Malária A malária é uma doença infecciosa febril aguda, cujos agentes etiológicos são protozoários ( Plasmodium falciparum,P. malariae,P. ovale e P.vivax) transmitidos por vetores do gênero Anopheles. já foi área de transmissão da doença nos municípios litorâneos de norte a sul e das Serras Geral e do Mar até o Oceano Atlântico. Fatores ambientais como o clima favorável e a presença de floresta (Mata Atlântica), com bromélias que serviam de criadouros para os Anopheles kertezia, propiciavam a manutenção da doença. Após 24 anos de ações intensivas no combate ao vetor, na eliminação das condições para a sua proliferação, no tratamento dos doentes e nas ações de vigilância, em 1986 a transmissão da malária foi considerada interrompida no Estado. A partir daí , casos esporádicos de malária autóctone causada pelo P. vivax foram detectados em 1996, 1997, 1999, 2000, 2003 e 2010, principalmente, na região do Alto Vale do Itajaí ( Tabela 1).

Tabela 1. Casos autóctones de malária vívax, por município de ocorrência, Santa Catarina, 1996 – 2010. Município 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2010 Indaial 1 0 0 1 0 0 0 1 0 1 0 0 0 0 0 0 0 1 Gaspar 0 1 0 0 0 0 0 1 0 Mafra 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 1 0 0 0 0 Total 2 1 0 1 1 0 0 2 2 Fonte: FUNASA e SINAN

De acordo com o levantamento realizado em 48 municípios, no período de 1997 a 2004, foram identificadas espécies de anofelinos no território catarinense, conforme distribuição na Figura 1.

Figura 1. Levantamento da fauna anofélica, Santa Catarina, 1997 a 2004.

Total de municípios: 48 Total de anofelinos coletados: 7.303 Espécies identificadas: 13

Fonte: FUNASA E DIVE/SES. A presença de espécies vetoras associada à vulnerabilidade conferida pela detecção anual de doentes vindos da região amazônica e de paises endêmicos mantém o risco da reintrodução da doença no Estado (Tabelas 2 e 3).

Tabela 2. Casos confirmados de Malária, segundo Local Provável de Infecção, Santa Catarina, 2006 a 2012. 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 AC 3 3 1 0 1 6 0 AM 11 10 8 2 8 3 12 AP 0 0 0 1 2 0 2 MA 1 0 0 0 2 0 1 MS 1 2 0 1 0 0 0 MT 5 6 0 2 0 2 3 PA 9 3 3 2 3 5 8 RJ 0 0 0 0 0 0 1 RO 30 18 5 8 19 6 16 RR 3 1 0 2 0 1 0 SC 0 0 0 0 2 0 0 África do Sul 0 1 0 0 2 1 1 Angola 0 2 1 1 0 1 2 Bolívia 0 0 0 0 0 0 1 Congo 0 0 0 0 0 1 0 Filipinas 0 0 0 1 0 0 0 Gana 0 0 0 1 0 1 0 Guatemala 0 0 0 1 0 0 0 Guiana Francesa 0 0 1 0 1 0 0 Guiné Equatorial 0 0 0 0 0 1 0 Indonésia 0 1 2 0 0 0 0 Moçambique 0 0 0 1 0 0 0 Nigéria 0 0 0 0 0 0 1 Paraguai 0 1 0 0 0 0 0 Quênia 0 0 0 1 0 0 0 Suriname 0 1 0 0 0 0 0 Tanzânia 0 0 0 0 0 0 1 Uganda 0 0 0 0 0 0 2 Ign 6 1 1 0 0 0 3 Total 69 50 22 24 40 28 54 Fonte: SES-SC/DIVE/ SINAN

Tabela 3. Casos confirmados de malária e óbitos segundo etiologia, Santa Catarina, 2007 a 2012.

