A Biogeografia de Arroio Grande-RS

Autor(es): SOUZA, Eunice Domingues; VELHO, Edna Afonso Apresentador: Eunice Domingues de Souza Orientador: Luis Eduardo Silveira da Mota Novaes Revisor 1: Edinei Koester Revisor 2: Suzana Morsch Instituição: ICH/UFPel

A BIOGEOGRAFIA DE ARROIO GRANDE

SOUZA, Eunice Domingues 1; VELHO, Edna Afonso 1; NOVAES, Luis Eduardo Silveira da Mota 3

1,2 Acadêmicas do 6º curso de Licenciatura Plena em Geografia – ICH/UFPel 3 Professor Adjunto, Doutor em Ciências, Departamento de Geografia – ICH/UFPel Rua Cel.Alberto Rosa,154 – CEP 96019-770. [email protected]

1- Introdução

O município de Arroio Grande, com uma área de 2.663 Km 2 e altitude média de 39 metros, está localizado na Planície Costeira, Zona Sul do estado do , entre a Lagoa Mirim e o Escudo Sul-rio-grandense. A sede municipal possui por coordenadas 33°14’21” S e 53°08’12” W. O município é constituído de três Distritos: Mauá; Pedreiras; Santa Isabel, e dois subdistritos. O município é cortado no sentido N- S pela BR116, e dista de , cerca de 90 Km. O ambiente pode ser definido por meio de três componentes básicos, quais sejam os meios físicos, biológicos e antrópicos (Novaes, 1996). O meio físico, interface constituída pelos meios geológico e atmosférico, determina as condições básicas de existência dos componentes dos meios biológicos e antrópicos. O meio biológico é representado pela cobertura vegetal e pela vida animal que lhes são inerentes, propiciando a manutenção da biodiversidade. O meio antrópico é representado pela ação humana, responsável por mudanças na distribuição da matéria e energia de sistemas, modificando o equilíbrio destes.

2- Material e Métodos

Foram utilizado material bibliográfico, sobre os aspectos físicos da cidade, juntamente com algumas pesquisas realizadas por pesquisadores locais a respeito da fauna e flora do local. Assim com também se utilizamos de estudos feitos a respeito do solo e da geologia do local. Foi realizadas saídas de campo, onde se pode conhecer locais em que se encontravam espécies nativas da localidade de Arroio Grande. Também foram observadas algumas imagens dos diversos tipos de animais e vegetações, dentro de uma reserva ecológica.

3- Resultados e Discussões

No município de Arroio Grande estão inseridas três formações fito-ecológicas: Savana, Serra do Sudeste e Áreas de Formações Pioneiras. As matas da região apresentam importante papel de corredor ecológico para a fauna e a flora ocorrente, assegurando o fluxo gênico e dispersão das espécies na biorregião. Ecologicamente, as matas são classificadas como Matas Ciliares ou de Galeria, de extrema importância para o equilíbrio do manancial hídrico. As nascentes estão localizadas na região de Savana com uma composição florística e faunística próprias. O médio-curso localiza-se entre a Savana e a Serra do Sudeste também com suas peculiaridades. E por fim a porção do baixo curso esta inserida na Planície Costeira até sua foz na Lagoa Mirim. O clima do município apresenta as seguintes características: temperatura média anual 16,6°C; temperatura máxima média anual de 22,8°C; temperatura mínima média anual de 12,5°C. A evapotranspiração potencial normal variando de 30 mm em julho a 176 mm em Janeiro. Precipitação média anual é de 1.232 mm. Os ventos predominantes na região são de nordeste a sudeste, com pouca intensidade e com boa freqüência, com velocidade, a 2 metros de altura do solo de 4 m.s -1, no inverno predomina os ventos do sul. A radiação solar normal anual ao nível do solo é de 4.667 cal.cm -2.dia -1. A umidade relativa do ar média anual é de 80,4%. A estrutura fundiária valoriza em especial a orizicultura, a bovinicultura, a ovinicultura, os cultivos de subsistência, a pesca artesanal e o reflorestamento. Podem- se destacar, também, ocorrências de rochas como mármore, granito ornamental e a extração de areia (Novaes, 1996).

