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o filme Meia-Noite em Paris, de Woody Allen, um escritor americano de passagem pela N capital francesa em 2010 é súbita e misteriosamente arrastado no tempo até os anos 1920, caindo numa soirée animada por , F. Scott Fitzgerald, Pablo Picasso e outras figuras fáceis do charmoso círculo de amizades de Gertrude Stein, na margem esquerda do Sena. Não diria que essa seja uma fantasia de todos os artistas e intelectuais que conheço, pessoalmente ou só de vista e leitura, mas não me surpreenderia se ao menos dois terços deles escolhessem a fervilhante Paris dos anos 1920-1930 como o destino de sua primeira viagem numa máquina do tempo. Voilà: apesar da justa fama desfrutada pela Atenas de Péricles, pela Viena da virada do século XIX para o século XX, pela Berlim dos anos 1930 e pela Nova York dos anos 1950, a Paris de Hemingway & cia–mais conhecida como a Paris da Geração Perdida – talvez vença qualquer concorrência, sem desdouro da Paris do imediato pós-guerra, também formidável (muito jazz, existencialismo, caves esfumaçadas, cinemas de arte), e com uma vantagem nada negligenciável sobre as anteriores: já haviam inventado a penicilina e ela podia ser comprada na farmácia da esquina. “Foram verões e mais verões de diversão e ócio”, registrou Fitzgerald, referindo-se a seus anos dourados na França. “A gente levava uma vida meio tola e sem sentido, mas sinto falta dela até hoje”, confessou o crítico cultural Harold Stearns, pouco antes de morrer, em 1943. Outro expatriado, o compositor Virgil Thomson, embasbacou-se: “Até os guardas respeitavam a gente.” Samuel Putnam, um dos primeiros a documentar em livro as melhores lembranças daquele tempo, sintetizou o rabicho em quatro palavras: “Paris foi a nossa amante.” Atraídos pelo generoso câmbio (1 dólar=25 francos) desequilibrado pela Primeira Guerra Mundial, e pela efervescência cultural incrementada pelo cubismo, o dadaísmo e o surrealismo, alguns dos cérebros mais privilegiados da América foram viver a grande aventura parisiense convencidos de que era mais fácil, e sobremodo mais chique, ser duro na capital francesa do que em casa. E a bebida, além de livremente vendida e consumida (a Lei Seca nos Estados Unidos durou de 1919 a 1933), era farta e deixava no chinelo a rústica birita que os americanos destilavam clandestinamente na banheira ou no fundo do quintal. Quem foi não se arrependeu, au contraire; e ainda ajudou a consolidar a mística, plasmada pelo romance O sol também se levanta () e, quatro décadas mais tarde, pelas reminiscências parisienses de Hemingway, Paris é uma festa (A moveable feast), publicadas postumamente e continuamente realimentadas por outros romances, relatos autobiográficos, poemas, peças teatrais e filmes ambientados naquele período, como The moderns, ou dele saudosos, como a recente comédia de Woody Allen. “Minha geração não foi a primeira nem será a última a cultuar Paris como a capital mundial da modernidade, da criatividade sem compromissos e das relações sem preconceitos.” Não foi Woody Allen quem disse isso, mas outro cineasta, oito anos mais moço, Alan Rudolph, que batalhou durante mais de uma década para recriar na tela o clima da Paris dos anos 1920. Infelizmente, The moderns, filmado em 1987, captou mais as afetações do que o verdadeiro espírito da “moveable feast”. Meu chamego por Paris não brotou em horta literária (Flaubert, Proust e Camus vieram bem depois), mas no pomar cinematográfico do há muito extinto circuito dos cines Metro no Rio, assistindo ao musical Sinfonia de Paris (An american in Paris), de Vincente Minnelli, com músicas de Gershwin. Em 1952, ainda pirralho, tive um coup de foudre pelo personagem de Gene Kelly, um ex-combatente americano chamado Jerry Mulligan que no fim da Segunda Guerra decide virar pintor e permanecer para sempre em Paris, vendendo seus quadros acadêmicos em Montmartre. O filme é uma ode sinfônica à cidade e sua gente, às artes que inspirou e aos americanos que por ela se deixaram enfeitiçar, entre os quais o próprio Gene Kelly, parisiense de coração. Nem a descoberta, anos mais tarde, de que o filme fora quase todo rodado em estúdio diminuiu meu entusiasmo, até porque os cenários recriados nos palcos da MGM, em Hollywood, são uma imitação perfeita dos quartiers parisienses. Perdi a conta de quantos livros já comprei sobre o período e também sobre a romaria americana do século XIX (Benjamin Franklin, Thomas Jefferson, Fenimore Cooper, Henry James etc.), parcialmente relacionados no final deste volume. Não li todos, é claro, apenas os essenciais e mais deleitáveis, mas até nos mais rasos encontrei dicas preciosas sobre uma Paris que só existe hoje na lembrança, notadamente na memória das ruas, dos prédios, hotéis, livrarias, quiosques, bares, cafés, bistrôs e jardins onde os mais notáveis expatriés deixaram suas marcas. No outono europeu de 1989, concluída uma incursão por paragens ligadas a Kafka (Praga) e Claudio Magris (Budapeste-Viena, subindo de barco o Danúbio), cismei de percorrer e fotografar os mais notórios espaços habitados ou frequentados e afamados pela Geração Perdida para uma edição especial do suplemento de Turismo da Folha de S. Paulo. Seria a minha modesta homenagem ao bicentenário da Revolução Francesa, celebrado naquele ano. Levantei endereços, montei mapas e itinerários, e saí em busca de um tempo perdido, com minha inseparável Canon analógica e um caderno de notas (não, não era um Moleskine). Só no boulevard Saint-Germain enquadrei num único dia uns vinte “santuários”. Minha última foto, fechando a flanância pela Rive Droite, foi diante do nº 14 da rue Tilsitt, em cujo último andar Zelda e Scott Fitzgerald inauguraram, em 1925, sua interminável noite de loucuras parisienses. Nunca uma reportagem me deu tanto prazer – antes, durante e depois de sua execução. nº 14 da rue de Tilsitt.

A reportagem, uma curtição descaradamente nostálgica que, com o título geral de “A Geração Perdida ainda está em Paris”, esparramou-se pelas 16 páginas do Turismo da Folha de 18 de janeiro de 1990, tornou-se um roteiro de viagem cultivé para aqueles que não vão à capital francesa só para comer, beber, fazer compras e subir na torre Eiffel. Sei de leitores e amigos que o seguiram à risca, não se importando com o incômodo de parar no meio da rua ou sentar-se no banco de uma praça para checar alguma informação no próprio jornal. No livro de viagens Terramarear: Peripécias de dois turistas culturais (Cia. das Letras, 2011), de Ruy Castro e Heloisa Seixas, há uma foto de Ruy a consultar o seu exemplar da Folha na calçada do hotel Crystal, ao lado do Café de Flore. É a única prova documental do sucesso do roteiro que possuo. “Faça um livro”, sugeriu-me alguém que perdera o seu exemplar e já tentara em vão adquirir outro. Resisti à tentadora ideia o quanto pude, um pouco por pudor (julgava o material insuficiente para ganhar uma lombada, por mais estreita que fosse) e também por preguiça de recuperar meus kodachromes, nunca digitalizados e dos quais restou apenas meia dúzia nos arquivos da Folha. Quando o único sobrevivente dos três exemplares do suplemento que por duas décadas mantive guardados voltou de seu último empréstimo, avaliei-lhe as rugas e cicatrizes, e afinal resignei-me à evidência de que meu excêntrico tour carecia de um suporte menos fugaz, volátil e perecível, vale dizer, de um abrigo mais seguro e, acima de tudo, mais acessível, que de preferência coubesse no bolso do casaco de viagem. Ei-lo. Tentei ao máximo conservar o texto original, mas acréscimos e reparos tiveram de ser feitos para corrigir cochilos tipográficos, corriqueiros em qualquer jornal diário, mais ainda naquela época, e atualizar determinadas informações, para que você, conduzido por este guia, não se depare com uma farmácia onde há 20 anos havia uma lanchonete, igualmente desprovida de pedigree histórico, a usurpar o espaço de algum endereço outrora mitológico. Dois agradecimentos se fazem necessários. À Folha de S. Paulo, que não opôs qualquer obstáculo à realização deste livro, e à sua maior incentivadora, a jornalista Maria Lucia Rangel, que em 1991 percorreu as duas margens do Sena com o caderno de turismo da Folha debaixo do braço.

“Embora tivesse acontecido na França, foi tudo, de certo modo, uma experiência americana.” GERALD MURPHY

uando tudo de fato começou? Q Para Samuel Putnam, a invasão de Paris pelos americanos só teve início com a chegada à Rive Gauche, entre 1917 e 1918, de dois intelectuais que haviam servido como motoristas de ambulância nas frentes de batalha da recém-finda Grande Guerra: o escritor e o poeta E.E. Cummings, que assinava e.e. cummings e teria enorme influência sobre os concretistas brasileiros. Hemingway, que também participara do conflito transportando feridos para lá e para cá, chegou em 1921, no mesmo ano em que os compositores Aaron Copland e Virgil Thomson, que se revelariam os mais longevos da turma (morreram nonagenários), foram tomar aulas com a legendária professora de música Nadia Boulanger. E a moda pegou. George Wickes, criterioso inventariante da Belle Époque, discorda. Para ele, tudo teria começado não depois que os canhões do Kaiser foram silenciados para sempre, mas em 1903, ano em que o crítico de arte Leo Stein trocou São Francisco, na Califórnia, por um apartamento- estúdio no nº 27 da rue de Fleurus, e começou a pintar. E, ato contínuo, comprou seu primeiro Cézanne. Leo era o irmão mais próximo de Gertrude Stein, então com 29 anos e recém-formada em psicologia pelo Radcliffe College, onde fora aluna do influente filósofo e psicólogo William James, irmão do escritor Henry James. Em setembro daquele ano, Gertrude mudou-se para o apartamento parisiense do irmão. Antes de a década terminar, ela já tinha enriquecido suas paredes com quadros de Renoir, Cézanne, Gauguin, Picasso e Matisse; servido de modelo para os dois últimos; conhecido Alice B. Toklas; e escrito dois livros. “América é minha pátria e Paris, meu lar”, dizia. Paris foi seu lar estético e espiritual, o único lugar do mundo em que uma vida integralmente civilizada lhe parecia possível. Poeta e escritora assaz pretensiosa, com uma sensibilidade visceralmente modernista, ao longo dos anos 1920 reinou como uma abelha-mestra na Rive Gauche, ungindo escritores, poetas, músicos, artistas plásticos, e conectando-os em seu salon littéraire, cujo êxito atribuía aos ensinamentos sobre a arte de entreter gente inteligente aprendidos com as irmãs Claribel e Etta Cone, duas refinadas socialites de Baltimore, Maryland. Seu apartamento era um museu, “com a vantagem de haver uma enorme lareira que nos proporcionava calor e conforto”, maravilhou-se Hemingway, freguês assíduo dos bolinhos com chá e licores de ameixas e amoras que Alice, a factótum da casa, lhe servia. Foi Gertrude quem rotulou Hemingway e seus pares de “Geração Perdida”, após ouvir a expressão numa oficina mecânica, aonde fora levar seu Ford Modelo T (no Brasil, Ford de Bigode) para consertar o arranque. O mecânico encarregado não dera conta do serviço; Gertrude estrilou, e o dono da oficina não só deu razão à cliente como esbravejou com o empregado: “Todos vocês que serviram na guerra são uma génération perdue!” Foto do passaporte de Gertrude Stein.

Era, na descrição de Hemingway, uma pessoa grande, mas não alta, corpulenta como uma camponesa, com belos olhos e um vigoroso rosto germano-judaico. Falava sem parar, preferencialmente sobre pessoas e lugares, e tinha opiniões peremptórias sobre quase tudo e todos. Considerava Huxley “um homem morto”; os romances de D.H. Lawrence, “patéticos e absurdos”; apreciou os contos que Hemingway lhe deu para ler, mas não os achou à altura de serem publicados nas revistas Atlantic Monthly e Saturday Evening Post. Se alguém se referisse duas vezes a James Joyce em sua presença não seria convidado a voltar ao 27 da rue de Fleurus. Mordia-se de ciúmes do irlandês, menos por ele também viver cercado de discípulos, afilhados e sicofantas, do que por seu prestígio como o prosador mais revolucionário da língua inglesa. Gertrude se achava o máximo nessa categoria – abrindo uma exceção para Shakespeare. Dos seus lampejos, uma tirada tautológica (“rosa é uma rosa, é uma rosa, é uma rosa”) foi tudo o que ficou.

