1823 Sant'ana Do Livramento
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thjklz xcvbn mqwe rtyuio pasdf ghjklz xcvbn mrtyu iopas dfghj klzxcv bnmq werty uiopa sdfghj klzxcv bnmq werty uiopa sdfghj klzxcv bnmq werty uiopa 11882233 CCaarrllooss AAllbbeerrttoo PPoottookkoo RReetteennttiiivvaa aa IIvvoo CCaaggggiiiaanniii Não há trabalho menos agradecido, nem mais exposto aos insultos da crítica, do que contar uma história, já contada por outros. 2 0 1 3 1823 - Carlos Alberto Potoko - 2 - D E D I C A T Ó R I A: Dedico esse trabalho ao nosso inesquecível Historiador Ivo Caggiani (in memoriam). Que a lembrança deste pampa coxilha de Sant’Ana, nascedouro deste taita... Aqueça em mil fogões, o orgulho de ser santanense. 1823 - Carlos Alberto Potoko - 3 - P R E F Á C I O Este é um livro que já começa muito bem: com uma dedicatória ao grande historiador santanense Ivo Caggiani. Poucos homens mostraram tanta dedicação à história e ao seu lugar no mundo como Caggiani. Tive o prazer de conversar muitas vezes com ele. Era sempre um aprendizado. Graças aos seus vastos conhecimentos, pude saber um pouco sobre o jornalista maragato Rodolfo Costa, que dá nome à escola rural de Palomas, onde fui alfabetizado e da qual não me esqueço. Carlos Alberto Potoko retoma muitos temas de Caggiani. Quer falar para estudantes com linguagem simples e direta. Passeia pelos mais diversos aspectos da história do Rio Grande do Sul. Vai dos modos de vida dos nossos índios até as nossas principais revoluções. Dá detalhes. Desce às minúcias. Aos poucos, entramos no trem da história. Fazemos uma viagem para trás. O Rio Grande do Sul vai aparecendo, despindo-se, revelando-se, descortinando-se. Potoko salta de um assunto a outro. Nada lhe escapa, da origem do poncho aos nossos primeiros municípios e daí ao papel da ferrovia no desenvolvimento do nosso Estado. São muitas as estações, muitas as paisagens, muitos os personagens destacados, muitos os sopros do minuano. Historiador de uma cultura de fronteira, Potoko entra no Uruguai para tratar das nossas relações com a Banda Oriental, com Rivera, o homem e a cidade, com nossa vinculação platina. Contar é isso mesmo, tecer, amarrar, articular, mesclar, trançar, dar pontos e dar muitos nós, atribuir sentido e clarear o que vai se perdendo num passado nebuloso. Os jovens aprenderão muito com este livro de Potoko. Mas não só eles. Qualquer um que tenha interesse pelo nosso passado, rico e conturbado, encontrará matéria para reflexão e aprendizado nesta obra clara e carregada de informações. Obviamente que não poderia faltar uma parte sobre o gaúcho da fronteira. O autor tomou cuidado também com a organização do material. As ilustrações são muito boas e ajudam a dar vida e intensidade do texto. Pelo jeito, embora seja tarefa árdua, Caggiani encontrou o seu sucessor. Santana do Livramento já tem um novo porta-voz. A história agradece. Ela precisa de apaixonados, de abnegados, de incansáveis e de contadores de coisas, causos, fatos e versões. Potoko chamou o jogo para si. Juremir Machado da Silva Historiador, escritor e jornalista 1823 - Carlos Alberto Potoko - 4 - Palavras do autor Este livro se propõe a marcar um destino livre com todos os alunos da rede de ensino do nosso município e, também, com leitores que gostem de ler algo sobre a estirpe do lugar em que vivem. O objetivo basilar é o de transcrever e reunir mais informações relevantes da nossa história numa linguagem simples, não só da historiografia local deixada pelo Ivo Caggiani, como também, a partir de obras importantes listadas no final deste livro. Intercalo textos meus com outros autores em ordem cronológica das datas, o propósito maior é o de acoplar a didática com literatura, pesquisas de fontes já publicadas e insuspeitas de qualquer conceito dirigido. As hipóteses registradas foram feitas numa perspectiva geral, tanto dos autores, como também para elucidar as relações mutuas regionais dos acontecimentos mais acentuados na fronteira Livramento-Rivera. Também delineio as guerras da Cisplatina, a Guerra dos Farrapos, a Revolução Federalista e até um resumo da história do Uruguay com a fundação de Rivera e o reclamo deles pelas demarcações da fronteira, o qual capitulei por informações importantes da Comissão de Limites. Nesta experiência didática, também juntei aos conflitos históricos narrados a transcrição de documentos dos protagonistas com a ortografia da época, com vista à transformação da nossa língua no transcorrer do tempo. E por fim, dei maior desenvolvimento aos assuntos com ilustrações, fotos, mapas e algumas imagens da Web no intuito apenas de melhorar a compreensão dos textos. Como bem disse o inesquecível Ivo Caggiani no seu livro, Município da Sant’Ana do Livramento -1942: “A história de Livramento ainda não está escrita...” E neste sentido, aqui não é diferente, deste modo, esperamos que este trabalho