DATA CLIPPING 10.11.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 1 de 27

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Iris Helena

SUMÁRIO

A PRIMEIRA, MAS NÃO A ÚLTIMA – O Popular UMA LEI COMO DEVE SER – O Popular O IMPACTO EM 2022– O Popular TRUMP IMPEDE TRANSIÇÃO AO BLOQUEAR DADOS – O Popular UMA ILHA SEM REI – Folha de São Paulo O NEOCOLONIALISMO DIGITAL – Folha de São Paulo MUDANÇA DE VENTOS – Folha de São Paulo FACEBOOK E TWITTER USAM EXEMPLO DOS EUA E PREVEEM AVISOS PARA FAKE NEWS EM ELEIÇÃO NO BRASIL – Folha de São Paulo PF FEZ ALERTA SOBRE A POSSIBILIDADE DE NOVOS ATAQUES DE HACKERS CONTRA ÓRGÃOS PÚBLICOS, DIZ STJ – Folha de São Paulo GOVERNO E OPOSIÇÃO ATACAM MORO, HUCK E DORIA – Correio Braziliense MOURÃO: OU VICE OU SENADO – Correio Braziliense O FUTURO DO TRANSPORTE PÚBLICO DEPENDE DE NÓS – Correio Braziliense EMPREGADOS DEMITIDOS APÓS CONTRAÍREM COVID GANHAM DANO MORAL – Valor Econômico JUSTIÇA DETERMINA REITEGRAÇÃO DE PESSOA COM DEFICIÊNCIA – Valor Econômico EMPRESA FATURA NA CRISE E TERÁ QUE REVER RECUPERAÇÃO – Valor Econômico DESTAQUES – Valor Econômico TRIBUTAÇÃO INDEVIDA NA VENDA DE TERRAS – Valor Econômico DATA CLIPPING 10.11.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 2 de 27

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Iris Helena

JORNAL – O POPULAR – 10.11.2020 – PÁG.3

A primeira, mas não a última

Ana Carla Abrão

Estamos nos aproximando do final do ano. Um ano que será lembrado como um dos mais difíceis da nossa história. Pela pandemia da Covid-19, mas não só por ela. Muito além da tragédia de saúde pública que nos tirou mais de 160 mil vidas; do desemprego que atinge 13,8 milhões de brasileiros; das queimadas que devastaram nossas matas e o nosso pantanal; ou da crise fiscal que nos assola, estamos assistindo nosso país escurecer. À escalada da polarização política se juntaram a agressividade, a ausência de decoro e uma inédita inversão de valores, onde mais vale o falso e a verdade perde lugar. Embora travestidos de moralidade e da defesa dos bons costumes, emergiram o ódio e a intolerância. Vivemos tempos sombrios, de grandes retrocessos e de enormes ameaças às liberdades individuais e às instituições.

Liberdade equivale a poder escolher. Liberdade remete à existência de alternativas, de oportunidades. E são as instituições que devem fomentar a preservação desse espaço de escolhas, elaborando, promovendo e fazendo valer leis e normas que garantam que nenhum cidadão seja subjugado ou esteja restrito em suas possibilidades. Afinal, é o Estado – no sentido lato, o Executivo, o Legislativo e o Judiciário - o responsável, em todas as suas instâncias, pela formulação, execução e proteção de leis e regulações que dão forma à vida social, econômica e política das nações. E é por meio do adequado fornecimento de serviços públicos que ele protege a liberdade dos cidadãos e permite que oportunidades emerjam para todos – e não só para alguns. Não se é verdadeiramente livre na ausência de alternativas, de possibilidades. Não se é verdadeiramente livre sem um Estado provedor de garantias e de serviços de qualidade.

A construção desse Estado não é fácil. Ao contrário, ela se dá por meio de um caminho estreito. Corredor Estreito (Narrow Corridor: States, Societies, and the Fate of Liberty) é o título do livro que Daron Acemoglu e James. A. Robinson publicaram em 2019. Ali os dois economistas, também autores de Por que as Nações Fracassam (Why Nations Fail, 2012), ressaltam a importância para a liberdade - e consequentemente para o desenvolvimento econômico e social das nações - de se ter um Estado forte, mas desde que sempre confrontado por uma sociedade igualmente forte. É o equilíbrio entre Estado e sociedade que garante que trilhemos esse corredor que se espreme entre um Estado ausente e um Estado autocrático. É avançando nesse corredor que se promove a liberdade, evitando a opressão, a divisão da sociedade em castas, a captura das instituições por grupos de interesse, o avanço da corrupção e a fragmentação de poder, que abandona o interesse público em nome de ganhos particulares. E é a sociedade, por meio da mobilização dos cidadãos em defesa das liberdades, da imposição de limites a arroubos autocráticos e da resistência contra ações de captura que desviam o Estado das suas reais obrigações, a responsável por garantir que se avance no corredor e não se resvale para os extremos onde a liberdade, e portanto a prosperidade, deixam de existir.

No Brasil de hoje oscilamos entre um Estado excessivo, caro e opressor e o outro extremo, em que o Estado é ausente, capturado, onde imperam interesses particulares e a subjugação. Sobra um corredor cada vez mais estreito, ignorado pelas trilhas que oscilam entre o espaço de ausência, num Estado que perde força com o avanço das milícias ou com a fragmentação das forças políticas, e um Estado grande, consumidor, protetor DATA CLIPPING 10.11.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 3 de 27

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Iris Helena de poucos mas que deixa ao léu aqueles que mais precisam, alijando-os daquilo que poderiam ser escolhas, mas que estão cada dia mais distantes da realidade. Sim, entre o Leviatã despótico e o ausente, nosso corredor se esvai, reduzindo liberdades e nos afastando da prosperidade. As consequências desse pêndulo perverso estão aí. Estamos forjando um País cada vez mais pobre, mais desigual e, acima de tudo, mais injusto. Estamos eliminando liberdades pessoais, sociais e econômicas e gerando opressão.

Mas o caminho de reversão está aí e passa por todos nós e pelo exercício da democracia. Para voltar ao corredor estreito, serão a nossa indignação, a nossa mobilização e o nosso engajamento as únicas trilhas de retorno possíveis. Somos nós – essa sociedade, por definição difusa - os responsáveis por, ao fim e ao cabo, gerar as pressões necessárias por mudanças e por uma profunda transformação desse Estado que hoje oscila entre o ausente e o excessivo. Precisamos nos mobilizar para que ele mude e volte a proteger a liberdade, garantindo as justas oportunidades aos cidadãos brasileiros que poderão ser - parafraseando a mais inspiradora de todas as falas que tivemos a alegria do ouvir na festa democrática americana desta última semana, os primeiros a viver num país melhor, mas não os últimos.

Uma lei como deve ser

Por Marcio Andrade

No combate a práticas ilícitas, as melhores leis são aquelas que surgem a partir de um diálogo entre setores organizados da sociedade civil de um lado e, de outro, um Legislativo sério, atuante e consciente de seu papel. Foi exatamente esse o caso no processo de elaboração, discussão, aprovação e sanção, pelo governador Ronaldo Caiado, da Lei n° 20.893/20, que altera a Lei 19.749/2017.

Esse novo diploma legal pune mais severamente proprietários e/ou sócios de postos de combustíveis que adulterarem suas bombas e prevê cassação da licença de funcionamento, multa de R$ 15 mil a R$ 50 mil, além de impedimento de atuar na atividade por um período de cinco anos. Trata-se de um inegável avanço a um crime cujo combate é imprescindível.

É importante salientar, nesse ponto, que o pontapé inicial das discussões que levaram à sanção do projeto foi dado pelo próprio segmento de revenda de combustíveis, o qual procurou o Poder Legislativo goiano e chamou-lhe a atenção para a necessidade de endurecer a legislação estadual, uma vez que criminosos de outras unidades da federação migram para Goiás para dar continuidade a sua prática delitiva, diante da adoção de leis mais duras em seus locais de origem.

Imprescindível ressaltar que o texto original do projeto de lei previa cassação da licença apenas em caso de reincidência. Foi de iniciativa do segmento de revenda de combustíveis a sugestão pela cassação realizada imediatamente à condenação, sem necessidade de reincidência, sugestão prontamente atendida pelos legisladores por meio, sobretudo, do autor do PL, deputado Delegado Eduardo Prado.

Nossa percepção é a de que o indivíduo engajado nesse tipo de ilícito não pode ser considerado um revendedor, mas um infiltrado em nosso ramo de atividade, um verdadeiro criminoso, e contra ele devem ser arrojados duros instrumentos legais. Sua atividade, além de lesar o consumidor, afeta, por meio de concorrência desleal, os revendedores que atuam de maneira proba e séria. DATA CLIPPING 10.11.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 4 de 27

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Iris Helena

Por fim, cumpre-nos alertar à sociedade goiana sobre a necessidade de adoção de métodos tecnicamente apurados de fiscalização e investigação, pois a natureza desse crime é de grande sofisticação de métodos. A lei é um passo importante, mas deve ser dotada de todos os instrumentos cognitivos e tecnológicos para sua verdadeira efetivação.

JORNAL – O POPULAR – 10.11.2020 – PÁG.7

O impacto em 2022

Eliane Cantanhêde

"Bolsonaro, não é mais novidade, sofre o desgaste do poder e não tem o que mostrar. As “qualidades” eram falsos brilhantes, os defeitos se tornam mais e mais evidentes”

Derrota de Donald Trump nos Estados Unidos, fragilidade do presidente nas eleições municipais e total falta de estratégia para enfrentar a crise econômica e social. É nesse ambiente que viceja a articulação de uma chapa alternativa de centro para 2022, com participação de Luciano Huck, João Doria, Rodrigo Maia, Luiz Henrique Mandetta e agora Sérgio Moro, além de Fernando Henrique Cardoso. O cerco vai se fechando contra Bolsonaro.

