Universidade Federal De Minas Gerais Instituto De Geociências
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Universidade Federal de Minas Gerais Instituto de Geociências Departamento de Geografia Felipe Pimentel Palha CAMPO E RURAL IDÍLICOS COMO FALÁCIA: minério-dependência, incompletude urbana e injustiça ambiental-hídrica em Brumadinho (MG) Belo Horizonte 2019 Felipe Pimentel Palha CAMPO E RURAL IDÍLICOS COMO FALÁCIA: minério-dependência, incompletude urbana e injustiça ambiental-hídrica em Brumadinho (MG) Tese apresentada ao do Programa de Pós Graduação em Geografia do Instituto de Geociências da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial à obtenção do título de Doutor em Geografia. Área de concentração Organização do Espaço. Orientador: Prof. Dr. Klemens Augustinus Laschefski. Belo Horizonte 2019 Tese intitulada Campo e rural idílicos como falácia: minério-dependência, incompletude urbana e injustiça ambiental-hídrica em Brumadinho (MG), de autoria do doutorando Felipe Pimentel Palha, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia do Instituto de Geociências da UFMG como requisito parcial à obtenção do título de Doutor em Geografia. Área de Concentração: Organização do Espaço. Aprovada pela banca examinadora constituída pelos seguintes professores: _______________________________________________________________ Prof. Dr. Klemens Augustinus Laschefski – IGC/UFMG Orientador _______________________________________________________________ Profª Drª Doralice Barros Pereira – IGC/UFMG _______________________________________________________________ Prof. Dr. Eliano de Souza Martins Freitas – COLTEC/UFMG _______________________________________________________________ Prof. Dr. Carlos Walter Porto-Gonçalves - UFF _______________________________________________________________ Prof. Dr. Vicente Paulo dos Santos Pinto - UFJF Belo Horizonte, 16 de maio de 2019 Dedico esse trabalho à minha família. Dedico, também, à todos os atingidos pelo rompimento da barragem 1, da mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, de propriedade da empresa Vale S.A. AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar devo agradecer enormemente à minha esposa por me encorajar todas às vezes que ameacei algum fraquejo. Nossos dois filhos, Davi e Ian, nos animaram durante esses anos da pesquisa com os seus lindos e contagiantes sorrisos, não me deixando esmorecer em nenhum momento. Como de praxe, sempre muito respeitosos e amorosos comigo devo agradecer, apesar de não acreditar que algum dia conseguirei compensar de maneira equivalente tudo o que fazem por mim e pelos meus filhos, à minha mãe e ao Paulo. Gostaria, também, de lembrar a importância dos professores e servidores do CEFET-MG que me apoiaram durante esses anos, principalmente aos meus colegas do Departamento de Geografia e História em Belo Horizonte. Ao Professor Klemens Augustinus Laschefski todo o meu apreço. Pois me recebeu de braços abertos e com enorme paciência me ensinando o ofício de pesquisador. Devo lembrar, também, o estimulante convívio que travei com os seguintes Professores da UFMG: Doralice Barros Pereira, Rogata Soares Del Gaudio, Eliano de Souza Martins Freitas, Heloísa Soares de Moura Costa e Sérgio Manuel Merêncio Martins. Não poderia deixar de agradecer a todos com os quais eu me deparei durante a realização dos trabalhos de campo no município de Brumadinho. Enlutado, guardo todos em minhas memórias. “Raramente uma terra em que se trabalha é uma paisagem” (Raymond Williams) RESUMO Desde meados da década de 1990 os diversos governos que assumiram o país aprofundaram a inserção brasileira à economia mundial de maneira subordinada contribuindo para o crescente quadro de desindustrialização e reprimarização das exportações. O consenso em torno desse modelo econômico, nas mais diversas escalas, decorreu da aplicação do neoextrativismo, haja vista, o Estado ter recorrido durante esse período a diversas estratégias que legitimaram a opção de se reposicionar como fornecedor de commodities dentro da Divisão Internacional do Trabalho. Foi aprofundada, desde então, a exploração dos trabalhadores e da natureza em um contexto altamente financeirizado. A legitimação de atividades tão devastadoras como a mineração tem maior êxito em municípios como o de Brumadinho em decorrência de um quadro de pobreza em termos de renda monetária e baixa diversidade de atividades econômicas que é agravado pelos parcos incentivos às atividades de agropecuária associados à desvalorização do campo, do rural e de seus moradores representados como sinônimos do atraso. O município de Brumadinho está situado na região do Quadrilátero Ferrífero e faz parte da Região Metropolitana de Belo Horizonte compondo, com o município de Nova Lima e outros, o vetor sul de expansão da RMBH que é caracterizado por um processo de produção do