Muito antes de Gertrude Stein transformar-se no fio de Ariadne das primeiras vanguardas parisienses do século passado, vários artistas, intelectuais e até inventores americanos já haviam descoberto o magnetismo civilizatório da capital francesa. Robert Fulton testou seu primeiro barco a vapor no Sena, em 1806, e seu primeiro submarino lhe foi encomendado por Napoleão Bonaparte. O escritor Henry James, o poeta e filósofo Ralph Waldo Emerson e os artistas plásticos Thomas Eakins, James Whistler, Mary Cassatt, Winslow Homer lá viveram a partir das últimas décadas do século XIX. James, o mais inglês dos escritores americanos, desprezava a América por não ter rei, corte, aristocracia, catedrais, nem muita história. Da Europa admirava quase tudo. Até as enchentes do Sena, que um dia chamou de “Mississippi civilizado”. Pelo menos um dos sete prédios em que morou (rue de Beaune, 7) continua de pé, mas é hoje uma galeria de arte. Ficava ali o Hôtel de France et de Lorraine, também pouso, na mesma época, de Emerson. No prédio ao lado, ficava o Hôtel Elysée, em que Pound se hospedaria 40 anos depois. O primeiro americano reconhecido como tal a “descobrir” a França foi um sujeito chamado Silas Deane. Chegou em 5 de julho de 1776, sem saber que, desde a véspera, com a assinatura da Declaração da Independência dos EUA, já não era mais um simples rebelde em luta com os colonizadores britânicos, mas um cidadão de uma nação soberana. Logo indicado embaixador, exerceu o cargo até a chegada de Benjamin Franklin, por sua vez substituído, nove anos mais tarde, por Thomas Jefferson, o primeiro a proclamar que todo mundo tem duas pátrias: o país onde nasce e a França. A passagem do futuro presidente Jefferson por Paris foi marcada por oito mudanças de endereços e visitas quase diárias aos bouquinistes que margeiam o Sena. Com a batelada de livros que deles comprou encheu as primeiras estantes da Biblioteca do Congresso americano, em Washington. Ele e Franklin falavam francês e cativaram as damas e os cavalheiros da corte, no Palácio de Versalhes, matando de inveja os diplomatas britânicos, muito mais experientes no ofício, porém sem um décimo do charme dos ianques. Nasceu naquele período o béguin dos franceses pelo Novo Mundo, pelas histórias, pelas aventuras e pelo imaginário da Amérique du Nord. Henry James nem era nascido quando chegou a Paris o primeiro escritor americano adulado pelos franceses, James Fenimore Cooper, autor de O último dos Moicanos. Tinha 37 anos e planejava ficar um ano. Hospedou-se, com a mulher e os cinco filhos, no segundo andar de um convento e só tomou o navio de volta sete anos depois, em 1833. O convento não mais existe; em seu lugar, no nº 12 da rue de l’Abbé-Grégoire, surgiu o Ancien Hôtel de Jumilhac, por cujo balaustre de metal o fotógrafo parisiense Eugène Atget caiu de amores. Hoje o convento que virou hotel é um prédio residencial. “Desde, pelo menos, Thomas Paine muito devemos aos americanos”, justificou-se o historiador Edouard Laboulaye ao sugerir que o governo francês doasse a Nova York uma gigantesca peça de escultura simbolizando a primeira das três divisas da revolução burguesa de 1789. O presidente da República aprovou a ideia, e o escultor Frédéric-Auguste Bartholdi desenhou a Estátua da Liberdade, que, esculpida na Fundição Monduit et Béchet (rue de Chazelles, 21, no 17ème Arrondissement), embarcou para Manhattan em 4 de julho de 1884, desmontada, bien sûr. OK, Thomas Paine era britânico de nascença, mas um escritor e agitador político eminentemente americano, cujas ideias sobre democracia e direitos do homem contribuíram de maneira decisiva para a Revolução Americana e a Revolução Francesa. Paine acompanhou de perto a evolução dos acontecimentos iniciados com a derrubada da Bastilha, em 1789. Hospedou-se no nº 22 da rue Jacob, ou seja, a poucos metros da embaixada inglesa, onde em 3 de setembro de 1783 fora assinado o Tratado de Paris, pelo qual o Reino da Grã-Bretanha reconheceu formalmente o fim da guerra da independência dos Estados Unidos da América do Norte.

Literariamente tudo começou em 1926, com a chegada às livrarias de O sol também se levanta. Com seu “romance de geração”, Hemingway pôs os expatriados americanos no mapa literário. No momento em que seu narrador, Jake Barnes, saiu para espiar o footing vespertino e tomar um aperitivo com o amigo Robert Cohn no Café-Glacier Napolitain (boulevard des Capucines, 51, não existe mais faz tempo), uma nova Paris, cheia de charme e picardia, que nada tinha a ver com as de Stendhal, Flaubert, Hugo, Proust, James, entrou em cena para nunca mais sair. Nem para dar lugar a um francês. Nenhuma outra obra de ficção fez tanto pela mística boêmia de Paris. Apesar de alguns traços em comum com o jornalista William Bird, representante da Consolidated Press em Paris, e de seu nome ser um compósito do sobrenome de Natalie Clifford Barney (mais sobre ela no próximo capítulo) com a rue Jacob, Jake (née Jacob) Barnes é um alter ego quase sem retoques do autor. Os personagens que giram em torno dele foram inspirados em figuras da fauna intelectual e mundana de Montparnasse e adjacências. Alguns se irritaram com seus sucedâneos literários, mas só um deles, o escritor Harold Loeb (modelo do personagem Robert Cohn), ameaçou de morte o escritor. Hemingway resolveu pagar para ver e fez três plantões seguidos num restaurante assiduamente frequentado por Loeb, que afinal não apareceu para o ajuste de contas. É incontável o número de aficionados que já foram a Paris especialmente para peregrinar aos lugares por onde o escritor e seus personagens circularam e encheram a cara. H.R. Stoneback, autor de Hemingway’s Paris: Our Paris?, conheceu um jovem universitário americano, recém- chegado à França, determinado a consumir todo tipo de bebida mencionado em O sol também se levanta, em seus respectivos bares. Certamente não foi o único a ousar tal proeza. O jornalista John Leland arriscou-se em algo mais útil e infinitamente mais saudável: produzir um guia completo de todos os santuários (reais e ficcionais) de Hemingway. Há muito o que ver, embora grande parte dos ambientes frequentados pelo escritor tenha sido devorada pelo tempo, a especulação imobiliária e a devastadora invasão do Quartier Latin pelos godzillas da indústria da moda.

A primeira vez que Hemingway viu Paris foi no verão de 1918. Tinha 19 anos, acabara de se demitir do jornal Kansas City Star e estava a caminho da Primeira Guerra Mundial, nos campos da Itália. Seu primeiro contato com os inimigos, no entanto, deu-se ainda em Paris: um tiro de canhão alemão decapitara a estátua de São Lucas, na igreja de La Madeleine, e ele foi conferir o estrago. A chegada para ficar – na companhia de Elizabeth , sua mulher, e do filho, Bumpy – só ocorreria em dezembro de 1921. Em oito anos de vida parisiense, indo e vindo, teve uma dezena de endereços, entre moradias e provisórios refúgios para a prática literária, um dos quais emprestado pelo amigo de todas as horas, Gerald Murphy. Os mais importantes: o 74 da Cardinal-Lemoine, o 113 da Notre-Dame- des-Champs, e o 6 da Férou (para onde se mudou com a segunda mulher, Pauline Pfeiffer, em 1927). Vivia de escrever ficções e reportagens (para o jornal Toronto Star) e não se envergonhava de dar “facadas” nos amigos. Hadley tinha algum dinheiro de família e foi quem segurou a barra mais pesada. Hemingway tentou aplacar a culpa de tê-la trocado por Pauline dedicando-lhe O sol também se levanta e passando os direitos autorais sobre o romance para o nome dela. “Se não fosse você, eu não o teria escrito”, explicou-se num bilhete. O tempo demonstrou que Hadley teve a melhor das compensações: O sol também se levanta vendeu uma fábula. As pegadas de Hemingway e seus cupinchas permanecem indeléveis aqui e ali, nas duas margens do Sena, mas só os cognoscenti saberão reconhecer na galeria de arte que há tempos ocupa o nº 29 da rue des Saints-Pères o velho bistrô Michaud’s, que eu já peguei transformado na brasserie L’Escorailles. Foi lá, em seus tempos de bistrô, que ocorreu um dos episódios mais pitorescos da amizade Tom & Jerry entre Hemingway e Fitzgerald. Trocavam os dois intimidades quando Fitzgerald se queixou de que Zelda vivia a fazer pouco das dimensões de seu membro viril. “Você acha que eu tenho pau pequeno?”, perguntou Fitzgerald ao amigo. “Não sei, só vendo”, respondeu Hemingway, que sugeriu uma conferida. Ao exibir o seu músculo da alegria, no banheiro do Michaud’s, Fitzgerald foi contemplado pelo amigo com este primor de ambiguidade: “Olha, meu caro, fique sabendo que seu pau é do tamanho do seu talento literário.” Quando a festa acabou? Há controvérsias. Wickes e Putnam tampouco se afinam a esse respeito. Putnam não se guia pela partida de Henry Miller, em 1939, como faz Wickes. Pelas suas contas, a cortina baixou dez anos antes, quando o crack da Bolsa de Nova York anunciou a chegada da Depressão e a maioria dos expatriados pegou (ou viu-se obrigada a pegar) o navio de volta. Antes da diáspora, Hemingway já trocara a Europa pelo eixo Flórida-Cuba-Idaho. Depois da festa, visitou Paris sete vezes. Passou rapidamente no verão de 1931. No outono de 1933, a caminho de um safári na África, jantou com James Joyce e Nora. Quatro anos mais tarde, enquanto cobria a Guerra Civil espanhola, apareceu na livraria Shakespeare and Company para uma leitura. Em 1944, deu as caras para “libertar Paris” e arrastou a asa para Mary Welsh, com quem se casaria dois anos depois, em Cuba, e ao lado de quem faria suas três últimas incursões parisienses: em 1949, 1953 e 1956.

om um pouco de boa vontade e certo preparo físico, é possível dar conta do tour em três C dias, dividindo-o em seis etapas, começando, sagesse oblige, pela Rive Gauche. A maior concentração de pontos históricos fica entre o boulevard Saint-Michel (boul’mich, para os íntimos) e Montparnasse. Montmartre? É de outra era. Foi a capital boêmia de Paris do século XIX, berço do cancan, embora já em meados dos oitocentos dividisse com Montparnasse (ou Mount Parnassus, como a ela se referia a estudantada da época) a preferência de artistas, poetas, escritores e os demais modelos que inspiraram os personagens de Scènes de la vie de bohème, de Henri Murger, matéria-prima do libreto da ópera La bohéme, de Puccini. Por puro comodismo, iniciei o meu roteiro pela Cardinal-Lemoine. Passara uma temporada hospedado quase defronte ao mais célebre endereço de Hemingway em Paris e me afeiçoara ao entorno. Recomendo outro itinerário. Deixe a região da Sorbonne para depois. Parta de algum ponto de Saint-Germain-des-Près ou de Saint-Michel e de lá tome o rumo dos Jardins de Luxembourg ou de Montparnasse (se partiu de Saint-Germain) ou da Sorbonne (se partiu do boul’mich). A pé, sempre a pé; flâneur que se preza não anda de táxi, nem de ônibus, nem de metrô, flana tout simplement. Até para cruzar o Sena e as Tulherias, rumo à grã-finalha da Opéra, da Étoile e dos Champs- Élysées, gaste a sola do sapato. E regale-se com a constelação de hotéis, cafés, brasseries, bares, restaurantes, livrarias e praças que adquiriram uma aura de deus loci (lugares santos), bem mais atraentes, para certo tipo de viajante, do que o Arco do Triunfo. Vários marcos históricos não existem mais. Ou desapareceram, como a livraria Shakespeare and Company original, ou mudaram de nome, como o bistrô Michaud’s (rue des Saints-Pères, 29), palco daquele desagradável papo sobre dimensões penianas entre Hemingway e Fitzgerald, que virou brasserie (L’Escorailles) e há algum tempo abriga uma galeria de arte. O Hôtel Corneille, preferido dos irlandeses, entre os quais James Joyce e William Butler Yeats, foi incendiado por ocupantes nazistas e hoje é um prédio de apartamentos, colado à livraria das Éditions Honoré Champion. O Vélodrome d’Hiver, no nº 8 do boulevard de Grenelle, onde Hemingway assistia a corridas de bicicletas, vez por outra na companhia de Allen Tate, transfigurou-se em memorial dos judeus franceses deportados pelos nazistas e finalmente foi abaixo em 1959. Outros não só foram conservados como ostentam, com orgulho, em suas fachadas, o motivo de sua singularidade. Na entrada do n° 27 da rue de Fleurus, por exemplo, uma placa anuncia que Gertrude Stein e Alice B. Toklas ali residiram de 1903 a 1938. Onde seu rival Joyce vivia nada puseram. No entanto, atrás da igreja de Santo Eustáquio, no coração de Les Halles, mais exatamente no n°5 da rue du Jour, há um pub irlandês que me disseram ter-se chamado, um dia, James Joyce, mas de há muito leva o nome de Quigley’s Point. nº 27 da rue de Fleurs. Aqui Gertrude Stein, madrinha e abelha-mestra da Geração Perdida, morou com sua companheira Alice B. Toklas, de 1903 a 1938.

nº 5 da rue du Jour.

