Plano de Manejo da Estação Ecológica de Diagnóstico da UC

DIAGNÓSTICO

– Estação Ecológica de Murici –

JUNHO DE 2017

Plano de Manejo da Estação Ecológica de Murici Diagnóstico da UC

PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

Michel Temer

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE Sarney Filho – Ministro

INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE Ricardo Soavinski – Presidente

DIRETORIA DE CRIAÇÃO E MANEJO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO Paulo Henrique Marostegan e Carneiro - Diretor

COORDENAÇÃO GERAL DE CRIAÇÃO, PLANEJAMENTO E AVALIAÇÃO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO Ricardo Brochado – Coordenador Geral

COORDENAÇÃO DE ELABORAÇÃO E REVISÃO DE PLANOS DE MANEJO Ana Rafaela D’Amico – Coordenadora

CHEFE DA ESTAÇÃO ECOLÓGICA DE MURICI

Nelma Toledo Mendonça

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CRÉDITOS TÉCNICOS E INSTITUCIONAIS

EQUIPE DE ELABORAÇÃO DO PLANO DE MANEJO DA ESEC MURICI

Coordenação Geral do Plano

Maria das Dores de Vasconcelos Cavalcante Melo – AMANE / Associação para Proteção da Mata Atlântica do Nordeste (www.amane.org.br)

Coordenação Técnica

Bruno Paes Castelo Branco - AMANE

Coordenação Administrativo Financeiro

Mariana Cardim Fontes de Almeida - AMANE

Assessoria Técnica

Bruno Ximenes Pinho - AMANE

Assessoria de Comunicação

Cláudia Vital - AMANE

Estagiários de Ciências Biológicas / Ciências Ambientais

Ravi Santos da Rocha - AMANE

Equipe de Supervisão e Acompanhamento pelo ICMBio

Luciana Costa Mota – Coordenação de Elaboração e Revisão de Planos de Manejo / COMAN

Lílian Letícia Mitiko Hangae - Coordenação de Elaboração e Revisão de Planos de Manejo / COMAN

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Desireé Cristiane Barbosa da Silva - Coordenação de Elaboração e Revisão de Planos de Manejo/ COMAN

Elaboração de Mapas

Mateus Dantas de Paula – AMANE

Rogério Silva - Coordenação de Elaboração e Revisão de Planos de Manejo / COMAN - ICMBio

Estruturação e Redação do Diagnóstico

Bruno Paes Castelo Branco – AMANE

Luciana Costa Mota – Coordenação de Elaboração e Revisão de Planos de Manejo / ICMBio

Estruturação e Redação do Planejamento

Maria das Dores de Vasconcelos Cavalcante Melo – AMANE

Lílian Letícia Mitiko Hangae - Coordenação de Elaboração e Revisão de Planos de Manejo / ICMBio

Luciana Costa Mota – Coordenação de Elaboração e Revisão de Planos de Manejo / ICMBio

Desireé Cristiane Barbosa da Silva - Coordenação de Elaboração e Revisão de Planos de Manejo / ICMBio

Nelma Toledo Mendonça – ESEC de Murici

Equipe da Unidade de Conservação

Nelma Toledo Mendonça

Walt Silva Sobrinho

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Apoio

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...... 16 2. INFORMAÇÕES GERAIS ...... 19 2.1. Localização e acesso à Unidade de Conservação ...... 19 2.1.1. Localização da ESEC Murici ...... 19 2.1.2. Acesso à ESEC Murici ...... 21 2.2. Origem do nome e histórico de criação da UC ...... 24 3. ANÁLISE DO CONTEXTO LEGAL DA ESEC MURICI ...... 25 3.1. Contexto internacional ...... 25 3.1.1. A ESEC Murici e a Reserva da Biosfera da Mata Atlântica - RBMA ...... 25 3.1.2. A ESEC Murici no âmbito da Convenção sobre Diversidade Biológica – CDB ...... 26 3.1.3. Convenção sobre Comércio Internacional das Espécies de Fauna e Flora em Perigo de Extinção (CITES) ...... 28 3.2. Legislação Federal, Estadual e Municipal incidente sobre a ESEC Murici ...... 32 3.2.1. Legislação Federal ...... 32 3.2.2. Legislação Estadual ...... 33 4. ANÁLISE DA REPRESENTATIVIDADE DA ESEC MURICI ...... 34 4.1. A ESEC Murici e o cenário federal ...... 34 4.2. A ESEC Murici no contexto da Mata Atlântica ...... 44 4.3. A ESEC Murici e o Cenário Estadual ...... 51 5. ASPECTOS HISTÓRICOS E PATRIMÔNIO CULTURAL ...... 59 5.1. Contexto histórico ...... 59 5.2. Usos da Flora e da Fauna Local ...... 61 6. SOCIOECONOMIA ...... 65 6.1. Características da população na Região da UC ...... 65 6.1.1. Distribuição e Crescimento Populacional ...... 66 6.1.2. Composição Populacional ...... 68 6.1.3. Educação ...... 71 6.1.4. Saneamento Básico e Condições de Moradia ...... 79 6.1.5. Economia, Emprego e Renda ...... 82

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6.1.6. Índices de Desenvolvimento Humano ...... 87 6.2. Breve caracterização socioeconômica do Complexo Florestal Murici – CFM, no entorno imediato da ESEC Murici ...... 90 6.2.1. Faixa etaria ...... 90 6.2.2. Sexo e Escolaridade ...... 90 6.2.3. Modo de vida ...... 91 6.2.4. Uso da terra e a renda familiar ...... 92 6.2.5. Tempo de residência e expectativa de mudanca para outro local ...... 92 6.3. Uso e ocupação da terra e problemas ambientais decorrentes ...... 92 6.4. Visão das comunidades sobre a Unidade de Conservação ...... 96 6.5. Alternativas de desenvolvimento econômico sustentável...... 98 7. CARACTERIZAÇÃO DOS FATORES ABIÓTICOS E BIÓTICOS DA ESEC MURICI ...... 103 7.1. Clima ...... 103 7.2. Geologia ...... 105 7.3. Relevo/Geomorfologia ...... 108 7.4. Solos ...... 111 7.5. Hidrografia ...... 114 7.6. Espeleologia ...... 117 7.7. Vegetação ...... 117 7.7.1. Composição Florística ...... 120 7.7.2. Ameaças à Vegetação ...... 131 7.8. Fauna ...... 138 7.8.1. Vertebrados ...... 139 7.8.2. Invertebrados ...... 154 8. SITUAÇÃO FUNDIÁRIA ...... 156 9. INCÊNDIOS ...... 159 10. ASPECTOS INSTITUCIONAIS DA UNIDADE DE CONSERVAÇÃO ...... 161 10.1. Pessoal ...... 161 10.2. Infraestrutura, Equipamentos e Serviços...... 161 10.3. Estrutura Organizacional ...... 162

7 Plano de Manejo da Estação Ecológica de Murici Diagnóstico da UC

10.4. Atividades de Gestão ...... 163 10.4.1. Fiscalização ...... 163 10.4.2. Pesquisa ...... 163 10.4.3. Integração com o entorno ...... 165 10.4.5. Visitação ...... 165 10.4.6. Atividades ou Situações Conflitantes presentes na ESEC Murici ...... 165 11. DECLARAÇÃO DE SIGNIFICÂNCIA ...... 167 12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...... 170

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Região da ESEC Murici, evidenciando outras UCs que em conjunto formam o Complexo Florestal de Murici, a exemplo da APA Murici, onde a ESEC está inserida, e de algumas RPPNs...... 20 Figura 2. Acesso à ESEC Murici a partir da capital e dos principais centros urbanos inseridos na Região da UC...... 23 Figura 3. Zoneamento da Reserva da Biosfera: zonas-núcleo, zona de transição e zonas tampão ou intermediária. Fonte: SEIA (2009)...... 25 Figura 4. Reservas da Biosfera no Brasil (Disponível em: www.rbma.org.br). Acesso em 15/03/2012...... 26 Figura 5. A ESEC Murici no contexto das áreas prioritárias para a conservação. Fonte: MM, 2007...... 27 Figura 6. Pintor-verdadeiro Tangara fastuosa, espécie de ave símbolo do Corredor de Biodiversidade do Nordeste, que consta da lista de espécies da CITES...... 28 Figura 7. Representatividade das Unidades de Conservação Federais...... 37 Figura 8. Estações Ecológicas Federais no Brasil...... 41 Figura 9. Distribuição das Unidades de Conservação federais nos biomas brasileiros. 43 Figura 10. Remanescentes de Mata Atlântica e ecossistemas associados (Fonte: adaptado de Fundação SOS Mata Atlântica/INPE, 2008)...... 44 Figura 11. Unidades de Conservação de Proteção Integral e de Uso Sustentável no Bioma Mata Atlântica...... 46 Figura 12. Região da Mata Atlântica do Nordeste, exibindo destacado, em vermelho, o Centro de Endemismo Pernambuco...... 47 Figura 13. Áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade no Centro de Endemismo Pernambuco (MMA 2002)...... 49 Figura 14. Remanecentes do Bioma Mata Alântica no Estado de ...... 52 Figura 15. Unidades de Conservação federais e Terras Indígenas no Estado de Alagoas ...... 53

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Figura 16. Número de UCs em cada uma das categorias de manejo definidas pelo SNUC, em Alagoas...... 54 Figura 17. Área protegida de acordo com os grupos de manejo definidos pelo SNUC, em Alagoas...... 54 Figura 18. Participação das esferas de poder no cômputo total da área total (hectares) protegida por unidades de conservação em Alagoas...... 55 Figura 19. Casa-de-farinha comunitára do Assentamento Dom Hélder, Murici, Alagoas...... 60 Figura 20. Uso de recursos florestais pelo grupo envolvido nos trabalhos de sensibilização e capacitação da AMANE (cooperados da COOPF Murici), e o público não envolvido (não-cooperados), no Complexo Florestal de Murici, Alagoas (AMANE, 2011)...... 62 Figura 21. Uso de combustíveis (gás e lenha) por famílias dos assentamentos Ernesto Che Guevara e Dom Hélder, em Murici, Alagoas; incluindo o público envolvido (cooperados) e o mais distante (não-cooperado) dos trabalhos de sensibilização da AMANE...... 63 Figura 22. Principal fonte energética das famílias dos assentamentos Ernesto Che Guevara e Dom Hélder, em Murici, Alagoas. Tanto o público que não participa das ações da AMANE, quanto o público envolvido apresenta, predominantemente, a lenha como principal fonte energética (AMANE, 2011)...... 63 Figura 23. Principais fontes de lenha de famílias dos assentamentos Ernesto Che Guevara e Dom Hélder, em Murici, Alagoas. Não foram observadas diferenças entre o padrão do público envolvido nos trabalhos da AMANE (cooperados da COOPF-Murici) e o público menos envolvido (não-cooperados)...... 64 Figura 24. Número total da população dos municípios da região da ESEC Murici: , , São Luis do Quitunde, União dos Palmares, Murici, Joaquim Gomes e Messias. Fonte: PNUD 2009...... 66 Figura 25. Pirâmides etárias do Brasil e dos municípios da Região da ESEC Murici. Fonte: IBGE (2010)...... 70

10 Plano de Manejo da Estação Ecológica de Murici Diagnóstico da UC

Figura 26. Índice da Educação Básica – IDEB, observados para os anos iniciais e finais nos municípios da Região da ESEC Murici entre os anos de 2005 e 2009...... 76 Figura 27. Valor adicionado ao PIB dos municípios da Região da ESEC Murici, de Alagoas e do Brasil por setores da economia em 2009. Fonte: IBGE – Cidades...... 84 Figura 28. Índice de Gini dos municípios da Região da ESEC Murici, de Alagoas e do Brasil para os anos de 1991,2000 e 2010...... 86 Figura 29. Uso e ocupação do solo da ESEC Murici e seu entorno...... 95 Figura 30. Proposta de duplicação da BR-101 na Região da ESEC Murici, demonstrando em destaque, em amarelo, a área que será impactada pela obra...... 96 Figura 31. Idéias Centrais extraídas das respostas dos entrevistados dos assentamentos Dom Hélder e Pacas à pergunta “ Pra que serve a mata de Murici?”...... 97 Figura 32. Idéias Centrais extraídas das respostas dos entrevistados dos assentamentos Dom Hélder e Pacas à pergunta “Quem você acha que cuida da Mata de Murici?” considerando um total de 58 expressões-chave...... 98 Figura 33. Comparação da renda familiar entre cooperados da COOPF – Murici e não- cooperados. Percebe-se uma maior frequência de famílias não-cooperadas com menos de um salário mínimo...... 99 Figura 34. Principais fontes de alimentos de cooperados e não-cooperados da COOPF- Murici. Pode-se observar uma maior auto-suficiência alimentar dos cooperados, que em geral apresentam como principal fonte de renda a agricultura (AMANE, 2011). . 100 Figura 35. Percepção de melhoria de produção nos últimos 5 anos (tempo de atuação da AMANE no período) por cooperados e não-cooperados da COOPF Murici (AMANE, 2011)...... 100 Figura 36. Técnicas de produção de cooperados e não-cooperados da COOPF-Murici (AMANE, 2011)...... 101 Figura 37. Temperatura média de Maceió, Alagoas, registrada entre 1961 e 1990. Fonte: INMET...... 103 Figura 38. Precipitação média de Maceió, Alagoas, registrada entre 1961 e 1990. Fonte: INMET...... 104

11 Plano de Manejo da Estação Ecológica de Murici Diagnóstico da UC

Figura 39. Evaporação média de Maceió, Alagoas, registrada entre 1961 e 1990. Fonte: INMET...... 104 Figura 40. Umidade média de Maceió, Alagoas, registrada entre 1961 e 1990. Fonte: INMET...... 105 Figura 41. Domínios geológicos presentes na ESEC Murici...... 107 Figura 42. Geomorfologia da ESEC de Murici...... 110 Figura 43. Altimetria da ESEC Murici...... 111 Figura 44. Pedologia da ESEC Murici...... 113 Figura 45. Hidrografia da ESEC Murici...... 116 Figura 46. Vegetação da ESEC Murici...... 119 Figura 47. Relações entre a fragmentação da floresta e outros fatores associados que levam ao declínio de populações de árvores em escala local e regional. Fonte: adaptado de Tabarelli et al. (2004)...... 132 Figura 48. Exemplos de espécies ameaçadas de extinção, que têm a ESEC Murici como um dos últimos abrigos. À esquerda, o Limpa-Folha-do-Nordeste (Philydor novaesi) e, à direita, o Choquinha-de-Alagoas (Myrmotherula snowi). Fonte: Save-Brasil et al., 2009 – Aves da Mata Atlântica do Nordeste...... 141 Figura 49. Situação Fundiária da ESEC Murici...... 158 Figura 50. Focos de calor próximos à Estação Ecológica de Murici - Alagoas, segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis. (adaptado de: IBAMA, 2006)...... 159 Figura 51. Áreas críticas de ocorrência potencial de incêndios florestais na Estação Ecológica de Murici, Alagoas Fonte: IBAMA (2006)...... 160

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Municípios onde se insere a ESEC Murici, percentual do município abrangido pela UC e da UC inserida no município...... 19 Tabela 2. Acesso à ESEC Murici, a partir da capital e dos principais centros urbanos inseridos na Região da UC...... 21

Tabela 3. Tratados e programas ambientais multilaterais dos quais o Brasil é signatário e sua aplicação à ESEC Murici, em Alagoas...... 30

Tabela 4. Legislação federal incidente sobre a ESEC Murici...... 32

Tabela 5. Legislação estadual incidente sobre a ESEC Murici...... 34

Tabela 6. Representatividade de cada categoria de UC em diferentes esferas administrativas...... 36

Tabela 7. Representatividade da Estação Ecológica de Murici, Estado de Alagoas, no âmbito do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (n.a - não se aplica; UC – Unidade de Conservação; ESEC – Estação Ecológica)...... 38

Tabela 8. Estações Ecológicas federais...... 39

Tabela 9. Área total e área protegida por UCs federais nos Biomas brasileiros...... 42

Tabela 10. Área e % da Mata Atlântica sob proteção integral ou uso sustentável, e representatividade da ESEC Murici em relação às UCs de proteção integral presentes no Bioma...... 45

Tabela 11. Unidades de Conservação (federais, estaduais e municipais) existentes no Estado de Alagoas...... 56

Tabela 12. Número de matrículas, docentes e estabelecimentos de ensino nos municípios da Região da ESEC Murici, em Alagoas, Brasil...... 72

Tabela 13 . Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – IDEB da rede de ensino pública dos municípios da Região da ESEC Murici, do Estado de Alagoas e do Brasil. .. 75

Tabela 14. Taxas de analfabestismo dos municípios da Região da ESEC Murici, do Estado de Alagoas, e do Brasil...... 78

Tabela 15. Condições de moradia e serviços de saneamento nos municípios da ESEC Murici: 2000 e 2010...... 81

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Tabela 16. Déficit habitacional nos municípios da Região da ESEC Murici: 2000 e 2010...... 82

Tabela 17. Valor adicionado ao PIB dos municípios da Região da ESEC Murici, de Alagoas e do Brasil por setores da economia em 2009...... 83

Tabela 18. Valor do rendimento nominal médio mensal per capita dos domicílios particulares permanentes na Região da ESEC Murici, Alagoas e Brasil...... 85

Tabela 19. Índice de Gini dos municípios da Região da ESEC Murici, de Alagoas e do Brasil para os anos de 1991,2000 e 2010...... 86

Tabela 20. Indicadores de desenvolvimento humano dos municípios da Região da ESEC Murici, em 2000 e 2010. IDH-R: Índice de Desenvolvimento Humano – Renda; IDH – L: Índice de Desenvolvimento Humano – Longevidade; IDH-E: Índice de Desenvolvimento Humano – Educação...... 89

Tabela 21. Domínios geológicos presentes na ESEC Murici...... 106

Tabela 22. Classes de declividade observadas na ESEC Murici e percentual em relação à área total da UC...... 108

Tabela 23. Classes altimétricas observadas na ESEC Murici e percentual em relação à área total da UC...... 109

Tabela 24. Tipos de vegetação e vegetação remanescente na Floresta Atlântica ao norte do Rio São Francisco. Fonte: CI (2004)...... 117

Tabela 25. Composição Florística da ESEC Murici...... 121

Tabela 26. Lista de espécies de plantas nativas e exóticas observadas na RPPN Vila D’água, adjacente à ESEC Murici, em Alagoas...... 124

Tabela 27. Espécies exóticas e exóticas invasoras encontradas na Estação Ecológica de Murici (AL) e suas respectivas informações taxonômicas (família, nome científico e nome popular), forma de ocorrência na unidade, uso(s) na região, área de distribuição natural, descrição de outros locais onde a espécie é invasora e presença na base de dados nacional sobre espécies exóticas invasoras (I3N-Brasil, 2011). Forma de ocorrência: (1) espécie ornamental, presente ou estabelecida em um ou poucos pontos, associada a edificações atuais, fora dos fragmentos; (2) espécie frutífera, presente ou estabelecida em um ou poucos pontos, associada a edificações antigas ou atuais, fora dos fragmentos; (3) espécie ornamental, presente ou estabelecida em um ou poucos pontos, associada a antigas edificações no interior dos fragmentos; (4)

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espécie frutífera, presente ou estabelecida em um ou poucos pontos, associada a antigas edificações, no interior dos fragmentos; (5) espécie exótica invasora dispersa em áreas convertidas por toda a unidade; (6) espécie exótica invasora, com populações dispersas nos fragmentos, em densidade baixa; (7) espécie exótica invasora, com populações dispersas nos fragmentos, em densidade média; (8) espécie exótica invasora, com populações dispersas nos fragmentos, em densidade alta. .... 135

Tabela 28. Aves registradas na ESEC Murici e na RPPN Vila D’Água (adjacente à ESEC Murici), com definição do hábito alimentar e do status de ameaça à extinção e grau de endemismo. Hábito alimentar ou Grupo trófico: FRU = frugívoro, PRE = predador, NEC = nectívoro, INS = insetívoro, ONI = onívoro, DETR = Detritívoro, AQUA = Aquático, GRA = Granívoro. Categoria de ameaça à extinção segundo o MMA: QA = Quase ameaçada, EP = Em perigo, VU = Vulnerável, CR = Criticamente ameaçada. Categoria de ameaça à extinção segundo a Birdlife : NT = Near Threatened, LC = Least Concern, EN = Endangered, VU = Vulnerable, CR = Critically Endangered. Grau de endemismo: FA = Floresta Atlântica, CP = Centro Pernambuco. (*) – Espécies registradas na RPPN e na ESEC. (**) – Espécies registradas apenas na RPPN...... 142

Tabela 29. Lista de espécies de aranhas Terafosídeas (Araneae, Mygalomorphae, Theraphosidae) observadas na ESEC Murici, em Alagoas (Bertani et al. , 2006)...... 154

Tabela 30. Quadro de funcionários da ESEC Murici (dezembro de 2013)...... 161

Tabela 31. Equipamentos da ESEC Murici...... 162

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1. INTRODUÇÃO

Criada pelo Decreto Federal s/n° de 28 de maio de 2001, a Estação Ecológica (ESEC) de Murici ocupa uma área de 6.116,43 ha, distribuída nos municípios de Messias, Flexeiras e Murici (Figura 1). De acordo com a Lei nº 9.985/00, que estabelece o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), a Estação Ecológica é uma das categorias que se enquadram no grupo das Unidades de Proteção Integral. Estas UCs têm como objetivo básico conservar biodiversidade, sendo admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais. Mais especificamente, no âmbito das unidades classificadas como Estação Ecológica, é permitida apenas a realização de pesquisas científicas, e/ou a promoção de turismo ecológico com objetivos educacionais, quando devidamente disposto no Plano de Manejo.

Segundo o SNUC, o plano de manejo é um “documento técnico mediante o qual, com fundamento nos objetivos gerais de uma unidade de conservação (UC), se estabelece o seu zoneamento e as normas que devem presidir o uso da área e o manejo dos recursos naturais, inclusive a implantação das estruturas físicas necessárias à gestão da unidade”. Também de acordo com as orientações do SNUC, todas as UCs devem dispor de um plano de manejo, cuja elaboração deve seguir as orientações de roteiros metodológicos, que devem ser elaborados pelos órgãos responsáveis pela gestão das UCs.

Como a ESEC Murici é uma UC Federal, gerida pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a elaboração deste Plano de Manejo seguiu as orientações apresentadas no Roteiro Metodológico de Planejamento: Parque Nacional, Reserva Biológica, Estação Ecológica (IBAMA, 2002), com adaptações sugeridas pela equipe do ICMBio. O Planejamento da Unidade foi definido com base no diagnóstico, elaborado a partir de dados publicados sobre a Unidade, e em informações obtidas por ocasião da realização dos eventos de participação social (reuniões nas comunidades e prefeituras da Região da ESEC; e Oficina de Planejamento Participativo – OPP). O presente Plano de Manejo, primeiro a ser elaborado para a ESEC, foi realizado pela Associação para a Proteção da Mata Atlântica do Nordeste – AMANE, no âmbito do seu acordo de cooperação técnica (nº 11/2008) com o ICMBio, e com o apoio, em algumas atividades específicas, da Aliança para Conservação da Mata Atlântica. O acordo de cooperação técnica da AMANE com o ICMBio envolve, além da elaboração do seu plano de manejo, a capacitação continuada dos gestores, visando à gestão participativa da Unidade. Isso vem sendo realizado em diversos cursos, oficinas e encontros, promovidos pela AMANE junto aos gestores (i.e. aqueles que se consideram envolvidos, direta ou indiretamente, com a gestão) da ESEC Murici. A elaboração deste plano de manejo, nesse contexto, não representa um fim por si só, mas sim um primeiro passo de um processo de planejamento que deve ser contínuo, com o constante monitoramento e adaptação das ações de manejo ao longo do tempo. Assim, ao final da implementação deste plano, que deve ocorrer ao longo de cinco anos, novas ações devem ser planejadas, de forma a aperfeiçoar o manejo da ESEC Murici, agregando as informações e experiências obtidas nesta primeira etapa.

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Plano de Manejo da Estação Ecológica de Murici Diagnóstico da UC

Ficha Técnica da Unidade de Conservação

Nome da unidade de conservação: Estação Ecológica de Murici Coordenação Regional, endereço, telefone: CR-6 Cabedelo, BR-230, Km-10, Floresta Nacional da Restinga de Cabedelo - Cabedelo/PB, CEP: 58310-000 Unidade de Apoio Administrativo e Financeiro responsável: CENTRO DE PRO TEÇÃO DE PRIMATAS BRASILEIROS. Praça Antenor Navarro, nº 5 – Varadouro – João Pessoa – PB CEP: 58010-480 Endereço da sede: Rua Marino Vieira de Araújo, s/n – Cidade Alta – Murici – AL CEP: 57820-000 Telefone: (82) 3286-1245 Fax: (82) 3286-1245 e-mail: [email protected] Área da UC (ha): 6.116,43 Perímetro da UC (km): 63,51 Área da ZA (ha) proposta: 23.557,10 Perímetro da ZA (km) proposta: 160,53 Municípios que abrange e percentual abrangido pela UC: abrange os municípios de Messias, Flexeiras e Murici, com os seguintes percentuais: V Messias - 0,46% da área do Município é UC e 0,86% da UC estão no Município; V Flexeiras - 7,23% da área do Município é UC e 37,41% da UC estão no Município; V Murici - 8,88% da área do Município é UC e 61,73% da UC estão no Município; Estados que abrange : Alagoas (AL) Coordenadas geográficas (latitude e longitude): 9º 14' 40,04''S / 35º 51' 18.13'' W Decreto e data de criação: Decreto Federal s/n° de 28 de maio de 2001 Bioma: Mata Atlântica Ecossistemas: Floresta Ombrófila Aberta/Floresta Ombrófila Densa

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Plano de Manejo da Estação Ecológica de Murici Diagnóstico da UC

Atividades ocorrentes: V Educação ambiental: Realização de palestras de sensibilização e cursos de capacitação nas escolas dos municípios da Região da UC, em assentamentos rurais adjacentes à Unidade , e no Centro de Educação para Conservação do CFM, administrado pela AMANE em Murici. V Fiscalização: Realizada por fiscais do ICMBio com o apoio do Batalhão da Polícia Ambiental – BPA, em operações planejadas. V Pesquisa: Atividade que apresentou crescimento a partir de 2013 , sendo predominantes estudos relacionados à fauna. V Visitação: Ocorrem visitas educativas, mas em número reduzido. V Atividades conflitantes: Caça de animais silvestres, extração de madeira e lenha, criação de gado, plantio de bananeiras (dentre outros), culturas de subsistência e presença de uma estação de pesquisa em melhoramento genético de cana-de-açúcar.

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2. INFORMAÇÕES GERAIS

2.1. Localização e acesso à Unidade de Conservação

2.1.1. Localização da ESEC Murici

A ESEC Murici está localizada no nordeste do Estado de Alagoas, a aproximadamente 50 km da capital, Maceió. Encontra-se nos contrafortes orientais do Planalto da Borborema, entre as coordenadas geográficas de 09°15´ S e 35°50’W (Whitney & Pacheco, 1995), abrangendo uma área de 6.116,43 ha. Como pode ser observado no mapa de localização da ESEC (Figura 1), a Unidade abrange três municípios: Murici (onde está inserida em sua maior parte), Flexeiras e Messias (Tabela 1); com a Zona de Amortecimento proposta para a UC englobando mais quatro outros municípios: Branquinha, União dos Palmares, Joaquim Gomes e São Luís do Quitunde. Todo o território da ESEC Murici está inserido na Área de Proteção Ambiental (APA) de Murici (Figura 1), UC estadual criada pela lei nº 5.907, de 14 de março de 1997. Essas unidades, junto com algumas reservas particulares presentes na região, formam em conjunto um complexo florestal com grande valor para conservação, denominado Complexo Florestal de Murici (CFM) (Figura 1).

Tabela 1. Municípios onde se insere a ESEC Murici, percentual do município abrangido pela UC e da UC inserida no município.

% DO MUNICÍPIO % DA ESEC INSERIDO MUNICÍPIO PROTEGIDO PELA ESEC NO MUNICÍPIO

Murici 8,88 61,73 Flexeiras 7,23 37,41 Messias 0,46 0,86

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Plano de Manejo da Estação Ecológica de Murici Diagnóstico da UC

Figura 1. Região da ESEC Murici, evidenciando outras UCs que em conjunto formam o Complexo Florestal de Murici, a exemplo da APA Murici, onde a ESEC está inserida, e de algumas RPPNs. 20

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2.1.2 . Acesso à ESEC Murici

Nas proximidades da ESEC Murici, não existem rios navegáveis e ferrovias, bem como campos de pouso. O aeroporto mais próximo está localizado em Maceió, capital do Estado. O principal acesso à ESEC é feito a partir deste município, percorrendo aproximadamente 56 km de estrada asfaltada pela BR-101 na direção norte, até o município de Flexeiras, onde a ESEC margeia a BR-101 (Figura 2). Esta rodovia se apresenta em boas condições de trafegabilidade, de forma que, dependendo da intensidade do tráfego, este percurso dura entre 30 e 40 minutos (Tabela 2). Outro acesso é feito pela BR-104, a partir da cidade de Murici, seguindo por 16 km de estradas de terra (Figura 2) (Tabela 2). No período de seca (setembro a março) este percurso é feito em 30 minutos, enquanto que no período de chuvas (abril a agosto) ele pode ficar intransitável. Partindo dos municípios de Flexeiras, Messias, Branquinha e União dos Palmares, pode-se seguir por um desses caminhos (i.e. BR-101 ou BR-104; Figura 2), conforme indicado na Tabela 2.

Há opções de transporte rodoviário até a ESEC a partir de Maceió, seguindo até a entrada do município de Murici no ônibus com destino a União dos Palmares. A partir da cidade de Recife, para se chegar à UC é necessário ir até a rodoviária do município de Caruaru e, a partir deste ponto, ir até a entrada de Murici por meio do transporte rodoviário que segue para Maceió. Nos dois casos, para percorrer o trecho ao longo da estrada não pavimentada até a ESEC, o único meio de transporte disponível é o moto- táxi.

Tabela 2. Acesso à ESEC Murici, a partir da capital e dos principais centros urbanos inseridos na Região da UC.

Tempo estimado Acessos à Vias de Distâncias Características Meio de do percurso UC Acesso (Km) das Vias Transporte (minutos)

Não Estrada de Veículos 13,61 pavimentada, 48 Terra 4x4 União dos mal conservada Palmares Rodovia (BR- Pavimentada, 25,5 15 Veículos 104) bem conservada Não Estrada de Veículos Murici 13,61 pavimentada, 48 Terra 4x4 mal conservada

Rodovia (BR- Pavimentada, Flexeiras 9,2 6 Veículos 101) bem conservada

Branquinha Estrada de 13,61 Não 48 Veículos

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Terra pavimentada, 4x4 mal conservada

Rodovia (BR- Pavimentada, 12,5 8 Veículos 104) bem conservada

Rodovia (BR- Pavimentada, Messias 20,19 12 Veículos 101) bem conservada

Rodovia (BR- Pavimentada, Maceió 50 54 Veículos 101) bem conservada

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Figura 2. Acesso à ESEC Murici a partir da capital e dos principais centros urbanos inseridos na Região da UC.

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2.2. Origem do nome e histórico de criação da UC

As atividades de conservação desenvolvidas no Complexo Florestal de Murici (CFM) tiveram início em 2000, a partir de iniciativa da Birdlife International (BI ). Preocupada com as ameaças à conservação da biodiversidade na região, que abrange inúmeras espécies de aves endêmicas e/ou ameaçadas de extinção, a BI associou-se à Sociedade Nordestina de Ecologia (SNE) para a realização de um Diagnóstico Expedito. Neste diagnóstico, foram identificados os principais fragmentos florestais da região, e levantado o histórico das atividades já realizadas, visando à conservação da biodiversidade. Este diagnóstico deu suporte à proposta do IBAMA de criação da ESEC Murici, cujo processo de criação foi antecedido por um forte trabalho de mobilização política que envolveu a BI , a Secretaria de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente (SBF/MMA), a Rede de ONG´s da Mata Atlântica (RMA) e o Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica. Diante de toda esta articulação, a ESEC Murici foi criada pelo decreto presidencial s/nº de 28 de maio de 2001.

A opção pelo nome dado à ESEC se deu em função de os principais remanescentes florestais da região, e assim a maior parte da UC, estão inseridos no município de Murici (Tabela 1), de forma que as florestas da região são frequentemente referidas como “as matas de Murici”.

Para garantir a conservação do CFM, a BI buscou apoio do World Wildlife Fund (WWF-Brasil ) e da The Nature Conservancy (TNC ) para a implementação da ESEC Murici. Em 2001, teve início um projeto visando o apoio à implementação da ESEC, realizado pela SNE, em parceria com o WWF-Brasil e a BI . Neste projeto foram realizadas três oficinas de planejamento estratégico, um plano de ação e o apoio à implementação do Conselho Consultivo da ESEC. Foi realizado ainda, neste mesmo período, um levantamento fundiário na área da ESEC e no seu entorno imediato. Diante da perceptível necessidade de uma maior interação com a comunidade do entorno da ESEC Murici, e inserção desta no processo de gestão da Unidade, foi realizado o Censo Demográfico do CFM (SNE, 2004). Este Censo foi de grande utilidade para a continuidade dos trabalhos e envolvimento da população local, e continua dando suporte ao planejameno de ações de conservação na região.

Em 2005, a articulação política foi ampliada. Visando fortalecer as ações de conservação e desenvolvimento sustentável na Mata Atlântica do Nordeste, foi estabelecido o Pacto Murici, acordo firmado entre oito instituições: Centro de Pesquisas Ambientais do Nordeste (CEPAN), SNE, Instituto Amigos da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica (IA RBMA), Conservação Internacional do Brasil (CI-Brasil), TNC, BI, por meio da Sociedade para a Conservação das Aves do Brasil (SAVE Brasil); WWF–Brasil e Fundação SOS Mata Atlântica. Em 2005, o Pacto Murici criou a AMANE como entidade executora das ações de conservação na Mata Atlântica do Nordeste, tendo como principal área focal do CFM. Desde então, diversas ações têm sido executadas visando a implementação da ESEC Murici, incluindo ações diretas de conservação e apoio à gestão da Unidade, e outras que visam a sensibilização e o empoderamento da população local, de forma a reduzir pressões sobre a biodiversidade e promover um desenvolvimento sustentável.

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3. ANÁLISE DO CONTEXTO LEGAL DA ESEC MURICI

3.1. Contexto internacional

3.1.1. A ESEC Murici e a Reserva da Biosfera da Mata Atlântica - RBMA

A ESEC Murici é uma importante área piloto dentro de um acordo estabelecido entre o Brasil e a Organização das Nações Unidas para Ciência, a Educação e a Cultura (UNESCO). Esse acordo foi estabelecido no âmbito do Programa Man and Biosphere (MaB) da UNESCO, criado em Paris durante a “Conferência sobre Biosfera”, em 1968 (Tabela 3). Lançado em 1971, teve a adesão do Brasil em 1974. O MaB é um programa de cooperação científica internacional sobre as interações entre o homem e seu meio. Visando entender os processos que envolvem os seres humanos e suas ações sobre os ecossistemas, algumas áreas prioritárias foram delimitadas e incluídas Figura 3. Zoneamento da Reserva da Biosfera: nas chamadas Reservas da Biosfera (RB), zonas-núcleo, zona de transição e zonas tampão criadas para facilitar o direcionamento de ou intermediária. Fonte: SEIA (2009). ações voltadas para a preservação dos biomas (Bo, 2003).

