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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA MESTRADO PROFISSIONAL EM PLANEJAMENTO TERRITORIAL DCHF-UEFS

LUCIANA ALMEIDA DOS SANTOS

CARTOGRAFIA SOCIAL DA PAISAGEM CULTURAL DO MUNICÍPIO DE IRAQUARA-BA: SUBSÍDIOS PARA O PLANEJAMENTO TERRITORIAL PARTICIPATIVO

FEIRA DE SANTANA - BA MARÇO – 2016

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA MESTRADO PROFISSIONAL EM PLANEJAMENTO TERRITORIAL DCHF-UEFS

LUCIANA ALMEIDA DOS SANTOS

CARTOGRAFIA SOCIAL DA PAISAGEM CULTURAL DO MUNICÍPIO DE IRAQUARA-BA: SUBSÍDIOS PARA O PLANEJAMENTO TERRITORIAL PARTICIPATIVO

Relatório Técnico-Científico apresentado ao Programa de Pós- Graduação em Planejamento Territorial – PLANTERR/UEFS, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Planejamento Territorial, sob orientação do Prof. Dr. Fábio Pedro Souza de Ferreira Bandeira.

FEIRA DE SANTANA - BA MARÇO – 2016

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Ficha Catalográfica Biblioteca Central Julieta Carteado

Santos, Luciana Almeida Cartografia social da paisagem cultural do município de Iraquara-BA: subsídios para o planejamento territorial participativo / Luciana Almeida dos Santos – Feira de Santana, 2015. 183 f.: il.

Orientador: Fábio Pedro Souza de Ferreira Bandeira.

Produção Técnica (Mestrado Profissional em Planejamento Territorial) – Universidade Estadual de Feira de Santana, Programa de Pós-Graduação em Planejamento Territorial – PLANTERR/UEFS, 2015.

1. Paisagem Cultural; 2. Cartografia Social; 3. Mapeamento Participativo; 4. Planejamento Territorial. I. Bandeira, Fábio Pedro Souza de Ferreira, orient. III. Universidade Estadual de Feira de Santana. III. Título.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, fonte criadora e energia suprema, que sempre esteve ao meu lado e a quem recorri para renovar as minhas forças nessa jornada. A meus pais, responsáveis pela minha formação moral e educativa, que inúmeras vezes se sacrificaram para que meus objetivos fossem alcançados e que, de modo especial, nessa pesquisa, foram coparticipes, patrocinadores e companheiros de trilhas e encontros, sem vocês, não teria sido possível chegar até aqui.

Ao meu filho, Thiago, inspiração e motivação para continuar subindo os degraus do conhecimento, e assim, servir-lhe de modelo para a sua formação educacional. Nesse estudo foi meu copiloto, fotógrafo, cinegrafista, ouvinte e conselheiro, nunca reclamando da minha ausência e valorizando cada conquista por mim alcançada. É para você, meu tesouro, mais essa conquista.

A meus irmãos Rosana, Karla e Junior, que contribuíram direta ou indiretamente para o êxito da minha conquista, principalmente servindo de apoio para meu filho nos momentos que precisei ausentar-me. A confiança que eles estavam presentes confortava meu coração. Obrigada pelas orações e pensamentos positivos emanados.

Aos professores e estagiários do Departamento de Letras e Artes da Universidade Estadual de Feira de Santana onde iniciei minhas pesquisas no município de Iraquara, especialmente ao Professor Gemicrê Nascimento pelo apoio e desprendimento pessoal nas viagens de campo, no auxilio técnico das composições visuais, pela disponibilização do banco de imagens do Programa de Extensão “Pintando com Pigmentos Naturais” que tanto contribuíram para o êxito dessa pesquisa.

Agradeço a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da – FAPESB pelo financiamento da minha bolsa de estudos, indispensável para que pudesse dedicar-me exclusivamente a essa pesquisa.

Agradeço a Universidade Estadual de Feira de Santana e ao Programa de Pós Graduação em Planejamento Territorial - PLANTERR por ter proporcionado meu crescimento profissional a partir da construção de um pensamento filosófico e ético que busca no

4 diálogo e na participação sociopolítica as bases para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e igualitária.

A todos os professores do PLANTERR pela contribuição no entendimento da minha ciência e no meu amadurecimento pessoal e acadêmico. Agradeço de modo especial à Professora Jocimara Lobão, incansável na sua luta pela implantação do programa e melhoramento constante. À Professora Acácia Batista pelas orientações iniciais na disciplina ministrada, pelas indicações de leitura, acessibilidade e alegria contagiante.

Agradeço à minha querida professora Nacelice Freitas pelo diálogo constante, indicações de leituras, conselhos acadêmicos e pessoais, a quem muitas vezes recorri ao longo desses dois anos e que sempre me acolheu com sua iluminação profissional e espiritual.

Agradeço especialmente ao meu Orientador Professor Fabio Bandeira, responsável pelo meu encantamento pela Cartografia Social. Agradeço pelo cuidado, carinho e respeito que sempre dedicou a mim. Agradeço pelo apoio e compreensão nos momentos de fragilidade, pelos conselhos pessoais e profissionais que tanto contribuíram para meu amadurecimento. Agradeço pelo desprendimento colocando-se sempre a minha disposição para quaisquer necessidades. Aprendi muito nesses dois anos de convivência quase diária, e tenho certeza que ainda teremos uma longa estrada a percorrer.

Não poderia deixar de agradecer a meus companheiros de jornada da turma 2 do PLANTERR, vocês foram mais que colegas, juntos formamos uma família a quem recorríamos para compartilhar alegrias, conhecimentos, dúvidas, angústias e conquistas. Agradeço a todos pela experiência vivida. Agradeço igualmente a Milvia Cerqueira, da turma 01 pela partilha de vivências acadêmicas e pela confiança e apoio na busca de entendimento para a solução dos conflitos vividos. Compartilho contigo a minha alegria. Obrigada pelo apoio e orações.

Agradeço também ao Mestre em Planejamento Territorial Regys Fernando e ao Professor Israel Oliveira Junior- UEFS, por terem me acompanhado na primeira oficina e na finalização do meu trabalho, sem vocês esse estudo não teria a mesma qualidade técnica e científica. Obrigada pela amizade e apoio. Agradeço a Thaiane Bonfim e Nerivaldo Afonso

5 pelo apoio técnico com os softwares e produtos da cartografia digital, indispensáveis para o desenvolvimento desse estudo.

Agradeço aos proprietários dos empreendimentos turísticos de Iraquara que me acolheram contribuindo especialmente para o entendimento das questões relacionadas ao patrimônio cultural. Agradeço ao Sr. Eudimio Silva, da Gruta Manoel Ioiô, ao Sr. Raimundo Nonato, da Gruta da Fumaça, ao Sr. Eduardo Figueredo, da Caverna da Torrinha e a Sra. Claudia Lima, da Gruta Lapa Doce pela acolhida e auxílio na mobilização da AICTUR para a participação nos encontros e pelas informações valiosas que tanto contribuíram para a prosperidade do nosso estudo.

Agradeço aos membros da Casa de Tupã pela participação na primeira etapa da pesquisa e pelas informações compartilhadas. Aos funcionários da Escola Municipal Artemísia Nogueira pela acolhida e solidariedade, de modo particular a Dona Zete e Edna pelo cafezinho que nos deixava energizados até o final das oficinas.

Finalizo meus agradecimentos a todos os membros da Associação Iraquarense dos Condutores Turísticos – AICTUR que aceitaram o meu convite para essa pesquisa com entusiasmo e responsabilidade. Incansáveis nas tarefas, dedicando muitas vezes o tempo do laser e descanso para os nossos encontros, vocês foram a minha principal motivação para esse trabalho e graças a vocês alcançamos o bom êxito. Um agradecimento especial aos nossos etnocartógrafos: Edna de Souza, Sidinalva Cruz, Maria Lucia Alves, Wesley Souza, Raimundo Silva, Raimundo Cruz, Edinei Oliveira, José Silva e Sergio de Jesus, e a todos que participaram das diversas etapas da pesquisa.

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[...] A paisagem cultural, como um registro da atividade humana sobre a Terra, propicia um guia inestimável para os valores das pessoas que a elaboraram. Esse registro é mais valioso do que questionários ou respostas subjetivas fornecidas porque ele é um registro de ação, não simplesmente de intenção. Ele espelha as prioridades políticas, econômicas e sociais das sociedades que o criou, indo além da retórica política e constitucional. A idéia de Vidal de La Blache, de que uma paisagem é uma medalha inserida na imagem do povo que a criou, ainda atualmente é válida.

Leonard Guelke.

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RESUMO

O relatório da Produção Técnica “Cartografia Social da Paisagem Cultural do Município de Iraquara-Ba: subsídios para o Planejamento Territorial Participativo” é resultado da pesquisa desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Planejamento Territorial da Universidade Estadual de Feira de Santana-BA cujo objetivo foi identificar os bens culturais do município de Iraquara - BA a partir da abordagem teórico-metodológica da Cartografia Social e das metodologias participativas da pesquisa ação que buscaram estabelecer através da participação social o processo de (re) construção das memórias e vivências coletivas do grupo focal formado por moradores locais que desenvolvem atividades como condutores turísticos do município de Iraquara-BA e que atenderam ao convite da pesquisa tornando-se autores da Cartografia Social proposta. Os resultados obtidos permitiram a construção de um instrumento de planejamento territorial que evidenciou e legitimou o valor histórico, simbólico e dinâmico da paisagem cultural do município. A Cartografia Social produzida pode ser entendida como uma tecnologia social que promoveu o empoderamento do grupo social pesquisado para a abordagem de questões relacionadas às tomadas de decisões que envolvem os interesses coletivos servindo ainda para subsidiar as discussões sobre o patrimônio cultural do município, seu estado atual e ações futuras que visem a garantia do reconhecimento e da salvaguarda dos bens culturais do município.

Palavras-chave: Paisagem Cultural; Cartografia Social; Mapeamento Participativo; SIG’S participativos; Planejamento Territorial Participativo.

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ABSTRACT

The report of the Technical Production "Social Cartography of Cultural Landscape of the city of Iraquara-Ba: subsidies for the Participative Territorial Planning" is the result of research conducted at the Graduate Program in Physical Planning at the State University of Santana-BA Fair aimed it was to identify the cultural property of the city of Iraquara - BA from the theoretical and methodological approach to social Cartography and participatory research methodologies action seeking to establish through social participation the process of (re) construction of memories and collective experiences of the focus group formed by local residents who develop activities as tour conductors in the city of Iraquara -BA and who attended the survey invitation becoming authors of the Social Cartography proposal. The results allowed the construction of a territorial planning instrument that showed and legitimized the historical, symbolic and dynamic cultural landscape of the city. The Social Cartography produced can be understood as a social technology that promoted the empowerment of social research group for addressing issues related to decision-making involving the collective interests still serving to support the discussions about the cultural heritage of the city, its current state and future actions to ensure the recognition and protection of the community's cultural assets.

Keywords: Cultural Landscape; Social Cartography; Participatory mapping; Participatory SIG’S; Territorial Participatory Planning.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01 – Localização do Município de Iraquara em relação ao estado da Bahia. 30 Figura 02 – Flor de Aragonita. Caverna Torrinha. Iraquara-BA. 31 Figura 03 – Imagem área do processo de dolinamento que deu origem A caverna 32 Lapa Doce. Iraquara-BA. Figura 04 – Abertura de entrada da caverna Lapa Doce. Iraquara-BA. 33 Figura 05 – Processo de subsidência do Riacho Água de Rega na Gruta Azul. 33 Pratinha. Iraquara-BA. Figura 06 – Características da vegetação. Iraquara-BA. 34 Figura 07 – Lavoura e beneficiamento do café. Iraquara-BA. 36 Figura08 – Caminhos da Bahia no Século XVII. Ao centro, o Caminho considerado 44 como aberto por João Gonçalves do Prado. Figura 09 – Certificado de Matrícula para a atividade do garimpo. 45 Figura 10 – Distrito de Iraporanga, Iraquara Bahia. 47 Figura 11 - Caverna da Torrinha. 50 Figura 12 – Imagem LANSAT 5. Bandas R1G2B3. Município de Iraquara-BA. 57 Figura 13 – Reunião para apresentação da pesquisa e convite ao grupo focal. 59 Figura 14 – Galeria de fotos da apresentação da pesquisa e construção do inventário 62 geral. Figura 15 – Galeria de Fotos da construção dos mapas temáticos. 64 Figura 16 – Galeria de Fotos das caminhadas guiadas. 65 Figura 17 – Galeria de fotos. Oficina Conflitos e problemas. 67 Figura 18 – Galeria de fotos. Oficina Trilhas de Soluções. 69 Figura 19 – Galeria de fotos. Conversando sobre o Terno de Reis. 71 Figura 20 – Galeria de fotos. Identificando oportunidades. 73 Figura 21 – Galeria de Fotos. Oficina de criação dos SIG’S participativos. 75 Figura 22 – Seleção dos bens culturais. 84 Figura 23 – Mapas participativos das Grutas e Cavernas. 85 Figura 24 – Mapas participativos dos Sítios Arqueológicos. Detalhe da legenda. 86 Figura 25– Localizando a Estrada Real na imagem de satélite. 86 Figura 26 – Mapas participativos da Folia de Reis e localização da Estrada Real. 87 Detalhe da legenda. Figuras 28 e 29 – Caminhada Guiada – Trilha de acesso ao Sítio Lagoa Grande. 96 Figura 30 – Desmontando as fogueiras. 97 Figura 31 – Detalhe da perda definitiva de parte do painel. 97

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Figura 32 – Cena antropomorfa e zoomorfa encontradas no Sítio Lapa do Caboclo. 98 Figura 33 e 34 – Infiltração no paredão do sítio. 99 Figura 35 – Fogueira encontrada no Sítio Lapa do Caboclo. 100 Figura 36 – Gruta da Fumaça. 102 Figura 37 – Desmatamento no entorno da Gruta Manoel Ioiô. 106 Figura 38 – Povoado do Riacho do Mel e Estrada Real. 108 Figura 39 e 40 – Estrada Real. Povoado Riacho do Mel. 108 Figura 41 e 42 – Sempre-Viva e Bloco de Conglomerados achados na Estrada 109 Real. Figura 43 – Festa de Nossa Senhora da Conceição no povoado do Riacho do Mel. 109 Figura 44 – Placas de sinalização dos atrativos turísticos. 110 Figura 45 e 46 – Poço Manoel Felix, sede do município de Iraquara. 112 Figura 47 – Entrevista com a Sra. Maria Neta. 112 Figura 48 – Balneário da Pratinha. 113 Figura 49 – Gruta Azul. 113 Figura 50 – Vista aérea do Sítio Lapa do Caboclo. 114 Figura 51 – Localização dos poços tubulares no município de Iraquara. 115 Figura 52 – Caminhada do Terno de Reis do Pau D´Alho. 117 Figura 53 – Rito do Terno de Reis. Adoração ao Deus Menino. 117 Figura 54 – Almoço festivo em louvor ao Dia de Reis. 118 Figura 56 - Mapa participativo da Paisagem Cultural do município de Iraquara – 120 BA. Figura 57 – Capa e contracapa da Cartografia Social 126 Figura 58 – Cartografia Social da Paisagem Cultural de Iraquara – BA. 127

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LISTA DE QUADROS

Quadro 01 – Dados socioeconômicos do munícipio de Iraquara-Ba 37 Quadro 02 – Oficina 01 - Inventário Geral 60 Quadro 03 – Oficina 02 – Mapeando a nossa cultura 62 Quadro 04 – Caminhadas Guiadas 64 Quadro 05 – Oficina 03 – Mapeando problemas e conflitos 66 Quadro 06 – Oficina 04 – Mapeando trilhas de soluções 68 Quadro 07– Oficina 05. Conversa sobre os Ternos de Reis. Validando o 70 mapeamento temático Quadro 08 – Oficina 06 – Identificando oportunidades 72 Quadro 09 – Oficina 07 - Finalizando o mapa participativo e construindo os SIG’S 74 participativos Quadro 10 – Referências Culturais de Iraquara 80 Quadro 11 – Bens Culturais do Grupo da Fumaça 81 Quadro 12 – Bens culturais do grupo Juntos e Misturados 81 Quadro 13 – Problemas e conflitos na paisagem cultural de Iraquara 87 Quadro 14 – Problemas e Soluções para a preservação da paisagem cultural. 88 Quadro 15 – Relação das instituições e projetos que atuam no município e 90 possibilidades de parcerias. Quadro 16 – Atributos para a criação das layers no software de mapeamento digital 118

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AICTUR Associação Iraquariense dos Condutores Turísticos APAs Áreas de Proteção Ambiental BA Bahia CECAV Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas CF Constituição Federal CPRM Companhia de Pesquisa e Recursos Minerais EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária SIGP Sistema de Informações Geográficas Participativo GEECE Grupo Espeleológico do Ceará IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDH Índice de Desenvolvimento Urbano INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais INRC Inventário Nacional de Referências Culturais IPAC Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia IPHAN Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

LANDSAT Land Remote Sensing Satellite PPGM Programa de Pós-Graduação em Modelagem Ambiental PRODETUR Programa de Desenvolvimento Turístico da Bahia RPPM Reserva Particular de Proteção Permanente SBAE Sociedade Baiana de Espeleologia SEI Superintendência de Estudos Sociais e Econômicos da Bahia SEMA Secretaria do Meio Ambiente SPHAN Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional UEFS Universidade Estadual de Feira de Santana UFBA Universidade Federal da Bahia UNESCO Organização para a Educação, a Ciência e a Cultura das Nações Unidas

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 16 2. OBJETIVOS 21 2.1 Objetivo Geral 21 2.2 Objetivos Específicos 21 3. MARCO TEÓRICO 23 3.1 Cartografia social e patrimônio cultural 25 3.2 Cartografia social e planejamento territorial participativo 27 4. Caracterização socioambiental da área de estudo 30 4.1 Dados socioeconômicos 36 5. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DE IRAQUARA: DA 40 PRÉ-HISTÓRIA AO ECOTURISMO 5.1 O período pré-colonial revelado nos sítios arqueológicos 40 5.1 Início do povoamento do município 41 5.3 A estrada real da Bahia passa por Iraquara 43 5.4 Vila de Iraporanga 47 5.5 Século XX: a passagem da coluna prestes e a emancipação política do 48 município 5.6 O novo diamante da : o advento do turismo 49 6. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 52 6.1 O grupo focal: condutores turísticos do município de Iraquara 53 6.2 Mapeamento participativo e sig’s participativos 55 6.3 As oficinas participativas 58 6.4 INRC – Inventário Nacional de Referências Culturais 76 6.5 Caminhadas Guiadas (“Guide Tour”) 76 6.6 Pós- processamento dos sig’s participativos e editoração da cartografia 77 social 7. RESULTADOS 79 7.1 Levantamento preliminar das referências culturais 79 7.2 Referências culturais selecionadas para a cartografia social 82 7.3 Os sig’s participativos temáticos 84 7.3.1 Grutas, cavernas e aguas de Iraquara 84 7.3.2 Sítios arqueológicos 85 7.3.3 Estrada Real e Ternos de Reis 85

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7.4 Problemas e conflitos na paisagem cultural de Iraquara 87 7.5 As trilhas de soluções para os problemas e conflitos 88 7.6 Identificando oportunidades 89 7.7 Inventário geral das referências culturais 92 7.7.1 Grutas e cavernas 92 7.7.1.1 Gruta da Fumaça 95 7.7.1.2 Gruta Lapa Doce 100 7.7.1.3 Gruta Manoel Ioiô 101 7.7.1.4 Caverna da Torrinha 102 7.7.1.5 Estado de preservação das cavernas 7.7.2 Sítios Arqueológicos 103 7.7.2.1 Danos ao patrimônio arqueológico 105 7.7.3 Águas de Iraquara 106 7.7.3.1 O Poço de Manuel Félix 110 7.7.3.2 A Fazenda Pratinha 112 7.7.3.3 As águas de Iraquara e os conflitos com a agricultura irrigada 113 7.7.4 A Estrada Real 7.7.5 Os Ternos de Reis 7.8 SIG’S Participativos da paisagem cultural do município de Iraquara 118 8. PRODUTOS 121 8.1 A cartografia social da paisagem cultural de Iraquara: subsídios para o 121 planejamento territorial participativo 9. CONSIDERAÇÕES FINAIS 123 10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 136 ANEXOS 142 APÊNDICES 163

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INTRODUÇÃO

O Relatório Técnico ora apresentado traz um estudo sobre a espacialização da cultura no município de Iraquara-BA, a partir do olhar de um grupo focal formado pelos membros da Associação Iraquariense dos Condutores Turísticos - AICTUR, que elaboraram uma cartografia social para representar a paisagem cultural do município. O Relatório descreve o processo participativo de construção da cartografia social escolhida como Trabalho de Conclusão de Curso do Mestrado Profissional em Planejamento Territorial da Universidade Estadual de Feira de Santana – BA. A Cartografia Social da Paisagem Cultural de Iraquara - BA teve como objetivo identificar os principais bens culturais do município na perspectiva dos membros da Associação dos Condutores Turísticos de Iraquara que foram organizados como grupo focal, e convidados a coautores da pesquisa. Nesse sentido, o grupo focal assumiu o papel de interpretes da paisagem e cartógrafos na formulação da cartografia social aqui apresentada. Através das oficinas participativas, o grupo focal foi convidado a compartilhar saberes, memórias e experiências que conduziram a uma reflexão sobre a importância da cultura enquanto elemento identitário de um grupo social e componente primordial na construção e transformação de uma paisagem segundo a abordagem da Geografia Cultural aplicada nos estudos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN. O IPHAN, ao retomar o discurso elaborado no âmbito da Geografia Cultural, definiu a paisagem cultural como “a porção peculiar do território nacional, representativa do processo de interação do homem com o meio natural, à qual a vida e a ciência humana imprimiram marcas ou atribuíram valores”. (IPHAN, 2009). Essa definição buscava combinar os aspectos naturais, materiais e imateriais do patrimônio, muitas vezes pensados separadamente. Doravante, as dimensões tangíveis e intangíveis do patrimônio, passaram a ser pensadas em conjunto. Essa é a correlação entre patrimônio cultural e paisagem cultural na perspectiva de Claval (2001) e Correia e Rosendhal (2003), pois a paisagem cultural, nada mais é que o resultado da interação do homem com o meio nas suas diversas formas de uso, crenças, manejo de técnicas e práticas culturais para lidar com a natureza visando a sua sobrevivência. Esses costumes são passados de geração a geração constituindo saberes tradicionais, portanto, patrimônio cultural.

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Estudos anteriores realizados por Etchevarne (2007), Nascimento (2010) e Siqueira (2013) revelaram que o município de Iraquara reúne na sua paisagem cultural elementos expressivos para a compreensão dos processos de ocupação socioespacial e socioambiental do Estado da Bahia. Ao realizar o estudo sobre o estado de conservação dos sítios de registros rupestres em Iraquara, (SIQUEIRA, 2013), surgiram alguns questionamentos a cerca do papel das comunidades e grupos sociais na gestão e salvaguarda do patrimônio cultural do município, servindo de elemento motivador para essa pesquisa. Os conhecimentos construídos no Mestrado em Planejamento Territorial consideravam que a participação social na formulação de ações e tomadas de decisões sobre a gestão territorial precisa ser incentivada, atendendo as prerrogativas da nova concepção de administração pública participativa, introduzida a partir da Constituição Federal de 1988. Por esse motivo a pesquisa buscou incentivar a participação social como elemento norteador para a formulação de um instrumento de planejamento que refletisse os anseios de um grupo social, nesse caso, os condutores turísticos do município de Iraquara, com o intuito de suscitar reflexões e subsidiar as discussões sobre a necessidade de planejamento de ações voltadas para a gestão do patrimônio cultural do município. A área de estudo está inserida no Território de Identidade da Chapada Diamantina – BA, caracterizada em detalhe no relatório de pesquisa. O município de Iraquara possui características fisiográficas peculiares que lhe conferem uma paisagem natural diversificada. Rios subterrâneos, grutas e cavernas oferecem boas opções de laser aos moradores e visitantes. Essas características atraem também pesquisadores a desenvolverem estudos multidisciplinares em seu território. Iraquara reúne um conjunto de bens culturais expressos nos sítios arqueológicos pré-coloniais e coloniais, nos costumes e tradições expressadas nas diversas manifestações culturais e na paisagem natural. Essa última, responsável pela projeção do município no cenário do ecoturismo da Chapada Diamantina, sendo regionalmente conhecida como a “Cidade das Grutas”. A paisagem cultural, como explicada anteriormente, pode ser constituída a partir das transformações socioespaciais promovidas pelos grupos sociais que atuam sobre ela. Ou ainda como uma paisagem natural significativa para os grupos sociais que lhes atribuem sentidos e significados simbólicos e identitários. A sociedade capitalista contemporânea, é constituída por grupos hegemônicos, que detêm o poder político, econômico e tecnológico e assim transformam a paisagem

17 conforme seus interesses. Na maioria das vezes, esse processo de transformação é marcado por conflitos com os demais grupos sociais que atuam nessa paisagem, especialmente os segmentos sociais que tradicionalmente ocupam essas paisagens como os grupos remanescentes de quilombolas, indígenas, comunidades de fundo de pasto, comunidades ribeirinhas, de pescadores, comunidades autóctones, dentre outros. Seguindo essa lógica, durante muito tempo o ato de planejar o território estava restrito aos grupos hegemônicos e os mapas, enquanto instrumentos de planejamento, refletiam esses interesses ideológicos de poder e dominação. (HARLEY, 1988). Mapear era uma exclusividade dos planejadores e cartógrafos públicos e/ou privados que representavam o território conforme sua ideologia e seus objetivos, ora evidenciando, ora negligenciando algum fenômeno conforme seus interesses. Iraquara não escapou a essa realidade, a pesquisa documental realizada para o desenvolvimento desse estudo não encontrou nos documentos cartográficos das instituições governamentais (CPRM, IBGE e EMBRAPA) nenhuma referência aos aspectos culturais do município, com exceção ao mapa “Sítios Arqueológicos - Estado da Bahia”, produzido pela SEI (2011) com escala 1: 2.500.000 que identificou e classificou os sítios arqueológicos do estado da Bahia, dentre esses, 01 sítio de arte rupestre no município. No Brasil, a cartografia tradicional, representativa dos interesses hegemônicos, sofreu alterações significativas a partir da década de 1990, graças às pressões dos grupos tradicionais indígenas dos estados da Amazônia. A exemplo do Projeto a Nova Cartografia Social da Amazônia, coordenado por Alfred Wagner (2007) que produziu um vasto material cartográfico com a participação das comunidades tradicionais indígenas. Segundo Wagner (2007), esses povos viram nos mapas um instrumento para afirmar direitos territoriais. Diversos mapas passaram a ser produzidos por governos, organizações não governamentais e instituições de pesquisa com a participação dos povos indígenas e o uso de tecnologias de informação, gerando um novo conceito na produção e uso dos mapas denominado “mapeamento participativo” ou “cartografia social dos povos indígenas.” (ACSELRAD: COLI, 2008) Essas experiências estão sendo gradativamente utilizadas por outros grupos sociais como salienta Nakanu e Comarú (2007) na experiência dos Planos Diretores “com base em processos participativos que têm tido na elaboração de mapas um de seus principais

18 instrumentos, com vistas a garantir o reconhecimento das demandas das comunidades locais”. NAKANU:COMARÚ, 2007, p. 66). A Cartografia Social apresentada nesse relatório de pesquisa baseou-se nessas experiências anteriores tendo como objetivo produzir uma cartografia a partir da visão de mundo e das experiências do grupo social formado por moradores locais que atuam como condutores turísticos no município de Iraquara. A relação de pertencimento e identidade do grupo social pesquisado com a paisagem cultural do município viabilizou essa pesquisa, pois os mesmos atuam nessa paisagem e acompanham as modificações socioespaciais sofridas nas últimas décadas preocupados com a preservação de seus costumes e tradições ameaçados pelos interesses econômicos que, na maioria das vezes, conflitam com a ideia de preservação do patrimônio cultural. O presente Relatório delineia as ações, métodos, técnicas, e os resultados obtidos ao longo da pesquisa para o alcance do objetivo proposto: desenvolver um instrumento capaz de refletir os anseios da comunidade, representada pelo grupo social pesquisado, que desse visibilidade ao tema e servisse como um documento de reivindicações para a necessidade de reflexão e tomada de decisões para a formulação de propostas que visem a identificação, promoção e salvaguarda da paisagem cultural de Iraquara, atualmente desguarnecida de instrumentos legais e de planejamento que norteiem as ações públicas para a garantia da preservação da paisagem cultural do município para às gerações futuras. O Relatório da produção técnica foi organizado em cinco sessões temáticas, a saber: A primeira sessão apresentou os marcos teóricos com os conceitos fundamentais para o entendimento do tema pesquisado: Paisagem Cultural, Cartografia Social, Mapeamento Participativo e Planejamento Territorial de modo que o leitor compreendesse a relação intrínseca entre esses conceitos-chave. A segunda sessão sintetizou a caracterização socioambiental da área de estudo reunindo as informações necessárias à compreensão do processo de formação da paisagem natural do município que destacou Iraquara no contexto histórico ambiental da Chapada Diamantina, bem como suas características socioeconômicas na atualidade. A terceira sessão exibe uma breve contextualização histórica a partir do patrimônio cultural presente na paisagem do município enriquecida pelos relatos fornecidos pelas principais fontes vivas da oralidade local.