uas mulheres chegaram na frente a Saint-Germain-des-Près. E no mesmo ano: 1909. D Ambas causaram alvoroço, mas apenas uma delas, a dançarina Isadora Duncan, internacionalizou sua fama para valer. Já na cidade havia nove anos, Duncan alugou dois apartamentos no n° 5 da rue Danton: o do térreo, nos fundos, para morar, e o do primeiro andar para uma escola de dança. A outra pioneira, a poeta e dramaturga Natalie Clifford Barney, arrumou seus pertences num pavilhão de dois andares na rue Jacob, 20. Vistosa ricaça de Ohio, que aprendera francês com a governanta da família e viera a Paris para estudar, Natalie acabou se tornando a segunda mais badalada hostess cultural da cidade nas duas primeiras décadas do século. Marcel Proust, Apollinaire, André Gide, Joyce, T.S. Eliot, Sherwood Anderson e Virgil Thomson foram algumas das estrelas que cintilaram em seus saraus semanais. Natalie, a exemplo da hostess número um, Gertrude Stein, era lésbica, mas do tipo extrovertido. Suas orgias sáficas deixaram o mulherio parisiense ouriçado e os marmanjos mais ainda. Na mesma calçada, no nº 44, existe até hoje o Hôtel d’Angleterre, antiga embaixada britânica onde o Tratado de Paris foi assinado, cujo elenco de hóspedes ilustres é de se tirar o chapéu. Parece igual ao que era no início do século XIX, quando o escritor Washington Irving lá se recolhia ao final do dia, mas, infelizmente, do prédio original restam apenas os dois primeiros degraus da escadaria à esquerda. Em 1921, Anderson alugou por US$ 0,75 naquele hotel um quarto duplo, que Hemingway e Hadley herdariam, pela mesma pechincha, poucos meses depois. Hemingway planejara levar a mulher até a Itália, para matar saudade dos lugares que percorrera durante a guerra como “soldado” da Cruz Vermelha, mas Anderson afinal o convenceu de que Paris era “o lugar do momento”, não Milão ou Roma. E ainda lhe deu três cartas de recomendação: uma para Joyce, outra para Gertrude Stein e a terceira para a escritora, editora e livreira Sylvia Beach. Uma dica: quem quiser hospedar-se no mesmo quarto em que o casal Hemingway ficou, no Hôtel d’Angleterre, terá de fazer reserva com bastante antecedência: o sacrossanto 14 está sempre, et pour cause, ocupado. Uma diária de casal sai por cerca de 300 dólares. Nos primeiros meses, os Hemingways costumavam comer no baratinho Le Pré aux Clercs, ainda em funcionamento na esquina da Jacob com Bonaparte. Só quebraram a rotina no primeiro Natal na cidade. Desceram a Bonaparte, atravessaram o Sena pela Pont des Arts e foram almoçar no Café de la Paix, ao lado da Place de l’Opéra. Ao conferir a addition, Hemingway se deu conta de que não tinha como pagar a despesa com os caraminguás que trazia no bolso, e o jeito foi deixar Hadley plantada na mesa do restaurante até ele voltar do hotel com os francos necessários. Bistrô Le Pré aux Clercs, na esquina da Jacob com a Bonaparte. Por falar na Bonaparte, no n° 36 há um hotel (Saint-Germain-des-Près) onde Janet Flanner produziu os primeiros dos seus 700 artigos sobre Paris para a revista The New Yorker, com o nom de plume Genêt, e introduziu Hemingway na irresistível ficção de Simenon. Sua mansarda foi ocupada por Henry Miller em fevereiro de 1930. A alguns passos dali fica a minúscula Place de Furstenberg, um dos xodós parisienses de Miller, que a ela se refere num capítulo de Trópico de Câncer, comparando suas quatro árvores à poesia de Eliot. Nove foi um número cabalístico em Saint-Germain. No n° 9 da rue de l’Université, então ocupado por uma pensão que daria lugar ao Hôtel Lenox, Eliot empilhou seus livros no outono de 1919 e Joyce, os seus em meados de 1920, por recomendação de Pound. Este, por sua vez, morava no Hotel Élysée (rue de Beaune, 9), hoje uma loja de luminárias. Place de Furstenberg Ao n° 9 da rue de Lille recolheu-se por uns tempos o escritor Richard Wright, a convite de um amigo. Já o n° 9 da rue Gît-le-Coeur, atual Relais Hôtel du Vieux Paris – o ponto preferido da Beat Generation (foi num de seus quartos que William Burroughs escreveu os últimos capítulos de Almoço nu (Naked Lunch) – ganhou notoriedade graças a uma molecagem de E.E. Cummings. Tarde da noite, por ali passavam, de porre, Cummings, Dos Passos e Gilbert Seldes, quando o poeta resolveu aliviar a bexiga bem na porta do estabelecimento. Os três terminaram a noitada na chefatura mais próxima.

Hôtel Lenox, nº 9 da rue de l’Université. Outro beat de proa, Lawrence Ferlinghetti, preferiu ficar no Hôtel de Seine, no 52 da rue de Seine, tão típica da cidade que os cenógrafos da Metro a tomaram por modelo para os cenários de Sinfonia de Paris. Foi numa das paredes daquela rua, me perdoem a digressão, que o anarquista/situacionista Guy Debord grafitou, em 1953, sua mais célebre palavra de ordem: “Ne travaillez jamais.”

Hôtel de Seine Eugene Jolas, uma das figuras fundamentais para a literatura de vanguarda dos anos 1920, fundou e editou os primeiros números da revista Transitions na rue de Verneuil, 6. Seu companheiro de profissão, o jornalista e humorista James Thurber, uma das maiores estrelas da The New Yorker, só deixou seu nome no livro de hóspedes do hotel Crystal (rue Saint-Benoît, 24), ao lado do Café de Flore, por falta de vaga no Hôtel d’Alsace. Isso em 1937, quando levou a mulher, Helen, para passar férias na cidade em que na década anterior trabalhara como correspondente do Chicago Tribune. Ficaram na Chambre Rouge do Crystal por três dias, com Thurber desvelando-se com os garçons do Flore para que nunca faltasse suco de laranja natural, espremido na hora, no petit déjeuner de Helen. Um dos endereços com mais história no Quartier Latin é o n° 13 da rue des Beaux Arts. Ganhou destaque num dos capítulos de Of time and the river, de Thomas Wolfe, que ali esvaziou as malas em 1925, atraído pela informação de que Oscar Wilde morrera num de seus quartos, na virada do século; o que é verdade, informa uma placa na fachada do hotel (presunçosamente batizado L’Hôtel), também orgulhoso de haver hospedado Jorge Luis Borges nas viagens que o argentino fez a Paris entre 1977 e 1984.

L’Hôtel, nº 13 da rue dês Beaux Arts. Neste prédio (hoje L’Hôtel) morreu o escritor irlandês Oscar Wilde, em 30 de novembro de 1990, e costumava hospedar-se o escritor argentino Jorge Luis Borges entre 1977-1984. nº 172, blvd. Saint-Germain nº 170 do blvd. Saint-Germain nº 151, blvd. Saint-Germain. Naquela zona, Hemingway & cia. circulavam amiúde pelo triângulo formado por dois cafés (Flore e Les Deux Magots) e uma brasserie (Lipp), na confluência do boulevard Saint-Germain com a rue de Rennes. São esses, aliás, os três points mais badalados da mundanidade intelectual parisiense. Mesa vazia na alta temporada? Esqueça. O Flore e seu vizinho, Les Deux Magots, separados apenas por uma livraria, La Hune, também com um respeitável lastro histórico, mas prestes a ceder seu espaço para uma grife de roupas, como tantas outras livrarias daquele pedaço, sempre dividiram sua clientela. Para fazer anotações e rascunhar ficções, Hemingway preferia o Flore, hábito que Simone de Beauvoir, também habituée, manteve durante a Segunda Guerra Mundial. Jean-Paul Sartre tinha mesa cativa nos dois cafés. Entre os incontáveis encontros inesquecíveis ocorridos no Deux Magots, dois se destacam: o de Picasso com Dora Maar, apresentados pelo poeta Paul Éluard, e o de James Baldwin com Richard Wright, assim que o primeiro desembarcou em Paris, em novembro de 1948. Não é menos rico o repertório de clientes e eventos da Brasserie Lipp. Um de seus primeiros entusiastas foi o dramaturgo Thornton Wilder, que bateu lá por acaso, ao cabo de uma fatigante promenade pela Rive Gauche, na companhia do pugilista Gene Tunney, campeão mundial dos pesos-pesados entre 1926 e 1928, por incrível que pareça vivamente interessado em “conhecer por dentro” a vida cultural parisiense. Hemingway adorava um prato que permaneceu no menu da casa até depois da morte do escritor: cervelas remoulade (salsichão com maionese de picles e mostarda) e pommes à l’huile (batatas assadas no azeite), regados a cerveja Kronenbourg. Em agosto de 1944, ele deu as caras por lá, de arma em punho, para “libertar” o restaurante dos nazistas, bravata a que brindou com uma garrafa inteira de conhaque Martell três estrelas — cortesia da casa.

Lutetia, nº 45, blvd. Raspail. Também o centenário Lutetia permanece onde e como sempre esteve: no boulevard Raspail, aquela avenida que Jake Barnes considerava feia e aborrecida. Hotel cinco estrelas, o primeiro art déco de Paris, foi em seu restaurante, em janeiro de 1924, que o poeta William Carlos Williams, de passagem pela cidade, manteve contatos com Sylvia Beach, dona da livraria Shakespeare and Company, e mais Joyce, Pound, Anderson e Louis Aragon. Dois anos depois, o ainda inédito romancista Nathanael West, muito jovem e com outro nome (Nathan Weinstein) no passaporte, espantou-se com o luxo do hotel e em poucos minutos descobriu que, apesar do câmbio favorável, não tinha como bancar a diária por mais de uma semana. E foi se afrancesar em outra freguesia. Quem passa pelo boulevard Saint-Germain, na altura do carrefour de l’Odéon, não tem como deixar de ver quase na esquina da rue de l’Ancienne-Comédie a florida fachada do restaurante Le Procope. É o mais antigo de Paris e, por sua proximidade com a área universitária, um secular recanto de artistas e maîtres à penser desde Racine e Molière. Sob nova administração desde 1980, assumiu sua breguice ao vestir os garçons com roupas do século XVIII. Os expatriados nunca lhe deram muita bola, mas vale a pena arriscar uma espiada. Só uma espiada. A comida há muito deixou de ser recomendável. nº 5 da rue Christine. O tour por Saint-Germain pode terminar diante do n°5 da rue Christine. Passou a ser este o adresse de Gertrude Stein e Alice B. Toklas depois que a proprietária do apartamento da Fleurus as despejou em 1938. Alice morou lá até 1964.

1 - rue de Beaune, 9 Ezra Pound 2 - rue de Lille, 9 Richard Wright 3 - rue de Verneuil, 6 Revista Transitions Eugene Jolas 4 - rue de l´Université, 9 Hotel Lenox T. S. Eliot e James Joyce 5 - rue Jacob, 44 Hôtel d´Angleterre Sherwood Anderson, Ernest Hemingway 6 - rue Bonaparte, 30 Le Pré aux Clercs Ernest Hemingway 7 - rue Bonaparte, 24 Henry Miller 8 - rue des Beaux Arts, 13 Thomas Wolfe 9 - rue Jacob, 20 Natalie Clifford Barney 10 - rue de Seine, 52 Hôtel de Seine Lawrence Ferlinghetti 11 - Place de Furstenberg Henry Miller 12 - Les Deux Magots 13 - rue Bonaparte, 36 Hôtel Saint-Germain-des-Près TJanet Flanner e Henry Miller 14 - rue Saint-Benoît, 24 Hotel Crystal James Thurber 15 - Café de Flore 16 - Brasserie Lipp 17 - Lutetia 18 - rue de l´Ancienne Comédie, 18 Le Procope 19 - rue Christine, 5 Gertrude Stein e Alice B. Toklas 20 - rue Saint-Andrés des Arts, 46 E. E. Cummings 21 - rue Saint -André des Arts, 28 Jack Kerouac 22 - rue Gît-le-Coeur, 9 Relais du Vieux Paris William Burroughs 23 - rue Danton, 5 Isadora Duncan

JARDINS DE LUXEMBOURG região dos Jardins de Luxembourg praticamente empatava com Saint-Germain-des-Près e A Montparnasse na preferência dos expatriados. Por ali hospedaram-se em pequenos hotéis ou alugaram estúdios figuras como Pound, Man Ray, William Faulkner, Edmund Wilson, Edna St. Vincent Millay, William Carlos Williams, Richard Wright e Nathanael West – além do onipresente Hemingway e o casal Fitzgerald. Foi à sombra das árvores do Luxembourg que, numa epifania, Lambert Strether, o protagonista de Os embaixadores, de Henry James, “descobriu-se um europeu”. Uma vez mais, palmas para a pioneira Isadora Duncan, por haver redescoberto os encantos dos Jardins no primeiro ano do século passado. No verão, assim que o Luxembourg, o segundo maior parque público da cidade, abria os portões, às cinco da matina, Isadora escolhia uma aleia e, entre acácias, sapindáceas e ulmáceas, dava um show de dança gratuito para os madrugadores do bairro. Pouco depois Gertrude Stein instalou seu concorrido salon nas vizinhanças. E, alguns anos mais tarde, Sylvia Beach abriu sua livraria.

Além de servir de pista para saudáveis caminhadas e corridas, os jardins continuam sendo o solário mais prestigiado da Rive Gauche. De vez em quando, Gertrude e Alice B. Toklas tiravam o mofo sentadas em duas cadeiras de metal que ainda estão lá, do lado da rue Guynemer, a poucos metros de uma estátua de Charles Baudelaire, em cuja base Basket, o cachorro de Gertrude, fez muito xixi. Pound (que passou o verão de 1921 no Hôtel Pas-des-Calais, na rue des Saints- Pères, 59) e Edmund Wilson (hospedado na rue du Four, 16) tinham o hábito de cortar caminho pelo Luxembourg fosse qual fosse o seu destino. Com a palavra, Hemingway: Se me encaminhava, à tarde, por qualquer rua, aos Jardins de Luxembourg, podia passear pelos jardins e depois ir ao Musée du Luxembourg, onde se encontravam os grandes quadros que, em sua maioria, hoje estão no Louvre e no Jeu de Pomme. Ia lá quase todos os dias por causa dos Cézannes e para ver os Manets, os Monets e os outros impressionistas de que tinha tomado conhecimento pela primeira vez no Instituto de Arte de Chicago. Estava aprendendo com a pintura de Cézanne algo que tornava as frases simples e verdadeiras que eu escrevia coisa muito aquém das dimensões que tentava dar a meus contos. Estava aprendendo muito com ele, mas não conseguia clareza suficiente para comunicá-lo a quem quer que fosse. Além disso, era como que um segredo entre nós dois. Quando já não havia luz no Luxembourg, podia voltar pelos jardins e dar um pulo ao apartamento-estúdio onde Gertrude Stein morava.

