Sexta-feira 20 Agosto 2010 www.ipsilon.pt STE SUPLEMENTO FAZ PARTE INTEGRANTE DA EDIÇÃO Nº 7444 DO PÚBLICO, E NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTE DO PÚBLICO, EDIÇÃO Nº 7444 INTEGRANTE DA PARTE FAZ STE SUPLEMENTO E

ENRIC VIVES-RUBIO ENRIC

Desenrolamos a “rentrée” Tudo o que vamos poder ver, ouvir e ler até Dezembro, de Camões a Kanye West

Joe Sacco Margaret Atwood Takeshi Kitano Antibalas Marilyn Monroe levar para apraia oupara a piscina. que vão estimular asuainteligência comdesafi 3deJulhoDe a4deSetembro, oPúblicolança10cadernos semanaisdepassatempos páginascompassatempos. 96 COLECÇÃO P-IQ. mente. exercite asua Nestas férias os, enigmas e jogos de lógica que pode os, enigmas ejogos quepode delógica

Colec‹o de 10 livros. Periodicidade: semanal. Dia da semana: S‡bado. PVP: 1,40Û. Preo total da colec‹o: 14,00Û. Data de in’cio: 3 de Julho. Data de fim: 4 de Setembro. Limitado ao stock existente. O concerto no Porto é um dos cinco que os históricos da música industrial planeiam dar até ao fi m do ano

Throbbing Gristle usando novoo equipamento partir do grupo de electrónica, cornetas, baixos e electrónico exexperimental,perimental, performance COUM guitarras baratos e violinos em mau em Novembro na apimentadoo com alguns velhos Transmissions, são estado. Casa da Música temas favoritos”,itos”, afirma a banda.banda. formados por Genesis Os concertos - na verdade, O concertoto é um dos cinco que a P-Orridge, Cosey Fanni Tutti, sessões de ataque à audiência - banda planeiaeia dar até ao ffinalinal do Peter “Sleazy” Christopherson eram, aliás, longas sessões de ruído Os Throbbing Gristle, fundadores ano. A mini-digressão-digressão termina com e Chris Carter. Surgiram em e gritos, com projecções vídeo com da música industrial, actuam a 6 de os Throbbingng Gristle a encabeçarem plena explosão punk no Reino operações médicas e filmes porno Novembro na Casa da Música uma noite do festival All Tomorrows Unido, mas o que propunham era “hardcore” a completar o (CdM), no Porto. O anúncio foi feito Parties, no Reino Unido, este ano muito mais intenso e anti-social do escândalo. pela banda no seu “site” oficial e com selecção musical a cargo dos que o rock’n’roll acelerado dos A banda terminou em 1981, mas confirmado por fonte da CdM ao regressados Godspeed You! Black Pistols ou dos Clash. Com os Gristle, regressou aos discos em 2004, com Ípsilon. “Os Throbbing Gristle vão Emperor. as tácticas de choque invadiram a “TG Now”, e, em 2007, com “Part apresentar um novo alinhamento Os ingleses, nascidos em 1976 a música, feita de maquinaria Two”. Pedro Rios

Flash Network Architecture Lab Senhor Valéry” e da série A arquitectura como da Universidade de de livros sobre o bairro Columbia, nos Estados onde moram vários fi cção revista em Lisboa Unidos. escritores com A artista plástica características muito moçambicana Ângela próprias, são outros dos Vai haver casas da Faculdade de Ferreira (que representou convidados da conferência, assombradas e cidades Arquitectura da Portugal na Bienal de que decorrerá na Fundação imaginárias, utopias Universidade do Porto, a Veneza 2007 com o trabalho Calouste Gulbenkian, na Sumário arquitectónicas e ficções conferência vai trazer a Maison Tropicale) e o Faculdade de Arquitectura urbanas, escritores e Portugal o escritor escritor português Gonçalo de Lisboa, e no Museu da arquitectos a cruzarem canadiano nascido em “Rentrée” 6 M. Tavares, autor de “O Electricidade. O programa disciplinas, histórias e Buenos Aires Alberto Tudo o que vamos poder ver, completo pode ser ideias. “Once upon a Place Manguel, autor do ouvir e ler de Setembro a consultado em http://www. – haunted houses & “Dicionário de Lugares Dezembro onceuponaplace.fa.utl.pt/. imaginary cities”, 1º Imaginários” (1980); o Alexandra Prado Coelho Conferência Internacional arquitecto Colin Fournier, Bienal de Veneza 14 sobre Arquitectura e Ficção autor, com Peter Cook, do Quatro casas, quatro casos da – um evento associado à Graz Kunsthaus, um edifício arquitectura portuguesa Trienal de Arquitectura – radical que alberga um vai acontecer em Lisboa museu na cidade austríaca Voyeurismo 18 A Tate Modern mostra o que entre 12 e 14 de Outubro. de Graz; a dupla de autores nunca devíamos ter visto Organizada por Susana de banda desenhada Oliveira, da Faculdade de François Schuiten & Benoît Arquitectura da Peeters (“As Cidades Os belgas François Schuiten Takeshi Kitano 21 e Benoît Peeters vêem a Lisboa explicar Exposição (ou devíamos UniversidadeUniversidade TéTécnicacnica ddee Obscuras”),Obscuras e Kazys como imaginaram as suas “cidades obscuras, dizer feira popular?) em Parisis Lisboa,Lisboa, e PePedrodro GaGadanho,danho, Varnelis,Varnelis, director do a começar pela fantasista “Brüsel”

Joe Sacco 2 244 A BD faz História em Gaza

Margaret Atwood 288 Entrevista com a senhora- oráculo

Antibalas 3311 O afrobeat como sonho Alberto Manguel, o autor do “Dicionário americano de Lugares Imaginários” regressa a Lisboa PEDRO CUNHA PEDRO para participar em “Once Upon a Place” Ficha Técnica

Directora Bárbara Reis Editor Vasco Câmara, Inês Nadais (adjunta) Conselho editorial Isabel Coutinho, Óscar Faria, Cristina Fernandes, Vítor Belanciano Design Mark Porter, Simon Esterson, Kuchar Swara Directora de arte Sónia Matos Designers Ana Carvalho, Carla Noronha, Mariana Soares Editor de fotografi a O Graz Kunsthaus que Colin Fournier, Miguel Madeira outro participante anunciado da conferência, E-mail: [email protected] projectou com Peter Cook

Ípsilon • Sexta-feira 20 Agosto 2010 • 3 Flash

O novo fi lme do realizador britânico encerra o BFI London Film Festival FERNANDO VELUDO FERNANDO

Diablo Cody escreve mais um filme para As “127 Hours” Jason Reitman de Boyle chegam “Juno”, “Jennifer’s Body”, “As Taras a Londres mesmo de Tara”: eis o corpo da obra de a tempo Diablo Cody, argumentista catapultada ao ritmo de um diálogo No site oficial do BFI London Film frenético e recheado de referências Festival, que terá sua 54.ª edição pop para o estrelato e para o Oscar em Outubro, pode ler-se que é com pelo argumento de “Juno”. orgulho e “encanto” que a Inolvidável no seu vestido leopardo, organização anuncia a antestreia do tatuagens e lábios vermelho sangue novíssimo filme do anfitrião Danny nessa noite de Óscares de 2009, foi Boyle, “127 Hours”. Também é com beber à obra de outra mulher orgulho que o próprio Boyle abrasiva – Courtney Love – e regressa ao tapete vermelho para escreveu “Jennifer’s Body” para encerrar o festival britânico e Megan Fox – outra bomba de repetir, assim, a proeza de 2008, estrogénio. O resultado não foi o então com “Quem Quer Ser mais feliz, e seguiram-se “Girly Bilionário?” (com o qual viria, a Style” e “The United States of Tara” seguir, a ganhar os Oscars). (em Portugal exibida no Fox Life). “127 Hours” relata a história de Agora, rufar de tambores, ela sobrevivência do alpinista escreve para mais uma mulher: americano Aron Ralston. Aron “Young Adults” é a história de uma passou despercebido até um dia de escritora-fantasma de romances Abril de 2003, que julgava ser como para... jovens adultos que procura a todos os outros. Escalava no Utah sua própria identidade. O caminho quando uma rocha o fez deslizar e leva-a à sua cidadezinha natal (mais ficar preso numa ravina, com o um “must” Cody, que ainda não Comida, concertos, performances, literatura, braço esmagado. Delirouou dudurante a te escescreveu e e uma história que se passe artes plásticas e uma favela: eis o programa cinco dias. Tratou de ttudoudo o que nasnas ““bright lights” das “big cities” do Festival Brazil, no Southbank Centre até 5 de Setembro alguém, naquela situação,ção, ddosos EUA) em busca do ex- Londres também promove a relação transatlântica Souza de Oliveira (moradora numa poderia tratar, inclusiveve namorado.na O realizador? Mais no coração do Reino Unido, num favela) e um amigo lhe terem dado escrever mensagens dee umaum vez Jason Reitman, o tem favela evento que cruza artes plásticas, início, com a construção da despedida com os recursosursos homemho do leme de “Juno” performances, literatura, primeira miniatura do Morrinho. que tinha, e salvou-se aaoo ((2007)20 e “Nas Nuvens” (2009). A Até 5 de Setembro, os ares opacos “workshops”, debates e Desde então, as réplicas amputar o braço direitoto eestrela:s Charlize Theron. Mas de Londres recebem a cultura concertos de Maria Bethânia e Os espalharam-se por cidades como com um canivete de CCody tem mesmo o Diablo no brasileira. Do “samba-sushi à Mutantes. Berlim, Viena, Barcelona e Veneza. bolso e um par de cocorpo (era irresistível, tradicional moqueca e xinxim”, Nada de novo haveria aqui se este Agora, é a vez de a favela pinças. Depois do Diablo Cody pperdoem-nos) e continua a não esesquecendoquecendo as caipirinhas,caipirinhas, o festival não trouxesse do Brasil, brasileira se projectar nos bairros acidente, escreveu continua a escrever eescrevers furiosamente mesmo FestivFestivalal BrBrazilazil ddoo SoSouthbankuthbank Centre além da comida, da bebida e dos londrinos de Stockwell. Um sobre a sua furiosamente ddepoise de ter sido mãe. Ora, artistas propriamente ditos, a conjunto de jovens brasileiros – a experiência no livro alalém de “Young Adults”, favela. O “Projecto Morrinho”, que que se juntaram depois britânicos “Between a Rock and a eentregou entretanto à Fox tem como objectivo desmistificar – construiu, tijolo a tijolo, uma Hard Place” e despertouou aamericana o projecto de mais eventuais (pre)conceitos sobre a miniatura de uma favela que funde a atenção do realizadoror de uma série, da qual só se sabe violência, corrupção e tráfico de as particularidades mais soalheiras “Trainspotting”. Restaa o título, “The Breadwinner”, droga das favelas brasileiras, chega do Rio de Janeiro com a esperar para ver. Até 2288 de e que será financiada pela a Londres 12 anos depois de Cilan arquitectura industrial europeia. Outubro. WWarner Brothers.

ELOY ALONSO/ REUTERS ALONSO/ ELOY preencheram a sua infância que não aparecia em AosAos 828 anos, Günter e influenciaram a sua obra. ‘Descascando a Cebola’ e ‘A Fascinado não só pela obra Caixa’ [ambas publicadas GGrassra está de regresso dos irmãos (que iniciaram em Portugal pela Casa das em 1938 a criação de um Letras], a parte relativa à aaoso irmãos Grimm grande dicionário alemão, minha actividade política e do qual só conseguiram social, podia encontrar concluir três dos 32 volumes lugar numa história sobre Günter Grass, está a lançar na Alemanha o previstos) como pelo seu os irmãos Grimm”, Prémio Nobel terceiro volume da sua posicionamento político, explicou o escritor numa de Literatura autobiografia, “Grimms que os levou em 1837 a entrevista à revista suíça 1999, continua Wörter” (à letra, “as manifestarem-se contra o “Du”. Em “Grimms fiel à sua palavras dos Grimm”) conta poder do Estado. Wörter”, reflecte por isso máquinam de que depois dá todo o No terceiro volume da sua sobre todas as épocas da escreverescr Olivetti na material à secretária, e que é autobiografia, Grass retoma história alemã a partir do era dos cocomputadoresm e ela que passa o texto para o a sua actividade cívica, mas século XIX, acompanhando do iPad. NNumau entrevista computador. Aos 82 anos, o faz também uma declaração o surgimento do nazismo, a O terceiro volume da queque ddeueu aao “Der escritor alemão está de amor à sua língua, o Segunda Guerra Mundial, a autobiografi a do Nobel Spiegel”Spiegel” o escritor que fascinado por Jacob e alemão. “Pareceu-me que a divisão da Alemanha e sua da Literatura já está à venda Wilhelm Grimm cujos contos parte da minha biografia reunificação em 1990. na Alemanha

4 • Sexta-feira 20 Agosto 2010 • Ípsilon As maiores gafes do Gaston o Lagaffe, anti-her—i da B.D. chegam ao Franco-Belga, Pœblico numa imperd’vel.colec‹o Divirta-se comumadaspersonagens trapalhonas,preguiosas ecriativasDivirta-se dabandadesenhadamundial mais 8¼ Volume, Quarta-feira, 25 de Agosto, por apenas mais Û6,40 com o Pœblico. que, mesmo sem fazer nada, faz o suficiente paralhep que, mesmosemfazernada, fazosuficiente As gafes do Gaston est‹o no Pœblico. rovoc ar boasgargalhadas.

19 Livros á PVP vol. 1: 2,50Û á PVP Restantes: 6,40Û á Preo total Portugal Continental: Û117,70 á Data In’cio: 7 de Julho á Data Fim: 10 de Novembro á Dia da semana: quarta-feira. Limitado ao stock existente. © Marsu 2010 by Franquin - www.gastonlagaffe.com.

Nabokov eMichael Jackson, Apichatpong Faltam pertodesi. duassemanaspara aabertura Capa Eastwood, Kanye WestEastwood, deSetembro a eCamões: A nova te começ

m a

D mporada ça aqui g Weerasethakul e Lady Gaga, Alain Platel e Clint a Dezembro, eles vão estar numa sala (ou numa livraria) a ofi cial da “rentrée”. Ilustração de Vítor Ferreira Rosário Pedreira na Leya, e “Memórias Setembro Secretas da Rainha Dona Amélia”, de Miguel Real. CINEMA - Laurentino Gomes, autor do “best-seller” A maratona dos festivais - Dia 2, estreia portuguesa de Predadores, “1808”, sobre a fuga da família real relançamento do “franchise” sobre o portuguesa para o Rio de Janeiro, mostra Com cinco festivais em três meses, Lisboa (arredores incluídos) guerreiro extraterrestre lançado por John agora como o Brasil consegue sobreviver torna-se a capital nacional do cinema. Jorge Mourinha McTiernan com Arnold Schwarzenegger com êxito em “1822”. Mais da Porto Editora: em 1986. Robert Rodriguez (“Sin City”, “Dez Mil Guitarras”, de Catherine Clément, “Planeta Terror”) produz, Nimrod Antal truculenta galeria de retratos de uma dirige. No dia seguinte, estreia americana Europa em mutação vista desde Alcácer- de outro filme de Robert Rodriguez, Quibir. Bem-vindos à capital dos festivais de raramente se sobrepõem e chegam até a “Machete” — o que começou por um - A Sextante abre a “rentrée” com “O cinema. complementar-se. Que haja público para trailer para um filme inexistente metido seminarista”, de Rubem Fonseca, e “A na “sessão dupla” de “Grindhouse” torna- Cidade do Homem”, de Amadeu Lopes Cannes? Veneza? Berlim? Não, Lisboa. os fi lmes para lá dos eventos em que se agora numa longa-metragem a tempo Sabino. inteiro (ainda sem data portuguesa). “Boutade”? Não se atendermos à são estreados é outra questão. - Na contagem decrescente para a estreia sucessão alucinante de festivais que vão Do lote, o mais abrangente - Dia 3, arranca, na Cinemateca da adaptação cinematográfica de Raoul preencher as salas da capital ao longo dos é claramente o Estoril Film Portuguesa, o ciclo “O Povo”: a escolha Ruiz, a Relógio d’Água reedita “Mistérios vai de “O Couraçado Potemkine”, de de Lisboa”, de Camilo Castelo Branco. próximos três meses. Festival, que combina a Eisenstein, a “Aquele Querido Mês de - “Nobre Povo – Os Anos da República”, de Não nos estamos a esquecer do Douro vocação de festival de Agosto” de Miguel Gomes, passando por Jaime Nogueira Pinto é a aposta da Esfera John Ford, Jean Rouch, António Reis, Jean Film Harvest, que traz Sofi a Loren e “massas” (convidados EMA dos Livros em vésperas das CIN Renoir, Frank Capra, David W. Griffith, Gustavo Santaolalla ao Norte do país, e antestreias de peso) comemorações do centenário da Vittorio de Sica ou Chaplin. entre 7 e 11 de Setembro, mas faz fi gura com uma competição implantação da República. Outros livros - De 7 a 11, o Festival Douro Film Harvest para a efeméride: “A República das de “excepção” face à regra que concentra de cinema de autor mais traz a Portugal Sofia Loren e Gustavo a maior parte dos acontecimentos em clássica. Contactado Santaolalla e faz a antestreia de “O Último Lisboa. Este ano tudo parece estar um pelo Ípsilon, Paulo Branco Vôo do Flamingo”, de João Ribeiro, e do pouco mais “concentrado”. avançou apenas tratar-se documentário de Oliver Stone “South of the Border” A maratona começa com a 14º edição da “edição mais importante - “Never Let Me Go”, adaptação do romance do festival de cinema gay e lésbico Queer de sempre”. de Kazuo Ishiguro “Nunca Me Deixes” pelo Lisboa, que ocupa o São Jorge entre 17 e 25 Por seu lado, o DocLisboa já fi xou realizador Mark Romanek, faz a sua de Setembro. Quatro dias depois, a partir uma audiência que, no entanto, não estreia nos EUA. de 29, a mesma veneranda sala acolhe o se desloca com igual fi delidade para - De 17 a 25, decorre mais uma edição do quarto MOTELx, dedicado ao cinema de ver documentários em sala. Além das festival Queer Lisboa 2010, com destaque para o novo Bruce LaBruce; a 29, terror. retrospectivas dedicadas a Joris Ivens abertura de outro festival de culto na A 7 de Outubro, arranca a 11ª Festa do e Marcel Ophüls, a edição 2010 fi ca já capital, o MoteLX. Cinema Francês, único dos eventos a sair marcada pela estreia mundial de “José - 25 anos depois, Oliver Stone regressa a da capital, estendendo-se a Almada (13 a e Pilar”, o documentário que Miguel um dos seus clássicos e faz uma sequela, 17 de Outubro), Porto (19 a 24), Guimarães Gonçalves Mendes (“Autografi a”) dedicou “Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme”, novamente com Michael Douglas no (21 a 24), Faro (24 a 31) e Coimbra (3 a 9 de a José Saramago e Pilar del Rio, na papel de Gordon Gekko. Estreia Novembro). Em Lisboa, a Festa encerra sequência de três anos de rodagem, 230 portuguesa dia 23. a 16 de Outubro, sobrepondo-se ao início horas de material fi lmado e ano e meio - O novo filme de Stephen Frears, do oitavo DocLisboa, que tem lugar de de montagem. O fi lme deverá chegar às “Tamara Drewe”, é uma comédia muito 14 a 24 de Outubro. A “saison” termina a salas em Novembro, o que permitirá tirar “british”. Esteve em Cannes, agora chega a Portugal. poucos quilómetros da capital, de 4 a 14 conclusões sobre o impacto do Doc numa - A 30, António Ferreira estreia de Novembro, com o quarto Estoril Film estreia comercial, depois de anteriores “Embargo”, adaptação do conto Festival. experiências inconclusivas. Bret Easton Ellis homónimo de José Saramago com Filipe Parece muito? Parece. Mas já se Problema semelhante ao da Festa do Vladimir Nabokov provou que há público para todos: a Cinema Francês, que se tornou num adesão dos espectadores tem vindo a encontro anual com uma cinematografi a crescer ou a estabilizar, as programações que ainda não recuperou a importância que já teve entre nós. Misto de retrospectivas, descobertas e antestreias, Queer Lisboa, MOTELx, a programação da Festa tem vindo a Festa do Cinema Francês, crescer, com a edição 2010 a prometer nada menos de 20 fi lmes em antestreia DocLisboa, Estoril Film portuguesa e duas retrospectivas de eleição em parceria com a Cinemateca Festival: maratona à vista Portuguesa: uma dedicada a um dos raros cineastas franceses regularmente distribuídos entre nós, André Téchiné, Colecção Cachola no Museu Berardo outra a um “tesouro” de culto, Pierre Étaix, PIERRE-PHILIPPE MARCOU/ AFP MARCOU/ PIERRE-PHILIPPE cúmplice de Jacques Tati nos primeiros tempos. Sobram os dois festivais que assumem abertamente a sua vocação de nicho, preenchendo lacunas ignoradas ou menos acompanhadas pela distribuição nacional. O Queer Lisboa, o mais antigo de todos, que nos últimos anos tem feito um marcante Sofi a Loren no Douro esforço de divulgação e “rebranding”, trará o polémico “porno zombie” de Bruce “O Couraçado Potemkine” LaBruce “L.A. Zombie”, na Cinemateca recentemente apresentado a concurso em Locarno (e Costa (de Sean Riley & The Mulheres”, de Maria João Seixas Slowriders) no papel principal; (Presença) e “1910”, de Fernando Rosas e interditado na Austrália). e Julia Roberts regressa aos papéis Mendo de Castro Henriques (Presença). Já o MOTELx, apostado principais noutra adaptação, “Comer, - “Marina”, de Carlos Ruiz Zafón, a obra em dar “cartas de honra” Amar, Orar”. Quem dirige é Ryan Murphy, que precedeu o bestseller “A Sombra do ao cinema de terror, traz o criador das aclamadas séries “Nip/Tuck” Vento”, sai na Planeta. e “Glee”. dois potenciais fi lmes - Dois novos Gonçalo M. LIVROS de culto assinados por Tavares na Caminho: - A Teorema edita “Quartos Imperiais”, de “Uma Viagem à Índia” e jovens realizadores, Bret Easton Ellis, novo e esperado um novo habitante para “Red White & Blue”, romance do autor de “American Psycho”, “O Bairro”. do britânico Simon “Desespero”, inédito de Vladimir - As relações entre Israel Rumley, e “The Loved Nabokov, e “Em Anexo”, de Isabel e os EUA são vistas à Fonseca, primeiro romance da mulher de lupa em “O lóbi de

Ones”, do australiano GAUDÊNCIO RUI Martin Amis; o romance de estreia de Israel”, de John Sean Byrne. Amis, por sua vez, está na Quetzal: “Os Mearsheimer e É ainda cedo Papéis de Rachel”. para conclusões - Martin Amis diz que este é o grande defi nitivas, visto que as romance da literatura americana e não vale a pena procurar por melhor: “As programações estão ainda Aventuras de Augie March”, de Saul Gabriel Abrantes em fecho, mas uma coisa é Bellow (Quetzal). Na mesma editora, em Gumarães certa: durante os próximos “Livro”, quarto romance de José Luís três meses, a verdadeira Peixoto. Pilar e José Saramago capital dos festivais de - Na Dom Quixote, saem “Milagrário no fi lme de Miguel Gonçalves Mendes Pessoal”, de José Eduardo Agualusa, cinema será Lisboa. “O Novíssimo Testamento”, do cabo- verdiano Mário Lúcio Sousa, uma Carlos das apostas da editora Maria do Saul Bellow Ruiz Zafón

8 • Sexta-feira 20 Agosto 2010 • Ípsilon Stephen Walt (Tinta da China). Também POP na Tinta da China, “A Viagem dos - Anos e anos parado em meditação e Inocentes”, de Mark Twain, mais um livro depois isto. Os fãs lançam vivas ao da Colecção de Literatura de Viagens, desfalque financeiro que obrigou dirigida por Carlos Vaz Marques. Leonard Cohen a voltar à estrada: o A floresta Camões JAZZ concerto de dia 10 no Pavilhão Atlântico é - Setembro é ainda tempo de concertos ao o terceiro em Portugal em três anos. ar livre, casos do Quarteto de Nelson - 13 de Setembro é data grande: os Black desbravada Cascais (dia 5) e do projecto “Super Angels, bem-vinda e demoníaca Trouper” do guitarrista André Fernandes confluência de ruído shoegaze, acidez 13th Na Caminho, a obra de referência que faltava aos estudos (dia 19), ambos no Jardim da Floor Elevators e negrume Velvet Necessidades, em Lisboa, ou ainda da Big Underground, lançam “Phosphene camonianos: o “Dicionário de Luís de Camões” vem preencher Band do Hot Clube de Portugal (dia 2, Dream”; os canadianos Black Mountain uma lacuna histórica. Luís Miguel Queirós Largo de São Carlos). Também a 4, chegam com “Wilderness Heart” destaque para o espectáculo da Orquestra (enquanto eles existirem, a velha história Jazz de Matosinhos com Kurt Rosenwinkel da morte do rock’n’roll será um tremendo na Festa do Avante. exagero: El Guincho, músico das Canárias - De 4 a 12, continuam os concertos que transformou o legado dos Animal Allgarve, com Jean Luc Ponty & His Band Collective em alegria tropical, mostra “Pop (dia 4, Castelo de Silves), Aziza Mustafa Negro”; os Interpol regressam à Zadeh (dia 10, Auditório Municipal de sonoridade da estreia com um álbum ENRIC VIVES-RUBIO Olhão) e Archie Shepp Quartet (dia 12, homónimo. E ainda: “Grinderman 2”, da Rentrée Auditório Municipal de Albufeira). outra banda de Nick Cave, “Fields”, dos Junip, a banda preciosa que o sueco Jose CLÁSSICA Gonzalez passou os últimos tempos a - A apresentação da programação da nova esconder-nos, e “Lisbon”, dos Walkmen. temporada da Orquestra Metropolitana de - Dia 19, no Coliseu dos Recreios, Mark Everett, dos Eels, apresenta a trilogia terminada com “Tomorrow Morning”, que chega às lojas a 30 de Agosto. - Dia 20, Edwyn Collin lança “Losing Sleep”, o primeiro álbum gravado pelo ex- líder dos Orange Juice após o AVC que sofreu em 2005, os Peixe:Avião lançam “Madrugada”, segundo álbum da promissora banda de Braga, que se firmou no cenário português com o contemplativo “40.02”, e a Ninja Tune, LIVRO entidade fulcral da música electrónica, S festeja os 20 anos com “Ninja Tunes XX”, épica caixa de design impecável, como sempre, e 12 álbuns (em CD ou vinil), entre compilação do passado e material inédito. - Agenda de lançamentos para dia 27: Camané tenta superar o magnífico HáHá muito que se fazia “[Camões] é o problema “Sempre de Mim” com “Do Amor e dos ssentiren a falta de uma obra Dias”, novamente produzido por José de rereferênciaf que fornecesse Mário Branco (será apresentado ao vivo no mais complexo da CCB, a 7 de Outubro); Mark Ronson, o uumama súmulasúm actualizada do afamado produtor de Amy Winehouse e vasto e diversifi diversi cado território dos literatura portuguesa (...). Lily Allen, aponta à década de 80 com estudos camonianos. Mais de quatro “Record Collection”; e os No Age, banda séculos decorridos sobre a morte do autor É uma floresta muito mais charneira da vaga punk lo-fi, edita o muito aguardado segundo álbum, “Everything de “Os Lusíadas”, o “Dicionário de Luís de Camões”, que a Caminho pretende intrincada do que Pessoa” “Constructing history: publicar ainda este ano, vem colmatar the future life of the past” esta notória lacuna. Coordenado por um Vítor Aguiar e Silva camonista de incontroversa autoridade, Vítor Aguiar e Silva, o volume terá mais de um milhar de páginas e incluirá volume não esqueceram os seus mais colaboração de cerca de 60 especialistas ilustres predecessores, dedicando artigos portugueses e estrangeiros. a fi guras como Wilhelm Storck, Carolina Autor de várias obras fundamentais Michaëlis, Teófi lo Braga, Costa Pimpão, sobre o poeta e respectiva obra – José Maria Rodrigues ou Hernâni Cidade. incluindo “Camões, Labirintos e Algumas entradas são inesperadas, Fascínios” (1994), “A Lira Dourada mas nem por isso menos justifi cadas, e a Tuba Canora: Novos Ensaios como a que trata especifi camente das Camonianos” (2008) ou o recente “Jorge comemorações do tricentenário de de Sena e Camões”, além dos muitos Camões em 1880, que desempenharam estudos que, há décadas, vem dedicando um papel fulcral na mobilização in Between”. aos problemas relacionados com a republicana durante a monarquia e EXPOSIÇÕES “Is You Me” fi xação do cânone da lírica camoniana contribuíram para consolidar o então - Dia 11, no Centro Cultural Vila Flor, no Festival –, Aguiar e Silva está convencido de que ainda incipiente Partido Republicano Gabriel Abrantes, acabado de sair de Materiais este dicionário “irá permanecer durante Português. Locarno com um Leopardo de Ouro, DiversosDiversoss muitos anos como um marco nos estudos Aguiar a e Silva sente-se mostra toda a sua obra cinematográfica,, na exposição “Histories of Mutual camonianos”. particularmente satisfeito por ter Respect”. Destaque para “Liberdade” Se o núcleo do volume é, naturalmente, conseguido a colaboração de todos os (2010), entre outros filmes realizados de a própria obra de Camões, incluindo a autores que contactou, quer portugueses, 2006 a 2010. lírica, a épica, o teatro e a epistolografi a, quer estrangeiros. E realça especialmente - A partir de dia 13, o Museu Berardo a planifi cação concebida por Aguiar e a vitalidade e a qualidade dos estudos mostra pela primeira vez em Lisboa a Colecção Cachola em depósito no MACEE - Silva dá também grande importância ao camonianos no Brasil, onde novos valores, Museu de Arte Contemporânea de Elvas.s. campo literário português da época em como Márcia Arruda Franco ou Sheila Das cerca de 400 obras do acervo, 100 que Camões viveu – autores como Sá de Hue, vieram juntar-se a Leodegário de Lisboa será acompanhada por um foram seleccionadas por Eric Corne paraa Miranda ou António Ferreira, entre outros, Azevedo Filho, Gilberto Mendonça Teles e concerto com música sobre Lisboa no dia “A Culpa não é minha - Um percurso pelaa tiveram direito a verbetes individuais outros consagrados especialistas na obra 7 de Setembro, no Salão Nobre da Colecção Cachola no Museu Colecção Câmara Municipal. Berardo”. –, bem como aos grandes movimentos de Camões. -- Mais para o dia 11: depois de ter sido - Dia 15, no Convento de Tomar, um dos culturais do tempo: o maneirismo, o A pertinência de um dicionário como apresentada em Março de 2010 na Cité de acontecimentos anunciados da renascimento, o humanismo. este é tão evidente que o que causa mais La Musique, em Paris, sob a direcção de “rentrée”: “Constructing history: the Outro tópico que o coordenador estranheza é que só agora venha a ser Joana Carneiro, a ópera “A Flowering future life of the past”, projecto da privilegiou foi a recepção de Camões nas publicado, tanto mais que a Caminho já Tree”, do compositor americano John Kunsthalle Lissabon sobre a prática Adams poderá agora ser ouvida na artística contemporânea diante da principais literaturas, como a espanhola, editara obras congéneres dedicadas a Gulbenkian no âmbito do Festival Música representação de episódios a galega (que mereceu tratamento autores como Camilo, Eça ou Fernando Viva/Miso Music Portugal. históricos. Participam The autónomo), a francesa, a inglesa, a alemã Pessoa. Aguiar e Silva avança uma Otolith Group, nomeado para o - O Festival Mozart traz à Gulbenkian os Prémio Turner de 2010, ou a russa. Já a presença de Camões na possível explicação para este atraso, mais ilustres intérpretes da música do Matthew Buckingham, Mona literatura portuguesa foi extensivamente que atribui à própria complexidade compositor austríaco. Dia 23 de Setembro, Vatamanu & Florin Tudor, René Jacobs dirige a Freiburger Mark Twain considerada, desde o século XVI aos das questões que o poeta e a sua obra Micael Nussbaumer, Eduardo Barockorchester e um conjunto de vários modernismos, com entradas colocam. “Penso que é o problema mais Guerra, Pedro Neves Marques reputados jovens solistas numa versão de e Manuel Santos Maia. próprias para o modo como cada uma das complexo da literatura portuguesa, concerto da ópera “Così fan tutte”. - Dia 17, Pedro Barateiro sucessivas épocas lidou com a herança aquele que requer maior especialização”, - Assinalando o bicentenário do mostra, em simultâneo na camoniana. diz o ensaísta, lembrando que os estudos nascimento de Chopin, Artur Pizarro Kunsthalle Lissabon e apresenta ao longo de toda a temporada Entre muitos outros temas, é ainda dado camonianos “existem desde o fi nal do na Kunsthalle Basel de 2010-2011 uma série de nove recitais no particular relevo à relação de Camões século XVI”, que se foram “acumulando (onde inaugura pela Centro Cultural de Belém em que irá mesma altura uma e da sua obra com outras artes, como a muitas interpretações” e que “Camões é interpretar a obra completa para piano do individual), “Hoje música, a pintura ou a escultura. E os uma fl oresta muito mais intrincada do compositor polaco. O primeiro recital Estamos de Olhos realiza-se a 30 de Setembro, seguindo-se camonistas actuais que colaboraram no que Pessoa”. Fechados”, filme apresentações a 14 de Outubro, 30 de feito de Novembro e 16 de Dezembro.

