Cooperação empresarial: um estudo do cluster industrial moveleiro de

Autoria: Marcio José Rebelatto, Milton Luiz Wittmann

RESUMO Este trabalho identifica e descreve estratégias de cooperação entre empresas do cluster industrial moveleiro de Coronel Freitas/SC, estabelecendo uma relação entre grau de confiança, ações coletivas locais e respectivos resultados alcançados, conforme as ações desenvolvidas pelas empresas na cadeia de valor do produto. Na fundamentação teórica, o trabalho apresenta uma discussão sobre a dinâmica competitiva empresarial como resultado do processo de cooperação interempresas locais e os fatores históricos e sócio-econômicos como responsáveis pela localização da atividade moveleira no município de Coronel Freitas. Para o desenvolvimento deste trabalho foi utilizado o método de pesquisa descritivo a partir de uma pesquisa empírica aplicada através de questionários com perguntas fechadas à amostra das empresas. Como resultado identificou-se um baixo grau de confiança dos empresários e, por isso, a insuficiência das ações cooperativas na geração de vantagem competitiva na cadeia de valor.

INTRODUÇÃO Este trabalho teve como objetivo identificar e descrever estratégias de cooperação entre empresas no aglomerado industrial do setor do mobiliário em Coronel Freitas/SC. Estabeleceu-se uma relação entre as ações coletivas realizadas pelos empresários locais e os resultados alcançados, conforme as funções desenvolvidas pelas empresas na cadeia de valor do produto, segundo Casarotto e Pires (1998). São apresentados alguns resultados da pesquisa que faz parte da dissertação de mestrado1 realizada pelo autor. Antes de apresentar os resultados da pesquisa de campo é feito um referencial teórico sobre a dinâmica competitiva como resultado do processo de cooperação entre empresas locais. Em segundo lugar são apresentados os fatores históricos e sócio-econômicos que demarcaram a localização da atividade moveleira na região de localização do município de Coronel Freitas. Após, são analisados o grau de confiança, as ações conjuntas realizadas e os resultados destas na cadeia de valor das empresas. O objeto de análise foi um conjunto de empresas do setor do mobiliário localizadas no aglomerado industrial do município de Coronel Freitas. Para o desenvolvimento deste trabalho foi utilizado o método de pesquisa descritivo a partir da análise de uma pesquisa empírica aplicada através de questionários com perguntas fechadas à amostra das empresas. Segundo Gil (2002), a pesquisa descritiva tem como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações entre variáveis. Conforme Marconi e Lakatos (1986), a amostragem utilizada foi a não-probabilística por ‘juris’, pois foram utilizados critérios de seleção para a escolha das empresas. O estudo foi focalizado em organizações industriais do setor moveleiro que possuem móveis com a predominância de madeira, com cinco anos de existência ou mais. O município de Coronel Freitas contém 352 empresas fabricantes de móveis, das quais 25 com produtos predominantes em madeira e destas, 13 com idade igual ou superior a cinco anos. Esses critérios foram utilizados com o objetivo de tornar a amostra mais homogênea e tendo em vista o horizonte da pesquisa, quanto ao grau de confiança e a participação conjunta em ações na cadeia de valor nos últimos cinco anos.

1 A dinâmica competitiva empresarial Nas últimas três décadas do século XX, a cooperação empresarial tem sido incorporada a inúmeros exemplos de sucesso no mundo dos negócios. Cada vez mais a postura de enfrentamento tem dado espaço às alianças empresariais com o objetivo de sobreviver na complexidade da economia contemporânea. A nova economia mundial apresenta fatores externos (globalização da concorrência, a diversidade dos gostos dos consumidores, o avanço de novas tecnologias e o amadurecimento dos mercados) e internos (assimilação de novas tecnologias, produtos capazes de atender satisfatoriamente os consumidores, facilidade de acesso a novos mercados e necessidade de acesso ao conhecimento) que configuram um novo panorama competitivo mundial. É por estes fatores que a cooperação entre empresas tem-se tornado uma estratégia de competitividade no mercado com o objetivo de alcançar e manter a vantagem competitiva (GONZÁLEZ, 2003). Para Duarte (1998), cooperação é entendida como uma associação de forças que institui relações baseadas na reciprocidade de vantagens, na procura conjunta de inovações, na partilha de recursos e competências com vistas a um objetivo comum, seja específico ou geral. É uma opção estratégica quando o mercado exige especialização e domínio do conhecimento nas áreas financeiras, tecnológica, de gestão e informação de mercado. Amato Neto (2000) considera que a cooperação entre empresarial tem como objetivo básico a viabilização de uma série de necessidades das empresas, que individualmente não conseguiriam satisfazer. Entre essas necessidades o autor destaca: combinar competências e utilizar know-how de outras empresas; dividir o ônus de realizar pesquisa tecnológica; partilhar riscos e custos de explorar novas oportunidades de negócios; oferecer linhas de produtos de qualidade superior e diversificada; exercer maior pressão no mercado; compartilhar recursos e fortalecer o poder de compra. Da série de necessidades das empresas já citadas anteriormente, a cooperação interempresarial desenvolve papel central quando busca combinar competências que facilitem a inovação tecnológica, pois, a competitividade, em mercados cada vez mais dinâmicos, exige das empresas capacidade de responder ativamente as novas exigências do consumidor. Dessa forma, a capacidade de gerar inovação e difundi-la no território local/regional é condição básica para o desenvolvimento da competitividade empresarial em nível nacional e internacional. A sinergia coletiva de governos, comunidade e agentes produtivos, são fatores propulsivos no sentido de preparar o capital humano para aumentar a sua capacidade de transformação e de aceitação de inovações tecnológicas no território. No contexto da especialização flexível, em que a estratégia está voltada ao aperfeiçoamento contínuo do produto e a atenção à inovação, à mão-de-obra treinada e adaptável e a atmosfera inovadora é fator central na manutenção do dinamismo dos aglomerados produtivos. No estudo realizado por Sengenberger e Pike (2002), revela-se que a estratégia dos distritos industriais italianos atribui imenso valor à qualidade da força de trabalho e das relações entre os níveis hierárquicos. A adaptabilidade do distrito depende da existência de uma força de trabalho flexível, a qual deve ser implementada no intuito de conseguir versatilidade ativa e não maleabilidade passiva. Os governos, nos planos nacional e local, têm um papel vital no desenvolvimento de economias regionais, pois, é mais uma instituição de apoio e fomento na rede interinstitucional de suporte aos aglomerados produtivos. Para Schimitz (1992) apud Sengenberger e Pike (2002), a importância das instituições governamentais está centrada na possibilidade de expandir as potencialidades econômicas de uma região, através da provisão de infra-estrutura para instalação de centros de serviços, e na introdução de inovações em aglomerações locais já existentes ou não.