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A quarta sessão sistematizou os procedimentos metodológicos da pesquisa para que o leitor tenha a compreensão dos caminhos percorridos para a construção da Cartografia Social. Nessa sessão estão descritas as oficinas participativas, as caminhadas guiadas e o processo participativo que culminou na construção dos mapas temáticos. A quinta sessão apresentou os resultados do processo de formulação da Cartografia Social além dos produtos e subprodutos gerados nas oficinas participativas. Nessa sessão, foi realizada a descrição dos elementos incorporados aos mapas participativos e os significados atribuídos aos mesmos pelo grupo focal. Por fim, descreveu-se as técnicas de geoprocessamento cartográficos desenvolvidos nos softwares de cartografia digital que transformaram os mapas analógicos (mapas participativos) na Cartografia Social em ambiente SIG, denominados SIG Participativo (SIGP). As considerações finais trouxeram em sua abordagem a utilidade, as lacunas, e os alcances que a pesquisa obteve além da proposição de possíveis aplicações da Cartografia Social no âmbito do Planejamento Territorial Participativo para o município de Iraquara. O processo de construção da cartografia social desde a seleção e justificativa do tema, a escolha do grupo focal, as oficinas participativas, as técnicas aplicadas na construção dos mapas, a formação dos SIGP e a formulação do produto final proporcionaram uma experiência de produção científica com base nos conhecimentos tradicionais do grupo focal tendo como elementos motivadores a troca de saberes, a criatividade, o respeito e a colaboração mútua. A produção técnica, ora apresentada, não tem pretensão de elucidar todas as faces da problemática abordada, mas propõe-se a contribuir para a ampliação das discussões sobre a Paisagem Cultural, o Mapeamento Participativo e o Planejamento Territorial Participativo sendo um ponto de partida para a ampliação desses estudos no município e no âmbito acadêmico.

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2. OBJETIVOS

2.1 GERAL Identificar na paisagem do município de Iraquara - BA os elementos que melhor representam a identidade cultural local tendo como informantes um grupo de moradores do munícipio que desempenham a função de condutores turísticos.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 Identificar os bens culturais do município de Iraquara selecionados pelo grupo focal;  Mapear através dos SIG’s participativos a paisagem cultural do município;  Elaborar o inventário dos bens culturais selecionados.  Elaborar a cartografia social da paisagem cultural de Iraquara como um subsídio para o planejamento territorial participativo.

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3. MARCO TEÓRICO As principais teorias que norteiam o presente trabalho estão baseadas nas abordagens sobre a Paisagem Cultural na perspectiva de Claval (2007), Cosgrove (1998), Corrêa e Rosendahl (1999); Referências Culturais segundo a abordagem de Londres (2000) e Corsino (2000); Cartografia Social na visão de Vianna (2008), Almeida (2009), Acselrad (2013) e Gorayeb e Meireles (2014); e do Planejamento Territorial Participativo segundo o enfoque de Gadin (2001), Barbosa (1980) e Rocha (2009). Compreender a paisagem como o resultado da interação entre o homem e a natureza através da cultura tem uma longa tradição entre os geógrafos. De acordo com Corrêa e Rosendahl (1999), esse debate surgiu no final do século XIX na Europa no momento e que se discutia a natureza da Geografia e de sua identidade frente às demais ciências no âmbito do debate entre positivismo e historicismo. A paisagem cultural, segundo Fowler (2002) ao retomar o pensamento de Carl Sauer (1925) é “criada a partir de uma paisagem natural e um grupo cultural, sendo a cultura, o agente, o ambiente natural, o meio e a paisagem cultural, o resultado”. (FOWLER, 2002, p. 16). Os resultados dessa ação humana promove uma diversidade de paisagens que se diferem de lugar para lugar. Claval (2007) ressalta que essas diferenças são efetivamente de natureza cultural, constituindo-se em paisagens culturais. As paisagens culturais, corroborando a ideia Fowler (2002) e Claval (2007), são o resultado dos processos de transformação das paisagens naturais pelo homem, ou seja, as técnicas, os instrumentos de trabalho e os gêneros de vida que se constitui nos principais temas da Geografia Cultural Tradicional. (CORRÊA: ROSENDAHL, 1999). O período pós II Guerra Mundial marca o declínio da Geografia cultural, mas a partir da década de 1970, no contexto da globalização econômica, ela ressurge como um contraponto ao processo de homogeneização globalizadora. (CLAVAL, 2007) A ideia de uniformização do mundo salientada por Claval (2007) se dá através da homogeneização das técnicas e da vida social decorrentes da hegemonia do capital cuja tendência é a padronização dos lugares. Entretanto, os lugares não possuem somente uma forma e uma cor, uma racionalidade funcional e econômica, ao contrário, estão carregados de sentidos para aqueles que o habitam e frequentam”. (CLAVAL, 2007, p.55).

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Corroborando a ideia de Claval (2007), Correia (2003) afirma que os lugares compreendidos como um produto da ação do homem ao longo do tempo é constituído de valores, crenças e uma dimensão simbólica. Nesse contexto a Geografia Cultural revê suas bases conceituais e amplia sua abordagem incluindo além dos estudos sobre a dimensão material da cultura, presente na fase inicial da geografia cultural (1890-1940), os estudos sobre a dimensão imaterial da cultura e passa a abarcar entre os seus temas “a religião e o significado das manifestações culturais”. (CORRÊA E ROSENDAHL, 1999, p. 8). A dimensão imaterial da cultura está presente nas crenças e tradições e nos sentidos identitários que uma determinada sociedade tem de si mesma e que a une pelas manifestações culturais que resistiram ao tempo e à hegemonia globalizadora. As memórias coletivas que passam de geração à geração através da oralidade exercem um papel primordial na leitura da paisagem cultural. Cosgrove (1998) afirma que nos estudos culturais, a história está presente na memória de um passado estabelecendo um elo entre o presente e o futuro. A memória se materializa na paisagem cultural através das narrativas sobre as edificações ou monumentos históricos, na tradição oral, na religiosidade, nos costumes e crenças que formam as referências culturais daquele grupo ou sociedade e que permanecem ou não no tempo e no espaço. (CROSGOVE, 1998). Segundo o autor, “a memória e o desejo constituem a temporalidade através da qual os lugares emergem como fenômenos vividos e significativos.” (CROSGOVE, 1998, p. 23). As discussões sobre a paisagem cultural teve nos últimos anos um novo impulso tanto pela produção acadêmica, sobretudo na ciência geográfica, como um contraponto a ação da globalização e a hegemonização dos lugares, quanto, pela experiência internacional a partir dos trabalhos da Unesco e da Convenção Europeia da Paisagem (RIBEIRO, 2007) O Iphan elaborou a regulamentação da Chancela da Paisagem Cultural estabelecida pela Portaria nº 127, de 30/04/2009. Esse documento visa promover a preservação ampla e territorial de porções singulares do Brasil. (BRASIL, 2009). Essa portaria define a paisagem cultural brasileira como “uma porção peculiar do território nacional, representativa do processo de interação do homem com o meio natural, à qual a vida e a ciência humana imprimiram marcas ou atribuíram valores”. (BRASIL, 2009, p. 13).

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A chancela pode ser entendida como um instrumento de reconhecimento do valor cultural de uma porção definida do território nacional, que possui características especiais na interação entre o homem e o meio ambiente. (BRASIL, 2009). Pode se citar como exemplo de paisagens culturais o Pantanal Matogrossense e as comunidades ribeirnhas, as regiões de imigração do Sul do Brasil, com os núcleos de pescadores, seus barcos e suas habitações; o rio São Francisco e o Vale do Ribeira, estes são exemplos que retratam o convívio harmônico do homem com a natureza. (BRASIL, 2009). Nesse contexto que a Cartografia Social dialoga perfeitamente com a Geografia Cultural, pois oferece as tecnologias sociais necessárias aos sujeitos da pesquisa para compreender sua paisagem, reconhecer-se nela e representá-la sob o seu ponto de vista, ou categorias próprias tendo como produto o mapeamento cultural. O mapeamento cultural busca aliar o conhecimento tradicional de uma comunidade ou grupo social às técnicas de uma ciência cartográfica. Ataíde e Martins (2005) definem essa modalidade de mapeamento como “a arte de produzir cartas por uma população ou grupo social onde são destacados elementos culturais e históricos.” (ATAÍDE & MARTINS, 2005, p. 2). O mapeamento cultural recebe outras nomenclaturas tais como “levantamentos etnoecológicos”, “mapeamento etno-ambiental dos povos indígenas”, “mapeamento dos usos tradicionais dos recursos naturais e formas de ocupação do território”, “mapeamento participativo”, “macrozoneamento participativo”, “etnozoneamento”, “etnomapeamento”, “diagnóstico etnoambiental” entre outros. (CORREA, 2007). O termo mapeamento participativo foi adotado nesse relatório por ser o mais apropriado para os objetivos propostos. Entretanto o termo “etnomapeamento” poderá aparecer eventualmente quando referir-se à citação direta de algum autor relevante para esse relatório.

3.1 O PATRIMÔNIO CULTURAL E A CARTOGRAFIA SOCIAL

O ato de cartografar a paisagem cultural pressupõe a identificação de elementos culturais significativos como os lugares, os marcos históricos, monumentos, manifestações religiosas, festivas e tradições esses elementos expressam a identidade dos grupos sociais e mantêm vivas as memórias coletivas desse grupo e de seu território. Esses elementos são denominados pelo IPHAN como Patrimônios Culturais.

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A palavra patrimônio, segundo Vogt (2008), deriva do latim e significa herança paterna. Por decorrência, patrimônio cultural constitui uma herança do passado com a qual os homens do presente convivem e a qual pretendem transmitir às gerações futuras. A Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural, elaborada na Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para Educação, a Ciência e a Cultura - UNESCO, em Paris, no ano de 1972, definiu o patrimônio cultural como bens compostos por monumentos, conjuntos de construções e sítios arqueológico, de fundamental importância para a memória, a identidade e a criatividade dos povos e a riqueza das culturas1. (UNESCO, 1972) A Convenção definiu também que o Patrimônio Natural é formado por monumentos naturais constituídos por formações físicas e biológicas, formações geológicas e fisiográficas, além de sítios naturais. (UNESCO, 1972) Posteriormente, em 2003, a Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial realizada em Paris, reconheceu a interdependência existente entre o patrimônio cultural imaterial e o patrimônio material cultural e natural, definindo-o como: As práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas - junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados - que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural [...] (UNESCO, 2003)

A Convenção de Paris (2003) estabelece também os campos em que o Patrimônio Imaterial se manifesta: a) tradições e expressões orais, incluindo o idioma como veículo do patrimônio cultural imaterial; b) expressões artísticas; c) práticas sociais, rituais e atos festivos; d) conhecimentos e práticas relacionados à natureza e ao universo; e) técnicas artesanais tradicionais. (UNESCO, 2003)

No Brasil, a Constituição Federal de 1988 estabelece o marco legal sobre o patrimônio cultural e sua classificação no art. 216: Os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: Os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. (BRASIL, 1988).

1 Informações disponíveis em http://whc.unesco.org/archive/convention-pt.pdf. Acesso em 08 de jun. 2016

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O Patrimônio Cultural, portanto, representa o processo de interação do homem com o meio natural. Os estudos sobre o Patrimônio Cultural aliada à Cartografia Social ainda são recentes no Brasil. Uma breve revisão bibliográfica em artigos científicos, dissertações e teses acadêmicas foram identificados o artigo científico de Martins e Leal (2015), que apresenta a cartografia como uma ferramenta eficaz na identificação do patrimônio cultural; a dissertação de Carneiro (2005) que aborda o ritual da Procissão do Fogaréu e os seus sujeitos na “paisagem” da cidade de Goiás com suas histórias e memórias e Burda (2007) que desenvolve em sua tese uma reflexão teórico-metodológica sobre a Geografia, especificamente a Geografia Humana, associada à Cartografia e às Geotecnologias que podem contribuir para promoção, a compreensão do turismo e gestão do patrimônio cultural no município de Lapa, Paraná. A Cartografia Social aplicada ao reconhecimento do patrimônio cultural proposto nessa pesquisa pretende contribuir para a ampliação das discussões sobre a perspectiva da participação social na seleção do seu patrimônio cultural a partir do sentido de referência cultural trazido pelo Inventário Nacional de Referências Culturais – INRC desenvolvido pelo IPHAN no ano de 2000 destacando a dimensão simbólica do espaço atribuída pelos grupos sociais que o habitam. Nesse sentido, Londres (2000) salienta que: A expressão - referência cultural - tem sido utilizada sobretudo em textos que têm como base uma concepção antropológica de cultura, e que enfatizam a diversidade não só da produção material, como também dos sentidos e valores atribuídos pelos diferentes sujeitos a bens e práticas sociais. (LONDRES, 2000, p. 13)

A autora afirma ainda que falar em referências culturais significa dirigir o olhar para representações que configuram uma “identidade” da região para seus habitantes, e que remetem à paisagem, às edificações e objetos, aos “fazeres” e “saberes”, às crenças, hábitos, etc. (LONDRES, 2000 p. 14). A Paisagem Cultural encontra na Cartografia Social a interface teórico- metodológica que auxilia na representação do espaço a partir do olhar das comunidades e dos grupos locais valorizando técnicas, saberes e vivências responsáveis pela (re)produção e transformação da mesma. Gorayeb e Meireles (2014) afirmam que a Cartografia Social constitui-se um ramo da ciência cartográfica que trabalha de forma crítica e participativa o território a partir dos vínculos ancestrais e simbólicos.

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Os vínculos aos quais Gorayeb e Meireles (2014) se referem podem ser facilmente reconhecidos nos mapas participativos produzidos pelos grupos sociais. O processo de construção crítico e participativo, tem como resultado final, a produção de um novo saber carregado de sentimentos e significados que retratam, acima de tudo, as relações entre o individuo e o espaço vivido. Almeida (2009) acrescenta a essa discussão a relevância da Cartografia Social enquanto uma forma de cartografar considerando o conteúdo simbólico presente na identidade dos indivíduos. A Cartografia Social apresenta uma gama de metodologias e tecnologias que apontam para uma abordagem cartográfica participativa ao criar as condições para que grupos sociais se auto cartografem e assim permitam o (re) conhecimento das demandas das comunidades locais e grupos sociais para o entendimento do território em questão fortalecendo os laços identitários e colaborativos. (ALMEIDA, 2009). Os autores da Cartografia Social representada pelos mapas participativos são os mesmos agentes sociais que constroem as paisagens culturais. Acselrad (2013) salienta que esses autores tentam afirmar identidades e territorialidades, pois os mapas sociais são representações do espaço, produzidos pelas pessoas que ocupam um território, nos quais apresentam a forma como vivem e trabalham os espaços simbólicos e afetivos. Esse processo, segundo Acselrad (2013) tende a promover o empoderamento dos sujeitos envolvidos, pois conduz a uma reflexão sobre o sujeito e o seu território, o que pode levar a um despertar sobre o papel que os sujeitos podem e devem exercer nas tomadas de decisões que envolvem o seu viver. Dessa forma, o mapeamento participativo pode servir como subsídios para o planejamento de ações territoriais que atendam aos anseios da sociedade.

3.2 CARTOGRAFIA SOCIAL E PLANEJAMENTO TERRITORIAL PARTICIPATIVO

A Constituição Federal de 1988 no seu Artigo 204 propôs a democratização e descentralização do poder público e o fortalecimento da sociedade civil na gestão pública através do planejamento participativo. O planejamento participativo como salienta Gadin (2001), é uma tendência dentro do campo de propostas de ferramentas para intervir na realidade. “Ele se alinha ao lado de

28 outras correntes [...] como tal ele tem uma filosofia própria e desenvolveu conceitos, modelos, técnicas e instrumentos também específicos.” (GADIN, 2001, p. 82). A participação da população no planejamento reflete-se na garantia de decisões que atendam às necessidades da coletividade. Barbosa (1980) ressalta que “é na ação planejada e participativa que reside um dos aspectos da satisfação humana, pela construção e concretude do real, fruto da reflexão e da consequente redimensão objetiva do futuro”. (BARBOSA, 1980, p. 29) A Cartografia Social, nesse sentido, representa uma tecnologia social que evidencia através dos mapas participativos, um exercício de participação, enquanto documento de reivindicações de um grupo social. Foi nesse sentido, que a pesquisa buscou contribuir para as discussões que envolvem as esferas do planejamento territorial no âmbito do patrimônio cultural do município, servindo ainda como instrumento de promoção e reivindicações de direitos, dando visibilidade a problemas e conflitos vividos em comunidade, cuja solução deve levar em consideração a opinião e a vontade dos sujeitos envolvidos. O processo de participação social na gestão pública ainda é pouco exercido no Brasil como salienta Rocha (2009): A Constituição Federal, ao assegurar, dentre os seus princípios e diretrizes, “a participação da população por meio de organizações representativas, na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis” (Art. 204), institui, no âmbito das políticas públicas, a participação social como eixo fundamental na gestão e no controle das ações do governo. Após a sua promulgação, o grande desafio passou a ser a regulamentação dos preceitos constitucionais a fim de se efetivar a “tão sonhada” participação popular. (ROCHA, 2009, p. 2)

Apesar das garantias legais que estimulam essa participação, a população, muitas vezes, desconhece os mecanismos e espaços destinados a esse fim como os Conselhos Gestores. Rocha (2009) completa que os Conselhos Gestores funcionam como instâncias de mediação entre governo e sociedade civil nos processos decisórios das políticas públicas, nas três esferas administrativas. Nesse sentido a cartografia social desenvolvida coletivamente pode ajudar nesse processo de empoderamento e participação social, pois é fruto de reflexões coletivas em busca de um bem comum, a melhor gestão e salvaguarda das referências culturais do município.

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4. CARACTERIZAÇÃO SOCIOAMBIENTAL DA ÁREA DE ESTUDO O município de Iraquara situa-se na porção centro-norte do estado da Bahia, na porção centro-norte do Território de Identidade da Chapada Diamantina. Limita-se com os municípios de e ao Norte; Lençóis a Leste; a Oeste e Palmeiras ao Sul. Localiza-se a uma Altitude de 700m sobre o nível do mar, Distante, aproximadamente, 469 Km de Salvador, o principal acesso ao município se faz através da BR 242 até o entroncamento nas proximidades do posto “Carne Assada” seguindo pela BR 122, conforme a figura 01.

Figura 01 – Mapa de Localização do Município de Iraquara em relação ao estado da Bahia.

Fonte: Oliveira e Santos (2016)

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Iraquara, é uma expressão derivada do tupi, significa “buraco de mel” (MAURO, 1957). Esse topomínio se justifica devido à presença de uma grande quantidade de abelhas que habitam as matas deciduais presentes nas dolinas e no setor noroeste do município. Iraquara também é conhecida como a “Cidade das Grutas” em alusão às características ambientais que lhe conferem paisagens com uma diversidade de feições cársticas como as cavidades naturais cientificamente definidas como cavernas, mas regionalmente chamadas de grutas. Essa característica deve-se a sua localização no contexto geológico da Chapada Diamantina conhecido como o Carste Diamantino. O carste é definido por Ford & Willians (1989) como todas as feições elaboradas pelo processo de dissolução, corrosão e abatimento, que dão origem as dolinas2, uvalas3, grutas, cavernas, sumidouros e rios subterrâneos. apud Guerra e Cunha (1994) citando os estudos desenvolvidos por Boegli (1980) classifica o carste em relevos superficiais (exocarste) e formas subterrâneas (endocarste) de domínio da espeleologia4 apresentado na figura 02. Figura 02 – Dolinamento que deu origem à caverna Lapa Doce.

Fonte: Lima (2015)

2 O vocábulo dolina, é de origem servo-croata sendo usado para se referir a depressões fechadas com contornos circulares ou ovais, com bordo geralmente apresentando declividades acentuadas e afloramento de rocha, e o fundo pode estar recoberto por uma camada de argila. Christofoletti (1980). 3 O termo uvala é de origem eslava, sendo usado para designar uma depressão alongada provavelmente pela coalescência de duas ou mais dolinas. Bigarela et al, (1994) 4espeleologia é o estudo das cavernas, de sua gênese e evolução, do meio físico que elas representam, de seu povoamento biológico atual ou passado, bem como dos meios ou técnicas que são próprias ao seu estudo. Essa palavra vem do latim spelaeum (caverna) e do gregologos (estudo). Informações disponíveis em: http://www.cprm.gov.br/publique/Redes-Institucionais/Rede-de-Bibliotecas. Acesso em 30 mai. 2104.

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Exocarste é a parte do relevo de superfície cuja gênese está nos processos de dissolução da rocha calcária que provoca os abatimentos e depressões. As formas mais comuns são as dolinas e uvalas. (GUERRA: CUNHA, 1994) O endocarste é caracterizado pelas cavernas, grutas, sumidouros, rios subterrâneos e pelos mais variados espeleotemas originados pelos processos de dissolução da rocha calcária e pelo depósito do carbonato de cálcio e calcita. (GUERRA: CUNHA, 1994). Esses minerais dão origem às estalactites, estalagmites e colunas, formas mais comuns de espeleotemas, assim como às formas mais raras como as agulhas de gipsita, flores de aragonita, bolhas de calcita, dentre outros, conforme a figura 03.

Figura 03 – Flor de Aragonita. Caverna Torrinha. Iraquara-BA

Fonte: Banco de imagens do Programa de Extensão Pintando com Pigmentos Naturais DLET/UEFS, 2014.

As paisagens cársticas, segundo Guerra e Cunha (1994) evoluem conforme os processos de dissolução da rocha, da qualidade e volume de água associados às condições ambientais da superfície. Por essa razão o planejamento da ocupação de uma região cárstica requer o conhecimento da dinâmica dos processos referentes à gênese e evolução dessa paisagem. O patrimônio natural presente no município de Iraquara é um atrativo para o turismo e representa também uma referência cultural para os seus moradores.

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O município de Iraquara está localizado no planalto cárstico que se desenvolveu nos carbonatos neoproterozóicos da Formação Salitre, parte oriental da Chapada Diamantina, mais especificamente na Bacia de Irecê. (LAUREANO et all, 1998). De acordo com Souza et al (1993) apud Inda e Barbosa (1978), Iraquara está localizada na porção sul de uma das principais exposições de rochas carbonáticas do estado da Bahia, denominada Bacia Sedimentar de Irecê. O conjunto de rochas carbonáticas dessa bacia pertence à Formação Salitre, Grupo Una, Supergrupo São Francisco, que data do período neoproterozóico (1bilhão a 542 Milhões de anos). A Formação Salitre é composta predominantemente de unidades calcárias com preponderância de calcários dolomíticos e dolomitos, descritos como doloarenito e dololutitos. Os diferentes tipos de rochas caracterizam fisionomias associadas à sedimentação carbonática em zonas de mar raso até talude de plataforma continental, (SOUZA ET AL., 1993) e (DOMINGUEZ, 1996). Figura 04 – Abertura de entrada da caverna Lapa Doce. Iraquara-BA.

Fonte: Banco de imagens do Programa de Extensão Pintando com Pigmentos Naturais DLET/UEFS O relevo é suavemente ondulado com a presença de vales e vertentes encaixadas desenvolvidas sobre a Formação Bebedouro. Possui também escarpas e morros testemunhos modelados sobre as rochas quartzíticas do Supergrupo Espinhaço. As altitudes variam entre 600 e 800 m. Os autores Guerra (1986), Cruz (1998) e Laureano e Cruz (2002) descrevem essas feições morfológicas como típicas do relevo cárstico.

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As cavernas de grande porte estão associadas ao relevo cárstico, a exemplo da Gruta Lapa Doce (Figura 04), com aproximadamente 12 km de extensão e Caverna Torrinha com 6 km de extensão como salienta Laureano et all (1998). Iraquara está inserida na bacia hidrográfica do rio Paraguaçu drenada pelo rio Santo Antônio e por dois de seus afluentes, o riacho Água de Rega (Figura 05) e o riacho do Gado, ambos subterrâneos. Essa subacia faz parte do aquífero cárstico da bacia de Irecê. (LAUREANO et al, 1999). Figura 05 – Subsidência do Riacho Água de Rega na Gruta Azul.

Fonte: Viagem Técnica, 2015. Essa característica facilita a obtenção de água do lençol freático cárstico, que nesta região possui baixa salinização, favorecendo seu aproveitamento para o consumo humano e agricultura irrigada. O município está situado numa faixa climática que varia de subúmida a seca, com duas estações bem definidas, inverno correspondente aos meses mais secos (junho, julho e agosto) e verão (dezembro, janeiro e fevereiro) onde se concentram os meses mais chuvosos do ano. (SEI/BAHIA, 1998). A média pluviométrica anual localiza-se entre as isolinhas de 700 e 800 mm e a temperatura média anual varia de 22,5 a 23,5 ºC (CRUZ JÚNIOR, 1998; FERRARI, 1990). O município está inserido no bioma Caatinga apresentando faixas com vegetação densa, formações arbóreas de floresta estacional decidual relacionadas a zonas de

35 ocorrência de dolinas e vales, conforme classificação de Velloso et al. (2002). Nas demais áreas é possível identificar campos rupestres e caatinga parque associadas aos afloramentos rochosos.

Pode-se inferir que a maior parte da vegetação do município sofreu processos de antropização intensos. As pequenas áreas com vegetação nativa limitam-se ao entorno das serras, no interior das dolinas, ou acompanhando os vales fluviais, conforme figura 06.

Figura 06 – Fisionomia da vegetação. Iraquara-BA.

Fonte: Viagem Técnica, 2015. De acordo com o mapeamento da Embrapa5 foram identificados no município três tipos de solo: litólicos, latossolo vermelho amarelo e os latossolos vermelhos escuros, decorrentes da alteração de rochas carbonáticas do Grupo Bambuí da Formação Salitre. Esses solos apresentam composição química mineral rica em calcário, corretivo natural do solo, no entanto possui limitações físicas associadas aos processos erosivos relacionados ao declive, processos de desmatamento da vegetação natural e compactação do solo nas áreas de pastagem. Além de apresentar grande susceptibilidade à formação de ravinas e voçorocas associadas ao processo de dolinamento cárstico.

5 Informações disponíveis no site da Embrapa. . Acesso em 10/05/2015.

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Iraquara está inserida na Unidade de Conservação – APA Marimbus –Iraquara6, criada através do Decreto Estadual nº 2216 de 14 de junho de 1993 como intuito de regular o uso das terras visando à preservação ambiental nas áreas de grutas e cavernas.

4.1 PERFIL SOCIOECONÔMICO DO MUNICIPIO DE IRAQUARA

Iraquara, de acordo com o censo populacional (IBGE, 2010), possui uma população total de 22.601 habitantes, destes 6.757 (29,92%) residem na zona urbana e 15.844 (70,08%) na zona rural. Os dados do Censo Agropecuário (IBGE, 2006) revelam que o município tem na agropecuária sua principal fonte econômica. As tabelas 01 e 02 apresentam os principais produtos agrários divididos em lavouras permanentes e temporárias disponibilizadas pelo IBGE para o ano de 2014, bem como a área destinada para o cultivo e o rendimento médio por produto. Tabela 01 - Produção Agrícola Municipal – Lavoura permanente

Produto Área destinada à colheita Rendimento médio (Hectare - ha) (Quilograma por hectare - Kg/há) Banana (cacho) 80 11.500 Café (Arábica) 630 400 Mamão 15 5.000 Manga 5 14.000 Maracujá 5 10.000 Sisal 630 600 Urucum 6 667 Fonte: IBGE. Produção Agrícola Municipal, 2014. Rio de Janeiro: IBGE, 2015.