Mais à centro-direita do que propriamente ao centro, a ambição é atrair a direita moderna, que votou em Bolsonaro, mas agora só pensa em se descolar dele, e a parcela da esquerda que cansou da hegemonia e dos erros do PT, mas tem como prioridade livrar o País de Bolsonaro. Os ventos favoráveis vêm de fora, com a eleição de Joe Biden e Kamala Harris, e de dentro, com as eleições municipais e as investigações sobre rachadinhas no Rio

Como sempre, Bolsonaro vai na contramão do mundo democrático e se recusa a cumprimentar o vitorioso nos EUA, até mesmo a explicar porque não, o que só piora as perspectivas para a relação com o novo governo. Tão negacionista quanto Trump na pandemia, ele também nega os votos e a realidade, como ele. Bolsonaro acha que Trump venceu? Foi tudo fraude?

Assim, ele repete a campanha de 2018 só na forma, animando claques com muita antecedência pelo País afora, mas vai ter que inventar um novo conteúdo. O de dois anos atrás caducou: “nova política”, combate à corrupção, apoio à Lava Jato, reformas e carta branca para o “Posto Ipiranga”, caneladas no mundo árabe e alinhamento automático com os EUA de Trump.

No governo, ele mergulhou no Centrão, derrubou Moro, botou a mão em PF, Coaf e Receita, abandonou as reformas tributária e administrativa, tirou gás de e agora fica sem Trump - e sem política externa. É bem mais complicado dar caneladas na China. Sem falar da pandemia...

Logo, Bolsonaro precisa, para se reeleger, muito mais do que fazer piadas de profundo mau gosto com Guaraná Jesus, assim como precisa mais do que Celso Russomanno em São Paulo e Marcelo Crivella no Rio para escapar da derrota no próximo domingo. Dificilmente a onda bolsonarista de 2018 se mantém agora e em 2022. O PSL foi um meteoro e passou. DATA CLIPPING 10.11.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 5 de 27

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Iris Helena

O quadro que se desenha também é outro. Pela esquerda, o ex-presidente Lula, sem viço e sem discurso, já não é o mesmo. E as eleições municipais são um bom presságio do que vem pela frente, com o PT perdendo espaço para PSOL, PDT e PSB, pela ordem, em São Paulo, Rio e Recife e projetando que em 2022 é cada um por si, ou todos por um - que não será o PT.

Pela direita, Bolsonaro reina sozinho, agarrado ao mesmo Centrão que não deu para o gasto com o tucano Geraldo Alckmin em 2018. Mas ele, Bolsonaro, não é mais novidade, sofre o desgaste do poder e não tem o que mostrar. As “qualidades” eram falsos brilhantes, os defeitos se tornam mais e mais evidentes.

Há, portanto, um cenário que favorece o centro conhecido, confiável, que não dará cambalhotas, com surpresas e choques. Os articuladores de uma chapa alternativa vêm insegurança por toda parte - na economia, na política, no meio ambiente, na política externa... - e chegaram a uma conclusão: a palavra de ordem de 2022 será estabilidade.

Reunir tanta gente, com tantos interesses e divergências ideológicas, porém, não será fácil. Rodrigo Maia se opõe à integração de Moro, que tenta incluir até o general Hamilton Mourão, rifado da chapa de Bolsonaro. De concreto, portanto, só é possível dizer que a derrota de Trump é um forte baque no bolsonarismo e terá impacto na eleição presidencial de 2022. Além de reinventar seu governo, Bolsonaro vai ter de se reinventar. Alguém acredita que seja capaz?

JORNAL – O POPULAR – 10.11.2020 – PÁG.8

Trump impede transição ao bloquear dados

Republicano negou informações e recursos para a equipe do presidente eleito Joe Biden

O governo Donald Trump bloqueou o acesso da equipe do presidente eleito, Joe Biden, a informações e recursos para que seja iniciada a transição de poder nos EUA.

O time de Trump se recusa a assinar, como é de praxe, uma carta oficial que permite ao democrata iniciar formalmente a transição após ter sido declarado vencedor da disputa presidencial.

O movimento é mais um exemplo de como o republicano usa o governo para atender a seus interesses, já que a chancela seria um reconhecimento da vitória do democrata, o que Trump se recusa a fazer.

Nos EUA, assim que um novo presidente é eleito, a Administração de Serviços Gerais (GSA, na sigla em inglês) autoriza de maneira formal o início da transição. A agência assina uma carta que libera recursos para pagamento de salários e apoio administrativo aos novos funcionários, além do acesso à burocracia americana - neste ano, o valor total é estimado em US$ 9,9 milhões (R$ 52,97 milhões). DATA CLIPPING 10.11.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 6 de 27

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Iris Helena

O processo funciona assim desde 1963, quando a Lei de Transição Presidencial foi promulgada e, até agora, começava sempre horas ou dias depois de um novo presidente ser declarado eleito.

Em 2016, Barack Obama, por exemplo, concedeu rapidamente a transição a Trump e, inclusive, recebeu o republicano na Casa Branca após o resultado da eleição que o declarou vencedor sobre Hillary Clinton.

A equipe de Biden já recebeu autorização para estabelecer um escritório de transição na sede do Departamento de Comércio, em Washington, mas todos os outros acessos e recursos para iniciar formalmente o trabalho dependem da carta assinada pela GSA.

Primeira vez

Caso o impasse se prolongue por mais tempo, esta seria a primeira vez que uma transição sofre esse tipo de atraso na história moderna dos EUA, com exceção a 2000, quando a disputa entre George W. Bush e Al Gore foi decidida na Suprema Corte, que interrompeu a recontagem de votos na Flórida. A checagem das cédulas atrasou os resultados e, portanto, a transição.

A equipe de transição é geralmente composta por quadros técnicos, e não políticos, e pode ter acesso, inclusive, a informações confidenciais do governo incumbente. Dessa forma, a nova equipe ganha acesso aos prédios do governo, aos sistemas de computador, endereço de e-mail e já começa a trabalhar com o time em exercício, que transmite prioridades, projetos e riscos de cada agência oficial americana.

A equipe de Biden pressiona para que a GSA reconheça rapidamente o democrata como presidente eleito e inicie os trâmites formais. Apesar dos entraves, Biden correu para ocupar o espaço político e anunciou, ainda em seu primeiro discurso como presidente eleito, no sábado (7), que iria lançar uma força-tarefa nesta segunda (9) para o combate da pandemia de coronavírus.

Durante a campanha, o democrata disse que queria começar a trabalhar no dia 1, e essa dificuldade inicial no período de transição, sem acesso a informações importantes do governo, além de ser simbólica, pode ter efeitos práticos, atrapalhando os planos do democrata.

Ainda assim, Biden tem sido aconselhado por assessores a seguir com o processo normalmente, anunciando os nomes e as prioridades de sua equipe de transição. A nomeação de seu secretariado, porém, pode ser prejudicada caso Trump continue esticando a corda.

Diferentemente do que acontece no Brasil, onde o presidente tem o poder de escolher seus ministros livremente, nos EUA a indicação para o gabinete precisa ser aprovada pelo Senado. A transição poderia adiantar a verificação de antecedentes, por exemplo, uma exigência do FBI, sobre nomes que Biden cogita para o primeiro escalão.

Trump não reconheceu a derrota e insiste, sem apresentar provas, que a eleição foi fraudada. Apesar da pressão que tem sofrido por parte de aliados e familiares para mudar de postura, pretende seguir dificultando a transferência do cargo - e promete novas ações judiciais para contestar a eleição.

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Iris Helena

JORNAL – FOLHA DE SÃO PAULO – 10.11.2020 – PÁG.A2

Uma ilha sem rei

Ideias de Bolsonaro para Fernando de Noronha ameaçam integridade do arquipélago

Trecho do arquipélago de Fernando de Noronha (PE) - ICMBio

Jair Bolsonaro já deu provas cabais de não entender o conceito de presidir uma república, em vez de um reino. Irrita-se ao constatar que seu poder conhece as limitações da lei e que não existe para realizar seus caprichos, como se percebe no caso de Fernando de Noronha.

O arquipélago oceânico de 21 ilhas e 17 km² é uma mania do presidente. Em sua última transmissão às quintas-feiras em rede social, voltou a invectivar contra a taxa federal de R$ 111 (R$ 222, no caso de estrangeiros) para visitar o Parque Nacional Marinho e a multiplicar equívocos sobre um alegado desestímulo ao turismo.

Bolsonaro cismou agora de federalizar Noronha: “Parece que virou uma ilha de amigos, amigos do rei, e o rei não sou eu”, lamuriou o governante que, ainda deputado federal, foi multado por pescar na Estação Ecológica de Tamoios, em Angra dos Reis (RJ).

Já presidente, conseguiu reverter a autuação, de modo imperial. Passou então a perseguir medidas de proteção marinha do ICMBio (agência responsável pelas unidades de conservação federal), com a conivência do ministro do Meio Ambiente, . Com a eleição de Joe Biden nos Estados Unidos, aliás, a permanência do ministro no cargo passa a ser um embaraço internacional.

