a Copa do Mundo da

FIFA Brasil 2014, o que envolveu segurança privada, policias dentro dos estádios e circuito interno de câmaras mapeando os assentos. Durante a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 só foi reportado um incidente de segurança, quando 150 chilenos invadiram o Estádio do Maracanã. Após a invasão, 85 chilenos sem ingressos do torneio foram detidos e soltos apenas no período da noite. A invasão ocorreu antes do jogo entre Chile e Espanha, os torcedores derrubaram uma grade de segurança e invadiram a sala de imprensa. Esta ocorrência foi a principal falha de segurança do torneio (SEGURANÇA, 2014). Por fim, pode-ser afirmar com base nos dados apresentados sobre a gestão de risco entre as edições da Copa do Mundo da FIFA entre 1994 e 2014 servirá de suporte para criar um cenário sobre a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, discussão realizada no próximo capítulo da tese. Este tema abordado no capítulo 3 contribuirá a elucidar a gestão de risco da Copa do Mundo da FIFA no estado de São Paulo (Capítulo 4).

3 GESTÃO DA COPA DO MUNDO DA FIFA BRASIL 2014

Na edição da Copa do Mundo da FIFA 2014 foram três os países postulantes para sede do evento, o Brasil, a Argentina e a Colômbia, no entanto, após uma reunião, a CONMEBOL votou de forma unânime para a candidatura única do Brasil. A escolha oficial foi anunciada na cidade de Zurique, em 30 de outubro de 2007, quando a FIFA confirmou o Brasil como país-sede do torneio. O anúncio oficial contou com a presença de diversos atores políticos como o presidente Luís Inácio Lula da Silva (Lula), os ex-jogadores Dunga e Romário, o ex-ministro de estado do esporte, Orlando Silva, e o escritor Paulo Coelho (DAMO, 2012).

3.1 Características da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014

A gestão da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 envolveu diversas instituições públicas e privadas, nacional e internacional, bem como atores políticos com interesses declarados e escusos. Esse conjunto de instituições e atores políticos aumentou a complexidade e os riscos de gestão. Dessa forma, a análise do megaevento esportivo foi realizada a partir do quadro teórico do neoinstitucionalismo histórico e como forma de aprofundar o debate também foi utilizada o conceito de fragmental institucional, conforme será discutido a seguir.

3.1.1 Instituições Envolvidas na Organização da Copa do Mundo do Brasil

A organização de uma Copa do Mundo envolve diferentes riscos de gestão e demanda uma articulação de diferentes instituições esportivas em âmbito nacional e internacional, e podem envolver diferentes esferas de governo (federal, distrital, estadual e municipal), patrocinadores internacionais e nacionais, empreiteiras e meios de comunicação de massa. No primeiro grupo das instituições esportivas, pode-se destacar a FIFA, que corresponde a uma associação suíça de direito privado, entidade internacional, que regula o futebol mundial e deteve a autoridade máxima da Copa das Confederações da FIFA Brasil 2013 e Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014. A instituição internacional

controla as confederações em diferentes continentes do mundo: 1) Confederação Asiática de Futebol (Asian Football Confederation – AFC, com 46 países membros); 2) Confederação Africana de Futebol (Confederation of African Football – CAF, com 54 países membros); 3) Confederação de Futebol da América do Norte, Central e Caribe (Confederation of North, Central American and Caribbean Association Football – CONCACAF, com 41 países membros); 4) Confederação de Futebol da Oceania (Oceania Football Confederation – OFC, com 11 países membros); 5) Confederação Sul-Americana de Futebol (Confederación Sudamericana de Fútbol – CONMEBOL, com 10 países membros); e 6) União das federações europeias de futebol (Union of European Football Associations – UEFA, com 43 países membros) (Figura 4).

Figura 4 Organização do Futebol Mundial

FIFA

Confederação Sul-Americana de União das Federações Europeias de Futebol Futebol

Confederação Africana de Futebol Confederação de Futebol da América do Norte, Central e Caribe

Confederação Asiática de Futebol Confederação de Futebol da

Oceania Fonte: FIFA

Além da FIFA e das seis confederações, constitui a organização de futebol uma confederação ou federação nacional em cada país. No Brasil, a CBF, associação brasileira de direito privado é responsável por regular o futebol nacional e foi responsável pela organização da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014. Na realização de cada edição da Copa do Mundo é instituído um Comitê Organizador Local (COL), que no Brasil foi intitulado de Comitê Organizador Brasileiro Ltda., que diz respeito à pessoa jurídica de direito privado, reconhecida pela FIFA e por lei nacional, com o objetivo de promover a

Copa das Confederações da FIFA Brasil 2013 e Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 (BRASIL, 2012a). Estas instituições esportivas nacionais e internacionais foram os responsáveis pela organização da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 e tem representação mundial, continental e local, o que indicia o caráter complexo do torneio e os diferentes riscos de gestão envolvidos. Vale ressaltar que a FIFA é uma instituição sem fins lucrativos, no entanto, na organização das diferentes edições da Copa do Mundo a instituição tem aumentado o seu lucro significativamente. No Brasil a entidade quebrou o recorde de lucros entre todas as edições da Copa do Mundo e a FIFA foi questionada sobre as reservas de 1,4 bilhão de dólares. A resposta da FIFA foi transcrita no relatório, quando a instituição internacional abordou que “ter reservas suficientes é de grande importância para assegurar a independência financeira da FIFA e sua habilidade de reagir a eventos inesperados" (CARVALHO, 2014). O lucro da instituição internacional na realização da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 foi cerca de US$ 4 bilhões, o que corresponde ao maior rendimento entre todas as edições do torneio. A segunda edição do torneio com maior lucro foi a Copa do Mundo da FIFA África do Sul 2000, com 3,1 bilhões de lucros, o que comprova que a FIFA tem aumentado os lucros com o torneio, a cada edição. Além disso, de acordo com os relatórios das diferentes edições da Copa do Mundo da FIFA, África do Sul e Brasil, foram os únicos que ultrapassaram bilhões de lucros, uma vez que na Copa do Mundo da FIFA Alemanha 2006 o lucro foi de 249 milhões (CHADE, 2015). Os dados sobre o lucro nas diferentes edições da Copa do Mundo da FIFA mostram que a exposição aos riscos relacionados aos países em emergentes foram benefícios para o aumento da receita da entidade internacional. Os ganhos da FIFA tem sido proporcional a presença do Estado no contrato e na criação de diretrizes e leis que atendam os interesses da instituição internacional. Os riscos são transferidos para os Estados, uma vez que a FIFA pode solicitar a idenização caso os compromissos de representação e garantias de proteção não seja cumprido, o que tem gerado a acumulação de capital. De acordo com Harvey (2011) a economia mundial sugere a continuidade do processo de acumulação de capital, que permita um lucro de crescimento anual. No caso da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, os organizadores tiveram um lucro satisfatório, uma

vez que encontraram oportunidades rentáveis nos países emergentes. Por outro lado, o risco de um rendimento menor corresponderia uma interrupção do processo de acumulação de capital. No segundo grupo de instituições envolvidas na organização dos megaeventos esportivos, destacam-se a participação dos governos. No caso específico da gestão da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 foi reportado o envolvimento de diferentes instâncias governamentais, federal, distrital, estadual e municipal. A matriz de responsabilidade da Copa definiu as funções de cada ente federativo na preparação para o torneiro (BRASIL, 2014e). O Governo Federal do Brasil investiu em aeroportos, segurança, portos, telecomunicações, turismo e mobilidade urbana. O investimento federal em aeroportos foi de aproximadamente R$ 2.662.8 milhões nas cidades de Belo Horizonte, Brasília, Cuiabá, Curitiba, Fortaleza, Natal, Manaus, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Salvador, Guarulhos e Campinas. O setor da segurança foi o segundo maior investimento e totalizou aproximadamente R$ 1.797.7 milhões em Aeronáutica, Exército, Marinha, Estado-maior conjunto das Forças Armadas-MD, segurança pública integrada, segurança nos pontos de entrada no País e segurança do evento (BRASIL, 2014c). O terceiro setor que mais recebeu investimento federal diz respeito aos Portos, com aproximadamente R$ 591.4 milhões nas cidades de Fortaleza, Manaus, Natal, Recife e Salvador. No setor de telecomunicações foi investido cerca de R$ 383,3 milhões na modernização da infraestrutura e serviços para a Copa do Mundo. Em infraestrutura para o turismo foi investido aproximadamente R$ 155.0 milhões nas doze cidades-sede do torneio. Por fim, em mobilidade urbana, o financimento federal foi cerca de R$ 24,7 milhões em obras de pavimentação do entorno do Complexo Beira-Rio em Porto Alegre, Estação de Metrô Cosme e Damião em Recife e em Obras de Microacessibilidade em Salvador (BRASIL, 2014c). O investimento estadual envolveu recursos dos doze estados que sediaram jogos no torneio (São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná, Bahia, Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte, Amazonas, Mato Grosso e Brasília). O direcionamento dos investimentos foi para a mobilidade urbana, arenas e estádios de futebol, as estruturas temporárias, o desenvolvimento do turismo e os portos. No total, os governos estaduais investiram em mobilidade urbana aproximadamente R$ 8.969 bilhões

de reais, sendo que a mobilidade urbana concentrou R$ 3.357,6 bilhões do montante, enquanto que os investimentos em torno dos estádios acionaram R$ 4.319,6 bilhões. O investimento com estádios foi de aproximadamente R$ 3.956,0 bilhões. Outros investimentos dos governos estaduais foram em Portos, com cerca de R$ 6,3 milhões, turismo com R$ 17,2 milhões e em instalações complementares foram investidos cerca de R$ 470,1 milhões (BRASIL, 2014c). No que diz respeito ao investimento municipal foi reportado uma concentração de recursos basicamente em três setores, mobilidade urbana, desenvolvimento do turismo, e construção e reformas das arenas ou estádios de futebol. O montante de recursos investidos envolveu todas as cidades-sede da Copa do Mundo (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Cuiabá, Manaus, Salvador, Recife, Fortaleza, Natal e Brasília). Além das cidades que foram sedes da Copa do Mundo é importante destacar a participação dos municípios que participaram como Centros Oficiais de Treinamento (COT) (BRASIL, 2014c). O recurso distrital envolveu o investimento no Estádio Nacional de Brasília Mané Garricha, além das estruturas temporárias, mobilidade urbana, aeroportos e desenvolvimento do turismo, o que totalizou R$ 2,344 bilhões. O investimento distrital foi maior que o investimento total de todos os muncípios e desse montante, a reforma e a expansão do Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha concentrou R$ 1,4 bilhão (BRASIL, 2014c). Por fim, os recursos privados foram direcionados para os aeroportos, no total foram investidos cerca de R$ 3.617,8 bilhões de reais. Outros investimentos privados em menor quantidade foram direcionados para a construção dos estádios, com aproximadamente R$ 611,6 milhões e instalações complementares, com uma quantia estimada em R$ 107,9 milhões (BRASIL, 2014c).

Figura 5 Investimento global da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014

Fonte: Senado Federal, Brazil, 2014c.

A partir da Figura 5 e com base na Matriz de Responsabilidade da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 é possível afirmar que 84% dos investimentos foram de fundos públicos e apenas 16% do investimento foi recurso do setor privado. Dessa porcentagem, 33% dos investimentos foram locais, o que incluiu os investimentos das esferas estadual, municipal e distrital. A segunda maior porcentagem diz respeito ao financiamento federal, com 30%. Os investimentos diretos do Governo Federal do Brasil foram de 21%. Somados o total de investimentos da esfera federal, estima-se cerca de 51% (BRASIL, 2014e). O investimento público em detrimento do investimento privado é o oposto da fala de Ricardo Teixeira após a escolha do Brasil como país sede do torneio, quando o mesmo afirmou que seria “a Copa da iniciativa privada”. O modelo de gestão da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, de acordo com Ricardo Teixeira, apresentou um viés privado e o Comitê Organizador da Copa não receberia recursos públicos. O papel do Estado seria restrito a melhoria na qualidade de serviços, como transporte, saúde e energia, o que não significaria aumento das despesas públicas, mas sim uma antecipação das obras já previstas nas cidades (TEXEIRA, 2008). Além do investimento público citado acima o governo isentou a FIFA e suas empresas parceiras e patrocinadoras de uma série de tributos. Este montante não entrou na conta final dos investimentos para a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, mas também foi

investimento público, já que o Governo Federal do Brasil deixou de recolher os impostos (BRASIL, 2014e, TEIXEIRA, 2008). Ahlert (2006), ao realizar uma pesquisa sobre o financiamento na Copa do Mundo da FIFA Alemanha 2006 afirmou que nesta edição do torneio houve uma distribuição de recusos dos governos locais, Governo Federal, empréstimos de banco, clubes de futebol, investidores privados e companhias administradoras de estádios. O modelo do megaevento esportivo alemão foi similar com o modelo brasileiro e teve uma concentração de recursos públicos. No terceiro grupo de instituições, podem-se destacar os patrocinadores que a FIFA definiu em três blocos no ano de 2014. O primeiro bloco são as intituições parceiras da FIFA como a Adidas, Coca-Cola, Hyndai-kiamotors, Emirates, Sony.net e Corporate.visa. As instituições parceiras são cofinanciadoras da Copa do Mundo da FIFA e durante o torneio têm as suas marcas mais expostas que os patrocinadores. No segundo bloco foram descritos os patrocinadores internacionais da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, como a Budweiser, Castrolfootball, Continental AG, Johnson-Johnson, Mcdonalds, Oi, Seara, Contisoccerworld, Moypark, e Yinglisolar. Os patrocinadores internacionais não são parceiros da FIFA, mas contribuem com a receita durante a realização de um determinado megaevento esportivo. No último bloco estão os patrocinadores nacionais que variam de acordo com cada país-sede, no caso da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 os patrocinadores foram a Garoto, Apex Brasil, Centauro, Itau, Liberty Seguros e Wise Up, conforme Figura 6. Os patrocinadores nacionais surgem como uma oportunidade para as empresas locais exporem seus produtos e serviços para o mundo (FIFA, 2014b).

Figura 6 Parceiros e patrocinadores da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014

Fonte: FIFA

Os megaeventos esportivos, como a Copa do Mundo da FIFA, foram transformados em commodities, tipos especiais de mercadorias que possuem cotação e

negociabilidade globais. Os parceiros, os patrocinadores internacionais e os patrocinadores nacionais têm interesses privados e transformaram o torneio em um espaço privilegiado, que garante um monopólio de determinada mercadoria, em um estado de exceção garantido por lei. No caso brasileiro o acordo foi realizado entre a FIFA e o Governo Federal do Brasil ou Estado nacional (HARVEY, 2006; MASCARENHAS, 2012). Os parceiros e patrocinadores da FIFA variam em cada edição do torneio e na Copa do Mundo da FIFA Russia 2018 já foram anunciadas modificações nos blocos de patrocinadores. No grupo de parceiros da FIFA, a Adidas, Coca-Cola, Hyndai-kiamotors e Corporate.visa se mativeram como parceiras e a novidade foi a entrada da Gazprom. No grupo de patrocinadores da Copa do Mundo se mantiveram a empresa Mcdonalds e a Budweiser. Os patrocinadores nacionais ainda não foram anunciados pela FIFA (FIFA, 2015).

Figura 7 Parceiros e partrocinadores da Copa do Mundo da FIFA Russia 2018

Fonte: FIFA

O objetivo da FIFA tem sido aumentar a receita e os lucros dos parceiros, patrocinadores internacionais e principalmente patrocinadores locais, o que é contraditório com a missão da instituição, de ser uma entidade sem fins lucrativos. A FIFA é a detentora exclusiva de todos os direitos comerciais da Copa do Mundo e a comerciazação do torneio é realizada a partir das multinacionais interessadas em veicular seus produtos durante a realização do torneio. A Copa do Mundo da FIFA nos moldes que foi organizada a edição brasileira, por exemplo, necessita das multinacionais parceiras e patrocinadoras, bem como da contribuição dos governos no financiamento de recursos públicos (DAMO, 2012). O objetivo da FIFA com as trocas de parceiros e patrocinadores em cada edição da Copa do Mundo é aumentar a receita por meio do marketing esportivo, já que o

megaevento esportivo tem audência global. De acordo com Pitts e Stotlar (2002) o marketing esportivo envolve a produção, a promoção e a distruição de um produto. No quarto grupo de instituições envolvidas, na realização da Copa do Mundo FIFA 2014, estão as empreiteiras e empresas parceiras: Odebrecht, Andrade Gutierrez, OAS, Camargo Correa, Galvão Engenharia, Mendes Júnior, Anschutz Entertainment Group (AEG), Construcap, Egesa e HAP Engenharia. Estas empreiteiras foram responsáveis pelas principais obras de infraestrutura esportiva e urbana no período de preparação da Copa do Mundo no Brasil. No que diz respeito a natureza da instituição, a Organização Odebrecht é uma empresa brasileira, de capital fechado que atua nas áreas de construção e engenharia, energia, química e petroquímica. Na preparação para a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, a Odebrecht foi responsável pela construção da Itaipava Arena Pernambuco e Arena Corinthians. Além disso, a empresa participou como uma das construtoras responsáveis da Itaipava Arena Fonte Nova e da reforma do novo Estádio do Maracanã (ODEBRECHT, 2014). A segunda empreiteira com maior destaque na construção das obras para Copa do Mundo da FIFA 2014 Brasil foi a Andrade Gutierrez, que corresponde a uma empresa privada brasileira de engenharia e construção, telecomunicação, energia e concessões de aeroportos, estradas e saneamento. A empresa foi responsável pela reforma e expansão do Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha e reforma do novo Maracanã. Além disso, a Andrade Gutierrez criou uma Sociedade de Propósito Específico (SPE) Holding Beira-Rio S/A (BRIO) para a gestão da operação do Complexo Beira-Rio (ANDRADE GUTIERREZ, 2015). Outra empreiteira em destaque foi o grupo OAS, uma empresa privada brasileira de construção civil que trabalha com imóveis. Durante a execução e construção das arenas e estádios de futebol para a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 a empresa atuo de de forma significativa. A OAS foi à empresa responsável pela construção da Arena das Dunas e participou como uma das construtoras responsáveis da Itaipava Arena Fonte Nova (OAS, 2015). A participação da OAS na Itaipava Arena Fonte Nova envolveu uma parceiria público-privada com a Itaipava, empresa de cerveja brasileira. O patrocínio da Itaipava teve como base o modelo dos direitos de nomeação e o contrato foi assinado com o Grupo

Petrópolis, que garantiu o direito de exploração e venda exclusivas dos seus produtos durante um prazo de 35 anos (em conjunto com a empresa Odebrecht). Internacionalmente essa prática tem sido comum em diversos estádios esportivos no mundo. Os estádios mais famosos são o Emirates Stadium, do Arsenal Futebol Club, na Inglaterra, que conta com o patrocínio da Companhia Aérea Emirates e o Estádio Allianz Arena, do Bayern de Munique, na Alemanha, que tem como principal patrocinadora a Companhia de Seguros Allianz (ODEBRECHT, 2013). Outra empresa privada brasileira em destaque na construção das arenas e estádios de futebol, para a Copa do Munda da FIFA Brasil 2014, foi a Galvão Engenharia S.A, que atua nos serviços de engenharia e construção civil, oléo e gás, energia elétrica, infraestrutura rodoviária, aeroviária, portuária, ferroviária e urbana, além de saneamento básico e construção industrial. A Galvão Engenharia S.A foi responsável pela reforma, ampliação e modernização do Estádio Governador Plácido Castelo ou Arena Castelão (GALVÃO, 2015). A Mendes Júnior Tranding and Engineering SA foi outra companhia brasileira que participou na construção da Arena Pantanal em Cuiabá. A empresa atua nas áreas de infraestrutura (hidroelétrica, portos, aeroportos e construção de estradas), oléo e gás (refinarias, dutos, termelétricas e plataformas de petróleo e gás) e indústria (projetos de siderurgia, mineração, complexos comerciais inteligentes) (MENDES, 2015). A única empresa internacional em destaque nas construções ou gestão de arenas ou estádios de futebol na Copa do Mundo da FIFA 2014 Brasil foi a Anschutz Entertainment Group (AEG), uma empresa privada americana, que opera em diversos locais de competições esportivas e organiza eventos de entretenimento musicais. A AEG opera em diversas arenas ao redor do mundo, com destaque para a Manchester Arena na Inglaterra, a Merceds Bens Arena na Alemanha, a American Airlines Arena em Miami nos Estados Unidos, a Mastercard Center em Pequim na China, e a Allphones Arena em Sydney na Australia. A empresa foi responsável pela operação da Itaipava Arena Pernambuco, no entanto, a construção foi realizada pela Odebrecht. Além disso, no Brasil, a AEG opera o Allianz Parque, o novo estádio da Sociedade Esportiva Palmeiras, na cidade de São Paulo (AEG, 2015). A Construcap, Egesa e HAP Engenharia são as três empresas do consórcio Arena Minas. A Construcap é uma empresa privada brasileira que atua nas construções

comerciais, indústrias, ferroviárias, rodoviárias, portuárias, aeroviárias e infraestrutura. A Egesa é uma empresa de sociedade anônima no Brasil que atua na área de engenharia e construção e os principais seguimentos são rodoviárias, ferroviárias, pontes e viadutos, urbanização, barragens, entre outros. A última empresa do consórcio é a HAP Engenharia, instituição privada brasileira, que atua na construção civil como habitações populares, infraestrutura rodoviária, ferroviária e urbana, edificações hospitalares, industriais e saneamento ambiental, com ênfase nas inovações tecnológicas (MINAS, 2015). O consórcio Arena Minas foi responsável pela execução das obras de reforma e modernização do Estádio Governador Magalhães Pinto ou novo Estádio Mineirão, realizado entre 2010 e 2012. O consórcio assinou um contrato de longo prazo e vai operar o novo estádio pelos próximos 25 anos (MINAS, 2015). A Via Engenharia S.A é uma empresa privada, que atua na construção de imóveis, construção civil, e em 2014 foi considerada uma das empresas construtoras mais importantes do Brasil. A Via Engenharia S.A foi à responsável pela reforma, ampliação e modernização do Estádio Nacional de Brasília, no Distrito Federal (VIA, 2015). Para facilitar a construção das arenas e estádios de futebol no Brasil, o presidente Luis Inácio Lula da Silvia assinou o Decreto nº 7.319, de 28 de setembro de 2010, que regulamentou o regime especial de tributação para a Construção, Ampliação, Reforma ou Modernização de Estádios de Futebol – RECOPA. O decreto suspende a contribuição de tributos federais como o PIS/PASEP, os impostos sobre Produtos Industrializados – IPI e contribuição PIS/PASEP- importação e da CONFINS-importação. O Governo Federal do Brasil, por meio do decreto criou um regime especial para as pessoas jurídicas optantes pelo RECOPA (BRASIL, 2010b). Para além do RECOPA, a Lei nº 12.462, de 04 de agosto de 2011, contemplou um Regime Diferenciado de Contratações Públicas (RDC), o que dispensou licitação para as obras da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 e Jogos Olímpicos Rio 2016 (BRASIL, 2011b). A ação foi compreendida como inconstitucional pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, que entrou com ação direta contra a legislação, no entanto, não foi suspensa pelo Supremo Tribunal Federal (STF). De acordo com Roberto Gurgel a legislação é contra “os princípios da impessoalidade, moralidade, probidade e eficiência administrativa” O maior problema está relacionado aos atrasos e ao mesmo tempo a pressa

nas construções das obras, o que pode aumentar indiscrimadamente os custos e pode “comprometer o patrimônio público” (RODRÍGUEZ, 2011; COSTA, 2011). As empreiteiras e as empresas citadas acima tiveram papel importante na preparação para a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 e continua com um papel importante após o torneio, já que existem contratos de curto, médio e longo prazo em vigência. No entanto, em 2015, duas das maiores empresas, Odebrecht e Andrade Gutierrez, foram denunciadas na Operação Lava Jato, que corresponde a uma investigação em adamento realizada pela Polícia Federal do Brasil, iniciada e, 17 de março de 2014. A investigação tem como objetivo apurar um esquema de corrupção por lavagem de dinheiro, com suspeita de movimentação acima de R$ 10 bilhões de reais. Na Operação Lava Jato30 já foi cumprida mais de uma centena de mandados de busca e apreensão, prisão preventiva, prisão temporária e de condução coerciva. A Polícia Federal considerou a Operação Lava Jato o maior escândalo de corrupção da história do Brasil, a partir do momento que envolve políticos do PP, PT, PMDB, PSDB, empresários e diversos outros atores que foram beneficiados indiretamente e estão sendo investigados. No contexto da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 foi preso o presidente da Andrade Gutierrez e o presidente da Odebrecht. As duas empreiteiras se configuram como as principais construtoras das arenas e estádios do torneio e podem ser proibidas de firmarem novos contratos com o poder público. Além disso, os contratos os vigentes podem ser suspensos (BRASIL, 2015b; BONSANTI, 2015). No pós Copa do Mundo, a Odebrecht e a Andrade Gutierrez têm concessões com o Maracanã, Arena Corinthians, Complexo Beira-Rio, Itaipava Arena Pernambuco, Itaipava Arena Fonte Nova, Arena Amazônia e Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha. A Operação Lava Jato pode interferir nas concessões das arenas e estádios de futebol. A empresa Odebrecht, por exemplo, tem calendário de obras que ainda restam na Arena Corinthians e tem uma concessão para os próximos 27 anos com o novo Estádio do Maracanã (BONSANTI, 2015). A Operação Lava Jato, encontra-se em processo de investigação no ano de 2016, na sua 26º fase e para a presente tese não foi possível aprofundar a discussão e análise sobre a temática. No entanto, a relação entre a corrupção via Operação Lava Jato e a

30 O nome Operação Lava Jato veio do uso de uma rede de lavanderia e postos de combustíveis para movimentes o dinheiro desviado dos cofres públicos

Copa do Mundo da FIFA corresponde a uma questão de pesquisa importante e que merece destaque no campo acadêmico-científico. A corrupção foi um dos temas mais discutidos nos meios de comunicação de massa. As suspeitas de corrupção e a inflação dos custos das obras aumentaram a insatisfação dos brasileiros. A insatisfação com o governo e com a FIFA foi evidenciada nos protestos durante a Copa das Confederações da FIFA Brasil 2013 e na Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014. Por fim, os meios de comunicação de massa tiveram papel central na organização da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, sobretudo a mídia televisiva. A Rede Globo foi a detentora dos direitos de transmissão de imagens durante a realização do torneio no Brasil, no entanto, não foi realizado nenhum tipo de licitação pública entre diferentes emissoras de televisão, conforme acontece em negociações semelhantes (LIMA, 2015). A FIFA ao garantir a exclusividade para a Rede Globo no que se refere aos direitos de transmissão de imagens da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 confirmou o processo de acumulação por espoliação, conforme discutido por Harvey (2004). Esta mercadorização do futebol mundial é uma prática nova de acumulação de capital a partir da exclusividade do Acordo Relativo aos Aspectos do Direito da Propriedade Intelectual Relacionados com o Comércio (TRIPS), que no caso brasileiro foi garantido para a Rede Globo. No entanto, após o megaevento esportivo a Polícia Federal do Brasil e o FBI estão investigando os contratos entre a Globo, CBF e a FIFA na transmissão da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014. A Rede Globo está sendo investigada após os casos de corrupção na adiministração do futebol mundial. Existe uma suspeita que a Traffic, empresa de marketing esportivo, do empresário J. Hawilla, pagou propina de dois milhões de reais pelos direitos de transmissão do torneio da FIFA no Brasil, e depois revendeu para a Rede Globo (LIMA, 2015). O conjunto de instituições apresentadas até o momento da tese forma o bloco de poder no que diz respeito à organização da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 e correspondem as instituições que mais se beneficiaram com o torneio.