James Joyce com sua editora Sylvia Beach. William Faulkner, com a barba que deixou crescer na viagem e lhe deu um je ne sais quoi de poeta francês, adorava os jardins. Boa parte dos meses que passou no último andar do n° 26 da rue Servandoni, em 1925, gastou-os apreciando o movimento no Luxembourg da janela do quarto. Distraía-se sobretudo com as brincadeiras das crianças, que às vezes observava de perto, sentado num banco de ferro. De uma longa e apaixonada descrição dos jardins Faulkner extraiu o clímax do romance Santuário, publicado seis anos depois. Já Hemingway preferia os pombos da fonte Médicis. Se não havia alguém por perto, pegava um para comer. Mas só fez isso enquanto andou na pindaíba, nos primeiros anos de Paris. Com mais dinheiro no bolso, deixou os pombos em paz, trocou de mulher (Pauline Pfeiffer) e de endereço (rue Férou, 6, presente de um tio rico dela), deu uma boa adiantada no romance Adeus às armas, e parou de pendurar contas no vizinho American Club. Ponto de encontro de escritores e desocupados de fala inglesa, num prédio posteriormente ocupado por uma cafeteria e uma mercearia, o American Club (rue de Vaugirard, 33) teve o seu momento de glória ao servir de ringue para uma desatinada luta de boxe de Hemingway com o escritor canadanese Morley Callaghan, no verão de 1929. Hemingway não só perdeu a disputa como brigou feio com o árbitro. O árbitro era Fitzgerald, que desde a primavera anterior morava na Vaugirard. Ele e Zelda se beneficiaram do pied-à-terre que o casal milionário Gerald-Sara Murphy mantinha no nº 58; Scott escrevendo contos e remanchando o romance Suave é a noite, Zelda tomando aulas de dança com Lubov Egorova, ex-prima ballerina do Ballet Russe de Diaghilev e grande amiga dos Murphys.

Gertrude Stein, Basket e Alice B. Toklas. Vaugirard é a mais badalada e bem habitada das ruas que tangenciam os Jardins de Luxembourg. Além dos Murphys e dos Fitzgeralds, nela residiram, em épocas diferentes, Ford Madox Ford, Allen Tate, Aaron Copland, Richard Wright, Thomas Eakins e até, surpreendentemente, o beat Ferlinghetti. Indo pela Férou, na direção oposta aos jardins, chega-se à rue du Vieux-Colombier, enclave do Le Vieux-Co, clube de jazz consagrado pelo clarinetista negro Sidney Bechet (ficava no n° 21), a quem Boris Vian, Sartre e outros luminares do existencialismo tratavam como um deus. Literalmente: “Le dieu.” Bechet tinha vindo pela primeira vez a Paris em setembro de 1925, na trupe do espetáculo La Revue Nègre. Preso injustamente no meio de um charivari de rua e em seguida deportado, retornou no final dos anos 1940, “porque queria ficar mais perto da África e fazer carreira a salvo do racismo americano”. Nem morto Bechet voltou para New Orleans. Na companhia de Shakespeare (ou Shakespeare e o resto do pessoal) Assim como existe mais de um Harry’s Bar no mundo, chega a três ou quatro o número de livrarias com o nome de Shakespeare and Company espalhadas pela Europa e Estados Unidos. A legítima, no entanto, fica em Paris. Legítima em termos: a que o bravo George Whitman inaugurou em 1951, à margem do Sena e de frente para a catedral de Notre-Dame, não passa de uma sucedânea da Shakespeare and Company criada por Sylvia Beach 32 anos antes. Sem Beach e Gertrude Stein, a história dos marmanjos da Geração Perdida teria sido bem diferente. As duas, além de americanas e cultíssimas (Beach foi escritora, editora, animadora cultural e mecenas), eram homossexuais. A Alice B. Toklas de Beach chamava-se Adrienne Monnier e já mexia com livros quando se conheceram. À frente da Maison des Amis des Livres, no n° 7 da rue de l’Odéon, Monnier só vendia obras francesas e comandava tertúlias com o crème de la crème das letras nativas: André Gide, Paul Valéry, Paul Claudel, Louis Aragon etc. Graças a ela, Beach conseguiu alugar uma loja no nº 8 da rue Dupuytren, onde abriu a primeira Shakespeare and Company. Apadrinhada por Valéry Larbaud, ali ficou vinte meses, dando expediente das 9 da manhã ao meio-dia e das 14h às 19h. Só fechava aos domingos e feriados. No verão de 1920, durante um coquetel promovido por Monnier, Joyce entrou em sua vida. Vislumbrou-o entre duas estantes e, trêmula de emoção, aproximou-se do autor de Retrato do artista quando jovem, cuja leitura a deslumbrara, e exclamou: “Ora, se não é o grande James Joyce!” “James Joyce”, assentiu o escritor, suprimindo modestamente o adjetivo e oferecendo à admiradora sua flácida mão direita para um seco boa-tarde. Beach achou engraçada a maneira como o escritor se autodefiniu para ela: “Sou um Cristo transviado.” Esboçava-se naquele instante uma parceria que mudaria o curso da literatura moderna. Antes disso, porém, Beach trocaria de pouso. Em julho de 1921, a segunda e definitiva Shakespeare and Company (mais tarde apelidada de “Stratford-on-Odéon” por Joyce) abria suas portas no nº 12 da rue l’Odéon. À exceção, talvez, do nº 27 da rue de Fleurus, onde morava Gertrude Stein, nenhum outro endereço foi mais conhecido e bem frequentado na Paris dos anos 1920.

Shakespeare and Company hoje, nº37 da rue de la Bûcherie. Porque saía caro importar livros da América e da Inglaterra, Beach permitia que seus fregueses os tomassem emprestados mediante um pagamento semanal em torno de 28 francos. Gide utilizou seus serviços durante dez anos; tinha o carimbo da Shakespeare & Co. o exemplar de Moby Dick que ele leu pela primeira vez na vida. Valéry levou para casa todos os poemas de Robert Frost e os ensaios de Emerson. Durante a ocupação nazista, uma mocinha chamada Simone de Beauvoir descobriu naquela “wonderland of books” (apud Henry Miller) a ficção de Hemingway e Faulkner. Personalidades de outras áreas, como Gershwin e o cantor negro Paul Robeson, também se tornaram abonnés da livraria. Afora estreitar as relações entre os intelectuais franceses e a literatura anglo-saxônica, patrocinar novos talentos, cuidar das finanças e até da alimentação de Hemingway, Beach tomou a si a missão de publicar Ulisses. Logo em sua primeira visita à livraria, Joyce conseguiu convencê-la a levar adiante o que Virginia Woolf, por razões morais, se recusara a fazer com o selo da Hogarth Press. Beach saiu atrás de leitores em potencial do livro, nos dois lados do Atlântico, numa operação de venda antecipada que se revelou bem mais árdua que a contratação de 26 linotipistas para engrossar a equipe da gráfica de Maurice Darantière, em Dijon, onde o livro foi impresso. Mudando e acrescentando palavras, frases e parágrafos inteiros a cada prova que lhe chegava às mãos, Joyce quase levou os linotipistas e revisores à loucura. Na véspera do seu 40° aniversário, em fevereiro de 1922, Joyce recebeu os dois primeiros exemplares de Ulisses. Por nenhuma das seis edições do livro, Beach recebeu um tostão, deixando tudo para o autor, que, ingrato, preferiu vender os direitos de Finnegans Wake à editora Random House, em 1932, após tê-los prometido à Shakespeare and Company. De todo modo, a Depressão trouxe mais prejuízos a Beach do que Joyce. Com o crack da Bolsa de Nova York, a maioria dos expatriados voltou às pressas para a América, muitas mesadas foram cortadas, o afluxo de turistas caiu, e o incipiente movimento de vendas na livraria precisou ser compensado com a ajuda dos amigos mais chegados. Gide, Hemingway, Eliot, Valéry e o músico George Antheil (que durante anos morou no andar de cima da loja) foram alguns dos que se prontificaram a participar de leituras de textos e outros eventos para evitar que a Shakespeare and Company fechasse as portas. Beach tentou fazer vista grossa para a ocupação nazista, mantendo a livraria aberta para meia dúzia de gatos pingados. Mas não foi por razões econômicas que decidiu fechá-la, definitivamente, em 1941. Um dia, um oficial alemão deu as caras, disposto a comprar o exemplar de Finnegans Wake autografado por Joyce que Beach mantinha na vitrine. Diante da recusa, o soldado ameaçou confiscar todos os livros da loja. Beach mais que depressa depositou todo o estoque em lugar seguro e passou o ponto. Em 26 de agosto de 1944, Hemingway saltou de um jipe diante do n°18 da rue de l’Odéon, onde Beach e Monnier mantinham seus apartamentos. Estava fardado e trazia no ombro uma metralhadora. Havia manchas de sangue em seu uniforme. O encontro com Beach, na calçada, foi cinematográfico. “O que posso fazer por você e Adrienne?”, perguntou Hemingway. “Vê se dá um jeito nos franco-atiradores nazistas, tocaiados no telhado da gente”, sugeriu Beach. E lá se foi o façanhudo Papá, com seus homens, caçar nazistas nos telhados da rue de l’Odéon. Monnier morreu em 1955. Beach viveu mais sete anos. Já a Shakespeare and Company, pelo visto, é imortal. Hoje ela fica no nº 37 da rue de la Bûcherie, mais para os lados de Saint-Michel do que para Saint- Germain. Cercada por duas igrejas e de frente para a catedral onde Quasimodo apaixonou-se por Esmeralda, a atual Shakespeare and Company é o que parece à primeira vista: um grande sebo. Seu proprietário, um velhinho magrelo de barbicha branca à la Pound chamado George Whitman, primeiro deu-lhe o nome de Le Mistral. Sobrinho-neto do poeta Walt Whitman, George, nascido em Salem (Massachusetts) em 1913, começou sua “vida literária” parisiense emprestando livros em língua inglesa aos GIs americanos. Só depois da morte de Sylvia Beach a livraria passou a chamar-se Shakespeare and Company, com o beneplácito da livreira, assídua espectadora das leituras de poesia que Whitman patrocinava na Mistral. Conheci-o em 1989, metido num terno de veludo verde-garrafa, a receber os fregueses com um sorriso cativante, ora sentado, ora de pé ao lado de uma caquética poltrona de couro, diante da qual uma mesa abarrotada de livros e panfletos acabara de ser inundada pelo ralo café de um copo de plástico subitamente desestabilizado por suas mãos agitadas. “Salvem as revistas”, gritou ele para um auxiliar. As revistas, duas pilhas delas, escaparam ilesas. As revistas não eram nenhuma relíquia. Ainda cheirando a tinta de impressão, haviam acabado de chegar da gráfica para consumo dos fregueses da livraria. Cada exemplar de Paris Magazine, publicação oficial da Shakespeare and Company, então custava 20 francos. Quem há tempos faz as honras da casa é a filha do dono, Sylvia (sim, é uma homenagem a Mlle. Beach), que se esmera em manter todas as suas tradições, sem sacrifício da pensão no segundo andar em que qualquer um pode hospedar-se por uma semana. Os beats Allen Ginsberg, Gregory Corso e Ferlinghetti talvez tenham sido seus fregueses mais notórios. O “hotel Tumbleweed” (apelido dado pelo próprio Whitman) não cobra um tostão, mas exige que cada hóspede escreva um curto relato autobiográfico e leia um livro por dia. A Shakespeare and Company só fecha na mesma hora em que a carruagem da Cinderela vira abóbora. Nas tardes de domingo, há sempre um chá com a presença ocasional de um figurão literário. “Para muita gente isto aqui é a Universidade Livre de Paris”, gaba-se o orgulhoso herdeiro espiritual de Sylvia Beach. Já lhe ofereceram 3 milhões de dólares pelo ponto. “Não se vende uma vida”, respondeu. Sylvia Beach diante da primeira livraria Shakespeare and Company, com seu hóspede permanente, George Anthell, entrando por onde sempre entrava: pela janela. 1 - rue de la Bucherie, 37 Shakespeare & Company 2 - rue Dupuytren, 8 Sylvia Beach 3 - rue de l’Odéon, 12 Shakespeare & Company, Ernest Hemingway, Sylvia Beach, George Antheil rue de l’Odéon, 7 livraria Maison des Amis des Livres, Adrianne Monnier 4 - rue Monsieur-le-Prince, 14 Richard Wright 5 - rue de Vaugirard, 1 Richard Wright 6 - Théâtre de l’Odéon, 6 Allen Tate 7 - rue de Vaugirard, 30 Aaron Copland rue de Vaugirard, 32 Allen Tate 8 - rue Servandoni, 26 William Faulkner 9 - rue Férou, 6 Hemingway e Pauline Pfeiffer 10 - rue Férou, 2 Man Ray 11 - rue de Vaugirard, 58 F.Scott & Zelda Fitzgerald 12 - rue de Vaugirard, 33 American Club 13 - rue de Fleurus, 27 Gertrude Stein & Alice B Toklas 14 - Blvd. Raspail, 207 Aaron Copland 15 - rue de Vaugirard, 89 Lawrence Ferlinghetti 16 - rue Régis, 4 Richard Wright 17 - Blvd. Raspail, 43-45 Hôtel Lutetia Nathanael West, William Carlos Williams 18 - rue du Vieux-Colombiers, 21 Sidney Bechet 19 - rue du Four, 16 Edmund Wilson 20 - rue des Saints-Pères, 59 hôtel Pas-de-Calais Ezra Pound 21 - rue des Saints-Pères, 65 Edna St. Vincent Millay