Ípsilon • Sexta-feira 20 Agosto 2010 • 9 Um festival que é obra! O swing de David Fray O Jazz.pt lança-se na terceira edição com o mesmo desafi o O swing é a chave para interpretar Bach, mostra David Fray. das anteriores: mudar mentalidades Rodrigo Amado Em Novembro, vem pela primeira vez a Portugal. Cristina Fernandes

Grünen

A cada ano que passa, o nas sessões de gravação dos mundo musical é inundado por Concertos de Bach com a revelações, umas verdadeiras, Deutsche Kammerphilharmonie outras entusiasmos passageiros Bremen. Estas foram infl acionados pelo “marketing” fi lmadas em 2008 por Bruno das editoras discográfi cas. Monsaingeon (o realizador que

Rentrée Sim, esses fenómenos também nos legou fi lmes memoráveis JAZZ acontecem no mundo da sobre Glenn Gould ou Sviatoslav música clássica. O meio é muito Richter), num documentário competitivo e normalmente os realizado para o canal ARTE intérpretetes têm um alto nível e depois editado em DVD. Há António Para muitos músicos do jazz técnico quando chegam a esse muito que não se ouvia um Bach, Lobo nacionais, independentemente Para muitos músicos circuito, mas se lhes faltar a em instrumentos modernos, com Antunes do quadrante a que pertencem, do jazz nacional, consistência artística que faz a uma tal compreensão estilística existe um antes e um depois do diferença acabarão por cair no e com uma tal energia rítmica. O Festival Jazz.pt, quer tenham existe um antes e um esquecimento. título (“Swing, Sing & Think”) é ou não consciência disso. A À primeira vista, até parte da chave da interpretação. primeira edição, realizada depois do Festival poderíamos pensar que o David Fray não é apenas um em 2008 nas instalações do pianista francês David Fray músico intuitivo, refl ecte sobre Hot Clube, marcou desde Jazz.pt ENRIC VIVES-RUBIO é mais um desses fenómenos as obras e sobre o que faz e sabe logo a diferença ao ocupar de moda. Ainda por cima é um explicar ao milímetro o que o subaproveitado espaço jovem atraente de 29 anos (cuja pretende aos instrumentistas da do jardim das traseiras do imagem de “dandy” tem sido Deutsche Kammerphilharmonie: clube. O Festival Jazz.pt Landfermann e Christian bem aproveitada pela editora “Swinguem, não hesitem em vinha determinado a mudar Lillinger, numa apresentação Virgin Classics) e comunicativo, relançar os acentos, em saltar, mentalidades, apostando em do álbum homónimo a lançar Charlie Haden casado desde 2008 com não percam jamais o ritmo: força nos projectos nacionais, pela Clean Feed. No dia Chiara Muti, fi lha do famoso cantem também! E respirem... muito por culpa do seu principal seguinte, concerto duplo com maestro Riccardo Muti. Mas, à (...) Cuidem da articulação, impulsionador, Pedro Rocha o trio de Afonso Pais (dia 9, primeira audição, verifi camos das acentuações, é necessária Santos. 22h30, Delidelux) – lançamento também que David Fray não vitalidade e sensualidade!”. Até então, seria quase do disco “Fluxorama” (JAAC é um pianista qualquer. A sua Alguns poderão achar a sua impossível assistir num mesmo Records), com Albert Sanz e maneira de tocar (elegante, expressão corporal excessiva, evento a espectáculos de gente Luís Candeias – e o quarteto precisa, poética e percorrida talvez demasiado irrequieta, tão distinta quanto Sei Miguel, formado por Rui Faustino, Gonçalo Pena na ZDB por uma espécie de corrente mas parece uma expressão Júlio Resende, Nuno Costa, Jan Roder, Silke Eberhard e eléctrica) faz justiça aos prémios genuína e dança ao sabor da David Binney, Joe Giardullo, Nikolaus Neuser (dia 9, meia- recentes, incluindo o título música. A postura extrovertida João Lobo, Alberto Pinton, Paulo noite, Odessa), na apresentação de “Revelação do Ano 2008” contrasta com o gosto pelo Gaspar, Nobuyasu Furuya, João de “50” (JACC Records). Muito pela “BBC Music Magazine” e silêncio: “Não sei se as pessoas

Lencastre, Jorge Moniz, Carlos aguardada é a apresentação NELSON GARRIDO o primeiro lugar na categoria se dão contam até que ponto o Bica, Gabriel Ferrandini, Steve do projecto The Core (dia 10, de solista nas Victoires de la seu silêncio e a sua qualidade Swallow, Jason Stein, Afonso 22h30, Lux Frágil), supergrupo Musique de 2010. de escuta contribuem para um Pais, Carlos Zíngaro ou Pedro norueguês formado pelos Além de o ouvir tocar, há grande concerto”, disse numa Moreira, uns praticantes de saxofonistas Jorgen Mathisen também que ouvir David entrevista à televisão francesa um jazz mainstream, mais e , pelo Fray falar sobre música com (disponível em

10 • Sexta-feira 20 Agosto 2010 • Ípsilon imagens recolhidas na Faculdade de de pesquisa contemporânea que em Arquitectura e Urbanismo da Portugal tem sede em Serralves. Universidade de São Paulo e no jardim do Museu Nacional do Teatro, em Lisboa. Outubro - As mulheres continuam a dominar as A força do hip-hop individuais no Centro de Arte Moderna da Gulbenkian: agora é a vez de Lida Abdul, CINEMA Kanye West e Aloe Blacc: um egocêntricoo genial artista afegã radicada nos EUA (fugiu de - Dia 7 arranca a Festa do Cinema e uma irresistível revelação. Mário Lopesopes Cabul em 1979) que explora nos seus Francês em Lisboa, Almada, Porto, vídeos temas como a memória e a Guimarães, Faro e Coimbra. Destaque para migração. Lisboa vai receber ficções duas grandes retrospectivas em Rye Rye filmadas no país natal, que mostram as coprodução com a Cinemateca cicatrizes da guerra através de insólitas Portuguesa, dedicadas a André Téchiné e Há um novo álbum de Kanye mão de Aloe Blacc,c, nome ddaa situações performativas, a partir de dia Pierre Étaix. 24. West no horizonte e, se há um indispensável Stonesones Throw.Throw. - “The American”, “thriller” em que George novo álbum de Kanye West, A 28 de Setembro,, edita uumm - A 25, a Galeria Quadrum, de Lisboa, Clooney é um assassino somossomos obrigadosobr a prestar- segundo álbum queue será regressa com um ciclo de exposições contratado e entregue aos Aloe Blacc desenvolvido por seis curadores bons ofícios do lhelhe atatenção.e Não só o primeiro do restoo da sua convidados. A primeira é comissariada fotógrafo holandês pporqueorq Kanye é desde vida. Há quatro anos,nos, lanlançouçou por André Romão e Pedro Neves e propõe (e realizador de hháá vários anos uma “Shine Through” mmasas não ssee pensar as intenções, o impacto e o “Control”) Anton desdobramento do político na arte. Corbijn, tem dadas estrelas mais registaram movimentaçõesmentações - A 30, o Pavilhão Preto do Museu da estreia em cintilantesc do hip de placas tectónicas.cas. AAgoragora Cidade inaugura “Africa: See You, See Portugal, a 14. POP hoph (e da música será diferente. Já ouvimosouvimos Me!”, exposição que reconstitui a - O DocLisboa popularp urbana em “Good Things” e podemosodemos influência da auto-representação de 2010 (14 a 24 de geral),g mas também garantir que é umaa África e da diáspora africana nas formas Outubro) contemporâneas de fotografar aquele mostra, além da porque,p mesmo que maravilha de opulêncialência continente. antestreia de nãonã reconhecêssemos orquestral, agilidadeade TEATRO / DANÇA “José e Pilar” de o brilhantismobr do funk e espírito “What’sWhat’s - O D. Maria II reabre com Alexandra Miguel Gonçalves hhomemome que se deixou Going On” (o álbumm Mendes, retrospectivas Lencastre e Albano Jerónimo em “Um fotografotografarf enquanto Cristo histórico de Marvinin Eléctrico chamado Desejo” (9 Setembro dedicadas a Joris Ivens e a 31 Outubro), de Tennessee Williams, Marcel Ophüls. crucificrucifi cado em capa recente Gaye). Qualquer com encenação de Diogo Infante. - Duas estreias nas salas, também para 21: da “Rolling“”, S a verdade dúvida pode ser - Figura maior da dança canadiana, a “Deixa-me Entrar”, remake americana por é que ele não nos deixa olhar dissipada com “I bailarina Louise Lecavalier entregou-se Matt Reeves do aclamado filme sueco de noutra direcção. Megalómano need a dollar”, o Tomas Alfredson e “Mistérios de Lisboa”, nas mãos de Benôit Lachambre para uma e egocêntrico, passa o tempo primeiro single, queue peça que especula sobre o corpo da adaptação da obra de Camilo Castelo bailarina-fétiche do colectivo La La La Branco por Raul Ruiz, veterano com uma a dar novidades no twitter, a pode fazer por nós,s, Human Steps. “Is You Me” integra, a 11, a ligação muito especial a Portugal. revelar excertos de sessões em com o “upgrade” programação do Festival Materiais - Dia 22, mas nos EUA, chega “Hereafter” – estúdio e até invadiu a redacção da consciência Diversos (10 a 25 Setembro, Minde, Clint Eastwood saindo da sua “zona de da “Rolling Stone” para mostrar cívica, o mesmo queue Torres Novas e Alcanena). Depois vai à conforto” para assinar uma história Culturgest (14 e 15) e ao Centro Cultural sobrenatural sobre a qual ainda pouco se algumas canções do novo disco, fi zeram há uns anosos Kanye West Vila Flor, Guimarães (17). sabe, escrita por Peter Morgan, que sairá a 16 de Novembro “Crazy”, dos Gnarlsls - Dia 15, no Teatro Nacional S. João, Porto, argumentista de “A Rainha” e “O Último e a que deu primeiro o título Barkley, e “Hey Ya”,a”, Nuno Cardoso atira-se finalmente a “A Rei da Escócia”. “Good Ass Job”, posteriormente dos Outkast. Gaivota”, de Tchékhov. - Ainda sem data marcada, a Cinemateca alterado para “Dark Twisted Paralelamente, Portuguesa organiza um ciclo Nagisa - Com nova direcção, agora pelas mãos de Fantasy”. John Legend Igor Gandra, do Teatro do Ferro, o Festival Oshima, com a apresentação dos Internacional de Marionetas do Porto primeiros filmes do realizador de “O Portanto, com Kanye West junta-se aos Rootss chega a 16. Além da nova criação das Império dos Sentidos”. de regresso, com este criador nas “The Wake Upp Marionetas do Porto (“Make Love, Not LIVROS surpreendente que anda a Sessions” (21 de War”), e da peça que Regina Guimarães - A Objectiva edita “Conversations with gravar material com Justin Setembro), álbum escreveu sobre os nómadas europeus myself”, de Nelson Mandela (Objectiva), Vernon (ele mesmo, voz folk de versões que (“Trans Gueto”), destaque para a alemã ainda sem título definitivo em português. Uta Gebert, com “Cocon” e “Jackush”. Relato pessoal, e gigantesca base de enquanto Bon Iver) e a ameaçar recupera canções - Dia 16, mas em Lisboa, no S. Luiz, estreia dados, acerca de um dos grandes líderes uma colaboração com Justin menos conhecidass “Hedda”, releitura da “Hedda Gabler” de do nosso tempo. Bieber (esse mesmo, o irritante (mas bastante Ibsen por José Maria Vieira Mendes, numa - Paul Auster está de regresso à Asa, com fenómeno adolescente), teremos sampladas) de produção dos Artistas Unidos, e Jacinto “Sunset Park”, que sai quase em de prestar atenção ao hip-hop e Marvin Gaye, Lucas Pires abre a programação de teatro simultâneo em Portugal e nos EUA. à chamada música negra que aí Nina Simone ou da Culturgest com “Sagrada Família”. - A monumental “História do Século XX”, - Xavier Le Roy (“Product of other de Martin Gilbert, chega a Portugal pela vem nos próximos meses. Roberta Flack parara circumstances”, 24) e Gary Stevens (“Not Dom Quixote. Quanto a Kanye, para lançar um alerta: é Tony”, 30) são os destaques da edição - No mês em que Barack Obama visita antecipar “Dark Twisted necessário recuperarerar LUCAS JACKSON/ REUTERS JACKSON/ LUCAS deste ano do Mugatxoan, Portugal, a Dom Quixote edita “A Ponte”, a projecto Fantasy”, conhecemos um dueto a espiritualidade e o sua exaustiva biografia escrita pelo editor com Beyoncé que soa a dueto sentido de realidadeade internacional da “New Yorker” David Remnick. com Beyoncé, “See me now”, da música negra, Clint Eastwood - Outra biografia: “Clarice Lispector – Uma Vida”, de Benjamin Moser e a óptima “Power”, matéria escavando até às ssuasuas (Civilização), que levou sete anos poderosa de coros entontecidos, raízes. para fazer investigação, com o “beat” colado à linha de órgão, Para T.I., a descobertaoberta “aval” da família da escritora. um sample dos King Crimson será de outro tipo. O homem - Portugueses na Porto Editora: (“21st century schizoid man”) a que em tempos PPharrellharrell “Matteo perdeu o emprego”, de Gonçalo M. Tavares (Porto Editora), conjunto e um verso que julgaremos Williams chamou “o Jay-ZJay-Z do de pequenas histórias com um em Novembro se é ou não Sul” foi libertado ddaa prisão onde humor peculiar, e “Uma Longa premonitório: “no man should cumpriu um ano dede pena por Viagem com Manuel Alegre”, de have all that power”. posse ilegal de armasmas e, a julgarjulgar João Céu e Silva. Mas nem só de Kanye West pela barragem de ssintetizadoresintetizadores - “Novas Cartas Portuguesas”, o livro histórico de Maria Teresa se farão os próximos meses. E de “I’m back” e “Yeaheah yyaa know Horta, Maria Velho da Costa, a verdade é que a colheita que (takers)”, os singleses de regresso, Maria Isabel Barreno, sai pela se anuncia parece promissora. vamos ter que prestar-lheestar-lhe Dom Quixote numa reedição Atente-se no regresso auspicioso atenção. “King Uncaged”,ncaged”, o novo anotada, comentada e prefaciada por Ana Luísa às linguagens clássicas pela álbum, sai a 28 de SSetembro.etembro. Amaral. Quanto a verdadeirosdeiros ssinaisinais de - O último Lobo Antunes? futuro, com produçãoção alienígenaalienígena “Sôbolos Rios que Vão” sai Com Kanye West e ritmo frenético, cconviráonvirá também pela Dom Quixote. esperar pela estreiaeia de RRyeye - Salman Rushdie apresentou-o de regresso e Aloe Rye, pseudónimo ddee Ryeisha recentemente no Festival Literário de Paraty e o livro Blacc a editar um Berrain. M.I.A. resgatou-asgatou-a para a chega já em Outubro a sua editora e espera-sera-se queque “Go!“Go! Portugal: “Luka e o Fogo da segundo álbum Pop! Bang!”, o álbumum que vem Vida” é uma obra infanto- sendo adiado desdede MarMarçoço de juvenil para o seu filho Milan. que será o primeiro 2009, seja fi nalmenteente editado JAZZ do resto da sua vida, em Outubro. As cançõesanções que - De 1 a 5, decorre o Angrajazz, com fomos conhecendo,o, iintrincadasntrincadas concertos da Orquestra Angrajazz, construcções de ritmositmos retretiradasiradas da Mingus Dinasty e do Stefano teremos de prestar de sons de rua, prenunciamenunciam Bollani Trio, entre outros. atenção ao hip-hop algo defi nitivamentente - De 27 a 30, o Seixal Jazz traz a excitante. A Amazonzon jjáá aceita Portugal espectáculos de Charlie Haden Quartet West, Dave Holland e à chamada música pré-encomendas e registaregista Quintet, Steve Wilson AXEL SCHMIDT/ AFP AXEL SCHMIDT/ 5 de Outubro comoo data de Quartet e Odean Pope nnegrae que aí vem lançamento. Cruzemosemos os dedos: Octet. No Seixal Jazz não aguentaríamosos o enésimo Clube, as datas estendem- nosn próximos meses Nelson Mandela se de dia 20 até 6 de adiamento. Novembro, com concertos de U2

Ípsilon • Sexta-feira 20 Agosto 2010 • 11 Ken Vandermark, Júlio Resende “3”, No arranca no Porto o Festival Trama: o Project, Tony Malaby’s Tamarindo e os dramaturgo das sensações, Vincent Lokomotiv de Carlos Barretto. Dupont, é um destaques de um festival - Evan Parker Trio, Charles Gayle Trio, que inclui ainda Paulo Castro, A arte e o político, uma John Blum solo, Wadada Leo Smith com Albuquerque Mendes e o videasta e Louis Moholo Moholo e Robert Glasper fotografo alemão Thomas Koner. Trio são os convidados do Festival - A 31, a Companhia Maior, constituída relação revista em Serralves Jazzores, que começa a 29 de Outubro. por intérpretes seniores, estreia o seu Associando-se ao Jazzores, o novíssimo espectáculo de apresentação, “Bela A partir de 20 de Novembro, “Às Artes, Cidadãos!” Festival de Música e Cinema de Abrantes Adormecida”, no CCB. (16 até 6 de Novembro) traz ao continente ocupará toda a ala esquerda do museu com uma excelente os projectos de Gayle, Blum e Leo Smith, ao qual acresce o duo de Ernesto Novembro e arrojada selecção de artistas - e agitadores. José Marmeleirameleira Rodrigues com Heddy Boubaker. - A 30, Jane Monheit actua no Casino de CINEMA Vilamoura. - “A Rede Social”, o filme de David

NUNO FERREIRA SANTOS CLÁSSICA Fincher sobre o Facebook, adaptado da biografia não-autorizada que pinta Mark O título (uma citação da famosa frase Carlos Motta, Matias Faldbakken,dbakken, - A 10, e ainda no âmbito do Festival do refrão da “Marselhesa”) pode não ser Nicoline van Harskamp, PPedroedro G. Zuckerberg, o fundador do site, de cores Mozart da Gulbenkian, Phlippe muito negras, tem estreia portuguesa a 4. dos mais elegantes, mas a exposição Romero, Rosella Biscotti, Sharon Herreweghe apresenta o lendário - A 4, e até 14, mais uma edição do Estoril “Às Artes, Cidadãos!”, que inaugura a Hayes, Simon Wachsmuth,h, SStefantefan “Requiem” com a Orchestre des Champs Élysées e o Collegium Vocale Gent. Na Film Festival. 20 de Novembro no Museu de Serralves, Brüggmann (que ainda esteste ano véspera, a orquestra e o maestro - Dia 10, o novo filme de François Ozon, não está interessada no “glamour” da teve uma exposição individualvidual associam-se a Andreas Staier, que tocará “Potiche”, tem estreia em França. Comédia arte. Comissariada por João Fernandes, na Kunsthalle Lissabon), Tom ao pianoforte o Concerto nº25, de Mozart. de boulevard clássica, com Gérard director do Museu de Serralves, Óscar Nicholson, Vangelis Vlahoshos POP Depardieu e Catherine Deneuve nos papéis principais. Faria, crítico de arte do Ípsilon, e Guy e Zachary Formwalt são ooss - Duas datas, 2 e 3 de Outubro, para os U2, - Sylvain Chomet, o autor de “Belleville Schraenen, coleccionador e curador outros artistas de “Às Artes,tes, a maior banda do mundo, no Estádio Cidade de Coimbra. Rendez-Vous”, filmou em animação um especializado em publicações de Cidadãos!”. argumento que Jacques Tati completou Asier Mendizabal - Dois concertos para dia 6: os Faust, mas nunca chegou a filmar, com a bênção artistas, propõe antes examinar o Está prevista a edição nome fulcral do rock experimental estado actual da relação entre a arte de dois catálogos, o dos herdeiros do realizador. “O Mágico” é germânico da década de 70, actuam pela um dos filmes do ano, e chega a 25. e o político. O objectivo é ambicioso, primeiro publicado na primeira vez em Portugal no Maria Matos: - “Filme Socialismo”, a nova provocação do sobretudo tendo em conta as questões inauguração, o segundo no Pavilhão Atlântico, é 1992 outra vez, com os Guns’n’Roses. eterno farol da Nouvelle Vague, Jean-Luc que atravessam as duas actividades na no fi m, documentando a Godard, foi estreada simultaneamente em - Antony & The Johnsons, com Cannes 2010, “online” em video-on- actualidade. Do activismo e da cidadania vida da exposição. Com “Swanlights” (álbum, onde encontramos até ao ambiente, à crise e à comunidade, textos inéditos de autoress demand, e na Internet, num “trailer” que um dueto com Björk, “Flétta”, que é “acelera” todo a acção do filme e a passando pelo arquivo, a utopia, o exílio fundamentais nos também um livro) e os Belle & Sebastian compacta em apenas dois minutos. A e a emigração, é todo um vocabulário estudos das relações com “Write About Love” (tanto o título Portugal chega em Novembro, em data a SIÇÕES como as canções já conhecidas, “I didn’t comum que atravessa ambos os entre a arte e o político, EXPO see it coming”, “I’m not living in the real discursos. É pouco provável que “Às como Brian Holmes, Hito world” e “I want the world to stop”, Artes, Cidadãos” venha a diagnosticar Steyerl, Sven Lütticken, mostram discos novos no dia 11. a relação, mas, a julgar pela amplitude entre outros. Finalmente, - O quinto dos Kings of Leon, “Come e pela natureza do projecto, vai com é muito provável que “Às Around Sundown”, tem lançamento dia certeza renovar o nosso olhar sobre ela, Artes, Cidadãos!”, que 18. - Não há novo álbum dos Roxy Music, devolvendo, entretanto, perguntas e integra as comemorações mas há “Olympia”, que é o mais próximo dúvidas. do centenário da Repúblicaca dele que teremos. Colaboram Brian Eno, Toda a ala esquerda do museu Portuguesa, chegue tambémém aos Phil Manzanera e Andy Mackay, velhos (incluindo a capela, a sala multiusos e jardins de Serralves e à cidadedade do amigos, e uma parada de estrelas que inclui David Gilmour, Jonny Greenwood ou o anfi teatro) será ocupada com obras Porto. E está encontrada a exposição da os Scissor Sisters. Sai dia 25. produzidas por artistas nascidos a partir “rentrée”. EXPOSIÇÕES de 1961, data da construção do muro de - Realizada em parceria com a Comissão Berlim, momento que assinalou uma Nacional para as Comemorações do divisão ideológica que ainda hoje se Do activismo e da Centenário da República em Portugal, Michael Jackson manifesta concretamente ou enquanto “Res Pública” é uma leitura das heranças cidadania até ao sociais da República no mundo fantasma cultural. A maior parte dos globalizado a partir de obras do início do trabalhos foi (e está a ser) produzida ambiente, à crise século XX e do início do século XXI. A especifi camente para a exposição e partir de dia 7, no Centro de Arte a montagem privilegia confrontos e e à comunidade, passando Moderna da Gulbenkian. diálogos nos momentos colectivos – - No dia em que a Trienal de imaginam-se estimulantes “conversas” pelo arquivo, a utopia, Arquitectura de Lisboa inaugura a entre, por exemplo, João Sousa Cardoso e Asier Mendizabal, Sam Durant e Rigo 23, o exílio e a emigração, Mariana Silva e Gert Jan Kocken. Haverá também situações menos habituais, é todo um vocabulário como o acampamento de dois dias do comum que atravessa colectivo russo Chto Delat no auditório, com “Living Politically: A 48-Hour os discursos da arte Communal Life Seminar”, um programa que inclui debates e projecções de e da política fi lmes e termina com uma performance de 30 pessoas. A selecção de artistas internacionais é excelente e arrojada (a maioria já expôs nas mais importantes bienais e exposições internacionais de arte), pois permitirá um Sam Durant contacto inédito com um conjunto de nomes cada vez Lady Gaga mais afi rmados no contexto exposição “Falemos de casas: entre o norte marcar. global, como Sam Durant (de e o sul”, panorâmica sobre a habitação a LIVROS novo), Danh Vo, o colectivo partir de dois momentos emblemáticos – o -“Pátria Apátrida”, inédito de W. G. Claire Fontaine, ou Gardar Eide projecto SAAL e A Casa do Futuro, de Alison e Peter Smithson – no Museu Sebald, sai na Teorema. Einarsson, e conhecer alguma Berardo, a Gulbenkian abre as portas de - Antonio Skármeta vem a Lisboa produção artística assinadas “Os Professores”, resultado de um apresentar o seu último romance, “Um Paiai por artistas com raízes no Médio inquérito a 50 artistas, sobre os de Filme” (Teorema). Oriente e na Ásia (Ahlam Shibli, professores que mais os marcaram. É a 14. - A Sextante publica “A filha do coveiro”, Ahmet Ögüt e Shilpa Gupta). - Na Culturgest, em Lisboa, a primeira de Joyce Carol Oates: em 1936, os antológica do trabalho do artista Schwarts escapam da Alemanha nazi e Embora reconhecendo a português João Queiroz (Lisboa, 1957), instalam-se numa pequena cidade do relevância do político na produção reunindo desenhos e pinturas realizados estado de Nova Iorque. artística das duas últimas décadas, ao longo dos últimos 20 anos, inaugura a - Lídia Jorge não publicava romance “Às Artes os Cidadãos” não deixa 16 de Outubro. desde 2007; regressaessa agora, na de olhar para a história e contará - A 21 dede OOutubroutubro, a GGaleriaaleria ZZé dos Bois Dom Quixote, comm “A Noite rrevelaevela alalgunsguns dodos principais das Mulheres Cantoras”.ntoras”. com uma secção constituída por pprocessosrocessos e eelementoslem da - Duas edições cartazes, revistas e publicações oobrabra pictóricpictóricaa de Gonçalo fundamentais daa RelóRelógiogio de artistas que permitirá rever as PePenana nnaquelaaquela que será, D’Água: “Debaixoo da RedeRede”,”, referências do político desde as eeventualmente,ventualment a maior primeiro romancee de IrIrisis iindividualndividual do artista primeiras vanguardas do século XX. Murdoch, e “Críticaca da rrealizadaealizada aaté hoje. Razão Cínica” umm dos André Romão, Andrea Geyer, TEATTEATROR / livros cruciais dee Peter DADANÇAN Sloterdijk. - A 14, -- Mais

12 • Sexta-feira 20 Agosto 2010 • Ípsilon W. G. Sebald Jordi Savall Joe Lovano Mandela: “Um Longo Caminho para a concerto dia 11, no Lux. Liberdade”, autobiografia de uma das - Dia 18, no Pavilhão Atlântico, a banda de figuras mais emblemáticas do século XX. uma geração num palco para grandes JAZZ massas: Arcade Fire. O teatro, finalmente -De 11 a 20, todas as atenções se viram EXPOSIÇÕES para o Guimarães Jazz, que tem uma - No Pavilhão Branco do Museu da Cidade, Os textos clássicos, de Tennessee Williams a Brecht, programação de luxo: The All Star e à boleia da Trienal de Arquitectura, a Celebration of Lionel Hampton, Kenny mais ampla exposição de António Bolota, de Ibsen a Tchékhov, ocupam em força as salas nacionais a partir Garrett Quartet, Saxophone Summit com “À Última Luz do Dia”, promete ser outro de Setembro. Tiago Bartolomeu Costa os saxofonistas Joe Lovano, David momento alto de 2010. Inaugura dia 13. Liebman e Ravi Coltrane (repete a 14 na - A 18, a Kunsthalle Lissabon apresenta, Culturgest), TOAP 2010, o grupo The Story, pela primeira vez em Portugal, o trabalho Charles Lloyd New Quartet, Gonzalo da libanesa Mounira Al Solh que se Rubalcaba Sextet, Big Band da ESMAE e funda numa abordagem ficcional e irónica Não foi assim há tanto tempo que acompanham uma refl exão sobre a os muito aguardados New York da história contemporânea do Líbano. Composers Orchestra. os teatros portugueses começaram validade dos clássicos. À medida que os - Dia 20, Serralves mostra os projectos CLÁSSICA a antecipar as programações da orçamentos vão diminuindo e a pressão vencedores da sexta edição do BES temporada, seguindo a prática regular da novidade aumenta, o espaço ocupado - Jordi Savall e o seu agrupamento Revelação. A fotografia de Carlos Hespérion XXI (com a colaboração de Mesquita, uma situação escultórica de das instituições europeias e permitindo pelos clássicos vai sendo reduzido e músicos convidados da Turquia, Arménia, Eduardo Guerra, três peças de Miguel leituras transversais sobre temáticas substituído por variações, colagens ou Grécia e Marrocos) apresentam na Casa da

Serrão e um filme animado de Mónica Rentrée comuns ou percursos no singular. releituras. Ao mesmo tempo, é o próprio Musica (6) e na Gulbenkian (7) o programa Baptista. Quatro jovens artistas a seguir. do CD “Istanbul”. Desde logo, e olhando para os texto – o seu valor, o seu lugar e a sua TEATRO / DANÇA POP “blockbusters”, uma tendência: os perenidade – que é posto em causa. É por - A dança de Clara Andermatt junta-se ao clássicos. São vários os espectáculos isso que, ao encontrarmos na “rentrée” - Rei morto, rei editado em abundância. O teatro visual do realizador Marco Martins primeiro álbum de originais póstumo de em “1, 26/Contaminação”, de 5 a 28 que adaptam (ou dialogam com) textos novos textos de Jacinto Lucas Pires (que Michael Jackson chega em Novembro e Novembro no São Luiz. A partir da incontornáveis da dramaturgia mundial. abre a 16 de Setembro a programação será montado a partir dos mais de cem deslocação do eixo da Terra depois do O Teatro Nacional D. Maria II abre com da Culturgest) e Tiago Rodrigues (22 inéditos que, desde os tempos de terramoto do Chile, uma parábola sobre o “Thriller”, Jackson guardou no baú. “Um Eléctrico chamado Desejo” (9 de de Outubro no Maria Matos), criações tempo e o espaço. Setembro a 31 Outubro), de Tennessee originais do Teatro da Garagem, do - Os Broken Social Scene, super banda - Integrada no Festival Temps d’Images, a canadiana representante de uma nova peça da espanhola La Ribot, Williams, encenado pelo seu director Teatro Meridional (ambas no D. Maria II) sensibilidade rock que tem nos Arcade “Llamamme Mariachi” (12 e 13 na artístico, Diogo Infante. Será a terceira ou da Mala Voadora (Maria Matos), bem Fire os seus representantes máximos, Culturgest, em Lisboa). vez que a peça se apresenta em Portugal. como os regressos de Ricardo Pais ao apresenta “Forgiveness Rock Record”, o último álbum, ao vivo na Aula Magna (7) e EmEm 1963 ffoioi MMarianaariana RReyey MMonteiroonteiro SS.. JJoãooão (“Sombras”,(“Sombras”, 12 NNovembro)ovembro) ou ddee na Casa da Música (8). Dezembro quemquem fez de Blanche DuBois;DuBois; em 19901990 Mónica Calle à CulturCulturgestgest (“Inferno”, 1 - The Drums, os verdadeiros “indie Manuela de Freitas. Agora é a vez de a 8 Novembro), devemos perguntar-nos darlings”, regressam a Portugal depois da CINEMA Alexandra Lencastre, que regressa aos ddee que modo a criacriaçãoção nacional procura passagem pelo Optimus Alive, para um - A estreia portuguesa de “Biutiful”, o novo palcos 16 anos depois de “Fernando ddialogarialogar com uma herançaherança dramatúrgica filme do mexicano Alejandro González KrappKrapp escreveu-me uma carta”, no Teatro ppoucoouco ppacífiacífi caca.. S Iñarritu, é no dia 2. Aberto.Aberto. O - Dia 2, na Culturgest, o ciclo “Chris É lá, no Teatro Aberto, que João RAM Marker, Memórias dos Tempos”

percorre a carreira do cineasta, LourençoLourenço encena, para estrear em RAMOS LUÍS L considerado por Alain Resnais o inventor Outubro,Outubro, “O Sr. Puntila e o seu criado”,criaadodo”,, do “filme-ensaio” dede BrechtBrecht,, retomando assim STEPHEN HIRD/ REUTERS STEPHEN HIRD/ - Dia 9, uma das Palmas de Ouro de uma genealoggenealogiaia de peças doo Cannes mais discutidas nos últimos anos, dramaturgodramaturgo alemão que sãsãoo “Uncle Boonmee Who Can Recall His Past Lives”, do cineasta tailandês Apichatpong a espinha dorsal do teatro Weerasethakul, chega a Portugal. contemporâneo.contemporâneo. Ainda em - “Somewhere”, o novo filme de Sofia “Lost Lisboa,Lisboa, no Teatro S. Luiz in Translation” Coppola, traz Stephen (16(16 de Setembro a 18 de OutubroOutubro),), Dorff no papel de um actor de Los Angeles JoséJosé MMariaaria VieiraVieira MendesMendes tomatoma de que se vê confrontado com uma visita da sua filha adolescente (estreia americana a assalto “Hedda Gabler”, de Ibsen, 22, portuguesa em Fevereiro). para,p, com encenação de - Dia 30, estreia americana de “True Grit”, JJorgeorge Silva Melo e o novo filme dos irmãos Coen. interpretaçãointerpretação de TEATRO/DANÇA MariaMaM ria JoãoJoão LuizLuiz - O colectivo flamengo TgStan estreia dia - assombrosa actractriziz -, 8, no Maria Matos, “The Tangible”, relerreler uma das peças trabalho sobre o Médio-Oriente a partir de TEA recolhas de vozes de exilados. ATRO/ maismais importantes da - Em Guimarães, A Oficina, um dos mais DADAN viragemviragem do século conhecidos projectos teatrais NÇNÇA XIX parapara o séculoséculo portugueses, encena “Sacríficio”, de José XX,XX, prosseguindoprosseguindo um Tolentino Mendonça, a partir de 15. trabalhotrabalho de ararquitecturaquitectura - Alain Platel surpreende com “Out of dramatúrgicadramatúrgica que já o context – for Pina”, no Centro Cultural Vila Flor, Guimarães, dia 17; a 19 e 20, desce ao llevouevou a MelvilleMelville,, KafkaKafka,, Maria Matos, Lisboa. Um dos grandes MolièreMolièi re e Dostóievski.Dostóievski. Alexandra espectáculos do ano. No TeatroTeatro Nacional SS.. JoãoJoão,, Lencastre POP NunoNuno CCardosoardoso abre a temtemporadaporada - Lady Gaga, a provocadora que o com “A Gaivota”, G i ” de d Tchékhov (15 de mainstream adora, está de passagem pelo SetembroSetembro a 3 de Outubro),Outubro), levando-a Pavilhão Atlântico, no dia 10. depoisdepois a vários outros teatros. E em - Os MGMT, banda que escolheu sabotar o sucesso indie com um segundo álbum, o Almada o Teatro da CornucóCornucópiapia rerepõepõe memorável “Congratulations”, dá o seu “Ifi géniagénia na Táurida”,Táurida”, de Goethe,Goethe, com segundo concerto português, dia 18, no encenaçãoencenação de Luís Miguel Cintra (22 a 26 Campo Pequeno. Setembro),Setembro), criaçãocriação de 2009.2009. CLÁSSICA São cinco exemplos de escolhas que - O pianista húngaro András Schiff, regressa dia 1 à Gulbenkian para interpretar as “Variações Goldberg”; no dia seguinte, faz a sua estreia no Ciclo São vários os espectáculos de Piano da Casa da Música com o mesmo programa. que adaptam - Dia 17 Estreia na Culturgest “Paint Me” (Pinta-me), uma (ou dialogamdialogam com) nova ópera de Luís Tinoco, com direcção musical de ttextosextos inincontornáveiscontornáveis Joana Carneiro e encenação de Rui Horta. da dramaturdramaturgiagia JAZZ JEAN-PAUL PELISSIER/ REUTERS JEAN-PAUL - Dia 14 A cubana Omara mmundialundial Portuondo encontra-se com David Murray na Apichatpong “Out of Context- Casa da Música. Weerasethakul For Pina, Informações recolhidas de Alain Platel por Cristina Fernandes, Jorge Mourinha, José Marmeleira, Luís Miguel Queirós, Mário Lopes, Raquel Ribeiro, Rodrigo Amado e Tiago Bartolo- meu Costa