3.1.2 Atores Políticos

Para além dos grupos de empreiteiras e empresas mapeadas e analisadas na seção anterior, existe um conjunto de atores políticos com interesses difusos envolvidos na gestão da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014. A análise dos atores políticos e das instituições responsáveis pelo torneio, a partir da abordagem neoinstitucionalista histórica (HALL; TAYLOR, 2003) permitiu uma maior compreensão e aprofundamento sobre o processo de gestão do torneio no Brasil. Os atores políticos agem de acordo com suas instituições, que influenciam na estratégia de atuação dos seus atores, isto é, o indivíduo é concebido como parte envolvida das instituições. As instituições fornecem modelos que permitem a intepretações e ações, além de permitir a estruturação de suas próprias decisões. Durante a fase inicial de construção de um cenário para receber a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, o presidente Lula se configurou como o principal ator político e assinou, em 2007, um termo de responsabilidade com a FIFA. Ao assinar contrato com uma entidade internacional o governo foi criticado por negociar a soberania nacional. O ex-presidente, em seu discurso oficial, após o anúncio de que o Brasil seria a sede da Copa tranquilizou os dirigentes da FIFA e afirmou que essa não era uma responsabilidade do atual presidente, mas sim de uma nação. Lula acrescentou que o Brasil iria “[...] provar ao mundo que nós temos uma economia crescente, estável, que nós somos um dos países que está com a sua estabilidade conquistada” (DA SILVA, 2007). Em 2009, a agenda política dos megaeventos esportivos no Brasil ganhou mais ênfase, após o Brasil ser anunciado como sede oficial dos Jogos Olímpicos de 2016. Em seu discurso, o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, afirmou que o Brasil deixou de ser um país de segunda classe e “ganhamos a cidadania internacional”. O ex-presidente associou a realização da Copa do Mundo da FIFA e dos Jogos Olímpicos no Brasil, com a conquista da cidadania. A discussão sobre a cidadania, de acordo com Marshall (1967) envolve o acesso aos direitos civis, políticos e sociais e os megaeventos esportivos não podem ser tratados como um veículo de materialização da cidadania para todos os brasileiros. A expressão cidadania internacional foi utilizada no discurso do presidente equivocadamente (de forma retórica), como forma de mostrar que o Brasil está preparado para receber o maior evento esportivo do mundo e que fará parte da comunidade de países que receberam

os megaeventos esportivos. Além disso, o presidente reforçou que o Brasil merece ser respeitado pela comunidade internacional, apesar de ser um país emergente. Os compromissos firmados pelo ex-presidente Lula, em 2007, tiveram continuidade no governo da presidenta Dilma Rousseff do PT, que assumiu a presidência do Brasil em 2011, faltando apenas três anos para a realização da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014. O presidente Lula ao deixar o governo delegou uma missão árdua para o governo seguinte, já que a Lei Geral da Copa (LGC) não tinha sido aprovada pelo Poder Legislativo do Brasil e as construções ou reformas das arenas e dos estádios de futebol estavam atrasadas. De acordo com Hall e Taylor (2003) as instituições podem influenciar na agenda política de um governo e determinam as regras do jogo político. No caso da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 foi possível verificar que uma decisão tomada no governo Lula, em conjunto com uma instituição internacional (FIFA) teve impacto na agenda política do governo sucessor (governo Dilma) e no comportamento do novo ator político, independente do partido político que assumiria o governo. A instituição brasileira adotou as regras ou normas de realização do megaevento esportivo, o que exigiu uma adaptação aos interesses da FIFA. A construção dos estádios de futebol e os investimentos públicos com o torneio, de forma geral, desagradaram os cidadãos brasileiros, que protestaram nas ruas em um número expressivo e também dentro dos estádios, durante as cerimônias de abertura e encerramento. O conflito de interesse e poderes dos grupos e os conflitos entre atores sociais e governamentais relatado na Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, foi possível de ser identificada a partir da abordagem neoinstitucionalista histórica, de acordo com Hall e Taylor (2003), uma vez que a FIFA aumentou o número regras que determinaram o comportamento do governo brasileiro. Apesar dos conflitos entre os cidadãos e o Governo Federal do Brasil, nas vésperas da abertura da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 Dilma fez um discurso em televisão aberta e afirmou que o Brasil estava pronto para receber o megaevento esportivo. Saudou todos os estrangeiros e afirmou que a Copa seria pela paz e contra o racismo, pela inclusão e contra todas as formas de violência e preconceito, da tolerância, da diversidade, do diálogo e do entendimento. Dilma ressaltou no seu discurso que “No jogo, que começa agora, os pessimistas já entram perdendo. Foram derrotados pela capacidade de trabalho e a

determinação do povo brasileiro, que não desiste nunca”. Por fim, Dilma destacou que os pessimistas previram estádios e aeroportos não finalizados, além do caos na saúde e na segurança pública (ROUSSEFF, 2014). Apesar do discurso em televisão aberta, durante a abertura da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, a fala da Dilma foi ocultada da cerimônia da abertura após os acordos entre a FIFA e o Governo Federal do Brasil. Em edições anteriores do torneiro tradicionalmente os chefes de estado realizavam o discurso inicial e a abstenção da presidenta na abertura da Copa do Mundo pode estar relacionada ao risco de novas vaias, como ocorreu na abertura da Copa das Confederações da FIFA Brasil 2013. No entanto, mesmo sem discursar publicamente a presidenta foi hostilizada no final do jogo, na vitória do Brasil sobre a Croácia, por 3 a 1, na Arena Itaquera, em São Paulo. As vaias à presidente Dilma confirma a insatisfação do brasileiro com o seu mandato. O descontentamento do brasileiro tem gerado uma crise de representatividade, conforme foi reportado nas manifestações da Copa das Confederações da FIFA Brasil 2013, quando as pautas contra a corrupção atingiram todas as instâncias governamentais, como os municípios, estados, distrito federal e principalmente Governo Federal do Brasil. Os riscos de novas vaias para o Governo Federal do Brasil durante o discurso eram maiores, já que a abertura foi realizada no estado de São Paulo, que tem o governo estadual administrado pelo PSDB por mais de 20 anos, desde o primeiro mandato de Mário Covas, iniciado em janeiro de 1995. Nas eleições presisenciais 2014 o PSDB teve expressiva vitória sobre o PT no estado de Sāo Paulo. No total, foram 64,31% de votos para Aécio Neves (PSDB) e 35,69% de votos para Dilma (PT) no segundo turno das eleições, fato que não impactou no resultado em nível nacional (TSE, 2014). O estado de São Paulo tem apoiado nas eleições presidenciais o PSDB e as vaias de protesto contra a presidenta Dilma, dentro da Arena Corinthians, no jogo de abertura da Copa do Mundo podem estar relacionados ao processo político anterior ou podem ter relação com o cálculo político eleitoral. A Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 merece uma análise aprofundada para verificar a relação entre a política eletioral e a realização de um megaevento esportivo. Assim, as palavras de baixo calão contra a Dilma não cabem na tese, mas podem ser encontradas em diversas notícias dos meios de comunicação de massa ou em vídeos do youtube.

No jogo das oitavas-de-final da Copa do Mundo, entre Brasil e Chile, no Estádio Mineirão, o Datafolha realizou uma pesquisa sobre o perfil do público dos torcedores que foram ao jogo. No total foram entrevistados 693 voluntários e os resultados indicacaram que 67% se declaram brancos, enquanto que a média nacional é de 43%, e 6% dos torcedores se declaram negro, enquanto que os dados nacionais indicam 15%. Sobre a renda, 90% pertencem às classes A ou B e 86% dos torcedores têm ensino superior, enquanto que a média nacional é de 16% (BARBOSA, 2014). O perfil do público no Estádio Mineirão indicia que o acesso aos ingressos dos jogos da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 foi restrito a uma parte da população privilegiada, que detém o poder aquisitivo e poder de compra. No período de realização da pesquisa, a discussão sobre as vaias para a presidenta Dilma na abertura ainda gerava discussão, já que o presidente Lula chegou a afirmar que o público presente no estádio não representa o Brasil e que a Copa do Mundo da FIFA atende o público com acesso a poder aquisitivo (BARBOSA, 2014). Além disso, a presidenta foi vaiada na cerimônia de encerramento, no Maracanã, no Rio de Janeiro, o que confirma o descontentamento dos brasileiros com o mandato de Dilma na presidência do Brasil, bem como com a realização da Copa do Mundo da FIFA. Os brasileiros que foram para os estádios de forma geral apoiaram a seleção brasileira, mas desaprovava o mandado da presidenta Dilma no Governo Federal do Brasil (CHADE; BARSETTI, 2014; ITRI; CRUZ, 2014). Após a discussão sobre os atores políticos do governo brasileiro, responsáveis pelo maior volume de investimentos na realização da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, o presidente da FIFA, Joseph Blatter, foi o ator político mais importante em âmbito internacional. Joseph Blatter sucedeu João Havelange e foi presidente da FIFA entre 1998 e 2015, quando foi suspenso. Em 15 de dezembro de 2015, Joseph Blatter foi banido das atividades da FIFA por oito anos após um longo período de 27 anos no poder da entidade internacional. Durante os preparativos para a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, Blatter pressionou ao dizer que a “Copa é amanhã, mas os brasileiros acham que é depois de amanhã”. O torneio no Brasil foi marcado pelo atraso na construção dos equipamentos esportivos e infraestrutura aeoroportuária (GIBSON, 2015). O secretário geral da FIFA, Jérôme Valcke também se configurou como um dos principais atores políticos da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014. Jérôme Valcke foi

secretário geral da FIFA entre os anos de 2007 e 2015, quando foi banido das atividades de futebol, em 08 de outubro de 2015, após as investigações do FBI e convicção sobre a sua participação em um esquema de corrupção. O secretário geral da FIFA foi condenado por litigância de má fé pela a Justiça suíça no episódio de corrupção que envolveu a entidade internacional, bem como a VISA e o Mastercad. Além disso, na realização da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, Valcke foi o interlocutor entre a FIFA e o governo brasileiro, e foi responsável por diversas polêmicas no processo de preparação do torneio (KFOURI, 2012; FBI, 2015). Jérôme Valcke chegou a afirmar que o Brasil merecia um “chute no traseiro” ou “kick up the backside” para aprovar a LGC e para finalizar dentro do prazo a construção e reforma das arenas e estádios de futebol para a Copa do Mundo. De acordo com o secretário da FIFA o Brasil corria o risco de organizar o pior torneio em termos de gestão (SCOTT, 2012). Em outra afirmação polêmica, Jérôme Valcke afirmou que “[...] menos democracia é algumas vezes melhor para organizar uma Copa do Mundo [...] Quando você tem um chefe de estado forte que pode decidir como talvez Vladimir Putin realize em 2018” o processo de preparação pode ser facilitado. As frases polêmicas do secretário da FIFA inciou uma crise de governabilidade da Copa do Mundo, uma vez que o Governo Federal do Brasil soliciou à FIFA a substituição de Jérôme Valcke da função de interlocutor (REUTERS, 2013). Para além dos atores políticos das instituições internacionais, em âmbito nacional, Ricardo Teixeira, foi o segundo principal ator político, já que corresponde a um dos principais responsáveis por atrair a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014. Ricardo Texeira foi presidente da CBF, entre os anos de 1989 e 2012, e tem importante papel político dentro da FIFA. No entanto, em 08 de março de 2012, houve um pedido de licença da CBF, e afastamento do Comitê Organizador Local (COL) da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 devido às denúncias de subornos em conexão com a concessão de direito e comercialização da Copa do Mundo (BARSSETTI; ROGERO, 2012). A saída de Ricardo Texeira da CFB foi celebrada pelo presidente da FIFA Joseph Blatter, já que o cartola fica impedido de concorrer o cargo de presidente da FIFA, na sucessão de 2015. A FIFA apresentou um projeto de mudanças para eleições de 2015, em que candidados com condenações ficava impedido de concorrer cargos na entidade, e

candidados em investigação pela Justiça criminal fosse suspenso das suas atividades. As novas medidas impedem Ricardo Texeira de exercer cargos na FIFA, já que existe um processo no Brasil contra o cartola devido o pagamento de prominas da ISL nos anos de 1990. Joseph Blatter chegou a afirmar que vai publicar os documentos que comprovam o envolvimento de Ricardo Texeira no esquema de corrupção (CHADE, 2011). O sucessor de Ricardo Texeira foi o político brasileiro e administrador esportivo José Maria Marin, que assumiu a presidência da CBF, entre os anos de 2012 e 2015. O mandato de José Maria Marin como presidente da CBF chegou ao fim, em 27 de maio de 2015, quando foi preso por conexão com o caso de corrupção da FIFA nas investigações do FBI. As acusações envolveram extorsão, fraude eletrônica e lavagem de dinheiro. As denúncias de subornos contra Ricardo Texeira e a prisão de José Maria Marin, por convicção de corrupção em 2015 comprova a corrupção instalada na instituição responsável pela gestão do futebol no Brasil (CLIFFORD; APUZZO, 2015). Outro importante ator político da Copa do Mundo da FIFA 2014 foi ministro de estado do esporte Orlando Silva do PC do B, que atuou no cargo entre 03 de abril de 2006 e 26 de outubro de 2011, quando foi afastado e exonerado do cargo. A saída de Orlando Silva foi realizada após o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizar a abertura de inquérito para examinar as irregularidades nos convênios do Ministério do Esporte e desvio de dinheiro público do Programa Segundo Tempo. O Governo Federal do Brasil buscou manter o ministro de estado do esporte no cargo e a FIFA queria a sua substituição, o que evidencia a crise entre o país e a entidade internacional. A saída de Orlando Silva ocorreu em um momento que a FIFA pressionava o Governo Federal do Brasil pela aprovação da Lei Geral da Copa bem como pelos atrasos nas obras de infraestrutura esportiva e infraestrutura urbana das cidades-sede (PRETE, 2011). Orlando Silva teve como sucessor, o ministro de estado do esporte, Aldo Rebelo, um político brasileiro, deputado do PC do B, que esteve no cargo, entre 27 de outubro de 2011 e janeiro de 2015, fim do primeiro mandado da presidenta Dilma Rousseff. No segundo mandato, Aldo Rebelo foi ministro de estado de Ciência, Tecnologia e Inovação, até 02 de oububro de 2015 (BRASIL, 2015c). Aldo Rebelo foi o principal porta-voz do Brasil nos preparativos para a Copa do Mundo da FIFA. O ministro de estado do esporte negou que o Brasil tenha cedido todos os

pedidos da instituição internacional e destacou que as negocições são difíceis, mas a relação com a FIFA foi institucional (BRASIL, 2014c). Aldo Rebelo, chegou a vetar Jérôme Valcke como interlocutor da FIFA no Brasil após as declarações polêmicas sobre os atrasos das obras e aprovação da LGC. O governo brasileiro considerou ofensivo e declarou “Que a FIFA encontre um interlocutor que tenha condições de compreender as responsabilidades nesse tipo de relação”. Jérôme Valcke também criticou a rede hoteleira e os aeroportos brasileiros, o que iniciou uma crise entre o governo brasileiro e a FIFA. O ministro de estado do esporte chegou a afirmar que a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 corre o risco de ser cancelada e que as declarações poderiam atrapalhar a aprovação da Lei Geral da Copa (ITOKAZU, 2012). Após a polêmica, a FIFA enviou uma carta se retratando com o governo brasileiro. O ministro de estado do esporte Aldo Rebelo respondeu a carta e aceitou o pedido da FIFA e reafirmou que “espisódios, como ‘chute no traseiro’ não podem se repetir” (COUTINHO, 2012a). A visita de Jérôme Valcke no Brasil foi cancelada e a Comissão de Educação, Cultural e Esporte do Senado rejeitou a presença do mesmo na audiência pública que discutiria a gestão da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 (GUERREIRO, 2012). Para além dos atores políticos do poder público, destacam-se os influentes ex- atletas de futebol como apoiadores e como gestores da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014. Entre eles estão o ex-jogador da selação brasileira Dunga, que foi o técnico da seleção brasileira quando o país foi anunciado como sede da Copa do Mundo. Dunga declarou apoio à realização do torneio no Brasil, no entanto, houve uma troca de técnicos após a derrota da seleção brasileira na Copa do Mundo da FIFA África do Sul 2010. O técnico sucessor de Dunga foi Mano Menezes, que também foi sucedido por Luiz Felipe Scolari, técnico na Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014. Os técnicos de futebol da equipe nacional que sediam o torneio estão em evidência e têm grande responsabilidade em termos de personalismo, tanto na conquista de apoio para a seleção de futebol, quanto no apoio à gestão da Copa do Mundo da FIFA (ITRI, RIZZO, RANGEL, 2014). Outro ex-jogador em destaque foi o Romário, presente no anúncio de 2007, o seu caso é emblemático. Apoiador da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, após ser eleito Deputado Federal pelo Partido Social Brasileiro (PSB) em 2010, para a gestão de janeiro de 2011 até dezembro de 2014, se tornou um dos principais opositores da realização do

torneio. Romário destacou o elevado investimento público com o megaevento esportivo, e chegou a afirmar que o “Brasil já perdeu a Copa fora de campo”. No entanto, o deputado declarou apoio à seleção brasileira nos jogos e continuou com diversas críticas relacionadas a FIFA, a CBF e a gestão do futebol e da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 (ROMÁRIO, 2014). Romário, por seu reconhecimento como ex-jogador de futebol, concedeu entrevistas para diversos jornais internacionais. Em uma notícia publicada pelo The Guardian, em 24 de junho de 2013, o ex-jogador destacou que o elevado dispêndio de recursos públicos com a Copa do Mundo da FIFA, e afirmou que a corrupção e a falta de acesso aos direitos foram os principais pretextos para as manifestações de junho de 2013 contra a FIFA e o Governo Federal do Brasil, durante a Copa das Confederações da FIFA Brasil 2013 (ROMÁRIO, 2013). A partir da análise neoinstitucionalista histórica é possível afirmar que Romário como ator político mudou seu comportamento a partir da influência da instituição que ele passou a representar. A mudança de comportamento de Romário está relacionada a instituição Câmera de Deputados, por ter sido eleito por voto popular. Pelé, ex-jogador da seleção brasileira e considerado o melhor jogador de todos os tempos pela FIFA, foi embaixador honorário da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 e um dos principais apoiadores da realização do torneio no País. Durante a Copa das Confederações da FIFA Brasil 2013 Pelé gravou vídeo declarando repúdio aos protestos contra o evento que tomavam as ruas ao dizer: “Vamos esquecer essa confusão que está acontecendo no Brasil, todas essas manifestações, e apoiar a seleção brasileira, que é o nosso país”. No contraponto desse argumento, Romário criticou duramente essa afirmação e chegou a chamar Pelé de “imbecil”. A famosa frase de Romário de que “Pelé calado é um poeta” voltou à tona e foi utilizada em diversos meios de comunicação de massa e movimentos sociais. A discordância da população em relação ao vídeo de Pelé mostra que o personalismo pode contribuir para minimizar as tensões sociais, mas no momento político em que o Brasil estava passando, não foi suficiente para diminuir as manifestações (BORDEN, 2013). Ronaldo Luís Nazário de Lima, conhecido como Ronaldinho ou Ronaldo fenômeno, foi outro ex-jogador da seleção brasileira que participou do conjunto de atores políticos que organizaram a Copa do Mundo da FIFA de 2014 para o Brasil. Vale ressaltar

que Ronaldo é um ex-jogador consagrado, campeão do mundo e eleito o melhor jogador do mundo pela FIFA por três vezes (1996, 1997 e 2002) (DA LANCEPRESS, 2013). O governo ao selecionar Ronaldo como gestor, mais uma vez usou de personalismo e da popularidade do ex-jodador para ganhar apoio na realização do torneio. Após a carreira de jogador, Ronaldo se tornou empresário, fundou a empresa de marketing esportivo 9ine, responsável por cuidar da imagem de grandes esportivas em âmbito mundial como Anderson Silva, Neymar e Falcão. Ronaldo tem contrato vitalício com a Nike e durante a organização da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 foi membro do Conselho de Administração do Comitê Organizador Local (COL). Ao aceitar o convite para ser membro do COL o ex-jodador mostrou que não existe crise entre ele e a CBF, já que dois anos atrás o mesmo afirmou que Ricardo Teixeira tinha duplo caráter (DA LANCEPRESS, 2013). Ronaldo foi um dos principais atores políticos da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, mesmo sem o consenso da FIFA, ganhou papel de destaque. Faltando cem dias para abertura do torneio, em 04 de março de 2014, o ex-jogador afirmou ao Jornal a Folha de S.Paulo, que as arenas e estádios de futebol foram financiados pelo BNDES e os investimentos com os equipamentos esportivos não teve relação com o Orçamento da União destinado à saúde e à educação. Acrescentou que a “Copa se faz com estádios, sim. E sem escolas e hospitais, não se faz um país”. Para Ronaldo, o Brasil está preparado, já que realizou o ECO-92, a RIO+20 e a Copa das Confederações sem grandes problemas (RONALDO, 2014). Dois meses depois, em 24 de maio de 2014, Ronaldo entrou em contradição com seu discurso anterior ao falar dos atrasos da Copa do Mundo da FIFA. O ex-jogador afirmou que “Eu me sinto envergonhado, porque é o meu país, o país que eu amo, e a gente não pode estar passando essa imagem para fora”. A mudança de discurso e as críticas de Ronaldo ao Governo Federal do Brasil estão associadas ao apoio declarado a partir de abril ao candidato a presidente Aécio Neves (PSDB) (SÁ, 2014). A mudança de discurso de Ronaldo e os interesses difusos de cada ator político na realização da Copa do Mundo da FIFA no Brasil, só indicia a associação da agenda política dos megaeventos esportivos com o processo eleitoral que aconteceu no Brasil após a realização do torneio. O discurso contraditório também confirma que os atores políticos agem de acordo com a instituição, sobretudo com a mudança de comportamento ao apoiar a candidatura de Aécio Neves (PSDB) (HALL; TAYLOR, 2003)

Outro ator político, com reconhecimento internacional envolvido na organização que trouxe a Copa do Mundo da FIFA para o Brasil foi o escritor Paulo Coelho, que participou da comitiva brasileira, que anunciou o País como sede na cidade de Zurique. Paulo Coelho é um escritor reconhecido internacionalmente e levá-lo para Zurique foi uma estratégia política de ganhar apoio nacional e internacional na realização da Copa do Mundo. O escritor seguiu o mesmo caminho de Romário, quando afirmou estar decepcionado com as promessas não cumpridas pelos governos, na realização do megaevento esportivo. O escritor criticou duramente a Copa do Mundo e chamou Ronaldo de “imbecil”, após uma entrevista de apoio irrestrito do ex-jogador, que defendeu o investimento público para a construção dos estádios e arenas de futebol para a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 (COELHO, 2014). A crítica realizada por Paulo Coelho está relacionada à famosa frase de Ronaldo durante a sua apresentação como membro do COL, quando afirmou “[...] mas sem estádio não se faz Copa. Não se faz Copa com hospital” (DA LANCEPRESS, 2013). Outro ex-jogador da seleção brasileira em destaque na preparação da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 foi o José Roberto Gama de Oliveira (Bebeto), campeão da Copa do Mundo da FIFA Estados Unidos 1994 como jogador de futebol. Bebeto, juntamente com Ronaldo, foi escolhido como membro do conselho de administração do COL em 2012. No período de escolha do cargo, Bebeto exercia o mandato como deputado estadual e na sua primeira entrevista como membro do COL fez defesa dos investimentos públicos relacionados à Copa do Mundo da FIFA e defendeu a permanência de Ricardo Texeira na CBF, que durante a sua apresentação como membro do COL estava sendo acusado de corrupção (GUIMARÃES, 2012). Todos os atores políticos que estavam no anúncio oficial de que o Brasil seria sede da Copa do Mundo da FIFA de 2014, em Zurique, acabaram o mandato ou foram afastados, renunciaram ou, ainda, se tornaram contrários ao megaevento esportivo. O ex- presidente Lula finalizou o mandato, Ricardo Teixeira e Orlando Silvia renunciaram após denúncias de corrupção. Dunga foi demitido do cargo de técnico da seleção brasileira em 2010. Romário e Paulo Coelho mudaram suas posições políticas sobre a Copa do Mundo e ambos criticaram os investimentos públicos para a construção de arenas e estádios de futebol para a realização do torneio. Outros atores políticos foram inseridos no processo, como os casos de Bebeto e Romário.

O conjunto de atores políticos discutido até o momento foi o destaque nos meios de comunicação de massa do Brasil, mas a organização de uma Copa do Mundo da FIFA é complexa e dinâmica, e envolve um conjunto de atores políticos do setor público e do setor privado, âmbito nacional e internacional, com interesses difusos e concomitantes, privados e coletivos. A escolha dos atores políticos na organização da Copa do Mundo da FIFA tem como base a sua popularidade, como no caso de Ronaldo, que tem a capacidade de diminuir os riscos de contrariedade ao torneio bem como sua organização. De um lado, o comportamento dos atores políticos é influenciado pela instituição que o mesmo representa. Por outro, os atores políticos tem o poder influenciar nas ações da instituição. Estas inter-relações das instituições e atores políticos, de acordo com Martins (2013) podem mostrar as rupturas, incoerências, inconsistências e descoordenação.

3.1.3 Estados e Cidades-Sede

A escolha de um país para ser sede de uma Copa do Mundo depende de um conjunto de atores políticos locais, que se responsabilizam pela escolha e decisão de cada cidade que será sede. No caso da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 o conjunto de garantias foi realizada pelo ex-presidente do Brasil, Luís Inácio Lula da Silva, em conjunto com os governadores de diferentes estados. No total, 21 estados e 22 cidades brasileiras se candidataram e 10 destas cidades aspirantes não foram selecionadas para serem sedes, Belém-PA, Campo Grande-MS, Florianópolis-SC, Goiânia-GO, João Pessoa-PB, Maceió- AL, Rio Branco-AC, Teresina-PI, Recife/Olinda-PE (candidatura conjunta) e Campinas-SP. São Paulo foi o único estado com duas cidades candidatas para sederiam os jogos do torneio. As cidades brasileiras escolhidas para ser sede da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 foram anunciadas somente, em 31 de maio de 2009, em Bahamas. As cidades de São Paulo-SP, Rio de Janeiro-RJ, Salvador-BA, Belo Horizonte-BH, Porto Alegre-RS, Brasília-DF, Curitiba-PR, Recife-PE, Fortaleza-CE, Cuiabá-MT, Natal-RN e Manaus-AM foram as escolhidas. Das doze cidades que foram sedes oficiais Recife fez uma nova candidatura única em relação às cidades aspirantes e se desmembrou da candidatura conjunta com Olinda (FIFA, 2009).

O governo brasileiro optou por construir e reformar 12 estádios de futebol, em diferentes estados do Brasil, para a realização da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014. A exigência da FIFA é no mínimo nove arenas ou estádios de futebol para a realização do torneio e a sugestão da instituição internacional para o megaevento esportivo no Brasil foi justamente o mínimo de equipamentos esportivos (AVISON, 2014). Jérôme Valcke, em uma entrevista em Zurique, afirmou que a escolha das 12 arenas e estádios de futebol no Brasil, ao invés das nove exigidas pela FIFA é de responsabilidade do Governo Federal do Brasil, sobretudo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. De acordo com o Secretário Geral da FIFA as seleções e os torcedores foram os principais prejudicados, já que tiveram que se deslocarem para longas distâncias durante o torneio (REUTERS, 2014). Além disso, o grande número de sedes aumentou os riscos relacionados aos atrasos das obras. Os riscos dos atrasos das obras são de responsabilidades dos organizadores, principalmente da FIFA e dos governos. A escolha de uma cidade sede para a Copa do Mundo da FIFA é de grande importância e, deve-se atentar para uma série de questões, principalmente para o uso da arena ou estádio de futebol após o torneio. A escolha deve levar em consideração a discussão sobre a viabilidade econômica, a existência de clubes de futebol com grande número de torcedores, bem como a participação dos clubes locais em campeonatos nacionais. Por fim, devem-se realizar pesquisas que indiquem o baixo risco do equipamento esportivo de se tornar um “elefante branco”, uma vez que existe um dispêndio de recursos públicos para tal construção. Os estudos sobre a viabilidade da construção do equipamento, custo e benefício bem como o planejamento futuro está presente em todos os megaeventos esportivos que envolvem construções de arenas ou estádios de futebol. A decisão sobre a construção do equipamento esportivo na realização da Copa do Mundo é de responsabilidade do país e dos estados-sede, em conjunto com a FIFA, responsável pela organização da Copa do Mundo. Um dos exemplos negativos de megaeventos esportivos foi a edição dos Jogos Olímpicos Athenas 2004, quando foram construídos diversos equipamentos que se tornaram “elefantes brancos” após a competição. No total, foram construídos 22 novos equipamentos esportivos e após os Jogos Olímpicos os locais de competições foram abandonados ou pouco utilizados. Dez anos após os Jogos Olímpicos Athenas 2004, o

Estádio Olímpico em Marouse (Olympic Stadium in Marouse) precisava de uma reforma. Em 27 de julho de 2014, Giannis Andrianos, vice-ministro de estado da Cultura do governo grego, enviou uma carta para o Presidente do Parlamento grego com um pedido de assistência financeira para ajudar na manutenção do equipamento esportivo devido ao risco de colapso. Além disso, os locais esportivos como o Estádio de Voleibol foram deixados sem uso, segurança e proteção (PAPANIKOLAOU, 2003). No caso brasileiro, o principal estado da Copa do Mundo da FIFA de 2014 foi o Rio de Janeiro, e logo após o anúncio oficial das cidades-sede, o Estádio do Maracanã foi indicado como palco da final, que foi sediada na cidade do Rio de Janeiro. A escolha do Estádio do Maracanã para ser sede da final da Copa do Mundo está relacionada à história do local, quando o estádio sediou a final da Copa do Mundo da FIFA Brasil 1950, entre o Brasil e o Uruguai. O Maracanã sediou jogos da Copa das Confederações da FIFA Brasil 2013 e durante a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 sediou quatro jogos da primeira fase, entre Argentina e Bósnia, Espanha e Chile, Bélgica e Rússia, Equador e França. Além disso, o Maracanã sediou um jogo das oitavas de final entre Colombia e Uruguai, um jogo das quartas de final entre França e Alemanha e o jogo da final do mundial entre Alemanha e Argentina. O estádio do Maracanã também sediará jogos de futebol durante os Jogos Olímpicos Rio 2016. O Maracanã se tornou o segundo estádio de futebol do mundo a sediar duas finais de Copa do Mundo da FIFA. O primeiro foi o Estádio Azteca, na Cidade do México, nas edições da Compa do Mundo da FIFA de 1970 e 1986 (FIFA, 2016). O Estádio do Maracanã foi demolido e foi reconstruído um novo para se adequar ao “padrão” FIFA. Antes e após o torneio, o Clube de Regatas do Flamengo e Fluminense Futebol Clube são os times mandantes do equipamento esportivo. O Estádio do Maracanã antes das construções da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 tinha uma gestão pública e o novo contrato tem uma gestão privada, a partir do consórcio da Odebrecht. A sociedade civil se mobilizou contra a privatização do estádio cujo lema central foi “o Maraca é nosso”, movimento que ganhou ênfase nas redes sociais e nos meios de comunicação de massa. Além disso, o Comitê Popular da Copa do Rio de Janeiro realizou um ato contra a privatização do estádio e contra a demolição do prédio histórico do antigo Museu do Índio31 (ROLNIK, 2012).

31 A sociedade civil se mobilizou contra a demolição do Museu do Índio durante as construções de obras para a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014. As manifestações ocorridas foram fortemente reprimidas pela polícia, com bombas de efeito moral e gás lacrimogênico.