ão importa qual o café que você queira visitar em Montparnasse. Quando pegamos um táxi N na Rive Droite, o motorista sempre nos leva ao Rotonde”, reclama Jake Barnes, o herói de O sol também se levanta, que achava o Rotonde incomodamente soturno. Um dos quatro pilares da folgança montparnasseana, como os outros três – o Café du Dôme, o restaurante La Coupole e o café Le Sélect – até hoje fica na confluência do boulevard du Montparnasse com a rue Vavin. Montparnasse era o reino da indócil e carnuda Kiki, a fêmea mais cobiçada do bairro, modelo e amante de vários artistas. Seu caso com Man Ray durou seis anos e quem quiser saber como os dois viveram no n° 31 da rue Campagne-Première, é só mergulhar nas memórias que ela escreveu, Hemingway prefaciou e Edward Titus publicou.

blvd. du Montparnasse, 1930. nº 108, blvd. du Montparnasse. Acima, em 1925. Abaixo, atualmente. nº 99 do blv. du Montparnasse. Acima, atualmente. Abaixo, em outubro de 1955. Titus era um figuraço. Polonês naturalizado americano, casado com a rainha dos cosméticos, Helena Rubinstein, vivia num mundo à parte, cuidando da editora The Black Manikin e da livraria At the Sign of the Black Manikin, aberta em 1924, ambas no andar térreo do n°4 da rue Delambre, onde morava. Rubinstein preferia seu suntuoso nicho na ilha de Saint-Louis. Queria distância do marido (“um estroina”) e da turma que o cercava (“esquisita demais”). Joyce, por exemplo, dizia ela, “até cheirava mal”. Foi Titus quem editou o escandaloso O amante de Lady Chatterley, de D.H. Lawrence, em 1929, e até 1932 sustentou a This Quarter, uma das revistas literárias mais expressivas da época. nº 31 da rue Campagne-Premiére. Outra personalidade não intelectual de Montparnasse que também escreveu memórias prefaciadas por Hemingway, Jimmie “The Barman” Charters, era a alma do Dingo Bar. Famoso pelos bifes que servia – e por ter sido o botequim em que Hemingway e Fitzgerald se encontraram pela primeira vez – o Dingo ficava na mesma calçada em que Titus morava e defronte ao curioso prédio art déco (rue Delambre, 9) em que Isadora Duncan se alojou tão logo concederam o habite-se, em 1926. O prédio de La Duncan não mudou nada; no lugar do Dingo surgiu um hotel, l’Auberge du Centre, e, mais tarde, um restaurante de comida italiana, l’Auberge de Venise. Ao trocar o Dingo pelo Café Falstaff (rue du Montparnasse, 42), Jimmie Charters levou junto sua fiel clientela. Do lado de fora, o Falstaff parece o mesmo de oito décadas atrás; por dentro mudou à beça. Seus fregueses testemunharam uma das brigas mais patéticas de Hemingway. Quem, daquela vez, levou porrada foi o escritor, poeta e editor Robert McAlmon, vítima de uma futrica de Fitzgerald. Porres e porradas eram tão corriqueiros em Montparnasse quanto discussões estéticas e políticas. E mal-entendidos. No verão de 1927 foi La Duncan quem distribuiu sopapos e pontapés num dos cafés do boulevard. Vítima: o jornalista americano Floyd Gibbons. Motivo: a condenação à morte dos anarquistas Sacco e Vanzetti. Isadora era contra a condenação; Gibbons, a favor. Local do delito: Le Sélect. Enquanto a execução de Sacco e Vanzetti esteve pendente, os expatriados americanos e seus amigos europeus fizeram vigília no Sélect, pano de fundo do encontro de Jake Barnes e Robert Cohn com Harvey Stone, num dos capítulos de O sol também se levanta. Dos baluartes boêmios de Montparnasse, o mais antigo é o Dôme. Aberto em 1898, teve Lênin e Trotsky como fregueses e tornou-se o favorito dos exilados alemães nos anos 1930. O segundo em antiguidade é o La Rotonde, inaugurado em 1911 e prestigiado por Apollinaire, Picasso, Vlaminck, Modigliani – e Edna St. Vincent Millay, que, alheia à sua soturnidade, lá almoçava todos os dias. Virou armadilha para turistas, cobrando os olhos da cara por um coquetel. A alguns metros do Dôme fica o amplo La Coupole, que literatos, filósofos, jornalistas, gente de teatro e artistas plásticos transformaram numa espécie de fórum ecumênico logo após sua inauguração, no Natal de 1927. Há muito perdeu sua aura, mas não seu penchant para atrair fregueses sem imaginação. Justamente por ser esnobado pela patota do bairro, o restaurante-bar La Closerie des Lilas, na extremidade do boulevard, caiu nas graças de Hemingway. Vizinho ao apartamento em que ele e Hadley foram morar, na Notre-Dame-des-Champs, em cima de uma serraria, não tinha badalação e ainda contava com uma varanda arborizada dando para a estátua do napoleônico marechal Michel Ney. Havia sido um tugúrio de poetas franceses à procura de sossego e inspiração, mas Blaise Cendrars foi o único bardo nativo com quem Hemingway cruzou – ou melhor, quase cruzou, numa tarde qualquer. Como num filme de Jacques Demy, o americano saiu por uma porta justo na hora em que o francês entrava por outra. Na varanda do Closerie des Lilas Hemingway escreveu o conto Big two-hearted river, terminou o primeiro tratamento de O sol também se levanta (deixando para fazer as correções no quinto andar do n° 69 da rue Froidevaux, emprestado por Gerald Murphy), e entornou muito vermouth cassis com Dos Passos e líquidos “menos inócuos” com Madox Ford. Quando bebia tout seul, preferia bourbon. Sua mesa favorita também se prestou a marketing turístico. E o mesmo se diga de uma foto do escritor quando jovem, em exposição permanente no bar. nº 127, blvd. du Montparnasse. “Quando me aproximei do Closerie des Lilas”, recordaria Hemingway num capítulo de Paris é uma festa, “os refletores iluminando meu velho amigo – a estátua do marechal Ney com a sua espada desembainhada – as sombras das árvores batendo no bronze e ele sozinho ali, sem ninguém atrás dele, lembrei-me de seu fiasco em Waterloo e concluí que todas as gerações eram perdidas por alguma coisa, sempre tinham sido e sempre haveriam de ser. Parei no Lilas para fazer companhia à estátua e beber uma cerveja gelada antes de ir para casa, para o apartamento sobre a serraria. Mas, sentado ali com a cerveja, contemplando a estátua e lembrando-me dos muitos dias que Ney tinha combatido pessoalmente com a retaguarda, na retirada de Moscou, quando Napoleão já tinha ido embora de carruagem, com Caulaincourt, pensei na cálida e afeiçoada amiga que Miss Stein tinha sido e nas belas coisas que dissera de Apollinaire e de sua morte no dia do Armistício de 1918, com a multidão gritando ‘A bas Gillaume!’ e Apollinaire, no delírio, pensando que estavam gritando contra ele. Prometi-me fazer tudo para servir a Miss Stein e ajudá-la a obter reconhecimento pela boa obra que fez, enquanto eu pudesse, com as graças de Deus e de meu amigo Ney. Mas que fossem para o inferno sua conversa mole sobre a tal geração perdida e todos os rótulos sujos e fáceis.” O novo Le Jockey, no boulevard du Montparnasse, 127, é uma sombra esmaecida do original, que ficava do outro lado da rua, na esquina da Campagne-Première, hoje ocupada pelo restaurante Chez Fernand. Hemingway considerava-o “o melhor night club de todos os tempos”. Decorado pelo expatriado Hilaire Hiler e com as paredes pintadas por Utrillo, Le Jockey tinha entre suas atrações a já citada Kiki, que cantava e dançava acompanhada por um pianista fantasiado de caubói e com um macaquinho no ombro, que outro não era senão o próprio Hiler. Josephine Baker também exibiu ali suas artes, coberta apenas por um casaco de peles, que era mais do que usara (uma pena de flamingo cor-de-rosa) ao debutar no Théâtre de Champs-Élysées, em 1925, e muito mais do que usaria naquela escultura de Alexander Calder, exposta quatro anos depois. Baker gostou tanto de Paris que se naturalizou francesa e lá viveu até o fim de seus dias. Foram 50 anos de imensa popularidade, ratificada por duas insígnias do governo francês: a medalha da Legião de Honra e a da Resistência, esta, possivelmente, por seu trabalho como espiã dos aliados na Segunda Guerra Mundial, em Marselha e Marrakesh no Marrocos. Calder, por sua vez, só ficou na França sete anos: os quatro primeiros meses no último andar do antigo Hôtel de Versailles (boulevard du Montparnasse, 60) e o restante no estúdio da rue Daguerre, 22. Josephine Baker. 1 - Blvd. de Montparnasse, 60 Alxander Calder 2 - Blvd. de Montparnasse, 102 Le Coupole 3 - Blvd. de Montparnasse, 99 Le Sélect Blvd. de Montparnasse, 108 Le Dôme 4 - Blvd. de Montparnasse, 105 La Rotonde 5 - blvd. Montparnasse, 127 Le Jockey 6 - Blvd. de Montparnasse, 159 Edna St. Vincent Millay 7 - Blvd. de Montparnasse, 171 La Closerie des Lilas 8 - Blvd. de Montparnasse, 166 Katherine Anne Porter 9 - rue Campagne-Première, 29 e 31 Man Ray 10 - rue Delambre, 4 Edward Titus e Helena Rubinstein 11 - rue Delambre, 9 Isadora Duncan rue Delambre, 10 Dingo Bar 12 - rue Delambre, 15 Man Ray 13 - rue du Montparnasse, 42 Café Falstaff 14 - rue de la Gaieté, 4 Josephine Baker 15 - rue Froidevaux, 69 Ernest Hemingway 16 - rue Daguerre, 22 Alexander Calder

m punhado de escritores e poetas menos abonados se estabeleceu nos arredores da U Sorbonne – inclusive Hemingway e os personagens de O sol também se levanta. Mas não na ilha de Saint- Louis, apêndice de bacanas. Do apartamento que tomou emprestado ao roteirista de cinema John Howard Lawson, no n°45 do quai de la Tournelle, John Dos Passos a admirava embevecido. Deslumbrou-se com ela, como com quase tudo que encontrou em Paris na primavera de 1919. Preparava então o romance Three soldiers, inspirado em sua experiência na guerra. Dois anos depois, de volta à cidade, teve de se contentar em rachar um quarto com outro amigo no Hôtel Marignan (rue du Sommerard, 13), ao lado da Sorbonne. Comia-se bem e barato nas redondezas da universidade. E, às vezes, até muito bem, como asseguravam os clientes da brasserie Balzar (rue des Écoles, 49), inaugurada em 1931 pelos proprietários da Lipp. “Tinha a melhor cerveja da cidade”, assegurava o historiador William L. Shirer, então correspondente do Chicago Tribune e do New York Herald Tribune. Numa de suas mesas, Sartre e Albert Camus discutiram à exaustão o que fariam caso Hitler invadisse Paris. Seu forte sempre foi a cozinha alsaciana. Ainda se come bem no Balzar.

nº 49 da rue des Écoles. Seguindo o exemplo de Dos Passos, novas gerações de americanos se acercaram da ilha de Saint-Louis. Em 1948 foi a vez de outro ex-soldado de Tio Sam: o pintor e escultor Ellsworth Kelly. Premiado com uma bolsa de estudos do exército norte-americano, alojou-se por uma mixaria no Hôtel de Bourgogne, que não mais existe no n° 31 da rue Saint-Louis-en-L’Île. Em 1954 quem se estabeleceu na ilha foi o autor do best-seller A um passo da eternidade, James Jones. Com a pequena fortuna que recebera pelo roteiro da superprodução O mais longo dos dias, alugou uma casa de três quartos no n°10 do quai d’Orléans, onde, durante 17 anos, recebeu e hospedou celebridades do calibre de Man Ray, Henry Miller, Gore Vidal, Max Ernst, Samuel Beckett e Gene Kelly. Mary McCarthy, que também frequentava os Jones, morou na rue de Rennes, 141, a partir dos anos 1960. Antes de tudo isso, porém, Helena Rubinstein fez das suas na ilha. Enquanto seu marido paparicava Joyce & cia. em Montparnasse, ela comprou um prédio de meados do século XVII no quai de Béthune, esperou cinco anos até os inquilinos entregarem as chaves, e ergueu no lugar uma vivenda art déco, com fontes, cascatas e ostentações do mesmo jaez. Do prédio original só restou a fachada.