Ípsilon • Sexta-feira 20 Agosto 2010 • 13 As casas não estão lá, fisicamente (fi- à vivência dos seus habitantes”, su- “Recusámos o comissário, não foi o único critério. caram nas dunas da Comporta, em blinha Delfim Sardo. “Interessavam-nos [estes projectos] Campo de Ourique, no Alto Alentejo, As casas escolhidas espelham estas uma exposição também porque faziam a quadratura no Bairro da Bouça), mas por pouco. intenções. O Bairro da Bouça, de Siza de um círculo entre um bairro de ha- A representação portuguesa na 12.ª Vieira, desenvolvido no Porto logo que passasse a ideia bitação económica que conta a his- Bienal de Arquitectura de Veneza le- após o 25 de Abril no contexto do tória da arquitectura portuguesa dos va à cidade italiana, a partir de 29 de Serviço Ambulatório de Apoio Local de um belo país últimos 30 anos, uma casa à beira- Agosto, algo mais do que maquetas (SAAL), foi interrompido após a sua mar, uma casa no Alentejo e uma ou modelos de edifícios. Basta ler o primeira fase e ficou parado durante com uma aristocracia casa no centro da cidade, cada uma título, “No place like - 4 houses, 4 fil- 30 anos, isolando-se da cidade e so- rural. Podia respondendo a programas muito es- ms”. É literal: em Veneza vão estar frendo a intervenção dos moradores. pecíficos de uma forma brilhante e (não fisicamente, mas quase) quatro Quando o projecto foi retomado, o acontecer, porque com enorme economia e secura.” casas e (fisicamente, agora sim) qua- arquitecto manteve o desenho da se- tro filmes. As casas são dos arquitec- gunda fase, mas incorporou as mo- realmente alguns A emoção do cinema tos Manuel e Francisco Aires Mateus dificações “populares”. A casa nas Eleitas as casas, seguiram-se os artis- (que, extra representação oficial por- dunas da Comporta (Tróia), de Ma- dos projectos de tas. Para o Bairro da Bouça foi esco- tuguesa, estão também em “People nuel e Francisco Aires Mateus, nas- lhida Filipa César, para a casa da Com- meet in Architecture” - ver caixa), ceu de construções precárias em habitação com porta João Salaviza; João Onofre ficou Ricardo Bak Gordon, João Luís Car- madeira e alvenaria e abre o habitar mais recursos são com a habitação em Lisboa e Julião rilho da Graça e Álvaro Siza Vieira. ao mar e ao chão da areia. Invisível, Sarmento com a “casa alentejana”. Os filmes são dos artistas plásticos nas traseiras do bairro de Campo de segundas casas no “Foi mais ou menos natural”, revela Filipa César, Julião Sarmento e João Ourique, em Lisboa, a casa de betão Delfim Sardo. “Entre o Julião Sarmen- Onofre, e do realizador de cinema de Ricardo Bak Gordon preenche um campo. Queríamos to e o Carrilho da Graça existe uma João Salaviza, o mesmo de “Arena”, espaço vazio com uma arquitectura enorme cumplicidade, já colabora- que em 2009 venceu a Palma de Ou- de recortes modernistas, e revela-se coisas mais ligadas ram nalguns projectos. No caso do ro do Festival de Cannes para as cur- num conjunto de pátios interiores Onofre, perguntámo-nos quem podia tas-metragens. como um palco disponível ao olhar à vivência dos seus fazer um filme ficcional à volta de Não é necessário já ter visitado a (a casa dá para as traseiras dos pré- habitantes” uma casa que está escondida num exposição para tentar adivinhar as dios envolventes). A casa de Carrilho casco da cidade, quem podia fazer relações que ela sugere. Cinema e ar- da Graça em Évora, no Alentejo, re- Delfim Sardo, um ‘close-up’ para dentro daquela quitectura, filmes e edifícios, casas e vela referências da arquitectura po- situação? E o nome apareceu como personagens, planos cinematográfi- pular: mostra-se primeiro com a sua comissário uma solução clara. O trabalho dele é cos e desenhos de arquitectura. Mas fachada mais simples e branca, cres- sempre uma aproximação a alguma regressemos, para já, a Veneza, onde ce com um pátio e depois “entrega- coisa que se está a passar em frente à o contingente de portugueses esco- se” ao campo em volta. câmara. Aqui tratava-se de uma apro-

lhidos por Julia Albani, José Mateus, Exposições A qualidade arquitectónica, insiste ximação a partir de fora para uma Rita Palma e Delfim Sardo (membros da equipa curatorial de Trienal de Arquitectura de Lisboa, entidade con- vidada a colaborar este ano na repre- A casa das dunas Francisco Aires Mateus sentação oficial portuguesa) ocupa da Comporta os dois pisos da Università Ca’ Fosca- O cineasta João Salaviza transfigura ri, importante instituição pública o projecto dos irmãos Aires Mateus

cujo edifício, de estrutura veneziana, (à direita) numa curta (em baixo) ENRIC VIVES-RUBIO tem um invejável currículo de expo- entre a ficção e o documentário sições (no ano passado, durante a (pensa-se em Kiarostami...)) Bienal de Arte, recebeu a exposição de Bruce Nauman). Vamos entrar. Da habitação social à casa na praia O tema da Trienal de Lisboa – a habi- tação como momento redentor da arquitectura e motivação central do pensamento arquitectónico – conta- João Salaviza giou a natureza e o espírito da ope- ENRIC VIVES-RUBIO ração Veneza. “Daí surgiu a ideia de escolher um certo número de casas, cada uma delas contada por um ar- tista ou realizador através de um fil- me ficcional cujo protagonista fosse a própria casa”, explica um dos cura- dores, o comissário e ensaísta Delfim Manuel Aires Mateus Sardo. “Depois de um longa pesquisa, decidimos incluir casas que tivessem uma relação específica com o lugar e com uma determinada pré-existên- cia. Esse foi o nosso ponto de parti- da”, continua. Pelo caminho, acertaram-se crité- rios. “Recusámos uma exposição que, com arquitecturas extraordinárias, passasse a ideia de um belo país com uma aristocracia rural. Podia acon- tecer, porque realmente alguns dos projectos de habitação com mais re- cursos são segundas casas feitas no campo. Nesse sentido, rejeitámos também a retórica dos recursos finan- ceiros. Queríamos coisas mais ligadas A arquitectura portuguesa chega Dentro do Pavilhão de Portugal da 12.ª Bienal de Arquitectura de Veneza João Luís Carrilho da Graça e Siza Vieira, e há os fi lmes que

14 • Sexta-feira 20 Agosto 2010 • Ípsilon realidade fechada dentro de um quar- arquitectura, não é a imagem fixa, teirão”. mas a imagem háptica, do cinema”. Para a Bouça a escolha recaiu numa Outra razão influenciou o trabalho artista de uma geração totalmente com o filme, as relações históricas diferente da do arquitecto, mas com entre o cinema e a arquitectura: “Atra- FRANCISCO GUERRA uma vivência do Porto e um trabalho vessam-se desde a génese do cinema que se situa entre o documentário e e do modernismo arquitectónico, a ficção (e do qual não está ausente, influenciando-se mutuamente. E há antes pelo contrário, uma atenção uma teorização dessas relações feita particular ao social): Filipa César. A por gente como o Le Corbusier, o Mies casa dos irmãos Mateus ficou nas van der Rhoe, o Philip Johnson, o An- A casa mãos de João Salaviza. “É provavel- thony Vidler, a Gionna Bruno”. de Campo mente a mais narrativa e a mais cine- de Ourique matográfica”, sublinha o curador, A casa como palco “Quem podia “porque a utilização e a configuração Todos os quatro filmes, de forma dis- fazer um filme [da casa] são completamente inusita- tinta, põem corpos em movimento à volta de uma das, e por isso fomos à procura de um no espaço para contarem a história casa escondida realizador de cinema”. O talento do das casas. O filme de Julião Sarmento, num casco jovem cineasta para filmar espaços “Cromelech”, narra a estadia de três da cidade?”, ajudou na decisão: “Tem uma sensi- raparigas na casa do Alentejo. Elas pergunta bilidade arquitectónica fantástica e são os espectadores móveis no espa- (e responde) caracterizou aquele local com uma ço, mas não estão sozinhas. O olho o comissário enorme economia processual”. da câmara segue-as, desfoca-as, si- Delfim Sardo: Ao reflectirem sobre o que é viver lencia-as (a dada altura uma voz em João Onofre faz o espaço arquitectónico, os filmes off, que parece descrever a casa, so- o “close-up” põem estas casas em movimento: “Pe- brepõe-se às vozes delas), e em certos do projecto dimos uma curta ficcional sobre cada planos manifestam-se “assuntos” re- de Ricardo Bak casa, mas não pedimos que mostras- correntes na obra do artista: o dese- Gordon sem a casa na sua completude, até jo, a figura feminina, o voyeurismo. João Onofre porque a única completude na vivên- “Porto, 1975”, de Filipa César, é um cia de um projecto arquitectónico é belíssimo plano-sequência (carrega- ‘in loco’. Tem de se entrar, tem de se mos no superlativo) que começa nu- estar no espaço. A emoção da arqui- ma imagem em movimento e termina Ricardo Bak Gordon

tectura é feita assim. E o mais seme- numa imagem fixa (o objecto é o mes- ROCHA DANIEL lhante, de forma a podermos propor- mo: um comboio) para descrever um cionar essa relação corporal com a passeio pelo Bairro da Bouça. Nos FRANCISCO GUERRA AIRES MATEUS

Casa no Alto Alentejo “Entre o [artista plástico] Julião Sarmento e o [arquitecto] Carrilho da Graça existe uma enorme cumplicidade”, diz Delfim Sardo; os dois voltam a JoãoJoã Luís Carrilho da Graça encontrar-se agora, em

“Cromelech” CUNHA PEDRO

Julião Sarmento RG RUI GAUDÊNCIO GAUDÊNCIO RUI RG ga a casa em Veneza a há casas de Manuel e Francisco Aires Mateus, Ricardo Bak Gordon, e essas casas deram. Era uma vez um país. José Marmeleira

Ípsilon • Sexta-feira 20 Agosto 2010 • 15 “Estes projectos fazem seus nove minutos, faz do corpo no espaço também o corpo de uma a quadratura de um consciência política e de uma memó- ria. João Onofre traz para a casa de círculo entre um Ricardo Bak Gordon não um ser hu- FRANCISCO GUERRA mano, mas um barco. Vemo-lo recor- bairro de habitação tado no céu azul e, seguro por um guindaste, a descer sobre a piscina económica que da habitação. Uma acção inútil, uma conta a história performance absurda num espaço privado transformado em palco. da arquitectura Na curta de João Salaviza só vemos a casa no fim e no princípio, mas ela portuguesa é o centro geográfico do percurso da personagem: um rapaz que parte de dos últimos 30 anos, manhã à procura da família e regres- sa à noite, à boleia com Germesindo, Bairroro uma casa à beira- um homem da terra. Os dois conver- da BBouçaouça sam sobre a arquitectura local, as Emm “Porto,

mar, uma casa no ROCHA DANIEL casas, os materiais e, nesse momen- 1975”,, a vivência Alentejo e uma casa to, tal como acontece com os espaços que Filipailipa César exteriores e interiores da casa da tem do PorPortoto no centro da cidade” Comporta, a ficção e o documentário cruza-sese com diluem-se (e pensa-se em Kiarosta- a memóriamória Delfim Sardo, mi). Numa curta conversa telefónica políticaca Filipa César com o Ípsilon, o realizador resumiu associada ao comissário assim a posição que inspirou a obra: projecto ddee “Para mim, a arquitectura e o cinema habitação socialcial ligam-se não tanto numa questão es- de Siza Vieira, tética, mas num princípio moral, po- mesmo no lítico. Da mesma forma que acho que centro da uma casa não nos deve limitar o quo- cidade tidiano, o cinema não deve limitar o nosso olhar, o enquadramento não deve ser o limite afectivo e concep- Siza Vieira tual do olhar”.

Encontros múltiplos com Kazuyo Sejima Os irmãos Aires Mateus encontram-se com o arquitecto holandês Rem Koolhaas e a artista canadiana Janet Cardiff na Bienal de Arquitectura de Veneza. “People Meet in Architecture” são os estados gerais da arquitectura, hoje, entre a permanência e a efemeridade. Ricardo Carvalho

performativa ou efémera, não poderá sequer falar-se em questionando o signifi cado representação. São objectos mais tradicional do trabalho do de arquitectura e, ao mesmo arquitecto. Esta abertura a novas tempo, uma tomada de posição possibilidades da arquitectura, acerca do que interessa aos Aires a que a contemporaneidade Mateus enquanto arquitectos. se vê obrigada mas também Uma posição que mostra dois acolhe entusiasticamente, está arquitectos progressivamente nas propostas dos berlinenses mais livres e disponíveis para RaumLaborBerlin, que utilizam o risco, procurando novas insufl áveis efémeros para criar conjugações de arquétipos, ou espaços urbanos colectivos, ou dos simplesmente modos de fi xar a norte americanos Aranda Lasch. subjectividade formal. Mesmo os artistas escolhidos Se, por um lado, Manuel e trabalham com fortes ligações Francisco Aires Mateus estão à arquitectura, como o escultor próximos dos restantes autores Tom Sachs, que utiliza maquetas da exposição no modo como de edifícios célebres nas suas entendem a arquitectura com Os irmãos Aires Mateus levam instalações, ou a artista canadiana uma fortíssima carga conceptual, à Bienal oito casas que ainda Janet Cardiff , que constrói espaços por outro estas obras apelam a não estão construídas mas arquitectónicos, materiais ou temas menos consensuais hoje, já revelam a singular posição imateriais. Em Veneza, Cardiff irá como o da permanência, com da dupla no actual cisma entre mostrar uma peça de 2001, “Forty espaços defi nidos por espessas a permanência e a fragilidade Part Motet”, onde os cantores paredes e confi gurações que nos de uma peça do compositor remetem para o mundo arcaico. Foi com uma ideia de partilha, Os insufl áveis Architecture”, é necessário cruzar renascentista Thomas Tallis são Este contraponto à fragilidade e de confronto, que a arquitecta dos RaumLaborBerlin os nomes e o signifi cado dos substituídos por 40 colunas de dominante (por opção ou, na japonesa Kazuyo Sejima, trabalhos que Sejima elegeu e que som abraçando um espaço. maioria dos casos, por coacção) comissária convidada da 12.ª propõe que vejamos em confronto. Temos assim reunidos temas é uma das características mais Bienal de Arquitectura de Dos ateliers escolhidos emergem que emergem do trabalho da particulares da dupla portuguesa. Veneza, lançou “People Meet in vários tipos de perfi l, desde os própria Sejima – o transitório Em Veneza podemos percorrer Architecture”, um conjunto de globais Rem Koolhaas e Herzog & e a leveza, a imaterialidade, o as oito casas de “Voids” e vê-las exposições que cruzam o trabalho de Meuron, até arquitectos mais fascínio pela componente táctil como elementos volumétricos de arquitectos, artistas, arquitectos jovens e com trabalhos de escala dos materiais, a condição artística na paisagem, mas também como paisagistas e engenheiros. Veneza vai circunscrita aos países de origem, da arquitectura e a informalidade espaços habitáveis. Ali estão, Privilegiando claramente a ideia como o espanhol Anton Garcia- no modo de habitar. Talvez por escavados, os vazios interiores da arquitectura como uma prática debruçar-se sobre Abril, o suíço Christian Kerez ou os isso ela tenha também incluído e exteriores onde podemos de intersecção, Sejima escolheu chilenos Pezo von Ellrichshausen. o trabalho do seu sócio Ryue imaginar pessoas e localizações – cerca de 40 autores, entre os quais a arquitectura como Não há qualquer ligação imediata Nishizawa na exposição. a exposição inclui até postais com o atelier lisboeta Aires Mateus. entre estes arquitectos – por vezes fotografi as, a preto e branco, dos “Voids”, uma instalação a partir estratégia de acção até trabalham com premissas Casas-mistério vários lugares que as vão receber. de oito projectos de casas em performativa opostas –, a não ser a radicalidade Manuel e Francisco Aires Mateus Mas todas estas obras podem Portugal, é a proposta de Manuel e e o rigor. E por isso, eventualmente, optaram por mostrar oito casas ser também outra coisa, fora Francisco Aires Mateus para este ou efémera um título tão abrangente como que não estão ainda construídas. do seu enquadramento inicial. evento paralelo à representação “People meet in Architecture”. O modo de visitar estes projectos A força das casas que os Aires ofi cial portuguesa. Boa parte dos convidados vai muito para além da sua Mateus levam a Veneza reside na Para se situar a proposta dos usa a arquitectura também representação como obras de capacidade de se libertarem do Aires Mateus em “People meet in como estratégia de acção arquitectura. Eventualmente contingente e do imediato.

16 • Sexta-feira 20 Agosto 2010 • Ípsilon Escola de Ciências Sociais e Humanas Mestrado em Estudos Indianos

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Instituto Universitário de Lisboa Explorando o Futuro As imagens que nunca Somos todos mirones, acusam as mais de 250 imagens de vigilância e v Parece a história desta era em que estamos todos expostos no Facebook, m pelo menos desde a Bíblia. Até 3 de Outubro, a Tate Modern é o b Há um vínculo qualquer entre a foto- estômago. Há a brutalidade que fez grafia da criança que corre, corpo Susan Sontag, confrontada com ima- franzino queimado pelo napalm, no gens da Segunda Guerra Mundial e do Vietname de 1972, e a imagem de uma Vietname, recordar em “On Photo- GOLDIN NAN

Paris Hilton chorosa a caminho da graphy”: “Uma vez vistas estas ima- CALLAHAN HARRY prisão. Há um vínculo qualquer entre gens, encetámos o caminho para ver as imagens de um linchamento no fi- mais - e mais. As imagens trespassam. nal do século XIX nos EUA e os ins- As imagens anestesiam”. tantâneos digitais de soldados ameri- Ver “Exposed” é por vezes difícil, canos montados em presos iraquianos pelo menos sem antestesia. Faz-nos em Abu Ghraib. Há, decididamente, pensar, como explica o comissário um vínculo entre as imagens de vigi- britânico da exposição, Simon Baker, lância dos aviões U2 que desencade- na moral do espectador, na erosão da aram a crise dos mísseis de Cuba na privacidade, na inversão do público Baía dos Porcos e o programa de apa- e do privado na era pós-Habermas e nhados “Candid Camera”. pós-McLuhan, a era do sr. Facebook. No primeiro caso, o vínculo é o fo- Que nos diz que o mundo é melhor tógrafo, Nick Ut. No segundo, o vín- se partilharmos tudo: um mundo de culo é o propósito: a imagem, tal como paredes transparentes e fotografias as vítimas do acto, é um troféu, o sím- para todos. bolo de uma conquista. No terceiro, Ao telefone, Simon Baker admite é tudo uma questão de vigilância. que sim, que há elementos descon- “Exposed - Voyeurism, Surveillan- fortáveis na mostra que marca a sua ce & the Camera” está na Tate Mo- estreia como comissário de fotografia WEEGEE dern, em Londres, até 3 de Outubro. da Tate. Dá como exemplo “The Pa- Depois, as mais de 250 imagens que rk”, de Kohei Yoshiyuki, uma série de varrem a história da vigilância e do fotografias nocturnas de casais que voyeurismo do século XIX ao século escolhiam os parques de Tóquio para XXI migram para o Museum of Mo- fazer sexo rodeados, com ou sem o dern Art de São Francisco, ao encon- seu conhecimento, por grupos de mi- tro da curadora que a concebeu ini- rones. “Nos anos 70, no Japão, eram cialmente, Sandra S. Phillips, respon- mostradas no escuro. Davam-nos uma sável pelo departamento de fotografia lanterna e encontrávamos assim as contemporânea da instituição. imagens, de uma forma muito teatral. Esta ponte Reino Unido-América Há difíceis questões éticas, e mesmo não é só um itinerário casual. Da po- legais, suscitadas por este mate- tente mistura de erotismo, curiosida- rial”. de, segredo, violência, celebridade, Mas não é só o sexo, nem é só a memória, vigilância (e concomitante violência de um homem esborracha- ausência de privacidade) que resulta do no chão. É a maneira como as ve- destas imagens, uma coisa sobressai: mos. “Habituámo-nos a ver imagens esta é uma realidade muito anglosa- de violência e sexo, mas acho que não xónica, com incursões calculadas na nos habituámos a pensar muito sobre Ásia e na América Latina. A cortina elas”, diz-nos Sandra Phillips. Sobre- de ferro, o comunismo, o colonialis- tudo, não nos habituámos a questio- mo, África, pouco disso espreita por nar a nossa participação, até sermos entre as frestas de “Exposed”. confrontados com imagens como as Mas “Exposed” conta uma história, de Susan Meiselas, que fotografa o uma história de desconforto e de es- público de um espectáculo de “strip- pelhos em todo o lado, “watching tease” e não as próprias “strippers”.

you”. Meiselas, sublinha a curadora, procu- Exposições Voyeurs desta história: Cartier- ra ultrapassar “o fetichismo para pen- Nan Goldin “The Ballad of Sexual Bresson, Helmut Newton fetichista, sar em quem está a olhar, como está Dependency”, os anos 80 num Mapplethorpe e Patti Smith, Nan Gol- a olhar e o que significa olhar”. “Ela poderoso auto-retrato de família din apaixonada pela sua família de faz-nos questionar a nossa participa- amigos, Weegee excitado com Mari- ção naquele processo”, enfatiza. “Desde muito cedo Marilyn Monroe Hollywood, lyn, Alison Jackson a forjar rainhas de Ou seja, não somos nós no retrato. capital da nação paparazzi, levou a Inglaterra ou Nicholsons num dia de Mas somos nós como espectadores. a fotografia foi usada caça às estrelas mais longe raiva, Yoko Ono, Guy Bourdin, Robert “Talvez seja por isso que a exposição Frank, Merry Alpern ou Susan Meise- faz as pessoas sentirem-se desconfor- para produzir A rua como panóptico Mesmo las. E Larry Clark “high on speed cul- táveis”. nas imagens subtis de Harry ture”, Bruce Nauman às escuras no “Exposed” não é fácil, portanto, imagens mais negras Callahan, a rua é um “big brother” Novo México, Richard Avedon ena- embora lhe faltem as imagens difíceis morado das cicatrizes de fama de An- de Abu Ghraib, que o Centro Interna- (...) e para partilhar dy Warhol, Mario Testino bruto num cional de Fotografia de Nova Iorque quantidades maciças faço visitas guiadas, acabo sempre dos amigos. “Há a noção comum de anúncio para a Gucci. Mais a morte mostrou em 2004. São imagens de por recorrer a Abu Ghraib para expli- que o fotógrafo é por natureza um de Diana, o oficial vietcong executa- um voyeurismo que nada tem de no- de pornografia. car as imagens de linchamentos, por- voyeur, o último a ser convidado para do, Jacqueline em fase Onassis em vo. Imagens de tortura, instantâneos que elas estão cheias de pessoas or- a festa. Mas eu não estou na festa sem fuga no Central Park. Os poços petro- de esmagamento cultural, tão mar- Algo que tem este gulhosas do que fizeram. As imagens ser convidada, esta é a minha festa. líferos em chamas na primeira Guer- cantes quanto as da crise de mísseis de Abu Ghraib também, e tiveram Esta é a minha família, a minha histó- ra do Golfo. Elizabeth Taylor e Richard de Cuba, e o verde tremido das ima- potencial de massas uma circulação exactamente como ria”, explicou a artista. Burton apanhados na piscina em fé- gens nocturnas dessas mesma guerra. elas”. rias. O filme Zapruder como prova da Nenhuma dessas imagens está na Ta- pode facilmente Afinal, as imagens mais reconhecí- Nação paparazzi horrível morte de JFK. te, explica Sandra Phillips, porque atingir o mínimo veis pelo grande público servem co- A ligação do voyeurismo com a arte não são “verdadeiramente interessan- mo prancha para fazer ressaltar as é antiga. Na Tate, imagem de Henri Nós? tes enquanto fotografias” e “[porque] denominador fotografias produzidas por artistas Cartier-Bresson com Charles Henri É uma sequência de imagens voraz, as vimos demasiadas vezes”: é “pro- com a intenção de nos mostrar tudo: Ford à saída de um urinol de Paris; uma experiência que mistura o prazer vavelmente mais provocador” recuar comum” como Nan Goldin, na sua recentemen- 40 anos antes, Degas fotografado por com o desconforto de ver coisas que até algumas fotografias do Vietname te digitalizada “The Ballad of Sexual Giuseppe Primoli nos mesmos prepa- nunca deveriam ter sido vistas. Há as que são “francamente mais brutais”, Simon Baker, Dependency”, em que de forma pun- ros. Christian Boltanski, lembra-nos imagens de bisbilhotice, as de titilação e sobretudo mais esquecidas. gente nos mostra, em cerca de 700 a imprensa britânica a propósito de erótica, as de projecto, os murros no Simon Baker discorda: “Quando comissário imagens, a sua vida através da vida “Exposed”, está a transmitir tudo

18 • Sexta-feira 20 Agosto 2010 • Ípsilon ca devíamos ter visto e voyeurismo reunidas em “Exposed - Voyeurism, Surveillance & the Camera”. , mas não: é a história da curiosidade humana tal como ela nos foi sendo contada o buraco da fechadura. Joana Amaral Cardoso, em Londres

Uma história de vigilância...

1785 – Jeremy Bentham cunha o 1942 – É instalado, “apanhados” “Candid U2 desencadeiam a crise 1963 – Abraham Zapruder fi lma Panóptico, o dispositivo prisional na Alemanha, o 1º sistema Camera” estreia-se nos EUA de mísseis de Cuba o assassinato de John F. Kennedy em que o observado não sabe de de CCTV [closed-circuit 1949 onde é visto pelo observador television] – George Orwell publica o romance distópico 1948 – O programa de “1984” 1954 – Estreia-se “Janela Indiscreta”, de Alfred Hitchcock 1960 – Federico Fellini cunha o termo “paparazzi” em “La Dolce Vita” 1973 – Um dos primeiros 1962 exemplos de “reality tv”, – Imagens de “An American Family”, vigilância captadas por aviões

LUÍS EFIGÉNIO/ NFACTOS EFIGÉNIO/ LUÍS estreia-se nos EUA

Ípsilon • Sexta-feira 20 Agosto 2010 • 19 o que faz, em directo, para o bunker Greta Garbo Ela é a presa, e o de um coleccionador, e continuará a fotógrafo é o caçador, nesta imagem fazê-lo até morrer. Merry Alpern e os de Georges Dudognon, anos 50 seus múltiplos projectos (exemplos vários na Tate Modern): a levar a sua Ainda as ruas Lee Friedlander foi máquina para os provadores de lojas um dos mais importantes cronistas GEORGES DUDOGNON (“Shopping”), a fotografar bordéis em da vida americana dos anos 50 e 60 Wall Street a partir de um quarto do outro lado da rua (“Janela Indiscreta”, Nova Iorque, 1969 anyone?). Sophie Calle, feita empre- Documentarismo ou voyeurismo? A gada de hotel para fotografar os per- intimidade de um casal está na rua, tences dos hóspedes na sua ausên- nesta imagem de Garry

R cia. E Winogrand D

N E claro, Yoshiyuki e a sua estranha A L

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E obra no parque: “A minha intenção I R

F era captar o que se passava nos par- E E ques, por isso eu não era um verda- L deiro voyeur. Mas acho, de certa for- ma, que o acto de tirar fotografias é em sim algo voyeurístico. Por isso tal- vez seja um voyeur, porque sou fotó- grafo”. Warhol trabalhou a cara assustada de Jaqueline Kennedy e a imagem de mulheres a saltarem de janelas de hotéis em chamas (algum dia alguém se apropriará, do mesmo modo, do homem que caía do World Trade Center a 11 de Setembro de 2001?). Foi também um dos primei- ros a adoptar a câmara de filmar por- tátil da Sony, Portapak (1967). E de- pois foi fotografado, como num cír- culo perverso que se completa, por Richard Avedon, exibindo o esplen- dor das suas cicatrizes na ressaca do

ataque de um fã. D

A nação paparazzi (vulgo Califór- N

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nia, país com capital em Hollywood) G O

preocupou-se com isto e gerou legis- IN

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lação tonitruante: o Estatuto Anti- R

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A Paparazzi tenta dificultar a publicação G de fotos furtivas e controlar a pulsão humana do clique. Que entretanto se “A nossa cultura nografia. Algo que tem este potencial evoluir em torno da ambivalência en- que mostramos e devoramos sobre o tornou ainda mais obsessiva graças de massas pode facilmente atingir o tre o público e o privado.” Mais, lê-se outro indicaria que sim. aos telemóveis com câmara, à Inter- parece estar mínimo denominador comum”, cor- no catálogo de “Exposed”: “A foto- “É uma discussão interessante nes- net. robora o comissário da Tate Mo- grafia inventou a cultura de celebri- ta era das notícias 24 horas - o que A cronologia que abre as portas da a acomodar-se dern. dades moderna”, em que o público e precisamos de ver? O que é que nos exposição (e que reproduzimos par- o privado se misturam para construir deve ser mostrado? Esta manhã ouvi cialmente nestas páginas) diz-nos que à vigilância e já Ver e ser visto uma terra de ninguém ambígua em uma notícia interessante: um dos pro- está tudo ligado. O panóptico de Ben- As imagens de “Exposed” estão orga- que Angelina Jolie - glamorosa, abor- blemas da mancha de petróleo [no tham e os “Apanhados” de Joaquim não considera o nizadas em cinco áreas: fotografia de recidíssima, zangada, feliz, só, acom- golfo do México] é não haver imagens Letria. O YouTube e o Google Earth. voyeurismo o perigo rua, imagens sexuais, perseguição de panhada - está sempre em fuga. suficientes do petróleo [risos]. Fugas Orwell, claro. A presença do olhar celebridades, fotos de morte e violên- Hoje, toda a gente tira fotografias, muito menores geraram um impacto voyeurista é uma herança cultural que era no passado” cia, vigilância. Conjugamos o verbo mas nem todos são fotógrafos. “Os visual muito maior. Certos eventos desde a Bíblia. Como sociedade, sem- fotografar no contexto “Celebrity & fotógrafos sempre se distinguiram da parecem desaparecer quando não são pre fomos voyeurs – nos “boudoirs”, Sandra Phillips, the Public Gaze”: eu disparo, tu en- massa, mesmo desde o século XIX. acompanhados por imagens”, reme- nas cavernas, nos primeiros filmes colhes-te, ele foge; nós espreitamos, Não é fácil tirar uma boa fotografia, é mora Baker. pornográficos criados logo após a in- comissária vós julgais, eles vêem. Nada mais evi- fácil tirar uma fotografia. A multipli- Hoje, escreve Sandra Phillips no venção da câmara de cinema. dente do que numa situação papara- cação de aparelhos pode aumentar o catálogo, “a nossa cultura parece estar Ao levar o nosso olhar, ao longo de zzi: o caçador e a presa. A imagem de número de imagens tiradas aleatoria- a acomodar-se à vigilância e já não 13 salas, de meados do século XIX aos Jacqueline Onassis a correr pelo Cen- mente, mas não vai expandir a foto- considera o voyeurismo o perigo que dias de hoje, “Exposed” coloca-nos tral Park, perseguida por Ron Galella, grafia como prática”, reflecte Baker. era no passado”. Nós? Essa massa, perante o paradoxo original da foto- paparazzo obcecado que acabou por E o público? É neutro como a Suíça? 500 milhões no Facebook, que vê “Ex- grafia: era inevitável que esta arte ser obrigado judicialmente a deixar “É como se já não visse o espaço pú- posed” e se fotografa logo a seguir servisse estes fins, certo? “Penso que a viúva de Kennedy em paz: “What blico como público. É interessante para partilhar o momento online. Um muita fotografia, talvez até o próprio makes Jackie run?”, 1971. que, quando as vê num museu, o pú- grupo de estudantes espanhóis da Ta- meio, é na verdade uma zona cinzen- “A fome humana de ver o proibido blico se pergunte se é permitido per- te Modern. O Ípsilon, furtivamente, ta, sem moralidade, apesar de presu- não mudou [desde os tempos bíbli- seguir pessoas nas ruas. Talvez ache segue-os. O varandim com a magnífi- mirmos que diz a verdade”, aponta cos]. As tecnologias que o facilitam que o espaço das celebridades é uma ca vista para a City (a foto já cá canta, Sandra Phillips. sim”, escreve Sandra Phillips. “Olha- excepção em relação ao espaço pú- no telemóvel) está soalheiro. Quatro “Desde muito cedo a fotografia foi mos para sexo e morte com a mesma blico”. raparigas unem-se em torno da quin- usada para produzir imagens mais curiosidade bisbilhoteira, sabendo Dizíamos no início que esta expo- ta, que salta de pernas bem no ar pa- negras - controlo estatal, pornografia, que outrora foram visões privilegia- sição é desconfortável. Para alguns, ra as máquinas das amigas. Momentos ciência, tipificação racial. Assim que das. Fizemos toda uma cultura de talvez, mas enquanto sociedade vive- depois, a fotografia estará num qual- se tornou barata, foi usada para [par- celebridade [que começa, em termos mos num limbo. Queremos ver tanto quer site, numa rede social. O voyeu- tilhar] quantidades maciças de por- fotográficos, no início do século XX] quanto queremos ser vistos? Tudo o rismo nunca foi tão imediato.