Um estudo de viabilidade econômica realizado pela empresa IMX, do empresário Eike Bastista, indicou que o futuro administrador do Estádio do Maracanã terá um lucro em torno de R$ 1,4 bilhão ao longo dos 35 anos de exploração do equipamento esportivo. O cálculo envolveu a utilização de dois clubes de futebol com grande número de fãs como mandantes do estádio (Clube de Regatas do Flamengo e Fluminense Futebol Clube), além de receber outros eventos não esportivos, com um total de 123 eventos anualmente. O estudo incluiu ainda a exploração dos bares, restaurantes, cinema e centro de convenções previstas no projeto de reforma (NOGUEIRA, 2013). O segundo estado com maior importância no desenvolvimento da Copa do Mundo FIFA Brasil 2014 foi São Paulo. O estado de São Paulo tem um papel central na realização do torneio, já que foi responsável pela abertura da Copa do Mundo da FIFA, realizada em 12 de junho de 2014, no jogo entre Brasil e Croácia, na Arena Corinthians, na cidade de São Paulo. Além da abertura, a Arena Corinthians recebeu três jogos da fase de grupo, entre Uruguai e Argentina, Holanda e Chile, e Coreia do Sul e Bélgica, um jogo das oitavas de final, entre Argentina e Suíça, e um dos jogos da semifinal entre Holanda e Argentina. O equipamento esportivo também sediará jogos de futebol durante os Jogos Olímpicos Rio 2016. A Arena Corinthians configura-se como o principal equipamento esportivo construído no estado de São Paulo, com uma capacidade de 49.205 mil lugares. Durante a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, contou com uma capacidade de 65.000 mil lugares e o mínimo exigido pela FIFA foi 60.000 mil lugares. A Arena Corinthians tem uma gestão privada administrada pelo Sport Club Corinthians Paulista, com financiamento do BNDES, dos Certificados de Incentivo ao Desenvolvimento (CIDs) e em consórcio com a Odebrecht. O clube só começou a pagar o financiamento do banco após a arena ter ficado pronta (CORINTHIANS, 2015). A discussão sobre a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 no estado de São Paulo foi aprofundado no capítulo três da presente tese. O estado de Minas Gerais, localizado no sudeste do país, se configurou como um dos principais estados na Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014. O Estádio Minerão foi aberto em 1965 e fica localizado na cidade de Belo Horizonte. A reforma do novo Estádio Mineirão foi realizada em 2012 e os times do Cruzeiro, Atlético Mineiro e América Mineiro têm mandado partidas no estádio. A participação do Estádio Mineirão é significativa no Campeonato Brasileiro e no futebol nacional, já que desde 1965 os clubes

de Minas Gerais têm utilizado o equipamento esportivo, com grande número de torecedores. O novo Estádio Mineirão sediou jogos da Copa das Confederações da FIFA Brasil 2013 e foi sede de seis jogos da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, quatro jogos da fase de grupos entre Colômbia e Grécia, Bélgica e Argélia, Argentina e Irã, Costa Rica e Inglaterra, bem como jogos das oitavas de final entre o Brasil e o Chile e das semifinais entre o Brasil e a Alemanha. O estádio também sediará jogos de futebol durante os Jogos Olímpicos Rio 2016 (BRASIL, 2012b). O Distrito Federal correspondeu a uma região política e estratégica na realização da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014. O Estádio Nacional de Brasília Mané Garricha foi reconstruído na cidade de Brasília, com uma capacidade de 72.788 lugares. A inauguração do novo equipamento esportivo ocorreu, em 18 de Maio de 2013, no jogo da final do campeonato local, entre o Brasiliense e o Brasília. A partida contou com 22 mil torcedores, sendo que 6 mil ingressos foram dados para os operários que trabalharam na construção do equipamento esportivo. O hino nacional da partida foi cantado por Elza Soares, viúva do ex-jogador da seleção brasileria Mané Garrincha. De acordo com o governador Agnelo Queiroz (PT) “O Estádio será um instrumento de desenvolvimento econômico para Brasília” (COUTINHO, 2013). O Estádio Nacional de Brasília Mané Garricha recebeu jogos da Copa das Confederações da FIFA Brasil 2013 (com destaque para a abertura do torneio) e foi responsável por sediar quatro jogos da fase de grupos da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, entre Suíça e Equador, Colômbia e Costa do Marfin, e Camarões e Brasil, um jogo das oitavas de final, entre França e Nigéria, um jogo das quartas de finais entre Argentina e Bélgica, e o jogo do terceiro lugar, entre Brasil e Holanda. Além disso, o Estádio Nacional de Brasília Mané Garricha vai ser utilizado nos Jogos Olímpicos Rio 2016 (FIFA, 2012a). Os atrasos marcaram a edição do torneio no Brasil e desde 2010 houve acusações sobre o superfaturamento do Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha, quando o Tribunal de Contas do Distrito Federal apontou o sobrepreço de até R$ 74 milhões. O projeto de novo equipamento esportivo foi suspenso pelo governo do Distrito Federal por duas vezes, o que aumentou os riscos de atrasos no cronograma de obras para a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 (COUTINHO, 2010a).

Apesar das suspenções anteriores do projeto de reforma do Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha, o Tribunal de Contas do Distrito Federal, em 27 de abril de 2010, decidiu facilitar as exigências para que o governo distrital fizesse a licitação de 740 milhões. A permissão do Tribunal de Contas do Distrito Federal ocorreu sem o governo ter os R$ 23 milhões referentes à primeira etapa da obra (COUTINHO, 2010b). O Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha envolveu o maior dispêndio de fundos públicos entre todas as arenas e estádios de futebol construídos para a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014. O equipamento esportivo contou com a maior inflação de custos, comparando o seu plano inicial e o uso de fundos públicos no final. No plano inicial, o estádio foi orçado em R$ 696 milhões e o preço final oficial foi de R$ 1,4 bilhão, o dobro do que a África do Sul gastou com a construção do Estádio Soccer City, em Johannesburgo. O Soccer City tem capacidade para 94 mil assentos e o Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha tem capacidade para 72.788 mil assentos (BRASIl, 2014b). De acordo com o balanço do primeiro ano do Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha o equipamento esportivo levaria mais de mil anos para a recuperação de todo o investimento distrital. O aluguel do estádio é de R$ 4 mil independente do tamanho do evento, além dos 15% da renda que não são suficientes para a recuperação do montante de recursos públicos investidos na construção do equipamento esportivo (REBELLO; COSTA, 2014). O Estádio Nacional de Brasília Mané Garricha tem um modelo negativo de gestão e o seu custo final deixou a marca da segunda arena de futebol mais cara do mundo, embora não tenha time local com grande número de torcedores e que joguem o Campeonato Brasileiro Série A. O futuro do equipamento esportivo é incerto, uma vez que em 2015, o Brasília FC, time mandante, teve média de públicos de 312 pagantes na , conforme Tabela 6. O segundo time mandante do estádio é o Legião FC, que em 2015 só jogou o . Ambos os clubes de futebol não são viáveis economicamente para a manutenção do equipamento esportivo e o plano para o equipamento esportivo não se tornar um “elefante branco” é atrair jogos dos clubes do Campeonato Brasileiro da Série A.

Tabela 6 Estádios da Copa, clubes mandantes e médias de público. Arena ou estádio Clube(s) mandante(s) Média de público Estádio do Maracanã Flamengo/ Fluminense 27.016/14.036

Arena Corinthians Corinthians 33.480 Estádio Mineirão Cruzeiro/Atlético Mineiro 22.943/21.453 Arena Fonte Nova Bahia 15.295 Arena Pernambuco Clube Náutico Capibaribe 5.021 Estádio Castelão Ceará Sporting 16.557/ 14.192 Clube/Fortaleza Esporte Clube Estádio Beira-rio Clube Internacional de 21.488 Regatas Arena Atlético Clube Atlético Paranaense 12.833 Paranaense Arena das Dunas América de Natal/ABC 4.172/3.223 Estádio Mané Brasília FC/Legião FC 312/- Garrincha Arena Amazônia Nacional FC/Fast Clube32 321833/-

Arena Pantanal Mixto EC/Cuiabá EC -/1.509 Fontes: Lemos; Breves, 2015.

Durante a construção do Estádio Nacional de Brasília Mané Garricha houve alegações de corrupção e protestos, sobretudo com a relação entre as empresas que fizeram doações para as campanhas políticas e as empresas construtoras, como a Andrade Gutierrez e a Via Engenharia. A Andrade Gutierrez foi responsável por contribuir em aproximadamente R$ 73.180 nas eleições municipais de 2008 e em 2010 foi à empresa vencedora das licitações para construir ou reformar quatro estádios ou arenas de futebol para a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 (ASSOCIATED PRESS, 2014). Outro estado que foi sede da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 foi a Bahia. O principal equipamento erguido no estado foi a Itaipava Arena Fonte Nova, construída na cidade de Salvador, com capacidade de 51.900 torcedores. A Itaipava Arena Fonte Nova recebeu jogos da Copa das Confederações da FIFA Brasil 2013 e jogos da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, sendo o terceiro equipamento concluído para a realização do torneio. No total, foram seis jogos, quatro da fase de grupos, entre Espanha e Holanda, Alemanha e Portugal, Suíça e França, Bósnia e Irã, um jogo das oitavas de final, entre Bélgica e Estados Unidos, e um jogo das quartas de final entre Holanda e Costa Rica. A Itaipava Arena Fonte Nova também será ultilizada nos Jogos Olímpicos Rio 2016 (FIFA, 2012b).

32 A Arena da Amazônia não foi utilizada pelo Nacional e pelo Fast, durante o campeonato amazonense devido o alto custo de locação do estádio. A exceção ocorreu na partida final e o público total de todo o torneio foi de 33.353 pagantes foi menor que a capacidade da Arena da Amazônia, de 44 mil espectadores. 33 O teve uma média de pagantes de 3218, somados a Copa Verde e o Campeonato Brasileiro Série D no ano de 2015.

A Itaipava Arena Fonte Nova foi reconstruída no mesmo espaço do demolido Estádio Fonte Nova. O antigo equipamento esportivo foi construído no ano de 1951 e fechado em 2007 após a tragédia que matou sete pessoas e deixaram várias outras feridas, no jogo entre Bahia e Vila Nova, válido pelo Campeonato Brasileiro Série C. O Estádio Fonte Nova foi demolido em 2010 pelo governo da Bahia, responsável direto pela a gestão do equipamento esportivo. No mesmo ano da demolição do estádio iniciaram as obras para a Itaipava Arena Fonte Nova, que ficou pronta no ano de 2014. A inauguração da nova arena foi realizada em um clássico entre o Bahia e o Vitória. Os réus do incidente foram julgados inocentes e não respondem mais pela justiça (BARROS NETO, 2013). O Estado de Pernambuco se configura como outra importante sede da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014. Inicialmente houve uma candidatura unificada entre Olinda e Recife, e posteriormente a cidade de Recife lançou a candidatura única, em São Lorenço da Mata, na Região Metropolitana de Pernambuco. A Itaipava Arena Pernambuco sediou jogos da Copa das Confederações da FIFA Brasil 2013 e jogos da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014. No total, foram quatro jogos da fase de grupos, entre Costa do Marfim e Japão, Costa Rica e Itália, Croácia e México, e Alemanha e os Estados Unidos, além de um jogo das oitavas de final entre a Costa Rica e a Grécia. O clube de futebol mandante no equipamento esportivo é o Clube Náutico Capibaribe (SECOPA, 2014). O projeto da Itaipava Arena Pernambuco foi seguido de um projeto de Cidade Inteligente ou Smart city34 que integra moradia, trabalho, lazer e estudo. O projeto imobiliário envolve a arena indoor, parques, centros de convenções, Shopping Center, campus universitários, torres de escritórios e prédios públicos (SECOPA, 2014). No estado do Ceará, foi reconstruído o Estádio Governador Plácido Castelo, conhecido como Arena Castelão, em Fortaleza, cujo responsável pela gestão é o governo do estado do Ceára. O equipamento esportivo anterior teve sua inauguração no ano de 1973 e sua reconstrução foi realizada no ano de 2012, para o megaevento esportivo. A nova Arena Castelão tem a capacidade de 67.037 torcedores, e corresponde ao quarto maior estádio de futebol do Brasil (ARENA, 2015b). Na Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, a Arena Castelão, foi sede de quatro jogos da fase de grupo, entre Uruguai e Costa Rica, Brasil e México, Alemanhã e Gana, e

34 O conceito de smart city combina três dimensões da inteligência: humana (integrar moradia e trabalho na no local), coletiva (ampliação da cooperação entre empresas e população) e artificial (ambiente físico da cidade que dispõe infraestrutura para sua população) (KOMNINOS, 2002).

Grécia e Costa do Marfin, um jogo das oitavas de final entre Holanda e México e um jogo das quartas de final entre Brasil e Colômbia. Além disso, a Arena Castelão recebeu jogos da Copa das Confederações da FIFA Brasil 2013 e se configurou como um dos principais estádios construídos para o torneio no Brasil (ARENA, 2015b). Após a realização da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 dois clubes continua jogando como mandante do equipamento esportivo, o Ceará Sporting Clube e o Fortaleza Esporte Clube. Os dois clubes contam com número expressivo de torcedores no Brasil e em 2015 jogaram o Campeonato Brasileiro série B (ARENA, 2015b). O estado do Rio Grande do Sul também teve importante papel no desenvolvimento da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014. No estado foi reformado o Complexo Beira-Rio, na cidade de Porto Alegre, cujo time de futebol mandante é o Clube Internacional de Regatas. O Estádio Beira Rio foi inaugurado em 1969 e foi reformado para a Copa do Mundo da FIFA em 2014. Inicialmente o Complexo Beira-rio foi planejado para ter uma gestão privada do Clube Internacional de Regatas. No entanto, a partir da falta de recursos do clube e o atraso na obra, foi criada a Sociedade de Propósito Específico (SPE) Holding Beira-Rio S/A (BRIO), responsável pela modernização, comercialização e a gestão do estacionamento, lojas, publicidade, dentre outros setores para os próximos 20 anos. A BRIO é uma parceria entre o Clube Internacional de Regatas e a Andrade Gutierrez (INTERNACIONAL, 2012; ANDRADE GUTIERREZ, 2015). O estado do Paraná foi outra sede da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 e a principal obra foi a reconstrução do Estádio Joaquim Américo Guimarães (Estádio Atlético Paranaense), na cidade de Curitiba. O equipamento esportivo também é conhecido como Arena da Baixada, e foi construído em 1914 e reconstruído em 2014 para o megaevento esportivo. Este equipamento esportivo correu o risco de ficar de fora da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 devio aos atrasos nas obras (ATLÉTICO, 2014). O Clube Atlético Paranaense é o mandante de jogos e o responsável pela gestão privada da arena. A Arena da Baixada tem capacidade para 43.000 pessoas e durante a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 sediou quatro jogos da fase de grupos, entre Irã e Nigéria, Honduras e Equador, Austrália e Espanha, e Argélia e Rússia. Este equipamento esportivo teve o menor investimento público entre todas as arenas e estádios de futebol construídos para o torneio (ATLÉTICO, 2014).

No estado do Rio Grande do Norte, em 2014, foi construída a Arena das Dunas, na cidade de Natal, com o custo de R$ 423 milhões. A capacidade do estádio é de 31.375 torcedores e durante a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 foi de aproximadamente 42 mil assentos, com as arquibancadas móveis (ARENA, 2015a). A Arena das Dunas é administrada pela Arena das Dunas Concessão e Eventos S/A, uma parceria entre o Grupo OAS Engenharia e o Governo do Rio Grande do Norte, pelos próximos 20 anos. A construtora investiu recurso próprio e a outra parte contraiu o empréstimo do BNDES. O total do empréstimo foi de R$ 423 milhões e as outras garantias foram dadas pelo governo estadual (ARENA, 2015a). De acordo com Dantas (2011) o governo do Rio Grande do Norte vai investir aproximadamente R$ 1 bilhão pela Arena ao término do contrato de 20 anos de concessão. A soma total do contrato envolve o seguinte cálculo:

Nos primeiros 11 anos de funcionamento do estádio serão prestações mensais de R$ 9 milhões. Do décimo segundo ano até o décimo quarto ano, serão R$ 2,7 milhões/mês de prestação. Nos três últimos anos do contrato de financiamento, o Governo pagará à OAS prestações mensais de R$ 90 mil. Ao final do contrato de 20 anos, incluindo os três de carência, o Governo do Rio Grande do Norte terá desembolsado R$ 1.288.400.000, ou seja, o equivalente a três Arenas das Dunas (DANTAS, 2011, sn).

Durante a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 o estádio foi sede de quatro jogos da fase de grupos, entre México e Camarões, Gana e Estados Unidos, Japão e Grécia, e Itália e Uruguai (ARENA, 2015a). O clube mandante da Arena das Dunas é o América de Natal, que em 2015, teve uma média de público de 4.172, somadas as disputas do , , Copa Nordeste e Campeonato Brasileiro Série C. O ABC também manda jogos na Arena das Dunas e a média de público pagante em 2015 foi de 3.223 pagantes por partida, jogando o Campeonato Potiguar, Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro Série B, conforme Tabela 6. Entre as Arenas e os estádios de futebol construídos para o torneio, a Arena das Dunas está entre as quatro piores médias de públicos em 2015, e apresenta maiores riscos econômicos para o futuro (LEMOS; BREVES, 2015). Os riscos econômicos das construções das arenas e dos estádios de futebol em Natal, Fortaleza e Salvador foram transferidos para o poder público, sobretudo os atores políticos responsáveis pela gestão do equipamento após o torneio. De acordo com os dados

do Senado Federal, a Secretaria de Fiscalização de Desestatização e Regulação do TCU (Sedif) está investigando os contratos e as Parcerias Público-Privado (PPPs) nas três cidades (BRASIL, 6772014b). No estado do Amazonas, foi construída a Arena da Amazônia, em Manaus, no ano de 2014, com um custo total de R$ 605 milhões. O custo foi de 25% de investimentos públicos do Governo do Estado do Amazonas e 75% financiado pelo BNDES. A capacidade do estádio é de 41.000 assentos (ARENA, 2015c). A Arena da Amazônia tem como proprietário o Governo do Estado do Amazonas. O equipamento esportivo foi construído pela empreiteira Andrade Gutierrez e durante a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 foi sede de quatro jogos da fase de grupos, entre Inglaterra e Itália, Camarões e Croácia, Estados Unidos e Portugal, e Honduras e Suíça. Além disso, a Arena da Amazônia será utilizada nos jogos Olímpicos Rio 2016 (FIFA, 2012d; ARENA, 2015c). A Arena da Amazônia recebeu uma proposta de se tornar um centro de triagem de presos. A proposta foi do Tribunal de Justiça do Amazonas, que enviou ao governo do estado a sugestão para que a arena, que custou cerca de R$ 605 milhões, abrigue os recém- capturados. A justificativa é que a cadeia pública Raimundo Vidal Pessoa está superlotada e apresenta condições insalubres, já que tem capacidade para 300 presos e abrigou em 2013 1.100 detidos. A manutenção do equipamento esportivo terá um custo de R$ 6 milhões/ano em manutenção e não existe um planejamento para o futuro (REIS, 2013). O projeto da Arena da Amazônia foi criticada antes da escolha da sede, durante a construção e após a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014. A situação atual do equipamento esportivo só confirma o erro de gestão na escolha da cidade de Manaus como sede, uma vez que existem incertezas econônomicas para o futuro do equipamento esportivo. Atualmente os times mandantes no estádio não jogam o Campeonato Brasileiro Séries A, B ou C, e não contam com grande número de torcedores capazes de manterem o equipamento esportivo ativo o suficiente para não gerar prejuízos. O primeiro clube mandante, o Nacional FC, em 2015, teve uma média de público de 3218 pagantes na Copa Verde e no Campeonato Brasileiro Série D, e o segundo clube mandante, o Fast Clube, em 2015, só jogou o campeonato amazonense. Os clubes não utilizaram a Arena Pantanal no campeonato amazonense devido os custos com a locação. Somados o público pagante do campeonato local em todos os jogos (33.353) é menor que a

capacidade da Arena da Amazônia, de 44.000 mil espectadores (Tabela 6), o que comprova que o campeonato não tem potencial para a manutenção ativa do equipamento esportivo (LEMOS; BREVES, 2015). No estado do Mato Grosso, em 2014, foi construída a Arena Pantanal, na cidade de Cuiabá, com um custo final de R$ 646 milhões, no entanto, o equipamento esportivo foi orçado incialmente em 454,2 milhões. A Arena Pantanal é o principal equipamento esportivo do estado e tem a capacidade de 42.968 torcedores, no entanto, durante a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 foi oferecido 41.390 ingressos por partida. A missão da Arena Pantanal é substituir o antigo Estádio Governador José Fragelli (Estádio Verdão) (FIFA, 2012e). Durante a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, a Arena Pantanal foi sede de quatro jogos da fase de grupos entre o Chile e Austrália, Russía e Coreia do Sul, Nigéria e Bósnia e Herzegovina, e Japão e Colômbia (FIFA, 2012e). A gestão da Arena Pantanal é realizada pelo Governo do Estado de Mato Grosso. O projeto foi desenhado pela GCP Arquitetos e foi elogiado pela FIFA, por ter o conceito de sustentabilidade e por minimizar os impactos ambientais. O consórcio das construtoras envolveu a Mendes Junior e a Santa Bárbara Engenharia, no entanto, em 2013, com 62% de índice de conclusão da obra, a Arena Pantanal foi assumida pela Mendes Junior, após uma crise financeira da Santa Bárbara Engenharia (AGÊNCIA, 2013). Em 2015, o Tribunal de Contas do Estado (TCE) julgou o contrato da construção da Arena Pantanal e suspendeu o pagamento das próximas medições ou qualquer pagamento à construtura Mendes Júnior. No mesmo ano, foi aberto um inquérito para investigar se o governo pagou R$ 5,8 milhões a mais do que o previsto em contrato à construtora Mendes Júnior. Além disso, o TCE obrigou a empresa, no prazo de até 30 dias, a realizar um déposito de segurança de R$ 5.8 milhões, mesmo valor do prejuízo (TCE, 2015). Atualmente os clubes Mixto EC e o Cuiabá EC são os mandantes da Arena Pantanal, no entanto, são clubes de pouca expressão no futebol nacional. Em 2015, o Mixto EC só disputou o campeonato local e o Cuiabá EC teve uma média de público de 1.509 pagantes, conforme Tabela 6, somados os três campeonatos disputados (Campeonato mato- grossense, Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro Série C) (LEMOS; BREVES, 2015). A média de público de ambos os clubes são insignificantes para a manutenção da Arena

Pantanal. O plano é utilizar a Arena multiuso para shows, convenções, feiras agropecuárias e atrair jogos dos clubes do eixo Rio de Janeiro e São Paulo, mas os riscos para o fututo são elevados (AGÊNCIA, 2013). A Arena Pantanal tem o futuro incerto e não existe um plano de viabilidade econômica em longo prazo. A gestão do equipamento esportivo tem criado alternativas de mútiplos eventos, mas corre o risco de se transformar em um “elefante branco”. A arena evidencia a fragilidade no planejamento da gestão, ausência de amadurecimento de estudos de viabilidade econômica, falta de alinhamento do investimento com os objetivos e ausência de identificação de riscos de gestão antes da construção do equipamento esportivo. Por fim, pode-se afirmar que quatro das doze cidades-sede (Natal, Cuiabá, Manau, e Brasília) com arenas ou estádios de futebol reformados ou construídos para Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 tem pouca ou nenhuma capacidade técnica e econômica para manterem os equipamentos esportivos ativos. Das quatro cidades citadas, Natal é a menos preocupante, uma vez que existe um contrato privado para gerir a Arena das Dunas pelos próximos 20 anos, enquanto que Cuiabá, Manaus e Brasília apresentam custos de manutenção anual elevado e o setor público deve arcar com os altos custos (BRASIL, 2014a). De acordo com Reis, Telles e Dacosta (2013) as arenas e estádios de futebol serão utilizados para jogos da Copa do Brasil, seis na Série A, três na Série B e três para Série C (REIS, TELLES, DaCOSTA, 2013). Apesar dessa utilização, existem riscos da Arena da Amazônia em Manaus-AM, Arena Pantanal em Cuiabá-MT e Estádio Nacional de Brasília Mané Garricha ser subutilizados, devido à baixa expressividade dos clubes destas localidades no cenário nacional.

3.2 Intersetorialidade e Interinstitucionalidade

A intersetorialidade e a interinstitucionalidade são características de gestão presentes no planejamento e na execução das obras relacionadas à Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014. O torneio da FIFA envolve instituições internacionais e nacionais, públicas e privadas, com interesses difusos e com diferentes tipos de riscos, conforme discussão da seção anterior. Organizar um megaevento esportivo depende da governabilidade e

articulação política intersetorial que transcende qualquer política pública em âmbito nacional. De acordo com Frey (2000) as inter-relações das diferentes instituições e atores políticos periodicamente podem ser chamadas de policy network ou rede política. A análise de uma determinada política pública por meio da policy network pode contribuir no entendimento dos processos de conflitos e de coalização na vida político-administrativa. Além disso, a interação entre as diferentes instituições de forma interesetorial é de grande relevância para solucionar o problema dos escassos recursos financeiros. No caso das políticas públicas para o esporte, como no caso da agenda da Copa do Mundo da FIFA no Brasil, a interação entre diferentes intituições permitiu a descentralização de responsabilidades e de financiamento no desenvolvimento das ações políticas. Para a gestão do megaevento esportivo no Brasil, em 14 de janeiro de 2010, foi criado um Comitê Gestor da Copa do Mundo FIFA Brasil 2014 (CGCOPA 2014). O Comitê definiu, aprovou bem como supervisionou as ações no Plano Estratégico das Ações do Governo Federal do Brasil. A gestão intersetorial envolveu a Advocacia-Geral da União, Casa Civil da Presidência da República, Controladoria Geral da União, Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, além de 14 ministérios (Ministério das Cidades, Ministério da Ciência e Tecnologia, Ministério das Comunicações, Ministério da Cultura, Ministério da Defesa, Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Ministério da Fazenda, Ministério da Justiça, Ministério do Meio Ambiente, Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, Ministério das Relações Exteriores, Ministério da Saúde, Ministério do Trabalho e Emprego, Ministério dos Transportes e Ministério do Turismo, sob a coordenação do Ministério do Esporte) (BRASIL, 2010c). A coordenação do Comitê Gestor foi de responsabilidade do Ministério do Esporte, e teve como objetivo planejar o conjunto de atividades governamentais necessárias ao desenvolvimento da Copa do Mundo no Brasil. Uma das principais atividades realizadas foi a criação da Matriz de Responsabilidade da Copa que definiu a função descentralizada do Governo Federal, estaduais, municipais e distrital, o que tornou a administração do torneio complexa e com diversos riscos para serem geridos (BRASIL, 2010c). As exigências da FIFA de que o Brasil criasse um estado de exceção durante a Copa do Mundo aumentou os riscos da gestão intersetorial. No ano de 2007 o Governo Federal do Brasil garantiu 10 serviços para a FIFA:

1. Permissões para Entrada e Saída do País. O Brasil garantiu para a FIFA o visto de entrada e permissão de saída do País para os membros da instituição internacional e seus parceiros, bem como para os expectadores portadores de ingressos incondicionalmente. O Ministério de Relações Exteriores foi responsável por essa garantia, que foi contemplada na LGC (BRASIL, 2011c). 2. Permissões de Trabalho. O Governo Federal do Brasil garantiu para a FIFA permissões de trabalho para estrangeiros membros da instituição internacional, bem como para os seus parceiros e patrocinadores exercerem suas atividades sem a aplicação da legislação brasileira. O Ministério do Trabalho e Emprego foi responsável por essa garantia, que foi contemplada na LGC (BRASIL, 2011c). 3. Direitos Alfandegários e Impostos. A FIFA exigiu do governo brasileiro a garantia de importação e exportação de bens, isenta dos impostos cobrados por autoridades brasileiras. O Ministério da Fazenda foi responsável por essa garantia, que foi contemplada na Lei nº 12.350, de 20 de dezembro de 2010 (BRASIL, 2011c). 4. Isenção Geral de Impostos para a FIFA. Essas garantias ficaram sob- responsabilidade do Ministério da Fazenda e também foram asseguradas por meio da Lei nº 12.350, de 20 de dezembro de 2010 e LGC (BRASIL, 2011c). 5. Segurança e Proteção. A FIFA exigiu do Brasil segurança de todas as pessoas envolvidas com a Copa do Mundo e o Ministério da Justiça foi a instituição responsável por essa garantia. A LGC também abordou a temática e garantiu para a FIFA e suas entidades parceiras proteções e garantias de segurança durante o torneio (BRASIL, 2011c). 6. Bancos e Câmbio. O Brasil assegurou para a FIFA e para os seus parceiros e patrocinadores a entrada e saída de moedas estrangeiras do Brasil de forma irrestrita (BRASIL, 2011c). 7. Procedimentos de Imigração, Alfândega e Check-In. A FIFA exigiu do Brasil o tratamento prioritário dos membros da FIFA, dos dirigentes de jogos e de suas equipes. Os Ministérios da Fazenda, Justiça e Defesa foram as instituições responsáveis por essa garantia (BRASIL, 2011c). 8. Proteção e Exploração de Direitos Comerciais. A FIFA exigiu do Brasil a criação de uma Lei que assegure a exploração exclusiva da Copa do Mundo, bem como o registro de marcas, “marketing de emboscada”, entre outros. Os Ministérios da Justiça, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, da Cultura e da Ciência e Tecnologia foram as

instituições responsáveis por essa garantia. Além disso, a proteção e exploração exclusiva de direitos comerciais foram asseguradas na aprovação da LGC (BRASIL, 2011c). 9. Hinos e Bandeiras Nacionais. A FIFA exigiu do Brasil a reprodução de todos os hinos e bandeiras nacionais de todos os países participantes das competições. O Ministério das Relações Exteriores foi o responsável por esta garantia, mas não foi necessária criação de uma legislação específica, já que a Lei nº 9.615, de 24 de março de 1998 (Lei Pelé) contempla essa questão (BRASIL, 2011c). 10. Indenização. A FIFA exigiu do Brasil que tome todas as providências necessárias em casos de indenização. A garantia de indenização ficou sob-responsabilidade da Advocacia Geral da União (AGU), que também foi contemplada no texto final da LGC (BRASIL, 2011c). O Poder Executivo do Brasil ao garantir para FIFA a isenção de impostos, a entrada e saída dos membros da instituição sem a necessidade de visto e a exclusividade na exploração de imagens colaboraram para o processo de acumulação. De acordo com Harvey (2004), o processo de acumulação por espoliação ocorre em diferentes escalas espaciais. Como práticas antigas, pode-se citar o sistema de crédito e de capital financeiro. Como práticas novas e que foram utilizadas na Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, pode- se citar o Acordo Relativo aos Aspectos do Direito da Propriedade Intelectual Relacionados com o Comércio (TRIPS), conforme a garantias da FIFA, assinadas pelo Poder Executivo no Brasil e contempladas no Pode Legislativo via aprovação da LGC. Os governos brasileiros (federal, distrital, estaduais e municipais), ao concordarem em ser sede da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, fizeram uma série de garantias para a FIFA e a criação da LGC foi um mecanismo necessário para atender os acordos firmados em 2007. De acordo com o Deputado Federal Chico Alencar (PSOL-RJ) foi criado um “Estado Futebolístico de Exceção”, uma vez que os acordos firmados com a FIFA atende os interesses privados e mercantis da entidade internacional. A legislação nacional perdeu a soberania como forma de impor uma legislação excepcional, que garante renúncia fiscal, segurança, saúde, vigilância sanitária, imigração e outros benefícios para a FIFA. Além disso, o deputado solicitou transparência nas ações relacionadas à Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 (ALENCAR, 2012). Em resposta a Chico de Alencar, o Deputado Federal Vicente Cândido (PT-SP), relator do projeto da LGC criticou a reportagem e afirmou que existe uma “miopia contra

legado da Copa” e que existe desinformação na reportagem. De acordo com Vicente Cândido as ações da Copa do Mundo são transparentes e tudo foi acompanhado pelo Tribunal de Contas da União, Controladoria Geral da União e pelos veículos de comunicação que fizeram a cobertura sobre a temática. Por fim, o deputado afirmou que o projeto foi amplamente discutido em Congresso Nacional e que a Copa do Mundo da FIFA criará legados permanentes para o esporte. Ambas as notícias foram publicadas na Folha de S.Paulo, que permitiu o debate ao abrir a coluna esportiva para deputados com opiniões diversas sobre as ações do megaevento esportivo (CÂNDIDO, 2012). O interesse da FIFA, com a realização da Copa do Mundo também está relacionada à divulgação da sua marca no mundo, especialmente a partir da Copa do Mundo da FIFA Estados Unidos 1994. Após a realização do torneio nos Estados Unidos, a Copa do Mundo foi realizada novamente na Europa (edições da França em 1998 e Alemanha em 2006), na Ásia (edição do Japão e Coreia do Sul), na África (edição da África do Sul 2010) e retornou para Ámerica do Sul (edição do Brasil 2014), como já descrito anteriormente. A FIFA com a expansão do torneio para diferentes países, apesar de ser uma organização sem fins lucrativos, tem buscado aumentar a receita e os lucros, por meio dos parceiros e patrocinadores, venda de direitos de transmissão e venda de ingressos da Copa do Mundo. Para tal aumento de lucro, a FIFA tem requerido dos países sedes leis que garantam o monopólio de lucros e exploração de todos os aspectos do torneio. Por outro lado, os governos criam leis, já que compreendem o megaevento esportivo como uma oportunidade para melhorar a imagem do país para o mundo, atrair negócios e turismo. A divulgação da marca do país sede por meio do torneio de futebol pode envolver diferentes riscos, já que pode passar uma imagem positiva ou negativa, que vai depender da organização dos jogos, infraestrutura dos estádios, mobilidade urbana, aeroportos, sistema de telecomunicações e demais serviços. Durante a Copa do Mundo da FIFA África do Sul 2010, o Brasil, mostrou-se ao mundo a partir da criação da Casa Brasil, em Joanesburgo. Entre 15 de junho e 11 de julho de 2010, a Casa Brasil, recebeu 20,2 mil visitas de 102 países e foi à primeira oportunidade do Ministéro do Turismo em melhorar a imagem do país a partir da organização da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014. Das 20,2 mil visitas, 914 foram de jornalistas, que publicaram mais de 230 reportagens em diferentes veículos impressos. As ações de melhoria da

imagem do País envolveram a diversidade étnica, cultural, socioeconômica e ambiental (BARRETTO, 2010). Na Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, apesar dos riscos envolvidos na gestão, uma pesquisa realizada pelo Datafolha indicou que 83% dos turistas que vieram para o Brasil aprovaram a realização do torneio. Dos 2.209 mil turistas entrevistados, 3% avaliaram a Copa do Mundo da FIFA negativamente (ruim/péssima) e 12% avaliaram como regular, e cerca de 1% não soube responder. As entrevistas foram realizadas em inglês e espanhol e a infraestrutura esportiva corresponde ao ponto com melhor avaliação, 92% dos turistas indicaram (ótimo/bom) durante o torneio. O custo de vida, no Brasil, foi o ponto mais negativo, já que 29% dos torcedores entrevistados responderam ruim/péssimo (DATAFOLHA, 2014). Apesar da avaliação positiva sobre a Copa do no Brasil, sabe-se que o Governo Federal do Brasil ficou com a maior parte dos riscos com o megaevento esportivo e distribuiu outra grande parte para os estados e os municípios. A LGC, a qual foi debatida e analisada na próxima seção da tese, assegurou os lucros e merschandising para a FIFA, no entanto, a maior parte dos custos com o torneio foi de responsabilidade do governo brasileiro.