2 O empresário que faz parte de um ambiente de negócios com forte espírito de cooperação entre empresas, sente-se mais seguro em investir no local, pois, sabe que a comunidade necessita de sua perícia e da capacidade produtiva (SENGENBERGER e PIKE, 2002). Para tanto, a confiança é a base para a formação de redes de negócios, afirma Amato Neto (2000), porque permite que parceiros respeitem os compromissos assumidos entre as empresas pertencentes à determinada rede, viabilizando um certo equilíbrio entre cooperação e competição. O sucesso de um cluster , quando persiste, incentiva a capacidade de inovação criada pelo próprio local, o qual afeta a vantagem competitiva influenciando sobre a produtividade(PORTER, 1999), pois a concentração geográfica de firmas fornecedoras e consumidoras diminui o tempo de feedback para as inovações. No âmbito de um cluster, segundo Amato Neto (2000), um próprio processo de inovação, são as empresas que surgem a partir de outras, quando ex-funcionários de empresas do setor constituem seus estabelecimentos tendo por base o conhecimento técnico e gerencial adquirido no trabalho anterior. O desenvolvimento desse tipo de firma, para Sengenberger e Pike (2002), esta fortemente apoiado no processo de aprendizagem gerencial desenvolvida na relação entre trabalhadores e empresários, porque é através dessa relação que o empregado tem a oportunidade de aprender na prática a dirigir um negócio. Conforme os mesmos autores, as chances de êxito de um empreendimento, cuja criação está relacionada organicamente a ampla divisão de trabalho em uma comunidade de negócio, é muito maior dado o risco que representa entrar em um novo negócio. Para Casarotto e Pires (1998), as redes de empresas e as relações sólidas de cooperação de longo prazo servem de suporte estratégico operativo às pequenas empresas que buscam a vantagem competitiva. As empresas devem realizar o esforço em institucionalizar instrumentos que assumam parcialmente as funções de gerência e coordenação da sua cadeia de valor. Um dos instrumentos muito utilizado nos distritos industriais italianos é o consórcio horizontalizado3 que tem, entre outras, a finalidade de incrementar a produtividade e a qualidade da produção através da permanente inovação tecnológica. O consórcio é o agente propulsor no desenvolvimento de novas tecnologias e na sua aplicação em produtos e processos e, para isso, ele tem abertura para estabelecer redes externas de cooperação com universidades, centros de pesquisa, poder público e outras instituições de suporte tecnológico. No entanto, a difusão de novas idéias (inovação) em um aglomerado empresarial, segundo Santos (2003), depende do seu espaço geográfico e do corpo social a ele inerente, pois, serão tão bem sucedidas quanto maior forem as redes interpessoais existentes internamente. Essas redes, na qual os indivíduos desempenham um papel central, poderão ser fechadas a um grupo dificultando a circulação da informação que será propriedade exclusiva deste. Dessa forma, o efeito da proximidade poderá ser um facilitador, porém, sem as relações interempresariais, que promovam a intensa troca de informações e de conhecimento entre as partes, a difusão da inovação tecnológica enfrentará sérios obstáculos.

2 Fatores históricos e sócio-econômicos da atividade moveleira na Região da Amosc/SC4 O povoamento regional ocorreu em fases distintas desde da primeira penetração de grupos humanos até os processos migratórios a partir de 1917. O primeiro povo a habitar a região foi o indígena até meados do século XIX, o qual foi pacificado com a atuação dos padres missionários, da colônia militar e de outras expedições, os quais desenvolviam atividades de subsistência como, o corte da erva-mate e o tropeirismo. A fase posterior de colonização, caracterizou-se pela penetração de migrantes, na sua maioria de origem italiana e alemã, marcando o início e consolidação das relações capitalistas de produção, através dos projetos de colonização e exploração madeireira.

3 As atividades produtivas, desenvolvidas pela pequena propriedade familiar, desencadearam uma série de atividades comerciais e de prestação de serviços, que foram a base da divisão social do trabalho na região, entre estas, a atividade da exploração madeireira. Em 1940, a região Oeste contava com mais de uma centena de firmas madeireiras, o que facilitou à constituição da Sociedade Madeireira Xapecoense com o objetivo de amparar a classe dos madeireiros (Bellani, 1995). A indústria do mobiliário, no período do início da colonização (a partir de 1920), até meados do século XX (1960), atendia basicamente a demanda local dos povoados com móveis a residências e a instituições de ensino, religiosas, entretenimento e empresas. A matéria-prima (madeira) era abundante e uma boa parte dos povoados tinha seu marceneiro5. A abundância de matéria-prima e a habilidade em marcenaria dos imigrantes instalados na Região foram os fatores que determinaram a localização da atividade de exploração e beneficiamento da madeira na Região. Contudo, o setor do mobiliário se manteve estável até a década de 1980, quando pelo menos três eventos impulsionaram o seu crescimento. Segundo Geremia (2004) os eventos foram: i) a maturação das condições técnicas e de capital de diversas empresas existentes, permitindo a ampliação dos mercados e da capacidade produtiva, ii) as condições econômicas estáveis do país a partir do início dos anos de 1990 motivaram novos empreendedores a constituírem novos estabelecimentos, iii) o grande aumento das exportações de móveis no Brasil a partir de 1989. No período de 1994 a 2002 (oito anos) o setor moveleiro obteve um incremento de mais de 330% no número de estabelecimentos e mais de 306% do pessoal ocupado na região, sendo que, sua concentração estava localizada em quatro municípios, Chapecó, Coronel Freitas, Pinhalzinho e . Estes municípios somavam em 2002 cerca de 82,46% do número de estabelecimentos e 93,37% do pessoal ocupado da região no setor. Dentre estes, os que apresentaram maior evolução do número de estabelecimentos foram, Coronel Freitas (440%) e Nova Erechim (450%). A fabricação de móveis com predominância de madeira que, é uma divisão do setor do moveleiro6, predomina na região com aproximadamente 87% do total dos estabelecimentos e, na sua maioria, o destino desses móveis são residenciais. Quanto ao tamanho dos estabelecimentos, há um predomínio da micro e pequena empresa com aproximadamente 90% do número dos estabelecimentos (Rais, 2002 apud Banco de Dados Unochapecó).

