Um Estudo Do Cluster Industrial Moveleiro De Coronel Freitas – Santa Catarina

Um Estudo Do Cluster Industrial Moveleiro De Coronel Freitas – Santa Catarina

Cooperação empresarial: um estudo do cluster industrial moveleiro de Coronel Freitas – Santa Catarina Autoria: Marcio José Rebelatto, Milton Luiz Wittmann RESUMO Este trabalho identifica e descreve estratégias de cooperação entre empresas do cluster industrial moveleiro de Coronel Freitas/SC, estabelecendo uma relação entre grau de confiança, ações coletivas locais e respectivos resultados alcançados, conforme as ações desenvolvidas pelas empresas na cadeia de valor do produto. Na fundamentação teórica, o trabalho apresenta uma discussão sobre a dinâmica competitiva empresarial como resultado do processo de cooperação interempresas locais e os fatores históricos e sócio-econômicos como responsáveis pela localização da atividade moveleira no município de Coronel Freitas. Para o desenvolvimento deste trabalho foi utilizado o método de pesquisa descritivo a partir de uma pesquisa empírica aplicada através de questionários com perguntas fechadas à amostra das empresas. Como resultado identificou-se um baixo grau de confiança dos empresários e, por isso, a insuficiência das ações cooperativas na geração de vantagem competitiva na cadeia de valor. INTRODUÇÃO Este trabalho teve como objetivo identificar e descrever estratégias de cooperação entre empresas no aglomerado industrial do setor do mobiliário em Coronel Freitas/SC. Estabeleceu-se uma relação entre as ações coletivas realizadas pelos empresários locais e os resultados alcançados, conforme as funções desenvolvidas pelas empresas na cadeia de valor do produto, segundo Casarotto e Pires (1998). São apresentados alguns resultados da pesquisa que faz parte da dissertação de mestrado1 realizada pelo autor. Antes de apresentar os resultados da pesquisa de campo é feito um referencial teórico sobre a dinâmica competitiva como resultado do processo de cooperação entre empresas locais. Em segundo lugar são apresentados os fatores históricos e sócio-econômicos que demarcaram a localização da atividade moveleira na região de localização do município de Coronel Freitas. Após, são analisados o grau de confiança, as ações conjuntas realizadas e os resultados destas na cadeia de valor das empresas. O objeto de análise foi um conjunto de empresas do setor do mobiliário localizadas no aglomerado industrial do município de Coronel Freitas. Para o desenvolvimento deste trabalho foi utilizado o método de pesquisa descritivo a partir da análise de uma pesquisa empírica aplicada através de questionários com perguntas fechadas à amostra das empresas. Segundo Gil (2002), a pesquisa descritiva tem como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações entre variáveis. Conforme Marconi e Lakatos (1986), a amostragem utilizada foi a não-probabilística por ‘juris’, pois foram utilizados critérios de seleção para a escolha das empresas. O estudo foi focalizado em organizações industriais do setor moveleiro que possuem móveis com a predominância de madeira, com cinco anos de existência ou mais. O município de Coronel Freitas contém 352 empresas fabricantes de móveis, das quais 25 com produtos predominantes em madeira e destas, 13 com idade igual ou superior a cinco anos. Esses critérios foram utilizados com o objetivo de tornar a amostra mais homogênea e tendo em vista o horizonte da pesquisa, quanto ao grau de confiança e a participação conjunta em ações na cadeia de valor nos últimos cinco anos. 1 A dinâmica competitiva empresarial Nas últimas três décadas do século XX, a cooperação empresarial tem sido incorporada a inúmeros exemplos de sucesso no mundo dos negócios. Cada vez mais a postura de enfrentamento tem dado espaço às alianças empresariais com o objetivo de sobreviver na complexidade da economia contemporânea. A nova economia mundial apresenta fatores externos (globalização da concorrência, a diversidade dos gostos dos consumidores, o avanço de novas tecnologias e o amadurecimento dos mercados) e internos (assimilação de novas tecnologias, produtos capazes de atender satisfatoriamente os consumidores, facilidade de acesso a novos mercados e necessidade de acesso ao conhecimento) que configuram um novo panorama competitivo mundial. É por estes fatores que a cooperação entre empresas tem-se tornado uma estratégia de competitividade no mercado com o objetivo de alcançar e manter a vantagem competitiva (GONZÁLEZ, 2003). Para Duarte (1998), cooperação é entendida como uma associação de forças que institui relações baseadas na reciprocidade de vantagens, na procura conjunta de inovações, na partilha de recursos e competências com vistas a um objetivo comum, seja específico ou geral. É uma opção estratégica quando o mercado exige especialização e domínio do conhecimento nas áreas financeiras, tecnológica, de