O Destombamento Do Pico De Itabirito: Paisagem, Patrimônio E Mineração
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Thaís Lanna Junqueira O DESTOMBAMENTO DO PICO DE ITABIRITO: PAISAGEM, PATRIMÔNIO E MINERAÇÃO Belo Horizonte 2019 UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS Escola de Arquitetura Thaís Lanna Junqueira O DESTOMBAMENTO DO PICO DE ITABIRITO: paisagem, patrimônio e mineração Belo Horizonte 2019 UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS Escola de Arquitetura Thaís Lanna Junqueira O DESTOMBAMENTO DO PICO DE ITABIRITO: paisagem, patrimônio e mineração Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável (PACPS) da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável. Área de Concentração: Bens Culturais, Tecnologia e Território Linha de Pesquisa: Paisagem e Ambiente Orientadora: Profª. Drª. Myriam Bahia Lopes Belo Horizonte 2019 O pico de Itabirito Será moído e exportado Mas ficará no infinito Seu fantasma desolado. Com tanto minério em roda Podendo ser extraído, A Icominas se açoda E nem sequer presta ouvido Ao grave apelo da história Que recortou nessa imagem Um outro azul da memória E um assombro da paisagem. St. John del Rey Mining sai, Mais Hanna mais Icominas E sem dizer água-vai Serram os serros de Minas, Nobres cimos altaneiros Que davam com sobriedade, Aos de casa e forasteiros Um curso de eternidade. A tripla, agressiva empresa Acha que tudo se exporta E galas da natureza São luzes de estrela morta. Traição? Ora, bulufas, Ruínas, frases e ossos. Algibeiras como estrofas De ouro feito de destroços! Mas eis que salta o conselho Dos homens bons do Dphan, No caso mete o bedelho E na brisa da manhã Acende um sol de esperança Sobre a paisagem mineira. (até onde a vista alcança, Era dinamite e poeira.) - o pico de Itabirito, Este há de ser preservado Com presença, não mito, De um brilhante passado. Conselho dixit. E "tombando" A rocha, mais rocha agora. Demonstra-nos como, quando, Com peito, uma lei vigora. St. John, Hanna e Ico, murchos, Detêm-se para pensar. Queimaram-se os seus cartuchos Ou resta um jeitinho no ar? - vamos chorar nossas mágoas E, reforçando o lamento, Arar em sabidas águas: Ação, desenvolvimento! Tudo exportar bem depressa, Suando as rotas camisas. Ficam buracos? Ora essa, O que vale são divisas Que tapem outros "buracos" Do tesouro nacional, Deixando em redor os cacos De um país colonial. Escorre o tempo. E à cantiga Dessa viola afinada, Já ninguém mais lembra a antiga Voz do conselho, nem nada. E vem de cima um despacho Autorizando: derruba! Role tudo, de alto a baixo, Como, ao vento, uma embaúba! E o pico de Itabirito Será moído, exportado. Só quedará no infinito Seu fantasma desolado (O Pico de Itabirito – Carlos Drummond de Andrade) “Tão triste a gente fica ao ver o chão de agora Lá vai o trem mineiro vai por aí a fora Vai pelo império, lotado de minério E leva tudo pro exterior (...) Comprou a nossa alma, usou a nossa calma, E nós batemos palma, sem saber...” (O Trem que leva Minas – Newton Bandeira) AGRADECIMENTOS A caminhada rumo ao título de mestre não é fácil, mas é gratificante. Ao começar a percorrê-la, sabia que encontraria algumas dificuldades, mas, ao longo do percurso, descobri que elas eram muito maiores do que eu podia imaginar. Hoje, contudo, quando olho para trás e vejo o trabalho que consegui construir, encho-me de satisfação, pois sinto que atingi meus objetivos e que o resultado final do meu trabalho faz sentido e tem importância. Estes devem ser, acredito eu, os alvos perseguidos por todos que se aventuram no mundo da pesquisa acadêmica. Como caminhada de vida alguma se faz sozinho, devo agradecer a algumas pessoas que, de uma forma ou de outra, contribuíram para que ela ocorresse nos trilhos certos e da maneira mais leve possível. Aos meus pais e irmão, por estarem sempre presentes e serem fonte de amor, carinho e, muitas vezes, acreditarem mais em mim e na minha capacidade que eu mesma. À minha orientadora, Myriam, por todo o conhecimento compartilhado, pela flexibilidade, paciência e capacidade de compreensão. Às minhas amigas e amigos, por compartilharem comigo momentos bons e me ajudarem a lidar com as aflições e medos dos momentos ruins, lembrando-me sempre que o equilíbrio é tudo. Agradeço, também, à equipe da Divisão de Memória e Patrimônio da Secretaria Municipal de Patrimônio Cultural e Turismo de Itabirito, onde trabalhei por dois anos e, além de conhecer pessoas imprescindíveis para a consecução desta dissertação, pude entender o significado do Pico para os itabiritenses, bem como o dilema que eles vivem em relação à mineração na cidade. Também deixo registrado os meus agradecimentos ao Arquivo Central do Iphan, pois sem a prestativa e eficiente disponibilização dos processos de tombamento sob sua guarda, essa pesquisa não teria