3.3 Interesses Privados da Lei Geral da Copa

O Projeto de Lei nº 2330 de 2011 ou Lei Geral da Copa (LGC) foi apresentado, em 17 de outubro de 2011, pelo deputado do Partido dos Trabalhadores (PT), Vicente Candido (SP). O Projeto de Lei, de maneira geral, versou sobre a venda de ingressos, consumo de bebidas alcoólicas, meia-entrada para estudantes e idosos, facilidades de vistos para os estrangeiros no Brasil e garantias de benefícios aos jogadores campeões da Copa do Mundo de 1958, 1962 e 1970. O debate do Projeto da LGC ocorreu nas comissões de Assuntos Econômicos, Cultura e Esporte, e Constituição, Justiça e Cidadania do Governo Federal, após polêmicas e conflitos sobre o atraso da sua aprovação. A FIFA fez severas críticas ao governo brasileiro, que cedeu e prometeu liberar emendas de paralametares para minimizar a crise na base do Congresso Brasileiro. O governo brasileiro marcou a data para votar o novo Código Florestal e prometeu ceder os pontos da futura lei ambiental. A aprovação

compreendida como um jogo de “toma lá dá cá” entre partidos políticos na aprovação de projetos políticos com interesses distintos no Congresso Brasileiro (COUTINHO, 2012b). A sanção do projeto da LGC ocorreu em cinco de junho de 2012 (Lei nº 12.663, de 05 de junho de 2012) e dispôs “sobre as medidas relativas à Copa das Confederações FIFA 2013, à Copa do Mundo FIFA de Futebol Masculino 2014 e à Jornada Mundial da Juventude – 2013”. A legislação altera as Leis nº 6.815, de 19 de agosto de 1980, que define a situação jurídica do estrangeiro no País, e a Lei nº 10.671, de 15 de maio de 2003 (Estatuto do Torcedor) (BRASIL, 2003b; 2012). A LGC foi composta por 10 capítulos e 71 artigos, dos quais quatro foram vetados35 pela presidente Dilma Rousseff (PT), o que totalizou 67 artigos sancionados. Ao longo do seu processo de tramitação na Câmara de Deputados foram propostas 66 emendas, sendo que 62 foram disponibilizadas e analisadas na presente tese. Os temas polêmicos em destaque nas 62 emendas enviadas pelos Deputados Federais foram: exclusividade de lucro da FIFA, comercialização, consumo e porte de bebidas alcoólicas em estádios de futebol e meia-entrada para estudantes e idosos. O tema polêmico mais incidente foi à exclusividade de lucro da FIFA, com 18 emendas. A emenda 5, de autoria de José Rocha (PR/BA) e Otoniel Lima (PRB-SP), buscou garantir que as redes de programação básica de televisão tenham o conteúdo disponibilizado à emissora geradora de sinal nacional de televisão, no entanto, essa emenda não foi aprovada pelo Poder Legislativo. As emendas 10, 21 e 42, propostas pelo deputado André Figueiredo (PDT/CE), foram aprovadas e modificaram o Art. 11 do Projeto da LGC. A redação final da Lei foi aprovada da seguinte forma:

A União colaborará com Estados, Distrito Federal e Municípios que sediarão os Eventos e com as demais autoridades competentes para, com exclusividade, divulgar suas marcas, distribuir, vender, dar publicidade ou realizar propaganda de produtos e serviços bem como outras atividades promocionais ou de comércio de rua, nos Locais Oficiais de Competição (BRASIL, 2012a).

35 Os artigos vetados foram: 59 e 60, que definiam regras para o trabalho voluntário, excluindo a proibição desse serviço em atividades que possam colocar em risco a segurança e o bem-estar do público, sob a justificativa de que a legislação brasileira já contempla esses quesitos; e os artigos 48 e 49, que tratavam das regras para facilitar a obtenção de visto, sob a justificativa de que a proposta era um retrocesso à atual sistemática de sua emissão. Foram vetados ainda os seguintes parágrafos: o Parágrafo 3º do Art. 26, que garantia a reserva de 10% de ingressos da categoria 04 (ingressos da cota social) para as competições; e o Parágrafo 9º do Art. 26, que tirava a validade das leis municipais e estaduais durante a comercialização dos ingressos para Copa do mundo Fifa de 2014, com objetivo de ferir o pacto administrativo.

O deputado André Figueiredo (PDT/CE) propôs a exclusividade da FIFA em explorar comercialmente, em um raio de 2 km das arenas e estádios de futebol, nos dias de jogos. Essa exclusividade foi aprovada e foi denominada de Locais Oficiais de Competição (LOC). A área de exclusividade tem sido incisiva durante a realização dos megaeventos esportivos como a Copa do Mundo da FIFA e os Jogos Olímpicos. A mudança na legislação da cidade sede tem a intenção de criar um espaço privado apenas para os patrocinadores desfrutarem dos lucros, de modo que reduza o marketing de emboscada das marcas e empresas não patrocinadoras. Além disso, a Copa do Mundo da FIFA envolveu a proteção de palavras relacionadas ao torneio, o que proíbe os não patrocinadores de usarem termos relacionada a competição em propagandas. A intenção da FIFA é diminuir ao máximo os riscos de empresas não patrocinadoras lucrarem como o megaevento esportivo (HORNE, 2007a). A tramitação o Projeto LGC, no Congresso Nancional, apresenta indicíos de que as emendas aprovadas estão alinhadas aos interesses da FIFA e do Governo Federal do Brasil. Pode-se descatar a emenda 30, de Vicentinho (PT/SP), que propôs e não conseguiu assegurar aos vendedores autônomos e ambulantes a autorização para vender os seus produtos. A proposta de redação foi negada, conforme texto a seguir.

A delimitação das áreas de exclusividade relacionadas aos Locais de Competição não prejudicará as atividades dos estabelecimentos regularmente em funcionamento, bem como dos vendedores autônomos e ambulantes que possuam autorização ou cadastro nas respectivas Prefeituras para o comércio nas ruas localizadas nos Locais Oficiais de Competição, observado o disposto no art. 170 da Constituição Federal (Emenda 30).

Dessa forma, apenas os estabelecimentos com funcionamento regular não foram atingididos com essa legislação. Esses dados apresentados nas emendas corroboram com a discussão realizada por Reis (2012), de que esta ação fere a autonomia dos ambulantes e dos proprietários de estabelecimentos comerciais de vender produtos de marcas não elegidas pela FIFA. A temática da venda dos ingressos foi pauta da emenda 40, de Jairo Ataíde (DEM/MG) e Rodrigo Maia (DEM/RJ). O objetivo dessa emenda foi propor que a FIFA e o país organizador do evento determinassem o preço dos ingressos, no entanto, não foi

aprovada, e prevaleceu os interesses da FIFA, em definir de forma exclusiva os preços dos ingressos para cada categoria. O contrato do Estádio (Stadium Agreement) também reforçou que a FIFA e o COL são responsáveis por tomar todas as decisões relacionadas com a emissão de ingresso do torneio. Os preços dos ingressos, número de ingressos para a compra, ingressos de corteria e VIP foram de exploração inclusiva da FIFA e do COL (FIFA, 2011a). A LGC não detalhou o sistema de categorias, mas os preços dos ingressos foram fixados em ordem decrescente, o mais elevado foi o da categoria 1. O Art. 26 da Lei afirma que “[...] a FIFA colocará à disposição, para as partidas da Copa do Mundo FIFA de Futebol Masculino 2014, no decurso das diversas fases de venda, ao menos, 300.000 (trezentos mil) ingressos para a categoria 04” (BRASIL, 2012a). Os ingressos da categoria quatro foram vendidos com desconto de 50% (cinquenta por cento) para estudantes, e participantes de programa federal de transferência de renda.36 A venda dos ingressos na Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 corresponde a uma estratégia do modelo de gestão empreendedora, com ênfase no consumo daqueles que podem pagar, em detrimeno de um modelo democrático, que valoriza os espaços públicos, acesso para todos em locais com maior pluraridade. A venda de ingressos em um país com tamanha disparidade social cria um abismo entre quem pode pagar e quem não pode, no que diz respeito ao acesso ao lazer. Ao pesquisar o Pan-Americano, Mascarenhas e Borges (2008) destaca que a cidade do Rio de Janeio adotou um modelo de cidade empreendedora, de gestão empresarial, com base nos princípios mercadológicos. A exclusividade de lucros para a FIFA também foi presente na discussão sobre o não pagamento do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). Destacou-se a emenda 16, de Rubens Bueno (PPS/PR), que buscou a supressão do artigo que garantia esse benefício para a FIFA, com a justificativa de que a entidade internacional possui condições financeiras apropriadas para pagar os registros de marcas. Além disso, a garantia de autonomia do INPI foi proposta, na emenda 52, dos deputados Ivan Valente (PSOL/SP), Chico Alencar (PSOL/RJ), e Jean Wyllys (PSOL/RJ). Sobre os lucros exclusivos da FIFA, destacam-se as emendas: 16, da deputada Carmen Zanotto (PPS/SC), que não foi aprovada, apesar de defender que os produtos a serem comercializados, durante a Copa do Mundo, fossem produzidos no Brasil, o que

36 Os principais programas de transferência de renda no Brasil são: Bolsa Família, Bolsa Verde e o Programa de Fomentos às Atividades Produtivas Rurais.

promoveria o crescimento de empregos e evitaria a importação de todos os produtos; e 57, de Ivan Valente (PSOL/SP), Chico Alencar (PSOL/RJ), e Jean Wyllys (PSOL/RJ) que aprovaram e garantiram a aplicação da legislação brasileira em casos de pirataria, enquanto a FIFA queria uma pena maior que a prevista. A LGC reforça o contrato realizado entre o Governo Federal do Brasil e a FIFA, quando garantiu por meio do documento Contrato do Estádio, a exploração exclusiva dos seguintes serviços: publicidade, marketing, promoção, merchandising, identificação da marca e identificação comercial. Além disso, os estádios devem estar livres de quaisquer direitos de terceiros de realizar qualquer atividade comercial (FIFA, 2011a). Uma análise a partir do neoinstitucionalismo histórico de Hall e Taylor (2003) permite verificar a diferença de poder atribuída para a FIFA, Governo Federal do Brasil e Poder Legsilativo na sanção da LGC. A FIFA foi a instituição com maior poder e determinou o comportamento do Governo Federal do Brasil, bem como do Poder Legislativo em aprovar a LGC, o que confirma as relações assimétricas de poder. A segunda temática mais incidente, dos temas polêmicos, foi a comercialização, consumo e porte de bebidas alcoólicas, com um total de 15 emendas. A vedação da venda de bebidas alcoólicas foi exposta e aprovada a partir das seguintes emendas: 1 e 2, de autoria do deputado Vanderlei Macris (PSDB-SP); 31, de Onofre Santo Agostini (PSD- SC); 41, de Marcelo Aguiar (PSD-SP); 44, 45 e 46, de Ratinho Junior (PSC/PR), com o argumento de segurança para o cidadão; e 47, 50 e 59, de Ivan Valente (PSOL/SP), Chico Alencar (PSOL/RJ), e Jean Wyllys (PSOL/RJ). Destaca-se ainda a emenda 62, de Paulo Pimenta (PT/RS), que buscou a proibição de propaganda de bebidas alcoólicas nos meios de comunicação de massa, com a argumentação de que esse procedimento evitaria diversos acidentes de trânsito. A proibição da comercialização, consumo e porte de bebidas alcoólicas foi unanimidade nas emendas, apesar disso, a LGC aprovada ocultou o Art.13 do Estatuto do Torcedor (alterado pela Lei nº 12.299, de 27 de julho de 2010), que definia como condição de acesso e permanência do torcedor no recinto esportivo o não porte de: “[...] objetos, bebidas ou substâncias proibidas ou suscetíveis de gerar ou possibilitar a prática de atos de violência” (BRASIL, 2013a). Ao subsumir o artigo do Estatuto do Torcedor, na LGC, feriu o pacto federativo. No estado de São Paulo, desde a morte do são-paulino Márcio Gasparim, no

jogo da Copa São Paulo de Futebol Júnior de 1995, e a sanção da Lei nº. 9.470, de 27 de dezembro de 1996, foi vetada o uso de bebidas alcoólicas. Na Lei nº 9.470, de 27 de dezembro de 1996, artigo 5º, foi definido que:

Nos estádios de futebol e ginásios de esportes mencionados ficam proibidas a venda, a distribuição ou utilização de: I - bebidas alcoólicas; II - fogos de artifício de qualquer natureza; III - hastes ou suportes de bandeiras; e IV - copos e garrafas de vidro e bebidas acondicionadas em lata (SÃO PAULO, 1996).

De modo semelhante, no estado do Rio Janeiro, a Lei nº 2.291, de 23 de junho de 1998, Art. 1º “Proíbe a venda de bebidas alcoólicas destiladas nos estádios de futebol e em suas proximidades, nos dias de jogos, em todo o estado do Rio de Janeiro” (RIO DE JANEIRO, 1998). No estado do Rio Grande do Sul, a Lei nº 12.916, de um de abril de 2008, proíbe a venda de bebidas alcoólicas no seu Art. 1º, ao descrever que “ficam proibidos, nos dias de jogos, a comercialização e o consumo de bebidas alcoólicas nos estádios de futebol” (RIO GRANDE DO SUL, 2008). No estado de Pernambuco, a Lei nº 13.748, de 15 de abril de 2009, contempla em seu Art. 1º que “fica proibido vender, expor à venda, oferecer, servir, transportar, trazer consigo, guardar, consumir, entregar a consumo ou fornecer, ainda que gratuitamente, bebidas alcoólicas no interior dos estádios de futebol” (PERNAMBUCO, 2009). O debate sobre a venda de bebidas alcoólicas teve muita incidência na mídia impressa. A tramitação da LGC irritou os dirigentes da FIFA, e foi descrito que a instituição ameaçou as sedes que não atorizaram a venda de bebidas alcoólicas com a perda de jogos importantes do torneio ou até mesmo a retirada do estado da organização da Copa (CHADE, 2012). A importância do debate acerca das bebidas alcoólicas nos jogos da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 está relacionada à problemática:

[...] da violência em torno do futebol, principalmente aquelas manifestadas nas grandes cidades em dias de jogos de futebol profissional entre equipes arquirrivais como um problema complexo e multifatorial, pode-se sim incluir entre os fatores geradores de violência o uso abusivo de álcool pelos jovens espectadores de futebol (REIS, 2012, p. 70).

A venda de bebidas alcoólicas durante a Copa do Mundo está relacionada a um projeto de ganho de mercado consumidor, já que as únicas marcas de cerveja

comercializadas de duas empresas patrocinadoras da FIFA, a Budweiser (Anheuser-Busch) e a Brahma. Caetano, Pinsky e Laranjeira (2012) alertam que esse debate está relacionado à saúde pública e a Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (ABEAD) que tem realizado um movimento contra o consumo de bebidas alcoólicas nos estádios, e afirma que as cervejarias têm lutado pelo enfraquecimento das leis que proibem a sua comecialização. O terceiro tema polêmico, foi a meia-entrada para a os estudantes e os idosos, com 7 emendas. Na emenda 20, de autoria do deputado Arnaldo Jorky (PPS/PA), foi defendido que o pacto federativo deve ser respeitado, e que a não validade das leis estaduais e municipais sobre a meia-entrada fere a soberania nacional. Na emenda 34, Carlos Souza (PSD/AM) propôs e conseguiu aprovar que a comprovação da condição de estudante requer a apresentação da Carteira de Identificação Estudantil de acordo com modelo nacional,

[...] expedida exclusivamente pela Associação Nacional de Pós- graduandos, pela União Nacional dos Estudantes, pelos Diretórios Centrais de Estudantes das Instituições de Ensino Superior, pela União Brasileira dos Estudantes Secundaristas, pelas uniões estaduais e municipais de estudantes universitários.

Na mesma linha, Efraim Filho e Antônio Carlos Magalhães Neto (DEM/BA) propuseram a renovação das carteiras estudantis, com a implantação de chips para armazenamento de informação e não conseguiram aprovação. A emenda 37, de Jairo Ataíde (DEM/MG) e Rodrigo Maia (DEM/RJ), aprovou que a quantidade mínima para os ingressos da categoria 4 seria de 10% do total de cada partida. Por fim, Ivan Valente (PSOL/SP), Chico Alencar (PSOL/RJ), e Jean Wyllys (PSOL/RJ) propuseram e não conseguiram aprovar, por meio da emenda 49, a meia-entrada em todas as categorias. Os temas não polêmicos discutidos na tramitação da LGC foram: 1. Ingressos para pessoas com deficiência; 2. Vistos de entrada para estrangeiros no Brasil; 3. Defesa do consumidor; 4. Gramado. 5. Voluntário; 6. Mobilidade urbana; 7. Instalação de telões públicos para transmissão de jogos; 8. Liberdade de expressão. 9. Campanha e compromisso pelo emprego e trabalho decente na Copa do Mundo; e 10. Privatização das arenas e dos estádios de futebol (Tabela 1).

Dos temas não polêmicos, o mais incidente foi o ingresso para pessoas com deficiência, com quarto emendas submetidas no total. Pode-se destacar a emenda três, de Ruy Costa (PT-BA), que garantiu o acesso das pessoas com deficiência nos estádios, ao aprovar 1% dos ingressos para esse público. Como tentativa de ampliar o acesso das pessoas com deficiência foi a emenda quatro, de Otávio Leite (PSDB-RJ), Eduardo Barbosa (PSDB-MG), Mara Gabrilli (PSDB-SP) e Rosinha da Adefal (PTdoB/AL), que buscou assegurar 3% (três) dos ingressos de todas as categorias, entretanto, essa emenda não foi aprovada. A emenda 38, de Jairo Ataíde (DEM/MG) e Rodrigo Maia (DEM/RJ), buscou viabilizar o acesso e a venda de ingressos para pessoas com deficiência, com instalações adequadas e específicas nos Locais Oficiais de Competição, no entanto, essa emenda não foi aprovada. A emenda 5, do deputado Romário (PSB/RJ), foi relacionada à temática das pessoas com deficiência e também não foi aprovada, apesar de buscar garantir, a partir dos lucros da Copa do Mundo da FIFA, a construção de centros de treinamento de atletas de futebol, o incentivo para a prática das pessoas com deficiência37 e apoio às pesquisas específicas de tratamento de doenças raras. A segunda temática mais incidente foi visto de entrada no Brasil e no total foram quatro emendas propostas. As emendas oito e nove, de André Figueiredo (PDT/CE), foram aprovadas pelo Poder Legislativo e buscaram retirar a gratuidade do visto para todos os visitantes, bem como deixar esse benefício apenas para a FIFA. Em contraposição a essa proposta, destaca-se a emenda 48, de Ivan Valente (PSOL/SP), Chico Alencar (PSOL/RJ), e Jean Wyllys (PSOL/RJ), que buscou vetar a entrada irrestrita no território brasileiro, durante a realização da Copa do Mundo, mas foi aprovada. Uma terceira temática, dos temas não polêmicos, em destaque foi o direito do consumidor. A emenda 17, de Rubens Bueno (PPS/PR), fez uma crítica aos poderes ilimitados da FIFA para decidir questões de cancelamento, devolução e reembolso de ingresso, assim como para alocação, realocação, marcação, remarcação e cancelamento de assentos; permite a venda casada; e autoriza a FIFA a impor cláusula penal nos contratos em casos em que o torcedor queira desistir do ingresso após confirmação do pedido ou após o pagamento do valor do ingresso.

37 Romário é pai de uma filha com síndrome de down e uma das promessas de campanha foi criar projetos que beneficie as pessoas com deficiências e com doenças raras.

A emenda 26, de Rubens Bueno (PPS/PR), defendeu que a aquisição de ingresso para a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, independentemente da forma ou do local de submissão do pedido, leve em consideração o Código de Defesa do Consumidor. A aprovação da LGC desconsiderou o Art. 22, da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, que garante que: “os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos” (BRASIL, 1990). Em seu artigo 68, § 1º, a LGC se configurou como inconstitucional38 à medida que suspende a proteção do consumidor durante o evento (BRASIL, 2012a, p. 251). A Lei não expressou responsabilidade da instituição de reparar os danos aos consumidores e garantiu para a FIFA os poderes para estabelecer os critérios de venda, sem aviso prévio. A suspensão de direitos dos cidadãos também ocorreu nos Jogos Olímpicos de Sydney em 2000, quando foi suprimido o direito de recorrer contra os projetos do megaevento esportivo. Além disso, os meios de comunicação de massa ilustraram e reforçam os benefícios dos Jogos Olímpicos, como forma de legitimar essa supressão dos direitos dos cidadãos (HALL, 2012). Uma quarta temática foi a do gramado, que foram discutidas nas emendas 32 e 33, de Lilian de Sá (PSD-RJ), que solicitou a inclusão do seguinte Artigo:

Os gramados esportivos a serem usados na Copa das Confederações da Federação Internacional de Futebol Associação a ser realizada no Brasil em 2013 e na Copa do Mundo a se realizar no Brasil em 2014 deverão observar as características de cada região, juntamente, com a destinação do uso de cada estádio de futebol e terão de ser modulares e estar em conformidade com a bibliografia, normas e padronização da United States Golf Association – USGA

A justificativa da substituição do gramado com fibras sintéticas para modulares teve como argumentos centrais: as diversidades climáticas de cada região das cidades-sede; o elevado custo do gramado com fibra sintética e a vida útil curta do gramado com fibra sintética, cerca de dois a três anos. Os gramados modulares foram utilizados em diversos eventos esportivos do mundo e podem ser retirados do campo de jogo sem danificar a sua qualidade. Essas propostas evidenciam que essas emendas buscaram beneficiar as diversidades regionais, o que atenderia diferentes dimensões da qualidade da democracia.

38 Inconstitucionalidade tem um valor negativo e implica o contrário de constitucionalidade. Não independente da Constituição, e implica na omissão do legislador em garantir os valores constitutivos.

Contudo, tal proposta foi negada, uma vez que, a FIFA exige um padrão de gramado específico. A quinta temática foi a do voluntário, presente na emenda 28, de Vicentinho (PT/SP). Essa emenda defendeu a aplicação das normas trabalhistas, bem como as penalidades decorrentes do descumprimento da Lei nº 9.608, de 18 de fevereiro de 1998, com a não substituição dos empregos assalariados. Os deputados Ivan Valente (PSOL/SP), Chico Alencar (PSOL/RJ), e Jean Wyllys (PSOL/RJ), a partir da emenda 53, propuseram e não conseguiram aprovar que o trabalho voluntário seja remunerado (três salários mínimos mensais), qualificado (garantia de que a FIFA arcará com os cursos de línguas) e com garantias de que a FIFA se responsabilizaria com despesas médicas, transporte e alimentação. A mobilidade urbana foi a sexta temática, dos temas não polêmicos, com destaque para a emenda seis, de André Figueiredo (PDT/CE). Essa emenda aprovada autorizou o uso de Aeródromos Militares, como forma de ampliar a capacidade brasileira de receber estrangeiros durante a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014. A sétima temática diz respeito à instalação de telões públicos para transmissão de jogos nos estados, no Distrito Federal e nos municípios que sediarão a Copa do Mundo, e foi proposta por meio da emenda 22, do deputado Otávio Leite (PSDB/RJ). Essa emenda buscou garantir a transmissão de qualidade dos jogos para todas as classes, no entanto, essa emenda não foi aprovada. A oitava temática se refere à liberdade de expressão, presente na emenda 27, de Vicentinho (PT/SP), quando foi aprovado, o direito de manifestação e plena liberdade de expressão em defesa da dignidade da pessoa humana. A nona temática foi a campanha e compromisso pelo emprego e trabalho decente na Copa do Mundo e foi reportada na emenda 29, do deputado Vicentinho (PT/SP), quando foi proposta a vedação de “apresentar casos de trabalho escravo, infantil ou degradante, e quaisquer contratos somente poderão ser firmados após a apresentação da Certidão Negativa de Débitos Trabalhista”. A décima temática, dos temas não polêmicos, diz respeito à privatização das arenas e dos estádios de futebol, presente na emenda 58, de Ivan Valente (PSOL/SP), Chico Alencar (PSOL/RJ), e Jean Wyllys (PSOL/RJ). Essa emenda defendeu que estádios da Copa do Mundo da FIFA não fossem privatizados, já que foram construídos com os recursos públicos.

No Capítulo II, Seção III, Art. 12 foi prescrito que a FIFA é “[...] a titular exclusiva de todos os direitos relacionados às imagens, aos sons e às outras formas de expressão dos eventos, incluindo os de explorar, negociar, autorizar e proibir suas transmissões ou retransmissões” (BRASIL, 2012a). Os veículos de comunicação não podem associar as imagens para divulgação dos seus produtos, já que a lei garante essa exclusividade à FIFA. Caso isso ocorra, a emissora é obrigada a indenizar os danos e os lucros cessantes. A exclusividade garantida para a FIFA tem por intuito assegurar o lucro com a realização do evento. Apesar de não ser a responsável pela maior ordem de investimentos para a realização do evento, pode-se afirmar que a arrecadação, seja com direitos de imagem, marketing associado, dentre outras formas de negócios, são reservados à entidade e às suas marcas patrocinadoras. Podem-se destacar ainda que os benefícios garantidos aos ex-jogadores campeões das Copas de 1958, 1962, 1970 correspende a uma questão que merece uma análise. No Capítulo IX, foi evidente a concessão de benefícios no Art. 37 “[...] aos jogadores, titulares ou reservas das seleções brasileiras campeãs das copas do mundo FIFA, modalidade masculina, nos anos de 1958, 1962 e 1970: I - prêmio em dinheiro; e II - auxílio especial mensal para jogadores sem recursos ou com recursos limitados”. Acrescentou-se no Art. 38 que o “prêmio será pago, uma única vez, no valor fixo de R$ 100.000,00 (cem mil reais) ao jogador” (BRASIL, 2012a) o que competiu ao Ministério do Esporte o pagamento. O auxílio especial mensal tem como base o teto máximo pago pela Previdência Social, que em 2013 foi estabelecido em R$ 4.159,00 (quatro mil cento e cinquenta e nove reais). A Folha de S.Paulo, em 07 de dezembro de 2011, em matéria intitulada "Lei da Copa prevê prêmio a campeões”, publicou que “[...] 51 campeões mundiais das Copas de 1958, 1962 e 1970 devem ser contemplados. No caso dos atletas já falecidos, o prêmio irá para seus familiares” (LEI, 2011, p. D6)i. Os cálculos dos 51 atletas que receberam o prêmio estimam-se R$ 5.100.000,00 (cinco bilhões e cem mil reais) pagos de uma só vez pelo Ministério do Esporte e R$ 212.109,00 de auxílio especial mensal pago pela Previdência Social. Vale ressaltar que o prêmio e auxílio especial para os jogadores de futebol não foram discutidos na tramitação da LGC e foi pouco debatido na cobertura da mídia

impressa pesquisada. No entanto, pode-se destacar o protesto realizado na coluna do jornal a Folha de S.Paulo do jogador Tostão, ao afirmar que abdicou do prêmio, por não ser a favor de um privilégio de tamanho descabido aos jogadores de futebol, conforme trechos da reportagem a seguir:

Recusei o prêmio de R$ 100 mil e a aposentadoria especial dado pelo governo aos campeões do mundo de 1958, 1962 e 1970 porque não quero ter esse privilégio. Na época, fomos bem premiados pelo título. Os atletas campeões que passam por dificuldades precisam ser ajudados pelo governo, por meio da Previdência Social, como todo cidadão, e pelas entidades governamentais que prestam apoio aos ex-atletas (TOSTÃO, 2012).