... e de voyeurismo

1990 – A Guerra do Golfo 1995 – Timothy McVeigh, 1997 – Diana morre num acidente entra em vigor nos EUA o Patriot de Abu Ghraib tornam-se inaugura o ciclo noticioso o bombista de Oklahoma, de viação quando era perseguida Act, que reduz as restrições à os “souvenirs” da guerra de 24 horas é identifi cado graças a imagens por paparazzi em Paris vigilância dos cidadãos pelas no Iraque de CCTV forças de segurança 2005 – O YouTube é lançado 2004 – Fotos de soldados 2007 – É lançada a opção

JORGE SILVA SILVA JORGE Street View no Google Earth 1999 – Estreia-se na Holanda 2008 – É criada a o primeiro “Big Brother” câmara Thru Vision, 2001 – Na sequência dos que fi lma atentados de 11 de Setembro, através de tecidos e paredes

20 • Sexta-feira 20 Agosto 2010 • Ípsilon Há metafísica nos “gauff res” que Takeshi Kitano vende numa barraca no jardim da Fondation Cartier - e no auto-retrato em que o vemos com o cérebro (e portanto as tripas) de fora, peça central de “Gosse de Peintre”, a sua primeira exposição de sempre. Agora já sabemos o que é que ele tem dentro daquela cabeça:abeça: uma ffeiraeira popupopular.lar. InêsInês Nadais,Nadais, em ParisParis

Quando Takeshi Kitano (Tóquio, 1947) era puto e o pai, já nos seus 60 e tal, “É muito difícil, se enfiava na bicicleta com ele e com um balde de tinta para irem pintar as a arte cercas e as paredes da classe média contemporânea. japonesa, os outros miúdos chama- vam-lhe “filho de pintor” aos gritos Torna-se ridícula pela rua, e não podia haver pior in- sulto. Agora que ele próprio tem 60 de tanto querer serr e tal e finalmente aceitou sair do ar- mário como artista plástico (melhor: difícil (...). Então, como anti-artista plástico), também decidi fazer um o vemos aos gritos pela rua, no Bou- levard Raspail, em Paris: “Gosse de

parque de atracçõeses GREGOIRE ELOY Peintre” (à letra, “filho de pintor”) foi o nome que ele quis dar à sua primei- da arte ra exposição de sempre, na Fondation Cartier. Continua um puto, desvaira- contemporânea, do na feira popular que tem dentro daquela cabeça. a ver se simplificavava Asakusa, o bairro popular para on- isto. A minha vocaçãoção de o puto Kitano fugia a correr do pai alcoólico e da casa de uma divisão é destruir tudo o queue onde o irmão estudava sentado em cima de uma caixa de tangerinas, ago- está codificado” ra é ali, no Boulevard Raspail. “Quan- do era miúdo, à mínima oportunida- de, corria para as barracas de diver- sões de Asakusa”, conta o cineasta (15 filmes de 1989 a 2010: escritos, mon- tados, realizados e às vezes protago- nizados pelo próprio) e humorista (Beat Takeshi, o seu alter-ego televi- sivi, fez toda uma época do entrete- nimento japonês – e português, para quem ainda se lembra dos almoços de sábados com “Nunca Digas Ban- zai!”) japonês. Agora, até 12 de Setem- bro, as barracas de diversões são no -1 da fundação, e nós também somos putos, a boca aberta de espanto (te- mos mesmo de dizer banzai!) diante dos leões-girrassol e dos pinguins- jarro de Kitano (ikebana “as usual”, diz ele, mas na verdade isto é a bio- tecnologia em todo o seu esplendor, como são biotecnologia os nigiri e os maki sushi de aquacultura do piso de cima, outra invenção Kitano); tam- bém somos putos (banzai!), e imagi- namos Kitano desvairado em Asaku- Kitano não dá sa, minutos antes de, de regresso à título às suas vida real, levar com os murros e os pinturas: “Não pontapés do pai, a imaginar o parque são assim tão de atracções do futuro, este onde ago- extraordi-

Exposições ra há girafas-cavalo-marinho, pei- nárias” “Quem és tu, que olhas para mim?”, pergunta Takeshi Kitano ao seu próprio cérebro (ou ao visitante?) à entrada da Vamos comer exposição Kitano Ípsilon • Sexta-feira 20 Agosto 2010 • 21 Baleias, gatos, elefantes, animais por todo o lado: esta pintura é um bestiário

xes-hipopótamo, bebés-libélula e outros mutantes. Ali no piso de baixo, e no jardim das traseiras onde os miúdos com- pram “gauffres” em forma de buda, “Gosse de Peintre” é a “toy story” de Kitano: toda a infância que ele nunca, a não ser agora, teve dinheiro para ter (pausa para ver, ainda no -1, o ví- deo em que Kitano, delirante, pega na sua metralhadora de “paintball” para fazer tiro ao dinossauro, na inau- guração do pequeno “serviço educa- tivo” de “Gosse de Peintre”: Kitano é o melhor espectador de Kitano). Não é território novo na obra dele, a infância: faz figura de protagonista num dos seus filmes mais vistos, “O Verão de Kikujiro” (1999), em que res- taurava, pessoalmente, o pai que an- tes tinha matado no livrinho de me- mórias “La Vie en Gris et Rose” (ori- ginalmente publicado no Japão em 1988; tradução francesa, pela Pic- quier, em 2008), brutal relato da vida de uma família pobre no Japão do pós-guerra com ilustrações do pró- “Quando me disseram Takeshi e suas sucessivas encarna- ma, as emissões de televisão. Abor- conhecer à primeira o nome de Da- prio Kitano que acaba com uma pro- ções: Takeshi-coelho, Takeshi-telemó- recia-me terrivelmente, tanto que mien Hirst (nem à segunda, e à ter- messa: “Até ao final da minha vida, aqui que era livre de vel, Takeshi-pirata, Takeshi-marciano, escolhi pintar para matar o tempo, ceira sai um “não conheço”), mas tem conservarei a minha sensibilidade de Takeshi-Tutankhamon). como a personagem Horibe, de ‘Ha- duas ou três coisas a dizer sobre a ar- miúdo”. O que é novo na obra dele é fazer o que quisesse, O verdadeiro Takeshi Kitano é este: na-Bi’”, conta na entrevista publicada te contemporânea e as suas políticas: ter aparecido alguém (Hervé Chan- um cineasta com o cérebro (e portan- no catálogo da exposição. “É muito difícil, a arte contemporâ- dès, o director da Fondation Cartier) respondi: ‘Muito bem. to as tripas) de fora, a olhar para a sua Que esses passatempos se tenham nea; torna-se ridícula de tanto querer a dar-lhe carta-branca para fazer des- própria morte. Se tivesse morrido em transformado numa exposição da ser difícil. Antigamente a arte era sim- sas duas infâncias, a que teve e a que Quero uma bola de 1994, no tal acidente de “scooter”, Fondation Cartier é uma grande sur- ples, estava tudo dentro da moldura. não teve, uma exposição de, digamos, fogo a girar em torno disse ele há uns meses em entrevista presa para Kitano, que não acha os Agora, só fica completa com a reacção arte contemporânea. Primeiro ele ao “Le Figaro”, “teriam escrito que seus quadros “extraordinários ao de quem vê. É uma evolução fenome- disse que sim, por ser para Chandès. do edifício’. Disseram- desaparecia um génio; agora já não ponto de merecerem um título”. A nal. Então, decidi fazer um parque de Depois teve vontade de dizer “Espe- diriam o mesmo”. O culto indestrutí- subida, confessa na mesma entrevis- atracções da arte contemporânea, a rem um segundo!”, e a seguir fugir me: ‘Ah, não, isso não vel que os seus primeiros filmes gera- ta, deixou-o “sem fôlego”: “Tenho a ver se simplificava isto. A minha vo- para Asakusa. ram deixou de ser indestrutível – Ki- impressão de que sou um alpinista a cação é destruir tudo o que está co- Na verdade, foi exactamente isso é possível’. Que pena!” tano passou, de resto, quatro anos a quem mandaram escalar o Evereste dificado”. que fez. levar a sua crise até às últimas conse- sem reservas de oxigénio”. Allons enfant, então: destruir a ar- quências numa trilogia que começou Tal como os “sketches” que faz pa- te contemporânea, a começar por “Eu, um artista?” com “Takeshi’s” (2005), prosseguiu ra a televisão, as pinturas de Kitano Pollock (Pollock é fácil, demonstra A infância de Kitano, dizíamos, fica com “Glory to the Filmmaker!” (2007) são “gags” visuais: casais dentro de Kitano na outra ponta do rés-do-chão: no -1 da Fondation Cartier. No rés-do- e terminou com “Aquiles e a Tartaru- baleias, mulheres na banheira com uma bola cheia de tinta telecoman- chão, ele recebe-nos, cérebro na mão, ga” (2008) –, e agora até ele tem dúvi- gatos (gatos em todo o lado, de resto: dada por uma criança faz o mesmo já com uma vida (e um grave acidente das sobre o que se passa dentro da- esta pintura é um bestiário), auto- efeito), destruir-se a si próprio como de “scooter”) em cima. As coisas ficam quela cabeça (também ao “Figaro”: retratos com boina vermelha (mas artista contemporâneo. Era o que ele sérias, aqui, metafísicas mesmo, antes “Acho que me sobrestimaram”). não, ele não está a apontar o dedo a queria, mas a Fondation Cartier não dos mutantes e do lixo televisivo do “Gosse de Peintre” é o que se passa ninguém: “Nós, os japoneses, acha- deixou: “Quando me disseram aqui andar de baixo (a seguir à feira popu- dentro daquela cabeça, em 3D. A mor- mos que em Paris todos os pintores que era livre de fazer o que quisesse, lar, um letreiro, “Eis o verdadeiro tra- te cerebral de Kitano (que não foi, mas têm boinas vermelhas”). E aqui está respondi: ‘Muito bem. Quero uma balho de Takeshi Kitano”, antecede podia ter sido: depois do acidente, o o “squatter” Kitano, com os seus “ga- bola de fogo a girar em torno do edi- uma sala com televisões que passam médico quis operá-lo, mas Kitano res- gs”, a ocupar um grande espaço da fício’. Disseram-me: ‘Ah, não, isso não

“clips” dos vários programas de Beat OLIVIER-OUADAH pondeu-lhe “ninguém toca no meu arte contemporânea, para logo a se- é possível’. Que pena!”. cérebro!”), e outras mortes paralelas: guir provocar (e Hervé Chandès a rir- Sem bola de fogo, e sem foguetão Os pinguins-jarro a pena capital ainda em vigor no Japão, se, de certeza, atrás da cortina): “Eu, enterrado no jardim (outro pedido e o elefante-assassino: Kitano por exemplo, que o cineasta ridicula- um artista? Se vocês o dizem...”. recusado, e este também vem lá da tanto está a fazer ikebana como riza noutro canto da mesma sala do infância: em “La Vie en Gris et Rose”, a descobrir as “armas secretas” rés-do-chão, a extinção dos dinossau- Destruir, destruir conta que foi o único miúdo do bair- do Japão imperial ros (revolucionária teoria Kitano: os “Gags” à parte, “Gosse de Peintre” é ro que nunca teve um foguetão, e dinossauros extinguiram-se porque uma exposição política – no sentido mesmo para o leitor a espera é dolo- tinham os braços demasiado curtos mais caseiro do termo, com Kitano a rosa), Kitano fez o que era possível: para limpar o rabo) e todas as máqui- chocar de frente com o Japão (na ins- uma feira popular para todos, dos 7 nas de guerra do exército imperial talação sobre a pena de morte e na aos 77, mas sobretudo para putos co- YOSHINAGA YASUAKI japonês, cujos “planos secretos” Kita- montra das “armas secretas”, mas mo ele, que imaginou cada peça da no simula ter encontrado. também num filmezinho assassino, exposição com o desprendimento de Mas há vida, também, dentro da “C’est ça, le Japon!”, que reduz os ja- “um miúdo de 12 anos”. Uma feira cabeça de Takeshi Kitano: a vida das poneses a kamikazes com horror às popular que, como notou o “Libéra- marionetas bunraku que também já férias), mas também num sentido tion”, é um gigantesco auto-retrato era tema em “Dolls” (2002) e a vida mais universal. Kitano pode não ser – e de onde, acrescentamos nós, saí- real (aditivada, claro: Takeshi será “um artista” (“Nem sequer tenho a mos a comer “gauffres” em forma de sempre Kitano) das pinturas “naïf” certeza de me poder considerar um buda, saímos a comer Kitano. que começou a fazer depois do aci- cineasta. Não sou mais do que um Sabe àquelas coisas que comíamos dente. “Fui obrigado a suspender homem da televisão, um tipo que faz quando éramos putos aos sábados ao todas as minhas actividades: o cine- coisas com piada”), pode até não re- almoço.

22 •• ÍpsilonSexta-feira • Sexta-feira 20 Agosto 20 2010 Agosto • Ípsilon 2010 Marilyn tinha uma gigantesca biblioteca que ia com ela BETTMANN/CORBIS sempre que mudava de casa: em 1999, o seu exemplar do “Ulisses” de Joyce foi vendido em Livros leilão por mais de sete mil euros

Marilyn, a intelectual “Fragments”, conjunto de escritos de Marilyn Monroe até agora inéditos, mostra que havia, por trás do corpo com mais “sex-appeal” de todo o século XX, uma actriz apaixonada por Whitman, Joyce, Yeats e Beckett. Joana Amaral Cardoso

Marilyn não acaba. Marilyn é para frequenter o Actor’s Studio. Mais sur- mingway, Tennessee Williams, D.H. vecido - ele considerava-a uma luz tão sempre. Marilyn tinha diamantes co- preendente ainda, a sua fascinação “[Marilyn] era uma Lawrence, F. Scott Fitzgerald ou John ténue que câmara alguma conseguiria mo melhores amigos, era a loira que pelo bardo Walt Whitman, fundador Steinbeck, voltou a escrever. Partici- captar. Em “Fragments”, Monroe es- os “gentlemen” preferiam. Agora, da poesia americana moderna”. grande leitora pava em leituras de poemas de auto- creve sobre as suas leituras de Samuel novo capítulo Marilyn. Imagens iné- A edição, franco-americana (par- res reconhecidos - “Ela pensava que Beckett ou James Joyce. “Era uma ditas – já são (quase) todas conheci- ceria das Editions du Seuil com a Far- e [tinha] verdadeira os poetas eram místicos. Tentei tirar- grande leitora e [tinha] verdadeira das. Radiografias únicas – também já rar, Straus & Giroux), parte do espó- lhe essa ideia”, dizia Rosten - e envia- classe na escrita. Há fragmentos de foram vendidas (35 mil euros para lio de Marilyn, agora nas mãos de classe na escrita. va ao novo amigo as suas novas ten- poesia que são mesmo bastante belos, levar o peito de Marilyn para casa). Anna Strasberg, viúva de Lee Stras- Há fragmentos de tativas poéticas. que nos param o olhar”, disse Cour- Escritos inéditos, por Marilyn a pró- berg (fundador do Actor’s Studio). Agora, finalmente, esta Marilyn tney Hodell, a editora americana, à pria – isto sim é novo. Em Outubro No final de 2008, Bernard Comment poesia que são mesmo mais desconhecida chega num livro Reuters. (dia 12 em França, e algures em mais ouviu falar dos escritos dispersos de organizado cronologicamente e O livro terá uma edição alternativa, dez países), chega Marilyn Monroe Marilyn num jantar. Editor na Seuil, bastante belos, que acompanhado por cerca de 30 ima- de luxo. Nele, Marilyn Monroe tam- autora em “Fragments”, livro-com- Comment coligiu-os com o produtor gens (de 1951 a 1962). “Há um certo bém escreve sobre o que é ser actriz pilação em que a actriz revela a sua Stanley Buchtahl. Estavam apontados nos param o olhar” tom melancólico ao longo do livro, e e manda uma carta a Lee Strasberg. frustração por ver o seu lado intelec- em cadernos de argolas, papel de o que é muito belo em algumas das Fala sobre Arthur Miller, o dramatur- tual ignorado, por se ver confundida carta de hotel... Courtney Hodell, notas é a forma como se vê a associa- go de “Os Inadaptados” e “Morte dum com os seus papéis. No prefácio, escreve Antonio Ta- editora ção entre ideias”, diz o seu editor ao Caixeiro Viajante”, o seu terceiro ma- “Fragments” são páginas de diário, bucchi: “No interior deste corpo vivia “Figaro”. “Penso que ela não só gos- rido, e assina um ensaio sobre o pri- poemas e apontamentos breves, car- a alma de uma intelectual e poeta de tava, como sentia a necessidade [de meiro, James Dougherty. tas fac-similadas, recortes de jornal que ninguém tinha um pingo de sus- escrever], de organizar a sua vida e Marilyn Monroe, nascida Norma e fotografias pessoais que datam de peita”. Não será totalmente verdade. recuperado em “Goddess – The Se- de tentar firmar os sentimentos ex- Jean Baker, é ao mesmo tempo o toque 1943 até às vésperas da morte da ac- Em 1999, o seu exemplar de “Ulisses”, cret Lives of Marilyn Monroe” (Sphe- tremamente agudos que podia ter em de Midas e o canto da sereia. Desde a triz, em 1962. Além da perspectiva de de Joyce, foi vendido por 7100 euros re), que por seu turno cita Rosten no reacção a certas situações”. sua morte que se publicam livros, bio- Marilyn sobre aspectos da vida sen- num leilão da Christie’s. seu “Marilyn: An Untold Story”, de grafias, investigações, álbuns fotográ- timental (diz a editora americana que “Às vezes eu costumava escrever 1967. Aí se fala das preferências lite- A vingança de Marilyn ficos - e há 48 anos que romancistas ela fala sobre todos os seus amores), poesia, mas normalmente quando rárias da actriz, de W.B. Yeats, de Marilyn no divã, introspecção, e aqui- se encantam com ela. Norman Mailer encontramos, “nos seus textos muito estava deprimida. Os poucos a quem quem Marilyn fez uma leitura embria- lo que a imprensa arrisca poder vir a com a biografia “Marilyn” (1973) e as pessoais, James Joyce, que ela tinha a mostrei (na verdade, a duas pesso- gada, a Walt Whitman. “Ela gostava ser uma caução intelectual, literata, suas “Memórias Imaginárias” (1980); descoberto aos 26 anos ao interpretar as) disseram que os deprimia – um de poesia. Era um atalho para ela. culta da “Rapariga da Paragem de Au- Joyce Carol Oates com “Blonde” os extractos do mítico monólogo de deles chorou, mas era um amigo que Percebia, com o instinto de um poe- tocarro”. Marilyn é até hoje refém da (2000), um tributo de mil páginas. Molly”, explicou Bernard Comment, eu conhecia há muito tempo”, escre- ta, que ela conduz directamente ao sua aura sensual-inocente, uma espé- Agora, Marilyn por Marilyn, auto-re- o editor francês de “Fragments”, ao veu Marilyn ao poeta e amigo recente coração da experiência”. Graças às cie de mãe de todas as anedotas de trato estilhaçado, é a vingança póstu- “Le Figaro”. Norman Rosten no Verão de 1955. visitas aos Rosten, a estrela que tinha (tínhamos que aqui chegar) loiras bur- ma de que fala o “Figaro”: a derradei- Mais: “Ela também admirava Sa- Esse bilhete, escrito em papel tim- uma gigantesca biblioteca carregada ras que não era bem uma actriz aos ra prova (será?) de que uma “blonde muel Beckett desde que começou a brado do hotel Waldorf-Astoria, é de George Bernard Shaw, Ernest He- olhos de um Truman Capote embe- bombshell” também pensa.

Ípsilon • Sexta-feira 20 Agosto 2010 • 23 Joe Sacco no buraco negro de Gaza Dois massacres que a história israelo-árabe ia esquecer investigados, desenhados e escritos pelo repórter Joe Sacco. Não há nada semelhante. Um grande livro. Alexandra Lucas Coelho

Costuma dizer-se que Joe Sacco (nas- 1992-1995”, pela Conrad do Brasil). gundo, Rafah, mais de 100 palestinia- cam as crianças, o que lhes dizem. cido em Malta, em 1960, e há muito No seu mais recente trabalho, “Foo- nos terão ficado sem vida ao longo de Os palestinianos que encontra “A experiência residente em Portland, Oregon, EUA) tnotes in Gaza” (2009), Sacco vai mais um dia em que muitas outras pessoas vão-lhe perguntando: porque é inventou a reportagem de guerra em fundo, em direcção a um buraco ne- foram espancadas e maltratadas. Joe que está preocupado com 1956 palestiniana são BD. Foi o que fez, por exemplo, em gro da História: dois massacres acon- Sacco entrevistou dezenas de sobre- quando a minha casa está a ser “Palestina” (publicado em Portugal), tecidos em 1956 na Faixa de Gaza, que viventes e testemunhas, cruzou fontes demolida ou o meu marido está camadas de história, ou em “Safe Area Gorazde” (ainda por iam ser esquecidos como notas de documentais e orais, e depois passou a ser morto? É uma tensão que incidentes uns em publicar em Portugal, mas com uma rodapé. No primeiro, Khan Yunis, o seis anos a desenhar e a escrever. também reflecte a do leitor. Mas edição brasileira, “Área De Segurança exército israelita terá morto 275 pa- “Footnotes in Gaza” é não apenas re- o incrível do livro é como 1956 cima dos outros. Gorazde - A Guerra da Bósnia Oriental lestinianos de forma rápida. No se- portagem de guerra, mas também volta à vida, e ao mesmo tempo jornalismo de investigação. Um gran- se abre a todas as histórias do 0 presente importa de livro: para quem não entende co- presente. mo os palestinianos vêem os israeli- Sim, houve pessoas que continuaram mais às pessoas do tas; para quem quer saber o que vai a pôr em causa eu estar a focar-me na cabeça dos que estão vivos; para em episódios históricos. Mas como que o que aconteceu quem se interessa pela memória hu- eu disse a uma delas: um dia a sua mana. Sem nunca se fechar ao pre- história também será esquecida. O no passado, mas sente, Sacco mostra como o passado interessante sobre a experiência pa- é um ‘continuum’ é o futuro. Entrevista ao telefone, a lestiniana é que são camadas de his- partir de Portland. tória, incidentes uns em cima dos de acontecimentos” outros. O que se passa no presente Porque escolheu esta história, importa mais às pessoas que estão a especificamente? Porque não era viver as coisas agora, claro, do que o tão conhecida? que aconteceu no passado, mas é um Em 2001 fui a Gaza com um amigo “continuum” de acontecimentos. jornalista, Chris Edges, para a revista O que faz neste trabalho é a memória. O que aprendeu “Harper”. E se esta parte da história congelar um momento, e ao sobre a forma como as pessoas tivesse ficado na reportagem que foi mesmo tempo isso é um pretexto se lembram das coisas, e sobre publicada talvez eu não tivesse feito o para tudo vir ao de cima. o tipo de coisas de que se livro. Pensaria: “Bem, pelo menos is- Sim, quis mostrar que, ao mesmo tem- lembram? to foi contado.” Mas, fosse por que po, muitas coisas estavam a ser atira- Ao falar com estas pessoas mais ve- razão fosse, a revista deixou cair a par- das para cima de mim. Muitas coisas lhas, o que ficou claro é que geralmen- te do relato histórico em favor do que vêm ao de cima, é quase esmagador. te são os momentos mais agudos que se estava a passar em Gaza. Eu detes- O momento no passado é uma recordam. É mais fácil lembrarem-se to ver a História perder-se. Havia gen- porta para o presente e para de dois segundos dolorosos do que, te viva que ainda se lembrava destes o futuro. De certa forma, um por exemplo, de dez horas de espera, episódios e praticamente nada tinha buraco negro. sentadas no chão, com a cabeça do- sido escrito. Pensei: “Isto não pode É exactamente isso. Estou a tentar ver brada. Por isso tenho toda a sequência ficar perdido. Há muita história sobre o que foi específico num momento, dos homens a serem espancados com este conflito, lemos tanto sobre ele, mas reconheço que até para os pales- paus [pelos soldados israelitas] ao porque é que estes dois massacres não tinianos... não é que seja irrelevante, passarem o portão, porque quase to- existem no registo geral?” Então achei simplesmente há demasiadas coisas da a gente com quem falei se lembra que era um desafio jornalístico real- com que têm de lidar no presente. Os disso. Aconteceu a todos. E é isso que mente bom, que valia mesmo a pena. palestinianos ainda não tiveram uma sobresssai. Frequentemente, era a Incidentes como estes constroem a pausa para olhar a História. primeira coisa de que me falavam. E História do conflito. Afectam a forma Mesmo que as pessoas não depois era preciso voltar atrás e dizer- como gerações inteiras o vêem, o que estejam interessadas no caso lhes que gostava de ouvir a história as pessoas que viveram estes inciden- palestiniano, podemos ver este desde o princípio. tes pensam dos israelitas, como edu- livro como um trabalho sobre A sequência das pauladas

24 • Sexta-feira 20 Agosto 2010 • Ípsilon é muito forte, com muitos testemunhos. É quase inacreditável, em função do que sabemos sobre o conflito. Porque é que aquilo estava a acontecer? Não achou bizarro? Achei bizarro, e tentei mostrar o con- texto. Que havia guerrilheiros de Ga- za a entrar [em Israel] e que os israe- A sequência dos espancamentos, à paulada, por litas estavam a retaliar. Havia muita soldados israelitas é uma das mais fortes do livro porque é também aquela que mais perdurou na tensão e claramente os israelitas es- Livros tavam frustrados com [a sua incapa- memória das vítimas dos massacres de Khan cidade para neutralizar] a guerrilha. Yunis e Rafah Mas é sempre difícil para mim perce- ber a psicologia de espancar as pes- soas ou de as matar desta forma. Con- sigo explicar muito do “background”, mas não a psicologia. Sim, a tensão é muito clara, não me refiro ao que levou ao massacre. Mas é estranho ver aquela longa sequência de pauladas. Aqueles soldados não parecem israelitas. Parece um tal desperdício de energia e de força sem que aparentemente haja um objectivo racional. Talvez. Mas hoje podemos dizer exac- tamente o mesmo. Há algum motivo racional para manter o bloqueio a Gaza quando o Hamas é poderoso exactamente por causa do bloqueio, e pode trazer dinheiro e o que preci- sa com os túneis? Se o objectivo de Israel é danificar o Hamas, não há ló- gica para o bloqueio. Se olharmos para a História, vemos que há muitos actos irracionais. Quando desumani- zamos outras pessoas, podemos re- almente tratá-las muito mal. Conhe- cendo a história entre israelitas e palestinianos, surpreende-me a esca- la do que aconteceu em Khan Yunis e Rafah em 1956, mas em 1948 houve outros massacres, aldeias inteiras lim- pas do mapa, como Deir Yassin. O que é brutal neste trabalho é os detalhes serem tão esmagadores. Como não vimos muito do que aconteceu no passado, estas imagens surreais, irracionais, tornam a história incrível. Eu acho que esta é uma história ex- traordinária. Quando comecei a com- preender o que se passou, foi uma surpresa [verificar que] nenhum ou- tro repórter ou historiador tinha olha- do para aquilo. O documento da ONU que dedica alguns parágrafos a estes casos torna claro que havia largo nú- mero de civis mortos. E quando esta- va a ouvir as histórias, a primeira vez que percebi que as pessoas estavam a levar pauladas no portão.... De al- guma forma, alvejar pessoas na rua é mais compreensível. Dar-lhes paula- das na cabeça parece um passo além do que estou habituado a ler. Quanto tempo ficou lá? Foram quatro viagens a Gaza. A pri- meira com Chris, da qual sobra muito pouco no livro, talvez um capítulo. Depois, a primeira viagem grande de duas semanas, para ter a certeza de que conseguia fazer a história, para encontrar o meu guia, Abed, que se tornou meu amigo. Fiquei em Khan Yunis essas duas semanas, e a maior parte da história de Khan Yunis reuni- a então. Depois parti, e voltei mais dois meses para Rafah. Estamos a falar de que ano? As viagens principais foram de No- vembro de 2002 a Março de 2003. Abed é extraordinário. Ficou tão envolvido na história como você? São como companheiros. E fomos. Foi muito mais do que al- guém que traduzia palavras. Ele é um tipo muito esperto, teve uma boa edu- cação, e muito rapidamente se tornou tão... não quero dizer obcecado, mas concentrado no que estávamos a fa- zer. Compreendeu que eu realmente queria a história a sério, não queria tretas. Portanto, começou a dizer-

Ípsilon • Sexta-feira 20 Agosto 2010 • 25 Livros

Mas há também todas as caras quantidade de dinheiro. No livro so- “Quando volto, as das pessoas que entrevistou. bre a Bósnia [“Safe Area Gorazde”, Pareceu-me importante que, quando 2000] não tinha mesmo dinheiro, não pessoas perguntam alguém aparece a falar outra vez, apa- sabia como ia pagar a renda do mês que tal foi, eu começo recesse a cara. Porque quando estou seguinte. Este não foi nem de longe a ler um livro com nomes árabes, ou tão difícil, porque já tenho um pouco a contar, e elas quaisquer outros nomes, às vezes es- de reputação, e, a meio, se precisava queço qual foi a pessoa que disse de trabalho, podia ir ter com a minha distraem-se. Tenho aquilo há dez páginas, especialmente agente, dizer-lhe: “Tenho esta ideia, num livro com muita gente. É mais podes encontrar-me uma revista que suficiente experiência fácil reconhecer uma cara do que um esteja interessada?”. E ela tratava de nome árabe. tudo. Há 15 anos isso não era sequer para manter o leitor Tudo isso implicou grande uma opção. Ninguém estava interes- comigo. É mais difícil quantidade de trabalho manual, sado. num tempo em que tudo é A certa altura, no livro, define-se manter comigo digital, rápido. Tomou-lhe seis como “um homem dos jornais” anos de vida, com tudo feito à por natureza. E “Footnotes in um amigo” mão. É raro. Gaza” revela uma fantástica fé Obrigado. Mas ainda agora li um livro no jornalismo. sobre Miguel Ângelo, e ele só demo- Estudei jornalismo na universidade, rou quatro anos a fazer a Capela Sis- e realmente queria escrever notícias, tina! [risos]. era a minha motivação. Não era es- Hoje, é quase subversivo. crever “features”, ou críticas. É a única forma que conheço de fazer Perante a actual desconfiança as coisas. Por princípio, não gosto de em relação aos jornalistas, é atalhos. Desenho tudo à mão, gosto muito revitalizante. do cheiro a tinta, gosto do som da ca- É o que sinto. Acho que há espaço neta no papel. para jornalismo de investigação. E no Faz à mão todas as palavras do fim de contas é o que isto é. E acho texto, também? que as pessoas querem este tipo de Sim. coisas. Não quero saber o que dizem Nos agradecimentos, diz que a os “focus groups”. Podem pensar que sua agente o ajudou na crise de as pessoas só conseguem ter atenção meio-livro, quando não sabia se a 150 palavras sobre qualquer assun- me quando desconfiava de uma tinha de vender as suas coisas to. Não acredito realmente nisso. Há história, ou se uma pessoa se contra- no e-bay. Como se sobrevive um público para isto. Temos de pôr dizia. Era muito bom nisso, como um quando se passa seis anos a fazer algum esforço na forma como conta- barómetro. Porque eu não compre- um álbum destes? mos a história, para manter o leitor endo a língua, ele era aquele que po- Houve tempos difíceis, mas esta não interessado, mas acho que há um de- dia olhar para as pequenas subtilezas foi a vez mais difícil. Com os trabalhos sejo de ler estas coisas. do que as pessoas estão a dizer, e per- que fiz pelo meio ganhei uma boa Como nos livros anteriores, o ceber se estavam só a tentar agradar- autor está sempre dentro da nos. Foi um filtro importante. história, o que permite aos Quanto tempo passou depois a leitores projectarem-se na sua escrever e desenhar? honestidade. Quase no fim, Seis anos. Mas pelo meio fiz algumas pensa com vergonha, ao olhar peças jornalísticas que me roubaram para um homem que acaba um mês aqui e ali, estive no Iraque. de lhe contar coisas terríveis, Nos últimos quatro anos não fiz mais que se “perde alguma coisa ao nada se não trabalhar no livro. longo do caminho”, ao reunir e Quantas horas de gravação dissecar todas aquelas provas. O trouxe? que é que se perde? Uh! Não sei. Há muitas gravações, 70 Entramos na história porque real- ou 80. Levei seis semanas a desgravar mente estamos interessados nela e tudo. Não quis entregar isso a ninguém. nas pessoas, acreditamos que aquilo É importante ouvir outra vez, é uma realmente importa. Mas qualquer jor- forma de rememorar. Porque sabia que nalista, ao tentar reunir os elementos era uma matéria muito sensível, gravei o melhor possível, acaba por não ter quase todas as conversas. espaço para pessoas que não se lem- E quantas fotos para depois bram, que se perdem; está a tentar desenhar tudo? Estamos a falar ter factos, a confrontá-las, e há algo de centenas de pessoas. quase impiedoso nisso. Algumas centenas, não sei quantas. É necessário. Às vezes sentimos Comparado com tudo isso, que temos uma grande história, escrever um livro parece fácil. estamos quase eufóricos, mas Fui aos arquivos da UNRWA [a agência a grande história é sobre algo da ONU para os refugiados palestinia- horrível. nos] em Gaza, e eles têm um arquivo Exacto. É a essência das dúvidas que fotográfico e passaram-me todas as os jornalistas têm no terreno. imagens de como eram os campos de Há planos para traduzir refugiados nos anos 50. Especifica- “Footnotes in Gaza” em árabe ou mente Khan Yunis e Rafah. hebraico?

26 • Sexta-feira 20 Agosto 2010 • Ípsilon Há um editor árabe que o vai publicar, [Pausa] Quase qualquer posição se- no Líbano. A minha agente conseguiu rá melhor do que a de Bush, mas isso. Em hebraico não creio, mas cla- acho que Obama tem sido muito de- ro que estaríamos interessados. cepcionante. Não podemos só olhar Acha que este livro seria bem para os anos Bush, que parecem per- vindo em Israel? versos comparados com a tendência Sinto que em Israel há mais debate, geral americana, que tem sido real- mais consciência deste tipo de coisas mente de apoiar a política israelita do que, por exemplo, nos EUA. Tive e proteger Israel das sanções da boa atenção crítica nos EUA, mas em ONU. O relatório Goldstone, por geral as pessoas são muito cautelosas exemplo [sobre a guerra em Gaza quanto ao que dizem sobre Israel, en- 2008-2009]: a administração Obama quanto em Israel são mais livres. Acho veio muito rapidamente dizer que que o público israelita estaria dispos- não era um relatório equilibrado. to a receber isto. Eles sabem que estas Isto é a administração Obama. Acho coisas estão a acontecer. É uma guer- que nisso revelaram a habitual co- ra brutal, e eles percebem isso. Não é bardia americana. que não estejam conscientes da sua A Gaza do livro de certa forma história. Mas foi muito difícil fazer pes- já não existe. Desde 2007, a luta quisa da perspectiva israelita. Tive entre o Hamas e a Fatah é muito Mordechai Bar-On [um antigo braço forte. Voltou? direito do então ministro israelita da Não, tento manter-me a par com as Defesa, Moshe Dayan] a explicar a po- pessoas de lá, vou lendo. É outra par- sição israelita, contratei dois investi- te do problema: a luta entre Hamas e gadores para trabalharem nos arqui- Fatah realmente complica tudo. Se vos israelitas, falei com muita gente temos os palestinianos divididos, ain- que esteve no comando em 1956. da temos menos chances de chegar a Porque foi difícil? algum lado. No fim de contas, trata-se de um mas- Desde que lá esteve houve a sacre. E é difícil pôr as pessoas a falar retirada dos soldados e dos disso. Não estou sequer a sugerir que colonos do interior de Gaza, e a as pessoas com quem falei sabiam do divisão Fatah-Hamas. É incrível que aconteceu, porque podem acon- como as coisas se movem tão tecer muitas coisas numa guerra que rápido e ao mesmo tempo não se move rapidamente. Acontecem e mudam de todo. afastamo-las do espírito. Mordechai É a ironia da situação. Posso ler este Bar-On diz: “Sim, ouvi falar de uns livro e pensar: tantas coisas muda- 100 palestinianos civis mortos, mas ram. Mas este conflito parece inter- não sei bem onde. Há tanta coisa a minável. acontecer”. “Não há dúvida sobre quem É uma abstracção. está a vencer, a questão é quão É. Estamos a falar de um conflito com longe levarão os israelitas a décadas, em que aconteceram muitas sua vitória, e quanto podem os coisas destas. E quando contratamos palestinianos aguentar a sua investigadores... Se for eu, sei que derrota”, escreve no livro. Podia posso ir até ao limite; se contrato al- escrever isto hoje, e ainda mais. guém tenho de confiar, não sei quan- Sim, ainda mais! Talvez as coisas mu- to trabalho vai fazer. dem. Quem pensaria que a URSS co- Mas gostaria que este livro chegasse lapsaria, que o “apartheid” acabaria? a um público israelita, e que alguns Mas este conflito parece ser realmen- historiadores israelitas decidissem te difícil. fazer mais investigação. Ficou pior e pior? Teve leitores israelitas a Pior e pior. Há a divisão de que falá- escrever-lhe? mos. E, claro, o projecto de colonatos Não tive muita reacção de leitores [em Jerusalém e na Cisjordânia] con- em Israel. Tive de leitores judeus na tinua. Não haverá paz enquanto os América. Fiz algumas apresentações colonos continuarem a tomar terra. do livro, e em três ou quatro ocasiões Quando volta de um aconteceu haver gente a levantar-se investimento de tempo tão e a falar de outras coisas. Até citavam grande naquele lugar, sente que o Holocausto. Não se referiam aos é muito difícil falar com os seus factos que trago ao de cima. Acho amigos americanos sobre o que que os motivos eram sinceros, mas se passa lá? basicamente estavam a mudar de É difícil explicar porque provavel- assunto. Mas também tive boas reac- mente não sou bom a explicar. Quan- ções de judeus. do volto, as pessoas perguntam que Sente alguma mudança na tal foi, eu começo a contar, e ao fim visão “mainstream” sobre este de uns minutos elas distraem-se. Por- conflito? Porque desde 2003 que falo com toda a paixão, e para muitas coisas mudaram, mesmo quem ouve é um pouco excessivo. É na América. Diria que a visão melhor comunicar com o meu traba- “mainstream” está um pouco lho. Tenho suficiente experiência mais à esquerda? para manter o leitor comigo. É mais Acho que sim, um pouco. Os ameri- difícil manter comigo um amigo. canos ainda questionam muitos mo- No livro há todos estes tivos palestinianos, até certo ponto momentos de descompressão, ainda associam os palestinianos a como a matança do touro, as terrorismo, mas acho que estão um festas, o riso. Mas porque é pouco mais desconfortáveis em rela- nunca vemos os seus olhos, só os ção a Israel, especialmentea e te desde o óculos,ócu os, opacos? ataque a Gaza em 2008-09, e este [Hesitação][Hesitação] Soa umum pouco pa- ataque recente à frotarota [turca]. A teta,teta, mas uma das razões minha sensação é que muitos porpor queque comeccomeceie a fazer BD americanos estão maismais cautelo- autobiográficaautobiográfica foi querer sos em relação a Israelrael e não tão mostrarmostrar algunsalgun aspectos dispostos a acreditarar na posição meus,meus, mas nãon todos. israelita. Onde as ccoisasoisas NãoNão mmostroostro oos meus sen- não mudaram foi aoo níní-- ti-ti- mentosmento pessoais, a vel da política america-rica- não sser que isso na. No Senado, nnoo sejase impor- Congresso. Os polí-í- ttantea para a ticos parecem sem-- história. pre estar presos à posição israelita. Ver crítica Obama está a O gorro e os óculos escuros, de livros fazer alguma opacos: é atrás deles que Joe na pág. 34 diferença? Sacco se esconde nos seus livros e segs.