Tabela 02 - Produção Agrícola Municipal - Lavoura temporária

Produto Área Plantada Rendimento médio (Hectare - ha) Abacaxi 20 13.000 frutos/ha Cana-de-açúcar 200 25.000 kg/ha Feijão 1.800 30 kg/ha Mamona 1.000 900 kg/ha Mandioca 400 10.000 kg/ha Melancia 30 20.000 kg/ha Milho 1510 74 kg/ha Tomate 50 50.000 kg/ha Fonte: IBGE. Produção Agrícola Municipal 2014. Rio de Janeiro: IBGE, 2015.

6 A APA Marimbus/Iraquara ocupa terras dos municípios de Lençóis, Andaraí, Palmeiras, Iraquara e Seabra, totalizando uma área de 125.400 ha. SEMA - Secretaria do Meio Ambiente - Governo do Estado da Bahia. Disponível em http://www.meioambiente.ba.gov.br

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A produção de mamona é utilizada desde 2006 na usina de biodiesel Oleoplan do Nordeste, localizada no município e responsável pela geração de 200 empregos diretos7. Nos últimos anos, a agricultura irrigada tem apresentado forte desenvolvimento no município, principalmente pela oferta de água subterrânea de baixa salinidade. As principais culturas são a lavoura do café (figura 07), frutas e legumes com destaque para o pimentão e o tomate. Não foram encontrados dados oficiais sobre o destino dessas mercadorias, se para o consumo interno ou exportação.

Figura 07 – Lavoura e beneficiamento do café. Iraquara-BA.

Fonte: Viagem técnica, 2015.

A pecuária apresenta como principais rebanhos os galináceos, bovinos e suínos, respectivamente. A tabela 03 apresenta os principais rebanhos e sua produção, conforme dados disponibilizados pelo IBGE para o ano de 2014. Tabela 03 - Produção da Pecuária

REBANHO Efetivo (cabeças) Bovino 8.360 Bubalino 24 Caprino 533 Equino 312 Galináceos 17.305 Ovinos 562 Suínos 1.206 Vacas ordenhadas 827 Fonte: IBGE. Produção da Pecuária Municipal 2014. Rio de Janeiro: IBGE, 2015.8

7 Informações disponíveis em http://www.sindiquimica.org/noticias/7-seguranca-e-meio-ambiente. Acesso em 30 de jun. de 2016. 8 Dados disponíveis < http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/temas> Acesso em 30/06/2016.

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O censo IBGE (2010) revela que Iraquara está entre os municípios baianos com menor Índice de Desenvolvimento Humano, apresentando IDH de 0,605 e ocupando a 279ª colocação no ranking estadual. O IDH é um importante índice desenvolvido pelas Nações Unidas para avaliar a qualidade de vida e o desenvolvimento econômico de uma população. É uma medida resumida do progresso a longo prazo em três dimensões básicas do desenvolvimento humano: renda, educação e saúde. O índice varia de 0 a 1, quanto mais próximo de 1 maior o desenvolvimento humano de uma população.9 A sede do município tem como principal fonte de renda o comércio, sendo a feira livre o principal entreposto para esse comércio local. A atividade turística também se configura como uma fonte de renda e geração de empregos no município. Não foram encontradas fontes oficiais para a quantificação desses dados, sendo esses revelados através das entrevistas aos empreendedores turísticos locais e ao Presidente da Associação dos Condutores Turísticos do Município, expostos no apêndice desse relatório. Os empreendimentos turísticos localizados na zona rural do município como a Gruta Lapa do Sol, Caverna Torrinha e Complexo Turístico da Pratinha estão entre os principais roteiros de maior visitação na Chapada Diamantina constituindo um importante patrimônio natural do estado da Bahia. Além dos atrativos naturais, o município possui uma variedade de bens culturais do período pré-colonial como os sítios arqueológicos e do período colonial datados do século XVIII e XIX, período áureo da mineração diamantífera na Bahia. Dentre esses pode-se destacar o conjunto arquitetônico do distrito de Iraporanga, antiga Vila de Parnaíba em processo de tombamento como patrimônio cultural da Bahia pelo IPAC e a Estrada Real, importante via de ligação entre os sertões diamantinos e a corte no Rio de Janeiro, localizada no povoado do Riacho do Mel. Somado ao patrimonial material, Iraquara possui um diversificado patrimônio imaterial expresso nas manifestações culturais como as festas populares e religiosas, a culinária típica, o artesanato de palha de licuri, os ternos de Reis e a capoeira, dentre outros. Os depoimentos adquiridos em entrevistas aos proprietários de empreendimentos turísticos e ao Presidente da AICTUR revelaram que apesar de suas potencialidades culturais e turísticas, Iraquara pouco se beneficiou para o desenvolvimento da economia

9 Informações disponíveis em http://www.pnud.org.br/IDH/DH.aspx. Acesso em 12 de mai. 2015.

39 local, pois dispõe de pouca infraestrutura capaz de proporcionar a permanência dos visitantes no município, carecendo de maiores investimentos nesse setor. De acordo com esses informantes, os turistas, em sua maioria, chegam através de agências sediadas em Lençóis com roteiros “fechados”, ou seja, preestabelecidos por essas agências de turismo, o que dificulta o desenvolvimento de serviços locais como agências turísticas, pousadas, restaurantes e outros serviços, limitando a circulação de capital e a geração de empregos no município. Esse cenário pode ser entendido a partir do processo de planejamento e gestão do turismo baiano nas ações do Programa de Desenvolvimento Turístico da Bahia - PRODETUR- Bahia desenvolvido pelo governo do estado na década de 1990. O programa criou oito zonas turísticas, dentre elas a Zona Turística da Chapada Diamantina que tinha como “destino âncora a cidade de Lençóis, onde o Estado concentrou as ações em infraestrutura básica, marketing e educação para o turismo”. (SANTOS, 2013, p. 119). A nova fase do PRODETUR, segundo Brito (2005), pretende corrigir essa distorção a partir da valorização da cultura local como fonte de geração de emprego e renda para os municípios de pequeno porte que formam as zonas turísticas promovendo a diversificação e descentralização na circulação e investimentos do capital turístico. A cultura passa a ser um vista como um atrativo diferenciado na nova modalidade de turismo que surge na Chapada Diamantina - o turismo cultural - e Iraquara possui potencialidades para destacar-se nesse novo contexto.

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5. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DE IRAQUARA: DA PRÉ-HISTÓRIA AO ECOTURISMO

A memória histórica do município de Iraquara dispõe de poucas fontes bibliográficas e documentais. As informações aqui registradas foram coletadas nos sites do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, na Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, no site do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN e na Superintendência de Estudos Econômicos da Bahia – SEI, além das fontes bibliográficas de Neta (2004), Pereira (2008) e Bandeira (2009). A essas fontes foram acrescentadas entrevista a principal personalidade histórica do município, a Sra. Maria Neta, natural de Iraquara e bisneta do Senhor Manoel Félix, fundador do município que forneceu as informações relevantes para a contextualização histórica do município. A historicidade do município será apresentada a seguir a partir de uma cronologia resumidamente elaborada tendo como base os principais marcos culturais presentes no município que dão testemunho dessa história.

5.1 O PERÍODO PRÉ-COLONIAL REVELADO NOS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS

Iraquara possui uma diversidade de sítios arqueológicos reunidos nos paredões e abrigos do município. Os estudos realizados por arqueólogos no município ainda não definiu o período cronológico das pinturas rupestres, o que deve ocorrer brevemente. Os estudos cronológicos das pinturas rupestres encontradas na Serra da Capivara, no Piauí e na Lagoa Santa, Minas Gerais, fazem referência a um período entre 12.000 a 6.000 aP para o horizonte estilístico da Tradição Nordeste atribuído aos grupos de caçadores-coletores que circulavam nesses territórios. (PROUS, 2006) O Patrimônio Arqueológico de Iraquara tem sido objeto de pesquisas desenvolvidas pelo Arqueólogo Carlos Etchevarne, professor da Universidade Federal da Bahia – UFBA e coordenador do Projeto Circuitos Arqueológicos da Bahia, uma parceria entre o IPAC e a UFBA. Dentre os resultados apresentados pelo projeto destacam-se as prospecções aos sítios para identificação e cadastro no IPHAN e IPAC e a Educação Patrimonial realizada

42 com as comunidades do entorno dos sítios, que são treinados para atuarem como agentes patrimoniais. Dos sítios identificados pelo projeto, 22 já estão cadastrados no IPAC e 06 no Iphan, mas segundo as informações dos moradores locais, existem muitos outros sítios de pinturas rupestres, paleontológicos, líticos e cerâmicos que carecem de maior atenção por parte dos pesquisadores. Os sítios mais conhecidos são o abrigo Lapa do Sol, o abrigo Santa Marta e a Lapa do Caboclo que possuem um vaso acervo de pinturas rupestres que oferecem informações sobre o paleoambiente, o modo de vida e a organização dos grupos sociais pré-coloniais que habitavam o Território da Chapada Diamantina. As pinturas rupestres encontradas nos sítios apresentam formas identificáveis que retratam a flora, a fauna e elementos humanos como mãos em positivo e formas humanas em grupo ou isoladas e conjuntos formados por desenhos geométricos aos quais não é possível atribuir maiores significados.

5.2 INÍCIO DO POVOAMENTO DO MUNICÍPIO A notícia da descoberta de minerais preciosos fez surgir um movimento migratório para a Chapada Diamantina que aumentava a cada nova notícia de mais achados. Brito (2005) salienta que esses imigrantes eram provenientes de regiões das Minas Gerais, do Recôncavo e de outras áreas do estado da Bahia e buscavam melhores condições de vida, alguns eram considerados aventureiros e “malfeitores”. Também chegavam as Lavras Diamantinas homens “abastados e de condição social e economia elevada com seus bichos e escravos [...] constituindo a aristocracia lavrista”. (MORAES, 1991, p. 35). Os tropeiros surgiram no contexto da mineração, desempenhando a função do transporte de mercadorias e do gado para abastecer os garimpos. Os tropeiros desbravaram o território, explorando as riquezas naturais e apossando-se das melhores terras propícias ao cultivo de lavouras e à criação do gado, onde fixavam suas moradas dando origem a muitos povoados. A água era o grande atrativo, principalmente no sertão, pois dela dependiam para o plantio, a sobrevivência dos animais e o abastecimento das famílias que buscavam a fixação no território. Por volta de 1860, segundo Neta (2004), Manoel Félix da Cruz, seu bisavô, e outros tropeiros, vieram morar no povoado de Canabrava, pertencente à comarca de Campestre, hoje, Seabra. “Ele e os demais habitantes do povoado faziam suas compras na Parnaíba, hoje distrito de Iraporanga que ficava muito longe, pois era preciso fazer uma volta longa

43 pelo povoado da Torrinha, aumentando o tempo da viagem e o desgaste das tropas.”. (NETA, 2004, p. 21) O Sr. Manoel Félix, segundo a mesma autora, com seu pioneirismo, resolveu convocar os amigos e empregados para abrir uma estrada em linha reta em direção ao leste, onde ficava a vila de Parnaíba, um dos principais entrepostos comerciais da região, onde os tropeiros faziam suas compras e vendas. O caminho era marcado de légua em légua com piquetes de madeira, delimitando uma estrada. A certa distância do ponto de partida ocorreu à descoberta de um poço com água abundante no leito do Riacho Água de Rega. Segundo Neta (2004), Manoel Félix, encantou-se com a paisagem do lugar. “Era um lugar muito bonito, no meio dessa caatinga, este baixão que mais parecia um vale, era composto de grandes árvores tipo mulungu, quixaba, canafísul, tamburi, juá de boi, são miguel e tapicurú [...]. Manoel Félix andando notou uma trilha feita por rastros de animais selvagens. Inteligente como era ele, logo pensou “onde tem rastro de animais deve ter água” e assim seguiu a trilha e encontrou realmente um poço de água cristalina mas salobra [...] Ele resolveu morar no baixão e assim apossou- se da terra , pois ele tinha direito, a qual o povo nomeou-a poço de Manoel Félix. Construíram suas casas próximo ao poço e a cada um ele deu um pedaço de terra para fazer suas roças e o povo se espalhou pelo baixão.” (NETA, 2004, p. 21)

O Poço de Manoel Félix ficou sendo a denominação da localidade ora descoberta. Muitas pessoas começaram a chegar à região na metade do século XIX, atraídos pelo diamante, formando garimpos que deram origem a muitos povoados, sendo os principais a antiga Parnaíba, hoje Iraporanga, a Vila do Riacho do Mel, Água de Rega, Canabrava e Estiva, hoje Afrânio Peixoto situado no município de Lençóis.10 A necessidade de abastecimento dos garimpos com mercadorias diversas e o transporte da produção aurífera e diamantífera das minas dos estados da Bahia, Minas Gerais e São Paulo para o Rio de Janeiro, sede da Coroa Real deu origem a uma estrada que cortava a Chapada Diamantina no sentido norte-sul ligando a , passando pelos municípios de Iraquara, à época, Vila de Iraporanga e Seabra, à época Vila de Campestre. Esse caminho foi denominado de Estrada Real.

5.3 A ESTRADA REAL DA BAHIA PASSA POR IRAQUARA A mineração “no rio das Contas interligou o lugar às minas de Jacobina. O caminho seguia a rota aberta por Pedro Barbosa Leal, responsável pela edificação da Vila de Rio de Contas, em 1724, e, antes disso, da vila de Jacobina, em 1720”. (IVO, 2009, p. 145)

10 Disponíveis em: http://www.bahia.ws/guia-turismo-iraquara-chapada-diamantina/. Acesso em 05/11/2015.

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De acordo com os escritos de Belchior Dias Moreya (1725)11, citados por Ivo (2009), em 1698, Leal realizou a abertura do caminho entre as vilas acima citadas o que garantiria a arrecadação dos quintos reais, imposto cobrado pela corte real sobre a circulação de mercadorias, “quando fui de Jacobina para o rio das contas mandei abrir a estrada por onde passei a aquelas Minas”. (IVO, 2009, p. 145) A rota foi concluída em 1725 e foi considerada a primeira via de acesso para exploração do ouro da Bahia, por isso, recebeu o nome de Estrada Real. Leal orientou-se pelo roteiro das supostas minas de prata existentes em Jacobina. (IVO, 2009) Na sua pesquisa documental, Ivo (2009) cita a descrição abaixo e a ilustração do caminho dessa estrada realizado por Borges de Barros (1918) como mostrada na figura 09 da página 46. O caminho partia de Jacobina, atravessando o rio Jacuípe e passava a leste do Morro do Chapéu, daí vinha até Campestre, atravessava o riacho Cocho e chegava ao Arraial de . Daí costeando a Serra da Tromba, ia ao rio Água Suja, atravessava o rio das Contas e chegava ao Arraial de Mato Grosso. Daí a estrada chegava à Vila do rio de Contas, cunhando com ela a estrada que vai para a Bahia a Minas Gerais. (BARROS, 1918, p. 207)12

Iraquara, antiga Vila de Parnaíba, hoje distrito de Iraporanga, à época pertencia à Comarca de Campestre, localidade citada no trecho acima, hoje, atual Seabra. O riacho Cocho é reconhecido na atualidade como Cochó do Malheiro, povoado localizado às margens do rio de mesmo nome sendo essa a demarcação limítrofe entre Seabra e Iraquara, na porção oeste do município. Corroborando a citação de Ivo (2009), Bandeira (2009) apresenta o trajeto que a Estrada Real percorria desde Jacobina à Rio de Contas, passando pelo município de Iraquara. Partindo de Rio de Contas, a estrada tomou o rumo de Jacobina sempre com leve flexibilidade a nordeste [...] A Estrada Real seguia rumo noroeste atè Catolés (Abaíra), depois contornava a serra da Tromba alcançando Piatã, sendo que nesse ponto, voltava a inclinação sentido nordeste, passando pela serra do Bastião (), para em seguida cortar as terras dos atuais municípios de Mucugê, Palmeiras e Seabra, até atingir a localidade de Iraporanga, antiga Parnaíba, no município de Iraquara. (BANDEIRA, 2009, p. 90)

11 DOCUMENTOS INTERESSANTES, volume XLVII. 1929. Carta do coronel Pedro Barbosa Leal ao conde de Sabugosa, vice-rei do estado do Brasil, sobre as várias incursões realizadas no sertão da Bahia em busca de minas metálicas, desde o pretenso descobrimento das de prata por Belchior Dias Moreya. 22.11.1725. p. 93 apud (IVO, 2009, p. 145) 12 Anais do arquivo público e do Museu do estado da Bahia. Ano II, Volume III. Bahia: Imprensa oficial do estado, 1918. Redação de Francisco Borges de Barros. p. 207, apud (IVO, 2009, p. 145)

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Figura 08 – Caminhos da Bahia No Século XVII, ao Centro, o Caminho considerado como aberto por João Gonçalves do Prado.

Fonte: Ivo, 2009 p. 144. Destaque da autora (trecho que passa por Iraquara) Adaptada pela autora.

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A circulação de pessoas, mercadorias e riquezas minerais só eram autorizadas por essas vias, salienta Santos (2001) apud Bandeira (2009), dessa forma era possível a cobrança do quinto, imposto cobrado sobre a produção diamantífera e a circulação de mercadorias, e o controle no escoamento do ouro e do diamante até a Corte Real, constituindo crime de lesa-majestade a abertura de outros caminhos. No trajeto da Estrada Real de Jacobina a Rio de Contas intensificou-se o trânsito de garimpeiros que exploravam as novas terras. À medida que se atestava a presença de diamantes surgiam garimpos e a formação de povoados. Água de Rega, Iraporanga, Riacho do Mel foram fundados nesse processo de exploração do garimpo de diamantes e são anteriores à sede, Poço de Manoel Félix (NETA, 2004). A mineração de ouro e diamantes além da circulação dos tropeiros fez desenvolver os povoados que hoje conservam o ambiente colonial configurando-se como um testemunho edificado do apogeu da mineração na Bahia constituindo um importante patrimônio cultural, a exemplo da Vila de Iraporanga, hoje tombada pelo IPAC. (IPAC, 2012). Figura 09 – Certificado de Matrícula para a atividade do garimpo.

Fonte: NETA, 2004, p. 58

De acordo com Neta (2004), os garimpos mais explorados no município de Iraquara foram dos Schubert, Água de Rega e Riacho do Mel. A figura 09 mostra o certificado de matrícula para as atividades ligadas ao garimpo e comércio de diamantes. Nele é possível verificar que a atividade de extração de diamantes perdurou até o final do século XX, nesse caso, a licença foi válida até 23/05/1981.

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Os estudos de Ivo (2009) revelaram que os caminhos abertos nos sertões, dentre eles a Estrada Real, foram responsáveis não só pela circulação de mercadorias que abasteciam os garimpos e levavam os diamantes para a corte, mas por esses caminhos a cultura miscigenada entre índios, negros, portugueses, mercadores turcos e sírios se encontravam. Abrindo caminhos e conectando-se ao mundo ultramarino, os sertanistas, ao buscarem riquezas e acumularem grandes propriedades rurais, foram os responsáveis pelo ir e vir de práticas culturais num trânsito até então desconhecido para os sertões. [..] Eram estes os “espaços para a origem e criação de uma cultura nova e mestiça” (IVO, 2009, p. 30)

Dessa forma, surgiram nos sertões baianos uma cultura própria, rica em cores, sabores, crenças e uma diversidade de manifestações culturais que perduram até os dias atuais. (IVO, 2009).

5.4 VILA DE IRAPORANGA

A vila de Iraporanga Parnaíba foi a primeira localidade a ser povoada no município graças ao surgimento dos garimpos de diamantes localizados no seu entorno. (NETA, 2004). Não foram encontradas nas fontes pesquisadas a data de fundação da vila, entretanto a arquitetura dos casarões mais antigos remontam o século XIX. O antigo nome da vila Parnaíba, significa em tupi “lagoa cheia de ilhas”, e o atual, Iraporanga, traduz-se como “toca do mel”. As principais fontes bibliográficas e documentais investigadas para tratar da historicidade da Vila de Parnaíba foram as obras “Iraquara: Ontem, Hoje e Sempre” de autoria da bisneta do fundador do município Sra. Maria Neta (2004) e “O Império das serranias: um grande relato sobre a Chapada Diamantina Meridional na Bahia” de autoria de Ângelo de Mattos Pereira (2008) além dos sites do IPAC e Prefeitura Municipal de Iraquara. A entrevista a autora Maria Neta forneceu informações históricas e memórias significativas sobre essa localidade. Segundo ela, o povoado era um importante entreposto comercial em meado do século XIX. O IPAC em 2012 realizou o processo de tombamento provisório da localidade. Segundo a equipe de técnicos responsáveis por este processo, o tombamento da vila se dará em função do importante acervo arquitetônico-urbanístico ainda existente. (Figura 10).

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Segundo os mesmos, o povoamento apresenta praças grandes, marcas do urbanismo da colonização portuguesa no Brasil do século XVIII, além de casario e perspectivas urbanas que remetem ao barroco.

Figura 10 – Distrito de Iraporanga.

Fonte: Caminhada Guiada, 2015.

Outros imóveis possuem arquitetura com características do movimento “Art Déco”, 13 que influenciou a arquitetura mundial na década de 1930 a 1940 e se firmou como uma expressão de modernidade acessível às diferentes classes sociais. (CORREIA, 2010)

5.5 SÉCULO XX: A PASSAGEM DA COLUNA PRESTES E A EMANCIPAÇÃO POLÍTICA DO MUNICÍPIO A Coluna Prestes, popularmente conhecidos como “os Revoltosos”, esteve presente no município de Iraquara que sofreu ataques em vários povoados no ano de 1926, onde encontrou resistência armada comandada por Horácio de Matos e seus aliados. Neta (2004) relata que “em abril de 1926, numa quarta-feira, entrou aqui no Poço um pequeno

13Informações disponíveis em http://www.cultura.ba.gov.br/wp-content/uploads/2012/01/Manifestação- cultural-Vila-Iraporanga. Acesso em 20 de jun. 2015

49 grupo de revoltosos da Coluna Prestes, mas foram rebatidos [...], eles vinham de Água de Rega.” (NETA, 2004, p. 40). Corroborando Neta (2004), Pereira (2008) relata que o Povoado de Água de Rega sofreu a invasão da Coluna Prestes no dia 10 de abril de 1926. Os revoltosos entraram no povoado pelos fundos, atirando, arrombando as casas comerciais e causando desordem. Alguns homens reagiram ferindo os revoltosos que deixaram o local e seguiram para o Poço de Manoel Félix. A passagem da Coluna Prestes deixou marcas nas casas mais antigas do município, segundo a população, algumas casas dos povoados de Iraporanga, Água de Rega e Riacho do Mel ainda tem as marcas dos projeteis disparados no embate. (PEREIRA, 2008). Em 1930, a Vila de Parnaíba foi elevada a distrito e alterou-se o topônimo para João Pessoa, em homenagem ao Dr. João Pessoa, governador da Paraíba, nesse período o distrito ainda pertencia ao município de Seabra-Ba. Em 1962, o distrito de Dr. João Pessoa foi desmembrado de Seabra e recebeu o topônimo de Iraquara, vocábulo tupi que significa “o buraco das abelhas”. Iraquara guarda sua história no patrimônio cultural que possui. Desde os sítios arqueológicos do período pré-colonial à rota dos diamantes evidenciada pela Estrada Real e pela Vila de Iraporanga, cujo conjunto arquitetônico testemunha o apogeu dos tempos áureos da Chapada Diamantina até o ecoturismo atual que busca no contato homem- natureza valorizar a paisagem natural e cultural, presentes em suas grutas, cavernas, lagos, festas, culinária e manifestações religiosas. Esse patrimônio que resiste ao tempo pode rapidamente sucumbir diante da voracidade da globalização que tende a tornar todos os lugares iguais e sem memória. Poucos são os municípios que reúnem num mesmo lugar evidências cronológicas tão variadas e importantes para o entendimento da ocupação humana no Brasil. Iraquara com suas belezas naturais e memorias revela muito dessa história.

5.6 O NOVO DIAMANTE DA CHAPADA DIAMANTINA: O ADVENTO DO TURISMO A exploração do diamante tem seu declínio em 1871, após, aproximadamente, um quarto de século de apogeu (BRITO, 2005). A valorização do carbonato para a fabricação de brocas de perfuração de rocha garante ainda uma sobrevida até meados de 1880. No começo do século XX, a maioria dos

50 municípios experimentaram o declínio da economia e a migração de seus habitantes para o sudeste do país, transformando-se em cidades abandonadas ou fantasmas. (BRITO, 2005). Décadas depois, esse cenário decadente de uma época de apogeu e ostentação presente nos conjuntos arquitetônicos das “cidades fantasmas” aliadas à paisagem natural com seus rios, serras, cachoeiras e cavernas seriam o ponto de partida para um novo ciclo econômico na Chapada Diamantina baseado no turismo e dinamizado pela inauguração da BR 242, principal via de acesso e ligação dos municípios da Chapada Diamantina à capital do estado, Salvador e à capital do País, Brasília na região oeste. Em 1973, salienta Brito (2005), a cidade de Lençóis foi tomada pelo SPHAN14, passando a ser chamada Cidade Monumento Histórico Nacional. Dessa forma, “Lençóis chamou a atenção da imprensa passando a ser alvo de reportagens que destacavam o patrimônio arquitetônico da cidade, começavam a dar relevo às suas belezas naturais e também contribuíam para realçar o seu potencial turístico”. (BRITO, 2005, p. 123) A criação do Parque Nacional da Chapada Diamantina em 1985 representou um marco para a preservação do meio ambiente e para a consolidação da Chapada Diamantina como principal destino de uma nova modalidade de turismo recente, o ecoturismo que envolvia as cidades de Lençóis, Andaraí e Mucugê, principais destinos turísticos da região. Da década de 1990 até os dias atuais outros destinos turísticos foram se consolidando na Chapada Diamantina, a partir do Programa de Desenvolvimento Turístico da Bahia - PRODETUR – BA I e II que posteriormente passou a integrar outro programa macrorregional envolvendo os estados do nordeste e parte do estado de Minas Gerais, o PRODETUR-NE, cujo objetivo era a captação de capital internacional para a implantação de infraestrutura turísticas na região nordeste. (BRITO, 2005). O PRODETUR-BA dividiu o estado da Bahia em sete zonas turísticas, dentre elas a Zona Turística da Chapada Diamantina e definiu o conceito de Centro Turístico Integrado cujas diretrizes são “o meio natural como atração principal e a concentração de turistas sem massificação respaldados numa adequada legislação de uso do solo e de preservação dos recursos naturais”. (BAHIA, 1994, p. 4) para isso deveriam ser criadas Áreas de Proteção Ambiental – APAs, em cada zona turística. (BRITO, 2005). A Zona Turística da Chapada Diamantina foi dividida em cinco circuitos: “o do Diamante, do Ouro, da Chapada Norte, da Chapada Sul e da Chapada Velha”. (BAHIA,

14 Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (atual IPHAN)

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1993, p. 87), com o intuito de redistribuir as vantagens do turismo para outros municípios corrigindo a concentração que ocorre na cidade de Lençóis (BRITO, 2005). Iraquara compõe o Circuito do Diamante juntamente com os municípios de Lençóis, Mucugê, Andaraí, Palmeiras, Seabra e Itaitê. Dentre os atrativos naturais pode-se destacar as cavernas, popularmente conhecidas como grutas, que lhe renderam na década de 1990 o título de “Cidade das Grutas” e o Complexo Turístico da Pratinha.

Figura 11 - Caverna da Torrinha.

Fonte: Caminhada Guiada, 2015.

