OS PRIMEIROS TEMPOS DO GINÁSIO ESTADUAL EM CAMPO BOM/RS NAS MEMÓRIAS DE UMA PROFESSORA (1961) José Edimar De Souza1 Valesca B
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OS PRIMEIROS TEMPOS DO GINÁSIO ESTADUAL EM CAMPO BOM/RS NAS MEMÓRIAS DE UMA PROFESSORA (1961) José Edimar de Souza1 Valesca Brasil Costa2 Resumo O curso ginasial na região do Vale dos Sinos, até a década de 1960, era realizado em número expressivo nas instituições escolares privadas, Colégio Santa Catarina, Colégio São Jacó, de Novo Hamburgo, Colégio São José, de São Leopoldo, entre outros. Nesse sentido, a proposta da legislação educacional daquele período, caracterizando-se por um “afunilamento” do acesso a continuidade dos estudos. Além do custo ao estudo a escola primária também apresentava lacunas que nem sempre preparavam os alunos adequadamente aos exames de seleção. Um novo ânimo a juventude, com os processos de emancipação de diferentes distritos desta região, no final da década de 1950, foi à possibilidade da instalação de escola pública que contemplasse o curso ginasial. Campo Bom situa-se neste contexto, emancipada em 1959, uma das propostas da primeira administração fora a implantação do Ginásio. Neste sentido, o estudo analisa memórias de uma das professoras pioneiras do Ginásio 31 de Janeiro, cuja atividade inicia de forma comunitária e posteriormente, agrega-se a responsabilidade pública do governo do Estado do Rio Grande do Sul. A perspectiva teórica sustenta-se na História Cultural, a e a metodologia da história oral. A professora caracteriza o modo como o processo de constituição deste importante educandário se consolidou, com um trabalho, inicialmente voluntário e solidário a causa da aprendizagem e continuidade dos estudos. Palavras-chave: Instituição Escolar. Memória. Ginásio Escolar Estadual 31 de Janeiro. Introdução O Município de Campo Bom situa-se no Vale do Rio dos Sinos, distante cerca de 50 quilômetros de Porto Alegre (capital do Estado), está situado na Região Metropolitana. Campo Bom, como se identifica no mapa da figura 1, é uma cidade que se destaca pelas ciclovias, suas festas populares e pelo pioneirismo na exportação de calçado, sendo a principal fonte econômica da região3. 1 Doutor com Estágio de Pós-doutorado em Educação pela UNISINOS. Professor na Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS – Campus Erechim/RS. E-mail: [email protected] 2 Doutora em Educação pela UNISINOS. Professora na Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS – Campus Chapecó/SC. E-mail: [email protected] 3 Lang (1996) acrescenta que em 1960, potencializa-se o campo industrial no município, emancipado em 31 de janeiro de 1959. Em 1960, realizou-se a 1ª. Feira de Amostras de Produtos Industrializados do Vale dos Sinos, que originou a FENAC Figura 1 – Mapa de Campo Bom no Rio Grande do Sul e no Brasil Fonte: Souza (2009b). Como já argumentado em outro estudo, Souza (2013a), a vida e as trajetórias institucionais se constituem de fragmentos irregulares e não se estruturam de forma linear e racional. Portanto, o passado é uma versão, uma interpretação que exercita e dá vida o historiador não se caracteriza por uma generalização e/ou uma referência que traduza um modelo de implantação e/ou de institucionalização do nível de ensino ginasial, como um processo de escolarização. Nesse sentido, as memórias da professora Renilda Adi Gerhardt devem ser interpretadas como uma forma possível, no conjunto dos sentidos e significados atribuídos para esta realidade singular de implantação do curso ginasial. No último quartel do século XX, as memórias individuais e coletivas passaram a representar um frutífero campo de estudo e os arquivos pessoais e institucionais passaram a custodiar o conjunto de registros produzidos ou acumulado ao longo das trajetórias, de vida e/ou institucional. Mas, é importante destacar, como argumenta Halbwachs (2006), que nenhuma memória é possível fora dos contextos usados por pessoas vivendo em sociedade para determinar e recordar as suas lembranças. Para se reconstruir espaços e tempos na pesquisa histórica não basta apenas recuperar documentos e informações armazenadas, é (Feira Nacional do Calçado), realizada atualmente, pelo município de Novo Hamburgo. Em uma tentativa de reativar os primórdios desta 1ª. Feira, em 2006 surge a Festa do Sapato que se encontra na sua 6ª. edição. necessário interrogar-se diante das fontes reivindicando e compondo um sentido para o passado revisitado. Ao lidar com memórias, biografias é importante não desconhecer que elas tendem a descrever o passado em termos românticos e nostálgicos e, como a época rememorada se refere a um dado momento da vida, parece compreensível que seja percebida e descrita como uma representação, que pode se valer da imaginação e da construção e subjetivação de quem a escreve (CUNHA, 2013). Nesse sentido, como já argumentado em outro