A LGC, ao beneficiar entidades e interesses privados, não está de acordo com a concepção de lei proposta por Bobbio et al. (2004,p.352), compreendida como uma “norma geral e abstrata que por si só permite dar cidadania a interesse que não são particulares”. A população só foi citada como beneficiada em dois trechos da lei. O primeiro, na regulamentação do trabalho voluntário e o segundo no caso de um retorno social da FIFA ao país sede da Copa. Em relação ao segundo, campanha do trabalho decente previsto na LGC, foi prescrito no capítulo VII, Art. 29, que o poder público celebrará acordos com a FIFA na divulgação de eventos como: campanha com o tema social “Por um mundo sem armas, sem drogas, sem violência e sem racismo”; e da promoção dos pontos turísticos brasileiros (BRASIL, 2012a). Para a FIFA, a LGC e a Copa do Mundo de forma geral se configura como um negócio rentável em termos de receitas e lucros. Os maiores riscos, conforme analisado na LGC foram assumidos pelo governo brasileiro. A FIFA não teve custo com a preparação da Copa do Mundo e os investimentos foram de responsabilidades dos governos federal, estaduais, municipais e distrital, conforme Matriz de Responsabilidade da Copa. Dando aprofundamento à análise, no próximo capítulo, será discutida a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, com ênfase na gestão do estado de São Paulo.

4 A COPA DO MUNDO DA FIFA VEIO A SÃO PAULO

Quando foi anunciado o Brasil como sede da Copa do Mundo da FIFA de 2014 o estado de São Paulo foi indicado como um dos favoritos para estarem entre as doze sedes do torneio. Tal fato talvez se deva porque o estado de São Paulo conta com a maior economia do Brasil e tem um campeonato de futebol estruturado, com clubes de futebol tradicionais que jogam com frequência o Campeonato Brasileiro Série A.39 A cidade de São Paulo e o estado de São Paulo ao concordarem em serem sedes do torneio assumiram obrigações em relação às competições com a FIFA.40 No entanto, durante o período de preparação para a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, o estado de São Paulo não contava com arenas ou estádios de futebol no padrão FIFA e a necessidade da reforma ou construção de um equipamento esportivo foi um dos pontos mais discutidos na gestão do torneio. Para além da construção ou reforma de um novo equipamento esportivo o estado de São Paulo ofereceu o maior número de Centros Oficiais de Treinamento (COTs), entre todos os estados brasileiros e recebeu 15 das 32 seleções durante a Copa do Mundo da FIFA.41

4.1 Copa do Mundo da FIFA no Estado de São Paulo

O anúncio oficial de que o estado de São Paulo seria sede da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 foi realizado, em 31 de maio de 2009, e a capital de São Paulo foi selecionada como uma das 12 cidades-sede do torneio (FIFA, 2011b; ACCENTURE, 2011). De acordo com Marcio Pochmann, o estado de São Paulo teve um papel fundamental na realização da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, já que deteve cerca de

39 Os clubes de futebol do estado contam com um grande número de torcedores no Brasil, com destaque para o Sport Club Corinthians Paulista, o São Paulo Futebol Clube, a Sociedade Esportiva Palmeiras (clubes de futebol da capital de São Paulo) e o Santos Futebol Clube (clube de futebol do interior do estado de São Paulo). 40 A FIFA tem o direito de alterar, suprimir, complementar ou adicionar exigências ao termo a qualquer momento. A cidade que concordou em ser sede do torneio deve se adequar as novas exigências (FIFA, 2011b). 41 No estado de São Paulo foi sede das seguintes seleções durante a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014: Argélia (Sorocaba), Bélgica (Mogi das Cruzes), Bósnia e Herzegovina (Guarujá), Costa do Marfim (Água de Lindoia), Colômbia (Cotia), Costa Rica (Santos), Estados Unidos (São Paulo), França (Ribeirão Preto), Honduras (Porto Feliz), Irã (Guarulhos), Japão (Itu), México (Santos), Nigéria (Campinas), Portugal (Campinas) e Rússia (Itu) (FIFA, 2014).

25% dos recursos com a realização do megaevento esportivo.42 Após o anúncio oficial de que o estado de São Paulo seria a sede do torneio foi iniciada uma série de debates e discussões sobre as reponsabilidades do estado de São Paulo e do município de São Paulo na execução das obras para o torneio. Sediar uma Copa do Mundo requer a afirmação de diversos contratos entre a FIFA e os governos federal, distrital, estaduais e municipais. A FIFA requer das cidades- sede a adequação às diretrizes da entidade, sobretudo no que diz respeito à exploração comercial exclusiva da competição, dos ingressos, da transmissão de imagens, venda de bebidas alcoólicas, além da exigência dos registros de marcas, garantias de segurança e demais requerimentos (FIFA, 2011b). De um lado, os governos dos países-sede da Copa do Mundo da FIFA assumem os riscos econômicos, políticos, sociais, ambientais e de infraestrutura do torneio. Por outro lado, a FIFA, também responsável pela gestão de riscos, garante para a cidade-sede um espaço de exibição dentro da arena ou estádio de futebol, com o objetivo de promoção da imagem da cidade para o mundo. Este espaço foi um dos poucos benefícios garantidos no contrato para as sedes torneio, o que não justifica os investimentos públicos para a construção e reformas das arenas e estádios de futebol. A melhoria da imagem é incerta, já que o país-sede pode transmitir uma imagem negativa ou positiva, que vai depender da adequação da infraestrutura urbana, esportiva e tecnológica. A partir de uma análise neoinstitucionalista histórica, de acordo com Hall e Taylor (2003) é possível identificar a relação entre instituições bem como entre instituições e atores políticos. No caso da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 no estado de São Paulo foi necessária uma adaptação de um conjunto de políticas e leis para atender às normas da FIFA, instituição promotora do torneio. Para além das instituições, os atores políticos devem agir de acordo a necessidade das instituições, com o intuito de atingir objetivo de preparação e realização da Copa do Mundo da FIFA. A viabilidade das obras da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 no estado de São Paulo foi firmada, em 12 de janeiro de 2010, por meio da Matriz de Responsabilidade da Copa. Assinou o termo de responsabilidade o ministro de estado do esporte Orlando Silva de Jesus Júnior (PC do B), o Governador do Estado de São Paulo José Serra (PSDB)

42 Informação fornecida por Marcio Pochmann no II Seminário de Políticas Públicas de Esporte e Lazer, ocorrido em Brasília no ano de 2012.

e o Prefeito Municipal de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM).43 O objetivo da Matriz de Responsabilidade da Copa foi viabilizar a execução das ações governamentais necessárias para a realização da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 (BRASIL, 2010d). As ações da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 no estado de São Paulo foram executadas por diferentes entes federativos e apresentaram abordagem intersetorial, conforme discutido por Junqueira e Inojosa (1997) e Nogueira (1997), a partir do momento que as ações da Matriz de Responsabilidade da Copa foram planejadas e executadas por diferentes setores do governo. Ao envolver diferentes entes federativos e instituições internacionais organizadoras a execução do torneio potencializou os riscos políticos, sociais, econômicos, ambientais e de infraestrutura. Estes dados iniciais sobre o estado de São Paulo reafirmam a tese de Jennings (2012) dos megaeventos esportivos como evento potencializador de riscos de gestão, em que as instituições e seus atores políticos devem mensurar e diagnosticar todos os perigos, com o objetivo de realizar o evento sem riscos para o governo, instituições internacionais e população, conforme discutido no capítulo 2 nas diferentes edições da Copa do Mundo. Em um primeiro momento, os riscos de gestão da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 foram repassados para ao Governo Federal. Em um segundo momento, os riscos foram distribuídos para os estados e municípios sedes do torneio. A Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 demandou adaptacão e criação de legislação específica, isto é, o torneio apresentou diversas incertezas e potencializou a alteração de direitos locais. Além de alterar a legislação, durante o período de realização do torneio foi criado um espaço privado para a instituição internacional explorar exclusivamente todos os serviços. Na Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 o risco organizacional foi eminente, sobretudo em governos anfitriões de partidos opositores nas eleições anteriores, uma vez que as ditetrizes de cada instituição tem sua especificidade. No estado de São Paulo foi identificada uma gestão do PSDB, enquanto que no Governo Federal do Brasil. Ambos os partidos são opositores nas eleições governamentais no Brasil e são os partidos políticos com maior poder político em âmbito nacional. A gestão entre os entes federativos opostos politicamente, somados aos interesses privados da FIFA e das instituições patrocinadoras potencializaramm os riscos políticos organizacionais.

43 A partir do ano de 2011 Gilberto Kassabi se filiou ao PSD.

O diagnóstico dos riscos de gestão, de acordo com Jennings (2012) é crucial para avaliar as estimativas de ganhos e perdas esperadas associadas a um megaevento esportivo. A análise dos riscos pode servir para os organizadores dos megeventos esportivos, governos sedes e para a população de forma geral. No caso do presente capítulo foi enfatizado os riscos de gestão do governo do estado de São Paulo na realização da Copa do Mundo, e apresenta potencial de atender os interesses da sociedade brasileira. No estado de São Paulo, o papel do Governo Federal do Brasil foi executar e custear as reformas e as construções dos aeroportos (terminais de passageiros, pistas e pátios) e portos (terminais turísticos). O estado de São Paulo e o município de São Paulo tiveram como responsabilidades as intervenções na mobilidade urbana, no entorno da Arena Corinthians, no entorno dos aeroportos (Aeroporto Internacional de São Paulo- Guarulhos e Aeroporto Internacional de Campinas-Viracopos), e terminais turísticos (BRASIL, 2010d). Esta descentralização de competências entre Governo Federal do Brasil, o estado de São Paulo e o município de São Paulo, de acordo com Junqueira et al. 1997 e Nogueira (1997) tem como objetivo melhorar o funcionamento do aparato estatal no que diz respeito ao aprimoramento da eficácia e da eficiência das ações políticas. No caso analisado, o objetivo foi aprimorar as ações políticas relacionadas a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 no estado de São paulo. A descentralização no modelo dos três âmbitos de governo, nas ações do torneio, teve como objetivo aliviar o papel do Governo Federal do Brasil na execução do torneio no que diz respeito à descentralização de poder bem como articulação de orçamentos. Após a definição das competências de cada ente federativo via Matriz de Responsabilidade da Copa, o estado de São Paulo e o município de São Paulo estiveram em evidência na preparação da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014. O Comitê Executivo da FIFA, em 20 de outubro de 2011, oficializou a cidade de São Paulo como sede da abertura do torneio (FIFA, 2011c). Além da abertura do torneio, São Paulo foi responsável por sediar o sorteio da Copa das Confederações da FIFA Brasil 2013, realizado em 01 de dezembro de 2012, no Centro de Convenções do Anhembi, em São Paulo. O evento contou com a participação da presidenta Dilma Rousseff, do secretário geral da FIFA Jérôme Valcke e do ex-jogador Cafú. Ao aceitar ser sede do sorteio, a cidade de São Paulo arcou

com todos os recursos e despesas de espaços, equipamentos e serviços, que foram orçados em R$ 6.418.915,34 milhões (SÃO PAULO, 2012b). O estado de São Paulo foi responsável pelos projetos de engenharia dos empreendimentos, implementação, monitoramento e avaliação dos impactos ambientais, sinalização adequada ao tráfego, bem como o apoio ao município no gerenciamento social e nas execuções das obras. Enquanto as principais responsabilidades do município de São Paulo foram tomar providência quanto ao licenciamento ambiental das obras, a liberação das áreas necessárias às obras e serviços, o cadastramento, remoção e reassentamento de famílias ocupantes dos trechos das obras, a execução das obras no Polo Institucional de Itaquera, além do acompanhamento e fiscalização das obras relacionadas à Copa do Mundo da FIFA (SÃO PAULO, 2013a). De acordo com o Gestor 2 “[...] o governo do estado compete segurança pública e transporte em massa como o metrô [...] a segurança conta com a participação muito efetiva do governo do estado, porque a Polícia Militar é do comando do estado”. Enquanto que o município de São Paulo foi responsável pela infraestrutura e planejamento operacional, da Copa do Mundo da FIFA, com destaque para a Secretária do Meio Ambiente, responsável pelas liberações do início das obras. A gestão da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, no estado de São Paulo, criou uma legislação para assegurar o contrato estabelecido com a FIFA. Dessa forma, primeira legislação sobre a Copa do Mundo da FIFA no estado de São Paulo foi sancionado pelo governador, José Serra, e diz respeito ao Decreto nº 55.635, de 26 de março de 2010. O Decreto isentou a FIFA do “Imposto de Importação (II) ou do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI)” bem como isentou “das contribuições para os Programas de Integração Social e de Formação do Patrimônio do Servidor Público (PIS/PASEP) e para a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS)”. A isenção dos impostos da FIFA e das suas instituições parceiras foi válida para todo serviço relacionado à Copa das Confederações FIFA Brasil 2013 e à Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 no estado de São Paulo, bem como para a construção da Arena Corinthians (SÃO PAULO, 2010b). O Decreto nº 56.648, de 10 de janeiro de 2011, instituiu o “Comitê Paulista da COPA 2014 com o objetivo de realizar estudos, projetos, eventos e ações visando à participação paulista na Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014”, já no governo de Geraldo

Alckmin (PSDB). O Decreto definiu que a composição do comitê envolvesse membros de diferentes secretarias estaduais: I - Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Regional, a quem coube a coordenação dos trabalhos; II - Secretaria de Esporte, Lazer e Juventude; III - Secretaria de Turismo; IV - Secretaria dos Transportes Metropolitanos; V - Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia; VI - Secretaria de Desenvolvimento Metropolitano; VII – Secretaria do Meio Ambiente; VIII – Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência; IX – Secretaria de Segurança Pública; X – Casa Civil, por meio da Subsecretaria de Comunicação. Este decreto apresenta outro indício do caráter intersetorial da gestão da Copa do Mundo da FIFA no estado de São Paulo, a partir do momento que foi criado um Comitê com o objetivo de articular diferentes setores, da administração pública, em âmbito estadual (JUNQUEIRA; INOJOSA, 1997). O decreto previa a articulação política no planejamento de diferentes setores, no desenvolvimento das ações relacionadas ao torneio. O Decreto nº 56.773, de 16 de fevereiro de 2011, acrescentou a Secretaria de Logística e Transportes bem como a Casa Militar, por intermédio da Coordenadoria Estado de Defesa Civil – CEDEC na participação da gestão da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 no estado de São Paulo (SÃO PAULO, 2011a). O Gestor 1 destacou que, em âmbito estadual, a Secretaria de Segurança Pública teve papel importante na organização do policiamento durante o período do torneio. A Secretaria de Transportes Metropolitanos teve papel central na organização do metrô, CPTM e MTU, bem como na reforma e construção de novas estradas. Por fim, apesar de não inserida na legislação, a Secretaria de Educação teve contribuição importante nas ações da Copa do Mundo, ao organizar o Projeto Bola da Família. O Projeto Bola da Família corresponde a uma ação política que promove programação para todos os participantes, além do concurso cultural de customitizar as bolas, campeonatos, cursos e rodas musicais. A ação política foi de responsabilidade do governo do estado de São Paulo em parceria com o Programa Escola da Família. O projeto atendeu semanalmente mais de 200 mil pessoas (SÃO PAULO, 2014a) O Gestor 1 destacou que a Copa do Mundo permitiu mais do que a articulação dos setores em âmbito estadual, já que o planejamento dos projetos e obras envolveram na sua execução diferentes esferas governamentais. O gestor entrevistado reafirmou que o estado de São Paulo “[...] aprendeu a trabalhar juntos, a gente melhorou nessa questão da

saúde, assim, a gente não teve problemas com relação à operação, a gente teve um legado, que foi mostrar que as pessoas podem ir de transporte público para o megaevento esportivo” (GESTOR 1). De acordo Nogueira (1997) e Junqueira et al. (1997) a intersetorialidade demanda tempo, adaptação, mudança no desenvolvimento das funções e formação para atuar de forma articulada. A afirmação do Gestor 1, sobre as ações políticas da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 no estado de São Paulo apresenta indícios de articulação políticas intersetoriais. O aprendizado citado pode contribuir para o avanço do trabalho intersetorial no governo do estado de São Paulo para além da Copa do Mundo da FIFA, uma vez que houve execução de ações políticas entre diferentes âmbitos de governo. Em âmbito municipal, a Lei nº 14.863, 23 de dezembro de 2008, isentou do imposto os serviços de qualquer natureza relacionados à Copa das Confederações da FIFA Brasil 2013, à Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 e aos Jogos Olímpicos Rio 2016 (SÃO PAULO, 2008). Outro marco legal em âmbito municipal diz respeito ao Decreto nº 53.697, de 16 de janeiro de 2013, que criou o Comitê Integrado de Gestão Governamental Especial para a Copa do Mundo de Futebol de 2014 – SPCOPA. O Comitê durante a preparação para a competição foi responsável pela articulação das ações da Administração Municipal (SÃO PAULO, 2013b). O Decreto nº 53.697, de 16 de janeiro de 2013, definiu que o SPCOPA seria coordenado pela Vice-prefeita e contaria com a participação da:

I – Secretaria do Governo Municipal; II - Secretaria Municipal de Finanças e Desenvolvimento Econômico; III - Secretaria Municipal de Planejamento, Orçamento e Gestão; IV - Secretaria Municipal de Relações Internacionais e Federativas; V - Secretaria Executiva de Comunicação; VI - Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Recreação; VII - Secretaria Municipal de Segurança Urbana; VIII - Secretaria Municipal de Transportes; IX - Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras; X - Secretaria Municipal de Cultura; XI - Secretaria Municipal da Saúde; XII - Secretaria Municipal de Coordenação das Subprefeituras; XIII - Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano; XIV - São Paulo Turismo S.A. – SPTuris (SÃO PAULO, 2013b).

O SPCOPA foi composto por atores públicos e privados e as atividades não foram remuneradas. Durante a preparação para a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 as atribuições do SPCOPA foi definir projetos intersetoriais, articular e monitorar as etapas

dos projetos dos órgãos da Administração Municipal que teve como eixo a gestão da Copa do Mundo na cidade de São Paulo (SÃO PAULO, 2013b). No que diz respeito a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 no estado de São Paulo as principais ações políticas intersetoriais foram: a construção dos espaços e equipamentos esportivos, a construção da Arena Corinthians; e a construção e ampliação da infraestrutura da cidade, como mobilidade urbana, capacidade adequada nos aeroportos, segurança pública, hotéis, atrativos de turismo, distribuição de energia elétrica, rede de telecomunicações, dentre outras exigências da FIFA para realização da abertura da Copa do Mundo da FIFA. Outro marco legal, da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 no estado de São Paulo foi o Decreto nº 55.010, de 09 de abril de 2014, que reforçou a Lei Geral da Copa do Mundo e dispôs sobre as Áreas de Restrição Comercial e sobre as atribuições das autoridades municipais. O Decreto definiu como principais locais de competição no estado de São Paulo, a Arena Corinthians e o evento FIFA Fan Fest no Vale do Anhangabaú (SÃO PAULO, 2014b). O Decreto nº 55.010, de 09 de abril de 2014, reforçou os acordos da Lei Geral da Copa e contemplou em um raio de dois km a exploração comercial exclusiva da FIFA durante os dias de jogos. Além disso, o Decreto reforçou que o acesso à Arena Corinthians estaria condicionada ao porte de uma credencial apropriada ou ingressos do dia do jogo. O evento FIFA Fan Fest, no Vale do Anhangabaú, teve acesso livre para toda a população e foi reconhecida pela FIFA como área de lazer exclusiva aos fãs da Copa do Mundo. A única restrição de acesso foi à capacidade permitida pelos órgãos de segurança (SÃO PAULO, 2014b). O acesso aos locais de competições é definido pela FIFA em cada edição da Copa do Mundo, e os governos locais sancionam leis que atendam aos interesses da instituição internacional. A exclusividade foi definida no documento de garantias assinado entre a FIFA e o Governo Federal do Brasil, e os estados e municípios que se candidataram a serem sedes já sabiam dos acordos, o que mostra o poder de uma instituição sobre as outras na realização da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 no estado de São Paulo. O acesso aos jogos da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 foi restrita a uma classe privilegiada com alto poder econômico, conforme dados do Datafolha discutidos no capítulo anterior da tese. Este acesso restrito de determinada classe em detrimento de outra

foi criticada pelo ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva. A FIFA Fan Fest, apesar da entrada gratuíta teve o caráter comercial, já que em cada cidade-sede foi construída uma loja oficial da FIFA e a área foi exclusivamente explorada comercialmente pelos patrocinadores e parceiros oficiais da FIFA. As cidades ao se candidatarem como sedes da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 estavam cientes que os acordos firmados entre a FIFA e o Governo Federal do Brasil deveriam ser respeitados. Os critérios das cidades para abertura do torneio, por exemplo, foram as discussões centrais para a escolha da reforma ou construção de uma arena ou estádio de futebol, que no estado de São Paulo girou em torno da reforma do Estádio do Morumbi e da construção da Arena Corinthians, conforme discutido na seção a seguir.

4.1.1 Da reforma do Estádio do Morumbi a Construção da Arena Corinthians

O município de São Paulo, em 31 de maio de 2009, foi anunciado como uma das doze cidades-sede da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014. O anúncio foi realizado sem uma definição sobre a reforma ou construção de uma nova arena ou estádio de futebol. O primeiro projeto apresentado para a FIFA foi o de reforma do Estádio Cícero Pompeu de Toledo (Estádio do Morumbi), que tinha como executor e mandante o São Paulo Futebol Clube (BRASIL, 2010e). Contudo, em 2009, os recursos financeiros foram indicados como o principal entrave da reforma do Estádio do Morumbi, uma vez que não haveria recursos públicos e o São Paulo Futebol Clube não aceitou ceder à gestão do estádio à iniciativa privada. Alguns meses após as críticas ao equipamento esportivo, o Estádio do Morumbi foi elogiado pelo secretário da FIFA, Jérôme Valcke, que credenciou o estádio para ter um jogo da semifinal da Copa do Mundo da FIFA. O presidente do São Paulo Futebol Clube, Juvenal Juvêncio, apresentou uma nova proposta de reforma do Estádio do Morumbi, que recebeu avaliação positiva da instituição internacional (ARRUDA; BASTOS; MATTOS, 2010). Durante o processo de discussão entre a reforma ou construção de uma arena ou estádio de futebol, o Governo Federal do Brasil e a FIFA, em 10 de fevereiro de 2010, credenciou a cidade de São Paulo como sede da abertura da Copa do Mundo, uma vez que a cidade apresentava uma infraestrutura adequada, com cerca de 42 mil quartos para hotéis,

dos 45 mil exigidos pela FIFA. De acordo com o Gestor 2 a cidade de São Paulo é preparada para receber grandes eventos como a Copa do Mundo da FIFA, já que todo o ano a cidade é sede de diferentes eventos internacionais como a Fórmula 1. Um dos pontos que chamaram a atenção durante a dicussão da adequação do Estádio do Morumbi ou construção de uma nova arena para a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 foi a aproximação entre o presidente do Sport Club Corinthians Paulista, Andrés Sanchez, e o presidente da Federação Paulista de Futebol, Marco Polo Del Nero. E, pairam dúvidas sobre a recusa do Estádio do Morumbi, já que o mesmo foi sede da final da Copa Libertadores da América, jogos das eliminatórias da Copa do Mundo, Mundial de Clubes da FIFA, mas foi duramente criticado e compreendido pela FIFA como inadequado para receber seis jogos da Copa do Mundo no Brasil (ARRUDA, 2009). Em 16 de junho de 2010, a CBF excluiu oficialmente o projeto de reforma do Estádio do Morumbi. Em nota oficial afirmou que “não foram entregues ao Comitê Organizador Local da Copa do Mundo 2014 (COL), por parte do Comitê da Cidade de São Paulo, as garantias financeiras referentes ao projeto do Estádio do Morumbi”. O governo municipal de São Paulo e o governo estadual de São Paulo não foram solidários ao clube, que apresentou cinco versões do projeto de reforma do equipamento esportivo sem nenhum sucesso (BRASIL, 2010e). Na mesma linha de argumentação do documento da FIFA, o Gestor 2 reafirmou que o São Paulo Futebol Clube não concordou com os investimentos que deveriam ser realizados na reforma do Estádio do Morumbi. Além disso, o não atendimento dos critérios da FIFA abriu espaço para a viabilização da Arena Corinthians. A partir de uma análise neoinstitucionalista é possível afirmar que a instituição São Paulo não aceitou todas as diretrizes da instituição internacional FIFA, o que evidencia que o poder de decisão de uma instituição sobre a outra. A partir desta contextualização ficou evidente que a exclusão do projeto de reforma do Estádio do Morumbi está relacionada à aproximação política entre os atores do setor privado (Sport Club Corinthians Paulista) e da Federação Paulista de Futebol. Andrés Sanchez foi presidente do Sport Club Corinthians Paulista, entre 09 de outubro de 2007 até 15 de dezembro de 2011, e se aproximou também do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, que se declarava torcedor do Sport Club Corinthians Paulista. Como fruto desta

aproximação Andrés Sanchez apoiou o partido do ex-presidente, e se candidatou como Depultado Federal do PT-SP, sendo eleito em 05 de outubro de 2014. A instituição Sport Club Corinthians Paulista por meio do seu ator político Andrés Sanchez evidencia o papel central que as instituições ocupam, nos rumos, trajetórias e conteúdo das políticas. No caso da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 no estado de São Paulo Andrés Sanchez surge como ator político central na mudança da Reforma do Morumbi para a construção de uma nova arena de futebol. Apesar da exclusão do projeto de reforma do Estádio do Morumbi, o São Paulo Futebol Clube esperava que a Caixa Econômica Federal liberasse recursos para o financiamento das obras, mesmo que o equipamento esportivo tenha sido excluído da Matriz de Responsabilidade da Copa. As estimativas deste financiamento indicam que a reforma custaria cerca de R$ 265 milhões e o São Paulo Futebol Clube seria o maior beneficiado. Durante o período de exclusão do projeto de reforma Estádio do Morumbi, o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silvia foi acusado pelo São Paulo Futebol Clube de beneficiar o Sport Club Corinthians Paulista (LOUSADA; CHADE, 2010). De acordo com o contrato firmado com a FIFA, a cidade-sede deve cooperar e auxiliar na escolha da arena ou estádio de futebol para a competição. As cidades também devem auxiliar à FIFA e o COL na seleção dos campos oficiais de treinamento a serem utilizados pelas equipes nacionais, durante a Copa do Mundo. A cidade-sede é responsável por oferecer as exigências de infraestrutura para os estádios de futebol (FIFA, 2011b). Dessa forma, o estado de São Paulo e o município de São Paulo, com o objetivo de cooperar e auxiliar a FIFA e o COL optaram pela construção da Arena Corinthians, que foi erguida na Zona Leste de São Paulo (SÃO PAULO, 2011b). De acordo com o Gestor 1, a mudança de projeto de reforma do Estádio do Morumbi para a construção da Arena Corinthians envolveu questões políticas como as “negociações do projeto, exigências da FIFA em relação ao porte do estádio e reuniões com os arquitetos para modelarem o projeto”. O gestor acrescentou que o novo projeto teve o apoio municipal, já que existia um projeto de desenvolvimento da região leste do município de São Paulo e o projeto de construção da Arena Corinthians foi acrescentado ao plano já em andamento. O novo projeto de construção da Arena Corinthians foi aprovado pela Prefeitura Municipal de São Paulo, em 16 de agosto de 2012, após o Comitê de Construção do

Estádio da Copa do Mundo de Futebol de 2014 ter avaliado positivamente o projeto, que atende os requisitos da Lei nº 15.413, de 20 de julho de 2011 e o Decreto nº 52.871, de 22 de dezembro de 2011 (SÃO PAULO, 2012c). O plano de construção da Arena Corinthians não é recente, e tem como base a Lei nº 10.622, de 09 de setembro de 1988, sancionada no governo de Jânio da Silva Quadros. A partir desta lei uma área de propriedade municipal, situada em Itaquera, foi cedida ao “Sport Club Corinthians Paulista, mediante concessão de direito real de uso, gratuitamente, pelo prazo de 90 anos, independente de concorrência”. No entanto, só após 33 anos o Sport Club Corinthians Paulista iniciou o plano de construção do equipamento esportivo devido à Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 (SÃO PAULO, 1988). O Sport Club Corinthians Paulista pelo tempo que utilizou o imóvel sem ter construído deverá cumprir contrapartidas sociais nos setores da educação, saúde e assistência social. O montante de recursos da contrapartida foi fixado pelo Ministério Público do Estado de São Paulo, em R$ 12 milhões, sendo R$ 4 milhões investidos até o dia 31 de dezembro de 2014 e R$ 8 milhões até 31 de dezembro de 2019 (SÃO PAULO, 2011c). Para a construção da Arena Corinthians a certidão de diretrizes emitida pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) foi o documento de licença mais importante que o Sport Club Corinthians Paulista obteve para inciar a construção. A Secretaria Municipal de Tranpsortes liberou as obras sem definir quais seriam as contrapartidas sociais do clube, apenas definiu os valores. Em geral a certidão de diretrizes costuma ser liberado em torno de cinco anos e o clube conseguiu em sete meses devido aos atrasos nas obras para a realização da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 (ZANCHETTA, 2011). O Sport Club Corinthians Paulista até o ano de 2014 não tinha cumprido as contrapartidas sociais, e a gestão do prefeito Haddad (PT) criou uma comissão para cobrá- las. No ano 2012, o clube alegou que já tinha pagado todas as contrapartidas sociais com as campanhas de doação de sangue e visitas dos atletas de futebol do clube as entidades carentes. No entanto, a Promotoria de Justiça não considerou válida e o governo exigiu ações sociais permanentes e não filantropia. A prefeitura sugeriu a construção de creches e o Sport Club Corinthians Paulista prometeu pagar todas as contrapartidas sociais até o ano 2018, o que comprova que os acordos depois da Copa do Mundo da FIFA não estão sendo cumpridos (ZANCHETTA, 2014).