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As RB devem servir como áreas prioritárias para experimentação e demonstração de ações de conservação da biodiversidae e de desenvolvimento sustentável. Elas devem ter uma área de abrangência que permita o estabelecimento de um sistema de gestão participativo, envolvendo governos e diferentes setores da sociedade; e de políticas e planos de ação definidos. Para tanto, são zoneadas em três territórios (Figura 3): (1) Zonas Núcleo – UCs de proteção integral (e.g. ESEC), (2) Zonas de Figura 4. Reservas da Biosfera no Brasil (Disponível em: Amortecimento – áreas de www.rbma.org.br ). Acesso em 15/03/2012. mananciais, UCs de uso sustentável (e.g. APA); áreas tombadas e outras regiões de interesse sócio ambiental, e (3) Zonas de Transição – áreas que visam integrar de forma mais harmônica as zonas mais internas com as mais externas da RB (Bo, 2003).

As RB no Brasil são definidas pelo capítulo VI do SNUC, que as reconhece como um modelo, adotado internacionalmente, de gestão integrada, participativa e sustentável dos recursos naturais. Atualmente existem cerca de 450 RB no mundo, sendo seis inseridas no Brasil (Figura 4). Dentre estas, a maior e mais antiga é a Reserva da Biosfera da Mata Atlântica (RBMA), reconhecida em 1991. Esta é também a maior em área florestada do mundo, abrangendo 15 dos 17 Estados brasileiros de ocorrência do Bioma Mata Atlântica. Neste contexto, a ESEC Murici é considerada uma Zona Núcleo da RBMA, pois “contêm os exemplos mais significativos dos remanescentes da Mata Atlântica e de seus ecossistemas associados, em estado natural ou minimamente alterado” (Correa, 1995). O reconhecimento por parte da UNESCO da ESEC Murici como uma área prioritária em termos de conservação fortalece ainda mais a gestão da Unidade e a parceria com diversos setores internacionais.

3.1.2. A ESEC Murici no âmbito da Convenção sobre Diversidade Biológica – CDB

O acordo Internacional mais representativo para áreas protegidas foi estabelecido após a II Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Humano, também conhecida como Eco-92 ou Cúpula da Terra. Este

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acordo, conhecido como Convenção sobre Diversidade Biológica - CDB, objetiva a "conservação da diversidade biológica, a utilização sustentável de seus componentes e a repartição justa e equitativa dos benefícios derivados da utilização dos recursos genéticos" (MMA, 2000), através da criação de áreas protegidas e de diretrizes administrativas para essas áreas (Tabela 3). Os países que assinaram o CDB passaram a se comprometer, dentre outras questões, na recuperação e restauração de ecossistemas degradados, com a devida elaboração e implementação de planos e outras estratégias de gestão.

O Brasil, como um dos países signatários deste acordo, propôs novas ferramentas jurídicas e administrativas para garantir a conservação da diversidade biológica, como o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Lei 9.985/00). Este sistema representa um importante instrumento para a implementação de alguns dos objetivos da CDB, uma vez que estabelece as normas que devem nortear o principal instrumento de conservação do Brasil: as Unidades de Conservação. No intuito de cumprir as diretrizes da CDB, o MMA, no âmbito do - Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira (PROBIO), realizou, em 2004, um mapeamento de áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade, definindo quatro categorias de prioridade (i.e. Extrema importância biológica; Muito alta importância biológica; Alta importância biológica; e Provável importância biológica) e estabelecendo as ações prioritárias para a conservação dos biomas brasileiros. Com base em determinados critérios (i.e. número de espécies endêmicas e grau de ameaça às espécies), foram identificadas 900 áreas prioritárias para conservação, apresentadas no Mapa das Áreas Prioritárias para a Conservação, Utilização Sustentável e Repartição de Benefícios da Biodiversidade Brasileira, regulamentado pela Portaria N o 126, de 27 de maio de 2004. Em 2005, o MMA realizou a revisão/atualização das áreas Figura 5. A ESEC Murici no contexto das áreas prioritárias prioritárias já definidas, por meio para a conservação. Fonte: MM, 2007. de reuniões técnicas e seminários regionais, de forma simultânea em

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todos os biomas brasileiros. A conclusão do processo se deu em 2006, com a confecção de um mapa geral contendo as áreas prioritárias para a conservação em cada bioma, aprovado pela Comissão Nacional de Biodiversidade (CONABIO), e publicado em portaria específica do MMA no ano de 2007.

A região de Murici (MA-589), incluindo a ESEC Murici e outros remanescentes do entorno, mais especificamente nos municípios de Branquinha, Flexeiras, Joaquim Gomes, Murici e União dos Palmares; foi incluída como área prioritária para conservação da biodiversidade (PROBIO/MMA, 2007; Figura 5), sendo considerada de “extrema importância biológica”.

Ainda como resultado da CDB, foi assinado pela Federação o Decreto nº 5.738/06, instituindo o Plano Estratégico Nacional de Áreas Protegidas. Este Plano está em vigor até 2015 e, dentre outros aspectos, prevê a ampliação do SNUC, definição de percentuais de áreas protegidas para cada bioma e integralização do plano nas políticas públicas das três esferas do governo.

3.1.3. Convenção sobre Comércio Internacional das Espécies de Fauna e Flora em Perigo de Extinção (CITES)

Assinada por 21 países em 1973, a Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Flora e da Fauna Selvagens em Perigo de Extinção (CITES) tem por objetivo controlar o comércio internacional de plantas e animais silvestres, exercendo a fiscalização especialmente quanto ao comércio de espécies ameaçadas, suas partes e derivados, com base num sistema de licença e certificados (Tabela 3). Desde sua criação, mais 130 países aderiram à Convenção, dentre eles o Brasil (Decreto nº 76623/75). A atuação da CITES se restringe às transações que envolvem o comércio internacional, não levando em consideração outros fatores de ameaça, nem mesmo o comércio ilegal dentro dos Figura 6. Pintor-verdadeiro Tangara fastuosa , limites do país. As espécies que sofrem o espécie de ave símbolo do Corredor de controle da CITES são definidas pelos países Biodiversidade do Nordeste, que consta da signatários, de acordo com o grau de lista de espécies da CITES. ameaça a que estão submetidas .

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Na ESEC Murici ocorrem várias espécies, residentes ou visitantes, que constam na lista de controle da CITES, como, por exemplo, a espécie de ave selecionada como símbolo do Corredor de Biodiversidade do Nordeste, conhecida localmente como Pintor Verdadeiro ( Tangara fastuosa ) (Figura 6), que tem a ESEC Murici como um dos últimos abrigos (Roda, 2005).

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Tabela 3. Tratados e programas ambientais multilaterais dos quais o Brasil é signatário e sua aplicação à ESEC Murici, em Alagoas.

TRATADOS /P ROGRAMAS OBJETIVO PRINCIPAL INSTRUMENTO NORMATIVO /D ATA APLICAÇÃO À ESEC MURICI AMBIENTAIS MULTILATERAIS

Resultado da "Conferência sobre a Por ser um programa de cooperação científica internacional e Biosfera" realizada pela UNESCO em pelo fato da ESEC Murici estar inserida em Zona Núcleo da Paris / Setembro de 1968, o MaB Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, a UC poderá se busca promover o conhecimento, a beneficiar da linha de ação do Programa relacionada ao prática e os valores humanos para fomento de pesquisas voltadas para a busca de alternativas • Decreto n. 74.685 de Programa Homem e a implementar as boas relações entre de desenvolvimento que sejam compatíveis com a 14/10/1974, que cria a Comissão Biosfera ( MaB ) as populações e o meio ambiente em conservação da biodiversidade, destinadas ao entorno da do Programa MaB no Brasil. todo o planeta. Para tanto, utiliza-se ESEC. da cooperação internacional, pesquisa científica e da criaçãode reservas da biosfera, categoria especial de zona protegida. Resultado de convenção realizada A CITES oferece as bases legais para o combate ao tráfico de em Washington DC., USA, em Março animais silvestres e da flora no Brasil. Institui a obrigaçãao do de 1973, a CITES visa controlar o regime de fiscalizaçao constante sobre as espécies ameaçadas comércio internacional de fauna e • Decreto Legislativo n. 54 de e sobre as reservas naturais onde estas se encontram. Isto flora silvestres, exercendo controle e 24/06/1975. inclui a ESEC Murici, que constitui um importante Convenção sobre Comércio fiscalização especialmente quanto ao • Decreto n. 76.623 de 17/11/75, reservatorio natural de especies ameaçadas da fauna e flora Internacional das Espécies de comércio de espécies ameaçadas, alterado em seu art. 11 § 3°, a brasileira, com interesse para a comercialização. Fauna e Flora em Perigo de suas partes e derivados com base pelo Decreto Legislativo n. 21 de Extinção (CITES) num sistema de licença e 01/10/1985; Decreto n. 133 de certificados. Busca, sobretudo, 24/05/1985 e Decreto n. 92.446 assegurar que o comércio de 07/03/1986. internacional de espécies de fauna e flora silvestres não ameace a sua sobrevivência.

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Plano de Manejo da Estação Ecológica de Murici Diagnóstico da UC

A CDB criou as bases para que projetos de desenvolvimento e Discutida durante a Conferência Eco- planejamento sejam feitos de modo a gerar inclusão social, 92 ou Rio 92 no Rio de Janeiro, em sustentabilidade urbana e rural e preservação dos recursos Junho de 1992, a CDB propõe a naturais e minerais. Os projetos elaborados para a ESEC conservação da diversidade Murici e área do entorno devem seguir essas diretrizes. No biológica, a utilização sustentável de intuito de cumprir com as diretrizes e as demandas previstas seus componentes e repartição justa • Aprovada pelo Decreto n. 2 de na Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB), o MMA e eqüitativa dos benefícios derivados 03/02/1994, e promulgado pelo (com apoio do PROBIO) estabeleceu as áreas prioritárias para Convenção sobre a da utilização dos recursos genéticos, Decreto n. 1.160 de 21/06/1994. a conservação dos biomas brasileiros. A Região da ESEC Diversidade Biológica (CDB) mediante, inclusive, o acesso Decreto n. 2.519 de 16/03/1998 Murici foi incluída como área prioritária para conservação da adequado aos recursos genéticos e a - Congresso Nacional. biodiversidade (PROBIO/ MMA, 2007), sendo considerada de transferência adequada de “extrema importância biológica”, o que confere à UC posição tecnologias pertinentes, levando em de destaque no que diz respeito a sua inclusão em ações e conta todos os direitos sobre tais projetos de conservação desenvolvidos no País. recursos e tecnologias, e mediante

financiamento adequado.

• A Agenda 21 nacional foi A ESEC Murici por estar vinculada ao órgão executivo federal, aprovada pela Conferência das deve incentivar a adoção de políticas públicas voltadas ao Sustentabilidade, compatibilizando a Nações Unidas sobre Meio desenvolvimento socioambiental das comunidades locais, Agenda 21 conservação ambiental, a justiça Ambiente e Desenvolvimento dentre elas a elaboração da Agenda 21 nos municípios de social e o crescimento econômico. (CNUMAD), realizada no Rio de Murici, União dos Palmares, Joaquim Gomes, Banquinha, Janeiro em 1992 (Conferência Flexeiras, Messias e São Luiz do Quitunde, onde está inserida. Eco-92 ou Rio-92).

Fonte: Adaptado do Plano de Manejo da Reserva Biológica de Serra Negra (ICMBio, 2011).

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3.2. Legislação Federal, Estadual e Municipal incidente sobre a ESEC Murici

3.2.1. Legislação Federal

No âmbito federal, inúmeras normatizações têm relação com a ESEC Murici, das quais as principais estão relacionadas na Tabela 4 abaixo. Tabela 4. Legislação federal incidente sobre a ESEC Murici.

A Constituição Federal de 1988 representou um avanço na área ambiental, suplantou todas as expectativas, tornando-se uma das mais avançadas cartas em nível mundial, sendo chamada de constituição verde, ou ambiental. Ela possui um capítulo específico para a proteção ambiental, representado pelo art. 225, o qual define: Constituição Federal “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. A Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981 regulamenta a Política Nacional do Meio Ambiente. Em seu Artigo 1º, fundamentado na Constituição Política Nacional de Meio Federal, estabelece a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e Ambiente mecanismos de formulação e aplicação, constitui o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) e institui o Cadastro de Defesa Ambiental. O Código Florestal Brasileiro foi instituído pela Lei N° 4.771/65, de 15 de setembro de 1965. O Código já sofreu diversas alterações, Lei de Crimes Ambientais (Lei Nº 9.605, de 99), e aditado, como com a previsão de Estações Ecológicas federais, estaduais e municipais (Lei Nº 6.902, de 1981), as estações ecológicas privadas (Lei Nº 6.938, de Código Florestal 1981), pela Lei do SNUC (Lei Nº 9.985, de 2000), pela Medida Provisória 2.166-67, mantida em vigência pela Emenda Constitucional Nº 32. Nele encontram-se previstos a criação de florestas de preservação permanente, parques, diversos crimes florestais, entre outros pontos relevantes para a gestão de florestas. O Código de Proteção da Fauna (Lei N° 5.197, de 03 de janeiro de Código de Proteção da Fauna 1967), dispõe sobre a proteção jurídica da fauna silvestre brasileira. A Lei Nº 9.605/98, de 12 de fevereiro de 1998, dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao Lei de Crimes Ambientais meio ambiente e foi regulamentada através do Decreto 3.179/99 de 21 de setembro de 1999 (revogado pelo Decreto nº 6.514/08 de 22 de julho de 2008). A Lei n° 6.902, de 27 de abril de 1981, dispõe sobre a criação de Estações Ecológicas e define-as em Artigo 1º, como: “áreas Lei de Criação de Estações representativas de ecossistemas brasileiros, destinadas à realização de Ecológicas pesquisas básicas e aplicadas de Ecologia, à proteção do ambiente natural e ao desenvolvimento da educação conservacionista”.

Lei do Sistema Nacional de A Lei Nº 9.985 foi criada em 18 de julho de 2000, e regulamenta o art. Unidades de Conservação - 225, § 1°, incisos I, II, III e VII da Constituição Federal, instituindo o SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza - SNUC, estabelecendo critérios e normas para a criação, implantação e gestão

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Plano de Manejo da Estação Ecológica de Murici Diagnóstico da UC

das unidades de conservação. Esta Lei foi regulamentada pelo Decreto 4.340/02, de 22 de agosto de 2002. O Decreto Nº 4.339, de 22 de agosto de 2002 institui princípios e diretrizes para a implementação da Política Nacional da Biodiversidade. A Política Nacional da Biodiversidade tem como objetivo geral a Política Nacional da promoção, de forma integrada, da conservação da biodiversidade e da Biodiversidade utilização sustentável de seus componentes, com a repartição justa e equitativa dos benefícios derivados da utilização dos recursos genéticos, de componentes do patrimônio genético e dos conhecimentos tradicionais associados a esses recursos. Decreto 6.514/2008: dispõe sobre as infrações e sanções Fiscalização e controle administrativas ao meio ambiente, estabelece processo administrativo ambiental na UC federal para a apuração dessas infrações. Criação da Estação Ecológica Decreto Federal s/n° de 28 de maio de 2001. de Murici Decreto Federal nº 4.411/2002: Atuação das Forças Armadas e - Permite o livre acesso e trânsito das Forças Armadas e Polícia Federal Polícia Federal nas Unidades à UC; de Conservação - Determina que a elaboração e atualização do Plano de Manejo deve ser submetido ao Conselho de Defesa Nacional. Plano Estratégico Nacional de Decreto Federal nº 5.758/2006: estabelece diretrizes, estratégias e Áreas Protegidas - PNAP objetivos para as áreas protegidas.

Instituição de unidades de Decreto Federal Nº 5.092, de 21 de maio 2004: Identificação de áreas conservação, no âmbito do prioritárias para a conservação, utilização sustentável e repartição dos Sistema Nacional de Unidades benefícios da biodiversidade. de Conservação da Natureza – SNUC

Reconhecimento de áreas Portaria MMA nº 09/2007: prioritárias para a - Considera Murici como área de extrema importância biológica para a conservação conservação da biodiversidade. Resolução CONAMA nº 428/2010: Licenciamento ambiental no - Regulamenta quando a UC deverá se manifestar em processos de entorno de UCs licenciamento ambiental ou ser informada do mesmo; - Revoga Zona de Entorno de UCs (Res. CONAMA nº 13/1990).

3.2.2. Legislação Estadual

No âmbito estadual, a área da ESEC Murici é englobada pela APA de Murici, estabelecida através da Lei nº 5.907/97 (Tabela 5). Esta Unidade possui 116.000 ha e fornece instrumentos legais para conservação não apenas da região da ESEC Murici, mas também do seu entorno, uma vez que abrange 10 municípios: Colônia Leopoldina, , , Joaquim Gomes, União dos Palmares, Branquinha, Messias, São José da Laje, Murici e Flexeiras. Além da APA de Murici, podem ser observadas

33 Plano de Manejo da Estação Ecológica de Murici Diagnóstico da UC

inúmeras RPPNs estaduais no entorno da ESEC Murici, ampliando a área florestal sob proteção legal na região da Unidade.

Também no âmbito estadual, a mata da ESEC Murici está protegida pela legislação relacionada à Política Florestal do Estado de Alagoas (Lei N° 5.854/96) (Tabela 5). Os principais objetivos desta lei são a proteção da fauna e flora silvestre, desenvolvimento de ações de controle e recuperação de áreas degradadas, e a promoção de atividades educacionais e de turismo ecológico em áreas florestais.

Tabela 5. Legislação estadual incidente sobre a ESEC Murici.

DECRETO N° 3.050, DE 09 Dispõe sobre a Instituição de Reserva Particular do Patrimônio DE FEVEREIRO DE 2006 Natural – RPPN e dá outras providências.

LEI Nº 5.907/1997 DE 14 Cria a APA de Murici. DE MARÇO DE 1997

LEI N° 4.090, DE 05 DE Dispõe sobre a proteção do Meio Ambiente no Estado de Alagoas DEZEMBRO DE 1979 e dá providências correlatas.

LEI N° 5.854, DE 14 DE Dispõe sobre a política florestal no Estado de OUTUBRO DE 1996 Alagoas.

4. ANÁLISE DA REPRESENTATIVIDADE DA ESEC MURICI

4.1. A ESEC Murici e o cenário federal

O Brasil possui uma das biotas mais notáveis do planeta, porém também uma das mais ameaçadas, com 735 táxons de plantas e animais ameaçados de extinção (IUCN, 2003). Esta riqueza de espécies do Brasil está distribuída ao longo dos seus seis biomas: Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica, Caatinga, Campos Sulinos e Pantanal. Entretanto, esta biodiversidade, assim como as ameaças, não estão homogeneamente distribuídas no território nacional. Cerca de 78% das espécies tidas como ameaçadas na lista da IUCN são espécies da Mata Atlântica e do Cerrado, com destaque para as ameaças da Mata Atlântica (Paglia et al. , 2004).

Para conter essas ameaças e garantir a conservação da sua riqueza biológica, uma das principais estratégias adotadas pelo Brasil tem sido a criação e implementação de unidades de conservação. Neste sentido, observa-se um quadro crescente de unidades de conservação no contexto nacional, que engloba atualmente 1.1930 UCs, das quais 780 constituem as chamadas Reservas Particulares do Patrimônio Natural - RPPN (Tabela 6), que são áreas particulares destinadas à conservação. Das 320 unidades de conservação federais brasileiras ( excetuando-se as RPPN ), 55,31% são de uso

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sustentável e 44,69% são de proteção integral, as quais ocupam, respectivamente, 4,64% (394.681 Km 2) e 4,33% (369.164 Km 2) do território nacional (8.514.215 Km 2) (Tabela 6; Figura 7).

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Tabela 6. Representatividade de cada categoria de UC em diferentes esferas administrativas.

Fonte: CNUC/MMA 2014 - www.mma.gov.br / Relatório Consolidado (Atualizado em 27/10/2014). Acesso em 21/11/2014.

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Plano de Manejo da Estação Ecológica de Murici Diagnóstico da UC

Figura 7. Representatividade das Unidades de Conservação Federais.

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Plano de Manejo da Estação Ecológica de Murici Diagnóstico da UC

Dentre as unidades de proteção integral, 32 equivalem a Estações Ecológicas, que representam 9,84% da área total protegida pelas unidades de conservação federais e 0,88% da área total do País (Tabelas 7 e 8; Figura 8). A ESEC Murici, com 6.116,43 hectares, engloba 0,001% do território nacional e representa 0,02% da área ocupada, no país, por unidades de conservação federais de proteção integral (Tabela 7). Em se tratando especificamente da área ocupada pelas estações ecológicas federais, a ESEC Murici representa 0,09% da área total (Tabela 7).

Tabela 7. Representatividade da Estação Ecológica de Murici, Estado de Alagoas, no âmbito do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (n.a - não se aplica; UC – Unidade de Conservação; ESEC – Estação Ecológica).

UC UC de Proteção Estações ESEC Categoria de Dados Federais** Integral Ecológicas Murici

Quantidade de UC 320 143 32 n.a.*

Área Total (Km 2) 759.014 369.164 74.691 61,16

% da área no território brasileiro*** 8,92% 4,34% 0,88% 0,001%

% da área que representa em relação ao n.a.* 48,63% 9,84% 0,02% total ocupado pelas UCs federais

% da área que representa em relação à n.a.* n.a.* 20,23% 0,02% área ocupada pelas UCs de PI

% da área que representa em relação à área ocupada n.a.* n.a.* n.a.* 0,09% pelas ESECs

* - Não se aplica; ** - Excetuando-se as RPPNs; *** - Área do Brasil: 8.514.215 Km 2.

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Tabela 8. Estações Ecológicas federais.

Nome da UC UF Área (hectares) Bioma ESEC de Tupinambás SP 1,77 Marinho Costeiro ESEC de Tupiniquins SP 13,79 Marinho Costeiro Mata Atlântica/Marinho ESEC de Carijós SC 759,33 Costeiro ESEC de Aracuri-Esmeralda RS 276,98 Mata Atlântica ESEC do Jari PA-AP 237.558,97 Amazônia ESEC de Maracá RR 103.518,68 Amazônia ESEC do Castanhão CE 12.574,44 Caatinga ESEC do Seridó RN 1.123,60 Caatinga ESEC de Aiuaba CE 11.755,14 Caatinga Mata Atlântica/Marinho ESEC de Murici AL 6.131,55 Costeiro ESEC de Iquê MT 224.018,48 Cerrado ESEC Raso da Catarina BA 104.842,53 Caatinga ESEC de Pirapitinga MG 1.384,49 Cerrado ESEC do Taim RS 111.271,57 Marinho Costeiro ESEC Juami-Japurá AM 831.530,71 Amazônia ESEC de Jutaí-Solimões AM 289.513,21 Amazônia ESEC de Caracaraí RR 86.793,94 Amazônia ESEC Niquiá RR 284.787,47 Amazônia ESEC da Terra do Meio PA 3.374.229,60 Amazônia ESEC da Mata Preta SC 6.565,70 Mata Atlântica ESEC de Guaraqueçaba PR 4.825,34 Mata Atlântica ESEC Cuniã RO 122.498,69 Amazônia ESEC Serra Geral do Tocantins TO-BA 714.343,23 Cerrado Mata Atlântica/Marinho ESEC de Tamoios RJ 21.313,61 Costeiro ESEC de Taiamã MT 14.882,53 Pantanal ESEC de Maracá-Jipioca AP 51.436,00 Amazônia ESEC Serra das Araras MT 29.676,73 Cerrado ESEC Rio Acre AC 84.340,08 Amazônia

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Nome da UC UF Área (hectares) Bioma ESEC de Uruçuí-Una PI 138.681,28 Cerrado Mata Atlântica/Marinho ESEC da Guanabara RJ 1.935,00 Costeiro ESEC Mico-Leão-Preto SP 6.680,62 Mata Atlântica ESEC Alto Maués AM 6.662,80 Amazônia TOTAL 6.885.927,86

Fonte: CNUC/MMA, 2014 (www.mma.gov.br). Acesso em 21/11/2014.

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Figura 8. Estações Ecológicas Federais no Brasil.

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Além de representar uma pequena parcela do território nacional, as unidades de conservação não estão distribuídas adequadamente, segundo critérios de representatividade ao longo dos diferentes ecossistemas (Pinto, 2008), sendo em grande parte concentradas no bioma Amazônia (Tabela 9; Figura 9). Nesse contexto, embora pequena quando analisada sob o contexto federal, a ESEC Murici constitui uma UC representativa e de extrema importância para a conservação da Mata Atlântica brasileira, em especial a nordestina, que é considerada a região mais ameaçada da Mata Atlântica (Silva & Casteleti, 2003).

Tabela 9. Área total e área protegida por UCs federais nos Biomas brasileiros.

Área do Bioma % do Bioma Número (ha) protegida protegido por Área do Bioma (ha) BIOMA de UCs por Unidades de Unidades de Conservação Conservação Amazônia 418.247.341,76 106 58.814.268,74 14,1 Caatinga 82.652.444,73 24 4.001.051,97 4,8 Cerrado 203.938.689,14 42 5.254.867,58 2,6 Mata 110.614.144,55 77 3.007.800,04 2,7 Atlântica Pantanal 15.131.386,53 2 147.161,35 1,0 Pampa 17.776.719,12 2 319.782,68 1,8 Marinho 355.579.637,24 59 3.596.210,61 1,0 costeiro Total geral* 1.203.940.363,08 312 75.141.142,97 6,2 Fonte: ICMBio ( www.icmbio.gov.br ). Acesso em 25 de julho de 2013. * - Se refere ao Brasil.

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Figura 9. Distribuição das Unidades de Conservação federais nos biomas brasileiros.

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4.2. A ESEC Murici no contexto da Mata Atlântica

O bioma Mata Atlântica e seus ecossistemas associados (i.e. manguezal e restinga) envolviam, originalmente, uma área de 1.315.460 km² (15%) no território brasileiro, distribuídos em 17 Estados (PI, CE, RN, PE, PB, SE, AL, BA, ES, MG, GO, RJ, MS, SP, PR, SC e RS) (SOS/INPE, 2009). Hoje, o bioma se limita a cerca de 12% da sua extensão original (Ribeiro et al. , 2009), quando consideradas as formações secundárias e áreas de regeneração (Figura 10). Outros autores consideram estimativas ainda menos otimistas, de aproximadamente 8% de cobertura florestal remanescente, quando desconsideradas áreas de regeneração (SOS/INPE, 2009).

Figura 10. Remanescentes de Mata Atlântica e ecossistemas associados (Fonte: adaptado de Fundação SOS Mata Atlântica/INPE, 2008).

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Apesar do cenário de extrema devastação, a Mata Atlântica ainda abriga uma elevada riqueza de espécies, sendo grande parte (~ 40%) endêmica do Bioma (Myers et al. , 2000; MMA, 2002; Mittermeier et al. , 2004). Calcula-se que esta floresta abrigue 20.000 espécies de plantas vasculares, 1.023 de aves (188 endêmicas), 350 de peixes (133 endêmicas), 340 de anfíbios (90 endêmicas), 250 de mamíferos (55 endêmicas) e 197 de répteis (60 endêmicas). Diante deste cenário, composto por uma elevada riqueza de espécies endêmicas e ameaçadas de extinção, assim como pela persistência de ameaças à biodiversidade, a Mata Atlântica foi classificada como um Hotspot 1 de biodiversidade, uma das 34 áreas mundiais prioritárias para a conservação da biodiversidade global (Mittermeier et al. 2004).

Apesar de definido como prioritário para conservação, o bioma Mata Atlântica possui apenas 2,36% do seu território protegido por unidades de conservação, sendo 1,65% UCs de Uso Sustentável e somente 0,71% de Proteção Integral (Tabela 10; Figura 11). Do total de UCs de proteção integral presentes no Bioma, a ESEC Murici representa 0,11%. Além de ocuparem uma pequena porção do Bioma, as unidades de conservação são, em geral, pequenas e mal manejadas (Dias et al. , 1990). Tal situação apresenta grande variação entre as regiões do país, sendo a Mata Atlântica do nordeste considerada a mais degradada, menos conhecida e menos protegida (Silva & Casteleti, 2003).

Tabela 10. Área e % da Mata Atlântica sob proteção integral ou uso sustentável, e representatividade da ESEC Murici em relação às UCs de proteção integral presentes no Bioma.

Área (ha) sob Proteção Integral 785.448

% sob Proteção Integral 0,71 Área (ha) sob Uso Sustentável 1.825.339 % sob Uso Sustentável 1,65 Área (ha) total sob Proteção no Bioma 2.610.788 % total sob Proteção no Bioma 2,36 Área (ha) protegida ESEC Murici 1946,49 %* protegida na ESEC Murici 0,11 Fonte: CNUC/MMA, 2013 (www.mma.gov.br ). Acesso em 26/11/2013. * - Porcentagem calculada com base na área total protegida por UCs de proteção integral.

1 Segundo Mittermeier et. al. (2004), Hotspots são áreas que possuem pelo menos 1.500 espécies de plantas vasculares endêmicas (mais de 0,5% do total mundial) e apresentam 30% ou menos de sua cobertura vegetal original, ou seja, áreas com taxas excepcionais de endemismo de plantas e taxas incomuns de perda de hábitats.

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Figura 11. Unidades de Conservação de Proteção Integral e de Uso Sustentável no Bioma Mata Atlântica.

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Tendo em vista que a diversidade biológica apresenta uma distribuição heterogênea, a Mata Atlântica é dividida em, pelo menos, cinco centros de endemismos, os quais representam as unidades biogeográficas básicas da Floresta Atlântica ( sensu Silva & Castelletti, 2003). Dois destes centros (Centro Pernambuco e Brejos Nordestinos) compõem a Mata Atlântica do Nordeste. O Centro de Endemismo Pernambuco (CEP) (Figura 12) corresponde a toda a Floresta Atlântica ao norte do Rio São Francisco, com exceção dos encraves de Mata Atlântica no semi-árido (i.e. Brejos de Altitude). Com uma área de distribuição original de 56.938 km² (IBGE, 1985), e apenas 12% desse total remanescente (Ribeiro et al. , 2009), esta região é considerada biogeograficamente distinta das demais áreas sob domínio deste bioma, devido à barreira geográfica representada pelo Rio São Francisco (Santos et al. , 2007). É nesta região biogeográfica, considerada prioritária para conservação (MMA, 2002; Silva & Castelletti, 2003; Tabarelli & Roda, 2005), que a ESEC Murici está localizada.

Figura 12. Região da Mata Atlântica do Nordeste, exibindo destacado, em vermelho, o Centro de Endemismo Pernambuco.

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Considerando esta estimativa de área remanescente, que leva em conta áreas em regeneração, a ESEC Murici abrange 0,009% da área florestal remanescente do CEP, representando a maior UC de proteção integral deste Centro (AMANE, 2012). Esta área remanescente está distribuída nos mesmos cinco tipos vegetacionais originais deste bioma: Áreas de Tensão Ecológica, Floresta Estacional Semidecidual, Floresta ombrófila aberta, Floresta Ombrófila Densa e Formações Pioneiras (IBGE, 1985). Embora a cobertura florestal original do CEP represente apenas 4,6% da área original da Floresta Atlântica brasileira, esta região suporta mais de 2/3 das espécies de aves deste bioma (Roda, 2003) e cerca de 8% da flora de plantas vasculares (M. Tabarelli, dados não publicados ; veja Pôrto et al. , 2005), muitas das quais endêmicas a este Centro (Prance, 1982, 1987; Pôrto et al. , 2005; Moura et al. , 2006).

Diante do estado de degradação do CEP, representado por um “arquipélago” de pequenos fragmentos florestais imersos em uma matriz composta por agricultura (Coimbra-Filho & Câmara, 1996), grande parte desta riqueza biológica encontra-se ameaçada de extinção (Silva & Tabarelli, 2000). Devido ao elevado número de espécies endêmicas e ameaçadas de extinção, o CEP é tido como o setor da Floresta Atlântica brasileira com maior probabilidade de perda de espécies (Silva et al. , 2003), e por isso uma das regiões do planeta onde os esforços de conservação são mais urgentes (Rodrigues et al. , 2004; Paglia et al. , 2004), considerado um hotspot dentro de um hotspot (Tabarelli & Roda, 2005).

Dos 147 sítios definidos como prioritários para a conservação pelo MMA em 2002, e atualizados em 2007 (ver item 3.1.2.), 22 estão inseridos no CEP (Figura 13). De acordo com essa classificação, a região de Murici é considerada uma área de extrema importância biológica (Figura 13). Pode-se atribuir grande parte desta relevância biológica à região da ESEC Murici, visto que esta é a única unidade de proteção integral do município e uma das três do Estado (Tabela 11), e abrange alguns dos maiores remanescentes florestais da região (Oliveira, 2007).

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Figura 13. Áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade no Centro de Endemismo Pernambuco (MMA 2002).

As justificativas para o enquadramento da região de Murici na categoria mencionada são diversas, devido a uma série de peculiaridades locais, das quais se destaca a ocorrência de um grande número de espécies de aves endêmicas ao CEP e ameaçadas de extinção (Roda 2003, 2005), como: Carpornis melanocephalus (Cotingidae), Philydor novaesi (Furnariidae), Synallaxis infuscata (Furnariidae), Tangara fastuosa (Thraupidae), Myrmotherula snowi (Thamnophilidae), Terenura sicki (Thamnophilidae), Iodopleura pipra (Tityridae), e Phylloscartes ceciliae (Tyrannidae) (Tabela 28). Dentre as espécies de aves registradas na ESEC Murici, 25 são endêmicas ao CEP e 23 à Mata Atlântica, sendo 38 destas classificadas em alguma categoria de ameaça do MMA e/ou Birdlife (Tabela 28; Roda, 2003). Diante deste cenário, a região de Murici é também considerada a área com a maior quantidade de aves ameaçadas de extinção das Américas (Wege & Long, 1995), e assim uma das áreas de maior relevância para a conservação de aves no país (CI – Brasil et al. , 2000), classificada como uma das 16 “Áreas Importantes para a Conservação de Aves da Mata Atlântica - IBA” (do inglês, Important Bird Area – área de atuação prioritária da BirdLife Internatonal ). Além de abrigar quase todas as espécies de aves endêmicas e ameaçadas de extinção presentes no CEP (Roda, 2005), duas espécies ( Pyrrhura griseipectus e Carpornis melanocephalus ) foram registradas apenas na ESEC Murici, e outras duas (Philydor novaesi e Myrmotherula snowi ) apresentam registro em apenas mais uma unidade de conservação no CEP: a RPPN Frei Caneca (Roda, 2005).

Além da relevância para a conservação da avifauna local, a ESEC Murici representa, em diversos outros aspectos, uma área prioritária para conservação. Isto

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porque, apesar de ser composta por apenas 6.116 ha, dos quais 3.788 são representados por remanescentes florestais, a ESEC Murici abrange um dos - maiores fragmentos da Floresta Atlântica nordestina (i.e. fragmento Bananeiras, ~ 3.000 ha) (Oliveira, 2007).

Quanto às formações vegetacionais abrangidas pela Unidade, a área é predominantemente composta por formações do tipo Ombrófila Aberta Sub-Montana. Entretanto, dentro dos limites da ESEC Murici é possível evidenciar algumas manchas de Floresta Ombrófila Aberta Montana (Figura 44) e, considerando a Zona de Amortecimento proposta para essa Unidade, também são abrangidas formações florestais do tipo Ombrófila Densa e Estacional Semidecidual (Figura 44). Segundo Assis (1998), além da composição florística e faunística, um dos aspectos de maior relevância para conservação desta região é o contato destas duas últimas formações (i.e. Floresta Ombrófila Densa e Floresta Estacional) numa mesma unidade geológico- geomorfológica.