De acordo com Neta (2004), “foram catalogadas 204 cavernas pelo geólogo Aloísio Cardoso, contratado pela prefeitura para avaliar o potencial espeleológico do município que se apresenta como um dos maiores do Brasil”. (NETA, 2004, p. 87) 15 O Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas - CECAV , órgão subordinado ao Icmbio revelou que o município de Iraquara possui 98 cavidades naturais mapeadas. Destas destacam-se a Gruta Lapa Doce, Gruta da Fumaça, Gruta Manoel Ioiô, Gruta Azul, Gruta da Pratinha e Caverna da Torrinha destinadas ao turismo espeleológico.

(Figura 10).

15 Dado disponível em: http://www.icmbio.gov.br/cecav/canie.html . Acesso em 20.01.2016

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6. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS O desenvolvimento do presente estudo baseou-se nos pressupostos da pesquisa social. Minayo, et all (2010) salienta que o objeto das ciências sociais é histórico, ou seja, cada sociedade humana existe e se constrói num determinado espaço e se organiza de forma particular e diferente de outras. A pesquisa social, segundo a mesma autora, busca compreender a sociedade a partir da sua provisoriedade, dinamismo e especificidade. Por esse motivo ela é especialmente qualitativa, pois “aborda o conjunto de expressões humanas constantes nas estruturas, nos processos nas representações sociais, nas expressões da subjetividade, nos símbolos e significados.” (MINAYO, et all, 2010, p. 14). Dentre as modalidades de pesquisa qualitativa a que melhor ofereceu subsídios para essa investigação foi a pesquisa participante que consiste na inserção do pesquisador no ambiente natural de ocorrência do fenômeno e de sua interação com a situação investigada, conforme definição de Peruzzo (2003). Corroborando essa ideia, Rocha & Aguiar (2003) afirmam que a pesquisa participante requer o desenvolvimento de metodologias onde pesquisador e pesquisado passam a ser “coautores do processo de diagnóstico da situação-problema e da construção de caminhos para o enfrentamento e solução das questões, capazes de transformar a realidade.” (ROCHA: AGUIAR, 2003, p.66). A pesquisa envolveu etapas em gabinete e campo. As etapas desenvolvidas em gabinete consistiram em: a) Pesquisa bibliográfica para a construção do referencial teórico metodológico; b) Pesquisa documental para o diagnóstico da área de estudo; c) Contextualização histórica e socioambiental da área de estudo; d) Construção do planejamento das oficinas participativas.

A etapa em campo contemplou os seguintes procedimentos: a) Oficinas participativas com grupo focal para a construção do Inventário Geral dos Bens Culturais e da Cartografia Social; b) Caminhadas guiadas; c) Preenchimento dos formulários do INRC para a construção do inventário geral dos bens culturais; d) Entrevistas.

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O fluxograma 01 sintetiza as etapas dos procedimentos metodológicos:

Fonte: A autora (2016) Os procedimentos metodológicos planejados à luz da pesquisa participante envolveu a seleção de um grupo focal para que se contemplasse o objetivo proposto de construção da cartografia social da paisagem cultural do município de Iraquara - BA a partir da participação social.

6.1 O GRUPO FOCAL: CONDUTORES TURÍSTICOS DO MUNICÍPIO DE IRAQUARA O grupo focal, segundo Minayo et al (2010) é uma técnica que consiste em reuniões, aqui denominadas de oficinas participativas, com um pequeno grupo de interlocutores, permitindo ao pesquisador construir uma série de possibilidades de informações que lhe permitem levar em conta várias opiniões sobre o mesmo assunto e obter mais informações sobre a realidade. Além disso, o grupo focal permite construir consensos sobre opiniões divergentes estimulando a argumentação, a reflexão e o diálogo participativo. (MINAYO, et all, 2010) Considerando as possibilidades apresentadas, foi proposta para essa investigação a formação de um grupo focal a partir dos moradores do município que desenvolviam a

55 atividade de condutores turísticos do município de Iraquara. Esses moradores são detentores do conhecimento histórico e cultural do município, muitos deles descendentes diretos dos garimpeiros e tropeiros e comerciantes, primeiros ocupantes do território que através da oralidade e manutenção das manifestações populares, mantêm vivas as memórias do lugar. Organizados através da AICTUR - Associação Iraquarense dos Condutores de Turismo a associação é formada por 54 membros, sendo 17 do sexo feminino e 37 do sexo masculino, com faixa etária de aproximadamente 30 anos. O mais velho tem 58 anos de idade e o mais jovem, 18 anos. O período de dezembro a fevereiro concentra o maior fluxo turístico, o que ocorre também nos finais de semana e feriados. Não foram disponibilizados os dados oficiais, mas, segundo entrevista realizada com o presidente da AICTUR, no ano de 2014, a Gruta Lapa Doce vem recebendo a cada ano um número maior de visitantes.16 Os membros da AICTUR aceitaram o convite para participar da pesquisa como uma forma de compartilhar os conhecimentos tradicionais sobre a natureza, os costumes e tradições a partir das técnicas da Cartografia Social. A noção de participação está relacionada a um processo, no qual o indivíduo se reconhece como parte integrante de um determinado grupo social e que se sinta motivado a fazer parte desse processo. Para isso é necessário compreender aspectos fundamentais, dentre eles, o estímulo que se dá a determinado grupo social em relação a formas de participação, levando em conta o contexto em que ele se insere, o aspecto temporal na comunidade e as formas em que se apresentam expressas em manifestações diversas. (TASSARA, 2002). Apoiado nas ideias de Tassara (2002) a escolha do grupo focal baseou-se no conhecimento diferenciado que os condutores turísticos possuem sobre o município incluído saberes sobre a paisagem natural e a historicidade através do conhecimento acumulado ao longo dos anos, a representatividade que os mesmos exercem perante a sociedade iraquariense ao desenvolver o papel de anfitrião para visitantes que buscam conhecer o município. Outra característica relevante considerada nesse estudo foi o fato de que os mesmos estão organizados em uma associação juridicamente constituída formada majoritariamente por moradores, naturais do município, sendo que os mais velhos, pioneiros nessa atividade,

16 Dados fornecidos pelo Presidente da AICTUR em entrevista concedida em 26/05/2016.

56 atuam nessa atividade há aproximadamente 28 anos, e seus descendentes (filhos e netos) constituem a ala mais jovem da associação, revelando o sentido de continuidade e tradição nesse ofício. Informações sobre as transformações espaciais e sociais dos modos de vida anteriores ao advento do turismo, as tradições e costumes que se perderam no tempo, os problemas atuais, os marcos históricos e a leitura de mundo que os mesmos fazem diante das mudanças ocorridas no território corriam o risco de se perder, pois estavam guardados na memória individual dos membros mais antigos do grupo e os mais jovens desconheciam boa parte dessa história por não ter havido a oportunidade de partilha e construção de conhecimentos. A Cartografia Social proposta nessa investigação propôs construir nas oficinas participativas um ambiente favorável ao dialogo, ao encontro de gerações para a troca de saberes e assim sintetizar e espacializar nos mapas participativos as informações históricas e culturais evidenciadas pelo grupo focal.

6.2 MAPEAMENTO PARTICIPATIVO E SIG’S PARTICIPATIVOS

O mapeamento participativo pode ser entendido como uma forma de espacializar o conhecimento considerando as categorias e classificações locais, os modos de vida e de usos dos recursos naturais pelo grupo social envolvido tendo como princípio a interlocução cultural e científica. (CARDOSO:GUIMARÃES, 2012). Dessa forma, o mapeamento participativo apresentado foi delineado com o intuito de espacializar as informações elencadas pelo grupo focal nas oficinas participativas, nas entrevistas e nas caminhadas guiadas referentes aos conhecimentos sobre a paisagem cultural, o meio físico, a localização dos bens culturais e às memórias dos lugares. O desafio a ser superado nessa pesquisa consistia em aliar o conhecimento do grupo focal a cerca da sua paisagem cultural às técnicas de representação espacial capazes de atender às expectativas do grupo. Dessa forma o uso do Sistema de Informações Cartográficas – SIG disponíveis nos bancos de dados oficiais do IBGE (2010) serviram de base para o desenvolvimento de uma interface gráfica que associasse os mapas participativos aos SIG’s disponíveis. O resultado obtido foi um SIG Participativo composto pelas referencias culturais, sua localização, vias de acesso, elementos relevantes d paisagem como rios, cachoeiras,

57 pontos de referências geográficas representadas graficamente por uma legenda elaborada pelos mesmos autores. Os SIG’S Participativos também chamados de EtnoSIGs são um Sistema de Informações Geográficas construídos a partir da conjugação dos conhecimentos locais com as ferramentas de análise espacial e sensoriamento remoto. (TRANCOSO, et al, 2012). O processo de construção do SIG Participativo consistiu na interpretação da imagem de satélite e na sobreposição dos mapas participativos compondo a Cartografia Social aqui apresentada. Para isso foram selecionados os seguintes materiais:  GPSMAP Garmim 62 sc;  Software Arcsgis 10.3;  Software de pré e pós processamento de imagens Envi 4.0;  Material de Desenho (lápis de cor, hidrocor, canetas colorida, lápis de cera);  Papel vegetal;  Lápis de cor, canetas coloridas, giz de cera;  Software de cartografia colaborativa Google Earth Pro.  04 cenas do município de Iraquara capturada pelo instrumento LANDSAT 5/OLI FTP. Órbita/Pontos 217/068 e 217/069 capturadas em 4/08/2015 e 218/068; 218/09 capturadas em 10/02/2015, disponibilizadas gratuitamente pelo INPE. As cenas foram pós processadas com o auxílio do software ENVI 4.0, formando o mosaico final da imagem, como mostra a Figura 12.

Os SIGs Participativos elaborados nas oficinas deram origem aos mapas temáticos auxiliados pelo software Google Earth Pro, em campo, o que tornou mais fácil a interpretação da imagem de satélite (Figura 11) por permitir a interatividade com o usuário, principalmente na localização dos alvos com maior precisão e detalhamento graças à possibilidade de manipulação da escala cartográfica do software.

58

Figura 12 – Imagem LANSAT 5. Bandas R2G3B4. Município de Iraquara-BA.

Fonte: PPGM. Autora Bonfim (20

59

6.3 AS OFICINAS PARTICIPATIVAS

As oficinas participativas foram planejadas de modo a incentivar o grupo focal a resgatar a memória coletiva sobre a paisagem cultural de Iraquara, identificar suas referências culturais e refletir sobre as condições de preservação do patrimônio cultural do município de Iraquara, elencados pelo grupo focal. Foram realizadas no período de 18/11/2015 a 20/01/2016, sete oficinas, conforme o fluxograma 02. A oitava oficina destinada à avaliação e validação da Cartografia Social pelo grupo focal, será realizada após a defesa.

Fluxograma – 02 – Oficinas Participativas.

OFICINA 02 Mapeando a nossa cultura

OFICINAS

PARTICIPATIVAS OFICINA 04 Construindo trilhas de soluções

OFICINA 06 Identificando oportunidades

Fonte: A autora (2016). As oficinas participativas foram precedidas de ações que envolveram os donos dos empreendimentos turísticos e a presidência da associação dos condutores de turismo do

60 município de Iraquara aos quais foram feitos os primeiros contatos com o intuito de promover a mobilização do grupo focal para a participação das oficinas. Vale salientar que já havia uma relação de proximidade e colaboração com os membros da AICTUR a partir das pesquisas anteriores realizadas no município desde o ano de 2008. Após o primeiro contato foi possível agendar a data para a realização da primeira oficina para formalizar o convite ao grupo focal, apresentar a pesquisa e os objetivos a serem alcançados. (Figura 13).

Figura 13 – Reunião para apresentação da pesquisa e convite ao grupo

Fonte: Viagem de campo, 2015.

As atividades desenvolvidas nas oficinas participativas e na caminhada guiada estão especificadas nos quadros abaixo seguidos, respectivamente, da galeria de fotos dos momentos vivenciados.

61

Quadro 02 – Oficina 01 - Inventário Geral

OBJETIVOS PÚBLICO ALVO PARTICIPANTES MATERIAIS OBJETIVOS ALCANÇADOS PROPOSTOS Apresentar a pesquisa e 41 seus objetivos ao grupo Grupo focal 36 guias associados; Datashow, computador, Aceite do grupo focal para focal; composto pelos 02 representantes de lista de inscritos nas participar da pesquisa;

Condutores uma organização não oficinas, lista de Convidar a AICTUR a turísticos e governamental que presença máquina Levantamento Geral das referências

participar da pesquisa. proprietários de trata da cultura do fotográfica, gravador, culturais do município. empreendimentos município; computador. turísticos. Demais, cônjuges e Relação dos informantes-chave. Identificar os bens filhos dos condutores

culturais do município – turísticos; Material Produzido:

Inventário Geral Inventário

- Levantamento Geral. Equipe de apoio Quadro geral dos bens culturas do

APRESENTAÇÃO Fabio Bandeira, município Identificar os informantes- orientador da

Oficina 01 chave para a aplicação do pesquisa; INRC Facilitadores: Israel Oliveira Junior e Régys Fernando,

62

Figura 14 – Galeria de fotos da construção do inventário geral e mapas temáticos.

Fonte: Viagem de Campo, 2015.

63

Quadro 03 - Oficina 02 – Mapeando a nossa cultura

OBJETIVOS PÚBLICO ALVO PARTICIPANTES MATERIAIS OBJETIVOS ALCANÇADOS PROPOSTOS

Grupo focal 27 Papel metro, lápis, Seleção dos bens culturais a serem

hidrocor, pincel inventariados por votação simples: Seleção dos bens culturais Divididos em 03 atômico, papel oficio, a serem inventariado. subgrupos: lápis de cera, lápis de Seleção Final: cor, máquina 1º lugar - Cavernas, grutas e águas – Localização das Grupo 01 – fotográfica, gravador, Patrimônio Natural;

de Iraquara de referências culturais na Fumacinha computador, lista de 2º lugar - Sítios arqueológicos e

imagem de satélite; Grutas presença. Estrada Real– Patrimônio Material; Cavernas 3º lugar - Terno de Reis – Patrimônio Construção dos mapas Águas de Iraquara Imaterial.

Mapeandonossa a cultura participativos temáticos

- Grupo 02 – Material Produzido: Junto e Misturado

Sítios arqueológicos Mapas participativos temáticos com a Paisagem Cultural Paisagem localização dos bens culturais Oficina02 Grupo 03 – selecionados por subgrupo. Desbravadores de Iraquara Festa de Reis e Estada Real

64

Figura 15 – Galeria de Fotos da construção dos mapas temáticos

Fonte:. Viagem de Campo, 2015.

65

Quadro 04 - CAMINHADAS GUIADAS OBJETIVOS PÚBLICO ALVO PARTICIPANTES MATERIAIS OBJETIVOS ALCANÇADOS

PROPOSTOS

Aula prática sobre o uso Guardiões das 04 Máquina fotográfica, Treinamento GPS - OK do GPS. referências condutores gravador, GPS, culturais. selecionados pelo Formulários INRC Preenchimento dos formulários do

de Iraquara de Caminhada guiada para o grupo focal INRC conforme os bens georeferenciamento das selecionados - OK referências culturais selecionadas e Equipe de apoio: Entrevistas aos guardiões das preenchimento das fichas Professor Gemicrê referências culturais. – OK do INRC. Nascimento - UEFS Banco de imagens – OK

Paisagem Cultural Paisagem Identificação e documentação das referências culturais.

Material Produzido: Registros

audiovisuais,

Identificando o nosso Patrimônio Cultural (campo) Identificandonosso o Patrimônio Caminhada guiada

66

Figura 16 – Galeria de Fotos das caminhadas guiadas.

Fonte: Viagem de campo, 2015.

67

Quadro 05 - Oficina 03 – Mapeando problemas e conflitos

OBJETIVOS PÚBLICO ALVO PARTICIPANTES MATERIAIS OBJETIVOS ALCANÇADOS PROPOSTOS

Grupo focal 15 Máquina fotográfica, Identificação dos problemas e

Identificar os principais gravador, GPS, conflitos, suas causas e efeitos na problemas e conflitos que Formulários INRC paisagem cultural. comprometem ou

ameaçam e salvaguarda das referências culturais do município; Material produzido:

Quadro síntese; de Iraquara de Legenda temática Seleção de fotos para a cartografia social

Mapeando problemas e conflitos conflitos e problemas Mapeando

Paisagem Cultural Paisagem

Oficina 03

68

Figura 17 – Galeria de fotos. Oficina Conflitos e problemas.

Fonte: Viagem de Campo, 2015.

69

Quadro 06 - Oficina 04 – Mapeando trilhas de soluções OBJETIVOS PÚBLICO ALVO PARTICIPANTES MATERIAIS OBJETIVOS ALCANÇADOS PROPOSTOS

Analisar a partir das Grupo focal 16 Papel metro, lápis, Construção de propostas de que fotografias tiradas na hidrocor, pincel visassem as soluções dos problemas e caminhada guiada e atômico, papel oficio, conflitos identificados. vivências coletivas as lápis de cera, lápis de possibilidades de solução cor, máquina Espacializar nos mapas participativos

para os problemas e fotográfica, gravador, os conflitos, problemas e soluções. de Iraquara de

conflitos identificados. computador, lista de presença

Elaborar legenda com os Material produzido:

problemas, conflitos e Quadro síntese; Construindo trilhas de soluções soluções de trilhas Construindo

soluções. Banco de imagens para compor a – Seleção de imagens para a cartografia social.

Paisagem Cultural Paisagem Cartografia Social. Legenda temática.

Oficina 04

70

Figura 18– Galeria de fotos. Oficina Trilhas de Soluções.

Problemas identificados

Desenhando a legenda

Espacializando problemas e soluções

Fonte: Viagem de Campo, 2016.

71

Quadro 07 - Oficina 05 – Conversa sobre os Ternos de Reis Validando o mapa temático

OBJETIVOS PÚBLICO ALVO PARTICIPANTES MATERIAIS OBJETIVOS ALCANÇADOS PROPOSTOS

Identificar a situação dos Grupo focal 05 Datashow, Discussão do tema com o Mestre do grupos de Terno de Reis Mestres dos Papel metro, lápis, Terno de Reis do Pau D’Alho o que no município a partir da Ternos de Reis hidrocor, pincel enriqueceu a oficina.

fala dos Mestres de atômico, papel oficio,

Reisados do município lápis de cera, lápis de Preenchimento do INRC cor, máquina Validar o mapa fotográfica, gravador, Validação do mapa participativo do

participativo sobre os computador, lista de Terno de Reis. de Iraquara de

Ternos de Reis junto ao presença, Imagem de

informante convidado satélite Material produzido: georeferenciada Alteração da legenda do mapa participativo do Terno de Reis.

Conversa sobre os Ternos de Reis Reis de Ternos os sobre Conversa

Validandotemático mapa o

Paisagem Cultural Paisagem

Oficina 05

72

Figura 19– Galeria de fotos. Conversando sobre o Terno de Reis.

Fonte: Viagem de Campo, 2016.

73

Quadro 08 - Oficina 06 – Identificando oportunidades

OBJETIVOS PÚBLICO ALVO PARTICIPANTES MATERIAIS OBJETIVOS ALCANÇADOS PROPOSTOS

Papel metro, lápis, Identificação das oportunidades Refletir sobre as Grupo focal 08 hidrocor, pincel existentes a partir da atuação das

oportunidades atômico, papel oficio, instituições públicas e privadas no identificadas ao longo do lápis de cera, lápis de município. processo de construção da cor, máquina 1. Bahia Arqueológica - Projeto cartografia social; fotográfica, gravador, Circuitos Arqueológicos da computador, lista de Chapada Diamantina; presença, Imagem de 2. Sociedade Baiana de Espeleologia – SBAE;

de Iraquara de Identificar as ações já satélite 3. Espaço Cultural Casa de Tupã; existentes no município georeferenciada 4. Associação dos Condutores para a salvaguarda do Turísticos de Iraquara; patrimônio cultural do 5. As escolas municipais da Cultural município.

Identificando oportunidades Identificando Educação Básica.

– 6. Secretarias Municipais: Mapear as oportunidades no mapa participativo.

Paisagem Paisagem Formulação de propostas para a formação de parcerias entre os agentes

Oficina 06 sociais que atuam no município

Material Produzido: Legenda e espacialização no mapa participativo das oportunidades identificadas.

74

Figura 20– Galeria de fotos. Identificando oportunidades.

Fonte: Viagem de Campo, 2016.

75

Quadro 09 - Oficina 07. Finalizando o mapa participativo e construindo os SIG’S participativos

OBJETIVOS PÚBLICO ALVO PARTICIPANTES MATERIAIS OBJETIVOS ALCANÇADOS PROPOSTOS

Finalização do mapa Grupo focal 08 Computador, lista de Conclusão do SIG’S participativos

participativo e construção presença, máquina

do SIG’S participativos fotográfica, gravador, computador. Criação dos atributos para criação da layers no software de cartografia

digital de Iraquara de

Etapa de campo concluída.

mapa participativo e e participativo mapa Material produzido:

SIG’S participativos

Finalizando o o Finalizando

Paisagem Cultural Paisagem

-

construção do SIG’S construção participativos Oficina 07

76

Figura 21 – Galeria de fotos. Oficina de criação dos SIG’S participativos.

Fonte: Viagem de campo, 2016.

77

6.4 INRC – Inventário Nacional de Referências Culturais

A etapa de campo envolveu a coleta de informações para a construção do inventário geral das referências culturais do município, para isso buscou-se adaptar a metodologia desenvolvida pelo IPHAN para levantamento de bens culturais intitulado “Inventário Nacional de Referências Culturais – INRC” (IPHAN, 2000) aos objetivos e ao tempo da pesquisa. O INRC foi constituído com intuito de responder aos impasses referentes à “dicotomia entre os bens de pedra e cal”, ou seja, os monumentos arquitetônicos que constituem o patrimônio material e as demais manifestações culturais inseridas no cotidiano que ampliam o reconhecimento enquanto patrimônio cultural, para os bens imateriais. (CORSINO, 2000). O INRC é uma importante ferramenta para identificar e documentar os bens culturais de um determinado lugar e possui formulários detalhados para a descrição a partir de documentos, fotografias, questionários, entrevistas, fichas de identificação e outros. Atendendo às necessidades da investigação foram selecionados os seguintes formulários do INRC:  Ficha de identificação de lugar  Ficha de identificação de Localidade;  Ficha de Identificação de Edificações;  Ficha de Identificação do Sítio;  Questionários de Identificação de Edificações;  Questionários de Identificação de Celebrações;  Bens culturais inventariados;  Contatos (Formulário para Entrevistas aos informantes). Os formulários foram avaliados e reformulados a partir da disposição dos dados existentes nas fontes primárias e secundárias, resultando num formulário conciso, porém com a mesma qualidade de informações necessárias para o inventariamento dos bens culturais, expostos nos anexos desse relatório técnico.

6.5 CAMINHADAS GUIADAS (“Guide Tour”)

A caminhada guiada conforme Vasconcelos (2003) é uma atividade que requer a presença de um intérprete devidamente treinado para acompanhar o visitante. A

78 eficiência deste tipo de trilha é determinada pela capacidade do guia. Em uma caminhada guiada há orientação sobre o ambiente, buscando identificar as relações entre os itens observados no passeio. O principal objetivo das caminhadas guiadas foi registrar os conhecimentos dos condutores sobre a paisagem cultural alinhando os conhecimentos tradicionais associados ao uso de técnicas para a identificação, georeferenciamento e documentação dos bens culturais realizados através dos formulários do INRC. Esse conjunto de metodologias subsidiaram as oficinas participativas e contribuíram para a construção do inventário geral dos bens culturais, exposto no item Resultados. Além do aspecto prático, as caminhadas guiadas tiveram também um caráter subjetivo ao aproximar o pesquisador do sujeito pesquisado. As conversas em espaços não formais tenderam a estreitar os laços de confiança entre as partes que compartilharam informações sobre a natureza, os lugares, as pessoas, os costumes, os sentimentos e o cotidiano do grupo pesquisado. Nessas conversas foi possível identificar os laços de identidade e o sentimento de pertencimento com as paisagens e os bens culturais a partir dos sentidos que os informantes, nesse caso, os condutores turísticos, estabeleciam com os lugares compondo um importante banco de dados a serem considerados na pesquisa e que na maioria das vezes o pesquisador não consegue prever no seu planejamento, mas que representam as “teias” de ligação que preenchem os espaços entre o tema, os objetivos, os sujeitos e o resultado da pesquisa. As caminhadas guiadas possibilitaram a formação de um banco de imagens utilizado nas oficinas participativas.

6.6 PÓS-PROCESSAMENTO DO MAPEAMENTO PARTICIPATIVO E EDITORAÇÃO DA CARTOGRAFIA SOCIAL

Finalizada a etapa de campo seguiu-se a etapa de gabinete para a criação o tratamento e editoração dos mapas participativos temáticos e da Cartografia Social. O mapeamento participativo e os atributos criados pelo grupo focal foram inseridos na plataforma do software de cartografia digital e posteriormente tratados nos softwares de editoração gráfica resultando na Cartografia Social da Paisagem Cultural de Iraquara.

79

80

7. RESULTADOS

A proposta de construção de uma cartografia social em que os autores seriam o próprio grupo focal foi o fator motivacional para o grupo, pois a maioria expressou o desejo de aprender a mapear elementos que estão além da localização de fenômenos físicos. A produção dos mapas participativos foi compreendida como a possibilidade de mapear sentimentos, problemas, conflitos, soluções e oportunidades de reflexão sobre o papel que os mesmos desempenham no município. A exposição de temas e as discussões realizadas nas oficinas participativas subsidiaram os resultados da pesquisa dando origem ao Inventario Geral dos Bens Culturais do Município organizados em tabelas e gráficos. O inventario geral possibilitou a seleção dos bens culturais mais expressivos para o grupo focal constituindo a base para a construção da Cartografia Social da Paisagem Cultural do Município de Iraquara – BA

7.1 LEVANTAMENTO PRELIMINAR DAS REFERÊNCIAS CULTURAIS

O levantamento preliminar das referências culturais elencados pelo grupo focal identificou 44 bens culturais no município entre o patrimônio natural, material e imaterial. Itens como culinária, artesanato, benzedeiras, festas populares, festas religiosas, raizeiros, parteiras e lugares históricos. As referências culturais elencadas expressaram o grau de diversificação e a potencialidade cultural do município conforme demonstram os quadros a seguir:

81

Quadro 10 – Referências Culturais de Iraquara

PATRIMÔNIO NATURAL LOCALIDADE GUARDIÃO

Cachoeira, rios, Riacho do Mel Caverna da Torrinha Torrinha Sr. Eduardo Rio Pratinha, Gruta Azul Pratinha Sr. Solon Gruta Lapa Doce, Sítio Lapão Arqueológico Lapa do Sol e Sra. Claudia Lima umbuzeiro.

Gruta da Fumaça Sr. Nonato

Gruta da Santa Marta Sr. Rochinha

Dolinas Santa Rita

PATRIMÔNIO MATERIAL LOCALIDADE GUARDIÃO

Casas históricas, Cartório, Feira Iraporanga livre. Estrada Real, Muros de pedras, Riacho do Mel casas históricas, do Riacho do Mel. Memorial do Pires Mulungú dos Pires Poço Manoel Felix, Casas Iraquara – Sede Históricas, Parque da Dolina, Pousadas, Resturantes, Festas Juninas. Cemitério, Casarão Restaurante Torrinha Igreja antiga, Casas antigas Água de Rega Primeiro prédio escolar, Cisterna Santa Rita

PATRIMÔNIO IMATERIAL LOCALIDADE GUARDIÃO

Reisado Iraporanga Reisado Filó da Pratinha, Lapão Artesanato de esteira de palha de licuri, Benzedeiras (Dona Santa). Pratinha Dona Santa Folia de Reis de Filó e da Pau D’Alho, Passagem Folia de Reis Zezinho de Maroca Iraquara Grupo Folclórico Pedro Sié: Lagoa Cercada Trançado Pau de Fita, Dança de Balaio e danças folclóricas. Vaquejada e Argolinha Cana Brava, Parnaíba, Santíssimo, Baixa da , Iraquara Festas Juninas Iraquara, Parnaíba, Santa

82

Rita, Iraporanga Capoeira Filhos da Terra, Ginga Mundo e Grupo de Fabrício

Comunidades Quilombolas Riacho do Mel Renascimentos dos Negros (Morenos) Lapão D. Zinha

Benzedeiras Santíssimo Sr. Ananias Rio Verde D. Nega Carreiro Sr. Carlinhos Mulungu dos Pires Teorina Parteira Ponto Certo Dona Nena Mãe Marieta Raizeiro Pedro Xarope Fonte: Elaborado pelo subgrupo 01 – Desbravadores de Iraquara.