A ignorância do capitão sobre o arquipélago tem amplitude oceânica. Abomina a taxa do ICMBio, mas seu governo já a reajustou. O fluxo de turistas tem aumentado, apesar dela, e não diminuído; beira a capacidade máxima de 108 mil visitantes anuais fixada em norma federal (foram 106 mil em 2019).

Bem mais onerosa é a taxa de preservação ambiental de Pernambuco, de R$ 73,95 por um dia, podendo chegar a R$ 5.355,45 pelo máximo de 30 dias. O estado aplica recursos na infraestrutura de saneamento, saúde e transportes da ilha.

Noronha tem origem vulcânica, uma montanha rochosa que se ergue do fundo do oceano. Não conta com fontes de água além da chuva incidente. Tal condição impõe óbvios limites à visitação, assim como a fragilidade de hábitats como recifes e piscinas naturais —noções estranhas, porém, à mentalidade antiambiental de Bolsonaro.

O presidente parece enxergar o turismo do ponto de vista exclusivo do usufruto individual, sem ponderar o impacto coletivo da visitação. Uma eventual sobrecarga ameaçaria não apenas as belezas naturais e a fauna marinha, mas, com estas, o próprio turismo que o presidente deseja incrementar. DATA CLIPPING 10.11.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 8 de 27

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Iris Helena

Bolsonaro deveria aprender algo com as tradições mais civilizadas dos EUA, onde se firmou o modelo bem- sucedido de parques nacionais restritos e rentáveis.

JORNAL – FOLHA DE SÃO PAULO – 10.11.2020 – PÁG.A3

O neocolonialismo digital

É preciso impor responsabilidades às empresas e exigir regras de transparência

Mario D'Andrea

Publicitário e presidente da Abap (Associação Brasileira de Agências de Publicidade)

Todos nós aprendemos e lemos muito sobre o colonialismo da época dos descobrimentos, especialmente na América Latina. No caso do Brasil, o colonialismo levou do país milhares de toneladas de ouro e muito suor (e sangue) dos brasileiros. A violência, o racismo, a tomada de terra —tudo sempre seguia uma lógica própria do dominador. Essa apropriação de recursos alheios se repetiu durante toda a história da humanidade.

A partir do século 19, a industrialização do continente europeu marcou um intenso processo de expansão econômica. O crescimento dos parques industriais levou as grandes potências econômicas a controlar e explorar regiões e países na África, Ásia e Oceania. Essa segunda onda colonialista procurava mão de obra e matéria-prima baratas.

O publicitário Mario D'Andrea, presidente da Abap (Associação Brasileira de Agências de Publicidade) - Zanone Fraissat - 9.ago.18/Folhapress

Hoje, temos claramente uma nova onda de exploração. A procura, agora, é pelos dados. Dados sobre você, sobre mim, sobre todos nós. O recurso mais precioso hoje somos nós, pessoas —e nossos hábitos, nosso jeito de pensar e agir.

Por meio do ambiente digital, empresas e plataformas procuram prever cada ato, cada gesto —e ganhar o máximo de receita com isso, com o menor custo. Segundo palavras do professor Nick Couldry, da London School of Economics & Political Science, é um modelo de negócio no qual “precisamos estar conectados porque isso significará que a publicidade pode se tornar mais pessoal... Eles sabem o que queremos”.

É o neocolonialismo digital.

Para ampliar cada vez mais esse negócio, as empresas de tecnologia se utilizam de regras e ideologias próprias —assim como no colonialismo histórico. Ninguém sabe exatamente o que acontece dentro das plataformas, ninguém as regula. DATA CLIPPING 10.11.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 9 de 27

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Iris Helena

Antes de mais nada, deixemos algo muito claro: liberdade de expressão é uma coisa (sagrada, por sinal); liberdade total na comercialização de espaço é outra. Se alguém coloca dinheiro por trás de uma mensagem e outro alguém ganha dinheiro com isso, essa operação tem que seguir normas claras —como qualquer outra atividade. Não apenas normas comerciais, mas normas éticas e de conduta.

Infelizmente, não é o que vemos hoje em boa parte da publicidade digital. As grandes plataformas não se reconhecem como veículos de comunicação, por isso não seguem as leis do mercado de veículos nem de publicidade. Apesar disso, essas mesmas plataformas ganham por meio da publicidade a quase totalidade de suas receitas, como apontam seus próprios balanços. Em outras palavras: tenho corpo de cavalo, relincho feito cavalo, corro como cavalo, mas não quero ser chamado de equino. É a filosofia do bônus máximo com ônus mínimo. Exatamente como faziam os colonialistas.

É preciso lembrar a todos que existe o Código de Defesa do Consumidor, existe o Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) e várias leis federais que regulamentam a atividade publicitária.

Muitos alegam que não há como regular o mundo digital, que é uma nova ordem econômica. Façamos uma comparação: quando o homem passou a dominar e transmitir a eletricidade, uma nova sociedade surgiu. Novos hábitos, novos meios de produção, uma total revolução econômica. No princípio, governos e sociedade não sabiam como controlar a nova dinâmica. Hoje, a geração de eletricidade é uma das áreas mais regulamentadas que existem —para o bem da própria atividade.

Cabe à sociedade, através de seus representantes e do governo, discutir e criar limites ao gigantismo digital e a esse novo colonialismo.

O economista Milton Friedman dizia que empresas existiam apenas para criar riqueza para os donos ou sócios. No mundo moderno, isso não é mais aceito. Empresas são indissociáveis da sociedade. Empresas não podem ser mais importantes do que países.

Como fazer isso? Relativamente simples. Na sua famosa carta aos clientes, Larry Fink, presidente da BlackRock (maior gestora de ativos em todo mundo), escreveu em letras capitais: “Capitalismo Responsável e Transparente”. Impor responsabilidades com o país e com o mercado e exigir regras de transparência é o que se espera.

Existe uma única atividade que foge de qualquer responsabilidade e não é nada transparente: o tráfico de drogas. Com certeza, as plataformas e seus milhares de grandes profissionais não querem estar ao lado dessa triste companhia.

DATA CLIPPING 10.11.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 10 de 27

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Iris Helena

Mudança de ventos

Que soprem, também, em direção às cidades brasileiras no próximo domingo

Hebe Mattos

Professora titular livre do Departamento de História da Universidade Federal de Juiz de Fora (MG), é uma das organizadoras do livro ‘Historiadores Pela Democracia’ (ed. Alameda)

A presença escancarada do fascismo ainda assusta, mas ventos democráticos voltam a soprar nas Américas. Sopraram com força de vendaval, na Bolívia, com a surpreendente e indiscutível vitória de Luis Arce e do MAS de Evo Morales, derrotando nas urnas um golpe clássico latino-americano. E ainda no Chile, com a derrubada histórica da Constituição pinochetista e a convocação inédita de uma Assembleia Constituinte exclusiva e com paridade de gênero, levando uma bem conhecida integrante da velha elite do país a falar em “invasão alienígena”.

Sopram também vindos do Norte, com a eletrizante vitória de Joe Biden e Kamala Harris nos Estados Unidos. A onda reacionária manteve-se forte naquele país, mas perdeu a eleição presidencial. De lavada no voto popular e em uma virada carregada de simbolismo no Colégio Eleitoral, sobretudo na Geórgia, um estado historicamente marcado pela supressão do voto negro.

Já há algum tempo os ventos democráticos sopram também em terras brasileiras. Sopram a favor dos já não tão novos atores políticos emergentes, negros, mulheres, indígenas, populações periféricas e movimentos LGBTQI+, empenhados em implodir nossa velha lógica machista e colonial.

Abri o ano com um artigo nesta Folha (“A década e suas viradas”, 1º.jan.20) enfatizando, em pequeno balanço do país na década que se encerrava (2010-2019), a conquista e o reconhecimento legal de direitos coletivos no período: entre outros, o Estatuto da Igualdade Racial, os direitos trabalhistas para o serviço doméstico, o reconhecimento do casamento homoafetivo e a constitucionalidade da autoidentificação quilombola.

A vitória eleitoral da extrema direita nas eleições de 2018, expressão brasileira da onda reacionária mundial em aliança de ocasião com o neoliberalismo local, só se tornou possível como subproduto de uma cultura política golpista e elitista, de larga tradição no país, que produziu o questionamento do resultado da eleição de 2014 e o açodamento claramente político da prisão de Lula.

No pandêmico 2020, porém, muitos dos responsáveis pelo nosso triste cenário político, assustados com o programa da extrema direita vitoriosa, começaram a recuar.

Nesse meio-tempo, o centrão pode ou não ter finalmente controlado o autoritarismo de Bolsonaro, e o neoliberalismo pode ou não ter finalmente aprendido a respeitar a vontade das urnas, enquanto espera DATA CLIPPING 10.11.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 11 de 27

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Iris Helena

“mansamente” a próxima crise, mas ventos antirracistas e antipatriarcais certamente continuaram a soprar, mesmo sob ameaça.

O neofascismo existe e continua a demonstrar preocupante força eleitoral, mas as conquistas de direitos também possuem lastro popular —dificilmente sofrerão retrocesso de monta em um contexto institucional minimamente democrático.

Maiorias eventuais vão e vêm. Nas democracias vence quem tem mais voto. Foi a força do voto que tornou possível à Bolívia retornar à democracia, ao Chile finalmente enterrar a ordem pinochetista e aos EUA sobreviver ao pesadelo Trump. Só essa força pode nos fazer superar nosso pesadelo particular.

Que bons ventos soprem forte nas cidades brasileiras no próximo domingo (15). Às urnas.