Apesar desta complexidade de formações florestais, apenas duas espécies vegetais registradas na ESEC Murici são consideradas ameaçadas de extinção: Chrysophyllum splendens e Cariniana legalis (Tabela 25). Entretanto, a riqueza de espécies da ESEC Murici deve, assim como em todo CEP, ainda estar sendo subestimada (Tabarelli & Siqueira-Filho, 2004). Quanto à composição florística, apenas quatro levantamentos compõem a lista de espécies lenhosas da ESEC Murici (i.e. Lemos & Barros, 1993; SNE, 2000; Pinheiro 2005 e Mendonça, 2005), os quais ainda se demonstram pouco abrangentes e defasados. Considerando que espécies ameaçadas localmente de extinção tendem a apresentar uma distribuição mais restrita, a detecção destas espécies exige um esforço amostral ainda maior.

Somado às características biológicas de grande relevância para a conservação, a ESEC Murici abrange ainda condições físicas singulares, como algumas nascentes dos rios Jitituba e Bulangi (Figura 43). Estes rios fazem parte das duas bacias hidrográficas em que a Unidade está inserida: a Bacias do rio Mundaú e a Bacia do rio Camaragibe. Estas bacias abastecem uma série de municípios dos Estados de Alagoas e Pernambuco (SEMARH, 2002; SEMARH, 2004), tanto através do sistema de abastecimento da Companhia de Saneamento de Alagoas (CASAL), quanto diretamente, como por exemplo, por comunidades que residem no entorno da ESEC.

Diante das peculiaridades físicas e biológicas da área abrangida pela ESEC Murici, assim como do acentuado estado de degradação e carência de unidades de conservação na Mata Atlântica do Nordeste; a criação, implementação e gestão da ESEC Murici deve preencher importantes lacunas do sistema de unidades de conservação brasileiro, de forma a garantir a persistência de propriedades singulares deste bioma e, especificamente, desta região.

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4.2. A ESEC Murici e o Cenário Estadual

A Mata Atlântica no Estado de Alagoas representa grande parte da área remanescente deste bioma ao norte do Rio São Francisco (Tabarelli et al. , 2006). Originalmente, a área de Mata Atlântica no Estado somava 14.529 km² (52% do Estado), sendo hoje limitada a 877 km² (SNE, 1993), o que representa 6% da sua área original e 3% de Alagoas (Moura et al. , 2006) (Figura 14).

Esta área remanescente de Mata Atlântica no Estado também sofre graves ameaças, visto que a maior parte dos remanescentes se encontra em usinas de cana- de-açúcar e álcool (Tabarelli & Roda, 2005), em um dos territórios mais pobres do Brasil (IBGE, 2010). Além da própria configuração da paisagem, composta por pequenos fragmentos florestais isolados por monoculturas (Figura 14) e pastagens, atividades como a extração de madeira e a caça de animais silvestres são comuns na região, e ameaçam a biodiversidade local (SNE, 2004).

Para proteger estes últimos remanescentes florestais em Alagoas, existem 37 unidades de conservação, que em conjunto somam 199.709,00 ha de áreas protegidas (AMANE, 2012), (Tabela 11; Figura 15), representando 7,15% da área total do Estado. Entretanto, apenas três dessas UCs constituem unidades de Proteção Integral (Tabela 11), categoria de maior relevância para a conservação de biodiversidade. Dentre estas, a ESEC Murici consiste na mais representativa em termos de área de abrangência (AMANE, 2012), cobrindo 44,12% da área sob proteção de UCs de proteção integral, 3,1% da área total protegida por UCs, e 0,22% da área total do Estado de Alagoas. As demais unidades consistem em categorias pouco restritivas (e.g. Áreas de Proteção Ambiental) e, principalmente, pequenas RPPNs (Figuras 16 e 17). Existe sobreposição entre as áreas destas UCs e, além disso, grande parte dessa área, principalmente nas APAs, consiste em manchas urbanas ou são utilizadas para a agricultura, sendo reduzida a cobertura florestal sob proteção legal.

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Figura 14. Remanecentes do Bioma Mata Alântica no Estado de Alagoas.

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Figura 15. Unidades de Conservação federais e Terras Indígenas no Estado de Alagoas

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Figura 17. Área protegida de acordo com os grupos de manejo definidos pelo SNUC, em Alagoas.

Figura 16. Número de UCs em cada uma das categorias de manejo definidas pelo SNUC, em Alagoas.

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Vale destacar a pequena participação da esfera municipal (2% ou 3.682 ha) no total da área protegida no estado, seguida da esfera federal, com cerca de 30.000 hectares de unidades de conservação sob sua responsabilidade, o que representa 15% do total da área protegida em Alagoas. Com 83% (165.894 ha) da área protegida em Alagoas sob sua responsabilidade, o governo estadual, no entanto, investiu na criação apenas de unidades de conservação de uso sustentável, que inclui categorias menos restritivas de áreas protegidas (Figura 18). Nesse sentido, diante da importância e urgência de conservação dos poucos remanescentes de Mata Atlântica existentes em Alagoas, é imprescindível que as três esferas de governo invistam na criação e implementação de áreas protegidas, sobretudo as de proteção integral.

Figura 18. Participação das esferas de poder no cômputo total da área total (hectares) protegida por unidades de conservação em Alagoas.

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Tabela 11. Unidades de Conservação (federais, estaduais e municipais) existentes no Estado de Alagoas.

Ano de Nome da UC Categoria Área (ha) Ato legal de criação Município de referência criação

PROTEÇÃO INTEGRAL

Estação Ecológica de Murici ESEC 6.116,00 2001 Decreto Federal s/nº em 28/05/2001 Murici

Parque Municipal de Maceió PARQUE 82 1993 Lei Municipal nº 2541/93 Maceió

Parque Municipal Marinho de PARQUE 3.200,00 1993 Lei Municipal nº 12/93 Paripueira

Reserva Biológica de Pedra Talhada REBIO 4.469,00 1989 Decreto Federal nº 98.524/89

Área total (ha) 13.867,00

USO SUSTENTÁVEL

APA Municipal do Poxim APA 400 2002 Lei Municipal nº 928/02

APA Murici APA 116.100,00 1997 Decreto Estadual nº 5.907/97 Murici

APA Piaçabuçu APA 8.600,00 1983 Decreto Federal nº 88.421/93 Piaçabuçu

APA Santa Rita APA 10.230,00 1984 Lei Estadual nº 46.074/84 Maceió

APA do Catolé e Fernão Velho APA 5.415,00 1992 Lei Estadual nº 5.347/92 Maceió

APA Marituba do Peixe APA 18.556,00 1988 Decreto Estadual nº 32.858/88

APA do Pratagy APA 13.369,50 1998 Decreto Estadual nº 37.589/98 Messias

Reserva Aldeia Verde RPPN 11,42 2007 Portaria IMA nº 005/07 Maceió

Reserva Boa Sorte RPPN 40,85 2007 Portaria IMA nº 015/07 Murici

Reserva Cachoeira RPPN 34,14 2008 Portaria IMA nº 023/08 Tanque D'Arca

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Reserva Canadá RPPN 8,28 2007 Portaria IMA nº 004/07 Mar Vermelho

Reserva Osvaldo Timóteo RPPN 22,34 2007 Portaria IMA nº. Nº018/07 São José da Laje

Reserva Placas (O Sabiá) RPPN 202,30 2007 Portaria IMA nº 003/07 Paripueira

Reserva Santa Fé RPPN 17,61 2008 Portaria IMA nº 022/08 Tanque D'Arca

Reserva Santa Maria RPPN 9,13 2009 Portaria IMA nº 010/09 Murici

Reserva Sítio Tobogã RPPN 1 2007 Portaria IMA nº 016/07 Maceió

Reserva Vila D'Água RPPN 46 2007 Portaria IMA nº 017/07 Murici

RPPN Fazenda Vera Cruz RPPN 115 1992 Portaria IBAMA nº 068/92 Chã Preta

RPPN Fazenda Rosa do Sol RPPN 50 1994 Portaria IBAMA nº 119/94 Barra de São Miguel

RPPN Fazenda São Pedro RPPN 50 1995 Portaria IBAMA nº 12/95 Pilar

RPPN Reserva do Gulandim RPPN 41 2001 Portaria IBAMA nº 98/01

RPPN Fazenda Lula Lobo RPPN 68,6 2001 Portaria IBAMA nº 111/01 Coruripe

RPPN Fazenda Pereira RPPN 290 2001 Portaria IBAMA nº 113/01 Coruripe

RPPN Fazenda Santa Tereza RPPN 130 2001 Portaria IBAMA nº 120/01 Atalaia

Reserva Porto Seguro RPPN 28,04 2009 Portaria IMA nº 011/09

Reserva Cachoeira RPPN 219,98 2009 Portaria IMA nº 012/09

Reserva Planalto RPPN 150 2009 Portaria IMA nº 013/09 Coruripe

Reserva Triunfo RPPN 145,29 2009 Portaria IMA nº 014/09

Reserva Bosque RPPN 334 2009 Portaria IMA n 015/09 Maragogi

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Reserva Madeiras RPPN 124,52 2010 Portaria IMA nº 008/10

Resex de Jequiá da Praia Resex 10.203,00 2001 Decreto Federal s/nº Jequiá da Praia

Área total (ha) 185.013,00

CATEGORIAS NÃO DEFINIDAS PELO SNUC

Resec Saco de Pedra cat n def 87 1985 Decreto Estadual nº 6.274/85 Marechal Deodoro

Resec Manguezais da Lagoa do Roteiro cat n def 742 1987 Decreto Estadual nº 32.355/87 Roteiro

Área total (ha) 829,00

UC EM PROCESSO DE CRIAÇÃO

Reserva Boa Vontade RPPN 21,16 - - Joaquim Gomes

Reserva Murici RPPN 40,85 2007 - Murici

Fazenda Nova Vida RPPN 10 2010 Processo 4.903, 3.565/10 Fleixeiras

Flor da Serra RPPN 40,71 2010 Processo 4.903, 3.565/10 Leopoldina

Bela Vista RPPN 100 2010 Processo 4.903, 3.565/10 Murici

São José RPPN 30 2010 Processo 4.903, 3.565/10 Murici

Jussara I RPPN 9 2010 Processo 4.903, 3.565/10 Murici

Jussara II RPPN 10 2010 Processo 4.903, 3.565/10 Murici

Jussara III RPPN 7 2010 Processo 4.903, 3.565/10 Murici

Jussara IV RPPN 6 2010 Processo 4.903, 3.565/10 Murici

Área total (ha) 274,72

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Moura et al. (2006) realizaram um levantamento de informações referentes à Mata Atlântica de Alagoas, relatando a ocorrência de algumas espécies que apenas foram registradas neste Estado (e.g. Bothrops muriciensis, Phyllodytes edelmoi, Chiasmocleis alagoanus ). Quase a totalidade dessas espécies apresenta registros na ESEC Murici, e a ausência de registros de algumas espécies pode se dever à carência de estudos na região, visto que, com exceção dos estudos referentes ao grupo das aves, os levantamentos florísticos e faunísticos nesta unidade se demonstram pouco abrangentes e/ou defasados.

Mesmo com esta limitação de estudos locais, a ESEC Murici já demonstra, por uma série de fatores físicos e biológicos peculiares no âmbito local, regional e nacional, a sua importância para a conservação da diversidade biológica e dos serviços ambientais associados a esta. Sendo assim, a efetiva implementação desta Unidade consiste num passo fundamental para a conservação da diversidade biológica do Estado de Alagoas, visto que esta abrange amostras singulares do bioma Mata Atlântica, tão desprotegido no Estado e na região.

5. ASPECTOS HISTÓRICOS E PATRIMÔNIO CULTURAL

5.1. Contexto histórico

A Região da ESEC Murici foi primeiramente ocupada por aldeias indígenas, antes da colonização portuguesa no Brasil. Originalmente, Murici era uma povoação pertencente à antiga Vila dos Macacos (nome dado ao atual município de União dos Palmares). A Enciclopédia dos Municípios Brasileiros sugere que o nome vem dos muricizeiros que o monge Frei Domingos teria plantado, em 1810, à sombra dos quais viajantes e “ ciganos ” paravam para descansar e apresentar bens comercializáveis. A Freguesia foi criada em 1861, e em 1872 foi fundada a vila de Murici, sendo desmembrada do território da então Imperatriz (outro nome de União dos Palmares). Murici foi elevado à condição de cidade em 1892. O surto de progresso da localidade acontece a partir de 1882, com a inauguração da via férrea, que deve ter influenciado decididamente a valorização daquelas terras; e, sobretudo, com a alocação de maiores espaços produtivos para a economia do açúcar, que foi avançando sobre matas nativas.

No século XVII, a presença dos quilombos no território alagoano deixou uma grande herança cultural, sendo Quilombo dos Palmares o mais famoso deles. Localizado na Serra da Barriga, no município de União dos Palmares , era refúgio de muitos escravos foragidos. Os quilombos se tornaram uma grande alternativa para povos africanos reconstruírem sua história, buscando elementos de sua terra, mas adaptando-os ao lugar onde viviam, muitas vezes com influências indígenas. A religião, o modo de cultivo, as variações linguísticas, a musicalidade e o mito, são algumas das contribuições mais marcantes dos negros que saíram das propriedades rurais para as cidades. Hoje, são ainda observados descendentes de quilombolas que ainda mantém algumas tradições culturais, mas estes em geral não se organizam em grupos. Na Serra

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da Barriga, no Parque Memorial Quilombo dos Palmares, podem ser vistos alguns registros por meio de áudios e textos narrando o cotidiano do Quilombo, e de construções, culinária e tradições festivasda época ali preservadas.

Como a quase totalidade do território alagoano, sacudido pelas desavenças políticas, Murici viveu um período de grande tensão entre 1855 e 1860, em consequência dos desacordos entre os partidos liberal e conservador . Segundo relatos da historiografia alagoana, numa das eleições locais, realizadas na igreja da cidade, cerca de 40 homens armados invadiram o lugar, chefiados por seguidores do Barão de Jequiá, provocando muitas mortes.

Característica de todo o Estado de Alagoas, a cultura popular revela as tradições antigas que ainda são comemoradas e transmitidas de geração a geração. Entre as manifestações culturais, muitas vezes associadas à religião, estão o guerreiro, as baianas, a cavalhada, o pastoril e os grupos de fanfarra. O guerreiro tem origem de antigos reisados alagoanos, com a influência do Auto do Caboclinho, do pastoril e da chegança. A cavalhada, realizada também em Murici, originou-se dos torneios medievais. Representa o desfile, a corrida de cavalos e o jogo de argolinhas e foi introduzida no Brasil durante a colonização. As baianas vieram do maracatu pernambucano, mas se diferenciam pela ausência da corte real e da boneca, possuindo elementos do coco e dos pastorisTodas essas tradições ocorrem nos ciclos natalinos (SECULT/AL, 2009; GASPAR, 2013).

A presença da casa-de-farinha (Figura 19) é outro dado cultural a ressaltar. Como o tradicional cultivo da mandioca é mantido na região, esta se torna um artefato quase que obrigatório, embora cada vez mais raro ou privativo. A mandioca é cultivada secularmente, herdada dos índios, e os usos da farinha, na elaboração de iguarias ancestrais no território, é comum (nos pirões de farinha de mandioca, nos beijus, além do consumo da farinha simplesmente torrada).

Figura 19. Casa-de-farinha comunitára do Assentamento Dom Hélder, Murici, Alagoas.

No final do século XIX, iniciou-se a produção de açúcar nas usinas da região de Murici, com o apoio de escoamento da rede ferroviária que ligava o município à capital Maceió. No século XX, mais precisamente em meados da década de 30, houve o desenvolvimento do cultivo do algodão na região, que por um tempo foi muito produzido com o incentivo de autoridades, que disponibilizavam o transporte das

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sementes e preparavam os sacos de embalagem. Os senhores de engenho possuíam uma forte presença e constituíam a burguesia local, juntamente com alguns comerciantes. Também era comum o cultivo de feijão, mandioca, inhame, milho, arroz, batata-doce, banana e café (Xerri, 2001).

O município Messias adquiriu esse nome na década de 40. Anteriormente, era denominada Curralinho, e o primeiro povoado consistia em terras de uma famosa família da região. O nome atual da cidade relaciona-se com a grande quantidade de carpinteiros, assim como à religião católica bastante presente. A autonomia da cidade dependeu de uma usina instalada na década de 60, que contribuiu para o desenvolvimento do distrito, posteriormente declarado município (IBGE, 2009).

A origem do nome Flexeiras vem das frechas encontradas nas árvores semelhantes às folhas da cana-de-açúcar. Por uma razão desconhecida, provavelmente de acomodações da língua portuguesa, o nome mudou para Flexeiras. O início do povoamento aconteceu com o aumento de uma fazenda na região, no início do século XX (IBGE, 2009).

5.2. Usos da Flora e da Fauna Local

Além da completa conversão de florestas em áreas produtivas, alguns remanescentes florestais sofrem pressões constantes no CFM. No entorno imediato dos fragmentos florestais abrangidos pela ESEC Murici, comunidades estabelecidas em assentamentos e acampamentos de reforma agrária, assim como indivíduos residentes em fazendas no interior da Unidade, utilizam recursos florestais de forma predatória. Atividades como a extração de madeira e lenha, a caça de animais silvestres e a coleta de aves são comuns na região (AMANE, 2011), e vêm sendo tratadas em diversas ações de educação promovidas pela AMANE e parceiros. Embora alguns resultados positivos deste longo esforço de sensibilização possam ser percebidos, principalmente no tocante à percepção da floresta por parte da população, e à converão de práticas agrícolas tradicionais para culturas mais sustentáveis (e.g. agroflorestas), usos indevidos da biodiversidade ainda são observados no CFM, mesmo pelo público envolvido nos trabalhos da AMANE (AMANE, 2011; Figura 20). Nesse sentido, ainda ocorrem desmatamentos nos remanescentes da região, principalmente para: (i) suprimento energético, favorecendo, em parte, a uma população em precárias condições de vida, além de padarias e olarias dos municípios circunvizinhos; (ii) fornecimento de madeira para construção civil e obras de marcenaria; e (iii) emprego em estacas e ripas (SNE, 2004). Entretanto, nos remanescentes florestais abrangidos pela ESEC Murici, podem ser observadas algumas melhorias. Foram identificados alguns pontos prinicipais de extração de madeira e caça na Unidade (Figura 44), o que facilitou a fiscalização e, junto às ações locais de sensibilização da população, permitiu eliminar desmatamentos em larga escala no interior da ESEC Murici.

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Figura 20. Uso de recursos florestais pelo grupo envolvido nos trabalhos de sensibilização e capacitação da AMANE (cooperados da COOPF Murici), e o público não envolvido (não-cooperados), no Complexo Florestal de Murici, Alagoas (AMANE, 2011).

Recentemente, uma avaliação socioeconômica da AMANE (2011), nos assentamentos rurais adjacentes à ESEC, permitiu realizar uma breve caracterização de atividades que ameaçam a biodiversidade na região, em especial o uso de lenha, que representa a principal fonte energética nas comunidades (Figura 21). Das 40 famílias entrevistadas, apenas duas afirmaram não usar lenha. De acordo com esta pesquisa, cada família utiliza em média 14 kg de lenha por dia, totalizando cerca de 350 kg de lenha/mês/família, levando em conta a frequência semanal de uso de lenha (Figura 22). As espécies de plantas mais citadas como apropriadas para o uso como lenha foram: Caboatã (Thyrsodium spruceanum ), Murici (Byrsonima sericea ), Carrasco ( Miconia hypoleuca ), Canzenzo e Sabiá (Mimosa caesalpiniifolia ). É preciso analisar o potencial dessas espécies para a utilização em reflorestamentos energéticos, tendo em vista o impacto da sua extração em outras fontes (i.e. áreas de floresta).

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Figura 21. Uso de combustíveis (gás e lenha) por famílias dos assentamentos Ernesto Che Guevara e Dom Hélder, em Murici, Alagoas; incluindo o público envolvido (cooperados) e o mais distante (não-cooperado) dos trabalhos de sensibilização da AMANE.

Figura 22. Principal fonte energética das famílias dos assentamentos Ernesto Che Guevara e Dom Hélder, em Murici, Alagoas. Tanto o público que não participa das ações da AMANE, quanto o público envolvido apresenta, predominantemente, a lenha como principal fonte energética (AMANE, 2011).

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Em geral, a lenha é obtida no próprio lote dos assentados, mas eventualmente é extraída da reserva legal do Assentamento ou de remanescentes contíguos a esta, da ESEC Murici (Figura 23). Pôde-se observar que as famílias com maior capacidade de consumo muitas vezes optam por usar o gás de cozinha, demonstrando que a lenha representa não apenas um aspecto cultural enraizado, mas também uma opção econômica para famílias mais desfavorecidas economicamente. Recentemente, em um projeto do Centro de Pesquisas Ambientais do Nordeste (CEPAN), realizado com o apoio da AMANE, foram instalados fogões ecológicos nos assentamentos da região, os quais apresentam uma maior eficiência de combustão, exigindo apenas pequenos gravetos para queima. Além de reduzir o uso de lenha, problemas de saúde associados à inalação de fumaça proveniente da queima devem ser minimizados, tendo em vista que estes fogões apresentam também chaminés para a eliminação dos gases provenientes da combustão.

Figura 23. Principais fontes de lenha de famílias dos assentamentos Ernesto Che Guevara e Dom Hélder, em Murici, Alagoas. Não foram observadas diferenças entre o padrão do público envolvido nos trabalhos da AMANE (cooperados da COOPF-Murici) e o público menos envolvido (não-cooperados).

Além do uso de lenha e madeira, pouco foi identificado como uso de recursos vegetais (SNE, 2004). No tocante às plantas medicinais, a Amescla Protium heptaphyllum e o Barbatimão Pithecellobium avaremotemo são as mais utilizadas, em geral retiradas de forma extrativista de remanescentes florestais e utilizadas para a cicatrização de ferimentos (AMANE, 2011). Além destas, algumas folhas são utilizadas para a produção de chás, e as flores de algumas plantas (e.g. Sabiá) são uilizadas como recurso para a produção de mel de abelha. Quanto a espécies nativas de frutíferas, os destaques são a pitomba Talisia sp , o caju Anacardium occidentale e a pitanga Eugenia

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sp. (SNE, 2004), cultivadas em geral por pequenos agricultores em assentamentos rurais. Esses produtos, assim como diversos outros, são em geral comercializados em feiras agrícolas no município de Murici e na capital do Estado, Maceió.

Um costume enraizado na cultura local, não apenas no Complexo Florestal Murici, mas em toda Zona da Mata do nordeste, é a captura de aves canoras (e.g. Patativa, Canário e Sabiá) ou de bela plumagem, seja para manter em casa ou para vender. Mesmo o público envolvido com as ações locais de educação e sensibilização demonstrou essa prática (AMANE, 2011; Figura 20), afirmando-a como um aspecto cultural difícil de ser enfrentado. Além da população residente no entorno da ESEC, alguns visitantes, em especial da capital, Maceió, também frequentam a ESEC para a coleta de aves. A prática de observação de aves ( birdwatching ) também é comum na região, apesar de proibida nos limites da ESEC Murici, exceto com fins educacionais. A identificação dos principais locais de ocorrência de espécies de aves ameaçadas deve auxiliar no processo de fiscalização dessas atividades, visando garantir a conservação deste grupo de espécies, que desde o início representa a principal motivação para a conservação do Complexo Florestal de Murici.

Além do uso de lenha e da captura de aves, a caça de animais silvestres é apontada como uma das principais formas de uso de recursos florestais na região (SNE, 2004; AMANE, 2011). Alguns animais, como o Tatu, a Paca, a Cotia, o Quati, o Tejo, a Capivara, o Tamanduá, o Porco-do-mato, o Veado e o Guandú, estiveram na lista de animais caçados (SNE, 2004; AMANE, 2011). A maioria desses animais é procurada para consumo próprio, por pessoas em condições econômicas desfavoráveis (SNE, 2004). Entretanto, mateiros da região, em entrevistas para o Censo do CFM (SNE, 2004), chegaram a afirmar que “tem gente importante caçando só pelo gosto de matar os bichos”.

6. SOCIOECONOMIA

6.1. Características da população na Região da UC

A Região da UC, incluindo os municípios em que a UC está inserida e os municípios que a Zona de Amortecimento (ZA) proposta abrange; compreende os municípios de Murici, Flexeiras, Messias, União dos Palmares, Joaquim Gomes, Banquinha, e São Luiz do Quitunde. A seguir, é feita uma breve descrição e análise das características desses municípios relacionadas à: demografia, educacão, condições de moradia, emprego e renda; com a abordagem, em seguida, dos índices de desenvolvimento humano de cada um dos municípois.

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6.1.1. Distribuição e Crescimento Populacional

Distante 45,95 km da capital Maceió, Murici possui, em uma região com 426,816 km 2 de área, 26.710 habitantes, totalizando uma densidade demográfica de 62,58 habitantes por km², de acordo com o último censo demográfico realizado pelo IBGE (2010). Deste total populacional, apenas 4.602 habitantes residem na zona rural, estando os demais (22.108) distribuídos na zona urbana do município (IBGE, 2010). Ainda segundo dados do IBGE, em 1991 a população era de 28.724, desde 1970 o maior registro de habitantes no município (Figura 24). De 1991 a 2007, houve uma dimiuição de cerca de 10% no contingente populacional de Murici. A queda maior se deu entre os anos de 1991 e 1996, com leve recuperação entre os anos de 1996 e 2007 (Figura 24).

Figura 24. Número total da população dos municípios da região da ESEC Murici: Branquinha, Flexeiras, São Luis do Quitunde, União dos Palmares, Murici, Joaquim Gomes e Messias. Fonte: PNUD 2009.

União dos Palmares engloba uma área de aproximadamente 421 km 2, na microrregião Serrana dos Quilombos, a 64,7 km da capital alagoana. Com a popuação mais numerosa e adensada dentre os municípios do CFM, a cidade tem cerca de 62 mil habitantes, e densidade demográfica de 148 habitantes por km² (IBGE, 2010). Característico da maior parte dos municípios interioranos do Brasil, o êxodo rural, que visa a procura de melhores condições de vida na zona urbana, também pode ser observado no município. No período de 1991 a 2000, a população rural de União dos Palmares apresentou uma queda de quase 3.000 habitantes (PNUD, 2000). Hoje, cerca

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de 30% da população reside na zona rural da cidade (IBGE, 2010). Por outro lado, a população total do município passou de 58.620 habitantes em 2000 para 60.619 em 2007 (Figura 24), e hoje já se apresenta maior, com 62.358 habitantes.

Com uma área de 238,60 km² , antes da colonização também habitada por índios Urupês, Joaquim Gomes possui hoje 22.575 habitantes, perfazendo 75,68 habitantes por km² (IBGE, 2010). A cidade apresentou a mesma tedência de diminuição populacional seguida de leve recuperação entre os anos de 1991 e 2007 (Figura 24), conforme observado no município de Murici. Em 1991, a população rural de Joaquim Gomes era de 15.657 pessoas. Quase dez anos depois, esse número caiu para 8.882, e hoje apenas 8.098 pessoas residem na zona rural; evidenciando também um forte êxodo rural neste município.

Limitando-se com União dos Palmares, Capela e Murici, Branquinha ocupa uma área de 166 km² e possui 10.583 habitantes, com uma densidade demográfica de 63 hab/km² (IBGE, 2010), tendo esse valor sido alcancado após um discreto e continuo aumento populacional ocorrido entre os anos de 1991 e 2007 (Figura 24). A população rural de Branquinha, com cerca de 4.000 habitantes, representa quase metade da população total, o que se deve ao baixo desenvolvimento da zona urbana, considerada uma das áreas mais pobres do Brasil.

Situada a leste do Estado alagoano, a 43,7 km da capital de Alagoas, com área territorial abrangendo 333 km², Flexeiras possui uma população estimada em 12.325 pessoas , com uma densidade demogáfica de 37 hab/ km2. Do total populacional, 8.017 pessoas residem na zona urbana, enquanto que outros 4.308 habitantes residem na zona rural (IBGE, 2010). Entre os anos de 1991 e 2007, Flexeiras manteve praticamente constante o seu contingente populacional (Figura 24).

Situada a 148 m de altitude e distante 33,56 km da capital, o município de Messias possui, de acordo com o último censo demográfico (IBGE, 2010), 15.682 habitantes, distribuídos numa área de 113,825 km², o que perfaz uma densidade de 138 hab/ km². No ano de referência 2000, 2.438 pessoas viviam na zona rural de Messias e 9.552 na área urbana, onde um crescimento contínuo pode ser verificado de 1991 a 2007 (Figura 24).

Com uma discreta diminuição entre os anos de 1991 e 2000, a população de São Luis do Quitunde aumentou novamente entre os anos de 2000 e 2007 (Figura 24), atingindo um total de 31.647 habitantes (IBGE, 2007). Hoje, a população soma 32.412 habitantes, distribuídos ao longo de uma área de 397,173 km², com densidade demográfica de 82 hab/km2. Deste total populacional, 20.588 pessoas residem na zona urbana, enquanto que apenas 11.824 residem na zona rural da cidade (IBGE, 2010).

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6.1.2. Composição Populacional

Nos sete municípios da Região da ESEC Murici, a distribuição por faixas etárias se assemelha com a situação do país como um todo, que apresenta uma população jovem e em crescimento, com a maioria dos habitantes pertencentes às faixas etárias entre 10 e 14, 20 e 24 e 30 e 34 anos (Figura 25). Esta estrutura da pirâmide etária denota alta taxa de natalidade, característica de municípios pobres, como os do entorno da ESEC Murici.

De um modo geral, há equilíbrio populacional entre os sexos masculino e feminino nos municípios considerados, embora pequenas diferenças ocorram em alguns municípios para determinadas classes etárias (Figura 25).

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Brasil em 2009 (estimativa) Murici em 2009 (estimativa)

Flexeiras União dos Palmares

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Joaquim Gomes Branquinha

Messias São Luis do Quitunde

Figura 25. Pirâmides etárias do Brasil e dos municípios da Região da ESEC Murici. Fonte: IBGE (2010).

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6.1.3. Educação

O ensino fundamental tem uma participação mais ativa dos jovens em Murici , em relação ao numero de matrículas (6.395), seguido do ensino médio (923 matriculados) e do pré-escolar (613 matriculados), esses últimos oferecidos, em 2010, apenas por escolas públicos, que somavam, no município 39 estabelecimentos e atendiam 7.931 alunos (Tabela 12).

Em União dos Palmares é verificada a mesma tendência observada em Murici, com a quantidade de pessoas que frequentam o ensino fundamental (15.381) prevalecendo sobre o ensino médio (2.983) e, e este sobre o ensino pré-escolar (1.838). Os 20.202 alunos que frequentavam a escola em 2010 contavam com 61 estabelecimentos de ensino, na maioria públicos (Tabela 12).

Os 6.863 alunos matriculados nas escolas em Joaquim Gomes , em 2010, contavam com 44 estabelecimentos de ensino, dos quais apenas quatro eram particulares, e destinados ao ensino pré-escolar. Ao contrário dos dois municípios anteriormente citados, em Joaquim Gomes o número de matrículas, em 2010, foi maior no ensino fundamental (5.479), seguido de pré-escolar (878) e do ensino médio, com 506 alunos (Tabela 12).

Sem nenhum estabelecimento de ensino privado em 2010, Braquinha possuía 3.389 estudantes matriculados em 31 escolas, com o ensino fundamental (2.778 matriculados) prevalecendo sobre o pré-escolar (381 matriculados), e este sobre o ensino médio, com 230 matriculados (Tabela 12).

Em Flexeiras , em 2010, 408 dos 3.561 matriculados nas escolas estavam cursando o ensino pré-escolar nas três escolas públicas existentes no município. Os demais alunos cursavam o ensino fundamental em 15 escolas públicas destinadas a essa fase, não havendo naquele ano, no município, escolas de ensino médio e escolas privadas (Tabela 12).

Com 14 escolas, todas elas públicas, Messias possuía, em 2010, 5.057 alunos, com a maioria respectivamente nos ensinos fundamental (3.669 alunos), médio (877 alunos) e pré-escolar (501 alunos).

Em 2010 havia, em São Luis do Quitunde , 51 escolas, das quais apenas 5 eram particulares, que atendiam 10.329 alunos, cuja maioria (8784) cursava o ensino fundamental, seguido do ensino médio (895 alunos) e do pré-escolar (650 alunos) (Tabela 12).

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Tabela 12. Número de matrículas, docentes e estabelecimentos de ensino nos municípios da Região da ESEC Murici, em Alagoas, Brasil.

Murici União dos Palmares Joaquim Gomes Branquinha Flexeiras Messias São Luis do Quitunde

Tipo de Tipo de Tipo de Tipo de Tipo de Tipo de Tipo de Estabelecimento Estabelecimento Estabelecimento Estabelecimento Estabelecimento Estabelecimento Estabelecimento

Total Total Total Total Total Total Total Público Público Público Público Público Público Público Privado Privado Privado Privado Privado Privado Privado

Pré-escolar 422 191 613 1690 148 1838 579 299 878 381 0 381 408 0 408 501 0 501 611 39 650 Ens. Fund. 6.395 0 6.395 14312 1069 15381 5479 0 5479 2778 0 2778 3153 0 3153 3669 0 3669 8351 433 8784 N° N° de

matrículas Ens. Médio 923 0 923 2731 252 2983 506 0 506 230 0 230 0 0 0 877 0 877 794 101 895 Pré-escolar 19 12 31 76 11 87 22 15 37 10 0 10 14 0 14 19 0 19 22 3 25 Ens. Fund. 224 0 224 504 74 578 173 0 173 118 0 118 91 0 91 128 0 128 303 21 324 N° N° de

docentes Ens. Médio 16 0 16 78 32 110 21 0 21 10 0 10 0 0 0 44 0 44 21 10 31 Pré-escolar 4 3 7 20 3 23 12 4 16 13 0 13 3 0 3 5 0 5 3 2 5 Ens. Fund. 1 0 1 28 4 32 27 0 27 17 0 17 15 0 15 8 0 8 42 2 44 Ens. Médio 31 0 31 3 3 6 1 0 1 1 0 1 0 0 0 1 0 1 1 1 2 N° N° de escolas Fonte: IBGE (2

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Em 2007, o Ministério da Educação – MEC, para medir a qualidade do ensino básico a cada dois anos, criou o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – IDEB, que varia numa escala de zero a dez. O Ideb foi criado para medir a qualidade de cada escola e de cada rede de ensino. O indicador é calculado com base no desempenho do estudante em avaliações do Ideb e em taxas de aprovação. Assim, para que o Ideb de uma escola ou rede cresça, é preciso que o aluno aprenda, não repita o ano e frequente a sala de aula. A meta é que a rede de ensino do Brasil, com nota 4 em anos iniciais (1ª a 4ª série) e 3,4 em anos finais (5ª a 8ª série) (Tabela 13), alcance a nota 6 em 2022, se assimilando a países desenvolvidos (MEC/Ineb, 2012).

Além desta meta, estabelecida de forma geral para todo o Brasil, foram definidas metas para cada rede de ensino, a cada dois anos. Na Tabela 13, são apresentadas algumas das metas estabelecidas, e os resultados das três primeiras observações, para a rede de ensino pública dos municípios da Região da ESEC Murici, do Estado de Alagoas e do Brasil. O índice começou a ser medido com dados referentes ao ano de 2005, de forma que as metas foram estabelecidas de 2007 a 2021 (www.ideb.inep.gov.br ).

Entre os anos de 2005 e 2009, 4 dos 7 municípios que compõem a Região da ESEC apresentaram aumentos contantes nos seus Idebs para os anos iniciais, que saíram de valores em torno de 2,3 para 3,4, representando uma melhoria de cerca de 48%. Contrariando essa tendência de melhoria do Ideb nos anos iniciais, Flexeiras apresentou redução do índice entre os anos de 2005 e 2007, com melhoria entre os anos de 2007 e 2009, mas ainda assim insuficiente para atingir o índice de 2005, que era de 3,6. Também na contra mão da tendência de melhoria observada nos demais municípios, Joaquim Gomes apresentou, para os anos iniciais, um forte declínio no seu Ideb, que sai de 3,2 em 2007 para 2,9 em 2009. Messias por sua vez apresentou o mais forte aumento no seu índice a partir de 2007, atingindo o melhor resultado em 2009, com Ideb para os anos iniciais atingindo a casa do 4 pontos (Figura 26; Tabela 13).