Ípsilon • Sexta-feira 20 Agosto 2010 • 27 A reedição em Portugal, pela Ber- a necessidade de criar uma irremediavelmente perdido? O indicação desse tipo de consciência. trand, do romance “Órix e Crex”, da sequela em “The Year of the amor? A liberdade? A memória? Em “Frankenstein” as vítimas muito aclamada Margaret Atwood, é Flood”? Não é o amor, as pessoas ainda amam. são “boas pessoas”, mas essa o pretexto para uma extensa e rara Sim, é um livro diferente. Em “Órix e A liberdade é diminuída, mas não distinção não acontece nos seus entrevista na qual a autora de “ Cró- Crex” observamos o universo de um eliminada. A memória é distorcida livros. Porquê? nica de Uma Serva”, “A Impostora”, dos lados da barreira, o que é protegi- – mas isso acontece, de qualquer for- Em “Frankenstein”, o monstro come- “A Mulher Comestível”, “O Assassino do e privilegiado. Em “The Year of the ma, estamos sempre a reescrever a ça por ser, também ele, “boa pessoa”. Cego” (Prémio Booker, 2000) e “Des- Flood” trata-se da vida do outro lado História. Por isso, diria que a coisa É inocente porque não possui expe- forra. A Dívida e o Lado Sombrio da do muro – o lado mais baixo da socie- mais preciosa que se perde é o equi- riência e deseja ser amado. A perso- Riqueza” comenta, com a franqueza dade, aquele onde o espaço público líbrio entre os seres humanos e o res- nagem egoísta é realmente o Doutor e o humor ácido que a caracterizam, foi abandonado e tudo é permitido, to da Natureza. Temos conseguido Frankenstein. O Dr. Frankenstein sa-

Livros a escrita, a imaginação, a História e mediante um preço. Haverá, ainda, manter a balança a pender para o crifica a noiva e os amigos por causa as sociedades contemporâneas. uma terceira parte da história, na qual nosso lado, já há bastante tempo. Em da sua obsessão e, na realidade, estas Atwood que nasceu há 71 anos em estou a trabalhar, neste momento. “Órix e Crex”, acontece o contrário personagens não têm uma existência Ottawa, no Canadá, estudou Inglês, Em “Órix e Crex”, existe Crake, – a Natureza torna-se mais poderosa muito forte, só lá estão para enfatizar Filosofia e Francês na Universidade personagem arrogante que do que o Homem a dita obsessão. Em “Órix e Crex”, de Toronto, onde lecciona, e é autora faz o papel de Deus. Será que É inevitável, ao ler este Jimmy/O Homem das Neves não é de uma vasta e importante obra que existem vários Crakes nas nossas romance, fazer referência a “bom” nem “inocente” dessa forma. inclui poemas, romances, contos, sociedades? “Frankenstein”. No entanto, Ele tem a noção precisa das suas im- histórias infantis e ensaios. Vegeta- Exactamente. Mas Crake não é o úni- Mary Shelley dotou o seu perfeições, falhanços e desejos. Ape- riana, feminista e ecologista convicta, co a fazer o papel de Deus. Não esta- famoso personagem de uma sar de tudo, é um romântico, o que colaboracolabora com a AAmnistia Internacio- rá todo o segmento da sociedade a consciência: ele sente culpa não faz dele “bom” ou inocente”. No nal e com outraoutrass organizações não- que ele pertence a fazer o mesmo? e remorso, e sofre com a entanto, uma vez que nunca pene- governamentais,governamentais fazendo-se ouvir a Talvez ele seja apenas mais eficaz… devastação provocada pelo tramos no interior da sua cabeça, favorfavor das populaçõespopula carenciadas e No romance, imagina um monstro que criou. O conto de tão-pouco ficamos a saber qual a ex- dosdos ddireitosireitos dos animais. Nos seus processo – uma espécie de Shelley tem uma base moral. tensão da sua falta de bondade. romances,romances, queq ecoam a influên- “potlatch”, uma “purificação” Acha que acontece o mesmo Será possível afirmar que o seu cia de autoresauto como H.G. Wells, – por que passa toda uma com o “seu” Crake? interesse como escritora está GeorgeGeorge Orwell,O Ray Bradbury sociedade. Será uma referência É óbvio que sim. De contrário, ele não mais dirigido para a sociedade e J.C. BaBallard,l entre outros, às “limpezas” – étnica, política, teria pesadelos. No entanto, a sua do que para o indivíduo? criacria uniuniversosv complexos e social, económica – que se têm consciência funciona num registo di- Não. Este romance é sobre indivídu- sociedadessociedad distópicas, onde tornado cada vez mais comuns, ferente. Repare-se que o jogo dos ra- os – o romance como género é assim, a brutalidadebruta dos totalita- na História recente? pazes – “Sangue e Rosas” – é outra por natureza própria - e não trata de rismosrismo leva inevitavelmen- Digamos que os “grandes re-ajustado- estatísticas ou de gráficos. Mas os in- tete à ddestruição ambien- res dos assuntos humanos” – os maio- divíduos existem dentro das socieda- tal,tal, à desumanização e ao res substitutos da divindade – não têm “Os maiores des. Até mesmo Robinson Crusoé, caoscao social e político. sido as guerras, embora estas tenham substitutos da sozinho na sua ilha, carrega consigo, A acção do seu causado uma grande destruição e na sua cabeça, a sua “sociedade”, maism recente roman- enormes alterações na balança do po- divindade não têm aquela a que pertence. O mesmo ce, “The Year of the der, mas sim as doenças. Basta lermos acontece com Jimmy. Não é coinci- Flood”F (2009), uma sobre a vida como ela era nas Américas sido as guerras (...), dência o facto de o último capítulo sequela de ““ÓrixÓ e Crex”, passa-se antes da chegada de Colombo para ter como título “Pegada”. Quando numnum temtempopo eem que as espécies perceber o alcance da catástrofe. Fo- mas sim as doenças Jimmy encontra uma pegada na praia, estãoestão a transformar-setransfo a uma enor- ram também as doenças que derruba- fica a saber que não está sozinho. E meme velocidadvelocidade,e um sinal inequívo- ram o império Mogul, por exemplo. (...). Como Saramago o leitor compreende que a questão co dada iminênciaiminênci de uma catástrofe. Agora temos a capacidade, através das mostrou tão que se coloca a Jimmy é a mesma de Adam One, o chefec da seita “Os Jar- alterações e até das construções gené- Crusoé: o autor desta pegada será dineiros de Deus”,Deu devotada à fusão ticas, para criar novas doenças para graficamente em amigo ou inimigo? dada ciência com a religião e à preser- as quais ninguém possui imunidade. Faz uso da ironia nas situações vaçãovação de toda a vida animal e vege- Como Saramago mostrou tão grafica- ‘Ensaio sobre a mais terríveis e dramáticas. tal, é o herói e,e de certa forma, o mente em “Ensaio sobre a Cegueira”, A ironia é um dos traços mais O “Frankenstein” porta-vozporta-voz das ppreocupações da au- basta uma doença incapacitante para Cegueira’, basta uma humanos da existência? de Mary Shelley é tora.tora. criar o caos e a anarquia. Mais do que ironia, utilizo piadas de uma referência Será “Órix e Crex”C um livro Nessa nova ordem que descreve doença incapacitante mau gosto, como as de Jimmy. Creio inevitável deste “especial”,“especial”, nno contexto da em “Órix e Crex”, o que é, para criar o caos” que muita gente o faria, nas mesmas “Órix e Crex” sua obra, uuma vez que sentiu para si, o bem mais precioso circunstâncias. Certamente no ca- A senhora- oráculo A História é uma distopia, diz Margaret Atwood ao Ípsilon numa das suas raras entrevistas, a propósito da reedição em Portugal de “Órix e Crex - O Último Homem”. Começou por ser um romance com princípio, meio e fi m, mas transformou-se na primeira parte de uma trilogia sobre o fi m do mundo. Helena Vasconcelos

28 • Sexta-feira 20 Agosto 2010 • Ípsilon GEORGE WHITESIDE GEORGE

O fi m do mundo é um tema obrigatório para Margaret Atwood, que já o tinha abordado em “O Assassino Cego”: “Os romances são sobre tempo e mudança, tal como a vida das pessoas, tal como a História. Os mundos estão sempre em colapso, a acabar”

Ípsilon • Sexta-feira 20 Agosto 2010 • 29 so de homens jovens. Em “O Assassino Cego”, foi de homens versus mulheres. Um ho- Neste livro insinua que a pior certamente inspirada por mem que sonhasse viver numa socie- arma de autodestruição é a “Histórias”, de Heródoto: por dade destas seria louco, a não ser que estupidez: o ser humano é exemplo, o episódio de Sackiel- estivesse mesmo no topo da hierar- capaz de criar, mas não tem Norn poderá ser comparado ao quia. capacidade para fazer bom uso do cerco a Babilónia. Será que, Tem travado lutas em várias do que inventa. É sua intenção tal como Heródoto, pretende frentes. A defesa de uma ética explorar este paradoxo: quanto “fazer História” com ficções que nas ciências e na economia 2 SET melhores somos – em ciência, funcionam como realidade ou se é uma das suas batalhas. GO / 1 em tecnologia –, pior fazemos? confundem com ela? Tem alguma ideia de como 12 A Ponho a questão nestes termos: os Há muitas fontes para a história de a crise mundial poderá ser Governos têm medo de tomar as de- Zyrcon e Heródoto é apenas uma de- ultrapassada? cisões correctas porque não querem las. Outras incluem episódios bíblicos Não sou uma activista profissional, ser derrotados nas eleições seguintes, e da história recente da Pérsia. Sem não é o meu trabalho e ninguém me e sem dúvida apreciam mais o poder dúvida que, mesmo nos detalhes in- paga para tal. Tomo essas atitudes de LISBOA do que o bem-estar daqueles que por ventados mais improváveis, é possí- vez em quando, não para marcar eles são governados. Não lhe chama- vel muitas vezes encontrar um con- uma posição mas porque represen- ria estupidez mas sim egoísmo. traponto na vida real. tam o que é correcto. Não sou eco- “O Assassino Cego” parece-se Em vários livros seus, existe o nomista, só escrevo sobre o compor- com um romance tradicional, gosto pela criação de sociedades tamento humano. Como é que se NA RUA mas as histórias dentro da cheias de regras, de hierarquias, “ultrapassa” uma crise? Não sei. Ha- história vão-se sucedendo e de sistemas rígidos. Será uma verá água e produtos frescos para existe uma tensão entre a ficção ilustração das distopias que todo o mundo? A produção aumen- extrema – a história fantástica partiram de utopias mas deram tará e, portanto, haverá mais emis- contada por Alex Thomas – e mau resultado? sões de carbono? COM’OUT uma espécie de “realidade” Na realidade, todas as utopias são dis- Acha que os artistas – os factual, como ela é descrita nos topias. A “República” de Platão é um criadores – têm algo a fazer ou a jornais. Qual foi a sua intenção bom exemplo. Quem gostaria de viver dizer no que diz respeito a estes ao criar estes níveis narrativos? numa sociedade daquelas? O perfec- problemas? Ficamos sempre num território in- cionismo nos sistemas políticos, quan- Não. Beethoven teria dado um péssi- LISBON seguro quando se pergunta a um do levado ao extremo, leva à cruelda- mo rei. Alguém imagina James Joyce autor acerca das suas intenções. Mas de e redunda sempre em “leitos pro- como presidente da Câmara? Não me posso dizer que a história é sobre crusteanos” – como os campos de parece. Flaubert para ministro das E diferentes níveis de verdade – o que morte do Camboja, as purgas, etc. Finanças? Extremamente duvidoso. A LIVR inevitavelmente leva a níveis dife- Estaremos a perder a liberdade, Van Gogh para…? Não, são talentos TRAD rentes da narrativa. a tornar-nos servos” da e competências diferentes. Maquiavel EN Em “O Assassino Cego” descreve tecnologia e dos média? era capaz de dar um óptimo primei- também o fim de um mundo Essa pergunta merece uma resposta ro ministro mas ele não era bem um (tal como em “Órix e Crex”), demasiado longa para este espaço. artista, não neste sentido. Seria mais A SEMAN neste caso o mundo como as Liberdade? Mas liberdade para fazer um teórico político, um politólogo, ESTA pessoas o conheciam antes da o quê? Liberdade de quê? Nunca hou- como se diz agora. “Mantenham os Segunda Guerra Mundial. Sente- ve liberdade perfeita. Tentem saltar amigos por perto e os inimigos ainda se compelida a escrever sobre de um prédio. Temos a liberdade de mais perto”, dizia ele: palavras sen- EXTA O S STOR estas múltiplas “mortes”? voar, ninguém nos impede, mas se- satas para tempos de punhaladas nas AG ADAMA 20 DIM DO Os romances são sempre sobre tem- remos capazes de o fazer? costas. Quanto à possibilidade de os H / JAR 19 JAZZ S po e mudança (um acontecimento a Não gosta que os seus livros artistas serem lideres, nos nossos OUT RPHEU seguir ao outro), tal como na vida das sejam classificados como ficção- tempos, eles são muitas vezes empur- ACK O pessoas, tal como na História. Os científica. Será porque o que lhe rados para o papel de “oradores” BL mundos estão sempre em colapso, a interessa é situar a acção dos porque os outros – os que deviam es- acabar. A não ser que consigamos seus romances não no futuro tar a falar – têm bons empregos e não O SÁBADO parar o tempo, como em “A Bela mas sim numa zona nebulosa e querem ser despedidos. AG STRELA Adormecida”, mudança e tempo são paralela que coexiste e interage “Desforra”, o seu livro de não 21 DA E ÇÃO JARDIM ONVIC naturalmente parte do destino de com o presente? ficção sobre a dívida, parece 19H / OM C OLOS C todos nós. Ah! Estou precisamente a escrever não ter tido um acolhimento tão S sobre esse tema para uma série de bom como os seus romances. 3+1 2 DIAS AGUDO três conferências Ellman. Mais tarde, Será porque tocou com o dedo LÁUDIA MONTE “Nos nossos tempos, C OURO serão publicadas em livro: “In Other na ferida numa altura de grande MIRAD 22H / A RUA os artistas são Worlds: SF and the Human Imagina- confusão social, económica e FITAS N tion”. Espero que as respostas a essa política? 8 muitas vezes questão se encontrem aí. Na realidade, aqui [no Canadá] foi o6 E A DRIV As mulheres ocupam um lugar muito bem recebido, uma vez que foi LI LLAND empurrados para especial na sua obra. É sua o único livro dedicado a esse tema ULHO intenção fazê-las sobressair? que saiu no momento exacto da crise M NCH AVID LY o papel de ‘oradores’ Deixo aos leitores o diagnóstico. Es- financeira de 2008. As pessoas olha- D crevo sobre mulheres porque elas são vam para mim com ar estranho e porque os outros – os GO interessantes. Também escrevo sobre pediam-me indicações sobre o mer- O DOMIN que deviam estar homens, mas é mais fácil faze-lo cado bolsista. Mas não tenho nenhu- AG TOREL quando se trata de mulheres e eu sou ma bola de cristal… Neste preciso 22 IM DO / JARD A RUA preguiçosa. momento. está a ser feito um docu- 19H COS N a falar – têm CLÁSSI Acha que, em “CrónicaCrónica de Uma mentário sobre os temas abrangidos T6 OS NAL bons empregos Serva”, criou uma projecção porpor “Desforra”.“Desforra”. ALM NACIO ANTEÃO de um sonho masculino, Acha que os grandes cérebros 22H / P RUA e não querem misógino?misógino? da banca fizeram um trabalho AS NA LLO FIT DE ME Criei um mundomundo tota-tota- tãotão mal feitofeito por estupidez, OPHIA ESEN ser litáriolitário ondeonde osos ho-ho- por ganânciaganância ou por ambas as S ANDR YNER IRO : despedidos” mens jjovensovens que razões?razões? BRE MONTE TUOS se encontram no Não, eelesles não eram estúpidosestúpidos nemnem ÉSAR RPÉ JOÃO C S PE ES mais baixo esca- incompetentes,incompetentes, simsimplesmenteplesmente fufun-n NTO ED OVIME LOS PAR lãolão dodo sistemasistema cionaram dentro de um sistema ququee M A CAR sãosão tãotão servosservos lhes permitiu um acesso não regula-regula IBUTO quantoquanto as mu- dodo ao “grande“grande bbolo”.olo”. AcharamAcharam queque TR RA GAR PÊ lheres.lheres. Não é nãonão haviahavia razão pparaara não se servireserviremm ED umum cece-- à vontade, tirando ppartidoartido da situsitua-a nná-á- ção,ção, com uma legislaçãolegislação totalmentetotalmente riorio fluida. É sempre assim: demasiadasdemasiadas regrasregras paralisam; a ffaltaalta delas libertlibertaa os impulsosimpulsos dede ganância.ganância.

O queque é queque nos resta? Há razõerazõess ORGANIZAÇÃO parapara sermos ooptimistas?ptimistas? Sem optimismo, isto é, sem a capa-capa cidadecidade para trabalhar no sentidosentido PARCEIROS PATROCINADORES PARCEIROS MEDIA dede alcançarmosalcançarmos resultadosresultados posposi-i Margaret Atwood com o livro com tivos,tivos, estamos condenados.condenados. Fe-Fe que ganhou o Prémio Booker em lizmente qqueue essa capacidade,capacidade APOIOS 2000, “O Assassino Cego” tal como a imaginaimaginação,ção, pare-pare INVESFER TODA A PROGRAMAÇÃO EM WWW.EGEAC.PT

cemcem ser característicascaracterísticas inine-e silva!designers

REUTERS/DYLAN MARTINEZ REUTERS/DYLAN rentesrentes ao ser humano.humano.

30 • Sexta-feira 20 Agosto 2010 • Ípsilon JASON GARDNER JASON O afrobeat é uma arma “Who is this America?”, perguntavam os Antibalas em 2004. Seis anos depois, a banda nova-iorquina que recupera o afrobeat de Fela Kuti reedita esse mesmo álbum. Porque saiu Bush e entrou Obama, mas a pergunta ainda se impõe. Mário Lopes

“Who is this America dem speak of falam hoje?”, ouvimos naquele canto mais distintos representantes ameri- congregando músicos que Jan today?”, ouve-se em inglês de sotaque que é quase discurso, sobre a cadên- canos do afrobeat, expressão musical Brewer, a governadora do Arizo- nigeriano, o de Amayo, um dos voca- cia rítmica da canção: hipnótica, afri- criada pelo lendário Fela Kuti em La- na, aceitaria como verdadeiros listas dos Antibalas. “Is it indigenous cana, jazzística. Há-de citar outros gos, capital da Nigéria, na década de americanos, e outros que talvez America?”, começa por perguntar. imigrantes, os sem-documentos do 70. Até aqui tudo certo. nem tanto (de ascendência mexi- Continuará, elencando todos os imi- século XXI, há-de falar dos africanos EUA, 2010. O estado do Ari- cana, asiática ou africana, como grantes que os índios norte-america- que trouxeram música e cultura zona quer aprovar leis racis- Amayo, nascido em Lagos). Tudo nos viram chegar. Espanhóis, ao país. Exorta (“People uni- tas para controlar a imigra- certo - à parte um pormenor. ingleses, franceses e holande- ted!”) e duvida (“What is uni- ção sul-americana. Nova “Who Is This America?” foi edi- ses. “É esta a América de que ted in a state of confu- Iorque está em ebulição tado em 2004, pouco antes das sion?”). devido ao projecto de presidenciais americanas des- “Who is this Ame- construção de uma mes- se ano, como álbum de com- rica dem speak of to- quita nas proximidades bate à administração Bush. day?” é a primeira do Ground Zero. “Who “O estranho no afrobeat canção de “Who Is is this America dem é que muitas das suas pri- This America?”, speak of today?” Os meiras canções, os clás- o terceiro ál- Antibalas? Banda sicos afrobeat de Fela bum dos An- multicultural, entre Kuti, foram compostas tibalas, os 13 e 17 elementos, durante as ditaduras

Um colectivo de 13 a 17 membros que são uma espécie de América hoje: mesmo que não tenham lugar no Arizona, o México, a Ásia e a África têm lugar nos Antibalas Música

Ípsilon • Sexta-feira 20 Agosto 2010 • 31 Os Antibalas não gravam mais porque andam sempre na estrada, e quando regressam a casa têm de voltar ao trabalho para pagar a renda militares da Nigéria da década de 70”, reflectia o saxofonista Martin Perna à “Glide Magazine”, em 2004. “Tocamos algumas, e o lamentável é que aquelas letras são muito relevan- GARDNER JASON tes para aquilo que vivemos agora nos EUA. Somos mais caóticos, mas pró- ximos do ditatorial, mais amedron- tados, menos organizados...” “Who is this America?” foi reedita- do agora, meros seis anos depois do lançamento original, porque, apesar da saída de Bush, apesar da eleição de Obama, os EUA continuam “a lutar pela sua identidade colectiva perante um mundo em mudança”, como se lê no texto de apresentação da reedi- ção, no “site” da editora Ropeadope. Os Antibalas, pela sua história, encar- nam na perfeição essa “luta”. Uma banda americana que se assume co- mo representante moderna da antiga música nigeriana, cantando a evidên- cia das desigualdades trazidas pelo neoliberalismo (“Big man”) ou apon- tando o dedo a crimes políticos (“In- dictment”) e que ao mesmo tempo continua o legado de Fela Kuti, músi- co que viajou por Inglaterra e pelos EUA, absorvendo o jazz de Miles Da- vis e o funk de James Brown para de- pois regressar à Nigéria, reunir essas influências aos metais do “highlife” local e às percussões do povo Yoruba, e criar o afrobeat. “A música é a nossa arma. Estare- mos aqui amanhã. E no dia depois desse. Estaremos aqui para sempre”, dizia Fela nos seus concertos. Os An- tibalas continuam. Afrobeat nigeriano para cantar a contestação nos EUA. “A ideia de luta política é indissociável do afrobeat”, diz Martin Perna, um filho de mexicanos que imaginou os Antibalas em 1998, quando vivia com revolucionários zapatistas no país dos produtor dos Roots – “milagre!”, exul- de “Back To Black”, o álbum mais cé- “Gostaria de viver Em 2002, encerraram o histórico seus pais. tou numa carta aberta -, uma produ- lebre de Amy Winehouse. Tudo isto Festival de Newport com Isaac Hayes ção que desmereça o homenageado. fiéis à uma estética definida, mas não em condições que e Herbie Hancock. Em 2004, deram Fela na Broadway Com “Fela!”, o génio até agora prati- estanque, e mantendo intocada a éti- conferências sobre afrobeat na Uni- “O que queres de Fela?”, perguntou camente desconhecido nos EUA está ca fundadora. tornassem a música versidade de Yale. Continuaram a ao bailarino e coreógrafo Bill T. Jones a tornar-se figura conhecida. E com editar (“Talkatif” chegou em 2002, uma voz intempestiva, desconfiada. ele os Antibalas têm levado o afrobe- Sempre em digressão de protesto “Who Is This America?” em 2004, Era a voz de Gabriel Roth, músico at mundo fora. Inicialmente, os Antibalas tocavam “Security”, o último álbum até ao mo- nova-iorquino, membro dos fantásti- Fiéis mas não puristas (“o objectivo apenas em Nova Iorque, em locais desnecessária” mento, em 2007) e a tocar América e cos Dap Kings, banda suporte da é dar a nossa contribuição original ao que não fossem explorados comer- Martin Perna, mundo fora. Não gravam mais, diz “soul woman” Sharon Jones e ex- legado de Fela”, acentua Martin Per- cialmente. Lofts, festas de rua, cen- Martin Perna, porque estão constan- membro dos Antibalas. Ao dar os pri- na em entrevistas), cantam em inglês, tros comunitários, palcos de acção saxofonista temente na estrada. “E quando vol- meiros passos na produção de “Fe- em yoruba ou em espanhol. Estimu- política. Em 1999 iniciaram uma re- tamos a Nova Iorque, toda a gente tem la!”, o musical sobre o lendário mú- lam novas ligações (“Che Che Cole”, sidência semanal num clube under- que voltar ao trabalho para pagar a sico nigeriano, Bill T. Jones procurava single de 2003, estabelecia a ponte ground, o NoMoore, em Manhattan. renda”. os músicos que pudessem dar música, com a música caribenha) e alargam Ali montaram durante 70 semanas Em 2000, quando George W. Bush a música de Fela Kuti, à história que o seu raio de acção a uma comunida- consecutivas as festas “Africalia”, ce- foi eleito para o seu segundo manda- pretendia levar a palco. Não foi difícil de musical diversa. Foram banda su- lebrando o afrobeat e as músicas da to, os Antibalas passaram a tocar to- chegar à banda ideal para a tarefa. porte dos Wu Tang Clan em alguns diáspora africana. Também data de das as noites “Authority stealing”, um Difícil foi depois. Roth não queria ver concertos e no ano passado, com os 1999, num acto improvisado, a sua dos clássicos de Fela Kuti. Em 2004, o legado de Kuti, a sua visionária obra Roots, ajudaram os históricos Public primeira digressão inglesa. Sem di- Martin Perna confessava à “Glide Ma- musical e o seu activismo inspirador Enemy a recriar em Filadélfia o igual- nheiro para a estadia e para as deslo- gazine”: “Gostaria de viver em con- transformados em comodidade ino- mente histórico “It Takes A Nation Of cações, tornaram-se feirantes em dições que tornassem a música de fensiva para burguês fruir refastelado Millions to Hold Us Back”. Além disso, Portobello Road, reunindo fundos protesto desnecessária”. Mas não vi- numa cadeira da Broadway. participaram nas gravações de “Re- através da venda de singles de vinil. via. Não vive. E por isso os Antibalas “Fela!”, produzido por Jay-Z e Will turn to Cookie Mountain”, dos TV On No ano seguinte, editaram o primeiro continuam a transportar a tocha de Smith, chegou mesmo à Broadway Radio, e vimo-los tocar com Paul Si- álbum, “Liberating Afrobeat Vol.1”, Fela Kuti. Perguntando ainda, seis em 2009, com vários dos Antibalas mon. E alguns dos seus membros, oferecendo assim um registo gravado anos depois, “Who is this America na direcção musical – são a feérica partilhados com os supracitados Dap àqueles que não tinham oportunida- dem speak of today?” orquestra comandando as operações. Kings (os membros dos Antibalas di- de de assistir às suas explosivas e ca- E não é, dizem os relatos de gente in- videm-se por um sem número de ban- da vez mais célebres actuações ao Ver crítica de discos na pág. 40 e se- suspeita como Questlove, baterista e das) asseguraram a base instrumental vivo. gs.

32 • Sexta-feira 20 Agosto 2010 • Ípsilon Mary McCarthy BETTMANN/CORBIS Toda a odisseia do segundo sexo na América dos anos 30 num romance coral, “O Grupo”. Pág. 34

Fausto Uma aparição rara num festival como há poucos, numa aldeia de Tomar. Pág. 38

Samuel Beckett Quatro pequenos textos encenados por Nuno Carinhas e agora fixados num DVD exemplar. Pág. 47

Deolinda Nouvelle Vague meets DJ até às 03H00 26-ago Rui Pregal da Cunha 2-set m/18

Programa sujeito a alterações

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Ípsilon • Sexta-feira 20 Agosto 2010 • 33 aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

Há dez anos que a American Novelist” “Time” não dedicava (“Grande Romancista uma capa a um escritor Americano”). Franzen Capa vivo, mas Jonathan torna-se, assim, o Franzen, o autor de sucessor de escritores “Correcções”, mereceu, como Günter Grass, com o novo “Freedom”, George Orwell e as atenções da revista Stephen King no americana, que titula, quadro de honra da na sua edição do revista octogenária. passado dia 12, “Great

Ficção crítica, “O Grupo” teve um sucesso suas façanhas, que poderiam ser não apreciavam tanta ousadia. notável e permaneceu dois anos na uma ode à emancipação feminina, Corajosamente, afirmou: “Ser–se lista dos livros mais vendidos do acabam por se revelar um lamento pouco apreciada por pessoas por Lady “New York Times”. desencantado e patético: um quem não se tem qualquer respeito Mary McCarthy foi uma das suicídio, casamentos conturbados não é um destino nada mau”. intelectuais mais brilhantes da sua ou desinteressantes, carreiras McCarthy geração e este relato revela bem a estagnadas ou interrompidas são, verdadeira vocação da autora, o afinal, o corolário das grandes Homens Mary McCarthy revela neste jornalismo. Nos seus ensaios de expectativas destas mulheres cultas, crítica literária, principalmente em inteligentes e sensíveis. Afinal para romance coral, que com “The Writing on the Wall” (1970) e que lhes serviu uma esmerada rentes o tempo se tornou mais “Ideas and the Novel” (1980), educação se elas acabam subjugadas determinante do que “O McCarthy lamenta o declínio do e abandonadas pelos maridos e/ou ao chão Segundo Sexo”, de Beauvoir, romance de ideias do século XIX – pelas circunstâncias, tal como as sendo Henry James o “assassino” do suas mães e avós? a sua verdadeira vocação: o género – e não esconde a influência McCarthy, uma intelectual Uma história pungente jornalismo. de autores como Jane Austen, excepcional, foi várias vezes sobre a esperança de uma Helena Vasconcelos Balzac, Dickens, Dostoiévski, Eliot, humilhada e desautorizada. (a sua vida digna, por um autor Stendhal e Tolstói que, como ela ligação com o crítico Edmund dizia, escreveram livros sobre factos Wilson foi a mais memorável: ao fim romeno até agora inédito em O Grupo Portugal. Livros Mary McCarthy banais mas a abarrotar de ideias. de quatro meses de casamento, (Trad. Daniela Carvalhal Garcia) Em “O Grupo”, descreve quando ela já estava grávida, José Riço Direitinho Dom Quixote minuciosamente a existência de agrediu-a e internou-a numa clínica, homens e mulheres que pensam, com a desculpa de que se tratava de Os Cardos do Baragan mmmmm agem, se movimentam e procuram um caso psiquiátrico grave, tal como Panaït Istrati algo que as diferencie numa acontece a Kay, a personagem (Trad. Aníbal Fernandes) “O Grupo” (1963) sociedade em tumulto. A narrativa central de “O Grupo”). A publicação Assírio & Alvim é um romance da atém-se a factos, não a análises deste romance não lhe facilitou a TOP Bertrand novelista, psicológicas ou devaneios poéticos. vida: as suas antigas companheiras mmmmn jornalista, crítica A cronologia não é linear, os de Vassar e alguns amigos afastaram- literária e activista capítulos funcionam como se por acharem que tinham sido Em Março de Ficção política Mary “quadros” independentes – o livro retratados de forma pouco 1907, e como McCarthy (1912- começa com um casamento e acaba lisonjeira. A crítica literária e grande resposta a uma Perseguida 1989) que relata o com um funeral – e as amigas, além amiga de McCarthy Elizabeth revolta de 1 P.C. Cast início da vida do orgulho de terem sido educadas Hardwick escreveu uma crónica camponeses Saída de Emergência adulta de Lakey, em Vassar e de partirem do maldosa na “Partisan Review” e o esfomeados Kay, Pokey, Polly, Dottie, Helena, princípio de que esse facto lhes texto de Norman Mailer no “New contra os Mentiras Cruéis Norine e Priss, oito jovens acabadas fornece uma protecção contra os York Review of Books” é um latifundiários, três 2 Nora Roberts de sair da prestigiada Universidade embates da vida e uma certa portento de escárnio e maldizer. aldeias romenas Chá das Cinco Vassar, pioneira no ensino superior superioridade em relação aos Mailer, que se refere à autora como foram arrasadas a para mulheres – só foram comuns mortais, não partilham “Santa Mary”, “Lady McCarthy”, tiro de canhão por forças Um Dia autorizados homens a partir de 1969 trajectórias, sendo até bem críticas – “camarada Mary” e “Joana d’Arc das governamentais. No final da chacina, 3 David Nicholls -, e determinadas a conquistar um e por vezes maldosas – entre si. Letras”, reduz o romance a “uma havia onze mil cadáveres. Foi a estes Civilização lugar proeminente na América de É interessante notar que os trivial historieta de mulheres… mortos (“pobres colados à terra”) Roosevelt, a braços com as percursos destas mulheres ensopada num odor corporativo que Panaït Istrati (1884-1935) – Pensageiro Frequente consequências da Depressão e com a “modernas” de sucesso (quando feito de [perfume] ‘Ma Griffe’ e de escritor romeno que escreveu quase 4 Mia Couto implementação do “New Deal”. Candace Bushnell, que também gel anticoncepcional”. toda a sua obra em francês – dedicou Caminho Envolto em controvérsia e alvo de assina a introdução desta edição, foi McCarthy nunca fugiu a assuntos a novela “Os Cardos do Baragan”, aataquestaques vviolentosiolentos porpor parteparte dada convconvidadaidada para escrever o gguiãouião dede incómodos – foi das poucas vozes na publicada originalmente em 1928. Verão na Rivieraiera “O Sexo e a Cidade”,Cidade”, manmandaram-nadaram-na América a defender Nabokov Panaït Istrati nasceu em Braila, 5 Elizabeth Adlerler llerer “O Grupo”) acaacabambam por não ser quando do escândalo “Lolita” – e fez junto ao Danúbio, região onde o Quinta Essênciancia tão triunfantes como, à partida, se questão de escrever apenas sobre o “crivatz”, “o vento da Rússia”, varre susupõe.põe. A mais tímida inicia-se que testemunhou ao longo da vida com o seu “hálito de gelo” aquelas sexualmente com um homem poucopouco (em relação ao sexo, à contracepção, extensões imensas e quase Não-Ficção rrecomendável,ecomendável, a mais discretadiscreta à carreira, ao casamento, à paixão, à desérticas chamadas Baragan. Filho sujeita-se às experiexperiênciasências que o sedução, à fidelidade e ao adultério), de uma lavadeira e de um 1 Histórias Rocambolescascambolescas mmaridoarido (médico(médico e republicano)republicano) quer abordando com total franqueza contrabandista grego que ele nunca da História dede PortugalPortugal levlevarar a ccaboabo nnoo ââmbitombito ddaa muitos assuntos tabu e troçando dos chegou a conhecer (fora morto pela João Ferreira alimentação do bebé de ambos intelectuais de esquerda numa polícia costeira), desde cedo sentiu o A Esfera dos LLivrosivros contra as “ideias modernas” altura em que a América era peso da miséria campesina; depois dada amamentação a biberão,biberão, “vermelha” – até outro McCarthy ter de concluída a instrução primária, Eu, Maria Piaa outraoutra ffazaz ususoo ddasas posto fim, drasticamente, aos abandonou a escola e começou a 2 Diana de Cadavalaval “manhas“manhas femininas”femininas” arroubos revolucionários. trabalhar numa taberna. Aos 16 anos A Esfera dos LLivrosivros parapara subir na Apesar de McCarthy não se iniciou uma vida errante de viajante carreiracarreira editorial considerar uma escritora feminista (muitas vezes esfomeado, misturado O Ensino do PPortuguêsortuguês e,e, no geralgeral as (para ela, o feminismo era uma com movimentos revolucionários, 3 Maria do Carmomo Vieira mistura de “auto-piedade, histeria e perseguido e doente) que o levou a FFMS ganância”), “O Grupo” tornou-se tão percorrer o Egipto, a Síria, a importante e resistiu melhor ao Turquia, o Líbano, a Grécia, a Itália, A Cabana Mary McCarthy acompanha, em “O Grupo”, tempo – talvez por ser romance – do a Suíça e a França. Enquanto tentava 4 William Youngng o percurso, mais em queda do que em ascensão, de que “O Segundo Sexo” (1949), de recuperar de uma tuberculose na Porto Editoraa oito promissoras mulheres da América dos anos 30 Beauvoir, ou “A Mística Feminina”, Suíça, aprendeu francês, ao mesmo de Betty Friedan (1963). Como tempo que lia os mestres russos e Voo Sensitivoo Dorothy Parker antes dela e Susan ocidentais (sobretudo um escritor 5 Alexandra Sontag, depois, a sua própria vida e francês muito em voga na época, Solnado a sua voz límpida e vibrante Romain Rolland, que ganhara o Pergaminho impuseram-se num domínio onde Nobel em 1916). É aliás Rolland (que imperavam os “machos” alfa que Istrati acaba por conhecer, em