sido possível de acontecer. RESUMO O processo de tombamento e posterior destombamento do Pico de Itabirito (MG), ocorrido na década de 1960, é o objeto desta dissertação de mestrado. A pesquisa teve como objetivo explicar o processo, sob a perspectiva do patrimônio cultural como uma construção discursiva, feita a partir de conflitos de valores, poderes e interesses. Buscou-se compreender, por meio de ampla pesquisa documental, os discursos que embasaram a atuação dos sujeitos envolvidos no processo e o impacto que o episódio teve sobre a população, relacionando estes elementos ao contexto histórico em que se inseriam. Aqui estão apresentadas, portanto, a história da construção simbólica do Pico enquanto uma paisagem notável, a trajetória da mineração em Itabirito e da patrimonialização de bens naturais pela Dphan, bem como aspectos relevantes sobre o Decreto-Lei nº 3.866, de 1941, que estabelece o cancelamento de tombamento em âmbito federal. A pesquisa demonstrou que os patrimônios, enquanto elaborações discursivas, estão condicionados aos flutuantes conflitos de poder que ocorrem nos diversos contextos políticos. Isso faz com que sua suposta sacralidade coexista com uma dimensão de fragilidade, fazendo da preservação e da destruição de bens patrimoniais duas faces de uma mesma moeda. Palavras-chave: História, Destombamento, Paisagem, Patrimônio, Mineração ABSTRACT The process of classifying and later removal of Pico de Itabirito (MG) from the national heritage list, occurred in the 1960s, is the object of this dissertation. The research aimed to investigate and explain the process, from the perspective of cultural heritage as a discursive construction, made of conflicts of values, powers and interests. It was sought to understand, through extensive documentary research, the discourses that based the action of the agents involved in the process and the impact that the episode had on the population, relating these elements to the historical context in which they were inserted. Here we present, therefore, the history of the symbolic construction of the Peak as a remarkable landscape, the trajectory of mining in Itabirito and the patrimonialization of natural assets by Dphan, as well as relevant aspects of Decree-Law No. 3.866, of 1941, which establishes the cancellation of classification in the national heritage list. The research has shown that cultural heritage, as discursive elaboration, is conditioned by the fluctuating conflicts of power that occur in the various political contexts. This makes its supposed sacredness coexist with a dimension of fragility, making the preservation and destruction of heritage properties two sides of the same coin. Keywords: History, Removal from Heritage List, Landscape, Heritage, Mining LISTAS DE FIGURAS 01 Pico de Itabirito visto do distrito de São Gonçalo do Bação, em Itabirito (MG) 14 02 Mapa do primeiro quartel do século XVIII 45 03 Mapa de Diogo Soares (1734/35) 46 04 Mapa dos padres matemáticos (s.d.) 46 05 Mapa “Detalhe da Nova Carta da Capitania das Minas Gerais”, feito pelo Barão de Eschwege, em 1821. 48 06 Mapa feito por Ernst Hasenclever em 1839 49 07 Desenho a lápis da vista do Pico de Itabira a partir da varanda da casa do Dr. Stephan, feito por Hasenclever em novembro de 1839 51 08 Montanhas auríferas em Cata Branca da Província de Minas Gerais (desenho de C. F. P. von Martius e gravura de A. Brandmeyer) 55 09 Pico de Itabira do Campo (desenho de F. J. Stephan e gravura de A. Brandmeyer) 56 10 Pico de Itabirito, por Marianne North (segunda metade do século XIX) 59 11 Entorno do Pico de Itabirito, por Marianne North (segunda metade do século XIX) 60 12 Altitude comparada dos pontos culminantes e outros do sistema orográfico brasileiro 61 13 Altitude comparada dos pontos culminantes do sistema orográfico brasileiro pelo Conselheiro F.I.M. Homem de Mello 61 14 Pico de Itabirito, por Álvaro da Silveira (1920) 62 15 Retrato do Pico feito por José Códea para publicação na Revista Illustrada, em 1881 63 16 Obra sem título, de Frans Krajcberg (1965) 64 17 Obra sem título, de Frans Krajcberg (1965) 64 18 Foto anexa à carta de José Guimarães da Silva ao Presidente Jânio Quadros 67 19 Piquenique aos pés do Pico de Itabirito (1904) 68 20 Cavalgada até o Pico de Itabirito (s.d.) 69 21 Caçada e reunião musical no Pico de Itabirito (1947) 69 22 Município de Itabirito Feira de Exposição na década de 1940 74 23 Missa realizada no Pico de Itabirito na década de 1940 76 24 Icominas explora minério rolado no Pico 78 25 Mina de Cata Branca desenhada por Ernst Hasenclever 84 26 Fotografia panorâmica do Pico de Itabirito que ilustra o artigo de Latif 141 27 Pico de Itabirito atualmente 172 28 Complexo da Mina do Pico 172 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS APM – Arquivo Público Mineiro CFEM