A mesma tendência de aumentos constantes no Ideb dos municípios para os anos iniciais é observada para os anos finais, com exceção de Messias e Branquinha. No caso do primeiro, embora possuísse, em 2005, o maior Ideb dentre os municípios da Região da ESEC, o mesmo sofreu forte declínio no ano de 2007, a partir de quando se recupera e supera o valor medido inicialmente. Em Messias, um forte aumento inicial (de 2,1 para 3,1) é ligeiramente abalado por uma pequena diminuição entre os anos de 2007 e 2009, com o Ideb para os anos finais ficando na casa dos 3 pontos (Figura 26; Tabela 13).

De maneira satisfatória, portanto, os municípios da Região da ESEC têm, em geral, alcançado as metas estabelecidas pelo programa, exceto em alguns poucos casos, como nos anos finais do ensino fundamental de União dos Palamares, em que os valores observados margeiam as metas estabelecidas (Tabela 13). O município de Messias, com Ideb médio de 3,2, foi o que se demonstrou mais desenvolvido dentre os demais da Região da ESEC Murici, com índice maior até mesmo do que o do Estado de Alagoas (Tabela 13). Os demais municípios apresentaram valores similares ao do

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Estado, que por sua vez é bem menor que o valor médio dos índices de todo o Brasil (Tabela 13).

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Tabela 13 . Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – IDEB da rede de ensino pública dos municípios da Região da ESEC Murici, do Estado de Alagoas e do Brasil.

IDEB Observado - Nota IDEB Projetado (meta) - Nota

Ensino Fundamental Anos iniciais Anos finais Anos iniciais Anos finais (1ª a 8ª série) (4ª série/5º ano) (8ª série/9º ano) (4ª série/5º ano) (8ª série/9º ano) 2005 2007 2009 2005 2007 2009 2007 2009 2013 2021 2007 2009 2013 2021 Murici 2,2 2,8 3,5 2,4 2,5 2,8 2,4 2,8 3,5 4,7 2,5 2,7 3,5 4,7 União dos Palmares 2,6 3,3 3,4 2,4 2,4 2,6 2,7 3 3,7 4,9 2,5 2,7 3,4 4,6 Joaquim Gomes 2,5 3,2 2,9 2,3 2,6 2,8 2,6 2,9 3,6 4,8 2,3 2,5 3,2 4,4 Branquinha 2,3 3 3,1 2,1 3,1 3 2,3 2,6 3,3 4,5 2,2 2,4 3,2 4,4 Flexeiras 3,6 3,2 3,5 2,1 2,6 3 3,7 4 4,7 5,9 2,2 2,4 3,2 4,4 Messias 3,2 3,2 4 3 2,7 3,2 3,3 3,6 4,3 5,5 3,1 3,2 3,9 5,1 São Luiz do 2 3 3,4 2,4 2,6 2,6 2,2 2,6 3,4 4,6 2,4 2,6 3,2 4,4 Quitunde Alagoas 2,4 3,1 3,4 2,3 2,6 2,7 2,5 2,8 3,4 4,6 2,3 2,5 3,2 4,3 Brasil 3,6 4,0 4,4 3,2 3,5 3,7 3,6 4,0 - 5,8 3,3 3,4 - 5,2 Fonte: MEC/Ineb, 2012.

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Figura 26. Índice da Educação Básica – IDEB, observados para os anos iniciais e finais nos municípios da Região da ESEC Murici entre os anos de 2005 e 2009.

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As taxas de analfabetismo dos sete municípios da Região da ESEC, em todas as faixas etárias, apresentaram decréscimo entre os anos de 2000 e 2010, mantendo os municípios no geral a mesma posição hierárquica verificada em 2000 (exceção feita a Messias e Murici, que trocaram de posição), com Branquinha apresentando as maiores taxas de analfabetos, seguido de Joaquim Gomes, São Luís do Quitunde, Flexeiras, União dos Palmares, Messias e Murici. Em média, a redução da taxa de analfabetismo para os diferentes grupos etários oscilou entre 20,14% (em Joaquim Gomes) e 28,92% (em Flexeiras), representando uma diminuição significativa para o período considerado, e seguindo a tendência observada para o Estado de Alagoas, que reduziu sua taxa de analfabetismo em 32,5%. Mesmo com os avanços, os municípios da Região da ESEC ainda apresentam, em média, 34% de analfabetos na população com mais de 15 anos; taxa mais elevada em relação ao Estado de Alagoas, com 24%; e ao Brasil, com 9,6% de analfabetos em 2010 (Tabela 14). Estas taxas, no entanto, não consideram o número de analfabetos funcionais, de forma que o percentual de pessoas incapacitadas para ler e escrever deve ser bem maior que o observado.

Quando consideradas separadamente, houve diferenças significativas no grau de melhoria das taxas e analfabetismo entre as diferentes faixas etárias, com destaque para o grupo entre 15 e 24 anos, que apresentou uma melhora de 63,71%. Para esse grupo, o melhor índice foi alcançado pelo município de Flexeiras (75,69% de redução) e o pior pelo município de São Luís do Quitunde (57,58%). Por sua vez o grupo com mais de 60 anos apresentou os piores resultados, com taxas de redução do analfabetismo que oscilaram entre 3,06% (em Messias) e 12,72% (em Murici). Para as pessoas com idade entre 25 e 59 anos, a média de redução do analfabetismo foi de 23,54%, com o melhor índice (29,65%) ocorrendo em Flexeiras e o pior (16,54%) em Joaquim Gomes (Tabela 14).

A redução da taxa de analfabetismo nos municípios da Região da ESEC Murici pode ser atribuída, em parte, à melhoria da rede de ensino pública (Tabela 14). Além desta melhoria, ações locais de educação, como aquelas promovidas pela AMANE no Centro de Educação para Conservação, em Murici, têm-se intensificado na região, contribuindo para a formação do senso crítico da população, essencial para o pleno exercício da cidadania.

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Tabela 14. Taxas de analfabestismo dos municípios da Região da ESEC Murici, do Estado de Alagoas, e do Brasil.

PERCENTUAIS Murici Flexeiras Messias União dos Palmares Joaquim Gomes Branquinha São Luís do Quitunde Alagoas % de % de % de % de % de % de % de % de 2000 2010 2000 2010 2000 2010 2000 2010 2000 2010 2000 2010 2000 2010 2000 2010 MÉDIA * redução redução redução redução redução redução redução redução Analfabetos - pessoas com 15 43,50 30,60 29,66 46,50 32,20 30,75 38,70 29,90 22,74 43,70 31,60 27,69 49,90 39,70 20,44 54,60 41,80 23,44 46,60 33,90 27,25 33,40 24,30 27,25 26,00 anos ou mais Analfabetos - pessoas 29,10 10,20 64,95 28,80 7,00 75,69 25,10 8,50 66,14 26,70 10,50 60,67 34,10 13,90 59,24 38,90 14,90 61,70 33,00 14,00 57,58 20,60 7,70 62,62 63,71 de 15 a 24 anos Analfabetos - pessoas 45,80 34,20 25,33 51,60 36,30 29,65 41,70 32,90 21,10 46,70 33,50 28,27 54,40 45,40 16,54 61,30 49,10 19,90 50,40 38,30 24,01 35,20 25,70 26,99 23,54 de 25 a 59 anos Analfabetos - pessoas 74,70 65,20 12,72 79,20 71,00 10,35 71,90 69,70 3,06 76,70 68,00 11,34 81,90 78,00 4,76 84,30 80,20 4,86 77,30 70,10 9,31 62,30 54,10 13,16 8,06 com mais de 60 anos MÉDIAS 48,28 35,05 25,75 51,53 36,63 28,92 44,35 35,25 22,57 48,45 35,90 25,07 55,08 44,25 20,14 59,78 46,50 21,62 51,83 39,08 22,72 37,88 27,95 25,69 Fonte: IBGE (2010).

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6.1.4. Saneamento Básico e Condições de Moradia

Dentro de um contexto mais abrangente, os municípios da Região da ESEC Murici estão inseridos no Estado de Alagoas, que possui um dos piores índices de desenvolvimento urbano, segundo o Novo Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil (PNUD, 2001). A precariedade de serviços como o esgotamento sanitário é característica dos municípios brasileiros como um todo e durante muito tempo, os alagoanos não possuíam uma boa assistência medica e sanitária, devido à falta de investimentos políticos nos municípios. Contudo, mais recentemente, tem se discutido a implementação de uma rede sanitária mais eficaz, assim como uma assistência sanitária domiciliar que ajude a combater doenças relacionadas à falta de saneamento básico na região. Assim, embora em ritmo lento, entre 2000 e 2010, houve melhoria nos índices de atendimento dos serviços básicos. Dessa forma, em 2010, 75,64% dos alagoanos possuíam banheiro e água encanada em suas casas, um índice 37,55% maior que aquele verificado em 2000. O atendimento de coleta de lixo nos domicílios urbanos atendia a 96,16% dos habitantes e 98,98% deles possuíam energia elétrica em suas casas (PNUD, 2013).

Em Murici , assim como na maioria das cidades da Região da UC, o saneamento é precário, constituindo um forte fator de risco para a contaminação de riachos próximos e para a saúde dos moradores. O percentual de pessoas que viviam em domicílios com banheiro e água encanada era de 39,15% em 2000. De 2000 a 2010 houve aumento de 65,59% na prestação desse serviço básico, e 64,83% dos domicílios passaram a ser atendidos. A coleta de lixo aumentou, no período considerado, em 9,45%, e em 2010 90,09% dos dominílios urbanos dispunham desse serviço. Com aumento de 6,32% no atendimento aos domicílios, entre 2000 e 2010, 93% dos domicílios em Murici passaram a contar com energia elétrica, menor índice dentre os municípios da Região da ESEC. Vale mencionar que todos os índices de Murici ficam abaixo daqueles verificados no estado de Alagoas (PNUD, 2013; Tabela 15).

Em União dos Palmares , no ano de 2010, 88,11% da população possuia banheiro e água encanada, índice 51,60% maior que em 2000 e o melhor dentre os municípios da Região da ESEC. A coleta do lixo, essencial para a assistência sanitária dos moradores, estava presente nas casas de 97,46% dos habitantes, e a energia elétrica em 99,15% das residências. Todos os índices no município eram melhores, em 2010, que aqueles verificados para o estado de Alagoas (PNUD, 2013; Tabela 15).

Em 1991, considerando a Microrregião na qual está inserido, Joaquim Gomes era detentor do pior percentual de pessoas com domicílios atendidos por serviços básicos, em relação a água encanada e presença de banheiro. Atualmente, com índices menores que aqueles verificados para o estado de Alagoas, Joaquim Gomes ainda possui um baixo percentual comparado aos demais munípios da Regão da UC (63,16%), embora esse índice seja 88,42% maior que aquele verificado em 2000. Melhora significativa ocorreu também no percentual da população atendida com coleta de lixo, passando de 62,32 para 92,08%, ou seja, um aumento de 47,75%. A energia elétrica,

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em 2010, atendia 95,75% da população, um índice 19,46% maior que em 2000 (PNUD, 2013; Tabela 15).

Assim como em Joaquim Gomes, Branquinha apresentou uma significativa melhora (83,32%) no abastecimento de água e rede sanitária em 2010, comparado com 2000, com 65,80% das pessoas beneficiadas com esse tipo de serviço em suas casas. Com relação à, coleta de lixo, a melhora foi de 19,98%, e 97,83% dos dominílios passaram a dispor desse serviço, único índice que ficou acima daquele observado para o estado de Alagoas. A energia elétrica, em 2010, atendia a 98,08% dos domicílios, índice 14,87% maior que em 2000 (PNUD, 2013; Tabela 15).

Entre os municípios da Mata Alagoana, Flexeiras apresentou a maior percentagem, dentre os municípios da Região da ESEC, de residências atendidas com a coleta de lixo em 2013, com 99,57% dos domicílios atendidos, índice maior que o verificado para o estado de Alagoas. Por outro lado, o serviço de banheiro e água atingia, naquele ano, somente 64,19% da população, índice ainda baixo, mas 56,07% maior que em 2000. Com aumento de 23,47% em relação ao ano de 2000, a energia elétrica atendia, em 2010, 98,07% dos domicílios (PNUD, 2013; Tabela 15).

Messias apresentou em 2000 o melhor percentual, na Microrregião Mata Alagoana, de pessoas que possuíam em suas residências banheiro e água encanada, um valor de 66,86%, valor esse que aumentou em 30,05% atingindo 86,95% dos domicílios. Em relação a coleta de lixo e à luz elétrica, 93,36% e 99,26% das pessoas eram beneficiadas respectivamente (PNUD, 2013; Tabela 15).

A cidade de São Luis do Quitunde é um exemplo do precário sistema de atendimento aos domicílios em relação à rede de esgotos: dos 3.144 domicílios permanentes com banheiro ou sanitário, apenas 62 deles possuem esgotamento sanitário via rede geral. Também precária é a existência de banheiro e água encanada, com apenas 57,96% dos domicílios contando com esses serviços em 2010, um número, no entanto, 75,05% maior que aquele verificado em 2000, e o menor em relação aos demais municípios da Região da ESEC. As pessoas que tinham em suas casas a coleta de lixo somavam 85,84% do total, no ano de 2010, outra vez o menor índice dentre os municípios da Região da ESEC. As casas que eram servidas por luz elétrica totalizavam 98,16%. Todos os índices verificados em 2010 ficavam abaixo daqueles medidos para o estado de Alagoas (PNUD, 2013; Tabela 15).

Em relação ao atendimento à demanda habitacional, os défcitis registrados nos municípios da Região da ESEC oscilavam, em 2010, entre 16% (em União dos Palmares) e 25% (em Joaquim Gomes), valores esses superiores aos verificados para Alagoas (13%) e para o Brasil (10%). Vale mencionar que em 2005 (IBGE/PNAD, 2005) o défcit habitacional em Alagoas era de 17,5%, havendo uma melhora, em cinco anos, de cerca de 35% (Tabela 16).

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Tabela 15. Condições de moradia e serviços de saneamento nos municípios da ESEC Murici: 2000 e 2010.

Condições e serviços de saneamento: % de pessoas atendidas Coleta de lixo – domicílios Banheiro e água encanada Energia elétrica Local urbanos % de % de % de 2000 2010 2000 2010 2000 2010 aumento aumento aumento Murici 39,15 64,83 65,59 82,31 90,09 9,45 87,47 93,00 6,32 União dos Palmares 58,12 88,11 51,60 91,51 97,46 6,50 89,89 99,15 10,30 Joaquim Gomes 33,52 63,16 88,42 62,32 92,08 47,75 80,15 95,75 19,46 Branquinha 34,94 65,80 88,32 83,63 97,83 16,98 85,38 98,08 14,87 Flexeiras 41,13 64,19 56,07 98,56 99,57 1,02 79,43 98,07 23,47 Messias 66,86 86,95 30,05 86,17 93,36 8,34 92,90 99,26 6,85 São Luiz do Quitunde 33,11 57,96 75,05 77,80 85,84 10,33 79,54 98,16 23,41 Alagoas 54,99 75,64 37,55 90,96 96,16 5,72 89,81 98,98 10,21 Brasil 43,59 s.i. s.i. 79,92 s.i s.i 94,75 s.i s.i Fonte: PNUD – Atlas de Desenvolvimento Humano (2013). s.i. – sem informação.

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Tabela 16. Déficit habitacional nos municípios da Região da ESEC Murici: 2000 e 2010.

Ano 2010 Nº de Déficit em % de défcit Local domicílios unidades habitacional Murici 6.114 1.711 22 União dos Palmares 15.930 3.122 16 Joaquim Gomes 5.515 1.873 25 Branquinha 2.478 719 22 Flexeiras 3.183 980 24 Messias 3.877 918 19 São Luis do Quitunde 7.728 2.356 23 Alagoas 851.101 132.180 13 Brasil 58.051.449 6.644.713 10 Fonte: IBGE, 2010.

6.1.5. Economia, Emprego e Renda

Em todos os municípios da Região da ESEC Murici, o setor de serviços é responsável pela maior parte do PIB municipal, com participação variando entre 49% (em São Luis do Quitunde) e 74% (em Joaquim Gomes). Por sua vez, com valores entre 2% e 8%, o setor de impostos é o de menor participação no PIB dos municípios da Região da UC. Além do setor de serviços da economia, a agropecuária, em comparação a outros setores, também apresentou uma forte contribuição na produção da região; exceto em União dos Palmares e São Luis do Quitunde, onde a indústria representa a segunda principal fonte de produção interna, tendência esta observada em Alagoas e no Brasil (Tabela 17; Figura 27).

Embora o setor de serviços tenha dado a maior contribuição ao PIB dos municípios, as oportunidades de emprego na região, em especial na zona rural, são poucas. A maior parte da mão-de-obra rural é empregada em usinas de cana-de- açúcar, álcool e pecuária, que ocupam a grande parte da região (Figura 27). Outra parte, em assentamentos rurais, depende da sua própria produção familiar, vendida em feiras locais e na capital, Maceió. Muitos vão a esta cidade em busca de outras oportunidades de emprego, caracterizando o processo de êxodo rural.

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Tabela 17. Valor adicionado ao PIB dos municípios da Região da ESEC Murici, de Alagoas e do Brasil por setores da economia em 2009.

Valor adicionado ao PIB (em mil reais) por setor econômico PIB a preços Agropecuária Indústria Serviços Impostos correntes Município Valor % Valor % Valor % Valor % Valor Murici 21.723 20% 16.876 15% 65.517 60% 4.922 5% 109.038 União dos Palmares 47.160 12% 91.845 23% 229.112 57% 32.980 8% 401.097 Joaquim Gomes 10.007 15% 6.385 10% 49.624 74% 1.121 2% 67.137 Branquinha 10.561 25% 3.887 9% 26.706 64% 682 2% 41.836 Flexeiras 11.502 25% 3.499 8% 29.704 65% 930 2% 45.635 Messias 13.642 22% 5.061 8% 41.223 66% 2.255 4% 62.181 São Luis do Quitunde 35.565 20% 44.291 25% 88.479 49% 11.457 6% 179.792 Alagoas 1.430.000 7% 3.925.000 18% 13.728.000 65% 2.151.000 10% 21.234.000 Brasil 157 232.000 5 749 699.000 23 1 887 448.000 58 445.025.000 14 3 239 404.000 Fonte: IBGE – Cidades.

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Figura 27. Valor adicionado ao PIB dos municípios da Região da ESEC Murici, de Alagoas e do Brasil por setores da economia em 2009. Fonte: IBGE – Cidades.

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Em 2010, todos os municípios da Região da ESEC Murici apresentavam renda per capita abaixo da média alagoana (R$ 525,00) e do Brasil (R$ 994,00), conforme ilustraddo na Tabela 18. Destaque para Joaquim Gomes e União dos Plamares, com os menores e maiores rendimentos, respectivamente, em relação aos demais municípios da Região da UC.

Tabela 18. Valor do rendimento nominal médio mensal per capita dos domicílios particulares permanentes na Região da ESEC Murici, Alagoas e Brasil.

Renda per capita LOCAL 2010 Murici 275,13 União dos Palmares 394,37 Joaquim Gomes 225,28 Branquinha 250,36 Flexeiras 248,22 Messias 310,04 São Luis do Quitunde 290,83 Alagoas 525,09 Brasil 993,94 Fonte: IBGE.

Em relação ao Índice de Gini 2 da renda domiciliar per capita para os municípios da Região da ESEC, contrariando a tendência observada no Brasil e em Alagoas, os municípios da Região da ESEC tiveram, em 1991, o menor índice, que em 2000 atingiu seus maiores valores, caindo, em 2010, para valores intermediários, o que demonstra que houve, em relação a 1991, aumento da desigualdade na renda domiciliar per capita para os municípios analisados. No Brasil e em Alagoas, ao contrário, comparando os anos de 1991 e 2010 há uma diminuição no Índice de Gini, demontrando uma tendência à diminuição da desigualdade na renda domiciliar per capita . Branquinha e Flexeiras são as cidades com os menores índices tomando como base o ano de 2010, enquanto que União dos Palmares apresenta o maior valor (Tabela 19; Figura 28).

2 O Índice de Gini varia de 0 a 1, onde 0 representa nenhuma desigualdade na renda domiciliar per capita .

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Tabela 19. Índice de Gini dos municípios da Região da ESEC Murici, de Alagoas e do Brasil para os anos de 1991,2000 e 2010.

Índice de Gini da renda domiciliar per capita LOCAL 1991 2000 2010 Murici 0,4682 0,5469 0,4894 União dos Palmares 0,5434 0,5729 0,5469 Joaquim Gomes 0,3921 0,5667 0,506 Branquinha 0,3929 0,5553 0,4304 Flexeiras 0,374 0,5119 0,4796 Messias 0,5626 0,5494 0,4894 São Luis do Quitunde 0,4713 0,5163 0,506 Alagoas 0,6383 0,6868 0,6343 Brasil 0,58 0,594 0,545

Figura 28. Índice de Gini dos municípios da Região da ESEC Murici, de Alagoas e do Brasil para os anos de 1991,2000 e 2010.

Com baixa remuneração e condições de vida precárias, a poulação pode representar uma ameaça à conservação da região, tendo em vista que, diante dessas condições, muitos utilizam recursos florestais de forma predatória. Assim, o desenvolvimento social da região é um processo fundamental para a efetiva conservação da biodiversidade da ESEC Murici, associada com a repartição dos seus benefícios. A promoção de alternativas de renda para a população local, associadas a atividades sustentáveis (e.g. agroecologia, artesanatos, guias turísticos etc.), representa então um

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grande desafio, e vem sendo trabalhada com as diversas atividades de capacitação e sensibilização promovidas pela AMANE e parceiros.

6.1.6. Índices de Desenvolvimento Humano

O Índice de Desenvolvimento Humano foi criado originalmente para medir o nível de desenvolvimento humano dos países a partir de indicadores de educação (alfabetização e taxa de matrícula), longevidade (esperança de vida ao nascer) e renda (PIB per capita). O índice varia de 0 (nenhum desenvolvimento humano) a 1 (desenvolvimento humano total). Países com IDH até 0,499 têm desenvolvimento humano considerado baixo; os países com índices entre 0,500 e 0,799 são considerados de médio desenvolvimento humano; países com IDH maior que 0,800 têm desenvolvimento humano considerado alto.

Para aferir o nível de desenvolvimento humano de municípios as dimensões são as mesmas – educação, longevidade e renda -, mas alguns dos indicadores usados são diferentes. Embora meçam os mesmos fenômenos, os indicadores levados em conta no IDH municipal (IDHM) são mais adequados para avaliar as condições de núcleos sociais menores.

Para a avaliação da dimensão educação, o cálculo do IDH municipal considera dois indicadores, com pesos diferentes: taxa de alfabetização de pessoas acima de 15 anos de idade (com peso dois) e a taxa bruta de freqüência à escola (com peso um). O primeiro indicador é o percentual de pessoas com mais de 15 anos capaz de ler e escrever um bilhete simples (ou seja, adultos alfabetizados). O calendário do Ministério da Educação indica que se a criança não se atrasar na escola ela completará esse ciclo aos 14 anos de idade, daí a medição do analfabetismo se dar a partir dos 15 anos. O segundo indicador é resultado de uma conta simples: o somatório de pessoas (independentemente da idade) que frequentam os cursos fundamental, secundário e superior é dividido pela população na faixa etária de 7 a 22 anos da localidade. Estão também incluídos na conta os alunos de cursos supletivos de primeiro e de segundo graus, de classes de aceleração e de pós-graduação universitária. Apenas classes especiais de alfabetização são descartadas para efeito do cálculo.

Para a avaliação da dimensão longevidade, o IDH municipal considera o mesmo indicador do IDH de países: a esperança de vida ao nascer. Esse indicador mostra o número médio de anos que uma pessoa nascida naquela localidade no ano de referência (no caso, 2000) deve viver. O indicador de longevidade sintetiza as condições de saúde e salubridade daquele local, uma vez que quanto mais mortes houver nas faixas etárias mais precoces, menor será a expectativa de vida observada no local.

Para a avaliação da dimensão renda, o critério usado é a renda municipal per capita , ou seja, a renda média de cada residente no município. Para se chegar a esse valor soma-se a renda de todos os residentes e divide- se o resultado pelo número de

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pessoas que moram no município (inclusive crianças ou pessoas com renda igual a zero). No caso brasileiro, o cálculo da renda municipal per capita é feito a partir das respostas ao questionário expandido do Censo – um questionário mais detalhado do que o universal e que é aplicado a uma amostra dos domicílios visitados pelos recenseadores. Os dados colhidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) através dessa amostra do Censo são expandidos para o total da população municipal e, então, usados para o cálculo da dimensão renda do IDH-M.

Uma vez escolhidos os indicadores, são calculados os índices específicos de cada uma das três dimensões analisadas: IDHM-E, para educação; IDHM-L, para saúde (ou longevidade); IDHM-R, para renda. Para tanto, são determinados os valores de referência mínimo e máximo de cada categoria, que serão equivalentes a 0 e 1, respectivamente, no cálculo do índice. Os sub-índices de cada município serão valores proporcionais dentro dessa escala: quanto melhor o desempenho municipal naquela dimensão, mais próximo o seu índice estará de 1. O IDHM de cada município é fruto da média aritmética simples desses três sub-índices: somam-se os valores e divide-se o resultado por três (IDHM-E + IDHM-L + IDHM-R / 3)

Em todos os municípios da Região da ESEC Murici observou-se aumento, entre 1991 e 2010, dos indicadores renda (IDH-R) e longevidade (IDH-L), o que gerou um aumento de 19% em média no IDH dos sete municípios, valor esse bem abaixo do aumento verificado para o Estado de Alagoas e para o Brasil, de 71 e 48% respectivamente. Para o IDH-R, os aumentos foram menores - cerca de 21% em média - e oscilaram entre 11% (em Messias) e 36% (em Branquinha). A média de aumento acompanhou a tendência do Estado, cujo IDH-R aumentou nem 22%, e ficou acima do aumento ocorrrido no Brasil, de 14%. O IDH – L aumentou em média 34%, com destaque para os municípios de Messias (maior aumento – 43%) e São Luís do Quitunde (menor aumento – 13%). No Estado de Alagoas, o IDH-L aumentou em 40% e no Brasil em 23% no período considerado. Destaque para o indicador de desenvolvimento da educação (IDH – E), que apresentou piora, no período considerado, em três municíos – Murici, União dos Palmares e Messias, o que contribuiu para o pequeno aumento (9%) no geral verificado para os municípios da Região da ESEC. Esse valor é extremamamente baixo se considerados os aumentos, no período, para os IDH-E de Alagoas (199%) e do Brasil (141%) (Tabela 20).

Mesmo com os avanços, os municípios analisados ainda apresentam IDH bem menor que o índice calculado para todo o Brasil em 2010 (0,73), demonstrando que a Região da ESEC Murici engloba municípios dentre os menos desenvolvidos do país (Tabela 20).

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Tabela 20. Indicadores de desenvolvimento humano dos municípios da Região da ESEC Murici, em 2000 e 2010. IDH-R: Índice de Desenvolvimento Humano – Renda; IDH – L: Índice de Desenvolvimento Humano – Longevidade; IDH-E: Índice de Desenvolvimento Humano – Educação.

IDH IDH-R IDH-L IDH-E

% de % de % de % de 1991 2010 1991 2010 1991 2010 1991 2010 aumento aumento aumento aumento Murici 0,46 0,53 14,32 0,45 0,54 19,91 0,53 0,69 29,49 0,40 0,40 - 1,99 União dos Palmares 0,51 0,59 17,19 0,49 0,59 20,41 0,56 0,76 36,92 0,47 0,46 - 1,91 Joaquim Gomes 0,43 0,53 22,92 0,43 0,51 19,48 0,55 0,76 39,42 0,32 0,39 20,25 Branquinha 0,39 0,51 30,87 0,39 0,53 35,53 0,52 0,70 35,20 0,27 0,36 36,09 Flexeiras 0,44 0,53 19,77 0,43 0,53 22,22 0,49 0,69 41,43 0,40 0,40 0,50 Messias 0,50 0,57 14,06 0,50 0,56 11,40 0,50 0,71 42,80 0,50 0,46 - 7,07 São Luis do Quitunde 0,48 0,54 12,37 0,46 0,55 18,53 0,62 0,70 12,70 0,35 0,40 15,94 Alagoas 0,37 0,63 70,54 0,53 0,64 21,63 0,55 0,78 40,40 0,17 0,52 198,85 Brasil 0,49 0,73 47,46 0,65 0,74 14,22 0,66 0,82 23,26 0,28 0,67 141,22 Média de aumento para os 7 municípios da Região da - - 18,78 - - 21,07 - - 33,99 - - 8,83 ESEC Fonte: PNUD – Atlas de Desenvolvimento Humano (http://www.pnud.org.br ). Acesso em 06/12/2013.

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6.2. Breve caracterização socioeconômica do Complexo Florestal Murici – CFM, no entorno imediato da ESEC Murici

Inserido em alguns dos municípios mais pobres de Alagoas, Estado que por sua vez possui o segundo menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil (IBGE, 2010), o CFM, que se sobrepõe à Área de Proteção Ambiental (APA) de Murici (Figura 1), possui uma área de aproximadamente 35.528,45 ha que influencia diretamente a UC. Nesta área, pode ser observada uma população de cerca de 2.000 pessoas, alocada em dois assentamentos de reforma agrária do INCRA, uma Estação Agronômica da Universidade Federal de Alagoas – UFAL, e 27 fazendas de gado e cana-de-açúcar (SNE, 2004). Enquanto que as fazendas se caracterizam por um modelo de produção baseado na agricultura de cana-de-açúcar e na pecuária, assim como pela ocupação de grandes extensões de terras, os assentamentos consistem em pequenas propriedades de produção familiar, em geral localizadas próximas a remanescentes florestais (SNE, 2004).

6.2.1. Faixa etária

Considerou-se a população dos assentamentos do CFM como uma população em crescimento, devido ao alto número de pessoas jovens e produtivamente ativas. Nos assentamentos, o percentual de pessoas na faixa dos seis a trinta e cinco anos chegou a 68%.

6.2.2. Sexo e Escolaridade

A observação deste contingente, segundo o gênero, demonstra certo equilíbrio, sendo aquela distinção acerca da concentração demográfica o elemento inicial que distingue as populações de terras de assentamentos daquela existente nas fazendas. Também contrariamente às comunidades dos assentamentos, nas fazendas habitam contingentes com uma relação de não-propriedade da terra e, portanto, sujeita a diferentes condições de sazonalidade, inclusive entre as várias fazendas do entorno do CFM (SNE 2004).

Nos assentamentos, do total de 685 pessoas, 54% da população pertence ao sexo masculino e 46% ao feminino. Nas fazendas e Estação UFAL, o número chega bem próximo, porém pouco maior de indivíduos do sexo masculino (SNE 2004).

Quanto à educação formal, estas populações de modo geral necessitam de mínimas condições de alfabetização, principalmente na população adulta; o que concorre na direção de confirmar os índices mais gerais sobre o problema educacional de Alagoas, líder nacional na matéria (SNE 2004).

A condição escolar da população é, no geral, aquela do analfabetismo puro ou “mascarado” sob a rubrica do primeiro grau incompleto; em todo caso se tratando de um analfabetismo funcional altamente disseminado por entre a população juvenil e adulta. Nos assentamentos, apenas 2% possuem um curso técnico completo; e

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igualmente 2% têm o segundo grau concluído. Mesmo o primeiro grau menor completo só é tributário de 7% do universo dos assentados. O primeiro grau menor incompleto é a situação escolar de 36% dos moradores. Os declarados analfabetos somam 15%, enquanto 22% não têm idade escolar. Os números não são mais animadores para o universo das fazendas, com 13% de analfabetos declarados, e 36% daqueles que se colocam na condição de terem o primeiro grau menor incompleto (analfabetismo funcional). O primeiro grau menor completo, ou o primeiro grau maior incompleto, ocupam cada um 8% do total da população. O segundo grau foi concluído por 4% dos habitantes, e a formação técnica não passa de 2%, que é o mesmo índice para aqueles com curso superior completo. Contudo, há que se considerar que muitos, dentre os residentes na área do CFM, são jovens frequentando a escola e, portanto, com chances de alterarem a situação presente com o decorrer do tempo; no entanto, os dados atuais demonstram o quanto a população em questão pode avançar na melhoria de seus índices educacionais (SNE 2004).

O ensino ofertado nas unidades da área investigada é somente o do primeiro grau menor. Qualquer tentativa de dar continuidade à vida escolar demanda deslocamento até o núcleo urbano de uma das cidades circunvizinhas (SNE 2004).

Para as populações assentadas, 40% dos domicílios registram o acesso à escola no próprio local de residência ou adjacências. De fato, verificou-se a existência de uma escola primária no assentamento Pacas, mantida pela Prefeitura de Murici, mas no assentamento Duas Barras, os que desejam estudar têm que se deslocar até a Fazenda Serra Nova, que fica a uma hora do local, a pé. Por outro lado, há uma escola de alfabetização de adultos neste assentamento, improvisada numa das casas do arruado. O acesso à escola nas fazendas se dá, em 38% dos domicílios, no próprio local, particularmente no caso das propriedades de maior porte. Quando somados esses dois universos (fazendas e assentamentos) do CFM, há a prevalência do estudo no próprio local onde se reside, majoritariamente crianças freqüentando o primeiro grau menor (SNE 2004).

6.2.3. Modo de vida

As condições infra-estruturais das localidades e de suas habitações têm índices elevados de precariedade. Por sua vez, o trabalho humano nesse meio rural reproduz um modelo sabidamente generalizado de baixa remuneração, e de frágil profissionalização e legalização trabalhistas (SNE 2004).

Os assentamentos possuem melhores condições de infraestrutura habitacional, com 84% das pessoas morando em casas proprias e feitas com tijolo. Nas fazendas e na Estação da UFAL, a maioria das habitações é cedida e 22% feitas de taipa. O abastecimento de água depende de cacimbas em 99% dos domicílios nos assentamentos. Nas fazendas e na Estação UFAL, 64% utilizam rios, poços e outros como fonte de água (SNE 2004).

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6.2.4. Uso da terra e a renda familiar

As principais atividades econômicas desenvolvidas no CFM estão associadas com ao uso que os moradores fazem da terra. A produção agrícola baseada na cana-de- açúcar está presente tanto nos assentamentos como nas fazendas. O cultivo de frutos diversos, como banana, laranja, abacaxi e acerola, caracteriza a fonte principal de renda dos moradores dos assentamentos. A cultura do gado, realizada especialmente nas fazendas, tem crescido continuamente no entorno da reseva (SNE 2004).

Considerando que o chefe de família é o responsável pela principal fonte de renda nos domicílios dos assentamentos e das fazendas, a maioria, 35%, é autônoma, enquanto que 21% têm um emprego sem carteira assinada.

6.2.5. Tempo de residência e expectativa de mudanca para outro local

Em relação ao local de moradia anterior da população, de acordo com dados recenseados, 22% da população residente nos dois assentamentos vêm da própria cidade de Murici. Outros 57% vêm de cidades próximas, como União dos Palmares, Maceió e São José da Laje e, em menor escala, dos municípios de Branquinha, Flexeiras, , Porto Calvo e . Só 1% da população dos assentamentos procede de outros estados da federação (SNE, 2004).