ANO 2007 2008 2009 2010 2011 2012 ESPECIE Casos Óbitos Casos Óbitos Casos Óbitos Casos Óbitos Casos Óbitos Casos Óbitos P. Falciparum 14 0 3 0 5 0 6 0 5 1 9 0 P. Vivax 33 0 19 0 17 0 34 1 19 1 44 0 P. Falc+vivax 3 0 0 0 2 1 0 0 4 0 1 0 P. Malariae 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 P. Ovale 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Total 50 0 22 0 24 1 40 1 28 2 54 0

Objetivando manter interrompida a transmissão da malária e a ocorrência de óbitos pela doença no Estado, o programa de controle da malária tem focado suas ações na vigilância para a suspeita, o diagnóstico precoce e o tratamento adequado e oportuno aos doentes. Para tanto, o LACEN, responsável pela gestão de diagnóstico, estabeleceu uma rede de referência, conforme disposto na Tabela 4:

Tabela 4. Rede de Laboratórios referência para diagnóstico da Malária em Santa Catarina.

Município Exames disponíveis Endereço Atende municípios das Gersas de: Blumenau Parasitológico e Laboratório de entomologia, Blumenau Imunocromatográfico GERSA Blumenau . Rua: Itajaí Braz Wanka, 238. Bairro Asilo. Blumenau – SC Chapecó Parasitológico e LACEN: Rua: Dom Joaquim Chapecó Imunocromatográfico Domingues de Oliveira, 100 Concórdia D, Bairro Passo dos Fortes Chapecó –SC Criciuma Parasitológico e LACEN: Rua Julio Araranguá Imunocromatográfico Gaidizinsk s/n. Em frente ao Criciúma Hospital São José. Criciúma - SC Florianópolis Parasitológico e LACEN: Rua Felipe Grande Florianópolis Imunocromatográfico Schmidt, 778 – Centro Lages Florianópolis-SC Joaçaba Parasitológico e LACEN: Rua Eliziário de Joaçaba Imunocromatográfico Carli,795 Videira Bairro Santa Tereza Joaçaba - SC Parasitológico e LACEN: Rua XV de Canoinhas Imunocromatográfico novembro, 70 – Centro Jaraguá do Sul Joinville – SC. Joinville Mafra São Miguel Parasitológico e LACEN: Rua Santos São Miguel do Oeste d’Oeste Imunocromatográfico Dumont, 131, Centro São Miguel D’Oeste – SC Tubarão Parasitológico e LACEN: Rua Rui Barbosa, Braço do Norte Imunocromatográfico 339, Centro Laguna Tubarão –SC Tubarão

Para os exames imunocromatográfico (teste de diagnóstico rápido) e parasitológico, o LACEN recomenda que seja enviado ao laboratório de referência sangue total com EDTA em tubo vacutainer (tampa roxa). Os casos confirmados de malária deverão ser tratados e acompanhados por médico da rede de saúde dos municípios utilizando esquema específico, considerando a espécie de Plasmodium identificada, conforme orientações disponíveis no “““Guia prático de tratamento da malária no Brasil ”””, do Ministério da Saúde, no endereço: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_prat ico_malaria.pdf

O tratamento da malária visa atingir o parasito em pontos-chave de seu ciclo evolutivo, atuando: a) na interrupção da esquizogonia sanguínea, responsável pela patogenia e manifestações clínicas da infecção; b) na destruição de formas latentes do parasito no ciclo tecidual (hipnozoítos) das espécies P. vivax e P. ovale , evitando assim as recaídas tardias; c) na interrupção do processo de transmissão do parasito, através do uso de drogas que impedem o desenvolvimento de formas sexuadas dos parasitos (gametócitos).

Pessoas apresentando febre até 30 dias após o retorno de viagem de áreas endêmicas (dentre elas: África, Ásia, Amazônia Legal) deverão realizar, com urgência, exames para pesquisa de malária.

A urgência na realização do exame é necessária pela possibilidade do quadro clínico evoluir para a gravidade com rapidez, dependendo da espécie do parasito (P.falciparum ), da quantidade de parasitos circulantes, do tempo de doença e do nível de imunidade adquirida pelo paciente.

Atenção especial deverá ser dada nos tratamentos dos pacientes com malária causada pelos P. vivax e P. ovale , ajustando a dose e tempo de administração da primaquina ao peso do paciente (Quadro 3. do Guia Prático de Tratamento da Malária ), a fim de destruir as formas latentes do parasito (hipnozoítos), prevenindo prováveis recaídas.