3 Caracterização do Município de Coronel Freitas O município de Coronel Freitas está localizado na região da Amosc/SC, a 24 Km da cidade de Chapecó, com uma área geográfica de 234,4Km2 e população de 10.535 habitantes, destes cerca de 42,65% vivem no meio urbano. A colonização do município, a exemplo da região da Amosc, teve início em 1929, com a vinda de agricultores gaúchos atraídos pelas companhias colonizadoras com a oferta de terras produtivas e abundância das matas, cuja emancipação foi em 19617. Em Coronel Freitas a dinâmica de constituição do aglomerado industrial teve início ao final da década de 1980 e se intensificou a partir dos meados dos anos de 1990. O movimento de criação de empresas, no primeiro momento, foi em busca de sanar a crise que assolava o município durante a década de 1980. Crise esta deflagrada nos principais setores econômicos do município que era a agropecuária e o comércio. A ação para constituição de empresas, foi através da ação coletiva de empresários, associação comercial, SEBRAE/SC e Prefeitura Municipal. A partir dessa ação a comunidade local começou vislumbrar novas oportunidades de negócios, principalmente, no ramo moveleiro, o qual já existia e mostrava sinais de recuperação com a nova ordem econômica nacional no início dos anos 90. Na tabela 01 é possível visualizar como foi a evolução do número de estabelecimentos e do pessoal ocupado no setor do mobiliário no período de 1980 a 2002.

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Tabela 01 - Evolução do número de estabelecimentos e pessoal ocupado no setor do mobiliário no aglomerado Coronel Freitas - 1980/2002

Itens CORONEL FREITAS 1980 1994 1998 2002 N° de estabelecimentos 06 10 31 54 Pessoal ocupado 35 115 387 680 Fonte: IBGE, Censo Industrial (1980) e Rais, 1994/1998/2002 apud Banco de dados Unochapecó.

O aglomerado moveleiro obteve maior crescimento no período 1994 a 2002 quando o número de empresas e de pessoal ocupado aumenta em aproximadamente cinco vezes. Atualmente o setor do mobiliário é a segunda atividade com maior valor adicionado no município e emprega cerca de 80% do pessoal ocupado da indústria de Coronel Freitas.

4 Resultados da pesquisa 4.1 Grau de confiança entre empresas O primeiro questionamento sobre confiança buscava verificar qual era a percepção dos empresários com relação à evolução do grau de confiança na comunidade local, nos últimos cinco anos (2000-2004). Para este questionamento, cerca de 31% responderam que melhorou e um número significativo(46%) responderam que piorou. Para direcionar a medida da confiança entre os empresários locais na realização de negócios no setor do mobiliário e de sua cadeia produtiva, foram formuladas três afirmações relativas ao grau de concordância dos empresários: i) Pode-se confiar na maioria dos empresários desta localidade; ii) Nesta localidade é preciso estar atento ou alguém pode tirar vantagem de você; iii) Nesta localidade, os empresários confiam uns nos outros quanto a emprestar dinheiro. As afirmações i e iii são favoráveis à confiança, portanto quanto mais o empresário concordasse maior seria seu grau de confiança. Por outro lado, concordar com a questão ii significa um baixo grau de confiança, pois, essa questão se referia ao oportunismo que estaria presente na comunidade de negócio, refletindo um sentido contrário à confiança. A tabela 2 apresenta a combinação da freqüência (em percentual) para cada afirmação e o grau de concordância e o cálculo do índice que varia de 0 a 1. O somatório dos índices referentes às afirmações foi bem inferior à pontuação máxima (3 pontos) que poderia ser obtido, demonstrando o baixo grau de confiança entre os empresários locais. Tabela 2 – Grau de confiança entre os empresários locais Afirmações Discordo Discordo Concordo Concordo Índice8 Totalmente Parcialmente Parcialmente Totalmente % % % % i) Pode-se confiar na maioria dos 23 23 46 8 0,46 empresários desta localidade. ii) Nesta localidade é preciso estar 8 8 70 14 0,36 atento ou alguém pode tira vantagem de você. iii)Nesta localidade, os empre- 38 38 15 9 0,32 sários confiam uns nos outros quanto a emprestar dinheiro . Somatório=> 1,14 Fonte: Pesquisa de campo.

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As causas para tal comportamento desfavorável à confiança, por parte dos empresários pesquisados, poderão ser oriundas das atividades associativas realizadas no passado e que foram negativas ou que não surtiram resultados satisfatórios aos objetivos individuais das empresas. O autor Fukuyama (2000) considera que as interações constantes e realizadas no longo prazo permitem que as pessoas construam reputações, por honestidade ou por traição merecedoras de confiança ou não. Para ele, o altruísmo recíproco tem maior probabilidade de se desenvolver em grupos que experimentem interações repetidas e relativamente longas e que os indivíduos tenham condições de distinguir entre os colaboradores e traidores. Esse indicador de confiança entre os empresários locais é importante para compreender a dinâmica das ações conjuntas realizadas na cadeia de valor das empresas. A confiança é elemento central na articulação planejada dos agentes econômicos locais para a formação de alianças estratégicas que visam enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades de negócios do mundo moderno (Casarotto e Pires, 1998).