A Arena Corinthians foi um dos equipamentos esportivos com mais atraso na Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014. No torneio da FIFA o equipamento esportivo teve papel de destaque, já que recebeu a sua abertura. No entanto, a nova arena só foi entrege a FIFA no mês anterior da realização da abertura e de forma inacabada, com diversos setores com obras em andamento (RANGEL, 2014). O poder público ao optar pela construção de uma nova arena na Zona Leste da cidade de São Paulo levou em consideração o terreno já cedido em lei e justificou a escolha da região devido ao contingente populacional expressivo. A Zona Leste de São Paulo apresenta dificuldades de oportunidades de emprego, o que obriga a população a se deslocar para região central de São Paulo. Dessa forma, o projeto na região de Itaquera buscou minimizar o movimento pendular da população, entre a Zona Leste e o centro da cidade de São Paulo, que sobrecarrega a infraestrutura do transporte público diariamente (SÃO PAULO, 2011b; GESTOR 2). A construção da Arena Corinthians na região de Itaquera pode ser justificada a partir do Plano de Desenvolvimento da Zona Leste de São Paulo, o que envolveu a implantação do Polo Institucional Itaquera. O objetivo foi estimular a capacitação profissional e a geração de empregos na Zona Leste. A justificativa da implantação do Polo Institucional esteve relacionada ao direcionamento de projetos de construção da FATEC, ETEC, SENAI, Incubadora e Laboratórios para a área de Tecnologia de Informação, Centro de Convenções e Eventos, Polícia Militar, Bombeiros e Obra Social Dom Bosco (SÃO PAULO, 2011b). Corroborando com os dados apresentados nos documentos oficiais o Gestor 2 destacou que a FATEC, ETEC e todo o complexo de locais públicos foram propulsoras do desenvolvimento da Zona Leste. Além disso, pode-se destacar que o sistema viário criou leis de incentivo para o desenvolvimento da região e criação de empregos. A Arena Corinthians diz respeito a um estádio de futebol, que incluiu no seu projeto um centro de convenções e congressos dotados de auditório. O planejamento do equipamento esportivo previa 2.600 vagas de estacionamentos para veículos, mais de 4.400 metros quadrados destinados aos banheiros e 2.250 metros quadrados de lojas, restaurantes e quiosques de alimentação (SÃO PAULO, 2011b). A Arena Corinthians teve os valores projetados de acordo com as memórias de cálculo (arena, eventos esportivos, patrocínios, estacionamento, aluguel para eventos,

aluguel do centro de convenções, eventos realizados por terceiros, prestação de serviços, dentre outros) entre o segundo semestre de 2014 até o final de 2023 (SÃO PAULO, 2013d). De acordo Cabral e Silva Júnior (2013) os governos e os consórcios dos estádios podem criar condições de investimentos em empreedimentos auxiliares em torno do estádio. Esta estratégia é suscetível de modificar a relação entre o risco e o retorno, o que pode reduzir as incertezas com o equipamento esportivo. Os investimentos em torno do estádio pode aumentar a participação dos empreendimentos privados nas arenas e nos estádios de futebol. O Sport Clube Corinthians Paulista foi responsável pela retirada dos dutos da Transpetro do terreno onde foi erguida a Arena Corinthians. O valor da obra foi de cerca de R$ 30 milhões e foi firmado, em 19 de setembro de 2011, entre o clube, a Transpetro, a Odebrecht e o Ministério Público Federal (ITRI, 2011). A Arena Corinthians teve o seu evento teste, em 18 de maio de 2014, no jogo entre o Sport Clube Corinthians Paulista e o Figueirense Futebol Clube. O jogo aconteceu faltando menos de um mês para a realização da abertura do torneio e a avaliação da FIFA foi positiva, apesar da obra apresentar falhas. A cobertura não protegeu a torcida, os serviços de áudios no estádio não funcionaram, foi reportada ausência de acesso à tecnologia 3G e 4G e a sinalização para os portões de acesso se encontravam em construção. A sinalização na cidade de São Paulo também apresentou falhas, nas placas de trânsito aparecia Estádio de Itaquera, na estação de metrô foi indicada como Arena Corinthians e no ingresso do jogo foi descrito Arena de São Paulo. Por fim, as escadas, os corrimões, as lanchonetes e diversos outros locais da Arena Corinthians não tinha acabamento (COELHO, 2014). Por fim, a construção da Arena Corinthians promoveu significativa valorização imobiliária na Zona Leste de São Paulo, especificadamente no Distrito de Itaquera, local de construção do novo equipamento esportivo. De acordo com os dados do SPCOPA a valorização imobiliária e a gentrificação foi mais incidente em um raio de 5 km ao redor da Arena Corinthians (SÃO PAULO, 2013d).

4.1.2 Centros Oficiais de Treinamento e FIFA Fan Fest em São Paulo

O estado de São Paulo concentrou o maior número de Centros Oficiais de Treinamentos (COTs) selecionados em todo o País pelo Comitê Organizador Local (COL) para receber as seleções nacionais. No total, São Paulo teve 46% de COTs selecionados pelo Governo Federal do Brasil, o que representou 15 dos 32 credenciados (BRASIL, 2014d). O estado de São Paulo foi sede das seguintes seleções durante a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014: Argélia (Sorocaba), Bélgica (Mogi das Cruzes), Bósnia e Herzegovina (Guarujá), Costa do Marfim (Água de Lindoia), Colômbia (Cotia), Costa Rica (Santos), Estados Unidos (São Paulo), França (Ribeirão Preto), Honduras (Porto Feliz), Irã (Guarulhos), Japão (Itu), México (Santos), Nigéria (Campinas), Portugal (Campinas) e Rússia (Itu) (FIFA, 2014). O segundo estado com maior destaque no que diz respeito aos COTs foi o Rio de Janeiro, que recepcionou quatro seleções nacionais durante o torneio: Brasil (Teresópolis), Holanda (Rio de Janeiro), Inglaterra (Rio Janeiro) e Itália (Mangarativa). O estado de Minas Gerais recebeu três seleções: Argentina (Vespasiano), Chile (Belo Horizonte) e Uruguai (Sete Lagos). O estado do Espírito Santo confirma a concentração de COTs na região Sudeste, já que recepcionou a Austrália (Vitória) e Camarões (Vitória) (FIFA, 2014). Apenas oito seleções nacionais não ficaram hospedadas na região sudeste. O estado da Bahia, na região nordeste, recebeu três seleções: Alemanha (Santa de Cruz de Cabrália), a Suíça (Porto Seguro) e Croácia (Mata de São João). Para completar a lista, a região nordeste recepcionou ainda a seleção da Grécia (Aracaju), que ficou hospedada no estado de Sergipe e a seleção de Gana (Maceió), que ficou hospedada no estado de Alagoas. No sul do país duas seleções se hospedaram no estado do Paraná: Coreia do Sul (Foz do Iguaçu) e Espanha (Curitiba), enquanto que a última seleção nacional, o equador (Viamão) ficou hospedado no estado do Rio Grande do Sul. Nenhuma seleção nacional ficou hospedada no centro-oeste ou no norte do Brasil (FIFA, 2014). O estado de São Paulo foi responsável geral dos COTs e o município de São Paulo foi responsável pela realização da FIFA Fan Fest. Como forma de organizar esta ação, foi publicada a Portaria 47, de 15 de janeiro de 2014, que delegou a Secretaria

Municipal de Coordenação das Subprefeituras como responsável pela viabilização do evento FIFA Fan Fest, bem como outras exibições públicas durante a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 no estado de São Paulo (SÃO PAULO, 2014c). Além disso, por meio da Portaria 50, de 28 de janeiro de 2014, resolveu constituir a comissão para análise dos projetos relacionados à realização do evento FIFA Fan Fest. A comissão teve a competência de assessorar a Prefeitura Municipal de São Paulo na escolha da melhor proposta da iniciativa privada. A comissão foi composta por representantes de diferentes instituições: Gabinete da Vice-Prefeita (Oswaldo Napoleão Alves), Secretaria Municipal de Coordenação das Subprefeituras (Antonio Crescenti Filho), Subprefeitura da Sé (Maurício de Góis Dantas), Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente (Valter Antônio Rocal), Secretaria do Governo Municipal (Anna Luiza Ramos Fonseca), São Paulo Turismo S/A (João Moreno Passetti), São Paulo Urbanismo (Luis Eduardo Brettas e Francisco Cezar Tiveron), e Companhia de Engenharia de Tráfego (João Antônio Felix Filho) (SÃO PAULO, 2014d). Todas as insituições e atores políticos citados acima foram responsáveis por assessorar a Prefeitura Municipal de São Paulo na organização da FIFA Fan Fest. Em 17 de fevereiro de 2014 foi definida a empresa responsável pela organização da FIFA Fan Fest e demais exibições públicas da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 no município de São Paulo. A empresa vencedora foi a Play Corp e D+. De acordo com a Prefeitura Municipal de São Paulo esta empresa apresentou a melhor proposta ambiental, paisagística e urbana dos eventos. Os locais selecionados para as exibições públicas foram o Vale do Anhangabaú (Centro), Praça do Samba (Perus, na zona noroeste), Parque da Juventude (Santana, zona norte), Parque do Povo (Itaim Bibi, zona sul), Praça Benedicto Rodrigues (Ermelino Matarazzo, Zona Leste) e Praça João Tadeu Priollli (Campo Limpo, zona sul). Os espaços escolhidos para as exibições públicas buscaram atender as diferentes regiões da cidade de São Paulo e as ações envolveram exibições públicas durante o torneio. Além disso, foram reformadas as praças públicas, bem como foram adquiridos os equipamentos esportivos (SÃO PAULO, 2014e). Em 21 de maio de 2014, foi realizada uma reunião na Sala do Núcleo de Políticas Públicas do Ministério Público do Estado de São Paulo. A reunião definiu que o acesso ao evento FIFA Fan Fest teria como única restrição o número máximo de participantes no local da festa, por questões de segurança pública. Os representantes das

secretarias municipais asseguraram que durante o torneio não haveria política de cunho higienista, sobretudo com os moradores de rua. Por fim foi assegurado que os vendedores ambulantes cadastrados na Prefeitura Municipal de São Paulo poderiam atuar nas áreas de restrições comerciais, desde que respeite os acordos firmados entre o Governo Federal do Brasil e a FIFA (SÃO PAULO, 2014f). O Gestor 2 enfatizou que a FIFA Fan Fest foi realizada em diversas regiões da cidade de São Paulo, com participação significativa da população. A entrada de forma pública e gratuíta permitiram que “as pessoas pudessem vivenciar a Copa do Mundo dentro do país fora dos estádios”, o que se configurou como um espaço de lazer para a população. A prefeitura de São Paulo criou um grupo de trabalho denominado “Ambulantes na Copa”, com o objetivo de discutir a inclusão dos trabalhadores na Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, tanto na FIFA Fan Fest quanto nos arredores da Arena Corinthians. Os representantes dos órgãos municipais e do Fórum dos Trabalhadores Ambulantes da Cidade de São Paulo aprovaram o compromisso de assegurar a atividade comercial regular dos trabalhadores ambulantes que possuam Termo de Permissão de Uso (TPU). Além disso, a FIFA e as empresas parceiras abriram 600 vagas temporárias de vendedores nas “áreas de restrição comercial”. Todas as atividades dos trabalhadores ambulantes estavam alinhadas com o “Termo Público de Compromisso pelo Emprego e Trabalho Decente na Copa do Mundo FIFA de 2014” (SÃO PAULO, 2014g). A Organização Internacional do Trabalho (OIT) durante a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 no estado de São Paulo buscou: assegurar o respeito aos direitos trabalhistas de acordo a legislação brasileira; combater o trabalho infantil e o tráfico de pessoas para fins de exploração do trabalho; coibir a exploração sexual de crianças e adolescentes; promover os empregos temporários e criar oportunidades de empregos permanentes; e respeitar e implementar os acordos tripartites nacionais entre os respresentantes de governos (OIT, 2014). As ações relacionadas à garantia da atividade comercial regular dos trabalhadores ambulates buscaram atender as reinvidicações da sociedade civil. Os movimentos sociais buscaram garantir o direito de livre comercialização tanto dos ambulantes legalmente cadastrados na prefeituras, quanto dos estabelecimentos regularmente funcionando, já que a FIFA tinha interesse na exclusividade na comercialização dos serviços dentro e fora da Arena Corinthians. A exclusividade na

comercialização dos serviços do torneio geraram riscos para os trabalhadores ambulantes e donos de estabelecimentos regularmente em funcionamento, ao mesmo tempo em que promoveu riscos de gestão para os governos brasileiros no cumprimento dos acordos estabelecidos com a FIFA.

4.2 Gestão de Risco da Copa do Mundo no Estado de São Paulo

Os riscos de gestão da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, no estado de São Paulo, foram repassados para o governo estadual e para o governo municipal, uma vez que, a FIFA e o COL, podem rescindir o contrato com a cidade-sede a qualquer momento. O contrato das cidades-sede descreve que a FIFA pode retirar jogos da cidade ou cancelar os acordos caso o município e o estado não cumpra o prometido. Os principais pontos de violações destacados pela FIFA foram os incidentes de cancelamento, realocação, interrupção ou boicote da Copa do Mundo, bem como a insolvência ou endividamento da cidade-sede (FIFA, 2011b). De acordo com o Gestor 2 o contrato da FIFA com as cidades-sede tem regras determinadas e “metas a serem cumpridas, como por exemplo, ter estádios, condições suficientes de leitos [hotéis] que possam receber turistas para o megaevento. Tem compromisso com a questão do transporte”. A cidade escolhida como sede se compromete em realizar o planejamento e a execução das ações da Copa do Mundo da FIFA de acordo com o contrato. A avaliação de risco, de acordo com Jennings (2012) é crucial para as estimativas de expectativas prováveis e perdas associadas a um determinado megaevento esportivo. No caso da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 no estado de São Paulo e a partir das edições do torneio analisada, entre 1994 e 2014, é possível afirmar que a probabilidade maior de riscos é similar aos riscos encontrados nos países emergentes. Os resultados das edições da Copa do Mundo da FIFA África do Sul 2010 e os resultados em âmbito nacional da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 têm maior probabilidade de se repetir no estado de São Paulo, sobreturo os riscos políticos e de infraestrutura esportiva e urbana, mais incidentes nos países emergentes.

4.2.1 Riscos Econômicos no Estado de São Paulo

Os riscos econômicos da Copa do Mundo da FIFA no estado de São Paulo envolveram a discussão sobre o impacto econômico, PIB e inflação de custos das obras relacionadas ao torneio. De acordo com Jennings (2012) o impacto econômico direto está relacionado ao dinheiro dos visitantes com hospedagem, consumo de comida e bebida, e de gastos do governo, que são transmitidos de volta para economia por meio de rendimento familiar e compras. Enquanto que o impacto econômico indireto está relacionado aos efeitos posteriores de injeções na economia por meio de empresas e indústrias bem como receita dos governos. Dessa forma, as estimativas de impactos econômicos levam em consideração os multiplicadores dos gastos diretos associados ao evento. No caso específico da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 em São Paulo é importante destacar que se trata do principal centro financeiro, corportativo e mercantil da América Latina, com uma população em torno de 11 milhões de habitantes na capital paulista. A cidade foi classificada como a 14º mais globalizada do planeta e concentra 38 das 100 maiores empresas privadas de capital nacional e 63% das multinacionais instaladas no País. Possui significância internacional, corresponde a mais rica do Brasil, além de concentrar cerca de 12% do PIB nacional (ACCENTURE, 2011). A concepção de cidade global, de acordo com Harvey (2006) diz respeito a uma cidade favorável e amigável aos negócios, um lugar seguro para morar, visitar, consumir e se divertir. Com a realização da Copa do Mundo da FIFA, pretende-se impulsionar a economia local, com promessas de inovações urbanas, que garanta um status de cidade competitiva, apta para receber os investimentos internacionais. O caráter empreendedor da cidade tem sido associado à produção e o consumo, que são princípios centrais de uma cidade global. Em 2011, a cidade de São Paulo foi eleita o maior destino de eventos internacionais da América e recebe cerca de 90 mil eventos por ano. Como cidade globalizada, São Paulo tem acesso às principais rotas aeroviárias do mundo, e é sede da Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros de São Paulo, sendo a principal do País. A capital paulista está dividida em Zona Norte, Zona Sul, Zona Leste, Zona Oeste e Centro (ACCENTURE, 2011, PEREIRA, 2011).

A Zona Leste, local de maior investimentos relacionados a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, concentra 37% da população de São Paulo, no entanto, apresenta difuculdade no que diz respeito ao número de empregos. O desenvolvimento da Zona Leste de São Paulo foi a principal justificativa para a construção da Arena Corinthians. O primeiro aspecto da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 no estado de São Paulo analisado foi o impacto econômico. A Accenture (2011) avaliou o impacto econômico antes da realização do torneio e afirmou que existia uma previsão de R$ 30,6 bilhões. No entanto, a previsão tem um prazo de 10 anos, entre 2011 e 2020, o que é de difícil mensuração para a pesquisa presente, finalizada no ano de 2016. A empresa Ademar Fogaça & Associados Consultoria e Negócios Ltda foi contratada pela Prefeitura Municipal de São Paulo e realizou a avaliação sobre os riscos econômicos, do município de São Paulo, na construção da Arena Corinthians na Zona Leste da capital e o possível desenvolvimento econômico com a construção do equipamento esportivo. Os resultados desta pesquisa indicaram que o fator Copa poderá impactar economicamente o muncípio de São Paulo, entre os anos de 2012 e 2023, na ordem de R$ 32,5 bilhões. E no segundo aspecto econômico avialiado a previsão para o ano de 2014 foi de 0,24% de acréscimo no PIB (PEREIRA, 2011). A região de São Paulo que concentra o maior número de investimentos para o torneio foi Itaquera, na Zona Leste. A região de Itaquera, no que diz respeito ao desenvolvimento econômico pode ser caracterizada em três sub-regiões: a sub-região 1 composta com as subprefeituras da Mooca, de Vila Prudente e de Aricanduva; a sub-região 2, que compreende as subprefeituras da Penha, de Itaquera, de Ermelino Matarrazzo e de São Paulo; e a sub-região 3, formada pelas subprefeituras de Guaianases, do Itaim Paulista, de Cidade Tirandentes e de São Miguel Paulista. As ações da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 em São Paulo foram concentradas na sub-região dois, da Zona Leste, com destaque para a subprefeitura de Itaquera (PEREIRA, 2011). A região de Itaquera tem cerca de 200 mil habitantes e apresenta a maior densidade populacional da capital paulista. A renda média da população é de R$ 900,00 reais por habitante ocupado. A região após a construção do metrô e prolongamento da Avenida Jacu Pêssego tem demonstrado uma melhoria na atividade econômica local. Dessa forma, a melhoria na infraestrutura urbana e a construção da Arena Corinthians na Zona Leste teve a intenção de desenvolver economicamente a região (PEREIRA, 2011).

Sobre o último aspecto econômico analisado foi verificada uma significativa inflação de custos. O valor estimado do convênio, entre o estado de São Paulo e o município de São Paulo, em 2011, foi de R$ 478,2 bilhões. Deste montante, R$ 345,9 bilhões foram de responsabilidade do estado de São Paulo e R$ 132,3 bilhões foram de responsabilidade do município de São Paulo (SÃO PAULO, 2011b). No ano de 2013 foi reportada uma inflação de custos, com a atualização do convênio. A nova estimativa de investimentos, em 2013, passou a ter o valor de R$ 548,5 milhões, dos quais R$ 397,9 milhões foram de responsabilidade do estado de São Paulo e R$ 150,6 milhões de responsabilidade do município de São Paulo. A inflação de custos deste projeto foi significativa em relação ao plano inicial, em âmbito municipal, já que houve um aumento de R$ 70,3 milhões. No entanto, não foi disponibilizada uma atualização do convênio no ano de 2014 (SÃO PAULO, 2013a). Na análise da Matriz de Responsabilidades da Copa, a inflação de custos também foi incidente. Na Arena Corinthians a previsão de investimentos foi de R$ 820 milhões na Matriz de Responsabilidade da Copa de 2012 (BRASIL, 2012c). Após a divulgação deste orçamento, a Folha de S.Paulo, fez a denúncia contra o Corinthians e a Odebrecht. De acordo com o jornal, os R$ 820 milhões divulgados do custo total da Arena Corinthians não representava o valor real da obra. No projeto não foi previsto os gastos com sistema elétrico e de tecnologia, estruturas provisórias, mobília e impostos. A previsão também não incluiu os equipamentos e infraestrutura operacional do estádio. O custo final de acordo com a Folha de S.Paulo ultrapassaria R$ 1 bilhão, sem contar as anistias fiscais realizadas, já que sem a isenção de impostos o estádio encareceria mais R$ 63 milhões (ITRI, 2012). A previsão realizada no Jornal a Folha de S.Paulo em 2012 foi concretizada e o custo final foi de R$ 1,080 bilhão (BRASIL, 2014e). A Arena Corinthians foi o segundo equipamento esportivo mais caro entre as doze arenas e estádios de futebol construídos ou reformados para a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014. Após a inflatação de custos a Arena teve o investimento mais elevado do que a reforma e reconstrução do Estádio do Maracanã e só foi menor que o custo final do Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha. Intervenções viárias, no entorno da Arena Corinthians, tiveram previsão de custos na Matriz de Responsabilidade da Copa de 2012, no valor de R$ 317,7 milhões. Na

atualização da Matriz de Responsabilidade da Copa de 2014, o custo final da obra foi de 610,5 milhões do governo local (BRASIL, 2012c; BRASIL, 2014e). Os aeroportos no estado de São Paulo também tiveram significativa inflação de custos. O Aeroporto Internacional de São Paulo-Guarulhos teve previsão de custos de R$ 1.219,0 bilhão, de acordo com a Matriz de Responsabilidade da Copa de 2011. No entanto, o custo final foi de R$ 1.922,7 bilhão, de acordo com Matriz de Responsabilidade da Copa de 2014. Os investimentos federais foram direcionados para a Terraplenagem do Pátio de Aeronaves do Terminal de Passageiros 3, Implantação do Terminal de Passageiros 4 (Fase 1), Ampliação e revitalização do sistema de Pistas – PR-B e PR-FF e concessão para ampliação, manutenção e exploração do Aeroporto Internacional de São Paulo (Fase 1B) (BRASIL, 2011d; BRASIL, 2014e). No Aeroporto Internacional de Viracopos-Campinas a previsão investimentos foi de R$ 742 milhões, em janeiro de 2011, e o custo final foi de R$ 1.184,9 bilhão, de acordo com a Matriz de Responsabilidade da Copa de 2014. Os investimentos federais foram direcionados para a implantação do Módulo Operacional e concessão para ampliação, manutenção e exploração do Aeroproto Internacional de Viracopos – Fase 1B (BRASIL, 2011d; BRASIL, 2014e). A previsão de custos com Portos no estado de São Paulo, em janeiro de 2011, foi de R$ 119,9 milhões e o custo final foi de R$ 154 milhões, de acordo com a Matriz de Responsabilidade da Copa de dezembro de 2014. O investimento federal foi direcionado para a implantação de via interna de acesso na área portuária e para o alinhamento do cais de outeirinhos no Porto de Santos (BRASIL, 2011d; BRASIL, 2014e). No setor do turismo, São Paulo tinha a previsão de investimentos de R$ 15,57 milhões, de acordo com a Matriz de Responsabilidade da Copa de 2013, sendo R$ 14, 44 milhões de investimentos federais e R$ 1,13 milhão de investimentos municipais. No entanto, o custo final foi de R$ 25,2 milhões, sendo 23,3 milhões de investimentos federais e 2 milhões de investimento do governo local (BRASIL, 2013a; BRASIL, 2014e). A construção de instalações complementares, no estado de São Paulo, teve o custo final de R$ 107,9 milhões. Estes custos não sofreram inflação, já que não foram previstos na Matriz de Responsabilidade da Copa anteriormente, foram orçadas no ano de realização da Copa do Mundo da FIFA. As instalações complementares foram de responsabilidade dos governos locais (BRASIL, 2014e).

A inflação de custos conforme discussão do primeiro capítulo da presente tese tem sido um risco frequente de gestão, e indica que a FIFA e os países-sede têm realizado planejamento inadequado, já que em todas as edições da Copa do Mundo apresentaram inflação de custos. Os organizadores têm subestimados os investimentos e supraestimado os benefícios. De acordo com Gratton, Shibli e Coleman (2006) existe uma tendência entre os organizadores dos megaeventos esportivos de superestimarem os benefícios e de subestimarem os custos relacionados à realização de um megaevento esportivo. A Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 no estado de São Paulo não foge à regra e apresenta resultados semelhantes de outros megaeventos esportivos. Os dados de superestimação de benefícios e subestimação dos custos identificados em outras edições dos megaeventos esportivos também foram evidenciados no estado de São Paulo. A inflãção de custos na Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 no estado de São Paulo teve um gasto final signfinicativamente maior do que o planejado. Por fim, pode-se afirmar que os dados no estado de São Paulo confirmam a inflação de custos como risco recorrente nos projetos relacionados à Copa do Mundo da FIFA. Estes dados reforçam a tese de Jennings (2012), ao afirmar que os megaeventos esportivos, como os Jogos Olímpicos, apresentam um potencial para inflação de custos.

4.2.2 Riscos Políticos e Governamentais no Estado de São Paulo

Os riscos políticos da gestão da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 no estado de São Paulo analisados foram: as remoções forçadas de famílias das suas casas; os protestos; e as convicções sobre a corrupção. A discussão sobre os riscos e impactos sociais é de grande importância para avaliar o desenvolvimento da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 no estado de São Paulo. Assim sendo, foi instaurado um Inquérito Civil Público para averiguar os impactos sociais das obras da Copa do Mundo da FIFA, no município de São Paulo. O objetivo do inquérito foi minimizar os impactos sociais e, em 02 de fevereiro de 2013, foi realizada uma Audiência Pública na sede da Câmara Municipal de São Paulo com o intuito de avançar nos debates relacionados aos impactos sociais (SÃO PAULO, 2013c).

O primeiro aspecto analisado dos riscos políticos e governamentais foi a remoção forçada de pessoas das suas casas. No estado de São Paulo e no município de São Paulo as remoções forçadas relacionadas à construção e reforma de obras para a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 foram concentradas na Comunidade Favela da Paz. Para avaliar, o impacto social, a prefeitura de São Paulo realizou uma reunião, em 17 de abril de 2014, da qual participou representantes da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), a AES Eletropaulo, a Caixa Econômica Federal, Secretaria Municipal de Habitação de São Paulo, Comitê Especial para a Copa do Mundo de 2014 (SPCOPA), Subprefeitura de Itaquera e a Comissão de Moradores da Comidade da Paz (SÃO PAULO, 2014h). A análise da remoção forçada das pessoas das suas casas é de grande interesse dos movimentos sociais, uma vez que o despejo de famílias pode violar o direito à moradia. As remoções forçadas impactam as relações sociais das pessoas atingidas, dificulta o acesso aos direitos, sobretudo quando o deslocamento é para áreas periféricas das cidades. De outro lado, para os governos a construção de moradias em áreas irregulares pode aumentar o risco de danos para a população, ao mesmo tempo em que aumenta os investimentos e riscos de gestão na construção de infraestrutura urbana e esportiva. Assim, o maior risco da remoção forçada é para a população local, sobretudo para a população de baixa renda que mora próximo da infraestrutura a ser construída, reformada ou expandida. O setor mais beneficiado é o imobiliário, já que a gentrificação e a especulação imobiliária aumenta as rendas dos proprietários de casas. No caso de São Paulo a prefeitura e a Secretaria Municipal de Habitação assumiu o compromisso de reassentar 120 famílias da Comunidade Vila da Paz (IQ), Alça Jacu e Pedreira no Conjunto Minha Casa Minha Vida (MCMV), a ser entregue pela Caixa Econômica Federal. As outras 276 famílias permaneceram na Comunidade Vila da Paz e serão atendidas pelo Plano de Trabalho Social, que tem um planejamento de construção do Conjunto – Iguape B para ser finalizado até o segundo semestre de 2016. O compromisso da Sabesp foi garantir a infraestrutura de rede de água e esgoto, a reponsabilidade da AES Eletropaulo foi garantir infaestrutura de nova rede elétrica, enquanto que o compromisso da Caixa Econômica Federal foi finalizar a construção de moradias em curso (SÃO PAULO, 2014h).

A remoção forçada no estado de São Paulo ocorreu por meio da autointerdição dos imovéis e as famílias foram obrigadas a sairem das suas casas (SÃO PAULO, 2013d). A prefeitura municipal de São Paulo avaliou os imóveis e interditou os mesmos, com a justificativa dos riscos existentes relacionados à integridade física dos seus ocupantes. Na desebodiência da interdição foi aberto um inquérito policial para apurar o infrator pelo crime e os ocupantes que resistiram em não sair dos seus imóveis foram intimados a desocupar (ANCOP, 2014). A prefeitura de São Paulo realizou a remoção forçada a partir da análise de riscos dos imovéis justamente no período de preparação para a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 (SÃO PAULO, 2013d). No entanto, existiam famílias que moravam entre 02 a 20 anos no local e, devido às obras para o torneio os moradores da Alça Jacu-Pêssego e da Pedreira foram forçados a assinarem o documento de saída de suas casas e quando resistiram respoderam por crimes (ANCOP, 2014). Todas as remoções forçadas passaram por uma Síntese do Estudo Social, um questionário aplicado pela Prefeitura do Município de São Paulo, que indentificou a origem da família, titular do imóvel e situação socioeconômica da família. As famílias do local apresentaram renda similar e foram atendidas pelo Programa de “Ações de Habitação”, que garantiu para as famílias um auxílio moradia que variou entre R$ 900,00 e R$ 1800,00, de acordo com a renda da família (SÃO PAULO, 2013e). A principal ação para proteger e monitorar o impacto da Copa do Mundo da FIFA nos moradores de baixa renda foi a instalação de uma comissão de acompanhamento do impacto da habitação. Não existe uma legislação no estado de São Paulo que contemple a proteção aos inquilinos, que evitasse os despejos arbitrários, bem como um controle do mercado imobiliário (SÃO PAULO, 2013e). De acordo com ANCOP (2014) as remoções forçadas em São Paulo foram seguidas de um Plano Popular Alternativo para a Comunidade da Paz, localizada em Itaquera, região leste. A Comunidade da Paz é constituída de 370 famílias de baixa renda que ocupa um terreno da Companhia de Habitação de São Paulo (COHAB-SP). A comunidade está situada a 1 km do metrô Itaquera e da Arena Corinthians. Apesar dos investimentos buscarem o desenvolvimento da Zona Leste, a valorização imobiliária forçou as famílias mais pobres da região a migrarem para regiões mais periféricas, com infraestrutura e serviços públicos precários.