Quarto de Helena Rubinstein em Paris. Hemingway também reinou na região da Sorbonne. Em janeiro de 1922 ocupou o terceiro andar de um casarão na rue du Cardinal Lemoine, 74, seu mais conhecido endereço parisiense. No rez- de-chaussée havia um bal musette (espécie de dancing francês), posteriormente sucedido por uma discoteca avant la lettre, uma loja de ervas, um salão de chá e uma loja de roupas chamada, em homenagem a seu mais célebre morador, Paris est une fête. Subindo um pouco mais a Cardinal Lemoine até a esquina da place de la Contrescarpe, chega-se a um bar chamado La Chope. Nos anos 1920, ficava ali o Café des Amateurs, já então centenário e sucessor de uma espelunca assaz frequentada por Rabelais. Antro de bêbados e mendigos, Hemingway falava mal do lugar (“é a cloaca da rue Mouffetard”) mas há quem diga que não resistia à tentação de tomar um calvados no balcão entre os amateurs locais. Jake Barnes e Bill Gorton seguiam direto para o nº 14 da Mouffetard, a alguns passos do Café des Amateurs, ainda na Contrescarpe, em busca de música e animação, as pièces de résistance do cabaré Au Nègre Joyeux, de que só restaram a fachada e um cartaz, ora adornando um supermercado chinfrim. Por suas bibocas e sua feira, a Mouffetard talvez ainda mereça uma visita. Se a intenção é chegar a Saint-Michel, descer a ladeirosa rua pode ser um programa, na pior das hipóteses, pitoresco. Como em dezenas de ruas da cidade, a numeração dos prédios mudou, dificultando a localização precisa de alguns endereços históricos. De qualquer modo, procure o prédio de nº 39, onde o poeta francês Paul Verlaine morreu em 1896, hoje um restaurante (La Maison de Verlaine), olhe bem para cima e pense em Hemingway. No último andar ele alugou um quarto, por 60 francos mensais, exclusivamente para trabalhar com a “mitrailleuse” (metralhadora), que era como chamava sua máquina de escrever Smith Corona.

nº 39 da rue Mouffetard. Aqui o poeta francês Paul Verlaine viveu o último ano de sua vida (1895-1896) e Hemingway alugou o último andar, para escrever em paz. 1 - rue des Écoles, 49 Brasserie Balzar 2 - rue du Sommerard, 13 Hotel Marignan John dos Passos 3 - quai de la Tournelle, 45 John Howard Lawson e John Dos Passos 4 - quai d’Orléans, 10 James Jones 5 - quai d’Anjou, 37 John Dos Passos 6 - rue de Saint-Louis en L´île, 31 Ellsworth Kelly 7 - quai de Béthune, 24 Helena Rubinstein 8 - rue du Cardinal Lemoine, 74 Ernest Hemingway 9 - Place de la Contrescarpe café des Amateurs 10 - rue Mouffetard, 14 Au Négre Joyeux 11 - rue Mouffetard, 39 La Maison de Verlaine Ernest Hemingway

a Rive Droite, Paris também era uma festa – só que mais cara. Com alguma sorte, era N possível encontrar hotéis tão baratos quanto os da margem esquerda do Sena, como aconteceu com Thomas Wolfe, em julho de 1928. Imerso nas páginas finais de Look homeward, Angel, Wolfe isolou-se no hotel Burgundy (rue Duphot, 8), mantendo prudente distância da zorra de Saint-Germain e Montparnasse. Fazia quase sete anos que Sinclair Lewis também tentara conquistar Paris pela margem direita, sem o menor sucesso. Havia ficado parte do outono de 1921, com mulher e filho, no Hôtel Saint James et d’Albany (rue Saint-Honoré, 211), ruminando o romance Babbitt, mas não resistiu ao desprezo que os demais expatriados lhe devotavam. Repentinamente, arrumou as malas e voltou para a América, a tempo de usufruir in loco o estrepitoso sucesso de vendas do recém-publicado Main Street. Dos Passos, ao contrário, não apenas se deu bem como voltou quando a Segunda Guerra Mundial estourou, dessa vez como correspondente de guerra. Então já tinha como pagar um hotel perto da Opéra. O QG dos correspondentes de guerra funcionava no primeiro prédio da rue Scribe, portanto nas imediações do New York Herald Tribune (avenue de l’Opéra, 49), cuja edição parisiense foi um must que perdurou até poucos anos depois de Jean Seberg imortalizá-lo nas sequências iniciais de Acossado (À bout de souffle), de Jean-Luc Godard. Diversos expatriados arrumaram trabalho na redação do Herald Tribune, nenhum com o mesmo sucesso do colunista Art Buchwald. O Chicago Tribune também manteve uma sucursal em Paris, empregando, entre outros, James Thurber e Henry Miller, este como revisor.

nº 12, bldv. des Capucines. Acima, 1930. Abaixo, atualmente. Um dos pontos favoritos da turma que trabalhava na Rive Droite era o Café de la Paix, até hoje no n°12 do boulevard des Capucines. Outra trincheira etílica bem cotada nas cercanias era o Harry’s New York Bar (rue Daunou, 5), aberto ês em 1923. A rua que deu nome ao Café de la Paix desemboca na praça mais chique da cidade, a place Vendôme, cujo prédio mais nobre é o quase centenário hotel Ritz, cenário de sofisticadas comédias cinematográficas e ninho de milionários, monarcas, playboys e estrelas do show biz. Fred Astaire, que apenas uma vez hospedou-se no concorrente (o Vendôme, na mesma praça), “para ficar mais sossegado”, foi um de seus mais entusiásticos promoters. Marlene Dietrich morou durante anos numa de suas suítes. Ao longo de três décadas, Hemingway dormiu em cinco aposentos distintos. Seu preferido era o 51. Suite Hemingway no Hôtel Ritz. Em meados dos anos 1950, Hemingway passou pelo Ritz só para um drinque e saiu carregando uma batelada de malas. Desde 1927 pegavam poeira no depósito do hotel; Hemingway até já se esquecera de sua existência. Bendito drinque: dentro das malas estavam todas as anotações que resultariam em Paris é uma festa. Até a década de 1980, o restaurante L’Espadon, no Ritz, ainda ajudava a preservar a memória do escritor mantendo no cardápio uma lagosta no espeto (homard à la broche Hemingway). Não era acepipe para qualquer bico. Sai bem mais em conta ir ao n° 38 da rue Cambon, atrás da place Vendôme, e tomar um scotch em homenagem ao velho Ernest. É ali que fica o bar Hemingway, com um formidável acervo de single malts, uma das bebidas preferidas do escritor, e 25 fotografias dele nas paredes. Bar Hemingway no Hôtel Ritz. Mesmo acabrunhado com o “gelo” dos seus compatriotas, três anos antes, Sinclair Lewis resolveu retornar a Paris no final de 1924. Sua conta bancária engordara e ele não fez por menos: reservou uma espaçosa acomodação no antigo hotel Élysée-Bellevue (avenue Montaigne, 2). O saldo, daquela vez, foi positivo: ao tomar o navio de volta, havia terminado mais um best-seller: Arrowsmith. Se tivesse chegado cinco meses antes, Lewis poderia ter assistido ao concerto de música de vanguarda norte-americana, assinada por George Antheil, que Ezra Pound patrocinara, na sala Pleyel (rue du Faubourg Saint-Honoré, 252), como protesto contra “a ditadura musical dos franceses” (leia-se Eric Satie, Darius Milhaud, Georges Auric). Presentes à inconsequente provocação, as cabeças coroadas de Joyce, Hemingway e Sylvia Beach. Se tivesse esticado sua permanência em Paris até outubro de 1925, Lewis poderia ter se deliciado com La Revue Nègre, um dos espetáculos de maior impacto encenados no palco do Théâtre des Champs-Élysées (avenue Montaigne, 13-15). A cortina subia e, diante de um cenário reproduzindo arranha-céus de Manhattan, o clarinete de Sidney Bechet introduzia uma crioula americana de 19 anos e corpo escultural que, cantando e dançando “Yes Sir, That’s My Baby”, deixou a moçada com água na boca. Babando nas primeiras filas, Francis Picabia, Fernand Léger e Blaise Cendrars. Josephine Baker, a Ninfa Negra, a Vênus de Bronze, a Pérola Negra, a primeira estrela internacional do vaudeville exportada pela América, acabara de conquistar Paris para sempre. Mais dois negros americanos teriam os parisienses a seus pés nas décadas seguintes: Duke Ellington e Louis Armstrong. Ambos se apresentaram na sala Pleyel, respectivamente em julho de 1933 e novembro de 1934, deixando centenas de curiosos chupando o dedo do lado de fora. Um hotel de alto nível, o George V, os serviu au grand complet. “O hotel era tão grande”, comentou Ellington, “que eu levei cinco minutos para encontrar a porta de saída da minha suíte”. Não era menor nem menos refinado o serviço do adrede batizado Majestic (avenue Kléber, 19), célebre pelo jantar que em maio de 1922 reuniu pela primeira e única vez ao redor de uma mesa Proust, Joyce, Picasso, Diaghilev e Stravinsky. Quem lá se hospedou, em março de 1928, foi George Gershwin, que, por coincidência, compunha na época o balé sinfônico An American in Paris. Muita gente daria alguns anos de vida para ter sido um modesto camareiro do Majestic para pegar a rebarba dos recitais que o compositor deu, em sua suíte, para a nata da música francesa, e a dobradinha ao piano que ele e Cole Porter costumavam fazer madrugada adentro. À exceção de E.E. Cummings, cuja primeira passagem por Paris, em 1917, a caminho da guerra, foi um hotel no n°7 da rue François 1er que não existe mais, nenhum teso ousava pendurar sua roupa na região dos Champs-Élysées. Ah, sim, houve outra exceção: o casal Fitzgerald. Zelda e Scott começaram sua vida em Paris em abril de 1925, ocupando o último andar da rue de Tilsitt, 14, bem atrás do Arco do Triunfo. Haviam desembarcado na França um ano antes e rumado para o sul, onde torraram o que tinham e não tinham. Scott devia 6.200 dólares ao editor Max Perkins. A temporada do casal na Étoile foi uma carraspana do princípio ao fim, não raro entremeada por cenas de pugilato. Man Ray guardou recordações menos vexaminosas da Étoile. Na manhã de novembro de 1922, ele foi convocado pelo dr. Robert Proust para tirar uma foto muito especial num antigo prédio de apartamentos da rue Hamelin, 44, hoje ocupado pelo Élysées Union Hôtel. O modelo era um defunto. Fazia dois dias que o irmão do dr. Robert, Marcel, havia morrido. No final da década de 1940, Rubem Braga se hospedaria por acaso no quarto em que Proust deu seu dernier soupir. Aos 25 anos, Cole Porter decidiu refinar seus conhecimentos musicais estudando com o classicista francês Vincent d’Indy, na Schola Cantorum de Paris. Na primeira oportunidade, ele se mandou para a Europa. Os Estados Unidos haviam acabado de entrar na Grande Guerra e reza a lenda que Porter, após alguns meses prestando serviço humanitário, alistou-se e serviu na Legião Estrangeira, no norte da África, e ainda deu aulas de artilharia para seus patrícios na Escola para Oficiais da França, em Fontainebleau. O conflito mal terminara quando ele entrou pela primeira vez na Schola Cantorum, no n° 269 da rue Saint-Jacques, ao lado da Sorbonne, para familiarizar-se com os lieder de Schubert e Schumann. Nas horas vagas, Porter fazia amizade com os músicos negros da cidade e frequentava a haute gomme da margem direita. Numa dessas incursões conheceu a viúva alegre (e endinheirada) Linda Lee Thomas e com ela se casou, em dezembro de 1919. Foram morar nos Invalides (rue Monsieur, 13), num apartamento cuja decoração – paredes prateadas e zebradas, cadeiras vermelhas com frisos brancos, o suprassumo da sofisticação na época – o inquieto músico considerava “altamente inspiradora”. Devia ser mesmo, pois naquele ambiente ele compôs o repertório sinfônico-jazzístico de Within the quota, espetáculo satírico escrito e cenografado por Gerald Murphy para a Companhia de Balé Sueca, que abafou na curta temporada que fez no Théâtre de Champs-Élysées, em outubro de 1923. Paris foi, para ele, uma fonte constante de inspiração. Ainda morando na cidade, escreveu quatro revistas (La revue des ambassadeurs, Paris, Fifty million frenchmen e Du Barry was a lady) com personagens parisienses e até fraseados em francês para canções originalmente compostas em inglês, como, por exemplo, “Pilot me”, que virou “Pilote-moi”. Temas com título em francês, fez pelo menos três: “Si vous aimez les poitrines”, “Allez-vous en” e “Ça c’est l’amour”. Porter a adorava em qualquer estação, como deixou claro em “I Love Paris”, e a considerava o paraíso dos amantes, conforme diz a letra (e o título) de “Paris loves lovers”. A primeira fazia parte do musical Can-can (1953) e a segunda era uma das cantadas certeiras que Ninotchka (não mais Greta Garbo, mas Cyd Charisse) recebia em Meias de seda (Silk stockings, 1957). Antes de deixar Paris, em 1939, homenageou-a com um clássico: “C’est magnifique”. Embora a moçada da Geração Perdida preferisse três outras praças do Quartier Latin (Saint- Germain-des-Près, Contrescarpe e Furstenberg), há uma especial, na Rive Droite, mais ou menos perto da Bastilha, que é uma joia arquitetônica e botânica: a Place des Vosges. “Tão bonita e elegante que merecia estar do outro lado do Sena”, comentou Calder com Man Ray. Cercada de prédios centenários, tem um quê de jardim particular e está sempre no melhor de sua forma para ser fotografada, filmada ou pintada. A maneira mais adequada (ou impactante) de entrar nela é por uma rua estreita, Birague, que sai da Saint-Antoine, continuação da Rivoli. “É a única praça que nada perde quando suas árvores perdem as folhas”, observou um admirador incondicional, o jornalista, escritor, editor e meneur de jeu cultural George Plimpton. O comprido e atlético Plimpton foi um dos americanos que mais intensamente se empenharam em perpetuar a mística da Geração Perdida depois da Segunda Guerra. Repórter esportivo com veleidades literárias, tinha 26 anos (a idade ideal para se estabelecer em Paris, segundo Gertrude Stein), ao fundar a singular revista cultural The Paris Review, cujo primeiro número chegou às livrarias na primavera de 1953. Idolatrava Hemingway, a quem entrevistou num bar de Madri para a revista, que só deixou de editar ao morrer, em 2003. Ainda em circulação, mas há tempos sediada em Nova York, The Paris Review revelou inúmeros poetas e ficcionistas, mas seu forte sempre foi as longas e densas entrevistas com autores importantes, constantemente enfeixadas em livro. A redação, numa sala da rue Gancières que pertencia a um sobrinho de Gertrude Stein, mais parecia um cubículo. Plimpton preferia comandar as reuniões de pauta no Café Tournon (rue Tournon, 18). Mesmo apertado, ou talvez por isso, o QG da revista atraía poetas e intelectuais aos magotes, a maioria de olho gordo nas viçosas americanas que ali cuidavam da faina burocrática. Boa parte delas era formada em Radcliffe, ou universidade equivalente, e precisava fingir para suas famílias que encontrara emprego em Paris. Pelo menos uma delas ficaria famosa em outra profissão, a atriz Jane Fonda. nº 18 da rue Tournon. 1 - rue Scribe, 1 John Dos Passos 2 - Boulevard des Capucines, 12 Café de la Paix 3 - Avenue de l’Opéra, 49 New York Herald Tribune 4 - rue Daunou, 5 Harry’s New York Bar 5 - rue Cambon, 38 Ernest Hemingway 6 - rue Duphot, 8 Thomas Wolf 7 - Place Vendôme, 15 hôtel Ritz 8 - Place Vendôme, 1 Fred Astaire 9 - rue Saint-Honoré, 211 Sinclair Lewis