4.2 Ações coletivas realizadas pelos empresários locais Esta parte da pesquisa buscou identificar a freqüência de participação dos empresários em atividades cooperativas nos últimos cinco anos (2000-2004). Os empresários eram solicitados a responderem se, nos últimos cinco anos, realizaram ou não as ações coletivas apontadas pelo pesquisador. As ações foram divididas conforme as funções de uma cadeia de valor descritas por Lewis (1992) apud Casarotto e Pires (1998), onde as funções iniciais principais são: desenvolvimento de novos produtos e aquisições de matérias-primas; as principais funções finais são: marketing e a logística; as principais funções intermediárias e de gestão são: a implantação e gestão da qualidade, a produção compartilhada e capacitação de recursos humanos. A pesquisa não teve como objetivo avaliar todas as funções que compõem uma cadeia de valor, contudo foram divididas em três áreas (funções iniciais, finais e intermediárias/gestão) para facilitar a análise quando identificadas separadamente. Na figura 1 foram apresentadas freqüências de participação dos empresários em cada uma das atividades apontadas no questionário.

Venda em conjunto de produtos 77% Participação conjunto em feiras 85% Apresentação de reinvindicações em comum 77% Capacitação de recursos humanos 31% Participação em programas de qualidade total e 31% certificações Desenvolvimento do design do produto 23% Atividades Desenvolvimento de produtos em parceria 8% Compra em conjunto de matérias-primas 46% 0% 20% 40% 60% 80% 100% %

Fonte: Pesquisa de campo Figura 1 - Participação das empresas do aglomerado Coronel Freitas em ações conjuntas nos últimos cinco anos (2000-2004)

Conforme figura 1, as ações que mais foram realizadas pelas empresas estão relacionadas à fase final da cadeia de valor do produto: venda em conjunto de produtos e participação em feiras. Essas atividades são mais propensas ao compartilhamento não 6 significando grande obstáculo à cooperação, pois, elas geram benefícios comuns a todos facilitando a distribuição dos produtos e promoção da marca e do produto das empresas como um todo. Por outro lado, as ações intermediárias (com exceção da apresentação de reivindicações em comum) e inicial obtiveram pouca freqüência de participação das empresas, todas abaixo de 50%. As atividades coletivas realizadas que contribuem para a formação de valor na etapa final da cadeia de valor de uma empresa, a participação em conjunto em feiras e a venda em conjunta de produtos respectivamente, apresentaram uma freqüência de participação de 85% e 77% do número total de empresas. A venda em conjunto é entendida como qualquer atividade que compreenda o compartilhamento de um canal de comercialização, transporte integrado e estrutura de armazenagem compartilhada. O que ficou visível é que na maioria das empresas que responderam favorável a realização de tal atividade, a que mais se destacou foi o transporte compartilhado. O transporte compartilhado é prática muito freqüente entre as empresas do aglomerado devido ao porte dos estabelecimentos e às características dos consumidores, pois, quando os lotes de venda são reduzidos os fretes encarecem ou aumentam o prazo de entrega. Um exemplo típico são as cozinhas pré-montadas, as quais ocupam um grande espaço e possuem pouco valor agregado por item e, muitas vezes, são transportadas para locais distantes e em poucas quantidades. Se a empresa for fretar uma transportadora só para seu produto o custo do frete ficará elevado. Então a alternativa é completar a carga com outros produtos de outras empresas que tenham a mesma região de venda. Neste caso a diversidade dos produtos do aglomerado contribui para ações desse tipo, porque quando os produtos são complementares a concorrência entre os empresários9 é menor. A participação conjunta em feiras está relacionada ao compartilhamento de espaço para exposição na feira e propaganda conjunta dos produtos do aglomerado. Como se verifica na figura 1, é uma prática muito freqüente dos empresários. Atualmente a Mercomóveis (Feira de Móveis de Chapecó/SC) está entre as melhores feiras do sul do país e já está na sua quarta edição. Para as empresas da região a Mercomóveis representa uma importante oportunidade de mostrar os seus produtos para o país e o mundo. A feira possui o foco mais voltado para o mercado doméstico e é realizada nos anos pares, geralmente no terceiro trimestre do ano. A última edição da Mercomóveis (4° edição 2004) contou com a participação de 110 expositores das regiões do Norte do Rio Grande do Sul, Sudoeste do Paraná e Oeste Catarinense. Os resultados, segundo alguns empresários do aglomerado entrevistados, foram muito animadores e muitos deles conseguiram fechar grandes negócios com clientes nacionais e até mesmo internacionais. A apresentação de reivindicações em comum obteve boa freqüência de participação das empresas. Esse tipo de ação tem como objetivo beneficiar a todos os sócios indiscriminadamente, como por exemplo, a solicitação de área para distrito industrial ao governo municipal ou moções para redução de impostos ao setor industrial. Esse tipo de atividade, que visa atender aos direitos dos empresários, é considerada com um bem público e é facilmente aceita pela maioria dos empresários promovendo um maior engajamento dos mesmos. A atividade de desenvolvimento de produtos em parceria com empresas locais foi pouco praticada pelas empresas do aglomerado, apenas 8%. O fato de os empresários trabalharem em conjunto no desenvolvimento de novos produtos gera uma concorrência entre os mesmos, principalmente quando os produtos são semelhantes. Significa que o empresário da mesma localidade ficará sabendo dos segredos de produção do outro empresário, ou seja, se a desconfiança prevalece nas relações interpessoais as alianças e parcerias não irão ocorrer. A causa da pouca participação dos empresários nesta atividade está relacionado ao baixo nível de confiança depositado entre os empresários, conforme foi apresentado na tabela 2.