Os megaeventos esportivos são catalizados de planos de desenvolvimento de moradia nas cidades-sede, uma vez que a cidade anfitriã concentra investimentos públicos e privados no setor da construção (ROLNIK, 2010). As remoções forçadas em São Paulo tem um histórico de ocorrerem de maneira violenta, e provocando traumas irreversíveis para os moradores. Podem-se reportar as ameaças a lideranças, os cortes no abastecimento de água ou luz, a truculenta reintegração de posse via Polícia Militar e os incêndios criminosos. No caso de São Paulo o Movimento Nossa Itaquera em conjunto com as Comunidades Unidas de Itaquera promoveram um processo de resistência à remoção forçada, por meio de manifestações e cobranças ao poder público. Estas comunidades tiveram assessoria técnica da ONG Peabiru e dos advogados do Instituto Pólis (ANCOP, 2014). O Plano Popular Alternativo de São Paulo buscou elucidar os direitos violados no processo de remoção forçada, com destaque para o “Direito à informação (Lei Federal nº 12.527/2011), gestão democrática da cidade, direito à cidade (Lei Federal 10.257/01 – Estatuto da Cidade), direito à moradia digna (Constituição Federal de 1988) e função social da propriedade”. O Plano Popular Alternativo destacou que as novas moradias devem ser preferencialmente no mesmo bairro e a remoção forçada foi estabelecida em duas fases: primeira, no reassentamento das famílias em áreas de risco até junho de 2015; e segunda, no reassentamento dos demais até o final de 2016 (ANCOP, 2014, p. 41). De acordo com Rolnik (2010, p.2) “os megaeventos esportivos podem ser uma oportunidade para consolidar o direito à moradia adequada”. O processo de preparação para o megaevento esportivo envolve melhorias na infraestrutura das cidades-sede, o que inclui aumento da mobilidade urbana, construção de novas moradias, limpeza de zonas contaminadas e administração de infraestrutura social e cultural. Os movimentos sociais com defesa ao direito à moradia foram frequentes durante a preparação para a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 no estado de São Paulo. Pode-se destacar neste contexto de resistência a ocupação Copa do Povo, na Zona Leste de São Paulo, em uma área de 155 mil metros quadrados, próximo da Arena Corinthians. A ocupação foi realizada nas vésperas da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 e chegou a abrigar 5 mil famílias em busca de acesso do direito à moradia, o que chamou a atenção dos meios de comunicação de massa. Sobre a mobilização da sociedade civil, o Gestor 2 enfatizou que:

A Copa do Povo teve essa ocupação próxima ao estádio, cerca de três quilômetros de onde ficava o estádio foi uma tensão. Nós achamos que teriam grandes protestos e movimentação, mas a Secretaria Geral da Presidência participou ativamente, então teve interlocução dos movimentos sociais [...] a própria presidenta Dilma recebeu os representantes desse pessoal da Copa do Povo e assumiu alguns compromissos. Então, na realidade eles fizeram aquela movimentação e tiveram duas mil pessoas acampadas, então houve uma negociação e todo mundo aproveitou esse movimento para ter visibilidade, pois foi um evento mundial, tinha mídia e usaram da ocupação para avançar algumas coisas, mas acredito que tudo transcorreu na maior ordem (GESTOR 2).

Após uma série de protestos e diálogos com o Governo Federal do Brasil, foi firmado o compromisso de incluir a ocupação Copa do Povo no Programa Minha Casa Minha Vida, e no total serão construídas 2.650 unidades habitacionais após o ano de 2016. Apesar do acordo, o Ministério das Cidades não tem um prazo para iniciar as obras, conforme reportado pelo Jornal O Estado de S. Paulo, em 04 de Janeiro de 2016, um ano e quatro meses após início da ocupação. O projeto se encontra em processo de licenciamento e envolve os governos federal, estadual e municipal, com responsabilidades descentralizadas (RESK, 2016). Para além das remoções forçadas, pode-se destacar o processo de gentrificação, que corresponde ao aumento de preços e impostos locais, que obrigam as comunidades de baixa renada a abandonar as regiões. De acordo com Rolnik (2010) a gentrificação promove profundas mudanças na comunidade e em sua composição demográfica. Os moradores das regiões reurbanizadas e vitalizadas são obrigados a se mudaram para áreas externas à cidade, o que impacta nos vínculos comunitários, além de aumentar os gastos com transportes para chegar ao trabalho. O segundo risco gestão analisado foi o protesto, que no estado de São Paulo registrou a maior incidência. Os protestos foram contrários ao Governo Federal do Brasil e a FIFA, sobretudo na Copa das Confederações FIFA Brasil 2013. Os jornais a Folha de S.Paulo e o Estado de São Paulo fizeram a cobertura da temática e destacaram que as manifestações de 2013 tiveram início com o Movimento Passe Livre (MPL), a partir do aumento da tarifa da passagem de ônibus. Após a repressão da Polícia Militar o movimento cresceu e ganhou dimensões nacionais, o que fez envolver outras temáticas, com destaque para a Copa das Confederações da FIFA Brasil 2013.

A Copa das Confederações da FIFA Brasil 2013 foi o principal teste antes da realização da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, e os movimentos sociais, sobretudo a Articulação Nacional de Comitês Populares da Copa mobilizaram a sociedade civil contra o torneio. Os movimentos sociais tiveram como pauta principal o uso adequado de recursos públicos, transparência dos investimentos do governo em relação ao torneio, a defesa do direito à moradia, a não privatização dos estádios, e o fim da corrupção da FIFA e dos governos. O Jornal a Folha de S.Paulo realizou a cobertura sobre a temática, conforme Tabela 7.

Tabela 7 Protestos contra a Copa do Mundo da FIFA Jornal Título da Reportagem Data Seção do Jornal Folha de S.Paulo Movimento suspende protestos, 22 de junho de 2013 Cotidiano C4 mas volta atrás Folha de S.Paulo Manifestante é ferido a tiros pela 27 de janeiro de 2014 Cotidiano C1 PM em ato em SP Folha de S.Paulo “Privatização de tudo” gerou 20 de novembro de Poder 2 protestos, que vão continuar 2013 Folha de S.Paulo Para CBF, protestos ferem as 05 de abril de 2014 Esporte D2 regras; Bom Senso nega Folha de S.Paulo Evento do governo para 25 de abril de 2014 Cotidiano C5 desestimular protestos na Copa termina em vaia Folha de S.Paulo Manifestações 10 de maior de 2014 Opinião A3 Folha de S.Paulo Protestos Legais 15 de maio de 2014 Opinião A2 Folha de S.Paulo Protesto de espetáculo 24 de maio de 2014 Esporte D4 Folha de S.Paulo Protesto anti-Copa tem confronto 18 de junho de 2014 Poder A9 e bloqueio de estrada em Fortaleza Folha de S.Paulo Número de protestos cai 39% com 25 de junho de 2014 Poder A7 jogos Fonte: Folha de S.Paulo

Os protestos, no Brasil, conforme discutido por Jennings (2012) é um risco incidente em outras edições dos megaeventos esportivos. No entanto, no caso brasileiro foi reportado o maior número de protestos contra uma edição de Copa do Mundo da FIFA. A FIFA e o Governo Federal do Brasil foram as instituições mais pressionadas pelos movimentos sociais. Butler e Aicher (2015) destacaram que os movimentos sociais no Brasil variaram entre movimentos pacíficos e movimentos violentos. Dentre os movimentos violentos, em destaque, pode-se destacar um grupo anarquista identificado como Black Bloc e que teve o apoio do grupo Anonymous. Os grupos anarquistas fizeram protestos com

os rostos escondidos e chegaram a depedrar o patrimônio público e instituições privadas como os Bancos. No último risco analisado, as suspeitas sobre a corrupção dos atores políticos e instituições que planejaram e executaram a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 no estado de São Paulo só ocorreu na 26º fase da Operação Lava Jato. Nesta operação foram confirmadas as supeitas de irregularidades nas obras de construção da Arena Corinthians, cuja a empreiteira responsável foi Odebrecht. O vice-presidente do Sport Club Corinthians Paulista, André Luiz de Oliveira (André Negão), em 22 de março de 2016, foi conduzido a um mandado de busca e apreensão. Além disso, André Negão foi alvo de condução coercitiva com o objetivo de prestar esclarecimento sobre a obra da Arena Corinthians para a Polícia Federal. André foi preso por porte ilegal de arma após condução coerciva. No entanto, as suspeitas de que André Negão teria recebido R$ 500 mil em proprina da construtora Odebrecht ainda não foi comprovada (ROCHA; MATTOSO, 2016). As convicções sobre a corrupção no torneio foram discutidas no primeiro capítulo, no entanto, não existem convicções de corrupção nos projetos da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 no estado de São Paulo, mas as investigações da Polícia Federal continuam em processo, com destaque para Operação Lava Jato, que tem verificado as fraudes no que diz respeito à construção da Arena Corinthians, principal a infraestrutura esportiva construída no estado de São Paulo.

4.2.3 Riscos de Infraestrutura do Estado de São Paulo

A infraestrutura para a realização da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 previa na Matriz de Responsabilidade da Copa a construção do Monotrilho (Linha Ouro), no valor de R$ 2.860,0 milhões, sendo R$ 1.476,0 milhões de recursos do governo estadual de São Paulo, R$ 1.082,0 milhões de financiamento federal e R$ 302,0 milhões de recursos do município de São Paulo (BRASIL, 2010d). No ano de 2012, ocorreu uma atualização da Matriz de Responsabilidade da Copa e o estado de São Paulo solicitou a exclusão da construção do Monotrilho – Linha Ouro (Linha 17) (BRASIL, 2012c). As obras no estado de São Paulo mudaram o foco e outras foram abandonadas. As verbas do projeto de construção do monotrilho minguaram

de R$ 2,8 bilhões para apenas R$ 548,5 milhões e o projeto do monotrilho foi excluído da Matriz de Responsabilidade da Copa (BRASIL, 2014e). O projeto do trem-bala ou Trem de Alta Velocidade (TAV), que ligaria o Centro de Campinas, o Aeroporto de Campinas (Viracopos), Estação da Luz em São Paulo, Centro de São Paulo, Aeroporto de Guarulhos (Cumbica), São José dos Campos, Centro do Rio de Janeiro e Aeroporto Galeão foi abandonado na fase de projeto. O custo da obra foi previsto em mais de R$ 11 bilhões e o governo chegou a oferecer fundos de pensão estatais para financiar o projeto. A previsão era receber 10 milhões de passageiros por ano e o custo do projeto fez os governos desistirem do mesmo (GRIPP, 2009). Em uma comparação entre o caso de São Paulo e o caso de Amazonas, pode-se afirmar que em Manaus a exclusão de obras foi mais emblemática, a partir do momento que o projeto inicial previa um monotrilho e um BRT ao custo de 1,7 bilhão, mas as obras foram abandonadas e retiradas da Matriz de Responsabilidade da Copa. O estado ficou sem nenhum investimento federal para mobilidade urbana (BRASIL, 2014e). Outra obra prevista no estado de São Paulo que foi abandonada na Matriz de Responsabilidade da Copa de 2010 foi a reforma do Estádio do Morumbi. O valor previsto foi de R$ 240 milhões, sendo R$ 150 milhões financiados pelo Governo Federal do Brasil (BNDES) e R$ 90 milhões de recursos do São Paulo Futebol Clube. Além do estádio, a Matriz de Responsabilidade da Copa de 2010 também previa a urbanização em torno do Estádio do Morumbi, que envolveria R$ 315 milhões de recursos públicos, sendo R$ 250 milhões de recursos financiados pelo BNDES, R$ 32,50 milhões pelo governo estadual e R$ 32,50 milhões pelo governo municipal (BRASIL, 2010d). A reforma do Estádio do Morumbi e as intervensões em torno foram previstas na Matriz de Responsabilidade da Copa de 2010 e foram excluídas no ano de 2011. A Matriz de Responsabilidade da Copa de 2012 foi divulgada com a inclusão do projeto da Arena do Corinthians. O cronograma para iniciar as obras de construção da Arena Corinthians foi para maio de 2011, com prazo para ser finalizado e entregue em dezembro de 2013. O projeto de uma nova arena também previa as intervenções viárias no entorno do polo de desenvolvimento da Zona Leste de São Paulo (Itaquera), que teve previsão de investimentos públicos no valor de R$ 317,7 milhões, conforme Matriz de Responsabilidade da Copa de 2012 (BRASIL, 2012c).

Na Matriz de Responsabilidade da Copa do ano de 2013 a previsão de investimentos com a construção da Arena Corinthians continuou prevista em R$ 820.00 milhões, sendo R$ 400.00 milhões de financiamento do Governo Federal do Brasil (BNDES) e R$ 420.00 milhões do governo local, a partir dos CIDs (BRASIL, 2013b). O investimento do governo local na Arena Corinthians diz respeito aos incentivos fiscais do CIDs, que foi contemplado a partir da Lei nº 15.413, de 20 de julho de 2011. Os incentivos fiscais a partir da emissão do CID tem validade de dez anos e foi limitado a R$ 420.00 milhões (SÃO PAULO, 2011d). A partir do financiamento via BNDES e CIDs foi verificada a acumulação por expoliação com a intermediação do Estado (HARVEY, 2004), uma vez que foram destinados fundos públicos sociais para a construção da Arena Corinthians, de gestão privada do Sport Club Corinthians Paulista. Como forma de execução da construção da Arena Corinthians foi criado a partir da Lei nº 15 de julho de 2011, Artigo 3º o:

Comitê de Construção do Estádio da Copa do Mundo de Futebol de 2014, composto pelos seguintes Secretários Municipais: I - de Desenvolvimento Econômico e do Trabalho; II - Especial de Articulação para a Copa do Mundo de Futebol de 2014; III - do Governo Municipal; IV - de Planejamento, Orçamento e Gestão; V - de Finanças; VI - de Desenvolvimento Urbano; VII - dos Negócios Jurídicos (SÃO PAULO, 2011d).

O Comitê de Construção do Estádio da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 teve como objetivo analisar e deliberar os projetos de construção da Arena Corinthians, bem como fiscalizar e acompanhar as obras previstas na Matriz de Responsabilidade da Copa (SÃO PAULO, 2011b). A obra da Arena Conrinthians foi marcada pelo atraso e pelos problemas financeiros. O Sport Club Corinthians Paulista afirmou que não tinha recursos para as instalações temporárias, que não foram previstas no orçamento do equipamento esportivo. De acordo com o contrato (Stadium Agrement) os recursos financeiros devem ser bancados pelo Sport Club Corinthians Paulista, mas quem arcou com a responsabilidade foi a FIFA, já que a Prefeitura de São Paulo, o Governo do Estado de São Paulo e o Governo Federal do Brasil negaram os recursos em ajuda ao clube. As estruturas temporárias foram orçadas em R$ 60 milhões e dizem respeito ao aluguel de telões, materiais de tecnologia de

informação, aparelhos de raios-X para monitorar a entrada de torcedores, os espaços comerciais e a infraestrutura das áreas VIPs (ITRI; REIS, 2014). No que diz respeito à infraestrutura urbana, a fiscalização e o acompanhamento das obras foram realizadas tendo como base as previsões sobre as intervenções viárias no entorno do polo de desenvolvimento de Itaquera. No entanto, estas obras também sofreram alterações no orçamento e o novo montante foi fixado em R$ 548,50 milhões. São Paulo foi a cidade-sede com a maior previsão de recursos para as obras no entorno entre todas as arenas e estádios de futebol para a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 (BRASIL, 2013b). Na análise dos investimentos do Governo Federal do Brasil em infraestrutura no estado de São Paulo foi verificado o direcionamento de recursos públicos para os aeroportos e portos. A Matriz de Responsabilidade da Copa de 2010 previa um investimento de recursos de R$ 1.219,4 milhões no Aeroporto Internacional de São Paulo- Guarulhos, o que envolvia a construção do terminal de passageiros 04, construção do Módulo Operacional (MOP 1) e construção do Módulo Operacional (MOP 2). A previsão de investimentos para o Aeroporto Internacional de Campinas-Viracopos foi de R$ 742,0 milhões, e envolveu a construção do Módulo Operacional (MOP), adequação do terminal de passageiros existente e construção de um novo terminal de passageiros e pátio (BRASIL, 2010d). Na atualização da Matriz de Responsabilidade da Copa de 2012 ocorreu uma significativa alteração nos investimentos relacionados aos aeroportos. No novo plano foi incluído a terraplenagem do terminal de passageiros 03 no Aeroporto Internacional de São Paulo (Guarulhos), com um acréscimo significativo de investimentos do Governo Federal do Brasil em torno de 269,4 milhões (BRASIL, 2012c). Na Matriz de Responsabilidade 2013 os investimentos no Aeroporto de São Paulo-Guarulhos teve outra atualização e os gastos previstos chegaram a R$1.922,00 milhões, enquanto que os gastos previstos para o Aeroporto Internacional de Campinas- Viracopos somaram R$ 1.184.91 milhões. Ambos os aeroportos tiveram significativa inflação de custos em relação à Matriz de Responsabilidade da Copa de 2010, conforme distido nos riscos econômicos anteriormente (BRASIL, 2013c). O Governo Federal do Brasil também previa investimento em infraestrutura portuária e a Matriz de Responsabilidade da Copa de 2010 tinha a previsão de implementação do projeto de terminal marítimo de Santos. O projeto foi orçado em R$

119,9 milhões e teve o custo final de R$ 124 milhões, de acordo com a Matriz de Responsabilidade da Copa de 2014 (BRASIL, 2014c; BRASIL, 2014e). Para a além da infraestrutura citada, no ano de 2013, a Matriz de Responsabilidade da Copa foi atualizada novamente e incluiu um investimento de R$ 25,23 milhões em sinalização nos atrativos turísticos, acessibilidade nos atrativos turísticos na cidade de São Paulo, implantação e reforma de novos Centros de Atendimento ao Turista (CAT), dos quais dois foram instalados no Aeroporto de Guarulhos, um no Aeroporto de Congonhas e um no Terminal Rodoviário do Tietê. Do montante de investimentos, R$ 23.25 milhões foram recursos de responsabilidade do Governo Federal do Brasil e R$ 1,98 milhão foram de responsabilidade do governo municipal. No total, São Paulo foi a cidade- sede da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 que mais investiu em turismo (BRASIL, 2013c). De acordo com Junqueira et al. (1997) a intersetorialidade das ações no planejamento, execução e avaliação das ações políticas podem contribuir na otimização dos recursos escassos para uma determinada política. As ações políticas da Copa do Mundo da FIFA no estado de São Paulo articularam o governo federal, estatual, municipal, além do setor privado como forma de aperfeiçoar recursos para a realização do megaevento esportivo. Corroborando com a discussão sobre a articulação política, o Gestor 2 acrescentou que São Paulo tem diversos serviços articulados e a cidade “pode atrair diversos turistas, gerar curiosidade das pessoas, não só pelo turismo de negócios, mas também das pessoas que podem vir conhecer a cidade” na realização da Copa do Mundo da FIFA. Para o gestor, a cidade de São Paulo buscou desenvolver seu potencial turístico no setor gastronômico e multicultural, com o objetivo de melhorar a imagem do estado de São Paulo. As principais obras para a implantação do Plano de Desenvolvimento da Zona Leste na região de Itaquera foram: 1) novas alças de ligação no cruzamento da Avenida Jacu Pêssego com a Avenida José Pinheiro Borges; 2) Nova Avenida de Ligação Norte-Sul, no trecho entre a Avenida Itaquera e a Avenida José Pinheiro Borges (o que incluiu as transposições em desnível sobre o Metrô e a CPTM); 3) Nova avenida articulando a ligação Norte-Sul, na Avenida Miguel Inácio Curi; 4) Passagem em desnível na Rua Dr. Luis Aires

(Radial Leste); 5) Adequação viária no cruzamento da Avenida Miguel Inácio Curi com a Avenida Engenheiro Adervan Machado (SÃO PAULO, 2011b). Sobre a infraestrutura, a FIFA exigiu das sedes da Copa do Mundo um sistema de transporte público, que realize uma conexão via metrô entre os estádios de futebol e o centro da cidade. No entanto, apenas três cidades-sede atenderam este critério, com destaque para a cidade de São Paulo, Rio de Janeio e Recife. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou a exigência do metrô, e acrescentou que “o brasileiro não tem problema em andar a pé” (DIAS, CARVALHO, 2014). Para o Gestor 1, a gestão da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, no estado de São Paulo “enfatizou muito a Zona Leste, teve turismo no município, teve algumas conquistas na Prefeitura, a gente [Estado] trabalhou nesse âmbito fora do município, a questão do transporte coletivo, dessa operação, acho que foi essa interface, essa integração entre áreas”. Enquanto que o Gestor 2 destacou que o impacto positivo na infraestrutura, no transporte público e na mobilidade urbana das pessoas. Os serviços foram melhorados e as “pessoas tem transporte urbano um pouco melhor em qualidade, confortável, com ar- condicionado, uma série de questões que você era sempre jogado a margem”. De acordo com Grix (2012) o consenso geral de que a Copa do Mundo foi um sucesso após a sua realização tem sido comum nos discursos dos organizadores dos megaeventos esportivos e dos meios de comunicação de massa. No entanto, os megaeventos esportivos apresentam no uma série de contratempos, colapso na insfraestrutura, impactos ambientais negativos, e manchetes de suspeitas de corrupção. No caso específico do estado de São Paulo foram frequentes os atrasos nas obras relacionadas à Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, sobretudo na obra da Arena Corinthians e nos aeroportos, o que apresentou dados semelhantes ao megaevento esportivo em âmbito nacional.

4.2.4 Riscos Ambientais e de Saúde no Estado de São Paulo

Nesta seção foram discutidos os ricos de saúde, sobretudo os riscos que atingiram os operários na construção da infraestrutura esportiva para a Copa do Mundo da

FIFA Brasil 2014, o que pode levar a morte. Em um segundo momento foi discutido o risco ambiental nas ações políticas do torneio no estado de São Paulo. No primeiro aspecto analisado, a FIFA, por meio do contrato da cidade-sede se isentaram de qualquer responsabilidade por morte, saúde, perdas de pessoas ou de propriedade, danos ou ferimentos relacionados à Copa do Mundo da FIFA. Os riscos de gestão foram repassados para as cidades-sede (FIFA, 2011b). Das 10 mortes de operários durante a construção e reforma de arenas ou estádios de futebol para a Copa do Mundo da FIFA Brasil três delas ocorreram no estado de São Paulo, na construção da Arena Corinthians. Duas mortes aconteceram após o desabamento de um guindaste, quando Fábio Luiz Pereira, de 41 anos, e Ronaldo Oliveira dos Santos, de 43 anos faleceram no local do acidente. O acidente interditou 30% da obra e adiou a entrega da Arena Corinthians (KFOURI, 2013). A última morte ocorreu após o funcionário, Fábio Hamilton Cruz, de 23 anos, se desequilibar e cair de uma altura de 8 metros, enquanto instalava as estruturas temporárias para a Arena Corinthians. Os organizadores do evento lamentaram a morte e continuaram o andamento da obra no dia do incidente, com o objetivo de não atrasar a construção do equipamento esportivo (TRINDADE, 2014). A filha de Fábio Hamilton Cruz, de nome Keille Pereira, criou uma petição on- line para a construção de um monumento para homenagear os operários mortos nos estádios. A petição conseguiu mais de 180 mil assinaturas e criticava o silêncio dos organizadores da Copa do Mundo da FIFA. Keille Pereira afirmou que as mortes dos operários não foram respeitadas e a FIFA deveria ter realizado 1 minuto de silêncio nas arenas ou estádios de futebol durante o torneio (TRINDADE, 2014). A construção da Arena Corinthians foi marcada pelos atrasos e por diversos inquéritos civis públicos contra as irregularidades trabalhistas na obra do equipamento esportivo. Os operários não tiveram segurança de trabalho e a saúde dos trabalhadores foi exposta durante a construção da Arena Corinthians. Os inquéritos civis publicos denunciaram a ausência dos técnicos de segurança, o que elevou os riscos de morte e danos a saúde dos trabalhadores. Os operários foram submetidos aos prazos mais apertados em função dos objetivos a serem cumpridos, o que também elevou os riscos de saúde dos trabalhadores. As mortes foram mais do que um problema de segurança de trabalho e de saúde, uma vez

que as empresas construtoras foram responsáveis pela execução e o Estado pelo fomento da construção. No que diz respeito ao segundo aspecto analisado, o meio ambiente, as cidades- sede da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 tiveram o compromisso de executar as obras de forma a incluir o conceito de desenvolvimento sustentável. Os projetos da competição tiveram que se adequar à legislação ambiental aplicável, com ênfase na proteção do meio- ambiente. O uso do conceito de desenvolvimento sustentável pela FIFA envolveu o planejamento para o uso pós-competição das arenas e estádios de futebol bem como outras infraestruturas utilizadas (FIFA, 2011b). O conceito de sustentabilidade foi enfatizado na construção da Arena Corinthians, a partir de uma parceria com o estritório alemão Werner Sobek, que implementou o Projeto Green Goal com base na edição da Copa do Mundo da FIFA Alemanha 2006. Destacou-se o conceito Triple Zero que incluiu: zero energia (geração por fontes renováveis do próprio estádio), zero emissões (não geração de CO2) e zero desperdício. Acrescenta-se que para obtenção da licença de construção o estudo de impactos ambientais foi realizado pelas instituições municipais (ANDRADE, 2014). Quando questionado sobre os impactos ambientais, o Gestor 1 reportou que “[...] a gente ainda não sabe medir muito bem, mas que a gente fez também foi a sustentabilidade, quando foi medida a emissão de gás CO2 do torneio. 2 Por fim, o risco ambiental não foi destacado nos documentos oficiais do estado de São Pulo e do município de São Paulo. Os gestores entrevistados não souberam abordar como este tipo de ação foi articulado no estado e no município e os jornais analisados não mencionaram o tópico no debate. Dessa forma, pode-se afirmar que inexistem dados disponíveis sobre o impacto ambiental nos dados coletados, o que dificultou a análise desta seção.

4.2.5 Riscos de Segurança e Proteção no Estado de São Paulo

Nesta seção foi analisado os riscos de segurança relacionados a Copa do Mundo da FIFA Brasil no estado de São Paulo. Em um primeiro momento é possível afirmar que as cidades-sede do torneio como São Paulo se comprometeram com a FIFA em adotar medidas de segurança e proteção com seus próprios recursos. Dessa forma, o município de

São Paulo também foi cooresponsável pela segurança, em consonância com o Governo Federal do Brasil e o governo do estado de São Paulo. O principal projeto planejado foi a integração de instituições e sistemas, o que envolveu instalação do Centro de Comando e Controle Regional e instalação de câmeras de monitoramento como principais ações de segurança no estado de São Paulo (BRASIL, 2013c). O estado e a cidade de São Paulo também foram os responsáveis pelo fornecimento de recursos para a infraestrutura, proteção policial para as equipes participantes e membros da delegação da FIFA e do COL. A FIFA exigiu da sede toda a assistência no que diz respeito à segurança e a proteção, antes, durante e após a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 (FIFA, 2011b). A segurança em megaeventos esportivos como a Copa do Mundo da FIFA, de acordo com Giulianotti e Klauser (2010) tem adotado os seguintes critérios: 1. Tecnologias que são implementadas nos países-sede; 2. Novas práticas de segurança internacional; 3. Políticas de segurança governamental e criação de nova legislação que garanta a segurança; 4. Foco na segurança a partir das transformações sociais do país-sede; 5. Alterações generalizadas nas relações sociais; e 6. Requalificação urbana. Os critérios de segurança da gestão de risco no estado de São Paulo foram garantidos a partir da LGC e a outra parte foi assegurada no contrato entre a FIFA, Governo Federal do Brasil e governos locais. O acesso e a segurança da Arena Corinthians, por exemplo, foi definida a partir do documento contrato do estádio, que garantiu para a FIFA e o COL, um período de uso exclusivo do equipamento esportivo, em que a instituição internacional foi responsável por todas as ações de segurança. Durante o período de uso não exclusivo da FIFA os governos locais foram responsáveis por todas as medidas de segurança em torno da Arena Corinthians (FIFA, 2011a). Para a abertura da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 na Arena Corinthians foi criado uma estratégia de guerra para garantir a segurança da partida. Um comitê de segurana foi criado na cidade de São Paulo, com o objetivo de conter atos terroristas e violência nas manifestações. O esquema de segurança envolveu o Ministério da Defesa, o Ministério da Justiça e a Casa Civil, além da atuação das Forças Armadas em casos extremos. Durante a partida de abertura o espaço aéreo de São Paulo foi fechado 3 horas antes do início e 4 horas após a partida. O trabalho de inteligência da segurança do torneio envolveu Abin e a Política Federal em parceria com a Interpol. O plano de segurança

envolveu kits para defesa química, biológica, radiológica e nuclear para serem utilizados pelos militares responsáveis pela vistoria (LIMA, 2014) Mesmo com todo o planejamento, na abertura da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 na Arena Corinthians foi reportada uma falha no esquema de segurança que quase terminou com a morte de homem portando uma arma durante a partida entre o Brasil e a Cróacia. O suspeito estava próximo à tribuna onde estava a presidente Dilma Rousseff, chefes de Estado e autoridades da FIFA e o disparo foi evitado após o reconhecimento do homem como um policial (TUROLLO JR; RIGHETTI, 2014). O plano de segurança do estádio abrangeu a cooperação do governo estadual de São Paulo e do governo municipal de São Paulo, em consonância com a FIFA e o COL. A Autoridade de Estádio garantiu todo o pessoal e equipamento necessário para garantir as medidas de segurança. Por fim, durante o torneio não foram reportados incidentes de segurança no estado de São Paulo (FIFA, 2011a). A segurança na Copa do Mundo da FIFA foi o tema central de um evento realizado, em 16 de stembro de 2014, pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). O evento promoveu um balanço sobre as estratégias de seguranças desempenhadas durante o torneio e destacou a integração entre as polícias como um dos principais impactos positivos, já que agregou informações de diversas áreas, do judiciário e de cada Estado que foi sede dos jogos da Copa do Mundo. Asinformações transcenderam o Brazil e envolveu troca de experiências de outros países. O plano de segurança envolveu legislação, tecnologia, gestão e integração de ações (FIESP, 2014). O Gestor 1 afirmou que o município de São Paulo “já discutia os temas de hospitalidade, segurança, transportes” no período de preparação para o torneio. A distribuição de responsabilidades foi realizada por meio do convênio entre o estado de São Paulo e o município de São Paulo. Acrescentou-se que “[...] a palavra de ordem dos gestores foi integrar o risco, integrar o planejamento, integrar a operação” (GESTOR 1). Por fim, pode-se afirmar que as ações de segurança da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 no estado de São Paulo tiveram caráter intersetorial, sobretudo na articulação entre as esferas estadual e municipal no planejamento e na execução, bem como entre as polícias e demais órgãos de segurança.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo da tese foi analisar a gestão de risco da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, com ênfase no estado de São Paulo. A análise da gestão de risco sobre a gestão da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 no estado de São Paulo confirma a tese dos riscos econômicos, políticos, sociais, ambientais, infraestrutura e segurança associados aos Jogos Olímpicos também foram evidenciados no torneio da FIFA. Além disso, os dados relacionados às diferentes edições da Copa do Mundo da FIFA permitiram uma discussão original sobre a diferença de riscos entre os países desenvolvidos e os países emergentes que sediaram o torneio. Os dados garantiram uma originalidade para a tese, o que contribui para o campo científico dos megaeventos esportivos, uma vez que as pesquisas sobre a gestão de risco nos jogos olímpicos têm sido frequentes, no entanto, as pesquisas relacionadas à temática da Copa do Mundo da FIFA escassas e não existem artigos científicos que analisam a gestão de risco envolvendo diferentes aspectos da gestão. Nos diferentes riscos analisados, foi possível afirmar que a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 teve impacto positivo na economia e no PIB em âmbito nacional e no estado de São Paulo. No entanto, apresentou inflação de custos na infraestrutura da cidade e nas arenas e estádios de futebol. Os benefícios econômicos em sediar a Copa do Mundo da FIFA têm sido utilizados pelos governos como justificativa do financiamento público. No que diz respeito aos impactos políticos, foi possível concluir que a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, em âmbito nacional e no estado de São Paulo, apresentou remoção forçada de famílias das suas casas. Este risco foi mais incidente no Brasil do que entre todas as edições da Copa do Mundo da FIFA entre 1994 e 2014. Os projetos da cidade atenderam ao interesse da especulação imobiliária ao invés de promover o acesso do direito à moradia. Os protestos contra a FIFA e o governo chamaram a atenção dos meios de comunicação de massa nacional e internacional e apresentaram-se como a maior incidência de protestos entres todas as edições da Copa do Mundo da FIFA. As convicções sobre a corrupção foram frequentes, com diversas prisões do corpo de gestores da FIFA, da CBF, bem como dos atores políticos representantes das empreiteiras construtoras das arenas e dos estádios de futebol. No estado de São Paulo foi reportada a suspeita de corrupção nos contratos entre a Odebrecht e o Sport Club Corinthians Paulista.