Quadro – 11 - Bens Culturais do Grupo da Fumaça BENS CULTURAIS Cavernas São João antecipado e quadrilha Casas de Farinha Estrada Real GRUPO DA FUMAÇA Parque da Dolina Escola do Lapão Poço de Manoel Félix Terno de Reis Argolinha e Corrida de Jegue Esteiras de palha de coco Fonte: Elaborado pelo subgrupo da Fumaça

Quadro 12 – Bens culturais do grupo Juntos e Misturados

BENS CULTURAIS Gruta da Fumaça Gruta lapa Doce Caverna da Torrinha JUNTOS E MISTURADOS Parque da Dolina Casa de Farinha Zabelê Terno de Reis Cemitério da Torrinha Memorial Mulungu dos Pires Fonte: Elaborado pelo subgrupo Juntos e Misturados.

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7.2 REFERÊNCIAS CULTURAIS SELECIONADAS PARA A CARTOGRAFIA SOCIAL

A partir da quantificação dos bens culturais relacionados por cada subgrupo na oficina 01, chegou-se a seleção das referências culturais mais significativas para o grupo focal, obtendo-se o gráfico da figura 22.

Figura 22 - Gráfico da Quantificação dos bens culturais

Bens Culturais de Iraquara-BA 120

100

80

60

40

20

0 Cavernas e grutas águas, sítios Reizado, coluna Comunidades arqueológicos e Prestes Históricas, vaquejada Estrada Real

Fonte: Grupo focal, 2015.

De acordo com o gráfico as cavernas e grutas, considerados pela UNESCO como patrimônio cultural, na categoria patrimônio natural, ocupou a primeira posição no ranking sendo apontado por todos os subgrupos como o mais significativo, seguido das águas de Iraquara, sítios arqueológicos e Estrada Real, ocupando a segunda posição. Reisados, Coluna Prestes, Comunidades Históricas e Vaquejadas assumiram a terceira posição no ranking sendo lembrados ao menos por um dos subgrupos. A relação final das referências culturais foi estabelecida por votação (maioria simples) obtendo-se o seguinte resultado:

 1º lugar - Cavernas, grutas e águas – Patrimônio Natural;  2º lugar - Sítios arqueológicos e Estrada Real– Patrimônio Material;  3º lugar - Terno de Reis – Patrimônio Imaterial.

84

O critério utilizado pelo grupo focal baseou-se na quantidade de bens culturais espacializados em diferentes áreas do município. De acordo com o grupo, o critério adotado permitiu evidenciar um maior número de povoados, o que promoveu uma maior representatividade na construção da Cartografia Social.

Figura 23 – Seleção dos bens culturais.

Fonte: Viagem de Campo, 2015

O levantamento preliminar permitiu que o grupo focal desempenhasse o papel de interpretes do patrimônio cultural, pois além de selecionar a escolha de cada bem identificando os sentidos simbólicos e representativos de uma história que a eles pertencia culminando na construção de uma identidade coletiva. Não significa dizer que os demais bens não tenham relevância, infelizmente o tempo da pesquisa não permitiu abarcar a totalidade, mas apontou para um caminho seguro para a formulação de uma cartografia social que representou, de fato, o conceito de paisagem cultural para o grupo focal.

85

As referências culturais identificadas geraram os mapas participativos temáticos expostos nos itens a seguir.

7.3 MAPEAMENTO PARTICIPATIVO TEMÁTICO

O resultado do processo de reflexão a cerca da paisagem cultural delineado no inventario geral dos bens culturais culminou na elaboração de mapas culturais carregados de significados simbólicos e identitários revelados no mapeamento participativo temático. Os temas trabalhados formam: grutas, cavernas e águas de Iraquara; Sítios arqueológicos e Estrada Real e Ternos de Reis.

7.3.1 GRUTAS, CAVERNAS E AGUAS DE IRAQUARA O mapeamento das grutas e cavernas identificou as grutas da Fumaça, Lapa Doce, Manoel Ioiô e a Caverna da Torrinha, além das localidades que possuem atrativos relacionados com as águas de Iraquara como a Fazenda Pratinha, o Poço de Manuel Félix, e a do Mel.

Figura 24 – Mapa participativo das Grutas e Cavernas.

Fonte: Grupo focal, 2015.

86

7.3.2 SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS O mapeamento participativo identificou os sítios Lapa do Sol, Lapa do Caboclo, Lapa do Diva, também conhecido por Talhão, Paredão do Tatu, Torrinha I, Torrinha II, Sítio Santa Marta, Paredão do Zequinha, Sítio Lagoa Grande e Sítio Toca do Índio.

Figura 25 – Mapeamento participativo dos Sítios Arqueológicos.

Fonte: Grupo focal, 2015.

O mapeamento revelou a estreita relação de proximidade existente entre a localização dos sítios arqueológicos e as entrada de cavernas e abrigos sob a rocha. Foi observado também que parte dos sítios selecionados ficam próximos a corpos d´água revelando a importância dos recursos hídricos para a fixação temporária dos grupos de coletores -caçadores a quem se atribui a autoria das pinturas rupestres.

Figura 16 – Aplicação da oficina. Fonte: Viagem de Campo.

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7.3.3 ESTRADA REAL E TERNOS DE REIS

O grupo focal selecionou e especializou 06 grupos de Ternos de Reis localizados nos povoados e na sede identificados a partir das localidades: Terno de Reis do Pau D’Alho, Iraporanga, Lapão, Pratinha, Sede e Santíssimo e a Estrada Real localizada no povoado do Riacho do Mel. (Figura 26).

Figura 26 – Localizando a Estrada Real e os Ternos de Reis.

Fonte: Grupo focal, 2015.

O processo de criação do mapeamento participativo temático serviu para integrar os membros do grupo focal em torno de um objetivo comum: o reconhecimento da paisagem cultural como uma expressão representativa da cultura do grupo. Mais do que mapear os bens culturais essa atividade representou através dos mapas participativos sentimentos variados como saudade, alegrias, tristezas, vitórias, esperanças, fé, e isso só foi possível através dos mapas produzidos pelos cartógrafos do “espaço vivido” como salienta Lefebvre (2005), que conhecem, respeitam e produzem a sua paisagem cultural.

88

7.4 PROBLEMAS E CONFLITOS NA PAISAGEM CULTURAL DE IRAQUARA A oficina que mapeou os problemas e conflitos apresentou como resultado o quadro 13, fruto das discussões acerca da atuação do poder público, das instituições e da sociedade civil organizada. Cada item listado refletiu o grau de informação e maturidade do grupo para identificar as relações entre esses agentes e como ações e omissões se refletem na paisagem cultural. Quadro 13 - Problemas e conflitos na paisagem cultural de Iraquara

PAISAGEM CULTURAL PROBLEMAS/CONFLITOS

Ausência de Educação Patrimonial para a população local detentoras do patrimônio; GRUTAS E CAVERNAS Descaso do Poder Público com o patrimônio; Alto custo do plano de manejo para os pequenos empreendedores; Atividades conflitantes com a APA Marimbus-Iraquara Abertura indiscriminada de poços artesianos;

Poluição do lençol freático por defensivos ÁGUAS DE IRAQUARA agrícolas; Contaminação das águas subterrâneas; Presença de lixo próximo aos mananciais Falta de conhecimento da população sobre os sítios arqueológicos;

Pichações; SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS Fogueiras próximas aos painéis que causam danos irreversíveis; Ausência de sinalização e estrutura de para visitação Ausência de ações públicas para o monitoramento e fiscalização dos sítios; Ausência de informações sobre a Estrada Real; ESTRADA REAL Abandono; Falta de sinalização; Conservação precária Ausência de ações de conservação Perda da Tradição; Desvalorização pelo público jovem FOLIA DE REIS Falta de recursos financeiros; Falta de ajuda do poder público Fonte: Elaborado pelo gruo focal.

89

7.5 TRILHANDO SOLUÇÕES PARA OS PROBLEMAS E CONFLITOS

As discussões sobre os problemas e conflitos identificados na paisagem cultural de Iraquara resultaram na elaboração de propostas que possibilitassem a melhoria nas condições gerais de preservação das referências culturais, na perspectiva do grupo focal, sintetizados no quadro 14.

Quadro 14 - Problemas e Soluções para a preservação da paisagem cultural.

BEM CULTURAL PROBLEMAS SOLUÇÕES Ausência de Educação Promoção da Educação Patrimonial para a população Patrimonial nas escolas do

local detentoras do município; Grutas e Cavernas patrimônio; Estímulo à visitação para os Descaso do Poder Público moradores do município; com o patrimônio; Parceria público-privado para Alto custo do plano de auxiliar no manejo das grutas manejo para os pequenos e cavernas; empreendedores; Ausência de parceria público- privado Abertura indiscriminada de Fiscalização na zona rural a poços artesianos; fim de combater a abertura

Poluição do lençol freático indiscriminada de poços Águas de Iraquara por defensivos agrícolas; artesianos; Uso de agrotóxicos; Ação do Ministério público; Contaminação das águas Trabalho de conscientização subterrâneas; junto aos agricultores. Presença de aterros sanitários Falta de acesso da população Educação Patrimonial nas aos sítios arqueológicos escolas e na sociedade;

Falta de informação sobre a Estímulo a visitação para os importância dos sítios para a moradores locais; população local; Ação do Ministério Público; Sítios Arqueológicos Pichações; Mapeamento dos sítios Fogueiras próximas aos arqueológicos; painéis que causam danos Maior atuação do poder irreversíveis; público local para auxiliar na salvaguarda dos sítios Ausência de informações Educação Patrimonial nas sobre a Estrada Real; escolas e na comunidade do

Abandono; Riacho do Mel; Estrada Real Falta de sinalização; Manutenção da Estrada Real; Péssimo estado de Sinalização; conservação Formação de guardiões locais

90

Ausência de ações de para o monitoramento da conservação estrada; Atuação do Poder Público para obras de melhoria; Solicitação do tombamento da estrada Real junto aos órgãos IPAC e IPHAN Relocação do “Lixão” entre Iraporanga e Riacho do Mel.

Terno de Reis Perda da Tradição; Identificação dos Ternos Desvalorização pelo público existentes no município; jovem Revitalização dos Ternos de Falta de organização dos Reis; grupos para a definição dos Ajuda de custo aos grupos de roteiros Reisado;

Fonte: Elaborado pelo grupo focal.

7.6 IDENTIFICANDO OPORTUNIDADES

As atividades desenvolvidas nas oficinas participativas conduziu o grupo focal a refletir sobre seu município nos aspectos sociais, políticos, econômicos e culturais de forma integrada. As possibilidades extrapolaram o espaço restrito de discussões das oficinas participativas e alcançaram as esferas do planejamento público e da organização social, pois o grupo focal compreendeu que só a partir da participação social do engajamento nas discussões públicas é que a comunidade poderá ser ouvida. Os problemas relacionados aos bens culturais, até então, eram percebidos como responsabilidade apenas dos entes federativos, no entanto, após o exercício de planejamento proposto nas oficinas, o grupo focal pode perceber que as soluções e a criação de oportunidades poderiam começar a partir deles mesmos, da associação dos condutores, da sociedade de espeleologia, da sala de aula onde alguns atuam, dos diversos setores da sociedade civil, ou seja, a partir do incentivo à mobilização social. As informações elencadas identificaram os agentes sociais públicos e privados que já atuam no município. Essa reflexão deu origem ao quadro 15 e refletiu os anseios do grupo focal para a ampliação das discussões a cerca do patrimônio cultural de Iraquara, nele estão presentes as possibilidades para a integração das diversas instituições identificadas em torno de um bem comum.

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Quadro 15 – Oportunidades e parcerias.

OPORTUNIDADES FORMAS DE ATUAÇÃO POSSIBILIDADES DE PARCERIAS

Projeto Circuitos Arqueológicos da Chapada Parceria entre a SBAE, Casa de Tupã, AICTUR e pesquisadores para Diamantina; troca de conhecimentos e elaboração de projetos de Educação Grupo de pesquisa coordenado pelo Prof. Carlos Patrimonial para a comunidade local; Bahia arqueológica Etchevarne da UFBA em parceria com o IPAC. O Grupo Bahia Arqueológica desenvolve Realização de exposições fotográficas temáticas para a divulgação do atividades de educação patrimonial, voltadas patrimônio cultural do município; especialmente para o patrimônio arqueológico. No ano de 2012 realizou o cadastro de 57 sítios Divulgação da Cartografia Social desenvolvida pelo grupo focal arqueológicos nos órgãos responsáveis pelo como uma forma de contribuir para a Educação Patrimonial do monitoramento e salvaguarda do patrimônio município. arqueológico. Entidade civil sem fins lucrativos que promove treinamentos, estudos, encontros e palestras com temas variados sobre o patrimônio espeleológico Sbae - Sociedade baiana de do município. Formação dos condutores para a espeleologia melhoria dos conhecimentos e da prática sobre as cavernas do município de Iraquara. Espaço Cultural Casa de Organização não governamental que disponibiliza seu espaço para a comunidade Tupã ministrando cursos, oficinas e palestras sobre a cultura de Iraquara, Associação dos Condutores Guardiões do patrimônio natural do município e turísticos de Iraquara agentes de Educação Ambiental Escolas municipais e Projeto das Feiras de Educação Ambiental Parceria com as Secretarias municipais para a produção de encontros, secretarias municipais realizadas desde 2013 nas escolas do município. palestras e material informativo sobre o patrimônio cultural do Turismo, meio ambiente e município; Parceria com as escolas municipais para a realização de Educação visitas guiadas com os alunos das escolas municipais para as cavernas e sítios arqueológicos.

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7.7 INVENTÁRIO GERAL DAS REFERÊNCIAS CULTURAIS

O inventário geral das referências culturais de Iraquara documentou 16 referências culturais das 25 selecionadas pelo grupo focal, como mostra a Tabela 01. O resultado foi obtido a partir da triangulação dos dados e informações obtidas nas fontes primárias coletadas em campo, na pesquisa bibliográfica e nas entrevistas e levantamentos registrados nos formulários do INRC. Sua elaboração ocorreu concomitantemente às etapas de campo.

Tabela 04 – Referências Culturais registradas REFERÊNCIAS CULTURAIS REGISTRADAS INDICADAS Grutas e cavernas 04 04 Águas de Iraquara 02 05 Sítios Arqueológicos 08 09 Terno de Reis 01 06 Estrada Real 01 01 Total 16 25 Fonte: Inventário Geral dos Bens culturais de Iraquara, 2015.

As condições meteorológicas dificultaram o tráfico entre as estradas vicinais, limitando o acesso às referências culturais, em sua maioria, localizadas a zona rural, em lugares de difícil acesso.

7.7.1 GRUTAS E CAVERNAS

Iraquara recebeu na década de 1990 o título de “Cidade das Grutas” esse título está relacionado com a quantidade de cavidades naturais encontradas na sua paisagem cárstica, o que favoreceu o desenvolvimento da atividade turística. Essa foi a referência cultural apontada pelo grupo focal como a mais importante para eles. Segundo informações obtidas nas entrevistas aos guardiões desse patrimônio natural, a atividade turística iniciou em meados da década de 1980 após os investimentos do estado na criação da Zona Turística da Chapada Diamantina. O relato de uma moradora local evidencia essa transformação:

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“Esse turismo aqui nas cavernas é recente, eu vivi muitos anos aqui sem saber a riqueza que a gente tinha, pessoas de fora é que vieram dar valor a essa cavernas, meu tio me dizia, - lá no meu terreno, eu tô lá trabalhando, quando tá armando para chover tem uma gruta, e eu entro espero a chuva passar - só isso que eu sabia, mas não sabia o valor que tinha, ainda mas com as estalictites, estalagmites. Lençóis apoderou-se desses nomes, da Lapa Doce dizendo que pertencia a Lençóis, aí disseram não, pertence a Iraquara, mas Lençóis é quem fez a propaganda. Iraquara precisa tomar posse do que é seu.” (Moradora local) O município possui 98 cavidades naturais mapeadas pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas - CECAV17, dessas apenas 04 possuem autorização para a visitação controlada: Gruta Lapa Doce, Caverna da Torrinha, Gruta da Fumaça e Gruta Manoel Ioiô e foram essas mesmas localidades que constaram nos mapeamentos criados nas oficinas participativas. A gruta Lapa Doce, gruta da Fumaça e Caverna da Torrinha estão localizados no povoado do Lapão, distante aproximadamente 13 km da sede do município. A Gruta Manoel Ioiô, está localizada no povoado do Pau D’Alho, distante aproximadamente, 10 km da sede. Abaixo segue a descrição desses bens naturais a partir da triangulação de dados entre a documentação, entrevistas e o mapeamento participativo.

7.7.1.1 Gruta da Fumaça

A gruta da Fumaça é uma cavidade de pequeno porte, de fácil acesso. Devido às suas dimensões e fragilidade, só é possível a presença de 05 visitantes e 01 condutor, conforme as recomendações do Icmbio18. Desde o ano de 2000 a gruta está aberta para visitação. A Gruta da Fumaça recebeu esse nome graças às cores e disposição dos espeleotemas, em sua maioria, brancas e fortemente concentradas. (Figura 27).

17 Dado disponível em: http://www.icmbio.gov.br/cecav/canie.html. Acesso em 20.01.2016 18 Portaria Ibama no 015 de 23 de fevereiro de 2001. Disponível em http://www.sbe.com.br/leis/port1501.htm. Acesso em 20.01.2016

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Figura 27 – Gruta da Fumaça.

Fonte Caminhada Guiada, 2015.

O interior da caverna é ornado pelas formações típicas chamadas de estalactites, formações que surgem no teto da caverna em direção ao solo, e as estalagmites formações que surgem no solo em direção ao teto da caverna, o encontro dessas duas formações formam as colunas, abundantes na caverna. Essas mesmas colunas revelam o impacto da BR 122 sobre as formações. A vibração ocasionada pela passagem de automóveis sobre a rodovia provoca a fraturação da rocha e quebra dos espeleotemas, sendo essa a principal queixa do seu guardião. “Meu avô Joaquim dizia que a caverna era um tesouro e que devia ficar para os filhos, netos e bisnetos. Meu avô deixou para meu pai, meu pai para mim e eu vou deixar para meus filhos, netos e bisnetos” (Guardião da Gruta da Fumaça).

O depoimento do seu guardião revelou a relação do mesmo e de seus familiares com o lugar. A gruta foi uma herança de seus ancestrais e seu avô pediu para que ele guardasse a gruta para seus filhos e netos.

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7.7.1.2 Gruta Lapa Doce

“A gruta Lapa Doce possui dois roteiros um roteiro de 850 m abaixo, 72 m aproximadamente, ela inicia em uma dolina e termina em outra dolina. É uma caverna de sedimentos calcários, com espeleotemas, estalactites, estaligmites, cortinas, travertinos, helectites, flores de aragonita, em algumas áreas, agulhas de gipsita, basicamente os espeleotemas são os mesmos em todas as cavernas aqui do município, por que são os mesmos sedimentos, os mesmos minerais.”.(Guardiã da Gruta Lapa Doce.)

O artigo “Grutas de Iraquara (Iraquara, Seabra e Palmeiras), BA: um dos principais sítios espeleológicos do Brasil” de autoria dos pesquisadores da Universidade de São Paulo – USP, Fernando Verassani Laureano e Francisco William da Cruz Jr. (s.a) traz um estudo detalhado sobre a caverna. Segundo os autores, os levantamentos espeleológicos na região tiveram início em 1986, através das expedições franco- brasileiras lideradas pelo Grupo Espeleológico do Ceará - GEECE. (LAUREANO: CRUZ, s.a) O resultado dessa expedição foi a descoberta da Caverna Lapa Doce, naquela época, a maior do Brasil19. Outros pesquisadores desenvolveram estudos morfológicos e geoespeleológico nos sistemas Lapa Doce e Lapa da Torrinha, a exemplo de Ferrari (1990) e Rubbioli (1995). Esses estudos serviram de referências para inúmeras dissertações de mestrado e teses de doutorados sobre a espeleologia baiana. A entrevista com a guardiã da Gruta Lapa Doce esclareceu que a atividade turística começou com o seu pai, o Sr. Lima, grande estudioso da espeleologia local e proprietário da fazenda Lapa Doce. Ela conta que no inicio a ideia da visitação pública não o agradava por entender que aquele espaço deveria ser usado exclusivamente para pesquisas científicas, pois temia os impactos que a atividade poderia ocasionar. Só após a liberação do IBAMA determinando o limite de carga e as condições de visitação controlada é que a caverna foi aberta à visitação pública no ano de 1986. “Inicialmente, final da década de 80, para a década de 90 é que iniciou o espeleoturismo totalmente sem estrutura, eles viam as cavernas, os próprios guias de Lençóis vinham e eles mesmo que guiavam dentro da caverna não tinham os guias daqui, não e os que começaram a ter que são os mais velhos, no caso era Zequinha, mais algum outro que já estava aqui, Epaminondas que tem vinte e tantos anos como guia, eles ficavam aqui e às vezes alugavam o lampião

19 Informações disponíveis no site http://sigep.cprm.gov.br/sitio018.pdf . Acesso em 20 de jan. 2016.

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aqui na fazenda, mas eles não desciam não, depois que realmente começou essa coisa mais ordenada.” .”.(Guardiã da Gruta Lapa Doce.) Na atualidade, a Gruta Lapa Doce é um dos destinos mais visitados na Chapada Diamantina e um exemplo em preservação ambiental. Os filhos do Sr. Lima deram continuidade a atividade turística intensificando os cuidados com a gruta em sua memória. “A área da fazenda está em APA isso já uma coisa, meu pai que já trabalhou muito nesses órgãos IBAMA, CECAV era nato dele isso, ter a parte de preservação e aí a gente só deu sequência. A parte atrás da caverna a gente tirou para os 20% da RPPN, que a lei exige para preservação permanente [...] posso garantir que há uns 30, 40 anos ela está preservada.”(Guardiã da Gruta Lapa Doce.)

A fazenda Lapa Doce está em processo de implantação da Reserva Particular de Proteção Permanente – RPPM, e em vias de adoção do Plano de Manejo Espeleológico que garantirá a preservação do ecossistema local e dos sítios arqueológicos localizados na área, conforme entrevista à guardiã da caverna que também exerce a função de agente patrimonial local. “O desafio é o plano de manejo que abrande todas as áreas arqueologia, paleontologia, espeleologia, biologia, esse plano de manejo, ele vai fazer o manejo de todas as áreas, não só do que está dentro da caverna mas do entorno. Ele vai avaliar como está a estrutura na superfície, não só no subterrâneo. Ainda não sabemos o perímetro de abrangência, só depois do estudo.”(Guardiã da Gruta Lapa Doce.)

Muitos documentários e matérias jornalísticas já foram gravadas no local, além, de cenas importantes em produções cinematográficas para a televisão e o cinema.

7.1.2.3 Gruta Manoel Ioiô

A Gruta Manoel Ioiô está localizada na fazenda Pau D’ Alho no povoado de mesmo nome, distante aproximadamente 8 km a sudeste da sede do município de Iraquara. A caverna recebeu esse topomínio em homenagem ao Sr. Manoel Alves da Silva, proprietário da fazenda cuja habilidade com o brinquedo “ioiô” lhe rendeu o título, segundo relato do seu guardião. Pereira (2008) afirma que a descoberta da cavidade ocorreu por acaso por seu proprietário em suas saídas para caça. O Sr. Manoel Ioiô deparou-se com um “enorme buraco no centro da fazenda e resolveu adentrá-lo deparando-se com um lindo salão

97 medindo 1.600 m2 com lindas formações rochosas, com vários formatos.” (PEREIRA, 2008, p. 74) Após o seu falecimento as terras passaram para seu procurador legal e seus filhos, encantados pela beleza do local resolveram abrir à visitação pública no ano de 1990. Os estudos de Cruz Jr (1998) fazem referência à Gruta Manoel Ioiô, ou Ioiô, como citado no estudo. O autor afirma que: “Há uma correlação estatística entre a orientação do eixo das depressões e os segmentos de condutos, nos trechos referentes às cavernas Lapa Doce e Lapa da Torrinha, ao centro da área, e às grutas do Ioiô e Impossível, a sudeste, evidencia a direta associação entre a distribuição de cavernas e dolinas de abatimentos na área.” (Cruz Jr., 1998 p. 465). Rubiolli (1995) cita a gruta de Manoel Ioiô, em seus estudos sobre as outras cavidades naturais encontradas em Iraquara, “dentre elas a gruta do Ioiô com 4,0km de extensão”. (RUBIOLLI, 1995, pág. 06).

A entrevista ao guardião da gruta revelou dados sobre o inicio da visitação: “O turismo aqui já tem cerca de 18 anos. Antes o Manoel Ioiô naquela época usava a caverna para lanchar, tomar café aqui em casa era cheio de estalactites ele tirava pendurava no telhado. Destruindo sem saber que estava danificando um tesouro. Aí ficou meu pai. Eu e meu pai viu que aquilo era um tesouro que o Brasil e o mundo devia conhecer isso aqui. Ai juntemos eu mais meu pai, lutemos e conseguimos uma autorização do ibama, provisória e hoje taí já há muito tempo.” (Guardião da Gruta Manoel Ioiô)

O guardião demostrou preocupação com os rumos do turismo espeleológico no município a partir da exigência do IBAMA do Plano de Manejo para regular o uso e visitação das cavernas e seu entorno. Apesar de reconhecer a sua importância e necessidade, o guardião revela que os custos são muito elevados: “O Ibama hoje tá pegando no pé de todo mundo, precisando do plano de manejo muito caro, mas a vida tá continuando. Esse plano de manejo aí vai ser uma bomba, é muito caro, eu mesmo de minha parte não vou conseguir fazer. Tô vendo como vou fazer, vou chamar o INEMA pra ver o que eles vão me dizer.” (Guardião da Gruta Manoel Ioiô) O entrevistado informou também sobre os impactos gerados pelo desmatamento, agricultura irrigada e abertura indiscriminada de poços artesianos na zona rural do município, como mostra a figura 28. Em sua opinião, isso poderá impactar na qualidade das águas subterrâneas e no processo de formação dos espeleotemas, pois não há um estudo de impactos ambientais

98 por parte dos órgãos responsáveis, IBAMA e INEMA para controlar a quantidade de poços abertos tampouco o planejamento do uso das terras no entorno das cavernas: “Deveria ter muita vegetação, e não tem. A prefeitura deveria vir com muita muda de árvores e ajudar nisso ai. A irrigação também danifica isso, e o Ibama sabe disso o veneno que usa na agricultura, agrotóxico vai percorrer o solo e danifica nas formações vai impactar. Tem poço demais o Ibama devia ver isso, tem muito poço em um pequeno local. Eu acho que o Inema deveria ver isso, não só nas cavernas mas nos poços também.” (Guardião A)

Figura 28 – Desmatamento no entorno da Gruta Manoel Ioiô.

Fonte: Caminhada Guiada, 2016.

7.1.2.4 Caverna da Torrinha

A Caverna da Torrinha é citada pelos autores Laureano e Cruz Jr. (s.a) que chama a atenção para as formações de espeleotemas especiais: “A caverna que mais se destaca, até o momento, no contexto de variedade de formas e composição de seus depósitos químicos secundários é, sem dúvida, a Gruta da Torrinha. No interior de suas galerias é possível contemplar, além das formas mais comuns, espeleotemas menos populares e não menos singulares e belos como vulcões, flores de aragonita e o maior depósito de agulhas de gipsita de que se tem conhecimento em grutas brasileiras, contendo

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exemplares que superam os 50 cm de comprimento”. (LAUREANO: CRUZ JR., s.a. p. 465).

