3. a Construção De Jaguarão Urbana Do Rio Grande Do Sul; Um Processo De Ocupação 3.1
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Uma fundação tardia No fim da época colonial, período em que o Brasil foi colônia portuguesa, vai se formar uma rede de vila e cidades na fronteira sul-brasileira, na qual estará inserida a Jaguarão. Nestes momentos ainda era ainda um pequeno povoado em formação cuja origem se atribui à existência de uma Guarda Militar instalada naquela zona de fronteira. A história desta cidade basicamente acompanha a história 3. A construção de Jaguarão urbana do Rio Grande do Sul; um processo de ocupação 3.1. Ocupação, defesa e consolidação de uma tardio, quando comparado com o resto da Colônia; uma fronteira: 1803 - 1832 posição de zona de fronteira; a constante prontidão militar e sua localização periférica, entre outros aspectos relevantes. Por sua fundação tardia, a história desta cidade ocupa pouco espaço dentro do período "Colonial", fato que não lhe retira importância, pelo contrário, pois justamente nesta época é que se forma o caráter da cidade e se estabelecem as bases do seu desenvolvimento e da sua região: a questão militar, a criação de gado e o comércio (legal e ilegal). Estes serão os principais suportes econômicos que garantirão uma acumulação de recursos, tendo como pano de fundo deste cenário, sua localização de fronteira periférica, com as particularidades próprias destes lugares. No período subseqüente, após a emancipação política do Brasil, será o momento de consolidação da cidade, 54 superando crises e marcando importante presença na dos criadores e dos charqueadores, principalmente em Província Rio-grandense. No jogo dinâmico da história função de preços, taxas e impostos.68 urbana de Jaguarão, algumas regras se alteram, agentes responsáveis pelo crescimento mudam posições de importância, mas a base do seu desenvolvimento, Bases iniciais do desenvolvimento: distribuição de estabelecida no período anterior, não será afetada. terras e Guarda de Fronteira Durante este período em que o Brasil ainda permanece na condição de colônia portuguesa, praticamente toda região Desde 1789 as autoridades portuguesas começaram a do extremo sul do território brasileiro será ocupada, os conceder terras ao sul do rio Piratini até a costa do rio limites políticos definidos, haverá um aumento significativo Jaguarão. Tanto sob a forma de “cartas de sesmaria” de população, o comércio se desenvolverá, a criação de como também através de simples doação, quando se gado se organiza e logo se implantará o primeiro plano tratava de pequenas extensões (menos de 1 légua). Em urbanístico da cidade, iniciando a distribuição de lotes. Este seu precioso trabalho sobre as origens de Jaguarão, o crescimento justifica que a povoação logo seja elevada a historiador Costa Franco apresenta vários requerimentos e categoria de Vila e, após superar uma crise profunda processos existentes no Arquivo Histórico do Estado, sobre durante o período de guerra civil, alcançar o status de estes momentos iniciais de povoamento das terras cidade, num momento de intenso crescimento da região. existentes entre o rio Piratini e o rio Jaguarão69.Jaguarão 70 O século 19 foi o período de desenvolvimento da região, no final do séc.18 era apenas uma "Guarda de fronteira" fundamentado na produção do gado, no comércio (legal e ilegal), em atividades subsidiárias que surgiram na região, 68 Pereira da Cruz, Glenda, Pelotas espaço construído no início da como o cultivo do trigo e o de uvas (efêmero). A produção República, in Urbanismo no Rio Grande do Sul, org. Günter Weimer, de charque na região também teve papel importante na Porto Alegre:Ed.UFRGS, 1992. p. 111. 69 Franco, Sergio da Costa, op. cit. p. 11: “que neste Continente todos economia local. Se em Jaguarão não se desenvolveu um os habitantes a quem os senhores governadores concedem datas de número grande desta indústria, seu gado abasteceu as terra que não passem de légua, não são obrigados a tirar carta de charqueadas da região, principalmente dos municípios de sesmaria, mas antes se consideram havidos e reconhecidos por Pelotas e Bagé. Este desenvolvimento ocorreu ao lado de legítimos donos de ditas datas, das quais livremente usam, compram e crises constantes, resultado das contradições entre os vendem, passando delas públicas escrituras por força do título por que lhe são conferidas.” interesses da Coroa portuguesa (depois Império do Brasil), 70 "Guarda de fronteira" era um acampamento militar avançado, de estrutura simples, sem complexidades construtivas. 