2 Na área do município é expressivo o número de importantes espécies vegetais (Soares, 2003), tais como as figueiras, algumas centenárias e vistosas (ver Anexo 1). A cobertura florestal nativa, estimada em 4% da área territorial, cerca de 10.650 ha, está em alteração, pois as fronteiras agrícolas sempre foram instaladas em locais sem vegetação arbórea (EMATER, 1997). Há de se dizer que houve um aumento na cobertura vegetal com o plantio de eucalyptus spp , totalizando hoje aproximadamente 2.500 ha, o que representa 0,95% da área do município. O reflorestamento não recebeu incremento nos últimos anos e sua área está estacionada a mais de cinco anos (EMATER, 1997). No município de Arroio Grande está localizada a unidade de conservação da natureza denominada Reserva Biológica do Mato Grande, com uma área de 5.161 ha. O Mato Grande está localizado na Planície Costeira interna em região fisionômica natural marcada porMATO GRANDE terrenos de sedimentação recente associados geomorfologicamente as transgressões e regressões marinhas quaternárias, responsáveis pela gênese do complexo lagunar: Lagoa Mirim, canal do São Gonçalo e Laguna dos Patos (Soares et al , 2003). Pelo tipo de exploração agropastoril do município, a erosão não é acentuada, visto que a maior área de agricultura está sobre o solo de Pelotas, de características planas. Entretanto a atividade pecuária localiza-se nas reservas do arroz e nas áreas dobradas do município. As áreas com solos potencialmente erosionáveis não chegam a preocupar, visto que as culturas ali desenvolvidas são de subsistência, com alta rotatividade, plantadas sobre pequenas áreas. Inserida no Bioma de Restinga a REBIO apresenta uma complexidade biológica que possui associados ecossistemas de Banhados, Matas de Restinga Arenosa, Campos arenosos secos e úmidos. Toda esta complexidade biológica está refletida nos elementos da fauna e flora apresentando componentes florísticos pertencentes a todos contingentes migratórios da flora estadual, ressaltando a influência atlântica na fisionomia da reserva dada pela presença de Figueiras, Bromeliáceas e Orquidáceas (Soares et al , 2004). A fauna existente no município (ver Anexo 2) possui uma boa diversificação e está diretamente ligada as características do meio, por isso que em determinadas áreas existe a ocorrência de diversas espécies como a capivara, ratão, lontra; aves do tipo catorrita, maçarico, garça, tarrã, avestruz, marreca e marrecão (EMATER,1997). À exceção dos quirópteros e dos roedores pertencentes às Famílias Cricetidae, Muridae, Ctenomydae e Echymydae, foram registradas 18 espécies de mamíferos pertencentes a 14 famílias. Dentre essas espécies, cinco (27,7%) são consideradas ameaçadas de extinção no Rio Grande do Sul (Soares, 2003). As demais são comumente encontradas no sul do Estado. Um registro histórico de veado-campeiro ( Ozotoceros bezoarticus ), cervídeo criticamente ameaçado de extinção no Estado, foi obtido com base em fotografias de galhadas de três exemplares caçados na década de 1910 nas imediações da Estância Santa Helena. Embora existam relatos da presença da espécie no município em regiões ermas do Planalto Sul-Rio-Grandense, é possível que o veado-campeiro esteja localmente extinto. Flagrantes fotográficos de duas espécies adicionais, o gato-do-