A caverna recebe visitação em todos os meses do ano, mas o período entre dezembro e fevereiro pode ser considerado com o de maior fluxo turístico. De acordo com a entrevista ao guardião da caverna, a atividade turística começou no ano de 1992, como uma alternativa de renda. “Nasci e me criei aqui, tenho 57 anos aqui na fazenda. Foi no ano de 1992 que comecei a receber os turistas, tem 23 anos. [...] primeiro a caverna precisava de proteção, a roça tava dando pouco resultado, na seca, perdia tudo, comecei a oferecer o passeio para não ter que sair daqui pra outro lugar para trabalhar, ficou como meio de ganhar um dinheirinho para a família. Botei uma placa na estrada e as pessoas foram procurando.”(Guardião da Caverna Torrinha)

Assim como a Gruta Lapa Doce, a caverna da Torrinha já foi cenário de documentários e matérias jornalísticas vinculadas em rede nacional, aumentando ainda mais o interesse dos visitantes em conhecê-la.

7.2.2.5 ESTADO DE PRESERVAÇÃO DAS CAVERNAS

De forma geral, as cavernas visitadas estão preservadas, pois os guardiões precisam atender as exigências previstas na Portaria IBAMA nº 15, de 23/02/2001, que regulamentou o uso turístico das cavernas da Chapada Diamantina. Entretanto os depoimentos dos guardiões e dos condutores turísticos apontaram para a necessidade de fiscalização dos órgãos competentes nas mineradoras e fazendas de agricultura irrigada a fim de viabilizar o estudo técnico de impactos ambientais gerados por essas atividades. O destino do lixo doméstico e dos eflúvios da indústria de biodiesel localizada no município também foi apontado como ameaças à preservação do patrimônio espeleológico. O uso de agrotóxicos na lavoura irrigada representa uma potencial ameaça a ao equilíbrio ecológico e à população que consome a água captada dos poços artesianos, principal fonte de água potável do município. Estudos científicos como Santos (2015) já demonstram a existência de metais pesados na água destinada ao consumo humano no município. Medidas socioeducativas e fiscalização por parte dos órgãos competentes foram apontadas para a sensibilização da população para a necessidade de preservação do meio ambiente.

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As cavernas são ambientes frágeis e abrigam espécies raras da fauna, a exemplo do bagre cego albino encontrado na Gruta Lapa Doce, a contaminação do lençol freático poderá ocasionar a perda dessa espécie rara de peixe, totalmente adaptado aos ambientes cavernícola.

7.7.2 OS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS

“A gente não sabe bem o que significa e quem fez, pode ter sido índios, em Iraquara tinha muitos índios, só com a datação para saber a idade.” (Condutor D)

“A gente não sabe bem o que significa e quem Iraquara possui um importante acervo de sítios de pinturas rupestres, segundo fez, pode ter sido índios, em Iraquara tinha informações do grupo focal, já foram identificados pelos moradores aproximadamente muitos índios, só com a datação (Raimundo Souza) 400 sítios. O Projeto Circuitos Arqueológicos da Bahia desenvolvido pela Bahia Arqueológica, coordenado pelo Prof. Etchevarne da UFBA vem realizando a identificação e monitoramento dos sítios arqueológicos em parceria com a comunidade local. No inventário geral foram selecionados 09 sitos de pinturas rupestres: Abrigo Lapa do Sol, Abrigo Santa Marta, Torrinha I, Torrinha II e Paredão do Tatu, Lapa da Diva, também conhecido por “Taião”, Lapa do Caboclo, Paredão do Zequinha e Pedra do Índio. Esses sítios estão localizados em propriedades particulares e a visita foi realizada com a autorização dos proprietários e acompanhados por condutores turísticos associados, apenas no Sítio Lagoa Grande o acesso foi livre. A caminhada guiada aos sítios arqueológicos contou com a participação de um especialista em Desenhos Rupestres, professor da UEFS e mestre em Desenho, Cultura e Interatividade que forneceu informações científicas sobre os sítios. De modo geral, os sítios apresentam características fisiográficas similares, são constituídos por paredões de calcário e os painéis estão dispostos ao longo desses paredões, em alguns casos, nos tetos dos abrigos. Durante a caminhada guiada foi possível identificar o predomínio das formas geométricas em todos os sítios. Outras formas reconhecíveis podem ser associadas a figuras humanas em grupo ou isoladas, mãos carimbadas, animais de grande e pequeno porte com a aparência de felinos e roedores. Outras formas recorrentes podem ser associadas a peixes, pássaros e mamíferos.

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As cores predominantes foram o preto e o vermelho, como mostra a figura 29. As cores branca e amarela apareceram em menor quantidade. Os relatos dos condutores apontam para a existência de centenas de sítios arqueológicos no município que ainda não foram identificados pelos IPHAN e pelo IPAC, eles sabem da urgência desse reconhecimento e monitoramento para a proteção dos sítios. Figura 29 – Pintura rupestre alusiva a uma figura humana. Iraquara.

Fonte: Caminhada Guiada, 2015.

A maioria dos sítios possui fácil acesso e estrutura de proteção frágil como a Lapa do Sol e a Torrinha, entretanto os guardiões desempenham o papel de educadores patrimoniais, responsáveis pela proteção desses espaços cada vez mais procurados pelos turistas, segundo relato da Guardiã Lapa do Sol: ”Hoje já existe turistas que vem exclusivamente para o sítio, nos últimos cinco anos já existe o turismo só para as pinturas rupestres. Já chega, já quer fazer, já vem de lá sabendo que existe o sítio, coisa que antes não tinha, mas hoje já vem aqui já diz, “Olha eu vim fazer gruta Lapa do Sol” (Agente patrimonial A)

Os demais sítios não possuem visitação e não apresentam estrutura de proteção. É possível perceber que o estado de conservação do entorno desses sítios são precárias.

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Em todos os sítios foram observadas a presença de pichações que podem datar de tempos mais remotos, anteriores às ações de salvaguarda adotadas pelos guardiões. Os sítios que não dispõem da ação dos guardiões apresentaram aparente nível de degradação antrópica como observados na Lapa do Caboclo e no sitio Lagoa Grande onde as fogueiras, o lixo e as pichações são abundantes. Os condutores estavam atentos às informações do professor convidado e formulavam questionamentos sobre a origem, técnicas de registro, materiais empregados e os significados das pinturas. Essas questões foram esclarecidas à luz das teorias sobre os sítios de arte rupestre e pesquisas realizadas no município. Os condutores sinalizaram a necessidade de maiores estudos e socialização de informações para o melhor entendimento sobre as pinturas rupestres. A experiência proporcionou momentos de reflexão sobre a necessidade de medidas urgentes de preservação e Educação Patrimonial a fim de garantir o que preconiza a legislação sobre os sítios arqueológicos enquanto bens da união assegurados pela Constituição Federal de 1988 no seu artigo 20, inciso X. A entrevista a um agente patrimonial do município revelou o descaso público local com os sítios arqueológicos: Eu faço um trabalho de preservação consciente, por causa da minha consciência e da minha educação como pessoa e ser humano e do valor que eu aprendi dos diversos anos, não por recomendação de nenhum órgão, não foi feita nenhuma capacitação, não existe capacitação - você faz isso, não pode aquilo,- você escuta em algum momento sobre a preservação do meio ambiente e o que faz parte do meio ambiente a gente consegue preservar. (Agente Patrimonial A)

Os sítios foram fotografados para serem apresentados nas oficinas a fim de socializar com os demais membros do grupo focal sobre as condições físicas dos mesmos, o estado de conservação, os problemas e as possibilidades de melhorias. As imagens compuseram um banco de dados que serão posteriormente disponibilizadas para a AICTUR. Foram elaboradas com o grupo focal fichas de registro para descrição dos sítios visitados a partir da interpretação dos informantes aliadas às informações técnicas sobre as características fisiográficas e icnográficas dos ambientes visitados. As fichas preenchidas em campo foram posteriormente digitalizadas em gabinete, constantes nos apêndices (B-J) desse relatório. A caminhada guiada evidenciou a necessidade de ampliação dos estudos sobre os sítios arqueológicos de Iraquara a partir da formação de uma equipe multidisciplinar

103 coordenados por arqueólogos e paleontólogos em parceria com as instituições públicas e privadas e a sociedade local para a formulação de um plano de gestão para o patrimônio arqueológico do município.

7.2.2.4 DANOS AO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO Na visita aos sítios arqueológicos foram encontradas situações muito graves que configuram danos ao patrimônio cultural, como foi identificado no Sítio Lagoa Grande e na Lapa do Caboclo.

Figuras 30 e 31 – Caminhada Guiada – Trilha de acesso ao Sítio Lagoa Grande

Fonte: Viagem de Campo, 2015

O sitio Lagoa Grande ofereceu fácil acesso. Está localizado às margens da Lagoa Grande e seu uso está direcionado para a pesca, caça e laser da comunidade local (Figuras 30 e 31). Próximos aos painéis de pintura rupestres foram encontrados vestígios de fogueiras onde foram evidenciados a perda definitiva dos mesmos pela ação direta do fogo. Os paredões de calcário na presença do fogo são calcinados e o depósito das fuligens impregnam a rocha, logo, as pinturas ali presentes são recobertas por esse material causando uma perda irreparável do patrimônio cultural. Segundo o relato dos condutores, são muitos os locais que apresentam as mesmas características. Outros danos identificados foram as pichações com nomes ou intervenções nas pinturas rupestres feitas com carvão, possivelmente proveniente das fogueiras ali encontradas. (Figura 32).

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Figura 32 – Desmontando as fogueiras. Danos ao painel.

Fonte: Viagem de Campo, 2015. O lixo também foi apontado como um problema, formado por garrafas pets e sacos plásticos que indicavam o uso frequente do local para o laser predatório. Os condutores afirmaram que também usam o local com suas famílias nos dias de folga e que na medida do possível, realizam a coleta de lixo. O estado geral de conservação do sítio é precário. Foram identificados locais onde a vegetação nativa recobria o painel provocando o fenômeno da bioclastia, definido por Teixeira (2009) como o processo pelo qual a rocha sofre fraturação graças a presença das raízes que se instalam nas fissuras das rochas. Algumas dessas fraturas estão sobre as pinturas rupestres, causando prejuízo ao painel. (Figura 33). Muitas ideias e propostas foram surgindo para a salvaguarda do sítio como a limpeza do local e dos painéis, a sinalização informando a presença de sítios arqueológicos e a instalação de cercas limitando o acesso ao sítio, além da necessidade de ações do poder público local e a urgência da Educação Patrimonial.

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Figura 33 – Detalhe da perda definitiva de parte do painel.

Fonte: Viagem de Campo, 2016.

Os condutores foram alertados sobre as consequências negativas de intervenção no sítio sem um estudo coordenado por profissionais especializados, nesse caso, os arqueólogos, tais intervenções realizadas sem o plano de gestão autorizado pelo IPHAN poderia agravar os danos ao patrimônio cultural ou causar outros ainda mais graves. O sítio Lapa do Caboclo, localizado no entorno de uma fazenda destinada ao agronegócio com o cultivo do café também apresentou problemas de conservação. Foram identificados danos graves aos painéis de pintura rupestre que revelam as consequências da ausência de planejamento territorial no uso das terras do município de Iraquara. O sítio é de difícil acesso e está localizado no interior de uma dolina íngreme margeada pelo Rio Preto. Os paredões foram usados pelos pintores primitivos para deixar as marcas de sua passagem no lugar. (Figura 34). Nesse sítio a caminhada guiada foi realizada sem a presença dos condutores do grupo focal, por uma medida de segurança e preservação do sigilo na identidade dos mesmos.

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Figura 34 – Cena antropomorfa e zoomorfa encontradas no Sítio Lapa do Caboclo.

Fonte: Viagem de Campo, 2016.

Apesar de não haver um estudo que comprove a causa principal dos danos observados nesse sítio é possível inferir sobre o uso e ocupação das terras situadas na parte superior da dolina que tem no cultivo e beneficiamento do café, sua principal atividade. Foi observado o manejo a plantação e a presença de sistema de irrigação por aspersão. Apesar do período de estiagem prolongada, observou-se o gotejamento constante de água que escorria no paredão de calcário. A água escorria pelos painéis de pinturas rupestres causando a perda definitiva de parte das pinturas presentes nos paredões. (Figuras 35 e 36).

Figuras 35 e 36 – Infiltração no paredão do sítio.

Fonte: Viagem de Campo, 2016.

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Na ocasião, não foram encontrados os responsáveis pelo empreendimento, a informação obtida com os funcionários do empreendimento foi que os mesmos não residiam no município, não sendo possível realizar a entrevista programada, nem averiguar a existência da licença ambiental para o uso econômico das terras, requisito necessário para os locais onde existem a presença de sítios arqueológicos, conforme a Portaria 230 do IPHAN de 17 de dezembro de 2002.

Figura 37 – Fogueira encontrada no Sítio Lapa do Caboclo .

Fonte: Viagem de Campo.

A presença de fogueiras também foi encontrada no sítio, frequentemente usado para a pesca, a caça e o laser da comunidade local, segundo informações do grupo focal. (Figura 37). Em alguns ponto foi possível verificar os danos causados pelo fogo que atingiram diretamente as pinturas rupestres. Todos os sítios visitados apresentaram problemas quanto à conservação, dentre eles destacam-se as pichações, fogueiras, erosão e fragmentação dos painéis, infiltrações, depósitos minerais e orgânicos sobre as pinturas rupestres. A maioria dos danos observados pode ser decorrente das ações naturais devido à tipologia rochosa, exposição dos painéis às intempéries, processos erosivos, dentre outras. As ações naturais surgiram e se desenvolveram num período relativo de tempo, entretanto os danos causados pela ação direta do homem como as pichações e as

108 fogueiras próximas aos painéis causaram perdas irreparáveis ao patrimônio arqueológico no instante que são realizadas. Vale salientar que parte das ações naturais que atingiram os sítios arqueológicos podem ter suas causas primárias nas ações do homem sobre o meio, a exemplo do desmatamento no entorno dos sítios que de maneira indireta pode acelerar a exposição dos painéis às intempéries pela redução da vegetação que sombreia os painéis. A ausência de um plano de gestão do patrimônio arqueológico e de ações socioeducativas sobre a importância do patrimônio arqueológico para as comunidades locais podem ser entendidas como uma das causas da degradação dos sítios de pinturas rupestres identificados na pesquisa. A Educação Patrimonial tende a sensibilizar a sociedade para a importância dos bens culturais e a necessidade de sua preservação. Nesse sentido as parcerias público- privada e as ações educacionais são indispensáveis para envolver a comunidade numa grande ação de preservação e valoração do patrimônio arqueológico do município. A emergência de formulação de políticas públicas para a gestão do patrimônio arqueológico e o zoneamento ambiental para o uso e ocupação das terras que protejam as especificidades naturais e culturais do município urge como prioridade. Os informantes lembraram a importância da escola nesse processo de formação de consciência coletiva. Vislumbraram ainda a possibilidade de incluir nos roteiros turísticos as visitas aos sítios arqueológicos como via de promoção e valoração do patrimônio arqueológico local dentro de um projeto institucional de Educação Patrimonial.

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7.2.3 ÁGUAS DE IRAQUARA

O grupo focal identificou as águas de Iraquara como um bem cultural, visto que elas estão presentes desde a origem do município com o Poço de Manuel Félix, local onde começou o povoamento da sede, no turismo e na recente atividade econômica, a agricultura irrigada. As águas de Iraquara representam também o conflito entre desenvolvimento econômico e sustentabilidade. O grupo focal expressou essa preocupação no decorrer das oficinas, configurando-se com um dos principais problemas ambientais do município, foram mapeados o Poço de Manuel Félix, a Cachoeira do Mel, Complexo Turístico da Pratinha e uma fazenda de cultivo de café irrigado.

7.2.4.1 O POÇO DE MANUEL FÉLIX

A história de Iraquara surge às margens de um poço descoberto pelo tropeiro Manoel Félix. O Poço deu origem a um povoado que se desenvolveu em seu entorno. O Sr. Manoel Felix doava as terras para aqueles que queriam se instalar e plantar, a água era o principal atrativo. (NETA, 2004) Segundo Neta (2004) ali existiam muitas árvores típicas da região, certo dia os moradores ouviram um “estrondo” e quando correram para ver o ocorrido, um pé de São João, árvore típica da região, havia sido tragado e no lugar dele surgiu outro poço, dessa vez com águas de excelente qualidade. O primeiro poço ficou para o consumo dos animais e o segundo, recém- descoberto, para o consumo humano. Durante anos essa foi a única fonte de água para a população que carregava na cabeça ou no lombo dos burros a água para o consumo diário. O Poço de Manoel Félix continua servindo à comunidade, através do abastecimento de caminhões que levam as suas águas para povoados próximos à sede além de garantir a irrigação de lavouras situadas em seu entorno. (Figura 38 e 39).

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Figuras 38 e 39 – Poço Manoel Felix, sede do município de Iraquara

Fonte: Caminhada Guiada, 205.

Apesar da relevância para a história da cidade, não foi verificado nenhuma sinalização que remonte a importância que o poço representa para o município. A entrevista a Sra. Maria Neta, bisneta do Sr. Manoel Félix, revelou a preocupação da família com a preservação da memória histórica do município. Apresentou como proposta a criação de um parque municipal no entorno do Poço de Manuel Félix como uma forma de homenagear o fundador da cidade e preservar para as gerações futuras a memória histórica do município. (Figura 40)

Figura 40 – Entrevista com a Sra. Maria Neta

Fonte: Visita Técnica, 2015.

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“Recentemente fiz um projeto pedindo para replantar as árvores, botar banco para as pessoas sentar debaixo das árvores, ter um lugar para conversar, alguém ter o privilégio de ter um quiosque. Ali é um baixão, um vale, tinha arvoredos enormes, eu conheci. Eu pedi lá aos vereadores, entreguei lá na câmara, mas não deram tanta importância. Hoje tem um motor bomba que eu reclamo, capta água, mas deixa vestígio de óleo”. (Maria Neta)

Iraquara possui em seu subsolo rios subterrâneos que garantem o abastecimento do município. Em alguns essas águas afloram na superfície. Esse fenômeno é denominado ressurgência, como ocorre no Poço de Manoel Félix e no Rio Pratinha, um dos principais pontos turísticos da Chapada Diamantina. Iniciativas de Educação Patrimonial, como as desenvolvidas pela ONG Casa de Tupã demonstram a preocupação da entidade com a memória histórica do município. A entidade realizou uma caminhada e o plantio de mudas de árvores nativas como forma de sensibilização da comunidade e das autoridades públicas para a importância histórica e ambiental do Poço de Manoel Felix. O grupo focal representou o Poço de Manoel Félix na Cartografia Social como um marco histórico para o município.

7.2.4.2 A Fazenda Pratinha

A fazenda Pratinha recebeu esse nome do seu proprietário, Sr. Simpliciano Lima, conforme Pereira (2008), segundo o autor, o Sr. Simpliciano Lima “viu um sem número de pequenos peixes que flutuavam buscando aquecer-se com o sol matutino, exibiam suas escamas prateadas que se assemelhavam a pequenas lâminas de prata.” (PEREIRA, 2008, p. 37). O local oferece uma infraestrutura turística composta por pousada, restaurante e equipamentos para esportes aquáticos como a flutuação, passeios de caiaque e pedalinhos.

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A flutuação que ocorre na gruta Pratinha proporciona ao visitante uma experiência valiosa de observação geológica. Nela é possível perceber os processos de formação da caverna e de seus espeleotemas em sua fase úmida.

Figura 41 – Balneário da Pratinha. Figura 42 – Gruta Azul

Fonte: Caminhada guiada, 2016.

Outros atrativos como a descida de tirolesa e a navegação em pequenas embarcações a remo permitem que sejam observados os elementos da paisagem natural. As águas cristalinas levemente azuladas são resultantes dos processos de dissolução da rocha calcária e da deposição de calcita e magnésio que na presença da luz do sol dão esse efeito às águas. Esse mesmo fenômeno pode ser observado na Gruta Azul (Figura 41 e 42).

7.2.4.3 As águas de Iraquara e os conflitos com a agricultura irrigada

Iraquara, nos últimos anos, tem desenvolvido a agricultura irrigada. As caminhadas guiadas e os relatos do grupo focal serviu para identificar as áreas do município onde a atividade tem se desenvolvido. As lavouras de ciclo rápido como verduras e legumes além do café e a mamona são os principais produtos cultivados no município, conforme revelado na figura 43 na página 114. A imagem possibilitou verificar as dimensões da propriedade e a produção do café com sistema irrigado. Vale salientar que a lavoura está localizada no topo da dolina do Rio Preto que abriga o sítio de pinturas rupestres Lapa do Caboclo. Como já mencionado nesse relatório, a atividade pode representar uma ameaça à

113 preservação das pinturas rupestres devido a infiltração da água nos painéis rupestres, possivelmente proveniente da irrigação. O estudo realizado por Santos (2011) revela outros problemas referentes ao uso da e ocupação das terras para a agricultura. Trata-se da contaminação das aguas subterrâneas no município por elementos químicos encontrados nos defensivos amplamente utilizados na agricultura irrigada bem como as consequências que a abertura indiscriminada de poços artesianos pode ocasionar para o equilíbrio geológico e ecológico do município.

Figura 43 – Vista aérea do Sítio Lapa do Caboclo.

Fonte: Google Earth Pro, capturada em 25de jan. 2016.

A Figura 44 mostra a quantidade e localização desses poços na paisagem do município. Alguns deles coincidem com áreas do entorno de sítios arqueológicos e cavernas, representando uma ameaça a esses locais, se forem abertos sem os devidos estudos de Impactos Ambientais.

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Figura 44 – Localização dos poços tubulares no município de Iraquara

Fonte: Dissertação de Mestrado Rodrigo Santos (UFBA,2011).

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A agricultura irrigada realizada em áreas de fragilidade ambiental denota a ausência de um planejamento territorial que priorize o zoneamento ambiental decorrendo problemas ambientais de toda sorte, tais como o desmatamento de áreas para o cultivo, a contaminação do solo com defensivos agrícolas e consequentemente a contaminação das águas subterrâneas comprometendo a qualidade de vida da população e de todas as formas de vida existentes nos ambientes de grande fragilidade ecológica. Vele salientar que já foi identificada no lago subterrâneo da Gruta Lapa Doce a presença de uma espécie rara e muito sensível de bagre cego albino que pode estar ameaçado pela contaminação do lençol freático20. Em alguns casos a irrigação realizada sem os estudos de impactos ambientais compromete a conservação de sítios arqueológicos, como já citado nesse relatório. Todas essas ações estão ocorrendo dentro de área de proteção ambiental da APA Marimbus-Iraquara e estão sujeitas às sansões previstos em lei.

7.7.4A ESTRADA REAL

A Estrada Real está localizada no povoado do Riacho do Mel, distante do distrito de Iraporanga, aproximadamente 3 km. O Riacho do Mel é um povoado com poucos moradores remanescentes de comunidades quilombolas. (Figura 45)

Figura 45 – Povoado do Riacho do Mel e Estrada Real.

Fonte: Caminhada Guiada, 2016.

20 Informação cedida pela proprietária da gruta Lapa Doce em entrevista concedida em 28/01/2016

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Ao longe foi possível avistar a Estrada Real, que surgia em meio a uma vegetação de caatinga arbórea de médio porte. Durante o trajeto foi possível identificar a estrutura arquitetônica da estrada que apresentava trechos em bom estado de conservação e outros com muitos problemas conservação. O principal deles foi a falta de manutenção que em alguns trechos apresentava galhos de árvores e arbustos interrompendo a passagem. A estrada possui por muros de “pedra”, que margeiam os limites. Em alguns trechos o muro é substituído por rochas alinhadas ora na margem esquerda, ora à direita. Em outros pontos, os muros desabaram, o que comprovou a situação de abandono do local. (Figura 46 e 47).

Figura 46 e 47 – Estrada Real. Povoado Riacho do Mel.

Fonte: Caminhada Guiada, 2016.

O pavimento foi construído com rochas areníticas, provavelmente, retiradas do enorno, visto que é possível identificá-las em estado natural ao longo do percurso. O estado geral de conservação é precário, existindo trechos em que o calçamento desapareceu completamente, provavelmente escondido abaixo das camadas de sedimentos provenientes do processo de erosão do solo. No percurso foi possível identificar blocos de conglomerados, associados às regiões que possuem veios de diamantes, comuns nas áreas de garimpo da Chapada Diamantina e uma espécie típica da flora Diamantina popularmente conhecida por Sempre-Viva. (Figuras 48 e 49)

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Figuras 48 e 49 – Sempre-vivas e Bloco de Conglomerados

Fonte: Caminhada Guiada, 2016.

A caminhada guiada ocorreu no dia de Nossa Senhora da Conceição e foi possível registrar a chegada da Filarmônica para a celebração da Missa Solene, como mostra a figura 50.

Figura 50 – Festa de Nossa Senhora da Conceição no povoado do Riacho do Mel

Fonte: Caminhada Guiada, 2016.

A figura 51 na página 119 mostra que apesar do seu valor histórico, não há nenhuma menção à Estrada Real na localidade, embora conste uma placa informativa padronizada na via de acesso ao povoado do Riacho do Mel. Esse fato foi entendido pelo grupo focal como um “descaso com a nossa história.” (Condutor C).

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Figura 51 – Placas de sinalização dos atrativos turísticos.

Fonte: Caminhada Guiada, 2016.

O grupo focal selecionou a Estrada Real como referência cultural, por saberem da importância que ela teve para o desenvolvimento do município:

A gente sabe que por aqui passou um período muito importante que foram as riquezas minerais, e essa estrada era o principal caminho de escoamento do diamante.(Condutor A)

A ausência de sinalização foi apontada pelo grupo focal como um dos problemas mais recorrentes no município. Eles defendem que a simples sinalização dos bens culturais associadas a noções básicas de preservação já ajudariam na conscientização da comunidade para a necessidade de cuidados com os bens culturais do município. As oficinas revelaram que as informações históricas sobre essa referência são poucas, por esse motivo escolheram-na para constar na Cartografia Social, como uma forma de divulgação da importância do lugar e da necessidade de sua preservação.

7.3 OS TERNOS DE REIS

A folia de Reis ou Ternos de Reis, como são conhecidos em Iraquara, são cortejos de caráter religioso popular, que se realiza em vários estados do Brasil, entre o Natal e a Festa de Reis (06 de janeiro), reproduzindo idealmente a viagem dos Magos a Belém, para adorar o Menino Jesus. (PORTO, 1982)

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O grupo focal identificou 06 Ternos de Reis localizados nos povoados de Iraporanga, Santíssimo, Lapão, Pratinha, Pau D’Alho e na sede de Iraquara. O grupo selecionado para registro foi o Terno de Reis do Pau D’Alho. O local da celebração foi a sede da Fazenda Manoel Ioiô, no Povoado do Pau D’Alho. O Mestre Reiseiro explicou os rituais e os símbolos tradicionais do Terno de Reis21: “A vestimenta é composta por chapéus de fitas coloridas, camisa uniformizada e toalha branca em torno do pescoço, simbolizando a pureza do Menino Jesus. Os instrumentos musicais básicos são viola, violão, a caixa, triângulo e pandeiros e as músicas são orações em forma de cantos no ritmo da chula22que são feitas nas residências em frente à lapinha23. Se a casa não tiver lapinha, não fazemos a oração, só cantamos a chula, Os fogos de artificio simbolizam as boas- vindas aos Reis Magos.” (Mestre Reiseiro A)

O ritual consistiu na chegada do Terno de Reis em frente à residência, que devem estar com as portas e janelas fechadas e seus moradores reunidos no interior. Entoando cantos, pediam licença ao dono da casa para visitar a lapinha. (Figura 52) Figura 52 – Rito do Terno de Reis. Adoração ao Deus Menino.

Fonte: Caminhada Guiada, 2016.

21 Entrevista cedida pelo Mestre do Terno de Reis do Pau D’Alho em 19/12/2015. 22 Tipo de samba de roda 23 Manjedoura.

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O momento sagrado da celebração foi encerrado com o almoço oferecido pelos donos da última casa visitada. O cardápio foi composto por comidas típicas, galinha caipira, polenta, arroz branco e uma bebida chamada de “espanhola”, coquetel com vinho, maçã verde em cubos e leite condensado, segundo a tradição. (Figura 53)

Figura 53 – Almoço festivo em louvor ao Dia de Reis.

O

Fonte: Caminhada Guiada, 2016.