34 • Sexta-feira 20 Agosto 2010 • Ípsilon Pulp Fiction Ciberescritas à espanhola Como é diferente o

O “road movie” de uma amor em Portugal Espanha hiper realista, umberto Werneck andava a ler “Assim morreram os ricos e famosos” de Michael mas que esconde Largo “como se não tivesse nada de mais fantasmas profundos. Hrelevante para ler na vida”. Ao chegar à Rui Lagartinho página 284, já estava surpreendido por ainda não ter encontrado um só caso de morte macaca. O Discothèque jornalista e escritor brasileiro que no ano passado na Festa Literária Internacional de Paraty mediou a mesa Félix Romeo Isabel (Trad. Luís Filipe Sarmento) em que participou António Lobo Antunes e conquistou o Minotauro Coutinho escritor ao dizer uma piada (que a Academia do Nobel talvez tivesse cometido um erro de português) lembra mmmmn que, para o escritor brasileiro Pedro Nava, morte macaca “designa o falecimento ocorrido em pleno ato sexual”. Poucos se Está comprovado no seu “Galo-das-Trevas”: “Outro dia lembram porque ele estourou de morte macaca em cima duma mulata do o regime balacobaco.” Werneck conta esta história (que ainda não franquista a terminou, já lá vamos) no livro que acaba de publicar no sepultou num Brasil, “O Espalhador de Passarinhos & Outras Crônicas” Desde a sua primeira obra, o romeno Panaït Istrati manto de silêncio (Edições Dubolsinho). Reúne 65 crónicas e histórias bem- fez-se a voz dos camponeses pobres, denunciando e censura, mas humoradas que escreveu entre 1990 e 2010 e pode ser os abusos dos boiardos latifundiários: Espanha também comprado através do blogue da editora. uma espécie de Gorki dos Balcãs teve, no final da Humberto tentou ver o significado de morte macaca resultado de uma tentativa de crianças que os persigam durante década de 50 do nos dicionários Houaiss e Aurélio; como não havia suicídio) quem lhe prefacia o dias, acreditando que, como ouvem século XX, a sua guerra em África. registo da expressão, resolveu consultar a sua amiga em primeiro livro, escrevendo (segundo contar nas lendas, um cardo lhes A Guerra de Ifni (protectorado Lisboa, a académica Maria Lúcia Lepecki, que palavras do tradutor Aníbal indicará o lugar da boa sorte. Todas espanhol em território marroquino) esclareceu: “Na terrinha, morte macaca é aquela Fernandes): “É um narrador-nato, elas esperam por essa hora, para envolveu milhares de espanhóis desastrosa ou inglória.” E conclui Werneck na sua um contador de histórias oriental poderem correr livres através do numa aventura que obrigou crónica: “Não combina com o triste (ou alegre?) fim do que se encanta e emociona com as Baragan; vão com o vento, e muitas Marrocos a aceitar os interesses personagem de Pedro Nava, suas próprias narrativas, e uma vez vezes não voltam, como a história espanhóis no Sara Ocidental. Uma “‘Para os lusos o ato para quem esticar as canelas embrenhado nelas nenhum dos seus daquela que “um dia tinha partido paz cínica: os dois países em cima duma mulata do ouvintes sabe, ele ainda menos, se com os cardos”, e anos depois se partilhavam algo que no fundo não sexual tem algo a mais. balacobaco não terá sido vão durar uma hora ou mil e uma transformara num dos maiores era seu, mas do povo sarauí. inglório nem desastroso. noites.” bufarinheiros de Bucareste. A Félix Romeo (Saragoça, 1968) Enriquecido com o ‘c’, ‘Como é diferente o amor em Desde a sua primeira obra que Mas ao mesmo tempo que os chegaram ecos desta aventura Portugal’, suspira o cardeal Istrati se fez a voz dos oprimidos, o cardos assumem na novela de Istrati militar através das memórias orais deve ser mais Gonzaga na peça ‘A Ceia dos narrador dos abusos dos boiardos a metáfora da libertação, também que foi compilando quando esteve completo’” Cardeais’, de Júlio Dantas. latifundiários descendentes dos são o símbolo áspero da tirania: “Os preso ano e meio por Talvez seja mesmo. Basta nobres russos que eram os donos da cardos-carrasco!... A toda-poderosa insubordinação militar. Por causa reparar que para os lusos o ato sexual tem algo a mais: é terra, o denunciador das violências lepra que grassa com excessiva deste episódio, o escritor, crítico ‘acto’. Enriquecido com o ‘c’, deve ser mais completo do contra os camponeses pobres, esses tolerância neste país transformado literário e tradutor (entre outros do que o nosso aqui nos trópicos.” (p. 150). homens, mulheres e crianças que num imenso Baragan!... Pela português Gonçalo M. Tavares) A edição da “Playboy” portuguesa de Julho, polémica “não passavam de bandos milésima vez pergunto a mim tornou-se um respeitável agitador por causa das fotos de homenagem ao romance de José ensopados em lama, de grandes próprio: como é possível o ‘cojan’ cultural, transferindo muito deste Saramago “O Evangelho segundo Jesus Cristo”, torrões de terra que cambaleavam, não sentir as picadas dos cardos (…) frenesim para as suas crónicas e publicava a entrevista que Humberto Werneck lhe fez movidos por corações inúteis”. que o esvaziam da última gota de entrevistas nos jornais e para o antes de receber o Nobel para a “Playboy” brasileira. Por Istrati torna-se assim numa espécie sangue?” magazine cultural de televisão isso algumas das crónicas deste livro são dedicadas de “novo Gorki dos Balcãs”. “Os A escrita de Panaït Istrati foi “Mandrágora”. àquela sua “boa vida de Playboy” (o jornalista que Cardos do Baragan” é um bom aproveitada pelos soviéticos como “Discothèque” nasce do tempo nasceu em 1945, também trabalhou no na “Veja”, na exemplo dessas suas preocupações ilustração do tal “homem novo” que há na prisão para escutar os “Isto É” e no “Jornal do Brasil”, entre outros). Tirem daí sociais, ao narrar-nos a vida anunciado pelos bolcheviques, e em outros e disso saber fazer uso para as ideias: “Era um ótimo emprego, ainda que não miserável de um jovem que vive na 1927 ele foi convidado a visitar a memória futura. correspondesse à ideia que tantos leitores (‘vedores’?) fronteira do Baragan, essa URSS para assistir à comemoração “Bem nos enganaram. Sim, bem faziam da nossa redação, para eles um bordel onde havia “imensidade que no mais fundo das do décimo aniversário da revolução. nos enganaram a todos nós. Mais do até quem se dedicasse a escrever artigos e reportagens. entranhas esconde a água e nada, Voltou depois, em 1928, que aos americanos do Vietname. Edições Com o risco de desapontar vossas mentes lascivas, devo nada dá, se não cardos”. Mas não se acompanhado por Nikos Kazantzakis Mais do que aos da Bósnia e aos da Dubolsinho dizer que nunca vi por lá uma mulher pelada. E as pense que estes cardos de Istrati são (o escritor grego que viria a ganhar o Chechénia e mais do que aos da http://dubolsi- vestidas nem sempre faziam boa figura. Me lembro de desses que dão uma bonita flor Nobel), mas desta vez viajou Argélia. Bem nos enganaram, a nho.blogspot. uma que se achava um avião: seu sonho era ‘pousar’ vermelha; estes crescem em forma demoradamente por áreas longe de todos nós que estávamos no com/ para a ‘Playboy’. Outra queria ser ‘atora’.” (p. 12) de bola, atingem as dimensões “de Moscovo, quase livremente, e Protectorado do Norte de Marrocos, No ano passado, Humberto publicou “O Pai dos um grande garrafão com camisa de apercebeu-se da realidade que em Santa Cruz de Mar Pequeña. Crónicas Burros” um dicionário de lugares-comuns e frases feitas. palha”, e o gado “teme a sua atroz estava a ser construída. Regressado Como cães para uma luta de Humberto Em 2008, saiu “O santo sujo - A vida de Jayme Ovale” (ed. picada”. São cardos, diz Panaït a França, denunciou – muito antes clandestina de cães. Mas nem sequer Werneck no Vida CosacNaify), a melhor biografia publicada no Brasil nesse Istrati, que se sabem defender, de André Gide, Céline e Orwell o tínhamos dentes” (p. 11). O pai de Breve ano. É cronista do “Brasil Econômico” e publica crónicas “como a escumalha humana, que terem feito – a perseguição a antigos Torosantos confessa-se assim entre http://vidabreve. no site “Vida Breve” aos domingos. Algumas destas de “O tanto melhor se defende quanto bolcheviques e as purgas de Estaline. uma interminável partida de cartas; com/ Espalhador de Passarinhos...” podem ser pescadas por lá. mais inútil é”. Quando o vento frio, A esquerda francesa não lhe no final, arruinado, aceita sob que chega da Rússia em todos os perdoou. Hostilizado e abandonado, ameaça liquidar a dívida através de [email protected] princípios de Setembro, arranca os regressou à Roménia; morreu de um crime: “Se não me entregares o cardos secos e os faz rolar pela tuberculose num sanatório de teu filho com os tomates dentro da (Ciberescritas já é um blogue http://blogs.publico.pt/ imensidão de terra seca, não faltam Bucareste. boca, e, pensando bem, até ciberescritas)

Ípsilon • Sexta-feira 20 Agosto 2010 • 35 aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente Livros

Banda-desenhada depois as primeiras construções, e Sexta razão: exército vs. civis. todas essas Gazas vão acrescentando Esses dois massacres foram densidade ao retrato do presente. cometidos pelo exército israelita. Gaza reen- Quarta razão: humor e rigor. Uma das sensações mais estranhas Sacco é um brilhante “clown”. A neste livro, para quem viu soldados DANIEL MORDZINSKI DANIEL forma como se põe dentro da israelitas actuar em conflito, é como contrada história permite ao leitor projectar- o exército do livro é irreconhecível. se nele, nos seus ridículos, nas suas É verdade que as fardas e os Havia uma parte do futuro impaciências, nas suas epifanias. Ele capacetes que os soldados de 1956 está lá para podermos usam não têm nada a ver com os de Gaza que estava oculta descomprimir, esticar as pernas na actuais, mas, para além disso, até Joe Sacco desenterrar o cama depois de um longo dia a ouvir parece haver no desenho de Sacco que aconteceu em 1956. É testemunhas, acender um cigarro, ir um apagamento voluntário de uma revelação. beber um copo, comer em frente à identidade. As caras dos homens televisão, pasmar com a alegre que abrem a cabeça dos Alexandra Lucas Coelho carnificina que é a matança do palestinianos com bastões de touro, ou rir nervosamente depois madeira são opacas, sem expressão, Footnotes in Gaza de mais um tiroteio nos passar por sem características. Podiam ser Joe Sacco cima da cabeça. Tudo, em suma, quaisquer soldados em qualquer Jonathan Cape para vermos, ouvirmos e sentirmos lugar a violentarem civis. E o efeito é o que, em última análise, importa: a o leitor concentrar-se no horror mmmmn revelação rigorosa de uma realidade. inverosímil de todos aqueles bastões Quinta razão: fazer História. Além a abrirem cabeças, sistematicamente Joe Sacco criou a de ser testemunha do presente ou confirmado por muitos sua própria passado recente (as demolições das depoimentos. Em suma, há um categoria: faz casas coladas à fronteira com o plano recuado, racional, em que o reportagem de Egipto ocupam várias páginas, mas leitor sabe quem são aqueles guerra em banda- também os “checkpoints”, a falta de soldados, mas no momento da desenhada. Em espaço, a claustrofobia, o violência eles podem ser qualquer “Footnotes in desemprego, a morte), Sacco soldado. São o horror inverosímil da Gaza”, o seu desenterra dois massacres em que guerra. trabalho mais centenas de palestinianos morreram Sétima razão: a memória. É o recente, leva essa categoria mais e faz deles narrativas vivas, através grande tema, aquele que contém longe: reportagem de guerra e de dezenas de testemunhas. Neste passado, presente e futuro. 1948 jornalismo de investigação em momento, não deve haver ninguém moldou 1956, que moldou 1967, que banda-desenhada. que saiba mais do que ele sobre o moldou 1973, que moldou as Mas, além de extravasar que se passou num certo dia de 1956 intifadas, que moldou a última categorias, há pelo menos mais sete em Khan Yunis, e noutro certo dia guerra de Gaza, e cada um destes razões, digamos sete, para em Rafah. A partir daqui, os acontecimentos, em cada morte, em considerar esta obra desmedida, e historiadores poderão trabalhar, cada luto, continua a trabalhar por por isso mesmo falar dela sem haver mas o que Sacco fez foi pôr dentro dentro, a fabricar o que o futuro vai tradução disponível em Portugal. da História dois massacres apenas ser. Havia uma parte desse futuro Primeira razão: o trabalho referidos num velho relatório da que estava oculta, porque não manual. “Footnotes in Gaza” são ONU. Sim, a História tende a ir tínhamos visto o que aconteceu em 400 páginas a preto-e-branco largando as notas de rodapé, mas 1956. Mas agora está aqui, para escritas e minuciosamente isso já não poderá acontecer com quem quiser ver. desenhadas à mão. Ou seja, estas ex-notas de rodapé. paciência, dedicação, labor, Félix Romeo ultrapassa a vulgaridade artesania, tudo o que está fora do e o lixo do realismo neste retrato post-mortem nosso tempo. Ou à frente dele. da sórdida Espanha franquista Segunda razão: a dinâmica das gostaria que fosse esse que ganha humorista que deixou de ter piada. páginas. Há páginas de a vida a fornicar em discotecas, Nunca há silêncio neste romance. quadradinhos clássicos e páginas acabarás tu com os teus enormes Quando uns se calam por exaustão, de “zoom in” progressivo. Há colhões de velho e com a tua própria a ladainha é retomada por outras panorâmicas de página inteira e de próstata na boca. Eu farei com que vozes, transformando dupla página. Há panorâmicas assim seja” (p. 34). “Discothèque” numa estereofonia rectilíneas e panorâmicas “Discothèque” acelera. A uma de tarados sexuais com mais fama convulsas. Há caras por cima de velocidade estonteante, vamos do que proveito e de mafiosos da panorâmicas, panorâmicas conhecendo as personagens, restos droga e do jogo com a textura de ruidosas, silenciosas ou mudas. Há de um país sórdido e decadente que uma folha de um álbum seboso de cacofonias, sobreposições, imagens ficou conhecido na gíria como banda desenhada a desfazer-se, de entrelaçadas, quadrados negros, “España Cani”, o mais célebre uma revista pornográfica com as claro-escuro, penumbra, luz cega. pasodoble espanhol composto páginas coladas. Cada página procura a sua própria durante o franquismo, que ainda se Félix Romeo transforma lixo em dinâmica narrativa. escuta algures neste deserto poesia. Eleva-se da vulgaridade do Terceira razão: a reconstituição de aragonês, versão contemporânea realismo quando escolhe um lugar. A Faixa de Gaza pode ter de um Faroeste espanhol. concentrar a acção numa mítica sido vista em milhares de fotografias Para além do filho de Torosantos noite de Reis, quando as ou na televisão, mas nunca foi vista e de Dalila Love, a sua parceira em perseguições de automóvel acabam assim. Quem conhece a Gaza dos “shows” de sexo ao vivo, o catálogo com fumos de Shakespeare, de anos 2000, saberá como este retrato A forma como Joe Sacco se põe dentro não exaustivo de figurantes inclui Hamlet, num cara-a-cara, olhos nos das ruas, das casas, das pessoas, do da história permite ao leitor projectar-se uma escritora de romances cor-de- olhos filial em que a morte só chega horizonte é exacto nos pormenores nas suas impaciências, nas suas epifanias rosa transformada em estrela de porque o guião assim o exige e e atmosférico em geral. Mas o que cinema porno, uma gerente de porque corvos, lagartos, ratos, Sacco faz é uma reconstituição de pensão mais do que duvidosa que hienas, abutres e chacais já se Gaza ao longo de todo o conflito, os poderia ter sido menina-prodígio assomam. refugiados de 1948 ainda sem no cinema, um místico falhado, um Podia ser cinema. tendas, depois ainda sem casas,

36 • Sexta-feira 20 Agosto 2010 • Ípsilon aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

“23+1”, de Cláudia Dias está amanhã no Jardim da Estrela, em Lisboa, e domingo no Centro Cultural e Ílhavo

de paisagens tanto públicas como Corpos (re) privadas (...) [e] desafiam os Agenda espectadores a questionar as suas relações com o espaço exterior, bem Teatro inscritos na como a reconsiderar a forma como interagem com outras pessoas”, Continuam paisagem escreveu Elliot Mercer na génese do seu projecto. Cão Que Morre Não Ladra A “Charanga” dos Circolando Já estiveram em Sines, na Encenação de John Mowat. Pelo vai à Serra de Montemuro A experiência Judson Dance Zambujeira do Mar, em Évora, em Chapitô. Com Jorge Cruz, Marta dos anos 60 e 70 recriada no Viana do Alentejo. Em cada lugar, as Cerqueira, Tiago Viegas. Campo Benfeito. Espaço Montemuro - Teatro Lapa Fundão. Raquel Ribeiro peças são diferentes porque o corpo Regional da Serra de Montemuro. R. Moutinha.ha Dia Lopes,Lopes Rui Pedro CardosoCardoso. se adapta ao espaço. A paisagem 21/08. Sáb. às 21h30. Tel.: 254689352. Azóia. Espaço das Aguncheiras. Rua das “obriga os corpos a mudar”, diz Festival Altitudes. Aguncheiras. Até 22/08. 6ª, Sáb. e Dom. às 17h30. Homenagem à Judson Dance Tel.: 212682430. De Elliot Mercer. Com Márcio Pereira. A ideia é que o público Charanga Pereira e amigos. também participe, esteja dentro da Encenação de André Braga, Cláudia Dança peça, seja mais um: em Sines, o Figueiredo. Pela Circolando. Com Fundão. Praia Fluvial de Lavacolhos. De 20/08 a colectivo reinterpretava uma 22/08. 6ª a Dom. às 21h30. Tel.: 266704236. André Braga, João Vladimiro, Patrick Continuam Entrada gratuita. coreografia de Trisha Brown, e, Murys, Pedro Amaro, entre outros. conta Pereira, “um participante Campo Benfeito. Espaço Montemuro - Teatro 23+1 Escrita na Paisagem 2010. Regional da Serra de Montemuro. R. Moutinha. Dia entrou no jogo e imitou os 22/08. Dom. às 21h30. Tel.: 254689352. De Cláudia Dias. Com Cláudia Dias, O “palco” é a Praia Fluvial de movimentos no chão. Nessa altura, Festival Altitudes. Rita Natálio e convidados. Lavacolhos, no Fundão. A “peça” ele tornou-se apenas mais um.” Lisboa. Jardim da Estrela. 22/08. Sáb. às 19h. Vincent, Van e Gogh Entrada gratuita. são várias intervenções ao longo dos Escrever o corpo na Zambujeira não Pelo Peripécia Teatro. Encenação de Lisboa na Rua 2010. Solos com dias (sem hora marcada) conduzidas é igual a escrevê-lo na paisagem José Carlos Garcia. Com Ángel Convicção. por Márcio Pereira e os seus urbana de Évora. Os corpos (in) Fragua, Noelia Dominguez, Sérgio “amigos” (Mafalda Marafusta, Sofia screvem-se consoante o espaço e Solos com Convicção Agostinho. De e com Cláudia Dias, Filipa Pereira, Sofia Ramos, Telmo Branco adaptam-se a ele. Estas criações Setúbal. Escola Sebastião da Gama. Rua da Escola Francisco, Joana von Mayer e Vanda Rodrigues) e todos os que se “focam, num movimento de Técnica. Dia 25/08. 4ª às 22h. Festa do Teatro 2010. Trindade, Sofia Fitas, Susana Gaspar. lhe quiserem juntar – nós. Porque é intervenção que pretende enfatizar, Ílhavo. Centro Cultural de Ílhavo. Avenida 25 de para nós (público) que se realiza esta interromper, perturbar e questionar, Fábula Buff a Abril. Dia 25/08. 4ª às 22h. Tel.: 234397260. “Homenagem à Judson Dance” no a estagnação e a sedimentação de A partir de Dario Fo. Pelo Teatro Entrada gratuita. Festival Escrita na Paisagem que, até noções de local, espaço e Picaro. Encenação de Carlo Boso. VOID 30 de Setembro, percorre a partir de coreografia social”, Com Ciro Cesarano, Fabio Gorgolini. Fundão. Espaço Gardunha Viva. Fundão. Dia Évora diversos concelhos escreveu Elliot 21/08. Sáb. às 22h. alentejanos. Mercer. Em TeatroAgosto 2010. O bailarino e coreógrafo norte- Nova Iorque americamo Elliot Mercer veio a é provável Cozinheiros, versão Commedia dell’Arte Évora trabalhar com Márcio Pereira que já Encenação de Ricardo Brito. (e com o colectivo Oficina em ninguém Pelo Este - Estação Teatral. Movimento), em regime de dê por Com Pedro Diogo, Tiago residência artística, o seu projecto eles, mas “Fábula Buff fa” Poiares, Miguel Lança, Sara de mestrado que recriava obras de aqui eles no Fundão Gabriel. coreógrafos e performers da era da ainda se Fundão. Espaço Gardunha Viva. Fundão. Judson Dance, colectivo de fazem notar. Dia 22/08. Dom. às 22h. TeatroAgosto 2010. bailarinos que nasceu no princípio “Pode parecer dos anos 60, em Nova Iorque, e que estranho num O Sossego que ali Havia De Clara Andermatt. Com Avelino Assemelhava-se ao da Chantre, Sócrates Napoleão. desenhou os primeiros movimentos primeiro momento, mas as pessoas Lisboa. Centro Cultural de Belém. Praça do pós-modernos e experimentais na começam a dar pela nossa presença Eternidade Império. De 20/08 a 21/08. 6ª e Sáb. às 22h. Tel.: dança contemporânea. Neste e sentem curiosidade”, diz Márcio De Jaime Salazar Sampaio. 213612400. Entrada gratuita. Encenação de São José Lapa, Inês projecto, Mercer reinventa peças Pereira. CCB Fora de Si 2010. dos anos 60 e 70 de criadores como Laura Dean, Allan Kaprow, Simone Forti, Trisha Brown, Anna Halprin, Yoko Ono, e Lucinda Childs, entre outros. Márcio Pereira, 24 anos, performer, disse ao Ípsilon que participar nesta homenagem à Judson Dance é um privilégio: “Para mim e para este grupo é fantástico estarmos a trabalhar com estes materiais significativos da história da dança que nos fazem pensar em tudo o que fazemos hoje e no modo como o fazemos.” Por isso, Pereira sublinha que aquilo que vamos ver no Fundão não é bem uma recriação destas peças, “porque é

Teatro/Dança impossível recriar ou refazer”, mas sim uma (re)invenção das mesmas: “Estamos a reinventar com o corpo de hoje, a sociedade de hoje, no contexto de hoje, estas peças feitas há 40 anos.” Inicialmente apresentadas em espaços exteriores, estas criações “Homenagem à Judson Dance” reinventa peças de criadores como Trisha Brown, Anna Halprin “exploram concepções alternativas e Yoko Ono, entre outros renovadores das artes performativas americanas dos anos 60 e 70

Ípsilon • Sexta-feira 20 Agosto 2010 • 37 aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

Pop Afinal, reúne esta noite Princezito coreógrafa Tânia Carvalho. raro vê-lo em palco), de Fausto. (representante de uma música cabo- Domingo, a tarde começará com Por Cem Soldos passam ainda as verdeana que navega Atlântico fora fanfarra balcânica dos tomarenses artes plásticas, com exposições de até às Cuba), Dead Combo, Diabo a Drama e Beiço e depois será Nuno Coelho e Nuno Mourão Sete e Melech Mechaya. Apresenta definitivamente tradicional, patentes no “Armazém” – Centro de Há festa na amanhã um cartaz riquíssimo, com animada pelas Adufeiras de Exposições de Cem Soldos, e o Lula Pena, Norberto Lobo, B Monsanto e pelos Cantares cinema, com duas sessões do festival aldeia Fachada e Diabo Na Cruz, com as Alentejanos de Serpa. A noite trará itinerante “Curtas em Flagrante” músicas do mundo dos Terrakota e as magníficas concertinas dos (hoje e Domingo, às 19h), Dazkarieh e o espectáculo Danças Ocultas e um concerto, organizadas pela Associação Um dos mais peculiares “Madmud”, da bailarina e sempre imperdível (até de ser tão Cultural Elemento Indesejado. festivais do Verão português começa hoje na aldeia de Cem Soldos, em Tomar. Onde? É esse o espírito. Mário Lopes NFACTOS/FERNANDO VELUDO NFACTOS/FERNANDO Festival Bons Sons 2010 Cem Soldos. Hoje, às 21h; amanhã, às 17h; Dom. às 11h. Tel.: 249345232, 249322601. 6€ (dia) a 10€ (passe).

Hoje Princezito + Diabo a Sete + Melech Mechaya + Dead Combo + Nuno Coelho.

Amanhã Lula Pena + Noberto Lobo + B Fachada + Diabo na Cruz + Dazkarieh + Terrakota + MissBoopsieCola

Domingo Fausto + Canto Firme + Adufeiras de Monsanto + Cantares Alentejanos de Serpa + Danças Ocultas + Black Bambi

O Bons Sons tem a habitual zona de campismo para os visitantes, os palcos montados para receber música e até uma feira de marroquinaria, como se costumam

Concertos ver nos festivais de músicas do mundo, mas é um festival peculiar. Antes de mais, por se realizar numa aldeia, Cem Soldos, Tomar, e por ser bienal - mas isso, como se perceberá, é mero pormenor. Em 2006, foi organizado pela primeira vez para celebrar os 25 anos do Sport Clube Operário de Cem Soldos e concentrou-se num cartaz constituído exclusivamente por música portuguesa. Quatro anos e duas edições depois, mantém-se essa matriz, alargada a países lusófonos (o país convidado em 2010 é Cabo Verde), mas o festival que começa hoje e se prolonga até domingo cresceu. Assumido pelos organizadores como um hino à comunidade (a população é envolvida em todos os aspectos da produção e montagem) e como forma de desmontar o habitual provincianismo citadino perante a ruralidade, que se vê reduzida, vista de longe, a um pitoresco anacrónico, o Bons Sons levou a Cem Soldos, em 2008, 35 mil pessoas. Este ano, a julgar unicamente pelo cartaz, onde se destaca a presença de Fausto, domingo, e um equilíbrio entre tradição e novas expressões, esse Fausto encerra a última noite do Festival Bons Sons: um concerto número poderá ser superado. imperdível, quanto mais não seja por ser tão raro vê-lo em palco

38 • Sexta-feira 20 Agosto 2010 • Ípsilon Os Nouvelle Vague no Festival do Crato

Black Bombaim no Brenha Arder 2010, Figueira da Foz Jazz Agenda

Ana Moura Sexta 20 Aldeamento Vale de Lobo. Vale do Lobo Segunda 23 À tarde, no Auditorium, às 22h. Tel.: 289353322. 10€ a 20€. GNR GNR Gafanha da Nazaré. Jardim do Oudinot, às 22h. Allgarve’10. Lagoa. Parque Municipal de Feiras e Exposições), Tel.: 234329600. Entrada gratuita. jardim David Fonseca às 22h30. Tel.: 282353453. 5€. Trancoso. Pavilhão Multiusos. Av. 1º de Dezembro, Alfa Arroba às 22h30. Tel.: 271812138. 3€. Carminho Oportunidade única para Com José Oliveira (concertina), Penafiel. Parque de Exposições. Rua D. António Gonçalo Lopes (clarinete), Marco Rui Veloso Ferreira Gomes, às 22h. Tel.: 255213611. 2,5€. ouvir a extraordinária Mário Santos, um dos melhores Alves (percussão). Viseu. Expovis - Feira de São Mateus. Campo de Rita Redshoes + You Can’t Win, Orquestra Jazz de saxofonistas nacionais Lisboa. Centro Cultural de Belém – Jardim das Viriato, às 22h. Tel.: 232422018. 2,5€. Oliveiras. Praça do Império, às 18h30. Tel.: Charlie Brown Matosinhos num jardim 213612400. Entrada gratuita. Per7ume Cascais. Baía de Cascais, às 20h. Tel.: 214825000. CCB Fora de Si 2010. Freixo de Espada à Cinta. Recinto das Festas de N. Entrada gratuita. com vista privilegiada sobre Sopro do Sra. dos Montes Ermos, às 23h30. Tel.: 279658160. Carminho + Grupo de Fados Do Tito Paris Lisboa. Rodrigo Amado Luís Represas Vale de Milhaços. Quinta da Marialva. Corroios, às Choupal até à Lapa norte Vila Nova de Cerveira. Auditório Municipal. Praça 22h. Tel.: 212535814. Entrada gratuita. Viseu. Expovis - Feira de São Mateus. Campo de do Município, às 22h. Tel.: 251708020.7€. Viriato, às 22h. Tel.: 232422018. 2,5€. Santos e Pecadores Orquestra de Jazz de Matosinhos Cerveira ao Piano. Quarteto Mário Santos Bisonte + Indignu + Asneira + Santa Maria da Feira. Recinto das Festas de N. Sra. Grande Gala Final da Piedade., às 23h30. Tel.: 227650772. Entrada Direcção Musical de Pedro Guedes. Linda Martini + DJ Set gratuita. Com Mário Santos (saxofone), José Barco. Praia Fluvial de Barco. Guimarães, às 22h. Direcção Musical de Jose Miguel Lisboa. Jardim e Miradouro de São Pedro de Miguel Moreira (guitarra), António Tel.: 936412637 e 916687449. 10€. Pérez Sierra. Com Elisabete Matos e Alcântara. R. São Pedro de Alcântara. 5ª, 26, às 19h. Augusto Aguiar (contrabaixo), José Barco Rock Fest’10. Coro da Orquestra do Norte. Terça 24 Tel.: 218820090.Entrada gratuita. Pedro Marrucho (bateria). Óbidos. Lagoa de Óbidos, às 22h. 35€. Lisboa na Rua. Maria Del Mar VI Festival de Ópera de Óbidos 2010. David Fonseca Lagoa. Parque Municipal de Feiras e Exposições, Porto. Palácio de Cristal - Jardins. R. D. Manuel II. Barcarena. Fábrica da Pólvora. Estrada das às 22h30. Tel.: 282353453. 5€. Integrado na excelente iniciativa Amanhã, às 22h. Tel.: 226057080. Entrada Fontainhas, às 22h. Tel.: 214387460. Entrada Maria Del Mar gratuita. gratuita.Porto Blue Jazz’10. São Pedro do Corval. Reguengos de Monsaraz, às O’queStrada “Lisboa na Rua – Com’Out Lisbon”, Festival Sete Sóis Sete Luas 2010. 21h30. Tel.: 266508040. Entrada gratuita. da responsabilidade da EGEAC / Há já algum tempo que o mês de Vale de Milhaços. Quinta da Marialva. Corroios, às Festival Sete Sóis Sete Luas 2010. 22h. Tel.: 212535814. Entrada gratuita. Câmara Municipal de Lisboa e Agosto no Porto é marcado pelo Ricardo Ribeiro Estoril. FIARTIL - Feira de Artesanato do Estoril. Pç. Frei Fado d’El Rei João Só e Abandonados realizada em parceria com o Hot Porto Blue Jazz, ciclo que encerra a Estoril. FIARTIL - Feira de Artesanato do Estoril. José Teodoro dos Santos, às 21h30. Tel.: 214661743.,5€. Tavira. Praça da República, às 22h. Tel.: Pç. José Teodoro dos Santos, às 21h30. Tel.: Clube de Portugal, esta é uma rara programação deste ano com o 281320500. Entrada gratuita. oportunidade para testemunhar o projecto Bloco A4 de Mário Santos, The Un-X-Pected + Estado de 214661743. 2,5€. impacto da mais extraordinária “big saxofonista que se tem destacado no Sítio + Vai-te Foder + Crepúsculo FIARTIL - Feira de Artesanato do Estoril. Quarta 25 band” de jazz do nosso país. Num meio musical nortenho participando Maldito + Carlos Crüst Brenha. Figueira da Foz, às 21h. Tel.: 233919110.5€ jardim, ao fim da tarde, com em inúmeros projectos de relevo (dia) a 10€ (passe). Orquestra de Câmara de Lisboa Amália Hoje + Quarteto em Mim entrada livre. Melhor é difícil. A como o grupo de rock Clã ou a Brenha Arder 2010 - 8.º Festival de Direcção Musical de António Costa. + Alexandra Martins + Orquestra de Jazz de Matosinhos, Orquestra Jazz de Matosinhos. Mas Rott N’Roll. Com Carlos Guilherme (tenor). Filarmónica do Crato Crato. Recinto da Feira. Rossio da Vila, às 21h. Tel.: que tem vindo a conquistar foi com os seus próprios grupos que Arouca. Praia Fluvial da Paradinha, às 21h30. Xutos & Pontapés Tel.: 256940220. Entrada gratuita. 245990110. 5€ (dia) a 18€ (passe). considerável reputação a nível Santos se tornou um dos nomes a Trancoso. Pavilhão Multiusos. Av. 1º de Dezembro, Sons da Água. Festival do Crato 2010. internacional, apresenta na quinta- seguir, quando se fala em às 22h30. Tel.: 271812138. 3€. Per7ume + Soul D feira, dia 26, o programa “Do saxofonistas nacionais. Em grupos Terrakota + Freddy Locks + Domingo 22 Cascais. Baía de Cascais, às 20h. Tel.: 214825000. Ballroom à sala de concerto”, com como o seu quinteto Bloco de Notas Entrada gratuita. Bandoo Roots comentários de Manuel Jorge ou, mais particularmente, com Os Jamie Cullum Quarteira. Calçadão de Quarteira, às 16h. Tel.: Balaia. Balaia Golf Village. Sítio da Balaia - O Lello Perdido Veloso e um repertório dedicado à Rapazes do Jazz, quinteto que 289400600. 10€. Apartado 917, às 22h30. Tel.: 289570200. 30€. Lisboa. Clube Ferroviário. R. de Sata Apolónia, 59, história das “big bands” em que são integra ainda Mário Delgado, Paulo IV Festival Surfóreggae. Allgarve’10. às 21h. Tel.: 218153196. interpretadas obras de Duke Pinto, Nelson Cascais e Bruno Blind Zero Ellington, Count Basie, Benny Pedroso, Santos desenvolveu um Melech Mechaya Quinta 26 Monção. Praça Deu-la-Deu, às 22h. Lisboa. Centro Cultural de Belém – Praça do Goodman ou Gil Evans, entre pós-bop poderoso, tornando-se um Tel.: 251649000. Entrada gratuita. Museu. Praça do Império, às 22h. Tel.: 213612400. Hugo Antunes Entrada gratuita. outros. Uma iniciativa dos saxofonistas nacionais que mais Lisboa. Centro Cultural de Belém – Cafetaria invulgarmente inspirada, que ainda fugiu aos “clichés” do género. Sábado 21 CCB Fora de Si 2010. Quadrante. Praça do Império, às 22h. Tel.: 213612400. Entrada gratuita. nos dará a ouvir a Big Band do Hot Amanhã, pelas 22h, apresenta-se em Mafalda Veiga Mariza Jazz às 5ªs/CCB Fora de Si. Clube de Portugal (2 de Setembro, concerto com o guitarrista José Lagos. Auditório Municipal de Lagos. Parque das Lagoa. Parque Municipal de Feiras e Exposições, às Largo de São Carlos) e a Big Band da Miguel Moreira, o contrabaixista Freiras, às 22h. Tel.: 282780060. 20€. 22h30. Tel.: 282353453. 5€. Quinteto Sara Valente + Nazaré (9 de Setembro, Jardim do António Augusto Aguiar e o baterista Les Baton Rouge + Legion of the Ana Moura Flajazzados Torel). José Pedro Marrucho. Sadists + Black Bombaim + V8 Gafanha da Nazaré. Jardim do Oudinot, às 21h30. Sines. Centro de Artes de Sines. R. Cândido dos Tel.: 234329600. Entrada gratuita. Reis, às 22h. Tel.: 269860080. Entrada gratuita Bombs + The Amazing Flying (mediante reserva). Pony + Cães Danados + Triba + David Fonseca Sines em Jazz 2010. Zündapp Speedkings + The Viseu. Expovis - Feira de São Mateus. Campo de Vietcongs Viriato, às 22h. Tel.: 232422018. 2,5€. Deolinda Brenha. Figueira da Foz, às 15h. Tel.: 233919110. 7€ Estoril. Casino Estoril – D. Lounge. Pç. José (dia) a 10€ (passe). Virgem Suta Teodoro dos Santos, às 23h. Tel.: 214667700. Brenha Arder 2010 - 8.º Festival de Campo Benfeito. Espaço Montemuro - Teatro Entrada gratuita. Regional da Serra de Montemuro. R. Moutinha, às Rott N’Roll. 23h00. Tel.: 254689352. 5€. Nouvelle Vague + O’queStrada + Anaquim Festival Altitudes 2010. Six Irish Men Crato. Recinto da Feira. Rossio da Vila, às 21h30. Vila Real. Teatro de Vila Real – Auditório Exterior. Tel.: 245990110.8€ (dia) a 18€ (passe). Alameda de Grasse, às 22h30. Tel.: 259320000. UHF Cascais. Baía de Cascais, às 20h. Tel.: 214825000. Entrada gratuita. Festival do Crato 2010. Entrada gratuita. Concertos de Verão - 7.º Festival de Camané Músicas do Mundo. Philip Hamilton Mogadouro. Recinto das Festas de N. Sra. do Lisboa. Onda Jazz. Arco de Jesus, 7 - ao Campo das Caminho, às 22h. Tel.: 279340100. Entrada Pr0m0 + Plus Ultra + Paus + Mão Cebolas, às 22h30. Tel.: 919184867. 6€. gratuita. Morta Barco. Praia Fluvial de Barco. Guimarães, às 22h. Roda de Choro de Lisboa Buraka Som Sistema Tel.: 936412637 e 916687449.10€. Lisboa. Clube Ferroviário. R. de Sata Apolónia, 59,. Grândola. Parque de Feiras e Exposições, às 22h. Barco Rock Fest’10. às 21h. Tel.: 218153196. Tel.: 269750260. Entrada gratuita. GNR + Joana Andrade Carminho The Gift Cascais. Baía de Cascais, às 20h. Tel.: 214825000. Vale de Milhaços. Quinta da Marialva. Corroios, às Vale de Milhaços. Quinta da Marialva. Corroios, às 22h00. Tel.: 212535814. Entrada gratuita. A mais extraordinária “big band” Entrada gratuita. 22h. Tel.: 212535814. Entrada gratuita. do país num concerto ao ar livre