Nas fazendas, 19% da população residiam em Murici, e 24% do mesmo contingente de outros municípios circunvizinhos (Joaquim Gomes, Flexeiras, Maceió, União dos Palmares, Messias, São Luís do Quitunde e Rio Largo). Em menor escala, a população vem ainda dos municípios de São Miguel dos Campos, , Branquinha, e Viçosa (SNE 2004). Ainda segundo conclusões do trabalho, a busca por melhores condições de trabalho é a causa dessas mudanças.

A posse de terra pelos agricultores e a ocupação recente do entorno explica a permanencia maior dos assentados na região onde vivem. Para os moradores de fazendas, que dependem da disponibilidade de trabalho, o tempo de permanência é variável. Nesse ponto, é possível fazer uma associação ao tipo de habitação da população do CFM.

A maioria classifica a área como regular para se viver e deseja permanecer no local. O percentual desse grupo representa 33% do total de 369 questionários. A quantidade de pessoas que desejam sair das fazendas é maior do que aquelas que residem nos assentamentos (SNE 2004).

6.3. Uso e ocupação da terra e problemas ambientais decorrentes

A colonização do território alagoano, assim como dos Estados adjacentes, teve como principal atividade econômica propulsora a agricultura canavieira,

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complementada pela pecuária extensiva e, em menor proporção, pela produção de alimentos. O estabelecimento dessas atividades se deu em detrimento de áreas sob domínio da Floresta Atlântica, as quais foram amplamente devastadas na região (SNE, 1999). Segundo Andrade (1988), Os tabuleiros terciários, em grande parte ocupados por densas florestas, foram preservados da destruição até meados do século XIX, por serem considerados imprestáveis para a agricultura canavieira, devido à necessidade de mecanização da produção. Com o advento do Proálcool neste período, entretanto, os proprietários de terras desta região ganharam subsídios para derrubar florestas e plantar cana, de forma que a produção pôde se expandir sobre essas áreas, restringindo as áreas florestais aos trechos declivosos e de difícil mecanização.

Atualmente, a Mata Atlântica, antes dizimada para introdução de culturas de cana-de-açúcar, sofre um novo impacto com a derrubada das matas de encostas para implantação de áreas de pasto, as quais não são limitadas pela declividade. A prática contínua de desmatamento para a realização dessas atividades na Região da ESEC Murici tende a provocar a perda dos fragmentos remanescentes de Mata Atlântica que são circunvizinhos à UC, e não menos importantes para conservação da área.

Na região, o controle das áreas produtivas, tanto dominadas pela produção de açúcar e álcool, quanto pela criação de gado de leite e de corte, é realizado por grupos econômicos de Alagoas e do Estado vizinho, Pernambuco (SNE, 1999). Pode-se distinguir dois tipos principais de ocupações humanas: os moradores de fazendas e os assentados do programa federal do INCRA. Apesar da proximidade geográfica, esses dois universos demonstraram profundas diferenças socioeconômicas em censo demográfico realizado pela SNE (2004). Dentre as diferenças apontadas, destaca-se a questão da posse da terra, característica dos assentados, mas não dos moradores de fazendas, os quais possuem menor estabilidade e acesso a serviços. Desta forma, os assentados rurais, apesar de instalados recentemente na região, demonstram uma maior possibilidade de se fixar neste local, devido à condição de proprietário da terra.

Quanto à produção agrícola na região, enquanto que as fazendas se caracterizam por um modelo de produção baseado na agricultura de cana-de-açúcar e pecuária, assim como pela ocupação de grandes extensões de terras; os assentamentos consistem em pequenas propriedades de produção familiar (SNE, 2004). Nestas pequenas propriedades familiares, a produção agrícola também inclui o cultivo da cana-de-açúcar, mas em baixa proporção. O que se observa predominantemente é uma atividade agrícola diversificada, baseada em múltiplas espécies frutíferas, como a laranja, a banana, a acerola e o abacaxi que, juntamente com a mandioca, representam as “culturas principais” (comerciais). Outros gêneros agrícolas, como o inhame a batata-doce e o feijão, são classificados como “culturas secundárias” (consumo próprio) ou ainda “culturas ocasionais”, como o milho, que obedecem a critérios mais exigentes de época e condições do mercado.

Além do cultivo de gêneros alimentares, as áreas de pasto têm se ampliado no entorno da ESEC Murici (Figura 29), principalmente após a falência das usinas São

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Simeão e Bititinga, cujas áreas abandonadas foram adaptadas para a pecuária (SNE, 2004). Hoje, as áreas de pasto representam a principal forma de uso do solo na região, seguido pelo cultivo de cana-de-açúcar (Figura 29). Estas atividades ocorrem inclusive no interior da ESEC Murici, apesar de não permitido (SNUC, 2000), representando uma ameaça à biodiversidade local.

Independentemente das diferenças apontadas acima entre a forma de uso e ocupação do solo nos assentamentos e nas fazendas, ambos geram impactos sobre a ESEC Murici. No caso do assentamento Ernesto Che Guevara, particularmente, o fragmento florestal que representa a sua área de reserva legal está conectado a um dos remanescentes da ESEC, de forma que a população, com pouca instrução e baixa renda, exerce fortes pressões diretas sobre a Unidade (SNE, 2004; SAVE, 2006; AMANE, 2011). Somado às pressões por parte dos assentamentos rurais, as fazendas, além de manter matrizes inóspitas, como áreas de pasto, que representam a principal forma de uso do solo na região (Figura 29); abrigam uma população de trabalhadores que também têm a prática de utilizar recursos florestais diretamente (SNE, 2004), ameaçando a integridade da ESEC Murici.

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Figura 29. Uso e ocupação do solo da ESEC Murici e seu entorno.

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Além dos aspectos acima identificados, a duplicação da BR-101 no trecho onde essa via margeia a ESEC Murici, prevista para acontecer em um prazo próximo, deve acarretar a ocupação de parte do território da ESEC Murici (Figura 30) e gerar outras ameaças decorrente da proximidade da estrada em relação às áreas florestais da Unidade. Na área de maior risco, onde a BR-101 margeia um dos fragmentos florestais da ESEC, no município de Flexeiras (Figura 30), um acampamento do Movimento Sem Terra ocupa a área onde a BR-101 deve ser duplicada, e seus moradores esperam ser indenizadas ou realocadas para outro local.

Figura 30. Proposta de duplicação da BR-101 na Região da ESEC Murici, demonstrando em destaque, em amarelo, a área que será impactada pela obra.

6.4. Visão das comunidades sobre a Unidade de Conservação

Unidades de Conservação de proteção integral, como a ESEC Murici, representam no Brasil a principal estratégia para conservação de biodiversidade, mas apresentam sérias dificuldades para serem implementadas, diante da pressão exercida por populações locais (Rao & Geisler, 1990). Neste contexto, enquanto alguns afirmam que pressões humanas comprometem a integridade de áreas protegidas, de tal forma que comunidades representam um empecilho à conservação de biodiversidade (Terborgh, 2004), outros consideram necessário integrar comunidades locais no processo de gestão das UCs (Brosius, 2004).

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Esse processo de integração tem sido fortemente trabalhado pela equipe gestora do ICMBio e pela AMANE, através de instrumentos como o Conselho Consultivo da Unidade, que conta com representantes de comunidades locais; e este Plano de Manejo, cuja elaboração tem buscado a participação comunitária.

A relação das comunidades com o meio ambiente na Unidade de Conservação esteve presente no Censo Demográfico do CFM, elaborado em 2004, pela SNE, que buscou obter informações sobre qual a visão dos assentados e moradores de fazendas a respeito das matas. Os principais objetivos da ida a mata estavam ligados ao uso da lenha na energia primitiva nos domicílios, especialmente em Duas Barras e em Pacas. Ficou clara a incerteza das comunidades quando se trata do tema preservação da mata. O assunto estava geralmente associado ao órgão fiscalizador IBAMA, e não bem definido quando se tratava do papel individual na preservação do local.

Na avaliação socioeconômica realizada recentemente nos assentamentos rurais, visando avaliar a efetividade do trabalho da AMANE na região (AMANE, 2011), os assentados, incluindo aqueles envolvidos em projetos socioambientais, afirmaram que visitam frequentemente a mata da região com diversas finalidades, algumas das quais representam ameaças à biodiversidade. Respondendo a questões do tipo: Pra que serve a mata de Murici? E quem cuida da mata de Murici?; a maioria dos entrevistados percebeu as florestas da região de forma utilitarista, como uma fonte de recursos (Figuras 31 e 32). Quanto ao cuidado com a mata, a maioria não se incluiu nesse processo, atribuindo isto em geral ao IBAMA, e em alguns casos à AMANE (Figura 32). Nesses dois aspectos analisados em 2011 são mantidas, sete anos depois, a mesma visão já diagnosticada no Censo Demográfico de 2004 acima mencionado.

Figura 31. Idéias Centrais extraídas das respostas dos entrevistados dos assentamentos Dom Hélder e Pacas à pergunta “ Pra que serve a mata de Murici?”.

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Figura 32. Idéias Centrais extraídas das respostas dos entrevistados dos assentamentos Dom Hélder e Pacas à pergunta “Quem você acha que cuida da Mata de Murici?” considerando um total de 58 expressões-chave.

6.5. Alternativas de desenvolvimento econômico sustentável

Diante do maior adensamento populacional nos assentamentos rurais da região, ocupados por famílias com renda predominantemente menor que um salário mínimo (Figura 33), que exercem fortes pressões sobre áreas florestais; estes foram definidos como áreas focais dos projetos socioambientais da região. Diversos projetos foram desenvolvidos pela AMANE e parceiros nos assentamentos Ernesto Che Guevara (“Pacas”) e Dom Hélder, visando promover, além de atividades de sensibilização, alternativas de renda para a população. Neste sentido, a AMANE apoiou, e continua a apoiar, capacitações em diversas temáticas solicitadas pelas comunidades dos dois assentamentos, como por exemplo, cursos de agroecologia, artesanato, beneficiamento da produção agrícola e produção de mudas florestais. Com isto, espera-se reduzir a dependência de recursos florestais por parte da população, e assim favorecer a conservação e a repartição de benefícios da biodiversidade na região.

Dentre as estratégias para gerar incentivos econômicos para as comunidades dos assentamentos, destaca-se o apoio à criação da Cooperativa de Produtores da Agricultora Familiar Camponesa do Complexo Florestal de Murici – COOPF Murici. A COOPF Murici vem sendo estruturada desde 2009 e coordena uma feira de produtos advindos da agricultura familiar da região. A AMANE apóia a instituição desde a sua criação, por meio da mobilização, disponibilização de espaço para reuniões, capacitações diversas (e.g. plano de negócio, agroecologia, beneficiamento da produção, associativismo, etc.) e comercialização dos produtos, através da criação e organização da Feira Agrícola Camponesa do CFM.

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A criação da COOPF Murici despertou a percepção dos agricultores locais para a necessidade de se organizarem e trabalharem em grupo, de tal forma que hoje já são observadas outras duas cooperativas de agricultores na região, as quais têm estabelecido uma série de contratos com instituições locais, visando o fornecimento constante de alimentos. Aparentemente, os agricultores cooperados, envolvidos com os trabalhos de sensibilização e capacitação da AMANE, apresentam em sua maioria renda superior (Figura 33), menor dependência de fontes externas de alimentos (Figura 34), têm melhorias de produção mais perceptíveis (Figura 35), e utilizam técnicas agrícolas mais sustentáveis (Figura 36), em comparação a outros agricultores (AMANE, 2011).

Figura 33. Comparação da renda familiar entre cooperados da COOPF – Murici e não- cooperados. Percebe-se uma maior frequência de famílias não-cooperadas com menos de um salário mínimo.

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Figura 34. Principais fontes de alimentos de cooperados e não-cooperados da COOPF- Murici. Pode-se observar uma maior auto-suficiência alimentar dos cooperados, que em geral apresentam como principal fonte de renda a agricultura (AMANE, 2011).

Figura 35. Percepção de melhoria de produção nos últimos 5 anos (tempo de atuação da AMANE no período) por cooperados e não-cooperados da COOPF Murici (AMANE, 2011).

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Figura 36. Técnicas de produção de cooperados e não-cooperados da COOPF-Murici (AMANE, 2011).

Além das ações voltadas para os assentados, são promovidas, pela AMANE, atividades de capacitação e são oferecidas atividades educativas permanentes no Centro de Educação para Conservação do CFM, espaço físico administrado pela AMANE no município de Murici. Alunos e professores de escolas públicas, agricultores e instituições locais representam os principais grupos alvo destas ações de sensibilização.

Mesmo com todo esse esforço para a promoção do desenvolvimento sustentável do CFM, e alguns avanços perceptíveis; as condições de vida nas comunidades residentes no entorno da ESEC Murici ainda são precárias (SNE, 2004; AMANE, 2011). A população rural possui, em sua maioria, renda em torno de um salário mínimo (Figura 33), e ainda reivindica apoio à qualificação técnica, como por exemplo para a produção de polpas de frutas, devido à demanda local e disponibilidade de recurso (i.e. frutas) para esta atividade.

Diante da perpetuação dos problemas sociais e ambientais locais, o trabalho de educação, sensibilização e capacitação vem sendo cada vez mais ampliado, visando o desenvolvimento sustentável do CFM. Recentemente, foi estabelecida uma parceria entre a AMANE e a Fundação Carlos Chagas, no projeto “Livro para Todos”. Neste projeto, será organizada uma biblioteca no CEC Murici, e rodas de leitura serão realizadas, visando a formação do sendo crítico da população local, com o despertar para a leitura.

Além dos trabalhos educativos, serão realizadas novas capacitações no projeto “Capacitando Lideranças para a Conservação da Mata Atlântica do Nordeste”, em início de implementação pela AMANE, com o apoio financeiro do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO). Neste projeto, as organizações locais (e.g. escolas, prefeituras, ONGs, associações), que trabalham com atividades de conservação e uso

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sustentável de biodiversidade, serão capacitadas para a elaboração dos seus próprios projetos. Esta é uma ótima oportunidade para a promoção do desenvolvimento sustentável do CFM, visto que deve promover o fortalecimento e a autonomia de organizações locais, que devem atuar de forma mais contundente na conservação da região.

Na Região da ESEC Murici, inúmeras Reservas Particulares do Patrimônio Natural contribuem para a conservação da região (Figura 1), representando também uma excelente oportunidade para o desenvolvimento econômico sustentável do Complexo Florestal de Murici. Isto porque, além de contribuir para a ampliação da área protegida no entorno da ESEC, os gestores destas unidades realizam uma série de atividades visando a sua sustentabilidade econômica, que podem suportar outras cadeias produtivas locais. Por exemplo, na RPPN Boa Sorte, quase contígua à ESEC Murici (Figura 1), são realizadas atividades de turismo de aventura, como a prática de rapel; além da observação de aves, que também ocorre em outras Reservas, como na RPPN Vila D’água e na RPPN Oswaldo Timóteo (Figura 1), que também realizam atividades de educação ambiental. Na RPPN Boa Sorte, uma pousada está em processo de construção, e uma outra é planejada na RPPN Vila D’água. A parceria entre essas RPPNs, visando a elaboração e divulgação de um roteiro turístico envolvendo todas as unidades, com diferentes atrativos turísticos, deve agregar valor ao mercado turístico da região, de maneira a promover a conservação e repartição dos benefícios da biodiversidade local.

Com a expansão destas atividades, a demanda de mão-de-obra também deve aumentar. O serviço de guias turísticos, por exemplo, deve ser mais procurado, representando uma oportunidade para a aqueles que conhece bem a região. Além disso, uma série de outras cadeias produtivas devem ser fortalecidas com estas atividades turísticas, tanto no processo de planejamento e instalação, como durante a implementação. Os agricultores residentes em assentamentos rurais adjacentes à ESEC Murici, por exemplo, podem ser beneficiados com a venda de alimentos orgânicos, assim como seus derivados, para os turistas locais que, para acessar atrativos turísticos no entorno da ESEC, passam pelo local.

A atitude dos proprietários de terras quanto à criação de RPPNs no entorno da ESEC se demonstra promissora. Há uma crescente tendência de criação destas unidades no Estado de Alagoas, onde já foram criadas 23 UCs desta categoria, algumas das quais no CFM (Figura 1). Além destas, outras RPPNs no CFM encontram-se em processo de formalização. Estas unidades devem somar esforços, junto à ESEC Murici, para a conservação do CFM. Tendo em vista que algumas delas estão em processo de elaboração do seu plano de manejo (e.g. RPPN Vila D’água; Figura 1), é necessária uma maior integração da gestão da ESEC Murici, assim como da APA de Murici, com as RPPNs, de forma a construir um efetivo mosaico de áreas protegidas.

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7. CARACTERIZAÇÃO DOS FATORES ABIÓTICOS E BIÓTICOS DA ESEC MURICI

7.1. Clima

O domínio climático da área onde está inserida a ESEC Murici corresponde ao Tropical Quente Semi-úmido com quatro a cinco meses secos (IBGE, 1985). As temperaturas na região são elevadas e não apresentam grandes variações entre locais e estações, se mantendo entre 23 e 26 ºC (Figura 37). A estação seca ocorre no verão, e a ocorrência de precipitações se concentra entre maio e julho (Bertani, 2006) (Figura 38), podendo atingir anualmente a máxima de 1800 mm, declinando até a mínima de 800 mm, à medida que a exposição aos ventos alísios de sudeste se torna menor (MMA, 2003).

Na área específica da ESEC Murici, não existem estações meteorológicas. Entretanto, apesar da especificidade climática de cada local, resultado de peculiaridades como relevo, altitude e tipo de cobertura vegetal, o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) disponibiliza informações climatológicas registradas na estação meteorológica de Maceió, que podem ser consideradas como padrão geral para área. A variação anual de evaporação e umidade segue o esperado diante do padrão anual da temperatura: no inverno, com temperaturas mais amenas (Figura 37) e maior precipitação (Figura 38), a umidade tende a ser maior (Figura 40), e a evaporação menor (Figura 39).

Figura 37. Temperatura média de Maceió, Alagoas, registrada entre 1961 e 1990. Fonte: INMET.

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Figura 38. Precipitação média de Maceió, Alagoas, registrada entre 1961 e 1990. Fonte: INMET.

Figura 39. Evaporação média de Maceió, Alagoas, registrada entre 1961 e 1990. Fonte: INMET.

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Figura 40. Umidade média de Maceió, Alagoas, registrada entre 1961 e 1990. Fonte: INMET.

7.2. Geologia

A sequencia estratigráfica geral do Estado de Alagoas é apresentada, da base para o topo, pelas unidades do pré-cambriano, pelos sedimentos paleozóicos da Bacia do Jatobá e paleo-mesozóicos da Bacia Sergipe e Alagoas, cobertos pelos sedimentos arenosos e argilosos do Grupo Barreiras de idade Terciária e, por fim, pelos sedimentos de praia e aluviões pertencentes ao Quaternário. O arcabouço geológico do pré- cambriano da Província da Borborema, região em que está inserida a ESEC Murici (Figura 41), abrange faixas supracrustais de idade proterozóica e domínios gnáissico- migmatíticos paleoproterozóicos ou arqueanos, os quais são cortados por granitóides e por intensa deformação neoproterozóica (Castro et al. , 1998).

Segundo Lima et al. (1977), as estruturas geológicas alagoanas compreendem quatro faixas: a Costeira, com largura de 20 a 40 km, se encontra representada na superfície por tabuleiros terciários do Plioplesistoceno, sobrepostos a sedimentos de idade cretácea formadores da Bacia Sedimentar Alagoana. Mais ao interior encontra-se outra faixa, representada por rochas cristalinas granito-gnaissicas onde, segundo o Instituto de Meio Ambiente – IMA (1995), desenvolveu-se densa vegetação sobre solos profundos, resultantes da decomposição mais intensa, devido à elevada umidade, de rochas graníticas. A terceira faixa está localizada na área meio-centro-meridional, assim como na parte ocidental de Alagoas. Nesta região, estão presentes rochas metamórficas do tipo “Homfel”, com lentes de rochas calcárias e intrusões de rochas ferruginosas, assim como restos de rochas sedimentares do Mesozóico, pertencentes a um antigo fundo de mar. Nas demais regiões abrangidas pelo território alagoano,

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predominam os granitos e os gnaisses pré-cambrianos fraturados, falhados, retorcidos, metamorfoseados por movimentos tectônico e intrusões magmáticas.

No caso específico da área delimitada pela ESEC Murici, toda ela é formada por rochas do embasamento datadas do Pré-Cambriano Inferior (Tabela 21) e com grande ocorrência de afloramentos rochosos, sob a forma de grandes matacões (Assis, 1998).

Tabela 21. Domínios geológicos presentes na ESEC Murici.

Domínio Geológico Unidade Geológica Área (ha) % UC

Domínio 1 Complexo Gnáissico Granítico 3.354,46 54,85%

Domínio 2 Complexo Magmatítico 2.761,69 45,15%

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Figura 41. Domínios geológicos presentes na ESEC Murici.

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7.3. Relevo/Geomorfologia

O relevo alagoano apresenta um predomínio de terras baixas, com altitudes inferiores a 400 metros. Entretanto, na porção centro-norte e noroeste ocorrem áreas que alcançam mais de 600 metros (Brasil, 2005). Em alguns pontos isolados são registradas altitudes superiores a 800 metros, como a serra da Caiçara, com 839m, no município de ; Serra de Lagos, com 844m; Serra do Cavaleiro, no município de Chã Preta, com 849m; e a Serra dos Guaribas, com 882m, localizada no município de Quebrângulo.

Nos limites do território abrangido pela ESEC Murici, são observadas as seguintes formações geomorfológicas: Depressão Periférica e Mares de Morros (Lima et al. , 1977).

A Depressão Periférica , antes preenchida por sedimentos do Grupo Barreiras, está localizada entre o limite ocidental dos tabuleiros e a base da Escarpa Cristalina Oriental, e hoje se demonstra esvaziada devido ao intenso processo erosivo dos rios subsequentes menores, afluentes dos consequentes maiores que vêm do interior. Os rios com afluentes, surgidos na frente da Escarpa, retiram o material e levam para os rios principais, nos tabuleiros. A Depressão Periférica formou-se por estar na periferia de um maciço de rochas cristalinas, separando destas os sedimentares do Barreiras. As serras mais elevadas nessa depressão têm altitudes entre 230 e 350m, ocorrendo também serras menores em pequenos conjuntos ou isoladas (Lima et al. , 1977).

Os Mares de Morros são superfícies de erosão muito dissecadas, sob ação de climas tropicais úmidos. São formados por estruturas granito-gnássicas, diaclasadas em rede ortogonal, aproveitadas pelos cursos de água.

A ESEC Murici está inserida na unidade geomorfológica das Superfícies Retrabalhadas (Figura 42), que é formada por áreas que têm sofrido retrabalhamento intenso, com relevo bastante dissecado e vales profundos (MME, 2005). Embora pertencente a essa unidade geomorfológica, a declividade da maior parte do relevo da ESEC está inserida em classes inferiores a 30º (Tabela 22). Por sua vez o relevo da ESEC Murici apresenta altitudes entre 150 e 600 metros (Tabela 23; Figura 43), destacando- se as serras do Ouro, da Barcaça, das Águas Belas, do Porto Velho e da Bananeira; sendo nesta última o ponto mais alto da Estação, com 609 metros (IBGE, 2007). Tabela 22. Classes de declividade observadas na ESEC Murici e percentual em relação à área total da UC.

Classes de declividade (graus) Área (ha) % da UC 1 (0,27 - 14,23) 3255,21 53,22 2 (14,24 - 30,66) 2440,22 39,9 0 3 (30,67 - 42,98) 219,51 3,5 8 4 (42,99 - 61,32) 122,81 2,00 5 (61,33 - 69,8) 7,78 0,13

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Tabela 23. Classes altimétricas observadas na ESEC Murici e percentual em relação à área total da UC.

Classes de Elevação (metros) Área (ha) % da UC 1 (64, 5 - 184) 430 ,41 7,04 2 (184,01 - 303,53) 1163,66 19,03 3 (303,54 - 423,06) 2272,47 37,16 4 (423,07 - 602,35) 2198,85 35,95

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Figura 42 . Geomorfologia da ESEC de Murici

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Figura 43. Altimetria da ESEC Murici.

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7.4. Solos

Os solos da ESEC Murici são representados predominantemente pelo Argissolo (antes chamado de Podzólico) Vermelho-Amarelo Distrófico (Figura 44), associado com Latossolo Amarelo Distrófico e Afloramentos Rochosos (Assis, 1998). Essa classe de solos (i.e. Argissolo Vermelho-Amarelo Distrófico) inclui solos de profundidade variável, sendo em geral pouco profundos ou profundos. Juntamente com os Latossolos, são os solos mais expressivos do Brasil, sendo verificados em praticamente todas as regiões. Os Latossolos Amarelos Distróficos são solos profundos, de coloração amarelada, perfis homogêneos, com boa drenagem e, em geral, baixa fertilidade. Esses solos ocupam grandes extensões em Zonas Úmidas Costeiras (tabuleiros) e, apesar da baixa fertilidade, são utilizados no cultivo de uma grande variedade de lavouras (IBGE, 2007).

Em escala local, outros tipos específicos de solos podem ser observados na ESEC Murici. Demattê et al. (1996) identificaram, em uma área com grande variação de relevo, a presença de solos derivados predominantemente de sedimentos argilo- arenosos e areno-argilosos do grupo Barreiras, recobrindo rochas do Pré-Cambriano. Nesta ocasião, foram identificados os seguintes tipos de solo: Latossolo Amarelo muito argiloso; Podzólico Amarelo latossólico argiloso; Podzólico Amarelo com fragipã, textura média/muito argilosa; Podzólico Acinzentado com fragipã, textura média/muito argilosa e Podzol com duripã, textura arenosa/média.

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Figura 44. Pedologia da ESEC Murici.

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7.5. Hidrografia

A ESEC Murici possui em seus limites diversos riachos e nascentes (e.g. dos rios Jitituba e Bulangi) relativamente bem conservados, que fazem parte das bacias dos rios Mundaú e Camaragibe. A maior parte da Unidade é abrangida pela Bacia do rio Mundaú, o qual tem como principais afluentes na região o Riacho Água Quente e o Rio Butangi, a leste; e, a oeste, o Rio Satuba e o Riacho Boqueirão (Figura 45).

A Bacia do Rio Mundaú abrange uma área de aproximadamente 4.126 km² e está localizada nos Estados de Pernambuco e Alagoas. Neste último, ocupa uma área de 1.971 km², onde estão inseridos 15 municípios da Mesorregião do leste alagoano, dentre os quais se destacam como principais centros urbanos os municípios de Rio Largo e União dos Palmares. As principais nascentes do Rio Mundaú ocorrem nas proximidades da cidade de Garanhuns, em Pernambuco, a uma altitude de aproximadamente 930 m, e este segue por uma extensão de cerca de 200 km. O padrão de drenagem predominante é o dendrítico e com sentido preferencial norte- sul. O sistema fluvial deságua no Rio São Francisco (MME, 2005).

A região hidrográfica do Rio Camaragibe está situada nas regiões da Zona da Mata e Litoral do Estado de Alagoas, abrangendo nove municípios (Colônia Leopoldina, Flexeiras, Ibateguara, Joaquim Gomes, , Novo Lino, , São Luiz do Quitunde e União dos Palmares), alguns dos quais fazem parte da região desta Unidade de Conservação. A rede de drenagem desta Bacia abrange uma área de 932,5 km², onde estão inseridos os seguintes rios: Camaragibe, Santo Antônio, Manguape, Salgado, Tatuamunha, Jirituba e Mirinho. As nascentes do Rio Camaragibe situam-se entre 500 e 600 m de altitude, em duas serras do Estado de Alagoas: Serra da Palha e Serra Galho do Meio. A distância da nascente até a afluência ao mar é de 85 km (SEMARH, 2004).

Os mananciais hídricos no interior da Unidade, a exemplo da cachoeira do Socorró, são frequentemente utilizados por visitantes, apesar da categoria de manejo da Unidade apresentar restrições para este tipo de uso. Na área proposta como Zona de Amortecimento da UC também podem ser observadas inúmeras cachoeiras, que representam importantes atrativos turísticos da região, a exemplo das observadas na RPPN Vila D’água. Esta RPPN, junto a outras localizadas no CFM (Figura 1), representa uma importante alternativa para a atração de turistas para a região, de foma a promover o desenvolvimento social local, associado à conservação da biodiversidade.

No período de maior concentração de chuvas (maio – agosto) é comum a ocorrência de cheias na região. No ano de 2010, por exemplo, alguns dos municípios da região da ESEC Murici foram completamente destruídos, com graves consequências socioeconômicas. Segundo o CEPAN (2011), os picos de vazão e eventos de cheia na região podem ser explicados pela reduzida cobertura florestal em áreas ciliares. Isto porque, além de abrigar biodiversidade e prover serviços ambientais diversos, os solos úmidos e a vegetação nativa nas zonas de influência de corpos hídricos ( i.e. matas ciliares) são ecossistemas de suma importância na redução da erosão superficial e consequentemente do assoreamento de rios, de maneira que condicionam a qualidade

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da água e têm reconhecida importância na atenuação de cheias e vazantes (SBPC, 2011).

Além da ausência de matas ciliares, outras ameaças aos recursos hídricos podem ser observadas na região da ESEC Murici. Devido a falhas e limitações do sistema de saneamento local, grande parte dos efluentes domésticos, bem como de algumas usinas, são destinados a corpos hídricos locais. Além disso, é comum a utilização desses mananciais para atividades domésticas, em especial em acampamentos e assentamentos de reforma agrária (SNE, 2004). A maior parte dessas ameaças ocorre no entorno imediato da ESEC Murici, na área proposta como sua Zona de Amortecimento.

Análises de águas tratadas realizadas pela Companhia de Saneamento de Alagoas (CASAL), em 1998, indicaram valores indesejados de coliformes fecais, cor e turbidez no município de Murici (SEMARH/SRHE, 2010). Além desses fatores, a salinidade, o ferro, a amônia e os nitritos e nitratos apresentaram valores distantes do recomendado para abastecimento humano nos mananciais alagoanos que fazem parte da Bacia do Rio Mundaú. Os valores elevados de amônia e nitrato indicam uma alta decomposição de matéria orgânica, que denota poluição desses mananciais (SEMARH/SRHE, 2010).

De forma mais específica, uma análise de água no Assentamento Ernesto Che Guevara, adjacente à ESEC Murici, realizada recentemente pela Secretaria de Estado da Saúde – SESAU/AL, após solicitação da AMANE, e indicou altos índices de coliformes fecais em cacimbas, bem como na rede de distribuição do assentamento. Tendo em vista que a falta de higiene não é uma peculiaridade deste assentamento, é de se esperar que este também seja o padrão hidrológico de outras áreas rurais da região de Murici.

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Figura 45. Hidrografia da ESEC Murici.

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7.6. Espeleologia

Na área abrangida pela ESEC Murici, observa-se apenas a presença de uma cavidade, a Pedra da Moça, a qual é de difícil acesso e ainda não foi devidamente caracterizada. No entorno da UC, no município de Murici, entretanto, existem três cavernas, as quais são denominadas: Buraco do Cão, com 135 metros de extensão e 15 metros de desnível; Buraco do Neguinho, com 60 metros de extensão e 15 metros de desnível; e Toca da Raposa, com 150 metros de extensão e 1 metro de desnível (SBE, 2008).

7.7. Vegetação

A área florestal do CEP abrangia, originalmente em torno de 70.000 km². Após o avanço dos ciclos econômicos da cana-de-açúcar e da pecuária, restaram apenas cerca de 12% da sua cobertura original, representados por pequenos fragmentos florestais (Ribeiro et al. , 2009). Devido à barreira geográfica representada pelo Rio São Francisco, a flora desta porção da Floresta Atlântica possui fortes diferenças taxonômicas em relação às demais áreas deste bioma (Santos et al., 2007), com inúmeras espécies endêmicas (Pôrto et al. , 2006), representando uma área insubstituível para conservação.

Segundo o IBGE (2004), esta porção de Floresta Atlântica distribui-se em cinco tipos de formações vegetais: áreas de tensão ecológica, floresta estacional semidecidual, floresta ombrófila aberta, floresta ombrófila densa e formações pioneiras (Tabela 24). Estas formações, por sua vez, são classificadas, de acordo com a altitude, em Terras Baixas (< 100 m), Submontana (100 – 600 m) e Montana (> 600m).

Tabela 24. Tipos de vegetação e vegetação remanescente na Floresta Atlântica ao norte do Rio São Francisco. Fonte: CI (2004).

Área de vegetação Vegetação Tipo de Vegetação % do total original (km²) remanescente (km²)

Formações pioneiras 2.922,88 (5,1%) 614,74 21,03 Áreas de tensão ecológica 19.715,18 (34,9%) 665,89 3,37 Floresta estacional semidecidual 16.045,06 (28,4%) 803,72 5,00 Floresta ombrófila densa 6.141,02 (10,8%) 280,35 4,56 Floresta ombrófila aberta 11.576, 74 (20,52%) 832,92 7,19 Total 56.400,88 3.197,62 5,66

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Dos 6.116 hectares da ESEC Murici, aproximadamente 3.788 são compostos por remanescentes florestais. Segundo a classificação de Veloso et al. (1991), baseada em formações edáficas, altitude e estrutura florestal, a vegetação desta Unidade deveria corresponder à Floresta Ombrófila Densa Sub-Montana. Entretanto, a vegetação está situada nos limites bioclimáticos de 90 dias biologicamente secos (Vasques, 2009), o que a caracteriza como Floresta Ombrófila Aberta Sub-montana, com algumas manchas de Floresta Ombrófila Aberta Montana (Figura 46), e três estratos bem definidos: 4-6 m, 15-20 m, 25-30 m (Veloso et al. , 1991). Essa formação florestal, assim como na região da ESEC Murici, predomina como formação remanescente ao longo da Floresta Atlântica ao norte do Rio São Francisco, e se caracteriza como uma floresta de transição entre a Ombrófila Densa e a Estacional, apresentando maior variação de temperatura e mais dias secos durante o ano (Moura et al. , 2006).

Segundo Assis (1998), além da composição florística e faunística, um dos aspectos de maior relevância para a conservação desta região é o contato da Floresta Ombrófila Densa com a Floresta Estacional numa mesma unidade geológico-geomorfológica. Apesar de formações florestais estacionais não serem observadas nos limites da ESEC Murici, são evidenciadas nos limites de abrangência da Zona de Amortecimento proposta para a Unidade (Figura 4 do Planejamento da UC). Além disso, também podem ser observadas nesta Zona formações florestais do tipo Ombrófila Densa Submontana, a qual se caracteriza como uma vegetação mais alta e densa, com um grande número de lianas, epífitas e palmeiras.

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Figura 46. Vegetação da ESEC Murici.

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7.7.1. Composição Florística

Diante do estado de degradação e isolamento dos remanescentes de Floresta Atlântica localizados no CEP, com uma predominância de fragmentos menores que 100 ha (Ranta et al. , 1998), os fragmentos florestais da ESEC Murici, que chegam a cobrir uma área de 2.629 ha (fragmento Bananeiras) (Oliveira, 2007), desempenham um importante papel na manutenção de espécies vegetais com requerimentos específicos de habitat, muitas das quais já devem ter sido extirpadas em fragmentos menores. Este padrão já foi evidenciado próximo à ESEC Murici, onde fragmentos pequenos tendem a apresentar um profundo empobrecimento da comunidade de plantas, em relação ao maior fragmento da paisagem, com 3.500 ha (Santos et al. , 2008). Este empobrecimento não ocorre de forma aleatória, mas sim com o favorecimento de um pequeno subgrupo de espécies. Plantas pioneiras, com baixo valor para conservação, tendem a ser favorecidas em pequenos fragmentos, em detrimentos de espécies de plantas tardias, que dependem de vetores biológicos para dispersão, e têm requerimentos específicos de habitat (Santos et al. , 2008).