7 A terceira atividade, relacionada à primeira etapa de uma cadeia de valor da empresa, desenvolvimento do design do produto contratando profissional especializado na área para prestação de serviços em mais de uma empresa, não é uma prática das empresas no setor moveleiro de um modo geral. O percentual de empresas que já realizaram atividades deste tipo foi de apenas 23%. Apesar de ainda não ser uma prática da maioria dos empresários locais, a contratação de profissional de design, em 2002 havia 12 empresas da Região Oeste que participavam no Núcleo de Desenvolvimento de Design, apoiados por técnicos de São Bento do Sul e do Promóvel10. Conforme a designer Daniela11, que iniciou a trabalhar na região em 1998, o profissional era visto como um desenhista de móveis objetivando facilitar logística e transporte, sem atentar para a qualidade e o design do móvel. Ela verificou que as empresas trabalhavam com a matéria-prima MDF super valorizada, mas com desenho que pouca agregava valor. Foi um trabalho difícil convencer o pessoal da fábrica que um bom desenho poderia valorizar o produto, mas, a partir da primeira experiência bem sucedida, com um modelo da Linha infanto-juvenil lançado na 1° Feira Mercomóveis, os empresários passaram a ver o profissional de designer com outros olhos. A Amoesc12 chegou a enviar Laura Gransotto à Escola Politécnica de Milão, na Itália, para realizar curso de design. Ela passou a introduzir novos conceitos na indústria moveleira do Oeste, estimulando outros empresários a investirem na tecnologia e no profissional. Portanto, o design só não é mais valorizado na Região e no aglomerado em análise, porque há resistência dos empresários às inovações e, até mesmo, dos próprios funcionários. Outro fator ainda que explica a baixa agregação do design ao produto é o perfil do mercado consumidor, que por sua vez, exige móveis mais baratos e menos sofisticados. Esse é o produto fabricado pela maioria das empresas do aglomerado, fabricantes de móveis com predominância de madeira e produção em série. A compra em conjunto de matéria-prima e componentes tem como objetivo diminuir o preço final do produto, contribuindo para aumentar o quociente valor/preço. Comprando em conjunto as empresas conseguem escala de compra e com isso diminuem o preço de compra e o nível de estoque, desobrigando-as de comprar individualmente em larga escala, com conseqüente custo de armazenamento. Em Coronel Freitas cerca de 46% já participaram da compra conjunta de matéria-prima. A pouca participação nesta ação demonstra que, por não haver uma coordenação dentro do aglomerado, as empresas deixam de estabelecer vantagem competitiva na cadeia de valor comparado a outras empresas fora dos aglomerados. A realização do programa de qualidade total, em conjunto com outras empresas, foi realizado no aglomerado por coordenação da Associação Comercial em parceria com o Sebrae. O percentual de participação, das empresas da amostra, é baixo nesta atividade, apenas 27%. O programa realizado por consultores do Sebrae tem como metodologia a realização de duas fases: uma em forma de cursos em sala de aula, onde são discutidos conceitos e trabalhado com as ferramentas da qualidade e outra que é a prática, em que os participantes vão para algumas empresas escolhidas, no grupo, para verificarem a aplicação das ferramentas da qualidade. As empresas, de um modo geral, que participam de um programa de qualidade desse nível mantêm os preceitos da teoria e continuam a fazer a prática, por isso, representa uma importante ação coletiva na melhoria da qualidade de processo e produtos. As ações coletivas que visam à capacitação dos recursos humanos, é outra atividade de relevância à indústria moveleira, pois, na maioria das vezes é necessário um número mínimo de pessoas para que um treinamento seja viável. Para essa atividade apenas 30% das empresas já participaram coletivamente de treinamento da mão-de-obra. Conforme Gorini (2000), a capacitação da mão-de-obra no contexto atual de modernização do parque fabril do setor moveleiro é fator chave para competir no mercado. No Brasil os centros de formação de mão- de-obra estão localizados nos principais pólos moveleiros, enquanto nas regiões onde ainda

8 não se constituem como pólos a capacitação do pessoal ocupado é baixa. Em Coronel Freitas já existiu até o ano de 2002, uma marcenaria municipal que era mantida pela prefeitura municipal e tinha como objetivo capacitar trabalhadores para a indústria moveleira, atualmente ela está desativada.

4.3 Resultados obtidos com as ações coletivas Na tabela 2 é demonstrado o grau de importância atribuído aos resultados obtidos com as ações coletivas realizadas pelos empresários indicados no item anterior. Para medir o nível de eficiência das ações sobre resultados esperados na cadeia de valor do produto, foi estabelecida uma escala para quantificar o grau de importância que é composta de quatro graduações: nenhuma importância (peso 0), pouca importância (peso 0,33), média importância (peso 0,66) e muita importância (peso 1). Os itens avaliados foram divididos em três sub-índices: um relacionado aos resultados esperados na etapa inicial da cadeia de valor, o segundo a etapa intermediária ou de gestão da cadeia e o terceiro a etapa final na cadeia de valor. Com relação ao primeiro subíndice (etapa inicial) há quatro resultados esperados: desenvolvimento de novos produtos, redução nos custos dos insumos e introdução de inovações tecnológica, melhoria nas condições de fornecimento de matéria-prima. Para o segundo subíndice (etapa intermediária/gestão) há quatro resultados esperados: melhoria na qualidade dos produtos, melhoria nos processos produtivos, melhoria na capacitação dos recursos humanos, redução nas despesas administrativas. Para o terceiro sub-índice (etapa final) há quatro resultados esperados: promoção do nome ou da marca da empresa, redução nos custos de comercialização, novas oportunidades de negócios e maior inserção da empresa no mercado externo. A divisão seguiu o modelo proposto por Casarotto e Pires (1998) o qual fez adaptações do modelo de Porter (1992). Segundo este último autor, dependendo dos objetivos da análise as atividades na cadeia de valor poderão ser dimensionadas de diferentes formas, portanto, como o objetivo do trabalho proposto por Casarotto era investigar as atividades que poderiam ser desenvolvidas por consórcios horizontais, a pesquisa proposta neste trabalho coincide com o modelo proposto pelo mesmo. A tabela 3 demonstra indicadores de importância atribuída, pelo empresário, aos resultados esperados, ou seja, quanto maior for o grau de importância que ele atribuir a um determinado resultado esperado maior foi a eficiência das ações coletiva realizadas. Utilizando-se de um número índice, o estudo apontou 12 resultados possíveis com as ações coletivas, portanto, a pontuação máxima a ser obtida era de 12 pontos, ou quatro pontos para cada etapa na cadeia de valor. O escore final, somando os indicadores para cada item avaliado, foi de apenas 4,456, demonstrando a pouca importância das ações coletivas realizadas pelas empresas nos últimos cinco anos, na geração de vantagem competitiva na cadeia de valor da empresa.