1 - rue du Faubourg Saint-Honoré 252, Salle Pleyel 2 - rue Tilsitt, 14 Zelda e F. Scott Fitzgerald 3 - Avenue Kléber, 19 George Gershwin 4 - rue Hamelin, 44 Man Ray 5 - Avenue George V, 31 Duke Ellington 6 - Avenue Montaigne, 2 Sinclair Lewis 7 - Avenue Montaigne, 13 e 15 Sinclair Lewis 8 - rue François 1er, 7 e.e. cummings

o Gerald and Sara. Many fêtes.” "TTinha esta dedicatória – “Para Gerald e Sara. Muitas festas” – o quarto romance de F. Scott Fitzgerald, Suave é a noite (Tender is the night), editado em 1934. Nada mais justo: seus dois protagonistas, Dick e Nicole Diver, foram inspirados em Gerald e Sara Murphy. E eles deram muitas festas. Casal fora de série. Bem-nascidos, cultos, refinados, alegres, generosos, anfitriões perfeitos. “Os representantes máximos de uma década notável, durante a qual tudo o que acontecia parecia ter relação com a arte” – assim Hemingway os definiu. A começar pelo próprio Gerald, que estudou pintura com a vaguardista russa Natalia Goncharova e foi um dos precursores da Pop Art. Hemingway também se inspirou neles para criar o casal David e Catherine Bourne de O Jardim do Éden, postumamente publicado em 1986. A divisa dos Murphys era um sábio ditado espanhol: “Viver bem é a melhor vingança.” Vingaram-se au grand complet na França, entre 1921 e 1929, fazendo amizades, recebendo e hospedando principescamente os exilados americanos e os europeus que estavam criando a arte do século XX, como Picasso, Fernand Léger, Sergei Diaghilev e Stravinsky. Picasso, comensal permanente do casal, pintou vários retratos de Sara. Léger costumava levá- los em excursões noturnas pelos toscos cafés, bares, salões de dança e fêtes foraines da Rive Gauche. Stravinsky jantava com frequência no apartamento do casal na rue Vaugirard, aonde já chegava perguntando por uma de suas taras gastronômicas: o pão que Sara salpicava com água e colocava no forno antes de servir. Os Murphys foram os primeiros americanos que o mestre russo conheceu na intimidade: “Eles me deram a mais agradável impressão dos Estados Unidos.” “Todos que os conheciam – ingleses, franceses, americanos – saíam dizendo que eles eram realmente mestres da arte de viver”, recordaria em suas memórias um dos mais antigos companheiros do casal, Archibald MacLeish, que neles decalcou o banqueiro e a mulher de sua alegoria bíblica J.B. “Com os Murphys a gente sempre se sentia bem”, disse John Dos Passos a Calvin Tomkins, autor de Viver bem é a melhor vingança, a mais saborosa das reminiscências da temporada francesa de Gerald e Sara. Eles chegaram a Paris no outono de 1921, meio que fugidos dos respectivos sogros, que haviam sido contra o casamento. O casal certo na cidade certa e na hora certa — onde e quando todas as artes pareciam no limiar de uma nova idade do ouro, produto das energias do pós-guerra e de um senso de liberdade pessoal aparentemente sem limites. Gerald trouxe na bagagem toda sua prodigiosa coleção de discos de jazz e música erudita, um dos highlights das muitas festas que ele e Sara dariam na capital e, depois, em maior número ainda, na Riviera, onde passavam a maior parte do ano. Através de Goncharova, enturmaram-se com o Balé Russo de Sergei Diaghilev e, por intermédio de sua trupe, conheceram Jean Cocteau e ampliaram o círculo de amizades junto à intelectualidade local. “Pareciam os únicos verdadeiros exilados”, acentuou MacLeish. “Não suportavam a gente de sua esfera social na América, considerando-a afetada e desinteressante. Tinham um enorme desprezo às escolas e universidades americanas e achavam que sua filha nunca deveria casar-se com um rapaz que tivesse estudado em Yale.” Gerald estudou em Yale, também a alma mater de MacLeish e Cole Porter, dois de seus hóspedes mais assíduos no sul da França. Para Porter ele desenhou os cenários e os figurinos do minimusical sinfônico-jazzístico Within the Quota, em cujas águas Gershwin bebeu antes de compor Rhapsody in Blue. Também em 1923, Gerald convenceu o dono do pequeno Hôtel du Cap, em Antibes, que em maio o fechava para ir cuidar de outro, nos alpes italianos, a mantê-lo aberto no verão, com apenas um cozinheiro, um garçom e uma arrumadeira, para alojar e entreter os amigos. Tomar banho de sol na praia não era um hábito de gente fina no sudeste da França. Os Murphys e seus convivas transformaram o hábito em moda, adotada em toda a Côte d’Azur. Em busca de mais privacidade, Gerald e Sara compraram uma vila em Cap d’Antibes, que batizaram de Villa America. Era “o mais deslumbrante paraíso para nadadores do Mediterrâneo”, na opinião de Fitzgerald. Gerald e Fitzgerald não tinham nada em comum, mas se adoravam. Scott e Zelda davam a impressão de que pouco se interessavam por arte, música, balé ou mesmo literatura, os assuntos mais conversados chez les Murphys. Fascinava-os nos anfitriões a impecável dolce vita que haviam criado para si mesmos e os amigos. As primeiras cem páginas de Suave é a noite refletem esse fascínio, transferindo para Dick e Nicole Diver atributos que pareciam exclusivos de Gerald e Sara: “Eles representavam a evolução máxima de uma classe, de forma que, ao lado deles, a maior parte das pessoas se sentia desajeitada.” Gerald não gostou do seu sucedâneo ficcional (pudera: a partir de determinado ponto, o psiquiatra Dick Diver fica muito mais parecido com Scott, e Nicole, com Zelda), mas não passou recibo quando o romance foi publicado, por coincidência no mesmo ano em que ele e Sara viajaram de volta para a América. Gerald e Sara Murphy.

imensa maioria dos expatriados um dia voltou, para continuar a viver, criar, e finalmente A morrer em solo pátrio. Alguns, no entanto, optaram por ficar em Paris até o fim de seus dias. Em 19 de julho de 1946, Gertrude Stein sentiu-se mal e foi levada às pressas para o American Hospital de Neuilly-sur-Seine, onde só resistiu mais oito dias a um câncer no estômago. Quando seu caixão chegou ao cemitério de Père Lachaise, já fazia quase vinte anos que as cinzas de Isadora Duncan repousavam no Crématorium daquela necrópole e, mais de um século que os ossos do diplomata William Temple Franklin, neto de Benjamin, haviam virado pó numa de suas alamedas. Campos Elíseos não faltam em Paris. Mas apenas quatro cemitérios disputam as preferências dos defuntos vips, nacionais e estrangeiros: o de Père Lachaise (ao leste); o de Montparnasse (ao sul); o de Montmartre (ao norte); e o de Passy (a oeste). Os três primeiros foram inaugurados no início do século XIX, como parte de um projeto de Napoleão para livrar o centro da cidade dos pequenos sepulcrários que tanto o incomodavam. Passy, o mais novo, data de 1820.

Lápide de Gertrude Stein no cemitério Père Lachaise. Antigo latifúndio da Companhia de Jesus que herdou seu nome do confessor de Luís XIV, Père Lachaise (no boulevard de Ménilmontant) é o maior de todos. Com mais de 1 milhão de residentes, nenhum tampouco o supera em densidade demográfica. Sobretudo pelas celebridades europeias que suas tumbas guardam, tornou-se o mais visitado por turistas em toda a Europa; se bem que o recordista de visitações seja um americano, o roqueiro Jim Morrison (1943-1971). Além de Morrison, Stein, Duncan (e seus dois filhos) e do neto de Benjamin Franklin, mais três renomados americanos fizeram do Père Lachaise sua última morada: o poeta simbolista Stuart Merrill (1863-1915), Alice B. Toklas (enterrada à côté de Stein em 1967) e Richard Wright, morto em 1960, aos 52 anos de idade. Tamanha era sua paixão por Montparnasse que Man Ray exigiu ser sepultado no cemitério do bairro, o segundo maior da cidade. Seu desejo foi concretizado em 18 de novembro de 1976, com a colaboração de uma brutal infecção pulmonar. Em sua lápide, um epitáfio que resume a contento o jeito Man Ray de ser: “Unconcerned, but not indifferent” (Desinteressado, mas não indiferente). No túmulo da atriz Jean Seberg (causa mortis: suicídio), nenhuma inscrição, só suas datas limites: 1938-1979. Também sóbrio, a bem dizer minimalista, é o mármore fúnebre da escritora e ensaísta Susan Sontag, morta em 2004. Dos três famosos americanos sepultados no Montparnasse (no boulevard Edgar Quinet), apenas Sontag morava nos Estados Unidos. Depois de viver em Paris “o período mais intelectualmente estimulante” de sua juventude, expatriou-se na América, na contramão de Hemingway & cia, sem jamais deixar de reverenciar a cultura francesa. Parisiense de espírito, encaixou-se à perfeição no grande elenco de mortos do cemitério, na companhia de três de seus maiores ídolos: Baudelaire, Samuel Beckett e E.M. Cioran. Passy, ao lado dos jardins de Trocadéro, no 16ème Arrondissement, é o campo-santo da aristocracia parisiense. Sua única estrela americana foi uma estrela de verdade: Pearl White, a loura rainha dos primeiros seriados do cinema mudo (The Perils of Pauline), com uma longa mas acidentada carreira no music hall francês. Levada ao alcoolismo devido à depressão, morreu de cirrose hepática em 1938, aos 49 anos.

Túmulo de Man Ray e Juliet, no cemitério de Montparnasse. Na lápide, a inscrição: “Despreocupado, porém não indiferente.”