55 com pouco mais de 250 soldados, que ao final do século. Guarda do Serrito. Exemplos referentes a certas 19, estará transformada numa cidade com 12.172 solicitações de cidadãos, para legalização dos lotes habitantes71. ocupados por suas casas são muito eloqüentes. É o caso dos comerciantes Francisco José Rodrigues Fontes e Com o término da Guerra entre Portugal e Espanha em 1802, o período de paz que reinou na fronteira até 1811, Antônio José de Leivas, que em suas petições obtiveram dirigiu as ações dos militares para atividades pastoris e parecer desfavorável do comandante da Guarda, Manoel Marques de Souza, conforme correspondência do comerciais da região. Foram estas forças militares os Comandante ao Governador D. Diogo de Souza, datada de pontos de partida para a povoação. Este momento de 74 tranqüilidade nas margens do rio Jaguarão marcou início 17 de março de 1810. de uma nova etapa, surgindo concretas possibilidades para "Naquela Guarda não se tem consentido formar o desenvolvimento de uma povoação. povoação, por ser sobre o rio que divide os A partir de 1803, aparecem vários indícios que revelam a limites, muito imediato à guarda espanhola e por formação de um povoamento na região. O Comandante da isso muito exposto o lugar; unicamente se conservam viandeiros estabelecidos para Guarda da Fronteira mandava participar ao governador da Capitania "estarem muitas pessoas povoando o campo fornecer a tropa...À vista pois do expressado, reivindicado na ocasião da guerra, em toda a extensão do conhecerá V. Excia. se convém formar povoação 72 naquele sítio para o dito Fontes e Leivas rio Jaguarão". obterem a concessão do terreno para casas, que De acordo com os registros conhecidos de marcas de solicitam". gado, em 1807, muitos criadores já estavam estabelecidos "ao sul do rio Piratini". Estas pessoas seriam as primeiras Apesar desta posição oficial do Comando, a presença da "Guarda" e a vizinhança com o território da Banda Oriental, ocupantes dos campos e criadoras de gado na região de Jaguarão73. eram fatores estimulantes à formação de um núcleo. Desta forma a povoação vai se configurando em áreas próxima a No que se refere à aglomeração de pessoas que dará fortificação. Um grupo de pequenos comerciantes, origem à cidade, até 1810, o comando da Fronteira do Rio conhecidos por "viandeiros" que abasteciam soldados, Grande não consentia que se formasse povoação junto à oficiais e a população dispersa no meio rural, se estabelece em "ranchos" com pequeno comércio aproveitando-se 71 fonte: FEE, op.cit. também da demanda que se cria com os de viajantes que 72 Franco, op.cit., p.31 73 Franco, op.cit., p.33 74 Franco, op.cit.p.35 56 cruzavam a fronteira pelo rio Jaguarão. Como foi visto, desde 1789, desobedecendo ao tratado de 1777, a Coroa Dificuldades iniciais para formação do núcleo urbano portuguesa vinha distribuindo terras (cartas de sesmarias) abaixo do rio Piratini, empurrando seus domínios na direção sul e oeste. Considerando-se que a tropa de soldados formava a base Observa-se que já neste momento, ocorre uma situação da povoação naqueles primeiros momentos, a que se repetirá durante os anos de formação desta cidade: correspondência do Comandante solicitando auxílio ao dois tipos de comportamento frente aos “vizinhos do outro Governador da Província em 14/11/1801, ilustra com lado”: por parte da população local, existe de fato uma clareza a triste realidade cotidiana dos primórdios da evidente aproximação, seja através do comércio, como por formação do povoado: laços familiares, ou ainda pelos interesses comuns na "Meu Brigadeiro Governador, se eu soubesse produção pecuária, ou seja, na forma semelhante de vida retórica poderia fazer a V. Sa. uma mais que levavam, inclusive com as mesmas dificuldades de configurada pintura do lamentável estado e sobrevivência, no mesmo isolamento. De outra parte, o redução em que está quase toda esta tropa, setor oficial da povoação representado por militares e resistindo sem socorro algum há quase um ano autoridades ligadas ao poder central, as ações terão o tom em atual serviço de campanha, a cavalo, que de preocupação próprio dos conquistadores, marcado pela estraga tudo, no mato, e entre macegas constante vigilância para manutenção dos territórios orvalhadas, etc. Não lamento ver com os pés ocupados, ou mesmo pela possibilidade do avanço de suas nus e no chão, mas sim, meu Sr., sem camisa, posses. sem calças, e só embrulhados em um A questão referente à posição geográfica de Jaguarão na maltratado e velho ponche bixará à cintura, e "linha" de fronteira será um elemento influente em todas constantes a todo o serviço. Não se esqueça 75 etapas de desenvolvimento desta cidade. Desde sua V.S.a. deles" origem, quando era apenas uma frente avançada de Apesar disto, em 1803, cresce o número de pequenas posição militar, como na fase seguinte, na consolidação e construções e de "viandeiros" - fornecedores de víveres à estruturação deste território ocupado. tropa - fixados nas margens do rio, com seu pequeno comércio estimulado pela presença da tropa, de um 75 Franco, op. cit., p. .27 57 número crescente de lavradores e criadores, mais a "...las treinta léguas de campo que intermedian vizinhança do território da Banda Oriental. desde la barra del rio Yaguarón en la Laguna Por outro lado, ainda em 1810, a perspectiva de Mini hasta las puntas del Rio Negro se hallan pobladas de Estancias en toda su crescimento de um núcleo urbano preocupava o compreensión, y a más con tres Puestos Comandante da Guarda, que em correspondência ao 77 governador da Capitania, esclarecia sua posição frente Militares a las márgenes del citado Yaguarón".