9 Tabela 3 – Importância atribuída aos resultados esperados com as ações coletivas realizadas pelos empresários. Etapas na Resultados esperados com a cooperação Indicador de cadeia de valor importância* Melhoria nas condições de fornecimento de matérias-primas 0,408 Desenvolvimento de novos produtos 0,305 Inicial Introdução de Inovações tecnológicas 0,280 Redução nos custos de aquisição dos insumos 0,281 Melhoria na qualidade dos produtos 0,432 Melhoria nos processos produtivos 0,483 Intermediária ou Melhoria na capacitação de recursos humanos 0,305 de gestão Redução nas despesas administrativas 0,127 Promoção do nome ou da marca da empresa 0,562 Novas oportunidades de negócios 0,561 Final Maior inserção da empresa no mercado externo 0,178 Redução nos custos de comercialização 0,534 Somatório=> 4,456 Fonte: Pesquisa de campo * Cálculo do indicador de importância = (0*n°empresas nenhuma importância + 0,33*n°empresas pouca importância + 0,66*n°empresas média importância + 1*muita importância)/n°empresas entrevistadas (13). O indicador possui uma escala de 0 a 1, quanto mais próximo de 1 maior é o grau de importância das ações sobre os resultados possíveis na cadeia de valor.

Os resultados esperados na cadeia de valor da empresa que obtiveram melhor êxito com as ações coletivas foram os relativos à fase final, ou seja, promoção do nome e da marca da empresa, novas oportunidades de negócios e redução nos custos de comercialização. Na etapa inicial da cadeia de valor, os resultados esperados na melhoria dos produtos e processos obtiveram pouco êxito, todos os indicadores ficaram abaixo de 0,50. O mesmo grau de importância, abaixo de 0,50, foi obtido para todas as atividades na etapa intermediária e de gestão. Dos itens avaliados na etapa final da cadeia de valor empresarial, o que obteve maior escore foi o ‘promoção do nome ou da marca da empresa’ com indicador de 0,562. Essa prática esta fortemente relacionada à capacidade da empresa realizar propaganda do seu produto e conseqüentemente da marca. A pequena empresa isolada possui grandes dificuldades de desenvolver essa atividade porque ela exige elementos humanos altamente capacitados para esta função que, na maioria das vezes, é inviável manter pelo porte dos negócios da empresa. Uma das estratégias para suprimir esta dificuldade é a realização de propaganda conjunta, fortalecendo a marca local com uma imagem de competência e qualidade dos produtos. Em Coronel Freitas há ações neste sentido, principalmente, quando as empresas do aglomerado participam de feiras nacionais. São confeccionados catálogos padronizados com o slogan ‘CORONEL FREITAS: Caminho certo dos móveis’, o qual também está sendo utilizado num grande painel no trevo entre a SC 468 e BR 282, dando as boas vindas a quem passará pela cidade. São pequenas iniciativas, mas que para os empresários é visto como um bem comum, fruto de esforço conjunto e tem proporcionado resultados positivos, mesmo que modestos, a todas as empresas moveleiras do aglomerado. O indicador de 0,561 para ‘novas oportunidades de negócios’, é proveniente da participação em feiras em conjunto, como também na participação em missões de negócios. Essa atividade cooperativa foi realizada por 85% das empresas pesquisadas. A Feira de Móveis de Chapecó (Mercomóveis) é hoje uma grande oportunidade para as pequenas empresas locais, pois a proximidade permite que os custos de participação sejam reduzidos. Na feira realizada em agosto de 2004 houve uma ação conjunta dos empresários, Associação Comercial (ACICF) e Prefeitura Municipal para viabilizar a participação do máximo possível de empresas moveleiras. A Associação Comercial foi a coordenadora dessas atividades, a

10 Prefeitura subsidiou uma parcela do aluguel dos estandes e os empresários se articularam para facilitar o transporte dos móveis e na montagem dos estandes. Algumas empresas, quando foram pesquisadas no final de novembro, já estavam cancelando pedidos porque não tinham mais capacidade produtiva para atendê-los até o final do ano e muitos desses negócios foram fechados na feira em Chapecó. Os resultados foram positivos demonstrando que as ações coletivas neste sentido podem alavancar vantagem competitiva dos aglomerados, quando viabiliza a participação de mais empresas em rodadas de negócios e feiras. A redução dos custos de comercialização obteve indicador de 0,534, refletindo a freqüência de participação das empresas na venda em conjunta, cerca de 77%. A principal atividade desenvolvida em parceria pelas empresas no aglomerado é o compartilhamento do transporte, a qual é prática bastante utilizada. Essa atividade ajuda a reduzir custos, aumentando a margem de contribuição da empresa individual, portanto é vista como complementar e não como concorrente, facilitando a cooperação entre empresários. O transporte dos móveis em Coronel Freitas, para a maioria das empresas, é terceirizado a transportadoras dentro do próprio aglomerado ou fora dele. É comum observar a movimentação dos empresários em dias de expedição quando se forma uma verdadeira rede de informações para o fechamento de carga a ser transportada a determinada região. A ‘inserção das empresas no mercado externo’ apresentou resultados bem inferiores ao item anterior. Justifica-se esta diferença porque são poucas as empresas do aglomerado que vendem para o exterior, atualmente somente 9% do faturamento13 das empresas pesquisadas em 2004 corresponde à exportação. A venda das empresas pesquisadas, predominantemente, tem destino aos estados do sul e centro oeste do país. Foi atribuída pouca importância às ações coletivas que visavam o ‘desenvolvimento de novos produtos’, ou seja, o indicador foi de apenas 0,305. As ações vão desde a simples troca de idéias sobre desenvolvimento de novos produtos até a combinação sistematizada de conhecimento e estrutura física na formação de um mix de produtos para venda em mercados nacionais ou internacionais. O relato de um empresário que participou conjuntamente com outro no desenvolvimento de produto para exportação destaca a importância que tal atividade significou para a sua empresa, pois só assim é que conseguiu desenvolver um mix de produto à exportação, onde cada empresa fabricou seu produto como parte de um projeto único e em conjunto. Obtiveram bom êxito com a ação realizada, mas, a mesma não foi duradoura, servindo apenas para atender a uma demanda específica num período determinado e sem um contrato formal de parceria firmado entre as empresas. A introdução de inovações tecnológicas depende indiretamente de todas as ações que são desempenhadas na cadeia de valor de uma empresa, porém ela depende diretamente das ações coletivas realizadas na etapa inicial da cadeia de valor. Essas ações, como poder ser observado na figura 1, foram pouco realizadas pelas empresas. Elas necessitam de bom grau de confiança entre os empresários para que aconteçam, pois as informações sobre produtos e processos, que pode ser identificado pelo ‘saber fazer’ ou ‘capital intelectual’, em boa parte das empresas é estratégia de diferenciação no mercado e, portanto, representam importante fator de vantagem competitiva perante o seu concorrente. Se as empresas se vêem como concorrentes num determinado território, com certeza haverá dificuldade de romper a resistência à cooperação. É verdade que as inovações não dependem somente da cooperação interempresas locais, mas da cooperação com clientes, fornecedores e vendedores. Em muitos casos são estes últimos os grandes geradores de inovação, porque estão em constante contato com os clientes e conseguem estabelecer os elos da cadeia de valor da empresa com a empresa do cliente. Além destes, a participação das Associações Comerciais como promotoras e aglutinadoras dos objetivos comuns tem se mostrado como importante elemento na geração e difusão das inovações tecnológicas. São elas as coordenadoras de importantes