A composição florística dos remanescentes abrangidos pela ESEC Murici é bastante diversificada (Tabela 25). Entretanto, a riqueza de espécies vegetais da região ainda deve estar sendo subestimada, visto que apenas três levantamentos florísticos (Lemos & Barros, 1993; SNE, 2000; Pinheiro, 2005), realizados na ESEC Murici, compõem a lista de espécies da região (Tabela 25). Além disso, esses levantamentos ainda se demonstram pouco abrangentes (i.e. realizados em pontos específicos da ESEC Murici) e muito defasados.

No entorno imediato da ESEC Murici, nos remanescentes florestais que compõem a RPPN Vila D’água (Figura 1), foi realizado, como parte das atividades de elaboração do Plano de Manejo da Unidade, um levantamento florístico, agregando novas espécies à lista da região. O levantamento seguiu a metodologia descrita por Ratter et al. (2000, 2001). A partir deste método, exclusivamente qualitativo, foram identificadas 157 espécies, pertencentes a 58 famílias botânicas (Tabela 26). Tendo em vista a área limitada e o curto tempo de amostragem, é provável que o número de espécies vegetais esteja ainda sendo subestimado. O levantamento enfocou mais as espécies lenhosas, de forma que sobretudo os grupos de plantas arbustivas e herbáceas devem estar sendo subestimados.

Levantando em consideração todos os levantamentos florísticos supracitados, foram registradas 199 espécies de plantas na Região da ESEC Murici (Tabelas 25 e 26), excetuando as espécies exóticas invasoras (Tabela 27).

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Tabela 25. Composição Florística da ESEC Murici.

FAMÍLIA / ESPÉCIE NOME POPULAR ANACARDIACEAE Tapirira guianensis Aubl.* Cupiúba Thyrsodium spruceanum Salzm. ex Benth.* Caboatã-de-leite ANNONACEAE Anaxagorea dolichocarpa Sprague & Sandwith* Envira-de-jacu Xylopia frutescens Aubl.* Pindaíba-branca APOCYNACEAE Aspidosperma sp. Pau-falha Aspidosperma discolor A.DC. Peroba-de-rego Himathanthus phagaedenicus (Mart.) Woodson* Banana-de-papagaio ARALIACEAE Schefflera morototoni (Aubl.) Maguire et al.* Sambacuím ARECACEAE Attalea oleifera Barb. Rodr Pindoba Bactris humilis (Wallacce ) Burret. Maraial Desmoncus orthacanthos Mart. Titara Geonoma blanchetiana H. Wendl. - BIGNONIACEAE Tabebuia avellanedae Ipê-roxo Tabebuia sp. Ipê-amarelo BORAGINACEAE Cordia sellowiana Cham. Chá-de-bugre BURSERACEAE Protium heptaphyllum (Aubl.) Marchand Amescla CARICACEAE Jacaratia spinosa (Aubl.) A.DC. Jaracatiá CELASTRACEAE Maytenus ilicifolia Mart. ex Reissek Espinheira-santa CLUSIACEAE Clusia glomerata Cuatrec. Pororoca Clusia nemorosa G.Mey Orelha-de-burro Clusia nemorosa G.Mey Bulandí COMBRETACEAE Buchevania capitata Mirindiba EUPHORBIACEAE Croton sonderianus Muell. Arg. Marmeleiro Sapium glandulosum (L.) Morong* Leiteiro FABACEAE Andira inermis (W. Wright) DC. Angelim

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Apuleia leiocarpa (Vogel) J.F.Macbr. Garapa Bowdichia virgilioides Kunth.* Sucupira Caesalpinia ferrea Mart. Pau-ferro Cassia apoucouita Aubl. (1) Coração-de-negro Chamaecrista cruciformis Enterolobium contortisiliquum (Vell.) Morong Timbaúva Hymenaea martiana Hayne Jatobá Inga sp. Ingá Machaerium angustifolium Vogel Espinho-rei Parkia pendula (Willd.) Benth. Visgueiro Pithecellobium avaremotemo Mart. Barbatimão Pterocarpus violaceus Pau-sangue HYPERICACEAE Vismia guianensis (Aubl.) Choisy* Lacre LAURACEAE Ocotea bracteosa (Meisn) Mez. Louro-cítrico Ocotea glomerata (Nees) Benth.* Louro-canela LECYTHIDACEAE Cariniana legalis (Mart.) Kuntze Jequitibá Eschweilera ovata (Cambess.) Mart.* Embiríba Gustavia augusta L.* Japaranduba Lecythis lurida (Miers) S.A. Mori Sapucaiú Lecythis pisonis Cambess. Sapucaia MALPIGHIACEAE Byrsonima sericea DC.* Murici MALVACEAE Apeiba tibourbou Aubl.* Pau-de-jangada Eriotheca crenulaticalyx A. Robyns* Munguba-da-mata Luechea divaricata Mart. & Zucc. Açoita-cavalo-branco Luehea paniculata Mart. & Zucc. Açoita-cavalo-amarelo Pseudobombax sp. Munguba MELASTOMATACEAE Henriettea succosa (Aubl.) DC.* Carrasco-preto Miconia ciliata (Rich.) DC.* - Miconia dodecandra (Desr.) Cogn. - Miconia hypoleuca (Benth.) Triana Carrasco-branco Miconia minutiflora (Bonpl.) DC.* Anil Miconia prasina (Sw.) DC.* Sabiazeira MELIACEAE Cedrela sp. Cedro

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MORACEAE Brosimum guianense Huber ex Ducke* Amapá-amargo/Quiri Brosimum rubescens Huber Amapá-vermelho/Conduru Ficus pertusa L.f. Figuraueira-grande Ficus sp. Gameleira NYCTAGINACEAE Guapira opposita (Vell.) Reitz João-mole RUBIACEAE Alseis pickelii Pilg. & Schmale* Pau-candeia Posoqueria latifolia (Rudge) R. & S. Grão-de-guariba Posoqueria longiflora Aubl. Marmela Psychotria platypoda DC. - RUTACEAE Zanthoxylum rhoifolium Lam. Mamica-de-cadela SALICACEAE Casearia arborea (L.C.Rich.) Urb. Guaçatunga-arbórea SAPINDACEAE Allophylus edulis (A.St.-Hil. et al.) Radlk.* Vacunzeiro Cupania platycarpa Radlk. Caboatã Cupania racemosa (Vell.) Radlk.* Caboatã-de-capoeira Matayba guianensis Aubl. Pitombarana SAPOTACEAE Chrysophyllum cainito L. - Chrysophyllum splendens Spreng. Aguaí-pedrim Manilkara rufula (Miq.) H.J. Lam Maçaranduba-da-folha-grande Manilkara salzmannii (A.DC.) Lam. Maçaranduba-preta Pouteria glomerata (Miq.) Radlk. Abiu Pouteria grandiflora (A.DC.) Baehni Guapeba-preta Pradosia lactescens (Vell.) Radlk. Buranhém SIMAROUBACEAE Simarouba amara Aubl.* Timbuiba URTICACEAE Cecropia palmata Willd. Embaúba Cecropia pachystachya Trécul* Embaúba Pourouma guianensis Aubl. Pau-de-jacu

Fonte: Lemos & Barros, 1993; SNE, 2000. (*) – Espécies que ocorrem simultaneamente na ESEC Murici e na RPPN Vila D’Água (adjacente à ESEC). ( 1) – Espécies exóticas.

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Tabela 26. Lista de espécies de plantas nativas e exóticas observadas na RPPN Vila D’água, adjacente à ESEC Murici, em Alagoas.

ACANTHACEAE Ruellia cearensis Lindaw ANACARDIACEAE Anacardium occidentale L. Caju Tapirira guianensis Aubl.* Copiúba Thyrsodium spruceanum Benth.* Caboatã ANNONACEAE Anaxagorea dolichocarpa Sprague & Sandwith* Annona montana Macfad. Xylopia frutescens Aubl.* Embira vermelha APOCYNACEAE Himathanthus phagaedaenicus (Mart.) Woodson* Banana-de-papagaio Mandevilla scabra (Hoffmanns. ex Roem. & Schult.) K. Schum. Rauwolfia grandifolia Mart.ex A.DC. ARACEAE Anthurium pentaphyllum (Aubl.) G. Don Anthurium scandens (Aubl.) Engl. Caladium bicolor (Aiton) Vent. Monstera adansonii Schott Philodendron acutatum Schott Philodendron pedatum (Hook.) Kunth Syngonium podophyllum Schott ARALIACEAE Schefflera morototoni (Aubl.) Maguire, Steyerm. & Frodin* Sambaqui ARECACEAE Elaeis guineensis L. (1) Dendê Syagrus oleracea (Mart.) Becc. ARISTOLOCHIACEAE Aristolochia brasiliensis Mart. & Zucc. Papo-de-peru ASTERACEAE Acanthospermum australe (Loefl.) Kuntze Ageratum conizoides L. Bidens pilosa L. Conyza sumatrensis (Retz.) E. Walker Lourteigia ballotifolia (Kunth) R.M.King & H.Rob. BIGNONIACEAE Adenocalymma sp. Tabebuia impetiginosa (Mart. ex DC.) Standl. Ipê-roxo BORAGINACEAE

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Cordia multispicata Cham. Cordia nodosa Lam. Cordia superba Cham. Heliotropium elongatum (Lehm.) I. M. Johnst. Heliotropium indicum L. BROMELIACEAE Hohenbergia ridleyi (Baker) Mez Portea sp. BURSERACEAE Protium aracouchini Marchand CLUSIACEAE Vismia guianensis (Aubl.) Pers.* COMMELINACEAE Commelina benghalensis L. Commelina obliqua Vahl CONNARACEAE Connarus blanchetii Planch. CONVOLVULACEAE Ipomoea sp. COSTACEAE Costus spiralis (Jacq.) Roscoe CUCURBITACEAE Gurania acuminata (Miq.) Cogn. CYCLANTHACEAE Asplundia gardneri (Hook.) Harl. CYPERACEAE Becquerelia cymosa Brongn. Cyperus cuspidatus Kunth Cyperus diffusus Vahl Cyperus distans L. f. Cyperus ligularis L. Cyperus rotundus L. Cyperus papyrus L. Eleocharis interstincta (Vahl) Roem. & Schult. Fuirena umbellata Rottb. Kyllinga odorata Vahl Rhynchospora cephalotes (L.) Vahl DILLENIACEAE Doliocarpus dentatus Mart. Cipó-fogo DIOSCOREACEAE

125 Plano de Manejo da Estação Ecológica de Murici Diagnóstico da UC

Dioscorea marginata Griseb. ERYTHROXYLACEAE Erythroxylum mucronatum Benth. EUPHORBIACEAE Chaetocarpus myrsinites Baill. Cnidoscolus loeffgrenii (Pax & K.Hoffm.) Pax & K. Hoffm. Croton floribundus Spreng. Capixingui Margaritaria nobilis l.f. Pera glabrata (Schott) Poepp. ex Baill. Pogonophora schomburgkiana Miers ex Benth. Sapium glandulosum (L.) Morong* FLACOURTIACEAE Casearia javitensis H.B.K. Casearia sylvestris Sw. HELICONIACEAE Heliconia episcopalis Vell. Heliconia psittacorum L.f. LAURACEAE Ocotea glomerata (Nees) Mez* LECYTHIDACEAE Eschweilera ovata (Cambess.) Mart.* Imbiriba Gustavia augusta L.* Sapucaia LEGUMINOSAE-CAES Chamaecrista diphylla (L.) Greene Chamaecrista ensiformis (Vell.) H.S. Irwin & Barneby Dialium guianense (Aubl.) Sandwith Angelim Phanera outimouta Aubl. LEGUMINOSAE-CAES Phanera trichosepala L. P. Queiroz Senna georgica H.S. Irwin & Barneby Senna macranthera (DC. ex Collad.) H.S. Irwin & Barneby Senna quinquangulata (Rich.) H.S. Irwin & Barneby LEGUMINOSAE-MIM. Albizia pedicellaris (DC.) Kleinhoonte Jaguarana Inga blanchetiana Benth. Inga capitata Desv. Inga flagelliformis (Vell.) Mart. Inga thibaudiana DC. Mimosa caesalpiniifolia Benth. (1) Sabiá Stryphnodendron pulcherrimum (Willd.) Hochr.

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LEGUMINOSAE-PAP. Andira nitida Mart. ex Benth. Angelim Bowdichia virgilioides Kunth* Centrosema brasilianum (L.) Benth. Crotalaria holosericea Ness & C. Mart. Machaerium hirtum (Vell.) Stellfeld Espinheira Swartzia pickelii Killip ex Ducke MALPIGHIACEAE Byrsonima sericea DC.* Murici MALVACEAE Apeiba tibourbou Aubl.* Eriotheca crenulaticalyx A. Robyns* Mungumba Guazuma ulmifolia Lam. Mutamba Urena lobata L. MARANTACEAE Monotagma plurispicatum (Koern.) K. Schum Stromanthe porteana Griseb. MELASTOMATACEAE Clidemia debilis Crueg. Clidemia hirta (L.) D.Don Henriettea succosa DC.* Miconia albicans (Sw.) Triana Miconia ciliata (Rich.) DC.* Miconia francavillana (Bonpl.) DC. Miconia minutiflora (Bonpl.) DC.* Carrasco Miconia prasina (Sw.) DC.* MELIACEAE Guarea guidonia (L.) Sleumer. Jitó MENISPERMACEAE Cissampelos andromorpha DC. MORACEAE Brosimum guianense Huber ex Ducke* Helicostylis tomentosa (Poepp. & Endl.) Rusby Amora da mata Sorocea hilarii Gaudich. MYRTACEAE Campomanesia dichotoma (O.Berg.) Mattos Guabiroba Myrcia fallax (Rich.) DC. Murta Myrcia guianensis (Aubl.) DC. Myrcia sylvestris DC. Pupum a Psidium guineensis Sw.

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NYMPHAEACEAE Nymphaea caerulea L. ONAGRACEAE Ludwigia lagunae (Morong) H.Hara ORCHIDACEAE Oeceoclades maculata (Lindl.) Lindl. PASSIFLORACEAE Passiflora kermesina L. Maracujá -de-estalo PIPERACEAE Piper arboreum Aubl. Piper hispidum Sw. Piper marginatum Jacq. POACEAE Axonopus capillaris (Lam.) Chase Axonopus purpusii (Mez) Chase Cenchrus echinatus L. Echinochloa colona (L.) Link Eragrostis articulata (Schrank) Nees Eriochloa punctata Kunth Guadua angustifolia (Nees) Doell Ichnanthus calvescens (Spreng.) Mez ex Pilg. Panicum pernambucense (Kunth) Davidse & Zuloaga Parodiolyra micrantha (Sw.) B.F. Hansen & Wunderlin Urochloa fusca POLYGONACEAE Coccoloba mollis Casar. Coccoloba striata Benth. PORTULACACEAE Portulaca oleracea L. RUBIACEAE Alseis pickelii Pilger & Schmale* Gonzalagunia dicocca Cham. & Schltdl. Psychotria bracteocardia (DC.) Mull.Arg. SAPINDACEAE Allophylus edulis (St.- Hil.) Radlk.* Cupania racemosa (Vell.) Radlk.* Paullinia pinnata L. Guaraná SAPOTACEAE Chrysophyllum rufum Mart. Abiu Pouteria caimito (Ruiz & Pavon) Radlkofer

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SIMAROUBACEAE Simarouba amara Aubl.* Praíba SMILACACEAE Smilax syphilitica Griseb. SOLANACEAE Cestrum sendtnerianum Mart. ULMACEAE Trema micrantha (L.) Blume URTICACEAE Cecropia pachystachya Trécul* Imbaúba VERBENACEAE Citharexylum pernambucense Moldenke Lantana camara L. Chumbinho Lantana radula Sw. Stachytarpheta elatior Schrad. ZINGIBERACEAE Hedychium coronarium Flor-do-brejo J. König (1) Fonte: Pinheiro, 2005. (*) – Espécies que ocorrem simultaneamente na ESEC Murici e na RPPN Vila D’Água (adjacente à ESEC). ( 1) – Espécies exóticas.

Em uma compilação de dados de monografias, dissertações e relatórios técnicos realizados nos últimos anos, Moura et al. (2006) produziram uma lista com 205 espécies de árvores e arbustos ocorrentes em áreas de Mata Atlântica do Estado de Alagoas. Tendo em vista que os remanescentes abrangidos pela ESEC Murici estão entre os de maior representatividade biológica da região, é de se esperar que a comunidade vegetal destes seja também composta por grande parte dessas espécies. Entre as espécies desta lista, os autores destacam como as mais representativas da região: a Embiriba Eschweilera ovata , o Murici Byrsonima sericea , o Pau-de-jangada Apeiba tibourbou , a Maçaranduba Manilkara rufula H. J. Lam , a Sapucaia Lecythis pisonis e o Visgueiro Parkia pendula . Além destas, o Ministério do Meio Ambiente (2003) define outras espécies representativas da região: o Sabacuim Didymopanax morototoni , o Ipê-amarelo Tabebuia sp ., a Munguba Pseudobombax sp ., a Sucupira Bowdichia virgilioide , a Cupiúba Tapirira guianensis , o Ipê-roxo Tabebuia avellanedae , a Gameleira Fícus sp ., o Pau-Falha Aspidosperma sp ., a Amescla Protium heptaphyllum e o Barbatimão Pithecellobium avaremotemo , sendo estas duas últimas amplamente utilizadas com fins medicinais, como para a cicatrização de ferimentos.

Em levantamento florístico realizado pela Sociedade Nordestina de Ecologia (SNE, 2000), as espécies de árvores ocorrentes no Complexo Florestal de Murici foram definidas quanto ao grau de dominância na área. Entre as espécies que demonstraram um alto grau de dominância, destacam-se: o Murici B yrsonima sericea , a Embiríba Eschweilera ovata, o Sambacuim Schefflera morototoni , o Visgueiro Parkia pendula , a

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Cupiúba Tapirira guianensis , a Banana-de-papagaio Himathanthus phagaedenicus , a Amescla Protium heptaphyllum , a Sucupira Bowdichia virgilioides , a Caboatã Cupania polycarpa , o Coração-de-negro Cassia apoucoita e o Bulandi Symphonia globulifera . Outras espécies ocorrem mais raramente, como o Jatobá Hymenaea martiana e o Jequitibá Cariniana legalis (SNE, 2000).

Além das espécies de planta lenhosas, a região da ESEC Murici é alvo de uma série de trabalhos que têm como objeto de estudo o grupo das briófitas (e.g. Oliveira, 2007; Silva & Porto, 2007). Esses estudos indicam uma grande importância da Unidade para conservação deste grupo, devido à elevada riqueza da brioflora na região. Oliveira (2007) indica a ocorrência de 106 espécies de briófitas (56 hepáticas e 50 musgos) nos fragmentos da ESEC Murici, distribuídas em 21 famílias, das quais se destacam: Lejeuneaceae, Calymperaceae, Sematophyllaceae, Pilotrichaceae, Fissidentaceae e Jubulaceae . Dentre essas famílias, a grande maior parte das espécies compõe o grupo das Lejeuneaceae , que apresenta maior dominância na região. Três das espécies registradas neste trabalho são consideradas, segundo a autora, endêmicas do Brasil: Bazzania heterostipa, Cyclodictyon leucomitrium e Lejeunea cristulaeflora .

7.7.1.1. Espécies bioindicadoras

Além das classificações quanto à frequência de ocorrência e risco de extinção, algumas espécies são definidas como indicadoras da qualidade ambiental. Neste sentido, o grupo das briófitas pode nos fornecer informações importantes, uma vez que a brioflora responde a alterações em escalas temporais e espaciais bem menores que as plantas vasculares, além de serem extremamente sensíveis às características microclimáticas locais (Oliveira & Pôrto, 2007). Segundo Oliveira (2007), este grupo apresenta na região da ESEC Murici um padrão de distribuição heterogêneo, tanto em relação à riqueza quanto à composição de espécies, e a redução do tamanho do fragmento em geral é acompanhada pela perda de espécies deste grupo.

Oliveira & Pôrto (2007) evidenciaram uma flora de hepáticas bastante distinta entre os fragmentos da ESEC Murici, e atribuíram isso às peculiaridades (e.g. declividade, altitude) dos remanescentes. Essas peculiaridades devem também ser notadas em outros grupos, uma vez que as populações estão inseridas em uma complexa rede de interações entre fatores abióticos e bióticos (Memmott et al. , 2005; Elzinga et al. , 2007). Desta forma, estes resultados sugerem que a conservação da brioflora de hepáticas, assim como de outros organismos e fatores abióticos associados direta e indiretamente, depende da conservação dos diferentes sítios florestais da Unidade. Uma peculiaridade destacada pelos autores quanto ao maior fragmento florestal da ESEC Murici e de todo o CFM, conhecido localmente como Bananeiras, é a presença de espécies com gametófito pendente, características de ambientes mésicos e preservados (Richards, 1984). Em outro trabalho realizado na ESEC Murici, Pôrto (2008) define simplificadamente nove espécies de briófitas como indicadoras de

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qualidade ambiental: Bryopteris diffusa, Bryopteris filicina, Meteorium nigrescens, Phyllogonium viride, Plagiochila disticha, Plagiochila distinctifolia, Plagiochila gymnocalycina, Plagiochila martiana e Plagiochila montagnei.

7.7.2. Ameaças à Vegetação

A relação de dominância entre as espécies ocorrentes na ESEC Murici pode ser alterada por processos que modificam a configuração dos remanescentes, assim como a estrutura da paisagem no qual estes estão inseridos (e.g. Fahrig, 2003). A exemplo disso, a fragmentação florestal, decorrente da introdução de sistemas agropecuários extensivos, assim como de áreas urbanas, altera o balanço competitivo entre as espécies, de forma a favorecer um pequeno grupo não-aleatório de organismos, levando a um empobrecimento biológico dos remanescentes (Laurence, 2001). Isto ocorre porque a fragmentação de habitats resulta em uma série de efeitos físicos e biológicos decorrentes, principalmente, da criação de bordas (Offerman et al. , 1995; Laurence et al. , 2002), os quais reduzem o habitat disponível para espécies da biota original (Scariot, 1999).

No caso de espécies de plantas lenhosas, diversos estudos têm sugerido a possibilidade de extinção de espécies nos níveis local e regional, devido a três processos principais: dessecação dos fragmentos (Laurance et al. , 2000, 2001; Benítez- Malvido & Martínez-Ramos, 2003), perturbações nas interações com dispersores de sementes e polinizadores (Murcia, 1996; Laurance, 2001) e isolamento das populações (Laurance 2001). Neste último caso, a intensidade do efeito depende do tipo de matriz circundante (Franklin & Lindenmayer, 2009), e pode gerar consequências reprodutivas e demográficas para populações de plantas que dependem de animais como agentes de polinização e dispersão de sementes (Soulé, 1987; Gascon et al. , 1999; Laurance, 2001).

O processo de perda e fragmentação florestal está quase sempre relacionado ao estabelecimento de populações humanas, as quais transformam a paisagem como consequência do crescimento contínuo da demanda de recursos florestais, como madeira, animais de caça, fibras e frutos (Coimbra-Filho & Câmara, 1996; Cullen et al. , 2000, ; Laurance et al. , 2001; Peres, 2001). Neste sentido, a fragmentação de habitats facilita o acesso a áreas florestais e, consequentemente, o incremento de atividades antrópicas impactantes (Tabarelli et al. , 2004). Desta forma, além dos efeitos diretos da fragmentação e perda de habitats, outros processos ocorrem em sinergismo e ameaçam espécies de plantas lenhosas, como a extração seletiva de madeira, os incêndios florestais e a caça (Figura 47), que elimina vertebrados dispersores de sementes (Laurance & Cochrane, 2001). Essas atividades humanas, por sua vez, potencializam os efeitos da fragmentação florestal, à medida que promovem o dessecamento de áreas próximas a trilhas e estradas (Uhl et al. , 1997; Veríssimo et al. , 1995, 1998, ; Laurance & Cochrane, 2001); reduzem a cobertura do dossel (devido à

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extração seletiva de madeira), tornando os fragmentos mais susceptíveis a queimadas (Cochrane et al. , 1999; Nepstad et al. , 1999; Cochrane & Laurance, 2002); e modificam interações planta-animal, devido à extirpação de algumas populações, e consequente alteração da estrutura trófica do ecossistema (Murcia, 1996; Asquith et al. , 1999; Silva & Tabarelli, 2000; Chapman et al. , 2003).

Figura 47. Relações entre a fragmentação da floresta e outros fatores associados que levam ao declínio de populações de árvores em escala local e regional. Fonte: adaptado de Tabarelli et al. (2004).

Desta forma, além das espécies naturalmente raras, a região abriga espécies ameaçadas de extinção, como uma espécie de Lecythidaceae, o Jequitibá ( Cariniana legalis ), e uma Sapotaceae, conhecida localmente como Aguaí-Pedrim ( Chrysophyllum splenden ), ambas com status “Vulnerável” na lista de espécies ameaçadas de extinção da IUCN. Além destas, as palmeiras Jussara Euterpe catinga e Uricana Geonoma pauciflora , e inúmeras espécies de orquídeas, bromélias e aráceas também se apresentam ameaçadas de extinção (SNE, 2000). Diversos estudos têm identificado seis grupos de espécies lenhosas vulneráveis à extinção local e regional em florestas tropicais: (1) plantas com sementes dispersas por grandes vertebrados frugívoros; (2) plantas dispersas por frugívoros com pouca habilidade para cruzar áreas abertas; (3) plantas dispersas por frugívoros especialistas; (4) plantas com grandes sementes que sofrem intensa predação por roedores; (5) plantas susceptíveis ao feito de borda e incêndios florestais; e (6) árvores do dossel e emergentes que sofrem intensa exploração madeireira em florestas fragmentadas (Tabarelli et al. , 2006).

Segundo Silva & Tabarelli (2000), 30% das espécies de plantas lenhosas do CEP devem se tornar extintas em nível regional, em consequência da interrupção do

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processo de dispersão dos seus diásporos, devido ao desaparecimento de vertebrados frugívoros (e.g. Tapirus terrestris , Mitu mitu , Penelope sp., Ramphastos sp.). Esses autores projetaram o cenário futuro da Floresta Atlântica Nordestina como sendo dominado por espécies dispersas por mecanismos abióticos e pequenos vertebrados. Esta “flora futura” seria composta por espécies de famílias como: Araliaceae, Anarcadiaceae, Melastomataceae, Rubiaceae e Myrsinaceae. Essas famílias já se apresentam como dominantes em pequenos fragmentos florestais e áreas em processo de regeneração, inclusive na região do CFM.

7.7.2.1. Espécies Exóticas Invasoras

Espécies exóticas invasoras têm sido reconhecidas como uma das maiores causas de perda de espécies e de degradação em habitats naturais (Vitousek et al. , 1997; Wilcove et al. , 1998). Estima-se que em escala global a flora introduzida e estabelecida via assistência humana, direta ou acidental, seja equivalente a 20% do total de espécies nativas de determinada região, e em ilhas essa relação chega a mais de 50% (Vitousek et al. , 1996).

De acordo com as definições adotadas pela Convenção Internacional sobre Diversidade Biológica (CDB, 1992) na sexta Conferência das Partes (CDB COP-6, Decisão VI/23, 2002), uma espécie considerada exótica (ou introduzida) quando situada em um local diferente ao de sua distribuição natural por causa de introdução mediada por ações humanas, de forma voluntária ou involuntária. Se a espécie introduzida consegue se reproduzir e gerar descendentes férteis, com alta probabilidade de sobreviver no novo hábitat, ela é considerada estabelecida. Caso a espécie estabelecida expanda sua distribuição no novo hábitat, ameaçando a biodiversidade nativa, ela passa a ser considerada uma espécie exótica invasora.

As invasões biológicas por plantas exóticas alteram a composição da biota e em diversas circunstâncias podem alterar a produtividade, a ciclagem de nutrientes, a hidrologia, o regime de incêndios ou as interações ecológicas do ecossistema invadido (Vitousek, 1990; Le Maitre et al. , 1996; Traveset & Richardson, 2006; Aizen et al. , 2008). De acordo com D’Antonio & Meyerson (2002), experimentos feitos em pequena escala têm sugerido que uma alta diversidade de espécies nativas pode reduzir a vulnerabilidade à invasão biológica, mas em larga escala os efeitos locais podem ser superados por fatores regionais que influenciam a diversidade (Planty-Tabacchi et al. , 1996; Wiser et al. , 1998; Levine & D’Antonio, 1999; Stohlgren et al. , 1999; Symstad, 2000), como a fragmentação. Isso sugere que regiões naturais com alta diversidade biológica são especialmente vulneráveis a invasões e que, por isso, necessitam de um “sistema de vigilância extra” contra espécies exóticas invasoras (D’Antonio & Meyerson, 2002).

Ilhas têm sido consideradas sob intensa ameaça ecológica pela disseminação de espécies exóticas invasoras (Elton, 1958; Donlan et al. , 2003). Deve-se observar que a

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susceptibilidade a invasões biológicas não necessariamente coincide com a vulnerabilidade aos efeitos provocados por espécies exóticas invasoras, e ilhas são mais susceptíveis a esses efeitos (D’Antonio & Dudley, 1995). Comparando-se com organismos encontrados nas partes continentais, espécies de ilhas são menos vágeis, ocorrem em um menor número de populações e/ou em populações pequenas. Essas características, associadas ao isolamento e ao endemismo, fazem com que ecossistemas insulares sejam especialmente sensíveis a distúrbios e que espécies que ocorrem em ilhas podem ser vulneráveis a taxas de extinção maiores do que as observadas em ecossistemas localizados em áreas continentais (Mueller-Dombois, 1981; Loope & Mueller-Dombois, 1989; D’Antonio & Dudley, 1995).

Considerando-se a intensa fragmentação de ecossistemas tropicais, resultando em pequenos remanescentes florestais, com poucas e pequenas populações de espécies nativas, muitas vezes isoladas, pode-se inferir que a vulnerabilidade desses ecossistemas deve ser muito semelhante à observada em ecossistemas insulares. Sendo assim, entende-se que espécies exóticas invasoras podem em breve superar a conversão de habitats e se tornar a principal causa de degradação ambiental em escala mundial (Chapin et al. , 2000).

As unidades de conservação de proteção integral, como é o caso da ESEC Murici, devem ser consideradas com especial atenção, pois são refúgios naturais que devem ser salvaguardados em regime de perpetuidade. A presença de espécies exóticas invasoras nessas áreas é incompatível com a conservação da biodiversidade e dos recursos naturais, e deve ser objeto de erradicação e controle permanente.

Invasões biológicas, ao contrário de outras formas de degradação, tendem a crescer indefinidamente ao longo do tempo. Devido à crescente pressão de propágulos existente na região, assim como à fragmentação e à antropização das áreas no entorno, cuidados redobrados devem ser tomados para impedir a chegada e/ou para o controle ou a erradicação de espécies exóticas invasoras na Estação Ecológica de Murici.

Com o objetivo de apresentar dados sobre a ocorrência de espécies exóticas e espécies exóticas invasoras na ESEC Murici, foi realizado em janeiro de 2011 o levantamento de espécies exóticas e espécies exóticas invasoras desta UC, apresentado na Tabela 27 abaixo. Dentre as espécies exóticas registradas, duas apresentaram alto grau de invasão: a Jaca ( Artocarpus heterophyllum ) e o Dendê ( Elaeis guineensis ). Além do levantamento de espécies exóticas e invasoras, foi gerado um plano de ação para o controle e prevenção da invasão destas espécies na Unidade.

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Tabela 27. Espécies exóticas e exóticas invasoras encontradas na Estação Ecológica de Murici (AL) e suas respectivas informações taxonômicas (família, nome científico e nome popular), forma de ocorrência na unidade, uso(s) na região, área de distribuição natural, descrição de outros locais onde a espécie é invasora e presença na base de dados nacional sobre espécies exóticas invasoras (I3N-Brasil, 2011). Forma de ocorrência: (1) espécie ornamental, presente ou estabelecida em um ou poucos pontos, associada a edificações atuais, fora dos fragmentos; (2) espécie frutífera, presente ou estabelecida em um ou poucos pontos, associada a edificações antigas ou atuais, fora dos fragmentos; (3) espécie ornamental, presente ou estabelecida em um ou poucos pontos, associada a antigas edificações no interior dos fragmentos; (4) espécie frutífera, presente ou estabelecida em um ou poucos pontos, associada a antigas edificações, no interior dos fragmentos; (5) espécie exótica invasora dispersa em áreas convertidas por toda a unidade; (6) espécie exótica invasora, com populações dispersas nos fragmentos, em densidade baixa; (7) espécie exótica invasora, com populações dispersas nos fragmentos, em densidade média; (8) espécie exótica invasora, com populações dispersas nos fragmentos, em densidade alta.

Forma de Família Nome científico Nome popular Uso Distribuição natural* ocorrência Agavaceae Furcraea foetida (L.) Haw. Piteira 1 Ornamental América Central e norte da América do Sul. Índia, na região de Assam-Arunachal-Myanmar e na Alimentar Anacardiaceae Mangifera indica L. Mangueira 2 - 4 base do Himalaia oriental e da cordilheira do Ghats Ornamental oriental. Apocynaceae Nerium oleander L. Espirradeira 1 Ornamental Região Mediterrânea. Comigo- Araceae Dieffenbachia amoena Bull. 3 Ornamental Colômbia e Costa Rica. ninguém-pode Polyscias guilfoylei (W. Bull) Árvore-da- Araliaceae 1 Ornamental Ilhas do Pacífico. L.H. Bailey felicidade Alimentar Arecaceae Cocos nucifera L. Coqueiro 1 - 2 Regiões Indo-Malaia a Pacífico-Oeste. Ornamental

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Dypsis lutescens (H. Wendl.) Arecaceae Areca-bambu 1 Ornamental Madagascar. Beentje & J. Dransf.

Forma de Família Nome científico Nome popular Uso Distribuição natural* ocorrência Dypsis lutescens (H. Wendl.) Arecaceae Areca-bambu 1 Ornamental Madagascar. Beentje & J. Dransf. Costa ocidental da África (golfo de Guiné), nas Arecaceae Elaeis guineensis Jacq. Dendezeiro 7 - florestas tropicais da costa de Libéria até Angola. Combretaceae Terminalia catappa L. Coração-de-nego 1 Ornamental Malásia. Cupressaceae Cupressus sp. Cipestre 1 Ornamental Leiteiro- América Central e Norte da América do Sul (região Euphorbiaceae Euphorbia cotinifolia L. 1 Ornamental vermelho Amazônica). Malvaceae Malvaviscus arboreus Hibisco 1 Ornamental América Central e norte da América do Sul. Artocarpus altilis (Parkinson) 1 Alimentar Ilhas do Pacífico (parte sul - Nova Guiné, Indonésia e Moraceae Fruta-pão Fosberg 2 Ornamental Filipinas). Artocarpus heterophyllus Índia (montanhas dos Ghats ocidentais) e Península Moraceae Jaqueira 8 Alimentar Lam. da Malásia. Musaceae Musa paradisiaca L. Bananeira 5 Alimentar Sul e sudeste da Ásia tropical. Myrtaceae Eucalyptus sp. Eucalipto 1 Ornamental O gênero é originário da região australiana.

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Forma de Família Nome científico Nome popular Uso Distribuição natural* ocorrência Alimentar Índia, Paquistão, Bangladesh, Nepal e Butão, Sri Myrtaceae Syzygium cumini (L.) Skeels Azeitona 2 - 4 Ornamental Lanka e ilhas Maldivas.