estudo, Souza (2013b) atenta-se neste trabalho ao perigo da “ilusão biográfica”, aspecto que reforça o tomar a descrição de memórias ou documentos como verdades absolutas. Uma análise coerente da própria vida compreende os limites, as tensões e a reconstrução de contexto para que seja possível comparar e confrontar os fatos e acontecimentos. Notas históricas sobre a educação em Campo Bom/RS No Estado do Rio Grande do Sul, a realidade da escola, aspecto caro aos imigrantes europeus que colonizaram diferentes regiões associa-se a prática das escolas e colégios inaugurados pela organização comunitária. A tradição e competência das escolas religiosas que até a reforma pombalina caracterizaram a forma possível para que minimamente, no Brasil, algumas cadeiras de leitura, escrita e cálculo fossem ensinadas à população, no Rio Grande do Sul, identifica-se com a tradição das escolas comunitárias. Em Campo Bom, os imigrantes alemães, no início do século XIX se mobilizaram para ter escola para os seus. Os colonos que aqui se radicaram a partir de 1826, edificaram a história da educação. A história da escola consagra-se hoje, em 189 anos potencializando ensino de qualidade para diferentes famílias campo-bonenses (SOUZA, 2013). Os primeiros imigrantes alemães desembarcados no porto das Telhas (São Leopoldo) receberam lotes de Terra na Antiga Feitoria Real do Linho Cânhamo, onde foram inicialmente acomodados até receberem as terras para seguirem viagem, abrindo as picadas na Costa da Serra em Campo Bom e Novo Hamburgo. Para Dreher (1992) desde fins de 1827, a Comunidade Evangélica de Campo Bom tinha um templo e o mais provável é de que seja o mais antigo templo evangélico do Rio Grande do Sul. Desde o início, este templo tenha também servido de sala de aula para crianças evangélicas, tendo sido o próprio pastor seu mestre-escola. O Pastor Frederico Christiano Klingelhoeffer além de ter sido responsável pela construção da primeira Igreja de culto protestante no Rio Grande do Sul também foi o primeiro professor deste município. Na igreja de Klingelhoeffer, aos domingos, se realizava o culto divino e, nos dias da semana, funcionava uma escola, cujo mestre era o próprio pastor (SOUZA, 2009). As atividades escolares e religiosas, no primeiro ano, foram realizadas nas próprias famílias, consistindo de leituras bíblicas e orações, assim como noções primordiais de leitura, escrita e cálculo. A vinda, em 1827, do pastor e professor Frederico Christiano Klingelhoeffer veio preencher a carência. Este, em 1828, acabou clérigo e mestre-escola, quando, sob sua orientação, criou-se a Comunidade e a Escola Evangélica, que se tornaram empreendimentos pioneiros na área de colonização alemã em terras da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul. (LIVRO DE REGISTROS 1, s/d.). A vila de São Leopoldo foi elevada a categoria de município na década de 1840 e Campo Bom e Sapiranga, nesta época se caracterizavam em localidades rurais considerando a sede do município que eram distrito. Os imigrantes alemães instituíram as escolas comunitárias em diferentes localidades, e além do ensino doméstico realizado pelos familiares, utilizando a “ardósia” – pedra pra riscar as primeiras letras- foi com a implantação das primeiras cadeiras de ensino primário que uma rede de ensino público começou a ser construída em nossa região (SOUZA, 2013b). As primeiras cadeiras públicas de ensino de 1º grau de instrução primária, do sexo masculino, em Campo Bom e Sapiranga foram criadas, pela Lei provincial número 771, de 04 de maio de 1871 e Ato de 30 de novembro de 1871, sendo respectivamente as cadeiras de número 144 e 145. A criação de cadeiras não garantia a concretização da mesma, conseguir professor com curso normal que ocupasse essas classes era um grande desafio. Em 1895, a cadeira de Campo Bom foi transformada em Aula mista, pela reorganização número 147 de 14 de março de 1898 passou a ser a 16ª. Escola pública de 1ª. Entrância mista do município de São Leopoldo. Os professores Júlio Wortmann, Olimpia Guedes F. Menezes e Anna Francisca de Carvalho Kunnech foram os primeiros professores e em Sapiranga a professora Amália Gomes Pereira (SOUZA, 2013b). No início do século XX percebiam-se ainda, a continuidade, no Rio Grande do Sul, de aspectos que marcaram o ensino no século XIX, no qual a escolarização destinava-se aos filhos de alguns homens de posses que contratavam professores particulares para instruí-los. As políticas educacionais atinham-se aos estudos iniciais, bastando, portanto, ensinar a decifrar códigos de leitura e escrita. O século XX também assistiu a inúmeras transformações que se referem a dinâmica de ocupação dos espaços geográficos. O Brasil passou de uma sociedade eminentemente agrária a uma sociedade industrial, e a cidade assumiu a posição de guia, de modelo dos paradigmas culturais e sociais. No contexto educacional brasileiro, com