Luís Silva OS MOINHOS E OS MOLEIROS DO RIO GUADIANA

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Luís Silva OS MOINHOS E OS MOLEIROS DO RIO GUADIANA OS MOINHOS E OS MOLEIROS DO RIO GUADIANA UMA VISÃO ANTROPOLÓGICA Luís Silva OS MOINHOS E OS MOLEIROS DO RIO GUADIANA UMA VISÃO ANTROPOLÓGICA Edições Colibri Biblioteca Nacional de Portugal – Catalogação na Publicação SILVA, Luís, 1971- Os moinhos e os moleiros do rio Guadiana : uma visão antropológica. – 1ª ed. – (Extra-colecção) ISBN 978-989-689-770-3 CDU 316 Edição financiada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia no âmbito do plano estratégico do Centro em Rede de Investigação em Antropologia (UID/ANT/04038/2013). Título: Os Moinhos e os Moleiros do Rio Guadiana – Uma Visão Antropológica Autor: Luís Silva Editor: Fernando Mão de Ferro Capa: Raquel Ferreira Depósito legal n.º 440 658/18 Lisboa, Maio de 2018 Às alentejanas e aos alentejanos ÍNDICE Agradecimentos ....................................................................................... 9 Introdução .............................................................................................. 11 Tema de estudo ................................................................................. 11 Metodologia ...................................................................................... 14 Plano do livro .................................................................................... 16 Capítulo 1. Passado e presente dos moinhos do Guadiana .................... 17 1.1 Notas históricas e tipológicas sobre os moinhos de água ................. 17 1.2 Os moinhos do Guadiana ................................................................. 22 Capítulo 2. Componentes socioeconómicos dos moinhos do Guadiana ......................................................................... 41 2.1 Propriedade e formas de exploração dos moinhos ........................... 41 2.2 Fregueses e usos das farinhas ........................................................... 48 Capítulo 3. Os moleiros do Guadiana .................................................... 63 3.1 Considerações gerais ........................................................................ 63 3.2 O ofício dos moleiros visto pelos seus praticantes ........................... 69 Bibliografia ............................................................................................ 91 Anexos ................................................................................................... 99 8 LU ÍS S ILVA Índice de quadros Quadro I. Distribuição geográfica dos moinhos do Guadiana a sul do Caia ........................................................................................... 23 Quadro II. Número de moinhos por estação de moagem ..................... 25 Quadro III. Número de aferidos por moinho ......................................... 25 Quadro IV. Propriedades abarcando moinhos no Guadiana e num afluente .................................................................... 31 Quadro V. Datas de desativação dos moinhos do Guadiana ativos em 1950 ............................................................................... 38 AGRADECIMENTOS O trabalho de investigação apresentado neste livro foi desenvolvido pelo autor aproximadamente nas últimas duas décadas. A sua execu- ção só foi possível graças à colaboração de diversas pessoas e institui- ções a quem cumpre agradecer. O estudo contou com o apoio económico de diferentes instituições, a saber, (i) a Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica, entidade financiadora do projeto Práticas, Representações e Cultura de Fronteira. Interrogação Antropológica a Sul do Caia (PCSH/C/ ANT/322/92), coordenado por Joaquim Pais de Brito e acolhido pelo antigo Centro de Estudos de Antropologia Social; (ii) a EDIA – Em- presa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva, S.A., entida- de financiadora do Estudo dos Moinhos de Água do Guadiana e Afluen- tes inseridos na área do regolfo da barragem de Alqueva e do açude de Pedrogão, coordenado por Miguel Lago e acolhido pela empresa ERA – Arqueologia, Lda.; e (iii) a Fundação para a Ciência e a Tecnologia, entidade financiadora de duas bolsas de investigação individuais, uma orientada por João Leal e acolhida pelo Departamento de Antropologia do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa (PRAXIS XXI/BM/ 10614/97), outra supervisionada por Amélia Frazão Moreira e acolhida pelo Centro em Rede de Investigação em Antropologia (SFRH/BPD /93515/2013). Agradeço a todas estas instituições e pessoas o seu apoio. Agradeço a João Leal as informações dadas a respeito do trabalho de pesquisa desenvolvido por Jorge Dias e a sua equipa. As eventuais fragilidades e os aspetos menos conseguidos do livro são, no entanto, da minha inteira responsabilidade. Agradeço ao Campo Arqueológico de Mértola, ao Arquivo históri- co da Câmara