A análise dos dados do SINAN, no período de 2010 a 2012, mostra percentual significativo de recaídas dos casos de malária vivax (Figura 1).

Frequência de recaídas de malária, por P.vivax , Santa Catarina - 2009 a 2012

Ano Casos Recaídas %recaídas 2010 34 4 11,8 2011 23 4 17,4 2012 45 8 17,8 Total 102 16 15,7 Fonte: SINAN

As recaídas causadas pela infecção pelo P. vivax ou P. ovale, ocorrem porque os parasitos têm tempos diferentes de desenvolvimento. Alguns se desenvolvem rapidamente nas células do fígado (hepatócitos) enquanto outros, chamados hipnozoítos, ali ficam em estado de latência por períodos variáveis de incubação, geralmente 6 meses ou mais. A droga hipnozoiticida dos P.vivax e P.ovale disponível no Brasil é a primaquina. O guia prático de tratamento da malária no Brasil disponível no endereço eletrônico: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_pratico_malaria.pdf ; apresenta dois esquemas de tratamento das infecções pelo P.vivax ou P. ovale: o curto, com cloroquina em 3 dias e primaquina em 7 dias ( Tabela 1, pag.18); e o longo, com cloroquina em 3 dias e primaquina em 14 dias (Tabela 2. pag.19). Em caso de pacientes com mais de 70kg de peso, a dose deverá ser ajustada, calculando-se a dose total de 3,2mg/kg de peso, estendendo-se o tempo de tratamento para além dos 14 dias, até completar a dose total necessária (Quadro 3. Pag20).

Considerando o percentual de recaídas detectado

recomendamos que seja utilizado, em Santa Catarina, o esquema longo

nos tratamentos das infecções pelo P. vivax ou P. ovale.

O diagnóstico precoce, o tratamento oportuno e adequado, o envolvimento dos profissionais da atenção básica, no sentido de acompanhar a evolução clínica do doente, a adesão ao esquema terapêutico e realização das lâminas de verificação de cura após o início do tratamento, nos dias 3, 7, 14, 21, 28 e 40, para malária causada pelo P.vivax ou malária mista (P.vivax +P.falciparum) e nos dias 3, 7, 14, 21, 28 e 40, para malária causada pelo P.falciparum, são essenciais para o sucesso do tratamento.

Os medicamentos para tratamento dos casos confirmados de malária

sem complicações ou grave estão disponíveis estrategicamente em 20 Gerências de Saúde do estado: Xanxerê, São Miguel D’Oeste, Concórdia, Joaçaba, Videira, Chapecó, Rio do Sul, Blumenau, Itajaí, Florianópolis, Laguna, Tubarão, Criciúma, Araranguá, Joinville, Jaraguá do Sul, Mafra, Canoinhas, Lages e Braço do Norte.

Frente a uma suspeita de malária, a unidade de saúde deverá notificar imediatamente à Vigilância Epidemiológica do município, a fim de desencadearem a investigação, diagnóstico e tratamento oportunos. Os procedimentos de investigação deverão ser guiados pela Ficha de Investigação Epidemiológica (FIE) do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN).

Informações detalhadas sobre o agravo, atendimento ao paciente, vigilância epidemiológica e prevenção de malária para viajantes estão disponíveis nos endereços eletrônicos: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_pratico_malaria.pdf ; http://10.1.1.213/portal/arquivos/pdf/guia_prof_saude_prev_malaria_viajantes_20_01.pdf ; http://portal.saude.gov.br/portal/saude/profissional/visualizar_texto.cfm?idtxt=31087&janela=1

Bibliografia consultada: 1. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Guia de vigilância epidemiológica. 7ª Edição. Brasília 2009.

2. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Guia prático de tratamento da malária no Brasil. Brasília 2010.

3. Brasil. Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde. Manual de terapêutica de malária. Brasília 1996.

4. Organização Mundial da Saúde. Tratamento da Malária Grave e Complicada/Guia de Condutas Práticas. 2ª Edição. Genebra 2000.