11 projetos e ações coletivas envolvendo a comunidade local e empresários com outras instituições (de pesquisa e desenvolvimento de produtos) e comunidades. Os resultados obtidos na redução dos custos dos insumos são extremamente importantes para a pequena empresa, pois reduzindo custos ela conseguirá aumentar a sua margem tornando-a mais competitiva quando a sua vantagem estiver baseada no custo. O grau de importância atribuído a este resultado obtido foi baixo, apenas 0,201, demonstrando a pouca eficiência da cooperação neste caso. Já para a melhoria no fornecimento de matérias-primas (melhor qualidade, menor prazo de entrega, quantias adequadas diminuindo a necessidade estocagem) a qual estava relacionada também a compra em conjunto de matéria prima e componentes, foi mais importante aos empresários do que a anterior, conforme o indicador de 0,408. No conjunto de empresas que participaram de tal atividade sempre há aquelas que conseguem obter melhores resultados em função de uma melhor programação e das circunstâncias específicas da situação. Nem sempre o que é bom para a maioria será bom para uma empresa em particular, pois, cada uma tem sua cadeia de valor com funções sendo desenvolvidas tecnologicamente diferentes, ou seja, o que as diferencia é o como são feitas as operações. A melhoria da qualidade do produto e dos processos fazem parte das funções de produção e de gestão do negócio, porém são dependentes das atividades iniciais na cadeia de valor. Para que o produto tenha uma boa qualidade final é necessário, a melhoria nas condições de geração e difusão de inovação, seja em processo ou em produto, e boa qualidade da matéria-prima e qualificação da mão-de-obra. O indicador que aponta os grau de sucesso das ações de cooperação sobre a ‘melhoria da qualidade dos produtos’, foi de 0,432, refletindo os resultados obtidos na etapa inicial da cadeia de valor. Esta tendência se apresenta novamente para os resultados com ‘melhoria nos processos produtivos’, sobre o qual o indicador foi de 0,483. Esses indicadores demonstram que não é significativa a disposição dos empresários à cooperação para aumentar a capacidade de inovação de suas empresas, geralmente a inovação é externa. Como foram apontadas na tabela 2, as ações que visam capacitar colaboradores em conjunto com outras empresas foram pouco realizadas pelos empresários, apenas 31% das empresas realizaram tais atividades. Para as empresas que compartilharam treinamentos os o grau de importância na melhoria dos recursos humanos foi pouco significativo, com indicador de 0,305. A mão-de-obra no setor do mobiliário, na Região Oeste como um todo, ainda é pouco qualificada comparada a outros pólos industriais do setor. Em primeiro lugar, porque a falta de qualificação é relativa a não existência de centro tecnológico da indústria moveleira, como os encontrados nos principais pólos moveleiros como: Cetemo (Bento Gonçalves/RS), Cetmam (São José dos Pinhais/PR) e Fetep (São Bento do Sul/RS). Atualmente, quando houver necessidade de capacitar pessoal em atividades técnicas da indústria, geralmente as empresas enviam seus colaboradores para estes centros. Por outro lado, se houver uma ação organizada e coletiva poderá ocorrer a vinda de profissional e instrutores ao município para atender a necessidade de treinamento a um grupo de colaboradores. Esse tipo de ação em Coronel Freitas estava acontecendo nos dias que estava sendo realizado a pesquisa, cuja ação, segundo a ACICF, fazia muito tempo que não ocorria na cidade, a qual foi organizada e coordenada pela associação.