JORNAL – FOLHA DE SÃO PAULO – 10.11.2020 – PÁG.A10

Facebook e Twitter usam exemplo dos EUA e preveem avisos para fake news em eleição no Brasil

Redes pretendem rotular conteúdos que indiquem vitória falsa de candidatos, como fizeram com Trump

Paula Soprana

Antes de discursar na TV dos EUA por 15 minutos sobre fraude eleitoral sem apresentar evidências, o presidente Donald Trump já acumulava uma série de publicações contestadas ou rotuladas como duvidosas no Twitter. No Facebook, uma página com 365 mil americanos apoiadores do republicano foi derrubada por espalhar mentiras.

Todas as publicações tinham em comum o objetivo de difundir desconfiança no processo eleitoral pelo correio à medida em que a derrota para o democrata Joe Biden ficava mais evidente.

As duas redes sociais têm abordagens distintas, mas, no geral, devem aplicar as mesmas regras em posts compartilhados por candidatos brasileiros ou publicados por apoiadores que tentem minar o processo cívico ou incitem eleitores a interferir nos locais de votação das eleições municipais deste domingo (15).

Imagem mostra tuíte de Donald Trump sendo contesado pelo Twitter; rede social marcfou 13 publicações do republicano como potencialmente equivocadas - Robyn Beck/AFP

O Facebook diz que vai ter um centro de operações dedicado apenas às eleições nos dias anteriores ao pleito brasileiro.

O objetivo é acelerar o tempo de resposta a conteúdos que possam representar ameaça. O mesmo centro focará atenção em conteúdos do Instagram e do WhatsApp, que pertencem ao grupo econômico Facebook. DATA CLIPPING 10.11.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 12 de 27

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Iris Helena

No Brasil, a empresa trabalha em parceria com agências de checagens de fatos e afirma que já removeu conteúdos que desestimulam os eleitores a votar –mas não abre quantos banimentos foram feitos.

O programa de checagem do Facebook não se aplica a posts originais de políticos e candidatos, a não ser que eles compartilhem conteúdo de outra página já marcados como falsos pelos verificadores.

Segundo a empresa, especialistas de diversas equipes nacionais e do exterior estarão reunidos online para acompanhar em tempo real potenciais violações de políticas das três plataformas.

No WhatsApp, é preciso lembrar que mensagens não serão rotuladas como potencialmente falsas porque o sistema usa criptografia de ponta a ponta e o aplicativo não é considerado pela empresa uma rede social.

O Twitter, que ofereceu contexto de fontes oficiais e marcou 13 publicações de Trump como “contestáveis” ou com possíveis “informações incorretas” nos últimos dois dias, diz que alterou recentemente sua política de integridade cívica e que ela é global.

A rede pode colocar avisos ou “remover informações falsas ou enganosas que tenham como intuito minar a confiança do público em uma eleição ou outro processo cívico” nas eleições brasileiras.

Tuítes com veracidade contestada ficam mais restritos à interação com o público. Nesses casos, as pessoas precisam clicar em um alerta para visualizar a publicação e só podem retuitá-la com comentário.

Curtidas, retuítes simples e respostas ficam desabilitados, e os posts enganosos passam a ter alcance reduzido, ou seja, o algoritmo da plataforma faz com a frequência de sua visualização diminua drasticamente para as pessoas.

Foi o que aconteceu com uma enxurrada de tuítes de Trump na terça-feira (3) da semana passada.

Em um deles, o republicano afirma que "facilmente ganharia a presidência dos Estados Unidos com votos legais"; em outro vídeo, atualiza os americanos "sobre seu esforço para proteger a integridade da importante eleição de 2020". "Se você contar os votos legais, eu facilmente ganho", diz.

Em publicações enganosas do tipo, o Twitter exibe a seguinte mensagem: "alguns ou todos os conteúdos compartilhados neste tuíte são contestáveis e podem ter informações incorretas sobre como participar de uma eleição ou de outro processo cívico".

A plataforma não remove o conteúdo de autoridades por julgar que é de interesse público que fiquem visíveis, mas limita a capacidade de ela ser visualizada e utilizada por usuários.

Já o Facebook anexou uma explicação em todas as publicações de Trump e de Biden para dar mais contexto ao leitor. Ao clicar no alerta, o usuário é direcionado a uma página com o status da votação e com notícias e análises de veículos jornalísticos.

Em um vídeo da Fox News em que Trump afirma "eles não querem que os EUA tenham observadores", o Facebook incluiu um alerta que replicou em alguns outros conteúdos do perfil do presidente: "como DATA CLIPPING 10.11.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 13 de 27

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Iris Helena esperado, os resultados das eleições demoraram mais neste ano. Milhões de pessoas nos Estados Unidos votaram pelo correio, e as cédulas pelo correio demoram mais para contar."

No Brasil, a empresa afirma que não fará o mesmo nos posts de todos os candidatos, apenas rotulando os que tiverem conteúdo falso em seus perfis. Um filtro cinza será colocado em cima da publicação com o aviso de que o conteúdo não é verdadeiro e que foi checado por verificadores independentes.

Para tentar conter a desinformação em 2020, todas as redes sociais firmaram uma parceria com TSE, que prevê, basicamente, um canal direto de informações para lidar com o tema e a priorização de conteúdo oficiais do tribunal sobre eleições.

O WhatsApp passou a enviar, por meio de relatórios preenchidos por usuários, potenciais casos de disparo em massa ao tribunal. Das 1.020 acusações nestas eleições, o aplicativo diz que removeu 256 contas que praticavam disparo.

Já o YouTube afirma que pode retirar conteúdos "que tenham o objetivo de enganar as pessoas sobre eleições ou vídeos contendo manipulação técnica e alterações que confundam o usuário (além de trechos exibidos fora do contexto), capazes de causar prejuízos evidentes".

A plataforma de vídeos do Google também pode eliminar conteúdos que contenham informações hackeadas que possam interferir no processo democrático. "Vídeos com informações hackeadas sobre um candidato político, compartilhados com o objetivo de interferir na eleição", exemplifica sua política.

As diretrizes das plataformas sobre conteúdo político têm foco no rito eleitoral, ou seja, elas devem derrubar apenas posts com notícias falsas sobre urnas, locais e data de votação e procedimentos sanitários relativos à Covid-19. As empresas incentivam que usuários ajudem a denunciar conteúdos.

Como mostrou estudo recém-publicado do Intervozes, as principais plataformas não têm uma política estruturada dedicada especificamente à desinformação. O tema aparece, de modo geral, de maneira esparsa em outras diretrizes de uso, como as que banem discurso de ódio, por exemplo.

Publicações gerais que infringirem outras políticas da plataforma, como as que proíbem incitação à violência, assédio ou crimes de racismo, por exemplo, e forem denunciadas por usuários, também podem ser bloqueadas ou terem acesso reduzido, como ocorre em qualquer período.

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Iris Helena

JORNAL – FOLHA DE SÃO PAULO – 10.11.2020 – PÁG.A16

PF fez alerta sobre a possibilidade de novos ataques de hackers contra órgãos públicos, diz STJ

Fux, presidente do STF anunciou nesta segunda (9) a criação de um comitê cibernético de proteção à Justiça digital

Marcelo Rocha Matheus Teixeira Brasília

O STJ (Superior Tribunal de Justiça) informou nesta segunda-feira (9) que recebeu da Polícia Federal um alerta sobre a possibilidade de novos ataques cibernéticos contra instituições públicas brasileiras.

Diante do alerta, o tribunal divulgou em comunicado que mantém toda a cautela para evitar novas investidas de hackers contra a corte.

Entre as providências adotadas, o STJ informou que ministros, servidores, funcionários terceirizados e estagiários estão trocando as senhas para reforçar a segurança das identidades de acesso a sistemas, incluindo a dupla autenticação. Fachada da sede do STJ, em Brasília - Alan Marques - 24.nov.2010/Folhapress

Também nesta segunda, o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Luiz Fux, anunciou a criação de um “comitê cibernético de proteção à Justiça digital”. Fux afirmou afirmou que o ataque hacker ao STJ trouxe uma “preocupação” para o Judiciário.

O ministro disse que a ideia é instituir esse órgão vinculado ao CNJ (Conselho Nacional de Justiça), que é responsável por orientar administrativamente os tribunais de todo o país. Segundo ele, o comitê servirá para evitar que o país sofra "mais uma vez uma lesão no nosso sistema de processo como ocorreu no final de semana"’. [ x ]

Sistemas do STJ, segundo tribunal mais importante do país, saíram do ar no dia 3, uma terça-feira, no momento em que as turmas da corte realizavam as tradicionais sessões de julgamento. O tribunal foi alvo de um ataque hacker.

As atividades da corte foram interrompidas e os prazos processuais estão suspensos até que o trabalho seja retomado regularmente. Apenas o presidente da corte, ministro Humberto Martins, atuou em regime de plantão.

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Iris Helena

O tribunal informou nesta segunda que “o restabelecimento dos sistemas de informática está em andamento e que houve progressos”.

O Sistema Justiça e o Sistema Justiça Web, fundamentais para a retomada dos julgamentos por reunirem as informações processuais, foram restaurados, segundo o tribunal.

Para os servidores que estão em teletrabalho ou para o público externo, no entanto, o sistema ainda apresenta algumas falhas de estabilidade, apurou a Folha.

A área de informática do STJ tem repassado aos gabinetes dos ministros informações de que nos próximos dias eventuais instabilidades serão corrigidas.