1900 Isadora Duncan. Bailarina. (São Francisco, Califórnia, EUA, 27.05.1877-Nice, França, 14.09.1927) 1903 Gertrude Stein. Escritora. (Allegheny, Pensilvânia, EUA, 03.02.1874-Paris, França, 27.07.1946) PRINCIPAIS OBRAS: Três vidas (1909), A autobiografia de Alice B. Toklas (1933). 1907 Alice B. Toklas. Factótum. (São Francisco, Califórnia, EUA, 30.04.1877-Paris, França, 07.03.1967) PRINCIPAIS OBRAS: O livro de cozinha de Alice B. Toklas (1954), Aromas and Flavors of Past and Present (1958). 1908 Edith Wharton. Escritora. (Nova York, EUA, 24.01.1862-Saint-Brice-sous-Forêt, França, 11.08.1937) PRINCIPAIS OBRAS: Ethan Frome (1911), A época da inocência (1920). 1909 Natalie Clifford Barney. Escritora e dramaturga. (Dayton, Ohio, EUA, 31.10.1876-Paris, França, 02.02.1972) PRINCIPAIS OBRAS: Pensées d’une amazone (1920), Aventures de l’Esprit (1929). 1910 T.S. Eliot. Poeta, dramaturgo e crítico literário. (St. Louis, Missouri, EUA, 26.09.1888-Londres, Inglaterra, 04.01.1965) principais obras: The Love Song of J. Alfred Prufrock (1915), The Waste Land (1922), Murder in the Cathedral (1935). 1912 Edward William Titus. Jornalista. (Cracóvia, Polônia, 1870-27.01.1952) Helena Rubinstein. Empresária. (Cracóvia, Polônia, 25.12.1870-Nova York, EUA, 01.04.1965) 1917 Cole Porter. Músico e compositor. (Peru, Indiana, EUA, 09.06.1891-Santa Monica, Califórnia, EUA, 15.10.1964) PRINCIPAIS OBRAS: Night and day, Begin the beguine, Anything goes, I’ve got you under my skin. E.E. Cummings. Poeta. (Cambridge, Massachusetts, EUA, 14.10.1894-North Conway, New Hampshire, EUA, 03.09.1962) PRINCIPAIS OBRAS: The Enormous Room (1922), Tulips and Chimneys, (1923). Sylvia Beach. Livreira e editora. (Baltimore, Maryland, EUA, 14.03.1887-Paris, França, 05.10.1962) 1918 James Thurber. Cartunista. (Columbus, Ohio, 08.12.1894-Nova York, EUA, 02.11.1961) PRINCIPAIS OBRAS: My Life and Hard Times (1933), The Last Flower (1939), Men, Women, and Dogs (1943). John Dos Passos. Pintor e escritor. (Chicago, Illinois, EUA, 14.01.1896-Baltimore, Maryland, EUA, 28.09.1970) PRINCIPAIS OBRAS: Three Soldiers (1920), Manhattan Transfer (1925), U.S.A. (Trilogia, 1938). 1920 Ezra Pound. Poeta e crítico literário. (Hailey, Idaho, EUA, 30.10.1885-Veneza, Itália, 01.11.1972) PRINCIPAIS OBRAS: ABC da literatura (1934), Os cantos (coleção de poemas escritos entre 1915 e 1962). James Joyce. Escritor. (Dublin, Irlanda, 02.02.1882-Zurique, Suíça, 13.01.1941) PRINCIPAIS OBRAS: Retrato do artista quando jovem (1916), Ulisses (1922), Finnegans Wake (1939). Willa Cather. Escritora. (Winchester, Virginia, EUA, 07.12.1873-Nova York, EUA, 24.04.1947) PRINCIPAIS OBRAS: Minha Antonia (1918), One of Ours (1922), Death Comes for the Archbishop (1927). 1921 Aaron Copland. Compositor. (Brooklyn, Nova York, EUA, 14.11.1900-North Tarrytown, Nova York, EUA, 02.12.1990) PRINCIPAIS OBRAS: “El Salón Mexico” (1936), Billy the Kid (balé, 1938), Appalachian Spring (balé, 1944). Edmund Wilson. Escritor, jornalista e crítico literário. (Red Bank, New Jersey, EUA, 08.05.1895-Nova York, EUA, 12.06.1972) PRINCIPAIS OBRAS: O castelo de Axel (1931), Rumo à estação Finlândia (1940), Memoirs of Hecate County (1946). Edna St. Vincent Millay. Poetisa e dramaturga. (Rockland, Maine, EUA, 22.02.1892-Austerlitz, Nova York, 19.10.1950) PRINCIPAIS OBRAS: Renascence and Other Poems (1917), AFew Figs From Thistles (1920), Second April (1921). Ernest Hemingway. Escritor. (Oak Park, Illinois, EUA, 21.07.1899-Ketchum, Idaho, EUA, 02.07.1961) PRINCIPAIS OBRAS: O sol também se levanta (1926), Adeus às armas (1929), O velho e o mar (1952), Paris é uma festa (publicado postumamente em 1964). Gerald Murphy. Artista plástico. (Boston, Massachusetts, EUA, 25.03.1888-East Hampton, Nova York, EUA, 17.10.1964) Sarah (Sherman Wiborg) Murphy. (Cincinnati, Ohio, EUA, 07.11.1883-Arlington, Virginia, EUA, 10.10.1975) Man Ray. Fotógrafo e artista plástico. (Filadélfia, Pensilvânia, EUA, 27.08.1890-Paris, França, 18.11.1976) Sherwood Anderson. Escritor. (Camden, Ohio, EUA, 13.09.1876-Panamá, 08.03.1941) PRINCIPAIS OBRAS: Winesburg, Ohio (1919), Many Marriages (1923), Dark Laughter (1925). Sinclair Lewis. Escritor. (Sauk Centre, Minnesota, EUA, 07.02.1885-Roma, Itália, 10.01.1951) PRINCIPAIS OBRAS: Main Street (1920), Babbitt (1922), It Can’t Happen Here (1935). Virgil Thomson. Compositor. (Kansas City, Missouri, EUA, 25.11.1896-Manhattan, Nova York, EUA, 30.09.1989) PRINCIPAIS OBRAS: trilhas sonoras dos filmes The Plow That Broke the Plains (1936) e Louisiana Story (1949). 1923 Archibald MacLeish. Poeta e dramaturgo. (Glencoe, Illinois, EUA, 07.05.1892-Boston, Massachusetts, EUA, 20.04.1982) PRINCIPAIS OBRAS: Conquistador (1932), Collected Poems (1952). George Antheil. Compositor e inventor. (Trenton, New Jersey, EUA, 08.07.1900-Nova York, EUA, 12.02.1959) PRINCIPAIS OBRAS: “Ballet Mécanique” (1924), “A Jazz Symphony” (1925). 1924 William Carlos Williams. Poeta. (Rutherford, New Jersey, EUA, 17.09.1883-Rutherford, New Jersey, EUA, 04.03.1963) PRINCIPAIS OBRAS: Spring and All (1923), Pictures from Brueghel and Other Poems (1962). 1925 Francis Scott Fitzgerald. Escritor. (St. Paul, Minnesota, EUA, 24.09.1896-Los Angeles, Califórnia, EUA, 21-12-1940) PRINCIPAIS OBRAS: O grande Gatsby (1925), Suave é a noite (1934), O último magnata (1941, publicado postumamente). Janet Flanner. Jornalista e escritora. (Indianapolis, Indiana, EUA, 13.03.1892-Nova York, EUA, 07.11.1978) PRINCIPAL OBRA:: Paris era ontem - 1925-1972. Josephine Baker. Dançarina, cantora e atriz. (St. Louis, Missouri, EUA, 03.06.1906-Paris, França, 12.04.1975) Sidney Bechet. Músico de jazz, clarinetista. (New Orleans, Louisiana, EUA, 14-05-1897-Paris, França, 14.05.1959) PRINCIPAIS OBRAS: “Petite Fleur”, “Les Oignons”, “Promenade aux Champs-Elysées”. Thomas Wolfe. Escritor. (Asheville, Carolina do Norte, EUA, 03-10-1900-Baltimore, Maryland, EUA, 15-09-1938) PRINCIPAIS OBRAS: Look Homeward, Angel (1929), Of Time and the River (1935), You Can’t Go Home Again (1940, publicado postumamente) William Faulkner. Escritor. (New Albany, Mississippi, EUA, 25.09.1897-Byhalia, Mississippi, EUA, 06.07.1962) PRINCIPAIS OBRAS: O som e a fúria (1929), Enquanto agonizo (1930), Luz em agosto (1932). 1926 Alexander Calder. Artista plástico. (Lawnton, Pensilvânia, EUA, 22.07.1898-Nova York, EUA, 11.11.1976) Nathanael West. Escritor e roteirista. (Nova York, EUA, 17.10.1903-El Centro, Califórnia, EUA, 22.12.1940) PRINCIPAIS OBRAS: Miss Lonelyhearts (1933), O dia do gafanhoto (1939). 1927 Stephen Vincent Benét. Escritor. (Bethlehem, Pensilvânia, EUA, 22.07.1898-Nova York, 13.03.1943) PRINCIPAIS OBRAS: Young Adventure (1918), The Devil and Daniel Webster (1937). 1928 Allen Tate. Poeta e ensaísta. (Winchester, Kentucky, EUA, 19.11.1899-Nashville, Tennessee, EUA, 09.02.1979) PRINCIPAIS OBRAS: Stonewall Jackson: The Good Soldier (1928), The Fathers (1938). George Gershwin. Compositor. (Brooklyn, Nova York, EUA, 26.09.1898-Los Angeles, Califórnia, EUA, 11.07.1937) PRINCIPAIS OBRAS: “Rhapsody in Blue” (1924), “An American in Paris” (1928), “Porgy and Bess” (1935). Richard Rodgers. Compositor. (Nova York, EUA, 28.06.1902-Nova York, EUA, 30.12.1979) PRINCIPAIS OBRAS: Pal Joey (1940), Oklahoma! (1943), The Sound of Music (1959). Thornton Wilder. Escritor. (Madison, Wisconsin, EUA, 17.04.1897-Hamden, Connecticut, EUA, 07.12.1975) PRINCIPAIS OBRAS: The Bridge of San Luis Rey (1927), The Skin of Our Teeth (1942). 1929 Elmer Rice. Dramaturgo. (Nova York, EUA, 28.09.1892-Hampshire, Inglaterra, 08.05.1967) PRINCIPAIS OBRAS: On Trial (1914), Street Scene (1929). 1930 Henry Miller. Escritor. (Manhattan, Nova York, EUA, 26.12.1891-Los Angeles, Califórnia, EUA, 07.06.1980) PRINCIPAIS OBRAS: Trópico de Câncer (1934), Trópico de Capricórnio (1939), A crucificação rosada – trilogia composta pelos títulos Sexus (1949), Plexus (1953) e Nexus (1960). Katherine Anne Porter. Jornalista e escritora. (Indian Creek, Texas, EUA, 15.05.1890-Silver Spring, Maryland, EUA, 18.09.1980) PRINCIPAIS OBRAS: Pale Horse, Pale Rider (1939), The Collected Stories (1965). 1946 Richard Wright. Escritor e ensaísta. (Roxie, Mississippi, EUA, 04.09.1908-Paris, França, 28.11.1960) PRINCIPAIS OBRAS: Native Son (1940), Black Boy (1945), The Outsider (1953). 1948 James Baldwin. Escritor e ensaísta. (Harlem, Nova York, EUA, 02.08.1924-Saint-Paul-de-Vence, França, 01.12.1987) PRINCIPAIS OBRAS: Giovanni’s Room (1956), Another Country (1962), The Fire Next Time (1963). Lawrence Ferlinghetti. Poeta e pintor. (Yonkers, Nova York, EUA, 24.03.1919) PRINCIPAIS OBRAS: Pictures of the Gone World (1955), Um parque de diversões da cabeça (1958), Starting from San Francisco (1961).

American Expatriate Writing and the Paris Moment: Modernism and Place. Donald Pizer. Baton Rouge, LA: Louisiana State University Press, 1997. Americans in Paris. George Wickes. Nova York: Da Capo Press, 1969. Americans in Paris: An Anedoctal Street Guide. Brian N. Morton. Ann Arbor, MI: The Olivia & Hill Press, 1984. Os anos loucos: Paris na década de 1920. William Wiser. José Olympio, 1993. Os anos sombrios: Paris na década de 1930. William Wiser. Rio de Janeiro: José Olympio, 2010. A autobiografia de Alice B. Toklas. Gertrude Stein. São Paulo: Cosac Naify, 2009. Being Geniuses Together, 1920-1930. Robert McAlmon. Nova York: Doubleday, 1968. Charmed Circle: Gertrude Stein and Company. James R. Mellow. Nova York: Praeger, 1974. Escritores americanos em Paris: 1944-1960. Christopher Sawyer-Lauçanno. Rio de Janeiro: José Olympio, 1996. Exile’s Return: A Literary Odyssey of the 1920s. . Nova York: Penguin Classics, 1994. Four Lives in Paris. Hugh Ford. São Francisco, CA: North Point Press, 1987. Hemingway’s Paris. Robert E. Gajdusek. Nova York: Charles Scribner’s Sons, 1978. James Joyce. Richard Ellmann. São Paulo: Globo, 1989. Kiki de Montparnasse. Lou Mollgaard. São Paulo: Martins Fontes, 1990. Um livro por dia: minha temporada parisiense na Shakespeare and Company. Jeremy Mercer. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2007. À margem esquerda. James Campbell. Rio de Janeiro: Record, 2000. Memoirs and Opinions 1926-1974. Allen Tate. Chicago: Swallow Press, 1975. Memoirs of Montparnasse. John Glassco. Toronto: Oxford University Press, 1970. Papá Hemingway, A.E. Hotchner. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1967. Paris After The Liberation: 1944-1949. Antony Beevor e Artemis Cooper. Londres: Penguin, 1994. Paris é uma festa. Ernest Hemingway. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006. Paris era ontem (1925-1939). Janet Flanner. Rio de Janeiro: José Olympio, 2006. Paris: A Literary Companion. Ian Littlewood. Nova York: Harper & Row, 1989. Paris in the Fifties. Stanley Karnow. Nova York: Times Books, 1997. Paris Was Our Mistress. Samuel Putnam. Londres: Plantin, 1947. Published in Paris: A Literary Chronicle of Paris in the 1920’s and 1930’s. Hugh Ford. Nova York: Collier Books, 1988. A Rive Gauche. Herbert R. Lottman. Rio de Janeiro: José Olympio, 2009. Shakespeare and Company – Uma livraria na Paris do entre-guerras. Sylvia Beach. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2004. Sylvia Beach and the Lost Generation. Noel Riley Fitch. Londres: W.W. Norton & Co., 1983. The Best Times: An Informal Memoir. John Dos Passos. Nova York: New American Library, 1966. Sumário

Capa Folha de Rosto Créditos Epígrafe A Festa Móvel Americans in Paris Point de départ Saint_German Jardins de Luxembourg Montparnasse Sorbonne Do Outro Lado do Rio A Festa na Riviera O Último Endereço Quando Eles Chegaram a Paris Bibliografia