A Copa do Mundo da FIFA tem se tornado um projeto cada vez mais ambicioso, em que as promessas de melhoria na infraestrutura das cidades-sede têm criado diferentes riscos de gestão. Os projetos planejados inicialmente foram retirados da Matriz de Responsabilidade da Copa durante o período preparatório do torneio, além do frequente atraso construção, reforma e expansão da infraestrutura urbana e esportiva. Os impactos positivos na infraestrutura dizem respeito ao aumento da capacidade dos aeroportos brasileiros, modernização tecnológica dos aeroportos, infraestrutura esportiva, aceleração de obras de infraestrutura das cicades-sede, criação de Bus Rapid Transit (BRT), e avanço tecnológico a partir das fibras opticas de comunicação. Os riscos ambientais e de saúde não foram incidentes na gestão da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 no estado de São Paulo e desde a edição de 2006, na Alemanha, o Projeto Green Goal tem alcançado resultados positivos. Os perigos relacionados à morte de operários colocaram em risco a saúde dos trabalhadores, uma vez que as construções das arenas e estádios de futebol estavam atrasadas, o que intensificou os turnos de trabalho e elevou os riscos de acidentes de trabalho. A edição da Copa do Mundo da FIFA Brasil foi a edição do torneio com maior número de mortes de operações na construção dos equipamentos esportivos. Os riscos de segurança têm aumentado a cada edição da Copa do Mundo da FIFA e os requisitos de policiamento são centrais no contrato e na escolha do país-sede do torneio. A Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 no estado de São Paulo aumentou as incertezas e as demandas de gerenciamento de segurança, o que necessitou uma maior articulação entre as diferentes esferas governamentais e polícia. No entanto, não foram reportados incidentes com a segurança durante o torneio no estado de São Paulo. A partir dos dados da tese, pode-se concluir que os riscos são mais incidentes nos países emergentes como a África do Sul em 2010 e Brasil em 2014 do que nos países desenvolvidos como Estados Unidos em 1994, França em 1998, Japão e Coreia do Sul em 2002 e Alemanna em 2006. Estes dados são indicativos relevantes para edição da Copa do Mundo da FIFA Rússia 2018, e os dados podem auxiliar na gestão do torneio. Na Rússia, será necessária a construção de um número grande de equipamentos esportivos, bem como grandes intervenções urbanas com o objetivo de melhorar a infraestrutura das cidades-sede, o que merecia uma análise mais detalhada sobre o planejamento e execução dos projetos relacionados à Copa.

O estado de São Paulo teve papel central entre todos os estados brasileiros, a partir do momento que foi sede da abertura da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014, bem como do sorteio da Copa das Confederações da FIFA Brasil 2013. O estado de São Paulo concentrou o maior número de Centros Oficiais de Treinamento e seleções. A gestão de risco da Copa do Mundo no estado de São Paulo teve um caráter intersetorial, à medida que a adiministração central foi realizada pelo Comitê Especial para a Copa do Mundo de 2014 (SPCOPA), que articulou as secretarias estaduais. Enquanto que o Comitê Paulista da Copa do Mundo foi responsável pela articulação das secretarias municipais. Os resultados do estado de São Paulo foram semelhantes ao evento em âmbito nacional, o impacto econômico foi positivo, a inflação de custos foi frequente em todos os projetos. A remoção forçada e os protestos foram frequentes no estado, bem como o atraso na infraestrutura. A morte de trabalhadores foi a maior entre todos os estados e os impactos ambientais não foram incidentes. Por fim, pode-se afirmar que sediar uma Copa do Mundo da FIFA é lidar com inúmeras incertezas, e a gestão de risco pode contribuir para mensurar e diminuir os perigos associados aos projetos.

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APÊNDICES

APÊNDICE B - ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA GESTORES MUNICIPAIS E ESTADUAIS Nome: Profissão: Cargo/função/tempo de trabalho: 1. Como foi planejada a gestão da Copa do Mundo da FIFA no estado/município de São Paulo? 2. Quais são os impactos sociais esperados pelo governo do município/estado de São Paulo? 3. Quais são os principais projetos estaduais e municipais que colaboraram para o desenvolvimento da Copa do Mundo da FIFA? 4. Do ponto de vista legislativo, quais foram as principais leis que regiram as ações da Copa do Mundo da FIFA de 2014 no município/estado de São Paulo? Se sim, de que forma funcionam? 5. Quais são as principais instituições estaduais e municipais envolvidas na realização da Copa do Mundo e como elas se articularam? 6. Como que as instituições estaduais e municipais se articulam com a FIFA, o Sport Club Corinthians e Comitê Organizador Local? 6. A sociedade civil teve participação neste processo? Se sim, descreva de que forma ocorreu essa participação. Se não, como você compreende a ausência da mesma nas decisões políticas. 8. Quais foram os principais momentos de planejamento e avaliação da gestão da Copa do Mundo no estado de São Paulo? 9. Quais foram os principais impactos positivos da gestão da Copa do Mundo da FIFA no município/estado de São Paulo?

APÊNDICE C - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO (TCLE) (Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde)

Você está sendo convidado (a) a participar da pesquisa sobre a “A Copa do Mundo da FIFA de 2014 veio ao Brasil: a gestão de São Paulo como estado sede”, de responsabilidade do pesquisador Dirceu Santos Silva, sob orientação da Prof.ª Dr. Silvia Cristina Franco Amaral da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O objetivo é analisar e discutir o planejamento e a gestão da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 no estado de São Paulo, sobretudo no que tange as ações intersetoriais e interinstitucionais. Esta pesquisa justifica-se devido ao crescimento das políticas de interface, sendo de grande relevância para o desenvolvimento da gestão pública dos megaeventos esportivos. Os aspectos metodológicos serão desenvolvidos por meio de uma pesquisa de campo de caráter descritivo-interpretativo, com abordagem qualitativa, que seguirá os seguintes caminhos: pesquisa documental, análise de notícias de jornais e entrevistas semiestruturadas. A sua participação na pesquisa será em um encontro, pela parte da manhã ou tarde, com duração de aproximadamente 15 minutos e envolverá responder uma entrevista com questões semiestruturadas. Caso seja autorizado, a entrevista será gravada em áudio, com o objetivo de transcrição das respostas, para posterior discussão e tabulação dos resultados. A sua inclusão como sujeito da pesquisa se deve ao seu papel chave na gestão pública da Copa do Mundo da FIFA de 2014 no estado de São Paulo. Os sujeitos que não responderem aos critérios citados, bem como os que desistirem de participar, serão excluídos da pesquisa. Você poderá ter acesso a todas as informações referentes aos resultados da pesquisa, em qualquer etapa do estudo, bem como se retirar do estudo a qualquer momento, sem prejuízo. Pela participação no estudo, você não receberá qualquer valor em dinheiro, mas terá a garantia de que todas as despesas necessárias à realização da pesquisa não serão de sua responsabilidade. Finalmente, seu nome e sua imagem não serão expostos sob

quaisquer circunstâncias, garantia do sigilo e todas as informações servirão exclusivamente para fins de pesquisa. Caso você tenha dúvidas sobre o comportamento dos pesquisadores ou sobre as mudanças ocorridas na pesquisa que não constam no TCLE, e caso se considera prejudicado(a) na sua dignidade e autonomia, você pode entrar em contato com o pesquisador, ou com o Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas que aprovou a presente pesquisa, nos endereços indicados abaixo. Desde já, agradecemos a sua colaboração e solicitamos a sua assinatura de autorização neste TCLE, que será também assinado pelo pesquisador responsável em duas vias, uma ficará com você e outra com o pesquisador. Meus dados e contatos para caso de necessidade são: Dirceu Santos Silva Celular (19) 99420-9897, e-mail: [email protected]

Dados do Comitê de Ética em Pesquisa– CEP Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP Faculdade de Ciências Médicas (FCM) Rua: Tessália Vieira de Camargo, 126 Distrito de Barão Geraldo Campinas – SP CEP: 13083-887 Telefone: (19) 3521-8936 E-mail: [email protected]

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE, APÓS ESCLARECIMENTO. Eu,______li ou ouvi o esclarecimento acima e compreendi o objetivo do estudo e qual o procedimento a que serei submetido. As informações esclarecem os benefícios do estudo, e deixou claro que sou livre para interromper minha participação a qualquer momento, sem justificar minha decisão. Sei que meu nome não será divulgado, que não terei despesas e não receberei dinheiro para participar do estudo. Estou ciente que a minha participação envolve uma entrevista, e os benefícios serão traduzidos em conhecimentos para o campo da gestão pública. Caso me recuse a participar desta pesquisa, nada comprometerá minha pessoa.

Eu concordo em participar do estudo São Paulo,______/______/_____

Assinatura do(a) voluntário(a): : Telefone de Contato:

Assinatura pesquisador responsável:

APÊNDICE D

Nº Vol. / Periódico/Qu Estado/Regiã Título do Artigo Autor(es) n. alis Capes o/ Instituição / Ano 1 Revista da “Guerra dos Sexos” na cobertura V. 18, Educação Bruno Boschilia; Sidmar dos Paraná- jornalística dos Jogos Olímpicos: n. 1, Física/ Santos Meurer Sul/UFPR uma tensão inventada 2007 UEM/B2 2 Revista da Go Tani; Cássio de Miranda V. 20, Educação O Day After Olímpico e a Meira Júnior; Jorge Alberto São Paulo- n. 4, Física/ Universidade de Oliveira; Umberto César Sudeste/USP 2009 UEM/B2 Corrêa 3 O Contexto do Desenvolvimento de Minas Gerais- V. 16, Motriz/A2 Nadadores Medalhistas Olímpicos Renato Melo Ferreira Sudeste/UFM n.3, Brasileiros G 2010 4 Corolado- Sport mega-events: Can legacies USA- V.19, and Jay Coakley; Doralice Lange Motriz/A2 University of n.3, development be equitable and Souza Colorado/Para 2013 sustainable? ná-Sul/UFPR 5 O “futebol arte” e o “planejamento Antônio Jorge Gonçalves V. 10, Movimento/A México” na copa de 70: as Soares; Marco Antônio Rio de Janeiro- n.3, 2 memórias de Lamartine Pereira da Santoro Salvador; Tiago Sudeste/UGF 2004 Costa Lisboa Bartholo 6 Rio de Janeiro- Sudeste/ Atleta, substantivo feminino: As Sandra Bellas de Romariz; Faculdade V. 13, Movimento/A mulheres brasileiras nos Jogos Fabiano Pries Devide; Integrada n. 1, 2 olímpicos. Sebastião Votre Maria 2007 Thereza/UNIV ERSO/UFRJ 7 A excitação no discurso televisivo Espírito Santo- V.16, dos Jogos Pan-americanos do Movimento/A Sudeste/UFES n. 1, Brasil: um estudo da transmissão da Guilherme Ferreira Santos, 2 Minas Gerais- 2010 Rede Globo de Televisão Rafael Júnio Andrade Alves Sudeste/UFV

8 O financiamento dos programas Bárbara Schausteck de V. 16, Movimento/A Paraná- federais de esporte e lazer no Brasil Almeida; Wanderley Marchi n. 4, 2 Sul/UFPR (2004 a 2008) Júnior 2010 9 Megaeventos Esportivos V. Movimento/A Espírito Santo- 17,n.3 2 Sudeste/UFES Otavio Tavares 2011 10 Megaeventos esportivos e Educação Brasília- V. 18, Movimento/A Física: alerta de tsunami Centro- n.1 2 Fernando Mascarenhas oeste/UNB 2012 11 Lei geral da copa, álcool e o São Paulo- V. 18, Movimento/A processo de criação de legislação Heloisa Helena Baldy dos Sudeste/Unica n.1 2 sobre violência. Reis mp 2012 12 Movimento/A O desejo, o direito e o dever – A Rio Grande do V. 18, 2 trama que trouxe a Copa ao Brasil. Arlei Sander Damo Sul- n.2 Sul/UFRGS 2012 13 Madrid72: Barcelona- V. 19, Movimento/A relaciones diplomaticas y juegos Espanha/ n. 1, 2 olímpicos durante el Franquismo Juan Antonio Simón Universidad 2013

Autónoma de Barcelona 14 15 El Museo y Centro de Estudios Catalunya- Revista Olímpicos del cio um centro Espanha/ V.25, Brasileira de permanente de información sobre Institut n.1, Ciências do los juegos olímpicos y el Nacional 2003 Esporte/B1 movimento olímpico d'Educaci Nuria Puig Fisica (INEF) 16 Espírito Santo- Revista “Frozen Bananas”: Esporte, Mídia e Otávio Tavares, Antonio Sudeste/UFES/ V. 29, Brasileira de Identidade Brasileira nos Jogos Jorge G. Soares, Tiago L. Rio de Janeiro- n.1, Ciências do Olímpicos de Inverno. Bartholo Sudeste/UGF/ 2007 Esporte/B1 UFRJ 17 Revista Esboço sobre algumas implicações Santa V. 30, Brasileira de do futebol e da Copa do Mundo Fernando Gonçalves Catarina- n. 3, Ciências do para o Brasil: identidade e ritos de Bitencourt Sul/UFSC 2009 Esporte/B1 autoridade 18 Revista Ritos da Nação: Uma Rio Grande do V. 31, Brasileira de Videoetnografia da recepção Édison Gastaldo Sul- n.1, Ciências do coletiva da Copa do Mundo no Sul/Unisinos 2009 Esporte/B1 Brasil 19 Revista Comitê Olímpico Brasileiro e o V. 33, Brasileira de Financiamento das Confederações Bárbara Schausteck de Paraná- n.1, Ciências do Brasileiras Almeida; Wanderley Marchi Sul/UFPR 2011 Esporte/B1 Júnior 20 Revista “Beijing 2008: os Jogos Olímpicos, V. 33, Brasileira de a cidade e os espaços” Espírito Santo- Otávio Tavares n.2, Ciências do Sudeste/UFES 2011 Esporte/B1 21 Carlos Alberto Figueiredo da Silva; Renata Osborne; Mauricio Murad; Roberto Ferreira dos Santos; Rafael Rio de Janeiro- Revista Expectativas da Mídia sobre o Carvalho da Silva Mocarzel; Sudeste/Unive V.33, Brasileira de legado das Olímpiadas de 2016: Marcelo Faria Porreti; rsidade n.4, Ciências do racionalidade instrumental e Ronaldo dos Santos Salgado de 2011 Esporte/B1 substantiva Figueiredo; Eliane Glória Oliveira Reis da Silva Souza; Orestes Manoel da Silva; João Domingos Bezerra Mandarino 22 Renato Francisco; Rodrigues Revista Esporte olímpico e paraolímpico: Marques; Brasileira de São Paulo- V.23, coincidências, Edison Duarte; Gustavo Luis Educação Sudeste/Unica n.4, divergências e especificidades numa Gutierrez; José Júlio Gavião Física e mp 2009 perspectiva contemporânea de Almeida; Esporte/B1 Tatiane Jacusiel Miranda 23 Revista V. Brasileira de Jogos Olímpicos da era moderna: São Paulo- 24, n. Educação Kátia Rubio uma proposta de periodização Sudeste/USP 1, Física e 2010 Esporte/B1 24 V. 8, Pensar a Quem são os vencedores e os Espírito Santo- Otávio Tavares n. 1, Prática/B2 perdedores dos Jogos Olímpicos? Sudeste/UFES 2005

25 Fernando Gonçalves Bittencourt, Cassia Hack, Santa Ritual Olímpico e os mitos da Antonio Galdino Costa, Catarina- V. 8, Pensar a modernidade: implicações Sérgio Dorenski Ribeiro, Sul/UFSC n. 1, Prática/B2 midiáticas na dialética Mariana Lisbôa, Mellyssa 2005 universal/local Mól, Cristiano Mezzaroba,

Diego Mendes e Giovani Pires 26 Paraná- V. 12, Pensar a Olimpíadas Modernas: A história de Mariza Antunes de Lima, Sul/Universida n.1, Prática/B2 uma tradição inventada Clóvis J. Martins, André de Positivo 2009 Mendes Capraro 27 O agendamento dos Jogos Rio Pedro Athayde; Fernando Brasília- V.16, Pensar a 2016: temas e termos para debate Mascarenhas; Wagner Centro- n.3, Prática/B2 Barbosa Matias; Natália Oeste/UNB 2013 Nascimento Miranda. 28 Estádios da Copa de 2014: Rômulo Meira Reis; Silvio Rio de Janeiro- V. 16, Pensar a perspectivas de um legado de Cassio Costa Telles; Sudeste/UGF/ n. 2, Prática/B2 Lamartine Pereira DaCosta UFRJ 2013 29 London- O Brasil nos Jogos Olímpicos de Canadá/Univer inverno de V.16, Pensar a Doiara Silva dos Santos; sity ofWestern Vancouver (2010): um palco de n. 4, Prática/B2 Otávio Tavares Ontario. dramatizações 2013 Espírito Santo- Sociais Sudeste/UFES 30 V.12, Motrivivência/ Carlos Azevedo; Aldo Câmara de A corrupção no Futebol Brasileiro n. 17, B4 Rebelo. Deputados 2001 31 Televisão, futebol e novos ícones Santa V. 13, Motrivivência/ planetarios: aliança consagrada nas Carmen Rial Catarina- n. 18, B4 Copas do Mundo. Sul/UFSC 2002 32 Grandes eventos esportivos: um São Paulo- V.18, Motrivivência/ olhar sobre o contexto europeu e o Nara Rejane Cruz de Sudeste/UNIF n. 27, B4 seu movimento de esporte para Oliveira ESP 2006 todos na atualidade 33 O preço de um sonho: a realidade V.18, Motrivivência/ Verônica Lima Nogueira da Minas Gerais- do esporte que não é mostrada pela n. 27, B4 Silva Sudeste/PUC mídia 2006 34 Os mega-eventos esportivos e as Santa V.18, Motrivivência/ Paulo Ricardo do Canto políticas públicas de esporte e lazer Catarina- n. 27, B4 Capela; Matiello Junior de resistência Sul/UFSC 2006 35 Conteúdos da Educação Física no V.20, Motrivivência/ Rio de Janeiro- período Pré-Olimpíada de 2016: Rafael da Silva Mattos n. 31, B4 Sudeste/UERJ avanço? 2008 36 Copa do Mundo e Jogos Olímpicos: V.21, São Paulo- Motrivivência/ inversionalidade e transversalidades n.32/3 Mauro Betti Sudeste/UNES B4 na cultura esportiva e na Educação 3, P Física escolar 2009 37 V.21, Motrivivência/ Desafios do jornalismo na Era dos São Paulo- n.32/3 Anderson Gurgel B4 Megaeventos Esportivos Sudeste/PUC 3, 2009 38 V.21, Motrivivência/ Megaeventos esportivos no Brasil: Rio Grande do Silvino Santin n.32/3 B4 benefícios – contradições Sul-Sul/UFSM 3,

2009 39 V.21, Motrivivência/ O legado educativo dos São Paulo- n.32/3 Katia Rubio B4 megaeventos esportivos Sudeste/USP 3, 2009 40 V.21, Observações sobre os impactos São Paulo- Motrivivência/ n.32/3 econômicos esperados dos Jogos Marcelo Weishaupt Proni Sudeste/Unica B4 3, Olímpicos de 2016 mp 2009 41 V.21, Os megaeventos esportivos e seus Motrivivência/ São Paulo- n.32/3 impactos: o caso das Olimpíadas da Ricardo Ricci Uvinha B4 Sudeste/USP 3, China 2009 42 V. 21, Santa Motrivivência/ Pedalar na Copa 2014 e nas Rodrigo Duarte Ferrari, n.32/3 Catarina- B4 Olimpíadas 2016 no Brasil? Veronica Piovani 3, Sul/UFSC 2009 43 Bárbara Schausteck de V.21, Considerações sociais e simbólicas Motrivivência/ Almeida, Fernando Marinho Paraná- n.32/3 sobre sedes de megaeventos B4 Mezzadri, Wanderley Marchi Sul/UFPR 3, esportivos Júnior. 2009 44 V.21, Olímpiada 2016 – O Santa Motrivivência/ n. 33, desenvolvimento do Nilson Ouriques Catarina- B4 2009 subdesenvolvimento Sul/UNOESC

45 Organismos internacionais e V.21, Motrivivência/ grandes eventos esportivos: novas Marcelo Paula de Melo/ Rio Rio de Janeiro- n.33, B4 dinâmicas da dominação burguesa de Janeiro Sudeste/UERJ 2009 para o século XXI 46 Os “legados” dos megaeventos V.22, Motrivivência/ Juliano de Souza; Wanderley Paraná- esportivos no Brasil: algumas notas n. 34, B4 Marchi Júnior Sul/UFPR e reflexões 2010 47 Francisco Xavier Freire Rodrigues; Christiany Regina Fonseca; Amanda A Copa no Pantanal: percepções dos Mato Grosso- V. 24, Motrivivência/ Mota Viana; Francisca cuiabanos sobre a Copa do Mundo Centro n.39, B4 Janaina Freire Rodrigues; de Futebol de 2014 Cuiabá/MT Oeste/UFMT 2012 Neuzinho Uapodonepá Broponepá; Franceline Silva Russo. 48 Investimento em infraestrutura do Pedro Augusto Carvalho Bahia- V. 24, Motrivivência/ mundial FIFA2014: “Quem ganha?” Sampaio; Junior Vagner Nordeste/UES n.39, B4 e “Quem paga a fatura?” Pereira da Silva; Cristiano C 2012 Sant’Anna Bahia 49 Manoel Montanha Soares; A cidadania ferida no país da Copa: Brasília- V.25, Motrivivência/ Daniel Cantanhede as obras públicas para os mega Centro- n.41, B4 Behmoiras; Juarez Oliveira eventos sob o sorriso do lagarto oeste/UNB 2013 Sampaio 50 Rio Grande do As manifestações sociais como Evelize Dorneles Minuzzi; Sul/Universida V.25, Motrivivência/ contratendência ao espetáculo Elizara Carolina Marin; de Federal de n.41, B4 olímpico de entretenimento Giovanni Ernst Frizzo Pelotas e 2013 planetário UFSM 51 Motrivivência/ Copa do mundo, manifestações e a Luiza Aguiar dos Anjos; Minas Gerais- V.25, B4 ocupação do espaço público Marina de Mattos Dantas; Sudeste/UFM n.41,

Thiago Jose Silva Santana G 2013 52 V.25, Motrivivência/ Legados esportivos de megaeventos Doralice Lange de Souza; Paraná- n.41, B4 esportivos: uma revisão da literatura Sakis Pappous Sul/UFPR 2013 53 Manifestos sociais e Copa das Ivan Daniel Müller; Lafaiete Rio Grande do V.25, Motrivivência/ Confederações na cobertura da Luiz de Oliveira Junior; Sul-Sul/ n.41, B4 Folha de São Paulo Alessandra Fernandes Feltes; Universidade 2013 Gustavo Roese Sanfelice FEEVALE 54 Ana Paula Prestes de Souza; Megaeventos esportivos: Doralice Lange de Souza; V.25, Motrivivência/ competições esportivas ou Paraná- Suélen Barboza Eiras de n.41, B4 políticas/econômicas? Sul/UFPR Castro; Fernando Marinho 2013

Mezzadri 55 Projeto cidades da Copa: Rodrigo Pojar Paiva; V.25, Motrivivência/ São Paulo- movimento pelo legado esportivo Adriano José Rossetto n.41, B4 Sudeste/PUC dos megaeventos esportivos Junior. 2013 56 RIO 2016: possibilidades e desafios Katiuscia Mello Figuerôa; V.25, Motrivivência/ Paraná- para o esporte brasileiro Fernando Marinho Mezzadri; n.41, B4 Sul/UFPR Marcelo Moraes e Silva 2013 57 Uma lição vinda da África do Sul: Eddie Cottle; Paulo Ricardo os cartéis da construção estão Santa V.25, Motrivivência/ do Canto Capela; André aumentando significativamente os Catarina- n.41, B4 Furlan Meirinho. custos de infraestrutura da Copa do Sul/UFSC 2013

Mundo FIFA 2014 no Brasil? 58 Megaeventos esportivos e formação Antonio Luis Fermino; Santa V. 25, Motrivivência/ de professores em Bianca Natália Poffo; Catariana- n. 41, B4 Educação Física: um estudo de caso Silvan Menezes dos Santos. Sul/UFSC 2013 59 Revista São Paulo- V. 3, A Reinvenção dos Jogos Olímpicos: Esporte e Marcelo Weishaupt Proni Sudeste/Unica n.9 um projeto de marketing Sociedade/B4 mp 2008 60 Revista Rio de Janeiro- V.4, Pan-2007 no RJ: um olhar e Esporte e Mauricio Murad Sudeste/UERJ/ n. 10, algumas considerações Sociedade/B4 UNIVERSO 2008. 61 Desafiando o coro dos contentes: Revista Rio de Janeiro- V.4, vozes dissonantes no processo de Danielle Barros de Moura Esporte e Sudeste/IPPU n.10, implementação dos Jogos Pan- Benedicto Sociedade/B4 R/UFRJ 2008 Americanos, Rio 2007 62 Entre o empreendedorismo urbano e Revista V. 4, a gestão democrática da cidade: Gilmar Mascarenhas; Fátima Rio de Janeiro- Esporte e n.10, dilemas e impactos do Pan-2007 na Cristina da S. Borges Sudeste/UERJ Sociedade/B4 2008 Marina da Glória 63 O relacionamento entre as esferas Revista pública e privada nos Jogos Pan- V. 4, Luiz Mario Behnken; André Rio de Janeiro- Esporte e Americanos de 2007. Os casos da n.10, Godoy Sudeste/FGV Sociedade/B4 Marina da Glória e do Estádio de 2008 Remo da Lagoa 64 Londres- Revista V. 4, The Social Impacts of Mega- Inglaterra/ Esporte e n.10, Events: Towards a Framework Gabriel Silvestre University of Sociedade/B4 2008 Westminster 65 Revista Conflitos no ordenamento territorial V.4 n. Rio de Janeiro- Esporte e em sedes de mega eventos Sávio Raeder 10, Sudeste/UFF Sociedade/B4 esportivos 2009 66 Revista Proteção à marca versus liberdade Juliana Schausteck de Paraná/Sul- V. 6, Esporte e de expressão? Discursos emergentes Almeida; Juliana Vlastuin; UFPR n.18

Sociedade/B4 a partir dos megaeventos esportivos Wanderley Marchi Júnior 2011. no Brasil 67 Colônia/Alema Revista V. 7, “Passaporte para o Futuro” – Os nha /German Esporte e n.19, Jogos Olímpicos de Inverno de Evelyn Mertin Sport Sociedade/B4 2012 Sochi 2014 University Cologne 68

Revista Glauco Bienenstein; V. 7, The 2016 Olympiad in Rio de Rio de Janeiro- Esporte e Fernanda Sánchez/ Gilmar n. 19, Janeiro: Who Can/Could/Will Beat Sudeste/UFF Sociedade/B4 Mascarenhas 2012 Whom?

ANEXOS

ANEXO

A