Ípsilon • Sexta-feira 20 Agosto 2010 • 39 aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

Pop Afrobeat para a América de hoje

Longe da Nigéria e da década de 70 do afrobeat de Fela Kuti, os Antibalas reconstroem o género a partir de Brooklyn, e em pleno século XXI. Mário Lopes Discos

Antibalas Who Is This America? Ropeadope mmmmn

O afrobeat, tal como definido por Fela Kuti, foi uma verdadeira revolução musical. Ofereceu ao mundo uma linguagem absolutamente nova, que os que vieram depois aproveitaram para novas combinações e novas invenções. Os seus padrões rítmicos serviram de base a muita música africana daquele mesmo tempo (a década de 70) e a música dita electrónica criada várias décadas depois. O que os Antibalas fazem, contudo, não é tanto construir sobre uma linguagem. São o afrobeat, tal como o conhecemos, mas interpretado por novos músicos, num outro tempo: uma banda em Brooklyn, na primeira década do século XXI, a comprovar a força interventiva de um som e a sua absoluta modernidade, 40 anos depois. “Who Is This America?”, originalmente editado em 2004 e agora reeditado, será o disco dos Antibalas em que tal se prova de forma mais evidente. Álbum de protesto (foi editado pouco antes da reeleição de George W. Bush), “Who Is This America?” alimenta-se de música contagiante, hipnótica, irresistível; música que, assinale-se, não está aqui para servir de pano de fundo ao protesto (de resto, algumas das canções, como “Pay back Africa”, não são sequer cantadas). No limite, é como se os polirritmos, os demoníacos solos de sax ou os órgãos eléctricos fervilhantes fossem eles mesmos, por si só, acção que dispensa o discurso: cativando-nos, envolvendo-nos, “convencendo- nos” ao longo dos 14 minutos ou dos 19 minutos que duram algumas das Em “Who Is This America?”, o afrobeat sete canções. é música moderna: não é vintage, é agora

40 • Sexta-feira 20 Agosto 2010 • Ípsilon Na aventura de fazer “um disco pop”, Richard Youngs sai-se com um dos seus melhores álbuns até ao momento

Ainda assim, a voz existe, e a voz até serem outra coisa, hipnótica, há pela sua banda, Cheikh Lô surgiu de “Who is this America dem speak tudo isto e mais nos seus sublimes como uma estrela africana em of today?”, por exemplo, é um álbuns), mas nunca tinha feito pop. construção, numa versão mais suave comentário acutilante ao país criado Na aventura, saiu-se com um dos do mesmo figurino mbalax do seu por imigrantes que hoje se atarefa a seus melhores discos, que a padrinho. Seguiram-se dois álbuns barrar-lhes entrada. A música é Jagjaguwar disponibiliza agora, em bem mais ecléticos, mas que se imediata e de uma elegância quase reedição, a um público mais cifraram muito aquém das feroz. Um “melting-pot” onde solos alargado. expectativas criadas na estreia. Aí Lô de jazz sabem a “highlife” nigeriano, São canções curtas - nenhuma retirou-se de cena, ou pelo menos onde as percussões têm toque afro- ultrapassa os quatro minutos -, das edições, e levou cinco anos a cubano e onde a guitarra se buriladas a partir de ritmos incubar “Jamm” (quer dizer “Paz”). concentra no ritmo de forma repetitivos, sobre os quais plana a O eclectismo dos discos incessante (a apropriação do legado voz de Youngs, austera, como precedentes é agora ainda mais de James Brown). As palavras, sempre, mas com uma doçura que acentuado, uma opção estilística excepção ao dedo acusador não lhe conhecíamos. Voltando a ser que se prende com a fé do artista apontado a Dick Cheney, o elemento central na música de – discípulo de uma seita islâmica que Condoleezza Rice ou Bush filho Youngs, surge nestas canções preconiza a harmonia na variedade (“Indictment!”, ouvimos gritar), são multiplicada, ora com resultados -, também patente no seu visual de mais inteligentes do que o gasto harmoniosos (pop), ora abstractos tranças pelo joelho e roupas em erguer de voz contra o “sistema” (anti-pop). “Beyond the Valley of “patchwork”. Desta vez, porém, as (conferir “Big man”, um cruel Ultrahits” vive dessa tensão entre a composições têm outro sentido de retrato da opressão inerente ao canção e detalhes que a parecem propósito, acabando por contar a capitalismo, oferecido em forma de minar, inserindo Youngs numa vida do seu autor através dos estilos parábola). linhagem que vai de Robert Wyatt a musicais que o fascinaram desde a Num certo sentido, “Who Is This David Bowie. mais tenra idade. Vai da rumba America?”, reeditado, ainda sem “Summer void” faz-se de uma congolesa ao funk, do son distribuição portuguesa, com guitarra acústica harmoniosa, mas Em “Jammm”, Cheikh Lô percorre meio afrocubano ao reggae, do afrobeat canção extra (“Money talks” no CD; parece uma canção fantasma - culpa século de música africana, num vai-e-vem ao flamenco, umas vezes em versões “Paz”, na versão digital), é “apenas” do ligeiro desfasamento entre as constante entre passado e presente mais puristas, outras vezes em um belíssimo álbum de afrobeat duas camadas de vozes. “A storm of vintage. Porém, classificá-lo como tal light ignites my heart” é uma é falhar o essencial. Em “Who Is This espantosa canção construída em America?”, o afrobeat é música cima de uma bateria libertária, moderna, vibrando nos dias de hoje. electrónica em farrapos e uma Não é vintage, é agora. E é guitarra num solo contínuo - a voz importante. impõe a ordem pop sobre o caos. mé Richard Youngs quis fazer um a Salo it disco pop. Saiu-se com um conjunto an , J is oz de canções que, como no passado, Pa v ras Surpreen- pa bo r a Lo ta chegam à beleza por vias travessas. li h xo gui Fi in bai ra it e ei e R oz iv s v ’Ol e dentemente mi d sõ ria as Ya el cus cl er te e te Manu m p es ba o ui qu an Baile místico aq ar o pi Jo M os pop rio ap Má e R ip Depois da promessa e das Fil O “disco pop” de Richard meias desilusões, Cheikh Lô Youngs é um conjunto de lança um disco em estado de canções que chegam à graça. Luís Maio beleza pelo caminho menos óbvio. Pedro Rios Uma viag Cheikh Lô em aos s às ons e cores m Jammm atricia dife is de Richard Youngs World Circuit; distri. Megamúsica rentes c ulturas que pro , é o Beyond the Valley of Ultrahits põe esta ho origina mmmmn menagem l Jagjaguwar; distri. Flur ao céle Duo bre Ouro Neg ro. Algu O “crooning” vozes f mas mmmmn undamen m tais da elegante em úsica lu sófona j Richard Youngs francês, as -se untam- neste pr ojecto c não é um músico guitarras surf por Man riado uel d’Ol D iveira normal. Como se repenicadas, os avid Ben e asulin, nov dando explicaria então ritmos para os conto rnos às que, tendo nas dançar agarrado, típicos de baile criaçõ es de Ra e úl Indip mãos o seu disco “highlife”: “Il n’est jamais trop tard”, Milo Ma wo cMahon. mais acessível e nova versão da canção dos lendários capaz de chegar a um público maior, Bembeya Jazz, é um prodígio, do Jantar + Conce rto | € 3 tenha escolhido lançá-lo numa género a que se aplica o certificado www.casadamusica.com | www.casadamusica.tv T 220 120 0 edição de cem CD gravados de clássico pop. É o título mais artesanalmente? Foi isso que o imediato, mas não certamente o britânico fez em 2009, desafiado por único ponto alto de “Jamm”, álbum MECENAS CASA DA MÚSICA APOIO INSTITUCIONAL MECENAS PRINCIPAL CASA DA MÚSICA um amigo, dono de uma pequena que representa um salto qualitativo editora, a fazer “um disco pop”. na carreira de Cheikh Lô. O desafio era grande. Youngs é Artista senegalês nascido em 1955, versado em múltiplos idiomas da no Burkina Faso, estreou-se em música mais desafiante (longas nome próprio apenas em 1996 com SEJA UM DOS PRIMEIROS A APRESENTAR HOJE ESTE JORNAL COMPLETO NA CASA DA MÚSICA E GANHE UM CONVITE peças minimalistas, ataques furiosos “Ne La Thiass”. Produzido por DUPLO PARA ESTE CONCERTO. OFERTA LIMITADA AOS PRIMEIROS 10 LEITORES. de ruído, estruturas folk repetidas Youssou N’Dour e acompanhado

Ípsilon • Sexta-feira 20 Agosto 2010 • 41 Discos

Um pequeno grande disco entre cinco amigos: Dave Liebman, John Abercrombie, Marc Copland, Drew Gress e Billy Hart

Ao terceiro disco, os Coral fi zeram a coisa como mandam as regras: cada canção tem verso, ponte e refrão versões mais híbridas,as, num musical,musical, vinvindodo numnum caleidoscópiocal igualmente de encontros e Paolo Fresu constante vai-e-vemm entre ppassadoassado e ddepoisepois a fazer carreira nas oondende ccabiamab tranquilos, entre amigos ou constituem dois presente, ao longo dediél meio século orquestras que floresceramfl no evocaçõesõ de “sea instrumentistas cuja familiaridade dos mais de música africana. período pós-colonial e se shanties” (canções de marinheiros) faz com que a música possua uma interessantes e Seria uma manta de retalhos, não encarregaram de renovar o resgatadas ao porto de Liverpool e, qualidade rara de intimismo e discretos fosse a voz doce e granulada, mas património musical mandinga. Syla, na produção, sugestões do dub empatia. O tipo de comunicação músicos a tocar sobretudo plena de espiritualismo, o super produtor da música afro- inventado na Jamaica. musical fluída que nos envolve numa de Cheikh Lô. Um misto de ocidental, abriu-lhe a porta da Como acontece normalmente, provocando uma aparente encruzilhada de estilos que inclui o confiança, generosidade e força carreira a solo e da depois daquela entrada em cena suspensão do tempo. É assim jazz, a música erudita de câmara e moral, algo de muito semelhante a internacionalização, mas Kasse Mady inesperada, de uma loucura criativa neste “Five on One”, disco lunar a música romântica, de carácter essa virtude antes tão enaltecida e nunca teve o estofo das vedetas, nem com tudo para correr mal (mas que resultante do encontro de cinco popular. Evocam ambos a memória hoje tão rara da nobreza de alma. Há fez grandes esforços de aproximação correu extraordinariamente bem até amigos e cúmplices de longa data, do tempo e as emoções humanas, temas mais nostálgicos e temas mais ao gosto ocidental. Poderá ser “Magic & Medicine”, o segundo cinco gigantes do jazz actual: Dave construindo narrativas intemporais híbridos, baladas ternurentas e considerado um Salif Keita mais álbum), os Coral foram serenando. Liebman nos saxofones tenor e feitas de lirismo e expressão canções para dançar a dois, pontos purista e de personalidade mais “Butterfly House”, oito anos e soprano, John Abercrombie na dramática. Neste registo, o mais altos e baixos, mas essa luz interior discreta, evidenciando-se menos por quatro álbuns depois, bebe das guitarra, Marc Copland no piano, recente numa série de duos nunca deixa de irradiar e de conta própria do que noutras mesmas fontes, mas é uma Drew Gress no contrabaixo e Billy clássicos que Towner gravou com encantar em “Jamm”. conexões, como a participação na experiência completamente Hart na bateria. Juntos constroem grandes nomes do jazz como Gary Symmetric Orchestra, a “big band” diferente: cada canção é uma canção um disco onde a habitual Burton, John Abercrombie ou Gary de Toumani Diabaté. como mandam as regras, com verso, adrenalina dos encontros de Peacock, a música encontra-se, Afroclássico É a mesmo integridade que pauta ponte e refrão. Dado o talento e o grande rendimento é substituída como é habitual em Towner, “Manden Djeli Kan”, onde o bom gosto dos Coral – apenas por uma comunicação quase perigosamente próxima do musak Kasse Mady Diabate primeiro desafio de Kasse Mady maculado pela inenarrável guitarra telepática, para uma música ou do ambient-jazz, sem que no consistiu em reunir uma espécie de acústica, plástica, foleiríssima, que subtilmente lírica em que o tempo entanto essa fronteira chegue a ser Manden Djeki Kan Universal; distri. Massala selecção dos melhores acompanha o tema título -, não é corre sem pressas. ultrapassada. Pelo contrário, sob instrumentistas do Mali, super- necessariamente uma má notícia. Interpretando oito originais da sua uma superfície aparentemente mmmmn banda na maior parte constituída Há mellotrons e guitarras própria autoria e ainda uma versão banal, extremamente acessível, por músicos que usualmente “invertidas” em “Walking in winter”, do belíssimo “You and the night esconde-se uma intricada teia de Conta-se que acompanham Salif Keita e Toumani uma óptima canção folk-rock com and the music”, que encerra o pequenos detalhes, musicais e quando Kasse Diabaté. Daí um disco em que a Tim Hardin no horizonte, há calor disco com particular eloquência, emocionais, que fazem de Mady gravou o herança mandinga é recriada com californiano e óptimas harmonias este grupo de veteranos – Gress é o “Chiaroscuro” um interessante seu segundo uma classe e uma segurança vocais, tudo sol e bucolismo, em mais novo, todos os outros estudo da lírica subtil no jazz. álbum, no início excepcionais, em que toda uma “Two faces”. Ouve-se psicadelismo nasceram na década de 40 – Towner, aqui a tocar três tipos de dos anos 90, o cultura plurisecular eloquentemente que arrisca o tom sinistro dos Seeds recorre a um valioso património de guitarra – clássica, 12 cordas e produtor se revê. É o grande trunfo, mas ou que se prolonga em “jams” como experiências partilhadas no barítono - tem vindo a melhorar Ibrahima Sylla fez questão de que também a eventual limitação de um os Stone Roses da fase tardia. Acima passado e desenvolve elegantes com a idade e quase parecem ter incluísse no alinhamento o tema cantor que prefere estar bem de tudo, ouvem-se uns Coral que improvisações temáticas que desaparecido os ecos new-age que “Kulandjan”, um dos clássicos mais acompanhado a brilhar por conta trocaram a hiperactividade pela prolongam de forma natural os ensombravam a sua obra. Por emblemáticos do reportório própria, que opta por conservar a serenidade, que se dedicam agora a arranjos dos temas, na mais outro lado, Paolo Fresu, que dobra mandinga. Kasse condescendeu, tradição em vez de lhe mostrar ser criadores de canções com clássica tradição jazzística. aqui no trompete e no flugelhorn, mas acrescentando que para esse novos caminhos. “Manden Djeli referências bem expostas. Liebman e Abercrombie assumem revela-se a escolha acertada para efeito deveria primeiro pedir Kan” é um clássico mandinga, nem Mestria assinalável: “Butterfly o papel de solistas principais, entrar sem dificuldade no universo autorização à aldeia que o viu mais nem menos do que isso. L.M. House” será um dos mais complementando-se de Towner, desenvolvendo um nascer, no Sudoeste do Mali. A interessantes álbuns de 1968 a ser maravilhosamente em temas como fraseado incisivo que quebra um licença chegou por correio duas editado em 2010. M.L. “Sendup”, da autoria do pouco a superfície estática da sua semanas depois e incluía uma O melhor de 1968 guitarrista, “Four on One”, tema música, transmitindo-lhe ainda cassete especificando as partes que em 2010 de inspiração free-bop com uma algumas tonalidades bluesy que em não deveriam de forma alguma ser Jazz secção rítmica plena de fogo muito beneficiam a expressividade omitidas. Esta versão tinha uma The Coral contido, o luminoso “My refrain”, do disco. Em “Chiaroscuro”, um duração de meia hora, mas o da autoria de Gress, ou o já dos poucos projectos registados Butterfly House Com toda produtor não aceitou gravar mais de V2 Records; distri. Nuevos Medios referido “tour-de-force” final. recentemente à margem da 13 minutos. O que levou o cantor a colaboração que mantém com o rematar o registo cantando que mmmnn a calma do grupo Oregon, o guitarrista “Vou pararr aqui porque assim me Numa noite regressa a “Blue in Green” (único exige o produtor.odutor. Peço OsOs CoralCor mundo tema não-original do disco), desculpa aosos aapareceram-nosparec clássico de Miles Davis caçadores queque me em 202002 com um de Verão imortalizadoimortalizado por Bill EEvans,vans, numa transmitiramam estestasas áálbumlbum homónimo Cinco amigos, todos versãoversão em queque transparecetransparece a palavras”. em qqueu o instrumentistas de topo,o, RalphRalph Towner enormeenorme devoção de Fresu Este géneroero de ppsicadelismosicad de / Paolo FresuFresu pelopelo trompetistatrompetista norte-norte- escrúpulo soarásoará hojehoje 6600 susurgiar constroem um disco lunarnar americano.americano. R.A.R.A. onde tudo é familiar e ChChiaroscuroiaroscuro como um excessoxcesso dede transfitransfiguradog pela ECMECM;; distri. ingenuidade,de, mas o iidiossincrasiadiossin de tranquilo. Rodrigo Amadoado DarDargilgil episódio revelavela sseiseis tipostip ainda na bem o respeitoeito aadolescência.d Contact mmmmnmmmmn que Kasse MMostravam- Five on One Mady sse curiosos e Pirouet; distri. Mbari RalphRalph Towner mantém hiperactivos,h pela culturaa e,e profundos mmmmn das suas conhecedorescon raízes. dos Love,L dos Nem tudo nnoo jazz Nascido emm Kasse Mady rodeia-se Beatles,Beatle dos Pink de hoje temm ddee 1949, ele dos melhores para prestar FloydFloyd dde Syd ser impactante,ante, assumiu homenagem às suas BarrettBarrett ou dos forte, novo e desde a maisais raízes mandingas. TrTrafficaffic ded “Mr vibrante. tenra juventudentude a FantasFantasy”,y Desde profissão dee aamalgamavammalgam toda sempre que o universo mágicoo Towner contrabalançado por Fresu, que quebra djeli, ou griotiot eessassa informaçãoinfo do jazz se foi construindo um pouco a superfície estática da música do guitarrista

42 • Sexta-feirafeira 200 aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

Paralelamente a uma na Perve Galeria. A tradições seculares, temporada no Museu exposição, que fi ca até 18 como a circuncisão e Lisboa- de História Natural de de Setembro, resulta de a extracção, ainda na Luanda Angola, em Luanda, um trabalho de campo infância, dos quatro “Hereros”, série de realizado entre Junho e incisivos inferiores. O imagens documentais Agosto do ano passado trabalho deu origem que o fotógrafo brasileiro com vários subgrupos não só à exposição, Sérgio Guerra fez junto do povo herero, que terá mas também a um de uma minoria étnica chegado a Angola algures álbum fotográfi co e do Sul daquele país, está entre os séculos XII e um documentário, em desde ontem em Lisboa, XV e ainda hoje pratica preparação.

Agenda O tratamento que Eduardo Matos faz do arquivo Continuam da Fábrica de Louça de Sacavém, no vídeo “21 Segundos”, confunde-se com o documentário, WARHOL TV mas sem sacrifício da efi cácia emocional

De Andy Warhol. Lisboa. Museu Colecção Berardo. Praça do Império - Centro Cultural de Belém. Tel.: 213612878. Até 17/10. Sáb. das 10h às 22h. 2ª a 6ª e Dom. das 10h às 19h. Fotografia, Pintura, Vídeo, Som, Outros. Grazia Toderi Porto. Museu de Serralves. Rua Dom João de Castro, 210. Tel.: 226156500. Até 31/10. 3ª a 6ª das 10h às 17h. Sáb., Dom. e Feriados das 10h às 20h. Desenho, Fotografia, Vídeo. Quando os Convidados se Tornam Anfi trião - Porto De WochenKlausur, Supersudaca, Freee. Porto. Culturgest. Avenida dos Aliados, 104 - Edifício da CGD. Tel.: 222098116. Até 15/10. 2ª a Sáb. das 10h às 18h. ou, apenas, menos “atraente” aos natural com os desenhos das antigas Instalação, Outros. Um artista olhos de outros comissários e das peças de louça; é um arquivo que principais instituições de arte. suscita relações entre coisas POVOpeople Chã, franca, quase sempre criada distintas (os vestígio de um fazer, o De Almada Negreiros, diante a partir de contextos reais ritmo de um ribeiro, as formas dos Nikias Skapinakis, Amadeo Souza-Cardozo, Noé Sendas, de um rio (paisagens, espaços públicos e canaviais) independentemente do Eduardo Nery, entre outros. privados), a prática artística de seu tempo e lugar. Lisboa. Museu da Electricidade. Eduardo Matos privilegia o trabalho Não existem sinais de estilização Avenida Brasília - Edifício Central Tejo. de campo e o consequente contacto ou predomínio do objecto escolhido Tel.: 210028120. Até 19/09. Sáb. das 10h As ressonâncias da paisagem às 20h. 2ª a 6ª e Dom. das 10h às 18h. directo com a realidade. E “O sobre a obra. Nas imagens e nos e o contexto como material Documental, Pintura, Fotografia, Caçador de Borboletas” (título “slides” em movimento de “Ilha do Vídeo, Outros. da arte, numa exposição que inspirado em “A caça às borboletas”, Tesouro”, o contexto social ou do cineasta Otar Iosseliani) é político evade-se e a paisagem Marlene Dumas: Contra o Muro dá a ver os tempos de um Porto. Museu de Serralves. Rua Dom João de lugar. exemplar desse método. O projecto oferece-se à contemplação; e em Castro, 210. Tel.: 226156500. Até 10/10. 2ª a 6ª José Marmeleira começou com a “descoberta” de um “Aqui a Noite Chega Primeiro” é o das 10h às 17h. Sáb., Dom. e Feriados das 10h às lugar durante as viagens do Porto rio, com o seu corpo, que se torna o 20h. O Caçador de Borboletas Pintura. De Eduardo Matos. para Lisboa: a paisagem sobre o protagonista (o artista filmou-o em Trancão. E de um fenómeno: devido dez planos, através de uma câmara Sem Limites - Nadir Afonso Exposições Lisboa. Galeria Zé dos Bois. Rua da Barroca, 59 - à inclinação do sol, a certa altura do subaquática, do concelho de Mafra, Lisboa. MNAC - Museu do Chiado. Rua Serpa Bairro Alto. Tel.: 213430205. Até 18/09. 4ª a Sáb. das Pinto, 4. Tel.: 213432148. Até 03/10. 3ª a Dom. das 18h às 23h. dia, uma parte dessa paisagem onde nasce, à foz do Tejo). 10h às 18h. Fotografia, Outros. surgia tomada pela sombra. Na verdade, o Trancão está quase Pintura. Tal encontro motivou Eduardo sempre presente. Foi junto ao rio Matos a realizar caminhadas e que foi encontrada a peça feita de Tudo O Que é Sólido mmmmn Dissolve-Se no Ar: O Social pesquisas documentais na zona madeira e gesso que abre a na Colecção Berardo Resultado da residência iniciada há (Sacavém) e a recolher as histórias e exposição; e foi a lama do seu leito Lisboa. Museu Colecção Berardo. dois anos na Galeria Zé dos Bois, “O as imagens da paisagem. Por que serviu de material às esculturas Praça do Império - Centro Cultural de Belém. Tel.: 213612878. Até 12/09. Sáb. das 10h às 22h. Caçador de Borboletas” é uma das exemplo, o passado industrial da que representam os objectos usados 2ª a 6ª e Dom. das 10h às 19h. exposições mais ambiciosas de região, no vídeo “21 Segundos”: pelo artista nas suas caminhadas Pintura, Outros. Eduardo Matos (Rio de Janeiro, 1972) fotografias de arquivo da Fábrica de (lanternas, câmaras fotográficas e e, sem prejuízo da individual Louça de Sacavém (encerrada em filmar, rolos, telemóveis, garrafas). Sangam realizada o ano passado na Galeria 1983) alternam com planos fixos de Eduardo Matos reuniu num De Carlos Cardoso. Lisboa. Museu do Oriente - Lounge. Quadrado Azul, a que introduz de novas urbanizações e passadiços arquivo gestos e tempos de um rio e Av. Brasília. Doca de Alcântara. uma forma mais ampla o universo modernos, enquanto uma voz relata das paisagens à volta, mas sobretudo Tel.: 213585200. Até 19/09. 3ª a Dom. do artista ao público de Lisboa. em “off” a repressão dos materializou as suas ressonâncias das 10h às 18h. 6ª das 10h às 22h. Eduardo Matos tem uma carreira trabalhadores da fábrica nas décadas físicas e mentais (provocadas pela Fotografia. relevante e reconhecida enquanto anteriores ao 25 de Abril. O registo natureza, pela sociedade, por ele comissário de exposições e confunde-se, sem pudor, com o próprio). Desvelou o que ficou para dinamizador de espaços documentário, mas sem sacrificar a trás agindo sobre um contexto. Fez independentes no Porto. Organizou sua eficácia emocional e conceptual. da prática artística uma acção. desde 2001 várias exposições Limita-se a perguntar: como passou Pequena nota acerca do sons de colectivas e, em 2003 (com Isabel o tempo por aqueles lugares? Que Benjamin Brejon e Filipe Felizardo Ribeiro, Renato Ferrão e Rui tempo passou por aqueles lugares? que acompanham, respectivamente, Ribeiro), foi um dos fundadores do O passado da Fábrica regressa “21 Segundos” e “Ilha do Tesouro”. Salão Olímpico. Já o seu percurso com “O Compositor”, série que Embora ricos, ensurdecem por como artista parece mais discreto combina imagens da paisagem vezes as imagens.

Ípsilon • Sexta-feira 20 Agosto 2010 • 43 aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

Isabelle Huppert vai festival nos últimos anos) e projecto teria a ver com o trabalhar com o fi lipino de “Lola”, que em Setembro terrorismo. É “Captured”, Novo Brillante Mendoza, o estreia em Portugal. Objecto em que Huppert, segundo a filme cineasta de “Kinatay” de um ciclo organizado revista “Sight and Sound”, (melhor realizador em este ano na Culturgest, em interpreta uma missionária Cannes 2009, um dos Lisboa, Mendoza anunciou estrangeira apanhada como momentos de escândalo do nessa altura que o próximo refém.