Syzygium malaccense 1 Alimentar Myrtaceae Jambo-vermelho Índia e Malásia. (L.) Merr. & L.M. Perry 2 Ornamental América Tropical, entre o sul do México e o Myrtaceae Psidium guajava L. Goiabeira 2 Alimentar norte da América do Sul. Plumbaginaceae Plumbago auriculata Lam. Plumbago 1 Ornamental África do Sul. Poaceae Bambusa textilis McClure Bambu 6 Usos diversos Sudeste da China. Poaceae Pennisetum purpureum Schumach. Capim-elefante 5 Forrageira África tropical. Forrageira Poaceae Urochloa sp. Braquiária 5 Continente africano. (pasto) Rubiaceae Coffea arabica L. Cafezeiro 6 Alimentar Etiópia. Rubiaceae Ixora coccinea L. Ixora 1 Ornamental Sri Lanka e sudoeste da Índia. Rutaceae Citrus aurantium L. Laranjeira 2 Alimentar Sudeste da Ásia. Zingiberaceae Hedychium coronarium J. König Lírio-do-brejo 5 Ornamental Nepal (no Himalaia) e da Índia até a Indonésia.

*Fontes: I3N-Brasil (2011); PIER (2011); ISSG (2011); Lorenzi (2001); Lorenzi (2002); Lorenzi et al. (2003); Missouri Botanical Garden (2011). **http://i3n.institutohorus.org.br

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7.8. Fauna

Devido à ocupação urbana e agrícola, os remanescentes da ESEC Murici, assim como de todo o CEP, apresentam áreas reduzidas e um alto grau de isolamento (Ranta et al. , 1998). Esta configuração espacial não gera as mesmas conseqüências para todas as espécies de animais, uma vez que a percepção da paisagem deve ser espécie- específica (Fischer et al. , 2004). Para muitas espécies de animais, a matriz que circunda esses fragmentos pode representar uma barreira intransponível (Fisher & Lindenmayer, 2007; Franklin & Lindenmayer, 2009). Desta forma, muitas populações de animais ficam confinadas em pequenos fragmentos, isoladas de populações que habitam outros fragmentos.

Diante deste cenário, as espécies podem ser localmente extintas devido à escassez de recursos e/ou erosão genética de suas populações (Turner, 1996). A erosão genética é caracterizada pela perda de variabilidade genética, decorrente do acasalamento sucessivo entre os membros de uma população reduzida, e limita a persistência de pequenas populações. Além desses efeitos diretos da perda e fragmentação de habitats naturais, algumas espécies podem ser indiretamente afetadas pela perda de interações com outras espécies localmente extintas ou isoladas em outros fragmentos, assim como pelo estabelecimento de espécies exóticas, favorecidas pelas condições impostas pela fragmentação.

Apesar da especificidade das conseqüências da fragmentação florestal sobre as populações de animais, sugere-se como padrão geral para mitigação dos seus efeitos a manutenção de fragmentos florestais com tamanhos maiores, assim como a minimização dos efeitos de isolamento a partir da manutenção de matrizes mais “porosas” (Forman, 1995; Fisher & Lindenmayer, 2007). O conceito de porosidade de matriz está relacionado à capacidade de transposição por espécies de animais. Na ESEC Murici, assim como ao longo de toda a Floresta Atlântica Nordestina, os remanescentes florestais são circundados basicamente por monoculturas de cana-de-açúcar e áreas de pasto (Figura 29), matrizes em geral pouco porosas. Desta forma, diversas espécies de animais apresentam distribuição restrita (i.e. endemismo) e estão ameaçadas de extinção (Pôrto et al. , 2006).

Os grupos de animais que já foram amostrados na ESEC Murici, e apresentam informações disponíveis, serão tratados separadamente, a seguir. Pelo fato de serem alvos de pesquisadores do Museu de História Natural da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), o grupo dos vertebrados apresenta maior destaque. A informação disponível é pouca, e em geral defasada, demonstrando a demanda de pesquisas científicas na Unidade. No processo de planejamento, atividades elementares, como levantamentos biológicos, são propostas, visando preencher essas lacunas de informação.

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7.8.1. Vertebrados

7.8.1.1. Mamíferos

Apesar de representar um grupo relativamente pouco diverso, os mamíferos exercem funções ecológicas extremamente diversificadas e fundamentais para manutenção dos ecossistemas naturais. Dentre os diversos papéis desempenhados por espécies de mamíferos, destaca-se o controle de populações de insetos, assim como a dispersão de sementes e polinização de espécies vegetais.

Em todo o domínio da Floresta Atlântica, foram registradas até o momento 261 espécies de mamíferos, distribuídas heterogeneamente ao longo de cinco grandes centros de endemismo (Silva & Castelletti, 2003), os quais representam as unidades biogeográficas básicas da Floresta Atlântica. Dentre estes, o menos conhecido em termos de composição mastofaunística e mais ameaçado é o Centro de Endemismo Pernambuco (Vivo, 1997), no qual está inserida a ESEC Murici.

Do total de espécies registradas em todo o domínio da Mata Atlântica, 69 têm ocorrência confirmada na Mata Atlântica de Alagoas (Moura et al. , 2006). Destas, quatro possuem o status de “vulneráveis” na lista nacional de espécies da fauna brasileira ameaçadas de extinção: Leopardus pardalis (Jaguatirica), Leopardus tigrinus (Gato-do-mato), Puma concolor (Suçuarana) e Platyrrhinus recifinus (espécie de Morcego) (Moura et al. , 2006). Além destas, espécies como o guariba Alouatta belzebul e o Tamanduaí Cyclopes didactylus também se encontram seriamente ameaçadas de extinção na região, apesar de não constarem na lista nacional de espécies ameaçadas (Moura et al. , 2006). Quanto à classificação global de espécies ameaçadas de extinção da IUCN, P. concolor e A. belzebul possuem o status de “vulnerável”, enquanto que as demais são consideradas de “menor preocupação”.

Apesar de nem todas as espécies supracitadas terem sido observadas na ESEC Murici, é de se esperar que grande parte das espécies registradas no Estado de Alagoas ocorra nos limites dessa Unidade, uma vez que os fragmentos florestais que a compõem estão entre os únicos que possuem tamanhos compatíveis com o espaço requerido por mamíferos de médio e grande porte. Entretanto, outros fatores (e.g. caça) podem ter levado à extinção local essas espécies, de forma que, mesmo com tamanhos adequados, os fragmentos da ESEC Murici podem não comportar mais populações destas espécies.

Segundo caracterização da ESEC Murici realizada pelo Ministério do Meio Ambiente (2003), as principais espécies de mamíferos já observadas ou capturadas na região são: Sagüi ( Callithrix sp .), Guariba ( A. belzebul ), Tatu ( Euphactus sexcintus .), tatus do gênero Dasypus , Raposa ( Cerdocyon thous ), Cassaco ( Didelphis albiventris e D. marsupialis ), Capivara ( Hidrochaeris hidrochaeris ), Tapiti ( Silvilagus brasiliensis ), Preá (Cavia aperea ), Guaxinim ( Procyon cancrivorus ), Quati ( Nasua nausa ), Gato-do-Mato (Felis tigrina ), Irara ( Eira bárbara ), Marmosa ( Marmosa sp ), Porco-do-mato ( Tayassu tajacu ), Rato-do-mato ( Oryzomys sp ), Paca ( Agouti paca ), Veado-mateiro ( Mazama sp ), Cutia ( Dasyprocta prymnolopha ), Tamanduaí ( C. didactylus ), Tamanduá-mirim

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Plano de Manejo da Estação Ecológica de Murici Diagnóstico da UC

(Tamandua tetradactyla ), Furão ( Galictis sp ) e Porco-espinho ( Coendou sp ). Entretanto, há que se considerar que muitas dessas espécies podem não ocorrer mais nos limtes da Unidade, visto que essa lista se baseia em informações antigas, referentes às espécies que já foram observadas na região.

Em outro estudo realizado na ESEC Murici, mais especificamente nas fazendas Retiro e Bananeiras, Percequillo (2007) obteve 74 espécimes de mamíferos, pertencentes a quatro ordens, 16 gêneros e 16 espécies distintas. Apenas um espécime de mamífero de médio porte foi obtido durante a amostragem, um exemplar de tamanduá-mirim T. tetradactyla . O autor atribui o número reduzido de espécies amostradas ao baixo esforço amostral, considerando a área de alta relevância para conservação do grupo.

7.8.1.2. Aves

As aves são importantes elementos da comunidade de espécies de florestas tropicais, prestando serviços como a dispersão de sementes e a polinização de flores de algumas espécies vegetais. Algumas sementes, inclusive, necessitam passar pelo trato digestivo de alguma ave para que sua germinação seja viabilizada.

O CEP abriga um total de 434 espécies de aves (Roda, 2003), o que representa mais da metade das espécies de aves ocorrentes em todo o domínio da Mata Atlântica (Moura et al. , 2006). Deste total, 27 espécies e subespécies são endêmicas a esta região e 28 são endêmicas à Floresta Atlântica como um todo (Tabela 28) (Roda 2005). Devido à sua configuração espacial extremamente fragmentada, assim como a outras ameaças frequentes, várias dessas espécies endêmicas estão incluídas em alguma categoria de ameaça do MMA (2003) e da BirdLife (2003) (Tabela 28).

Em uma ampla análise da distribuição de aves endêmicas e ameaçadas de extinção no CEP, Roda (2005) verificou a ocorrência de aves em uma destas categorias em 10 unidades de conservação ao longo deste Centro. Neste estudo, a ESEC Murici foi considerada a área com maior concentração de espécies endêmicas e ameaçadas de extinção, tendo sido evidenciadas 52 espécies de aves, do total das 58 ocorrentes em todas as unidades analisadas. Das 52 espécies registradas na ESEC Murici, 25 são consideradas endêmicas ao CEP e outras 23 à Floresta Atlântica (Tabela 28). Duas dessas espécies, o Tiriba-de-peito-cinza Pyrrhura griseipectus e o Sabiá-pimenta Carpornis melanocephalus , foram encontradas apenas nesta Unidade. Outras duas espécies, o Limpa-folha-do-nordeste Philydor novaesi e a choquinha-de-alagoas Myrmotherula snowi (Figura 48), foram registradas apenas na ESEC Murici e RPPN Frei Caneca, outro local considerado de extrema importância para conservação da avifauna local.

Quanto à definição das espécies que apresentam algum risco de extinção, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) define 34 como ameaçadas, enquanto que a BirdLife classifica apenas 16 em alguma categoria de ameaça, totalizando 38 espécies ameaçadas (Tabela 28). Dentre as espécies ameaçadas, além das citadas acima, 140

Plano de Manejo da Estação Ecológica de Murici Diagnóstico da UC destaca-se o Pintor-Verdadeiro Tangara fastuosa (Figura 6), eleito recentemente espécie símbolo do Corredor de Biodiversidade do Nordeste.

Diante deste cenário, com inúmeras espécies endêmicas e ameaçadas de extinção, a ESEC Murici é classificada como uma das 16 Áreas Importantes para a Conservação das Aves – IBA da Mata Atlântica (do inglês, Important Bird Area – área de atuação prioritária da BirdLife International e da Sociedade para a Conservação das Aves do Brasil – SAVE Brasil), sendo considerada o local com a maior quantidade de espécies de aves ameaçadas de extinção das Américas (Wege & Long, 1995), assim como uma das áreas mais importantes para a conservação de aves da região neotropical (Roda, 2005).

Figura 48. Exemplos de espécies ameaçadas de extinção, que têm a ESEC Murici como um dos últimos abrigos. À esquerda, o Limpa-Folha-do-Nordeste ( Philydor novaesi ) e, à direita, o Choquinha-de-Alagoas ( Myrmotherula snowi ). Fonte: Save-Brasil et al. , 2009 – Aves da Mata Atlântica do Nordeste.

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Plano de Manejo da Estação Ecológica de Murici Diagnóstico da UC

Tabela 28. Aves registradas na ESEC Murici e na RPPN Vila D’Água (adjacente à ESEC Murici), com definição do hábito alimentar e do status de ameaça à extinção e grau de endemismo. Hábito alimentar ou Grupo trófico: FRU = frugívoro, PRE = predador, NEC = nectívoro, INS = insetívoro, ONI = onívoro, DETR = Detritívoro, AQUA = Aquático, GRA = Granívoro. Categoria de ameaça à extinção segundo o MMA: QA = Quase ameaçada, EP = Em perigo, VU = Vulnerável, CR = Criticamente ameaçada. Categoria de ameaça à extinção segundo a Birdlife : NT = Near Threatened, LC = Least Concern, EN = Endangered, VU = Vulnerable, CR = Critically Endangered. Grau de endemismo: FA = Floresta Atlântica, CP = Centro Pernambuco. (*) – Espécies registradas na RPPN e na ESEC. (**) – Espécies registradas apenas na RPPN.

Hábito Categoria de Ameaça Alimentar Família/Espécie Nome Popular Endemismo ou Grupo MMA BirdLife Trófico TINAMIDAE Tinamus solitarius Macuco FRU FA - NT Crypturellus parvirostris** Lambu-espanta-boiada FRU - - LC CRACIDAE

Ortalis guttata Aracuã FRU FA - - Penelope superciliaris alagoensis Jacupemba FRU CP EP - ACCIPITRIDAE

Leocopternis polionotus Gavião-pombo-grande PRE FA - NT Rupornis magnirostris** Gavião-carijó PRE - - LC Buteo albonotatus** Gavião-de-rabo-barrado PRE - - LC FALCONIDAE

Herpetotheres cachinnans** Acauã PRE - - LC Milvago chimachima** Carrapateiro PRE - - LC Caracara plancus** Carcará PRE - - LC

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RALLIDAE

Laterallus viridis** Sanã-castanha AQUA - - LC Porzana albicollis** Sanã-carijó AQUA - - LC Porphyrio martinica** Frango d’água-azul AQUA - - LC JACANIDAE

Jacana jacana** Jaçanã AQUA - - LC CHARADRIIDAE

Vanellus chilensis** Te-téu AQUA - - LC ARDEIDAE

Ardea Alba** Garça-branca-grande AQUA - - LC Butorides striata** Socozinho AQUA - - LC COLUMBIDAE

Columbina talpacoti** Rolinha-caldo-de-feijão GRA - - LC Columbina squammata** Fogo-pagô FRU - - LC Columbina picui** Rolinha-branca GRA - - LC Leptotila rufaxilla** Juriti-gemedeira FRU - - LC PSITTACIDAE

Diopsittaca nobilis** Maracanã-pequena FRU - - LC Aratinga jandaya** Jandaia FRU - - LC Forpus xanthopterygius** Periquito FRU - - LC Pyrrhura griseipectus Tiriba-de-peito-cinza FRU FA CR - Brotogeris tiririca Periquito-rico FRU FA - - Touit surdus Apuim-de-cauda-amarela FRU FA - EN CUCULIDAE

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Piaya cayana** Alma-de-gato INS - - LC Crotophaga ani** Anu-preto INS - - LC Guira guira** Anu-branco INS - - LC Tapera naevia** Peitica INS - - LC STRIGIDAE

Megascops choliba** Coruja-de-frio PRE - - LC Megascops atricapilla Corujinha-do-mato PRE FA - - TROCHILIDAE

Amazilia frimbiata** Beija-flor-de-garganta-verde NEC - - LC Amazilia versicolor** Beija-flor-de-banda-branca NEC - - LC Anthracothorax nigricollis** Beija-flor-de-veste-preta NEC - - LC Aphanthochroa cirrochloris Beija-flor-cinza NEC FA - - Chlorostilbon notatus** Beija-flor-de-garganta-azul NEC - - LC Eupetomena macroura** Beija-flor-rabo-de-tesoura NEC - - LC Glaucis hisurtus** Balança-rabo-de-bico-torto NEC - - LC Hylocharus cyanus** Beija-flor-roxo NEC - - LC Florisuga fusca Beija-flor-preto NEC FA - - Phaethornis camargoi - CP EP -

Phaethornis petrei** Rabo-branco-acanelado NEC - - LC Phaethornis ruber** Rabo-branco-rubro NEC - - LC Thalurania watertonii Beija-flor-de-costas-violetas NEC FA VU - CAPRIMULGIDAE

Nyctidromus albicollis** Bacurau INS - - LC GALBULIDAE

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Plano de Manejo da Estação Ecológica de Murici Diagnóstico da UC

Gaubula ruficauda** Ariramba-de-cauda-ruiva INS LC

MOMOTIDAE

Momotus momota macgraviana Udu-de-coroa-azul INS CP EP - BUCCONIDAE

Nystalus maculatus** Nystalus maculatus INS

PICIDAE LC

Picumnus exilis pernambucensis* Pica-pau-anão-de-pintas-amarelas INS CP VU - Veniliornis passerinus** Picapauzinho-anão INS LC

Picumnus fulvescens* Pica-pau-anão-canela INS - - VU THAMNOPHILIDAE

Thamnophilus aethiops distans Choca-lisa INS CP EP - Thamnophilus caerulescens Choca-da-mata INS CP VU - pernambucensis* Myrmotherula snowi Choquinha-de-alagoas INS CP CR CR Drymophila squamata Pintadinho INS FA - - Terenura sicki Zidedê-do-nordeste INS CP EP EN Cercomacra laeta sabinoi Chororó-didi INS CP VU - Pyriglena leuconota pernambucensis Papa-taoca INS CP VU - Thamnophilus palliatus** Choró

Formicivora grisea** Papa-formiga-pardo INS LC

Taraba major** Choró-boi INS LC

Myrmeciza ruficauda sóror Formigueiro-de-cauda-ruiva INS CP EP EN CONOPOPHAGIDAE

Conopophaga lineata cearae Chupa-dente INS FA VU -

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Plano de Manejo da Estação Ecológica de Murici Diagnóstico da UC

Conopophaga melanops nigrifrons Cuspidor-de-máscara-preta INS CP VU - SCLERURIDAE

Sclerurus caudacutus Vira-folha-pardo INS - EP - DENDROCOLAPTIDAE

Sittasomus griseicapillus** Arapaçu-verde INS LC

Dendroplex picus** Arapaçu-de-bico-branco INS - - LC Dendrocincla fuliginosa taunayi Arapaçu-pardo INS CP EP - Sittasomus griseicapillus Arapaçu-verde INS - - LC Xiphorhynchus fuscus atlanticus Arapaçu-rajado INS FA VU - FURNARIIDAE

Furnarius figuraulus** Casaca-de-couro-da-lama INS - - LC Synallaxis frontalis** Petrim INS - - LC Synallaxis infuscata Tatac INS CP EP CR Philydor novaesi Limpa-folha-do-nordeste INS CP CR CR Automolus leucophthalmus lammi Barranqueiro-de-olho-branco INS CP EP - Cranioleuca semicinerae** João-de-cabeça-cinza INS - - LC Xenops minutus alagoanus Bico-virado-miúdo INS CP VU - Xenops rutilans** Bico-virado-carijó INS - - LC Certhiaxis cinnamomeus** Casaca-de-couro

Phacellodomus rufifrons** Garrancheiro INS - - LC TYRANNIDAE

Leptopogon amaurocephalus** Cabeçudo FRU LC

Hemitriccus griseipectus Maria-debarriga-branca INS CP - - Poecilotriccus fumifrons** Ferreirinho-de-testa-parda INS LC

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Plano de Manejo da Estação Ecológica de Murici Diagnóstico da UC

Todirostrum cinereum** Relojinho INS LC

Myiopagis gaimardii** Maria-pechim FRU LC

Myiopagis caniceps** Guaracava-cinzenta FRU LC

Myiopagis viridicata** Guaracava-de-crista-acinzentada FRU LC

Elaenia flavogaster** Maria-já-é-dia FRU LC

Camptostoma obsoletum** Risadinha INS LC

Capsiempis flaveola** Marianinha-amarela INS LC

Tolmomyias flaviventris** Bico-chato-amarelo INS LC

Myiophobus fasciatus** Filipe INS LC

Lathrotriccus euleri** Enferrujado INS LC

Legatus leucophaius** Bem-te-vi-pirata FRU LC

Myiozetetes similis** Bemtevizinho-de-penacho-vermelho ONI LC

Pitangus sulphuratus** Bem-te-vi ONI LC

Megarynchus pitanguá** Neinei INS LC

Empidonomus varius** Peitica INS LC

Fluvicola nengeta Viuvinha INS LC

Arundinicola leucocephala** Poiaeiro-de-sobrancelha INS LC

Ornithion inerme** Cara-pintada INS CP EP CR Phylloscartes ceciliae Patinho INS CP VU - Myiarchus ferox** Maria-cavaleira INS LC

Tyrannus melancholicus** Suiriri INS LC

Platyrinchus mystaceus niveigularis

PIPRIDAE

Chiroxiphia pareola** Dançarino FRU LC

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Plano de Manejo da Estação Ecológica de Murici Diagnóstico da UC

TITYRIDAE

Pachyramphus viridis** Caneleiro-verde INS LC

Pachyramphus polychopterus** Caneleiro-preto INS LC

Xipholena atroporpurea LC

Schiffornis turdina intetrmedia Flautim-marrom FRU LC

COTINGIDAE

Carpornis melanocephalus Sabiá-pimenta FRU FA VU VU Procnias averano Araponga-do-nordeste FRU - VU - Procnias nudicollis Araponga FRU FA - - Xipholena atroporpurea Anambé-de-asa-branca FRU FA EP EN VIREONIDAE

Cyclarhis gujanensis** Pitiguari INS LC

Vireo olivaceu** Juruviara INS LC

Hylophilus amaurocephalus** Vite-vite-de-olho-cinza INS LC

HIRUNDINIDAE

Stelgidopteryx ruficollis** Andorinha-serradora INS LC

TROGLODYTIDAE

Troglodytes musculus** Rouxinol INS LC

Pheugopedius genibarbis** Garrinchão-pai-avô ONI LC

DONACOBIIDAE

Donacobius atricapilla** Japacanim INS LC

POLIOPTILIDAE LC

Polioptila plúmbea** Rabo-mole INS LC

TURDIDAE LC

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Plano de Manejo da Estação Ecológica de Murici Diagnóstico da UC

Turdus rufiventris** Sabiá-gonga ONI LC

Turdus leucomelas** Sabiá-branco ONI LC

Turdus amaurochalinus** Sabiá-bico-de-osso ONI LC

MIMIDAE

Mimus saturninus** Sabiá-do-campo ONI LC

MOTACILLIDAE

Anthus lutescens** Caminheiro-zumbidor INS LC

COEREBIDAE

Coereba flaveola** Sebinho NEC LC

THRAUPIDAE

Ramphocelus bresilius Tiê-sangue FRU FA -

Tangara fastuosa Pintor-verdadeiro FRU CP VU EN Nemosia pileata** Saíra-militar FRU FA VU - Tangara cyanocephala corallina* Saíra-de-chapéu-preto FRU LC

Thlypopsis sórdida** Saíra-diamante FRU FA VU

Tachyphonus rufus** Canário-de-folha FRU LC

Thraupis sayaca** João-crioulo ♂ - maria-mulata ♀ FRU LC

Thraupis palmarum** Sanhaçu-azul FRU LC

Tangara cayana** Sanhaçu-do-verde FRU LC

Dacnis cayana** Frei-vicente FRU LC

Hemithraupis guira** Verdelim FRU LC

Conirostrum speciosum** Saíra-de-papo-preto FRU LC

Tangara velia cyanomelaena Figurauinha-de-rabo-castanho FRU LC

Hemithraupis flavicollis melanoxantha Saíra-galega FRU CR

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Plano de Manejo da Estação Ecológica de Murici Diagnóstico da UC

CARDINALIDAE

Caryothraustes canadensis frontalis Furriel ONI FA VU - Saltator fuliginosu Pimentão ONI FA - - Saltator maximus** Tempera-viola ONI LC

FRINGILLIDAE

Carduelis yarrellii Pintassilgo-do-nordeste GRA - VU VU Euphonia pectoralis Ferro-velho FRU FA - - Euphonia chlorotica** Vem-vem FRU LC

Euphonia violacea** Guriatã FRU LC

EMBERIZIDAE

Ammodramus humeralis** Tico-tico-do-campo GRA LC

Emberizoides herbicola** Canário-do-campo GRA LC

Volatinia jacarina** Tiziu GRA LC

Sporophila nigricollis** Papa-capim GRA LC

Sporophila leucoptera** Patativa-chorona GRA LC

Arremon taciturnus** Tico-tico-do-bico-preto ONI LC

PARULIDAE

Basileuterus culicivorus** Pula-pula INS LC

Basileuterus flaveolus** Canário-do-mato INS LC

ICTERIDAE

Icterus cayanensis** Xexéu-de-bananeira ONI LC

Molothrus bonariensis** Papa-arroz ONI LC

Sturnella superciliaris** Feitor ONI LC

Curaeusforbesi Anumará ONI FA VU CR 150

Plano de Manejo da Estação Ecológica de Murici Diagnóstico da UC

ESTRILDIDAE

Estrilda astrild** Bico-de-lacre GRA LC

PASSERIDAE

Passer domesticus** Pardal ONI LC

CATHARTIDAE

Coragyps atratus** Urubu-de-cabeça-preta DETR LC

Cathartes burrovianus** Urubu-de-cabeça-amarela DETR LC

Fonte: Roda, 2005; Pinheiro, 2005.

151

Plano de Manejo da Estação Ecológica de Murici Diagnóstico da UC

A riqueza de espécies de aves da ESEC deve ir muito além da lista das espécies endêmicas ou ameaçadas apresentada na Tabela 28 acima, uma vez que no entorno imediato da ESEC Murici, especificamente na RPPN Vila D’água (Figura 1), composta por pequenos fragmentos florestais que somam 60 ha, um levantamento rápido da avifauna local (por ocasião da elaboração do Plano de Manejo da RPPN Vila D’água) identificou um total de 120 espécies de aves, bem diferentes daquelas identificadas na ESEC, pertencentes a 40 famílias, sendo as mais representativas Tyrannidae (18,3%), Thraupidae (8,3%) e Trochilidae (7,5%).

Duas espécies exóticas invasoras foram identificadas - o Pardal Passer domesticus e o Bico-de-Lacre Estrilda astrild . Enquanto o Bico-de-Lacre aparentemente não representa grandes riscos à avifauna nativa, o Pardal é considerado uma ameaça à biodiversidade local, uma vez que compete por espaço com espécies nativas. Duas espécies foram consideradas mais sensíveis às perturbações antrópicas locais - o Pica- pau-anão-canela Picumnus fulvescens e o Dançarino Chiroxiphia pareola . Também de acordo com este estudo, que deu suporte à elaboração do Plano de Manejo da RPPN Vila D’água, seis espécies são utilizadas para a caça: lambu-espanta-boiada Crypturellus parvirostris , a rolinha-caldo-de-feião Columbina talpacoti , a rolinha-branca Columbina picui , a fogo-apagou Columbina squammata e a juriti-gemedeira Leptotila rufaxilla e a juriti-pupu Leptotila verreauxi .

Somando as espécies registradas da ESEC e na RPPN, ocorrem, na região da UC, 167 espécies de aves (Tabela 28), número que deve ser alterado em função do recém iniciado trabalho de monitoramento da avifauna da região pelos pesquisadores da UFAL.

7.8.1.3. Herpetofauna

7.8.1.3.1. Répteis

Das 633 espécies de répteis ocorrentes no Brasil, 197 estão distribuídas na Mata Atlântica brasileira e 92 têm registro na Mata Atlântica de Alagoas, sendo duas espécies de quelônios, um crocodiliano, cinco cobras-de-duas-cabeças, 31 lagartos e 53 serpentes, distribuídas em 20 famílias.

Dentre as espécies registradas no Estado de Alagoas, quatro são endêmicas desta região: Bothrops muriciensis, Coleodactylus sp. nov., Lyotyphlops sp. nov. e Dendrophidion sp. nov. (Moura et al. , 2006), todas as quais já registradas nos limites da ESEC Murici (MMA, 2003). A espécie de Jararaca ( Bothrops muriciensis ), endêmica à região, recebeu esse nome por ter sido registrada pela primeira vez na Unidade. Hoje, estudos do Museu de História Natural da UFAL continuam a trabalhar na caracterização da população de serpentes desta espécie, visando o seu manejo.

Segundo Freire (2001), os remanescentes florestais abrangidos pela ESEC possuem alta relevância biológica e científica para o grupo dos répteis. Em caracterização da UC 152

Plano de Manejo da Estação Ecológica de Murici Diagnóstico da UC realizada pelo Ministério do Meio Ambiente (2003), foram definidas, a partir de dados secundários, as seguintes espécies de répteis como as mais representativas da região:

• Lagartos: Papa-vento ( Anolis fuscoauratus; Anolis ortonii; Anolis punctatus ), Enyalius catenatus ; Polychrus acutirostris ; Calangos ( Tropidurus hispidus; Tropidurus semitaeniatus; Tropidurus strobilurus ), lagartixas ( Bogertia lutzae; Coleodactylus meridionalis; Gymnodactylus darwinii, Hemidactylus mabouia ), calango-verde ( Ameiva ameiva ), Kentropyx cf. calcarata , teiú ( Tupinambis merianae ), Anotosaura sp. Nov. , Mabuya bistriata , Mabuya cf. macrorhyncha , Diploglossus cf. Fasciatus Diploglossus lessonae.

• Serpentes: Liotyphlops sp. Nov ., Typhlops brongersmianus , Typhlops cf. Paucisquamus , jibóia ( Boa constrictor ), jararaca-verde ( Bothrops bilineata ), jararaca ( Bothrops muriciensis ), coral-verdadeira ( Micrurus ibiboboca, micrurus lemniscatus ), surucucu pico-de-jaca ( Lachesis muta ) (ameaçada de extinção), Atractus maculatus , dendrophidion af. Dendrophis , Dipsas neivai , Leptodeira annulata , Falsas-corais ( Oxyrthopus guibei, Oxyrphopus petola, Oxyrhopus trigeminus ), Sibynomorphus neuwiedii , caninana ( Spilotes Pullatus ), Taeniophallus affinis , Taeniophallus occipatalis , Tantilla af. Melanocephala , Thipanurgos compressus , Xenodon rabdocephalus e Xenopholis cf. scalaris .

7.8.1.3.2. Anfíbios

Segundo Moura et al. (2006), 55 espécies de anfíbios, das 340 conhecidas para a Mata Atlântica, ocorrem nos remanescentes localizados no Estado de Alagoas. Dentre estas, seis são endêmicas desta região: Colosthethus alagoanus , Dendropsophus studerae , Physalaemus caete , Phyllodytes edelmoi, P. gyrinaethes e Chiasmocleis alagoanus; e uma consta na lista oficial de espécies ameaçadas do IBAMA - a perereca Hylomantis granulosa .

Além das espécies endêmicas mencionadas, o Ministério do Meio Ambiente (2003) define outras seis espécies de anfíbios como as mais representativas da ESEC Murici: Sapo-boi Bufo paracnemis , Corythomantis greeningi , Dermatonotus muelleri , a Perereca-verde Phyllomedusa hypocondrials , o Sapo-de-chifre Proceratophrys cristiceps e a gia-de-peito Leptodactylus labirynthicus , além de uma grande variedade de espécies de pererecas do Gênero Hyla .

Claramente, a ESEC Murici demanda pesquisas científicas que tenham como objeto de estudo a herpetofauna da região. Exceto pelo estudo de serpentes realizado pela equipe do Museu de História Natual da UFAL, não existem pesquisas com este grupo na região.

153

Plano de Manejo da Estação Ecológica de Murici Diagnóstico da UC

7.8.2. Invertebrados

Quase não existem estudos relatando a presença de invertebrados na ESEC Murici. O único trabalho realizado na área tendo esse grupo como alvo é um levantamento preliminar de aranhas Terafosídeas (Araneae, Mygalomorphae, Theraphosidae) (Bertani et al. , 2006). Neste trabalho, foram Instaladas armadilhas-de- queda (pitfall ), e realizadas coletas manuais diurnas e noturnas, vasculhando o substrato e a vegetação, revirando o folhiço, rochas, troncos e galhos caídos.

Foram encontradas onze espécies de migalomorfas, pertencentes a onze gêneros e cinco famílias (Tabela 29). Tabela 29. Lista de espécies de aranhas Terafosídeas (Araneae, Mygalomorphae, Theraphosidae) observadas na ESEC Murici, em Alagoas (Bertani et al. , 2006).

Família Gênero/espécie

ACTMOPODIDAE Actinopus sp. IDIOPIDAE Idiops sp DIPLURIDAE Diplura sp NEMESIIDAE Indef. THERAPHOSIDAE Lasiodora sp Subfamília Theraphosinae Proshapalopus multicuspidatus Indef. Packistopelrm sp Subfamília Avicuiariinae Iridopdma sp Oligoxystre sp Subfamília Ischnocolinae Indef.

Dentre as espécies amostradas, foram encontrados:

• 3 exemplares de Actinopus sp., conhecidas como aranhas-de-alçapão, que vivem em tocas construídas em barrancos, em cuja entrada constroem porta com terra e teia, bem camuflada. São comuns em quase toda a América do Sul. O estado atual do conhecimento taxonômico do gênero não permite a identificação da maioria das espécies. Dos dois gêneros de Idiopidae que ocorrem no Brasil, foi observado um deles, Idiops sp., que tem comportamentos similares aos de Actinopus sp.

• 15 exemplares de Diplura sp. Essas aranhas-caranguejeiras preenchem o espaço sob troncos caídos com teia. São encontradas com frequência em 154

Plano de Manejo da Estação Ecológica de Murici Diagnóstico da UC

áreas florestadas da América do Sul. Aparentemente existem 2 espécies na região, uma totalmente escura e outra com a carapaça avermelhada.

• 56 indivíduos de três subfamílias diferentes: Theraphosime, Avicularünae e Ischnocolinae, que foram capturados debaixo de pedras, entre folhagens ou troncos podres caídos ao chão, buracos em barrancos e na vegetação baixa. Theraphosidae é a família que contém o maior número de espécies (cerca de 900) no mundo. No Brasil foram descritas mais de 150 espécies. Existe grande variabilidade no tamanho das espécies, variando de l cm até 26 cm na espécie amazônica T heraphosa blondi , maior espécie de aranha conhecida. A taxonomia de Theraphosidae ainda é muito mal trabalhada, motivo pelo qual a identificação das espécies é ainda difícil.

• Uma aranha de interesse médico, a Aranha-Marrom ( Loxosceles sp.), cujos poucos exemplares encontrados estavam dentro de um tronco queimado. Esse gênero é um dos 3 de importância médica no Brasil, e pode provocar acidentes graves em humanos.

Outros Aracnídeos registrados na ESEC Murici

Além de aranhas da infra-ordem Mygalomorphae, foi registrada na ESEC Murici a presença de espécies de escorpiões: Tityus pusillus e Tityus sp., ambos da família Buthidae. A espécie Tityus sp. é muito interessante, e pode tratar-se de espécie nova ou então da espécie T. brazilae, conhecida somente do Sul da Bahia.

Ameaças à fauna

Além da ameaça da perda de habitat e fragmentação florestal, a caça e o atropelamento em rodovias são graves ameaças a algumas espécies de mamíferos da região (Moura et al. , 2006). De acordo com a caracterização socioeconômica realizada recentemente pela AMANE em comunidades no entorno da ESEC Murici (AMANE, 2011), os mamíferos que mais sofrem pressão de caça são: o Tatu, a Paca e o Guandu. As principais formas são de caça são a espera e a caça com armadilhas, inclusive com o uso do “cano”, arma de fogo rudimentar que dispara quando o animal passa por cima de um dispositivo que aciona o gatilho. Os principais pontos de ocorrência de caça foram mapeados recentemente nos limites da ESEC e estão ilustrados na Figura 46.

No caso das aves, a principal ameaça consiste em capturas com fins ornamentais. Para a captura, o mais comum é o uso do pio e de armadilhas do tipo alçapão, junto ao qual se coloca uma gaiola com um passarinho que serve de chama. Este tipo de caça abastece um mercado permanente de passeriformes canoros, alguns dos quais (e.g. Pintor-Verdadeiro – Tangara fastuosa ) constam em listas de espécies ameaçadas de extinção (MMA, 2002) e de um acordo contra a comercialização internacional de animais (CITES – www.cites.org ).