Os técnicos trabalham também no restabelecimento de sistemas voltados para o funcionamento administrativo do STJ. Esses sistemas serão retomados de forma gradual.

O calendário de sessões do STJ está mantido, e as sessões de julgamento dos colegiados poderão ser realizadas a critério dos presidentes das turmas e seções. 1 1 Hackers: invasões cibernéticas famosas na história O tribunal informou que recuperou todas as informações armazenadas no sistema interno da corte, que reúne dados relativos ao acervo de cerca de 255 mil processos judiciais. Uma das cópias de segurança mantidas pelo STJ não sofreu danos com o ataque cibernético.

Na palestra deste segunda promovida pelo CNJ, o ministro Luiz Fux disse que o conselho dará suporte a todos os tribunais do país para evitar novas invasões digitais.

O ministro disse que firmará parcerias com todas as entidades especializadas na área que auxiliaram o STJ a recuperar seu sistema.

O STJ encaminhou dados levantados pela equipe de TI (tecnologia da informação) do tribunal ao Comando de Defesa Cibernética do Exército brasileiro, que colabora nos trabalhos de restauração dos sistemas de informática

A Polícia Federal prossegue nas investigações e busca desvendar a autoria e dimensionar os danos causados pelo ataque cibernético à rede do tribunal. A investigação do crime segue em inquérito sigiloso.

Os peritos federais avaliam a extensão do acesso que o hacker teve aos arquivos, muitos deles processos sigilosos, e se o criminoso baixou cópia de dados.

Um perito da PF consultado pela Folha afirmou que as primeiras informações sobre o caso no STJ apontam para uma técnica simples, conhecida como phishing. Uma isca é enviada, normalmente por email, e, uma vez acionada, despeja o vírus no sistema.

O vírus criptografa as informações e, para que sejam acessadas novamente, é preciso usar a chave que está em poder do hacker. Quebrar o código é uma tarefa considerada pelos especialistas como impossível. DATA CLIPPING 10.11.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 16 de 27

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Na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou em sua live em rede social que a PF tem um suspeito. Bolsonaro disse que a informação foi repassada a ele pelo diretor-geral da corporação.

"A Polícia Federal entrou em ação imediatamente. Tive a informação do diretor-geral, o senhor Alexandre Rolando, e ele já foi elogiado pelo presidente do STJ no que conseguiu até agora. Já descobriram que é o hackeador. Pô, o cara hackeou e não conseguiu ficar duas horas escondido".

Bolsonaro deu risadas na live ao comentar o caso. "Alguém entrou lá no acervo do STJ, pegou tudo, pegou todo arquivo, guardou e pediu resgate. É o Brasil, né?", disse.

Um policial que acompanha o caso disse à Folha que foram identificados indícios de autoria, e que o trabalho prossegue para confirmar as suspeitas. Foram identificados vestígios do ataque em um servidor da Europa.

Após o ataque ao STJ, a assessoria do STF informou que a corte não identificou nenhuma invasão, mas informou que decidiu "enrijecer os protocolos de segurança" do tribunal.

O TSE (Tribunal Superior Eleitoral), por sua vez, informou que "foram intensificados todos os procedimentos de segurança nos sistemas internos".

JORNAL – CORREIO BRAZILIENSE – 10.11.2020 – PÁG.ON-LINE

Governo e oposição atacam Moro, Huck e Doria

O movimento do trio para entrar na corrida presidencial de 2022 como alternativa de centro gerou incômodo na gestão de Bolsonaro, que pretende buscar a reeleição, e reações no meio político. Apresentador encontra- se com Rodrigo Maia, crítico do ex-juiz da Lava-Jato

Renato Souza

Moro e Huck, em 2017: o encontro entre o ex-ministro da Justiça e o apresentador estava sendo planejado havia meses. O comunicador aparece como principal opção para vice (Antonio Cruz/Agência Brasil - 19/4/17 )

A possibilidade de uma chapa formada pelo ex- ministro da Justiça Sergio Moro e pelo apresentador Luciano Huck causou alvoroço no governo e no meio político nacional. A dois anos das eleições presidenciais, os dois deram a largada para a corrida ao Planalto, num encontro em Curitiba. O ex-juiz da Lava-Jato também se articula com outros possíveis DATA CLIPPING 10.11.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 17 de 27

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Iris Helena apoiadores, como Luiz Henrique Mandetta (DEM), ex-ministro da Saúde, e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB). Até mesmo o vice-presidente Hamilton Mourão aparece nas pretensões do ex-magistrado.

O encontro entre Moro e Huck estava sendo planejado havia meses e ocorreu no mês passado. O apresentador de tevê aparece como principal opção para vice em uma chapa, em razão do poder de influência e do nível de engajamento político que vem ganhando desde 2018, quando pensou em se lançar à presidência. A intenção do ex-ministro da Justiça do governo é criar uma alternativa de centro ao presidente Jair Bolsonaro, representante da direita, e à esquerda, conduzida pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus apoiadores.

As negociações seguem a pleno vapor e, ontem, Huck almoçou com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Nem o comunicador nem Sergio Moro têm disputas de cargos eletivos no currículo. O deputado seria uma peça-chave para ampliar a articulação e conseguir apoio no Congresso e nos estados. No Planalto, os olhares se voltam para integrantes do governo que podem mudar de lado nos próximos meses e passar a apoiar Moro, que ainda conta com a simpatia de muitos integrantes do Executivo.

O incômodo com a provável chapa ficou visível no governo. O ministro das Comunicações, Fábio Faria, usou o Twitter para se manifestar sobre a eventual parceria. “Não basta trair no governo, trair na saída, tem de continuar flertando com a traição. É um triplo mortal carpado”, escreveu. Por ora, no entanto, a recomendação é que os integrantes do Executivo evitem se pronunciar sobre o assunto, para não dar mais projeção ao ex-ministro.

Representantes da esquerda também comentaram o tema. O ex-ministro Ciro Gomes (PDT) disparou contra Moro. “A fraude que campeia no Brasil não cede espaço. No dia em que Doria, Huck e Moro forem de centro, eu sou de ultra-esquerda, o que eu nunca fui”, afirmou, em um evento de campanha, num galpão na zona oeste de São Paulo. Ele disse, ainda, que o bolsonarismo e o PT vêm perdendo força e isso deve ficar evidenciado nas eleições municipais deste ano. “Está muito cedo ainda, falta uma semana, mas parece que o bolsonarismo boçal e o lulopetismo corrompido vão levar uma grande surra no Brasil inteiro a preço de hoje”, ressaltou. “Isso quer dizer que o eleitorado brasileiro, em sua esmagadora maioria, como segunda razão do seu voto, está banindo esses dois extremos. O primeiro motivo é a água, é a luz, é o telefone, moradia, ônibus. A segunda é um posicionamento político.”

Do centro à direita Moro afirma ser um político de centro, o que seria uma alternativa a Bolsonaro e aos candidatos de esquerda. No entanto, especialistas divergem sobre o alinhamento do ex-ministro, principalmente por ele ter aceitado integrar o atual governo por mais de um ano. O professor Ricardo Caichiolo, cientista político do Ibmec de Brasília, acredita que a formação da chapa deve se concretizar, mesmo que ainda faltem dois anos para as eleições. “As últimas pesquisas apontam Moro com 10% a 11% das intenções de voto. Mandetta tem um percentual bem razoável, além do Doria, que tem uma pegada mais ao centro quando se compara com a direita, ou a extrema direita, representada pelo Bolsonaro. O que deve começar, agora, é a articulação para saber quem encabeça a chapa. Pode ser o Moro, Mandetta ou Doria”, disse.

O cientista político Leonardo Queiroz Leite afirmou que Moro pode ser avaliado de acordo com a conduta que teve no Ministério da Justiça. “Sergio Moro ainda não tem uma linha política clara, mas tende a ficar, em primeiro momento, como centro, ou centrodireita. Mas, hoje, ele precisa fazer acenos para seus possíveis DATA CLIPPING 10.11.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 18 de 27

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Iris Helena parceiros. Ele deve testar o discurso e ver onde deve ter resistência. Deve ter um estilo mais conciliador, como o Rodrigo Maia, no DEM”, frisou.

“Zero” chance de apoio Antes do encontro, Rodrigo Maia afirmou que a chance “é zero” de dar respaldo a uma chapa que tenha Moro. “Não posso apoiar uma chapa integrada por alguém de extrema-direita”, justificou, em entrevista à colunista Monica Bergamo, da Folha de S. Paulo. “Moro já defendeu ideias e divide a parte do eleitorado de extrema-direita com Bolsonaro. Por isso, ele cai nas pesquisas quando disputa com o presidente”, frisou. Em outubro, o jornal O Globo revelou que a Procuradoria-Geral da República (PGR) reabriu uma investigação sobre supostos pagamentos da empreiteira OAS a Maia. O inquérito — no âmbito da Lava-Jato, que já teve Moro como juiz — corre em sigilo e investiga supostos repasses de caixa dois da OAS ao deputado, com base na delação premiada de funcionários do setor de contabilidade paralela da empreiteira.