Estreiam 2ª 3ª 4ª 13h35, 15h30, 17h30, 19h30, 21h30, Sábado 12h40, 15h40, 18h10, 21h30, 23h50; Castello dizê-lo – Karina Longworth, na 23h40; CinemaCity Beloura Shopping: Cinemax: 5ª Lopes - Rio Sul Shopping: Sala 1: 5ª 6ª Sábado “Village Voice”, já o fez quando o 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 15h35, 17h40, Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h30, 18h30, 21h30, 19h40, 21h40, 23h50; CinemaCity Campo Pequeno 00h10; UCI Freeport: Sala 5: 5ª 2ª 3ª 4ª 15h45, filme estreou nos EUA em fins de Praça de Touros: Sala 4: 5ª 6ª Sábado Domingo 18h15, 21h20 6ª 15h45, 18h15, 21h20, 23h50 Sábado Julho –, mas a verdade é que A espia que 2ª 3ª 4ª 13h45, 15h50, 17h50, 19h50, 21h55, 13h40, 15h45, 18h15, 21h20, 23h50 Domingo 13h40, Angelina Jolie é perfeita para o papel 00h15; CinemaCity Campo Pequeno Praça de 15h45, 18h15, 21h20; ZON Lusomundo Almada Touros: Sala 6: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª Fórum: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, ambíguo de um possível agente saiu do frio 21h25, 23h50; CinemaCity Classic Alvalade: Sala 3: 16h, 18h30, 21h35, 00h05; ZON Lusomundo Fórum duplo, resquício da Guerra Fria 5ª 2ª 3ª 4ª 13h30, 15h30, 17h30, 19h30, 21h45 6ª Montijo: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, transposto para os nossos dias. É um 13h30, 15h30, 17h30, 19h30, 21h45, 24h Sábado 15h40, 18h10, 21h30, 24h; 11h30, 13h30, 15h30, 17h30, 19h30, 21h45, 24h caso em que a mudança de sexo Domingo 11h30, 13h30, 15h30, 17h30, 19h30, Porto: Arrábida 20: Sala 11: 5ª 6ª Sábado correu às mil maravilhas e a mulher A simples presença de 21h45; Medeia Fonte Nova: Sala 3: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h05, 16h35, 19h05, 21h45, que daí resultou é muito mais Domingo 2ª 3ª 4ª 14h30, 17h, 19h30, 22h; Medeia Angelina Jolie é perfeita 00h30; Arrábida 20: Sala 12: 5ª 6ª Sábado Saldanha Residence: Sala 6: 5ª 6ª Sábado interessante do que o homem Domingo 2ª 3ª 4ª 14h05, 16h35, 19h05, 21h45, Domingo 2ª 3ª 4ª 13h50, 15h50, 17h50, 19h50, para uma descomplexada 00h30; Nun`Álvares: Sala 1: 5ª 6ª Sábado alguma vez teria sido: porque a 21h50, 00h15; UCI Cinemas - El Corte Inglés: Sala 13: Domingo 2ª 3ª 4ª 19h30, 21h30; ZON Lusomundo nossa “crença” na personagem série B de espionagem 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 14h20, 16h50, 19h25, 21h55, Dolce Vita Porto: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 00h20 Domingo 11h30, 14h20, 16h50, 19h25, 21h55, depende inteiramente de 13h40, 16h10, 19h, 21h50, 00h20; ZON Lusomundo exemplar das virtudes de um 00h20; UCI Dolce Vita Tejo: Sala 9: 5ª Domingo 2ª Ferrara Plaza: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 15h, 17h20, acreditarmos nela, mais do que 3ª 4ª 14h, 16h25, 19h10, 21h45 6ª Sábado 14h, profissionalismo que anda a 19h40, 22h 6ª Sábado 15h, 17h20, 19h40, 22h, como um super-espião capaz de 16h25, 19h10, 21h45, 00h20; ZON Lusomundo 00h30; ZON Lusomundo GaiaShopping: 5ª 6ª Alvaláxia: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª tudo, como alguém que passou a fazer muita falta. Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h15,16h05, 18h50, 13h20, 15h40, 18h, 21h40, 00h15; ZON Lusomundo 22h, 00h20 ; ZON Lusomundo MaiaShopping: 5ª vida a esconder-se atrás de máscaras Jorge Mourinha Amoreiras: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 16h, 19h, 21h40 6ª e que dá por si subitamente 13h10, 15h40, 18h20, 21h10, 23h30; ZON Lusomundo Sábado 13h20, 16h, 19h, 21h40, 00h25; ZON CascaiShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª vulnerável. Estamos a ver Cruise a Salt Lusomundo Marshopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 13h, 16h20, 18h40, 21h30, 23h50; ZON Lusomundo 2ª 3ª 4ª 13h30, 15h50, 18h30, 21h30, 00h10; ZON ser vulnerável? Bem me parecia que Salt Colombo: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h50, Lusomundo NorteShopping: 5ª 6ª Sábado não. Estamos a ver Jolie? Nunca ela De Phillip Noyce, 15h25, 18h, 21h05, 23h30; ZON Lusomundo Dolce Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 15h30, 18h, 21h40, Vita Miraflores: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 15h30, fez outra coisa, e ainda por cima sem com Angelina Jolie, Liev Schreiber, 00h20; ZON Lusomundo Parque Nascente: 5ª 6ª 18h30, 21h30 6ª Sábado 15h30, 18h30, 21h30, Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h40, 16h10, 18h50, que isso afecte a força e a Chiwetel Ejiofor, Daniel Olbrychski, 00h30; ZON Lusomundo Odivelas Parque: 5ª 21h40, 00h20; Castello Lopes - 8ª Avenida: Sala 2: determinação que ela projecta – Andre Braugher. M/12 Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 15h30, 18h, 21h15 6ª 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 15h30, 18h20, 21h30 Sábado 13h10, 15h30, 18h, 21h15, 23h50; ZON antes reforçando-as. Jolie é uma 6ª Sábado 13h30, 15h30, 18h20, 21h30, 00h10; ZON Lusomundo Oeiras Parque: 5ª 6ª Sábado MMMnn Lusomundo Fórum Aveiro: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª criatura de contradições e Domingo 2ª 3ª 4ª 13h15, 15h45, 18h20, 21h30, 13h15, 15h55, 18h30, 21h20 6ª Sábado 13h15, 15h55, paradoxos, sedução e mistério – e 24h; ZON Lusomundo Torres Vedras: 5ª 6ª Sábado Lisboa: Castello Lopes - Cascais Villa: Sala 5: 5ª 2ª 18h30, 21h20, 23h55; ZON Lusomundo Glicínias: 5ª Cinema Domingo 2ª 3ª 4ª 12h45, 15h, 17h15, 19h30, 21h50, isso torna-a perfeita para o papel de 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h, 16h40, 19h15, 3ª 4ª 16h, 18h40, 21h30 6ª 16h, 18h40, 21h30, 00h30; ZON Lusomundo Vasco da Gama: 5ª 6ª uma agente da CIA subitamente 00h10 Sábado 13h, 16h, 18h40, 21h30, 00h10 21h45, 00h20; Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h05, 15h30, 18h, acusada de ser na verdade uma Domingo 13h, 16h, 18h40, 21h30; Castello Lopes 21h30, 00h10; Algarcine - Sines : Sala 1: 5ª - Londres: Sala 2: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 14h15, Domingo 2ª 3ª 4ª 15h, 18h30, 21h30 6ª Sábado Há que dizê-lo com frontalidade: agente russa infiltrada desde miúda 16h45, 19h15, 21h45 6ª Sábado 14h15, 16h45, 19h15, 15h, 18h30, 21h30, 24h; Castello Lopes - C. C. graças a Deus que não foi Tom à espera de ser “acordada” para 21h45, 00h15; Castello Lopes - Loures Jumbo: Sala 3: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 16h, Cruise, para quem “Salt” foi levar a cabo a sua missão. Shopping: Sala 6: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 18h30, 21h40 6ª Sábado 13h30, 16h, 18h30, 21h40, 4ª 13h10, 16h10, 18h30, 21h30, 24h; CinemaCity 23h50; Castello Lopes - Fórum Barreiro: Sala 4: 5ª originalmente desenvolvido, a Não se pode dizer que “Salt” não Alegro Alfragide: Cinemax: 5ª 6ª Sábado Domingo Domingo 2ª 3ª 4ª 12h40, 15h40, 18h10, 21h30 6ª interpretá-lo. Não somos só nós a seja derivativo: o guião de Kurt

série ípsilon II

Sexta-feira, dia 20 de Agosto,to, o DVD “Uma Pequenaquena Vingança”, de Jacobcob Aaron Estes +8 DVD Todas as sextas,xtas Angelina Jolie é uma criatura de contradições e paradoxos, sedução e mistério - e isso torna-a perfeita para o papel de uma agente da CIA por + €1,95. 20anos subitamente acusada de ser na verdade uma agente russa infi ltrada

44 • Sexta-feira 20 Agosto 2010 • Ípsilon Jorge Luís M. Mário Vasco As estrelas do público Mourinha Oliveira J. Torres Câmara Canino mmmnn mmmnn mnnnn mnnnn Casamento a Três mmnnn mmnnn nnnnn nnnnn A Dança mmmmn mmmmm nnnnn nnnnn Escritor-Fantasma mmmmn mmmnn mmmmm mmmnn Os Mercenários mmmnn mmmnn nnnnn A Origem mmmmn mnnnn mmmnn A Salt mmmnn nnnnn nnnnn nnnnn O Último Airbender A mnnnn nnnnn nnnnn Toy Story 3 mmmmm mmmnn mmmmn nnnnn Vão-me Buscar Alecrim mnnnn mmmmn mmnnn mmmmm

Wimmer remete, ao mesmo tempo, para uma série B pouco recordada Cineclubes para mais dos anos 70 com Charles Bronson, informações consultar www.fpcc.pt “Telefone”, para o recente tecno- ”thriller” “Olhos de Lince”, para os Parque S. Lourenço filmes de espionagem clássicos dos Abrantes anos 60, para os “thrillers” Mostra de Cinema ao Livre paranóicos dos anos 70, para a série Ver www.espalhafitas.org “Bourne” (que se parece ter tornado numa espécie de “matriz” de muito do cinema de acção Parque Catarina contemporâneo). Mas, nas mãos do Eufémia veterano australiano Phillip Noyce, Barreiro esse lado derivativo é trabalhado O Bom, o Mau e o Vilão usando o livro de virtudes da série B De Sergio Leone, 1966, M/16 20/08, e convertido em mais-valia: eficácia, 21:30h economia, cartas na mesa, desembaraço, profissionalismo, uma consciência absoluta do que se está a fazer, para quem o está a fazer e com quem o está a fazer. “Salt” não engonha nem perde tempo com o Como “diário da andropausa”, “O Casamento a Três” fi ca aquém que não vem ao caso, sabe o que tem de outras experiências cinematográfi cas: já vimos andropausas a fazer e fá-lo sem se engasgar – com, mais emocionantes, ou mais cruéis, ou mesmo mais doces pelo meio, uma primeira meia-hora contudo. Já vimos Doillon bem mais porque é a cara chapada dele). Mas, e pela adrenalina das estreias. magistralmente construída e gerida inspirado. “Casamento a Três” é um pese a inteligência austera com que Wiseman, como sempre, filma uma que é uma lição de filmar e montar “jogo de massacre”, psicológico, Doillon se exercita e condensa as comunidade que vive no seu mundo acção sem ter de recorrer a efeitos sentimental e sexual, que faz a modos virtudes deste “Casamento a Três”, à parte e abre-nos uma porta que visuais mais ou menos artificiais. que uma ponte entre a tradição já vimos andropausas mais nos permite viver com eles, sentir o Numa paisagem hollywoodiana em realista francesa (uma certa aspereza, emocionantes, ou mais cruéis, ou seu tempo, mergulhar num universo que estas virtudes são cada vez quase ríspida, da encenação, mesmo mesmo mais doces. Mais qualquer que nos está habitualmente vedado. menos valorizadas, ver um filme “à se não parece haver muita câmara à coisa, enfim. E sente-se a falta disso Fá-lo, programaticamente, sem moda antiga” como este é mão) e um modelo mais determinado – de mais qualquer coisa. tentar explicar nada, preferindo reconfortante. Que esse filme tenha pelo artifício, mais escrito, mais colocar o espectador numa posição caído nas mãos da actriz perfeita teatral. O teatro não é só um Continuam vivencial, revelando os muitos para a sua história apenas o torna elemento formal (logo à partida: mundinhos que se escondem por ainda mais recomendável. cinco personagens, uma casa isolada, trás das imponentes paredes do Praça do Sertório A Dança - Le Ballet de L’Opera de Évora um jardim, pensamos em Tchékhov Palácio Garnier, e no processo dá Paris New York, I Love You revisto por, sei lá, Pialat), é também uma verdadeira lição de filmar – não La Danse - Le Ballet de L’Opera de De Mira Nair, 2008, M/12 24/08, 22:00h um dado narrativo: tudo gira em de filmar documentário, ou de Paris Da torno de uma reunião promovida por filmar pessoas, ou de filmar dança, De Frederick Wiseman, Largo da Oliveira um autor teatral (Pascal Greggory), a mas de filmar, ponto final. Mesmo Guimarães com . M/12 andropausa preparar uma peça com os futuros que o tema e a longa duração Uma Noite Atribulada actores, mais um “manager” e uma possam restringir o apelo de “A De Shawn Levy, 2010, M/12 24/08, MMMMn 22:00h “fille de quinze ans” (bom, um Dança”, há algo de quixotesco Sacanas Sem Lei pouco mais do que 15, mas “La Fille Lisboa: Medeia King: Sala 3: 5ª 6ª Sábado “serviço público” que deve ser De Quentin Tarantino, 2009, M/16 “Casamento a Três” é o de Quinze Ans” é o título de outro Domingo 2ª 3ª 4ª 15h35, 18h30, 21h30; fervorosamente apoiado na sua regresso algo desapontante Porto: 25/08, 22:00h filme de Doillon) que é a sua estreia local – a primeira vez que um Casablanca de Jacques Doillon, que secretária. É mais uma pequena pérola de Wiseman chega às salas portuguesas De Michael Curtiz, 1942, M/12 26/08, por cá não se via desde o As relações são desordenadas, Frederick Wiseman, mestre dos em 50 anos de filmes. J. M. 22:00h tensas, cheias de “bagagem” – a mestres documentaristas, cuja obra Os Mercenários belíssimo “Ponette”. actriz (Julie Depardieu) é a ex- é quase sinónimo contemporâneo Cine-Teatro António The Expendables mulher do dramaturgo e está do “purismo” da forma – um retrato Luís Miguel Oliveira De Sylvester Stallone, Pinheiro envolvida com o actor (Louis Garrel, pacientemente impressionista do R. Guilherme Gomes Fernandes, 5 – Tavira com Sylvester Stallone, Jason Rasgo de Génio talvez o único actor do mundo que trabalho de bastidores do Ballet da O Casamento a Três Statham, Jet Li, Mickey Rourke, Bruce De Marc Abraham, 2008, M/12 22/08, leva o mesmo penteado para todos Ópera Nacional de Paris, em que a Le Mariage à Trois Willis, Arnold Schwarzenegger, Jason 21:45h os filmes). Esta desordem e esta entrega e a exigência dos ensaios, De Jacques Doillon, Statham. M/12 tensão fazem o sangue de centro nevrálgico do filme, são Dorian Gray com Louis Garrel, Pascal Greggory, De Oliver Parker, 2009, M/12 26/08, “Casamento a Três”, que avança por entrecortadas por breves “flashes” Julie Depardieu. M/12 MMMnn 21:45h cenas de diálogo que são quase das estruturas de apoio aos MMnnn sempre duelos verbais (ou físicos: o bailarinos e às Lisboa: Castello Lopes - Loures Shopping: Sala 1: 5ª Cinema Verde Viana erotismo é vivido no limite com a produções 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 16h, 18h50, Praça 1º de Maio, Centro Comercial - Viana do 21h40, 00h10; CinemaCity Alegro Alfragide: Sala Castelo Lisboa: Medeia Monumental: Sala 3: 5ª 6ª Sábado agressividade), constantemente a 5: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 15h20, 17h20, 19h20, reorganizar as suas cinco 15h35, 17h40, 19h45, 21h50, Mother - Uma Força Única 21h30, 00h15; personagens em pares ou trios. 24h; CinemaCity Alegro De Joon-Ho Bong, 2009, M/12 26/08, Alfragide: Sala 3: 5ª 6ª Sábado 21:45h Regresso de um cineasta que já foi Reflexão sobre a criatividade, Domingo 2ª 3ª 4ª 21h35, um nome familiar para os “Casamento a Três” é mais ainda 23h45; CinemaCity Beloura espectadores portugueses, mas de uma história sobre o “macho Shopping: Sala 1: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª quem, se os registos não nos falham, envelhecido”, o tipo de filme que um 13h40, 15h45, 17h50, 19h55, nunca mais se viu nada por cá desde crítico francês certa vez 22h, 00h05; CinemaCity o longínquo “Ponette”, em meados categorizou como um “diário da Campo Pequeno Praça de Touros: Sala 2: 5ª 00h20 dos anos 90. Belas recordações andropausa”. Não é 6ª Sábado Domingo 2ª desse filme, aliás, possivelmente o necessariamente depreciativo 3ª 4ª 13h30, 15h35, último grande filme europeu sobre a nem, no caso, é muito ao lado – 17h40, 19h40, 21h50, 00h20; UCI Cinemas - El infância antes de os grandes filmes por alguma razão lá anda a Corte Inglés: Sala 5: 5ª sobre a infância passarem a vir, rapariga de (um pouco mais de) 15 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª sistematicamente, do Irão. anos (que se chama Agathe Bonitzer Em 50 anos de fi lmes, Wiseman chega 14h15, 16h45, 19h20, fi nalmente às salas portuguesas com “A Dança” 21h50, 00h15 Domingo Regresso algo desapontante, e só pode ser filha de Pascal Bonitzer 11h30, 14h15, 16h45, 19h20,

Ípsilon • Sexta-feira 20 Agosto 2010 • 45 aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente Cinema

21h50, 00h15; UCI Dolce Vita Tejo: Sala 10: 5ª sobre efeitos, narrativa pastosa e Domingo 2ª 3ª 4ª 14h10, 16h35, 19h05, 21h40 6ª desinteressante, incapaz de olhar Sábado 14h10, 16h35, 19h05, 21h40, 00h15; ZON Lusomundo Alvaláxia: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª para qualquer coisa (nem mesmo 3ª 4ª 13h30, 16h, 18h30, 21h30, 24h; ZON para os actores), e não se salva um Lusomundo Amoreiras: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª plano. Novidade só uma: um filme 3ª 4ª 13h, 15h20, 18h, 21h, 23h50; ZON Lusomundo CascaiShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª de Shyamalan que acaba a abrir-se à 13h10, 16h, 18h30, 21h20, 24h; ZON Lusomundo sequela em fez de se fechar num Colombo: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h15, círculo redondinho como os outros 15h50, 18h30, 21h20, 23h50; ZON Lusomundo Dolce Vita Miraflores: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 15h20, todos. Não serve de consolo? É a 18h20, 21h20 6ª Sábado 15h20, 18h20, 21h20, vida. L.M.O. 00h20; ZON Lusomundo Odivelas Parque: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 15h20, 18h10, 21h 6ª Sábado 12h50, 15h20, 18h10, 21h, 23h40; ZON Canino Lusomundo Oeiras Parque: 5ª 6ª Sábado Kynodontas Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 15h55, 18h40, 21h40, 00h15; ZON Lusomundo Torres Vedras: 5ª 6ª De Yorgos Lanthimos, Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 16h15, 18h45, com Christos Stergioglou, Michelle 21h25, 00h05; ZON Lusomundo Vasco da Gama: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 15h50, Valley, Aggeliki Papoulia, Christos 18h40, 21h40, 00h20; Castello Lopes - C. C. Passalis, Mary Tsoni, Anna Jumbo: Sala 2: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 15h50, Kalaitzidou. M/18 18h20, 21h20 6ª Sábado 13h20, 15h50, 18h20, 21h20, 00h20; Castello Lopes - Rio Sul Shopping: Sala 2: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª Mnnnn 4ª 13h20, 15h50, 18h50, 21h50, 00h20; UCI Freeport: Sala 1: 5ª 2ª 3ª 4ª 15h35, 18h20, 21h25 Lisboa: Medeia King: Sala 2: 5ª Domingo 3ª 4ª 6ª 15h35, 18h20, 21h25, 23h55 Sábado 13h35, 15h35, 13h45, 15h45, 17h45, 19h45, 22h 6ª Sábado 2ª 18h20, 21h25, 23h55 Domingo 13h35, 15h35, 18h20, 13h45, 15h45, 17h45, 19h45, 22h, 24h; 21h25; ZON Lusomundo Almada Fórum: 5ª 6ª Porto: Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h30, 18h20, 21h15, 23h50; ZON Lusomundo Fórum Montijo: 5ª É a (velha) cassete da manipulação, 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 15h50, 18h20, 21h40, 00h10; da perversão e do fascismo: desde o primeiro plano de “Canino”, o da Porto: Arrábida 20: Sala 16: 5ª 6ª Sábado cassete, precisamente, o relizador Domingo 2ª 3ª 4ª 14h15, 16h45, 19h20, 22h, Yorgos Lanthimos comporta-se 00h40; Cinemax - Penafiel: Sala 2: 5ª 2ª 3ª 4ª 15h30, 21h50 6ª 15h30, 21h50, 24h Sábado 15h, como um escolar “mestre de 17h30, 21h50, 24h Domingo 15h, 17h30, cerimónias” de um suposto jogo de 21h50; Vivacine - Maia: Sala 3: 5ª 6ª Sábado massacre. Michael Haneke? A Domingo 2ª 3ª 4ª 13h40, 16h20, 18h40, 21h20, Não se percebe a comoção global com que “O Último Airbender” tem sido recebido: verdade é que, para o bem e para o 23h45; ZON Lusomundo Dolce Vita Porto: 5ª 6ª não é “assim tão mau”, se admtirmos que Shyamalan nunca foi “assim tão bom” Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h50, 16h20, 19h10, mal, Haneke coloca o espectador no 21h40, 00h25; ZON Lusomundo Ferrara Plaza: 5ª “saída de palco” digna e de fazer 16h35, 19h, 21h35, 24h Domingo 11h30, 14h15, 16h35, Lusomundo NorteShopping: 5ª 6ª Sábado seu tubo de ensaio de experiências, Domingo 2ª 3ª 4ª 15h40, 18h30, 21h40 6ª Sábado 19h, 21h35, 24h; UCI Dolce Vita Tejo: Sala 3: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h50, 18h50, 21h30, 15h40, 18h30, 21h40, 00h10; ZON Lusomundo uma “passagem de testemunho” isto é, faz dele simultaneamente Domingo 2ª 3ª 4ª 13h55, 16h30, 19h05, 21h35 6ª 00h30; ZON Lusomundo Parque Nascente: 5ª 6ª GaiaShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª para uma nova geração (com Jason cúmplice e vítima, e é essa a razão Sábado 13h55, 16h30, 19h05, 21h35, 00h15; ZON Sábado 2ª 3ª 4ª 13h10, 15h30, 18h20, 21h20, 24h 13h40, 16h20, 19h, 21h55, 00h25 ; ZON Lusomundo Statham à cabeça), sem pretensões Lusomundo Alvaláxia: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª Domingo 10h30, 13h10, 15h30, 18h20, 21h20, do mal-estar de quem vê. Já o grego MaiaShopping: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 3ª 4ª 13h40, 16h15, 18h45, 21h20, 23h50; ZON 24h; Castello Lopes - 8ª Avenida: Sala 3: 5ª 16h10, 18h50, 21h30 6ª Sábado 13h30, 16h10, 18h50, de querer ser mais do que isso. É, apenas debita como quem ordena, Lusomundo Amoreiras: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 15h20, 18h10, 21h40 6ª 21h30, 00h20; ZON Lusomundo Marshopping: 5ª além do mais, o melhor — porque mas não tem autoridade: o 3ª 4ª 13h40, 16h10, 18h50, 21h40, 00h10; ZON Sábado 12h50, 15h20, 18h10, 21h40, 23h40; ZON 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 15h20, 18h, mais sincero — dos três sucessivos Lusomundo CascaiShopping: 5ª 6ª Sábado Lusomundo Fórum Aveiro: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª espectador está sempre seguro, a 21h40, 00h25; ZON Lusomundo NorteShopping: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 15h30, 18h20, 21h, 13h20, 16h05, 18h55, 21h40 6ª Sábado 13h20, 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 16h, 19h, 22h, “comebacks” de Stallone, superior salvo de qualquer horizonte de 23h40; ZON Lusomundo Colombo: 5ª 6ª Sábado 16h05, 18h55, 21h40, 00h25; ZON Lusomundo 00h45; ZON Lusomundo Parque Nascente: 5ª 6ª quer à simpatia esforçada de Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h40, 18h15, 21h35, Glicínias: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h45, Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h50, 16h30, 19h, “Rocky Balboa” quer à violência 00h05; ZON Lusomundo Dolce Vita Miraflores: 5ª 16h25, 19h05, 21h40, 00h25; 21h30, 00h10; ZON Lusomundo Fórum Aveiro: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 15h10, 18h10, 21h10 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 16h10, 18h50, 21h30 6ª sisuda de “John Rambo”. Houvesse 15h10, 18h10, 21h10, 00h10; ZON Lusomundo Sábado 13h30, 16h10, 18h50, 21h30, 00h10; ZON aqui o mínimo de culpa – e ainda Perante a comoção global com que Odivelas Parque: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h50, Lusomundo Glicínias: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª bem que não há – e seria o grande 18h30, 21h30 6ª Sábado 13h, 15h50, 18h30, 21h30, “O Último Airbender” tem sido 3ª 4ª 13h55, 16h30, 19h10, 21h50, 00h30; prazer culpado de 2010. Assim, é só 00h10; ZON Lusomundo Oeiras Parque: 5ª 6ª recebido, apetece dizer: não é assim um prazer. J.M. Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h05, 15h40, 18h10, tão mau. Não é “assim tão mau”, se 21h25, 23h55; ZON Lusomundo Torres Vedras: 5ª Personagens de papelão, guião 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h15, 16h, 18h30, admitirmos que Shyamalan nunca despachado que ejecta tudo o que 21h, 23h30; ZON Lusomundo Vasco da Gama: 5ª 6ª foi “assim tão bom”. De certa O Último Airbender não faz falta, história reciclada de Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h20, 18h10, maneira, isto é mais do mesmo: The Last Airbender 21h15, 23h50; Castello Lopes - C. C. Jumbo: Sala 1: 5ª filmes melhores (uma equipa de misticismo pomposo, um pouco tolo De M. Night Shyamalan, Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 15h40, 18h40, 21h30 6ª mercenários contratada para Sábado 13h10, 15h40, 18h40, 21h30, 00h30; Castello (e muito pueril), com bónus para com Noah Ringer, Dev Patel, Nicola eliminar o ditador de opereta de um Lopes - Fórum Barreiro: Sala 2: 5ª Domingo 2ª 3ª análises autorísticas (os elementos Peltz, Jackson Rathbone, Shaun 4ª 12h50, 15h50, 18h40, 21h20 6ª Sábado 12h50, país fictício da América Latina), de “O Último Airbender”, o ar e a Toub, Aasif Mandvi, Cliff Curtis. M/12 15h50, 18h40, 21h20, 23h40; Castello Lopes - Rio Sul realização funcional e pontualmente Shopping: Sala 3: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª água, são os dos últimos filmes: “A desastrada. OK, sim, no papel não 4ª 13h10, 15h40, 18h40, 21h20, 23h40; UCI Senhora do Lago”, filme de água, “O Mnnnn Freeport: Sala 4: 5ª 2ª 3ª 4ª 15h40, 18h25, 21h20 há nada de particularmente 6ª 15h40, 18h25, 21h20, 23h15 Sábado 13h25, 15h40, Acontecimento”, filme de ar). recomendável nem de estimulante Lisboa: Castello Lopes - Cascais Villa: Sala 4: 5ª 2ª 18h25, 21h20, 23h15 Domingo 13h25, 15h40, 18h25, Também por isso, custa comparar o num filme derivativo como este. Mas 3ª 4ª 15h40, 18h50, 21h50 6ª 15h40, 18h50, 21h50, 21h20; ZON Lusomundo Almada Fórum: 5ª 6ª que já se disse de Shyamalan com o 00h15 Sábado 12h40, 15h40, 18h50, 21h50, 00h15 Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 15h20, 18h, o encanto (sim, é a palavra) de “Os Domingo 12h40, 15h40, 18h50, 21h50; Castello 21h40, 00h10; ZON Lusomundo Fórum Montijo: 5ª que agora se diz: “O Último Mercenários” joga-se todo na Lopes - Londres: Sala 1: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 14h, 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h40, 16h10, 18h40, Airbender” não é assim tão assunção dessa derivação, da 16h30, 19h, 21h30 6ª Sábado 14h, 16h30, 19h, 21h20, 23h55; diferente. Tudo isto sugere que a 21h30, 24h; Castello Lopes - Loures Shopping: Sala certeza de ter sido pensado de raiz 4: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 16h05, coisa funciona por ondas, e que como um filme de acção que existe 18h40, 21h25, 23h50; CinemaCity Alegro Porto: Arrábida 20: Sala 15: 5ª 6ª Sábado (muitos) críticos do mundo inteiro, Domingo 2ª 3ª 4ª 14h05, 16h30, 19h05, 21h40, fora do seu tempo, assinalado pela Alfragide: Sala 2: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 13h40, 15h50, pressionados pela “opinião” da 18h20, 21h40, 23h50 Sábado Domingo 11h30, 00h20; Vivacine - Maia: Sala 2: 5ª 6ª Sábado “décalage” do humor de velhos 13h40, 15h50, 18h20, 21h40, 23h50; CinemaCity Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 15h50, 18h20, 21h10, Internet, andam à procura do camaradas de guerra, pelo elenco de Beloura Shopping: Sala 2: 5ª 6ª Sábado Domingo 23h55; ZON Lusomundo Dolce Vita Porto: 5ª 6ª “Graal” contemporizador, o Sábado 2ª 3ª 4ª 13h30, 16h, 18h40, 21h20, 24h luxo de vedetas menores ou gastas 2ª 3ª 4ª 13h55, 16h05, 18h20, 21h30, fenómeno de massas que também 23h55; CinemaCity Campo Pequeno Praça de Domingo 11h, 13h30, 16h, 18h40, 21h20, 24h; ZON do cinema de acção da década de Touros: Sala 3: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 13h50, 16h10, Lusomundo Ferrara Plaza: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª mereça respeitabilidade crítica – 1980. “Os Mercenários” vive 18h20, 21h45, 24h (3D) Sábado Domingo 11h30, 15h30, 18h, 21h30 6ª Sábado 15h30, 18h, 21h30, ontem Shyamalan, hoje Nolan (que 24h; ZON Lusomundo GaiaShopping: 5ª 6ª exclusivamente da memória 13h50, 16h10, 18h20, 21h45, 24h (3D); Medeia Fonte se vá cuidando), amanhã outro Nova: Sala 1: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h35, 18h35, afectuosa de um cinema popular 14h20, 16h45, 19h15, 21h45; Medeia 21h30, 00h15; ZON Lusomundo MaiaShopping: 5ª “prodígio” qualquer (má notícia: que sempre foi olhado de esguelha, Monumental: Sala 4 - Cine Teatro: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 15h50, 18h30, 21h10 6ª Hitchcock nunca vai ressuscitar). Sábado 13h10, 15h50, 18h30, 21h10, 00h10; ZON com uma grandeza comovente de Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 15h35, 17h40, 19h45, Dito isto, “O Último Airbender” é um 21h50, 00h30 (3D); UCI Cinemas - El Corte Lusomundo Marshopping: 5ª 6ª Sábado Domingo dar a esta gente uma espécie de Inglés: Sala 9: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 14h15, 2ª 3ª 4ª 13h10, 15h40, 18h20, 21h20, 24h; ZON espectáculo chatíssimo, efeitos

46 • Sexta-feira 20 Agosto 2010 • Ípsilon aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente

A câmara de João Tuna deixa intacto o trabalho de encenação de Nuno Carinhas perversidade (formal ou de outra procuração. É algo de tão Teatro natureza), já que Lanthimos não tem radicalmente “fora de moda” que soluções para evitar a repetição, de chega a ser radicalmente novo enquadramentos e dos jogos (poder/ voltar atrás numa paisagem Beckett e as submissão) entre personagens. cinematográfica que determinou Recorde-se, por exemplo, a unilateralmente que já ninguém plasticidade de “Home”, de Ursula quer saber destas coisas. A segunda palavras Meier (outro filme em que uma é encontrar como actor, no papel sua família é mantida isolada do mundo) principal de um oficial dos serviços “Todos os que Falam” é um independência, num quadro no tratamento dos espaços, que secretos soviéticos que decide DVD metafórico mais amplo do qual tanto pareciam vir de Tati como do começar a passar informações para poderoso documento teatral ressalta uma reflexão sobre a Spielberg de “Encontros Imediatos o Ocidente, Emir Kusturica. que ultrapassa as fronteiras memória, a culpa, a imagem e a do Terceiro Grau”, ou no trabalho O grande sacerdote do caos do registo e dialoga com a aparência. O existencialismo com os actores, “reduzindo” Isabelle balcânico surge nos exactos encenação, legitimando-se representativo de Beckett Huppert, “vedeta”, a uma peça de antípodas da sua imagem de marca transforma os corpos, através das um organismo vivo e sem poses. truculenta, numa prestação sóbria e como objecto independente. palavras, em automatismos céleres, Quanto à componente ritualística surpreendentemente justa. Mas o Tiago Bartolomeu Costa elevando-os da sua condição terrena seria cruel falar de “Saló”, de que interessa a Christian Carion, e deixando-os a pairar sobre as Pasolini. É isso: escolar. ficcionalizando sobre um caso Todos os que Falam – quatro consequências de acções indizíveis e Vasco Câmara verídico ocorrido na Moscovo dos dramatículos de Samuel Beckett intangíveis. anos 1980 em que o informador Encenação de Nuno Carinhas; É a partir de uma inventariação de hipóteses figurativas que Nuno O Caso Farewell russo passava documentos através realização e montagem de João Carinhas desenha uma peça L’Affaire Farewell de um engenheiro francês apanhado Tuna na engrenagem, é encenar o teatro geometricamente clara, produzindo Edição Teatro Nacional S. João pontos de fuga para os corpos ou De Christian Carion, da espionagem não enquanto focando, através de um preciso com Emir Kusturica, Guillaume combate de ideologias mas como desenho de luz de Nuno Meira, Canet, Alexandra Maria Lara. M/12 uma espécie de jogo lúdico à volta mmmmn de coisas sérias, jogado por pais de auxiliado pela sonoplastia de Lisboa: UCI Cinemas - El Corte Inglés: Sala 10: 5ª família apanhados numa situação É sempre difícil estabelecer limites Francisco Leal, as interpretações de 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 14h10, 16h45, 19h20, 22h, entre os registos das peças, para Alexandra Gabriel, Emília Silvestre, 00h30 Domingo 11h30, 14h10, 16h45, 19h20, 22h, que os transcende e sem verdadeira 00h30 noção do que estão a fazer, arquivo e memória futura, e a sua Rosa Quiroga e João Cardoso. Porto: Arrábida 20: Sala 18: 5ª 6ª Sábado pretendendo apenas garantir uma objectualização concreta, através de João Tuna, nunca pretendendo Domingo 2ª 3ª 4ª 13h55, 16h30, 19h05, 21h45, vida melhor para os seus filhos. um documento que, por inevitável impor-se a um olhar cénico que, já 00h30 Carion não deixa de sublinhar a acção, intervenha também de si, encerra os actores em planos Mmmnn traço grosso a opção entre pequenas artisticamente sobre um detalhistas, deixa intacto o trabalho vítimas e poderosos imunes, num espectáculo. de Nuno Carinhas. Assim, nas duas final simultaneamente previsível e Ao longo da última década e meia, o melhores sequências – os A primeira singularidade de “O Caso desconcertante. Mas isso não afecta Teatro Nacional S. João (TNSJ) soube dramatículos “Um Fragmento de Farewell” é a aparência de filme de minimamente o prazer de ver um habitar, como poucos, esse território Monólogo” e “Não eu” –, os actores, espionagem tradicional, filme sólido, bem contado e ambíguo que é o filme teatral, à vez, são como que corpos sem documentos trocados para a frente interpretado, com um assinalável gerindo e equilibrando com eficácia corpo, apenas depósitos de e para trás em plena Guerra Fria, domínio do ritmo e da narrativa. os olhares dos encenadores com os memorias e ambições. No primeiro, conflito de super-potências por J.M. dos realizadores dos filmes. João Tuna duplica a imagem de João Descontinuada, como costuma Cardoso, foca-se no seu rosto, e em dizer-se, a colecção de espectáculos particular no seu olhar, assinalando filmados regressa agora em plena a caracterização que amplia a forma com “Todos os que Falam”, dramatização de um texto sinuoso. peça de 2006 assinada por Nuno Ecoam aqui os corpos que a Carinhas para uma coprodução coreógrafa Maguy Marin criou em Assédio, Ensemble e TNSJ, que junta “May B” (1981), também a partir de quatro “dramatículos” de Samuel Beckett. Corpos desagregados que, Beckett: “Ir e Vir” (1966), “Um pela força de uma contextualização Fragmento de Monólogo” (1982), cenográfica – e por isso artificial –, Baloiço” (1982) e “Não Eu” (1975). O encontram uma forma. documento é realizado e montado No caso de “Não eu”, é a boca de por João Tuna, que há anos vem Emília Silvestre que aparece colada à deixando o seu olhar detalhista e objectiva, num gesto de expressivo nos espectáculos aproximação que ao invés de ser produzidos pelo TNSJ. Este DVD invasivo, é inquiridor. E essa é a junta-se assim aos mais recentes característica mais importante deste “Turismo Infinito”, a partir de documento. As opções de João Tuna Fernando Pessoa, encenado por parecem perguntar coisas ao Ricardo Pais e filmado por Paulo espectáculo, em vez de o registar Américo, e “O Mercador de Veneza”, acriticamente. Através desse olhar, de Shakespeare, também encenado que encontra o seu espaço dentro de por Pais, mas filmado por Tiago uma cena negra e difusa, chega-nos Guedes. um espectáculo sem tempo, que se Em “Todos os que falam”, os quatro reformula a partir da sua estrutura momentos, bilhantemente ficcional e que permanece, por traduzidos por Paulo Eduardo efeito de uma aproximação selectiva Carvalho, num labor que lhe era e inteligente, como objecto característico mas que aqui parece independente. ter encontrado a forma justa de A estrela que falta vai para a legitimar o sempre complexo ausência de extras, não se dando trabalho de interpretação dos signos nova vida aos sempre completos e significados das palavras de programas do TNSJ, bem como às A velha cassete da manipulação, da perversão Beckett, não foram interligados fotografias de cena que João Tuna e do fascismo, do primeiro ao último plano cenicamente, vivendo, através da sabe fazer como poucos.

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