3 mato-pequeno ( Leopardus tigrinus ) e o gato-maracajá ( Leopardus wiedii ), carecem de confirmação e foram omitidos da listagem principal (Soares, 2003). Entretanto, a ocorrência desses felinos no município de Arroio Grande é esperada, considerando que foram registradas em localidades relativamente próximas da área de estudo e de geomorfologia e vegetação similar. Outras três espécies comumente observadas no sul do Rio Grande do Sul não foram detectadas nos sítios amostrados durante o período de estudo, embora tenham sido registradas em Arroio Grande em outras oportunidades ou localidades: cuíca-de- cauda-grossa ( Lutreolina crassicaudata ) – carcaça localizada na Estância Santa Helena em 2000; tatu-peludo ( Euphractus sexcinctus ) – indivíduo observado nesta mesma propriedade em 1999; ouriço-cacheiro ( Sphiggurus spinosus ) – indivíduo observado no arroio Chasqueiro em 2000. À exceção do veado-campeiro, cuja situação no município permanece desconhecida, o número de espécies de mamíferos de grande e médio porte em Arroio Grande totaliza 23 táxons (Soares et al , 2004). O município de Arroio Grande possui em seu território vários arroios e córregos transformando-se em área ricamente abastecidas por águas naturais. Na rede hidrográfica o rio principal é o que limita o município com o município de Capão do Leão (EMATER, 1997). Este rio, através de levantes mecânicos, abastece grandes áreas irrigadas de arroz, no distrito de Santa Isabel, no local designado Liscano, e o rio deságua no Canal São Gonçalo. A preservação da rede hidrográfica e dos demais mananciais ocorre naturalmente e em função da própria exploração econômica. Na zona alta do município, os arroios e sangas possuem mata ciliar o que evita a degradação dos solos. Os proprietários rurais não agridem estas reservas florestais, mas em função do pouco valor comercial do que propriamente pela consciência ecológica-preservacionista. O assoreamento existe mais pela característica arenosa do solo, do que pela falta de preservação ambiental e é inexpressivo. A zona baixa do município, local das grandes lavouras de arroz, o assoreamento é menor visto que os córregos não têm velocidade, pela planura em que se encontram. A formação de mata ciliar é mais abundante mas também sem valor econômico. As lavouras não se estendem até muito próximo dos arroios por causa das enchentes formando assim uma faixa de retenção ainda maior.

4- Conclusão

Concluí–se do presente trabalho que o município de Arroio Grande ainda possui uma diversidade privilegiada por sua localização geográfica, na qual seus recursos hídricos são em abundância, por seu tipo de terreno, vegetação e fauna. Contudo, talvez a área de maior importância e mais rica seja a reserva do Mato Grande, área preservada, com uma biodiversidade valiosíssima com espécies de fauna e flora nativa e que realmente mostra a verdadeira face do município, a qual não sofreu alteração antrópica.

4 5- Referências Bibliográficas

EMATER-RS . Estudo da Situação do Município de Arroio Grande . Arroio Grande, RS. 1997. EMATER-RS. Leitura da Paisagem no Município de Arroio Grande . Arroio Grande, RS. 1997. IRGA-SUL NOVAES, Luis Eduardo S. M. Bases para o Planejamento Energético-Ambiental do Município de Arroio Grande visando a um Desenvolvimento Sustentável . Dissertação para a obtenção do Titulo de Mestre em Engenharia, PPGEM, UFRGS. , RS. 1996. SOARES, José B. G. Levantamento preliminar da mastofauna ocorrente no município de Arroio Grande, sul do Rio Grande do Sul. Trabalho de Conclusão de Curso em Ecologia, UCPEL. Pelotas, RS. 2003. SOARES, José B. G.; SCHLEE, José M. Jr.; PEREIRA, Juliana C. Estudo Ecológico de Arroio Grande . Arroio Grande, RS. 2004. SOARES, José B. G.; SCHLEE, José M. Jr.; PEREIRA, Juliana C. Estudo Sobre a Ecologia Florestal da Reserva do Mato Grande . Arroio Grande, RS. 2006. SOARES, José B. G.; SCHLEE, José M. Jr.; PEREIRA, Juliana C. Análise Ecossistêmica do Mato Grande: Perspectivas de Implantação da Reserva Biológica do Mato Grande – Arroio Grande, Sul do Brasil . Arroio Grande, RS. 2005.

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