Não basta trair no governo, trair na saída, tem de continuar flertando com a traição. É um triplo mortal carpado” Fábio Faria, ministro das Comunicações

A fraude que campeia no Brasil não cede espaço. No dia em que Doria, Huck e Moro forem de centro, eu sou de ultra-esquerda” Ciro Gomes, ex-ministro

JORNAL – CORREIO BRAZILIENSE – 10.11.2020 – PÁG.ON-LINE

Mourão: ou vice ou Senado

Vice-presidente deve m anter apoio ao chefe do Executivo, mas se for ignorado para 2022, tentará o Legislativo

O vice-presidente Hamilton Mourão foi ventilado pelo ex- ministro Sergio Moro como eventual integrante de uma chapa de centro para concorrer às eleições ao Planalto em 2022. De acordo com interlocutores do militar, ele, de fato, tem pretensões políticas para o próximo pleito, mas deve manter o apoio ao presidente Jair Bolsonaro.

Segundo um aliado de Mourão, ele vê a eventual candidatura dele à Presidência, ou vice em outra chapa, como uma traição contra Bolsonaro, que lhe deu a oportunidade de concorrer nas eleições de 2018. O general sabe que pode ser deixado de lado pelo presidente e não ser convidado para concorrer novamente a vice. “Ele prefere trair do que ser traído”, disse um amigo próximo do vice-presidente, sob a condição de anonimato. Em entrevista ao jornal O Globo, Moro citou nomes como o apresentador Luciano Huck e o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, além de Mourão, para compor uma chapa com o objetivo de concorrer contra Bolsonaro e candidatos de esquerda.

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Mourão tem dito, para pessoas próximas, que se não for convidado por Bolsonaro para ser vice, concorreria ao Senado. Se os planos políticos não derem certo com o chefe do Executivo nem no Legislativo, ele se afasta do cenário político para se dedicar aos netos. Mas uma parceria com Moro não tinha sido avaliada até agora. No momento, o vice-presidente optou por não se manifestar sobre o caso e focar na gestão que está em andamento. (RS)

JORNAL – CORREIO BRAZILIENSE – 10.11.2020 – PÁG.ON-LINE

O futuro do transporte público depende de nós

Otávio Vieira Da Cunha Filho

Presidente executivo da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU)

Como ocorre todos os anos, há quase três décadas o setor de transporte público por ônibus urbano divulga o desempenho do modal em termos de eficiência, produtividade e outros indicadores que demonstram objetivamente o que precisa ser melhorado no ônibus em todo o país. No decorrer dessa série histórica, pelo menos nos últimos 20 anos, as constatações têm sido as mesmas: ausência de políticas públicas integradas, falta de investimentos em infraestrutura urbana para qualificação das vias, falta de planejamento e racionalização dos sistemas de transportes,e necessidade de fontes extratarifárias para financiar a prestação do serviço de forma equilibrada e a custo reduzido para os passageiros. Esses são os grandes empecilhos à evolução do serviço de ônibus no Brasil.

A situação é decorrente de um equívoco estrutural, que se traduz na estagnação dos investimentos e em políticas públicas que privilegiam há décadas o transporte individual em detrimento do coletivo. O caos urbano que vivenciamos hoje é a somatória desses erros históricos.

Como consequência, em quase 40 anos, o transporte público coletivo sofreu drástica redução de representatividade na matriz de deslocamento nas áreas metropolitanas do Brasil. Caiu de 67% para 28,4% de 1977 a 2014. Significa dizer que o transporte individual vem ocupando mais espaço nas vias. Equilibrar essa matriz no atual cenário de crise econômico-financeira do Brasil torna-se tarefa ainda mais desafiadora.

Felizmente, as crises impulsionam grandes movimentos propositivos em reação aos desafios e foi o que moveu o setor na elaboração do documento Construindo hoje o amanhã — propostas para o transporte público e a mobilidade urbana sustentável no Brasil, elaborado pela Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP) em parceria com a Frente Nacional de Prefeitos (FNP), o Fórum de Secretários e Dirigentes Públicos de Mobilidade Urbana e a Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU).

Pela primeira vez, as principais propostas de consenso para recuperar o setor foram reunidas, resultando em cinco programas que podem efetivamente construir um transporte público de boa qualidade, com transparência e preços acessíveis aos passageiros. Trata-se, principalmente, de uma demanda setorial ao governo federal quanto a investimentos em infraestrutura e fontes de recursos para custear a operação dos serviços.

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Iris Helena

Para se ter uma ideia da situação, no período 2018-2019 entraram em operação apenas três projetos de priorização do transporte público em todo o Brasil. Conforme a série histórica do setor, apenas um sistema BRT e uma faixa exclusiva em Niterói (RJ), e outra, em Curitiba (PR).

As propostas setoriais são uma contribuição aos gestores públicos das três esferas de governo. Se aplicadas, poderão devolver a velocidade operacional e a produtividade ao transporte público, permitindo que o ônibus volte a ser atraente ao passageiro. Um compromisso inadiável, afinal, esse serviço público é direito social, garantido pelo artigo 6º da Constituição Federal, assim como saúde e educação.

A despeito da paralisação de projetos de mobilidade urbana e da ausência de investimentos públicos no transporte coletivo urbano, o setor resiste e tem dedicado todos os esforços para manter a oferta do serviço com a menor tarifa possível. E, agora, vai além, com um amplo programa de inovação em mobilidade coletiva que busca soluções inéditas para se reinventar e atender às justas expectativas de passageiros e não usuários do transporte público.

O transporte público que o passageiro deseja no futuro passa pela conquista da mobilidade realmente sustentável e inovadora, que só poderá existir se for baseada numa rede organizada, integrada e robusta, que cumpra plenamente seu papel social de ofertar um serviço universal, contínuo e com modicidade tarifária. E terá de ser cada vez mais inclusivo e capaz de atender a todos os perfis de usuários, em especial das classes sociais de menor poder aquisitivo e segmentos mais vulneráveis da população, incluindo idosos, estudantes, pessoas com deficiência e outros beneficiários de gratuidades.

Para que o ônibus consiga alcançar a excelência é imprescindível que a sociedade e os poderes públicos nas três esferas de governo tenham consciência e entendam que hoje o passageiro é quem paga sozinho a conta da ausência do Estado, da baixa qualidade do serviço e da falta de uma fonte permanente de financiamento que alivie o peso das tarifas. Sem ele, não haverá futuro para o transporte coletivo urbano. E sem o transporte coletivo, não haverá futuro para nossas cidades.

JORNAL – VALOR ECONÔMICO – 10.11.2020 – PÁG.E1

Empregados demitidos após contraírem covid ganham dano moral

Decisões, que incluem pessoas do grupo de risco, consideraram as dispensas discriminatórias

Por Adriana Aguiar

Marcos Alencar: é imprescindível que o empregador justifique a demissão — Foto: Ruy Baron/Valor

Funcionários demitidos por contraírem covid-19 ou pertencerem do grupo de risco têm recorrido à Justiça do Trabalho em busca do pagamento de danos morais, por discriminação, e mesmo reintegração. Foram distribuídos, neste ano, 12.676 processos com os termos covid e discriminação nas peças iniciais, segundo o Data Lawyer Insights, plataforma de jurimetria. Entre as DATA CLIPPING 10.11.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 21 de 27

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Iris Helena ações já julgadas, porém, há poucas liminares ou sentenças favoráveis aos trabalhadores. É preciso comprovar não se tratar de uma simples demissão.

As empresas podem demitir sem justificativas. Só há previsão de estabilidade, em meio à pandemia, para os deficientes. Está na Lei nº 14.020/20, em vigor desde julho, que institui o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda e dispõe sobre medidas complementares para enfrentamento do estado de calamidade pública.

As ações judiciais, contudo, estão sendo ajuizadas com base no artigo 1º da Lei nº 9029, de 1995, que proíbe a adoção de práticas discriminatórias no ambiente de trabalho. A jurisprudência já admite a reintegração para trabalhadores com HIV ou câncer, doenças graves capazes de causar estigma ou preconceito. O Tribunal Superior do Trabalho, inclusive, já editou súmula sobre o assunto (nº 443).

Agora, a questão da covid- 19 começa a ser analisada no Judiciário. Um dos casos foi julgado pela 12ª Vara do Trabalho de Manaus. O juiz Antonio Correa Francisco condenou uma empresa de segurança a pagar R$ 10 mil de danos morais a um vigilante por dispensa discriminatória.

Ele foi demitido após contrair a covid-19 e ficar afastado por 15 dias. Ao questionar o gerente sobre o motivo, recebeu, segundo o processo, a resposta de que “se não tivesse ficado doente, provavelmente não teria o contrato de trabalho finalizado”.

No processo, o vigilante ainda alega ter contraído o vírus ao prestar serviços na Universidade Federal do Amazonas (UFAM), onde vários colegas da empresa de segurança também ficaram doentes. Em abril, ele chegou a perder o colega de trabalho, com quem dividia o mesmo carro, por complicações da doença.

Na sentença, o juiz destaca que, em maio, mês em que o vigilante foi infectado e dispensado, Manaus era considerada epicentro da pandemia no Brasil. Para o magistrado, a companhia não poderia deixar o trabalhador desamparado naquele momento (processo nº 0000514-85.2020.5.11.0012).

No interior de São Paulo, uma decisão favoreceu um funcionário de uma indústria de componentes automotivos. Ele foi dispensado após cinco dias do retorno ao trabalho. Ele obteve liminar favorável à sua reintegração na Vara do Trabalho de Campo Limpo Paulista. Na ação, ele comprovou que contraiu a doença e ficou um mês internado e afastado por 60 dias.

Na decisão, o juiz Marcelo Bueno Pallone afirma que o direito potestativo da empresa de rescindir o contrato não é absoluto e encontra limites no artigo 1º, inciso IV, da Constituição, ao tratar do valor social do trabalho (processo nº 0010886-94.2020.5.15. 0105). O magistrado cita no texto a Súmula 443 do TST.