O ritual da refeição foi precedido por uma oração de agradecimento e louvor ao Deus Menino pela realização de mais um ano de Reisado e pelo alimento oferecido pelos donos da casa. Esse momento se repetiu no final do almoço onde os reiseiros professaram o compromisso para a realização do Terno de Reis no ano seguinte e a benção para os donos da casa e convidados. A confraternização seguiu com músicas, comidas típicas e brincadeiras, envolvendo toda a comunidade. O grupo focal identificou os problemas e conflitos enfrentados pelos Ternos de Reis do município em relação às dificuldades financeiras, o desinteresse dos jovens, falta de apoio, confirmadas na fala do Mestre Reiseiro: “Os recursos são próprios, instrumentos, roupas, alimentação, dormida, enfeitos, chapéus. Tem transporte para pegar os reiseiros e ir para as comunidades. Tem gente que ajuda com a esmola, é uma tradição pagar uma esmola, mas a esmola que você tira é malmente para fazer a festa no dia, entendeu? Ano passado saímos com 06, mas já cantei até com quatro pessoas, para não desistir mesmo, os mais jovens não querem participar e os mais velhos já estão cansados”. (Mestre Reiseiro A).

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A tradição dos Ternos de Reis corre o riso de desaparecer. Iniciativas como a valoração da festa, investimentos no planejamento e organização da festa, parcerias público e privado e a solicitação de tombamento da festa junto ao IPHAN e IPAC podem configurar-se como alternativas para a manutenção dessa manifestação popular.

7.8 SIG’S PARTICIPATIVO DA PAISAGEM CULTURAL DO MUNICÍPIO DE IRAQUARA

Os procedimentos metodológicos adotados na pesquisa permitiram a construção do sig’s participativos desenvolvidos em ambiente SIG. Os temas debatidos nas oficinas participativas (levantamento das referências culturais, espacialização dos temas, levantamento dos problemas e conflitos, construção de propostas de soluções para os problemas e conflitos, identificação das oportunidades existentes) foram sistematizadas e transformadas em atributos que subsidiaram a construção dos temas em ambiente SIG, conforme demonstrado no quadro 16. O mapa participativo representado na figura 58 somado aos procedimentos para a elaboração dos SIG’S participativos originou a cartografia social da paisagem cultural do município de Iraquara descritas no item “Produtos” e apresentada nos apêndices do relatório.

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Quadro 16 – ATRIBUTOS PARA A CRIAÇÃO DAS LAYERS NO SOFTWARE DE MAPEAMENTO DIGITAL

BENS CULTURAIS PROBLEMAS E CONFLITOS SOLUÇÕES OPORTUNIDADES Grutas Alto custo do plano de manejo das Promoção da Educação Parcerias com a Casa de Tupã Cavernas grutas e cavernas; Patrimonial nas escolas e AICTUR, SBAE, escolas Águas de Iraquara; Abertura indiscriminada de poços comunidades do município; municipais e Circuito Sítios arqueológicos artesianos; Parceria público-privado para Arqueológico da Bahia com as Reisado Poluição do lençol freático pela auxiliar no manejo das grutas e secretarias de educação, cultura e Estrada Real agricultura irrigada cavernas; turismo para a promoção dos bens Lixões; Proibição de abertura culturais do município e para a Outras referências Pichações e depredação dos sítios indiscriminada de poços Educação Patrimonial; arqueológicos; artesianos; Sugestão de Criação do Museu Escola Ausência de informações sobre a Manutenção da Estrada Real; Municipal – Documento elaborado Poço de Manoel Félix Estrada Real; Sinalização dos bens culturais; pelo grupo focal; Igrejas Falta de sinalização na estrada real; Relocação do “Lixão” entre Produção de material informativo Ausência de ações de conservação da Iraporanga e Riacho do Mel; a partir da Cartografia Social Estrada Revitalização dos Ternos de produzida; Real Reis; Reativação do Conselho Perda da Tradição do Terno de Reis; Ajuda de custo aos grupos de Municipal de Cultura Falta de recursos financeiros para a Reisado; manutenção da tradição do Terno de Reis

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Figura 54 - Mapa participativo da Paisagem Cultural do município de Iraquara – BA

Fonte: Grupo Focal, 2016.

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Figura 55 – Legenda dos mapas participativos

Fonte: Grupo focal, 2016.

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7.9 ETNOMAPA FINAL COM OS SIG’S PARTICIPATIVOS

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8 PRODUTOS

A pesquisa proporcionou a elaboração de um produto que reuniu as informações obtidas nas oficinas participativas e caminhadas guiadas. O Inventário Geral dos Bens Culturais de Iraquara acrescido dos SIGP deram origem a Cartografia Social da Paisagem Cultural de Iraquara, ora apresentada.

8.1 A CARTOGRAFIA SOCIAL DA PAISAGEM CULTURAL DE IRAQUARA: SUBSÍDIOS PARA O PLANEJAMENTO TERRITORIAL PARTICIPATIVO

A partir dos registros audiovisuais, depoimentos, informações sobre a paisagem cultural, os problemas e conflitos relacionados a essa paisagem, bem como as reflexões para a solução dos mesmos, as memórias e vivências do grupo focal que foram registrados e espacializados nos mapas participativos temáticos deram origem a Cartografia Social. O tratamento dos áudios e transcrição das falas foram realizadas com o auxílio dos programas de software livre. A digitalização, vetorização e pós-processamento dos símbolos criados nos mapas participativos foram realizados com os softwares de programas para o tratamento de imagens. Na elaboração da Cartografia Digital foi utilizado o software de mapeamento digital em ambiente SIG. O produto final foi composto por dois volumes: O primeiro, o Resumo das Ações desenvolvidas durante o período da pesquisa apresentados sinteticamente e o segundo, a Cartografia Social Participativa contendo depoimentos, fotografias e oito mapas participativos desenvolvidos em ambiente SIG: 1. Mapa Participativo Analógico; 2. Cartografia Social da Paisagem Cultural de Iraquara – Ba; 3. Mapa de localização das Cavernas de Iraquara – Ba; 4. Mapa de localização das Águas de Iraquara – Ba; 5. Mapa de localização dos Sítios Arqueológicos de Iraquara – Ba; 6. Sítios Arqueológicos – Problemas e Conflitos; 7. Sítios Arqueológicos – Soluções e Oportunidades; 8. Estrada Real e Terno de Reis de Iraquara – Ba.

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Os elementos cartográficos obrigatórios (norte, escala e legenda) forma utilizados conforme normalização cartográfica, porém foram respeitados a livre expressão do grupo focal. Os símbolos da legenda foram digitalizados, tratados graficamente e espacializados na Cartografia Social. Para efeito de leitura desse relatório a Cartografia Social da Paisagem Cultural de Iraquara-Ba. , ora apresentada foi reduzida para o formato A4. Os mapas permaneceram no formato A3 para facilitar a leitura. A figura 56 apresenta a capa e contracapa do documento. A Cartografia Social completa consta no encarte desse relatório.

Figura 56 – Capa e contracapa da Cartografia Social

RESUMO DAS AÇÕES

Fonte: A autora A figura 57 apesenta o mapa participativo dos bens culturais adaptado ao software de cartografia digital. Nele estão representadas a localização aproximada das referências culturais elencadas pelo grupo que constituíram a paisagem cultural do município de Iraquara.

. Fonte: Grupo Focal

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Figura 57 – Mapa Participativo

Fonte Grupo Focal, 2016

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9. CONSIDERAÇÕES FINAS

A Cartografia Social da Paisagem Cultural de Iraquara - BA pode ser definida como uma tecnologia social representativa do patrimônio cultural do município conforme a visão de mundo dos condutores turísticos de Iraquara, autores dessa cartografia. De acordo com os mesmos, Iraquara possui uma paisagem cultural diversificada composta pelo patrimônio natural, material e imaterial que conservam informações sobre a cultura, a organização socioespacial inicial e os processos de transformações socioambientais que o território sofreu ao longo da escala têmporo-espacial. Os bens culturais naturais, materiais e imateriais apontados pelo grupo focal foram compreendidos como uma herança imbuída de simbolismos e memórias compondo um legado sócio-histórico-ambiental que depõe sobre os processos de formação desse município, num contexto mais amplo, da Chapada Diamantina. O grupo focal traduziu esses sentimentos espacializando nos mapas participativos suas referências culturais. Os desenhos representados fugiram à padronização convencional das legendas cartográficas tecnicamente construídas e nisso consistiu a essência da Cartografia Social, os desenhos arquitetados detalhadamente poderiam ter sido reduzidos às convenções cartográficas em pontos, linhas e polígonos, no entanto a liberdade criativa dos autores da cartografia social precisava expressar outros detalhes que não cabiam nessas convenções. A legenda falou por si, ela mereceu o destaque que o grupo focal a deu, enquanto representações de suas referências culturais. O grupo focal desempenhou, com afinco, todas as etapas dessa pesquisa. Foram autores do inventario geral dos bens culturais, do levantamento dos dados preliminares, apontaram as personalidades a serem entrevistadas de acordo com sua relação com os bens inventariados e construíram a Cartografia Social. A percepção da paisagem cultural como resultado da interação homem-natureza pôde ser evidenciada nos mapas participativos, pois esses refletiram o modo como o grupo social se reconheceu e se representou na paisagem cultural elegendo as cavernas, as águas de Iraquara, a estrada real, os sítios arqueológicos e os ternos de reis como os principais elementos identitários da cultura local. As transformações socioespaciais foram evidenciadas na cartografia social através do levantamento e análise de informações sobre os bens culturais eleitos a partir do diálogo entre as gerações, considerando o contexto histórico, político, sociocultural,

130 econômico e ambiental que revelou, dentre outras informações, que algumas atividades econômicas, representavam uma ameaça à paisagem cultural, visto que geravam problemas que poderiam evoluir para conflitos de interesses que impactavam negativamente na preservação da paisagem. A paisagem e a cultura são mutáveis, pois ambas expressam o resultado das ações humanas sobre o meio numa intrínseca relação tempo-espaço-sociedade, mas as memórias coletivas expressas na oralidade, nos documentos e monumentos históricos, nas manifestações religiosas, nos ofícios e nos modos de fazer mantêm vivas as tradições e sentimentos que conformam a cultura de um lugar. Preservar essa cultura é incorporar as transformações, mas sem perder de vista as tradições adaptando-as aos tempos modernos para que dialoguem com as gerações atuais e futuras a fim de não caírem no ostracismo e desuso. Não se trata de saudosismo ou resistência aos processos de modernização, ao contrário, são garantias para que a “uniformização do mundo” da qual nos fala Claval (2007), não suprima as identidades locais, pois essas compõe o patrimônio cultural de uma sociedade. As políticas existentes sobre a salvaguarda do patrimônio cultural demonstram que é possível coexistir num mesmo espaço o presente e o passado, o que Milton Santos definiu como “rugosidades”. Os centros históricos dos grandes centros urbanos no Brasil e no mundo atestam essa verdade. Preservar a memória é, antes de tudo, um direito. Não se pode parar o processo já iniciado de globalização, mas podem-se estabelecer limites aos avanços predatórios. As rodovias desempenham o papel que outrora pertenceu as Estradas Reais, entretanto, é necessária a preservação dos trechos originais que sobreviveram às transformações espaciais, pois ela é um testemunho edificado de uma época que desenhou uma paisagem histórica e que precisa ser preservada para as gerações futuras, pois nela está registrada a própria história. O mesmo ocorre para os sítios de pinturas rupestres que dão testemunho do modo de vida dos primeiros grupos sociais que transitaram e posteriormente ocuparam esse território em sua lida diária pela sobrevivência frente a uma natureza, por vezes hostil, que muitas vezes se apresentava como um desafio a ser vencido. Nesse processo, a humanidade evoluiu tecnologicamente mas consequências dessa evolução estão marcadas na paisagem tanto nos aspectos positivos quanto nos negativos.

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As cavernas e abrigos sob a rocha, abundantes nessa região, serviram de refugio temporário a esses andarilhos e hoje continuam exercendo a função de abrigar o homem contemporâneo que busca essa nova integração com a natureza. As cavernas assim como as pinturas rupestres exercem um fascínio natural pelo encantamento que o mundo desconhecido e suas linguagens exercem sobre os pensamentos desse homem tecnológico, mas saudoso do convívio com a natureza-mãe. Para o grupo focal, essas mesmas cavernas possuíam um significado especial. Para eles não são apenas cavidades naturais, como diriam os pesquisadores. Nelas eles passaram parte de suas vidas, nas brincadeiras da infância, na busca pela água, tão escassa na superfície e tão abundante no interior da terra, nas expedições científicas que trouxeram os primeiros pesquisadores reverenciados por eles por terem a “chave do conhecimento” capazes de “desvendar” os mistérios das cavernas e das “pinturas de índio”, todas essas memórias afloraram nas oficinas. Alguns membros se emocionaram revivendo essas memórias. Hoje, condutores e cuidadores das cavernas e sítios, deles tiram o seu sustento e de sua família e a eles compete a tarefa de preservar e apresentar aos novos curiosos e desbravadores, a sua beleza e importância no contexto ambiental da Chapada Diamantina. O sagrado e o profano estão representados nos Ternos de Reis que sobreviveram aos tempos velozes onde os homens simples do interior buscam na religiosidade uma fonte inesgotável de fé e inspiração nas vicissitudes da vida. A tradição e a religiosidade diz que é necessário festejar a esperança que se renova a cada ano com a vinda do menino-Deus. Alguns membros do grupo focal também são ou foram reiseiros, alguns por gosto, outros pela força das promessas feitas por suas mães e madrinhas que prometiam que seus filhos e afilhados acompanhariam os ternos por sete anos, para o alcance de graças ou agradecimentos por milagres realizados. Eles, melhor que ninguém, sabem a importância de se manter viva essa manifestação cultural tão ameaçada pelos costumes da modernidade. A eles foram dedicados à admiração e o respeito do grupo focal, pois como disse o Mestre do Terno de Reis do Pau D’Alho: “só a fé justifica todo o sacrifico para manter a festa”. O processo participativo que culminou na construção dos mapas participativos foi compreendido como um exercício de cidadania exercido pelo o grupo social, pois os proporcionou a experiência como planejadores territoriais ao refletirem e representarem coletivamente o espaço vivido. Como resultado, elaboraram um instrumento que poderá

132 servir para dar visibilidade ao patrimônio cultural e subsidiar discussões sobre o seu estado atual. O inventario geral dos bens culturais do município preocupou-se também em identificar os principais problemas e conflitos que ameaçam a salvaguarda dos bens culturais de Iraquara. O grupo focal chegou ao consenso de que os problemas e conflitos ocorrem, principalmente, pela ausência de um amplo debate em torno de tais questões. A queixa mais comum identificada foi a inexpressiva atuação do poder público local no planejamento territorial e no apoio às instituições e grupos sociais que, por iniciativa própria, desempenham a tarefa de zelar pelos bens culturais do município. No caso da Estrada Real e do Poço Manuel Felix não há projetos que visem à valoração desses bens apesar de sua relevância histórica e cultural para o município. A ausência de uma política de Educação Patrimonial foi o segundo problema apontado pelo grupo. Essa ausência de Educação Patrimonial tende a gerar os demais problemas observados nos sítios arqueológicos como as pichações, as queimadas e o lixo. A Educação Patrimonial aliada à responsabilidade social poderá auxiliar na solução dos conflitos identificados pelo grupo focal entre os moradores e os donos de empreendimentos turísticos que expressaram suas queixas em relação à falta de cuidados da população local com os principais atrativos do município. O destino inadequado do lixo doméstico também foi apresentado pelo grupo focal como um grave problema. O município não possui aterro sanitário, apesar dos esforções empreendidos pelo poder público em formar um consórcio com os municípios vizinhos, a realidade ainda é a presença de lixões em dolinas, nas estradas vicinais, configurando-se num importante problema ambiental e de saúde pública. Os problemas e conflitos apontados demonstraram que o município precisa promover um amplo debate com a sociedade local a fim de desenvolver uma política de planejamento territorial participativo e sustentável que alcance as dimensões socioambientais e culturais nos espaços democráticos como nos conselhos gestores, a fim de promover discussões e formular políticas públicas socioeducativas que contemplem o patrimônio cultural. As audiências públicas para a discussão do tema e a atuação do Ministério Público poderão ser necessárias para as ações de fiscalização e responsabilização daqueles que ameaçam o patrimônio cultural do município a fim de prevenir e coibir os

133 danos ao patrimônio cultural, além de reparar os já existentes, entretanto, as medidas socioeducativas devem preceder as ações punitivas. As dificuldades financeiras e operacionais que as prefeituras de municípios de pequeno porte enfrentam, é notório em todo país, por esse motivo convênios e parcerias da prefeitura e instituições privadas com as agências de planejamento, fiscalização e gestão dos recursos naturais, Institutos de pesquisa e universidades são necessárias para o intercâmbio de informações e formulação de ações nas áreas ambientais, culturais e educacionais. O investimento em assistência técnica aos pequenos produtores da zona rural poderá ser um auxílio no combate ao uso indiscriminado de agrotóxicos, no descarte das embalagens e nos cuidados com o solo, assim como um controle efetivo na abertura indiscriminada de poços artesianos como medidas indispensáveis para a sustentabilidade. Os casos mais graves de degradação ambiental precisaram da ação do Ministério Público e dos órgãos ambientais para garantir o cumprimento da legislação e a responsabilização dos agentes promotores dos danos ao patrimônio cultural, especialmente nos sítios arqueológicos, protegidos por legislação específica prevista na Constituição Federal (1988) e no escopo de normas e resoluções internacionais que regulamentam a salvaguarda do patrimônio cultural. O grupo focal elencou os principais agentes sociais que desenvolvem atividades nas áreas de preservação ambiental e educação patrimonial. Esses agentes locais precisarão combinar suas forças para atuarem conjuntamente, ampliando assim o alcance das ações socioeducativas. Nesse sentido, o grupo focal percebeu a sua função social na Educação Patrimonial. A Cartografia Social produzida poderá ser usada como subsídios para nortear as ações futuras relacionadas à gestão do patrimônio cultural fomentando o processo participativo de tomadas de decisões que representem os interesses da coletividade. Por essa exposição de motivos é que repousou a relevância dessa Cartografia Social. Enquanto tecnologia social ela se propôs a produzir algo que possibilitasse a transformação de uma realidade. Esse processo, uma vez iniciado, não deverá ser interrompido, pois, como já exposto, a paisagem e a cultura são dinâmicas e mutáveis e a cartografia social torna-se um elemento “vivo” devendo ser atualizada constantemente.

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Competiu aos autores da Cartografia Social, decidir sobre a sua utilidade. Durante as oficinas o grupo focal a percebeu como um documento de reivindicações de direitos coletivos, uma ferramenta de gestão territorial e um instrumento de Educação Patrimonial podendo ser oferecida aos agentes públicos e privados como um recurso auxiliar nas discussões a cerca dos rumos a serem pensados para a salvaguarda da paisagem cultual do município de Iraquara. Dentre as ações futuras possíveis encontra-se a possibilidade de demandar ao IPHAN o tombamento dos sítios arqueológicos, da estrada real, dos Ternos de Reis e a longo prazo, solicitar a chancela da paisagem cultural do município de Iraquara. A chancela, como especificado na portaria nº 127, de 30 de abril de 2009, é uma espécie de selo de qualidade, um instrumento de reconhecimento do valor cultural de uma porção definida do território nacional, que possui características especiais na interação entre o homem e o meio ambiente. (BRASIL, 2009, p. 18). Sabe-se que o tema abordado é abrangente e complexo e não se esgota com essa pesquisa. Muitas referências culturais elencadas pelo grupo focal não foram contempladas nesse primeiro volume da Cartografia Social. Apesar do esforço empreendido, os elementos apresentados também carecem de maior aprofundamento. Nesse sentido, recomenda-se que haja a continuidade dos estudos com um maior nível de detalhe, em uma menor escala, o que deverá ocorrer em estudos futuros compondo uma série temática. Recomenda-se ainda a parceria com instituições de ensino superior para o estudo de viabilidade técnica para a implantação do museu municipal de cultura e arte, que congregue acervos materiais e imateriais a fim de construir um acervo físico de documentos, fotografias, objetos e artefatos históricos que sirvam para ilustrar a história e a cultura do município promovendo a Educação Patrimonial e a Cidadania.

135

10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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141

ANEXOS

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ANEXO A - QUESTIONÁRIO DE IDENTIFICAÇÃO - INRC CELEBRAÇÕES Identificação do questionário

Data 19.12.2016 Início 19 hs Término 20 hs Entrevistador Luciana Supervisor

Localização Sítio Inventariado Fazenda Pau D’Alho Localidade Povoado Pau D’Alho Município / UF Iraquara - BA

Identificação do bem cultural Denominação Terno de Reis do Pau D’Alho Outras Reisado do Pau D’Alho denominações

Identificação do entrevistado Nome Edmarcio Silva No Como é Data de X Masculino Nascimento / 01/2012 Sexo conhecido(a) Fundação Feminino Endereço Fazenda Pau D’Alho Telefone (75) 9 9976 6280 Fax E-mail edimarciosilva @faceboock Ocupação Músico/lavrador Onde nasceu Iraquara Desde quando mora na 1980 localidade

Relação com o bem inventariado Como participa da celebração? O que faz e desde quando? Sou o mestre, planejo a festa, convido os membros, ensaio. Faço desde 2012

Existem grupos ou associações ligados a esta celebração? Não

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Descrição da celebração Época Data X data fixa: dia 24 mês dezembro

data móvel Duração DE 24/12 A 06/01 Periodicidade X ANUAL OUTRA. QUAL? Celebrações Natal associadas

*Anos de ocorrência da celebração desde 2000 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 X X X X

Quais os motivos da celebração? Assinalar e descrever todos os motivos que a justificam. Invocação religiosa. Qual(is) Sim. Manter a tradição da visita dos Reis Magos ao Menino Jesus

Outros (comércio, lazer, calendário, trabalho, etc.)

Quais as origens da celebração? Aqui no povoado sempre teve Terno de Reis, participava desde menino. Já existia um Terno de Reis do Sr. Raimundo Rocha até o ano de 2012, como ele deixou de fazer, passou para mim e a partir de 2013 comecei a ser o Mestre.

Existem histórias associadas à celebração? Não tem informação precisa

Preparação Assim que termina a celebração, já passamos a pensar na próxima. Mas é a partir do final de novembro que começamos a convidar os reiseiros. Em dezembro tem as reuniões e ensaio.

Realização Quais são as principais etapas e participantes da atividade? Denominação Descrição da atividade e suas Participantes/Função metas

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Planejamento Começamos a ver as pessoas Edmarcio e Francisco interessadas em participar, vemos o estado dos instrumentos musicais, quais as casas que querem receber a visita. Os povoados que vamos visitar Vestimenta Depois que é definido o grupo, Edmarcio e o grupo escolhemos a vestimenta, calça, camisa, chapéu e fitas, para ver as cores.

Quais são os recursos financeiros, capital e instalações utilizados? Denominação/descrição Função ou significado Quem provê/Como obtém Esmolas Doação aos reiseiros para compra Donos das casas visitadas de água, bebidas e comidas pelos reiseiros. Depois da visita o dono da casa doa uma quantidade ao mestre. Recursos Próprios Custear as despesas da festa Mestre

Quais são as matérias primas e ferramentas de trabalho utilizadas? Denominação/descrição Função ou significado Quem provê/Como obtém Vestimenta A roupa nova cheia de brilhos e O Mestre. Normalmente o fitas significa o luxo dos Reis recurso que sobra das Magos e a distinção da visita ao esmolas, mas nos últimos Deus Menino. tempos o recurso é do próprio mestre e dos reiseiros Instrumentos musicais Simboliza a fé e a festa, as músicas O grupo de reiseiros alegram e glorificam o Menino Jesus.

Há comidas e bebidas próprias desta celebração ? Sim Quais? Consomem-se outras? Denominação/descrição Função ou significado Quem provê/ Como obtém Galinha Caipira Polenta Almoço ou jantar de O Mestre Confraternização Espanhola (bebida)

Há instrumentos e objetos rituais próprios desta celebração? Quais? Denominação/descrição Função ou significado Quem provê/ Como obtém Lapinha ou presépio Simboliza o local do nascimento Dona da casa visitada do Menino Jesus Instrumentos musicais Festa/celebração O rupo de reisiros

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Há trajes e adereços próprios desta celebração? Sim Quais? Usam-se outros? Denominação/descrição Função ou significado Quem provê Chapéu com fitas Simboliza a alegria e luz O mestre coloridas e lantejoulas Camisa padronizada com Identificar o grupo Mestre o nome do Terno de Reis Toalha branca Simboliza a paz Reiseiros

Há danças próprias desta celebração? Sim Quais? Ocorrem outras? Não Denominação/descrição Função ou significado Quem provê Chula Alegria e celebração Os reiseiros

Há músicas e orações próprias desta celebração? Quais? Sim Ocorrem outras? Denominação/descrição Função ou significado Quem provê Ladainhas Louvor e Adoração Oração ao Deus Menino Os reiseiros e os donos das casas Terço Louvor

Há instrumentos musicais próprios desta celebração? Quais? Usam-se outros? Denominação/descrição Função ou significado Quem provê Viola Violão A música faz parte dos ritos da O Mestre celebração de louvor e adoração Pandeiros Caixa Triângulo

Após a celebração, quais são as tarefas executadas? Quem as executa? Quem executa Atividade Dona da casa e Preparação do almoço ou jantar de celebração convidadas Mestre Recolher os instrumentos musicais e adereços para a festa no ano seguinte

Qual é o público desta celebração? Os moradores dos povoados visitados, pessoas religiosa, toda a comunidade.

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Recorda-se de mudanças na organização e no programa desta celebração? Descrever, informar sobre a época e os motivos das mudanças. Época Ocorrência Atualidade Os reiseiros já não passam os seis dias da celebração acampados nas residências. Eles retornam para casa todas as noites e se encontram no local determinado para seguir adiante visitando os povoados.

Atualidade Os reiseiros são mais religiosos, aos poucos estão acabando as bebedeiras.

Lugar da celebração Onde ocorre? Desde quando nesse lugar? Por quê? Nos povoados selecionados para as visitas. Varia de ano para ano. Isso é feito para relembrar a peregrinação dos Reis Magos até chegarem na Manjedoura do Menino Jesus. A celebração sempre é feita no povoado do mestre Reiseiro, nesse caso no Pau D’Alho.

Quem é responsável ou proprietário do lugar em que ocorre a celebração? O mestre Reiseiro.

Identificação de outros bens e informantes Quem mais pode informar sobre esta celebração? Os membros do Terno de Reis

Há outras celebrações nesta localidade? Celebração Onde / Quando Contato São João No terreiro das casas. No dia de São João Edmarcio Festa de N. Sra. de Comissão da Fátima Igreja do Povoado em 04 de maio Festa/ Igreja Festa de N. Sra. Comissão da Aparecida Igreja do Povoado em 12 de outubro Festa/ Igreja

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Fotos

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ANEXO B - FICHA DE IDENTIFICAÇÃO EDIFICAÇÕES

Localização Sítio Inventariado Estrada Real Localidade Povoado Riacho do Mel Município / UF Iraquara - BA

Bem Cultural Denominação Estrada Real Outras Estrada de Pedra denominações Endereço Povoado do Riacho do Mel, na Rua da Igreja de N. Sra. da Conceição Proprietário Público Autor do projeto - Condição atual íntegro memória X ruína Categoria civil militar religiosa institucional industrial comemorativa

X mobiliário urbano ou obra de arte Época da Século XVIII construção Proteção existente Nenhuma

Descrição arquitetônica Ambiência Século XVIII

Características arquitetônicas A estrada é margeada por muros de “pedra”. Em alguns trechos o muro é substituído por rochas alinhadas ora na margem esquerda, ora à direita delimitando a estrada. Em outros pontos é possível identificar o desabamento dos muros. Nos por 2 km percorridos foram registrados trechos em que o calçamento desaparece completamente, provavelmente escondido abaixo das camadas de sedimentos provenientes do processo de erosão do solo.

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Estado de conservação O estado geral de conservação é precário, existem trechos em que o calçamento desaparece completamente, provavelmente escondido abaixo das camadas de sedimentos provenientes do processo de erosão do solo.