gestão e informação de mercado. Amato Neto (2000) considera que a cooperação entre empresarial tem como objetivo básico a viabilização de uma série de necessidades das empresas, que individualmente não conseguiriam satisfazer. Entre essas necessidades o autor destaca: combinar competências e utilizar know-how de outras empresas; dividir o ônus de realizar pesquisa tecnológica; partilhar riscos e custos de explorar novas oportunidades de negócios; oferecer linhas de produtos de qualidade superior e diversificada; exercer maior pressão no mercado; compartilhar recursos e fortalecer o poder de compra. Da série de necessidades das empresas já citadas anteriormente, a cooperação interempresarial desenvolve papel central quando busca combinar competências que facilitem a inovação tecnológica, pois, a competitividade, em mercados cada vez mais dinâmicos, exige das empresas capacidade de responder ativamente as novas exigências do consumidor. Dessa forma, a capacidade de gerar inovação e difundi-la no território local/regional é condição básica para o desenvolvimento da competitividade empresarial em nível nacional e internacional. A sinergia coletiva de governos, comunidade e agentes produtivos, são fatores propulsivos no sentido de preparar o capital humano para aumentar a sua capacidade de transformação e de aceitação de inovações tecnológicas no território. No contexto da especialização flexível, em que a estratégia está voltada ao aperfeiçoamento contínuo do produto e a atenção à inovação, à mão-de-obra treinada e adaptável e a atmosfera inovadora é fator central na manutenção do dinamismo dos aglomerados produtivos. No estudo realizado por Sengenberger e Pike (2002), revela-se que a estratégia dos distritos industriais italianos atribui imenso valor à qualidade da força de trabalho e das relações entre os níveis hierárquicos. A adaptabilidade do distrito depende da existência de uma força de trabalho flexível, a qual deve ser implementada no intuito de conseguir versatilidade ativa e não maleabilidade passiva. Os governos, nos planos nacional e local, têm um papel vital no desenvolvimento de economias regionais, pois, é mais uma instituição de apoio e fomento na rede interinstitucional de suporte aos aglomerados produtivos. Para Schimitz (1992) apud Sengenberger e Pike (2002), a importância das instituições governamentais está centrada na possibilidade de expandir as potencialidades econômicas de uma região, através da provisão de infra-estrutura para instalação de centros de serviços, e na introdução de inovações em aglomerações locais já existentes ou não. 2 O empresário que faz parte de um ambiente de negócios com forte espírito de cooperação entre empresas, sente-se mais seguro em investir no local, pois, sabe que a comunidade necessita de sua perícia e da capacidade produtiva (SENGENBERGER e PIKE, 2002). Para tanto, a confiança é a base para a formação de redes de negócios, afirma Amato Neto (2000), porque permite que parceiros respeitem os compromissos assumidos entre as empresas pertencentes à determinada rede, viabilizando um certo equilíbrio entre cooperação e competição. O sucesso de um cluster , quando persiste, incentiva a capacidade de inovação criada pelo próprio local, o qual afeta a vantagem competitiva influenciando sobre a produtividade(PORTER, 1999), pois a concentração geográfica de firmas fornecedoras e consumidoras diminui o tempo de feedback para as inovações. No âmbito de um cluster, segundo Amato Neto (2000), um próprio processo de inovação, são as empresas que surgem a partir de outras, quando ex-funcionários de empresas do setor constituem seus estabelecimentos tendo por base o conhecimento técnico e gerencial adquirido no trabalho anterior. O desenvolvimento desse tipo de firma, para Sengenberger e Pike (2002), esta fortemente apoiado no processo de aprendizagem gerencial desenvolvida na relação entre trabalhadores e empresários, porque é através dessa relação que o empregado tem a oportunidade de aprender na prática a dirigir um negócio. Conforme os mesmos autores, as chances de êxito de um empreendimento, cuja criação está relacionada organicamente a ampla divisão de trabalho em uma comunidade de negócio, é muito maior dado o risco que representa entrar em um novo negócio. Para Casarotto e Pires (1998), as redes de empresas e as relações sólidas de cooperação de longo prazo servem de suporte estratégico operativo às pequenas empresas que buscam a vantagem competitiva. As empresas devem realizar o esforço em institucionalizar instrumentos que assumam parcialmente as funções de gerência e coordenação da sua cadeia de valor. Um dos instrumentos muito utilizado nos distritos industriais italianos é o consórcio horizontalizado3 que tem, entre outras, a finalidade de incrementar a produtividade

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