Como no processo, o funcionário continuou trabalhando mesmo no pico da pandemia, o juiz entendeu que, em uma primeira análise, a covid-19 poderia ser enquadrada como doença ocupacional. Um recente julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF), em sessão recente, dá margem para essa interpretação. Os ministros declararam inconstitucional o artigo 29 da Medida Provisória (MP) nº 927/2020, que não considerava a covid-19 como doença decorrente do trabalho. DATA CLIPPING 10.11.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 22 de 27

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Uma técnica de enfermagem de um hospital no Espírito Santo, que tem 60 anos e foi dispensada no meio da pandemia, também conseguiu o direito à reintegração. Ela alegou que foi discriminada por estar no grupo de risco.

Ao analisar o caso, a juíza Lucy de Fátima Cruz Lago considerou que está na liberalidade da empresa escolher se mantém ou não um contrato de trabalho. Entretanto, afirma na decisão, “a resilição contratual, que tem como fundamento o fato de o empregado se enquadrar em grupo de risco do Covid-19, denota, em análise superficial, tratamento não isonômico e direcionado a um grupo com características específicas” (processo nº 0000597-45.2020.5.17.0009).

Para a advogada Mayra Palópoli, sócia do Palópoli & Albrecht Advogados, essas são decisões isoladas. Ela afirma que não há, na legislação, estabilidade ao empregado que contraia a covid-19. Por não haver regra específica, acrescenta, aplica-se a regra geral que permite ao empregador dispensar imotivadamente um empregado. “Só haveria dispensa discriminatória em caso de ofensa à honra ou imagem do empregado em razão da doença adquirida”, diz.

A reintegração, segundo a advogada Juliana Bracks, do Bracks Advogados, deveria ser aplicada apenas aos casos em que há estabilidade, uma vez que existe a liberalidade do empregador em demitir. Ela lembra que a Súmula 443, do TST, fala sobre doenças que trazem um estigma. “Será que a covid-19 é uma doença com estigma, em meio a uma pandemia. Acho essa tese meio forçada”, diz.

A advogada entende que nos casos devidamente comprovados de discriminação deveria haver apenas o pagamento de indenização. “É meio contraditório determinar a reintegração de um trabalhador num ambiente em que ele está sendo discriminado”, afirma.

Em meio à pandemia, para evitar essas ações judiciais, o advogado Marcos Alencar afirma que “é imprescindível que o empregador justifique a demissão sem justa causa, para que não venha a ser entendida como uma retaliação”.

Justiça determina reintegração de pessoa com deficiência

Lei proíbe demissão de portador de deficiência durante a pandemia

Por Adriana Aguiar

Uma sentença da Justiça do Trabalho determinou a reintegração de uma pessoa com deficiência, dispensada durante a pandemia. A juíza Ananda Tostes Isoni, da 2ª Vara do Trabalho de Jaú (SP), determinou o retorno com base na Lei nº 14.020, em vigor desde julho. A norma trouxe medidas complementares de enfrentamento do estado de calamidade pública.

O artigo 17, inciso V, da lei veda expressamente a dispensa de portadores com deficiência. O dispositivo entrou em vigor no dia 7 de julho, durante o período de aviso prévio do trabalhador. Ele foi contratado em 2008, na cota de pessoas com deficiência, e foi dispensado sem justa causa em 8 de junho, com projeção de aviso prévio até 13 de agosto. DATA CLIPPING 10.11.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 23 de 27

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Na Justiça, ele alegou ser detentor de estabilidade e pleiteou a reintegração. A empresa, por sua vez, argumentou que, na época da rescisão contratual, não havia a lei e o único impedimento para a dispensa era a contratação de outro empregado portador de deficiência, o que foi atendido.

A juíza Ananda Tostes Isoni, porém, entendeu que, ainda que a empresa tenha dispensado o trabalhador antes da publicação da lei, estava em curso o aviso prévio, que integra o contrato de trabalho para todos os fins. Por isso, a empresa deveria promover a imediata reintegração do trabalhador, com garantia de emprego até 31 de dezembro deste ano, salvo eventual prorrogação.

Além de declarar a nulidade da dispensa e determinar a reintegração do empregado, a magistrada condenou a empresa ao pagamento dos salários e demais vantagens desde a dispensa até a efetiva reintegração (processo nº 0011048-45.2020.5.15.0055).

Para o advogado que assessora o empregado no processo, Mike Stucin, do escritório Stucin Advocacia, “a decisão é tecnicamente irretocável” porque está fundamentada no artigo 487, parágrafo 1º, da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que trata do aviso prévio e no entendimento jurisprudencial pacífico de que, mesmo que indenizado, ele integra o contrato de trabalho para todos os fins, inclusive para o aproveitamento de eventual estabilidade.

A decisão é um precedente importante, segundo Stucin, “pois traz concretude ao que diz o artigo 17, inciso V, da Lei nº 14.020, que é proteger as pessoas com deficiência dos impactos nefastos da pior crise econômica desde o crack de 1929, garantindo-lhes emprego enquanto perdurar o estado de calamidade pública”.

Ainda cabe recurso da sentença, mas o advogado afirma estar confiante de que a Justiça do Trabalho reafirmará sua jurisprudência pacífica nas demais instâncias. O Valor não conseguiu localizar o advogado da empresa para comentar a decisão.

Empresa fatura na crise e terá que rever recuperação

Decisão permite que os próprios credores apresentem um aditivo que proporcione melhorias

Por Joice Bacelo

Uma empresa em recuperação judicial que conseguiu aumentar os seus ganhos durante a pandemia vai ter que melhorar as condições do plano de pagamento que havia sido aprovado pelos credores. O juiz Paulo Furtado, da 2ª Vara de Recuperações Judiciais e Falências de São Paulo, em uma decisão nunca vista antes, deu permissão para que os próprios credores apresentem um aditivo que lhes proporcione melhorias.

Essa decisão é justificada pelo magistrado pelo “ganho extraordinário” e “de natureza imprevisível” que a empresa obteve durante a pandemia. Trata-se de uma fabricante de respiradores. Quando o plano de pagamento das dívidas foi aprovado, em 2018, a companhia produzia cerca de 50 unidades por mês. Nos últimos tempos, com o aumento da demanda, passaram a ser 70 num único dia. DATA CLIPPING 10.11.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 24 de 27

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A empresa firmou contrato com o Poder Público para entregar mais de três mil unidades de ventilador pulmonar neste ano, totalizando R$ 78 milhões.

Quando uma empresa entra em processo de recuperação judicial, consegue negociar todas as dívidas que estão em aberto até a data do pedido de forma conjunta com os seus credores. As partes acordam um plano de pagamento, que, geralmente, prevê descontos, prazos de carência e parcelamentos.

No caso da fabricante de respiradores, por exemplo, foram fixados 30% de desconto e há previsão de pagamento em até 20 anos. O juiz Paulo Furtado afirma, na decisão, que esse plano foi construído com base nas premissas apresentadas em 2018.

“Os credores só aceitaram o deságio de 30% porque consideravam as perspectivas econômico-financeiras da devedora”, diz. Ele acrescenta que ninguém teria aceitado receber menos se soubesse que a situação mudaria completamente em tão pouco tempo.

Os aditivos aos planos de recuperação judicial não estão previstos em lei - nem para melhorar as condições de pagamento, nem para piorar. Mas existe uma construção jurisprudencial. Essa prática passou a ser aceita nos casos em que a devedora enfrenta problemas e precisa renegociar para se manter viva.

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em março, por exemplo, aprovou uma portaria orientando os juízes a flexibilizarem as regras dos processos de recuperação judicial quando decidirem sobre os casos de empresas que tiveram a capacidade financeira afetada pela crise. Uma dessas orientações é justamente dar permissão à devedora para apresentar um plano de pagamento modificativo aos seus credores.

Essa mesma solução encontrada pela jurisprudência para os casos de agravamento da crise, segundo Paulo Furtado, deve ser adotada quando a devedora tem ganhos extraordinários (processo nº 0013555- 61.2012.8.26.0100).

A decisão é consequência de uma outra, do mês de maio, em que o juiz sugere à devedora, “de boa-fé”, melhorar as condições do plano de pagamento. Houve a recusa e o juiz, então, deu permissão para que os próprios credores formulem um aditivo, no prazo de 60 dias. A fabricante de respiradores ainda pode recorrer da decisão.

Especialista na área, Fernando Pompeu Luccas, que atua como advogado e administrador judicial, diz que a decisão, apesar de parecer polêmica, levanta uma discussão razoável e coerente. Ele considera como uma “via reversa” à jurisprudência que se consolidou no sentido de conceder à devedora a oportunidade de apresentar um plano modificativo, em caso de piora de suas condições financeiras.

Para o advogado, o juiz teve o cuidado, no caso, de “não abrir um precedente demasiadamente amplo”. “Deu foco às particularidades do caso concreto, destacando que houve ganho extraordinário por evento superveniente de natureza imprevisível, como forma de enfatizar que tal caso se mostrou excepcional”, diz.