Municipal de Mourão e às bibliotecas municipais de 10 LU ÍS S ILVA Olivença, Elvas, Vila Viçosa, Reguengos de Monsaraz, Moura, Serpa e Beja o apoio dado no decurso da pesquisa. Agradeço ao Museu Nacional de Etnologia a reprodução da maior parte das fotografias antigas aqui apresentadas. Agradeço a António Trepa e Ju a hospitalidade que me proporcio- naram em Moura. Agradeço a José Júlio e Paula a hospitalidade que me ofereceram em Vila Viçosa. Agradecimentos especiais vão para os antigos moleiros e os antigos acarretadores ou maquilões pela imprescindível colaboração no estudo. Agradeço às instituições que apoiaram a edição do livro. Agradeço ao editor a publicação do manuscrito. INTRODUÇÃO Tema de estudo Entre finais da década de 1940 e os anos 1990, inspirados pelo difu- sionismo alemão e pela Escola de Cultura e Personalidade norte-ame- ricana, Jorge Dias e uma equipa formada por Ernesto Veiga de Oliveira, Fernando Galhano e Benjamim Pereira, entre outros, empreenderam um vasto e ambicioso projeto antropológico de estudo do modo de vida rural em Portugal no seu todo. A ideia era, por um lado, abranger a totalidade do país segundo a visão tripartida – «Mediterrâneo, Atlân- tico e Transmontano» – preconizada pelo geógrafo Orlando Ribeiro (1967 [1945]), e, por outro lado, estudar o modo de vida dos campone- ses no seu todo, através de trabalho de campo. Especial atenção foi conferida à cultura popular e às tecnologias empregues na produção e na transformação de produtos agrícolas, vistas como componente essencial do modo de vida rural, no contexto de uma economia pré-capitalista, de fraca circulação monetária, assen- te na autoprodução e no autoconsumo. Desse projeto derivam as extensas monografias sobre as aldeias de montanha no Norte do país: Vilarinho da Furna (Dias 1948a) e Rio de Onor (Dias 1953), os aspetos da vida pastoril (Dias s/d), a arquitetura tradicional portuguesa (Oli- veira 1992), os instrumentos musicais populares portugueses (Oliveira 1966), as festividades cíclicas em Portugal (Oliveira 1984) e as másca- ras portuguesas (Pereira 1973). Dele também resulta a Bibliografia Analítica da Etnografia Portu- guesa (Pereira 2009 [1965]), onde são exaustivamente compilados os textos de cariz etnográfico – e não só – que foram publicados no país desde meados do século XIX até aos primeiros anos da década de 1960 sobre os mais variados tópicos: ergologia, tecnologia e economia, usos e costumes, crença popular, literatura popular, música e dança, teatro 12 LU ÍS S ILVA popular, diversões, vestuário e ornatos, alimentação, ciência popular, entre outros. O trabalho de investigação de Jorge Dias e a sua equipa sobre as denominadas tecnologias tradicionais portuguesas inclui dois conjun- tos de textos. O primeiro é formado por 17 extensas monografias descritivas, cobrindo tópicos como os arados (Dias 1948b), os apare- lhos de elevar a água de rega (Dias e Galhano 1953a), os espigueiros (Dias, Oliveira e Galhano 1994 [1963]), os sistemas de moagem de cereais, sobretudo os moinhos de água e os de vento (Dias, Oliveira e Galhano 1959a, 1959b; Galhano 1978; Oliveira, Galhano e Pereira 1983), os sistemas de atrelagem de bois (Oliveira, Galhano e Pereira 1973), o carro de bois (Galhano 1973), a tecnologia do linho (Oliveira, Galhano e Pereira 1978) e do azeite (Pereira 1997), os pisões (Oliveira e Galhano 1977), as atividades agro-marítimas (Oliveira, Galhano e Pereira 1975), a alfaia agrícola (Oliveira, Galhano e Pereira 1976), as rocas (Pereira 1967), os sistemas de serração de madeiras (Pereira 1990a) e as construções primitivas em Portugal (Oliveira, Galhano e Pereira 1969a); a que se juntam três monografias centradas nos Aço- res, uma sobre os moinhos de vento – onde também é tratado o caso de Porto Santo – (Oliveira, Galhano e Pereira 1965), outra sobre os instrumentos musicais populares (Oliveira 1982) e outra ainda sobre a tecnologia tradicional agrícola (Oliveira, Pereira e Galhano 1987). O segundo conjunto de textos integra 18 ensaios, artigos ou entra- das de dicionários sobre alguns desses objetos de estudo, nomeada- mente, os espigueiros (Oliveira 1965, 1971), a debulha dos cereais (Galhano 1967), as tecnologias de moagem de cereais (Dias 1968, 1993a [1964]; Oliveira 1967), a atrelagem dos bois (Oliveira 1985; Oliveira, Galhano e Pereira 1969b), os arados (Oliveira, Galhano e Pereira 1988) e as relhas dos arados (Dias e Galhano 1953b), os pisões (Oliveira e Galhano 1960-1961) e as técnicas de fiação e tecelagem (Pereira 1960-1961), estudados à escala nacional, bem como o pio de piar os milhos na Serra de Padrela (Dias 1949a), os moinhos de des- cascar milho miúdo e o mijolo brasileiro no concelho da Guarda (Dias e Galhano 1950), o carro de bois transmontano (Galhano 1972), a apanha do sargaço no Norte de Portugal (Oliveira e Galhano 1958), o metate em Vilarelho da Raia
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