venha preencher uma lacuna sensível e que em síntese se achava meio esquecido. Sou o único responsável pelos erros que possam surgir ao longo do tempo, mas estes seriam mais numerosos, não fosse a assistência generosa dos meus confrades da Academia Santanense de Letras. Carlos Alberto Potoko 1823 - Carlos Alberto Potoko - 5 - A origem nativa Inicialmente as terras em que se encontra o município de Sant’Ana do Livramento eram terras de ninguém, de difícil acesso e pouco povoadas. Vagavam por elas índios minuanos e charruas pertencentes ao grande grupo Guaicurú do Sul. Eram semissedentários e antes da introdução do gado viviam às margens, desde a Lagoa Mirim e vertente do Rio Negro até o interior do Uruguai. Quando da entrada de João de Magalhães, os índios minuanos aproximaram-se do Rio Grande e foram acomodando-se nas imediações da serra do Caverá, dominando os campos de Jaráu e Quaraí. Conta-se deles, pelo Dr. Saldanha: que quase não tinham narinas e as maçãs do rosto eram tão intumescidas como geralmente os índios o são. Eles eram na sua maior parte corpulentos e bem estruturados fisicamente, porém, nas mulheres predominava a meia estatura com as feições congruentes as dos índios americanos. Quanto aos costumes, usavam os cabelos soltos e eriçados, os quais não cresciam muito. As costas eram cobertas com caípis até o tornozelo, isto é, mantas de couro descarnado, sovado e usadas com os pêlos para dentro, eram presas com uma tira de couro por cima dos ombros e diante do pescoço. Originando-se aí o poncho. Envolviam-se desde a cintura até o joelho com volta e meia de pano de algodão, originando-se assim o xiripá. Enfim, estas eram suas vestes que eles faziam de peles de veados ou de vitelas sovadas, descarnadas e costuradas umas as outras. Pintavam-nas pela parte do carnal listas cumpridas e diagonais avermelhadas e cinzentas, cores estas tiradas de terra ocra de ferro encontrada nos córregos do rio Cacequí. Suas casas eram armadas, raras vezes junto a matas e temporariamente sobre colinas descobertas e confeccionadas com uma palha semelhante a tábuas. Cobriam-na com alguns couros de rezes para tapar apenas três lados e a cobertura, onde apropriadamente usavam as esteiras tecidas para deixar e escorrer a água das chuvas. A entrada era todo um lado e suas alcatifas ou tapetes de pedaços de couro se estendiam pelo chão. Dentro delas não se acomodavam mais do que cindo índios, ali se alimentavam e cozinhavam e as tinham mais limpas que o próprio corpo, que nunca via água, senão quando lhes chovia por cima do corpo. Com uma alimentação escassa de variedade 1823 - Carlos Alberto Potoko - 6 - devido à sua preguiça, eles tinham que ir a campo carnear rezes ou trazê-las ao pé das toldarias; esta carne, geralmente de cervos (veado), era mal assada para consumir. A bebida, o mate enquanto não lhes faltasse erva, como também mascar tabaco de fumo, cuja masca a conservavam entre o lábio superior e os dentes, ou tirando da boca e pondo-o atrás da orelha numa pausa até tornar a mastigá-lo. Poucos eram os que fumavam ou baforavam no cachimbo, porém quase todos eram achegados à aguardente e a bebiam entre amigos, até se embriagarem. Os Minuanos viviam livres de uma forma própria entre portugueses e espanhóis. Usavam as boleadeiras para caça, tradição que foi incorporada pelo gaúcho, nas lides campeiras. Do idioma deles, observadores diziam ser agradável e veloz na linguagem, muito diferente da dos Tapes e bem semelhante e talvez idêntica a dos índios da América Setentrional, cuja semelhança se pareciam nas feições. Os minuanos foram um grupo indígena que vivia mais nos campos do Rio Grande do Sul. Emprestaram o nome ao vento forte que vem do sudoeste, frio e cortante que sopra em nosso estado depois das chuvas do inverno. Eram índios de origem da patagônia, assim como os Charruas e os Guenoas, com os quais nunca se sobrepunham no mesmo território. Em 1730, aliaram-se aos Charruas, originando um mesmo grupo com a mesma alcunha e na guerra lutaram com os portugueses contra os espanhóis. Hoje ainda existem toldos minuanos na região de Arroio Grande. A outra tribo, os Charruas, viviam na margem setentrional do Prata, desde a desembocadura do rio S. Salvador até o Atlântico, estendendo- se até umas 30 léguas (198km) em direção ao interior. Estes índios de estatura regular, tronco robusto, membros musculosos e de cor quase negra, tinham a cabeça grande, nariz achatado, olhos pequenos e de um olhar muito penetrante, que além de abeis cavaleiros, adquirida com a chegada dos cavalos; possuíam um amor instintivo a sua liberdade selvagem, a qual, jamais quiseram trocá-la pelo benefício da civilização apresentada pelos colonizadores. As tribos não obedeciam a governo de espécie alguma e os Charruas se diferençavam dos Minuanos por andarem nus. Tinham os mesmos hábitos alimentares da carne mais crua do que assada.