12 CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste estudo verificou-se o grau de importância atribuído, pelos empresários do setor do mobiliário do aglomerado industrial de Coronel Freitas/SC, aos resultados alcançados com as ações coletivas realizadas entre as empresas, tendo como variáveis de controle a confiança e a cooperação. De modo geral constatou-se que os empresários do aglomerado têm percebido poucos resultados com as ações realizadas coletivamente com outros empresários. Foram avaliados 12 indicativos de resultados possíveis de se obter na cadeia produtiva com as ações coletivas realizadas e a pontuação ficou bem abaixo desse valor (4,456), demonstrando a pouca eficiência das ações coletivas realizadas. Verificou-se que, dependendo do grau de confiança entre os empresários, as atividades realizadas em conjunto com outras empresas do aglomerado possuem freqüências distintas em cada uma das etapas da cadeia de valor. Foi possível identificar também que a eficiência das ações sobre os resultados esperados, em cada uma das etapas da cadeia, possui graus de importância diferenciados na visão de cada empresário. A maior eficiência das ações coletivas foram sobre as etapas finais na cadeia de valor do produto, pois, as atividades nesta etapa não necessitam de alto grau de confiança entre os empresários. São ações que visam oferecer um serviço ou produto comum a todos sem que algum deles se beneficie as custas dos outros e, por isso, a propensão à cooperação e obtenção de resultados positivos é mais visível. Na fase inicial da cadeia de valor do produto, as ações e seus resultados são inferiores a etapa final, pois, as atividades que a compõem estão relacionadas à capacidade de inovação das empresas. Para que as empresas desenvolvam a capacidade de inovação em conjunto é necessário que haja bom grau de confiança entre os empresários locais, porque o conhecimento técnico e gerencial é a matéria-prima para a inovação de processos e produtos e quando não é socializado a todos os participantes facilita o ganho a empresas oportunistas. Pela desconfiança entre os empresários apresentados nos indicadores da tabela 2, fica visível a pouca importância atribuída a tais atividades na etapa inicial. Com relação aos baixos números índices referentes à etapa intermediária ou de gestão da cadeia de valor, é válido fazer a relação aos resultados obtidos com a etapa inicial, pois, estão fortemente relacionadas entre si, quando as atividades da etapa inicial refletem sobre a etapa intermediária e de gestão. Os indicadores, nas três etapas da cadeia de valor, refletem a insuficiência das ações cooperativas na geração de vantagem competitiva na cadeia de valor das empresas, deixando evidências de que não há uma cultura de cooperação entre os empresários locais, pois, se vêem como concorrentes e não como parceiros e, por isso, não mantêm relações cooperativas duradouras, o que não possibilita alcançar vantagens substanciais perante as empresas não integradas a um aglomerado industrial.

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13 DUARTE, Teresinha. Cooperação Comercial: uma estratégia de competitividade. Lisboa: GEPE(Gabinete de Estudos e Prospectiva Econômica do Ministério da Economia), 1998. FUKUYAMA, Francis. A grande ruptura: a natureza humana e a reconstituição da ordem social. Rio de Janeiro: Rocco, 2000. GEREMIA, Fabiano. Dinâmica competitiva e processos de aprendizagem do arranjo produtivo moveleiro da região oeste de Santa Catarina. Dissertação de Mestrado. Florianópolis: UFSC, 2004. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2002. GONZÁLEZ, Lydia. Cooperación y Empresas: retos, presente y futuro. Madrid/Espana: Thomson, 2003. GORINI, Ana Paula Fontenelle. A indústria de móveis no Brasil. Leitura Moveleira 2. São Paulo: Abimóvel, 2000. MARCONI, M. de A.; LAKATOS, E. M. Técnicas de pesquisa. São Paulo: Atlas, 1986. PORTER, Michael E. Competição on competition: estratégias competitivas essenciais. 4 º ed. Rio de Janeiro: Campus, 1999. ______. Vantagem Competitiva: criando e sustentando um desempenho superior. Tradução de Elizabeth de Pinho Braga. Rio de Janeiro: Campus, 1992. RAIS,; Relação anual de informações sociais. Ministério do Trabalho e do Emprego. 1994/1998/2002. SANTOS, Milton. Economia espacial: críticas e alternativas. Tradução: Maria Irene de Q. F. Szmrecsányi. 2.ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2003. SENGENBERGER, W.; PIKE F. Distritos Industriais e recuperação econômica local: questões de pesquisa e de política. In: URANI, A.; COCCO, G.; GALVÃO, A. P. (orgs.). [tradução: Frederic Monié et alli]. Empresários e empregos nos novos territórios produtivos: o caso da Terceira Itália. 2. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.

1 A dissertação foi aprovada em 28/04/2005. 2 Fonte: Prefeitura Municipal de Pinhalzinho (2004). 3 Consórcio em que todos fazem o mesmo produto (queijo de uma variedade). Nessa caso, o consórcio pode assumir a aquisição do leite, marca do produto para grandes lotes de vendas, exportações, marca regional e tutela de qualidade (CASAROTTO E PIRES, 2002, p. 46). 4 Associação dos Municípios do Oeste de Santa Catarina (AMOSC) é uma microrregião do Oeste Catarinense, fundada em 1968 e com 20 município atualmente: Águas de Chapecó, Águas Frias, , Chapecó, , Coronel Freitas, , Guatambu, Irati, Jardinópolis, Nova Erechim, , Pinhalzinho, , Quilombo, São Carlos, , , Sul Brasil e União do Oeste. 5 Denominação a quem trabalha na produção de móveis de madeira e outros produtos. 6 O setor de fabricação de móveis e indústrias diversas é uma sub-divisão dos macro-setores da economia, na classificação do CNAE (1995). A fabricação de artigos do mobiliário é uma divisão do anterior, sendo classificado como um sub-setor que possui divisões conforme a tipo de produto. 7 Fonte: Prefeitura Municipal de Coronel Freitas, 2001. 8 Para as questões i e iii foi utilizado a seguinte fórmula para cálculo do índice= (0*%discordo totalmente + 0,33*%discordo em parte + 0,66*%concordo em parte + 1*%concordo totalmente). Para a afirmação ii o cálculo foi = índice = (0*%concordo totalmente + 0,33*%concordo em parte + 0,66*%discordo em parte + 1*%discordo totalmente). Quanto mais próximo de 1 maior será o grau de confiança. 9 No aglomerado de CEF é possível identificar vários tipos de produtos como: jogos de cozinha, mesas e cadeiras, dormitórios, estofados, raques, móveis para banheiro e camas. 10 Programa Brasileiro de Incremento à Exportação de Móveis.

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11 A designer Daniela Ferro Gil foi quem desenvolveu a linha infanto-juvenil da empresa Enele. Sensação na 1° edição da Mercomóveis. (Revista Móveis de Valor, edição especial, agosto de 2002). 12 Associação dos Moveleiros do Oeste de Santa Catarina. 13 Fonte: Pesquisa de campo.

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