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Plano de Manejo da Estação Ecológica de Murici Diagnóstico da UC

Diante disso, a conservação de espécies de aves na região necessita, além da manutenção e restauração de áreas florestais e matrizes menos agressivas, de um maior investimento em educação ambiental para a população do seu entorno. Coibir a prática mencionada acima, de certa forma arraigada na cultura do homem do campo, vai exigir muita vigilância e um grande esforço de convencimento. É preciso, para quebrar a inércia cultural, fazer entender a importância biológica e econômica da permanência do animal vivo. Nesse sentido, o desenvolvimento de um turismo científico para observação de aves nativas, por exemplo, desde que bem orientado, pode ser uma alternativa importante para a região (SNE, 2004).

8. SITUAÇÃO FUNDIÁRIA

Segundo o Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC (Lei 9.985/00), as Estações Ecológicas têm como objetivo a preservação da natureza e a realização de pesquisas científicas, sendo de posse e domínio público, de forma que as áreas particulares inseridas em seus limites devem ser desapropriadas, de acordo com o que dispõe a lei. Apesar do que dispões a lei, nenhuma das propriedades particulares inseridas nos limites da ESEC Murici foi indenizada até o momento, de forma que apenas a estação da UFAL é de domínio público, ainda que não pertencente ao ICMBio.

Assim, a área da ESEC Murici é totalmente ocupada pelas fazendas e, em menor proporção, pela Estação de Pesquisa da Universidade Federal de Alagoas – UFAL, as quais, ao lado de dois assentamentos rurais - Ernesto Che Guevara (conhecido localmente como Pacas) e Dom Hélder - instalados no entorno imediato da Unidade (Figura 49), exercem constantes pressões sobre a mesma.

Além das propriedades devidamente registradas, a região abriga acampamentos irregulares estabelecidos por membros de movimentos rurais (Movimento dos Sem Terra – MST e Comissão Pastoral da Terra – CPT). Um exemplo disso pode ser observado no ponto em que a BR-101 margeia a ESEC Murici (Figura 29). Nesta área está prevista a duplicação da BR-101, o que deve acarretar o deslocamento dos acampados, fator que pode gerar inúmeros conflitos socioambientais e que representa uma ameaça à ESEC.

Diante deste cenário, a regularização fundiária consiste em uma etapa fundamental para uma efetiva implementação da ESEC Murici. Recursos financeiros já foram obtidos para dar início a este processo, de forma que, em breve, parte da Unidade será desocupada para a implantação das infraestruturas necessárias à gestão da UC. Entretanto, alguns fatores dificultam este processo. A definição dos limites das propriedades inseridas na região torna-se inviável em muitos casos, devido à inexistência de informações cartográficas, tanto no cartório e no INCRA, como no Instituto de Terras de Alagoas (ITERAL), delimitando as áreas destas. Segundo a SNE (1999), as certidões de propriedades presentes nestes órgãos contam apenas com informações informais, sendo as propriedades delimitadas por informações como: “... imóvel denominado Fazenda Águas Belas, situado neste município de Flexeiras, Estado

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Plano de Manejo da Estação Ecológica de Murici Diagnóstico da UC de Alagoas, com uma área ainda não calculada... cujos limites da escritura de desmembramento são os seguintes: partindo dos bambus existente (sic) na chã que divide as propriedades São João e Triunfo, passa pelo balde do Engenho Triunfo até encontrar uma cajazeira que fica perto da Serra...”. Somado a isto, enchentes recentes que ocorreram no município de Murici, assim como em outros municípios do CFM, levaram à perda de diversos documentos dos cartórios, dificultando ainda mais o processo de regularização fundiária na região.

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Figura 49. Situação Fundiária da ESEC Murici.

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Plano de Manejo da Estação Ecológica de Murici Diagnóstico da UC

9. INCÊNDIOS

Na região da ESEC, o fogo é utilizado principalmente no cultivo de cana-de-açúcar e na remoção de vegetação para a pastagem. Pode-se considerar a questão do incêndio preocupante, já que existem áreas de cana no entorno da UC e de pastagens tanto no entorno como no interior da ESEC Murici. Segundo a publicação do Ministério do Meio Ambiente “Plano Operativo de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais da Estação Ecológica de Murici”, elaborado em 2006, não há registros suficientes sobre as ocorrências de incêndios na região. O documento traz dados do histórico de ocorrência apenas em relação aos focos de calor de 1999 a 2006 (Figura 50). Neste período, o ano de 2005 foi o que apresentou maior número de focos de incêndio. O período anual de maior risco, de acordo com o documento, é a época seca, que vai de setembro a março. Neste período, para conter os incêndios, a ESEC Murici conta com uma equipe temporária de sete brigadistas treinada para as operações de controle e combate aos incêndios florestais. O grupo de brigadistas muda a todo ano, de forma a favorecer e envolver um maior número de pessoas da população local. Algumas usinas de açúcar da região também possuem brigadas de combate a incêndios.

Figura 50. Focos de calor próximos à Estação Ecológica de Murici - Alagoas, segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis. (adaptado de: IBAMA, 2006).

Mesmo com a equipe de brigadistas, eventualmente incêndios que ocorrem em áreas rurais invadem os fragmentos florestais da regiao. Estes incêndios ocorrem tanto no interior da ESEC, quanto no seu entorno imediato, e algumas áreas são reconhecidas como mais suscetiveis a instalacao e propagacaos dos incendios (Figura 51). O assentamento Ernesto Che Guevara (Pacas), por estar muito próximo à UC, ter um grande adensamento populacional e fazer o uso do fogo para a produção, foi uma das duas áreas consideradas de maior risco para a propagação do fogo pelo Plano Operativo (op. cit.). A segunda área apontada como crítica por ser uma área de intenso tráfego e acesso da população e eventuais turistas é a ponta leste da UC, por onde a BR-101 margeia a ESEC (Figura 51).

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Figura 51. Áreas críticas de ocorrência potencial de incêndios florestais na Estação Ecológica de Murici, Alagoas Fonte: IBAMA (2006).

Constituem áreas estratégicas para apoio ao combate aos incêndios os assentamentos Pacas e Dom Hélder, pois neles vivem ex-brigadistas já treinados para as atividades. Os diversos açudes e riachos que ocorrem espalhados por toda a UC são também locais estratégicos para o combate aos incêndios, pois representam pontos de captação de água de fácil acesso, quando necessário. Por sua vez, os acessos aos principais pontos onde normalmente ocorrem os incêndios são bastante facilitados, já que a maioria dos incêndios, quando ocorrem, se inicia em áreas fora das regiões de mata da UC.

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10. ASPECTOS INSTITUCIONAIS DA UNIDADE DE CONSERVAÇÃO

10.1. Pessoal

A ESEC Murici dispõe de dois servidores e cinco terceirizados para auxiliarem nas suas atividades de gestão, conforme listado na Tabela 30. Além desses, há disponibilidade de cargo de estagiário (a), a ser preenchido por estudante de curso superior devidamente selecionado. Tabela 30. Quadro de funcionários da ESEC Murici (dezembro de 2013).

Nome Vínculo Escolaridade Cargo/Função

Nelma Toledo Mendonça Servidor Mestrado Técnica Administrativa / Chefa Analista Ambiental / Chefe Walt Silva Sobrinho Servidor Especialização substituto

Patrícia Ribeiro da Silva Terceirizada Nível médio Serviços gerais

Jason Gonçalves da Silva Terceirizado Nível médio Vigilante Cícero B. de Souza Filho Terceirizado Nível médio Vigilante Itamar Ferreira da Silva Terceirizado Nível médio Vigilante Marcos Antonio dos Reis Terceirizado Nível médio Vigilante

10.2. Infraestrutura, Equipamentos e Serviços

O Instituto Chico Mendes para Conservação da Biodiversidade (ICMBio), instituição responsável pela gestão da ESEC Murici, não possui base física nos limites da Unidade. O único escritório está instalado em imóvel de 80m 2 alugado na zona urbana da cidade de Murici/AL, e apresenta uma estrutura precária com: sala que serve como recepção, dois cômodos pequenos que funcionam como escritório e alojamento, uma pequena cozinha, dois banheiros, garagem para um veículo, e pequeno quintal onde está instalada a torre para rádio-comunicação.

A ESEC Murici conta com poucos equipamentos para apoio às suas atividades de gestão, conforme listado na Tabela 31.

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Tabela 31. Equipamentos da ESEC Murici.

Equipamentos eletro-eletrônicos ou de Quantidade segurança e proteção pessoal Computadores 04 Notebooks 02 GPSs 04 (2 antigos e 2 novos) Facão 06 Lanterna 02

Para acesso à Unidade, o ICMBio conta com o apoio de três veículos 4x4, que auxiliam no transporte do gestor e demais servidores da Unidade e da brigada de incêndio que, no seu período de vigência (i.e. no verão), realiza rondas periódicas na área de abrangência da UC.

A sinalização dos limites da ESEC Murici é precária, devido à ausência de cercas que definam precisamente as suas fronteiras. Esta definição se demonstra difícil em decorrência do grande número de propriedades nos limites da UC. As poucas placas disponíveis para sinalização da Unidade são frequentemente derrubadas ou danificadas.

Para facilitar o acesso aos diversos pontos da ESEC, principalmente na realização de rondas periódicas e atividades de fiscalização, uma rede de estradas, no geral em boas condições de trafegabilidade, é mantida no interior da UC. Vale mencionar que o acesso à localidade denominada Bananeira pode se tornar intransitável em épocas de muita chuva.

A UC dispõe ainda de uma rede de telefonia fixa e radiocomunicação, instalada na sede (na zona urbana de Murici) e nos dois veículos. Para os brigadistas, também são disponibilizados equipamentos de proteção individual (EPI), assim como bombas d’água e abafadores para conter eventuais incêndios.

10.3. Estrutura Organizacional

A equipe gestora da ESEC é formada por somente dois servidores, que realizam as atividades internas (administrativas e técnicas) e externas (fiscalização etc.) individualmente ou em conjunto, a depender da complexidade da tarefa e da disponibilidade de ambos. Por vezes, há um estagiário para auxiliar nos trabalhos.

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10.4. Atividades de Gestão

10.4.1. Fiscalização

As atividades de fiscalização realizadas na ESEC Murici carecem de infraestrutura e recursos humanos. Pode-se dividir essas atividades em dois momentos ao longo do ano, de acordo com o período de contratação da brigada de incêndio.

Nos seis meses de contratação da Brigada, os sete brigadistas realizam rondas diárias em áreas pré-definidas da ESEC, atuando não somente na prevenção do fogo, mas também observando e comunicando à chefia da Unidade as possíveis infrações encontradas. Nos demais meses do ano, sob ausência da Brigada, a fiscalização, programada junto à Coordenação Regional 6, é feita com o auxílio do Batalhão de Polícia Ambiental, da Polícia Militar de Alagoas e atendendo denúncias. Vale mencionar que atualmente apenas a gestora da Unidade é portariada para as atividades de fiscalização.

10.4.2. Pesquisa

Apesar da riqueza física e biológica singular da Região da ESEC Murici, poucas pesquisas são realizadas na Unidade e no seu entorno imediato. Talvez devido à ausência de uma base de pesquisa na região, pesquisadores da UFPE e da UFAL em geral optam por realizar pesquisas em áreas próximas, que contam com alguma infraestrutura, como na Usina Serra Grande, no município de Ibateguara, adjacente à Região da ESEC Murici (Figura 1).

As primeiras pesquisas realizadas na região, com exceção de um levantamento florístico mais antigo (Lemos & Barros, 1993), consistiram em levantamentos da avifauna, realizados inicialmente pela BirdLife International (Wege & Long, 1995). Esses levantamentos indicaram a ocorrência de uma série de espécies criticamente ameaçadas, como o Limpa-Folha-do-Nordeste Philydor novaesi, que foram a principal motivação para a conservação do Complexo Florestal de Murici, e para a criação da ESEC Murici. Posteriormente, outros estudos (e.g. Roda, 2003) corroboraram a singularidade da avifauna da ESEC Murici, e a importância da região para conservação de biodiversidade (MMA, 2002).

Além da avifauna, levantamentos florísticos foram também realizados no início do processo de mobilização para criação da ESEC Murici, pela Sociedade Nordestina de Ecologia (SNE, 2000). A servidora Nelma Mendonça, atual chefa da ESEC, realizou, em 2004, um trabalho de pequisa em nível de mestrado, durante o qual foram registradas, na ESEC, 229 espécies arbóreas, sendo as famílias Myrtaceae, Lauraceae, Euphorbiaceae, Rubiaceae, Sapotaceae, Caesalpiniaceae e Mimosaceae as mais ricas em espécies. Tendo em vista a importância da estrutura da assembleia de plantas 163

Plano de Manejo da Estação Ecológica de Murici Diagnóstico da UC lenhosas, como fator determinante da dinâmica florestal e de outros grupos biológicos, faz-se necessário realizar novas pesquisas tendo como foco este grupo, incluindo inventários florísticos mais abrangentes e análises de processos ecológicos (e.g. dispersão de sementes) na Região da ESEC Murici. Estas pesquisas devem subsidiar o manejo da Unidade, com, por exemplo, a identificação dos principais focos de espécies exóticas invasoras, e dos locais com maior ocorrência de espécies endêmicas e ameaçadas de extinção. Além disso, a análise de processos ecológicos responsáveis pela manutenção de diversidade biológica deve fornecer informações essenciais para a recuperação de áreas degradadas no interior e entorno da ESEC.

Além das espécies de plantas lenhosas, o grupo das briófitas tem sido objeto de estudo de uma série de pesquisas na Região, realizadas por pesquisadores da UFPE, sob a coordenação da profª. Kátia Pôrto, autora de diversas publicações científicas (e.g. Alvarenga et al., 2009; Silva & Pôrto 2009, 2010; ver abaixo) e de livros (Pôrto et al., 2006; Pôrto et al., 2012) sobre a biodiversidade do complexo Florestal de Murici. Os trabalhos especificamente sobre briófitas têm abordado o problema da fragmentação florestal na Região. Os resultados gerais desse grupo de pesquisa demonstram que fragmentos pequenos e mais perturbados são em geral incapazes de manter populações de espécies com requerimentos específicos de habitat, como aquelas com gametófito pendente, que foram evidenciadas apenas no fragmento Bananeiras, o maior da Região.

No entorno imediato da ESEC Murici, a avifauna, assim como a assembleia de plantas de pequenos fragmentos florestais, foram caracterizadas em uma das atividades da elaboração do Plano de Manejo da RPPN Vila D’água. Estas pesquisas evidenciaram uma alta biodiversidade na região e agregaram informações para este Plano (Ver acima, Vegetação e Avifauna).

Em sua dissertação de mestrado, o ex-servidor da ESEC Murici, Henrique Vasques, analisou também a efetividade de manejo da Unidade, aplicando o método RAPPAM (Vasques, 2005). Entretanto, foi realizada uma única avaliação, de forma que análises temporais não puderam ser realizadas, de maneira a avaliar a evolução do processo de manejo da Unidade. Estas avaliações, apesar de subjetivas, podem ser eficientes dependendo da percepção do gestor em relação ao processo de manejo. Outras avaliações do RAPPAM foram também realizadas sob a coordenação do ICMBio, em 2005 e em 2010.

Atualmente, o Museu de História Natural da UFAL tem estudado a herpetofauna da ESEC Murici, caracterizando a população da espécie de Jararaca endêmica à região, a Bothrops muriciensis. Além disso, o ornitólogo, pesquisador da UFAL, Márcio Efe, tem retomado o monitoramento da avifauna da região, o que deve fornecer importantes subsídios para a gestão desse grupo na Unidade. Ações como a criação de uma base de pesquisa, e a instalação de parcelas permanentes para pesquisas ecológicas de longa duração em áreas prioritárias para conservação no interior da ESEC, poderiam alavancar o volume de pesquisas realizadas na região. Com isto, seria possível aperfeiçoar o processo de manejo da Unidade, a partir da definição de um novo planejamento, com base nas informações obtidas. 164

Plano de Manejo da Estação Ecológica de Murici Diagnóstico da UC

Além das pesquisas supracitadas, vem sendo realizadas outras pesquisas na Região da ESEC Murici, muitas das quais não foram ainda publicadas, tratando apenas de relatórios técnicos. Algumas destas pesquisas são listadas no Anexo I.

10.4.3. Integração com o entorno

Embora não ocorram com regularidade, as atividades de integração com as comunidades do entorno da ESEC incluem: palestras nas comunidades (assentamentos), visitas aos moradores e os cursos promovidos pela AMANE.

10.4.5. Visitação

De acordo com o SNUC, nas Estações Ecológicas são permitidas apenas visitações de caráter educacional. Nesse sentido, eventualmente ocorrem na ESEC Murici algumas atividades de educação ambiental. Por exemplo, a Organização de Proteção Ambiental – OPA, sob a coordenação do ornitólogo Sérgio Leal, realiza ocasionalmente atividades de observação de aves na ESEC com a população local. A AMANE, em parceria com a SAVE-Brasil, também realiza atividades de observação de aves nos fragmentos florestais da ESEC Murici, com crianças de escolas públicas. Alunos e professores da UFAL (de diferentes disciplinas) visitam esporadicamente a Unidade. Professores do Instituto de Educação de Murici (IFAL), por sua vez, tem demonstrado interesse em desenvolver atividades na ESEC visando demonstrar a existência e importância dessa Unidade de Conservação para os estudantes locais.

10.4.6. Atividades ou Situações Conflitantes presentes na ESEC Murici

Apesar das restrições impostas pela legislação competente quanto às atividades que podem ser desenvolvidas em Estações Ecológicas, muitas atividades que conflitam com os objetivos da ESEC Murici ainda são desenvolvidas no âmbito desta UC. Segundo o Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC (lei nº 9.985/00), só podem ser permitidas alterações dos ecossistemas em Estações Ecológicas no caso de:

I - medidas que visem à restauração de ecossistemas modificados;

II - manejo de espécies com o fim de preservar a diversidade biológica;

III - coleta de componentes dos ecossistemas com finalidades científicas;

IV - pesquisas científicas cujo impacto sobre o ambiente seja maior do que aquele causado pela simples observação ou pela coleta controlada de componentes dos ecossistemas, em uma área correspondente a no máximo três por cento da extensão total da unidade e até o limite de 1.500 hectares.

Além disso, essa mesma legislação proíbe a manutenção de áreas particulares no domínio da unidade e restringe a visitação pública àquelas com fins educacionais e de pesquisa. 165

Plano de Manejo da Estação Ecológica de Murici Diagnóstico da UC

Entretanto, o cenário que se observa na ESEC Murici não confere com as normas definidas para sua categoria. No território abrangido pela UC, diversas propriedades particulares são mantidas no local (Figura 49), além de diversas atividades com finalidades econômicas, como o cultivo de bananeiras e áreas de pasto (Figura 28).

Segundo censo demográfico realizado pela SNE (2004), as populações residentes em fazendas e assentamentos rurais localizados nos limites da ESEC Murici e no seu entorno imediato, exercem fortes pressões sobre os remanescentes florestais desta Unidade, no sentido de coleta de madeira para uso doméstico, seja como lenha ou para confeccionar casas, cercas e instrumentos de trabalho; caça, e coleta de pássaros com fins ornamentais. Do total de entrevistados por este censo, 78% afirmam ir à mata com alguma dessas finalidades. Os pontos sob maior pressão de caça e desmatamento foram devidamente identificados e mapeados (Figura 46).

Outro problema que ocorre na UC, devido entre outros fatores à carência de atividades de fiscalização na Unidade, é a presença constante de caçadores, muitas vezes provenientes da capital, Maceió, com o objetivo de coletar algumas espécies de aves e de caçar exemplares de mamíferos (cotia, paca, tatu etc.).

Grupos de turistas estrangeiros, sobretuto observadores de aves acompanhados de guias e oriundos de outras cidades brasileiras, já foram vistos adentrando a ESEC sem a devida permissão.

Por sua vez, a existência da estação de pesquisa da UFAL no interior da ESEC, onde está localizado um dos principais fragmentos florestais da UC (fragmento UFAL), promove a ocorrência de inúmeras espécies exóticas (AMANE, 2011) e a manutenção de cultivos de cana-de-açúcar para experimentação científica, que constituem ameaças à biodiversidade.

Embora não permitido, a presença de cachoeiras nos limites da Unidade, bem como no entorno, muitas vezes atrai turistas locais e pessoas da capital, que usufruem indevidamente dos recursos hídricos da Unidade.

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11. DECLARAÇÃO DE SIGNIFICÂNCIA

Localizada em Alagoas e constituindo Zona Núcleo da Reserva da Biosfera da Mata Altlântica, a ESEC Murici abriga um dos cinco maiores fragmentos remanescentes do Centro de Endemismo de Pernambuco - CEP, que contém uma das florestas mais ricas em biodiversidade e, ao mesmo tempo, mais ameaçadas 3 de toda Mata Atlântica e do mundo. Devido à barreira geográfica representada pelo Rio São Francisco, a flora desta porção da Floresta Atlântica possui fortes diferenças taxonômicas em relação às demais áreas deste bioma (Santos et al., 2007), com inúmeras espécies endêmicas (Pôrto et al. , 2006), representando uma área insubstituível para conservação.

Com 6.116 hectares, dos quais aproximadamente 3.788 são compostos por remanescentes florestais, a ESEC Murici é uma das 40 áreas prioritárias para a conservação da diversidade biológica, utilização sustentável e repartição dos benefícios da biodiversidade no Centro de Endemismo Pernambuco, sendo considerada de extrema importância biológica.

Diante do estado de ampla degradação e isolamento dos remanescentes de Floresta Atlântica localizados no CEP, com uma predominância de fragmentos menores que 100 ha (Ranta et al. 1998), os fragmentos da ESEC, que chegam a cobrir uma área de 2.629 ha (fragmento Bananeiras) (Oliveira 2007), desempenham importante papel na manutenção de espécies vegetais com requerimentos específicos de habitat, muitas das quais já foram extirpadas em fragmentos menores.

A composição florística dos remanescentes abrangidos pela ESEC Murici é bastante diversificada, e inclui, até o momento, 84 espécies, número que deve aumentar conforme os estudos na região avancem. De fato, levantando em consideração todos os levantamentos florísticos já realizados, foram registradas 199 espécies de plantas na Região da ESEC Murici. Tendo em vista que os remanescentes abrangidos pela ESEC Murici estão entre os de maior representatividade biológica da região, é de se esperar que sua comunidade vegetal seja composta por grande parte das espécies até o momento registradas na região.

Além das espécies de planta lenhosas, a região da ESEC Murici possui grande importância para a conservação das briófitas, devido à elevada riqueza da brioflora na região. Oliveira (2007) indica a ocorrência de 106 espécies de briófitas (56 hepáticas e 50 musgos) nos fragmentos da ESEC Murici, distribuídas em 21 famílias. Três das espécies registradas na ESEC são consideradas, segundo a autora, endêmicas do Brasil: Bazzania heterostipa, Cyclodictyon leucomitrium e Lejeunea cristulaeflora .

3 O Centro de Endemismo Pernambuco (CEP) contava, originalmente, com uma área florestada total estimada em 70.000 km², restando, após o avanço dos ciclos econômicos, em torno de 2% da sua cobertura original, divididos em pequenos fragmentos florestais (Viana et al. 1997; Ranta et al . 1998). 167

Plano de Manejo da Estação Ecológica de Murici Diagnóstico da UC

Além da composição florística diversificada, um dos aspectos de maior relevância para conservação da região da ESEC Murici é o contato da Floresta Ombrófila Densa com a Floresta Estacional numa mesma unidade geológico-geomorfológica, sendo esta última caracterizada por uma dupla estacionalidade climática. Apesar de formações florestais estacionais não serem observadas nos limites da ESEC Murici, são evidenciadas nos limites de abrangência da Zona de Amortecimento proposta para a UC.

Do total de espécies de mamíferos registradas em todo o domínio da Mata Atlântica, 69 têm ocorrência confirmada na Mata Atlântica de Alagoas (Moura et al. , 2006), das quais quatro possuem o status de “vulneráveis” na lista nacional de espécies da fauna brasileira ameaçadas de extinção: a jaguatirica Leopardus pardalis , o gato-do- mato Leopardus tigrinus , a suçuarana Puma concolor e o morcego Platyrrhinus recifinus (Moura et al. , 2006). Além destas, espécies como o guariba Alouatta belzebul e o Tamanduaí Cyclopes didactylus também se encontram seriamente ameaçadas de extinção na região, apesar de não constarem na lista nacional de espécies ameaçadas (Moura et al. , 2006). Quanto à classificação global de espécies ameaçadas de extinção da IUCN, P. concolor e A. belzebul possuem o status de “vulnerável”.

Apesar de nem todas as espécies supracitadas terem sido observadas na ESEC Murici, é de se esperar que grande parte delas ocorra nos limites da Unidade, uma vez que os fragmentos florestais que a compõem estão entre os únicos na região que possuem tamanhos compatíveis com o espaço requerido por mamíferos de médio e grande porte.

No âmbito do Complexo Florestal Murici – CEP (conjunto de remanescentes florestais existentes na APA Murici, incluindo aqueles presentes na Estação Ecológica), a ESEC Murici constitui a área com maior concentração de espécies de aves endêmicas e/ou ameaçadas de extinção, com 52 espécies de sob algum grau de endemismo ou de ameaça. Das 52 espécies registradas na ESEC Murici, 25 são consideradas endêmicas ao CEP e outras 23 à Floresta Atlântica; e 38 espécies apresentam algum risco de extinção. Diante deste cenário, a ESEC Murici é classificada como uma das 16 Áreas Importantes para a Conservação das Aves – IBA da Mata Atlântica (do inglês, Important Bird Area – área de atuação prioritária da BirdLife International e da Sociedade para a Conservação das Aves do Brasil – SAVE Brasil), sendo considerada o local com a maior quantidade de espécies de aves ameaçadas de extinção das Américas (Wege & Long, 1995), assim como uma das áreas mais importantes para a conservação de aves da região neotropical (Roda, 2005).

Das 633 espécies de répteis ocorrentes no Brasil, 197 estão distribuídas na Mata Atlântica brasileira e 92 têm registro na Mata Atlântica de Alagoas. Dentre as espécies registradas no Estado de Alagoas, quatro são endêmicas desta região: Bothrops

168

Plano de Manejo da Estação Ecológica de Murici Diagnóstico da UC muriciensis 4, Coleodactylus sp. nov., Lyotyphlops sp. nov. e Dendrophidion sp. nov. (Moura et al. , 2006), todas as quais já registradas nos limites da ESEC Murici (MMA, 2003), o que confirma a alta relevância biológica da Unidade para o grupo dos répteis .

Segundo Moura et al. (2006), 55 espécies de anfíbios, das 340 conhecidas para a Mata Atlântica, ocorrem nos remanescentes localizados no Estado de Alagoas. Dentre estas, seis são endêmicas desta região: Colosthethus alagoanus , Dendropsophus studerae , Physalaemus caete , Phyllodytes edelmoi, P. gyrinaethes e Chiasmocleis alagoanus; e uma consta na lista oficial de espécies ameaçadas do IBAMA - a perereca Hylomantis granulosa . Além das espécies endêmicas mencionadas, o Ministério do Meio Ambiente (2003) define outras seis espécies de anfíbios como as mais representativas da ESEC Murici: Sapo-boi Bufo paracnemis , Corythomantis greeningi , Dermatonotus muelleri , a Perereca-verde Phyllomedusa hypocondrials , o Sapo-de- chifre Proceratophrys cristiceps e a gia-de-peito Leptodactylus labirynthicus , além de uma grande variedade de espécies de pererecas do Gênero Hyla .

Por fim, reforçando ainda mais a importância da ESEC Murici no âmbito da conservação ambiental, a Unidade possui em seus limites diversos riachos e nascentes (e.g. dos rios Jitituba e Bulangi) relativamente bem conservados, que fazem parte das bacias dos rios Mundaú e Camaragibe, os quais abastecem uma série de municípios da Região da UC.

4 A espécie de jararaca Bothrops muriciensis , endêmica à região, recebeu esse nome por ter sido registrada pela primeira vez na ESEC Murici. 169

Plano de Manejo da Estação Ecológica de Murici Diagnóstico da UC

12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Plano de Manejo da Estação Ecológica de Murici Diagnóstico da UC

ANEXO I

Pesquisas realizadas na ESEC Murici

• Pesquisas Publicadas :

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- Oliveira, J. R. P. M. de.; Pôrto, K. C. 2007. Composição, riqueza e padrões de distribuição das hepáticas (Marchantiophyta) epífitas da Estação Ecológica de Murici, AL, Brasil. Revista Brasileira de Biociências 5: 1041 – 1043.

- Pinheiro, A. I. L. 2005. Caracterização florística e fitossociológica da cobertura arbórea da Serra do Ouro, Estação Ecológica de Murici/AL. Dissertação de Mestrado - UFAL.

- Renga, L.; Oliveira, J.; Silva, M.; Costa, S. & Pôrto, K. 2007. Liverworts of Alagoas. Acta Botanica Brasilica 21: 349-360.

- Silva, M, & Porto, K.C. 2009. Effect of fragmentation on the community structure of epixylic bryophytes in Atlantic Forest remnants in the Northeast of Brazil. Biodiversity and Conservation 18: 317-337.

- Silva, M, & Porto, K.C. 2010.Spatial structure of bryophyte communities along an edge-interior gradient in an Atlantic Forest remnant in Northeast Brazil. Journal of Bryology 32: 101-112.

180

Plano de Manejo da Estação Ecológica de Murici Diagnóstico da UC

- Vasques, H. C. F. 2009. Avaliação da Efetividade de Manejo da ESEC Murici/Alagoas. Dissertação de mestrado – UFAL.

• Pesquisas não-publicadas:

- Composição, taxonomia, diversidade e considerações zoogeográficas sobre a fauna de lagartos e serpentes de remanescentes da Mata Atlântica do estado de Alagoas (2001).

o Pesquisador (a): Eliza Maria Xavier Freire – UFRN

- Diversidade de briófitas e efeito de borda em fragmentos de Floresta Atlântica: Pernambuco/Alagoas (2005).

o Pesquisador (a): Kátia Pôrto – UFPE

- Sistemática e Zoogeografia de aranhas Terasofídeas neotropicais (Araneae, Mygalomorphae, Theraphosidae) (2006).

o Pesquisador (a): Rogério Bertani.

- Impacto da fragmentação do habitat nas comunidades de briófitas e epífilas em remanescentes de Floresta Atlântica (Pernambuco/Alagoas) (2006).

o Pesquisador (a): Shirley Rangel Germano.

- Levantamento da areneofauna da Estação Ecológica de Murici (2006).

o Pesquisador (a): Nancy França Lo Man Hung.

- Mamíferos dos remanescentes de Floresta Atlântica do Nordeste brasileiro (2007).

o Pesquisador (a): Alexandre Reis Percequillo.

- Monitoramento de aspectos ecológicos e demográficos de briófitas em sítios prioritários para conservação da Floresta Atlântica (2008).

o Pesquisador (a): Kátia Pôrto – UFPE.

- Briófitas como indicadores do estado de conservação de remanescentes de Floresta Atlântica (Estação Ecológica de Murici, Alagoas) (2008).

o Pesquisador (a): Kátia Pôrto – UFPE.

• Pesquisas em andamento:

• Taxonomia alfa de Momotus momota (Linneaus, 1766). 181

Plano de Manejo da Estação Ecológica de Murici Diagnóstico da UC

o Instituição responsável: Museu Nacional (UFRJ).

• Revisão Sistemática do Grupo de Espécies de Physalaemus signifer (Girard, 1853) (Amphibia, Anura, Leiuperidae).

o Instituição responsável: Museu Nacional (UFRJ).

• Filogeografia de passeriformes da Mata Atlântica.

o Instituição responsável: Universidade de São Paulo – Instituto de Biociências.

• Determinando os limites de espécies no gênero Neotropical Pyriglena (Thamnophilidae, Aves): uma análise integrativa com caracteres vocais, morfológicos e moleculares.

o Instituição responsável: Universidade de São Paulo – Instituto de Biociências.

• Caracterização e estudo funcional da secreção cutânea de Leptodactylus vastus A. LUTZ, 1930 (Anura, Leptodactylidae).

o Instituição responsável: UFPE - Universidade Federal de Pernambuco.

• Sistemática do gênero Proceratophrys Miranda-Ribeiro, 1920 com base na morfologia das larvas e nas vocalizações (Amphibia; Anura; Cycloramphidae).

o Instituição responsável: UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro.

• Sistemática e análise filogenética de Epiperipatus Clark, 1913 baseada em dados moleculares e morfológicos (Onychophora: Peripatidae).

o Instituição responsável: Universidade de São Paulo.

• Biota de Orthoptera do Brasil.

o Instituição responsável: UFV - Universidade Federal de Viçosa.

• Sistemática Filogenética de Hylodidae (Amphibia, Anura).

o Instituição responsável: Universidade de São Paulo - Instituto de Biociências.

• Diversidade e uso de habitat mamíferos na Estação Ecológica de Murici, Alagoas, Brasil.

o Instituição responsável: Universidade Federal de Alagoas.

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Plano de Manejo da Estação Ecológica de Murici Diagnóstico da UC

• Monitoramento e conservação de aves endêmicas e ameaçadas do Centro Pernambuco.

o Instituição responsável: Universidade Federal de Alagoas.

• Taxonomia alfa do grupo específico Tangara cyanocephala (Müller, 1776) (Aves: Passeriformes: Emberezidae).

o Instituição responsável: UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro.

• Herpetofauna da Estação Ecológica de Murici - Mata da Bananeira (Murici - AL, Brasil): diversidade, conservação e endemismos.

o Instituição responsável: Universidade Federal de Alagoas.

• História natural e o status da anurofauna da Estação Ecológica de Murici, Alagoas, quanto à infecção pelo fungo Batrachochytrium dendrobatidis .

o Instituição responsável: Universidade Federal de Alagoas.

• Filogenia de Elaeniinae (Aves: Passeriformes: Tyrannidae) com base em evidências fenotípicas.

o Instituição responsável: UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

• Revisão taxonomia de Dioscoreaceae sect. Apodostemon na America do Sul.

o Instituição responsável: Universidade Estadual Paulista (PE).

• Ecologia funcional de briófitas no nordeste brasileiro: história natural, padrões e processos relativos à reprodução.

o Instituição responsável: UFRRJ - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

• Padrões de diversidade de leguminosas nos biomas brasileiros: ligando taxonomia e moléculas para o entendimento da evolução da biota do Brasil.

o Instituição responsável: Universidade Estadual de Feira de Santana.

• Flora Fanerogâmica do Estado de Alagoas.

o Instituição responsável: Universidade Federal de Alagoas.

• Diversidade Florística, Conservação e Limites da Floresta Atlântica no Nordeste do Brasil.

o Instituição responsável: UFPB - Universidade Federal da Paraíba.

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Plano de Manejo da Estação Ecológica de Murici Diagnóstico da UC

• Sistemática e Conservação de Bromeliaceae.

o Instituição responsável: Museu Nacional (UFRJ).

• Revisão, Filogenia, Evolução e Biogeografia de Amorimia (Malpighiaceae).

o Instituição responsável: Universidade Federal de Feira de Santana.

• Biodiversidade e Bioprospecção de Micro-organismos associados a diferentes biomas no estado de Alagoas.

o Instituição responsável: Universidade Federal de Alagoas.

• A família Balanophoraceae no Brasil.

o Instituição responsável: Jardim Botânico do Rio de Janeiro – Instituto de Pesquisa.

• Estudos biogeográficos em florestas submontanas na Mata Atlântica do Nordeste visando a ampliação do conhecimento biológico e a modelagem da distribuição potencial de espécies numa perspectiva conservacionista.

o Instituição responsável: UFPB - Universidade Federal da Paraíba.

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