Bens móveis e integrados Não foram identificados

Sentidos referenciais História De acordo com os escritos de Belchior Dias Moreya (1725)24, apud Ivo (2009), em 1698, Pedro Barbosa Leal, responsável pela edificação da Vila de Rio de Contas, em 1724, e, antes disso, da vila de Jacobina, em 1720 realizou a abertura do caminho entre as vilas citadas o que garantiria a arrecadação dos quintos reais, imposto cobrado pela corte real sobre a circulação de mercadorias, “quando fui de Jacobina para o rio das contas mandei abrir a estrada por onde passei a aquelas Minas”. (MOREYA, 1725) apud (IVO, 2009, p. 145) A rota foi concluída em 1725 e foi considerada a primeira via de acesso para exploração do ouro da Bahia, por isso, recebeu o nome de Estrada Real.

Narrativas e representações Segundo o grupo focal, a estrada de Pedra ligava os garimpos da região, servia para os tropeiros levarem as mercadorias de um lugar a outro. “É um lugar que fala sobre a nossa história.”

Usos cotidianos Serve de ligação para os povoados do Claudio e Morenos. Na visita técnica constatou-se esse uso.

Usos cerimoniais Não

24 DOCUMENTOS INTERESSANTES, volume XLVII. 1929. Carta do coronel Pedro Barbosa Leal ao conde de Sabugosa, vice-rei do estado do Brasil, sobre as várias incursões realizadas no sertão da Bahia em busca de minas metálicas, desde o pretenso descobrimento das de prata por Belchior Dias Moreya. 22.11.1725. p. 93 apud (IVO, 2009, p. 145)

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Bens Associados Denominação Código

Não identficados

Plantas, mapas e croquis Não identificados

Documentos inventariados Documentos escritos, desenhos e impressos em geral Não identificados

Registros sonoros e audiovisuais Matéria vinculada na Rede Record. “ A Bahia que nós

Registros fotográficos Só os realizados em vista técnica

Observações Aprofundamento de estudos para complementação da identificação ou para fins de registro ou tombamento Necessário identificar informantes na comunidade

Identificação da Ficha

Questionários analisados Q 20

Pesquisador(es) LUCIANA SANTOS

Supervisor Fabio Bandeira

Redator Luciana Santos Data Ver data Responsável pelo Grupo Focal Condutores turísticos de Iraquara inventário

Identificação de outros bens mencionados nesta ficha NÃO

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Fotos

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ANEXO C - FICHA DE IDENTIFICAÇÃO EDIFICAÇÕES

Localização Sítio Inventariado Poço de Manuel Felix Localidade Sede do município Município / UF Iraquara - BA

Bem Cultural Denominação Poço de Manuel Felix Outras Poço denominações Endereço Proprietário Público Autor do projeto - Condição atual íntegro memória X ruína Categoria civil militar religiosa institucional industrial comemorativa

X mobiliário urbano ou obra de arte Época da Século XVIII construção Proteção existente Cerca e guarita

Descrição arquitetônica Ambiência Século XVII

Características arquitetônicas O poço é circundado por uma estrutura formada por muros altos com estilo arquitetônico próprio do século XVII, constituído por fragmentos de rochas e estuque, mistura de argila, areia e fragmentos pequenos de rocha. Para acessar o poço é necessário descer dois vãos de escada. O poço ocupa uma área de aproximadamente 10 m2, não tendo indicação de profundidade.

153

Estado de conservação O estado geral de conservação é bom, apresentando alguns problemas relacionados a conservação da escada, como infiltrações. As margens do poço estão sem manutenção e apresenta uma vegetação com galhos e cipós. A casa de máquina abriga uma bomba que leva a agua do poço a uma tubulação externa, sem o controle de vasão. A tubulação apresenta vazamento tornado a estrutura úmida nas paredes e escada e representando um desperdício do recurso hídrico.

Bens móveis e integrados Guarita que serve de abrigo para o vigilante contratado pela prefeitura.

Sentidos referenciais História A história de Iraquara surge às margens de um poço descoberto pelo tropeiro Manoel Félix. O Poço deu origem a um povoado que se instalou em seu entorno. As águas serviam a comunidade e aos animais, apesar de apresentar alta salinidade. Segundo Neta (2004) ali existiam muitas árvores típicas da região. Durante anos essa foi a única fonte de água para a população que carregava na cabeça ou no lombo dos burros a água para o consumo diário.

Narrativas e representações O Poço está associado à história da fundação do município. Os moradores da sede têm essa representação muito clara, mas nos povoados, não foi verificada a importância do lugar na história do município.

Usos cotidianos Abastece carros pipas e irriga plantações de verduras no entorno do poço.

Usos cerimoniais Não

154

Bens Associados Denominação Código

Não

Plantas, mapas e croquis Não identificados

Documentos inventariados Documentos escritos, desenhos e impressos em geral Não identificados

Registros sonoros e audiovisuais Documentário produzido pela Casa de Tupã em dezembro de 2015.

Registros fotográficos Realizados pela Casa de Tupã no evento da Semana de Cultura do Município em dezembro de 2015. Os registros realizados na visita técnica.

Observações Aprofundamento de estudos para complementação da identificação ou para fins de registro ou tombamento Necessário identificar informantes na comunidade e documentos.

Identificação da Ficha

Questionários analisados Q 20

Pesquisador(es) LUCIANA SANTOS

Supervisor Fabio Bandeira

Redator Luciana Santos Data

Responsável pelo Grupo Focal Condutores turísticos de Iraquara inventário

Identificação de outros bens mencionados nesta ficha NÃO

155

156

ANEXO D - FICHA DE IDENTIFICAÇÃO/ LOCALIDADE

Localização Sítio Gruta Manoel Ioiô Localidade Povoado do Pau D’Alho Município / UF Iraquara - BA

157

Referências culturais Obs.: Para lista completa dos bens inventariados, consultar o Anexo 3: Bens culturais inventariados.

Síntese A gruta foi selecionada pelo grupo focal por representar um local de visitação turística para a prática do espeleoturismo e por abrigar fósseis atribuídos a animais da megafauna. Ainda não foram realizados estudos paleontológicos.

Descrição Obs.: Para lista completa dos documentos escritos inventariados, consultar o Anexo 1: Bibliografia.

População e localização

A gruta de Manoel Ioiô está localizada no Povoado do Pau D’Alho, distante aproximadamente 13 km da sede. Limita-se ao Norte com o Povoado da Lagoa Seca; ao Sul com o Povoado de Santa Rita; Leste com a Pratinha e Oeste com o povoado de Esconso. Residem no local 06 famílias.

Paisagem natural e meio ambiente A Gruta Manoel Ioiô está localizada no fundo de uma dolina com declividade acentuada e de difícil acesso. A dolina abriga uma vegetação arbórea de médio porte que protege a entrada da caverna.

Marcos edificados Sede da Fazenda Manoel Ioiô que data aproximadamente 100 anos, segundo informantes. A construção original foi reformada e ampliada não guardando as características originais da época de sua construção.

Formação histórica Obs.: Para lista completa das fontes inventariadas, consultar o Anexo 1: Bibliografia.

Resumo A descoberta da cavidade ocorreu por acaso por seu proprietário em suas saídas para caça. O Sr. Manoel Ioiô deparou-se com um “enorme buraco no centro da fazenda e resolveu adentrá-lo deparando-se com um lindo salão medindo 1.600 m2 com lindas formações rochosas, com vários formatos.” (PEREIRA, 2008, p. 74). Essa informação foi confirmada pelo guardião da caverna.

158

Legislação Instrumentos de proteção ambiental e patrimonial e de planejamento PORTARIA IBAMA nº 15, DE 23/02/2001- Uso Turístico Cavernas Chap. Diamantina Regulamenta o uso turístico de cavernas da Chapada Diamantina;

DECRETO ESTADUAL nº 2.216 de 14 de junho de 1993- Criação APA Marimbus / Iraquara Resolução CEPRAM nº 1.440 de 20/06/1997- Decreto de criação de Zoneamento Ambiental

Avaliação e perspectivas Problemas e possibilidades

A caverna possui um diversificado conjunto de espeleotemas como as estalictites, estalagmites e colunas. Algumas formações raras como pérolas de calcita, represas de travertino, lagos subterrâneos. Entretanto apresenta problemas de erosão e processo de ravinamento na entrada da caverna. O acesso é muito difícil, carecendo de melhorias na infraestrutura. A área do entorno apresenta acelerado processo de antropização, com desmatamento acentuado o que pode ocasionar a aceleração dos processos erosivos no entrono e no interior da caverna. As águas da chuva são direcionadas para o interior da caverna provocando assoreamento e deposição de sedimentos, comprometendo a estética das formações do piso..

Recomendações

Recomenda-se um estudo detalhado sobre os fosseis encontrados e a adoção imediata do Plano de Manejo. Um estudo de impactos ambientais para avaliar os efeitos ocasionados pelo desmatamento e pelas áreas de cultivo.

Identificação da Ficha Pesquisador(es) LUCIANA ALMEIDA DOS SANTOS

Supervisor Fabio Bandeira

Redator Luciana Almeida dos Santos Data 28/01/2016 Responsável pelo Grupo Focal inventário

159

ANEXO E - FICHA DE IDENTIFICAÇÃO/ SÍTIO

1. Localização Denominação do Sítio Fazenda Lapa Doce Outras denominações Não existem Estado Bahia Município Iraquara Distrito ou subdistrito Lapão Gruta Lapa Doce Roteiros I e II; Sitio de Arqueológico Lapa do Sol; No sítio Localidades Sítio de Arte Rupestre Paredão do Tatu; Inventariadas Reserva Permanente de Preservação Natural - RPPN No entorno Não

Referências culturais Obs.: Para lista completa dos bens inventariados, consultar o Anexo 3: Bens culturais inventariados.

Síntese A gruta Lapa Doce e os Sítios Arqueológicos Lapa do Sol e Paredão do Tatu constituem referências culturais para o grupo focal, citados e mapeados na cartografia social. A Fazenda Lapa Doce se destaca no município como uma referência de empreendimento turístico associado ao uso sustentável do meio ambiente, sendo o primeiro empreendimento a possuir uma RPPN. A Fazenda Lapa Doce também está em vias de conclusão do plano de manejo espeleológico atendenso às exigências do ICMBIO e IBAMA.

Descrição do sítio Obs.: Para lista completa das fontes inventariadas, consultar o Anexo 1: Bibliografia .

Localização Está localizada no povoado do Lapão, distante 13 km da sede.

Paisagem natural e meio ambiente A fazenda está localizada em meio a uma vegetação de caatinga preservada entre dolinas que dão acesso a caverna Lapa Doce e aos sítios de Pinturas Rupestres. A área está inserida na APA Marimbus – Iraquara, além de ter uma reserva de proteção permanente natural.

160

Marcos edificados Sede da fazenda, receptivo aos turistas.

Formação histórica Obs.: Para lista completa dos documentos escritos inventariados, consultar o Anexo 1: Bibliografia.

Resumo Não se aplica

Cronologia Data Evento

Até 1980 A fazenda destinava-se a agropecuaria 1980 Inicio das expedições de pesquisa do Grupo Bambuí, USP e pesquisadores franceses 1990 Advento do Espeleoturismo 2005 em diante Turismo Cultural nos sítios arqueológicos.

Perfil socioeconômico Obs.: Para lista completa dos documentos escritos inventariados, consultar o Anexo 1: Bibliografia.

População Não se aplica

Qualidade de vida Não se aplica

Trabalho e renda familiar A renda advém do turismo espeleológico e cultural

Educação Não se aplica

161

Plantas, mapas e croquis Não identificado

Legislação Instrumentos de proteção e planejamento ambiental e patrimonial Portaria n° 15. Ibama, de Portaria IBAMA nº 15, de 23/02/2001, que Regulamenta o uso turístico de cavernas da Chapada Diamantina.

Avaliação e perspectivas Problemas e possibilidades A caverna Lapa Doce não apresenta problemas perceptíveis. O Plano de Manejo está em desenvolvimento, ele poderá apontar os possíveis danos ou impactos.

Recomendações Nenhuma

162

APÊNDICES

163

APÊNDICE A

FICHA CADASTRAL DO SÍTIO 01 – PAREDÃO DO ZEQUINHA

DATA LOCALIDADE NOME DO TIPO COORDENADAS ALTIMETRIA (m) SÍTIO Povoado do Paredão do X Y 700 18.11.2015 Abrigo/Paredão Lapão Zequinha 216298 8635120 DESCRIÇÃO DO SÍTIO

TIPOLOGIA/ POSIÇÃO TOPOGRAFIA FLORA FAUNA LUMINOSIDADE CONSERVAÇÃO DESCRIÇÃO DO SOL Abrigo de Relevo formado Caatinga Presença de vespas e Incidência direta em Elevado grau de desgaste pequeno porte por topo arbórea no abelhas com intensa parte do painel e indireta natural por eflorescência com teto baixo aplainado com fundo da atividade, pássaros e no interior do abrigo. Noroeste salina. Não possui seguindo de declividade dolina e área indícios de mocós pichações, porém grande extensão acentuada em cultivável no (presença de fezes) apresenta vestígios de de paredão. direção ao fundo topo da tecidos queimados e Possibilidade de da dolina. dolina. cinzas usadas para a haver pinturas na Penhasco com coleta do mel com uso do parte baixa da grande risco de fogo. Risco potencial de dolina acidente queimadas.

DESCRIÇÃO DAS PINTURAS RUPESTRES CONSERVAÇÃO COR PREDOMIANTE FORMA ESTILO

Predomínio do Vermelho; apresenta Bom estado. Apresenta eflorescência salina tons de laranja e amarelo Geométricas Tradição Nordeste por ação natural.

164

Figuras 1, 2, 3 e 4 – Sítio Lapinha – Povoado do Lapão. Iraquara-BA. Fonte: Caminhada Guiada. 165

APÊNDICE B - FICHA CADASTRAL DO SÍTIO 02 – LAPA DO CABOCLO

DATA LOCALIDADE NOME DO TIPO COORDENADAS ALTIMETRIA (m) SÍTIO Povoado Santa Rita Lapa do X Y 636 26/05/2015 Abrigo/Paredão - Pratinha Caboclo 224597 8633002

DESCRIÇÃO DO SÍTIO POSIÇÃO EM TIPOLOGIA/ TOPOGRAFIA FLORA FAUNA LUMINOSIDADE RELAÇÃO AO CONSERVAÇÃO DESCRIÇÃO SOL Paredão de Relevo formado Caatinga Presença de Incidência direta do Elevado grau de degradação grande extensão por topo aplainado arbórea no vespas e sol principalmente à natural por eflorescência salina com abrigo na com declividade fundo da abelhas com tarde amenizada pela Norte-Sul, voltado agravada pelas ações parte superior há acentuada em dolina e intensa presença de árvores de para o Oeste. antrópicas. Presença de aproximadament direção ao fundo da agricultura atividade, grande porte. gotejamento causado pela e 50m do solo. dolina. Penhasco irrigada de pássaros. irrigação no topo da dolina. com grande risco café no topo Possui muitas pichações, de acidente. da dolina. Apresenta indícios de uso Margeado pelo Rio intenso para a caça e pesca Pratinha presença de restos de fogueiras e marcas de queimadas ao longo do paredão. Sítio parcialmente destruído. DESCRIÇÃO DAS PINTURAS RUPESTRES

COR CONSERVAÇÃO FORMA ESTILO PREDOMIANTE Predomínio do O sítio apresenta 03 realidades distintas: a parte sul do paredão (inicio) está Geométricas, humanas Tradição Vermelho; presença totalmente degradado. A parte norte apresenta bom estado de conservação. isoladas e em grupo, animais Nordeste/Agre do laranja, amarelo, Existe um abrigo na parte superior do paredão longe do alcance dos visitantes e de grande porte (felinos) ste preto e branco. apresenta excelente estado de conservação.

166

Figura 05– Vista áerea do sítio Lapa do Caboclo, obtida pelo Google Earth Pro.

Figura 06, 07 e 08 - Sítio Lapa do Caboclo. Visita Técnica em 26 de maio de 2015.

I)

167

APÊNDICE D - FICHA CADASTRAL DO SÍTIO 03 – LAPA DO SOL

DATA LOCALIDADE NOME DO TIPO COORDENADAS ALTIMETRIA (m) SÍTIO X Y 19/11/2015 Povoado do Lapão Lapa do Sol Abrigo 216475 8635419 721

DESCRIÇÃO DO SÍTIO POSIÇÃO EM TIPOLOGIA/ TOPOGRAFIA FLORA FAUNA LUMINOSIDADE RELAÇÃO AO CONSERVAÇÃO DESCRIÇÃO SOL O abrigo possui Abrigo de Relevo apresenta Caatinga Presença de iluminação difusa Elevado índice de degradação grande extensão declividade arbórea vespas e durante a manhã, Norte – Sul natural provocado com abertura acentuada no início preservada abelhas com amenizada pela principalmente por erosão do para uma do sítio e plana no intensa presença das árvores. solo. caverna não abrigo. atividade, À tarde os paredões explorada pássaros, ficam expostos a aranhas luminosidade direta

DESCRIÇÃO DAS PINTURAS RUPESTRES COR CONSERVAÇÃO FORMA ESTILO PREDOMIANTE Apresenta problemas de conservação como eflorescência salina, ninhos Zoomorfos sobre o painel, escorrimento de argila e ação antrópica com pichações. O Antropomorfos Tradição Vermelho e preto. painel de entrada do abrigo está exposto a ação da chuva, insolação e Geométricos Nordeste/Agreste umidade provocando um desgaste mais acelerado das pinturas em relação Mãos em positivo ao restante do abrigo.

168

Figura s 9, 10, 11 e 12 - Sítio Lapa do Sol. Fonte: Caminhada Guiada FICHA CADASTRAL DO SÍTIO 04 – PAREDÃO DO TATU

169

APÊNDICE E - FICHA CADASTRAL DO SÍTIO 04 – PAREDÃO DO TATU

DATA LOCALIDADE NOME DO TIPO COORDENADAS ALTIMETRIA (m) SÍTIO X Y Paredão do 695 19/11/2015 Povoado do Lapão Paredão 21653 8635310 Tatu

DESCRIÇÃO DO SÍTIO POSIÇÃO EM TIPOLOGIA/ TOPOGRAFIA FLORA FAUNA LUMINOSIDADE RELAÇÃO AO CONSERVAÇÃO DESCRIÇÃO SOL O acesso ao sítio se Caatinga Serpentes, Índice de degradação elevado Paredão de dá através de trilha arbórea bem Roedores Direta sob as pinturas Norte –Sul principalmente por ação grande porte em com alta preservada (Mocó), natural: erosão do solo, altura e declividade e pássaros, Leste-Oeste eflorescência salina, ninhos, extensão, com inclinação para a aranhas etc. Apresenta pichações e declividade direita, risco sinais de fogueira. Presença de moderada acentuado de armadilhas de caça denotando acidente atividade predatória.

DESCRIÇÃO DAS PINTURAS RUPESTRES COR CONSERVAÇÃO FORMA ESTILO PREDOMIANTE Presença de eflorescência salina, ninhos, escorrimento de argila e ação antrópica com pichações. As pinturas estão expostas a ação da chuva, Zoomorfos Tradição insolação e umidade provocando um desgaste mais acelerado. A erosão Vermelho e preto Geométricos Nordeste/Agreste provoca o transporte e deposição de sedimentos na parte inferior do Antropomorfos paredão. Algumas pinturas estão sob a camada de solo, sendo necessárias medidas urgentes de manutenção.

170

Figuras 13, 14, 15 e 16 – Sítio do Paredão do Tatu. Fonte: Caminhada Guida 171

APÊNDICE F - FICHA CADASTRAL DO SÍTIO 05 – TORRINHA I

DATA LOCALIDADE NOME DO TIPO COORDENADAS ALTIMETRIA (m) SÍTIO X Y 18/11/2015 Povoado do Lapão Torrinha I Paredão 641 216774 8634006

DESCRIÇÃO DO SÍTIO POSIÇÃO EM TIPOLOGIA/ TOPOGRAFIA FLORA FAUNA LUMINOSIDADE RELAÇÃO AO CONSERVAÇÃO DESCRIÇÃO SOL Paredão de Relevo com Caatinga Roedores Direta sob as pinturas O sítio apresenta grau de grande porte em declividade arbórea bem (Mocó), atenuada em alguns degradação moderado, o altura e moderada. preservada pássaros, períodos do dia pela Note-Sul guardião mantem o espaço extensão. Localizado na base aranhas. vegetação arbórea. limpo. Possui visitação guiada. de uma dolina.

DESCRIÇÃO DAS PINTURAS RUPESTRES COR CONSERVAÇÃO FORMA ESTILO PREDOMIANTE Zoomorfos Alto índice de degradação natural provocado principalmente por ação Tradição Vermelho e preto Geométricos natural: erosão do solo, depósito mineral, ninhos e insolação direta e Nordeste/Agreste Antropomórfica intempéries. O escorrimento de argila causou danos às pinturas

172

173 Figuras 17, 18, 19 e 20 – Sítio da Torrinha. Fonte: Caminhada Guiada

APÊNDICE G - FICHA CADASTRAL DO SÍTIO 06 – TORRINHA II

DATA LOCALIDADE NOME DO TIPO COORDENADAS ALTIMETRIA (m) SÍTIO X Y 18/11/2015 Povoado do Lapão Torrinha II Paredão 686 216827 8633995

DESCRIÇÃO DO SÍTIO POSIÇÃO EM TIPOLOGIA/ TOPOGRAFIA FLORA FAUNA LUMINOSIDADE RELAÇÃO AO CONSERVAÇÃO DESCRIÇÃO SOL Paredão de Relevo com Vegetação Roedores Direta amenizada em Índice de degradação elevado grande porte em declividade original (Mocó), curtos períodos do dia Norte-Sul principalmente por ação altura e moderada. desmatada pássaros, pela vegetação antrópica devido ao uso do extensão. Localizado na para aranhas secundárias solo para agricultura. O base de uma agricultura de desmatamento provoca erosão, dolina. sequeiro transporte de sedimentos e (milho, feijão) deposição na base do paredão. Vegetação Apresenta sinais de fogueira secundária. usadas para a prática da Árvores coivara. frutíferas.

DESCRIÇÃO DAS PINTURAS RUPESTRES COR CONSERVAÇÃO FORMA ESTILO PREDOMIANTE Índice de degradação elevado principalmente por ação natural, erosão do Zoomorfos Tradição solo, acúmulo de sedimentos, eflorescência salina, ninhos, etc. Parte do Vermelha e laranja. Geométricos Nordeste/Agreste painel está danificado pelo escorrimento de argila proveniente do topo da dolina. Apresenta poucas pichações

174

Figuras 21, 22, 23 e 24 – Sítio da Torrinha II.

Fonte: Caminhada Guiada

175

APÊNDICE H - FICHA CADASTRAL DO SÍTIO 07 – ABRIGO SANTA MARTA

DATA LOCALIDADE NOME DO TIPO COORDENADAS ALTIMETRIA (m) SÍTIO Abrigo Santa X Y 704 07/01/2016 Povoado do Lapão Paredão Marta 216569 8634972

DESCRIÇÃO DO SÍTIO POSIÇÃO EM TIPOLOGIA/ TOPOGRAFIA FLORA FAUNA LUMINOSIDADE RELAÇÃO AO CONSERVAÇÃO DESCRIÇÃO SOL Caatinga Pássaros, Indireta Voltado para o Degradação natural e antrópica Abrigo de Relevo apresenta arbórea abelhas, oeste moderada. Principal problema grande extensão declividade preservada vespas, observado, rachaduras na com abertura acentuada no início e bastante roedores estrutura rochosa provocada para uma do sítio e plana no densa (Mocós) pelo tráfico intenso de caverna não abrigo. caminhões na BA 122. explorada

DESCRIÇÃO DAS PINTURAS RUPESTRES COR CONSERVAÇÃO FORMA ESTILO PREDOMIANTE Zoomorfos Baixo nível de degradação natural resultante da preservação da vegetação Geométricos Tradição e da dificuldade de acesso. Mãos de várias Vermelha e preta. Nordeste/Agreste com Principais impactos: ação natural: erosão do solo, eflorescência salina, dimensões e muitas sobreposições depósitos orgânicos. Sobreposições de Problemas estruturais. pinturas

176

Figura 25 - Vista área do Sítio Santa Marta. Google Earth Pro em 20/01/2016.

Figuras 26, 27 e 28 – Sítio Abrigo Santa Marta.

177

APÊNDICE I - FICHA CADASTRAL DO SÍTIO 08 – LAPA DO DIVA/TAIÃO

DATA LOCALIDADE NOME DO TIPO COORDENADAS ALTIMETRIA (m) SÍTIO

07/01/2016 Lapa do Diva Paredão 687 216829 8630262

DESCRIÇÃO DO SÍTIO POSIÇÃO EM TIPOLOGIA/ TOPOGRAFIA FLORA FAUNA LUMINOSIDADE RELAÇÃO AO CONSERVAÇÃO DESCRIÇÃO SOL Declividade Na parte Pássaros, Indireta, proteção da Voltado para o leste Apresenta bom estado de moderada. A maior superior da abelhas, vegetação natural conservação. Localizado em Paredão com parte da trilha é dolina grande vespas, área particular com cercas de aberturas na feita em terreno área devastada. roedores proteção, o que dificulta o parte inferior plano. Nas Na parte inferior (Mocós) acesso. A vegetação também formando proximidades do Siriemas representa uma proteção da dolina abrigos com teto paredão pequena dificultando o acesso baixo distância com Caatinga declividade arbórea acentuada preservada.

DESCRIÇÃO DAS PINTURAS RUPESTRES COR CONSERVAÇÃO FORMA ESTILO PREDOMIANTE Vermelho Zoomorfos, As pinturas estão expostas às intemperes. Parte do painel apresenta Tradição Nordeste Geométricos pichações .

178

Figuras 29, 30, 31 e 32 – Sítio Lapa do Diva/Taião. Fonte: Caminhada Guiada

179

APÊNDICE J - FICHA CADASTRAL DO SÍTIO 09 – SÍTIO LAGOA GRANDE

DATA LOCALIDADE NOME DO TIPO COORDENADAS ALTIMETRIA (m) SÍTIO Sítio Lagoa X Y 08/01/2016 Lagoa Grande Paredão 629 Grande 220809 8631022

DESCRIÇÃO DO SÍTIO POSIÇÃO EM TIPOLOGIA/ TOPOGRAFIA FLORA FAUNA LUMINOSIDADE RELAÇÃO AO CONSERVAÇÃO DESCRIÇÃO SOL Inicialmente plana Caatinga Pássaros e Nos paredões é Voltado para o Avançado estado de Foram sem dificuldades de arbórea bem mocós, peixes indireta, encoberta leste. degradação natural e identificados acesso. A partir da preservada. como a traíra. pela vegetação. No antrópica. As ações naturais duas tipologias. metade do Plantas abrigo é direta estão ligadas à bioclastia. As A primeira é percurso a medicinais ações antrópicas estão formada por presença de alguns como relacionadas ao uso do espaço Paredões de blocos de rocha velame, como local de laser. Presença grande extensão dificultam o acesso arnica. de lixo, fogueiras coladas e a segunda é na parte norte do diretamente nos paredões. um abrigo com sítio pinturas n parte interna.

DESCRIÇÃO DAS PINTURAS RUPESTRES COR CONSERVAÇÃO FORMAS ESTILO PREDOMIANTE

As pinturas apresentam alto grau de desgaste provocados pela intempérie Geométricos, zoomorfos Tradição Nordeste o que dificulta o reconhecimento das formas. Parte do painel apresenta Vermelho e laranja e antropomorfos danos irreversíveis provocados pela da ação das fogueiras e pichações

180

Figuras 33, 34, 35 e 36 – Sítio Lagoa Grande. Fonte: Caminhada Guiada

181

Apêndice I - ENTREVISTA

Nome completo:

Data de Nascimento:

Endereço:

Telefone de Contato: DATA DA ENTREVISTA

1. DENOMINAÇÃO DO BEM CULTURAL

2. FALE SOBRE A HISTÓRIA DESSE BEM CULTURAL.

3. QUAL A RELAÇÃO QUE O SR (A). TEM COM ESSE BEM CULTURAL?

4. O SR(A). IDENTIFICA ALGUM PROBLEMA RELACIONADO A ESSE BEM CULTURAL?

5. COMO ACHA QUE PODE SER RESOLVIDO?

182