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Iris Helena

Destaques

Localização de celular

O Supremo Tribunal Federal (STF) invalidou a Lei estadual nº 6.336, de 2013, do Piauí, que obriga as operadoras de telefonia móvel a fornecerem aos órgãos de segurança pública, sem prévia autorização judicial, dados necessários para a localização de telefones celulares furtados, roubados ou utilizados em atividades criminosas. A norma foi questionada pela Associação Nacional das Operadoras de Celulares (Acel) na ação direta de inconstitucionalidade (ADI) 5.040, julgada procedente na sessão virtual concluída no dia 3. Em seu voto, a relatora, ministra Rosa Weber, considerou que a lei estadual interfere na prestação do serviço de telefonia, espécie do gênero telecomunicação, cujo regramento compete à União (artigos 21, inciso XI, e 22, incisos I e IV, da Constituição) e é disciplinado por meio da Lei Geral das Telecomunicações (Lei nº 9.472, de 1997). Na avaliação da ministra, por mais “necessária, importante e bem intencionada” que seja a instrumentação dos órgãos de segurança pública, “ela não pode se dar de forma não integrada, desvinculada do sistema como um todo”.

Contribuição sindical

A 4ª Turma do Tribunal Superior do Trabalho (TST) julgou desnecessária a emissão de certidão pelo extinto Ministério do Trabalho (atual Secretaria Especial de Previdência e Trabalho) para que a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) cobre, na Justiça, a contribuição sindical de um empregador rural (RR-11908- 10.2018.5.15.0025). De acordo com os ministros, a exigência resulta em interferência estatal na organização e no funcionamento de entidade sindical, conduta vedada pela Constituição (artigo 8º). Responsável pela arrecadação da contribuição sindical rural, a CNA apresentou ação de cobrança contra um empregador rural de Pardinho (SP), com a pretensão de receber valores referentes ao período de 2014 a 2017. O juízo de primeiro grau e o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de Campinas (SP) extinguiram a ação. Entenderam que a confederação havia cometido erro processual. O TRT se reportou ao artigo 606 da CLT, que dispõe que a cobrança, nesses casos, é feita mediante ação executiva e que a certidão expedida pelas autoridades regionais do Ministério do Trabalho vale como título de dívida.

Uso de moto

A Cemig terá que pagar a um ex-empregado parcelas da motocicleta que ele foi obrigado a comprar para exercer a função de leiturista na zona rural. A decisão é do juiz Marcelo Marques, que analisou o caso na Vara do Trabalho de Diamantina (MG). O trabalhador alegou que trabalhou para a empresa por mais de 15 anos e que, para a prestação do serviço, utilizava motocicleta particular (processo nº 0010098-76.2020. 5.03.0085). Acrescentou que era obrigado a trocar o veículo a cada cinco anos, mesmo estando a moto em perfeito estado. Segundo o leiturista, em maio de 2018, foi obrigado a adquirir uma nova moto, que foi financiada em 36 parcelas de R$ 552,00. Com o fim do contrato, requereu judicialmente o pagamento de valor do financiamento ou das 24 parcelas restantes da moto, no importe de R$ 13,2 mil. O leiturista informou ainda que, em alguns dos anos de trabalho, o pagamento foi feito por meio de uma empresa contratante, que ainda locava a moto dele e que também é reclamada no processo. Ao examinar o caso, o juiz Marcelo Marques entendeu que obrigar um empregado a adquirir um veículo e depois dispensá-lo é prática com abuso de poder. Por isso, condenou as duas empresas, de forma solidária, a pagarem as 24 parcelas da motocicleta, no valor unitário de R$ 552,00, devidamente corrigidas. DATA CLIPPING 10.11.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 26 de 27

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Iris Helena

JORNAL – VALOR ECONÔMICO – 10.11.2020 – PÁG.E2

Tributação indevida na venda de terras

O tema, aparentemente simples, torna-se controverso quando a Receita, a pretexto de regulá-lo, restringe a aplicação da lei

Por Isabela Frascino, Pedro Chimelli e Paulo Figueiredo

O ganho de capital na alienação de imóveis rurais adquiridos a partir de 1997, sujeito à incidência do Imposto de Renda (IR), é apurado conforme regra legal própria, regulada e aplicada ilegalmente pela Receita Federal.

O artigo 19 da Lei 9.393/96 prevê que os valores de aquisição e alienação desses imóveis correspondem ao valor da terra nua (VTN) informado na Declaração do Imposto Territorial Rural (DITR), respectivamente nos anos de aquisição e de alienação. Não foi feita distinção quanto à aplicação da regra a pessoas físicas ou jurídicas, sujeitas ao lucro real ou presumido.

O tema, aparentemente simples, torna-se controverso quando a Receita, a pretexto de regulá-lo, restringe a aplicação da lei

Por ser a DITR uma declaração anual e por dever o VTN refletir o preço de mercado da terra nua em 1º de janeiro do ano a que se referir a DITR, é imediata a conclusão de que tais imóveis, se adquiridos e alienados no mesmo ano, têm necessariamente valor de aquisição e de alienação idênticos, já que é um só o VTN. Assim, não produzem ganho de capital nem é devido IR.

Ganho de capital também inexiste, segundo a lei, nos casos em que aquisição e alienação ocorrem em anos distintos, mas o contribuinte prove igualdade dos VTNs nos anos de aquisição e alienação. Seria possível inclusive apurar prejuízo se o VTN no ano de alienação fosse inferior ao do ano de aquisição.

O tema, aparentemente simples, torna-se controverso quando a Receita, a pretexto de regulá-lo, restringe ilegalmente a aplicação da lei. A Instrução Normativa (IN) 84/01, que dispõe sobre tributação de ganhos de capital de pessoas físicas, extrapolou a lei e limitou ilegalmente o uso do VTN como parâmetro de cálculo do ganho de capital, criando situações em que poderia haver ganho tributável mesmo quando sejam iguais os VTNs nos anos de aquisição e alienação.

Assim são os casos do contribuinte que adquire e aliena o imóvel antes da entrega da DITR, ou que deixa de entregá-la no ano de aquisição, de alienação ou de ambos. Segundo a IN, nesses casos o ganho deve ser calculado com base nos valores efetivos de aquisição e alienação, e não no VTN. Corre risco de autuação quem adquire e aliena imóvel rural no mesmo ano, mas deixa de atender aos requisitos ilegais da IN.

A IN só reconhece igualdade dos VTNs nos anos de aquisição e alienação e, portanto, ausência de ganho permitida pela lei, quando o contribuinte adquire o imóvel antes da entrega da DITR e o aliena no mesmo ano, após sua entrega. DATA CLIPPING 10.11.2020 PÁGINA Nº BIBLIOTECA 27 de 27

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Iris Helena

Mas a Lei 9.393 não previu o atraso ou a falta de entrega da DITR como impeditivo ao uso do VTN no cálculo do ganho; pelo contrário, o art. 19, ao fazer referência ao art. 14, previu que, na falta de entrega da DITR, o VTN deve ser apurado com base no sistema de preços de terras (SIPT) criado pela Receita. É portanto irrelevante para a desoneração de IR se há ou não entrega da DITR ou a ordem dos eventos de aquisição, alienação e entrega da declaração, importando apenas que o VTN no ano de aquisição seja igual ao do ano de alienação.

As ilegalidades da IN já vêm sendo reconhecidas em decisões do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) e do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, que garantem aos alienantes o direito ao cálculo do ganho com base no VTN, ainda que não entregue a DITR, destacando que, nesse caso, devem ser apurados os VTNs com base no sistema de preços de terras previsto no art. 14 da Lei 9.393.

A Receita também viola a lei ao submeter às regras restritivas da IN 84/01 as alienações de imóveis rurais por pessoas jurídicas tributadas no lucro presumido, ampliando indevidamente o alcance dessa norma regulamentar aplicável apenas às pessoas físicas, conforme se observa na Solução de Consulta 118/2019, da Coordenação-Geral de Tributação (Cosit).

A ilegalidade atinge ainda pessoas jurídicas sujeitas ao lucro real, que são totalmente impedidas pela Receita de calcular o ganho com base no VTN. O entendimento, externado por soluções de consulta da Receita e endossado por decisões do Carf, baseia-se em omissão do Regulamento do Imposto de Renda (Decreto 9.580/18 - RIR) e na aplicação do art. 31, §1º, do Decreto-Lei 1.598/77, reproduzido no art. 501 do RIR, que impõe cálculo de ganho de capital com base no valor contábil do bem alienado, “ressalvadas as disposições especiais”.

De fato, o RIR só reproduz a regra da Lei 9.393 em seus arts. 146 e 596, relativos às pessoas físicas e às pessoas jurídicas optantes pelo lucro presumido, não fazendo o mesmo no capítulo das pessoas jurídicas sujeitas ao lucro real. Todavia, omissão de regulamentação infralegal não tem o poder de alterar a lei para incluir exceção não prevista. Ademais, a Lei 9.393 contém justamente uma disposição especial que afasta a aplicação da regra geral do art. 31, §1º, do Decreto-Lei 1.598.

Como visto, são ilegais as restrições da Receita ao emprego do VTN como parâmetro de cálculo do ganho de capital na alienação de imóvel rural adquirido a partir de 1997.

Embora já existam algumas decisões administrativas e judiciais favoráveis aos contribuintes, ainda não há jurisprudência vinculante que pacifique o tema e traga a segurança jurídica necessária a todos os interessados.

Contribuintes que alienarem imóveis rurais adquiridos a partir de 1997 cumprindo os requisitos da Lei 9.393 para desoneração de IR, mas que não atendam às ilegais restrições da Receita, estarão sob risco de autuação se deixarem de pagar o imposto. Terão, no entanto, sólidos argumentos em seu favor para deixar de pagá-lo e/ou para reaver o valor pago indevidamente nos últimos cinco anos, especialmente se a discussão for levada ao Judiciário.