espaço altamente segregador. Construí o meu objeto de pesquisa diante dessa dinâmica de produção do espaço aparentemente paradoxal entre o urbano da metrópole belo-horizontina e o rural da minério-dependência traçando como objetivo principal a compreensão dos impactos, das transformações, dos conflitos e das adaptações nas relações estabelecidas entre o campo, a cidade, o rural e o urbano, decorrentes da constituição, ainda inacabada, da sociedade urbana. Um dos aspectos marcantes da produção do espaço no vetor sul da RMBH, com implicações sobre o município de Brumadinho, trata-se da representação do campo e do rural que o compõe de maneira idílica. A análise crítica, na forma de revisão bibliográfica confrontada com o campo em Brumadinho, das propostas em torno do “novo rural” indicaram total descolamento desse arcabouço teórico com a realidade contribuindo para afirmar que permanece válido, no caso da formação espacial brasileira, a interpretação de que a elite agrário-mercantil-exportadora, metamorfoseada em um leque de diversas posições, detém posição hegemônica. A representação do campo e do rural idílicos, bem como a sua materialização, tem a farta disponibilidade de água como um de seus elementos centrais. Entretanto, a produção do campo e do rural idílicos não ocorre sem conflitos e a disputa pela água parece ocupar um lugar central com fortes traços de injustiça ambiental-hídrica. Conflito que se tornou ainda mais grave em decorrência da captação de água subterrânea da Serra da Moeda pela empresa Coca Cola FEMSA instalada no distrito industrial de Itabirito. Enfim, a produção do campo e do rural idílicos, no contexto da minério-dependência, apesar de propor solucionar o problema da condição de subalternidade dos moradores do campo, dissimula várias finalidades reais e pode contribuir para agravar a injustiça ambiental. PALAVRAS-CHAVE: Brumadinho. Minério-dependência. Sociedade urbana. Injustiça ambiental-hídrica. ABSTRACT Brasil has opted, during the first years of the 21st century, for the reprimarization of its economy. The consensus on this economic model, on its several scales, proceeded from the application of the neoextractivism, given the State’s appeal during this period, to several strategies that legitimated the option of repositioning itself as a commodities supplier within the International Division of Labor. Since then, the manpower and the environmental exploitation in a highly financial context had deepened. The legitimization of activities as devastating as mining has prevailed in municipalities such as Brumadinho as a result of a poverty scenario in terms of income and low diversity of economic activities, which is aggravated by the sparse incentives on the agricultural activities, associated with the devaluation of the countryside, the rural and its inhabitants, represented as synonyms of delay. Brumadinho’s municipality is located on the Iron Quadrilateral region and it’s part of Belo Horizonte’s Metropolitan Region composing, with Nova Lima’s municipality and others, the south vector of the Belo Horizonte Metropolitan Region’s expansion, which is characterized by a highly segregating process of space production. The research object was built before this apparently paradoxical space production dynamics between the urban of Belo Horizonte’s metropolis, and the rural of ore-dependency, tracing as the main goal, the comprehension of the impacts, of the transformation, of the conflicts, and of the adaptation in the relations stablished among the countryside, city, rural and urban, resulting from the constitution still unfinished of the urban society. One of the remarkable aspects of the space production on the south vector of Belo Horizonte’s Metropolitan Region, with implications on the Brumadinho’s municipality, is related to the representation of the countryside and the rural that composes it in an idyllic way. The critical analysis of the proposals around the “new rural”, presented as a bibliographic review confronted with the countryside in Brumadinho, indicated a total detachment of this theoretical framework with reality. It contributes to affirm that remains valid the interpretation that the agrarian-mercantile-exporter elite, metamorphosed into a range of several positions, holds a hegemonic position, in the case of Brazilian spatial formation. The representation of the idyllic countryside and rural, as well as its materialization, has the abundant availability of water as one of its central elements. However, idyllic countryside and rural production does not occur without conflict, and the water dispute seems to occupy a central place with strong traces of environmental-water injustice. Conflict that has become even more serious as a result of the groundwater collection of Serra da Moeda by the Coca Cola FEMSA company installed in the industrial district